Estudo 61 O Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade

Estudo 61 O Evangelho como me foi revelado – Escola da Divina Vontade
Clique na barra abaixo para escutar em áudio
Listen to this article

69. Jesus instrui Judas Iscariotes.
69.1
3 de janeiro de 1945.
Ainda Jesus e Judas que, depois de terem rezado no lugar mais
próximo do Santo, concedidos aos israelitas varões, saem do Templo.
Judas queria ficar com Jesus. Mas esse desejo encontra oposição da
parte do Mestre.– Judas, Eu desejo estar sozinho nas horas noturnas. Na noite o meu
espírito obtém do Pai o seu alimento. Oração, meditação e solidão são para
mim mais necessárias do que alimento material. Aquele que quiser viver
pelo espírito, e levar outros a viver essa mesma vida, deve preterir a carne,
Eu diria quase matá-la nas suas prepotências, para dar todos os seus
cuidados ao espírito. Todos devem fazer assim, Judas. Também tu, se queres
verdadeiramente ser de Deus, ou seja, do sobrenatural.– Mas nós somos ainda desta terra, Mestre. Como podemos descuidar
nos da carne, dando todos os cuidados ao espírito? Isto que estás dizendo
não é uma antítese ao mandamento de Deus: “Não matarás”? Neste não está
compreendido também o não matar-se? Se a vida é um dom de Deus,
devemos amá-la, ou não?– Responderei a ti como não responderia a uma pessoa simples, para a
qual basta fazer levantar o olhar da alma, ou da mente, a esferas
sobrenaturais, para levá-lo conosco, como num vôo, até os reinos do
espírito. Mas tu não és uma pessoa simples. Tu te formaste em ambientes que
te refinaram… mas que também te corromperam com suas sutilezas e com
suas doutrinas. Lembras-te de Salomão, Judas? Ele era um sábio, o mais
sábio daqueles tempos. Lembras-te do que ele disse
[113], depois de ter
conhecido todo o saber? “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Temer a
Deus e observar os seus mandamentos, para o homem isso é tudo.” Agora Eu
te digo que é preciso saber tirar dos alimentos a nutrição, mas não veneno.
E, se compreendemos que um alimento nos está sendo prejudicial, porque há
em nós reações pelas quais aquele alimento é nefasto, sendo ele mais forte
do que os nossos bons humores que o poderiam neutralizar, é preciso não
fazer mais uso desse alimento, mesmo sendo gostoso ao paladar. É melhor
um simples pão e água de fonte do que os pratos complicados da mesa do
rei, nos quais há drogas que perturbam nosso organismo e envenenam.– Que é que eu devo deixar, Mestre?
69.2– Tudo aquilo que sabes que te faz mal. Porque Deus é Paz e se quiseres
andar no caminho de Deus deves desembaraçar a tua mente, o teu coração e
a tua carne de tudo o que não é paz e que traz consigo perturbação. Eu sei
que é difícil reformar-se a si mesmo. Mas Eu estou aqui para ajudar-te a
fazê-lo. Estou aqui para ajudar o homem a se tornar filho de Deus, a recriar
se, como em uma segunda criação, uma autogênese desejada por ele mesmo.
Mas deixa que Eu te responda o que perguntaste para que não digas que
ficaste no erro por minha culpa. É verdade que o suicidar é o mesmo que
matar. A vida, tanto a própria, como a dos outros, é um dom de Deus, e só a
Deus, que no-la deu, está reservado o direito de tirá-la. Quem se mata,
confessa sua soberba e a soberba é abominada por Deus.– Confessa sua soberba? Eu diria que o seu desespero.– E que é desespero, senão soberba? Pensa bem, Judas. Por que é que
uma pessoa se desespera? É, ou porque as desventuras recrudescem sobre
ela e essa pessoa quer vencê-las sozinha e não consegue, ou então porque ela
é culpada e julga que Deus não pode perdoá-la. No primeiro e no segundo
caso, não é talvez a soberba que está prevalecendo? A pessoa, que quer agir
sozinha, não tem a humildade de estender a mão ao Pai e dizer-lhe: “Eu não
posso, mas Tu podes. Ajuda-me, que de Ti eu tudo espero.” Aquela outra
pessoa que diz: “Deus não pode me perdoar”, fala assim porque quer medir
a Deus por si mesma e sabe que alguém, ofendido como aquele a quem ela
