Estudo 51 O Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade

Estudo 51 O Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade
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53. A expulsão dos vendedores do Templo.
24 de outubro de 1944.
[…].
53.1Vejo Jesus que vai entrando no recinto do Templo, com Pedro, André,
João, Tiago, Filipe e Bartolomeu.
Há uma grande multidão, tanto dentro, como fora do Templo. Grupos de
peregrinos chegam de todos os pontos da cidade. Do alto da colina, sobre a
qual está construído o Templo, vêem-se as ruas da cidade, estreitas e tortas,
a fervilhar de gente. Parece que por entre o branco monótono das casas tenha
sido estendida uma fita movediça de mil cores. Sim. A cidade tem o aspecto
de um bizarro brinquedo, feito de fitas matizadas, entre dois fios brancos, e
todas convergentes até o ponto onde brilham as cúpulas da Casa do Senhor.
Mas no interior há… uma verdadeira feira. Todo recolhimento que havia
no lugar santo se acabou. Uns correm, outros chamam, outros fazem negócios
com seus cordeiros, gritam e imprecam por causa do preço exorbitante,
enquanto outros empurram os pobres animais, que balem, para dentro dos
recintos (são divisões rudimentares, feitas com cordas ou com estacas, em
cuja entrada está o vendedor, ou o dono que seja, à espera dos
compradores). Pauladas, balidos, blasfêmias, reclamações, insultos aos
empregados não solícitos nas operações de ajuntamento e escolha dos
animais e aos compradores que regateiam os preços, ou que vão-se embora.
E maiores insultos àqueles que, previdentes, levaram o seu cordeiro.
Ao redor das bancas dos cambistas, outro vozerio. Compreende-se que
o Templo funcionava como… Bolsa e Bolsa negra; não sei se é sempre ou só
neste tempo da Páscoa. O valor das moedas não era fixo. Havia um valor
legal, certamente terá havido, mas os cambistas impunham um outro,
apropriando-se de um tanto, marcado arbitrariamente pelo câmbio das
moedas. E eu vos asseguro que eles não brincavam nessas operações de
usura! Quanto mais alguém era pobre e vinha de longe, mais era depenado.
Os velhos, mais que os jovens e os provenientes de fora da Palestina, mais
que os velhos.
Os pobres velhinhos olhavam e tornavam a olhar para o seu pecúlio
ajuntado, Deus sabe com quanto trabalho, durante um ano inteiro; agora eles
o tiravam e o recolocavam junto ao peito cem vezes, indo de um cambista a
outro, e acabavam voltando ao primeiro que então se vingava da inicial
desistência deles aumentando o ágio do câmbio… e então, por entre
suspiros, as grandes moedas caíam das mãos de seus donos e passavam para
as garras do usurário sendo trocadas por moedas menores. Depois era outra
tragédia nas escolhas, nos cálculos e suspiros diante dos vendedores de
cordeiros, os quais, aos velhinhos já meio cegos, impingiam os cordeiros
mais míseros.
53.2Vejo voltar dois velhinhos, ele e ela empurrando um pobre cordeirinho
que deve ter sido achado defeituoso pelos sacrificadores. Pranto, súplicas,
maus tratos e palavrões se cruzam, sem que o vendedor se comova.
– Pelo que estais dispostos a gastar, ó galileus, é até muito bonito o que
eu vos dei. Ide embora! Ou dai-me mais cinco moedas para receberdes um
mais bonito.
– Em nome de Deus! Somos pobres e velhos! Queres impedir-nos de
fazer a Páscoa, que talvez seja a última para nós? Não te basta o que
quiseste cobrar por um pequeno animal?
– Saí do caminho, ó sujos! Está se aproximando de mim o velho José.
Ele me honra com a sua preferência. Deus esteja contigo! Vem, escolhe!
Entra no recinto aquele que é chamado o velho José, o de Arimatéia, e
pega um magnífico cordeiro. Ele passa, soberbo e pomposo em suas vestes,
sem olhar para os pobres que gemem à porta, aliás, na entrada do recinto.
Quase choca-se com eles, especialmente quando sai com o cordeiro gordo
que vai balindo.
53.3Mas Jesus também já está perto. Também Ele já fez a sua compra;
Pedro, que provavelmente foi quem fez o negócio por Ele, vem puxando um
cordeiro pequeno.
