Estudo 27 – O Evangelho como me foi revelado Cap28 e 29 – Escola da Vontade Divina

Estudo 27 – O Evangelho como me foi revelado Cap28 e 29 – Escola da Vontade Divina
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LEITURA DOS CAPÍTULOS


Capítulo 28

A chegada a Belém

5 de junho de 1944

Vejo uma estrada mestra. Nela há muita gente. Também burrinhos que vão carregando utensílios domésticos e pessoas. Burrinhos que voltam. As pessoas esporam suas cavalgaduras, e quem vai a pé anda depressa, porque está fazendo frio.

O ar está limpo e seco, e o céu sereno, mas no ar há um ventinho cortante, característico do  pleno inverno. O campo depois das colheitas, parece mais vasto, os pastos estão com a erva baixa e tostada pelos ventos do inverno; por eles as ovelhas procuram um pouco de alimento e buscam os raios do sol surgindo, pouco a pouco.

Elas estão muito juntas umas das outras, porque também estão com frio e balem, levantando o focinho e olhando para o sol, como se lhe quisessem dizer : Vem logo, que está fazendo frio!

O terreno é cheio de ondulações, que vão se tornando cada vez mais nítidas. Na verdade, Este é um lugar de colinas. Aqui há vales cheios de árvores e de encostas, há pequenos Vales e morros. A estrada passa pelo meio, e se dirige para sudeste.

Maria está sob um burrinho cinzento. Está toda enrolada no pesado manto. Na dianteira da sela está aquele instrumento, já visto na viagem para Hebron, e por cima, está o baú com as coisas mais essenciais.

José vai caminhando, ao lado do burrinho de Maria, segurando a rédea.
– Estás cansada ? Pergunta ele de vez em quando.
Maria olha para ele sorrindo, e diz:

-Não.

Mas na terceira vez, ela acrescenta:

  •  Tu, sim que estás caminhando, é que deves estar cansado.

-Oh! Eu? Para mim isso não é nada. O que penso é que se eu tivesse achado outro jumento, podia estar com mais comodidade e andar um pouco mais. Mas eu não achei. Agora Todos estão precisando de cavalgaduras. Tem coragem, daqui a pouco, estaremos em Belém. Atrás daquele monte está  Éfrata.

Calem-se. A Virgem, quando não está falando, parece recolher em uma oração interior.

Sorri, com um sorriso manso, por algum pensamento passageiro e, olhando as pessoas, parece não estar vendo isto é, não distingue, de um homem, uma mulher, um velho, um pastor, um rico ou um pobre. O que ela vê são só pessoas.

-Estás com frio? Pergunta José, porque o vento começa a soprar.

-Não, obrigada.

Mas José não se fia no que ela diz. Toca com as mãos os pés dela que vão pendurados aos  lados do burrinho, calçados com sandálias, e que mal se vêem apontar por debaixo da longa veste. A José eles devem estar parecendo frios, porque ele sacode a cabeça, pega uma coberta que ia levando a tiracolo e com ela envolve as pernas de Maria. Ele a estende também sobre o regaço, de maneira que as mãos dela fiquem bem quentes por debaixo da coberta e do manto.

Encontra-se com um pastor, que está atravessando a estrada com seu rebanho, passando do pasto da direita para a esquerda.

José se inclina para dizer alguma coisa. O pastor responde que sim. O José pára o burrinho, e depois vai o puxando pelo pasto, atrás do rebanho.

O pastor apanha uma tosca escudela de um alforge e, depois de tirar o leite de uma ovelha grande, que está com as tetas cheias, o dá na escudela à José que oferece a Maria.

-Deus vos abençoe aos dois, diz Maria.- A ti pelo teu amor, e a ti pela tua bondade. Eu rezarei por ti.

– Estais vindo de longe?

– De Nazaré, responde José.

– E para onde ides?

-Para Belém

-É uma Viagem longa para uma mulher nesse estado. É tua esposa?

– É minha Esposa.

– Já tem lugar onde ficar em Belém?

– Não

– A coisa está feia! Belém está cheia de gente vinda de toda parte, Para o recenseamento ou de passagem outro lugar. Não sei que encontrareis alojamento. Tens conhecimento do lugar?

