Estudo 38 Evangelho como me foi revelado – Disputa de Jesus aos 12 anos no templo – Escola da Divina Vontade

Estudo 38 Evangelho como me foi revelado – Disputa de Jesus aos 12 anos no templo – Escola da Divina Vontade
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40. O exame de Jesus maior de idade no Templo.
21 de dezembro de 1944.

40.1O Templo está como em dias de festa. A multidão, entra e sai,
atravessa os pátios, os átrios, e pórticos, desaparece nesta ou naquela
construção situada nos diversos patamares, sobre os quais está espalhado o
aglomerado do Templo.
As pessoas da comitiva da família de Jesus entram também, cantando
salmos em voz baixa. Primeiro, todos os homens, depois, as mulheres. A
eles se uniram também outros, que talvez sejam de Nazaré, ou amigos que
moram em Jerusalém. Não sei.
José se afasta, depois de ter, junto com os outros, adorado o Altíssimo,
daquele ponto de onde os homens podiam ficar (as mulheres pararam no
patamar logo abaixo) e com o Filho, José atravessa novamente os pátios,
dobra para um lado, entrando numa grande sala, que parece ser uma
sinagoga. Não sei como pode ser isso. Haveria sinagogas também no
Templo? José fala com um levita e este desaparece atrás de uma cortina
listrada, para voltar depois com uns sacerdotes anciãos, penso que são
sacerdotes, certamente mestres no conhecimento da Lei, designados para
examinar os fiéis.
40.2 José apresenta-lhes Jesus. Primeiramente, os dois se inclinaram
profundamente diante dos dez doutores, que estão sentados com toda a
dignidade sobre baixos bancos de madeira.
– Este aqui –diz ele–. É meu filho. Há três luas e doze dias que ele
completou o tempo que a Lei exige para ser maior de idade. Mas eu quero
que Ele o seja segundo os preceitos de Israel. Peço-vos que observeis que,
pela sua compleição, Ele mostra que já saiu da infância e da menoridade. E
peço-vos que o examineis com benevolência e assim possais julgar como é
verdade tudo o que eu, pai dele, afirmo. Eu o preparei para esta hora e para
esta sua dignidade de filho da Lei. Ele sabe os preceitos, as tradições, as
decisões, os costumes das fímbrias e dos filactérios, sabe recitar as orações
e as bênçãos diárias. Pode, pois, conhecendo a Lei, nos seus três ramos[66] da Halacá, do Midraxe e da Hagadá, conduzir-se como um homem. Por isso,
eu desejo ficar livre da responsabilidade por suas ações e por seus pecados.
De agora em diante, seja Ele sujeito aos preceitos, e pague por suas faltas
contra eles. Examinai-o.
– Nós o faremos.
40.3Vem para frente, menino. Qual o teu nome?
– Jesus de José, de Nazaré.
– É nazareno. Tu sabes ler?
– Sim, rabi. Sei ler as palavras escritas e as que estão encerradas nas
próprias palavras.
– Que estarias querendo dizer?
– Quero dizer que compreendo também o significado da alegoria ou do
símbolo, que se oculta debaixo de uma aparência, como a pérola, que não
aparece, mas está encerrada numa concha feia e fechada.
– Esta resposta não é comum, e é muito sábia. Raramente se ouve uma
coisa destas, saindo dos lábios de pessoas adultas; imaginem saindo da boca
de um menino, e, além disso, nazareno!
A atenção dos dez despertou. Seus olhos não perdem de vista, nem por
um instante, o belo menino loiro que olha para eles com firmeza, sem
arrogância, mas também sem medo.
– Tu estás honrando o teu mestre, que certamente devia ser muito douto.
– A Sabedoria de Deus fez do coração dele sua morada.
– Mas, escutai bem! Feliz de ti, ó pai de um filho como este!
José, que está lá no fundo da sala, sorri, e se inclina.
40.4Dão a Jesus três rolos diferentes, dizendo:
– Lê aquele que está envolvido com uma fita de ouro.
Jesus abre o rolo e lê. É o Decálogo. Mas, depois das primeiras
palavras, um dos juízes tira o rolo de suas mãos, e lhe diz:
– Continua, agora, de memória.
E Jesus continua, com tal segurança, que parece estar lendo. Cada vez
que fala no Senhor, inclina-se profundamente.
– Quem te ensinou isso? Por que fazes assim?
– Porque santo é esse Nome, e deve ser pronunciado com sinal interno e
externo de respeito. Ao rei, que é rei por breve tempo, seus súditos se
inclinam, mesmo não sendo este mais do que pó. Ao Rei dos reis, ao
Altíssimo Senhor de Israel, presente, ainda que não visível senão ao nosso
espírito, não se deverá inclinar toda criatura, que Dele depende com
sujeição eterna?
