Livro do Céu Volume 4 português Traduzido do Espanhol

Os Três Fiat
Livro do Céu Volume 4 português Traduzido do Espanhol
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O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS

LIVRO DO CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita 

Volume 04

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

 IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do Reino da Divina Vontade

3

 

 

 

1

  1. M. I.

4-1

Setembro 5, 1900

A Esperança, alimento do Amor. 

(1) Como nos dias passados meu adorável Jesus não se fazia ver, eu me sentia desconfiada na  esperança de tê-lo de novo; antes acreditava que tudo havia terminado para mim: visitas de Nosso  Senhor e estado de vítima. Mas esta manhã, ao vir o bendito Jesus, trazia uma horrível coroa de  espinhos, e pôs-se junto a mim, lamentando-se tudo, em atitude de querer um alívio; então eu a  tirei pouco a pouco, e para lhe dar mais gosto a coloquei sobre minha cabeça. Pouco depois me  disse:

(2) “Minha filha, o verdadeiro amor é quando é sustentado pela esperança, e pela esperança  perseverante, porque se hoje espero e amanhã não, o amor adoece, porque o amor sendo  alimentado pela esperança, por quanto alimento se lhe fornece tanto mais forte se torna, mais  robusto, mais vivo o amor, e se isto vem a faltar, primeiro se adoece o pobre amor, e se fica só,  sem sustento, termina com morrer de todo. Por isso, por maiores que sejam as tuas dificuldades,  jamais, nem sequer por um instante deves afastar-te da esperança com o temor de me perder, mas  bem deves fazer de modo que a esperança, superando tudo, te faça encontrar-te sempre unida  Comigo, e então o amor terá vida perpétua”.

(3) Depois disso, continuou a vir sem me dizer mais nada.

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4-2

Setembro 6, 1900

Estado de vítima. 

(1) Continua vindo meu dulcíssimo Jesus. Esta manhã, quando veio, quis derramar um pouco de  amargura em mim, e depois disse-me:

(2) “Minha filha, Eu quero dormir um pouco, tu fazes o meu ofício de sofrer, rogar e aplacar a  justiça”.

(3) Assim Ele adormeceu, e eu pus-me a rezar junto a Jesus. Depois, acordando, viramos um  pouco entre as pessoas, e me fez ver diversos planos que estão idealizando para fazer revoluções,  e especialmente via que estavam maquinando um ataque de improviso para ter melhor resultado  em seu propósito, e para fazer com que nenhum se possa defender ou prevenir contra o inimigo.

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1 Este livro foi traduzido da tradução em espanhol. 

Quantos espetáculos funestos! Mas parece que o Senhor ainda não lhes dá liberdade para fazer

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isso, e não sabendo eles a razão se roem de raiva, porque apesar de sua perversa vontade se vêm  impotentes para realizá-lo. Não é preciso outra coisa senão que o Senhor lhes conceda esta  liberdade, porque tudo está preparado. Depois disso voltamos, e Jesus se mostrava todo chagado  (4) “Olhe quantas chagas me abriram e a necessidade do estado contínuo de vítima, de seus  sofrimentos, porque não há momento em que deixem de me ofender, e sendo contínuas as  ofensas, contínuos devem ser os sofrimentos e as orações para me aliviar em algo; e se você se vê suspenso sofre, treme e teme, porque não me vendo aliviado em minhas penas, não vá a conceder  aos inimigos essa liberdade tão desejada por eles”.

(5) Ao ouvir isto, pus-me a rogar-lhe que me fizesse sofrer a mim, e enquanto estava nisto via o  confessor que com suas intenções forçava a Jesus a me fazer sofrer. Então o bendito Senhor me  participou tais e tantas penas, que eu mesma não sei como fiquei viva, mas o Senhor em minhas  penas não me deixou só, mas bem parecia que não resistia se seu coração me deixasse, e passei  alguns dias junto com Jesus, e me comunicou tantas graças e me fez compreender muitas coisas;  mas, parte pelo estado de sofrimento, e parte porque não sei me expressar, passo adiante e faço  silêncio.

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4-3

Setembro 9, 1900

Jesus prepara a alma de Luisa para a comunhão. 

Ameaça contra os governantes dos povos. 

(1) Continua vindo, mas tenho estado a maior parte da noite sem Jesus, então ao vir me disse:  (2) “Minha filha, o que queres que com tanta ânsia me estás esperando? Você precisa de alguma  coisa?”

(3) E eu como sabia que tinha que comungar disse:

(4) “Senhor, toda a noite te estive esperando, sobretudo que devendo receber a comunhão temia  que meu coração não estivesse bem disposto para poder te receber, por isso tenho necessidade  de que minha alma seja revisada por Ti, para poder se dispor a unir-me a ti sacramentalmente.” (5) E Jesus, benignamente reviu minha alma para me preparar para recebê-lo, e depois me  transportou para fora de mim mesma, e junto encontrei nossa Rainha Mãe que dizia a Jesus:  (6) “Meu filho, esta alma estará sempre disposta a fazer e a sofrer o que Nós quisermos; e isto é  como uma atadura que ata à justiça, por isso Tu evita tantas matanças e tanto sangue que devem  derramar as nações”.

(7) E Jesus disse: “Minha mãe, é necessário o derramamento de sangue porque quero que esta  estirpe do rei caia de seu reinado, e isto não pode ser sem sangue, e também para purgar a minha  Igreja porque está muito infectada; no máximo posso conceder evitar em parte, em consideração

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dos sofrimentos”.

(8) Enquanto eu fazia isso, eu via a maioria dos deputados que estavam planejando como derrubar  o rei, e eles pensavam em colocar um dos deputados que estavam tramando no trono. Depois disto eu encontrei-me em mim mesma. Quantas misérias humanas! Ah Senhor, tenha compaixão da  cegueira na qual está imersa a pobre humanidade! Depois, ao continuar a ver o Senhor e a  Rainha-Mãe, vi o confessor ao seu lado, e a Virgem Santa disse:

(9) “Olha meu filho, temos um terceiro, que é o confessor, que se quer unir a Nós e fazer seu  trabalho comprometendo-se a concorrer para fazê-la sofrer, para satisfazer à divina justiça, e  também isto é um voltar mais forte a corda que te ata para aplacar; e além disso, quando Contigo  somente com a única finalidade de te glorificar e para o bem dos povos?”

(10) Jesus ouvia a Mãe, tinha consideração pelo confessor, mas não pronunciou sentença de todo  favorável, senão que se limitava a evitar em parte.

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4-4

Setembro 10, 1900

Ameaça contra os perversos.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via as tantas infâmias e pecados enormes que  se comentem, assim como também os cometidos contra a Igreja e o Santo Padre. Depois, voltando  em mim mesma, veio o meu adorável Jesus e disse-me:

(2) “Que dizes tu do mundo?”

(3) E eu, sem saber aonde queria chegar com esta pergunta, impressionada como estava pelas  coisas vistas, disse: “Senhor bendito, quem pode dizer a perversidade, a dureza, a feiúra do  mundo? Não tenho palavras para te dizer o quão ruim é”.

(4) E Ele, tomando ocasião de minhas mesmas palavras acrescentou: “Viu como é perverso? Tu  mesma o disseste, não há maneira de fazê-lo render-se, depois de que quase lhe tirei o pão,  permanece na mesma obstinação, bastante pior, e por agora vai consegui-lo com os roubos e com  as rapinas, fazendo mal aos seus semelhantes, portanto, é necessário que você toque a pele, caso  contrário você vai perverter mais”.

(5) Quem pode dizer como fiquei petrificada ante este falar de Jesus, me parece que fui eu a  ocasião para fazer que se irritasse contra o mundo; em vez de desculpá-lo o tenho pintado preto,  depois fiz o que pude por desculpá-lo, mas não me prestou atenção; o mal já estava feito. Ah  Senhor, perdoe esta falta de caridade e use misericórdia!

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4-5

Setembro 12, 1900

6

Sofrimento impiedoso, Jesus a alivia. 

Maquinações de revoluções contra a Igreja. 

(1) Continua quase o mesmo, esta manhã ao vir derramou suas amarguras, e eu fiquei tão sofredor que  comecei a pedir ao Senhor que me desse a força e que me aliviasse um pouco, porque não podia resistir.  Enquanto estava nisso, veio-me uma luz à mente fazendo que pensasse que cometia pecado ao fazer isto, e  além disso, que dirá o bendito Jesus? Enquanto em outras ocasiões lhe roguei tanto que derramasse, desta  vez que sem fazer rogar tinha derramado, estava buscando alívio, de parece que me vou fazendo mais má, e  chega a tanto minha maldade, que mesmo diante dele mesmo não me abstenho de cometer defeitos e  pecados. Então, não sabendo o que fazer para reparar, resolvi dentro de mim que desta vez, para fazer um  maior sacrifício e me dar uma penitência a fim de que minha natureza em outra ocasião não ousaria procurar  alívio, renunciar à vinda de Nosso Senhor, e se viesse devia lhe dizer: “Não venha amor, tenha compaixão de  mim, não me alivie”. Assim fiz e passei algumas horas em intenso sofrimento e sem Jesus; quão amargo me  parecia. Mas Jesus tendo compaixão de mim, sem que o buscasse veio, e eu logo lhe disse: “Tenha  paciência, não venha, que não quero alívio”.

(2) E Ele: “Minha filha, estou contente de teu sacrifício, mas tens necessidade de um consolo, de outro modo  desfalecerias.”

(3) E eu: “Não, Senhor, não quero alívio”.

(4) Mas Ele, aproximando-Se da minha boca, quase à força derramou da sua boca alguma gota de leite  doce, que amenizaram o meu sofrimento; quem pode dizer a confusão, a vergonha que sentia diante Dele,  esperando-me uma repreensão, mas Jesus como se não tivesse percebido minha falta se mostrava mais  afável, mais doce. Eu, vendo-o assim disse: “Meu adorável Jesus, uma vez que derramaste em mim e eu  sofro, deves perdoar o mundo, não é verdade?”.

(5) E ele: “Minha filha, acreditas que eu derramei tudo em ti? E, além disso, como poderias enfrentar tudo o  que de castigo derramarei sobre o mundo? Você mesma viu que aquele pouco que derramei não podia  resistir, e se não tivesse vindo te ajudar teria sucumbido, agora, o que seria se derramasse tudo em ti? Minha  querida, dei-te a minha palavra, contentar-te-ei em parte”.

(6) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, no meio das pessoas, e continuava a ver os tantos  males, especialmente maquinações de revoluções contra a Igreja, e entre a sociedade, planos para matar o  Santo Padre e os sacerdotes. Eu sentia-me dilacerar a alma ao ver estas coisas, e pensava: “Se, jamais seja,  chegarem a realizar-se estas maquinações, o que acontecerá? Quantos males virão?” E toda aflita olhei para

Jesus, e Ele me disse:

(7) “E daquela revolta que aconteceu aqui, o que você diz?”.

(8) E eu: “Qual revolta? No meu país nada aconteceu”.

(9) E Ele: “Não te lembras da revolta de Andria?”.

(10) “Sim Senhor”.

(11) “E bem, parece que é nada, mas não é assim, aquela foi toda uma ocasião, e é um fomento, uma força  para outras cidades para mover-se e derramar sangue, causando ultraje às pessoas consagradas, e a meus  templos, e como cada um quer mostrar quanto é mais feroz em exaltar o errado, competirão para ver quem  pode fazer mais mal”.

7

(12) E eu: “Ah Senhor, dá a paz à Igreja e não permitas tantas desgraças!” E querendo dizer mais, me  desapareceu, deixando-me toda aflita e pensativa.

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4-6

Setembro 14, 1900

Jesus derrama para aplacar sua justiça. O heroísmo da verdadeira virtude.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de muito esperar se fazia ver dentro de meu interior,  que apoiando-se em meu coração cingia seus braços ao seu redor e apoiava sua sacratíssima cabeça nele,  todo afligido, sério, de modo que te impunha silêncio, e virado de costas para o mundo. Depois de ter estado  um pouco em silêncio, porque o aspecto com que se mostrava não permitia o atrever-se a dizer uma palavra,  se tirou dessa posição e me disse:

(2) “Eu tinha resolvido não derramar, mas as coisas chegaram a tal ponto, que se eu não derramar estouraria  iminentemente tais alvoroços, de mover revoluções que fariam sangrentas matanças”.  (3) E eu: “Sim Senhor, derrama, este é meu único desejo, que desabafes sobre mim tua ira e perdoes as  criaturas”. Assim derramou um pouco. Depois, como se tivesse se acalmado acrescentou:  (4) “Minha filha, como cordeiro me fiz conduzir ao matadouro e estive mudo ante quem me sacrificou, assim  será daqueles poucos bons destes tempos; porém isto é o heroísmo da verdadeira virtude. 5) Acrescentou mais uma vez: “Derramei, queres que eu derrame mais um pouco, para que eu fique mais  aliviado?”

(6) E eu: “Meu Senhor, não me pergunte, estou à sua disposição, pode fazer de mim o que quiser”. Assim  derramou de novo e desapareceu deixando-me sofredor e contente pelo pensamento de que tinha aliviado as  penas do meu amado Jesus.

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4-7

Setembro 16, 1900

Andria 

(1) Meu amável Jesus continua a vir, e me participou algumas penas de sua Paixão, e depois me transportou  para fora de mim mesma, fazendo-me ver os povos circunvizinhos, especialmente me parecia que fosse  Andria, que se o Senhor não fizer uso de sua onipotência para seu castigo, as revoltas se farão sérias, muito  mais que parecia que havia incitação por parte de alguns sacerdotes para estas revoltas, o que amargurava  mais a Nosso Senhor. Então, depois de haver visitado várias igrejas junto com Jesus bendito, fazendo atos  de reparação e adoração pelas tantas profanações que se cometem nas igrejas, Jesus me disse:

(2) “Minha filha, deixa-me derramar um pouco, pois são tais e tantas as amarguras que não posso sofrer só,  e meu coração não pode suportá-las”.

(3) Assim derramou e desapareceu, retornando outras vezes sem me dizer mais nada. + + + +

4-8

Setembro 18, 1900

8

A Caridade ao próximo. Roga-lhe que a leve ao Céu.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fazia ver os  muitos males que se cometem contra a caridade do próximo, quanta pena davam ao pacientíssimo  Jesus, parecia que os recebia Ele mesmo; então todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, quem faz mal ao próximo se faz mal a si mesmo, e matando ao próximo mata sua  alma, e assim como a caridade predispõe a alma a todas as virtudes, assim não ter a caridade  predispõe a alma a cometer toda sorte de vícios”.

(3) Depois disto nos retiramos, e como há vários dias sofria uma dor intensa nas costelas, me  sentia por isso sem forças. E o bendito Jesus, compadecendo-me, disse-me:  (4) “Amada minha, tu queres vir, não queres?”

(5) E eu: “Queira o Céu meu Senhor, que esta dor fosse causa para vir a Ti; como lhe estaria  agradecida, como me seria querido, e tê-lo-ia por um de meus mais fiéis amigos, mas creio que  queres me tentar como as outras vezes, e excitar-me com teus convites, e, ficando desiludida, virás  a tornar mais crua e dilacerante o meu martírio. Mas, ah, tem compaixão de mim e não me deixe  muito mais tempo sobre a terra! absorve em Ti este mísero verme que tem razão, porque de Ti  mesmo saiu”. O amável Jesus enternecendo-se todo ao ouvir-me, disse:

(6) “Pobre filha, não temas, porque é certo que virá o teu dia no qual ficarás absorvida em Mim, no  entanto, deves saber que as tuas contínuas violências de vir a Mim, especialmente depois dos  meus convites, te servem muito e te fazem viver na atmosfera do ar, sem a sombra de nenhum  peso terreno; tanto que tu és como aquelas flores que nem sequer têm a raiz na terra, e vivendo  assim suspensa no ar, vens recriar o Céu e a terra, e tu, olhando para o Céu, somente nele te  recrias e te nutres de tudo o que é celestial, e vendo a terra tens compaixão dela, e a ajudas por  quanto podes por parte tua; mas em comparação com o cheiro do Céu advertes imediatamente a  peste que exala da terra e a aborreces. Poderia te colocar em uma posição para Mim e para o Céu  mais querido, e para ti e para o mundo mais proveitoso?”

(7) E eu: “Contudo, ó meu Senhor, deverias ter compaixão de mim por não alargar a minha morada  aqui, pelas tantas razões que tenho; especialmente pelos tristes tempos que se preparam; quem  terá coração para ver carnificina tão sangrenta? E além disso, por suas contínuas privações que  me custam mais que a morte”. Enquanto dizia isto, vi uma multidão de anjos ao redor de Nosso  Senhor que diziam:

(8) “Senhor e nosso Deus, não vos façais mais importunar, contenta-la, nós com ânsia a  esperamos. Feridos por sua voz viemos aqui para ouvi-la, e estamos ansiosos por levá-la conosco.  E tu, ó escolhida, vem alegrar-nos na nossa celeste morada”.

(9) O bendito Jesus, comovido, parecia que queria condescender e desapareceu, e encontrando-

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me em mim mesma me sentia aumentado a dor, tanto, que delirava continuamente; mas não me  entendia a mim mesma pelo contentamento.

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Setembro 19, 1900

Obediência de pedir alívio nas penas a Jesus.

1) Duplicando-se sempre mais o espasmo da dor, teria querido escondê-lo e fazer que ninguém se  desse conta, e teria querido mantê-lo em segredo, sem dizer ao confessor o que disse acima; mas  era tão forte o espasmo que me pareceu impossível, e o confessor, usando a sua habitual arma da  obediência, ordenou-me que lhe manifestasse tudo; então, depois de lhe ter manifestado todas as  coisas, disse-me que por obediência devia pedir ao Senhor que me libertasse, de outra maneira  cometeria pecado. Oh, que tipo de obediência é esta, é sempre ela que se atravessa em meus  planos! Então, de má vontade aceitei esta nova obediência, mas apesar disto não tinha coração  para rogar ao Senhor que me libertasse de um amigo tão querido, como o é a dor, muito mais que  esperava sair do exílio desta vida. O bendito Jesus me tolerava, e ao vir me disse:

(2) “Tu sofres muito, queres que te liberte?”

(3) E eu, tendo-me esquecido um momento da obediência disse: “Não Senhor, não, não me  libertes, quero ir; e além disso Tu sabes que não sei te amar, sou fria, não faço grandes coisas por  Ti, ao menos te ofereço este sofrer para satisfazer ao que não sei fazer por amor teu”.  (4) E Ele: “E Eu minha filha, infundirei tanto amor e tanta graça em ti, de modo que nenhum me  possa amar e desejar como tu, não estás contente?” (5) “Sim, mas quero vir”. Jesus desapareceu,  e eu voltando em mim mesma me lembrei da obediência recebida, e tive que me acusar com o  confessor, e me ordenou que absolutamente não queria que me fosse, e que o Senhor me  libertasse. Que pena senti ao receber esta obediência! parece que quer tocar os extremos de  minha paciência.

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4-10

Setembro 20, 1900

Sinais de cruz para recuperar a saúde.

(1) Continuo a sofrer, mais do que nunca, porque me foi negado o poder de morrer. Então ao vir  meu adorável Jesus me repreendeu por minha demora em obedecer, porque até então parecia que  me tolerava; enquanto isso via o confessor e Jesus virando-se para ele tomou-lhe a mão e disse lhe:

(2) “Quando vier, marque-a com o sinal da cruz na parte da dor, que a farei obedecer”.  (3) E desapareceu. Então, ficando sozinha sentia mais intensa a dor. Depois vindo o confessor e  encontrando-me sofrendo, também ele me repreendeu porque não obedecia, e tendo-lhe dito o que

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tinha visto e o que Nosso Senhor tinha dito ao confessor, ele ao ouvir-me fez o sinal da cruz na  parte onde sofria, e em dois minutos pude respirar e mover-me, enquanto antes não podia fazê-lo  sem sentir espasmos atrozes; parece-me que a obediência e aqueles sinais de cruz ataram a dor,  de modo que não posso mais me doer, e eis por que fiquei decepcionada em meus planos, porque  esta senhora obediência tomou tal poder sobre mim, que não me deixa fazer nada do que quero,  até no mesmo sofrer quer ela dominar, e devo estar em tudo e para tudo sob seu império.

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4-11

Setembro 21, 1900

Força da obediência. A obediência deve ser tudo para ela. 

(1) Quem pode dizer minha aflição ao ficar privada de meu amadíssimo amigo dor? Admirava, sim,  o prodigioso império da santa obediência, como também a virtude que o Senhor tinha comunicado  ao confessor, que com a obediência e com fazer-me o sinal da cruz me havia liberado de um mal  que eu considerava grave, e que era suficiente para desfazer meu corpo; mas com tudo isto não  podia fazer menos que sentir a pena de estar privada de uma dor tão boa, que apiedava e  enternecia ao bendito Jesus, de modo que o fazia vir quase continuamente. Então, vindo Nosso  Senhor, lamentei-me com Ele, dizendo: “Amado Bem meu, o que me fizeste? Libertaste-me pelo  confessor, portanto perdi a esperança de deixar por agora a terra, e além disso para que tantos  rodeios, podias Tu mesmo libertar-me, por que puseste o pai no meio? Ah! Talvez você não quis  me desagradar diretamente, não é?”

(2) E Ele: “Ah, minha filha, como logo esqueceste que a obediência foi tudo para Mim; a obediência  quero que seja tudo para ti! E também coloquei o pai no meio para que você o tenha em  consideração como a mim mesma”.

(3) Dito isto desapareceu deixando-me toda amargurada. Quantas sabe fazer a senhora  obediência! , você precisa conhecê-la e ter a ver com ela por um longo tempo, não por pouco, para  poder dizer realmente quem é ela, e bravo, bravo à senhora obediência, quanto mais se está em  contato com ela mais se faz conhecer. Eu por mim, para dizer a verdade, admiro-te, sou obrigada  também a amar-te; assim não posso fazer menos que não sentir-me zangada contigo  especialmente quando me faz uma grande. Por isso te peço, oh amada obediência, ser mais  indulgente, mais indulgente em fazer-me sofrer.

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4-12

Setembro 22, 1900

Por quantas vezes se dispõe a fazer o sacrifício da morte, 

outras tantas vezes Jesus lhe dá o mérito 

como se realmente morresse.

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(1) Encontrando-me toda oprimida e aflita, ao vir o meu adorável Jesus disse-me: “Minha filha, por  que te submergiste toda na tua aflição?”

(2) E eu: “Oh, meu amado, como não devo estar aflita se ainda não me queres levar contigo e me  deixa mais tempo sobre esta terra?”

(3) E Ele: “Ah não, não quero que você respire este ar triste, porque tudo o que coloquei dentro e  fora de você, tudo é santo, tão é verdade, que se se aproxima de você alguma coisa ou pessoa  que não é reta e santa, você sente incômodo, advertindo imediatamente a peste do que não é  santo. Agora, por que queres ensombrar com este ar de tristeza o que pus dentro de ti? No entanto  deves saber que cada vez que te dispõe a fazer o sacrifício da morte, outras tantas vezes te dou o  mérito, como se realmente morresses, e isto deve ser de grande consolação para ti, muito mais  porque te conformas principalmente a Mim, porque minha Vida foi um contínuo morrer”.

(4) E eu: “Ah Senhor, não me parece que a morte seja um sacrifício, mas sim, sacrifício me parece  a vida”. E querendo dizer mais desapareceu.

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4-13

Setembro 29, 1900

As almas vítimas são apoios e suportes para Jesus. 

(1) Tendo passado alguns dias de silêncio entre Jesus e eu, e com pouco sofrimento, parece-me  que gostaria de continuar a tentar fazer-me exercitar um pouco mais a paciência, e eis como:  (2) Ao vir, dizia: “Minha amada, do Céu te suspiro, no Céu, no Céu te espero”.  (3) E como relâmpago desaparecia. Depois, voltando, repetia: “Cessa já dos teus ardentes  suspiros, que me fazes definhar continuamente, até desfalecer”.

(4) Outras vezes: “Teu ardente amor, tuas ânsias são consolo a meu triste coração”.  (5) Mas quem pode dizer tudo? Parecia-me que tinha vontades de fazer versos, e estes versos às  vezes os expressava cantando-os; mas sem dar-me tempo de lhe dizer uma palavra, logo fugia.  Depois, esta manhã, tendo posto o confessor a intenção de me fazer sofrer a crucificação, vi a  Rainha Mãe que chorava e quase discutia com Jesus para livrar o mundo dos tantos castigos, mas  Ele mostrava-se relutante, E só para agradar à mãe, ela veio para me fazer sofrer. Pouco depois,  como se tivesse diminuído um pouco disse:

(6) “Minha filha, é verdade que quero castigar o mundo, tenho na mão os castigos para golpeá-lo,  mas é também verdade que se se interessarem tanto você como o confessor em rogar-me e sofrer,  é sempre um apoio, e viriam a pôr tantos suportes para livrar o pelo menos em parte, caso  contrário, não encontrar qualquer apoio e escora, mãos livres eu vou desabafar sobre as pessoas”.  (7) Dito isto desapareceu.

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4-14

Setembro 30, 1900

Jesus pede-lhe para consolar a sua mãe aflita. 

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus não vinha e tive que ter muita paciência em esperá-lo,  cheguei até me esforçar em sair de meu habitual estado porque não tinha força para continuar  nele. Jesus não vinha, o sofrer me parecia que havia fugido de mim, os sentidos me os sentia em  mim mesma, não me restava mais que fazer um esforço para sair, mas enquanto isso fazia, o  bendito Jesus veio e fez um cerco ao redor de minha cabeça com seus braços, e desde esse  momento não me tenho sentido mais em mim mesma, e via Nosso Senhor muito indignado com o  mundo e, querendo aplacá-lo, disse-me:

(2) “Por agora, não queiras cuidar de Mim, mas peço-te que te ocupes de minha Mãe, consola-a,  porque está muito afligida pelos castigos mais pesados que estou prestes a derramar sobre a  terra”.

(3) Quem pode dizer o quanto aflita fiquei?

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4-15

Outubro 2, 1900

Estado de vítima pela Itália e Corato.  

(1) Temendo que não fosse mais Vontade de Deus meu estado, ao vir o bendito Jesus disse:  “Quanto temo que já não seja Vontade teu estado, porque vejo que me faltam as duas coisas  principais que me haviam atado, isto é, o sofrimento e tua presença”.

(2) E Ele: “Minha filha, não é que não queira ter-te mais neste estado, senão como quero castigar  ao mundo, por isso não venho e te faço faltar o sofrer”.

(3) E eu: “Para que estou neste estado?”

(4) E Ele: “Tua posição de vítima e teu contínuo esperar me desarmam os braços, porque tu não  me vês, Eu em troca te vejo muito bem e numero todos os teus suspiros, tuas penas, teus desejos  de me amar, e este teu estar toda atenta em Mim, é sempre um ato de reparação por tantos que  não se preocupam comigo, nem me desejam, mas sim me desprezam e estão todos atentos às  coisas terrenas, enlameados na sujeira dos vícios. Então, seu estado sendo totalmente oposto ao  deles, vem sempre a desarmar a justiça, tanto, que ter você neste estado e começar as guerras  sangrentas na Itália, me resulta quase impossível”.

(5) E eu: “Ah! Senhor, estar neste estado sem sofrer me parece quase impossível, sinto que me  faltam as forças, porque a força para estar neste estado me vem dos sofrimentos. Então, faltando me estes, algum dia que não venha eu tratarei de sair, te digo isso antes a fim de que não te  desgoste”.

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(6) E Ele: “Ah sim, sim, sairá deste estado quando começar a matança na Itália, então te  suspenderei de tudo”.

