Estudo 38 Mistica Cidade de Deus – Escola da Divina Vontade

Os Três Fiat
Estudo 38 Mistica Cidade de Deus – Escola da Divina Vontade
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CAPÍTULO 8
A VIRTUDE DA CARIDADE E MARIA SANTÍSSIMA, SENHORA NOSSA.

Elogio da caridade

516. A sobreexcelentíssima virtude da caridade é senhora, rainha, mãe,
alma, vida e beleza de todas as outras virtudes. A caridade é que as governa,
move e dirige para seu verdadeiro e último fim. Ela as gera em seu perfeito ser, aumenta-as,
conserva-as, esclarece-as e adorna, dá-lhes vida e eficácia.
Se todas as demais virtudes comunicam à criatura alguma perfeição ou
ornato, é da caridade que recebem esta perfeição porque, sem caridade, todas são
defeituosas, obscuras, lânguidas, mortas e sem proveito, por não possuírem perfeito
movimento de vida e sentido.
A caridade é benigna (ICor 13,4), paciente, mansíssima, sem inveja, de
nada se apropria, tudo dá, produz todos os bens e, quanto lhe é possível, não consente em nenhum mal,
por ser a participação do verdadeiro e sumo bem!
Oh! virtude das virtudes, resumo dos tesouros do céu! Só tu tens a chave do
paraíso; és a aurora da eterna luz, sol do eterno dia, fogo que purifica, vinho que
inebria e dá novo sentir; néctar que alegra, doçura que sacia sem enfastiar; tálamo em
que repousa a alma e vínculo tão estreito que nos faz uma só coisa com Deus (Jo 17,21),
como o Pai e o Filho são um com o Espírito Santo.

A caridade, participação da essência divina
517. Pela incomparável nobreza desta senhora das virtudes, o mesmo Deus
e Senhor – a nosso modo de entender – quis honrar-se com seu nome, ou honrar a ela,
chamando-se caridade, como disse São João (ljo 4,16).
Diversas razões tem a Igreja católica quando, ao falar das perfeições divinas,
atribui ao Pai a onipotência, ao Filho a sabedoria, e ao Espírito Santo o amor. O Pai
é princípio sem princípio, o Filho é gerado pelo Pai por via do entendimento e o Espírito Santo procede de ambos pela vontade.
O nome, porém, de caridade e sua perfeição, o Senhor aplica-se a si sem diferença
e distinção de pessoas, conforme disse o Evangelista: Deus é caridade,
No Senhor esta virtude tem a plenitude do ser. É o fim de todas as
operações ad intra e ad extra, porque as divinas processões – as operações de
Deus em si mesmo – acabam na união de amor e caridade recíproca entre as três
divinas Pessoas. Isto forma entre as Pessoas Divinas vínculo indissolúvel,
depois da unidade indivisa da natureza, pela qual são um só Deus.
Todas as obras ad extra, que são as criaturas, nasceram da caridade divina e
a ela se ordenam, para que, saindo do mar imenso daquela bondade infinita, voltem
pela caridade e amor à origem donde brotaram. Este predicado da caridade é singular
entre todas as outras virtudes e dons, e constitui perfeita participação da caridade
divina. Nasce do mesmo princípio, visa o mesmo fim, e com ele tem mais semelhança do que as outras virtudes.
Se chamamos a Deus nossa esperança, nossa paciência e nossa sabedoria,
é porque as recebemos de sua mão, e não porque estas virtudes estejam em Deus
como em nós. A caridade, porém, não somente a recebemos do Senhor, nem Ele se
chama caridade apenas pelo fato de nô-la comunicar, mas Ele a possui em si mesmo,
essencialmente. Dessa divina perfeição que imaginamos como forma e atributo em sua
natureza divina, redunda nossa caridade, com mais perfeição e semelhança do que
qualquer outra virtude.