ofendeu, não poderia perdoá-la. Ou seja, é soberba também aqui. O humilde
se compadece e perdoa, mesmo se sofre pela ofensa recebida. O soberbo
não perdoa. É soberbo porque não sabe inclinar a cabeça e dizer: “Pai, eu
pequei, perdoa ao teu pobre filho culpado.” Mas não sabes, Judas, que tudo
será perdoado pelo Pai se for pedido o perdão com um coração sincero e
contrito, humilde e cheio de boa vontade de renovação no bem?– Mas certos delitos não são perdoados. Não podem ser perdoados.– És tu quem diz isso. E assim será, se o homem assim quiser. Mas em
verdade, oh!, em verdade Eu te digo que, mesmo depois do delito dos
delitos, se o culpado corresse aos pés do Pai — Ele se chama Pai para isso,
Judas, e é um Pai de perfeição infinita — e chorando lhe suplicasse o
perdão, oferecendo-se à expiação, mas sem desespero, o Pai lhe daria o
modo de expiar para poder merecer o perdão e salvar sua alma.
69.3 – Então, Tu dizes que os homens que a Escritura cita
suicidaram, fizeram mal.
[114], e que
– Não é lícito fazer violência contra ninguém, nem contra si mesmo.
Fizeram mal. Em seu relativo conhecimento do bem, em certos casos eles
terão tido ainda a misericóridia de Deus. Mas, desde quando o Verbo tiver
esclarecido toda a verdade e dado força aos espíritos com o seu Espírito,
desde então, não haverá mais perdão para quem morre em desespero. Nem
no momento do juízo particular, nem depois de muitos séculos na Geena, no
dia do Juízo final, nem nunca. Será isso uma dureza de Deus? Não: é justiça.
Deus dirá: “Tu julgaste, tu, criatura dotada de razão e de ciência
sobrenatural, criada livre por Mim, tu julgaste seguir o caminho que
escolheste, e disseste: ‘Deus não me perdoa. Estou separado Dele para
sempre. Julgo que devo por mim mesmo aplicar-me justiça pelo meu delito.
Saio da vida para fugir dos remorsos’, sem pensar que os remorsos não te
teriam mais atingido, se tu tivesses vindo ao meu seio paterno. E, como tu
mesmo te julgaste, que te advenha; Eu não violento a liberdade que te dei.”
Isto dirá o Eterno ao suicida. Pensa nisso, Judas. A vida é um dom e
deve ser amada. Mas que dom é? Um dom santo. E, então, que ela seja
amada santamente. A vida dura, enquanto a carne aguenta. Depois começa a
grande Vida, a Vida eterna. De bem-aventurança para os justos e de
maldição para os não-justos. A vida é uma meta ou um meio? É um meio.
Serve para chegar ao fim, que é a eternidade. E, então, damos à vida o tanto
que lhe sirva para durar e para servir o espírito em sua conquista.
Continência da carne em todos os seus apetites, em todos. Continência da
mente em todos os seus desejos, em todos. Continência do coração em todas
as paixões do que é humano. Ilimitado, ao invés, há de ser o ímpeto pelas
paixões que são do Céu: o amor a Deus e ao próximo, a vontade de servir a
Deus e ao próximo, a obediência à Palavra divina, o heroísmo no bem e na
virtude.
69.4
Eu te respondi, Judas. Ficaste persuadido? Basta-te esta explicação?
Sê sempre sincero e se não souberes ainda bastante – pergunta: Eu estou aqui
para ser Mestre.– Eu compreendi, e para mim basta. Mas… é muito difícil fazer o que
compreendi. Tu o podes, porque és santo. Mas eu… Sou um homem, jovem,
cheio de vitalidade…– Eu vim para os homens, Judas. Não para os anjos. Os anjos não
precisam de mestre. Eles vêem a Deus. Vivem no seu Paraíso. Não ignoram
as paixões dos homens porque a Inteligência, que é a Vida deles, os faz
conhecedores de tudo, mesmo aqueles que não são anjos da guarda de um
homem. Mas, espirituais como são, não podem ter senão um pecado, como
um deles teve, e arrastou consigo os menos fortes na caridade: a soberba,
flecha que desfigurou Lúcifer, o mais bonito dos arcanjos, e fez dele o
monstro horripilante do Abismo. Eu não vim para os anjos, os quais, depois
da queda de Lúcifer, se horrorizam só diante da sombra de um pensamento
de orgulho. Mas Eu vim para os homens. Para fazer dos homens, anjos.
O homem era a perfeição de tudo o que foi criado. Ele tinha do anjo o
