Estudo 55 O Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade

Estudo 55 O Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade
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60. Cura da sogra de Simão Pedro.

3 de novembro de 1944.
60.1Pedro fala a Jesus:
– Mestre, eu queria pedir-te que vás à minha casa. Não tive coragem de
dizer isso no sábado passado. Mas… queria que fosses.
– Em Betsaida?
– Não, aqui… na casa de minha mulher, quero dizer, a casa nativa.
– Por que tens esse desejo, Pedro?
– Ah!… por muitas razões… e, além disso, hoje me disseram que minha
sogra está doente. Se quisesses curá-la, talvez te…
– Acaba de falar, Simão.
– Eu queria dizer… se Tu te aproximasses, ela acabaria… sim, em
suma, Tu sabes, uma coisa é ouvir falar de alguém e outra é vê-lo e ouvi-lo
e, se essa pessoa depois fica sã, então…
– Então, também o ódio se acaba, queres dizer.
– Não, ódio não. Mas Tu sabes… o povoado está dividido em muitos
pareceres e ela… não sabe a quem dar razão. Vai, Jesus.
– Eu vou. Vamos. Avisarás aos que estão esperando que da tua casa
falarei a eles.
60.2Vão até uma casa baixa, mais baixa ainda do que a de Pedro em
Betsaida e ainda mais próxima ao lago. Está separada deste por uma
pequena faixa da margem e creio que nas borrascas as ondas venham a
morrer contra as paredes da casa que, se é baixa, é em compensação bem
espaçosa, como se fosse habitada por mais pessoas.
Na horta-pomar, que está à frente da casa, perto do lago, nada mais há
do que uma videira já velha e nodosa que se estende em uma rústica parreira
e uma velha figueira que os ventos do lago curvaram em direção à casa. A
fronde despenteada da árvore roça as paredes e bate contra as venejiadas
das janelinhas que estão fechadas para servirem de proteção contra o sol
forte que bate sobre a baixa casa. Nada mais há além desta figueira e desta
videira e de um poço raso com um muro esverdeado.
– Entra, Mestre.
Algumas mulheres estão na cozinha, umas ocupadas em consertar as
redes, outras em preparar a comida. Elas saúdam a Pedro e depois se
inclinam confusas diante de Jesus; entretanto, olham-no de soslaio, com
curiosidade.
– A paz esteja nesta casa. Como vai a doente?
– Fala, tu que és a nora mais velha –dizem três mulheres a uma que está
enxugando as mãos na barra da veste.
– A febre está forte, muito forte. Nós fizemos com que o médico a visse,
mas ele disse que ela está velha para sarar e que quando aquele mal dos
ossos chega ao coração e dá febre, especialmente naquela idade, o doente
morre. Ela não está comendo mais… Eu procuro fazer-lhe comidas boas,
mesmo agora, vê Simão? Eu lhe estava preparando aquela sopa de que ela
gostava tanto. Escolhi o peixe melhor que peguei com os cunhados. Mas
acho que ela não vai poder comer. E depois… está tão inquieta! E se
lamenta, grita, chora, pragueja…
– Tende paciência, como se fosse vossa mãe e tereis merecimento diante
de Deus. 60.3Levai-me a ela.
– Rabi… Rabi… não sei se ela irá querer te ver. Não quer ver a
ninguém. Eu nem tenho coragem de dizer-lhe: “Agora vou te trazer o Rabi.”
Jesus sorri sem perder a calma. Depois se vira para Pedro:
– Cabe a ti, Simão. Tu és homem, e o mais velho dos genros, como me
disseste. Vai.
Pedro faz uma careta muito significativa mas obedece. Ele atravessa a
cozinha, entra em um quarto; através da porta fechada atrás dele, eu o ouço
conversar com uma mulher. Depois, põe a cabeça e uma mão fora da porta e
diz:
– Vem, Mestre. Anda depressa!
E acrescenta, em voz mais baixa, só o tanto necessário para ser
entendido:
– Antes que ela mude de idéia.
Jesus atravessa rápido a cozinha e abre a porta toda. De pé, à porta, Ele
diz a sua doce e solene saudação:
– A paz esteja contigo.
Em seguida, entra, não obstante não tenha recebido resposta. Vai para
perto da enxerga sobre a qual está estendida uma pequena mulher toda
grisalha, descarnada e ofegante pela forte febre que lhe torna corado o rosto
abatido.