(7) Enquanto dizia isto, fazia-me ver as guerras ferozes que deverão acontecer tanto entre os  leigos, como aquelas contra a Igreja; o sangue inundava as cidades como quando há uma chuva  densa, meu pobre coração se retorceu pela dor ao ver isto, E pensando na minha cidade, eu disse:  “Ah! Senhor, se Tu dizes que me suspenderás de todo, dás a entender que nem sequer do pobre  Corato terás compaixão, nem o perdoarás?”.

(8) E Ele: “Se os pecados chegam a um certo número, de modo que não mereçam ter almas  vítimas, e aqueles que te têm vítima não se interessam, Eu não terei nenhuma consideração de  Corato”.

(9) Dito isto desapareceu, e eu fiquei toda afligida e oprimida.

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4-16

Outubro 4, 1900

Jesus sofre ao castigar o homem porque são suas imagens. 

(1) Depois de ter passado um dia de privação e com escasso sofrimento, sentia-me convencida de  que o Senhor não queria ter-me mais neste estado; no entanto a obediência, mesmo nisto, não  quer ceder, e quer que continue a estar nele, ainda que deva morrer. Seja sempre bendito o  Senhor e em tudo seja feito seu santo e amável Querer. Então, esta manhã, ao vir o bendito Jesus,  fazia-se ver em um estado que dava compaixão, parecia que sofria em seus membros, e seu corpo  era cortado em tantos pedaços que era impossível numera-los; e com voz lastimosa dizia:

(2) “Minha filha, que sinto! O que sinto! são penas inenarráveis e incompreensíveis à natureza  humana; é carne de meus filhos que é dilacerada, e é tanto a dor que sinto, que me sinto dilacerar  minha própria carne”.

(3) E enquanto isso gemia e doía. Eu sentia-me enternecedor ao vê-lo neste estado, e fiz tudo o  que pude por compadecê-lo e rogar-lhe que me participasse suas tristezas. Agradou-me em parte  e apenas pude dizer-lhe: “Ah Senhor, não te dizia eu, que não lançasses mão dos castigos, porque  o que mais me desagrada é que ficarás ferido nos teus próprios membros? Ah, desta vez não  houve modos nem orações para aplacar-te!” Mas Jesus não prestou atenção a minhas palavras,  parecia que tinha uma coisa séria no coração que o levava a outra parte, e num instante me  transportou fora de mim mesma, levando-me a lugares onde Ocorriam massacres sangrentos. ¡  Oh, quantas cenas dolorosas se viam no mundo, quantas carnes humanas atormentadas, feitas em  pedaços, pisoteadas como se pisa a terra e deixadas sem sepultar; quantas desgraças, quantas  misérias! e o pior era que outras coisas mais terríveis deviam acontecer. O bendito Senhor olhou, e  comovendo-se tudo começou a chorar amargamente. Eu, não podendo resistir chorei junto com Ele

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a triste condição do mundo, tanto que minhas lágrimas se misturavam com as de Jesus. Depois de  ter chorado um bom momento, admirei outro traço da bondade de Nosso Senhor: Para fazer que  deixasse de chorar ocultou seu rosto de mim, secou-se as lágrimas, e logo voltando-se de novo  com rosto alegre me disse:

(4) “Amada minha, não chores, basta, basta, o que vês serve para justificar a minha Justiça”.  (5) E eu: “Ah Senhor, digo bem que já não é Vontade tua o meu estado, em que aproveita o meu  estado de vítima se não me for dado livrar os teus caríssimos membros e isentar o mundo de  tantos castigos?”

(6) E Ele: “Não é como você diz; também Eu fui vítima, e apesar de sê-lo não me foi dado livrar ao  mundo de todos os castigos; abri-lhe o Céu, o livrei da culpa, sim, levei sobre Mim suas penas, mas  é justiça que o homem receba sobre si parte daqueles castigos que ele mesmo se atrai pecando.  E, se não fosse pelas vítimas, não só mereceria o simples castigo, ou seja, a destruição do corpo,  mas também a perda da alma; e eis a necessidade das vítimas, que quem se quiser servir delas,  porque o homem é sempre livre na sua vontade, pode encontrar o perdão da pena e o porto de sua  salvação”.

(7) E eu: “Ah Senhor, como gostaria de ir antes que avancem mais estes castigos!”  (8) E Ele: “Se o mundo chega a tal impiedade de não merecer nenhuma vítima, seguro que te levarei”.

(9) Ao ouvir isto disse: “Senhor, não permita que permaneça aqui, e assistir a cenas tão dolorosas”.  (10) E Jesus, quase me repreendeu acrescentou: “Em vez de me pedir que os liberte, você diz que  quer vir; se Eu levasse todos os meus, o que seria do pobre mundo? Certamente não teria mais o  que fazer com ele, e não lhe teria mais nenhuma consideração”.

(11) Depois disso eu pedi por várias pessoas, Ele desapareceu e eu retornei em mim mesma. + + + +

4-17

Outubro 10, 1900

Estes escritos manifestam claramente ao mundo o modo 

como Jesus ama as almas. 

A alma só pode sair do corpo, por força da dor ou do amor. 

(1) Enquanto escrevia estava pensando entre mim: “Quem sabe quantos desatinos haverá nestes  escritos, merecem ser lançados ao fogo, se a obediência me o concedesse, de boa vontade o faria,  porque sinto como um enfado na alma, especialmente se chegassem a ser vistos por alguma  pessoa, já que em alguns pontos fazem parecer como se amasse ou fizesse alguma coisa por  Deus, enquanto que não faço nada, não o amo, e sou a alma mais fria que se possa encontrar no  mundo, e então me teriam em um conceito diferente do que sou, e isto é uma pena para mim; mas  como é a obediência que quer que escreva, sendo isto para mim um dos maiores sacrifícios,

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portanto me entrego toda a ela, com a esperança certa que ela me desculpará e justificará minha  causa diante de Deus e diante dos homens”. Mas enquanto digo isto, o bendito Jesus mexeu-se  dentro de mim e está a repreender-me e quer que retire o que disse, e se não o fizer não quer que  continue a escrever. Está me dizendo que ao dizer isto me afastei da verdade, sendo que a coisa  mais essencial de uma alma é não sair jamais do círculo da verdade. Como! você não me ama?  Com que intrepidez diz, não Tu queres sofrer por Mim?”.

(2) E eu envergonhando-me toda: “Sim, Senhor”.

(3) E Ele: “E bem, como é que vens a sair da verdade?”

(4) Dito isto, retirou-se em meu interior, sem mais fazer-se ouvir, ficando eu como se tivesse  recebido um golpe. ¡ Quantas me faz a senhora obediência, se não fosse por ela não me  encontraria nestas lutas com meu amado Jesus! ; quanta paciência é necessária com esta bendita  obediência!

(5) Agora, vou dizer o que devia dizer, pois o Senhor me distraiu um pouco do que havia começado, então, ao vir o bendito Jesus respondeu ao meu pensamento dizendo-me:  (6) “Certamente merecem ser queimados estes escritos teus, mas queres saber em qual fogo? No  fogo de meu amor, porque não há página neles que não manifeste claramente o modo como amo  as almas; tanto se são coisas que se referem a ti, como se referem ao mundo; e meu amor nestes  teus escritos encontra um desabafo aos meus preocupados e amorosos desfalecimentos”.  (7) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, e encontrando-me sozinha, sem corpo,  disse: “Meu amado e único Bem, que castigo é para mim ter que retornar tantas vezes a meu  corpo, porque é certo que agora não o tenho, é só minha alma que está junto Contigo; e depois,  não sei como me encontro aprisionada em meu mísero corpo como dentro de uma prisão  tenebrosa, e aí perco aquela liberdade que me vem dada ao sair dele. Isto não é um castigo para  mim, o mais duro que se possa dar?”

8) E Jesus: “Minha filha, não é castigo o que tu dizes, nem por culpa tua que isto te acontece, antes  deves saber que só por duas razões a alma pode sair do corpo: por força da dor, porque acontece  a morte natural; ou por força de amor recíproco entre a alma e Eu, porque sendo este amor tão  forte, nem a alma suportaria, nem Eu posso suportar muito sem gozá-la, por isso a vou atraindo a  Mim, e logo a devolvo a seu estado natural; e a alma mais que atraída por um fio elétrico vai e vem  como a Mim me agrada. Eis que o que tu crês castigo é amor finíssimo”.

(9) E eu: “Ah Senhor, se o meu amor fosse bastante e forte, creio que teria a força de subsistir  diante de Ti, e não estaria sujeita a retornar ao meu corpo; mas como é muito débil, por isso é que  estou sujeita a estas vicissitudes”.

(10) E Ele: “Antes te digo que é amor maior, é extraído do amor do sacrifício, porque por amor meu  e por amor dos teus irmãos te privas e regressas às misérias da vida”.

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(11) Depois disto o bendito Jesus me transportou a uma cidade, onde eram tantas as culpas que se  cometiam, que saía como uma neblina densíssima, malcheirosa, que se levantava para o céu; e do  céu descia outra neblina tupida, e dentro estavam condensados tantos castigos, que pareciam ser  suficientes para exterminar esta cidade. Então eu disse: “Senhor, onde nos encontramos? Que  lugares são estes?”

(12) E Ele: “Aqui é Roma, onde são tantas as maldades que se cometem, não só pelos leigos, mas  também pelos religiosos, que merecem que esta névoa os acabe de cegar, merecendo com isso o  seu extermínio”.

(13) Num instante vi o estrago que acontecia, e parecia que o Vaticano recebia parte das  sacudidas; não eram libertados nem sequer os sacerdotes, por isso toda consternada disse: “Meu  Senhor, liberta a tua cidade predileta, a tantos ministros teus, ao Papa. Oh, de boa vontade te  ofereço a mim mesma para sofrer seus tormentos, contanto que os perdoe!”

(14) E Jesus comovido me disse: “Vem Comigo e te farei ver até onde chega a malicia humana.” 15) E transportou-me para dentro de um palácio, e num quarto secreto estavam cinco ou seis  deputados e diziam entre eles: “Só cederemos quando tivermos destruído os cristãos”. E parecia  que queriam obrigar o rei a escrever de seu próprio punho o decreto de morte contra os cristãos, e  a promessa de deixá-los apoderar-se dos bens destes, dizendo-lhe que, contanto que consentisse  com eles, ele não faria nada, porque não o fariam por agora, mas em tempo e circunstâncias  oportunas o teriam feito. Depois disto me transportou a outra parte, e me fazia ver que devia morrer  um daqueles que se dizem chefes, e este tal parecia tão unido com o demônio, que nem sequer  nesse ponto se afastava, toda sua força a tomava dos demônios que o cortejavam como seu fiel  amigo. Os demônios ao me ver se moveram, e um me queria bater, outro me queria fazer uma  coisa e outra, entretanto eu, não fazendo caso a suas moléstias, porque me importava mais a  salvação daquela alma, me esforcei e cheguei junto a esse homem. Oh Deus, que vista tão  espantosa, mais que os mesmos demônios! Em que estado tão lamentável jazia ele! Mais duro que  pedra, em nada o comoveu nossa presença, mas bem parecia que zombava. Jesus logo me tirou  desse lugar, e eu comecei a rogar pela salvação dessa alma.

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Outubro 12, 1900

Os inimigos mais poderosos do homem são: 

o amor aos prazeres, às riquezas e às honras.

(1) Continua vindo meu adorável Jesus; esta manhã trazia uma densa da coroa de espinhos; a tirei  pouco a pouco e a pus em minha cabeça, e disse: “Senhor, ajuda-me a cravá-la”.  (2) E Ele: “Desta vez quero que tu mesma a crave, quero ver o que saber fazer, e como queres

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sofrer por amor a mim”.

(3) Eu a cravei muito bem, muito mais que se tratava de lhe fazer ver até onde chegava meu amor  de sofrer por Ele, tanto que Ele mesmo, todo enternecido e estreitando-me disse:  (4) “Basta, basta, que meu coração não resiste mais o verte sofrer”.

(5) E me deixando muito sofrida, meu amado Jesus não fazia outra coisa senão ir e vir. Depois  disto tomou o aspecto de crucificado e me participou suas penas, e me disse:  (6) “Minha filha, os inimigos mais poderosos do homem são: o amor aos prazeres, às riquezas e às  honras, que fazem infeliz ao homem, porque estes inimigos se introduzem até no coração e o roem  continuamente, o amargam, o abatem, tanto, de fazer-lhe perder toda a felicidade, e eu sobre o  Calvário derrotei estes três inimigos, e obtive graça para o homem de que pudesse vencê-los  também ele, e restituí-lhe a felicidade perdida, mas o homem sempre ingrato rechaça minha graça  e ama raivosamente estes inimigos, que colocam o coração humano em uma tortura contínua”.  (7) Dito isto desapareceu e eu compreendia com tal clareza a verdade destas palavras, que sentia  uma repugnância, um ódio para com estes inimigos.

(8) Seja sempre bendito o Senhor e tudo seja para sua glória.

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4-19 

Outubro 14, 1900

O perigoso flagelo dos burgueses. 

Só a inocência atrai a misericórdia e mitiga a justa indignação.

(1) Esta manhã me sentia tão aturdida, que não reagia, nem podia ir como o habitual em busca de  meu sumo Bem. De vez em quando se movia dentro de mim e se fazia ver, e me abraçando toda e  compadecendo me dizia:

(2) “Pobre filha, tens razão de não poder estar sem Mim, como poderias viver sem teu amado?”  (3) E eu, perturbada por suas palavras, disse: “Ah, meu amado, que duro martírio é a vida por os  intervalos em que sou obrigada a estar sem Ti. Tu mesmo o dizes, que tenho razão nisto, e logo  me deixas?”

(4) E ele se escondeu como se não quisesse que ouvisse o que me dizia, e eu fiquei de novo no  meu tumulto, não podendo dizer mais nada; e, vendo-me de novo, turbada, disse: (5) “Tu és todo o meu contentamento, no teu coração encontro o verdadeiro repouso e,  repousando, sinto nele as mais queridas delícias”.

(6) E eu, sacudindo-me de novo, disse-lhe: “Também para mim Tu és todo o meu contentamento,  tanto que todas as outras coisas não são para mim senão amarguras”.

(7) E Ele retirando-se de novo me deixou meio a falar, ficando mais perturbada que antes, e assim  continuou esta manhã, parecia que tinha vontade de jogar um pouco. Depois disto me senti fora de  mim mesma, e vi que vinham pessoas desconhecidas vestidas de burgueses, e as pessoas ao vê-

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las, todas se horrorizavam e davam um grito de espanto e de dor, especialmente as crianças, e  diziam: “Se estes nos caem em cima, para nós tudo terminou”, e acrescentavam: “Escondam as  jovens; pobre juventude se chega às mãos destes”. Então eu, dirigindo-me ao Senhor lhe disse:  “Piedade, misericórdia, afasta este flagelo tão perigoso para a mísera humanidade, te movam a  compaixão as lágrimas da inocência”.

(8) E Ele: “Ah! minha filha, só pela inocência tenho consideração pelos outros, só ela me arranca a  misericórdia e mitiga minha justa ira”.

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4-20

Outubro 15, 1900

Luta entre o confessor e Jesus pela crucificação de Luísa.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, o bendito Jesus fez-me ouvir a sua voz que dizia: (2) “Minha filha, esta manhã sinto toda a necessidade de ser confortado, ah, toma um pouco as  minhas penas sobre ti, e deixa-me repousar no teu coração!”

(3) E eu: “Sim meu Bem, torna-me partícipe das tuas dores, e enquanto eu sofro em teu lugar,  terás todo o tempo para te poder restaurar e para teres um doce repouso; só te peço que esperes  mais um pouco até que eu fique sozinha, porque me parece que ainda está o confessor, para que  ninguém me veja sofrer”.

(4) E Ele: “Que importa que esteja presente o pai, não seria melhor que em vez de ter alguem que  me alivie, tenha dois, você sofrendo e ele concordando comigo com minha mesma intenção?”  (5) Enquanto isso, vi o confessor que colocava a intenção da crucificação, e de imediato o Senhor,  sem o mínimo atraso me participou as penas da cruz. Depois de ter estado um pouco nesses  sofrimentos, o confessor chamou-me à obediência, Jesus retirou-se e eu tratava de submeter-me a  quem me ordenava. Quando em um instante, de novo veio o meu doce Jesus que me queria  submeter pela segunda vez às penas da crucifixão, e o pai não queria; e eu, quando me  uniformizava com Jesus, isto é a sofrer, Ele vinha; quando o confessor via que começava a sofrer,  com a obediência parava o sofrimento e Jesus se retirava, eu sofria uma pena grande ao vê-lo  retirar-se, mas fazia quanto mais por obedecer, e às vezes, como via presente ao confessor,  deixava-os fazer a Eles, esperando a ver quem vencia: a obediência ou Nosso Senhor. Ah,  parecia-me ver lutar a obediência e a Jesus, ambos potentes, capazes de poder enfrentar uma luta.  Depois de terem lutado, no momento de ver quem vencia, veio a Rainha Mãe, que se aproximando  do pai lhe disse:

(6) “Meu filho, esta manhã em que Ele mesmo quer que sofra, deixe-o fazer, de outra maneira não  serão livrados, nem sequer em parte dos castigos”.

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(7) Naquele momento, o pai cessou, como se se tivesse distraído em sustentar a luta, e Jesus  vencedor me sujeitou de novo às dores, mas com tal veemência e acerbos dores, que eu mesma  não sei como fiquei viva; Quando pensava que ia morrer, a obediência chamou-me novamente e  encontrei-me em mim mesma. Reconfortado o bendito Jesus, mas não contente ainda,  regressando queria repetir pela terceira vez, mas a obediência armando-se de força, desta vez se  fez vencedora, perdendo meu amado Jesus. Com tudo isto de vez em quando o tentava, quem  sabe e talvez pudesse vencer novamente Ele, tanto que não me dava calma, e devia dizer: “Mas  meu Senhor, fica um pouco quieto e deixa-me em paz; não vês que a obediência se pôs em armas,  e não quer ceder? Por isso tenha paciência, e se quiser repetir a terceira vez prometa-me que me  fará morrer”.

(8) E Jesus: “Sim, venha”.

(9) Eu disse ao pai e também nisto a obediência se tornou inexorável, apesar de que o meu doce  Bem me chamava dizendo: “Luísa vem”, eu lhe dizia que me chamava, mas me respondia com um  não determinante. Que obediência é esta que quer fazer em tudo, e sobre tudo, de senhora, quer se meter em coisas que a ela não lhe pertencem, como é o morrer; e além disso, bonita coisa,  expõe uma pobre infeliz aos perigos de morrer, faz-lhe tocar com a mão o porto da felicidade  eterna, E então para mostrar que em tudo sabe fazer de senhora, pela força que possui a detém e  a faz permanecer na mísera prisão do corpo, e se lhe perguntarem por que tudo isso, primeiro não  te responde, e depois em sua mudo linguagem te diz: “Por que? Porque sou senhora e tenho  império sobre tudo”. Parece que sim, quer estar em paz com esta bendita obediência, se necessita  uma paciência de santo, e não só, mas a mesma de Nosso Senhor; de outra maneira se está em  contínuas fricções, porque se trata de que quer tocar os extremos. Então vendo que não podia  vencer em nada, o bendito Senhor se acalmou diante da obediência e me deixou em paz, me  amenizou as penas que sofria e me disse:

(10) “Minha querida, nas dores que sofreste, quis fazer-te sentir o furor da minha justiça ao  derramá-la um pouco sobre ti. Se você pudesse ver com clareza o ponto até onde os homens a  fizeram chegar, e como o furor de minha justiça se armou contra eles, você tremeria dos pés a  cabeça, e não faria outra coisa que me pedir que chovessem sobre você as penas.

(11) Então parecia que me sustentava nos meus sofrimentos, e para me animar dizia-me:  (12) “Eu sinto-me melhor, e tu?”

(13) E eu: “Ah! Senhor, quem pode dizer o que sinto? , me parece como se tivesse sido triturada  dentro de uma máquina, sinto tal aniquilamento de forças, que se Tu não me infundes vigor não  posso recuperar”.

(14) E Ele: “Amada minha, é necessário que ao menos de vez em quando sintas com intensidade  as penas; primeiro por ti, porque por quanto bom seja um ferro, se se deixa largamente sem o pôr

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no fogo, sempre adquire algo de ferrugem; segundo por Mim, que se por longo tempo não me  derramava sobre ti, minha ira se ascendia em tal modo, que não teria nenhuma consideração, nem  livraria a ninguém, e se não pusesse sobre ti minhas penas, como poderia manter-te a palavra de  perdoar em parte ao mundo dos castigos?”

(15) Depois disso, o confessor veio chamar-me à obediência, e assim eu voltei em mim mesma.  + + + +

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Outubro 17, 1900

Uma alma sofredora e uma oração humilde, 

fazem perder toda a força a Jesus, 

e o torna tão débil de deixar-se atar por aquela alma. 

O aspecto da justiça. 

1) Ao vir o meu adorável Jesus, pareceu-me vê-lo tão sofredor que dava compaixão, e lançando-se  em meus braços me disse:

(2) “Minha filha, acalma o furor de minha justiça, de outra maneira”…

(3) Enquanto estava nisto, pareceu-me ver a justiça divina armada de espadas, de flechas de fogo,  que dava terror, e ao mesmo tempo a força com que pode agir. Por isso toda assustada disse:  “Como posso acalmar a tua ira se te vejo tão forte que podes num simples instante aniquilar céu e  terra?”

(4) E Ele: “No entanto uma alma sofredora, e uma oração humildíssima, fazem-me perder toda a  minha força, e fazem-me tão débil que me deixo atar por essa alma como a ela parece e lhe e  apraz.

(5) E eu: “Ah, Senhor, em que aspecto tão feio se faz ver a justiça!”.

(6) E Jesus acrescentou: “Não é feia, se tu a vês tão armada, isto foi provocado pelos homens,  mas em si mesma é boa e santa, como os meus outros atributos, porque em Mim não pode haver  sequer a sombra do mal; é verdade que seu aspecto parece áspero, pungente, amargo, mas os  frutos são doces e saborosos”.

(7) Dito isto desapareceu.

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Outubro 20, 1900

A Justiça quer a satisfação do que é injusto, 

assim o amor quer o alívio de amar e de ser amado. 

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus me fazia ver seus atributos e me disse:  (2) “Minha filha, todos meus atributos estão em contínua atitude para com os homens, e todos  exigem o seu tributo”.

(3) Depois acrescentou: “Assim como a justiça quer a satisfação do que é injusto, assim meu amor

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quer o desabafo de amar e de ser amado. Tu põe-te na justiça e reza, repara, e quando receberes  algum golpe tem a paciência de suportá-lo; depois passa ao meu amor e dá-me o desafogo do  amor, de outra maneira ficaria desiludido no amor. Desta vez sinto toda a necessidade de  desabafar o meu amor reprimido, e se me fosse dado fazê-lo, definharia e desmaiaria”.

(4) Enquanto dizia isto começou a me beijar, a me acariciar e a me fazer tantas que não tenho  palavras para saber manifestá-las; e queria que eu lhe correspondesse, dizendo-me:  (5) “Assim como Eu sinto a necessidade de desabafar contigo em amor, assim tu tens necessidade  de desabafar em amor Comigo, não é verdade?”

(6) Então, depois de nos termos descarregado mutuamente no amor, desapareceu. ++++

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Outubro 22, 1900

Dúvidas de Luisa sobre as coisas que lhe acontecem, 

ela quer saber se são de Deus ou do demônio. 

A obediência não tem razão humana, sua razão é divina.

(1) Esta manhã me encontrava toda oprimida e com temor de que não fosse Jesus bendito que  operava em mim, mas o demônio, mas apesar disso não sabia conter-me em buscá-lo e desejá-lo,  e assim que se dignou vir me disse:

(2) “O que é que garante que o sol nasce senão a luz que põe em fuga as trevas noturnas e o calor  que expande na mesma luz? Se se dissesse que o sol nasceu, e no entanto parece mais densa a  escuridão da noite e não se sente nenhum calor, o que dirias tu? Que não é sol verdadeiro o que  saiu, senão falso, porque não se vêem os efeitos do sol. Agora, se a minha visão te afasta das  trevas e te mostra a luz da verdade, fazendo-te sentir o calor da minha graça, por que queres  cansar-te o cérebro pensando que não sou Eu quem obra em ti?”

(3) Acrescento porque assim o quer a obediência, que no outro dia estava pensando que se de  verdade acontecem tantos castigos que escrevi nestes cadernos, quem terá coração de ser  espectador? E o bendito Senhor claramente me fez compreender que alguns se realizarão  enquanto ainda estiver sobre esta terra, outros depois de minha morte, e alguns outros serão  diminuídos em parte. Então fiquei um pouco mais aliviada por pensar que não era a minha vez de  ver todos. Aqui está satisfeita a senhora obediência, que começou a franzir a testa, a dar lamentos  e a repreender; parece que esta bendita senhora não quer em nenhum modo adaptar-se à razão  humana, não quer ocupar-se de nenhuma circunstância, mas parece que não tem razão, e na  verdade é um martírio ter que ver com alguém que não tem razão, porque para poder estar um  pouco bem é necessário perder a própria razão, porque a senhorita vai se gabando: “Eu não tenho  nenhuma razão humana, por isso não sei adaptar-me à maneira humana, minha razão é divina, e  quem quiser viver em paz Comigo é absolutamente necessário que perca a sua, para fazer

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aquisição da minha”. Assim é como raciocina a senhorita, o que se pode dizer? É melhor calar-se,  porque ao direito ou ao contrário sempre quer a razão, e se gloria de negá-la sempre.

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Outubro 23, 1900

O verdadeiro amor nunca está sozinho.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me fazia ver o confessor que  punha a intenção de me fazer sofrer a crucificação; minha pobre natureza sentia repugnância, não  porque não quisesse sofrer, senão por outras razões que não é necessário descrevê-las aqui, Mas  Jesus, como lamentando-se de mim dizia ao pai:

(2) “Não quer submeter-se”.

(3) Eu me enterneci ante o lamento, o padre renovou a ordem e me submeti. Depois de ter sofrido  um pouco, como via o pai presente, o Senhor disse:

(4) “Amada minha, eis o símbolo da Santíssima Trindade: Eu, o Pai e tu. Meu amor desde “ab  eterno” jamais esteve sozinho, senão sempre unido em perfeita e recíproca união com As Divinas  Pessoas, porque o verdadeiro amor jamais está sozinho, senão que produz outros amores e goza  o ser amado pelos amores que ele mesmo produziu, e se está só, ou não é da natureza do amor  divino, ou bem está só aparentemente. Se soubesses quanto me agrado e me agrada poder  continuar nas criaturas aquele amor que desde “ab eterno” reinava e reina ainda agora na  Santíssima Trindade. Eis por que digo que quero o consentimento da intenção do confessor unido  comigo, para poder continuar mais perfeitamente este amor que simboliza a Trindade  Sacrossanta”.

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Outubro 29, 1900

A coisa mais essencial e necessária numa alma é a caridade. 

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação e de silêncio, esta manhã ao vir o bendito Jesus  disse: “Vê-se que não é mais Vontade tua o meu estado”.

(2) E Ele: “Sim, sim; levanta-te e vem aos meus braços”.

(3) Por este falar esqueci o estado penoso dos dias passados e corri a seus braços, e como se via  o lado aberto disse: “Meu amado, já faz algum tempo que não me admitiste a chupar do teu lado,  peço-te que me admitas hoje”.

(4) E Jesus: “Amada minha, bebe pois ao teu prazer e cura-te”.

(5) Quem pode dizer minha alegria e avidez com que pus minha boca para beber daquela fonte

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divina? Depois de beber até não ter mais onde colocar nem sequer outra gota, separei-me, e Jesus  me disse:

(6) “Saciaste-te? Se não, segue bebendo”.