– Muito bem! Homem, nós te aconselhamos a fazer que teu filho seja
instruído por Hilel ou Gamaliel. É nazareno… mas as suas respostas nos
fazem esperar que Ele será um novo grande doutor.
– O filho já é maior de idade. Ele fará como quiser. Eu, se ele quiser
uma coisa honesta, não me oporei.
40.5 – Rapaz, escuta. Disseste: “Lembra-te de santificar as festas. Mas não
só por ti, mas pelo teu filho, tua filha, teu servo, tua serva, e até pelo
jumento, pois está dito que ele não fará trabalho no sábado.” Então, diz-me
uma coisa: se uma galinha põe um ovo em dia de sábado, ou se uma ovelha
dá cria, será lícito usar do fruto do ventre delas, ou será isso considerado
uma coisa má?
– Sei que muitos rabinos, o último deles Shamai, que ainda está vivo,
dizem que o ovo posto no sábado está contra o preceito. Mas Eu penso que
uma coisa é o homem, e outra é o animal, e também o que o animal faz, como
parir. Se eu obrigo o jumento a trabalhar, eu é que cometo o pecado pelo que
ele faz, porque eu o chicoteio e obrigo a trabalhar. Mas, se uma galinha põe
um ovo que amadureceu em seu ovário, ou uma ovelha gera um filhote no
sábado, porque ele já está maduro para nascer, isso não é pecado, nem o ovo
é pecado aos olhos de Deus, nem o cordeiro, que vieram à luz no sábado.
– E por que não? Se todo e qualquer trabalho no sábado é pecado?
– Porque o conceber e o gerar correspondem à vontade do Criador, e
estão regulados pelas leis dadas por Ele a toda criatura. Ora, a galinha não
faz mais que obedecer a esta lei que diz que, depois de tantas horas para a
sua formação, o ovo está completo, e é posto. E a ovelha também não faz
mais do que obedecer às leis dadas por Aquele que tudo fez, o qual
estabeleceu que, duas vezes por ano, quando a primavera sorri para os
prados em flor, e quando os bosques estão despojados de suas folhas e o
gelo atormenta o peito do homem, que as ovelhas se acasalem, para dar-nos
depois, no tempo determinado, o leite, a carne e os queijos tão nutritivos,
justamente nos meses, em que os homens se cansam no trabalho da colheita,
ou sofrem mais pelo rigor das geadas. Portanto, se uma ovelha, quando chega
o seu tempo, dá cria, oh! isso bem pode ser uma coisa sagrada, até diante do
altar, pois é fruto da obediência ao Criador.
40.6 – Eu não continuo a examinar mais. A sabedoria dele supera a dos
adultos. E nos assombra.
– Não. Ele diz que é capaz de compreender até os símbolos. Ouçamo-lo.
– Primeiro, diz um salmo, as bênçãos e as orações.
– E também os preceitos.
– Sim. Diz os midrashot.
Jesus diz, então, com segurança, uma ladainha de “Não fazer isso, não
fazer aquilo…” Se nós tivéssemos de ter ainda todas aquelas limitações,
rebeldes como somos, Eu vos garanto que ninguém se salvaria…
– Basta. Abre o rolo da fita verde.
Jesus abre e começa a ler.
– Mais adiante, um pouco mais.
Jesus obedece.
– Basta. Lê agora, e nos explica que é que te parece que é um símbolo.
– Na Palavra santa raramente faltam os símbolos. Nós é que não os
sabemos ver e aplicar. Eu leio
[67] : 4° livro dos Reis, cap. 22,vers. 10: “Safã,
escriba, continuando a referir-se ao rei, disse: ‘O sumo sacerdote Helcias
me deu um livro.’ E, tendo Safã lido o mesmo na presença do rei, este,
depois de ouvir as palavras da Lei do Senhor, rasgou as vestes e, em
seguida, deu…”
– Continua depois dos nomes.
– “… esta ordem: ‘Ide consultar o Senhor por mim, pelo povo, por toda
Judá, a respeito das palavras deste livro, que foi achado, porque a grande ira
de Deus se acendeu contra nós, pois os nossos pais não ouviram as palavras
deste livro, para cumprirem as suas prescrições’…”
– Basta. O fato aconteceu muitos séculos antes de nós. E, então, que
símbolo encontras em um fato de uma crônica tão antiga?
– Encontro o fato de que vós não tendes tempo para o que é eterno.