espírito e do animal a completa beleza em todas as suas partes animais e
morais. Não havia criatura que o igualasse. Era o rei da ter ra, como Deus é o
Rei do Céu; um dia, aquele dia em que ele teria adormecido pela última vez
sobre a terra, ele se tornaria rei com o Pai no Céu. Satanás arrancou as asas
do anjo-homem e colocou nele gar ras de fera e veementes desejos de
imundícies; fez dele alguém que mais tem o nome de homem-demônio, do
que o de homem somente. Eu quero cancelar a deturpação feita por Satanás,
anular a fome cor rompida da carne infectada, restituir as asas ao homem,
levá-lo a tornar a ser rei, co-herdeiro do Pai e do celeste Reino. Eu sei que o
homem, se quiser, pode fazer tudo o que digo, para voltar a ser rei e anjo. Eu
não vos mandaria fazer coisas que não pudésseis fazer. Eu não sou um desses
retóricos que pregam doutrinas impossíveis. 69.5
Eu assumi uma verdadeira
carne para poder saber, sentindo-as na carne, quais são as tentações do
homem.– E os pecados?– Tentados, todos podem ser. Pecadores, só os que o querem ser.– Nunca pecaste, Jesus?– Eu nunca quis pecar. E isto, não só porque Eu sou o Filho do Pai. Mas
assim Eu quis e vou querer, para mostrar ao homem que o Filho do homem
não pecou porque não quis pecar e que o homem, se não quiser, pode não
pecar.– Nunca foste tentado?– Tenho trinta anos, Judas. E não vivi em um caverna sobre um monte.
Mas entre os homens. E, ainda que tivesse estado no lugar mais solitário da
terra, pensas que as tentações não teriam vindo? Tudo temos em nós: o bem e
o mal. Tudo levamos em nós
[115]. Sobre o bem, passa o sopro de Deus, que o
acende como um turíbulo que leva agradáveis e sacros incensos. E sobre o
mal, Satanás sopra e o acende com uma fogueira de um ardor feroz. Mas a
vontade atenta e a oração constante são como a areia úmida sobre o ardor do
inferno: ela o sufoca e domina.
– Mas, se nunca pecaste, como podes julgar os pecadores?– Eu sou homem, e sou o Filho de Deus. Tudo o que Eu poderia ignorar
como homem, e julgar mal, Eu o conheço e julgo como Filho de Deus. E
afinal!… Judas, responde a esta minha pergunta: alguém que está com fome,
sofre mais ao dizer: “Agora vou sentar-me à mesa”, ou quando diz: “Não há
comida para mim”?– Sofre mais no segundo caso, porque só o saber que está privado dela,
já o faz sentir o cheiro da comida e suas entranhas se torcem de desejo.– Aí está. A tentação é mordente como esse desejo, Judas. Satanás o
torna ainda mais agudo, perfeito e sedutor, do que qualquer ato já praticado.
Além disso, o ato dá satisfação mas, às vezes, também causa náuseas;
enquanto que a tentação não cai, mas, como uma árvore podada, lança uma
fronde mais robusta.– E nunca cedeste?– Nunca cedi.– Como te foi possível isso?– Eu disse: “Pai, não me exponhas à tentação.”– Como? Tu, o Messias, Tu que operas milagres, pediste a ajuda do Pai?– E não só a ajuda, Eu lhe pedi que não me exponha à tentação. Pensas tu
que porque Eu sou Eu, já posso deixar de contar com o Pai? Oh! Não! Em
verdade Eu te digo que o Pai concede tudo ao Filho, mas também que o Filho
recebe tudo do Pai. E te digo que tudo o que for pedido em meu nome ao Pai,
será concedido. 69.6
Mas, eis-nos ao Get-Sammi, onde moro. Já são visíveis as
primeiras oliveiras além dos muros. Tu moras para lá de Tofet. A noite já
vem chegando. Não te convém subir até lá. Nós nos veremos novamente
amanhã no mesmo lugar. Adeus. A paz esteja contigo.– A paz esteja Contigo também, Mestre… Mas eu queria dizer-te ainda
uma coisa. Eu te acompanharei até o Cedron, depois voltarei para trás. Por
que moras num lugar tão humilde como aquele? Sabes, o povo olha tantas
coisas. Não conheces ninguém na cidade, que tenha uma bela casa? Eu, se
quiseres, poderei levar-te à casa de amigos. Eles te hospedarão, porque são
meus amigos; e seriam moradas mais dignas de Ti.– Achas isso? Eu não acho. O digno e o indigno existem em todas as
castas. E, sem faltar com a caridade, mas para não ofender a justiça, Eu digo