(7) E eu: “Saciada não, porque dessa fonte quanto mais se bebe, mais cresce a sede, só que  sendo muito pequena minha capacidade, não sou capaz de conter mais”.

(8) Depois disto via com Jesus outras pessoas, e disse:

(9) “A coisa mais essencial e necessária numa alma é a caridade; se não há caridade, acontece como aquelas famílias ou reinos que não têm governantes, tudo está transtornado, as coisas mais  belas ficam obscurecidas, não se vê nenhuma harmonia, quem quer fazer uma coisa e quem outra.  Assim acontece na alma onde não reina a caridade, tudo está em desordem, as mais belas  virtudes não harmonizam entre elas, por isso a caridade se chama rainha, porque tem regime,  ordem, e dispõe tudo”.

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Outubro 31, 1900

A medicina mais saudável e eficaz nos 

momentos mais tristes da vida é a resignação.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me fora de mim mesma, e encontrei a Rainha  Mãe; e, vendo-me, começou a falar da justiça, de como está prestes a descarregar-se com toda a  ira contra as nações; disse muitas coisas sobre isto, mas não tenho palavras para o expressar, e  enquanto estava aí via todo o céu cheio de pontas de espadas contra o mundo. Em seguida,  acrescentou:

(2) “Minha filha, tu, muitas vezes desarmaste a justiça divina, e te contentaste em receber sobre ti  seus golpes, agora que a vês no cúmulo do furor não te desanimes, senão sê animosa, com ânimo  cheio de santa fortaleza entra nessa justiça e dá-lhe, não tenhas temor de as espadas, do fogo e  de tudo o que possas encontrar; para obter este propósito, se te vires ferida, golpeada, queimada,  rejeitada, não retrocedas, senão que te seja de estímulo para prosseguir. Olha, para fazer isto vim  Eu em tua ajuda trazendo-te uma vestidura, com a qual, usando-a tua alma, adquirirás valor e  fortaleza para não temer nada”.

(3) Dito isto, tirou do seu manto uma veste entrelaçada de ouro jaspeado de várias cores e vestiu a  minha alma; e deu-me o seu Filho, dizendo:

(4) “E eis que, como penhor do meu amor, te dou em custódia o meu amadíssimo Filho, para que o  guardes, o ames e o contentes em tudo; procure fazer as minhas vezes, para que encontrando em  ti toda a sua alegria, o desgosto que lhe dão os demais não lhe possa causar tanta pena. (5) Quem pode dizer como fiquei feliz e fortificada ao ser vestida por essa vestidura, e com a  amorosa prenda entre meus braços? Felicidade maior certamente não poderia desejar. Então a

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Rainha Mamãe desapareceu e eu fiquei com meu doce Jesus. Tendo girado um pouco pela terra, e  entre tantos encontros nos encontramos com uma alma em poder do desespero; tendo compaixão  dela nos aproximamos, e Jesus quis que eu lhe falasse para lhe fazer compreender o mal que  fazia, e com uma luz que o próprio Jesus me infundia lhe disse:

(6) “A medicina mais proveitosa e eficaz nas circunstâncias mais tristes da vida é a resignação. Ao  ficares desesperado, em vez de tomares o remédio, estás a tomar o veneno para matar a tua alma.  Não sabes tu que o remédio mais oportuno para todos os males, a coisa principal que nos faz  nobres, nos diviniza e nos assemelha a Nosso Senhor e tem virtude de converter em doçura as  mesmas amarguras, é a resignação? Que coisa foi a vida de Jesus sobre a terra senão um  continuar o Querer do Pai, e enquanto estava na terra estava unido com o Pai no Céu? Assim a  alma resignada, enquanto vive na terra, a alma e a sua vontade está unida com Deus no Céu.  Pode-se dar coisa mais querida e desejável que esta?”

(7) Aquela alma, como sacudida começou a se acalmar, e eu junto com Jesus nos retiramos. Seja  tudo para glória de Deus e seja sempre bendito.

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4-27

Novembro 2, 1900

Quem habita em Jesus, nada no oceano  

de todos os contentamentos 

(1) Esta manhã me sentia toda oprimida e aflita, com a adição que o bendito Jesus não se fazia  ver; depois de muito esperar saiu de dentro de meu interior, e abrindo-me seu coração me punha  dentro dizendo:

(2) “Fica dentro de Mim, só aqui encontrarás a verdadeira paz e estável contente, porque dentro de  Mim não penetra nada do que não pertence à paz e felicidade, e quem habita em Mim não faz  outra coisa que nadar no oceano de todos os contentamentos; enquanto ao sair de Mim, ainda que  a alma não se desse ao trabalho de nada, só de ver as ofensas que me fazem e o modo como me  desgostam, já vem a participar nas aflições, e fica perturbada por isso; por isso tu de vez em  quando esquece de tudo, entra dentro de Mim e vem a saborear minha paz e felicidade, depois sai  fora e faz-me o ofício de reparadora minha”.

(3) Dito isto, desapareceu

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Novembro 8, 1900

A obediência restitui à alma o seu estado original. 

(1) Continuando seus habituais atrasos ao vir, eu sentia todo o peso de sua privação; quando

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subitamente veio e sem saber por que me fez esta pergunta:

(2) “Você me saberia dizer por que a obediência é tão glorificada e causa tanta honra de imprimir  na alma a imagem divina?”

(3) Eu toda confusa não soube o que responder, mas o bendito Jesus com uma luz intelectual que  me mandava, me respondeu Ele mesmo, mas como é por meio de luz e não de palavras, não  tenho palavras para expressá-lo, mas a obediência quer que o tente para ver se consigo escrevê lo, ainda que acredito que direi disparates e escreverei coisas que não concordarão, mas ponho  toda minha fé na obediência, especialmente que são coisas que se referem diretamente a ela, e  agora começo a tentar. Então parecia que me dizia:

(4) “A obediência é tão glorificada porque tem virtude de descobrir, desde as raízes, as paixões  humanas, destrói na alma tudo o que é terreno e material, e com grande honra sua restitui à alma  seu estado original, isto é, como foi criada por Deus na justiça original, antes de ser expulsa do  Éden terrestre, e neste sublime estado a alma se sente Fortemente atraída por tudo o que é bem,  sente conatural a ela tudo o que é bom, santo e perfeito, com um horror grandíssimo mesmo à  sombra do mal. Com esta natureza feliz, recebida pela peritíssima mão da obediência, a alma não  experimenta mais dificuldade para seguir as ordens recebidas, muito mais que quem manda, deve  mandar sempre o bem, e eis como a obediência sabe imprimir bem a imagem divina, e não só isso,  mas muda a natureza humana na divina, porque como Deus é bom, santo e perfeitíssimo, e é  levado a tudo o que é bom e odeia sumamente o mal, assim a obediência tem virtude de divinizar a  natureza humana e de fazer-lhe adquirir as propriedades divinas; e quanto mais o alma se deixa  guiar por esta peritíssima mão, tanto mais adquire de divino e destrói o próprio ser. Por isso é tão  glorificada e honrada, tanto que Eu mesmo me submeti a ela e por ela fiquei honrado e glorificado,  e restituí por meio dela a honra e a glória a todos meus filhos que pela desobediência tinham  perdido”.

(5) Isto mais ou menos soube manifestar, o resto tenho na mente mas me faltam as palavras,  porque é tanta a altura do conceito desta virtude, que minha pobre linguagem humana não sabe  adaptar-se a colocá-lo em palavras…

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4-29

Novembro 10, 1900  

Jesus ensina-lhe onde está o verdadeiro amor.  

(1) Continuava sem vir, e eu me sentia imersa na maior amargura, minha alma ficava dilacerada de  mil maneiras. Sentia como uma sombra junto a mim e ouvia a voz de meu adorável Jesus, mas  sem vê-lo, que me disse:

(2) “O amor mais perfeito está na verdadeira confiança que se deve ter para o objeto amado, e  ainda que se visse perdido o objeto que se ama, então mais que nunca é tempo de demonstrar

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esta viva confiança. Este é o meio mais fácil para se colocar em posse do que ardentemente se  ama”.

(3) Disse isto desapareceu a sombra e a voz. Quem pode dizer a pena que sinto por não ter visto o  meu amado Bem?

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4-30

Novembro 11, 1900

Saindo do Divino Querer se perde o conhecimento 

de Deus e de si mesmo.

(1) Parece que o Senhor bendito quer exercitar-me na paciência, não tem compaixão nem de  minhas lágrimas nem de meu dolorosíssimo estado. Eu sem Ele me vejo imersa nas maiores  misérias, creio que não haja alma mais perversa que a minha, se bem que estando com Jesus me  vejo mais que nunca má, mas como me encontro com Ele que possui todos os bens, minha alma  encontra o remédio a todos os males. Assim que faltando Ele, tudo para mim termina, não há  nenhum remédio para minhas grandes misérias, muito mais me oprime o pensamento de que não  seja mais Vontade sua, meu estado, e não estando em seu Querer me parece estar fora do centro,  e Muitas vezes penso em como sair. Agora, estando com estas disposições ouvi-o atrás de minhas  costas que me dizia:

(2) “Cansaste-te, não é verdade?”

(3) E eu: “Sim Senhor, sinto-me bastante cansada”.

(4) E Ele continuou: “Ah! minha filha, não saias de meu Querer, porque saindo de dentro Dele vens  a perder meu conhecimento, e não conhecendo-me vens a perder o conhecimento de ti mesma,  porque só se distingue com clareza se há ouro ou lama com os reflexos da luz, porque se tudo é  trevas facilmente se podem confundir os objetos. Agora, luz é meu Querer, que te dando meu  conhecimento, aos reflexos desta luz vem a conhecer quem você é, e vendo a tua fraqueza, o teu  puro nada, agarras-te aos meus braços e junta-te ao meu Querer, vives comigo no Céu. Mas se  quiser sair de meu Querer, a primeira coisa que perderá é a verdadeira humildade, e depois virá a  viver sobre a terra e será obrigada a sentir o peso terreno, a gemer e suspirar como todos os  outros desventurados que vivem fora de minha Vontade”.

(5) Dito isto foi retirado sem sequer ser visto. Quem pode dizer o rasgo da minha alma?  + + + +

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Novembro 13, 1900

Vê as muitas misérias humanas, o rebaixamento e 

despojamento da Igreja a mesma degradação dos sacerdotes.

(1) Depois de ter passado vários dias de privações amargas, tendo recebido a santa comunhão,

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no meu íntimo vi três crianças; era tanta a sua beleza e igualdade, que pareciam os três nascidos  de um mesmo parto. Minha alma ficou surpreendida e estupefata ao ver tanta beleza encerrada no  círculo de meu interior tão miserável, e mais crescia meu assombro porque via a estes três  Meninos como se tivessem na mão muitas cordas de ouro, com as quais se amarravam totalmente  a mim e ligavam todo o meu coração a eles. Então, como se cada um tomasse seu lugar,  começaram a discutir entre eles; mas eu não entendia e não encontro palavras para poder repetir  sua altíssima linguagem, só posso dizer que em um abrir e fechar de olhos vi as tantas misérias  humanas, a degradação e despojamento da Igreja, a mesma degradação dos sacerdotes, que em  vez de ser luz para os povos, são trevas, então toda amarga por estas cenas tenho dito:  “Santíssimo Deus, dá a paz à Igreja, faz que lhe restituam o que lhe tiraram, não permitas que os  maus riam nas costas dos bons”. E Enquanto dizia isto, as crianças disseram:

(2) “São arcanos incompreensíveis de Deus”.

(3) Dito isto desapareceram e eu retornei em mim mesma.

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Novembro 14, 1900

A Rainha Mãe conforta Jesus. Transporta-a para o Purgatório.

(1) Esta manhã ao vir meu adorável Jesus, me transportou para fora de mim mesma e me pediu  um consolo a suas penas, eu, não tendo nada disse: “Meu dulcíssimo amor, se estivesse a Rainha  Mamãe poderia reanimar-te com seu leite, porque eu não tenho outra coisa que misérias”. Nesse  momento veio a Santíssima Rainha, e eu imediatamente lhe disse: “Jesus sente a necessidade de  um alívio, dá-lhe o teu dulcíssimo leite para que fique aliviado”. Então nossa amadíssima Mamãe  lhe deu seu leite, e meu amado Jesus ficou todo aliviado. Depois dirigindo-se a mim me disse:

(2) “Eu me sinto confortado, também você se aproxime dos meus lábios e beba parte desse leite  que recebi de minha Mãe, para que possamos ficar ambos reanimados”.

(3) Assim o fiz; mas quem pode dizer a virtude daquele leite que saía a borbotões de Jesus, e que  continha tanta que parecia uma fonte imensa, que embora bebessem todos os homens não  diminuiria em nada? Depois disto giramos um pouco pela terra, e em um lugar parecia que  estavam pessoas sentadas ao redor de uma mesinha que diziam: “Haverá uma guerra na Europa,  e o que será mais doloroso é que será produzida por parentes”. Jesus escutava mas não dizia  nada a respeito disso; por isso não estou segura se acontecerá ou não, sendo os julgamentos  humanos mutáveis e o que hoje dizem amanhã desdizem. Depois transportou-me para dentro de  um jardim onde sobressaía um edifício grandíssimo, como se fosse um mosteiro, povoado de tanta  gente que era difícil contá-lo. Meu adorável Jesus à vista daquela gente se virou de costas e se  abraçou a mim, pondo sua cabeça apoiada em meu ombro junto ao pescoço e me disse:

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(4) “Minha querida, não me faça vê-las, senão sofreria muito”.

(5) Também eu o abracei, e aproximando-me de uma dessas almas disse: “Ao menos digam-me  quem são”. E ela respondeu: “Somos todas almas purgantes, e nossa libertação está condicionada  à satisfação daqueles piedosos legados que deixamos a nossos sucessores, e como não se  satisfazem nós estamos obrigadas a estar aqui, longe de nosso Deus; que pena é para nós, porque  Deus é para nós um Ser necessário, do qual não podemos prescindir, sentimos uma contínua  morte que nos martiriza no modo mais impiedoso, e se não morremos é porque nossa alma não  está sujeita a isso, assim que sofredores como estamos, sendo privados de um objeto que forma  toda nossa vida, imploramos a Deus que faça sentir aos mortais uma mínima parte de nossas  penas, privando-os do que é necessário à manutenção da vida corporal, a fim de que aprendam  por sua própria conta como é doloroso estar privado do que é absolutamente necessário”.

(6) Depois disto, o Senhor levou-me para outro lugar, e eu, sentindo compaixão por aquelas almas,  disse: “Como, ó meu bom Jesus! Viraste o teu rosto daquelas almas benditas que tanto suspiram,  enquanto bastava só fazer-te ver para que ficassem livres das penas e ficassem beatificadas”.  (7) E Ele: “Ah minha filha, se Eu me mostrasse a elas, como não estão de todo purgadas não  teriam podido sustentar minha presença, e em vez de lançar-se entre meus braços, confundidas se  teriam retirado e não teria feito outra coisa que aumentar meu martírio e o seu. É por isso que eu  fiz assim”.

(8) Disse isso desapareceu.

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Novembro 16, 1900

Jesus tira-lhe o coração, e dá-lhe o seu amor por coração.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, o meu adorável Jesus fazia ver todo o meu interior  cheio de flores, como se fosse uma cabana, e a Ele que estava dentro, a divertir-se e a satisfazer se de tudo. Eu, vendo-o nessa atitude, disse-lhe: “Meu dulcíssimo Jesus, quando tomará este meu  coração para uniformizá-lo todo ao teu, de modo que possa viver da vida do teu coração?”  Enquanto dizia isto, meu sumo e único bem tomou uma lança e me abriu a parte que corresponde  ao coração; depois com suas mãos o tirou e olhava tudo para ver se estava despojado, e tinha as  qualidades para poder estar em seu santíssimo coração. Também eu o olhei, e com minha  surpresa vi impressa em uma parte a cruz, a esponja e a coroa de espinhos, mas querendo vê-lo  pela outra parte e por dentro porque parecia inchado, como se pudesse abrir-se, meu amado Jesus  me impediu dizendo:

(2) “Quero mortificar-te não deixando-te ver tudo o que derramei neste coração. Ah, sim, aqui,

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dentro deste coração estão todos os tesouros de minhas graças, que humana natureza pode  chegar a conter”.

(3) Naquele momento, encerrou-o em seu santíssimo coração, acrescentando:  (4) “Teu coração tomou posse em meu coração, e Eu por coração te dou meu amor, que te dará  vida”.

(5) E, aproximando-se daquela parte, mandou três suspiros contendo luz, que tomavam o lugar do  coração, e depois fechou a ferida, dizendo:

(6) “Agora mais que nunca te convém fixar-te no centro de meu Querer, tendo por coração só meu  amor; nem sequer por um só instante deves sair Dele, e meu amor só encontrará em ti o seu  verdadeiro alimento, se encontrar em ti, em tudo e por tudo, a minha Vontade, nela encontrará a  sua satisfação e a verdadeira e fiel correspondência”.

(7) E, aproximando-se da boca, mandou-me mais três suspiros, e, ao mesmo tempo, derramou um  doce licor que me embriagava. Então, como levado por entusiasmo dizia:

(8) “Olha, teu coração está no meu, assim que não é mais teu”.

(9) E me beijava e me voltava a beijar, e me fazia mil finezas de amor; mas quem pode dizê-las  todas? Parece-me impossível manifestá-las. Quem pode dizer o que sentia ao encontrar-me em  mim mesma? Só sei dizer que me sentia como se não fosse mais eu, sem paixões, sem  inclinações, sem desejos, toda abismada em Deus; na parte do coração sentia um frio sensível em  comparação com as outras partes.

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Novembro 18, 1900

A união do coração com o de Jesus faz passar 

ao estado de perfeita consumação.

(1) Jesus continua a ter o meu coração no seu coração, e de vez em quando se digne fazer-me ver  isso, fazendo festa como se tivesse feito uma grande aquisição, e nestes dias encontrando-me fora  de mim mesma, na parte que corresponde ao coração, em vez do coração vejo a luz que o bendito  Jesus me enviou naqueles três respiros. Depois, esta manhã, ao vir, mostrando-me o seu coração,  disse-me:

(2) “Amada minha, qual queres, o meu coração ou o teu? Se queres o meu, vais sofrer mais; mas  deves saber que fiz isto para te fazer passar a outro estado, porque quando se chega à união se  passa a outro estado, que é o da consumação, e a alma para passar a este estado de perfeita  consumação, tem necessidade, ou do meu coração para viver, ou do seu todo transformado no  meu, de outra maneira não pode passar a este estado de consumação”.

(3) E eu tremendo toda respondi: “Doce amor meu, minha vontade não é mais minha senão tua, faz  o que queiras e eu estarei mais contente”. Depois disto lembrei-me de algumas dificuldades do

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confessor, e Jesus vendo meu pensamento me fez ver como se eu estivesse dentro de um cristal,  e este impedia fazer ver aos demais o que o Senhor operava em mim, e adicionei:  (4) “Você só conhece o cristal e o que ele contém dentro, para os reflexos de luz; assim é para  você, quem traz a luz da crença vai tocar com a mão o que Eu faço em você, se não, você vai  perceber as coisas naturalmente”.

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Novembro 20, 1900

Devendo viver do coração de Jesus, Ele lhe dá regras 

para aprender um viver mais perfeito. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, meu adorável Jesus continua a fazer-me ver meu  coração no seu, mas tão transformado que não reconheço mais qual é o meu e qual é o de Jesus.  Ele se conformou perfeitamente com o seu, imprimiu-lhe todas as insígnias da Paixão, fazendo-me  entender que seu coração, desde que foi concebido, foi concebido com estas insígnias da Paixão,  tanto que o que sofreu no último de sua vida foi um transbordamento do que seu coração havia  sofrido continuamente. Pareceu-me vê-los como um assim o outro. Parecia-me ver o meu amado  Jesus ocupado em preparar o lugar onde devia pôr o coração, perfumando-o e adornando-o com  tantas flores diversas, e enquanto isso fazia me disse:

(2) “Amada minha, devendo viver do meu coração te convém empreender um modo de viver mais perfeito, por isso quero de ti:

(3) 1º Uniformidade perfeita à minha Vontade, porque jamais poderás amar-me perfeitamente até  que me ames com a minha mesma Vontade; melhor te digo que amando-me com a minha mesma  Vontade, chegarás a amar-me a Mim e ao próximo com o meu mesmo modo de amar.  (4) 2º Humildade profunda, pondo-te diante de Mim e das criaturas como a última de todas.  (5) 3º Pureza em tudo, porque qualquer mínima falta de pureza, tanto no amar como no agir, tudo  se reflete no coração, e este fica manchado, por isso quero que a pureza seja como o orvalho  sobre as flores ao despontar do sol, no qual se refletem os raios, transmuta essas pequenas gotas  como em tantas pérolas preciosas que encantam as pessoas. Assim todas suas obras,  pensamentos e palavras, batidas e afetos, desejos e inclinações, se adornadas pelo orvalho  celestial da pureza, tecerá um doce encanto não só aos olhos humanos, mas a todo o Empíreo.  (6) 4º A obediência vai unida com minha Vontade, porque se esta virtude se refere aos superiores  que te dei na terra, minha Vontade é obediência que se refere a Mim diretamente, tanto que se  pode dizer que a uma e a outra, ambas são virtude de obediência, com esta única diferença, que  uma se refere a Deus e a outra se refere aos homens, as duas têm o mesmo valor e não pode  estar uma sem a outra, pelo que às duas as deve amar da mesma forma”.

(7) Depois acrescentou: “Deves saber que de agora em diante viverás com meu coração, e deves

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entendê-lo a modo de meu coração, para encontrar em ti minhas complacências, por isso te  recomendo, porque não é mais teu coração, senão meu coração”.

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Novembro 22, 1900

Jesus coloca-se no lugar do coração de Luisa. 

Diz-lhe o alimento que quer dela. 

(1) Continua a fazer-se ver meu adorável Jesus. Esta manhã, tendo recebido a comunhão, via-o  dentro de mim, e os dois corações tão fundidos que pareciam um, e o meu dulcíssimo Jesus disse me:

(2) “Hoje decidi dar-te em lugar do coração, a Mim mesmo”.

(3) Naquele momento vi que Jesus tomava lugar naquele ponto onde está o coração, e de dentro  de Jesus recebia a respiração e sentia o batimento do coração; como me sentia feliz vivendo desta  maneira.

(4) Depois disto acrescentou: “Tendo eu tomado o lugar do coração, convém-te ter um alimento  sempre preparado para me nutrir, o alimento será meu Querer, e tudo o que te mortificarás e do  que te privarás por amor meu”.

(5) Mas quem pode dizer tudo o que em meu interior passou entre Jesus e eu, creio que é melhor  calar-me, de outra maneira sinto como se o estragasse. Com a minha língua não adestrada para  falar de graças tão grandes que o Senhor fez à minha alma, não me resta outra coisa que  agradecer ao Senhor que tem consideração de uma alma tão miserável e pecadora.

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Novembro 23, 1900

Modo no qual estão as almas em Jesus. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu amante Jesus me transportou para fora de mim mesma, e saindo de dentro de meu interior se fazia ver tão grande que absorvia nele toda a terra, e  estendia tanto sua grandeza que minha alma não encontrava o termo, sentia-me dispersa em  Deus, não só eu, mas todas as criaturas ficavam dispersas; e, oh, como parecia impróprio, que  afronta se faz a Nosso Senhor, que nós, pequenos vermes, vivendo n’Ele ousemos ofendê-Lo! Oh,  se todos pudessem ver o modo como estamos em Deus, como se cuidariam de não lhe dar nem  sequer a sombra de um desgosto! Depois se fazia tão alto que absorvia nele todo o Céu, assim  que em Deus mesmo via a todos os anjos e santos, ouvia seu canto, entendia muitas coisas da  felicidade eterna. Depois disto via que de Jesus Saíam muitos ribeiros de leite e eu bebia deles,  mas sendo eu muito restrita, e Jesus tão grande e alto que não tinha limite nem de grandeza nem

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de altura, não conseguia absorver tudo em mim; muitos corriam fora, embora permanecessem em  Deus mesmo, e eu sentia um desgosto por isso e teria querido que todos corressem a beber  destes ribeiros, mas escassíssimo era o número dos viadores que bebiam; nosso Senhor  desgostoso também por isso me disse:

(2) “Isto que vês é a misericórdia contida, e isto irrita principalmente a justiça; como não devo fazer  justiça, enquanto eles mesmos me impedem de misericórdia?”

(3) E eu, segurando as mãos dele, apertei-o e disse: “Não Senhor, não podes fazer justiça, não o  quero eu, e não querendo eu também Tu o queres, porque a minha vontade não é mais minha,  mas tua, e sendo tua, tudo o que eu não quero também Tu o queres; não me disseste Tu mesmo,  que devo viver em tudo e por tudo do teu Querer?”

(4) O meu falar desarmou o meu doce Jesus, diminuiu de novo e fechou-se dentro de mim, e eu  encontrei-me em mim mesma.

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Novembro 25, 1900

A natureza do verdadeiro amor é 

de transformar as penas em alegrias, 

as amarguras em doçuras.

(1) Demorando a vir o meu dulcíssimo Jesus, senti-me quase com temor, e ainda não vinha, mas  depois com a minha surpresa, tudo de improviso veio e me disse:

(2) “Amada minha, queres saber quando uma obra se faz pela pessoa amada? Quando  encontrando sacrifícios, amarguras e penas, tem virtude de mudá-las em doçuras e delícias,  porque esta é a natureza do verdadeiro amor, a de transformar as penas em alegrias, as  amarguras em doçuras, se se experimenta o contrário é sinal de que não é o verdadeiro amor que  opera. Oh, em quantas obras se diz: faço-o por Deus, mas nas dificuldades retrocedem! , com isto  fazem ver que não era por Deus, senão pelo próprio interesse e prazer que sentiam”.

(3) Depois ele adicionou: “Geralmente se diz que a própria vontade estraga todas as coisas e  infecta as obras mais santas, porém se esta vontade própria está conectada com a Vontade de  Deus, não há outra virtude que a possa superar, porque onde há vontade há vida no obrar o bem,  mas onde não há vontade há morte no obrar, ou bem se obrará fastidiosamente como se se  estivesse em agonia”.

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Dezembro 3, 1900

A natureza da Santíssima Trindade 

é formada de amor puríssimo, simplíssimo e comunicativo.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus entre os braços, e

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enquanto me deleitava em olhá-lo, sem saber como, do mesmo Menino saiu um segundo, e depois  de breves instantes um terceiro Menino, os dois semelhantes ao primeiro, embora diferentes entre  eles. Surpreendida ao olhar para isto, disse: “Ó, como se toca com a mão o mistério sacrossanto  da Santíssima Trindade, que enquanto sois Um, sois também Três!” Parecia-me que os Três me  diziam, mas ao sair a palavra formava uma só voz:

(2) “Nossa natureza está formada de amor puríssimo, simplíssimo e comunicativo, e a natureza do  verdadeiro Amor tem como propriedade especial produzir de si mesmo imagens todas semelhantes  na potência, na bondade, na beleza e em tudo o que ele contém, e só para dar um realce mais  sublime à nossa onipotência põe a marca da distinção, de modo que esta nossa natureza,  derretendo-se em amor, como é simples, sem nenhuma matéria que pudesse impedir a união, dela  forma Três e voltando a derreter forma Um só. E é tão certo que a natureza do verdadeiro Amor  tem isto de produzir imagens todas semelhantes a si, ou de assumir a imagem de quem se ama,  que a Segunda Pessoa ao redimir o gênero humano assumiu a natureza e a imagem do homem, e  comunicou ao homem a Divindade”.