– Não muito

-Pois bem…eu vou te ensinar… por causa dela ( e acena para Maria). Procura o albergue. Ele deve estar cheio. Mas eu falo nele somente  para que nos sirva como ponto de referência. Ele fica numa praça da cidade, a maior praça da cidade. Vai-se até por está estrada mestra. Não há engano. Albergue tem uma fonte na frente, e é largo e baixo, com um grande portão. Ele estará cheio. Mas, se não encontrardes lugar no albergue nem nas casas. Vai atrás do albergue, para o rumo do campo. No monte há estrebarias, que às vezes servem para os mercadores que vão  à Jerusalém e deixam lá seus animais, quando não acham lugar no albergue. São estrebarias, entendeis?. Estão no Monte e são úmidas, frias e sem porta. Mas sempre são um refúgio, pois a mulher não pode ficar pela estrada. Talvez lá encontreis um lugar…  e feno para se poder dormir e também para o jumento. E que Deus vos acompanhe.

– E Deus te dê alegria, responde Maria.

José por sua vez responde:

– A paz esteja contigo.

Retomam a estrada. Um vale bem maior faz ver do alto do morro que acabam de galgar. No vale para cima e para baixo,  pelos declives suaves que os circundam, aparece casas e mais casas, é Belém.

-Eis-nos, afinal, na terra de Davi, Maria. Agora descansarás, pois me parece tão cansada…

-Não. Eu pensava…estou pensando…

Maria agarra a mão de José ele diz com um alegre sorriso:

– Acho que o tempo chegou mesmo!

– Deus de Misericórdia! Como vamos fazer?

-Não tenhas medo, José. Procura ficar firme. Não vês como eu estou calma?

-Mas estás sofrendo muito.

-Oh! Não. Estou cheia de alegria. Uma alegria tal, e tão forte, tão bela, tão incontrolável, que o meu coração está batendo forte, e me está dizendo “ Ele está nascendo! Ele está nascendo!” A cada batida, ele diz isso. É meu menino, tá batendo na porta do meu coração, e está dizendo:  “Mamãe eu estou aqui e vinde te dar o beijo de Deus.” Que alegria meu José!

Mas José não se sente invadido pela alegria dela. Ele está pensando na necessidade urgente de encontrar um abrigo, e aperta o passo. De porta em porta, vai pedindo um abrigo. Nada. Tudo ocupado. Chegam ao Albergue. Tá cheio, até por baixo dos pórticos rústicos, que circundam o grande pátio interno com gente que acampou por ali.

José deixa Maria sobre o burrinho, dentro do pátio, e sai procurando pelas outras casas. Volta desanimado. Não se acha nada. O rápido escurecer deste tempo de inverno já começa a se estender sobre a terra. José vai suplicar ao albergador. Suplica aos Viajantes, e lhe diz que eles são homens e estão com saúde e que aqui há uma mulher está para dar à luz a um filho. É que ele tenham Piedade. Mais nada.

Neste lugar está também um rico fariseu, que olha para José e Maria com um manifesto desprezo e, quando Maria se aproxima dele, ele se desvia dela, como se estivesse chegando perto de uma leprosa. José olha para ele, um rubor de desdém lhe sobe ao rosto. Maria pousa a mão sobre o punho de José, para  acalmá-lo, e lhe diz:

-Não insista! Vamos. Deus providenciará.

Saem e vão acompanhando o muro do albergue. Dobram uma estradinha encaixada entre o muro e uns casebres. Andou por detrás do albergue. Procuram. Acham umas gruta parecidas com umas adegas mais de uns estábulos de tão baixas e úmidas que são. As mais bonitas já estão ocupadas. José sente-se prostrado.

-Escuta, ó Galileu!, grita-lhe um velho que vem vindo por detrás.

-Lá no fundo, por baixo daquele desmoronamento, existe uma toca. Quem sabe ninguém a tenha ocupado ainda. Eles se apressam para chegar àquela “toca.” É mesmo uma toca. Por entre os escombros da construção em ruína, há uma abertura depois da qual aparece uma gruta, que nada mais é do que uma escavação feita no monte. Parece ser fundamentos da antiga construção ficam servindo de teto aos entulhos escorados por troncos de árvores.