Pedro queria ir logo ao lugar onde se faz o sacrifício. Mas Jesus se
afasta dali indo para o seu lado direito, em direção aos dois velhinhos‐
assustados que estão chorando, hesitantes, nos quais a multidão esbarra, e
aos quais o vendedor insulta.
Jesus, que é tão alto que as cabeças dos dois velhinhos ficam à altura do
seu coração, põe uma mão sobre o ombro da mulher e pergunta:
– Por que choras, mulher?
A velhinha se vira e vê este jovem alto, solene em sua bela veste branca,
com um manto também branco, tudo novo e limpo. Ela deve tomá-lo por um
doutor, tanto pelas vestes, como pelo aspecto; admirada, porque os doutores
e sacerdotes não fazem caso do povo nem protegem o povo contra a avidez
dos vendedores, ela diz a razão por que estão chorando.
Jesus se volta ao homem dos cordeiros:
– Troca este cordeiro para estes fiéis. Ele não é digno do altar, como
também não é digno que tu te aproveites de dois velhinhos porque são fracos
e indefesos.
– E Tu, quem és?
– Um justo.
– A tua fala e a dos teus companheiros mostram que és um galileu. Pode
haver algum justo na Galiléia?
– Faz o que estou te dizendo, e sejas justo.
– Ouvi! Ouvi o galileu defensor dos seus semelhantes! Ele quer ensinar
a nós no Templo!
O homem ri e zomba imitando o sotaque dos galileus, que é o sotaque
judaico mais cantado e o mais rico de doçura, ao menos assim me parece.
Pessoas os rodeiam e outros vendedores e cambistas tomam a defesa de seu
companheiro contra Jesus.
Entre os presentes há dois ou três rabinos irônicos. Um deles pergunta:
– Tu és doutor? (de modo, capaz de fazer até Jó perder a paciência).
– Tu o disseste.
– O que é que ensinas?
– Ensino o seguinte: a fazer da Casa de Deus casa de oração e não um
lugar de usura e de comércio. Isto é o que Eu ensino.
53.4 Jesus está terrível. Parece o arcanjo posto à porta do Paraíso perdido.
Não tem espada flamejante na mão, mas tem raios em seus olhos e com eles
fulmina os escarnecedores e os sacrílegos. Na mão não tem nada. Só a sua
santa ira. E com esta, caminhando rápido e com imponência por entre as
bancas, esparrama as moedas que estavam cuidadosamente empilhadas
conforme os seus valores; vira mesas e mesinhas; tudo vai caindo, com
estrondo, ao chão, entre um grande barulho de metais ricocheteando, de
madeiras que se batem percutindo e gritos de ira, de susto e de aprovação.
Depois, arrancando das mãos dos que cuidam dos animais, as cordas com
que eles prendiam os bois, as ovelhas e cordeiros em seus lugares, faz com
elas um açoite bem duro, cujos nós, que formam os laços corrediços, se
transformam em flagelos. Levanta-o, gira e abaixa, sem piedade. Sim, vos
asseguro: sem piedade.
Aquela saraivada imprevista golpeia cabeças e costas. Os fiéis se
afastam, admirados da cena; os culpados são perseguidos até o muro externo
e põem-se a correr, deixando no chão o dinheiro e atrás de si os animais
grandes e pequenos, numa grande confusão de pernas, de chifres e de asas;
uns correm, outros voam indo embora; mugidos, balidos, arrulhos de pombos
e rolas, junto a risadas e gritos dos fiéis, que vão atrás dos usurários em
fuga, superam até o lamentoso coro dos cordeiros que certamente estão
sendo degolados em algum outro pátio.
53.5Chegam correndo os sacerdotes, com os rabinos e os fariseus. Jesus
está ainda no meio do pátio, de volta da sua perseguição. O açoite está ainda
em sua mão.
– Quem és tu? Como tomas a liberdade de fazer isso, perturbando as
cerimônias prescritas? De qual escola provéns? Nós não te conhecemos nem
sabemos quem és.
