Estudo 42 – Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade

Os Três Fiat
Estudo 42 – Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade
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44. Jesus se despede de sua mãe e deixa Nazaré.

9 de fevereiro de 1944, 9:30 horas.
(iniciada durante a Santa Comunhão)
44.1Vejo o interior da casa de Nazaré. Nela vejo uma sala, parece uma
sala de família, onde a Família faz suas refeições, ficando também nas horas
de descanso. É uma salinha muito pequena, com uma simples mesa retangular
que está em frente de uma espécie de arquibanco, encostado à parede. Ele
serve de assento para um dos lados da mesa. Junto às outras paredes estão
um tear e um banco, dois outros bancos e uma estante sobre a qual estão
algumas candeias e outros objetos. Uma porta abre-se para a horta-pomar.
Deve estar anoitecendo, porque não tem nada senão uma lembrança de sol
sobre a copa de uma árvore, que começa a verdejar com suas primeiras
folhas.
Jesus está à mesa. Ele está comendo, Maria o serve, indo e vindo, por
uma portinha, a qual suponho que conduz ao lugar onde está a lareira, da
qual se vê o clarão, através da porta entreaberta.
Jesus diz duas ou três vezes a Maria que se assente… e coma também.
Mas ela não quer, sacode a cabeça, sorrindo tristemente, e, depois das
verduras cozidas, que me parece estar em lugar da sopa, leva para a mesa
peixes assados, um queijo fresco, feito de leite de ovelha e em forma de
pequenas bolas parecidas com uma daquelas pedras que se encontram no
fundo dos córregos, e azeitonas pequenas e escuras. O pão, feito em
pequenas formas redondas (da largura de um prato comum) e de pouca
altura, já está sobre a mesa. É um tanto escuro, que não deve ter sido feito
sem o farelo. Jesus tem diante de Si uma ânfora com água e uma taça. Come
em silêncio, olhando para a mãe com um doloroso amor.
É visível o sofrimento de Maria. Ela vai e vem, para mostrar
compostura. Ainda há luz suficiente, mas ela acende uma candeia, e a coloca
perto de Jesus. Ao esticar o braço para isso, acaricia a cabeça de seu Filho
furtivamente, torna a abrir um alforje, que me parece feito com aqueles
tecidos feitos à mão, com lã virgem sendo, por isso, impermeável, da cor de
avelã. Ela procura dentro alguma coisa, sai para o pequeno pomar e vai até
lá no fundo, em uma espécie de esconderijo, saindo com umas maçãs um
pouco murchas, que certamente se conservaram desde o verão, colocando-as
no alforje. Depois pega um pão e um queijo e os põe junto, por mais que
Jesus não queira, dizendo que o que está lá dentro já basta.
Maria se aproxima da mesa novamente, do lado da passagem mais
estreita, à esquerda de Jesus, e fica olhando-O comer. Ela olha para Ele com
angústia, com adoração, com o rosto ainda mais pálido que de costume, que
o sofrimento faz parecer envelhecido, com os olhos maiores, marcados com
uma sombra, indício de lágrimas já derramadas. Parecem também mais
claros que de costume, como se tivessem sido lavados pelo pranto presente
neles, pronto para cair. São dois olhos cheios de dor e de cansaço.