Eterno é Deus, e a nossa alma, e as relações entre Deus e a alma. Por isso, o
que havia provocado o castigo naquele tempo é o mesmo que provoca os
castigos agora, e também os efeitos da culpa são iguais.
– Que queres dizer?
– Israel não sabe mais a Sabedoria, que vem de Deus. É a Ele, e não aos
pobres homens, que precisamos pedir a luz. E não se tem luz, se não se tem a
justiça e a fidelidade a Deus. Por isso é que se peca, e Deus, em sua ira,
pune.
– Então, nós não sabemos mais? Que é que estás dizendo, rapaz? E os
seiscentos e treze preceitos?
– Os preceitos existem, mas são palavras. Nós os sabemos, mas não os
colocamos em prática. Por isso não sabemos. O símbolo é este: todo
homem, em qualquer tempo, tem necessidade de consultar o Senhor para
conhecer a sua vontade e de nela confiar para não atrair sua ira.
40.7 – O rapaz é perfeito. Nem mesmo a cilada de uma pergunta insidiosa
foi capaz de perturbar sua resposta. Que ele seja levado à verdadeira
sinagoga.
Passam para uma sala mais ampla e pomposa. Aqui a primeira coisa que
lhe fazem é encurtar-lhe os cabelos. Os grandes caracóis são recolhidos por
José. Depois, apertam-lhe a veste vermelha com uma cinta comprida,
passada em diversas voltas em torno da cintura, amarram-lhe umas fitazinhas
na fronte, no braço e no manto. Elas ficam seguras por uma espécie de
broche. Depois, cantam salmos, e José, com uma longa oração, louva ao
Senhor e invoca sobre o Filho todos os bens.
A cerimônia chega ao fim. Jesus sai com José. Voltam para o lugar onde
estavam e se reúnem aos seus parentes homens, compram e oferecem um
cordeiro; depois, com a vítima já degolada, vão ao encontro das mulheres.
Maria beija o seu Jesus. Parece que havia muitos anos que ela não o via.
Ela olha para Ele, feito agora mais homem, com aquela veste e aqueles
cabelos, e o acaricia.
Saem e tudo termina.
[66] três ramos, poderiam ser, respectivamente, o conjunto das normas de comportamento (Halakah), a série dos comentários
rabínicos da Sagrada Escritura (Midrash), os mesmos comentários expostos de forma mais acessível ao povo (Haggadah).
Encontrá-los-emos em: 197.3 -225.9 -414.4 -625.4. Da obra dos rabinos se falará em 252.10 e 335.9.
[67] Eu leio, com citação segundo a “Vulgata” (como em 35.11) que se usava no tempo da escritora. Na “neo-Vulgata”,
introduzida após o Concílio Vaticano II, os primeiros dois livros dos Reis tomaram o nome de 1 Samuel e 2 Samuel, e os
sucessivos dois livros tomaram o número de ordem de 1 Rei e 2 Reis. Além do mais: Paralipómenos tornou-se Crónicas; o
segundo livro de Esdras (conhecido também por livro de Neemias) tornou-se Neemias; Eclesiastes manteve-se Eclesiastes ou
tornou-se Qohélet; Eclesiástico tornou-se Sirácide ou Ben Sira. Enfim, sempre na neo-Vulgata, o Salmo 9 foi dividido em dois,
fazendo aumentar de uma unidade a numeração dos Salmos seguintes até 145 (transformado 146), enquanto a antiga numeração
retoma com o Salmo 147, que une os Salmos 146-147 da Vulgata. Outras diferenças entre Vulgata e neo-Vulgata vêm assinaladas
com nota onde e quando necessário: 50.9 -68.6 (sobre o nome Betsaida) -266.1 -272.4 -368.6 (sobre o termo gazofilácio) -413.3
-434.6 -439.2 -457.2 -463.2 -476.9 -487.6 -520.9 -544.8 (duas notas). O texto da presente edição da obra, que reproduz
fielmente o manuscrito original de Maria Valtorta, conserva os reenvios bíblicos segundo a “Vulgata”. No lugar das notas, que
devem facilitar a busca por parte do leitor, trazem os reenvios bíblicos segundo a “neo-Vulgata”, mesmo quando esses reenvios
forem retomados por anotações de Maria Valtorta referidas na “Vulgata”. -Na obra de Valtorta o modo de citar a Bíblia (livro,
capítulo, versículos) não é do tempo de Jesus mas do da escritora e nosso, assim como Jesus fala não na língua do seu tempo de
vida terrena, mas na do nosso tempo. Também no modo de citar a Bíblia, por conseguinte, a obra deve ser considerada como
uma “tradução” para utilidade dos seus destinatários.