– Eu sou Aquele que posso. Tudo Eu posso. Desmanchai este Templo
que Eu o erguerei de novo para dar louvores a Deus. Eu não perturbo a
santidade da Casa de Deus e das cerimônias, mas vós a perturbais,
permitindo que sua morada se torne sede de usurários e vendedores. Minha
escola é a escola de Deus. A mesma que teve todo Israel pela boca do
Eterno que falava a Moisés. Vós não me conheceis? Me conhecereis. Não
sabeis de onde Eu venho? Vós o sabereis.
53.6E, voltando-se para o povo, sem dar mais atenção aos sacerdotes, alto
na veste branca, com o manto aberto e flutuante nas costas, com os braços
abertos como um orador no ponto mais alto do seu discurso, ele diz:
– Ouvi, ó vós de Israel! No Deuteronômio, está dito
[97] : “Tu constituirás
juízes e magistrados em todas as portas… e eles julgarão o povo com justiça
sem penderem para nenhum lado. Tu não terás acepção de pessoas nem
aceitarás presentes, porque os presentes cegam os olhos dos sábios e alteram
as palavras dos justos. Com justiça seguirás o que for justo, a fim de que
vivas e possuas a terra que o Senhor teu Deus te tiver dado.”
Ouvi, ó vós de Israel! No Deuteronômio está dito: “Os sacerdotes e os
levitas e todos aqueles da tribo de Levi não terão parte na herança com o
resto de Israel, porque devem viver dos sacrifícios ao Senhor e das ofertas
que a Ele são feitas; nada terão das posses dos seus irmãos, porque o Senhor
é a herança deles.
Ouvi, ó vós de Israel! No Deuteronômio está dito: “Não emprestarás
com juros a teu irmão, nem dinheiro nem grãos, nem qualquer outra coisa.
Poderás emprestar com juros ao estrangeiro; ao teu irmão, ao invés,
emprestarás sem juros aquilo de que ele precisar.”
Isto disse o Senhor.
Agora estais vendo que sem justiça para com o pobre é como se julga
em Israel. Não é para aquele que é justo, mas é para o forte que se inclinam;
e ser pobre, ser povo, quer dizer ser oprimido. Como pode o povo dizer:
“Quem nos julga é justo”, se ele vê que só os poderosos são respeitados e
ouvidos, enquanto que o pobre não tem quem o ouça? Como pode o povo
respeitar o Senhor, se vê que não o respeitam aqueles que mais deviam fazêlo? É respeito ao Senhor a violação dos seus mandamentos? Por que, então,
os sacerdotes em Israel têm posses e aceitam presentes dos publicanos e dos
pecadores, os quais assim fazem para terem benévolos os sacerdotes, assim
como estes fazem para terem um abastado cofre?
Deus é a herança dos seus sacerdotes. Para esses Ele, o Pai de Israel é o
Pai que, mais do que nunca, provê o alimento, como é justo. Mas não mais
do que o justo. Ele não prometeu aos seus servos do Santuário nem bolsas
nem posses. Na eternidade terão o Céu pela sua justiça, como o terão
Moisés, Elias, Jacó e Abraão. Mas nesta terra não devem ter senão a veste
de linho e o diadema de ouro incorruptível: pureza e caridade; e que o
corpo seja servo do espírito, que é servo do verdadeiro Deus, e não seja o
corpo senhor do espírito e contra Deus.
Foi-me perguntado com que autoridade Eu faço isto. E eles, com que
autoridade profanam o mandamento de Deus e permitem, à sombra dos
muros sagrados, a usura contra os irmãos de Israel que aqui vêm para
obedecer à ordem divina? Foi-me perguntado de que escola é que Eu venho
e respondi: “Da escola de Deus.” Sim, Israel, Eu venho a ti, e te reporto a
esta escola santa e imutável.
53.7Quem quer conhecer a Luz, a Verdade, a Vida, quem quer ouvir de
novo a Voz de Deus falando ao seu povo, venha a Mim. Vós seguistes
Moisés, através dos desertos, ó vós de Israel. Segui-me, que Eu vos levo,
através de um deserto bem mais tristonho, ao encontro da verdadeira Terra
feliz. Por um mar aberto, ao comando de Deus, a essa vos levo. Levantando
o meu Sinal, de todo mal Eu vos curo.
A hora da Graça chegou. Os Patriarcas a esperaram e morreram
esperando-a. Predisseram-na os Profetas e morreram nesta esperança.