que o indigno, e maliciosamente indigno, está muitas vezes no meio dos
grandes. Não é preciso, nem útil serem poderosos para serem bons, ou para
esconder o pecado aos olhos de Deus. Tudo deverá mudar sob o meu sinal. E
será grande, não quem é poderoso, mas quem é humilde e santo.– Mas, para ser respeitado, para se impor…– Herodes é respeitado? E César, é respeitado? Não. Eles são tolerados
e amaldiçoados pelos lábios e pelos corações. Sobre os bons, ou também
sobre os que somente têm desejo de bondade, podes crer, Judas, que Eu
saberei me impor, mais com a modéstia, do que com a imponência.– Mas, então… desprezarás sempre os poderosos? Assim, farás deles
teus inimigos! E eu estava pensando em falar de Ti a muitos que eu conheço
e que têm um nome…– Eu não desprezarei a ninguém. Irei aos pobres como aos ricos, aos
escravos como aos reis, aos puros como aos pecadores. Mas, se é verdade
que ficarei grato a quem me der pão e abrigo em minhas fadigas, seja qual
for o abrigo e o alimento, Eu darei sempre preferência ao que é humilde. Os
grandes já têm muitas alegrias. Os pobres não têm mais que uma reta
consciência, um amor fiel, os filhos, e verem-se ouvidos pelos que são mais
do que eles. Eu serei sempre inclinado para os pobres, os aflitos e os
pecadores. Eu te agradeço pela tua boa vontade. Mas deixa-me neste lugar
de paz e oração. Vai. E Deus te inspire o que é bom.
Jesus deixa o discípulo e se introduz entre as oliveiras, e tudo termina.
[113] disse, em: Qohélet 1,1-2; 12,8.13.
[114] cita, por exemplo em: Juizes 9,54; 1 Samuel 31,4-5; 2 Samuel 17,23; 1 Rei 16,18; 2 Macabeus 14,41-46.
[115] Tudo temos em nós: o bem e o mal. Tudo levamos em nós. Estas afirmações são correctas enquanto referidas à
condição humana no geral. Todavia, Maria Valtorta corrigiu-as, numa cópia dactilografada, da seguinte forma, que parece mais
conforme à natureza humano-divina d’Aquele que fala: Tudo temos em torno a nós: o bem e o mal. Tudo podemos acolher em
nós.
70. No Getsêmani com João de Zebedeu.
Uma comparação entre o Predileto e Judas de Keriot.
4 de janeiro de 1945.
70.1
Vejo Jesus que se dirige à baixa casinha branca, que fica no meio do
olival. Um jovenzinho o saúda. Parece ser ele do lugar porque tem nas mãos
as ferramentas de podar e de sachar.– Deus esteja Contigo, Rabi. O teu discípulo João veio e agora partiu
novamente para ir ao teu encontro.– Faz muito tempo?– Não. Ele apenas passou aquele caminho. Nós pensávamos que Tu
virias do lado de Betânia…
Jesus, rápido, toma o caminho, contorna o outeiro, vê João que desce
quase correndo em direção à cidade e o chama.
O discípulo se vira e, com o rosto iluminado pela alegria, grita:– Oh! Meu Mestre! –e volta correndo.
Jesus lhe abre os braços e os dois se abraçam afetuosamente.– Eu ia procurar-te… Pensávamos que tinhas estado em Betânia, como
havias dito.– Sim. Eu queria fazer assim. Devo começar a evangelizar também os
arredores de Jerusalém. Mas depois me entretive na cidade… para instruir
um novo discípulo.– Tudo o que fazes é bem feito, Mestre. E é bem sucedido. Estás vendo?
Agora mesmo, de repente nos encontramos.
Os dois caminham, tendo Jesus um braço sobre as costas de João que,
sendo mais baixo do que Ele, o olha de baixo para cima, contente com
aquela intimidade. E assim eles voltam para a casinha.– Há muito tempo que vieste?– Não, Mestre. Eu parti de Doco, ao amanhecer, junto com Simão, ao
qual eu disse aquilo que Tu desejavas. Depois, paramos juntos nos campos
de Betânia, repartimos o alimento, e falamos de Ti aos camponeses que lá
encontramos. Quando o sol já estava menos quente nos separamos. Simão foi
à casa de um amigo, o qual quer falar de Ti. É o dono de quase toda a
Betânia. Simão o conhece de antes, desde quando eram vivos os pais de um
e do outro. Mas amanhã Simão virá para cá. Disse-me para falar-te que é
feliz em servir-te. Simão é muito capaz. Eu gostaria de ser como ele. Mas