41. A disputa de Jesus com os doutores no Templo.

28 de janeiro de 1944.
41.1Vejo Jesus. Já é um adolescente. Está vestido com uma túnica muito
branca, que me parece de linho, comprida até os pés. Sobre ela está posto
um manto retangular vermelho claro. Jesus está com a cabeça descoberta, os
longos cabelos descendo até a metade das orelhas, e mais escuros do que
quando o vi menino. É um rapaz robusto, muito alto para a sua idade e que,
como seu rosto está mostrando, é ainda a de um jovem.
Ele olha para mim, sorri, estendendo-me as mãos. É porém, o seu, um
sorriso parecido com aquele que nele vejo quando já homem feito: doce e
um tanto sério. Ele está sozinho. Por enquanto, não vejo outra pessoa. Está
encostado a um muro que fica acima de uma estradinha cheia de altos e
baixos, pedras e com uma cavidade ao centro, por onde certamente se forma
um córrego, no tempo da chuva. Mas agora ela está seca, porque o dia está
claro.
Tenho a idéia de ir-me encostar também ao muro, e de lá olhar ao redor
e para baixo, como Jesus está fazendo. Estou vendo um aglomerado de casas.
É um aglomerado desordenado. As casas são, umas altas, outras baixas, e
foram construídas sem a preocupação de fazê-las num mesmo alinhamento.
Fazendo uma comparação muito simples, mas com muita semelhança, parece
um punhado de pedras brancas, jogadas sobre um terreno escuro. As ruas e
vielas são como veias, no meio daquela brancura. Aqui e ali algumas
árvores estendem suas copas sobre os muros. Muitas delas estão em flor, e
muitas também já estão cobertas de folhas novas. Deve ser primavera.
À esquerda, para quem olhar de onde estou, há um grande aglomerado
disposto em três ordens de terraços repletos de construções e torres, pátios e
séries de pórticos. No centro se ergue uma construção mais alta, majestosa,
com cúpulas redondas que brilham ao sol, como se estivessem cobertas de
metal: cobre ou ouro. O conjunto é cercado por uma muralha guarnecida de
ameias, na forma de um ,
como uma fortaleza. Uma das torres é mais alta do que as outras, e está
construída no fim de uma rua estreita e em aclive, dominando aquele grande
aglomerado. Parece uma sentinela atenta.
Jesus olha fixamente para aquele lugar. Depois, volta à sua posição
anterior, apóia as costas ao muro, como estava, olhando para um pequeno
monte, na frente do aglomerado. O pequeno monte está tomado pelas casas,
de alto a baixo. Vejo que ali termina uma rua com um arco, além do qual só
há uma rua calçada com pedras quadrangulares, irregulares e desconexas.
Não são muito grandes, não são como as pedras das estradas consulares
romanas. Mais parecem as clássicas pedras das ruas de Viareggio (não sei
se ainda existem aquelas pedras) colocadas sem nenhuma ligação entre si. É
uma estrada ruim. O rosto de Jesus fica tão sério, que eu me ponho a
procurar sobre aquele pequeno monte a causa de sua melancolia. Mas não
encontro nada de especial. Vejo somente um monte despido de tudo. E basta.
Enquanto isto, perco de vista Jesus, pois, quando me viro, Ele não está mais
ali. Com esta visão eu adormeço.
41.2… Quando acordo, com a lembrança daquela visão no coração, tendo
recobrado um pouco as forças e a paz, porque todos estão dormindo, me
encontro em um lugar que eu nunca tinha visto antes. Nele há pátios e fontes,
séries de pórticos e casas, ou melhor, pavilhões, pois têm mais
características de pavilhões do que de casas. Há uma grande multidão de
gente, vestida à antiga moda hebraica, num forte vozerio. Olhando ao meu
redor, compreendo que estou dentro daquele aglomerado para o qual Jesus
estava olhando, porque vejo a muralha com ameias que o rodeia, a torre que
o vigia e a imponente construção, que se ergue no centro, e contra a qual
vão-se estreitando os pórticos, muito bonitos e espaçosos, sob os quais há
muita gente, tratando de uma coisa ou de outra.