(3) Enquanto isso diziam, eu distinguia muito bem o meu amado Jesus, reconhecendo n’Ele a  imagem da natureza humana, e só por Ele tinha a confiança de permanecer diante deles, senão  quem se atreveria? Ah, sim, me parecia que a humanidade assumida por Jesus havia aberto o  comércio à criatura, a fim de fazê-la subir até o trono da Divindade para ser admitida a sua  conversação, e obter reescritos de graças. Oh, que momentos felizes desfrutei, quantas coisas  compreendia! ; mas para escrever algumas coisas eu preciso descrevê-las quando a minha alma  se encontra com o meu amado Jesus, porque então me parece liberada do corpo, mas ao me  encontrar novamente aprisionada, as trevas da prisão, a distância do meu místico Sol, a pena de  não vê-lo, me tornam incapaz de descrevê-las e me fazem viver morrendo, mas sou obrigada a  viver atada, encarcerada neste mísero corpo. Ah! Senhor, tenha compaixão de uma miserável  pecadora que vive doente e prisioneira, rompe logo os muros desta prisão para voar a Ti e não  retornar mais.

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Dezembro 23, 1900

Diante da Santidade da Divina Vontade, 

as paixões não ousam apresentar-se, 

e perdem por si mesmas a vida.

(1) Depois de ter passado longos dias de silêncio entre o bendito Jesus e eu, senti um vazio dentro  de mim; e esta manhã ao vir disse-me:

(2) “Amada minha, o que queres dizer-me que tanto desejas falar Comigo?” (3) E eu a envergonhar-me Eu disse: “Meu doce Jesus, quero dizer-te que anseio ardentemente

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por te amar a Ti e ao teu Santo Querer, e se isto me concedes me farás totalmente feliz”. E Ele  agregou:

(4) “Tu em uma palavra tens agarrado tudo, pedindo-me o maior que há no Céu e na terra, e Eu,  neste Santo Querer desejo e quero principalmente te conformar, e para fazer que te seja mais doce  e agradável meu Querer, põe-te no círculo da minha Vontade e observa nela as suas diversas  virtudes e qualidades, detendo-te agora na Santidade do meu Querer, agora na bondade, agora na  humildade, agora na beleza, agora na pacífica morada que produz o meu Querer, e nestas paradas  que fizer adquirirá sempre mais novas e inauditas notícias de meu Santo Querer, e por isso ficará  tão atada e apaixonada, que não sairá nunca mais Dele, e isto te trará um grande proveito, porque  estando Tu na Minha Vontade não terás necessidade de combater com tuas paixões e de estar  sempre em armas contra elas, pois enquanto parece que morrem renascem novamente mais fortes  e vivas, senão que sem combater, sem estrondo, docemente morrem, porque diante da Santidade  da minha Vontade as paixões não se atrevem a apresentar-se, e perdem por si mesmas a vida, e  se a alma sente os movimentos das suas paixões, é sinal que não faz morada contínua nos confins  do meu Querer, que faz suas saídas, suas escapadinhas a seu próprio querer, e está obrigada a  sentir a peste da natureza corrupta. Enquanto que se estiver fixa em minha Vontade, estará livre de  tudo e sua única ocupação será me amar e ser amada por Mim”.

(5) Depois disto, olhando para o bendito Jesus, vi que tinha a coroa de espinhos e a tirei pouco a  pouco e a coloquei sobre a minha cabeça, e Ele me encaixou e desapareceu, e eu me encontrei  em mim mesma, com um desejo ardente de estar sempre em sua Santíssima Vontade.  + + + +

4-41

Dezembro 25, 1900

Vê o Nascimento de Jesus.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual me senti fora de mim mesma, e depois de ter virado  me encontrei dentro de uma caverna, e vi a Rainha Mãe que estava no momento de dar a luz ao  Menino Jesus. Que maravilhoso prodígio! Parecia-me que tanto a Mãe como o Filho estavam  mudados em luz puríssima, mas nessa luz distinguia-se muito bem a natureza humana de Jesus,  que continha em si a Divindade, que o servia como de véu para cobrir a Divindade, de modo que  abrindo o véu da natureza humana era Deus, e coberto com esse véu era homem, e eis o prodígio  dos prodígios: Deus e homem, homem e Deus, que sem deixar o Pai e o Espírito Santo vem  habitar conosco e toma carne humana, porque o verdadeiro amor nunca desune. Agora, me  pareceu que a Mãe e o Filho nesse felicíssimo instante ficaram como espiritualizados, e sem o  mínimo obstáculo Jesus saiu do seio materno, transbordando ambos em um excesso de amor, ou  seja, esses Santíssimos corpos transformados em Luz, sem o mínimo impedimento, Jesus luz saiu

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de dentro da luz Mãe, ficando sãos e intactos tanto o Um como a Outra, retornando depois ao  estado natural. Mas quem pode dizer a beleza do Menino, que nesse momento de seu nascimento  transcorria ainda externamente os raios de sua Divindade? Quem pode dizer a beleza da Mãe que  ficou toda absorvida naqueles raios Divinos? Me parecia que São José não estava presente no  momento do parto, mas que permanecia em outro canto da caverna, todo absorto naquele  profundo mistério, e se não viu com os olhos do corpo, viu muito bem com os olhos da alma,  porque estava arrebatado em êxtase sublime.

(2) Agora, no momento em que o Menino saiu à luz, eu teria querido voar para pegá-lo em meus  braços, mas os anjos me impediram, me dizendo que cabia à Mãe a honra de ser a primeira a  tomá-lo. Então a Virgem Santíssima como sacudida voltou em si, e das mãos de um anjo recebeu  o Filho em seus braços, o apertou tão forte no arrebatamento de amor em que se encontrava, que  parecia que o queria meter de novo nela, depois querendo dar um desabafo a seu ardente amor, o  pôs a pôs a mamar de seus seios. Entretanto eu permanecia toda aniquilada, esperando ser  chamada para não receber outra repreensão dos anjos. Então a Rainha me disse:

(3) “Vem, vem tomar a teu amado e gozar lo também tu, desafoga com Ele teu amor”. Assim que  disse isto me aproximei, e a Mamãe o pôs nos braços. Quem pode dizer minha alegria, os beijos,  os abraços, as ternuras? Depois que desabafei um pouco, disse-lhe: “Meu amado, Tu bebeste leite  de nossa Mãe, torna-me partícipe”. E Ele condescendente, de sua boca derramou parte desse leite  na minha, e depois me disse:

(4) “Amada minha, Eu fui concebido unido à dor, nasci à dor e morri na dor, e com os três cravos  com que me crucificaram cravei as três potências: inteligência, memória e vontade daquelas almas  que desejam me amar, fazendo-as todas atraídas a Mim, porque a culpa as tinha tornado doentes,  dispersas do seu Criador e sem nenhum freio”.

(5) E enquanto dizia isso, deu uma olhada no mundo e começou a chorar suas misérias. Eu,  vendo-o chorar disse: “Amável Menino, não entristeça uma noite tão alegre com teu pranto a quem  te ama, em lugar de dar desabafo ao pranto demos desafogo ao canto”. E assim dizendo

condescendente, de sua boca derramou parte desse leite na minha, e depois me disse: (4) “Amada minha, Eu fui concebido unido à dor, nasci à dor e morri na dor, e com os três cravos  com que me crucificaram cravei as três potências: inteligência, memória e vontade daquelas almas  que desejam me amar, fazendo-as todas atraídas a Mim, porque a culpa as tinha tornado doentes,  dispersas do seu Criador e sem nenhum freio”.

(5) E enquanto dizia isso, deu uma olhada no mundo e começou a chorar suas misérias. Eu,  vendo-o chorar disse: “Amável Menino, não entristeça uma noite tão alegre com teu pranto a quem  te ama, em lugar de dar desabafo ao pranto demos desafogo ao canto”. E assim dizendo comecei  a cantar; Jesus distraiu-se ao ouvir-me cantar e deixou de chorar. Ao terminar meu verso Ele

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cantou o seu, com uma voz tão forte e harmoniosa, que todas as demais vozes desapareciam ante  sua voz dulcíssima. Depois disto pedi ao Menino Jesus pelo meu confessor, por aqueles que me  pertencem, e finalmente por todos, e Ele parecia todo condescendente. Enquanto eu estava neste  desapareceu e eu voltei em mim mesma.

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4-42

Dezembro 26,1900

Continua na gruta 

(1) Ao continuar a ver o Santo Menino, via a Rainha-Mãe de um lado e São José do outro, que  estavam a adorar profundamente o Infante divino. Estando todos atentos a Ele, parecia-me que a  contínua presença do Menino os tinha absortos em êxtase contínuo, e se trabalhassem era um  prodígio que o Senhor operava neles, de outra maneira teriam ficado imóveis, sem poder  externamente atender a seus deveres. Também eu fiz a minha adoração e encontrei-me em mim  mesma.

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Dezembro 27, 1900

Deus não está sujeito a mudar-se, o demônio 

e a natureza humana freqüentemente se mudam 

1) Esta manhã me encontrava com temor sobre meu estado, que não fosse o Senhor que operasse  em mim, com o agregado de que não se dignava vir; então, depois de muito esperar, assim que o  vi lhe expus meu temor e Ele me disse:

(2) “Minha filha, antes de tudo, para te pôr neste estado está o concurso de minha potência, e  depois, quem te teria dado a força, a paciência de estar por tão longo tempo neste estado dentro  de uma cama? A simples perseverança é um sinal certo de que a obra é minha, porque somente  Deus não está sujeito a mudar-se, mas o demônio e a natureza humana muito freqüentemente se  mudam, e o que hoje amam, amanhã aborrecem, e o que hoje aborrecem, amanhã amam e  encontram nisso sua satisfação”.

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Janeiro 4, 1901

Estado infeliz de uma alma sem Deus.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de perturbação, sentia-me dentro de mim  um místico inferno; sem Jesus todas as minhas paixões saíram à luz, e expandindo cada uma as  suas trevas obscureceram-me de tal maneira, que não sabia mais onde me encontrava. Quão  infeliz é o estado de uma alma sem Deus! Basta dizer que sem Deus a alma sente vivo dentro de si

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o inferno; tal era meu estado, me sentia dilacerar a alma por penas infernais. Quem pode dizer o  que passei? Para não me alongar passo adiante. Então, esta manhã, tendo comungado e estando  no máximo da aflição, senti mover-me dentro de mim a Nosso Senhor, eu ao ver sua imagem quis  ver se era de madeira, ou estava vivo, de carne; olhei e era o Crucificado vivo, de carne, que  olhando para mim disse:

(2) “Se minha imagem dentro de você fora de madeira, o amor seria aparente, porque só o amor  verdadeiro e sincero, unido à mortificação, me faz renascer vivo, crucificado no coração de quem  me ama”.

(3) Eu, ao ver o Senhor, teria querido afastar-me de Sua presença, tão má me via, mas Ele  prosseguiu dizendo:

(4) “Para onde queres ir? Eu sou luz, e minha luz onde quer que vá te investe por todas partes”.  (5) À presença de Jesus, ante sua luz, a sua voz, minhas paixões desapareceram, não sei eu  mesma para onde se foram, fiquei como uma menina e retornei em mim mesma, toda mudada.  Seja tudo para glória de Deus e para bem da minha alma.

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Janeiro 5, 1901

A Humanidade de Jesus foi feita expressamente 

para obedecer e destruir a desobediência. Luísa conforta a Jesus. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, via o confessor que punha a intenção da crucificação, eu  temia submeter-me, mas Jesus me disse:

(2) “Que queres de Mim? Eu não posso fazer mais que obedecer, porque minha Humanidade foi  feita expressamente para obedecer e destruir a desobediência, e estando tão unida Comigo esta  virtude, que em Mim se pode dizer que a obediência é natureza, e o distintivo para Mim mais  querido e glorioso, tanto, que se minha Humanidade não tivesse isto como próprio, a aborreceria e  jamais me haveria unido com Ela. Então, queres tu desobedecer? Podes fazê-lo, mas o farás tu,  não Eu”.

(3) Eu, toda confusa ao ver um Deus tão obediente disse: “Também eu quero obedecer”. E  submeti-me, e Jesus me participou as dores da cruz.

(4) Depois disso ele me transportou para fora de mim mesma e Jesus bendito me deu um beijo, e  enquanto isso saiu um hálito amargo, e estava em atitude de querer derramar suas amarguras,  mas não o fez, porque para fazê-lo queria que eu lhe pedisse. Eu imediatamente disse: “Quer  alguma reparação? vamos fazê-la juntos, assim minhas reparações junto às tuas terão seus  efeitos, porque por mim só acredito que te desgostarão mais”. Então tomei a sua mão, que jorrava  sangue, e, beijando-a, recitei o Laudate Dominum com a Glória Pátria; Jesus rezou uma parte e eu

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a outra, para reparar as tantas más obras que se fazem, colocando a intenção de louvá-lo tantas  vezes por quantas ofensas recebe pelas más obras. Como era comovente ver Jesus orar! Depois  fiz o mesmo à outra mão, colocando a intenção de louvá-lo tantas vezes por quantas ofensas  recebe pelos pecados de ação. Em seguida os pés com a intenção de O louvar tantas vezes por  quantos passos maus e por tantos caminhos tortos percorridos, mesmo sob aspecto de piedade e  santidade. Ao último o coração, com a intenção de louvá-lo tantas vezes por quantas às vezes o  coração humano não bate para Deus, não ama a Deus, não deseja a Deus. Meu amado Jesus  parecia todo reconfortado com estas reparações feitas junto com Ele, mas não contente ainda,  parecia que queria verter, e eu disse: “Senhor, se queres verter, peço-te que o faças”. E Ele  derramou suas amarguras, e depois acrescentou:

(5) “Minha filha, quanto me ofendem os homens, mas virá o tempo em que os castigarei de modo  que sairão muitos vermes (homens vis e desprezíveis) que produzirão nuvens de mosquitos  (pessoas de corpo minúsculo) e muito os oprimirão. Então, depois sairá o Papa”.  (6) E eu: “E por que o Papa vai sair?”

(7) E Ele: “Sairá para consolar os povos, que oprimidos, cansados, abatidos, traídos por tantas  falsidades, buscarão eles mesmos o porto da verdade, e todos humilhados pedirão ao Santo Padre  que vá no meio deles para libertá-los de tantos males e colocá-los no porto da salvação”.  (8) E eu: “Senhor, isto acontecerá depois das guerras que outras vezes Tu disseste?”  (9) E Ele: “Sim”.

(10) E eu: “Como gostaria de ir antes que estas coisas aconteçam”.

(11) E Ele: “E então, para onde irei entreter-me?”

(12) “Ah Senhor, há tantas almas boas com as quais podes entreter-te, que comparando-me eu  com elas, oh! quão má me vejo”. Mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu retornei em  mim mesma.

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Janeiro 6, 1901

Jesus comunica-se aos três magos 

com o amor, com a beleza e com a potência.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, parecia-me ver quando os santos Magos chegaram à  caverna de Belém; assim que chegaram à presença do Menino, Ele se deleitou em fazer brilhar  externamente os raios de sua Divindade, comunicando-se aos Magos em três modos: Com o amor,  com a beleza e com a potência. De modo que ficaram arrebatados e prostrados ante a presença do  Menino Jesus; tanto, que, se o Senhor não tivesse retirado a seu interior os raios de sua Divindade,  teriam permanecido ali para sempre sem poder se mover mais. Então, assim que o Menino retirou  a Divindade, voltaram em si mesmos os santos Magos, sacudiram-se estupefatos ao ver um

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excesso de amor tão grande, porque nessa luz o Senhor lhes tinha feito compreender o mistério da  Encarnação. Depois levantaram-se e ofereceram os dons à Rainha Mãe, e Ela falou longamente  com eles, mas não sei dizer tudo o que disse, só recordo que lhes inculcou fortemente não só sua  salvação, senão que tomassem a peito a salvação de seus povos, não tendo medo nem mesmo de  expor suas vidas para obter a tentativa.

(2) Depois disso eu me aposentei em mim mesma e me encontrei com Jesus, e Ele queria que eu  lhe dissesse alguma coisa, mas eu parecia tão ruim e confusa que não me atrevia a dizer-lhe nada;  então vendo que não dizia nada, Ele mesmo continuou falando sobre os Santos magos me  dizendo:

(3) “Ao ter-me comunicado em três modos aos Magos, obtive três efeitos, porque jamais me  comunico às almas inutilmente, senão que sempre recebem algum proveito. Então, comunicando me com o amor obtiveram o desapego de si mesmos, com a beleza obtiveram o desprezo das  coisas terrenas, e com a potência ficaram seus corações atados a Mim, e obtiveram a coragem de  arriscar o sangue e a vida por Mim”.

(4) Depois acrescentou: “E tu, o que queres? Diz-me, amas-me muito? Como gostarias de me  amar?”.

(5) E eu, não sabendo o que dizer, aumentando a minha confusão, disse: “Senhor, não quero outra coisa que a Ti, se me perguntares se eu te amo, não tenho palavras para saber o que dizer, só sei  dizer que sinto esta paixão de que ninguém me pode ganhar a amar-te, e que eu seja a primeira a  amar-te acima de todos, e que nenhum me possa superar, mas isto ainda não me agrada, para  estar contente quereria amar-te com teu mesmo amor, e assim poder amar-te como te amas Tu  mesmo. ¡ Ah sim! Só então cessariam meus temores sobre o amor”.

(6) E Jesus, contente, pode-se dizer dos meus desatinos, estreitou-me tanto a Ele, de modo que  me via dentro e fora transfundida n’Ele, e comunicou-me parte do seu amor. Depois disto voltei em  mim mesma, e me parecia que por quanto amor me é dado, tanto possuo a meu Bem; e se pouco  o amo, pouco o possuo.

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Janeiro 9, 1901

Jesus quere-a unida a Ele como um raio ao sol,  

do qual recebe a vida, o calor e o esplendor.  

(1) Esta manhã me sentia toda oprimida e esmagada, tanto que estava em busca de alívio; meu  único Bem me fez esperar longamente sua vinda, e ao vir me disse:

(2) “Minha filha, não tomei Eu sobre Mim por amor de ti tuas paixões, misérias e fraquezas? E tu não desejarias tomar sobre ti as dos demais por amor meu?”

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(3) Depois acrescentou: “O que quero é que você esteja sempre unida Comigo, como um raio de  sol que está sempre fixo no centro do sol, e que dele recebe a vida, o calor e o esplendor.  Suponhamos que um raio se possa separar do centro do sol, no que se converteria? Assim que  saísse perderia a vida, a luz e o calor, e voltaria às trevas reduzindo-se a nada. Tal é a alma,  enquanto está unida Comigo, no meu centro, pode-se dizer que é como um raio de sol que vive e  recebe luz do sol, caminha onde quer, em suma, está em tudo à disposição e à vontade do sol; se  depois se distrai de Mim, desune-se, fica toda em trevas, fria, e não sente em si aquele impulso  supremo de Vida Divina”.

(4) Dito isto desapareceu.

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Janeiro 15, 1901

Jesus diz-lhe que ela forma o seu maior martírio.  

(1) Como nos dias passados meu amado Jesus se fez ver de certo modo zangado com o mundo,  esta manhã ao não vê-lo vir pensava entre mim: “Quem sabe, talvez não venha porque quer  mandar algum castigo, e que culpa tenho eu de que, como quer mandar castigos não se digna vir a  mim? Que coisa bonita, que enquanto quer castigar os outros, dá-me a mim o maior dos castigos,  que é a sua privação”. Agora, enquanto dizia estes e outros desatinos, meu amável Jesus apenas  se fez ver me disse:

(2) “Minha filha, tu forma para Mim o maior martírio, porque devo mandar algum castigo não posso  estar contigo, porque me atas por toda parte e não queres que faça nada, e não vindo, tu me  ensurdeces com tuas demandas, com teus lamentos e suas esperas, tanto, que enquanto me  ocupo em castigar estou obrigado a pensar em você, a te ouvir, e meu coração é dilacerado ao te  ver em teu estado doloroso de minha privação, porque o martírio mais doloroso é o martírio do  amor, e por quanto mais se amam duas pessoas, tanto mais são dolorosas essas penas, que não  por outros, mas por meio deles mesmos se suscitam, por isso fique tranquila, calma, não queira  aumentar minhas penas por meio de suas penas”.

(3) Então Ele desapareceu e eu fiquei toda mortificada ao pensar que eu formo o martírio de meu  amado Jesus, e que para não fazê-lo sofrer tanto, quando não vem devo ficar tranqüila, mas quem  pode fazer este sacrifício? Parece-me impossível, e serei obrigada a continuar a martirizar-nos  mutuamente.

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Janeiro 16, 1901

Jesus Cristo explica-lhe a ordem da caridade.

(1) Como continuo vendo-o um pouco zangado com o mundo, eu queria me ocupar em aplacá-lo,

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mas Ele me distraiu dizendo-me:

(2) “A caridade mais aceitável a Mim é a que se faz por aqueles que me estão mais próximos, e os  mais próximos a Mim são as almas purgantes, porque já estão confirmadas em minha graça e não  há nenhuma oposição entre minha Vontade e a sua, vivem continuamente em Mim, me amam  ardentemente, e sou obrigado a vê-las sofrer em Mim mesmo, impotentes por si mesmas para dar

se o mínimo alívio. Oh! como meu coração é dilacerado pelo estado de essas almas, porque não  estão longe de Mim mas perto, não só perto, mas dentro de Mim e, como é grato ao meu coração  quem se interessa por elas. Suponha que você tivesse uma mãe, uma irmã, que convivessem com  você em um estado de dor, incapazes de ajudar-se por si mesmas, e um estranho que vivesse fora  de seu quarto, também em um estado de dor, mas que se pode ajudar por si mesmo; Não  agradeceria mais se alguém se preocupasse em aliviar a sua mãe ou a sua irmã, do que o  estranho que pode ajudar a si mesmo?”

(3) E eu: “Certamente, ó Senhor”.

(4) Depois acrescentou: “A segunda caridade mais aceitável ao meu coração, é por aquelas que,  se bem vivem nesta terra, mas são quase como as almas purgantes, isto é, me amam, fazem  sempre a minha Vontade, se interessam pelas minhas coisas como se fossem suas; agora, se  estas se encontram oprimidas, necessitadas, em um estado de sofrimentos, e alguém se ocupa em  alivia-las e ajudá-las, a meu coração parece mais agradável que se fizessem a outros”.

(5) Jesus retirou-se, e eu, encontrando-me em mim mesma, parecia que eram coisas que não iam  segundo a verdade. Então ao retornar meu adorável Jesus, me fez entender que isto que me havia  dito era segundo a verdade, só restava falar sobre os membros separados dele, que são os  pecadores, e que quem se ocupa em reunir estes membros seria muito aceitável a seu coração. A  diferença que há é esta: Que encontrando-se um pecador oprimido por uma desventura e alguem

se ocupa não em convertê-lo, mas em alivia-lo e ajudá-lo materialmente, o Senhor agradeceria  mais isto que se fosse feito àqueles que estão na ordem da graça, porque se estes sofrem, é  sempre um produto, ou do amor de Deus para com eles ou do amor deles para com Deus, e se os  pecadores sofrem, o Senhor vê neles a marca da culpa e de sua obstinada vontade. Parece-me  que assim entendi; mas deixo o juízo a quem tem o direito de me julgar, se vai ou não vai segundo  a verdade.

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Janeiro 24, 1901

Luísa pergunta a Jesus a causa da sua privação. 

Jesus repreende-a.  

(1) Tendo passado os dias anteriores em silêncio e algumas vezes também privada de meu  adorável Jesus, esta manhã ao vir lamentei-me com Ele dizendo: “Senhor, como é que não vens,

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como mudaram as coisas, vê-se que é, ou por castigo dos meus pecados que me privas da tua  amável presença, ou que não me queres mais neste estado de vítima, ah! te peço que me faça  conhecer sua Vontade; se não pude opor-me quando quis de mim o sacrifício, muito menos agora,  que não sendo mais merecedora de ser vítima me quer tirar.

(2) E Jesus, interrompendo o meu discurso, disse-me: “Minha filha, Eu, com ter-me feito vítima pelo  gênero humano, tomando sobre Mim todas as fraquezas, as misérias, e tudo o que merecia o  homem, ante a Divindade represento a cabeça de todos, e a natureza humana, sendo Eu a cabeça  ante a Divindade, Encontra em Mim um poderoso escudo que a defende, protege, desculpa e  intercede. Agora, como você se encontra no estado de vítima, vem representar ante Mim a cabeça  da geração presente, pelo que deve mandar algum castigo para bem dos povos e para chamá-los  a Mim, se Eu viesse contigo segundo meu costume, só de me mostrar a você já me sinto aliviado e  as dores se mitigam, e me acontece como a alguem que sentisse uma forte dor e pelo espasmo  grita, se a este lhe cessasse a dor deixaria de gritar e lamentar-se. Assim me acontece a Mim,  diminuindo minhas penas, naturalmente não sinto mais a necessidade de mandar esse castigo;  além disso você, ao me ver, também naturalmente busca me reparar e tomar sobre ti as penas dos  demais, não pode fazer menos que fazer seu ofício de vítima ante minha presença, E se você não  o fizesse, o que não pode ser jamais, eu ficaria chateado com você. Eis a causa da minha  privação, não porque queira punir os teus pecados, tenho outras maneiras para purificar-te, mas  recompensar-te-ei, nos dias em que vier te duplicarei as minhas visitas, não estás contente por  isso?”

(3) E eu: “Não Senhor, amo-te sempre, qualquer que seja a causa não cedo em ficar um só dia  privada de Ti”. Enquanto eu dizia isto, Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma.  + + + +

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Janeiro 27, 1901

A firmeza da fé está na firmeza da caridade. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus quase se fez ver, e não sei por  que me disse:

(2) “Minha filha, toda a solidez da fé católica está na solidez da caridade, que une os corações e os  faz viver em Mim”.

(3) Depois, lançando-se em meus braços queria que eu o reconfortasse. Tendo feito por quanto  pude, logo Ele me fez isso e desapareceu.

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Janeiro 30, 1901

As virtudes, os meritos de Jesus, 

são tantas torres de força, nas quais cada um pode 

apoiar-se no caminho para a Eternidade. O veneno do interesse.

(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, no meio de muitas  pessoas de diferentes condições: sacerdotes, monjas, leigos, e Jesus dando um doloroso lamento  disse:

(2) “Minha filha, o veneno do interesse entrou em todos os corações, e como esponjas ficaram  encharcados deste veneno. Este veneno pestífero penetrou nos mosteiros, nos sacerdotes, nos  leigos. Minha filha, o que não cede à luz da verdade e à potência da virtude, cede ante um vilíssimo  interesse, e as virtudes mais sublimes e excelsas, ante este veneno, como frágil vidro caem feitas  pedaços”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente. Agora, quem pode dizer o rasgo de minha alma ao  ver chorar a meu amorosíssimo Jesus? Não sabendo o que fazer para que deixasse de chorar  disse disparates: “Meu amado, ah! não chores, se os outros não te amam, te ofendem e têm os  olhos cegos pelo veneno do interesse, de modo que por ele ficam todos embebidos, estou eu que  te amo, te louvo, e olho como imundícia tudo o que é terreno, e não anseio mais que a Ti, por isso  deveria ficar contente com meu amor e deixar de chorar, e se te sentes amargurado derrama em  mim tuas amarguras, que estarei mais contente, antes que te veja chorar”.

(4) Ao ouvir-me deixou de chorar, derramou um pouco e logo me participou as dores da cruz, e  depois acrescentou:

(5) “Minhas virtudes e os méritos adquiridos para o homem em minha Paixão, são tantas torres de  fortaleza nas quais cada um pode apoiar-se no caminho para a Eternidade, mas o homem ingrato,  fugindo destas torres de fortaleza, apoia-se na lama, e é conduzido para o caminho da perdição”.  (6) Então Jesus desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

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Janeiro 31, 1901

Jesus Cristo explica-lhe a grandeza da virtude da paciência.  