Sonharam com ela os justos e morreram confortados por este sonho. Agora,
ela surgiu.
Vinde. “O Senhor vai julgar o seu povo e fazer misericórdia aos seus
servos”, como prometeu pela boca de Moisés.
O povo, apinhado ao redor de Jesus, ficou de boca aberta, escutando-o.
Depois, todos comentam as palavras do novo Rabi e fazem perguntas aos
seus companheiros.
Jesus se encaminha para um outro pátio separado deste por uma série de
pórticos. Os amigos o seguem e a visão termina.
[97] está dito, em: Deuteronómio 16,18-20; 18,1-2; 23,20-21.

54. O encontro com Judas de Keriot e com Tomé.
Simão Zelote curado da lepra.

26 de outubro de 1944.
54.1 Jesus está junto aos seus seus discípulos. Tanto no outro dia, como
hoje, não vejo Judas Tadeu que também havia dito querer ir a Jerusalém com
Jesus.
Devem ainda estar sendo celebradas as festas pascais, pois vê-se muita
gente pela cidade. Está anoitecendo e muitos se apressam em ir para as suas
casas.
Jesus também está indo para a casa onde está hospedado. Não é a casa
do Cenáculo, que fica mais na cidade, ainda que nas imediações desta. A
casa onde está Jesus hospedado é uma verdadeira casa de campo entre
bastas oliveiras. Da rústica pracinha, que está à sua frente, vêem-se as
árvores que descem pelos declives ao longo da colina, detendo-se num lugar
onde há um pequeno córrego de poucas águas, que se vai por entre uma
enseada que está entre duas colinas pouco altas. Sobre uma das colinas está
o Templo, sobre a outra só oliveiras e mais oliveiras. Jesus está no começo
do declive desta branda colina, que sobe suavemente, na mansidão de suas
árvores pacíficas.
– João, aí fora estão dois homens esperando o teu amigo –diz um homem
já de idade que deve ser o camponês ou o dono do olival. Diria que João o
conhece.
– Onde estão? Quem são?
– Não sei. Um deles certamente é judeu. O outro… eu não saberia dizer.
Não perguntei a ele.
– Onde estão?
– Na cozinha, esperando e… e… sim… há também um outro que está
todo cheio de feridas… Eu o mandei esperar lá porque… não queria que ele
fosse um leproso… Diz ele que quer ver o Profeta que falou no Templo.
Jesus, que até aquele momento havia permanecido calado, diz:
– Vamos primeiro a esse. Diz aos outros que venham, se quiserem.
Falarei aqui no olival com eles.
E se dirige para o ponto indicado pelo homem.
– E nós? Que fazemos? –pergunta Pedro.
– Vinde, se quiserdes.
54.2Um homem todo coberto está encostado ao pequeno muro rústico que
sustenta um outeiro, bem perto do limite do sítio. Deve ter subido ali por um
pequeno atalho que lá conduz costeando o córrego.
Quando vê Jesus vir em sua direção, grita:
– Para trás, para trás! Mas também piedade!
E descobre o seu tronco, deixando cair a veste. Se o rosto já está
coberto de crostas, o tronco é um bordado de chagas. Algumas já reduzidas a
buracos fundos, outras simplesmente como queimaduras vermelhas, outras
esbranquiçadas e lúcidas como se sobre elas tivesse um vidro branco.
– És leproso! Que queres de Mim?
– Não me amaldiçoes! Não me apedrejes! Disseram-me que na outra
tarde Te manifestaste como Voz de Deus e Portador da Graça. Disseram-me
que Tu asseguraste que, erguendo o teu sinal, curas com ele todos os males.
Ergue-o sobre mim. Eu venho dos sepulcros… lá… Eu rastejei como uma
serpente por entre as sarças da beira do córrego para chegar até aqui sem ser
visto. Esperei que a tarde chegasse para poder vir, porque na penumbra vêse menos quem eu sou. Eu ousei… encontrei este, que é da casa e que é
muito bom. Ele não me matou. Somente me disse: “Espera junto ao muro.”
Tem piedade, Tu também!