Compreendo que estou no recinto do Templo de Jerusalém. Vejo fariseus
com suas compridas vestes ondulantes, sacerdotes vestidos de linho e com
uma placa preciosa na parte superior do peito e da fronte, e outros pontos
brilhantes espalhados aqui e ali sobre diversas vestes muito amplas e
brancas, ajustadas à cintura por um cinto precioso. Depois, vejo outros que
estão menos ornados, mas que devem certamente pertencer à classe
sacerdotal, e que estão rodeados por discípulos mais jovens. Compreendo
que eles são os doutores da Lei. Entre todos estes personagens, eu me
encontro desorientada, porque não sei ao certo o que estou fazendo aqui.
41.3Aproximo-me do grupo dos doutores, onde se iniciou uma disputa
teológica. Muita gente faz a mesma coisa.
Entre os “doutores” há um grupo chefiado por um homem chamado
Gamaliel e por um outro, velho e quase cego, que defende Gamaliel na
disputa. Este, que ouço ser chamado de Hilel, (coloco o h porque ouço uma
aspiração ao princípio do nome) parece-me ser mestre ou parente de
Gamaliel, porque este o trata com confiança e respeito, ao mesmo tempo. O
grupo de Gamaliel tem vistas mais largas, enquanto que um outro grupo, mais
numeroso, é dirigido por um homem que chamam de Shamai, dotado daquela
intransigência cheia de ódio retrógrado do qual o Evangelho tão bem nos
mostra.
Gamaliel, rodeado por um grupo numeroso de discípulos, fala da vinda
do Messias e, apoiando-se na profecia de Daniel, sustenta que o Messias já
deve ter nascido, porque já há cerca de dez anos que as setenta semanas
profetizadas se completaram, desde que saiu o decreto da reconstrução do
Templo. Shamai o combate, afirmando que, se é verdade que o Templo foi
reedificado, também é verdade que a escravidão de Israel aumentou, e a paz,
que haveria de trazer consigo Aquele que os Profetas chamavam “Príncipe
da Paz”, está longe de existir no mundo, especialmente em Jerusalém, agora
oprimida por um inimigo, que ousa levar a sua dominação até dentro do
recinto do Templo, que está dominado pela torre Antônia, cheia de
legionários romanos, prontos a reprimir com suas espadas qualquer levante
de independência dos patriotas.
A disputa, cheia de cavilações, dá sinais de que irá prolongar-se. Cada
um dos mestres faz ostentação de erudição, não só para vencer o rival, mas
para impor-se à admiração dos ouvintes. Esta intenção é evidente.
Do numeroso grupo dos fiéis, ouve-se sair a voz jovem de um
rapazinho:
– Gamaliel está certo!
Então começa um movimento no meio da multidão e do grupo dos
doutores. Estão procurando quem foi que disse aquelas palavras. Mas não é
preciso procurá-lo. Ele não se esconde, e vem abrindo caminho por entre a
multidão, aproximando-se do grupo dos “rabinos.” Reconheço nele o meu
Jesus adolescente. Ele está seguro do que diz, com aqueles seus dois olhos
cintilando e cheios de inteligência.
– Quem és tu? –lhe perguntam.
– Sou um filho de Israel, que vim cumprir o que ordena a Lei.
Esta resposta, audaz e firme, agrada e provoca sorrisos de aprovação e
benevolência. Interessam-se pelo pequeno israelita.
– Como te chamas?
– Jesus de Nazaré.
A benevolência diminui no grupo de Shamai. Mas Gamaliel, mais
benigno, prossegue no diálogo com Hilel. Aliás, é Gamaliel que com
deferência diz ao velho:
– Pergunta ao rapazinho alguma coisa.
– Em que é que se baseia a tua segurança? –pergunta Hilel.
(Vou pôr os nomes antes das respostas, para abreviar e tornar-se mais
claro).
Jesus:
– Na profecia, que não pode errar quanto à época e quanto aos sinais
que a acompanham, quando chega o momento da verificação. É uma verdade
que César nos está dominando. Mas o mundo estava tão em paz, e a Palestina
em tão grande calma, quando se cumpriram as setenta semanas, que foi
possível a César ordenar que se fizesse o recenseamento em seus domínios.
Ele não teria podido fazer, se houvesse guerra no Império ou levantes na
Palestina. Como aquele tempo se cumpriu, assim também está se cumprindo
o outro tempo de sessenta e duas semanas mais uma, desde a realização do
Templo, para que o Messias seja ungido e se confirme a continuação da
profecia, para o povo que não o quis. Podeis ter dúvidas? Não vos lembrais
que a estrela foi vista pelos Sábios do Oriente e que foi parar justamente no
céu de Belém de Judá, e que as profecias e as visões, desde Jacó e após ele,
indicam aquele lugar como o destinado a acolher o nascimento do Messias,
filho do filho do filho de Jacó, através de Davi, que era de Belém? Não vos
lembrais de Balaão? “Uma estrela nascerá de Jacó”. Os Sábios do Oriente,
cuja pureza e fé tornavam abertos os seus olhos e seus ouvidos, viram a
estrela e entenderam o seu nome: “Messias”, e vieram adorar a Luz que
desceu ao mundo.