sou um moço ignorante.– Não, João. Tu também fazes muito bem.– Estás mesmo contente com o teu pobre João?– Muito contente, meu João. Muito.– Oh! Meu Mestre!
João se inclina, num impulso, para pegar a mão de Jesus e a beija e a
passa pelo rosto como uma carícia.
70.2
Chegaram à casinha. Entram na cozinha baixa e fumacenta. O dono o
saúda:– A paz esteja Contigo.
Jesus responde:– Paz a esta casa, a ti e a quem vive contigo. Tenho Comigo um
discípulo.– Teremos pão e óleo para ele também.– Eu trouxe peixe seco que Tiago e Pedro me deram. E, passando por
Nazaré, tua mãe me deu pão e mel para Ti. Caminhei sem parar, mas agora o
pão já deve estar duro.– Não tem importância, João. Ele terá sempre o sabor das mãos da
minha mãe.
João vai tirando os seus tesouros do alforje que ele tinha posto em um
canto. E vejo preparar o peixe seco de uma maneira estranha. Eles o molham
por poucos instantes, em água quente, depois o untam e assam sobre as
chamas.
Jesus abençoa a comida e, com o discípulo, assenta-se à mesa. Estão ali
também o dono da casa, que ouço ser chamado Jonas, e seu filho. A mãe vai
e vem, levando o peixe, azeitonas pretas, verduras cozidas e temperadas com
óleo. Jesus também põe na mesa o mel. E o oferece à mãe, estendendo-o com
o pão.– É da minha colméia –diz–. Minha mãe é quem cuida das abelhas.
Come dele. É bom. És tão boa para Comigo, Maria, que mereces este e mais
outro–, diz Ele depois, ao ver que a mulher não queria privá-lo do doce mel.
O jantar chega logo ao fim entre breves conversações em que todos
participam. Assim que termina, depois de ter agradecido pelo alimento,
Jesus diz a João:
– Vem. Vamos sair um pouco até o olival. A noite está morna e clara.
Será agradável estar um pouco lá fora.
O dono da casa diz:– Mestre, eu te saúdo. Estou cansado e meu filho também está cansado.
Nós vamos dormir. Eu deixo a porta encostada e a candeia sobre a mesa. Já
sabes como fazer.– Vai então, Jonas, e apaga a candeia. Há um luar tão claro, que nós
enxergaremos até sem levar luz.– Mas o teu discípulo, onde é que vai dormir?– Comigo. Em minha esteira há lugar também para ele. Não é verdade,
João?
João, à idéia de dormir ao lado de Jesus, fica extasiado.
70.3
Saem para o olival. Mas antes, João pegou qualquer coisa no saco que
está no canto. Caminham um pouco e chegam a um ponto de onde se vê toda
Jerusalém.– Sentemo-nos aqui, e vamos conversar –diz Jesus.
Mas João prefere ir sentar-se aos pés de Jesus, sobre a erva cortada;
está com o braço pousado sobre os joelhos do Mestre, com a cabeça apoiada
sobre o braço, olhando de vez em quando para o seu Jesus. Parece um
menino perto da pessoa para ele mais querida.– É bonito também aqui, Mestre. Olha como a cidade parece grande de
noite. Maior do que de dia.– É porque a luz da lua fez desaparecer os contornos. Vê, parece que os
limites se alargam nesta luminosidade prateada. Olha a cúpula do Templo lá
em cima. Não parece estar suspensa no ar?– Parece que os anjos a estão transportando sobre suas asas de prata.
Jesus suspira.– Por que suspiras, Mestre?– Porque os anjos abandonaram o Templo. Seu aspecto de pureza e
santidade está limitado às paredes. Aqueles que deviam dar-lhe a
alma — porque cada lugar tem sua alma, ou seja, o espírito para o qual ele
foi erguido, e o Templo tem, deveria ter, alma de oração e santidade — são
os primeiros a tirar-lhe. Não se pode dar o que não se tem, João. E, se
muitos são os sacerdotes e os levitas que lá vivem, deles não há nem um
décimo que seja apto para dar vida ao Lugar Santo. Morte é o que dão.
Comunicam a ele a morte que está no seu espírito, morto ao que é santo. Eles
têm as fórmulas. Mas não têm a vida delas. São cadáveres que estão quentes
só pela putrefação que os está inchando.– Eles te fizeram mal, Mestre?
João está com muita pena.– Não. Ao contrário, me deixaram falar, quando pedi para fazê-lo.– Tu o pediste? Por que?– Porque não quero ser Eu aquele que inicia a guerra. A guerra virá
assim mesmo. Porque a alguns Eu farei um tolo medo humano, e para outros,
