Estudo 20 – Mística Cidade de Deus – Escola da Vontade Divina

Escola da Divina VontadeMistica Cidade de Deus
Estudo 20 – Mística Cidade de Deus – Escola da Vontade Divina
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CAPÍTULO 17
O MISTÉRIO DA CONCEIÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA, NA INTERPRETAÇÃO DO CAPÍTULO 21 DO APOCALIPSE.

Primeira parte do capítulo

244. Encerra tantos e tão ocultos mistérios o privilégio de Maria Santíssima ser concebida em graça que, para me dar maior compreensão deste maravilhoso mistério, declarou-me Sua Majestade muitos dos que o evangelista S. João encerrou no capítulo 21 do Apocalipse.
Para expor algo de quanto me foi manifestado, dividirei a explicação em três partes, para evitar o cansaço que tão longo capítulo poderia causar se fosse tomado por inteiro. Antes direi a letra, segundo seu teor que é o seguinte:

245. “E vi novo céu e nova terra.

Porque o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existe. E eu, João, vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, adornada como uma esposa ataviada para seu esposo. E ouvi uma grande voz vinda do trono, que dizia: Eis o tabernáculo de Deus com os homens, e habitará com eles.
E eles serão seu povo e o mesmo Deus com eles será o seu Deus; e Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos seus olhos, e não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais dor, porque as primeiras coisas passaram. E o que estava sentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas, e disse-me: Escreve, porque estas palavras são muito dignas de fé e verdadeiras.
E disse-me: Está feito. Eu sou o Alfa e o Omega, o principio e o fim. Eu darei gratuitamente da fonte da água da vida ao que tiver sede. Aquele que vencer, possuirá estas coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Mas, pelo que toca aos tímidos, e aos incrédulos, e aos execráveis, e aos homicidas e aos fornicadores, e aos feiticeiros e aos idolatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no tanque ardente de fogo e de enxofre, o que é a segunda morte.”

Novo céu
246. Esta é a primeira das três partes do texto que explicarei neste capítulo, dividindo-a por seus versos.
“Vi um novo céu e uma nova terra” (v. 1). Havendo Maria Santíssima saído das mãos do onipotente Deus, e já se encontrando no mundo a matéria imediata da qual se formaria a santíssima humanidade do Verbo que morreria pelo homem, diz o Evangelista que viu um novo céu e uma nova terra.
Com grande propriedade pôde chamar céu novo aquela natureza e seio virginal. Neste céu começou Deus a habitar por novo modo (Jr 31, 22), diferente daquele que até então havia tido no céu
antigo e nas demais criaturas. Além disso, depois do mistério da Encarnação, também o céu dos bem-aventurados chamou-se novo, porque recebeu novos habitantes, os homens mortais.
Só a humanidade santíssima de Cristo e a de sua Mãe puríssima lhe acrescentaram tanta glória que, depois da glória essencial divina, bastou para renovar os céus e lhes dar novo esplendor e formosura.
Ainda que lá se* encontravam os bons anjos, isto já era tido como coisa antiga e velha. Veio a ser coisa muito nova que com sua morte, o Unigênito do Pai restituísse aos homens o direito da glória perdida pelo pecado. Merecendo-a, de novo os introduziu no céu, do qual estavam expulsos e impossibilitados de obter por si mesmos.
Visto que toda esta novidade teve princípio em Maria Santíssima, quando o Evangelista a viu concebida sem o pecado que era impedimento para todos aqueles bens, disse que viu um novo céu.

Nova terra
247. Viu também uma nova terra, porque a terra antiga de Adão era maldita, manchada e ré da culpa e condenação eterna.
A terra santa e bendita de Maria, porém, foi nova terra, sem a culpa e a maldição do primeiro homem. Tão nova que, desde o princípio da criação até Maria Santíssima não se vira outra igual no mundo.
Tão nova e livre da maldição da terra antiga e velha, que nesta bendita terra renovou-se todo o restante dos filhos de Adão.
Pela terra abençoada de Maria, com ela e nela, ficou bendita, renovada e vivificada a massa terrena de Adão, até esse tempo maldita e envelhecida em sua maldição. Renovou-se toda pela inocência de Maria Santíssima.
Como Nela principiou esta renovação da humana e terrena natureza, disse S. João que em Maria concebida sem pecado, viu um novo céu e uma terra nova. E prossegue:
248. Porque desapareceram o primeiro céu e a primeira terra (v. 1). Era conseqüente que, vindo ao mundo e aparecendo nele a nova terra e novo céu de Maria Santíssima e seu Filho, Homem e Deus verdadeiro, desaparecesse o antigo céu e a envelhecida terra da humana natureza.
Agora preservada e livre da culpa* unida hipostaticamente na pessoa do Verbo da nova habitação ao mesmo Deus.