41.5 Shamai, com um olhar rancoroso:
– Tu dizes que o Messias nasceu no tempo da estrela, em Belém-Efrata?
Jesus:
– Eu o digo.
Shamai:
– Então, ele não existe mais. Não sabes, rapaz, que Herodes fez matar
todos os meninos de um dia até dois anos de idade em Belém e nos
arredores? Tu, que és tão sábio na Escritura, deves saber também isto: “Um
grito se ouviu no alto… É Raquel, que está chorando os seus filhos.” Os
vales e as colinas de Belém, que recolheram o pranto de Raquel, que estava
morrendo, ficaram cheios de pranto, e as mães choravam também sobre seus
filhos que foram mortos. Entre elas estava certamente também a mãe do
Messias.
Jesus:
– Estás enganado, ó velho! O pranto de Raquel se transformou em
hosana, porque lá onde ela deu à luz o “filho da sua dor”, a nova Raquel deu
ao mundo o Benjamim do Pai celeste, o Filho da sua destra, Aquele que está
destinado a reunir o povo de Deus sob o seu cetro, e livrá-lo da mais
tremenda escravidão.
Shamai:
– E como, se Ele foi morto?
Jesus:
– Não leste a respeito de Elias? Ele foi arrebatado no carro de fogo. E
não poderá o Senhor Deus ter salvo o seu Emanuel para que fosse o Messias
do seu povo? Ele, que abriu o mar diante de Moisés, para que Israel
passasse a pé seco para a sua terra, não terá podido mandar os seus anjos
para salvarem o seu Filho, o seu Cristo, da ferocidade do homem? Em
verdade, eu vos digo: o Cristo vive, e está entre vós, e, quando chegar a
sua hora, Ele se manifestará em seu poder.
Jesus, ao dizer estas palavras, que eu sublinho, tem na voz um som que
enche o espaço. Os seus olhos cintilam mais ainda e, com um gesto de
império e de promessa, Ele estende o braço e a mão direita, e os abaixa,
como fazendo um juramento. É um rapazinho, mas está solene como um
homem.
41.6Hilel:
– Rapazinho, quem te ensinou estas palavras?
Jesus:
– Espírito de Deus. Eu não tenho mestre humano. Esta é a Palavra do
Senhor, que vos está falando, através dos meus lábios.
Hilel:
– Vem cá entre nós, para que eu te possa ver de perto, ó mocinho, e a
minha esperança se reavive ao contato da tua fé, e a minha alma se ilumine
ao sol da tua.
E Jesus vai, de fato, sentar-se em um banco alto entre Gamaliel e Hilel,
e lhe são levados uns rolos para que os leia e explique. É um exame em
plena regra. A multidão se aglomera e escuta.
A voz juvenil de Jesus lê:
– “Consola-te, ó meu povo! Falai ao coração de Jerusalém, consolai-a
porque a sua escravidão se acabou… Voz do que grita no deserto: preparai
os caminhos do Senhor… Então aparecerá a glória do Senhor…”
Shamai:
– Estás vendo, nazareno! Aqui se fala de escravidão que se acaba.
Nunca fomos escravos como o somos agora. Aqui se fala de um precursor.
Onde está ele? Tu estás delirando.
Jesus:
– Eu te digo que a ti, mais do que a outros, está feito o convite do
Precursor. A ti e aos teus semelhantes. De outra maneira, não verás a glória
do Senhor, nem compreenderás a palavra de Deus, porque as baixezas, as
soberbas, as duplicidades serão para ti um obstáculo para veres e ouvires.
Shamai:
– Falas assim a um mestre?