A caridade divina por nós

518. A caridade tem outras propriedades admiráveis da parte de Deus, em
ralação a nós. Sendo ela o princípio pelo qual nos comunicou todo o ser, e depois o
sumo bem que é o mesmo Deus, vem a ser o estímulo e exemplar de nossa caridade e
amor para com o mesmo Senhor. Se para amá-lo não nos desperta, nem move saber
que em si mesmo é infinito e sumo bem, pelo menos nos obrigue e cative saber que
é o sumo bem para nós. Se não podíamos nem sabíamos amá-lo antes (1 Jo 4,10) que
nos desse seu Filho Unigênito, não tenhamos desculpas, nem ousadia, para O deixar de
amar, depois de nô-lo ter dado. Se nos cabe desculpas, por não saber adquirir o benefício, nenhuma podemos aduzir para não o
agradecer com amor, depois de o haver recebido sem o merecer.

O sol, exemplo da generosidade e desinteresse da caridade divina.

O modelo de nossa caridade  encontrado na de Deus, manifesta intensamente a excelência desta virtude, ainda que
dificilmente eu possa explicar meu conceito.
Quando Cristo, Senhor nosso, fundava sua perfeitíssima lei de amor e
graça, ensinou-nos a ser perfeitos, à imitação de nosso Pai Celestial, que faz nascer
seu sol sobre justos e injustos (Mt 5,45), sem diferença. Tal doutrina e exemplo só o
Filho do eterno Pai podia propor aos homens.
Entre todas as criaturas visíveis, nenhuma quanto o sol nos manifesta a
caridade divina e nô-la mostra para a imitarmos. Este nobilíssimo astro, por sua mesma
natureza, sem outra deliberação mais do que sua inata propensão, comunica luz a
toda parte e a quantos são capazes de recebê-la, sem distinção. Quanto dele depende, nunca a nega, nem a suspende
(Dion. de div. nom. cap. IV). Assim procede, sem dever obrigação a ninguém, sem
receber paga ou recompensa de que necessite, sem encontrar, nas coisas que ilumina
e fecunda, alguma bondade antecedente para o mover e atrair. Nem pretende outro
interesse, mais do que derramar a mesma virtude que em si contém, para todos serem
dela participantes.

Amar desinteressadamente

Considerando, pois, os predicados de tão generosa criatura, quem
há que nela não veja um retrato da caridade incriada, para a copiar? Quem há que não
se confunda por não imitá-la? Quem imaginará que tem caridade verdadeira se não a imitar?
Não pode nossa caridade e amor produzir alguma bondade no objeto que
ama, como o faz a caridade incriada do Senhor. Todavia, se não podemos melhorar o que amamos, pelo menos podemos
amar a todos sem interesse de nos melhorarmos, e sem andar deliberando e
escolhendo a quem amar e fazer o bem, com a esperança de ser correspondido.
Não digo que a caridade não é livre, nem que Deus haja feito alguma coisa
fora de si por ter dela necessidade. Não vale aqui o exemplo: porque todas as obras
adextra – as dacriação – são livres em Deus.
A vontade livre, porém, não deve desviar nem forçar a inclinação e impulso
da caridade. Antes, deve segui-la à imitação do Sumo Bem que, pedindo sua
natureza comunicar-se, não foi impedida pela divina vontade. Deixou-se levar e
mover por sua inclinação, para comunicar os raios de sua luz inacessível a todas as
criaturas, segundo a capacidade de cada uma para recebê-la. Isto, sem haver
precedido de nossa parte bondade alguma,
serviço ou benefício, e ainda sem esperá-los depois, porque de ninguém tem
necessidade.