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu doce Jesus não vinha, e depois de muito  esperar, assim que o vi me disse:

(2) “Minha filha, a paciência é superior à pureza, porque sem paciência a alma facilmente fica desenfreada e é difícil manter-se pura, e quando uma virtude tem necessidade de outra para ter  vida, diz-se que esta é superior àquela, é mais, pode-se dizer que a paciência é custódia da  pureza, e não só, mas é escada para subir ao monte da fortaleza, de modo que se um subisse sem

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a escada da paciência, logo se precipitaria do mais alto ao mais baixo. Além disso, a paciência é o  germe da perseverança, e este germe produz alguns ramos chamados firmeza. Oh! como é firme e  estável no bem empreendido a alma paciente, não leva em conta nem a chuva, nem a geada, nem  o gelo, nem o fogo, senão que toda sua atenção está em levar a termo o bem começado, porque  não há insensatez maior daquele que hoje, Porque gosta faz um bem, e amanhã porque não  encontra mais gosto deixa-o. O que se diria de um olho que a certa hora possui a vista, e a outra  hora fica cego? De uma língua que agora fala, e agora fica muda? Ah sim, minha filha, só a  paciência é a chave secreta para abrir o tesouro das virtudes, sem o segredo desta chave, as  outras virtudes não saem para dar vida à alma e enobrecê-la!”.

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Fevereiro 5, 1901

Vê duas donzelas que servem à justiça: a tolerância e a dissimulação. 

(1) Esta manhã o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, fazia-se ver em um  estado que movia a compaixão até as pedras. Oh! como sofria, e parecia que não podia aguentar  mais, queria aliviar-se um pouco, quase como procurar ajuda. Meu pobre coração me sentia  despedaçado pela ternura, e logo lhe tirei a coroa de espinhos pondo-a em mim para dar-lhe alívio,  logo lhe disse: “Doce Bem meu, faz tempo que não me renovaste as penas da cruz, rogo-te que as  renoves hoje, assim ficarás mais aliviado”.

(2) E Ele: “Amada minha, para fazê-lo é necessário perguntar à justiça para fazê-lo, porque  chegaram a tanto as coisas que não pode permitir que você sofra”.

(3) Eu não sabia como fazer para perguntar à justiça, quando se apresentaram duas donzelas que  parecia que serviam à justiça, uma tinha nome de tolerância, a outra de dissimulação; e tendo-lhes  pedido que me crucificassem, a tolerância me tomou uma mão e a cravou, sem querer terminar.  Então disse: “Ó! Santa dissimulação, acaba tu de crucificar-me, não vês que a tolerância me  deixou? Mostre como é mais habilidoso em disfarçar”. Então ele terminou de me crucificar, mas  com tal espasmo que se o Senhor não me tivesse segurado nos seus braços, certamente teria  morrido pela dor. Depois disto, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Filha, é necessário que pelo menos algumas vezes sofras estas penas, se assim não for, ai do  mundo! O que seria dele?”

(5) Então eu pedi por várias pessoas e me encontrei em mim mesma.

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Fevereiro 6, 1901

A perfeita complacência de Jesus é ao encontrar-Se a Si mesmo na alma. (1) Encontrando-me em meu habitual estado, o bendito Jesus ao vir me disse:  (2) “Minha filha, quando minha graça se encontra em posse de muitas pessoas, festeja mais;  acontece como com aquelas rainhas que por quanto mais donzelas estão atentas de suas ordens e  lhes fazem coroa ao redor, tanto mais gozam e festejam. Você fica fixa em Mim e Olha para mim, e  ficarás tão apegada a Mim, que tudo o que é material morrerá para ti, e tanto deves fixar-te em  Mim, até que tudo me atraia em ti, porque Eu encontrando em Ti a Mim mesmo, posso encontrar  em ti a minha perfeita complacência. Agora, encontrando em ti todos os meus prazeres possíveis  que posso encontrar numa criatura humana, não pode me desagradar tanto o que me fazem os  demais”.

(3) E enquanto eu dizia isso se internou dentro de mim e tudo se comprazia. Como seria  afortunada se chegasse a atrair em mim todo meu amado Jesus.

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Fevereiro 10, 1901

A obediência tem uma visão aguda, o amor próprio é muito curto de vista. 

(1) Ao vir meu adorável Jesus, fazia-se ver com os olhos resplandecentes de vivíssima e puríssima  luz; eu fiquei cativada e surpreendida ante aquela luz deslumbrante, e Jesus vendo-me tão  cativada, sem que lhe dissesse nada me disse:

(2) “Amada minha, a obediência tem a visão agudíssima e vence em beleza e em penetração à  mesma luz do sol, enquanto que o amor próprio é muito curto de vista, tanto que não pode dar um  passo sem tropeçar. E não creias tu que esta vista agudíssima a têm as almas que estão sempre  agitadas e fazendo escrúpulo de tudo, mas sim esta é uma rede que lhes tece o amor próprio,  porque sendo muito curto de vista, primeiro as faz cair e logo lhes suscita mil inquietações e  escrúpulos, e o que hoje detestam com tantos escrúpulos e temores, amanhã caem nisso  novamente, tanto, que o seu viver se reduz a estar sempre imersos nesta rede artificiosa que lhes  sabe tecer muito bem o amor próprio, ao contrário da vista agudíssima da obediência que é  homicida do amor próprio, porque sendo agudíssima e claríssima, imediatamente prevê onde pode  dar um passo em falso, e com ânimo generoso se abstém de dá-lo e goza a santa liberdade dos  filhos de Deus. E assim como as trevas atraem mais trevas e a luz atrai mais luz, assim esta luz  chega a atrair a luz do Verbo, e unindo-se tecem a luz de todas as virtudes”.

(3) Surpreendida ao ouvir isto, disse: “Senhor, o que dizes? Parece-me que é santidade esse modo  de viver escrupuloso”.

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(4) E Ele com tom mais sério acrescentou: “Mas digo-te que esta é a verdadeira marca da  obediência, e a outra é a verdadeira marca do amor próprio, e esse modo de viver me move mais a  indignação que a amor, porque quando é a luz da verdade que faz ver uma falta, ainda mínima,  deveria haver uma emenda, mas como é a visão curta do amor próprio, não faz outra coisa que tê

las oprimidas, sem que avancem no caminho da verdadeira santidade”.

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Fevereiro 17, 1901

O homem vem de Deus e deve retornar a Deus. 

(1) Esta manhã, encontrando-me toda oprimida e sofredora, vi o meu amado Jesus, e muitas  pessoas mergulhadas em muitas misérias, e Ele rompendo o silêncio que tinha há muitos dias me  disse:

(2) “Minha filha, o homem nasce primeiro em Mim, e por isso recebe a marca da Divindade, e  saindo de Mim para renascer do seio materno lhe dou ordem de caminhar um pequeno trecho de  caminho, e ao término desse caminho, fazendo-me encontrar por ele, o recebo de novo em Mim,  Fazendo-o viver eternamente comigo. Olha um pouco como o homem é nobre, de onde vem, para  onde vai e qual é o seu destino. Agora, qual deveria ser a santidade deste homem saindo de um  Deus tão Santo? Mas o homem ao percorrer o caminho para vir outra vez a Mim, destrói nele o que  recebeu de divino, corrompe-se de modo que no encontro que temos para recebê-lo em Mim não o  reconheço mais, não descubro mais nele a marca divina, nada encontro de meu nele, e não o  reconhecendo mais, minha justiça condena-o a andar disperso no caminho da perdição”.

(3) Quão terno era ouvir Jesus Cristo falar sobre isto, quantas coisas fazia compreender, mas meu  estado de sofrimentos não me permite escrever mais extensamente.

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4-58

Março 8, 1901

Jesus diz-lhe que a cruz o fez conhecer como Deus. 

Explica-lhe acerca da cruz da dor e do amor.

(1) Continuando meu pobre estado e o silêncio de Jesus bendito, esta manhã, encontrando-me  mais do que nunca oprimida, ao vir me disse:

(2) “Minha filha, não as obras, nem a pregação, nem o mesmo poder dos milagres me fizeram  conhecer com clareza como o Deus que sou, senão quando fui posto na cruz e levantado sobre ela  como sobre meu próprio trono, então fui reconhecido como Deus; Então só a cruz revelou ao

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mundo e a todo o inferno quem eu era verdadeiramente; então todos ficaram abalados, e  reconheceram o seu Criador. Então é a cruz que revela Deus a alma, e faz conhecer se a alma é  verdadeiramente de Deus, pode-se dizer que a cruz descobre todas as partes íntimas da alma e  revela a Deus e aos homens quem é esta alma”.

(3) Depois acrescentou: “Sobre duas cruzes Eu consumo as almas, uma é de dor, a outra é de  amor; e assim como no Céu todos os nove coros angélicos me amam, porém cada um tem seu  ofício especial, como os Serafins, que seu ofício especial é o amor e seu coro é posto mais frente  para receber as reverberações de meu amor, tanto que meu amor e o deles saindo juntos se  acoplam continuamente. Assim às almas sobre a terra lhes dou seu ofício diferente, a quem a torno  mártir de dor, e a quem de amor, sendo ambos hábeis mestres em sacrificar as almas e fazê-las  dignas de minhas complacências”.

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4-59

Março 19, 1901

Explica-lhe o modo de sofrer. 

(1) Esta manhã, encontrando-me toda oprimida e sofredora, sobretudo pela privação de meu doce  Jesus, depois de muito esperar, quando o vi me disse:

(2) “Minha filha, o verdadeiro modo de sofrer é não olhar de quem vêm os sofrimentos, nem que  coisa se sofre, senão ao bem que deve vir dos sofrimentos; este foi meu modo de sofrer, não olhei  nem aos algozes, nem ao sofrer, senão ao bem que queria fazer por meio de meu sofrer, até  mesmo aqueles que me davam o sofrimento, e olhando o bem que devia produzir aos homens  desprezei todo o resto, e com intrepidez segui o curso de meu sofrer. Minha filha, este é o modo  mais fácil e mais proveitoso para sofrer não só com paciência, mas com ânimo invicto e animoso”.

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4-60

Março 22, 1901

Vê os grandes pecados de Roma. Jesus quer punir e ela se opõe.

(1) Continuando meu estado de privação, e portanto de amargura indizível, esta manhã meu  adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, me parecia que fosse Roma. Que  espetáculos se viam em todas as classes de pessoas, até no Vaticano se viam coisas que davam  horror. E o que dizer dos inimigos da Igreja? Como se roem de raiva contra Ela, quantos estragos  vão maquinando, mas não podem realizá-los porque Nosso Senhor os tem como atados ainda.  Mas o que mais me espantou, é que via meu amante Jesus quase em ato de dar-lhes a liberdade.

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Quem pode dizer como consternada fiquei? Então, vendo Jesus a minha consternação, disse-me:  (2) “Filha, são absolutamente necessários os castigos, em todas as classes entrou a podridão e a  gangrena, por isso é necessário o ferro e o fogo para fazer que não pereçam todos, por isso esta é  a última vez que te digo que te conformes a meu Querer, e eu prometo perdoar em parte”.

(3) E eu: “Amado Bem meu, não tenho coração para me conformar contigo em castigar as nações”.  (4) E Ele: “Se tu não te conformas, sendo de absoluta necessidade fazer isto, Eu não virei segundo  o meu costume e não te manifestarei quando enviarei os castigos, e não o sabendo tu, e não  encontrando Eu quem de algum modo rompa a minha justa indignação, darei livre alívio à minha ira  e não terás nem sequer o bem de fazer perdoar em parte o castigo. Além disso, o não vir e não  derramar em ti aquelas graças que teria querido derramar, é também uma amargura para Mim,  como nestes últimos dias em que não vim tanto, tenho a graça contida em Mim”.

(5) E enquanto dizia mostrava que queria se aliviar, e aproximando-se de minha boca derramou um  leite dulcíssimo e desapareceu.

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4-61

Março 30, 1901

Jesus fala-lhe acerca da Divina Vontade e da perseverança. 

(1) Continuando o estado de privação me sentia como um tédio e um cansaço de minha pobre  situação e a minha pobre natureza queria libertar-se desse estado. Meu adorável Jesus tendo  compaixão de mim, veio e me disse:

2) “Minha filha, assim que você se retira do meu Querer, assim você começa a viver de si mesma,  em troca se você está fixo na minha Vontade, viverá sempre de Mim mesmo, morrendo de tudo a si  mesma”.

(3) Depois acrescentou: “Minha filha, tem paciência, repreende-te em tudo à minha Vontade, e não  por pouco mas sempre, sempre, porque só a perseverança no bem é o que faz conhecer se a alma  é verdadeiramente virtuosa, só ela é a que une todas as virtudes, pode-se dizer que só a  perseverança une perpetuamente a Deus e à alma, virtudes e graças, e como cadeia se põe ao  redor e amarrando tudo junto forma o nó certo da salvação; mas onde não há perseverança há  muito a temer”.

(4) Disse isto desapareceu.

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4-62

Março 31, 1901

Inconstância e volubilidade.  

(1) Esta manhã, sentindo-me toda amarga, ainda me via tão má que quase não me atrevia a ir em  busca do meu sumo e único Bem, mas o Senhor não olhando para as minhas misérias, dignou-se

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vir dizendo-me:

(2) “Minha filha, é a Mim que queres, pois bem, vim para te alegrar, Vamos juntos, mas fiquemo nos em silêncio”.

(3) Depois de ter estado assim por um pouco, me transportou para fora de mim mesma, e via que a  Igreja festejava o dia das palmas, e Jesus rompendo o silêncio me disse:

(4) “Quanta volubilidade, quanta inconstância! Assim como hoje gritaram Hosana proclamando-me  como seu Rei, outro dia gritaram Crucifica-o, Crucifica-o. Minha filha, a coisa que mais me  desagrada é a inconstância e a volubilidade, porque isto é sinal de que a verdade não tomou posse  de tais almas, e mesmo em coisas de religião pode ser que encontrem sua satisfação, sua própria  comodidade e o interesse, ou bem porque se encontram em tal partido, mas amanhã podem mudar  estas coisas e podem ser encontradas no meio de outros partidos, e eis que se desviam da  religião, e sem desgosto se entregam a seitas; porque quando a verdadeira luz da verdade entra  numa alma e se apodera de um coração, esta alma não está sujeita a inconstância, antes tudo  sacrifica por amor daquela e para fazer-se dominar por ela, e com ânimo firme despreza todo o  resto que não pertence à verdade”.

(5) E enquanto dizia isto, chorava sobre a condição da presente geração, que pior do que antes  está sujeita à inconstância segundo sopram os ventos.

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Abril 5, 1901

Compadecendo-se da Mãe, compadece-se de Jesus. 

No calvário, na crucificação, vê em Jesus todas as gerações. 

(1) Continuando o estado de privação, esta manhã parece que o vi por um pouco junto com a  Rainha Mãe, e como o adorável Jesus tinha a coroa de espinhos, a tirei e o compadeci tudo; e  enquanto isso fazia me disse:

(2) “Compadece ao mesmo tempo a minha Mãe, porque sendo eu sofrer a razão de suas dores,  compadecendo-a a Ela vens a compadecer-me a Mim mesmo”.

(3) Depois disso, eu parecia me encontrar no Monte Calvário no momento da e enquanto sofria a  crucificação via, não sei como, em Jesus, todas as gerações passadas, presentes e futuras, e  como Jesus, tendo-nos a todos n’Ele, sentia todas as ofensas que cada um de nós lhe fazia e  sofria por todos em geral e por cada indivíduo em particular, de modo que descobria também as  minhas culpas e as penas que por mim sofria especialmente, como também via o remédio que a  cada um de nós, sem punir ninguém, ele nos fornecia para os nossos males e para a nossa  salvação eterna. Mas quem pode dizer tudo o que via em Jesus bendito? Desde o primeiro até o  último homem. Agora, estando fora de mim mesma via as coisas claras e distintas, mas Encontrando-me em mim mesma as vejo todas confusas. Assim que para evitar disparates termino.

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Abril 7, 1901

Vê a Ressurreição de Jesus. Fala da obediência. 

(1) Meu adorável Jesus continua me privando de sua presença, sinto uma amargura e como  trespassado o coração por uma faca, que me dá tal dor, de me fazer chorar e gritar como um  menino. Ah! Parece-me verdadeiramente ter-me tornado como uma criança, que por pouco que se  afaste a mãe chora e grita tanto, que transtorna toda a casa, e não há nenhum remédio para fazê

la parar de chorar enquanto não se vê de novo nos braços da mãe. É assim que eu sou, verdadeira  menina na virtude, que se me fosse possível transtornaria Céus e terra para encontrar o meu sumo  e único Bem, e só me acalmo quando me encontro em posse de Jesus. Pobre criança que sou,  sinto ainda que as fraldas da infância me cobrem, não sei caminhar por mim mesma, sou muito  fraca, não tenho a capacidade dos adultos que se deixam guiar pela razão, e esta é a soma  necessidade que tenho de estar com Jesus, com razão ou sem razão, Não quero saber nada, o  que quero saber é que quero Jesus. Espero que o Senhor queira perdoar a esta pobre menina, que  às vezes comete desatinos.

(2) Então, encontrando-me neste estado, por pouco tempo vi o meu adorável Jesus no momento  da sua Ressurreição, com um rosto tão resplandecente que não se pode comparar a nenhum outro  esplendor, e parecia-me que a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, ainda que fosse carne  viva, mas estava resplandecente e transparente de modo que se via com clareza a Divindade unida  à Humanidade. Agora, enquanto o via tão glorioso, uma luz que vinha dele, parecia que me  dissesse:

(3) “Tanta glória veio à minha humanidade por meio da perfeita obediência, que destruindo de todo  a natureza antiga me deu a nova natureza gloriosa e imortal. Assim a alma por meio da obediência  pode formar em si a perfeita ressurreição às virtudes, como por exemplo: Se a alma está afligida, a  obediência a fará ressurgir à alegria; se está agitada, a obediência a fará ressurgir à paz; se  tentada, a obediência lhe fornecerá a cadeia mais forte para atar o inimigo e a fará ressurgir  vitoriosa das insidias diabólicas; se assediada por paixões e vícios, a obediência matando-os a fará  ressurgir às virtudes. Isto à alma, e a seu tempo formará também a ressurreição do corpo”.

(4) Depois disto a luz se retirou, Jesus desapareceu, e eu fiquei com tal dor, vendo-me de novo  privada dEle, que me sentia como se tivesse uma febre ardente que me faz agitar e dar em delírio.  Ah! Senhor, me dê a força para te aguentar nestas demoras, porque me sinto desfalecer!  + + + +

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Abril 9, 1901

Se os fervores e virtudes não estão bem arraigados 

na Humanidade de Jesus, diante das tribulações, 

diante dos infortúnios, rapidamente secam.

(1) Encontrando-me na plenitude do delírio, dizia disparates, e creio que misturava também  defeitos; minha pobre natureza sentia todo o peso de meu estado, a cama parecia-lhe pior que o  estado dos condenados às prisões, tivesse querido desvincular-se deste estado, com agregado de  meu refrão, que meu estado não é mais Vontade de Deus e por isso Jesus não vem, e ia pensando  o que devia fazer. Enquanto fazia isso, meu paciente Jesus saiu de dentro de mim, mas com um  aspecto grave e sério que dava medo, e me disse:

(2) “O que você acha que eu teria feito se eu estivesse em sua situação?”

(3) No meu íntimo dizia: “Certamente a Vontade de Deus”.

(4) E Ele de novo: “Pois bem, faz tu isso”.

(5) E desapareceu. Era tanta a gravidade de Nosso Senhor, que naquelas palavras que disse  sentia toda a força de sua palavra, não só criadora, mas também destruidora. Meu interior ficou de  tal maneira sacudido, oprimido e amargurado por estas palavras, que não fazia outra coisa que  chorar, especialmente recordava a gravidade com a qual Jesus me tinha falado e não me atrevia a  dizer-lhe “vem”.

(6) Agora, estando durante o dia neste estado fiz minha meditação sem chamá-lo, quando no  melhor veio e com um aspecto doce, tudo mudou em comparação com a manhã me disse:  (7) “Minha filha, que ruína, que destruição está por acontecer!”

(8) E enquanto dizia isto senti todo o meu interior mudado, porque não era por outra coisa que não  vinha, senão pelos castigos; e enquanto estava nisto via quatro pessoas veneráveis que choravam  diante das palavras que Jesus tinha dito; mas Jesus bendito, como querendo distrair-se disse  algumas poucas palavras sobre as virtudes:

(9) “Há certos fervores e certas virtudes que se assemelham àqueles arbustos que nascem em  torno de certas árvores, e que não estando bem enraizados no tronco, um vento impetuoso, uma  geada um pouco forte e secam, e ainda que depois de algum tempo possa ser que reverdeçam de  novo, mas estando expostos à intempérie e portanto a mudar-se, jamais chegam a ser árvores  feitas. Assim são esses fervores e essas virtudes que não estão bem arraigados no tronco da  árvore da obediência, isto é, no tronco da árvore de minha Humanidade que foi toda obediência,  ante as tribulações, os infortúnios, súbito secam e jamais chegam a produzir frutos para a vida  eterna”.

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Abril 19, 1901

Lamentos pela privação. Jesus consola-a e explica-lhe algo sobre a Graça.  (1) Continuo meus dias privada de meu adorável Jesus, ao mais vem como sombra ou como raio,  meu pobre coração está sobremaneira amargo, sinto tanto sua privação, que todas minhas fibras,  os nervos, meus ossos, até as gotas de meu sangue, me contendem continuamente e me dizem:  “Onde está Jesus? Como! você o perdeu? O que você fez que não vem mais? Como vamos ficar  sem Ele? Quem nos consolará tendo perdido a fonte de toda a consolação? Quem nos fortificará  na debilidade, quem nos corrigirá e descobrirá nossos defeitos, tendo ficado privada daquela luz,  que mais que fio elétrico penetrava os mais íntimos esconderijos, e com a doçura mais inefável  corrigia e curava nossas chagas? Tudo é miséria, tudo é esquálido, tudo é tétrico sem Ele, como  faremos?” E ainda que no fundo da minha vontade me sinto resignada e vou oferecendo sua  mesma privação como o maior sacrifício por amor seu, todo o resto me faz guerra contínua e me põem em tortura. Ah Senhor! quanto me custa te haver conhecido, e a que alto preço me faz pagar

suas passadas visitas. Agora, estando neste estado, por breves instantes se fez ver e me disse: (2)”Sendo Minha Graça parte de Mim mesmo, possuindo-a tu, com razão e de estreita necessidade  tudo o que forma teu ser não pode estar sem Mim, eis a razão pela qual tudo te pede a Mim e és  torturada continuamente, porque estando embebida de Mim e cheia só em parte de Mim mesmo,  então não se estão em paz, pois só têm paz e ficam contentes quando me possuem não só em  parte, mas em tudo”.

(3) E tendo-me arrependido de minha dura situação acrescentou:

(4) “Também Eu no curso da minha Paixão senti um extremo abandono, embora minha Vontade estivesse sempre unida com o Pai e com o Espírito Santo; isto quis sofrer para divinizar em toda a  cruz, tanto que, contemplando-me a mim e contemplando a cruz, encontrarás o mesmo esplendor,  nos mesmos ensinamentos e o mesmo espelho no qual poderás refletir-te continuamente, sem  diferença entre um e outro”.

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Abril 21, 1901

A necessidade dos castigos é para não permitir 

que o homem se corrompa principalmente.

(1) Continuando o meu estado habitual, vi o meu doce Jesus com uma cruz na mão, em atitude de  atirá-la sobre as nações e disse-me:

(2) “Minha filha, o mundo é sempre corrupto, mas há certos tempos em que chega a tal corrupção,  que se eu não derramar sobre as nações parte de minha cruz, pereceriam todos na corrupção,

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como foi nos tempos em que vim Eu ao mundo, A única cruz salvou muitos da corrupção em que  estavam mergulhados. Assim nestes tempos, chegou a tanto a corrupção, que se Eu não  derramasse os flagelos, os espinhos, as cruzes, fazendo-os derramar até o sangue, ficariam  submersos nas ondas da corrupção”.

(3) E enquanto isso dizia parecia que agitava aquela cruz sobre as pessoas e sucediam castigos. + + + +

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Abril 22, 1901

Jesus a instrui sobre a imitação de sua Vida. 

(1) Sentindo-me toda aflita e confusa, e quase sem esperança de voltar a ver meu adorável Jesus,  de repente veio e me disse:

(2) “Sabes o que quero de ti? Quero-te em tudo semelhante a Mim, assim no agir como na  intenção; quero que sejas respeitosa com todos, porque respeitar a todos dá paz a si mesmo e paz  aos demais; que te tenhas como mínima de todos, e que todos os meus ensinamentos ruminantes  sempre em sua mente e as conserve em seu coração, a fim de que nas diversas ocasiões as  encontre sempre prontas para servir-lhe delas e pô-las em execução, em suma, quero que sua vida  seja um transbordamento da minha”.

(3) E, enquanto dizia isto, via que por detrás do Senhor descia sobre a terra um gelo e um fogo que  faziam mal às colheitas, e ao dizer eu: “Senhor, que fazes? Pobre gente!” Não me dando ouvidos,  ele desapareceu.

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Junho 13, 1901

A cruz e as tribulações são o pão da bem-aventurança eterna. 

(1) Depois de um longo silêncio por parte de meu adorável Jesus, em que no máximo dizia alguma  coisa sobre os flagelos que quer derramar, esta manhã encontrando-me oprimida, cansada por  minha dura situação, especialmente pelas contínuas privações às quais estou frequentemente  sujeita, vi-o por breves instantes e disse-me:

(2) “Minha filha, as cruzes e as tribulações são o pão da eterna bem-aventurança”.  (3) Portanto compreendia que sofrendo mais, mais abundante e mais saboroso será o pão que nos  nutrirá na celestial morada, ou seja, quanto mais se sofre, mais garantia recebemos da futura  glória.

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Junho 18, 1901

Jesus exige a sua glória de todas as partículas do nosso ser.  

Do estado de união passa-se à consumação.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, por uns instantes vi meu doce Jesus, e lamentei-me  de meu pobre estado por suas privações, e de uma espécie de cansaço físico e moral, como se me  sentisse destroçar minha pobre natureza e que por toda parte me sinto desfalecer. Então, havendo  dito tudo isto a meu Jesus, me disse:

(2) “Minha filha, não temas porque te sentes desfalecer por toda parte, não sabes tu que tudo deve  ser sacrificado por Mim, não só a alma mas também o corpo? E que de todas as mínimas partes de  ti Eu exijo minha glória? E além disso, você não sabe que do estado de união se passa a outro que  é o da consumação? É verdade que não venho segundo o meu costume para castigar as nações,  mas sirvo-me disto também para teu proveito, que é não só ter-te unida Comigo, senão de te  consumir por amor meu. Com efeito, não vindo Eu e sentindo-te desfalecer pela minha ausência,  não vens consumir-te por Mim? De resto, não tens razão para te afligir, primeiro porque quando me  vês é sempre do teu interior que me vês sair, e isto é um sinal certo que estou contigo, e depois  porque ainda devem passar dias sem que possas dizer que me viste perfeitamente”.

(3) Depois disso, tomando um tom de voz mais doce e benigno acrescentou:  (4) “Minha filha, te recomendo muito, muito, que não faça sair de ti nem o mínimo ato que não seja  paciência, resignação, doçura, igualdade de ti mesma, tranqüilidade em tudo, de outra maneira  viria a me desonrar; e sucederia como a um rei que habitasse dentro de um palácio muito  enriquecido, e por fora se visse tudo cheio de fendas, sujo, quase a desmoronar-se; não diriam,  como habita um rei neste palácio se por fora se vê tão feio, que até dá medo aproximar-se? Quem  sabe que rei será este? E isto não seria uma desonra para aquele rei? Agora, pensa que se de ti  sai alguma coisa que não seja virtude, o mesmo diriam de ti e de Mim, e Eu ficaria desonrado  porque habito dentro”.