Para ver melhor, pois no lugar há muita pouca luz, José pega a isca e o fuzil e acende uma lampadinha, que ele tira do alforge, trazido por ele à tiracolo. Entra e é saudado com um mugido.

-Vem, Maria. está vazia. Aí dentro há somente um boi.

José sorri:

– É melhor do que nada.

Maria apeia do burrinho e entra. José pendurou a lampadinha em um prego fincado em um dos troncos e estão ali como escoras. Por todos os lados a gruta está cheia de teias de aranha. O solo é de terra batida e todo cheio de buracos, de pedrinhas, de detritos, excrementos e coberto com fragmentos de palha. Lá no fundo, o boi se vira e fica olhando com seus olhos mansos, enquanto o feno está pendente de seus beiços. Dentro da gruta há também um assento rústico e duas pedras a um canto, perto de uma fresta. A cor enegrecida daquele canto nos diz que lá dentro costuma acender fogo.

Maria se aproxima do boi. Ela está com frio. Põe as mãos no pescoço do boi, para sentir a temperatura. O boi muge, e deixa ser tocado. Parece estar compreendendo. Mesmo quando José o afasta dali para tirar mais feno da manjedoura e fazer uma cama para Maria. A manjedoura é dupla Isto é, onde o boi come e, mais acima de uma espécie de prateleira da está outro feno de reserva. José apanha um punhado deste feno. Um boi deixa fazer tudo isso. José arranja um lugar também para o burrinho que, cansado e com fome, logo se põe a comer.

José descobre ali também tem um cântaro emborcado e todo amassado. Sai com este cântaro porque lá fora já descobriu um riacho. Volta trazendo água para um burrinho. Depois, apanha feixe de ramos que está posto num canto, procura varrer um pouco o chão. Em seguida, estende o feno. Faz com ele uma enxerga, perto do boi, no canto que está mais enxuto e resguardado. Mas percebe que o feno tá úmido então. Passa então, na procurar acender o fogo e, uma paciência de Jó, vai enxugando o feno, aos punhados, conservando perto da fonte de calor.

Maria, sentada no banco, está cansada e olha sorrindo, está tudo pronto. Maria se acomoda melhor sobre o feno fofo, com as costas apoiadas num tronco, José completa… as alfaias, estendendo o seu manto como uma cortina sobre a abertura que serve de porta. É um resguardo muito precário. Depois, ofereceu pão e queijo à virgem, e lhe dá água de um cantil para beber.

-Dorme agora, lhe diz ele. – Eu ficarei acordado para não deixar o fogo apagar. Por sorte  temos ainda lenha; esperamos que ela dure e seja boa para o fogo. Assim poderemos economizar azeite para a candeia.

Maria se estende, obediente. José a cobre com a coberta da própria Maria e com a coberta  que ele havia posto sobre os pés dela

-Mas tu…ficarás com frio, tu.

-Não Maria. Eu estou perto do fogo. Procura descansar. Amanhã tudo será melhor.

Maria fecha os olhos sem insistir. José se acomoda em seu canto, sobre o banco com gravetos ao lado. São poucos. Não creio que durem para um tempo.

Na Gruta estão colocados assim: Maria à direita, com as costas para a porta, meio escondida pelo tronco e pelo  corpo do boi que está deitado sobre um estrado de palha. José está à esquerda, virado para a porta, portando em diagonal, com no rosto voltado para o fogo e as costas para Maria , de vez enquanto,  se vira para olhar para ela, e a vê quieta, como se estivesse dormindo. José vai quebrando devagar seus gravetos, jogando, um por um, sobre  o pequeno fogo, a fim de que não se apague, para que produza alguma luz e para que a lenha dure mais. Não se vê mais do que uma claridade, ora mais viva, ora mais fraca, vinda do fogo que está se apagando, e naquela penumbra, só destacam mesmo a brancura do boi e do rosto e das mãos de José. Tudo o mais é apenas uma massa confusa  dentro da pesada penumbra.