A ordem na comunicação da caridade divina. Cristo ocupa o primeiro lugar nessa ordem

521. Temos conhecido um pouco as Propriedades da caridade, em seu princípio que é Deus. Fora Dele, será em Maria
Santíssima que a encontraremos, com toda perfeição possível em pura criatura, por
quem mais de perto poderemos modelar a nossa.
É óbvio que, partindo os raios desta luz e caridade do Sol incriado onde se
encontra sem termo nem fim, vai-se comunicando a todas as criaturas, até a mais
distante, com ordem, medida e modo, segundo o grau de proximidade de cada uma
ao seu princípio.
Esta ordem traduz a plenitude e perfeição da divina Providência, pois sem
a harmonia das criaturas criadas para a participação de sua bondade e amor, resultaria imperfeita, confusa e incompleta.
O primeiro lugar nesta ordem, depois do mesmo Deus, seria daquela alma
e pessoa que fosse juntamente Deus incriado e homem criado; porque à suma e
suprema união de naturezas, deveria seguir a suma graça e participação de amor,
como aconteceu em Cristo Senhor nosso.

Maria Santíssima ocupa o segundo lugar na ordem da caridade divina

522. O segundo lugar pertence à sua Mãe Maria Santíssima, em quem repousa, por singular modo, a caridade e
amor divino. A nosso modo de entender, a caridade divina não estaria suficientemente satisfeita enquanto não se comunicasse
a uma pura criatura, com tanta plenitude, que nela estivesse reunido o amor e caridade de todo o gênero humano. Só ela poderia
suprir, pelo restante da humanidade. Daria toda a correspondência possível e participaria da caridade incriada, sem as falhas e
defeitos que nela mesclam os demais mortais infetos pelo pecado.
Somente Maria Santíssima, entre todas as criaturas, foi escolhida como o
Sol de justiça (Ct 6, 9), para imitá-lo na caridade, e ser nesta virtude, uma cópia fiel
do original. Somente Ela soube e pôde amar mais e melhor que todas juntas, amando a
Deus pura, perfeita, íntima e sumamente por ele só, e às criaturas pelo mesmo Deus,
e como Ele as ama. Somente Ela seguiu verdadeiramente o impulso da caridade e
sua inclinação, amando ao sumo bem por sumo bem, sem outra atenção, e amando às
criaturas pela participação que têm de Deus, e não para delas receber compensações.
Reproduzindo em tudo a caridade incriada, somente Maria Santíssima pôde e
soube amar, para melhorar a quem amava, pois com seu amor, agiu de sorte que
melhorou o céu e a terra e tudo quanto existe, fora do mesmo Deus.

Paralelo entre a caridade de Maria e das demais criaturas

523. Se a caridade desta grande Senhora fosse colocada numa balança, e a
de todos os homens e anjos em outra pesaria mais a de Maria puríssima que a de
todo o resto das criaturas.
Todas elas não chegaram ao conhecimento que só Ela teve da natureza e
propriedades da caridade de Deus, por conseqüência, somente Maria soube imitá-la com adequada perfeição, mais que toda
a natureza das puras criaturas intelectuais.
Neste excesso de amor e caridade, satisfez e retribuiu a dívida das criaturas
pelo infinito amor do Senhor, tanto quanto delas se lhes podia exigir, não, porém, em
equivalência infinita, pois isto não era possível.
Como o amor e caridade da alma santíssima de Jesus Cristo teve, no grau
possível, certa proporção com a união hipostática, assim a caridade de Maria teve
outra proporção semelhante: a que resultou do privilégio que o Eterno Pai lhe
conferiu, dando-lhe seu Filho Santíssimo, fazendo-a sua Mãe que o concebeu e o deu
à luz para a salvação do mundo.

A caridade de Maria, princípio de nossa felicidade

524. Daqui entenderemos que todo o bem e felicidade das criaturas vem
a se originar, de algum modo, na caridade e amor que Maria Santíssima teve a Deus.
Nela esta virtude e participação do amor divino esteve, dentre as criaturas, em sua
última e suma perfeição.
Ela pagou esta dívida por todos, inteiramente, quando ninguém acertava
fazer a devida retribuição e nem sequer a conhecia. Com esta perfeitíssima caridade,
Ela obrigou, no modo possível, ao eterno Pai a dar seu Filho Santíssimo tanto para
Ela, como para todo o gênero humano. Se Maria houvesse amado menos, e sua caridade tivesse alguma falha,
não haveria na natureza a necessária disposição para o Verbo se encarnar. Encontrando-se, porém, entre as criaturas,
alguma que houvesse chegado a imitar a caridade divina em grau tão supremo, já era como razoável que Deus a ela descesse,
como realmente o fez.

