03 Maria, a Mulher plenamente realizada. 

Maria no Reino da Divina Vontade
03 Maria, a Mulher plenamente realizada. 
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Lição da Rainha do Céu DO 6º DIA COM MARIA NO REINO DA DIVINA VONTADE

Filha queridíssima, confia em tua Mãe e presta atenção às minhas lições, elas te servirão para te
fazer aborrecer tua vontade e te fazer desejar em ti aquele Fiat santo, que tanto desejo formar sua
Vida em ti.

Minha filha, tu deves saber que a Divindade depois de se ter assegurado de Mim na prova que
quis (Maria entregou plenamente sua Vontade humana a Deus), enquanto todos crêem que
Eu não tive nenhuma prova e que bastava a Deus fazer o grande
portento que fez de Mim, que fora concebida sem mancha original, oh! como se enganam, antes
quis de Mim uma prova que não pediu a ninguém, e isto o fez com justiça e com suma sabedoria,
porque devendo descer em Mim o Verbo Eterno, não só não era decoroso que encontrasse em
Mim a mancha de origem, mas nem sequer era digno que encontrasse em Mim uma vontade
humana obrante; teria sido muito indecoroso para Deus descer numa criatura em que reinasse a
vontade humana. É por isso que quis de Mim, por prova e por toda a vida, minha vontade, para
assegurar em minha alma o reino da Divina Vontade. Assegurado este em Mim, Deus podia fazer o
que queria de Mim, tudo podia dar-me, e posso dizer que nada me podia negar. Mas agora
voltemos ao ponto onde ficamos, reservarei-me no curso de minhas lições contar-te o que fez esta
Divina Vontade em Mim.

Agora escuta minha filha, depois do triunfo na prova o Fiat Divino fez o sexto passo em minha
alma, fazendo-me tomar posse de todas as propriedades divinas, quanto a criatura é possível e
imaginável. Tudo era meu, Céu, terra, e o mesmo Deus, do qual possuía a mesma Vontade deles,
Eu me sentia possuidora da santidade divina, do amor, da beleza, potência, sabedoria e bondade
divinas, me sentia Rainha de tudo, não me sentia estranha na casa de meu Pai celestial, sentia ao
vivo sua paternidade e a suprema felicidade de ser sua filha fiel, posso dizer que cresci sobre os
joelhos paternas de Deus, não conheci outro amor, nem outra ciência, senão aquela que me
fornecia meu Criador. Quem pode te dizer o que fez esta Divina Vontade em Mim? Me elevou tão
alto, me embelezou tanto, tanto, que os mesmos anjos ficaram mudos, não sabendo por onde
começar a falar de Mim.

Agora minha querida filha, tu deves saber que quando o Fiat Divino me fez tomar posse de tudo,
me senti possuidora de tudo e de todos, a Divina Vontade com sua potência, imensidão e
onividência encerrava em minha alma todas as criaturas, E eu sentia um pequeno lugar no meu
coração materno para cada uma delas. Desde que fui concebida Eu te levei em meu coração, e oh!
quanto te amei e te amo, te amei tanto que te fiz de Mãe diante de Deus, minhas orações, meus
suspiros eram para ti, e no delírio de Mãe dizia: “Oh! como gostaria de ver a minha filha possuidora
de tudo, como o sou Eu.” Por isso escuta a tua Mãe, não queiras reconhecer mais tua vontade
humana, se isto fazes tudo será comum entre Eu e tu, haverá uma força divina em teu poder, todas
as coisas se converterão em santidade, amor e beleza divinas. E Eu no desabafo do meu amor,
assim como me louvou o Altíssimo: “Toda bela, toda santa, toda pura és Tu, ó! Maria.” Direi: “Bela,
pura e santa é minha filha, porque possui a Vontade Divina.”

LIVRO DO CEU 36-25
Agosto 15, 1938

A festa da Assunção é a festa mais bela, mais sublime, é a festa da Divina Vontade que age na Rainha Celestial.