Jesus se inclina para o pequeno leito e sorrindo para a velhinha, diz:
– Que estás sentindo?
– Eu estou morrendo!
– Não. Não estás morrendo. Podes crer que Eu te posso curar?
– E por que irias fazer isso? Não me conheces.
– Por causa de Simão, que pediu a mim… e também por causa de ti,
para dar tempo à tua alma de ver e amar a Luz.
– Simão? Ele faria melhor em… Como Simão foi capaz de pensar em
mim?
– Porque ele é melhor do que pensas. Eu o conheço e sei. Eu o conheço
e estou contente por vir atendê-lo.
– E, então, tu me curarias? Não vou mais morrer?
– Não, mulher. Por enquanto não morrerás. Podes crer em Mim?
– Creio, creio. Basta-me não morrer!
60.4 Jesus sorri ainda. E a pega pela mão. A mão enrugada e de veias
inchadas desaparece na mão juvenil de Jesus que se endireita e toma aquele
aspecto de quando faz um milagre; exclama:
– Sê curada! Eu quero! Levanta-te!
Solta-lhe a mão que recai sem que a velha se lamente, enquanto que
antes, mesmo tendo-a Jesus pegado com muita delicadeza, só de tê-la
movido já tinha sido causa de um lamento por parte da enferma.
Houve um breve tempo de silêncio. Depois a velha exclama com voz
forte:
– Oh! Deus de nossos pais! Mas eu não tenho mais nada! Estou curada!
Vinde! Vinde!
Acorrem as noras.
– Mas olhai! –dizia a velha–. Eu me movo, e não sinto mais dor! E não
tenho mais febre! Vede como estou com saúde. E o coração não se parece
mais com o martelo do ferreiro. Ah! Não vou mais morrer!
E não tem nenhuma palavra para o Senhor!
Mas Jesus não leva isso em consideração. Ele diz à mais velha das
noras:
– Vesti-a para que se levante. Ela já pode levantar-se.
E vai-se encaminhando para sair.
Simão, mortificado, se vira para a sogra:
– O Mestre te curou. E não lhe dizes nada?
– Está certo! Não pensei nisso. Obrigada. Que posso fazer para mostrarte o meu agradecimento?
– Ser boa, muito boa. Porque o Eterno foi bom para contigo. E, se não te
for muito incômodo, deixa-me repousar hoje em tua casa. Percorri nesta
semana todos os povoados vizinhos e cheguei ao despertar desta manhã.
Estou cansado.
– Certo! Certo! Fica, sim, se assim te agrada.
Mas não existe muito entusiasmo em suas palavras.
60.5 Jesus, com Pedro, André, Tiago e João vai sentar-se no pomar.
– Mestre!…
– Que há, meu Pedro?
– Eu estou mortificado.
Jesus faz um gesto, como se dissesse: “Deixa para lá.” Depois, diz:
– Não é esta a primeira nem será a última que não sinto um
reconhecimento imediato. Mas Eu não peço reconhecimento. Basta-me dar às
almas o modo de se salvarem. Faço o meu dever. A elas cabe fazer o delas.
– Ah! Então já houve outros assim? Onde?
– Simão curioso! Mas Eu quero te contentar, embora não goste de
curiosidades inúteis. Foi em Nazaré. Lembras-te da mãe de Sara? Estava
muito doente quando chegamos a Nazaré e nos disseram que a menina estava
chorando. Para não fazer dela, que é boa e dócil, uma órfã e amanhã uma
enteada, fui procurar a mulher… Eu queria curá-la. Mas, ainda não tinha
posto os pés na casa dela, quando o seu marido e um irmão me expulsaram,
dizendo: “Vai embora, vai embora! Não queremos aborrecimentos com a
sinagoga.” Para eles, para muitos, Eu já sou um rebelde… mas Eu a curei do
mesmo jeito… por causa de seus filhos. E à Sara, que estava na horta, Eu
disse, acariciando-a: “Eu curo tua mãe. Vai para casa. Não chores mais.” E a
mulher ficou curada no mesmo instante; a menina foi dizer isso a ela, e
também ao pai e ao tio… E foi castigada por ter falado Comigo. Eu sei,
porque a menina veio correndo atrás de Mim, quando Eu já ia deixando o
povoado… Mas não importa.
– Eu faria com que ela ficasse doente de novo!