Visto que Jesus se aproxima (sozinho, porque os seis discípulos e o
dono do lugar, com os dois desconhecidos, estão longe e mostram claramente
aversão) diz ainda:
– Não te adiantes mais! Não mais! Eu estou infeccionado!
Mas Jesus prossegue. Olha para ele com tanta piedade, que o homem se
põe a chorar, ajoelha-se com o rosto quase ao chão e geme, dizendo:
– O teu sinal! O teu sinal!
– Ele será elevado, quando chegar a sua hora. Mas, a ti Eu digo:
levanta-te! Sê curado. Eu quero. E sê tu o meu sinal nesta cidade que precisa
conhecer-me. Levanta-te. Eu te digo! E não peques mais, em reconhecimento
a Deus!
O homem se levanta devagar. Parece que ele emerge por entre as ervas
altas e floridas como de um lençol do túmulo… e está curado. Ele se olha,
aos últimos raios da luz do dia. Está mesmo curado. E grita:
– Eu estou limpo! Oh! Que é que devo fazer agora por Ti?
– Obedecer a Lei. Vai ao sacerdote. Sê bom daqui em diante. Vai.
O homem faz um movimento para se jogar aos pés de Jesus, mas ele se
lembra de que ainda está impuro, segundo a Lei, e se detém. Mas ele beija
suas próprias mãos e manda o beijo a Jesus e chora. De alegria.
54.3Os outros estão imobilizados, como que petrificados. Jesus volta as
costas ao curado e, sorrindo, os faz voltarem a si.
– Amigos, não era mais que uma lepra da carne. Mas vós vereis cair a
lepra dos corações. Sois vós que me procurais? –diz aos dois
desconhecidos–: Eis-me aqui. Quem sois?
– Nós Te ouvimos na outra tarde… no Templo. E Te procuramos pela
cidade. Um que se diz teu parente, nos disse que estavas aqui.
– Por que me estais procurando?
– Para seguir-te, se nos quiseres, porque Tu tens palavras de verdade.
– Para seguir-me? Mas sabeis para onde me dirijo?
– Não Mestre. Mas com certeza para a glória.
– Sim. Mas para uma glória que não é da terra. Para uma glória que tem
sua sede no Céu e que se conquista com a virtude e o sacrifício. Por que
quereis me seguir? –torna a perguntar.
– Para termos parte na tua glória.
– Segundo o Céu?
– Sim, segundo o Céu.
– Nem todos podem chegar ali. Porque Mamon arma ciladas aos
desejosos do Céu, mais do que aos outros. E só quem sabe querer fortemente
é quem resiste. Por que seguir-me se o seguir-me quer dizer uma luta
contínua com o inimigo que está em nós, com o mundo inimigo e com o
Inimigo, que é Satanás?
– Porque assim quer o nosso espírito, que ficou conquistado por Ti. Tu
és santo e poderoso. Nós queremos ser teus amigos.
– Amigos!!!
Jesus se cala e suspira. Depois, olha fixo àquele que sempre vinha
falando e que agora deixou cair o manto da cabeça apresentando-a toda
descoberta. É Judas de Keriot.
– Quem és tu, que falas melhor do que um homem do povo?
– Sou Judas, de Simão. Sou natural de Keriot. Mas sou do Templo (ou
estou no Templo). Espero o Rei dos judeus; vivo sonhando com ele. Rei te
reconheci na palavra e Rei te vi no gesto. Toma-me Contigo.
– Tomar-te? Agora? Tão depressa? Não.
– Por que, Mestre?
– Porque é melhor pesar-nos a nós mesmos, antes de pegarmos caminhos
muito íngremes.
– Não crês em minha sinceridade?
– Tu o disseste. Eu creio no teu impulso. Não creio na tua constância.
Pensa nisso, Judas. Agora Eu vou-me embora, e voltarei para a festa de
Pentecostes. Se estiveres no Templo, me verás. Pesa-te a ti mesmo. 54.4E tu,
quem és?
– Um outro que te viu. Queria estar contigo. Mas agora sinto temor.
– Não. A presunção é uma ruína. O temor pode ser um obstáculo, mas,
se ele vem da humildade, pode até ajudar. Não temas. Pensa, tu também, e,
quando Eu vier…
– Mestre, tu és muito santo. Tenho medo de não ser digno. Não de outra
coisa. Porque sobre o meu amor eu não temo.