Deixou de existir o primeiro céu que Deus criara em Adão porque, manchando-se tornara-se inabitável para Deus. Este antigo céu se foi, e surgiu outro céu com a vinda de Maria Santíssima.
Houve também novo céu da glória para a natureza humana, não porque se deslocasse ou desaparecesse o empíreo, mas porque começou a contar com a presença dos homens, durante tantos séculos impedidos de ali entrar. Neste sentido deixou de existir o primeiro céu, começando o novo pelos merecimentos de Cristo Senhor nosso que já começavam a brilhar na aurora da graça, Maria Santíssima, sua Mãe. Deste modo desapareceram o primeiro céu e a primeira terra que até então haviam estado sem remédio.
E o mar já não existe. O mar de abominação e pecados que inundara e afogara a terra de nossa natureza, deixou de existir com a vinda de Maria Santíssima e de Cristo. O mar de seu sangue
superabundou e sobrepujou em suficiência ao mar dos pecados. Comparados àquele imenso valor, é certo que qualquer culpa deixa de existir. Se os mortais quisessem aproveitar-se daquele mar infinito da divina misericórdia e méritos de Jesus Cristo, Senhor nosso, deixariam de existir todos os pecados do mundo, pois o Cordeiro de Deus a todos veio apagar e desfazer.

A nova Jerusalém

249. E eu, João vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, adornada como uma esposa ataviada para seu esposo (v. 2). Todos estes mistérios começavam e fundavam-se em Maria Santíssima. Falando em metáfora, diz o Evangelista que a viu na figura da cidade santa de Jerusalém, etc. Foi-lhe concedido vê-la para melhor conhecer o tesouro que ao pé da Cruz (Jo 19, 27) lhe seria confiado, e com digno apreço guardá-lo.
Ainda que nenhuma providência poderia eqüivaler à presença do Filho da Virgem, contudo, ficando S. João em seu lugar, era conveniente fosse instruído de acordo com a dignidade e ofício de suplente de Jesus.

Maria, nova Jerusalém

250. Pelos mistérios que Deus operou na cidade santa de Jerusalém, era apropriada para símbolo da Mãe do Onipotente, centro e resumo de todas as suas maravilhas.
Pela mesma razão, Jerusalém é também figura das igrejas militante e triunfante, por causa da analogia que estas místicas cidades têm entre si. A todas se estendeu o olhar da generosa águia S. João. Contemplou de fito, principalmente a suprema Jerusalém, Maria Santíssima, onde estão impressas e compendiadas todas as graças, dons, maravilhas e excelências das igrejas militante e triunfante.
Tudo o que se fez na Jerusalém da Palestina, e o que ela e seus habitantes significam, está realizado em Maria puríssima, cidade santa de Deus, com maior admiração e excelência que no resto do céu e terra com seus moradores. Por isto, chama-a Jerusalém nova, porque todos seus dons, grandezas e virtudes são novos e causam nova maravilha aos santos.
Nova ainda, porque apareceu depois de todos os antigos pais, patriarcas e profetas, cumprindo-se e renovando-se Nela seus clamores, oráculos e promessas.
Nova, mais uma vez, porque sem contágio da culpa descende da graça por nova ordem, separada da comum lei do pecado. Nova também, porque entra no mundo triunfando do demônio e do seu primeiro engano, sendo tal triunfo a coisa mais nova, jamais vista no mundo desde seu princípio.