(1) Enquanto a minha mente nadava no mar do Querer Divino, detive-me no ato em que a minha
Mãe Rainha foi assunta para o Céu. Quantas maravilhas, quantas surpresas de amor ante as quais
fica um envolto! E meu doce Jesus, como se sentisse a necessidade de falar de sua Mãe Celestial,
todo em festa me disse:

(2) “Minha bendita filha, hoje, a festa da Assunção, é a festa mais bela, mais sublime, maior, na
qual ficamos mais glorificados, amados e honrados. Céus e terra são investidos por uma alegria
insólita, jamais sentida; os anjos, os santos, sentem-se investidos por mares de novas alegrias e
nova felicidade, e louvam com novos cânticos a Soberana Rainha, que com seu império impera
sobre tudo e dá alegria a todos. Hoje é a festa das festas, e a única e nova festa que não houve
outra que a iguale. Hoje, no dia da Assunção, vinha festejada pela primeira vez a Divina Vontade
que age na Soberana Senhora; as maravilhas são encantadoras, em cada pequeno ato seu, ainda
em seu respiro, em seu movimento, se veem tantas Vidas Divinas nossas que correm como tantos
Reis em seus atos, que mais que cintilantes sóis a inundam, a circundam, a embelezam e a tornam
tão bela, que forma o encanto das regiões Celestiais. Parece-te pouco que cada respiro seu,
movimento, obra e pena, estivessem cheios de tantas Vidas Divinas nossas? É propriamente este
o grande prodígio do agir de minha Vontade na criatura, formar tantas Vidas Divinas nossas por
quantas vezes teve entrada no movimento, nos atos da criatura, e como meu Fiat possui a virtude
bilocadora e repetidora, e repete sempre sem cessar jamais o que faz, por isso a grande Senhora
sente em Si multiplicar estas Vidas Divinas, as quais não fazem outra coisa que estender
principalmente seus mares de amor, de beleza, de potência, de sabedoria infinita. Tu deves saber
que são tais e tantas nossas Vidas Divinas que possui, a multiplicidade de seus atos que possui,
que assim que entrou no Céu povoou todas as regiões celestes, que não podendo conter a todas,
encheram toda a Criação, portanto, não há ponto em que não corram os seus mares de amor, de
poder e de tantas Vidas nossas, das quais é a possuidora e a Rainha. Podemos dizer que nos
domina e a dominamos, e vertendo em nossa imensidão, poder e amor, povoou todos nossos
atributos com seus atos e com as tantas Vidas Divinas nossas que havia conquistado. Assim, onde
e por toda parte nos sentimos amar, glorificar por dentro e por fora de Nós, desde dentro das
coisas criadas, nos mais remotos esconderijos, por esta Celestial Criatura, e portanto pelas tantas
Vidas nossas que nosso Fiat formou nela. Oh! Poder de nosso Querer, só Tu podes fazer tantos
prodígios, até criar tantas Vidas nossas em quem te faz dominar, para nos fazer amar e glorificar
como merecemos e queremos.

Eis por que Ela pode dar seu Deus a todos, porque o possui, é
mais, sem perder nenhuma de nossas Vidas Divinas, enquanto vê a criatura disposta, que quer
receber nossa Vida, tem a virtude de reproduzir, de dentro de nossa Vida que possui, outra Vida
Divina nossa para dá-la a quem nos quer. Esta Virgem Rainha é um prodígio contínuo, o que fez
na terra o continua no Céu, porque nossa Vontade quando atua, tanto na criatura como em Nós,
esse ato não termina jamais, e enquanto permanece nela pode ser dado a todos. Termina talvez o
sol de dar a sua luz porque deu tanta para as gerações humanas? No entanto, não! Embora tenha
dado tanto é sempre rico em sua luz, sem perder nem uma gota de luz. Por isso a glória desta
Soberana Rainha é insuperável, porque tem em posse nossa Vontade que age, que tem virtude de
formar na criatura atos eternos e infinitos; nos ama sempre, não cessa jamais de nos amar com
nossas Vidas que possui, nos ama com nosso amor, nos ama por toda parte e em qualquer lugar,
seu amor enche Céus e terra, e corre a descarregar-se em nosso seio divino, e Nós a amamos
tanto que não sabemos estar sem amá-la, e enquanto nos ama, ama a todos e nos faz amar a
todos. Quem pode resistir e não dar o que quer? E além disso, é nosso mesmo Querer que pede o
que Ela quer, que com seus vínculos eternos nos ata por toda parte, e não podemos negar-lhe
nada. Por isso a festa da Assunção é a mais bela, porque é a festa da minha Vontade que age
nesta grande Senhora, que a fez tão rica e bela que os Céus não podem contê-la, os mesmos
anjos se sentem mudos, não sabem falar do que faz a minha Vontade na criatura”.