-Não há ditado -diz Maria. A visão fala por si mesma. A vós compete compreender a lição de caridade, humildade e pureza que emana dela. Descansa. Descansa velando, como eu velava, esperando do Jesus. Ele virá trazer-te a Sua paz.

 

 

29. Nascimento de Jesus. Eficácia salvífica da divina maternidade de Maria

 

6 de junho de 1944.

Vejo ainda o interior deste pobre refúgio rochoso, onde José e Maria encontraram o abrigo que compartilham com animais. Um pequeno fogo está cochilando junto ao seu guardião. Maria levanta um pouco a cabeça da enxerga, e olha. Vê José com a cabeça inclinada sobre o peito, como se estivesse pensando, e ela também acha que o cansaço deva ter vencido a sua boa vontade em ficar acordado todo o tempo. Maria sorri com um sorriso cheio de bondade e, fazendo menos barulho do que pode fazer uma borboleta ao pousar sobre uma rosa, se põe sentada e, depois de sentada, se põe de joelhos. Reza com um sorriso feliz em seu rosto. Reza de braços abertos, não propriamente cruzados, mas quase, e com as palmas viradas Para o alto e para a frente. Nem parece ficar cansada naquela penosa posição. Depois, se prostra com o rosto contra o feno, em uma oração ainda mais intensa. Uma longa oração. José desperta. Vê que o fogo está quase apagado e a gruta está ficando escura. Joga um punhado de gravetos bem finos, e a chama se ergue de novo; procura depois uns galhos mais grossos, porque o frio deve ser de gelar. E o frio da noite serena de inverno, que entra por todos os lados da gruta. O pobre José, perto da porta (chamamos assim de porta a abertura sobre a qual está estendido seu manto) deve estar se enregelando. Ele aproxima as mãos da chama, desata as sandálias, aproxima também os pés. Procura aquecer-se’ E, quando o fogo já está bem vivo, sua luz firme, vira as costas. Mas agora não vê nada, nem mesmo a brancura do véu de Maria, que antes formava uma linha clara sobre o feno escuro. Põe-se de pé e, lentamente, vai-se aproximando da enxerga. – Não estás dormindo, Maria?, ele pergunta. Faz a mesma pergunta três vezes, até que Maria estremece, e lhe responde:

– Estou rezando. – Não estás precisando de nada? – Não, José.
– Procura dormir um pouco. Ou, pelo menos, descansar.
– Vou procurar. Mas rezar não me cansa.
– Até logo, Maria.
– Até logo, José.

Maria volta à sua posição. José, para não cair de novo no sono, põe-se de joelhos perto do fogo, e reza. Reza apertando as mãos sobre o rosto. Tira-as, cada vez que precisa alimentar o fogo, voltando à sua fervorosa oração. Com exceção do barulho da lenha que crepita no fogo e o do burrinho que, de vez em quando, bate um casco no chão, não se ouve mais nada.  Um pouco de luar está entrando por uma fenda do teto, e parece a lâmina de alguma prata imaterial, que vai-se aproximando de Maria. A lâmina vai-se alongando, à medida que a lua vai ficando mais alta no céu e, finalmente a alcança. Agora, já está sobre a cabeça da orante, ornando-a com uma auréola de luz. Maria levanta a cabeça, corno se tivesse sido chamada por uma ‘ voz do céu, e se põe de novo de joelhos. Oh! Como é belo aqui. Maria ergue de novo a cabeça, que parece estar brilhando, à luz branca da lua, e um sorriso não humano a transfigura. Que é que ela estará vendo? Que estará ouvindo? Que estará experimentando? Somente Ela poderia dizer o que está vendo, ouvindo e o que experimentou na hora esplendorosa de sua maternidade.

Eu vejo apenas a luz  crescendo sempre mais, ao redor dela. Parece descer do Céu, saindo das pobres coisas que estão ao redor, e parece emanar dela mesma, ainda mais.