Jesus:
– Assim falo. E assim falarei até à morte. Porque, acima do que me é
útil, está o interesse do Senhor e o amor à Verdade, da qual sou Filho. E te
digo ainda, ó rabi, que a escravidão, de que fala o Profeta, e da qual Eu falo,
não é aquela que pensas, como a realeza não será aquela que pensas. Mas,
sim, é pelo mérito do Messias que o homem se tornará livre da escravidão
do Mal, que o separa de Deus, e o sinal do Cristo estará sobre os espíritos,
livres de todo jugo, e feitos súditos do Reino eterno. Todas as nações
curvarão suas cabeças, ó estirpe de Davi, diante do Rebento nascido de ti, e
que se tornou árvore que cobre toda a terra, e se levanta até o Céu. E no Céu
e na terra, toda boca louvará o seu Nome, e dobrarão o joelho, diante do
Ungido de Deus, do Príncipe da Paz, do Chefe, Daquele que se dará a si
mesmo para delícia das almas cansadas, saciará a alma faminta, do Santo
que fará uma aliança entre a terra e o Céu. Não como aquela aliança feita
com os Pais de Israel, quando Deus os tirou do Egito, tratando-os ainda
como escravos, mas imprimindo a paternidade celeste no espírito dos
homens, por meio da Graça novamente infundida pelos méritos do Redentor,
pelo qual todos os homens bons conhecerão o Senhor, e o Santuário de Deus
não será mais derribado e destruído.
Shamai:
– Não fiques blasfemando, mocinho! Lembra-te de Daniel. Ele diz que,
depois da morte de Cristo, o Templo e a Cidade serão destruídos por um
povo e por um chefe que virá. E Tu estás dizendo que o Santuário de Deus
não será mais derrubado! Respeita os Profetas!
Jesus:
– Em verdade eu te digo que aqui está Alguém que é mais do que os
Profetas, e tu não o conheces, e não o conhecerás, porque te falta a vontade.
E te digo que tudo o que Eu disse é verdade. Não conhecerá mais a morte o
verdadeiro Santuário. Mas como o seu Santificador, ressurgirá para a vida
eterna e, no fim dos dias do mundo viverá no Céu.
41.7Hilel:
– Escuta, jovenzinho. Ageu diz: “virá o Desejado dos povos. Grande
será, então, a glória desta casa, maior do que a que coube à primeira.”
Estará ele se referindo ao Santuário de que Tu falas?
Jesus:
– Sim, mestre. Quer dizer isso. A tua retidão te leva para a Luz, e Eu te
digo: quando o Sacrifício do Cristo se consumar, terás paz, porque és um
israelita sem malícia.
Gamaliel:
– Diz-me, Jesus. A paz, de que falam os Profetas, como poderá ser
esperada, se a este povo virá a destruição pela guerra? Fala, e dá luz a mim
também.
Jesus:
– Não te lembras, mestre, o que foi que disseram aqueles que estiveram
presentes na noite do nascimento de Cristo? Não te lembras de que os
exércitos celestiais cantavam: “Paz aos homens de boa vontade”? Mas este
povo não tem boa vontade, e não terá paz. Ele desconhecerá o seu Rei, o
Justo, o Salvador, porque espera que Ele seja um rei de poderes humanos,
enquanto que Ele é o Rei do espírito. Este povo não o amará, porque o
Cristo pregará o que a este povo não agrada. O Cristo não debelará os seus
inimigos com seus carros e cavalos, mas, sim, os inimigos da alma, que
dominam, com possessão infernal, o coração do homem criado pelo Senhor.
E esta não é a vitória que Israel está esperando Dele. Ele virá, Jerusalém, o
teu Rei, cavalgando uma “jumenta e um jumentinho”, ou seja, os justos de
Israel e os gentios. Mas o jumentinho, Eu vo-lo digo, será mais fiel a Ele, e o
seguirá precedendo a jumenta, e crescerá no caminho da Verdade e da Vida.
Israel, pela sua má vontade, perderá a paz, e sofrerá em si, através dos
séculos, aquilo que fizer sofrer ao seu Rei, depois de tê-lo reduzido ao Rei
das dores, de que fala Isaías.
41.8 Shamai:
– Tua boca tem, ao mesmo tempo, cheiro de leite e de blasfêmia,
nazareno. Responde-me: E onde está o Precursor? Quando o teremos?
Jesus:
– Ele já está aqui. Não diz Malaquias: “Eis que eu mando o meu anjo a
preparar o caminho diante de Mim; e logo virá ao seu Templo o Dominador,
por vós procurado, e o Anjo do Testamento por vós desejado”? Portanto, o
Precursor virá imediatamente antes de Cristo. Ele já está aqui, como o Cristo
está. Se passassem anos entre aquele que prepara os caminhos do Senhor e o
Cristo, todos os caminhos se tornariam cheios de entulhos e obstáculos. Deus
sabe disso, e predispõe que o Precursor venha uma hora só antes do Mestre.
Quando virdes o Precursor, podereis dizer: “A missão do Cristo começou.”