– Pedro!
Jesus está severo:
– É isso que Eu ensino a ti e aos outros? Que foi que ouviste dos meus
lábios desde a primeira vez que me ouviste? De que é que Eu tenho sempre
falado como primeira condição para serdes meus verdadeiros discípulos?
– É verdade, Mestre. Eu sou um verdadeiro animal. Perdoa-me. Mas…
não posso suportar que não te amem!
– Ó Pedro, verás um desamor bem maior! Quantas surpresas terás,
Pedro! Há pessoas que o mundo chamado “santo” despreza como
publicanos, e que, ao invés, serão exemplos para o mundo, e um exemplo
não seguido por aqueles que as desprezam. Há gentios que estarão entre os
meus maiores fiéis. Há meretrizes que se tornam puras, por vontade e por
penitência. Pecadores que se emendam…
– Escuta, que se emende um pecador… ainda pode ser. Mas uma
meretriz e um publicano!…
– Tu não acreditas?
– Eu não.
– Estás errado, Simão. 60.6Mas, eis tua sogra que está vindo a nós.
– Mestre… eu te peço que te assentes à minha mesa.
– Obrigado, mulher. Deus te recompense por isto.
Entram na cozinha e se assentam à mesa e a velha serve aos homens com
grande distribuição de peixe ensopado e assado.
– Não há mais do que isso –ela se desculpa.
E, para não perder o costume, diz a Pedro:
– Os teus cunhados fazem até demais, sozinhos como ficaram, desde
quando foste para Betsaida! E ao menos se prestasses a fazer mais rica a
minha filha… Mas ouço dizer que freqüentemente estás ausente e que não
vais pescar.
– Eu sigo o Mestre. Estive com Ele em Jerusalém e aos sábados estou
com Ele. Não perco o tempo em farras.
– Mas não ganhas nada com isso. Farias melhor, já que queres ser o
servo do Profeta, que venhas para cá de novo. Pelo menos aquela pobre
criatura, que é a minha filha, enquanto tu ficas aí te fazendo de santo, terá os
parentes que lhe matem a fome.
– Mas, não te envergonhas de falar assim diante Dele que te curou?
– Eu não o critico. Ele faz o seu trabalho. Eu critico é a ti, que vives
como um mandrião. Afinal, tu não serás nunca um profeta, nem um sacerdote.
És um ignorante e um pecador, és um bom para nada.
– Tens razão, porque Ele está aqui, senão…
– Simão, tua sogra te deu um ótimo conselho. Podes pescar também aqui.
Pescavas também antes em Cafarnaum, pelo que ouço. Podes voltar até
agora.
– E morar aqui de novo? Mas Mestre, Tu não…
– Bom, meu Pedro, se ficares aqui estarás no barco sobre o lago, ou
Comigo. Por isso, para ti que diferença há entre estar ou não estar nesta
casa?
Jesus pôs a mão sobre o ombro de Pedro e parece que a calma de Jesus
passa para Pedro que já estava fervendo.
– Tens razão. Sempre tens razão. É assim que eu vou fazer. Mas… e
estes? –e mostra João e Tiago, seus sócios.
– Não poderão vir eles também?
– Oh! O nosso pai, e principalmente a nossa mãe, estarão sempre mais
felizes, se souberem que estamos Contigo, do que com eles. Eles não criarão
obstáculos.
– Talvez também Zebedeu virá –diz Pedro.
– É mais que provável. E com eles outros. Viremos, Mestre. Viremos
sem falta.
60.7 – Está aqui Jesus de Nazaré? –pergunta um menininho que aparece à
porta.
– Está sim. Entra.
Vem à frente um menino, que eu reconheço como um daqueles das
primeiras visões em Cafarnaum; justamente como aquele que, brincando por
entre os pés de Jesus, prometeu que seria bom… para comer o mel do
Paraíso.
– Pequeno amigo, vem cá –lhe diz Jesus.
O menino, um pouco amedrontado no meio de tanta gente que está
olhando para ele, se encoraja e corre para Jesus que o abraça, o põe sobre
os joelhos e lhe dá um pedacinho do seu peixe sobre uma fatiazinha de pão.
– Aqui está, Jesus. Isto é para Ti. Ainda hoje aquela pessoa me disse:
“Hoje é sábado. Vai levar isto para o Rabi de Nazaré e diz ao teu amigo que
reze por mim.” Ela sabe que és o meu amigo!…
O menino ri feliz, e come o seu pão com peixe.