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Junho 30, 1901

Sinais para saber se a alma possui a Graça. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, por pouco tempo meu dulcíssimo Jesus fez-se ver  todo fundido em mim, e me disse:

(2) “Minha filha, queres saber quais são os sinais para conhecer se a alma possui minha Graça?”  (3) E eu: “Senhor, como lhe agrade a tua santíssima bondade”.

(4) Então Ele prosseguiu: “O primeiro sinal para ver se a alma possui a minha graça, é que tudo o  que possa ouvir ou ver no exterior, que pertence a Deus, no interior sente uma doçura, uma

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suavidade toda divina, não comparável a nenhuma coisa humana e terrena; acontece como a uma  mãe, que mesmo ao respirar, à voz, conhece ao parto de suas vísceras na pessoa de um filho e se  alegra de alegria; ou como a duas íntimas amigas que conversando manifestam reciprocamente os  mesmos sentimentos, inclinações, alegrias, aflições, e encontrando esculpidas uma na outra suas  mesmas coisas, sentem prazer, gozo e tomam-se tanto amor que não sabem separar-se. Assim a  graça interior que reside na alma, ao ver exteriormente o parto de suas próprias entranhas, ou seja,  ao encontrar-se naquelas mesmas coisas que formam sua essência, acoplam-se e faz sentir na  alma tal alegria e doçura, que não se sabe expressar.

(5) O segundo sinal é que o falar da alma que possui a graça é pacífico e tem virtude de lançar nos  outros a paz, tanto que as mesmas coisas ditas por quem não possui a graça, não produzem  nenhuma impressão e nenhuma paz, enquanto que ditas por quem possui a graça operam  maravilhosamente e restituem a paz às almas.

(6) Além disso minha filha, a graça despoja a alma de tudo, e da humanidade faz um véu para  estar coberta, de modo que quebrado esse véu se encontra o paraíso na alma de quem a possui.  Então, não é maravilha se nessa alma se encontra a verdadeira humildade, obediência e demais,  porque dela não fica outra coisa que um simples véu e vê com clareza que dentro dela está toda a  graça, que obra e que lhe tem em ordem todas as virtudes e a faz estar em contínua atitude para  Deus”.

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Julho 5, 1901

Jesus é o princípio, o meio e o fim de todos os desejos.

(1) Estando com temor sobre o estado de minha alma, de improviso veio meu adorável Jesus e me  disse:

(2) “Minha filha, não temas, porque Eu só sou o princípio, o meio e o fim de todos seus desejos”.  (3) Com estas palavras me acalmei em Jesus. Seja tudo para glória de Deus e bendito seu Santo  Nome.

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Julho 16, 1901

O princípio do mal no homem. Diferença entre o amor de Jesus e o amor humano.  Para entrar no Céu, a alma deve estar toda transformada em Jesus.  

(1) Depois de vários dias de privação, esta manhã dignou-se a transportar-me para fora de mim  mesma. Agora, encontrando-me diante de Jesus bendito, via muita gente, e os males da geração  presente. O meu adorável Jesus olhou para eles com compaixão e dirigiu-se a mim e disse:

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(2) “Minha filha, queres saber de onde começou o mal no homem? O princípio é que o homem  assim que se conhece a si mesmo, ou seja, começa a adquirir o uso da razão, diz a si mesmo: “Eu  sou algo”, e acreditando alguma coisa, separa-se de Mim, não confia em Mim que sou o Todo, e  toda a confiança e força a tomada de si mesmo, E disso acontece que perde até todo bom  princípio, e perdendo o bom princípio, qual será seu fim? Imagine-o você mesma minha filha.

(3) Depois, separando-se de Mim que contenho tudo bem, o que pode esperar de bem o homem,  sendo ele um oceano de mal? Sem Mim tudo é corrupção, miséria e sem nenhuma sombra de  verdadeiro bem, e esta é a sociedade presente”.

(4) Eu, ao ouvir isto, sentia tal aflição que não sabia expressá-la, mas Jesus, querendo consolar me, transportou-me para outro lugar, e eu, encontrando-me sozinha com o meu amado Jesus,  disse-lhe: “Dize-me, amas-me?”

(5) E Ele: “Sim”.

(6) E eu: “Não estou contente com o sim só, gostaria que me explicasses melhor quanto me amas”.  (7) E Ele: “É tanto o meu amor por ti, que não só não tem princípio, mas não terá fim, e em estas  duas palavras podem compreender quão grande, forte e constante é o meu amor por ti”.  (8) Considerei tudo isto por um pouco de tempo, e via um abismo de distância entre o meu amor e  o dele, e toda confusa disse: “Senhor, que diferença entre o meu amor e o teu! O meu não só tem  princípio, mas no passado vejo vazios na minha alma de não te ter amado”.  (9) E Jesus compadecendo-me toda me disse:

(10) “Amada minha, não pode haver igualdade entre o amor do Criador e o da criatura; porém hoje  quero dizer-te uma coisa que te será de consolação e que não tens entendido: Deves saber que  cada alma durante todo o curso de sua vida está obrigada a me amar constantemente, sem  nenhum intervalo, e não me amando sempre, ficam na alma tantos vazios por quantos dias, horas,  minutos deixou de me amar, e ninguém poderá entrar no Céu se não tiver preenchido estes vazios,  e só poderá preenchê-los, ou me amando duplamente o resto de sua vida, ou se não os atingir  encherá à força de fogo no purgatório. Agora, tu quando estás privada de Mim, a privação do  objeto amado faz duplicar o amor, e com isto vens a preencher os vazios que há em tua alma”.

(11) Depois disto lhe disse: “Doce Bem meu, me deixe ir junto contigo ao Céu, e se não queres  para sempre, ao menos por um pouco, ah, te peço, me responda!” E Ele disse-me:  (12) “Não sabes tu que para entrar nessa bem-aventurada morada a alma deve estar toda  transformada em Mim, de maneira que deve aparecer como outro Cristo? De outra maneira, que  papel faria no meio dos outros bem-aventurados? Você mesma teria vergonha de estar junto com  eles”.

(13) E eu: “É verdade que sou muito ao contrário de Ti, mas se quiseres podes tornar-me tal”.  Então para me contentar me encerrou toda nele, de modo que não me via mais a mim mesma, mas

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a Jesus Cristo, e neste modo nos elevamos ao Céu; chegados a um ponto nos encontramos diante  de uma luz indescritível, diante daquela luz se experimentava nova vida, alegria insólita, jamais  sentida, como me sentia feliz! Parecia que me encontrava na plenitude de toda a felicidade. Agora,  enquanto nos adentramos nessa luz, eu sentia temor, teria querido louvá-lo, agradecê-lo, mas não  sabendo o que dizer, recitei três Glória ao Pai, e Jesus respondia junto comigo; mas logo  terminadas, como relâmpago me encontrei na mísera prisão de meu corpo. Ah Senhor, como é que  tão pouco durou minha felicidade? Parece que é muito duro o barro do meu corpo, pois é preciso  muito para romper-se, e impede a minha alma de sair desta miserável terra. Mas espero que algum  golpe impetuoso o queira não só romper, mas pulverizar, e então, não tendo já casa onde  possamos estar aqui, tenha compaixão de mim e me acolha para sempre na celestial morada.

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Julho 20, 1901

Como é doce a Jesus a voz da alma. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus não vinha. Depois de ter  esperado e quase perdido a esperança de voltar a vê-lo, de repente veio e me disse:  (2) “Minha filha, tua voz me é doce, como ao passarinho é doce a voz da mãe que retorna depois  de havê-lo deixado para ir em busca do alimento para alimentá-lo, e o passarinho ao ouvir sua voz  sente uma doçura e faz festa, e depois de que a mãe lhe põe o alimento na boca, aconchega-se  todo e se esconde debaixo da asa materna para aquecer-se, livrar-se das inclemências do tempo e  tomar repouso seguro; oh! como lhe parece querido e agradável ao passarinho este estar sob a  asa materna. Assim é você para Mim, é asa que me aquece-me, repara-me, defende-me e faz-me  ter seguro repouso. Oh! como me é querido e agradável estar debaixo desta asa”.  (3) Dito isto desapareceu e eu fiquei toda confusa e cheia de vergonha sabendo tão mal, mas a  obediência quis aumentar minha confusão querendo que escrevesse isto. Seja feita sempre a  Santíssima Vontade de Deus.

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Julho 23, 1901

Jesus fala da sua vontade e da caridade.

(1) Encontrando-me com muitas dúvidas sobre meu estado, ao vir meu adorável Jesus me disse:  (2) “Filha, não temas, o que te recomendo é que estejas sempre uniformizada à minha Vontade,  porque quando na alma está a Vontade Divina, não têm força de entrar nela nem a vontade  diabólica nem a humana, para fazer-se um brinquedo da alma”.

(3) Depois disto parecia-me vê-lo crucificado, e tendo-me participado o Senhor não só suas penas,  mas alguns sofrimentos de outra pessoa, acrescentou:

(4) “Esta é a verdadeira caridade: Destruir-se a si mesmo para dar a vida a outros, e tomar sobre si

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os males dos outros e dar-me os bens próprios”.

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Julho 27, 1901

Dúvidas do confessor, resposta de Jesus. 

(1) Havendo tido algumas dúvidas o confessor, ao vir o bendito Jesus o via junto a ele, e Eu ia  dizendo:

(2) “Meu agir está sempre apoiado na verdade, e embora muitas vezes pareça escuro, sob  enigmas, no entanto não se pode fazer menos do que dizer que é a verdade, e embora a criatura  não entenda com clareza meu agir, isto não destrói a verdade, faz compreender muito melhor que  é modo de agir divino, porque sendo a criatura finita não pode abraçar e compreender o infinito, no  máximo pode compreender e abraçar algum brilho, assim como em tantas coisas ditas por Mim nas  escrituras, e meu modo de agir nos santos, talvez tenham sido compreendidas com toda a clareza?  Oh! quantas coisas deixaram na escuridão e no enigma. No entanto quantas mentes de doutos e  sábios se cansaram em interpretá-las? E que coisa compreenderam? Pode-se dizer que nada em  comparação com o que fica por conhecer. Isto acaso prejudica à verdade? Para nada, mas bem a  faz resplandecer principalmente. Por isso seu olho deve estar atento a se há a verdadeira virtude,  se se sente em tudo, e embora às vezes às escuras, que esteja a verdade, e do resto se necessita  estar tranquilo e em santa paz”.

(3) Dito isto desapareceu e eu regressei em mim mesma.

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Julho 30, 1901

Veja o mundo, e como a maioria são cegos. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus me transportou para fora de mim  mesma no meio de muitas pessoas. Que cegueira! quase todos eram cegos, uns poucos de vista  curta; apenas um que outro se notava como sol no meio das estrelas, de vista agudíssima, todo  concentrado no Sol divino, e esta vista lhe era concedida porque a tinha fixa na luz do Verbo  Humanado. Jesus, compadecendo-se de tudo, disse-me:

(2) “Minha filha, como arruinou ao mundo a soberba, chegou a destruir essa pequena luz de razão  que todos levam consigo desde que nascem; mas deves saber que a virtude que mais exalta Deus  é a humildade, e a virtude que mais exalta a criatura diante de Deus e diante dos homens é a  humildade”.

(3) Dito isto desapareceu; mais tarde regressou todo angustiado e afligido e acrescentou:

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(4) “Minha filha, estão para acontecer três terríveis castigos”.

(5) E como um raio desapareceu sem me dar tempo de lhe dizer uma palavra. ++++

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Agosto 3, 1901

A alma que possui a Graça tem poder sobre o inferno, sobre os homens e sobre Deus.  (1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de muito esperar veio a Virgem Mãe  conduzindo-o quase à força, mas Jesus fugia. Então a Virgem Santíssima disse-me:  (2) “Minha filha, não te canses de lhe pedir, mas sê inoportuna, porque este fugir que faz é sinal de  que quer enviar algum castigo, por isso foge da vista das pessoas amadas, mas tu não te  detenhas, porque a alma que possui a graça tem poder sobre o inferno, sobre os homens e sobre o  próprio Deus, porque sendo a Graça parte do próprio Deus, possuindo-a a alma, não tem talvez o  poder sobre o que ela mesma possui?”

(3) Então depois de muito esperar, obrigado pela Mãe Rainha e importunado por mim, veio, mas  com um aspecto imponente e sério, de modo que não me atrevia a falar, não sabia como fazer  para lhe tirar aquele aspecto tão imponente. Pensei começar a falar com disparates dizendo-lhe:  “Meu doce Bem, amemo-nos, se não nos amamos nós, quem nos deve amar? E se você não se  contentar com o meu amor, quem será capaz de te contentar? ” Ah! me dê um sinal certo de que  está contente de meu amor, de outra maneira eu desfaleço, eu morro”. Mas quem pode dizer todos  os disparates que disse? Eu acho que é melhor ignorá-los; mas com isso parece que eu consegui  tirar aquele ar imponente que eu tinha, e ele me disse:

(4) “Só estarei contente de teu amor quando este superar o rio da iniquidade dos homens, por isso  pensa em aumentar teu amor, porque assim mais estarei contente de ti”.

(5) Dito isto desapareceu.

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Agosto 5, 1901  

Como as mortificações são os olhos da alma.  

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu bendito Jesus tardava em vir e eu me sentia  morrer pela pena de sua privação, quando de improviso veio e me disse:

(2) “Minha filha, assim como os olhos são a vista do corpo, assim a mortificação é a vista da alma,  assim que a mortificação se pode dizer olhos da alma”.

(3) E desapareceu.

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Agosto 6, 1901

O amor dos bem-aventurados é propriedade divina, 

mas o amor dos viadores é propriedade 

que está em ato de fazer aquisição dele. 

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus fez-se parecer tão sofredor e  ofendido que movia a compaixão; eu o estreitei a mim e lhe disse: “Doce Bem meu, quão amável e  desejável és, como é possível que os homens não te amem, mas sim te ofendem? Amando-te tudo  se encontra, e o amar-te contém todos os bens, e não te amando tudo bem nos desaparece,  porém, quem é aquele que te ama? Mas ah, meu tesouro amadíssimo, faz a um lado as ofensas  dos homens e por um pouco desafoguemo-nos no amor”. Então Jesus chamou toda a corte  celestial para ser espectadora do nosso amor, e disse:

(2) “O amor de todo o Céu não seria suficiente pagamento, nem me faria feliz, se não estivesse o  teu unido, muito mais que esse amor é propriedade minha que ninguém me pode tirar, mas o amor  dos viadores é como propriedade que estou em ato de adquirir, e como minha Graça é parte de  Mim mesmo, ao entrar nos corações, sendo meu Ser ativíssimo, os viadores podem negociar com  o amor, e este comércio engrandece as propriedades do meu amor, e Eu sinto tal gosto e prazer,  que faltando me este ficaria amargo. Por isso é que sem o seu amor, o amor de todo o Céu não me  deixaria plenamente contente, e você deve saber negociar bem com o meu amor, porque amando me em tudo me fará feliz e contente”.

(3) Quem pode dizer como fiquei espantada ao ouvir isto, e quantas coisas compreendia sobre este  amor, mas minha língua se volta balbuciante, por isso ponho ponto.

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Agosto 21, 1901

A Celestial Mãe ensina-lhe o segredo da felicidade.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma, e depois de ter  girado e voltado em busca de Jesus, encontrei em troca à Rainha Mamãe, e oprimida e cansada  como estava lhe disse: “Doce Mamãe minha, perdi o caminho para encontrar Jesus, não sei mais  aonde ir nem o que fazer para encontrá-lo de novo”. E enquanto dizia isto chorava, e Ela me disse:

(2) “Minha filha, vem junto a Mim e encontrarás o caminho a Jesus, é mais, quero te ensinar o segredo para poder estar sempre com Jesus e para viver sempre contente e feliz mesmo sobre  esta terra, e este é, ter fixo em teu interior que só Jesus e tu estão no mundo, e ninguém mais, e só  a Ele deves agradar, agradar e amar, e só d’Ele deves esperar ser amada e satisfeita em tudo.  Estando deste modo tu e Jesus, não te fará mais impressão se estarás circundada de desprezos  ou louvores, de parentes ou estranhos, de amigos ou inimigos, só Jesus será todo teu contente e

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só Jesus te bastará por todos. Minha filha, até que tudo o que existe aqui embaixo não desapareça  de todo da alma, não se pode encontrar verdadeiro e perpétuo contente”.

(3) Agora, enquanto dizia isto, como de dentro de um raio saiu Jesus no meio de nós, e eu o tomei,  o levei comigo e me encontrei em mim mesma.

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Setembro 2, 1901  

Jesus fala da Igreja e da sociedade presente.

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver unido com o Santo Padre e parecia que lhe  dizia:

(2) “As coisas até aqui sofridas não são mais que tudo o que Eu passei desde o princípio de minha  Paixão até que fui condenado à morte; meu filho, não te resta outra coisa que levar a cruz ao  Calvário”.

(3) E enquanto dizia isto, parecia que Jesus bendito tomava a cruz e a colocava sobre as costas do  Santo Padre, ajudando-o Ele mesmo a levá-la. Agora, enquanto isso, ele agregou:  (4) “A minha Igreja parece estar a morrer, especialmente no que diz respeito às condições sociais,  que aguardam ansiosamente o grito de morte; mas coragem, meu filho, depois de teres chegado  ao monte, quando levantarem a cruz, todos tremerão e a Igreja deixará o aspecto de moribunda e  recuperará o seu pleno vigor. Só a cruz será o meio para isto, como só a cruz foi o único meio para  preencher o vazio que o pecado tinha feito e para unir o abismo de distância infinita que havia entre  Deus e o homem, assim nestes tempos só a cruz fará levantar a fronte da minha Igreja, corajosa e  resplandecente para confundir e pôr em fuga os inimigos”.

(5) Dito isto desapareceu, e depois de um pouco voltou meu amado Jesus, todo aflito, e continuou  dizendo:

(6) “Minha filha, quanto me dói a sociedade presente, são meus membros e não posso fazer menos  do que amá-los; acontece-me como a um tal que tivesse um braço, uma mão infectada e chagada,  talvez a odeie, a abomine? Ah! Não, mas procura-lhe todos os cuidados, quem sabe quanto gaste  para ver-se curado, e enquanto não chega a obter a cura é causa de fazê-lo sofrer todo o corpo, de  tê-lo oprimido, afligido. Assim é minha condição, vejo meus membros infectados, chagados, e por  isso sinto dor e pena, e por isso me sinto mais atraído a amá-los. Oh, como é diferente meu amor  das criaturas! Eu sou obrigado a amá-las porque são coisa minha, mas elas não me amam como  coisa delas, e se me amam, me amam por seu próprio bem”.

(7) Depois disso desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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Setembro 4, 1901

Ardores do coração de Jesus pela 

glória da Majestade Divina e pelo bem das almas.

(1) O meu adorável Jesus continua a vir, e esta manhã mal o vi senti um desejo de lhe perguntar se  me tinha perdoado os meus pecados, por isso lhe disse: “Doce amor meu, quanto anseio ouvir da  tua boca se me perdoaste os meus tantos pecados”. E Jesus aproximou-se do meu ouvido, e com  o seu olhar parecia que perscrutava todo o meu interior e disse-me:

(2) “Tudo está perdoado e eu perdoo-te, não te resta outra coisa senão alguns defeitos cometidos  inadvertidamente por você, e eu também perdoá-los”.

(3) Depois disto parecia que Jesus se punha atrás de mim, e me tocava os rins com sua mão os  fortificava. Quem pode dizer o que sentia com aquele toque? Somente sei dizer que sentia um fogo  refrigerante, uma pureza unida a uma força; depois que me tocou os rins lhe pedi que fizesse o  mesmo ao coração, e Jesus para agradar-me condescendeu, e depois me parecia como se Jesus  bendito estivesse cansado por minha causa, e lhe disse: “Doce vida minha, estás cansado por  minha causa, não é verdade?”

(4) E Ele: “Sim. Pelo menos sê grata pelas graças que te estou dando, porque a gratidão é a chave  para poder abrir com prazer os tesouros que Deus contém; mas deves saber que isto que fiz te  servirá para te preservar da corrupção, para te corroborar e para dispor tua alma e teu corpo à  glória eterna”.

(5) Depois disto parecia que me transportasse de mim mesma e me fazia ver a multidão das  nações e o bem que podiam fazer e não fazem, e portanto a glória que Deus deve receber e não  recebe, e Jesus todo aflito acrescentou:

(6) “Amada minha, o meu coração arde pela honra da minha glória e pelo bem das almas. Por todo  o bem que omitem, tantos vazios recebe minha glória, e suas almas embora não façam o mal, não  fazendo o bem que poderiam fazer são como aquelas salas vazias, que embora sejam belas, mas  não há nada para admirar que atraia o olhar, e portanto nenhuma glória recebe o dono, e se fazem  um bem e outro o omitem, são como aquelas salas todas despovoadas, em que apenas algum  objeto se descobre sem nenhuma ordem. Amada minha, entra a tomar parte destas penas, dos  ardores que meu coração sente pela glória da Majestade Divina e pelo bem das almas, trata de  preencher estes vazios de minha glória, e poderás fazê-lo não deixando passar um momento da  tua vida que não esteja ligado à minha, isto é, em todas as tuas ações, seja oração ou sofrimento,  repouso ou trabalho, silêncio ou conversação, tristeza ou alegria, mesmo o alimento que tomes, em  suma, em tudo o que te possa acontecer porás a intenção de me dar toda a glória que em tais  ações deveriam dar-me e de suprir o bem que deveriam fazer e não fazem, tentando repetir a  intenção por quanto glória não recebo e por quanto bem omitem. Se você fizer isso, você

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preencherá de alguma forma o vazio da glória que devo receber das criaturas, e meu coração  sentirá um refrigério ao meu ardor, e por este refrigério correrão rios de graça em proveito dos  mortais, que lhes infundirão maior força para fazer o bem.

7) Depois disto, encontrei-me em mim mesma.

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Setembro 5, 1901

O verdadeiro amor suplanta tudo. 

(1) Voltando o meu amável Jesus, sentia-me quase com medo de não corresponder às graças que  o Senhor me faz, tendo-me deixado impressas aquelas palavras que me disse antes: “Ao menos  seja agradecida”. E Ele, vendo-me com este temor, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas, o amor suprirá a tudo; além disso, havendo posto a vontade  de verdadeiramente fazer o que Eu quero, ainda que alguma vez faltes Eu suprirei por ti, por isso  não temas. Deve saber que o verdadeiro amor é engenhoso, e o verdadeiro engenho chega a tudo;  muito mais quando na alma há um amor amante, um amor que se magoa das penas da pessoa  amada como se fossem próprias, e um amor que chega a tomar sobre si, a sofrer o que deveria  sofrer a pessoa que se ama, é o mais heróico e se assemelha ao meu amor; sendo muito difícil  encontrar quem ponha a própria pele. Então, se em todo o teu coração não houver senão amor, se  não me agradares de um modo o farás noutro; aliás, se estiveres na posse destes três amores,  acontecerá a mim como àquele que, sendo injuriado, ofendido com todo o tipo de afrontas por  todos, entre tantos há um que o ama, O compadece, lhe paga por todos, e aquele, O que está  fazendo? Fixa o olhar na pessoa amada e encontrando sua recompensa esquece todos os ultrajes,  e dá favores e graças aos mesmos que o ultrajam”.

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4-85

Setembro 9, 1901

Eficácia das intenções. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Então, enquanto minha mente estava ocupada em  considerar o mistério da coroação de espinhos, lembrei-me que estando ocupada outras vezes  neste mistério, o Senhor se alegraria em tirar de sua cabeça a coroa de espinhos e cravá-la na  minha, e disse em meu interior: “Ah Senhor, já não sou digna de sofrer teus espinhos”.

(2) E Ele, de improviso, disse-me:

(3) “Minha filha, quando tu sofres os meus mesmos espinhos, tu me consolas, e sofrendo-os tu Eu  me sinto completamente livre dessas penas; quando te humilhas e te crês indigna de sofrê-las,  então me reparas os pecados de soberba que se cometem no mundo”.

(4) Eu acrescentei: “Ah! Senhor, por quantas gotas derramaste, por quantos espinhos sofreste, por

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quantas feridas, tanta glória intento dar-te por quanta glória deveriam dar-te todas as criaturas se  não existisse o pecado de soberba, e tantas graças intento pedir-te para todas criaturas para fazer  este pecado ser destruído”.

(5) Enquanto dizia isto, vi que Jesus continha n’Ele a todo o mundo, como uma máquina contém  em si os objetos, e todas as criaturas se moveram n’Ele, e Jesus se movia para elas, e parecia que  Ele tinha a glória de minha intenção e as criaturas tinham retornado a Ele para poder receber o  bem emprestado por mim para elas. Eu fiquei estupefata, e Jesus, vendo o meu espanto, disse:

(6) “Tudo isso parece surpreendente, não é? Não obstante parece coisa de nada o que você tem  feito, porém não é assim; quanto bem se poderia fazer com repetir esta intenção e não se faz?”  (7) Dito isto desapareceu.

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Setembro 10, 1901 

Unir nossas ações com Jesus é continuar sua Vida sobre a terra. 

(1) Continuo a fazer o que Jesus bendito me ensinou no dia 4 deste mês se bem que alguma vez  me distraio, mas enquanto alguma vez me esqueço, parece que Jesus em meu interior se põe em  guarda e o faz Ele por mim, então eu, vendo isto me ruborizo e em seguida me uno a Ele e faço-lhe  a oferta do que no momento estou fazendo, Assim seja ainda um olhar, uma palavra, vou dizendo:  “Senhor, toda essa glória que as criaturas deveriam te dar com a boca e não te dão, eu tento dá-la  com a minha, e impero a elas fazer um bom e santo uso da boca, unindo-me sempre à mesma  boca de Jesus”. Então enquanto em todas as minhas coisas isto fazia, veio e me disse:

(2) “Eis a continuação de minha Vida, que era a glória do Pai e o bem das almas; se nisto  persevera tu formarás minha Vida e Eu a tua, tu serás meu respiro e Eu o teu”.  (3) Depois disso Jesus repousava sobre meu coração, e eu sobre o coração dele, e parecia que  Jesus tomava o respiro de mim, e eu o tomava por meio de Jesus. Que felicidade, que alegria, que  vida celestial experimentava nessa posição! Seja sempre agradecido e abençoado o Senhor, que  tanta misericórdia usa com esta pecadora.

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Setembro 14, 1901 

O princípio e o fim de nossas ações devem ser o amor de Deus.  

(1) Depois de ter passado vários dias de privação, hoje, enquanto me preparava para fazer a  meditação, minha mente se distraiu em outra coisa, e por meio de uma luz compreendia que a  alma ao sair do corpo entra em Deus; e como Deus é puríssimo amor, a alma só entra em Deus  quando é um complexo de amor, porque Deus a nenhum recebe em Si senão em tudo semelhante

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a Ele, e encontrando-a complexo de amor, recebe-a e participa-lhe todas as suas dotes. Assim  estaremos em Deus além do céu, como aqui estamos em nossa própria habitação.  (2) Agora, isto me parecia que se poderia fazer também no curso de nossa vida para poupar  trabalho ao fogo do purgatório, e a nós a pena, e assim ser introduzidos imediatamente, sem  nenhuma dificuldade, em nosso sumo Bem Deus. Então me parecia que o alimento do fogo é a  lenha, e para estar seguro que a lenha se converteu em fogo, é quando se adverte que já não  produz fumaça. Agora, princípio e fim de todas as nossas ações deve ser o fogo do amor de Deus;  a lenha que deve alimentar este fogo são as cruzes, as mortificações; a fumaça que se eleva entre  a lenha e o fogo são as paixões, as inclinações, que muito freqüentemente assolam a cabeça;  então o sinal de que tudo em nós se consumiu em fogo, é se nossas paixões estão em seu lugar e  não sentimos mais inclinações a tudo o que não se refere a Deus.