44.2 Jesus, que come devagar e claramente contra a vontade, somente para
contentar a mãe, está mais pensativo do que habitualmente, levanta a cabeça
e a olha. Encontra um olhar cheio de lágrimas, inclinando então a cabeça
para deixá-la mais à vontade, limitando-se a segurá-la pela delicada mão
que ela está apoiando à beira da mesa. Jesus a pega com sua esquerda e a
leva até à sua própria face, e a apóia nela, por um momento, para sentir a
carícia daquela pobre mãozinha que está tremendo, depois a beija no dorso
com muito amor e respeito.
Vejo Maria levar à boca sua mão livre, a esquerda, como para sufocar
um soluço. Em seguida, ela enxuga com os dedos uma grande lágrima que lhe
escapou dos cílios, banhando-lhe a face.
Jesus continua a comer, e Maria sai rapidamente para o pequeno pomar,
onde a luz já é bem pouca, e desaparece. Jesus apóia o cotovelo esquerdo
sobre a mesa, e sobre a mão apóia a fronte mergulhando-se em seus
pensamentos, parando de comer.
Depois parece procurar escutar algo, e se levanta. Sai também Ele para
o pomar, e, ao dar uma olhada ao redor, dirige-se à direita, em relação ao
lado da casa, entrando, pela abertura de uma parede rochosa, em um quarto
que eu reconheço ser a oficina do carpinteiro, que desta vez está toda em
ordem, sem tábuas nem maravalhas, e sem o fogo aceso. Ali estão o banco
grande e os utensílios, tudo em seus lugares, só isso.
Curvada sobre o banco, Maria está chorando. Parece uma menina. Está
com a cabeça sobre o braço esquerdo dobrado, e chora sem fazer barulho,
mas com grande dor. Jesus entra devagar, e se aproxima dela, tão levemente,
que ela só percebe que Ele está ali, quando o Filho lhe pousa a mão sobre a
cabeça inclinada, chamando-a: “Mãe!”, com uma voz de amorosa censura.
Maria levanta a cabeça, olha para Jesus, através de um véu de lágrimas,
e se apóia Nele com as duas mãos unidas, segurando-o pelo braço direito.
Jesus lhe enxuga o rosto com a beira de sua larga manga, e, depois a abraça,
atraindo-a sobre o seu coração e beijando-a na fronte. Jesus está majestoso,
parece mais viril que de costume, e Maria parece mais menina, exceto no
rosto, que está marcado pela dor.
– Vem, mãe –lhe diz Jesus, e, segurando-a apertada contra Si pelo braço
direito, dirige-se para o pomar, onde se assenta em um banco à frente da
parede da casa. O pomar está silencioso, e enfim escuro. Vê-se apenas um
belo luar e a luz que vem da sala de jantar. A noite está serena.
44.3 Jesus fala a Maria. A princípio, não entendo as palavras, apenas
murmuradas, às quais Maria, com a cabeça, assente. Depois, eu ouço:
– Faz que venham os parentes. Não fiques sozinha. Eu ficarei mais
tranqüilo, mãe, e tu sabes que preciso estar tranqüilo para cumprir a minha
missão. O meu amor não te faltará. Eu virei freqüentemente, e mandarei
avisar-te, quando estiver na Galiléia, não podendo vir até em casa. Nesse
caso, tu irás a Mim. Mãe, esta hora tinha que chegar. Ela começou aqui,
quando o Anjo te apareceu; agora ela chegou, nós devemos vivê-la, não é