(3) Depois disto minha mente ficou atordoada ao pensar nos grandes prodígios que o Fiat Divino
realizou e continua a operar na Celestial Rainha, e meu amado Jesus adicionou:

(4) “Minha filha, sua beleza é inenarrável, encanta, fascina, conquista; seu amor é tanto, que se dá
a todos, ama a todos, e deixa atrás de Si mares de amor. Pode chamar-se Rainha de amor,
vencedora de amor, porque amou tanto, que por caminhos de amor venceu o seu Deus. Tu deves
saber que o homem, ao fazer sua vontade, rompeu os vínculos com seu Criador e com todas as
coisas criadas; esta Celestial Rainha com a potência de nosso Fiat que possuía, vinculou a seu
Criador com as criaturas, vinculou a todos os seres juntos, uniu-os, reordenou-os de novo, e com o
seu amor dava a nova vida às gerações humanas; foi tanto o seu amor, que cobriu e escondeu em
seu amor as fraquezas, os males, os pecados e as mesmas criaturas em seus mares de amor. Oh!
se esta Virgem Santa não possuísse tanto amor, nos seria difícil olhar a terra, mas seu amor não
só nos faz olhar, mas queremos dar nossa Vontade reinante entre as criaturas, porque Ela assim o
quer, quer dar a seus filhos o que possui, e por caminhos de amor nos vencerá a Nós e a seus
filhos”.

O SALVADOR PERMANECE À DIREITA DO PAI, E MARIA SANTÍSSIMA DESCE DO CÉU PARA COOPERAR NO
ESTABELECIMENTO DA IGREJA COM SUA ASSISTÊNCIA E MAGISTÉRIO.

A morte não tinha direito sobre Maria

1. Encenei felizmente a segunda
parte desta História, deixando nossa grande Rainha e Senhora no Cenáculo e no céu
empíreo, assentada à direita de seu Filho e
Deus Eterno (SI 44, 10). Pelo modo milagroso que lhe concedeu o poder divino,
como fica dito, seu coipo santíssimo estava em ambos os lugares. O Filho de Deus,
para tornar sua ascensão mais admirável,
levou-a consigo para dar a posse da inefável recompensa que Ela até então merecera, e marcar-lhe o lugar que correspondia
aos seus méritos presentes e futuros, e que
preparara desde a eternidade.
Eu disse também, como a
Santíssima Trindade deixou à escolha da
divina Mãe: ficar eternamente naquele
felicíssimo estado de glória, ou voltar ao
mundo para consolo dos primeiros filhos
da Igreja do Evangelho, cooperando em
seu estabelecimento. Sob esta condição, a
vontade das três divinas Pessoas se inclinava, pelo amor que tinham a esta singular
criatura, a conservá-la naquele abismo em
que se encontrava absorta, e a não restituila outra vez ao mundo, entre os desterrados filhos de Adão.
Por um lado, parece que a justiça
assim o exigia. O mundo já estava redimido
com a paixão e a morte de seu Filho, tendo
Ela cooperado com toda a plenitude e perfeição. A morte não tinha direito sobre Ela,
não só por ter padecido em Si as dores de
Cristo nosso Salvador – como disse em seu
lugar (2′ parte, n°s. 1264, 1341, 1381) –
mas também porque a grande Rainha nunca foi tributária da morte, do demônio e do
pecado.
Por conseguinte, a lei comum dos
filhos de Adão (Hb 9,27) não a atingia. Sem
morrer como eles, desejava o Senhor – a
nosso modo de entender – que tivesse
trânsito diferente, passando de viadora a
compreensora, do estado mortal ao imortal, sem morrer na terra, quem nela não
havia cometido culpa para merecer a morte.
Mesmo estando no céu, podia o Altíssimo
passá-la de um estado a outro.