Sua veste, de um azul escuro, parece agora de um suave celeste de miosótis, Suas mãos e seu rosto parecem ficar de um azul muito deli-;do, como os de alguém que fosse colocado sob o foco de uma imensa safira clara. Esta cor, ainda mais tênue, me faz lembrar as cores das minhas visões do santo Paraíso, e também a cor da chegada dos gagos, urna cor que vai-se difundindo sobre as coisas e as vestes, purificando tudo, e tornando-as resplandecentes. A luz, que se desprende sempre mais do corpo de Maria, absorve a luz da lua, e parece que ela atraia a si toda a luz do Céu. Agora ela é a depositária da Luz. É ela que deve dar esta Luz ao mundo. E esta Luz beatífica, incontrolável, imensurável, eterna e divina, está para ser dada, e se anuncia como uma luz de aurora crescendo, um coro de átomos aumentando, a maré subindo, a nuvem do incenso espalhando-se, para descer depois como uma enchente e estender-se como um véu… O teto, cheio de fendas, teias de aranha, entulhos que em cima se estendem para a frente, estão em equilíbrio por um milagre da estática, esse teto que antes era tão enegrecido, enfumaçado e repelente, está parecendo agora o teto de uma sala real. Cada uma das grandes pedras é um bloco de prata, cada fenda é um lampejar de opalas, cada teia de aranha é um baldaquim precioso, confeccionado com rata e diamantes. Uma lagartixa grande e verde, que está dormindo em letargia entre duas pedras, parece um colar de esmeraldas esquecido por alguma rainha. Um cacho de morcegos, também em letargia, parece um precioso lampadário de ônix. O feno, que está na manjedoura de cima, já não é mais uma erva: são fios e mais fios de rata Pura, que tremulam no ar com a graça de uma cabeleira solta. A manjedoura de baixo está com sua madeira de cor escura transformada em bloco de prata brunida. As paredes estão cobertas de um brocado no qual a alvura da seda desaparece sob o bordado opalino do relevo e o solo… o que é o solo agora? É um cristal que possui uma luz branca acesa em si mesmo. As saliências são como rosas de luz homenagem ao solo; e os próprios buracos são vasos preciosos, de onde devem emanar aromas e perfumes.
A luz vai se tornando cada vez mais forte, e fica insuportável para a vista, A virgem desaparece nela, com se tivesse sendo absorvida por um véu incandescente… e dele surge a mãe.
Sim. Quando a luz volta a ser suportável aos meus olhos, vejo Maria com o Filho recém-nascido nos braços. Um pequenino,  todo róseo e gorducho, que agita os braços e esperneia. Tem as mãozinhas do tamanho de botões de rosa e seus pezinhos caberiam na corola de uma rosa. Ele solta vagidos com sua vozinha trêmula, cordeirinho que acaba de nascer, abrindo a boquinha, que mais parece um moranguinho selvagem, e mostrando a linguinha que bate repetidamente contra o véu palatino. Move a cabecinha loira me parece quase sem cabelos, essa cabecinha redonda que a mamãe sustenta na palma de sua mão, enquanto olha o Menino e o adora chorando e rindo ao mesmo tempo, e se inclina para beijá-lo não em sua cabecinha, mas em seu peito, onde está batendo seu coraçãozinho, batendo por nós… é nesse coração em que um dia haverá uma ferida. E Maria, com antecipação, já medica tal ferida, com seu beijo imaculado de mãe. O boi, despertado pela claridade, levanta-se, fazendo um grande barulho com seus cascos, e muge, enquanto o burrinho vira a cabeça e urra. É a luz que os desperta, mas eu gosto de pensar que eles quiseram saudar o seu Criador, por si mesmos, mas também por todos os animais.

Também José que, quase extasiado, estava rezando de um modo tão recolhido, que nem notou o que estava acontecendo ao redor, volta a si da oração, vendo filtrar-se aquela estranha luz entre os dedos das mãos, que estão unidas sobre o rosto. Tira, então, as mãos do rosto, levanta a cabeça e se vira para trás. O boi, que agora se pôs de pé, está escondendo Maria. Mas ela diz:
– José, vem cá.

José se aproxima dela. E, ao ver, pára dominado por um sentimento de reverência, e está para cair de joelhos lá mesmo  lugar em que está. Mas Maria insiste, dizendo

-Vem cá, José, e, firmando a mão sobre o feno, com a direita ela segura apertado contra o seu coração o Menino. Levanta-se então, indo ao encontro de José, que caminha tropegamente embaraçado pelo contraste do seu desejo de aproximar-se e o temor de ser irreverente.