Maria é mais celeste que terrestre

251. Como tudo isto era novo na terra e dela não poderia proceder, diz que desceu do céu. Não obstante descender de Adão pela ordem comum da natureza, não vem pelo caminho ordinário do pecado, trilhado por todos os seus predecessores filhos daquele primeiro delinqüente. Somente para esta Senhora houve diferente decreto na divina predestinação, e abriu-se nova senda pela qual viesse ao mundo com seu divino Filho. Na ordem da graça, Cristo e Maria não acompanharam nem foram acompanhados por qualquer outro dos mortais.
Deste modo, desceu nova do céu, da mente e vontade divina. Enquanto os demais filhos de Adão descendem da terra, terrenos e maculados por ela, esta Rainha de toda a criação vem do céu, descendente somente de Deus pela inocência e graça.
Costumamos dizer vir alguém da família ou solar do qual nasceu, porque aí recebeu o ser natural. Considerada sua qualidade de Mãe do Verbo Eterno, o ser natural que Maria recebeu de Adão é apenas uma sombra, comparada ao que recebeu do Eterno Pai para aquela dignidade, na graça e participação de sua Divindade. Em Maria este ser da graça é o principal, e o da natureza acessório e secundário. O Evangelista visou o principal que desceu do céu, e não o acessório que veio da terra.

A esposa de Deus

252. Prossegue dizendo que vinha adornada como esposa ataviada para seu esposo. Para o dia do desposório busca-se entre os mortais, o maior decoro e alinho que se possa encontrar, para adornar a esposa. Ainda que se peçam emprestadas as jóias, procura-se que nada lhe falte, de acordo com sua posição e estado.
Cremos, como é forçoso confessar, que Maria Santíssima foi esposa da Santíssima Trindade, de tal modo que se tomou Mãe da pessoa do Filho. Para esta dignidade foi adornada e preparada pelo mesmo Deus onipotente, infinito e rico sem medida. Que ornato, que preparação, que jóias seriam estas com que ataviou sua Esposa e Mãe, para vir a ser digna Mãe e digna Esposa? Reservaria, por ventura, alguma jóia em seus tesouros? Negaria alguma graça de quantas seu braço poderoso poderia dar, para a enriquecer e embelezar? Deixá-la-ia feia e desalinhada em alguma coisa ou instante? Ou seria escasso e avarento com sua Mãe e Esposa?
Aquele que derrama prodigamente os tesouros de sua divindade sobre as demais almas que, em comparação Dela, são menos que servas e escravas de sua casa?
Todas confessam com o mesmo Senhor, que uma é a escolhida e a perfeita (Ct6,8), a quem as demais devem reconhecer, pregar, enaltecer por imaculada e felicíssima entre as mulheres. Admiradas, com júbilo e louvor, perguntam: Quem é esta que surge como a aurora, formosa como a lua (Idem 9), escolhida como o sol e terrível como exércitos bem ordenados?
Esta é Maria Santíssima, esposa única e Mãe do Onipotente, que desceu ao mundo adornada e preparada para seu Esposo e seu Filho.
Esta aparição foi com tantos dons da Divindade, que sua luz a tomou mais aprazível que a aurora, mais formosa que a lua, mais escolhida e singular que o sol, e mais forte e poderosa que todos os exércitos de anjos e santos.
Desceu ataviada e preparada por Deus que lhe deu tudo quanto quis, e quis lhe dar tudo quanto pôde. Pôde dar tudo o e não era ser Deus; o mais próximo de sua Divindade; o mais distante do pecado;
O quanto uma pura criatura pudesse receber. Este adorno não teria sido completo se algo lhe faltara, e esta falta existiria se em algum momento carecesse da inocência e graça. Sem isto nada seria suficiente para torná-la formosa, pois as jóias da graça cairiam sobre um rosto afeado, de natureza maculada pelo pecado, ou sobre uma veste manchada e repugnante. Sempre
teria alguma nódoa cuja sombra jamais poderia desaparecer de todo, por mais diligências que se fizessem.
Isto não era decoroso para Maria, Mãe e esposa de Deus, e não sendo para Ela, não o seria também para Ele. Neste caso, não a teria adornado com amor de esposo, e cuidado de filho, pois dispondo do mais rico e precioso tecido, teria usado outro manchado e velho para vestir sua Mãe, Esposa, e a Si mesmo.