A Santíssima Trindade dá Maria ao mundo

2. Por outro lado, havia a solicitação da caridade e humildade desta admirável e querida Mãe. O amor a inclinava a
socorrer seus filhos, e a trabalhar para que
o nome do Altíssimo fosse conhecido e
exaltado na Igreja nascente. Desejava também, com sua intercessào, trazer muitos à
perfeição da fé, e imitar seus filhos e irmãos
de natureza, morrendo na terra ainda que
não estava sujeita a este tributo, pois não
tinha pecado (Rm 6, 23).
Com sua grandiosa sabedoria e
admirável prudência, conhecia quão estimável era poder merecer o prêmio e a coroa,
mais do que possuí-la por breve tempo,
ainda que fosse na glória. Esta humilde
sabedoria não ficou sem pagamento à vista. O eterno Pai publicou a todos os cortesãos do céu, o desejo divino e a escolha de
Maria para o bem da Igreja militante e
amparo dos fiéis. Todos conheceram no
céu o que é justo conhecermos agora na
terra.
O Pai eterno que, como diz São
João, amou o mundo até lhe dar seu
Unigênito para o redimir (Jo 3, 16), agora
dava novamente sua filha Maria Santíssima,
enviando-a de sua glória, para plantar a
Igreja que Cristo havia fundado. O Filho
deu sua amantíssima e dileta Mãe, e o
Espírito Santo a sua querida Esposa.
Este benefício teve outra característica que o elevou ao máximo: foi concedido após as injúrias, paixão e ignominiosa
morte de Cristo, nosso Redentor, que tornara o mundo mais desmerecedor. Oh!
infinito amor! Caridade imensa! Como fica
provado que as muitas águas de nossos
pecados não a podem extinguir (Ct 8, 7)!
Maria volta do céu
3. Terminados três dias completos
que Maria permaneceu no céu, gozando
em alma e corpo a glória, à direita de seu
Filho e Deus verdadeiro; tendo sido aceita
sua vontade de voltar à terra, partiu do
supremo céu empíreo para o mundo, com a
bênção da Santíssima Trindade. Deus ordenou a inumerável multidão de anjos para
a acompanhar, escolhendo-os de todos os
coros e muitos dos supremos serafins,
mais próximos ao trono da Divindade.
Refulgentíssima nuvem ou globo
luminoso recebeu-a, servindo-lhe de precioso carro ou relicário, conduzida pelos
serafins. Não pode caber em humano pensamento, na vida mortal, a beleza e resplendor com que vinha a divina Senhora. E
certo que nenhuma criatura vivente a poderia ver sem perder a vida. Por isso, foi
necessário que o Altíssimo velasse sua
refulgência aos que a olhavam, até que se
fosse moderando a luz que refletia.
Só ao evangelista São João foi
concedido ver a divina Rainha, na plena
irradiação da glória que gozava no céu.
Bem podemos compreender a magnífica
formosura e esplendor da Rainha e Senhora dos céus, descendo do trono da
beatíssima Trindade, pelo que se passou
com Moisés (Ex 34,29): tendo falado com
Deus no monte Sinai, onde recebeu a lei,
voltou com a face tão luminosa que os
israelitas não o podiam fitar (2Cor 3,13).
E não sabemos se o Profeta teria
visto claramente a Divindade. Mas ainda
que a visse, é certíssimo que tal visão não
chegou ao mínimo da que gozou a Mãe de
Deus.