– Muito bem, pequeno Tiago! Dirás àquela pessoa que as minhas
orações sobem ao Pai por ela.
– É para os pobres? –pergunta Pedro.
– Sim.
– Será o presente de costume? Vamos ver.
Jesus lhes entrega a bolsa. Pedro despeja as moedas e as conta:
– Sempre a mesma grande importância! Mas, quem é essa pessoa? Dizme, menino! Quem é?
– Eu não o devo dizer, e não o direi.
– Que malcriado! Vamos, sê bom que eu te darei umas frutas.
– Eu não o direi nem se me insultares nem se me acariciares.
– Mas ouvi só que língua!
– O Tiago tem razão, Pedro. Ele mantém a palavra dada. Deixa-o em
paz.
– Tu, Mestre, sabes quem é essa pessoa?
Jesus não responde. Ele se entretém com o menino, a quem dá outro
pedacinho de peixe assado, já bem limpo das espinhas. Mas Pedro insiste e
Jesus precisa responder:
– Eu sei tudo, Simão.
– E nós, não o podemos saber?
– E tu, nunca vais ficar curado deste teu defeito?
Jesus censura, mas sorri. E acrescenta:
– Logo o saberás. Porque como o mal gosta de ficar oculto e nem
sempre pode permanecer assim, o bem, ainda que queira ficar oculto, para
ter seu merecimento, um dia será descoberto para a glória de Deus, cuja
natureza brilha em um filho seu. A natureza de Deus é o amor. E essa pessoa
o compreendeu, porque ama o seu próximo. Vai, Tiago. Vai levar àquela
pessoa a minha bênção.
Assim termina a visão.

 

61. Jesus faz o bem aos pobres depois de ter contado
a parábola do cavalo amado pelo rei.
4 de novembro de 1944.
61.1 Jesus subiu a um monte de cestas e cordas que está à entrada do pomar
da casa da sogra de Pedro. O pomar está apinhado de gente. Também há
gente junto à margem do lago, uns sentados, outros sobre os barcos que
foram puxados para a terra. Parece que Ele já vinha falando por algum
tempo, porque seu discurso já vai bem adiantado. Eu o ouço:
– … Certamente vós muitas vezes, em vosso coração, já tereis pensado
assim. Mas não é bem assim. O Senhor não faltou à benignidade para com o
seu povo, ainda que este tenha faltado à fidelidade para com Ele mil e dez
mil vezes.
Ouvi esta parábola. Ela vos ajudará a entender.
Um rei tinha muitos e esplêndidos cavalos em suas estrebarias. Mas ele
gostava de um deles com uma estima toda especial. Antes de possuí-lo, o rei
o tinha almejado muito; depois, tendo-o adquirido, colocou-o num lugar
delicioso, para onde ele se dirigia, com os olhos e o coração, só para tornar
a ver aquele seu predileto, sonhando fazer dele um dia a maravilha do seu
reino. E, quando o cavalo, rebelando-se contra todos os comandos, havia
desobedecido e fugido para outro patrão, o rei, ainda que com dor, em seu
rigor, tinha prometido ao rebelde o perdão, depois de tê-lo castigado. E, fiel
a isso, mesmo de longe, velava sobre o seu predileto, mandando-lhe
presentes e guardas que o conservassem com a lembrança do dono em seu
coração.
Mas o cavalo, ainda que sofrendo por estar exilado do reino, não era
constante, como o rei o era, em amar e desejar o perdão completo. E, se em
certos tempos era bom, em outros tempos era mau; nem o bom era maior do
que o mau. Pelo contrário. Contudo, o rei tinha paciência; com censuras e
carícias procurava fazer do seu cavalo mais querido um dócil amigo. Quanto
mais o tempo passava, mais o animal se mostrava rebelde. Invocava o seu
rei, chorava sob o chicote dos outros patrões, mas não queria ser
verdadeiramente do rei. Não tinha vontade de o ser. Esgotado, oprimido e
gemente, não era capaz de dizer: “Por culpa minha é que estou assim”, mas
acusava ao seu rei.