Aos pés do catre, os dois esposos se encontram e olham um para o outro, num só e feliz pranto.

-Vem, vamos oferecer Jesus ao Pai, diz Maria.

Enquanto José se ajoelha, ela se põe de pé entre dois troncos que tentam o teto, levanta o Filho em seus braços, e diz. aqui, Senhor. Por Ele, ó Deus, eu te digo palavra. Eis me aqui para fazer a tua vontade. Com Ele estamos eu, Maria, e José, meu esposo. Eis-nos aqui, teus servos, Senhor! A tua vontade seja feita sempre por nós, em toda hora e em todos os acontecimentos, para a tua glória e pelo teu amor.

Depois, Maria se inclina e diz:

– Toma-o, José, oferecendo-lhe o Menino.
– Eu? Tu o entregas a mim? Oh! não! Eu não sou digno. José está completamente apavorado, e se sente aniquilado, só diante da idéia de ter que tocar em Deus.

Mas Maria insiste com ele, sorrindo:

– Tu és bem digno disso, sim. Ninguém mais do que tu. Por isso é que o Altíssimo te escolheu. Toma-o, José, e segura-o, enquanto eu vou buscar as roupinhas. José, vermelho como escarlate, estende os braços e pega aquele embrulhinho de carne que está gritando de frio e, quando já está com ele nos braços, não se deixa mais levar pela vontade de tê-lo afastado do seu corpo pelo respeito, mas o aperta ao coração, dizendo numa grande explosão de pranto:
-Ó Senhor! Ó meu Deus!

Ao inclinar-se para beijar-lhe os pezinhos, percebe que eles estão frios e, então, senta-se no chão e o põe em seu colo procurando co-bri-1,o com a veste marrom e as mãos, aquecendo-O e defendendo-O do vento frio da noite. Ele bem que gostaria de ir para perto do fogo, mas passaporte lá aquela corrente de ar da entrada. É melhor ficar por aqui mesmo. É melhor, aliás, ficar entre os animais, que servem de escudo contra o ar, e que produzem calor. Assim pensando, coloca-se entre o boi e o jumento, com as costas para a porta, inclinando-se sobre o Recém-Nascido, fazendo do seu peito um nicho, cujas paredes laterais sâo: uma cabeça cinzenta com longas orelhas e um grande focinho branco com um nariz que solta vapor quente, e olhos úmidos, cheios de bondade.
Maria abriu o baú, tirando linhos e cueiros. Depois foi para perto do fogo, e aqueceu os panos. Vai então a José, envolvendo o Menino naqueles tecidos mornos e no seu véu para proteger-lhe a cabecinha .
– Onde vamos colocá-lo agora?, ela pergunta.

José está pensativo.. olhando ao redor.

-Espera!, diz ele. – Vamos afastar um pouco os animais e o feno deles. Depois jogamos para baixo aquele feno que está no alto colocando-o aqui dentro. A madeira da beirada protegerá o menino do ar frio, o feno lhe servirá de travesseiro, e o boi com o seu hálito o aquecerá um pouco. Para isso, é melhor o boi. Ele é mais paciente e sossegado. José põe mãos à obra, enquanto Maria nina o seu menino, apertando-o ao coração, conservando sua face sobre a cabecinha para dar-lhe mais algum calor. José atiça o fogo, sem economizar mais a lenha, para conseguir uma boa chama, esquentar o feno, e à medida que o feno se enxuga, ele o coloca no peito, para que não se esfrie. Depois, quando já apanhou o bastante para fazer um colchãozinho para o Menino, vai até a manjedoura e o põe, de modo a tomar a forma de um pequeno berço.
– Está pronto!, diz ele.

– Agora precisaríamos de uma coberta, para cobrir o Menino, pois o frio está forte…

– Toma o meu manto, diz Maria.

– Mas tu ficarás com frio.