253. Já é tempo que o entendimento humano se abra e se expanda na honra de nossa grande Rainha. Quem pensar o contrário, baseado em outra opinião, se retraia e não ouse despojá-la do adorno de sua imaculada pureza no instante de sua divina conceição Com a força da verdade e luz na qual vejo estes inefáveis mistérios, confesso uma e muitas vezes que todos os privilégios, graças, prerrogativas, favores e dons de Maria Santíssima, inclusive o de ser Mãe de Deus, – conforme me é dado a entender – todos dependem e se originam do fato de ter sido imaculada e cheia de faça em sua puríssima conceição.
Sem este benefício, todos os outros pareceriam disformes e coxos, ou suntuoso edifício sem alicerce sólido e proporcionado. Todos referem-se com certa ordem e concatenação à pureza e
inocência de sua imaculada conceição. Por esta razão, no decurso desta história, foi necessário falar tantas vezes neste mistério, desde os decretos divinos para a formação de Maria e de seu Filho Santíssimo enquanto homem.
Agora não me alongo mais sobre isto, Advirto, porém, a todos, que a Rainha do céu estimou tanto o adorno e formosura que seu Filho e Esposo lhe deu, que na mesma medida se indigna contra aqueles que, com teimosia e disputas, dele pretendem despojá-la e afeiá-la, quando seu Filho Santíssimo se dignou ostentá-la ao mundo tão adornada e formosa, para glória sua e esperança dos mortais.
Prossegue o Evangelista:

O tabernáculo de Deus
254. E ouvi uma grande voz vinda do trono, que dizia: Eis o tabernáculo de Deus com os homens, e habitará com eles, e eles serão o seu povo.
Grande, forte e eficaz é a voz do Altíssimo para mover e atrair a si toda a criatura. Tal foi a voz que S. João ouviu do trono da beatíssima Trindade, e que lhe absorveu a atenção para considerar o tabernáculo de Deus.
Assim lhe fora pedido para que, atento e circunspecto, conhecesse o mistério que lhe era revelado: vero tabernáculo de Deus com os homens, vivendo com eles como seu Deus, e eles como seu povo.
Este mistério se resumia em ver Maria Santíssima descer do céu, como tenho dito. Estando este divino tabernáculo de Deus no mundo, era conseqüente que o mesmo Deus estivesse também com os homens, pois vivia e estava em seu tabernáculo, inseparável dele.
Foi como se dissera ao Evangelista:
Se o Rei colocou sua casa e corte no mundo, é para ir nela residir. De tal modo Deus habitaria neste seu tabernáculo, que dele tomaria a forma humana. Nesta forma humana seria morador no mundo, habitando com os homens, para deles ser Deus e eles serem seu povo, povo recebido por herança de pai e mãe.
Em e por seu Filho, o Pai criou todas as coisa (Jo 1, 2) e lhas deu por herança da eterna geração divina. Como homem, o Filho nos redimiu em nossa natureza, tomou-nos irmãos seus e assim nos conquistou para seu povo, como herança paterna (Tt 2,14).
Por razão de sua natureza humana, somos ainda sua legítima herança recebida de sua Mãe Santíssima. Ela lhe deu a forma humana na qual Ele nos adquiriu para si. Ainda mais: Mãe sua, Filha e Esposa da beatíssima Trindade, Maria era Senhora de toda a criação. Logo, seu Filho vinha a ser o herdeiro de todas as suas propriedades. O que as humanas leis, dentro da razão natural concedem, não havia de ser recusado pelas divinas.

O homem é mais beneficiado que os anjos

255. Saiu esta voz do trono, por ministério de um anjo que, me parece, com santa inveja, diria ao Evangelista: Contempla o tabernáculo de Deus com os homens, para viver com eles, como com seu povo.
Será seu irmão, e tomará a forma neste tabernáculo de Maria que vês descer do céu ao ser concebida.
Alegremente podemos responder a estes celestiais cortesãos, que o tabernáculo de Deus fica muito bem conosco, pois é nosso, e por ele, Deus também será nosso tabernáculo. Deste receberá Ele vida e sangue para oferecer por nós e nos conquistar para seu povo.
Viverá conosco como em sua casa e morada, pois o receberemos sacramentado (J0 6, 57), e seremos transformados em tabernáculo para ele.
Fiquem satisfeitos os espíritos angélicos com seus irmãos maiores e menos necessitados que os homens. Nós somos os pequeninos e doentes, a reclamar cuidados e benefícios de nosso Pai e
Irmão. Venha ao tabernáculo de sua e nossa Mãe e tome forma humana em suas virginais entranhas. Esconda-se a Divindade, viva conosco e em nós. Tenhamo-la tão próxima que seja nosso Deus e nós, seu povo e morada.
Admirem-se os anjos e arrebatados por tantas maravilhas O bendigam.
Quanto a nós, os mortais, enchamo-nos de gozo, acompanhando-os no mesmo louvor, admiração e amor. Prossegue o texto:

O mistério da dor

256. E Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem mais dor.
Com a redenção humana, cujo penhor nos foi dado pela conceição de Maria Santíssima, enxugaram-se as lágrimas que o pecado arrancara dos olhos dos mortais. Para quem se aproveitar das misericórdias do Altíssimo, do sangue e méritos de seu Filho, de seus mistérios e sacramentos, dos tesouros de sua santa Igreja, da intercessão de sua Mãe Santíssima para obtê-los, não há morte, nem dor, nem pranto.
A morte do pecado e todo o antigo que dela resultou, já deixou de existir e se acabou. O verdadeiro pranto sepultou-se com os filhos da perdição, no abismo onde não há salvação. A dor das
enal idades não é pranto nem dor verdadeira, mas apenas aparente, podendo coexistir com a verdadeira e suma alegria.
Aceita com resignação, é de inestimável valor, e como prova de amor o Filho de Deus exigiu-a para si, para sua Mãe e para seus irmãos.

Paciência e alegria na dor

257. Tampouco se ouvirão clamores e lamentos. Os justos e sábios, com o exemplo de seu Mestre e de sua Mãe humilíssima, aprenderão a calar como a singela ovelha quando levada para vítima do sacrifício (Is 53, 7). O direito da fraca natureza em se aliviar com lamentos e queixas, será renunciado pelos amigos de Deus, vendo-O humilhado até a ignominiosa morte de cruz para reparar os danos de nossa impaciência (FI 2, 8).
À vista de tal exemplo, como se há de consentir que nossa natureza se altere e grite no sofrimento? Como se há de permitir atitudes contra a caridade, quando Cristo veio estabelecer a lei do amor fraterno?
Volta o Evangelista a repetir que não haverá mais dor, porque se alguma haveria de subsistir para os homens, seria a dor dos pecados. Para remediar esta enfermidade foi tão suave medicação a Encarnação dp Verbo no seio de Maria Santíssima, que esta dor já se tornou doce e causa de alegria, não merecendo mais o nome de dor, pois contém em si, o sumo e verdadeiro gozo. Havendo este gozo entrado no mundo, foram-se as primeiras coisas, as dores e rigores ineficazes da santa Lei, porque tudo se amenizou e se extinguiu com a abundância da graça da lei evangélica.
Por isto acrescenta: Eis que renovo todas as coisas (v. 5). Esta voz saiu daquele que estava assentado no trono, declarando-se por autor de todos os mistérios da nova lei evangélica. Começando esta renovação por coisa tão singular e jamais imaginada pelas criaturas, como foi a Encarnação do Unigênito do Pai, de mãe virgem e puríssima, era necessário que, para ser tudo novo, não houvesse em sua Mãe Santíssima coisa alguma velha e antiga.
Como o pecado original é quase tão antigo quanto a natureza humana, se a Mãe do Verbo o tivera, Deus não houvera feito novas todas as coisas.

Fé e gratidão
258. E disse-me: Escreve porque estas palavras são muito dignas de fé e verdadeiras. E disse-me: está feito (v. 5-6). Ao nosso modo de falar, Deus sente muito que se esqueçam as grandes
obras de amor que realizou por nós na Encarnação e Redenção. Para recordação de tantos benefícios e censura de nossa ingratidão, manda que sejam escritas. Deviam os mortais gravá-las em seus corações e temer a ofensa que contra Deus cometem, com tão grosseiro e execrável esquecimento.
É verdade que os católicos ainda crêem nestes mistérios. Contudo, pelo descaso que mostram em os agradecer e recordar, parece que os negam tacitamente, vivendo como se neles não cressem.
Como censura de sua condenável ingratidão, diz o Senhor que estas palavras são verdadeiras e muito dignas de fé. Sendo assim, considere-se a dureza e surdez dos mortais, em não se darem por entendidos de verdades digníssimas de fé e eficazes para mover o coração humano e vencer sua rebeldia. Verdadeiras e digníssimas de fé, deveriam ser impressas na memória, meditadas e ponderadas como certas, infalíveis e realizadas por Deus para cada um de nós.