eu serei uma censura. Mas isto deve estar no livro deles. Não no meu.
Fazem um pouco de silêncio e depois João volta a falar:
70.4 – Mestre, eu conheço Ana e Caifás. Por necessidades de negócios,
minha família manteve um relacionamento com eles e quando estive na
Judéia por causa de João, eu ia também ao Templo, e eles eram bons aos
filhos de Zebedeu. Meu pai sempre se lembra deles com o melhor peixe .
Virou até um costume, sabes? Quando se quer tê-los como amigos , continuar
a tê-los, é preciso fazer assim…– Eu sei.
Jesus está sério.– Pois bem. Se achas bom, eu falarei de Ti ao Sumo Sacerdote. E
depois… se quiseres, eu conheço um que está tratando de negócios com meu
pai. É um rico comerciante de peixe. Ele tem uma casa bonita e grande, perto
do Hípico, porque são pessoas ricas, mas são também muito boas. Para Ti
ficaria mais cômodo e Te cansarias menos. Para se vir aqui deve-se passar
também por aquele subúrbio de Ofel tão mal cuidado e sempre cheio de
burros e de rapazes briguentos.– Não, João. Eu te agradeço. Mas estou bem aqui. Estás vendo quanta
paz? Eu disse isto também ao outro discípulo que me fazia a mesma
proposta. Ele dizia: “Para seres melhor considerado.”– Eu o dizia para que Tu não te cansasses muito.– Eu não me canso. Caminharei muito e não me cansarei nunca. Sabes o
que é que me cansa? O desamor. Oh! aquele, que peso! É como se Eu tivesse
um peso no coração.– Eu te amo, Jesus.– Sim. E tu me alivias. Eu te quero muito bem, João, e te quererei
sempre, porque tu não me trairás nunca.– Trair-te? Oh!
– Contudo, haverá muitos que me trairão… 70.5
João, escuta. Eu te disse
que parei aqui para instruir um novo discípulo. É um jovem judeu instruído e
conhecido.– Então, terás com ele muito menos trabalho do que conosco, Mestre.
Estou contente por teres alguém mais capaz do que nós.– Pensas tu que me dará menos trabalho?– Ora, se é menos ignorante do que nós, Te compreenderá melhor e Te
servirá melhor, especialmente se Te amar melhor.– Aí está. Disseste bem. Mas o amor não depende da instrução e nem da
formação. Um virgem ama com toda a força do seu primeiro amor. Isso
também se dá com a virgindade do pensamento. E o amado penetra e se
imprime mais em um coração e em um pensamento virgem do que em um no
qual já estiveram outros amores. Mas, se Deus quiser… Escuta, João. Eu te
peço que sejas amigo dele. O meu coração treme, ao colocar-te, cordeiro
insonso, junto a alguém já experimentado na vida. Mas também se acalma,
porque sabe que tu serás cordeiro, mas também águia e se o experimentado
quiser fazer-te tocar o chão, sempre lamacento, o chão do bom sentido
humano, tu, com um bater de asas, saberás livrar-te e querer só o azul e o
sol. Por isto te peço que… — conservando-te como és — sejas amigo do
novo discípulo, que não vai ser muito amado por Simão Pedro e também
pelos outros, para lhe transfundires o teu coração…– Oh! Mestre! Mas já não bastas Tu?– Eu sou o Mestre ao qual não se dirá tudo. Tu és o condiscípulo, um
pouco mais jovem, com o qual é mais fácil abrir-se. Eu não estou dizendo
que me venhas repetir tudo o que ele te disser. Abomino os espias e os
traidores. Mas o que te peço é que o evangelizes com a tua fé e tua caridade,
com a tua pureza, João. É uma terra corrompida por águas mortas. Há de ser
seca com o sol do amor, purificada com a honestidade de pensamentos,
desejos e obras e cultivada com a fé. E tu podes fazer isso.– Se achas que eu posso… oh! sim. Se Tu dizes que eu posso fazer isso,
isso farei. Por amor a Ti…– Obrigado, João.
70.6 – Mestre, falaste de Simão Pedro. E voltou-me à lembrança o que eu
devia dizer-te primeiro, mas que a alegria de ouvir-te tinha afastado do meu
pensamento. Quando voltamos a Cafarnaum, depois do Pentecostes,
encontramos logo a importância de costume daquele desconhecido. O
menino a tinha entregue à minha mãe. Eu a dei a Pedro e ele me devolveu
dizendo que a usasse um pouco para a volta e a parada em Doco e que o