– Como te chamas?
– Tomé, chamado o Dídimo.
– Eu me lembrarei do teu nome. Vai em paz.
Jesus se despede deles e se retira para a casa onde está hospedado, para
o jantar.
54.5Os seis, que já estão com Ele, querem saber de muitas coisas.
– Por que, Mestre, fizeste diferença entre os dois?… Porque uma
diferença houve! Os dois tinham o mesmo impulso… –pergunta João.
– Amigo, também o mesmo impulso pode ter diversa substância e
produzir efeito diferente. É verdade que os dois têm o mesmo impulso. Mas
um não é igual ao outro, quanto ao fim a que visam. E aquele que parece o
menos perfeito é o mais perfeito, porque não está seduzido pela glória
humana. Ele me ama, porque me ama.
– Eu também.
– E eu também.
– E eu.
– E eu.
– E eu.
– E eu.
– Eu sei. Eu conheço quem sois.
– Então, somos perfeitos?
– Oh! Não! Mas, assim como Tomé, vós também o sereis, se
permanecerdes em vossa vontade de amor. Perfeitos?! Oh! Meus amigos! E
quem é perfeito, a não ser Deus?
– Tu o és.
– Em verdade vos digo que não sou perfeito por Mim, se pensais que Eu
sou um profeta. Nenhum homem é perfeito. Mas perfeito Eu sou, porque Este
que vos está falando é o Verbo do Pai. Ele é parte
[98] de Deus, é o seu
Pensamento, que se faz Palavra. Eu tenho a Perfeição em Mim. E deveis crer
que Eu sou assim, se credes ser Eu o Verbo do Pai. Contudo vós estais
vendo, amigos. Eu quero ser chamado o Filho do homem[99] porque aniquilo
a Mim mesmo, pondo em minhas costas todas as misérias do homem para
levá-las comigo, primeiro ao meu patíbulo e depois de tê-las levado, anulálas, mas não por as ter tido como minhas. Que peso, amigos! Mas, Eu o
levo com alegria. Levá-lo é a minha alegria porque sendo o Filho da
humanidade, tornarei a humanidade filha de Deus, como foi no primeiro dia.
Jesus fala docemente, sentado à pobre mesa, com as mãos que
gesticulam calmamente sobre a mesma, o rosto um pouco inclinado,
iluminado de alto a baixo pela luz de uma pequena candeia colocada sobre a
mesa. Ele sorri levemente, já Mestre na imponência e tão amigo no trato. Os
discípulos o escutam atentos.
54.6 – Mestre, por que é que o teu primo, mesmo sabendo onde moras, não
veio?
– Ah! Meu Pedro!… Tu serás uma das minhas pedras, a primeira. Mas
nem todas as pedras são fáceis de se usar. Já viste os mármores do palácio
pretório? Arrancados, com muito trabalho, do seio das montanhas, agora
fazem parte do Pretório. Por outro lado, olha aquelas pedras, que estão
brilhando lá longe à luz do luar, por entre as águas do Cedron. Elas vieram
por si mesmas para o leito do rio e se alguém as quiser, elas logo se deixam
levar. O meu primo é como as primeiras pedras da qual falo… O seio do
monte, a família, o disputa Comigo.
– Mas eu quero ser em tudo como as pedras do Cedron. Por Ti, estou
pronto a deixar tudo: casa, esposa, pesca, irmãos. Tudo, Rabi, por Ti.
– Eu sei, Pedro. Por isto Eu te amo. Mas Judas também virá.
– Quem? Judas de Keriot? Não o levo muito em conta. É um belo moço,
mas… eu prefiro… prefiro a mim mesmo…
Riem-se todos da piada de Pedro.
– Não há nada para rir. Quero dizer que prefiro um galileu franco, rude,
um pescador, mas sem fraude, a… homens da cidade que… não sei… Mas o
Mestre entende o que eu quero dizer.
– Sim, entendo. Mas não julgues. Temos necessidade uns dos outros
nesta terra e os bons estão misturados com os maus, como as flores em um
campo. A cicuta está ao lado da saudável malva.
54.7 – Eu queria perguntar uma coisa….
– Qual, André?