Mãe do amor formoso

525. Tudo isto foi significado, ao
chamá-la o Espírito Santo, Mãe da formosa
dileção ou amor (Eclo 24,24), atribuindo lhe estas palavras, conforme fica dito sobre a santa esperança,
Maria é mãe de nosso suavíssimo amor, Jesus, Senhor e Redentor nosso,
formosíssimo entre todos os filhos dos homens pela divindade, de infinita e
incriada beleza, e pela humanidade, que não teve culpa nem dolo (lPd 2,22), mas
possui todas as graças que lhe pôde comunicar a Divindade.
É também Mãe do amor formoso, porque só Ela concebeu em sua mente o
amor e caridade perfeita, formosíssima dileção, que todas as demais criaturas não
souberam conceber em toda sua beleza, sem falha alguma, de modo que pudesse
ser chamada absolutamente formosa.
É Mãe de nosso amor, porque nô lo trouxe ao mundo, nô-lo conquistou, nos
ensinou a conhecê-lo e praticá-lo. Sem Maria Santíssima, não existiria outra pura
criatura, nem no céu, nem na terra, de quem pudessem os homens e anjos se fazer discípulos do amor formoso.
Sendo assim, todos os santos são como raios deste sol, e como arroios
deste mar. Tanto mais saberão amar, quanto mais participarem do amor e caridade de
Maria Santíssima, imitando-a, copiando-a e assemelhando-se a Ela.

Causas de sua caridade

526. As causas desta caridade e amor de nossa princesa Maria foram: a
profundidade de seu altíssimo conhecimento e sabedoria, assim pela fé infusa
como pelos dons do Espírito Santo, de ciência, entendimento e sabedoria; e as
visões intuitivas e abstrativas da divindade.
Por todos estes meios, adquiriu altíssimo conhecimento da caridade
incriada, bebendo-a em sua mesma fonte.
Conhecendo que Deus devia ser amado por si mesmo, e a criatura por Deus, assim
o praticou com intensíssimo e fervente amor. Não encontrando o poder divino, na
vontade desta Rainha, impedimento, óbice de culpa, inadvertência, ignorância, imperfeição ou tardança, pôde nela realizar tudo
o que quis, e quanto não pode fazer com o resto das criaturas, pois nenhuma outra
teve as disposições de Maria Santíssima.
Maria realizou perfeitamente o mandamento da caridade e supriu as falhas das demais criaturas
Foi Maria prodígio do poder divino, o maior ensaio e demonstração, em
pura criatura, da caridade incriada, e a plena realização daquele grande preceito
natural e divino: Amarás a teu Deus de todo teu coração, mente e alma e com
todas as tuas forças (Dt 6, 5). Só Maria saldou esta dívida e obrigação das criaturas que, nesta vida, antes de ver a Deus,
não saberiam nem poderiam pagar inteiramente.
Sendo viadora, esta Senhora a satisfez mais perfeitamente, do que os mesmos serafins sendo compreensores.
Satisfez também este preceito em relação a Deus, para que não fosse defraudado por
parte dos viadores, pois só Maria Puríssima o santificou e realizou plenamente por todos, suprindo abundantemente o que lhes
faltou.
Se Deus não tivesse presente Maria, nossa Rainha, ao intimar aos mortais este mandato de tanto amor e caridade,
talvez não lhe haveria dado esta forma.
Comprazeu-se, porém, em dá-lo assim, só por esta Senhora, de modo que a Ela devemos, tanto o mandamento da caridade
perfeita como seu adequado cumprimento.