Este, depois de ter tentado de tudo, recorreu a uma última prova. “Até
agora, disse, eu mandei mensageiros e amigos. Agora vou mandar o meu
próprio filho. Ele tem o mesmo coração meu e falará com o mesmo amor que
eu, terá carícias e presentes semelhantes aos que eu tinha; aliás, ainda mais
doces, porque meu filho sou eu mesmo, mas sublimado no amor.” E mandou
o seu filho.
Esta é a parábola. 61.2Agora dizei-me vós: Achais que o rei amava o seu
animal preferido?
O povo responde a uma só voz:
– Infinitamente o amava.
– Podia o animal lamentar-se do seu rei, por todo o mal que sofreu, por
tê-lo abandonado?
– Não, não podia –responde a multidão.
– Respondei-me ainda ao seguinte: aquele cavalo, segundo o vosso
parecer, como terá recebido o filho do rei, que ia para resgatá-lo, curá-lo e
levá-lo novamente para o lugar de delícias?
– Com alegria, naturalmente, com reconhecimento e afeto.
– Mas, se o filho do rei tiver dito ao cavalo: “Eu vim para isto e para
fazer-te isto, mas tu precisas ser bom, obediente, cheio de boa vontade e fiel
a mim”, que achais que o cavalo terá respondido?
– Oh! Não é preciso perguntar! Ele terá respondido que sabia bem o que
lhe custava ser expulso do reino e que queria ser como o filho do rei dizia.
– Então, segundo vós, qual era o dever daquele cavalo?
– Ser ainda melhor do que lhe estava sendo pedido, mais afetuoso, mais
dócil, para ser perdoado do mal passado, em reconhecimento pelos bens
obtidos.
– E se ele não tivesse feito assim?
– Seria digno de uma morte, porque seria pior do que uma fera
selvagem.
– Amigos, vós julgastes bem. Mas fazei também vós como quereríeis
que o cavalo fizesse. Vós, homens, criaturas prediletas do Rei dos Céus,
Deus, meu Pai e vosso; vós a quem, depois dos Profetas, foi mandado por
Deus o seu próprio Filho, sede, oh! sede — eu vos conjuro pelo vosso bem e
porque vos amo como só um Deus pode amar, aquele Deus que está em Mim
para operar o milagre da Redenção — sede, ao menos, como vós julgais que
deve ser aquele animal. Ai daquele que rebaixa a si próprio, homem, a um
grau inferior ao do animal! Mas, se ainda podia haver desculpa para aqueles
que até o momento presente estavam pecando — porque muito tempo e muita
poeira do mundo já passaram, desde quando foi dada a Lei, e sobre esta se
pousou — agora já não podeis mais. Eu vim para trazer-vos de novo a
palavra de Deus. O Filho do homem está entre os homens para levá-los
novamente a Deus. Segui-me. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
61.3Ouve-se o murmúrio de costume por entre a multidão.
Jesus, então, ordena aos discípulos:
– Fazei que os pobres venham para a frente. Para eles Eu tenho a rica
oferta de alguém que a eles se recomenda para obter o perdão de Deus.
Vêm avante três velhinhos esfarrapados, dois cegos e um encolhido;
depois uma viúva com sete meninos macilentos.
Jesus os olha fixamente um por um, sorri para a viúva e especialmente
para os orfãozinhos. Antes diz a João:
– Que essas pessoas sejam colocadas lá no pomar. Quero falar com elas.
Mas Ele se torna severo, com os olhos flamejantes, quando a Ele se
apresenta um dos velhinhos. Porém, não diz nada no momento.
Jesus chama Pedro e faz com que ele lhe dê a bolsa recebida pouco
antes e uma outra cheia de moedas menores, esmolas diversas recolhidas
entre os bons. Despeja tudo sobre o banco que está junto ao poço, conta e
divide. Faz seis partes: uma delas bem grande, toda com moedas de prata;
cinco menores em dimensão, com muito bronze e só uma ou outra moeda
grande. Chama os pobrezinhos doentes e lhes pergunta:
– Não tendes nada a dizer-me?
Os cegos se calam. Mas o encolhido diz:
– Que Aquele de quem vens te proteja.
E nada mais.
Jesus lhe põe a esmola na mão sã. O homem lhe diz:
– Que Deus te recompense. Mas, mais do que isto, eu de Ti queria a
cura.
– Tu não a pediste.
– Sou pobre, um verme que os grandes pisam, não ousava esperar que
Tu tivesses piedade de um mendigo.