verdade, mãe? Depois virá a paz, da provação superada, e a alegria.
Primeiro, precisamos atravessar este deserto como os antigos Pais fizeram
para entrarem na Terra Prometida. Mas o Senhor Deus nos ajudará, como
ajudou a eles. E nos dará a sua ajuda como um maná espiritual para nutrir o
nosso espírito no esforço da prova. Vamos dizer juntos o Pai-nosso…
Jesus se levanta, e Maria com Ele, erguendo os rostos ao céu. Duas
hóstias vivas, que brilham na escuridão.
Jesus diz lentamente, mas com voz clara, e destacando as palavras, a
oração dominical
[72] . Destaca de modo especial as palavras destas frases:
“Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade”, separando bem
estas duas frases das outras. Ele reza com os braços abertos, não
propriamente em cruz, mas como fazem os sacerdotes, quando se dirigem ao
povo, dizendo: “O Senhor esteja convosco!” Maria conserva suas mãos
unidas.
44.4Depois, voltam para a casa, e Jesus, que eu nunca vi beber vinho,
despeja em uma taça, de uma ânfora apanhada na estante, um pouco de vinho
branco e o leva para a mesa, pega Maria pela mão, e faz que ela se assente
perto Dele e beba daquele vinho, no qual molha uma pequena fatia de pão,
fazendo, depois, que ela o coma. A insistência dele é tanta, que Maria cede.
Jesus bebe o que resta do vinho. Depois disso, aperta a mãe ao seu lado, e a
segura assim junto ao seu corpo, pela parte do coração. Nem Jesus, nem
Maria estão deitados, mas sentados, como nós nos sentamos. Não estão
falando mais. Estão esperando. Maria acaricia a mão direita de Jesus e seus
joelhos. Jesus faz uma carícia ao braço e à cabeça de Maria.
44.5Em seguida, Jesus se levanta, e Maria também, e se abraçam e se
beijam amorosamente muitas vezes. Parece que querem se deixar, mas Maria
torna a apertar contra si o seu Filho. É a Virgem Santa, mas é uma mãe enfim,
uma mãe que precisa separar-se do seu filho, sabendo qual vai ser o fim
daquela separação. Ninguém me venha mais dizer que Maria não sofreu.
Antes, acreditava pouco nisso, mas agora estou convencida.
Jesus pega o manto (azul escuro) e joga-o sobre as costas e a cabeça,
como um capuz. Depois pendura à tiracolo o alforje, de modo que não lhe
dificulte o andar. Maria o ajuda, parece que não vai terminar nunca de
ajustar-lhe a roupa, o manto e o capuz. E, enquanto assim faz, ela ainda o
acaricia.
Jesus vai até à saída, depois de ter traçado um gesto de bênção sobre a
sala. Maria o acompanha e, à porta, que já está aberta, eles se beijam de
novo.
44.6A rua está silenciosa e solitária, toda branca ao luar. Jesus vai
caminhando. Vira-se ainda duas vezes para olhar a mãe, que ficou apoiada
ao umbral da porta, mais branca do que a lua, e soltando lágrimas que
brilham em um pranto silencioso. Jesus vai ficando cada vez mais longe,
indo pela ruazinha branca. Maria continua chorando junto à porta. Depois,
Jesus desaparece numa das curvas do caminho.
Começou o seu caminho de Evangelizador, que terminará no Gólgota.
Maria entra chorando, e fecha a porta. Também para ela começou o caminho
que a levará ao Gólgota. Tudo por nós…