(3) Parece que com isto passaremos livremente, sem nenhum obstáculo a habitar em nosso Deus,  e chegaremos até daqui a gozar o paraíso antecipado.

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Setembro 15, 1901

Fugindo da cruz permanece no escuro.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus veio glorioso, com as chagas resplandecentes mais que o  sol e com uma cruz na mão. Enquanto estava nisto, via também uma roda da qual saíam quatro  ângulos; parecia que num ângulo escapava a luz e ficava às escuras, nesta escuridão ficavam as  pessoas como abandonadas por Deus e sucediam guerras sangrentas contra a Igreja e contra a  gente mesma. Ah! , parecia que as coisas ditas antes por Jesus bendito Aproximam-se a passos  rápidos. Agora, Nosso Senhor, vendo tudo isto, moveu a compaixão aproximou-se da parte escura  e lançou sobre a cruz que tinha na mão, dizendo com voz sonora:

(2) “Glória à cruz”.

(3) E parecia que aquela cruz chamava de novo a luz, e os povos sacudindo-se imploravam ajuda  e socorro. E Jesus repetiu:

(4) “Todo o triunfo e glória serão da cruz, de outra maneira os remédios piorarão os mesmos  males; portanto, a cruz, a cruz”.

(5) Quem pode dizer como fiquei aflita e pensativa no que poderá acontecer?  + + + +

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Outubro 2, 1901

Jesus a leva ao Céu e os anjos lhe pedem  

que a faça conhecer a todas as gentes.  

Ela nada em Deus e trata de compreender o interior Divino

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(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, no meio das  nações; quem pode dizer os males, os horrores que se viam? Então todo aflito me disse:  (2) “Minha filha, que peste exala a terra; enquanto deveria ser uma com o Céu, e como no Céu não  se faz outra coisa que me amar, louvar-me, agradecer-me, o eco do Céu deveria absorver a terra e  formar um só, mas a terra se tornou insuportável, por isso vem tu e junta-te ao Céu, e em nome de  todos vem dar-me uma satisfação por eles”.

(3) Num instante me encontrei no meio dos anjos e santos; não sei dizer como me senti, uma  infusão do que cantavam e diziam os anjos e os santos, e eu a par deles fiz a minha parte em  nome de toda a terra. Meu doce Jesus todo contente, depois disto disse dirigindo-se a todos:  (4) “Eis aqui da terra uma nota angélica, como me sinto satisfeito”.

(5) E enquanto dizia isto, como para me recompensar me tomou em seus braços, me beijava e  beijava, e me mostrava a toda a corte Celestial como objeto de suas mais queridas complacências.  Ao verem isto, os anjos disseram:

(6) “Senhor, pedimos-te que mostres o que fizeste às nações com um sinal prodigioso da vossa  omnipotência, para vossa glória e para o bem das almas, que não escondas mais os tesouros  derramados nela, e assim, vendo e tocando eles mesmos a vossa omnipotência noutra criatura,  possa servir de arrependimento aos maus e de maior estímulo a quem quer ser bom”.

(7) Eu ao ouvir isto me senti surpreso por um temor, e toda me anulando, tanto que me via como  um pequeno peixinho, lancei-me no coração de Jesus dizendo: “Senhor, não quero outra coisa  senão a Ti e estar escondida em Ti; e isto te pedi sempre, e isto te peço que me confirmes”. E, dito  isto, encerrei-me no interior de Jesus, como que nadando nos vastíssimos mares do interior de  Deus. E Jesus disse a todos:

(8) “Não a ouvistes? Não quer outra coisa senão a Mim e estar escondida em Mim, este é seu  maior contentamento: e Eu ao ver uma intenção tão pura sinto-me mais atraído para ela, e vendo  o seu desagrado se mostrasse às nações com um sinal prodigioso a minha obra, para não a  entristecer não vos concedo o que me pedistes”.

(9) Os anjos pareciam que insistiam, mas eu não prestei atenção a nenhum, não fazia outra coisa  que nadar em Deus para compreender o interior Divino, mas o que, me parecia ser como um  menino que quer tomar em sua mãozinha um objeto de desmesurada grandeza, que enquanto o  toma lhe escapa e apenas consegue tocá-lo, assim que não pode dizer nem quanto pesa, nem que  amplitude tinha aquele objeto; ou bem como outra criança que não conhecendo toda a  profundidade dos estudos, diz com ânsias que quer aprender tudo em breve, e Mal consegue  aprender as primeiras letras do alfabeto. Assim a criatura não pode dizer outra coisa que: “Toquei

lhe, é belo, é grande, não há bem que não possua.” Mas quão belo é, quanta grandeza contém,  quantos bens possui, não sei dizê-lo, ou seja, pode dizer de Deus as primeiras letras do alfabeto,

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deixando para trás toda a profundidade dos estudos. Assim, meus caríssimos irmãos, anjos e  santos, mesmo estando no Céu, como criaturas não têm a capacidade de compreender em tudo o  seu Criador, são como tantos recipientes cheios de Deus, que querendo enchê-los de mais se  derramam fora. Eu acho que eu estou dizendo muitas loucuras, por isso eu colocar ponto.

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Outubro 3, 1901

Luisa é oferecida de modo especial.

Não há obstáculo maior para

a união com Deus, que a vontade humana

(1) Tendo recebido a comunhão, estava pensando como oferecer uma coisa mais especial a Jesus,  como atestar-lhe meu amor e dar-lhe um maior gosto; então lhe disse: “Caríssimo Jesus meu,  ofereço-te o meu coração para a tua satisfação e como louvor eterno, e ofereço-te a mim mesma,  até mesmo as partículas mínimas do meu corpo, como tantos muros para os pôr diante de Ti para  impedir qualquer ofensa que te seja feita, aceitando-as todas sobre mim, se possível, e a teu  prazer até o dia do juízo; e porque quero que minha oferta seja completa e te satisfaça por todos,  tenho intenção de que todas as penas que sofrerei ao receber sobre mim as ofensas, te  recompensem de toda aquela glória que te deviam dar os santos que estão no Céu quando  estavam na terra, aquela que te deviam dar as almas do purgatório e aquela glória que te deviam  dar todos os homens passados, presentes e futuros, ofereço-te por todos em geral e por cada um  em particular”. Assim que terminei de dizer isto, o bendito Jesus, tudo comovido por tal oferta me  disse:

(2) “Minha amada, tu mesma não podes entender o grande contentamento que me deste com te  oferecer deste modo, curaste-me todas as minhas feridas e me deste uma satisfação por todas as  ofensas passadas, presentes e futuras, e Eu tê-la-ei em conta por toda a eternidade como uma jóia  preciosa que me glorificará eternamente, e cada vez que a veja te darei nova e maior glória eterna.  (3) Minha filha, não pode haver obstáculo maior que impeça a união entre Mim e as criaturas, e que  se oponha a minha Graça, que a própria vontade. Tu, que me ofereceste o teu coração para a  minha satisfação, te esvaziaste de ti mesma, e te esvaziei de ti; tudo me verterei em ti, e do teu  coração me virá um louvor que me trará as mesmas notas dos louvores do meu coração, que  continuamente dá a meu Pai para satisfazer à glória que não lhe dão os homens”.

(4) Enquanto dizia isto, via que mediante minha oferta saíam de todas as partes de mim mesma  muitos rios que se derramavam sobre o bendito Jesus, e que depois, com ímpeto e mais  abundantes, os derramava sobre toda a corte celestial, sobre o purgatório e sobre todas as nações.  Oh bondade de meu Jesus ao aceitar um tão mísero oferecimento, que o recompensa com tanta  graça! Oh! prodígio das santas e piedosas intenções, se em todas as nossas obras, mesmo triviais,

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nos aproveitássemos delas, que negócio não faríamos? Quantas propriedades eternas não  adquiriríamos? Quanta glória de mais não daríamos ao Senhor?

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Outubro 8, 1901

Quando a alma trabalha unida com Jesus, 

suas ações têm os mesmos efeitos do agir dEle.  

Valor da intenção.  

(1) Esta manhã sofri muito por esperar por meu adorável Jesus, mas enquanto o esperava fazia  quanto mais podia unir tudo o que estava fazendo em meu interior com o interior de Nosso Senhor,  tentando lhe dar toda aquela glória e reparação que lhe dava sua Humanidade Santíssima. Agora,  enquanto fazia isto, o bendito Jesus veio e me disse:

(2) “Minha filha, quando a alma se serve de minha Humanidade como meio para obrar, ainda que  seja só um pensamento, um respiro, um ato qualquer, são como tantas gemas que saem de minha  Humanidade e se apresentam ante a Divindade, e como saem por meio de minha Humanidade,  têm os mesmos efeitos de meu agir quando estava sobre a terra”.

(3) E eu: “Ah Senhor! sinto como uma dúvida, como pode ser que com a simples intenção no agir,  mesmo nas mais mínimas coisas, enquanto considerando-as são coisas de nada, vazias, e parece  que a única intenção da união Contigo e de te agradar só a Ti, as enche, e Tu as elevas naquele  modo supremo fazendo-as aparecer como coisas grandíssimas?”

(4) “Ah minha filha! Vazio é o obrar da criatura, ainda que fosse uma obra grande; é a união comigo  e a simples intenção de me agradar a Mim o que o enche, e como meu agir, ainda que fosse um  respiro, excede em modo infinito a todas as obras das criaturas juntas, eis a causa que o faz tão  grande, e além disso, não sabes tu que quem se serve da minha Humanidade como meio para  obrar suas ações, vem a nutrir-se dos frutos de minha mesma Humanidade, e a alimentar-se de  meu mesmo alimento? Além disso, não é porventura a boa intenção o que torna o homem santo, e  a má intenção o que o torna perverso? Nem sempre se fazem coisas diversas, mas com as  mesmas ações um se santifica e o outro se perverte”.

(5) Enquanto dizia isto, via dentro de nosso Senhor uma árvore verde, cheia de belos frutos, e aquelas almas que trabalhavam para agradar somente a Deus e por meio de sua Humanidade as  via dentro Dele, sobre desta árvore, e sua Humanidade servia de quarto a estas almas. Mas como  era raro o seu número!

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Outubro 11, 1901

Silêncio de Jesus. O alimento mais necessário é a paz. 

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(1) Tendo passado vários dias de privação e de silêncio, esta manhã ao vir continuava seu silêncio,  e se bem o tive quase sempre comigo, por quanto fiz não consegui fazê-lo dizer uma só palavra,  parecia que tinha uma coisa em seu interior que o amargava, Tanto, que o deixava taciturno e não  queria que eu soubesse. Agora, enquanto Jesus estava Comigo, pareceu-me ver a Rainha Mãe, e  ao ver Jesus comigo disse-me:

(2) “Tens? Menos mal que está contigo, porque se deve desafogar sua justa ira, estando contigo o  detenhas; minha filha, pede-lhe que detenha os flagelos, porque os maus estão todos prontos para  sair, mas se vêem atados por uma potência suprema que o impede, e também porque se a justiça  divina não permitir que o façam quando lhes agrade, se terá este bem, que conhecerão a  autoridade divina sobre eles e dirão: “Fizemos isto porque nos foi dado o poder do alto”. Minha  filha, que guerra se esconde no mundo moral, dá horror vê-lo; não obstante, o primeiro alimento  que se deveria procurar na sociedade, nas famílias e por cada alma, deveria ser a paz, todos os  outros alimentos se tornam insalubres sem ela, ainda que sejam as mesmas virtudes, a caridade, o  arrependimento, sem a paz não levam nem saúde nem verdadeira santidade; no entanto, no  mundo de hoje, descartou-se este alimento da paz tão necessário e saudável, e não se quer mais  que turbulências e guerras. Minha filha, rogai, rogai.

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4-93

Outubro 14, 1901

Jesus mostra-se como um relâmpago, e faz-lhe 

compreender alguma coisa dos atributos divinos.

(1) O bendito Jesus vem de pressa, quase como um relâmpago, e nesse relâmpago faz sair de  dentro de seu interior, agora um distintivo especial de um atributo seu, e agora algum outro,  quantas coisas faz compreender naquele relâmpago; mas retirando-se aquele relâmpago a mente  permanece às escuras e não sabe dizer o que compreendeu naquele relâmpago de luz, muito mais  que sendo coisas que se referem à Divindade, a língua humana vê-se em dificuldades para as  poder dizer, e por quanto mais se esforça, mais muda fica, mas bem nestas coisas é sempre uma  menina recém-nascida. Mas a obediência quer que me esforce em dizer o pouco que possa, e eis aqui: “Parecia-me que todos os bens Deus os contém em Si mesmo, de modo que, encontrando  em Deus todos os bens que Ele contém, não é necessário ir a outra parte para ver a amplitude de  seus confins, não, senão que Ele só basta para encontrar tudo o que é seu. Agora, num relâmpago  mostrava um distintivo especial de sua beleza; mas quem pode dizer como é belo? Só sei dizer  que comparadas todas as belezas angélicas e humanas, as belezas da variedade das flores e dos  frutos, o esplêndido azul e estrelado céu, que parece que olhando-o nos hipnotiza e nos fala de  uma beleza suprema, são sombras ou alento que Deus tem mandado da beleza que nele contém,  ou seja, como pequenas gotas de orvalho comparadas com as imensas águas do mar. Passo

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adiante pois minha mente começa a se perder. Em outro relâmpago mostrava um distintivo  especial do atributo da caridade, mas, ó Deus três vezes Santo! Como poderei eu, miserável, falar  sobre este atributo, que é a fonte da qual derivam todos os outros atributos? Direi apenas o que  compreendi dele com respeito à natureza humana. Compreendi que Deus ao criar-nos, este  atributo da caridade se derrama em nós e nos enche tudo de Si, de modo que se a alma  correspondesse, estando cheia do sopro da caridade de Deus, a mesma natureza deveria  transformar-se em caridade para com Deus. Ao contrário, conforme a alma se vai difundindo no  amor das criaturas, ou dos prazeres, ou do interesse, ou de qualquer outra coisa, aquele sopro  divino vai saindo da alma, e se chega a difundir-se em tudo, a alma fica vazia da caridade divina. E  como ao Céu não se entra se não se é um complexo de caridade puríssima, toda divina, se a alma  se salva, este sopro recebido ao ser criada, o irá a readquirir a força de fogo nas chamas  purgantes, e só sairá quando chegar a transbordar desta caridade, então quem sabe que longa  etapa terá que acontecer naquele lugar expiatório. Agora, se a criatura tem que ser assim, o que  será o Criador? Creio que estou dizendo muitos disparates, mas não me surpreendo porque não  sou para nada nenhuma douta, sou sempre uma ignorante, e se há alguma coisa de verdade  nestes escritos não é minha, mas de Deus, e eu fico sempre a ignorante que sou.

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Outubro 21, 1901

A reta intenção. Tudo o que não se faz por Deus fica 

perdido como pó ante um vento impetuoso. 

(1) Esta manhã, o bendito Jesus ao vir parecia que fazia um cerco com seus braços como para me  fechar dentro, e enquanto me estreitava me disse:

(2) “Minha filha, quando a alma faz tudo por Mim, tudo fica encerrado dentro deste cerco, nada fica  fora, assim fora um suspiro, um latido, um movimento qualquer, tudo entra em Mim, e em Mim tudo  fica numerado e Eu em recompensa os derramo na alma, mas duplicados de graça, de modo que a  alma derramando-os novamente em Mim, e Eu nela, chega a adquirir um capital surpreendente de  graça, e tudo isto é meu deleite, isto é: “Dar à criatura o que me deu como se fosse coisa sua,  acrescentando sempre do meu”. E quem com sua ingratidão impede que lhe dê o que quero,  impede minhas inocentes delícias. Agora, quem não trabalha por Mim, tudo fica fora de meu cerco,  espalhado como o pó por um vento impetuoso”.

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4-95

Outubro 25, 1901

A privação faz saber de onde vêm as coisas  

e a preciosidade do objeto perdido.

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(1) Depois de ter passado vários dias de temores e dúvidas sobre meu estado, acreditando todo  um trabalho de minha fantasia, e às vezes se fixava tanto minha mente nisto, que chegava a me  lamentar e a me desagradar com Nosso Senhor dizendo: “Que pena, que desgraça a minha ser  vítima de minha fantasia, acreditava ver-te a Ti e em troca era toda alucinação da fantasia,  acreditava cumprir seu Querer estando por tanto tempo nesta cama, e quem sabe se não foi  também um fruto da fantasia! Senhor, dá pena, dá espanto só de pensar; teu Querer adoçava tudo,  mas isto me amarga até a medula dos ossos; ah! dá-me a força de sair deste estado de fantasia”.  E o tinha tão fixo que não podia me distrair, tanto, que chegava a pensar que a fantasia me teria  preparado um lugar no inferno; se bem que buscava libertar-me dizendo: “Bem, me servirei da  fantasia para poder amá-lo no inferno.

(2) Agora, enquanto me encontrava nesta fixação, o bendito Jesus quis aumentar minha dolorosa  situação, com mover-se dentro de mim dizendo: “Não preste atenção a isto, de outra maneira Eu te  deixo e te farei ver se sou Eu quem venho ou é sua fantasia que engana”.

(3) Apesar disso, eu não me preocupei por então dizendo: “Ah! , não terá ânimo de fazê-lo, é tão  bom.” No entanto, na verdade ele fez.

(4) É inútil dizer o que passei alguns dias privada de Jesus, me prolongaria muito, só ao me  lembrar se me gela o sangue nas veias, por isso passo adiante. Agora, tendo dito tudo isto ao  confessor, parece que ele foi o meu mediador. Tendo começado a pedir juntos que se dignasse vir,  senti-me perder os sentidos e fazia-se ver de muito longe, quase zangado que não queria vir. Eu  não me atrevia, mas o confessor insistia unindo a intenção de que me participasse a crucificação,  então para contentar o confessor aproximou-se e me participou as dores da cruz, e depois como se  tivesse feito as pazes me disse:

(5) “Era necessário que te privasse de Mim, de outra maneira não te terias convencido se fosse Eu  ou bem a tua fantasia. A privação serve para fazer conhecer de onde vêm as coisas e a  preciosidade do objeto perdido, e para estimá-lo mais quando se recobra”.

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4-96

Novembro 22, 1901

O eu carrega a marca de todas as ruínas, sem o eu tudo é segurança. 

(1) Depois de ter passado dias amargos de lágrimas, de privações e de silêncio, meu pobre  coração não pode mais; tanto é a dor fora de meu centro Deus, que continuamente sou lançada  entre profundas ondas de feroz tempestade, em estado de forte violência em que sofro a cada  momento a morte, e o que é mais, não poder morrer. Então, encontrando-me nesta situação, por  pouco se fez ver e me disse:

(2) “Minha filha, quando uma alma faz em tudo a vontade de outra, diz-se que tem confiança  naquela, por isso vive do querer da outra e não do seu, assim quando a alma faz em tudo minha

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Vontade, Eu digo que tem fé, assim que o Divino Querer e a fé são ramos produzidos de um só  tronco, e como a fé é simples, a fé e o Divino Querer produzem o terceiro ramo da simplicidade, e  assim a alma readquire em tudo as características de pomba. Não queres então ser a minha  pomba?”

(3) Em outra ocasião me disse:

(4) “Minha filha, as pérolas, o ouro, as gemas, as coisas mais preciosas, têm-se bem guardadas  dentro de algum cofre e com dupla chave. Por que você teme então se te tenho bem guardada no  cofre da santa obediência, custódia muito segura onde não uma, mas duas chaves têm bem  fechada a porta para ter proibido o acesso a qualquer ladrão, e mesmo à sombra de qualquer  defeito? Só o eu carrega a marca de todas as ruínas, mas sem o eu tudo é segurança”.

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Dezembro 27, 1901

Jesus: fornecedor da Santíssima Trindade. Separação dos sacerdotes. (1) É inútil dizer meu pobre estado, como me reduzi, seria um querer recrudescer e fazer mais  profundas as chagas de minha alma, por isso passo tudo em silêncio fazendo uma oferta ao  Senhor. Então esta manhã, enquanto chorava a perda do meu adorável Jesus, veio o confessor e  deu-me a obediência de pedir ao Senhor que se dignasse vir. Parece que veio, e tendo posto o  confessor a intenção da crucifixão, participou-me as dores da cruz, e enquanto isso fazia disse ao  confessor:

(2) “Eu fui fornecedor da Santíssima Trindade, isto é: Entreguei às pessoas a potência, sabedoria,  caridade das Divinas Pessoas. Tu, sendo minha representante, não deves fazer outra coisa senão  continuar minha mesma obra para as almas, e se não te interessares vens a destroçar a obra  iniciada por Mim, e Eu me sinto defraudado na execução de meus designos, e sou obrigado a  retirar a potência, A sabedoria, a caridade que vos teria dado se tivesses cumprido a obra que te  confiei”.

(3) Depois disto parecia que me transportava para fora de mim mesma, e de longe se via uma  multidão de pessoas, da qual vinha uma peste insuportável e Jesus disse:

(4) “Minha filha, que divisão farão os sacerdotes entre eles, e este será o último golpe para  fomentar entre os povos partidos e revoluções”.

(5) E dizia-o tão amargo que dava compaixão. Depois disto, lembrando-me do meu estado, disse lhe: “Diz-me, Senhor meu, queres que me faça dar a obediência para acabar de estar neste  estado? Sobretudo que não sofrendo mais como antes me sinto inútil”. E Ele Respondeu-me:  (6) “Justo”.

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(7) Mas muito aflito, e o meu coração ficou inquieto como se não quisesse que me dissesse isso.  Então eu respondi: “Mas, Senhor, não porque eu queira sair, mas quero conhecer o teu Santo  Querer, porque como o meu estado era porque Tu vinhas a mim e me participavas os teus  sofrimentos, tendo cessado isto, temo que nem sequer queiras que continue na cama”. E Jesus  disse:

(8) “Você tem razão, você tem razão”.

(9) Mas o quê? O meu coração estava despedaçado pelas respostas dadas por Jesus bendito, e  acrescentei: “Mas meu Senhor, dize-me pelo menos qual é maior glória para Ti, que continue assim  mesmo que tenha que morrer, ou que me faça dar a obediência que termine meu estado?” E  Jesus, vendo que não terminava com isto, Ele mesmo mudou tema dizendo-me:

(10) “Minha filha, sinto-me ofendido por todos, olha, mesmo as almas devotas têm os olhos fixos  para examinar se o que fazem é ou não é culpa, mas emendar-se, extirpar a culpa, isso não, e isto  é sinal de que não há nem dor nem amor, porque a dor e o amor são dois unguentos  extremamente eficientes que aplicados à alma a deixam perfeitamente curada; e um corrobora e  fortifica principalmente ao outro”.

(11) Mas eu pensava em minha pobre situação, e queria lhe dizer de novo para conhecer a  Vontade do Senhor com clareza; mas Jesus me desapareceu, e eu retornando em mim mesma me  via toda confusa sobre o que fazer, então para estar segura expus tudo à obediência, Que quer  que continue no meu estado. Seja sempre feita a Vontade do Senhor.

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Dezembro 29, 1901  

As tribulações são necessárias a quem vive à sombra de Jesus.  

(1) Estando toda oprimida, apenas vi a minha adorável Jesus, que olhando para mim disse:  (2) “Minha filha, para quem vive à minha sombra é necessário que soprem os ventos das  tribulações, a fim de que o ar infectado ao seu redor não possa penetrar nele, embora esteja sob  minha sombra; assim que os ventos contínuos, agitando sempre este ar insalubre, o têm sempre  distante e fazem soprar um ar puríssimo e saudável”.

(3) Ao terminar desapareceu, e eu compreendia muitas coisas sobre isto, mas não é necessário  explicá-las porque creio que é fácil compreender o significado.

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Janeiro 6,1902

Efeitos portentosos de unir a nossa vida com a de Jesus. 

Duas palavras sobre a morte. 

(1) Estando em meu habitual estado, depois de ter esperado muito, veio por pouco meu

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amadíssimo Jesus, e pondo-se junto a mim me disse:

(2) “Minha filha, quem busca uniformizar-se em tudo a minha vida, não faz outra coisa que  adicionar um perfume de mais e diferente a tudo o que fiz em minha vida, de modo de perfumar o  Céu, toda a Igreja, e mesmo os mesmos maus sentem exalar este perfume celestial, tanto, que  todos os santos não são outra coisa que tantos perfumes, e o que mais alegra à Igreja e ao Céu é  que são distintos entre eles. Não só isto, mas quem busca continuar minha vida, obrando o que fiz,  até onde pode, e onde não pode, ao menos com o desejo e com a intenção, Eu o tenho em minhas  mãos como se estivesse continuando toda minha vida em dita alma, não como coisa passada, mas  como se no presente vivesse, e isto é um tesouro em minhas mãos, que duplicando o tesouro de  tudo o que fiz, disponho-o para o bem de todo o gênero humano. Então, você não gostaria de ser  um destes?”

(3) Eu me senti toda confusa e não soube o que responder, e Jesus desapareceu; mas pouco  depois voltou, e ao mesmo tempo via várias pessoas que temiam muito a morte. Então eu, vendo  isto, disse: “Meu Jesus gentil, será defeito em mim não temer a morte, enquanto vejo que tanto a  temem os demais? e eu em vez disso, pensando só que a morte me unirá para sempre Contigo e  terminará o martírio de minha dura separação, o pensamento da morte não só não me dá nenhum  temor, senão que me é de alívio, me dá paz e faço festa por isso, deixando de lado todas as  demais consequências da morte”.

(4) E Jesus: “Filha, na verdade esse temor extravagante de morrer é loucura, já que cada um tem  todos meus méritos, virtudes e obras como passaporte para entrar no Céu, havendo-os dado em  doação a todos, e muito mais se aproveitando esta doação minha acrescentou o seu, e com todas  estas coisas, que medo se pode ter da morte? Enquanto que com este passaporte seguro a alma  pode entrar onde quiser, e todos por consideração do O passaporte é respeitado e passado.  Quanto a ti, este não temer nada a morte é por ter tratado Comigo, e ter experimentado como é  doce e amada a união com o sumo Bem, mas deves saber que a homenagem mais agradável que  me pode oferecer, é desejar morrer para unir-se Comigo, e é a mais bela disposição da alma para  purgar-se e sem nenhum intervalo passar diretamente pelo caminho ao Céu”. Dito isto  desapareceu.

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4-100

Janeiro 11, 1902  

O amor para ser perfeito deve ser triplo. Fala do divórcio.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, por um pouco vi o meu adorável Jesus, e eu,  assim que o vi, disse-lhe: “Doce Bem meu, diz-me, continuas a amar-me?”

(2) E Ele: “Sim, mas sou amante e ciumento, zeloso e amante, mas bem te digo que para ser

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perfeito o amor deve ser triplo, e em Mim há esta tripla condição de amor: Primeiro, amo-te como  Criador, como Redentor e como Amante. Segundo, te amo em minha onipotência, que me serviu  para te criar e criar tudo por amor teu, de modo que o ar, a água, o fogo e todo o resto te dizem  que te amo e que por amor teu os fiz; te amo como minha imagem, e te amo por ti mesma.  Terceiro, eu te amo ab eterno, te amo no tempo e te amo por toda a eternidade. E isto não é outra  coisa que um sopro que saiu fora do meu amor; imagina tu que será aquele amor que contenho em  Mim mesmo.