– Eu sou a Piedade que se inclina sobre toda miséria que clama por
Mim. Não rejeito ninguém. Não peço mais do que amor e fé, para dizer: “Eu
vou te atender.”
– Oh! Meu Senhor! Eu creio! Eu te amo! Salva-me, então! Cura o teu
servo!
Jesus põe a mão sobre aquele dorso curvado e a faz deslizar como que
acariciando-o; diz então:
– Quero que sejas curado.
O homem se endireita, ágil e íntegro, com palavras de bênçãos infinitas.
61.4 Jesus dá a esmola aos cegos, e espera um momento para despedilos…depois os deixa ir.
Chama os velhos. Dá ao primeiro uma esmola e o conforta ajudando-o a
pôr na cinta as moedas.
Jesus se interessa piedoso pelas desventuras do segundo, que lhe conta a
doença de uma filha:
– Só tenho essa! E agora ela está morrendo. Que será de mim? Oh! Se Tu
pudesses ir lá! Ela não pode vir, não se mantém em pé. Queria… Mas não
pode. Mestre, Senhor, Jesus, tem piedade de nós!
– Onde moras, pai?
– Em Corozaim. Pergunta por Isaque de Jonas, chamado o Adulto. Irás
mesmo? Não te vais esquecer da minha desventura? E curarás a minha filha?
– Podes crer que Eu a possa curar?
– Oh! Se eu creio! Por isso é que Te estou falando dela.
– Vai para casa, pai. Tua filha estará à porta para te saudar.
– Mas ela está de cama e não pode levantar-se há três… Ah!
Compreendi! Oh! Obrigado, Rabi! Bendito és Tu e Aquele que Te enviou!
Louvor a Deus e ao seu Messias!
O velho vai chorando, coxeando, o mais rápido que pode. Mas quando
já está quase saindo do pomar, ele diz:
– Mestre, mas irás assim mesmo à minha pobre casa? Isaque Te espera
para beijar-te os pés, lavá-los com suas lágrimas e oferecer-te o pão do
amor. Vai Jesus, eu falarei de Ti aos da cidade.
– Irei. Vai em paz e sê feliz.
61.5Vem para a frente o terceiro velhinho, que parece o mais esfarrapado.
Mas Jesus só tem agora o monte maior de moedas. E Ele chama em voz alta:
– Mulher, vem com os teus pequeninos.
A mulher, jovem e macilenta, vem para a frente, de cabeça inclinada.
Parece uma galinha choca, entre a sua triste ninhada.
– Desde quando és viúva, mulher?
– Faz três anos, na lua de Tisri.
– Quantos anos tens?
– Vinte e sete.
– São todos filhos teus?
– Sim, Mestre, e… e não tenho mais nada. Tudo se acabou… como
posso trabalhar, se ninguém me quer com todos estes pequeninos?
– Deus não abandona nem o verme que Ele criou. Ele não te abandonará,
mulher. Onde moras?
– Perto do lago, a três estádios fora de Betsaida. Ele me disse que
viesse… Meu marido morreu no lago, era pescador.
“Ele” é André, que ficou corado, e querendo desaparecer.
– Fizeste bem, André, em dizer à mulher que viesse a Mim.
André se anima e murmura:
– O homem era meu amigo, era bom, e morreu durante uma tempestade,
perdendo também seu barco.
– Toma mulher. Isto te ajudará por muito tempo; depois virá outro sol no
teu dia. Sê boa, educa na Lei os teus filhos e não te faltará a ajuda de Deus.
Eu te abençôo, a ti e aos teus pequenos.
E os acaricia um por um com grande piedade.
A mulher vai-se com o seu tesouro apertado sobre o coração.
61.6 – E a mim? –pergunta o velhinho que ficou por último.
Jesus olha para ele, e se cala.
– Nada para mim? Não és justo! A ela deu seis vezes mais do que aos
outros e a mim nada. Mas… e era mulher!
Jesus olha para ele e se cala.
– Olhai todos se está havendo justiça! Eu venho de longe, porque me
disseram que aqui se dava dinheiro; depois, estou vendo aqui quem ganha
demais e a mim não se dá nada. Um pobre velho que é doente! E quer que se
creia Nele!…
– Velho, não te envergonhas de mentir assim? Estás com a morte atrás de
ti, e mentes; procuras roubar de quem está com fome. Por que queres roubar
dos irmãos a esmola que Eu recebi para distribuir com justiça?