Louvores e exortação

528. Ó doce e formosíssima Mãe da formosa dileção e caridade! Todas as
nações te conheçam, todas as gerações te bendigam, todas as criaturas te glorifiquem e louvem. Tu somente és perfeita, tu
a única dileta, tu a escolhida para mãe da caridade incriada. Ela te formou singular,
única (Ct 6,9) e escolhida como o sol, para resplandecer em teu belíssimo e perfeitíssimo amor!
Aproximemo-nos deste Sol, nós os míseros filhos de Eva, para sermos iluminados e aquecidos. Cheguemos a esta
Mãe, para que nos torne a conceber no amor. Vamos a esta Mestra, para aprendermos o amor, dileção e caridade formosa e
sem defeitos.
Amor significa afeto que se compraz e repousa no amado; dileção quer
dizer preferir e separar o que se ama de tudo o mais; caridade inclui, além de tudo
isso, íntimo apreço e estima do bem amado.
Tudo nos ensinará a Mãe deste amor formoso, que o é, por ter todas estas perfeições. Com Ela, aprenderemos a amar a
Deus, descansando Nele todo nosso coração e afetos.
Aprenderemos a separar nosso amor de tudo o que não é o mesmo sumo
bem, pois menos o ama quem, com ele quer amar outra coisa. Saberemos aprecia
lo e estimá-lo mais do que o ouro. e acima de tudo quanto é precioso. Em sua comparação, todo o precioso é vil, toda beleza ‘
fealdade. Tudo o que é grande e estimável aos olhos carnais vem a ser desprezível e sem valor.

Dos efeitos da caridade de Maria Santíssima falo em toda esta história e deles está cheio o céu e a terra. Não me
detenho, portanto, a descrever, em particular, o que não pode caber em língua, nem
em palavras humanas ou angélicas.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU.

Sinais do amor de Deus

529. Minha filha, com afeto de mãe, desejo que me sigas e imites em todas
as virtudes. Mas nesta da caridade, que é o fim e coroa de todas elas, declaro-te
minha absoluta vontade, que te esforces o mais possível em copiar na tua alma, com a
maior perfeição, quanto conheceste na minha. Acende a luz da fé e da razão para
encontrar esta dracma (Lc 15,8) de infinito valor, e havendo-a achado esquece e despreza todo o terrestre e corruptível. Em tua
mente considera muitas vezes, medita e pesa as infinitas razões e motivos para
Deus ser amado sobre todas as coisas.
Para saberes amá-lo com a perfeição que desejas, estes são os sinais e
efeitos do verdadeiro e perfeito amor: se continuamente meditas e pensas em Deus;
se cumpres seus mandamentos e conselhos, sem tédio nem desgosto; se temes
ofendê-lo; se, ofendendo-o, procuras logo desagravá-lo; se te dói vê-lo ofendido e se
te alegras de que todas as criaturas sirvam; se desejas e gostas de falar continuamente de seu amor; se gozas com sua
presença e lembrança; se te contrista sua ausência e esquecimento; se amas o que
Ele ama e aborreces o que Ele aborrece; se procuras atrair todos à sua amizade e graça; se lhe súplicas com confiança; se
recebes seus benefícios com gratidão; se não os dissipas e se os fazes reverter à sua
honra e glória; se trabalhas por extinguir em ti mesma os movimentos das paixões,
que te retardam e impedem o afeto do amor e as obras virtuosas.