Jesus diz:
– Esta é a quarta dor de Maria mãe de Deus. A primeira foi a
apresentação ao Templo; a segunda, a fuga para o Egito; a terceira, a morte

de José; a quarta, a minha separação dela.
Conhecendo o desejo do Pai, Eu te disse ontem à tarde que apressarei a
descrição das “nossas” dores para que elas se tornem conhecidas. Mas,
como estás vendo, já algumas, de minha mãe, tinham sido relatadas. Eu
expliquei a fuga antes da apresentação, porque havia necessidade de fazê-
lo naquele dia. Eu sei. Tu compreendes e dirás o porquê ao Pai, de viva voz.

44.8É meu desejo alternar as tuas contemplações, e as minhas
conseqüentes explicações, com os ditados propriamente ditos, para aliviar o
teu espírito, dando-te a bem-aventurança de ver, e também porque assim fica
clara a diferença estilística entre o teu modo de compor e o meu.
Além disso, diante de tantos livros que falam de Mim, com tanto toca e
retoca, muda e embeleza, estes livros se tornaram irreais, agora Eu desejo
dar a quem crê em Mim, uma visão que leve à verdade do tempo da minha
vida mortal. Com isso, Eu não fico diminuído, mas ao contrário, me torno
maior na minha humildade, que se faz pão por vós, a fim de ensinar-vos a ser
humildes e semelhantes a Mim, que fui homem como vós, trazendo Comigo,
na minha veste de homem, a perfeição de um Deus. Eu devia ser vosso
Modelo, e os modelos devem ser sempre perfeitos.
Não terei nas contemplações uma linha cronológica correspondente à
dos Evangelhos. Tomarei os pontos que Eu achar mais úteis naquele dia para
ti ou para os outros, seguindo uma linha minha de ensinamento e de bondade.
44.9O ensinamento que vem da contemplação da minha separação é
dirigido especialmente aos pais e aos filhos que a vontade de Deus chama
para uma vida de renúncia recíproca por um amor mais alto. Em segundo
lugar, é dirigido a todos aqueles que se encontram diante de uma renúncia
difícil.
Quantas dessas não encontrais em vossas vidas! Elas são como espinhos
sobre a terra, e penetrantes ao coração. Eu sei. Mas a quem as acolhe com
resignação — prestai atenção, eu não digo: “a quem as deseja e as acolhe
com alegria” (pois isto já é perfeição); mas eu digo: “com
resignação” — elas se transformam em rosas eternas. Mas poucos são os que
as acolhem com resignação. Como uns burrinhos rebeldes, vós vos levantais
contra a vontade do Pai e teimais, se é que não procurais até ferir com
coices espirituais e mordidas, ou seja, com rebelião e blasfêmias contra o
bom Deus.
44.10Não digais assim: “Mas eu não tinha outro bem senão este, e Deus o
tirou de mim. Eu não tinha outro amor senão este, e Deus arrebatou-o de

mim.” Também Maria, mulher gentil e amorosa até à perfeição, porque em
sua Graça Total até as formas afetivas e sensitivas eram perfeitas, não tinha
senão um bem e um amor sobre a terra: o seu Filho. Nada lhe restava, senão
Ele. Seus pais estavam mortos fazia tempo, José estava morto, havia alguns
anos. Não havia senão Eu para amá-la e fazê-la sentir que não estava
sozinha. Os parentes, por causa de Mim, de quem eles não conheciam a
origem divina, lhe eram um pouco hostis, como se fosse uma mãe que não
sabe se impor ao filho, que sai do bom-senso, que recusa os casamentos que
lhe são propostos os quais poderiam trazer prestígio para a família, e até
ajuda.
Os parentes, voz do bom senso, do senso humano ainda, que vós chamais
de bom-senso, não passam de um senso humano, isto é, egoísmo, teriam
querido estas práticas desenvolvidas na minha vida. No fundo, havia sempre
o medo de, um dia, passarem aborrecimentos por minha causa, pois Eu já
ousava exteriorizar minhas idéias, por demais sonhadoras, no pensar deles,
as quais podiam até irritar a Sinagoga. A história hebraica estava cheia de
ensinamentos sobre a sorte que tiveram os profetas. Não era fácil a missão
do profeta, pois muitas vezes acarretava a morte dele e aborrecimentos para
a sua parentela. No fundo, estavam sempre com o pensamento de que teriam
um dia de cuidar de minha mãe.
Por isso é que, ao verem que Ela não se opunha a Mim em nada, e até
parecia viver numa contínua adoração perante o Filho, isso os irritava. Esta
antipatia haveria de ir crescendo, ao longo dos três anos do ministério, até
culminar em censuras abertas, quando me encontravam no meio das
multidões, e se envergonhavam, como diziam, da minha mania de ficar
provocando as castas poderosas. Censuras a Mim e a Ela, a minha pobre
mãe!
44.11Contudo, Maria não opôs resistência, como vós fazeis, ela que sabia
as disposições dos parentes (nem todos foram como Tiago, Judas e Simão,
nem como a mãe deles, Maria de Cléofas), prevendo as disposições futuras,
e sabendo a sua sorte durante aqueles três anos e o que a aguardava no final
deles, assim como o que Me aconteceria. Ela chorou. Quem não teria
chorado, diante da separação do filho que a amava, como Eu a amava, diante
da perspectiva dos longos dias vazios, sem a minha presença, naquela casa
solitária, diante do futuro do Filho, destinado a se bater contra a má vontade
de quem era culpado, procurando vingar-se da culpa, ofendendo o Inocente,
até matá-lo?