E a ti Eu te digo: O Cristo abrirá muitos olhos e muitos ouvidos, quando ele
vier por estes caminhos. Mas não os teus, nem os dos iguais a ti, que lhe
dareis a morte, em troca da Vida, que Ele vos oferece. Mas quando, mais
alto do que este Templo, mais alto do que o Tabernáculo, fechado no Santo
dos santos, mais alto do que a Glória sustentada pelos Querubins, o Redentor
estiver sobre o seu trono e sobre o seu altar, fluirão de suas mil e mil feridas
maldições para os deicidas e vida para os gentios, porque Ele, ó mestre, que
disso não sabes, não é, eu repito, Rei de um reino humano, mas de um Reino
espiritual, e os seus súditos serão somente aqueles que por seu amor
souberem regenerar-se no espírito e, como Jonas, depois de terem nascido,
renascerem em outras praias: “as de Deus”, através da geração espiritual
que virá por Cristo, o qual dará à humanidade a verdadeira Vida.
41.9 Shamai e seus acólitos:
– Este nazareno é Satanás!
Hilel e os seus:
– Não. Este jovem é Profeta de Deus. Fica comigo, Menino. A minha
velhice transfundirá tudo o que sabe ao teu saber, e Tu serás Mestre do povo
de Deus.
Jesus:
– Em verdade, te digo que, se muitos fossem como tu és, viria a
salvação para Israel. Mas a minha hora ainda não chegou. A Mim falam as
vozes do Céu, e, na solidão, Eu as devo acolher, enquanto não chegar a
minha hora. Então, com os lábios e com o sangue, falarei a Jerusalém, e
minha sorte será a dos Profetas que foram apedrejados e mortos por esta
cidade. Mas, acima do meu ser, está o Senhor Deus, ao qual Eu submeto a
Mim mesmo, como servo fiel, para que Ele faça de Mim o escabelo à sua
glória, na esperança de que Ele faça do mundo o escabelo aos pés de Cristo.
Esperai-me na minha hora. Estas pedras ouvirão de novo a minha voz, e
tremerão à minha última palavra. Felizes aqueles que naquela voz tiverem
ouvido a Deus, e crerem Nele, através dela. A estes o Cristo dará aquele
Reino que o vosso egoísmo deseja que seja um reino humano, mas que é
celeste e pelo qual Eu digo: “Eis aqui o teu servo, Senhor, que veio para
fazer a tua vontade. Consuma-a, pois Eu anseio para cumpri-la.”
E aqui, com a visão de Jesus com o rosto inflamado pelo ardor
espiritual erguido ao céu, os braços abertos, em pé, no meio dos doutores
atônitos, termina a minha visão.
(Já são 3:30 do dia 29).
29 de janeiro de 1944.
41.10Aqui eu teria que dizer duas coisas, que lhe interessam com certeza, e
que eu havia decidido escrever, logo que saísse da visão. Mas, como há
outra coisa mais urgente, escreverei aquilo depois.
[…].
O que queria lhe dizer no começo é isto.
Ela hoje me perguntou como foi que eu pude saber os nomes de Hilel, de
Gamaliel e de Shamai.
Foi a voz, que eu chamo de “segunda voz”, que me disse estas coisas.
Uma voz ainda menos audível do que a do meu Jesus e dos outros que ditam
para mim. Estas são vozes, como já lhe disse e repito, que o meu ouvido
espiritual percebe iguais a vozes humanas. Eu as ouço doces ou iradas,
fortes ou suaves, risonhas ou tristes. Como se alguém falasse bem perto de
mim. Esta “segunda voz” é como uma luz, uma intuição que fala no meu
espírito. “No”, e não “ao” meu espírito. É uma indicação.
Assim é que, enquanto eu ia me aproximando do grupo dos disputantes, e
não sabia quem era aquele ilustre personagem que, ao lado de um velho,
disputava com tanto calor, este “alguém” me disse: “Gamaliel – Hilel”. Sim.
Primeiro Gamaliel, depois Hilel. Não tenho dúvidas. Enquanto eu pensava
quem seriam esses homens, o indicador interno me indicou o terceiro
antipático indivíduo, exatamente enquanto Gamaliel o chamava pelo nome. E
assim é que eu pude ficar sabendo quem era este de aspecto farisaico.
[…].
[68] disputa, que incidirá sobre os passos bíblicos que listamos (como de norma) segundo ordem canónica e não na ordem das
citações: Génesis 35,16-18; Êxodo 14,21-22; 24; Números 24,17; 2 Reis 2,11; Isaías 9,5; 40,1-5; 52,13-15; 53,1-12; Jeremias
31,15; Daniel 9,24-27; Jonas 2; Miqueias 5,1; Ageu 2,7-9; Zacarias 9,9; Malaquias 3,1.

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