restante o levasse a Ti, pois podias estar precisando… porque Pedro
também pensava que aqui não tens comodidade… mas Tu dizes que tens…
Eu não tirei senão duas moedas para dois pobrezinhos que encontrei perto de
Efraim. Quanto ao mais, vim passando com o que minha mãe me havia dado
e com o que me deram algumas pessoas boas, às quais eu preguei o teu
Nome. Aqui está a bolsa.– Amanhã a distribuiremos aos pobres. Assim, também Judas irá
aprendendo os nossos costumes.– O teu primo veio? Como fez para chegar aqui tão rápido? Ele estava
em Nazaré e não me disse que partiria…– Não. Judas é o novo discípulo. Ele é de Keriot. Mas tu o viste pela
Páscoa, aqui, naquela tarde da cura de Simão. Ele estava com Tomé.– Ah! É aquele?
João fica um pouco admirado…– É ele. E Tomé, que está fazendo?– Ele obedeceu as tuas ordens deixando Simão Cananeu e, indo pela
estrada do mar, foi ao encontro de Filipe e Bartolomeu.– Sim, Eu quero que vos ameis sem preferências, ajudando-vos
reciprocamente, suportando-vos um ao outro. Ninguém é perfeito, João. Nem
os jovens, nem os velhos. Mas, se tiverdes boa vontade, chegareis à
perfeição, e o que faltar, Eu colocarei em vós. Vós sois como os filhos de
uma santa família. Dentro dela há muitos caráteres diferentes. Um é forte,
outro é calmo, outro é corajoso, outro é tímido, um é impulsivo, outro é
muito cauteloso. Se todos fossem iguais, seríeis uma força em um caráter e
deficiências em todos os outros. Enquanto que, como estais, formais uma
união perfeita, porque vos completais mutuamente. O amor vos une, vos deve
unir, o amor por causa de Deus.– E por Ti, Jesus.– Primeiro por causa de Deus, e depois por amor ao seu Cristo.– Eu… que é que eu sou na nossa família?– És a paz amorosa do Cristo de Deus. 70.7
Estás cansado, João? Queres
voltar? Eu fico aqui para rezar.– Eu também fico para rezar Contigo. Deixa-me ficar para rezar Contigo.– Então fica.
Jesus diz os salmos e João o acompanha. Mas a voz dele vai sumindo, e
o apóstolo acaba adormecendo com a cabeça sobre o colo de Jesus, que
sorri e estende o seu manto sobre as costas do adormecido e depois continua
a rezar, mentalmente.
A visão termina assim.
70.8
Depois Jesus diz:– Ainda um paralelo entre o meu João e um outro discípulo. Paralelo no
qual sai sempre mais nítida a figura do meu predileto.
Ele é aquele que se despoja do seu modo de pensar e de julgar, para ser
“o discípulo.” É aquele que se doa, sem querer de si nem mesmo uma
molécula — do si mesmo antecedente à eleição. Judas é aquele que não quer
se despojar de si mesmo. A sua doação é, por isso, uma doação irreal. Ele
traz consigo o seu eu doente de soberba, de sensualidade, de cobiça.
Conserva o seu modo de pensar. Com isso ele neutraliza os efeitos da
doação e da Graça.
Judas é o chefe da família de todos os apóstolos fracassados. E são
tantos! João é o chefe da família dos que se fazem hóstias por meu amor. Ele
é o teu modelo.
Eu e minha mãe somos as Hóstias excelsas. Alcançar-nos é difícil, aliás,
impossível, porque o nosso sacrifício foi de uma aspereza total. Mas o meu
João! É a hóstia imitável por todas as classes dos meus amadores: virgem,
mártir, confessor, evangelizador, servo de Deus e da mãe de Deus, ativo e
contemplativo, é um exemplo para todos. É aquele que ama.
Observa os diferentes modos de raciocinar. Judas investiga, argumenta,
teima, e, mesmo quando parece estar cedendo, na realidade está conservando
ainda o seu modo de pensar. João se julga um nada, aceita tudo, não pergunta
as razões, e se sente bem pago se puder me fazer feliz. Eis o exemplo.
70.9
Não é verdade que te sentiste toda cheia de paz, diante daquela sua
simples e querida amorosidade? Oh! O meu João! E o meu pequeno João que
Eu quero seja sempre mais parecido com o meu dileto. Aceita tudo, dizendo
sempre como o Apóstolo: “Tudo aquilo que fazes é bem feito, Mestre”, para
merecer ouvir sempre que se lhe diga: “És a minha amorosa paz.” Preciso de
consolo Eu também, Maria. Dá-me. O meu Coração seja o teu repouso.