Chorou porque era a Co-Redentora e a mãe do gênero humano renascido
para Deus, e devia chorar por todas as mães que não sabem fazer de suas
dores de mães uma coroa de glória eterna.
Quantas mães neste mundo vêem a morte arrancar um filho dos seus
braços! Quantas mães vêem a vontade sobrenatural arrebatar-lhes um filho
de perto delas! Maria chorou por todas as suas filhas, como mãe dos
cristãos, por todas as suas irmãs, em sua dor de mãe despojada. Chorou
também por todos os filhos que, nascidos de mulher, estão destinados a
tornarem-se apóstolos de Deus, ou mártires por amor de Deus, por
fidelidade a Ele ou pela ferocidade humana.
44.12O meu Sangue e o pranto de minha mãe são a mistura que fortalece os
marcados da sorte heróica, anulando-lhes as imperfeições, ou as faltas
cometidas por fraqueza, dando depois do martírio sofrido, a paz de Deus e,
se sofrido por Deus, a glória do Céu.
Os missionários experimentam as lágrimas como uma chama que os
aquece nas regiões onde a neve impera, como um orvalho lá onde o sol arde.
São brotadas da caridade de Maria e jorram dum coração de lírio. Suas
lágrimas têm o fogo da caridade virginal unida ao Amor e o perfumado
frescor da virginal pureza, semelhante ao da água que se recolhe no cálice de
um lírio, depois de uma noite orvalhosa.
Os consagrados as encontram[74]

naquele deserto que é a vida monástica
bem entendida. É deserto porque não vive senão da união com Deus, e
qualquer outro afeto desaparece tornando-se unicamente caridade
sobrenatural, para com os parentes, os amigos, os superiores e os inferiores.
São encontradas pelos consagrados a Deus no mundo, no mundo que não
os entende e não os ama. É deserto também para eles, pois vivem como se
estivessem sozinhos, por serem tão incompreendidos e escarnecidos, por
amor de Mim.
As minhas queridas “vítimas” experimentam as lágrimas, porque Maria
é a primeira das vítimas que por amor de Jesus dá as suas lágrimas que
restauram e inebriam um maior sacrifício, às suas imitadoras, com a mão de
mãe e de Médica.
Santo pranto o de minha mãe!
44.13Maria reza. Não se recusa a rezar, só porque Deus lhe manda uma dor.
Lembrai-vos disso. Ela reza junto com Jesus. Reza o Pai-nosso. Nosso e
vosso.

O primeiro “Pai-nosso” foi pronunciado no pomar de Nazaré para
consolar o sofrimento de Maria, para oferecer as “nossas” vontades ao
Eterno, no momento em que se estava iniciando para essas vontades o
período de uma renúncia sempre crescente, que iria culminar por Mim, na
renúncia da vida e por Maria, na morte do Filho.
Ainda que não tivéssemos nada de que pedir perdão ao Pai, contudo,
por humildade, nós, os Sem Culpa, pedimos perdão ao Pai, para sermos
perdoados e absolvidos até de algum suspiro, para podermos ir dignamente
ao encontro da nossa missão. Para ensinar-vos que quanto mais estiverdes na
graça de Deus, mais a missão é abençoada, e mais frutos ela produz. Para
ensinar-vos o respeito a Deus e a humildade. Diante de Deus Pai, até as
nossas duas perfeições de Homem e de Mulher sentiram-se um nada,
pedindo perdão. Como também pediram o “pão de cada dia”.
Qual era o nosso pão? Oh! não aquele amassado pelas mãos puras de
Maria e assado no pequeno forno, para o qual tantas vezes Eu tinha ajeitado
feixes e braçadas de lenha. Também aquele é necessário, enquanto
estivermos sobre a terra. Mas o “nosso” pão de cada dia era aquele de fazer,
dia após dia, a nossa parte da missão. Que Deus no-la desse cada dia,
porque cumprir a missão que Deus dá é a alegria do “nosso” dia, não é
verdade, pequeno João? Não dizes, tu também, que o dia te parece vazio,
parecendo não existir, se a bondade do Senhor te deixa um dia sem a tua
missão de dor?
44.14Maria reza junto a Jesus. É Jesus quem vos justifica, meus filhos! Sou
Eu que torno aceitáveis e frutuosas as vossas orações junto ao Pai. Eu já vos
disse
[75] : “Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos concederá”, e
a Igreja valoriza as suas orações, dizendo: “Por Jesus Cristo nosso Senhor.”
Quando rezardes, uni-vos sempre, sempre, sempre a Mim. Eu rezarei em