Deus é imutável
259. Todavia, como Deus não se arrepende dos seus dons (Rm 11,29), nem retira o bem que faz, ainda que desobrigado pelos homens, diz que já está feito (Apoc 21,6). É como dizer que por nossa ingratidão não retrocederá em seu amor.
Tendo enviado ao mundo Maria Santíssima sem culpa original, já dá por realizado tudo o que pertence ao mistério da Encarnação. Estando Maria puríssima na terra, parece que o Verbo eterno não poderia continuar só no céu, sem descer para assumir a carne humana em seu seio.
Reafirma tudo isto, dizendo: Eu sou o Alfa e o Ômega, a primeira e a última letra; princípio e fim, encerro a perfeição de todas as obras. Se as principiei é para levá-las à perfeição do seu último fim. Assim farei por meio de Cristo e Maria; por eles comecei e acabarei todas as obras da graça.
E, através do homem, atrairei todas as outras criaturas a Mim, último destino e centro onde repousam.

A fonte da vida
260. Ao sedento darei gratuitamente da fonte da vida, e o que vencer possuirá estas coisas (v. 6-7).
Quem, entre todas as criaturas, se antecipou a Deus para lhe dar conselho (Rm 11, 34-35), ou alguma dádiva que exigisse retribuição? Assim fala o Apóstolo para se entender que tudo quanto Deus faz e tem feito aos homens foi graciosamente, sem qualquer obrigação.
A nascente das fontes não devem suas águas a quem nela vai beber livre e gratuitamente. Se todos não participam de seu manancial, não é culpa da fonte, mas de quem não vai beber, não obstante ela estar convidando e se oferecendo com generosidade e alegria.
E porque muitos não se aproximam e não a procuram, ela mesma vai em busca de quem a receba, vertendo sem parar. Tão de graça, a todos se oferece (Jo 7, 37).
Oh! censurável tibieza dos mortais!
Oh! abominável ingratidão! O Senhor nada nos deve e tudo nos deu e dá de graça.
A maior de todas suas graças e benefícios foi haver-se feito homem e morrido por nós, porque neste favor deu-se a si mesmo inteiramente. Deixou correr o caudal da Divindade (SI 45, 5) até encontrar nossa natureza e unir-se com ela e conosco.
Como é possível que, estando tão sedentos de honra, glória e deleites, não cheguemos a beber nesta fonte (Is 55,1) que tudo nos oferece de graça? Já percebo o motivo: é porque não estamos sedentos da verdadeira glória, honra e descanso, mas suspiramos pela ilusória e aparente.
Inutilizamos as fontes da graça (Idem 12,3) que Jesus Cristo, nosso bem, nos abriu com os méritos de sua morte.
Mas, a quem tiver sede da Divindade e da graça, diz o Senhor, dar-lhe-ei gratuitamente da fonte da vida (Jr 2,13).
Oh! quanta dor e pena que, havendo-se aberto a fonte da vida, haja tão poucos sedentos por ela, e tantos corram às águas da morte! Entretanto, quem vencer em si o mundo, o demônio e a carne, possuirá estas coisas.
Diz que as possuirá, porque sendo-lhe dadas de graça, poderia temer que em alguma ocasião lhe fossem negadas ou retiradas. Para lhas garantir diz que lhe  Dadas em posse, sem limites, nem restrições.

Recompensa dos predestinados

261. Nova e maior afirmação é dada pelo Senhor: Eu serei seu Deus e ele será meu filho (v. 7).
Se Deus nos fez seus filhos, é claro que nos tomamos herdeiros de seus bens (Rm 8, 17). Sendo herdeiros, ainda que toda a herança seja gratuita, possuímo-la com a mesma segurança dos filhos em relação aos bens de seu pai.
Pai e Deus juntamente, infinito em atributos e perfeições, quem poderá dizer o que Ele oferece ao fazer-nos seus filhos?
Em sua herança divina estão compreendidos o amor paternal, a conservação, a vocação, a vivificação, a justificação, os meios para alcançá-la e, finalmente, a glorificação (ICor 2,9), no estado e felicidade que nem olhos viram nem ouvidos ouviram, nem pode o coração humano sentir.
Tudo isto é para os que vencerem, e forem filhos corajosos e verdadeiros.