Compartilhe a Divina Vontade
Tags: ,

Você também pode gostar

Estudo 61 Livro do Céu Vol. 1 ao 11 – Escola da Divina Vontade

Aplicativo Vida na Divina Vontade

ESCOLA DA DIVINA VONTADE

ENCONTRE TUDO RAPIDINHO

Horas da Paixão

31 Dias com Maria 

Giros da Alma

Escritos de Luisa PiccarretaLIVRO DO CÉU

Nossos vídeos no Youtube

Evangelho Maria Valtorta

Vida Intima de Ns Senhor 

VÍDEOS DA ESCOLA 
– ESCOLA DA DIVINA VONTADE

 

   Aplicativo para outros celulares: https://app.vc/dvbeta

Telegram: https://t.me/joinchat/Vy8mSSfh_lVs_nez

Whatszap:
12.988930463

Baixar os: Livros da Valtorta
e Livros da Vida intima

 

           ORAÇÃO DO DIA

¨Mãe celeste, Rainha Soberana do Fiat Divino, toma-me pela mão e mergulha-me na Luz do querer Divino. Tu serás a minha guia, minha terna Mãe, e me ensinarás a viver e a manter-me na ordem e no recinto da Divina Vontade. Amém, Fiat.¨

O que é o Reino da Divina Vontade?

Canal Divina Vontade

Como se faz os 31 Dias com Maria

Formação na Divina Vontade

Músicas da Divina Vontade

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?