– João me contou o milagre feito em Caná… Nós tínhamos muita
esperança de que Tu fizesses um deles em Cafarnaum… e Tu disseste que
não farias milagre, se antes não tivesses cumprido a Lei. Por que então o
fizeste em Caná? E por que não em tua pátria?
– Toda obediência à Lei é união com Deus e, por isso, um aumento de
nossa capacidade. O milagre é a prova da união com Deus, da presença
benévola e consciente de Deus. Por isso Eu quis cumprir o meu dever de
israelita antes de iniciar a série de prodígios.
– Mas Tu não estavas obrigado pela Lei.
– Por que? Como Filho de Deus, não. Mas, como filho da Lei,
sim. Israel, por enquanto, só me conhece como tal… E, mesmo depois, quase
todo Israel me conhecerá como tal, aliás, como menos ainda. Mas Eu não
quero dar escândalo a Israel e por isso obedeço a Lei.
– Tu és santo.
– A santidade não exclui a obediência. Ao contrário, a aperfeiçoa. Além
de tudo mais, é preciso dar o exemplo. Que diríeis de um pai, de um irmão
mais velho, de um mestre, de um sacerdote, que não desse bom exemplo?
– E então, o caso de Caná?
– Em Caná, era a alegria que à minha mãe devia ser dada. Caná é a
antecipação que se deve à minha mãe. Ela é a antecipadora da Graça. Aqui
Eu presto honra à Cidade santa, fazendo dela publicamente o lugar do início
do meu poder de Messias. Mas lá, em Caná, Eu prestava honra à santa de
Deus, à toda santa. O mundo me tem por meio dela. É justo que para ela seja
feito o meu primeiro prodígio no mundo.
54.8Batem à porta. É Tomé de novo. Ele entra e se lança aos pés de Jesus.
– Mestre… eu não posso ficar esperando a tua volta. Deixa-me ficar
Contigo. Eu sou cheio de defeitos, mas tenho este amor, único, grande,
verdadeiro, o meu tesouro. Ele é teu, é para Ti. Deixa-me Mestre…
Jesus põe-lhe a mão sobre a cabeça.
– Fica, Dídimo. Segue-me. Felizes aqueles que são sinceros e de
vontade firme. Benditos sois vós. Para Mim sois mais do que parentes,
porque me sois filhos e irmãos, não segundo o sangue, que morre, mas
segundo a vontade de Deus e a vossa vontade espiritual. Agora Eu digo que
não tenho parente mais chegado do que aquele que faz a vontade de meu Pai;
e vós a fazeis, porque quereis o bem.
Assim termina a visão. 54.9São 16:00 horas, e já caem sobre mim as
sombras do malestar que sinto que será violento, lógica conseqüencia da
penosa hora de ontem…
Mas também em 24 de Outubro estava muito mal. Tanto que, terminada a
visão, escrita com uma dor de cabeça própria de meningite, não tive
coragem de acrescentar que vi finalmente Jesus vestido como me aparece
quando é todo para mim: de uma suave veste de lã branca quase da cor
marfim e com o manto igual. A veste que trazia na sua primeira manifestação em Jerusalém como Messias.
[98] Ele é Parte, a entender-se não como “porção”, mas como “pertença”. Diferente do homem, que pertence a Deus não por
natureza mas por semelhança (nota em 167.9), Jesus pertence a Deus por natureza, ou seja, é Deus como o Pai (Ele dirá em
487.4: “Eu sou dele, sou sua parte e um Todo com Ele”) . Ainda por natureza Jesus é também Homem, sendo Ele a Palavra
encarnada do Pai. Por isso, não no ser um profeta (como disse acima) está a sua perfeição, mas em ser o Homem-Deus, o qual
pela parte humana foi completado com o superar das tentações (como dirá em 80.10 e como resulta no fim da nota em 174.9).
Sobre as duas naturezas, divina e humana, de Jesus, são fundamentais os discursos dos capítulos 487 e 506.
[99] Filho do homem, é provavelmente o mais recorrente dos títulos atribuídos a Jesus e que Jesus atribui a Si próprio. O seu
significado genérico é ilustrado em 343.4; mas o seu significado messiânico encontra-se aqui e, por exemplo, em 126.3 e em
603.1.
[100] veste que trazia, em 53.3.

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