Os réprobos
262. Aos tímidos, porém, aos execráveis, incrédulos, homicidas, aos fornicadores, aos feiticeiros, idólatras e a todos os mentirosos (v. 8). Neste tremendo arrolamento inscreveram-se, por suas próprias mãos, inumeráveis filhos da perdição.
Infinito é o número dos néscios (Ecl 1,15) que, às cegas, escolheram a morte e para si fecharam o caminho da vida. Não que ele esteja escondido aos que têm olhos, mas Porque os cerram à luz. Deixam-se fascinar e obscurecer pelos embustes de satanás e diversas inclinações e paixões humanas, oferece o veneno disfarçado nas múltiplas beberagens dos vícios que os homens apetecem.
Os tímidos são os que já querem e já não querem. Sem que haja saboreado o maná da virtude, nem trilhado o caminho da vida eterna, esta se lhes apresenta insípida e insuportável, sendo que o jugo do Senhor é suave e seu peso muito leve (Mt11,30). Enganados por este modo, deixam-se vencer mais pela covardia, do que pela dificuldade.
Os incrédulos, ou não aceitam as verdades reveladas, como os hereges, pagãos e infiéis, ou as crêem para outros e não para si mesmos. Deste modo têm uma fé morta (Tg 2,25) e agem como descrentes.

Excluídos da vida eterna
263. Os execráveis seguem os vícios sem medida nem freio. Gloriam-se da maldade e não se importam de praticá-la.
Tomam-se asquerosos a Deus, execráveis e malditos, chegando ao estado de obstinação e quase impossibilidade para fazer o bem. Afastam-se do caminho da eterna vida como se não fossem criados para ela;
retiram-se de Deus, de suas bênçãos e graças, tornando-se detestáveis ao Senhor e aos seus santos.
Os homicidas, sem temor nem respeito pela divina justiça, usurpam a Deus o direito de supremo Senhor para governar, punir e vingar as injúrias. Merecem ser medidos pela mesma medida que
usaram para medir e julgar os outros (Lc 6,38).
Os fornicadores, por um breve e imundo prazer apenas satisfeito e logo detestado, sem nunca saciar o desordenado apetite, pospõem a amizade de Deus. Desprezam os eternos deleites que saciando são sempre mais apetecidos e satisfazendo jamais se esgotam.

Os feiticeiros acreditaram e confiaram nas falsas promessas do dragão disfarçado com aparência de amigo. Enganados, perverteram-se para enganar e perverter a outros.
Os idolatras, procurando a divindade, não a encontraram (At 17, 27),
estando ela tão perto de todos. Atribuíram na a quem não podia ter, pois era conferida aos ídolos pelos seus fabricantes. Inanimadas sombras da verdade, cisternas sem fundo, incapazes de conter a grandeza do verdadeiro Deus (Jr 2,13).
Os mentirosos opõem-se à suma verdade que é Deus. Colocam-se no extremo oposto a Ele, privam-se de sua retidão e virtude, confiando mais na falsidade do que no Autor da verdade e de todo o bem.

O tanque de fogo e enxofre
264. Diz o Evangelista ter ouvido que a parte de todos estes será o ardente tanque de fogo e enxofre que é a segunda morte” (v.8).
Ninguém poderá, por isto, argüir a divina equidade e justiça, Justificou sua causa com a grandeza de seus benefícios e misericórdias sem número. Desceu do céu para viver e morrer entre os homens e resgatou-os ao preço de sua vida e sangue.
Deixou inúmeras fontes de graças em sua santa Igreja, sendo a maior de todas a Mãe da mesma graça e da vida, Maria Santíssima, por cujo meio a podemos alcançar.
Se de todos estes favores e tesouros os mortais não quiserem se aproveitar, e deixando a herança da vida, por momentâneo deleite seguirem a da morte, não é muito que colham o que semearam.
Sua parte será o fogo eterno, naquele pavoroso abismo de enxofre, onde não há redenção nem esperança de vida, por haverem incorrido na segunda morte e condenação.
Ainda que esta morte, por sua eternidade é infinita, mais feia e abominável foi a primeira morte do pecado, voluntariamente escolhida pelos réprobos.
Foi morte da graça, causada pelo pecado que se opõe à bondade e santidade infinita de Deus, ofendido quando devia ser adorado e reverenciado.
A morte da condenação é justo castigo aplicado pelo atributo da retíssima justiça, a quem merece ser punido. Deus é exaltado e engrandecido por esse atributo, assim como pelo pecado foi desprezado e ofendido. Seja Ele temido e adorado por todos os séculos. Amém.

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