Oração de Maria
4. A grande Senhora chegou ao
Cenáculo, para substituir seu Filho
santíssimo na Igreja nascente. Vinha tão
repleta de dons da graça para o exercício
deste ministério, que foi a admiração dos
anjos e o assombro dos santos, pois era o
vivo retrato de Cristo, nosso Mestre e
Redentor.
Desceu da nuvem de luz e, sem ser
vista pelos que estavam no Cenáculo, ficou em seu ser natural, no sentido de estar
só naquele lugar. No mesmo instante, a
Mestra da santa humildade prostrou-se em
terra e apegando-se ao pó, disse: Deus
altíssimo e Senhor meu, aqui está este vil
bichinho da terra, reconhecendo que dela
fui formada (Gn 2, 7), passando da não
existência ao ser que tenho, por vossa
liberalíssima clemência.
Reconheço também, ó altíssimo Pai,
que vossa inefável dignaçào, sem Eu merecer, me elevou do pó à dignidade de Mãe
de vosso Unigênito. De todo meu coração,
louvo e exalto vossa imensa bondade, por
assim me terdes favorecido. Em agradecimento de tantos benefícios, ofereço-me
para viver e trabalhar novamente nesta
vida mortal, o quanto vossa vontade santa
ordenar. Sacrifíco-me como serva fiel, vossa e dos filhos da santa Igreja.
Apresento-os todos ante vossa
imensa caridade e vos suplico, do íntimo de
meu coração, que os olheis como Deus e
Pai clementíssimo. Por eles ofereço o sacrifício de não gozar vossa glória e repouso,
para servi-los; de ter escolhido, livremente, privar-me de vossa clara visão, para
sofrer e trabalhar no que vos é tão agradável.
São João evangelista conhece o mistério
5. Para voltar ao céu, despediramse da Rainha os santos anjos que a tinham
acompanhado, dando à terra parabéns porque nela deixaram novamente por moradora a grande Rainha e Senhora.
Advirto que, estando a escrever
isto. os santos príncipes me perguntaram
porque eu não costumava, mais vezes nesta História, chamar Maria Santíssima, Rainha e Senhora dos anjos: que não descuidasse fazê-lo daqui em diante, pelo grande
gozo que sentem com isso. Para lhes obedecer e lhes dar gosto, daqui em diante,
muitas vezes, darei esse título à Màe de
Jesus.
Prossigamos nossa História. Depois que a divina Mãe desceu do céu ao
Cenáculo, permaneceu por três dias muito
abstraída de tudo, gozando a redundância
do júbilo e demais efeitos da glória que
recebera nos três dias precedentes no céu.
Deste escondido sacramento, apenas o Evangelista, entre todos os mortais,
teve conhecimento. Numa visão lhe foi
manifestado como a grande Rainha subira
ao céu em companhia de seu Filho
Santíssimo, e de lá a viu descer com a glória
e os dons com que voltou ao mundo, para
enriquecer a Igreja. Pasmado de tão surpreendente mistério, São João esteve dois
dias como suspenso e fora de si. Depois de
sua Mãe santíssima ter descido das alturas, queria falar-lhe mas não tinha coragem.
São João na presença de Maria
6. Entre o fervor do amor e o retraimento da humildade, esteve o predileto
Apóstolo lutando consigo quase um dia
todo. Vencido pela afeição filial, lesolveu
ir à presença da divina Màe no Cenáculo.
mas de caminho ainda hesitou, pensando:
Como atrever-me a satisfazer meu desejo,
sem primeiro saber a vontade do Altíssimo
e de minha Senhora? Meu Redentor e
Mestre, porém, ma deu por Màe e favorecendo-me com o título de filho me confiou
a obrigação de servi-la. É meu ofício, e
suave e piedosa como é, me perdoará e não
desprezará meu desejo. Vou prostrar-me a
seus pés.
Decidiu-se e entrou onde estava a
divina Rainha, em oração com os demais
fiéis. No momento que levantou os olhos
para vê-la, caiu prostrado sentindo efeitos
semelhantes aos que, com seus dois companheiros, sentira no Tabor quando o Senhor se transfigurou (Mt 17, 2).

O resplendor que São João viu no
rosto da Mãe Santíssima era muito semelhante ao do Salvador, naquela ocasião.
Como o Apóstolo ainda tinha presentes as
espécies da visão, na qual a viu descer do
céu, sua natural fraqueza não resistiu e caiu
em terra. Repleto de admiração e gozo,
esteve assim prostrado quase uma hora
sem poder levantar-se, venerando profundamente a Mãe de seu Criador.
Os demais Apóstolos e discípulos
que se encontravam no Cenáculo, não
estranharam nem perceberam a razão desse fato porque, à imitação de seu divino
Mestre e com o exemplo e ensinamento de
Maria Santíssima, rezavam muitas vezes
em cruz ou prostrados, enquanto aguardavam a chegada do Espírito Santo.

Humildade da Virgem
Estando assim prostrado o humilde e santo apóstolo, aproximou-se a
piedosa Mãe e o fez levantar-se do solo.
Mostrando-se com o semblante mais normal, pôs-se de joelhos e lhe disse: Senhor,

meu filho, já sabeis que todas minhas ações
serão feitas por obediência a vós, porque
estais no lugar de meu Filho santíssimo e
meu Mestre, para ordenar-me tudo o que
devo fazer. Quero pedir-vos novamente
que assim o façais, pelo consolo que sinto
em obedecer.
Ao ouvir estas palavras, o santo
Apóstolo encheu-se de pasmo e confusão, em vista do que conhecera sobre a
grande Senhora. Tornou a prostrar-se em
sua presença, oferecendo-se por seu escravo e suplicando fosse Ela a mandá-lo e
governá-lo em tudo.
Nesta porfia persistiu São João algum tempo, mas por fim, vencido pela
humildade de nossa Rainha, sujeitou-se à
sua vontade, obedecendo-lhe em mandála, como a Senhora desejava. Para ele era o
mais acertado, e para nós exemplo raro e
enérgico para nos repreender e ensinar a
reprimir a soberba. Se nos confessamos
filhos e devotos desta divina Mãe e Mestra
de humildade, é justo e devido imitá-la e
segui-la.
Ficaram tão impressas no entendimento e potências interiores do Evangelista,
as espécies do estado em que viu a grande
Rainha dos anjos que, por toda a sua vida,
aquela imagem lhe permaneceu no interior.
Nesta ocasião, quando a viu descer do céu,
ficou suspenso de admiração. As inteligências que dela teve, o santo Evangelista
expôs mais tarde no Apocalipse.