– Oh! Não faz mal! O cobertor é áspero demais. O manto é macio e quente. Eu não tenho frio algum. Mas quero que Ele não sofra mais’. José pega, então o grande manto de lã macia, de cor azul clara, e o coloca dobrado sobre o feno, com uma beirada que fica pendurada para fora da manjedoura. Assim, o primeiro leito do Salvador ficou pronto. E a mãe o leva, com passos cheios de graça e doçura, a fim de colo-, na manjedoura cobrindo-O com a beirada do manto, que ajeita também ao redor da cabecinha descoberta que começou a afundar-se no feno, e estava protegida apenas pelo leve véu de Maria contra esta aspereza. Permanece descoberto somente o rostinho do tamanho do punho, e os dois, inclinados sobre a manjedoura, o ficam olhando felizes, enquanto ele dorme o seu primeiro sono, porque o calor bom dos cueiros e do feno lhe acalmou o choro, e o doce Jesus conciliou o sono.

‘Maria diz:

Eu te havia prometido que Ele te traria a paz. Estás lembrada da paz que havia em ti nos dias do Natal? De quando me vias com o meu Menino? Aquele era o teu tempo de paz. Agora é o teu tempo de sofrimento. Mas tu o sabes. É no sofrimento que se conquista a paz e toda a graça para nós e o próximo. Jesus-Homem revelou-se Jesus-Deus, depois do tremendo sofrimento da Paixão. Revelou-se como a paz. Paz no Céu, do qual Ele tinha vindo, derramada sobre aqueles que no mundo o amam. Mas, nas horas da paixão, Ele, a Paz do mundo, foi privado dela. Não teria sofrido, se tivesse tido a paz. Mas devia sofrer. Sofrer de modo completo.

Eu, Maria, redimi a mulher com a minha maternidade divina. Mas isso não foi mais que o início da redenção da mulher. Negando-me a quaisquer esponsais pelo voto de virgindade, eu tinha rejeitado todo prazer de concupiscência, e merecido a graça de Deus. Isso, porém ainda não bastava. Porque o pecado de Eva era uma árvore de quatro ramos: soberba, avareza, gula e luxúria.

Todos os quatro deviam ser cortados, a fim de esterilizar a árvore desde as raizes. ‘Humilhando-me profundamente, eu venci a soberba.

Humilhei-me diante de todos. Não estou falando da minha humildade para com Deus. Esta é devida ao Altíssimo por toda criatura. O Verbo de Deus a teve. Eu, uma mulher, a devia ter. Mas terás já refletido por quantas humilhações da parte dos homens eu tive que passar, sem me defender de modo nenhum? Até José, que era justo, me havia acusado em seu coração. Os outros, que não eram justos, tinham pecado por murmuração a respeito do meu estado, e o barulho dessas palavras veio, como uma onda amarga, quebrar-se contra a minha natureza humana. Foram estas as primeiras das infinitas humilhações que a minha vida, como mãe de Jesus e do gênero humano, me fizeram sofrer. Humilhações de pobreza, humilhações de uma fugitiva, humilhações Pelas censuras dos parentes e amigos que, não sabendo a verdade, julgavam fraco o meu modo de ser mãe para com o meu Jesus, quando Ele se tornou jovem. Humilhações durante os três anos do seu ministério humilhações cruéis na hora do Calvário, humilhações até em ter que reconhecer que eu não tinha com que comprar o lugar e os aromas, para a sepultura do meu Filho.
Venci a avareza dos Progenitores, renunciando antecipadamente ao meu Filho.

Urna mãe não renuncia nunca ao seu filho, a não ser que seja forçada. Se essa renúncia for solicitada ao seu coração pela Pátria amor de uma esposa, ou até pelo próprio Deus, ela ela sente o desejo de insurgir-se contra a separação. É natural. O filho cresce em nosso ventre, e nunca é completamente cortada a ligação que sua pessoa tem com a nossa. Mesmo depois de cortado o canal vital que é o cordão umbilical, sempre fica um elo espiritual, que nasce no coração da mãe, mais vivo e sensível do que um elo físico, o qual se introduz no coração do filho, esticando até à dor, se o amor de Deus, de uma criatura, da Pátria afasta o filho da própria mãe. Este elo se despedaça, dilacerando o coração, se a morte arrebata o filho de sua mãe. Eu renunciei ao meu Filho, desde o momento em que O tive.