– Mas eu…
– Cala-te! Deverias já ter compreendido pelo meu silêncio e pelo meu
ato que Eu havia te conhecido; e,então, seguir o meu exemplo de silêncio.
Por que queres que Eu te envergonhe?
– Eu sou pobre.
– Não. Tu és um avarento e um ladrão. Vives para o dinheiro e para a
usura.
– Eu nunca emprestei com usura. Deus é minha testemunha.
– E isto não é usura, e da mais feroz, roubar de quem tem
verdadeiramente necessidade? Vai. Arrepende-te. Para que Deus te perdoe.
– Eu te juro…
– Cala-te! Eu te ordeno. Foi dito: “Não jurarás em falso.” Se Eu não
tivesse respeito pelos teus cabelos brancos, Eu daria uma busca em ti e em
teu peito acharia uma bolsa cheia de ouro, que é o teu coração. Vai-te
embora.
Mas agora o velhinho, envergonhado, vendo-se descoberto em seu
segredo, vai-se embora sem que seja necessário o som de trovão que há na
voz de Jesus.
A multidão o ameaça, o escarnece e o insulta como a um ladrão.
– Calai-vos! Se ele errou não queirais vós também errar. Ele falta com a
sinceridade, é um desonesto. Vós, se o insultardes, faltais com a caridade.
Ao irmão, que comete uma falta, não se insulta. Cada um tem o seu pecado.
Ninguém é perfeito, a não ser Deus. Eu precisei envergonhá-lo, porque não é
lícito ser ladrão e, menos ainda, ladrão que rouba dos pobres. Mas só o Pai
é que sabe quanto sofri por dever fazer isso. Vós também sofrei com isso, ao
verdes que um de Israel falta contra a Lei procurando defraudar o pobre e a
viúva. Não sejais cobiçosos. Que o vosso tesouro seja a vossa alma, não o
dinheiro. Não sejais perjuros. Que a vossa linguagem seja sincera e honesta
como as vossas ações. A vida não é eterna e a hora da morte chega. Vivei de
modo que na hora da morte a paz possa estar em vosso espírito. A paz de
quem viveu como um justo. Ide para as vossas casas…
61.7 – Piedade, Senhor! Este meu filho é mudo, por causa de um demônio
que o maltrata.
– E este meu irmão é semelhante a um animal imundo: ele se revolve na
lama e come excrementos. E um espírito maligno o arrasta; ele, mesmo sem
querer, faz coisas imundas.
Jesus se dirige para o grupo que o está implorando. Ele ergue os braços
e ordena:
– Sai deles. Deixai a Deus as suas criaturas.
Entre gritos e barulho, os dois infelizes ficam curados. As mulheres que
os conduziam prostram-se dando louvores a Deus.
– Ide para as vossas casas e sede reconhecidos a Deus. A paz esteja
com todos. Ide.
A multidão vai-se, comentando os fatos. Os quatro discípulos colocamse ao redor do Mestre.
– Amigos, em verdade Eu vos digo que em Israel estão todos os
pecados, e os demônios aí fizeram sua morada. E não são possessões só
aquelas que tornam mudos os lábios e levam os homens a viver como
animais comendo sujeiras. Mas as mais verdadeiras e numerosas são aquelas
que tornam os corações mudos para a honestidade e para o amor, fazendo
deles um antro de vícios imundos. Oh! Meu Pai!
Jesus, abatido, se assenta.
– Estás cansado, Mestre?
– Cansado não, meu João. Mas desolado pelo estado dos corações e
pela pouca vontade de se emendarem. Eu vim… mas o homem… o homem…
oh! Meu Pai!…
– Mestre, eu Te amo, nós todos Te amamos.
– Eu sei disso. Mas sois tão poucos… e meu desejo de salvar é tão
grande!
Jesus abraça João e mantém a cabeça dele sobre a sua. Está triste.
Pedro, André, Tiago, ao redor Dele, olham-no com amor e tristeza.
E a visão cessa assim.

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           ORAÇÃO DO DIA

¨Mãe celeste, Rainha Soberana do Fiat Divino, toma-me pela mão e mergulha-me na Luz do querer Divino. Tu serás a minha guia, minha terna Mãe, e me ensinarás a viver e a manter-me na ordem e no recinto da Divina Vontade. Amém, Fiat.¨

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