alta voz por vós, cobrindo a vossa voz de homens com a minha de Homem-
Deus. Eu colocarei sobre as minhas mãos traspassadas a vossa oração, e a

elevarei até o Pai. Ela se tornará uma hóstia de preço infinito. A minha voz,
misturada com a vossa, subirá como um beijo filial ao Pai, e a púrpura das
minhas feridas tornará precioso o vosso rezar. Permanecei em Mim, se
quereis que o Pai permaneça em vós, convosco, por vós.
44.15Terminaste a narração dizendo: “por nós…”, e querias dizer: “Por
nós que somos tão ingratos para com estes Dois que subiram ao Calvário por
nós.” Fizeste bem em colocar estas palavras. Coloca-as cada vez que Eu te

fizer ver uma das nossas dores. Sejam como um sino que toca e que chama,
convidando a meditar e a arrepender-se.
Agora basta. Repousa. A paz esteja contigo.
[72] a oração dominical, é a oração do “Pai Nosso”, que Jesus ensinará aos Apóstolos no segundo ano da sua vida pública
(em 203.5). Por isso Maria Valtorta faz a seguinte anotação na sua cópia dactilografada: Se Jesus ensinou o “Pater” aos seus
discípulos, não deveria antes ensiná-lo à Mãe? Àquela Mãe que, ao receber no seio a semente de Deus, logo disse: “Se faça
segundo a sua palavra” e que tal “fiat” havia sempre repetido, mesmo para o Filho apenas nascido? O “Pater” não foi uma
improvisação de Jesus para os Apóstolos. Era a “sua” oração habitual, tanto que os Apóstolos lhe dizem: “Ensina-nos a
rezar como Tu rezas”. E era a oração comum de Jesus e de Maria. Que fosse a oração habitual de Jesus resulta também do
texto de 69.5; e porque Ele a dizia com a Mãe antes de a ensinar aos discípulos (com os quais dirá e comentará pela última vez,
como Ressuscitado, em 630.21/26) é explicado também numa nota ao texto de 62.2. -ao tempo da escritora era normal recitar
em latim as orações, sendo o latim a língua da liturgia católica. As expressões latinas na obra Valtortiana não são senão fórmulas
de oração e, enquanto tal, pertencem à língua do tempo em que a obra se manifesta. Notemos como exemplo: Sanctus em 20.7,
Gloria Patri… no fim de 43.7, adveniat… e Dominus vobiscum (o Senhor esteja convosco) abaixo e em 547.4, Agnus Dei… em
46.11, Ecce Agnus Dei em 108.3, benedicite em 176.3, Fiat em 342.9, Of erimus… em 610.14. Em particular, a oração do “Pai
Nosso” era usualmente citada como Pater ou Pater Nostro, e assim vem chamado mais abaixo (44.13) e em: 240.4 -307.8 -357.2
-405.11 -423.9 -437.5 -458.3 -477.10 -497.5 -602.12 -616.9 -636.11 -649.18 (onde é igualmente citado o Magnificat, como
acontece em 649.14).
[73] fuga, poderia ser um lapso de Maria Valtorta em vez de paragem, posto que desde as datas da escrita resulta que a
apresentação foi explicada após a paragem (no Egipto) e antes da fuga (no Egipto).
[74] as encontram, repetido muitas vezes, deve entender-se encontram as lágrimas, como se deduz do que vem a seguir.
[75] Eu já vos disse, em: João 16,23 (600.26.35).

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