A inabitação da Trindade na alma

530. Estes, e outros efeitos, são indícios da caridade que está na alma, e de
sua maior ou menor perfeição. Acima de tudo, quando é forte e fervorosa, não suporta ociosidade nas potências, nem
consente mácula na vontade, porque logo as purifica. Só descansa quando saboreia
a doçura do sumo bem que ama. Sem ele desfalece (Ct 2, 5), fica ferida e enferma,
sedenta daquele vinho que inebria o coração (Ct 5,1), produzindo o olvido de todo
o corruptível, terreno e transitório.
Como a caridade é mãe e raiz de todas as outras virtudes, logo se percebe
sua fecundidade na alma onde permanece e vive. Enche-a e adorna-a dos hábitos das
demais virtudes que, por repetidos atos, vai gerando, como o descreveu o Apóstolo (ICor 13,4). O efeito do amor divino é
recíproco. A alma que está em caridade, não somente recebe os efeitos desta virtude, pela qual ama o Senhor, mas é também
amada por Ele. Deus permanece naquele que ama e nele vem residir, como em seu
templo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo: graça tão soberana que, por nenhuma
palavra ou comparação, se poderá compreender na vida mortal.

Ordem e motivo da caridade

531. A ordem a ser guardada na prática desta virtude é a seguinte: primeiro,
amar a Deus, que está acima de toda a criatura; em seguida, amar-se a criatura a si
mesma, e depois de si, amar a quem lhe é semelhante, o próximo (IJo 4). A Deus se
deve amar com todo o entendimento, sem erro; com toda a vontade, sem partilhas;
com toda a mente, sem esquecimento; com todas as forças, sem remissão, tibieza ou
negligência.
O motivo que a caridade tem para amar a Deus, e aos mais que a Ele se
relaciona, é o mesmo Deus. Deve ser amado por si mesmo, por ser o sumo bem,
infinitamente perfeito e santo. Amando a Deus por este motivo, é conseqüente que
a criatura ame-se a si, e ao próximo como a si mesma, porque ela e seu próximo não
pertencem tanto a si mesmos quanto ao Senhor, de cuja participação recebem o ser,
vida e movimento.
Quem verdadeiramente ama a Deus por ser quem é, ama também tudo o
que é de Deus e goza de alguma participação de sua bondade, e não faz diferenças
entre amigo e inimigo. Vendo na criatura apenas o que ela tem de Deus e que e a Ele
pertence, não repara esta virtude se é amigo ou inimigo, benfeitor ou malfeitor; nota
somente o grau em que cada qual participa, mais ou menos, da bondade infinita do
Altíssimo, e com a devida ordem ama a todos em Deus e por Deus.

Amor imperfeito

532. Amar por outros fins e motivos, esperando algum interesse, proveito
ou retribuição; amar com amor de concupiscência desordenada, ou com amor
humano e natural; mesmo o amor virtuoso e bem ordenado, estes amores não pertencem à caridade infusa. Sendo ordinário aos
homens moverem-se por estes bens particulares e fins interesseiros e terrenos, há
mui poucos que conheçam e abracem a nobreza desta generosa virtude, e a pratiquem em sua devida perfeição.
Até ao mesmo Deus buscam, esperando bens temporais ou benefícios e
prazer espiritual. Deste desordenado amor, quero, minha filha, que afastes teu coração. Nele só viva a caridade bem ordenada,
para a qual o Altíssimo inclinou os teus desejos. Se tantas vezes repetes que esta
virtude é a formosa, agraciada e digna de ser querida e estimada por todas as criaturas, estuda muito para conhecê-la. Tendo-a
conhecido, compra tão preciosa pérola, esquecendo e extinguindo em teu coração
todo o amor que não seja caridade perfeitíssima.
A nenhuma criatura amarás não só por Deus; ou porque O representou porque é coisa sua, assim como a
esposa ama a todos os servos e familiares da casa de seu esposo, por serem dele. Se esqueceres disso e amares alguma criatura
sem atender a Deus nela, não a amando por este Senhor, saibas que não amas com caridade, nem como de ti quero, e o
Altíssimo te mandou.
Também conhecerás que não amas com caridade, se fizeres distinção
entre amigo ou inimigo, agradável ou desagradável, mais ou menos cortês, entre quem
possui, ou não, graças naturais. A verdadeira caridade não faz todas estas
diferenças, mas sim a inclinação natural ou as paixões dos apetites que tu, com esta virtude, deves governar e extinguir.

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