Dei- o a Deus. Dei-O a vós. Eu me despojei do Fruto do meu ventre, para reparar o furto cometido por Eva, do fruto de Deus.

Eu venci a gula, tanto do saber como do gozar, aceitando saber unicamente o que Deus queria que eu soubesse, sem perguntar a mim mesma nem a Ele nada mais, além do que foi dito. Acreditei sem investigar. Venci a gula do gozar, porque neguei a mim mesma todo sabor de sensualidade. Pus minha carne debaixo dos meus pés. Confinei a carne, instrumento de satanás, colocando satanás debaixo de meu calcanhar, a fim de fazer da carne um degrau para aproximar-me do Céu. O Céu! Ele era a minha meta. Era lá que estava Deus. Deus, a minha única fome. Fome esta que não é gula, mas sim, necessidade abençoada por Ele, o qual quer que a tenhamos.

Eu venci a luxúria, que é a gula, convertida em voracidade, porque todo vício não contido conduz a um vício maior. A gula de Eva, além de reprovável em si mesma, a conduziu à luxúria. Não lhe bastou procurar a satisfação sozinha. Quis levar o seu delito até uma refinada intensidade, conhecendo e se fazendo mestra de luxúria para o companheiro. Eu inverti os termos e, em lugar de descer, sempre subi. Em lugar de fazer descer, eu sempre atraí para o alto, e do meu companheiro, um homem honesto fiz um anjo. Agora que eu possuía Deus, e com Ele as Suas riquezas infinitas’. apressei-me a despojar-me delas, dizendo: “Que seja feita a tua vontade para Ele e por Ele”. Casto é aquele que se auto contém, na só na carne, mas também nos afetos e nos pensamentos. Eu devia ser a casta, para anular a impudica da carne, do coração e da mente. Não saí da minha reserva, para d. dizer a respeito do meu único filho na terra e único Filho de Deus no Céu: “Ele é meu, e eu O quero.” Contudo, isso não bastava para obter para a mulher, a paz perdida por Eva.

Aquela paz eu vo-la obtive aos pés da Cruz. Ao ver morrer Aquele que tu viste nascer. Ao sentir minhas entranhas sendo arrancadas, ao grito do meu Filho que estava morrendo, fiquei vazia de todo feminismo: não mais carne, mas anjo. Maria, a virgem desposada com O Espírito, morreu naquele momento. Ficou a mãe da graça, aquela que do seu tormento gerou e vos deu a graça a Graça. O gênero da mulher que eu tinha voltado a consagrar na noite de Natal, aos pés da Cruz conseguiu se tornar criatura dos Céus. Fiz isso por vós, negando-me qualquer satisfação, ainda que santa. Eu fiz de vós, se o desejais, santas de Deus, vós que fostes reduzidas por Eva a fêmeas não superiores às companheiras dos animais. Por vós eu subi. Como fiz com José, eu vos levei para o alto. A rocha do calvário é o meu Monte das Oliveiras. Foi dali que eu tomei o impulso para levar a alma da mulher aos céus. de novo santificada, junto com minha carne glorificada, por ter trazido o Verbo de Deus, e anulado em mim todo vestígio de Eva. Ela foi a última raiz daquela arvore dos quatro ramos venenosos, com a raiz fincada na sensualidade. que arrastou a humanidade à queda e que haverá de morder as vossas entranhas.

Até ao fim dos séculos, até à última mulher. De lá, de onde agora eu brilho no raio do Amor, eu vos chamo, e vos indico remédio para vós vencerdes a vós mesmas: a graça do meu Senhor e sangue do meu Filho. ‘E tu, minha porta voz, repousa a tua alma na luz desta aurora de  Jesus, a fim deque tenhas força para as futuras crucificações, que não te serão poupadas, porque te queremos aqui, para onde se vem através da dor; e para tão mais alto se vem, quanto mais se suporta o sofrimento, a fim de obter graça para o mundo. Vai em paz. Eu estou contigo”.

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