DOUTRINA QUE ME DEU A GRANDE RAINHA E SENHORA DOS ANJOS.
Condições de progresso
8. Minha filha, até agora, muitas
vezes repeti que deves te afastai de todas
as coisas visíveis e terrenas, morrer a ti
mesma e à tua herança de filha de Adão.
Assim te admoestei e ensinei nas doutrinas da primeira e segunda parte de minha
vida. Agora te chamo novamente, com
afeto de amorosa e piedosa Màe. Em nome
de meu Filho santíssimo, meu e de seus
anjos, que também muito te amam, convido-te para, esquecida de tudo o que tem
ser, te elevares a outra nova vida mais alta,
celestial e imediata à eterna felicidade,
Quero que te afastes completamente de Babilônia, de teus inimigos e das
falsas vaidades com que te perseguem, e te
aproximes da celestial Jerusalém. Vive em
seus átrios, ocupando-te inteiramente em
minha verdadeira e perfeita imitação. Por
ela, com a divina graça, chegarás à íntima
uniào com meu Senhor e teu divino e
fidelíssimo Esposo.
Ouve. pois, caríssima, a minha voz,
com alegre devoção e pronta vontade.
Segue-me, fervorosa, renovando tua vida
pelo modelo que vais delineando com a
minha. Atende ao que eu fiz, depois que da
destra de meu Filho santíssimo voltei ao
mundo. Medita e penetra cuidadosamente
minhas obras, para, segundo a graça que
receberes, copiares em tua alma o que
entenderes e escreveres. O auxílio divino
nào te faltará, porque o Altíssimo nada
quer recusar a quem, de sua parte, faz o que
pode no que é de seu agrado e beneplácito.
Só por tua negligência desmerecerás seu favor. Prepara e abre teu coração,
afervora tua vontade, purifica teu entendimento, esvazia ruas potências de toda imagem, e espécies de criaturas visíveis. Que
nenhuma te embarace e te faça cometer
uma leve culpa ou imperfeição sequer, para
que o Altíssimo possa depositar em ti sua
oculta sabedoria.

Vida ressuscitada
9. Desde hoje, tua vida deverá ser
como a vida de alguém que a recebeu
ressuscitada, depois de ter morrido à que
tinha antes. Quem recebe esta graça, costuma voltar à vida transformado e quase
estranho a tudo o que antes amava. Seus
desejos mudaram, refoimou-se sua mentalidade e seu procedimento é completamente outro. Deste modo, e com maior elevação, quero que tu, minha filha, fiques renovada. Deverás viver como se participasses
dos dotes gloriosos da alma, na forma que
te é possível e com o poder divino que agirá
em ti.
Para estes efeitos tão divinos, porém, é necessário que colabores e prepares
o coração. Fica livre, como tábua bem polida e cera branda, onde o dedo do Altíssimo
possa escrever e desenhar sem resistência, e imprimir-lhe a marca de minhas virtudes. Quer o Senhor que sejas, em sua
poderosa mão, o instr umento para realizar
sua vontade santa e perfeita. O instrumento não resiste à vontade do artífice, e se tem
vontade usa dela só para se deixar manejar.
Vem, pois, caríssima, para onde te
chamo. Adverte que, se ao Sumo Bem é
natural, em todos os tempos, comunicar-se
e beneficiar suas criaturas, no presente
século quer este Senhor e Pai das misericórdias manifestar mais sua liberal clemência pelos mortais.
Isto porque o tempo se esgota e são
poucos os que querem se dispor para receber os dons de sua poderosa destra. Não
percas tu, tão boa oportunidade. Segue e
cone após meus passos e nào contristes o
Espírito Santo, com morosidade, quando
Ele te convida a tanta felicidade com maternal amor e tão elevada e perfeita doutrina.

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