(3) Agora, tu estás obrigada a retribuir-me este triplo amor, amando-me como teu Deus, no qual  deves fixar-te toda, e não fazer sair nada de ti que não seja amor por Mim, amando-me por tua  conta e pelo bem que a ti vem, e amar-me por todos e em todos”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma e me encontrei no meio de muitas  pessoas que diziam: “Se se confirmar esta lei, pobre mulher, tudo lhe será para mal”. E todos  esperavam ansiosamente ouvir o pró ou o contra, e se via em outro lugar isolado que estavam  muitas pessoas discutindo entre elas, e um deles tomava a palavra e os e, tendo fatigado muito,  saiu à porta, e disse: Certamente sim, em favor da mulher. Ao ouvir isso, todos os de fora faziam  festa, e os de dentro ficavam todos confundidos, tanto que nem sequer tinham coragem de sair.

(5) Acho que é esta lei do divórcio que dizem, e eu compreendia que não a confirmaram.

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Janeiro 12, 1902

A cegueira dos homens. Jesus fala do divórcio. As contradições são pérolas preciosas.  (1) Parece que continua a vir um pouco meu adorável Jesus, aliás, esta manhã transportando-me  para fora de mim mesma fazia-me ver os graves males da sociedade, e as suas grandes

amarguras, e derramou abundantemente em mim parte do que o amargava, e depois disse-me:  (2) “Minha filha, olha um pouco até onde chegou a cegueira dos homens, até querer formar leis  iníquas e contra eles mesmos e seu bem-estar social; minha filha, por isso te chamo de novo aos  sofrimentos, a fim de que oferecendo-te Comigo à Divina Justiça, aqueles que devem combater  esta lei do divórcio obtenham luz e graça eficaz para resultar vitoriosos. Minha filha, Eu tolero que  façam guerras, revoluções, que o sangue dos novos mártires inunde o mundo, isto é honra para  Mim e para minha Igreja, mas esta lei brutal é uma afronta à Igreja, e a Mim é abominável e  intolerável”.

(3) Enquanto dizia isto, vi um homem que lutava contra esta lei, cansado e sem forças, em atitude  de querer retirar-se da empresa; então junto com o Senhor o incentivamos e ele respondeu: “Vejo me quase só para lutar, e impossibilitado para obter o propósito”. Eu lhe disse: “Coragem, porque

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as contradições são tantas pérolas das quais o Senhor se servirá para adorná-los no Céu”. E ele  tomou fôlego e seguiu com a empresa.

(4) Depois disto vi outro todo ocupado, pensativo, não sabendo o que decidir, e alguns lhe diziam:  “Sabes o que queres fazer? Sai, sai de Roma”. E ele: “Não, não posso, é palavra dada a meu pai,  exporei minha vida, mas sair jamais”.

(5) Depois que nos retiramos, Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma  + + + +.

4-102

Janeiro 14, 1902

Não se é digno de Jesus se não se esvazia de tudo.  

Em que consiste a verdadeira exaltação.

(1) Estando em meu estado habitual veio meu adorável Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, não pode ser verdadeiramente digno de Mim, senão só quem esvaziou tudo de  dentro de si, e se encheu tudo de Mim, de modo a formar de si mesmo um objeto todo de amor  divino, tanto, que meu amor deve chegar a formar sua vida e a me amar não com seu amor, mas  com meu amor”.

(3) Depois acrescentou: “O que significam aquelas palavras: “Depôs do trono os poderosos e tem  exaltado os pequenos?” Que a alma destruindo-se totalmente a si mesma se enche toda de Deus,  e amando a Deus com o próprio Deus, Deus exalta a alma a um amor eterno, e esta é a verdadeira e a maior exaltação e ao mesmo tempo a verdadeira humildade”.

(4) Depois continuou: “O verdadeiro sinal para conhecer se se possui este amor, é se a alma não  se ocupa de nenhuma outra coisa senão de amar a Deus, de fazê-lo conhecer, e fazer que todos o  amem”.

(5) Depois, retirando-se em meu íntimo ouvi que rezava dizendo:

(6) “Sempre Santa e indivisível Trindade, vos adoro profundamente, vos amo intensamente, vos agradeço perpetuamente por todos e nos corações de todos”.

(7) E assim a passei, ouvindo quase sempre que rezava dentro de mim e eu junto com Ele. + + + +

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Janeiro 25, 1902

A febre do amor faz a alma embarcar no voo para o Céu. 

Reprovações de Jesus. 

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, veio o meu adorável Jesus, e assim que o vi, eu  disse: “Amado Bem meu, não posso mais, leva-me de uma vez para sempre contigo para o Céu,  ou fica para sempre comigo sobre esta terra”.

(2) E Ele: “Faz-me observar até onde chegou a febre do teu amor, porque assim como a febre  natural quando chega a um grau alto tem virtude de consumir o corpo e fazê-lo morrer, assim a

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febre do amor, se chega a um grau altíssimo tem virtude de desfazer o corpo e fazer voar a alma,  nada menos do que para o Céu”.

(3) E, enquanto dizia, tomou o meu coração nas suas mãos para o rever, e prosseguiu dizendo-me: (4) “Minha filha, a força da febre do amor não chegou ao ponto; é preciso mais um pouco”.  (5) Depois fazia ver que queria verter, mas eu não lhe dizia nada, e Ele, quase me censurando,  docemente acrescentou:

(6) “Não sabes teu dever? Não sabe que a primeira coisa que deveria fazer ao me ver, é ver se há  em Mim alguma coisa que me aflige e amarga e me pedir que a derrame sobre você? Este é o  verdadeiro amor, sofrer as penas da pessoa amada, para poder ver em tudo contente a pessoa  que se ama”.

(7) Eu, envergonhada disto disse: “Senhor, derrama-te”. E Ele derramou e desapareceu. + + + +

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Janeiro 26, 1902

A Rainha Mãe é enriquecida com as três prerrogativas da Santíssima Trindade.  (1) Esta manhã, enquanto me encontrava no meu habitual estado, via diante de mim uma luz  interminável, e compreendia que naquela luz habitava a Santíssima Trindade, e ao mesmo tempo  via diante dessa luz a Rainha Mãe que ficava toda absorvida pela Santíssima Trindade, E ela  absorvia em Si as Três Divinas Pessoas, de modo tal que ficava enriquecida com as três  prerrogativas da Trindade Sacrossanta, isto é: Potência, Sabedoria e Caridade, e assim como  Deus ama o gênero humano como parte de Si, e como partícula saída de Si, e deseja  ardentemente que esta parte de Si mesmo regresse a Ele mesmo, assim a Mãe Rainha,  participando nisto ama o gênero humano com amor apaixonado.

(2) Agora, enquanto isso compreendia, vi o confessor e pedi à Virgem Santíssima que intercedesse  por ele diante da Santíssima Trindade; Ela fez uma inclinação levando minha oração ao Trono de  Deus, e vi que do Trono Divino saía um fluxo de luz que cobria tudo ao confessor, e encontrei-me  em mim mesma.

+ + + +

4-105

Fevereiro 3, 1902

Oferece sua vida para que não se aprove a lei do divórcio.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma com meu adorável  Menino Jesus entre meus braços; primeiro derramou um pouco do que o amargava, e depois fazia

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como se se quisesse ir, e eu o apertando entre meus braços lhe disse: “Meu amado e vida de  minha vida, o que faz? Quer ir? E eu como faço? Não vê que quando estou privada de Ti é para  mim um contínuo morrer? E além disso, seu coração que é a mesma bondade não terá coragem  de fazê-lo, e eu jamais te deixarei partir”. E o apertava forte como se meus braços se tivessem  tornado correntes, assim que não podendo se soltar ficou comigo, calado, e eu, vendo que os  males da sociedade se agravavam mais ainda, disse-lhe: “Doce Bem meu, diz-me que será deste  divórcio que dizem, chegarão a formar esta lei ímpia ou não?”

(2) E Ele me disse: “Minha filha, o interior do homem contém um tumor gangrenoso, cheio de  podridão, como se tivesse chegado a supurar, e não podendo contê-lo mais dentro, querem cortar  este tumor, mas não para curar-se, senão para fazer que saindo parte desta podridão possa  contaminar, contagiar toda a sociedade. Mas o Sol divino, quase nadando no meio da sociedade  grita continuamente dizendo: “Ó homem, não te lembras de que fonte de pureza você saiu, que  como aura de luz te chamava a seu caminho? Como, não só te contaminaste, mas queres chegar a  agir contra a natureza, quase querendo dar outra forma à natureza que te dei, e do modo por Mim  estabelecido”.

(3) Depois disse muitas outras coisas que eu não sei dizer, mas o dizia com tanta amargura, que  eu não podendo resistir em vê-lo desse modo, disse:

(4) “Senhor, retiremo-nos, não vês como te amargam os homens e quase não te dão paz?”. Assim  nos retiramos para a cama, e querendo aliviar a meu bom Jesus lhe disse: “Se tanto te afliges que  os homens façam isto, eu te ofereço minha vida para sofrer qualquer pena e conseguir que não  cheguem a isso, e para fazer que de nenhum modo seja lançada novamente, a uno a seu sacrifício  para poder obter com segurança um reescrito de graça”. Enquanto dizia isto, parecia que o Senhor  apresentava a minha oferta à divina justiça. Ele desapareceu e eu encontrei-me em mim mesma.  (5) Parece que os homens a qualquer custo querem confirmar pelo menos algum artigo desta lei,  não podendo obter que a confirmem toda como eles querem e lhes agrada.

+ + + +

4-106

Fevereiro 8, 1902

 

Significados da Paixão de Jesus.

 

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus, participou-me parte da sua Paixão. Agora, enquanto

me encontrava sofrendo, o Senhor para me aliviar me disse:

(2) “Minha filha, o primeiro significado da Paixão contém glória, louvor, honra, agradecimento,

reparação à Divindade. O segundo é a salvação das almas e todas as graças necessárias para

obter esta finalidade. Então, quem participa nas penas de minha Paixão, sua vida contém estes

mesmos significados, não só, mas toma a mesma forma de minha Humanidade, e como dita

Humanidade está unida com a Divindade, também a alma que participa em minhas penas está em

 

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contato com a Divindade e pode obter o que quer. E mais, suas penas são como chaves para abrir

os tesouros divinos isto enquanto vive aqui abaixo, e depois lá no Céu também lhe está reservada

uma glória distinta que lhe é dada por minha Humanidade e Divindade, de modo a assemelhar-se a

minha mesma luz e glória, e será uma glória mais especial para toda a corte celestial, que lhe será

dada por meio desta alma, pelo que Eu lhe tenho comunicado, porque por quanto mais almas se

semearam a Mim nas penas, tanto mais de dentro da Divindade sairá luz e glória, e toda a corte

celestial participará desta glória”.

(3) Seja sempre bendito o Senhor, e tudo seja para sua glória e honra.

 

+ + + +

 

4-107

Fevereiro 9, 1902

 

Jesus põe-se à disposição da alma.

 

Ela pede o milagre de que não se confirme a lei do divórcio.

 

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus ao vir me participou em abundância suas penas, tanto que

me sentia como se devesse morrer. Enquanto me sentia em tal estado, o bendito Jesus

enternecido e comovido ao me ver sofrer se pôs em meu interior, e dobrando as mãos me Ele

disse:

(2) “Minha filha, como Tu tens estado à minha disposição para sofrer, assim também Eu para te

retribuir me ponho à tua disposição, diz-me o que queres que faça, porque estou pronto para fazer

o que tu queres”.

(3) Então eu, lembrando-me de quanto lhe desagradaria se os homens confirmassem a lei do

divórcio e os males que à sociedade viriam, lhe disse: “Doce Bem meu, já que te dignas pôr-te à

minha disposição, quero que com tua onipotência obres um prodígio, que acorrentando a vontade

das criaturas não possam confirmar esta lei”. E o Senhor parecia aceitar a minha proposta,

dizendo-me: “Quase todas as vítimas que houve sobre a terra e que agora se encontram no Céu,

têm alguma estrela brilhantíssima nas suas coroas, que as fazem distinguir bem pelo lugar que

ocupam, e estas estrelas não são outra coisa que alguma glória grande que têm procurado a Deus,

e ao mesmo tempo, por seu meio um bem grande à humanidade. Tu queres que eu faça um

prodígio para não deixar que se confirme este divórcio, pois de outra maneira não se poderia evitar

isto, pois bem, por amor teu realizarei este prodígio, e esta será a estrela mais resplandecente que

resplandecerá em tua coroa, isto é, por haver impedido com teus sofrimentos que minha justiça,

nestes tristes tempos, às tantas maldades que cometem, permita também este mal que eles

mesmos têm querido. Assim, pode-se dar maior glória a Deus e mais bem aos homens?” e esta

será a estrela mais resplandecente que resplandecerá em tua coroa, isto é, por haver impedido

com teus sofrimentos que minha justiça, nestes tristes tempos, às tantas maldades que cometem,

permita também este mal que eles mesmos têm querido. Assim, pode-se dar maior glória a Deus e

 

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mais bem aos homens?”

 

+ + + +

 

4-108

Fevereiro 17, 1902

 

Explica-lhe o que é a morte.

 

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, finalmente encontrei a mim dulcíssimo Jesus e

queixando me com Ele lhe disse: “Amado Bem meu, como me fazes esperar tanto? Acaso não

sabes que sem Ti não posso viver e minha alma sente um contínuo morrer?”

(2) E Ele: “Amada minha, cada vez que você me busca a Mim, prepara-se para morrer, porque na

realidade, o que é a morte senão a união estável e permanente Comigo? Tal foi a minha vida, um

contínuo morrer por amor de ti, e esta contínua morte foi a preparação para o grande sacrifício de

morrer na cruz por ti. Deve saber que quem vive em minha Humanidade e se alimenta das obras

dela, forma de si mesmo uma grande árvore, cheia de flores e frutos abundantes, e estes formam o

alimento de Deus e da alma. Quem vive fora da minha humanidade, suas obras são odiosas a

Deus e infrutíferas para si mesmo”.

(3) Depois disto, o Senhor derramou abundantemente em mim amarguras e doçuras misturadas,

logo giramos um pouco no meio das nações, e eu não podia separar o meu olhar do rosto do meu

amado Jesus, e Ele vendo isto me disse:

(4) “Minha filha, quem se deixa seduzir pelas obras do Criador, deixa suspensas as obras das

criaturas”.

(5) Ele desapareceu e eu encontrei em mim mesma.

+ + + +

 

4-109

Fevereiro 19, 1902

 

A alma é como tela que recebe em si o retrato da imagem divina.

 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu adorável Jesus se fazia ver que dormia em meu

interior, irradiando de Si muitos raios de luz dourados. Eu estava feliz em vê-lo, mas ao mesmo

tempo descontente por não poder ouvir a doçura e suavidade de sua voz criadora. Então, depois

de muito esperar voltou a fazer-se ver, e vendo meu descontentamento me disse:

(2) “Minha filha, no ministério público é necessário o uso da voz para fazer-me entender, mas no

ministério privado minha única presença basta para tudo, porque me ver e entender a harmonia de

minhas virtudes para copiá-las em si mesma, é o mesmo, portanto a atenção da alma deve estar

em ver-me e em uniformar-se em tudo às operações interiores do Verbo, porque quando Eu atraio

a alma a Mim, pode-se dizer, ao menos por esse tempo, que a tenho em minha presença, que faz

 

82

vida divina. Sendo minha luz como pincel para pintar, minhas virtudes fornecem as diferentes

cores, e a alma é como tela que recebe em si o retrato da imagem divina. Acontece como aquelas

pontes altas, que quanto mais altas tanto mais precipitam ao debaixo de uma chuva abundante;

assim a alma, diante da minha presença, se põe no estado que lhe convém, ou seja, no baixo, no

nada, tanto que se sente destruído, e a Divindade a torrentes faz chover a graça sobre ela e chega

a submergi-la em Si mesmo, por isso deves estar contente de tudo, se falo, e contente se não falo”.

(3) Ao dizer isto, senti-me como mergulhar em Deus, e depois encontrei-me em mim mesma.

 

+ + + +

 

4-110

Fevereiro 21, 1902

 

A palavra de Jesus foi simples, a entendiam

os doutos como os mais ignorantes.

Os pregadores destes tempos dão tantas voltas,

 

que os povos ficam em jejum e ferrados; vê-se que não a tomam da fonte divina.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus se fazia ver em meu interior

como querendo descansar, mas enquanto parecia que repousava, como se tivesse recebido uma

ofensa que não podia suportar, acordando me disse:

(2) “Minha filha, tem paciência, faz-me derramar em ti esta amargura que não me dá descanso”.

(3) E assim dizendo, derramou em mim o que o amargurava, e tomou seu aspecto doce de modo

de poder descansar, e continuava a estar em meu interior, espalhando tantos raios de luz, de modo

de formar uma rede de luz para tomar todos os homens dentro daquela rede, só que uns recebiam

mais daquela luz e outros menos. Enquanto via isto, Nosso Senhor disse-me:

(4) “Minha amada, quando faço silêncio é sinal que quero repouso, isto é, que Tu repousas em Mim

e Eu em Ti. Quando falo é sinal de que quero vida ativa, isto é, que me ajude na obra da salvação

das almas; porque sendo minhas imagens, o que a elas se faz eu considero feito a Mim mesmo”.

(5) Ao dizer isto via alguns sacerdotes, e Jesus como lamentando-se com eles acrescentou:

(6) “Meu falar foi simples, tanto que o fazia compreender aos doutos e aos mais ignorantes, como

se vê com clareza no santo evangelho. Mas os pregadores destes tempos, tantas voltas e voltas

misturam, que os povos ficam em jejum e ferrados, vê-se que não o tomam da fonte de minha

fonte”.

 

+ + + +

 

4-111

Fevereiro 24, 1902

A Rainha Mãe fala-lhe de suas dores. Ela continua a falar sobre o divórcio.

 

83

 

(1) Estando em meu estado habitual, veio a Rainha Mãe e me disse:

(2) “Minha filha, as minhas dores, como dizem os profetas, foram um mar de dores, e no Céu

mudaram-se num mar de glória, e cada uma das minhas dores frutificou outros tantos tesouros de

graça; e assim como na terra chamam-me estrela do mar, que com segurança guia ao porto, assim

no Céu me chamam estrela de luz para todos os bem-aventurados, de modo que são recriados por

esta luz que me produziram minhas dores”.

(3) Enquanto estava nisto veio o meu adorável Jesus dizendo-me:

(4) “Minha amada, não há coisa que me seja mais querida e agradável que um coração justo que

me ama, e vendo-me sofrer me pede que sofra ela o que sofro Eu, isto me ata tanto, e tem tanta

força sobre meu coração, que por recompensa lhe dou tudo Eu mesmo, e lhe concedo as maiores

graças e o que ela quer; e se não fizesse isto, tendo-lhe feito doação de Mim, sinto que por

quantas coisas não lhe dou, tantos furtos lhe faço, ou seja, tantas dívidas contraio com ela”.

(5) Depois me transportou para fora de mim mesma, e Jesus acrescentou:

(6) “Minha filha, há certas ofensas que superam por muito os mesmos sofrimentos que sofri em

minha Paixão, como o dia de hoje em que recebi várias, que se não vertesse parte, minha justiça

me obrigaria a mandar sobre a terra ferozes flagelos; por isso deixe-me verter em ti”.

(7) Depois que derramou, não sei como, ouvindo-o falar das ofensas lhe disse: “Senhor, esta lei do

divórcio que dizem, é certo que não a confirmarão?”

(8) E Ele: “Por agora é verdade, porque depois, daqui a cinco, dez, vinte anos, ou que te suspenda

de vítima ou te possa chamar ao Céu, poderão fazê-lo, mas o prodígio de acorrentar sua vontade e

de confundi-los, por agora o fiz; mas se soubesses a raiva que têm os demônios e aqueles que

queriam esta lei, que tinham por certo obtê-la, é tanta, que se pudessem destruir qualquer

autoridade e fariam estragos por toda parte. Então para mitigar esta raiva e para impedir em parte

estes estragos, queres tu expor-te um pouco à sua ira?”

(9) E eu: “Sim, desde que venhas comigo”. E assim fomos a um lugar onde estavam demônios e

pessoas que pareciam furiosos, enfurecidos e enlouquecidos; assim que me viram correram sobre

 

mim como tantos lobos, e um me golpeava, outro me dilacerava as carnes, teriam querido destruir-

me, mas não tinham o poder. Mas eu, embora tenha sofrido muito, não os temia porque tinha

 

Jesus comigo. Depois disto reencontrei-me em mim mesma, cheia de várias penas. Seja sempre

bendito o Senhor.

 

+ + + +

 

4-112

Março 2, 1902

 

Efeitos da Fé.

 

(1) Esta manhã sentia-me toda pensativa, como se o Senhor quisesse novamente subtrair-me a

 

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sua presença, e portanto tirar-me os sofrimentos, também sentia um pouco de desconfiança.

Então, depois de muito esperar, assim que veio me disse:

(2) “Minha filha, quem da fé se nutre adquire vida divina, e adquirindo vida divina destrói a humana,

isto é, destrói em si os germes que produziu a culpa original, readquirindo a natureza perfeita como

saiu de minhas mãos, semelhante a Mim, e com isto vem a superar em nobreza à mesma natureza

angélica”.

(3) Dito isso, ele se foi.

 

+ + + +

 

4-113

Março 3, 1902

 

Castigos são necessários.

 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus não vinha, e eu me sentia

morrer por sua ausência. Depois, por volta da última hora, movido à compaixão de mim, veio e me

beijou e me disse:

(2) “Minha filha, é necessário que alguma vez não venha, de outra maneira como daria desabafo a

minha justiça? E os homens vendo que Eu não os castigo não fariam outra coisa que se

orgulhasse sempre mais; por isso são necessárias as guerras, os estragos; o princípio e o meio

serão dolorosíssimos, mas o fim será gozosíssimo, e além disso você sabe, que a primeira coisa é

a resignação à minha Vontade”.

 

+ + + + +

 

4-114

Março 5, 1902

 

O mau exemplo das cabeças.

 

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, e depois de ter ido em busca de meu adorável

Jesus o reencontrei, mas para minha surpresa vi que tinha pregadas nos pés, nas plantas, muitos

espinhos que lhe davam dor e impediam-no de caminhar; Todo aflito se lançou em meus braços

como querendo encontrar repouso e que eu lhe tirasse aqueles espinhos, eu o estreitava e lhe

dizia: “Doce amor meu, se tivesse vindo nos dias passados não te cravaria tantos espinhos,

conforme te cravasse eu alguns os tiraria. Eis o que fez ao não vir”. E, enquanto isso lhe dizia, ia

tirando-lhe todos aqueles espinhos, e os pés do bendito Jesus derramavam sangue, e Ele sofria

pela forte dor. Depois disto, como se se tivesse aliviado quis também verter e depois disse-me:

(2) “Minha filha, que corrupção nos povos, que caminhos tortos percorrem! , mas nisto influenciou

o mau exemplo das cabeças, enquanto em quem possui a mínima de qualquer autoridade, o

espírito de desinteresse deveria ser luz para fazê-lo distinguir que é cabeça, e a justiça exercida

por ele deveria ser como fulgor para ferir os olhos dos presentes, de modo a não poder separá-los

 

85

 

dele e de seus exemplos”.

(3) Dito isto desapareceu.

 

+ + + +

 

4-115

Março 6, 1902

Jesus é despojado de todo principado, de todo o regime e de toda a soberania.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ao vir se fazia ver tudo nu, como procurando cobrir-se em meu

interior, e me dizia:

(2) “Minha filha, despojaram-me de todo principado, de todo regime, de toda soberania, e para

readquirir estes meus direitos sobre as criaturas, é necessário que as despoje e quase as destrua,

e com isto saberão que onde não está Deus por princípio, por regime e por soberano, tudo leva à

destruição deles mesmos, e portanto à fonte de todos os males.

 

+ + + +

 

4-116

Março 7, 1902

A alma diante da presença Divina adquire em si mesma e copia os modos do obrar divino

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que vi meu amante Jesus me disse:

(2) “Minha filha, quando atraio a alma à minha presença tem este bem, que adquire em si mesma e

copia os modos do agir divino, de maneira que tratando depois com as criaturas, sentem nelas

mesmas a força do agir divino que essa alma possui”.

(3) Depois disto senti um temor, e era que se aquelas coisas que faço dentro de mim eram

aceitáveis ou não ao Senhor, e Ele acrescentou:

(4) “Por que temes enquanto tua vida está enxertada com a minha? E além disso, tudo o que

dentro de ti foi infundido por Mim, e muitas vezes o fiz Eu junto contigo, sugerindo-te o modo como

fazê-las para que fossem agradáveis a Mim; outras vezes chamei os anjos e juntos fizeram o que

tu fazias em teu interior, isto significa que eu gosto do que você faz, e que Eu mesmo te ensinei;

por isso segue e não temas”.

(5) Assim fiquei mais calma.

 

+ + + +

 

4-117

Março 10, 1902

 

A pena do amor é mais terrível que o inferno.

 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me fora de mim mesma, e como ia buscando a

 

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meu adorável Jesus e não o encontrava, repetia as buscas, os prantos, mas tudo em vão, não

sabia o que fazer, meu pobre coração agonizava e sentia uma dor tão aguda que não sei explicar,

Só sei dizer que não sei como fiquei viva. Enquanto me encontrava nesta dolorosa situação, mas

sempre procurando-o, sem poder nem um momento abster-me de fazer novas buscas, finalmente o

encontrei e lhe disse: “Senhor, como te fazes cruel comigo? Olhe um pouco Tu mesmo se são

penas que eu possa tolerar”. E toda sem forças me abandonei em seus braços, e Jesus

compadecendo-me toda e olhando-me disse:

(2) “Filha amada minha, tens razão, acalma-te, acalma-te que estou contigo e não te deixarei;

pobre filha, como sofres, a pena do amor é mais terrível que o inferno. Que coisa tiraniza mais, o

inferno, um amor contraposto, um amor odiado? O que pode tiranizar a uma alma mais que o

inferno? Um amor amado. Se você soubesse quanto sofro Eu ao te ver por minha causa tiranizada

por este amor; para não me fazer sofrer tanto deveria estar mais tranqüila quando te privo de

minha presença. Imagine você mesma, se Eu sofro tanto ao ver sofrer a quem não me ama e me

ofende, quanto mais sofrerei ao ver sofrer a quem me ama?”

(3) Então eu ao ouvir isto, toda comovida disse: “Senhor, diz-me ao menos se queres que me

esforce para sair deste estado sem esperar o confessor quando Tu não vens”.

(4) E Ele acrescentou: “Não, não quero que tu saias deste estado antes que venha o confessor,

deixa todo o temor, eu ponho-me no teu interior tendo as tuas mãos nas minhas, e ao contato de

minhas mãos saberá que estou com você”.

(5) Assim, quando me vem o desejo de querê-lo, sinto-me apertar as mãos pelas de Jesus, e

sentindo o contato divino me tranquilizo e digo: “É verdade, está comigo”. Outras vezes vindo mais

forte o desejo de vê-lo, sinto-me apertar mais forte as mãos pelas suas e me diz:

(6) “Luísa, minha filha, estou aqui, aqui estou, não me procure em outro lugar”.

(7) E assim parece que estou mais tranquila.

+ + + +

 

4-118

Março 12, 1902

 

Ameaça de castigos.

 

(1) Continuei a ver o meu adorável Jesus, isto é, no meu interior, mas via-o dentro de mim de

costas para o mundo, com um flagelo na mão em atitude de o mandar sobre as criaturas, e com

isto parecia que sucediam castigos sobre as colheitas, mortalidade de gente; e no momento de

mandar aquele flagelo tem dito palavras de ameaça, entre as quais somente recordo:

(2) “Eu não queria, mas vós mesmos tendes procurado que vos exterminasse, pois bem, os

exterminarei”.

(3) Disse isto desapareceu.

 

+ + + +

 

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4-119

Março 16, 1902

 

Não se devem buscar as próprias comodidades nem a estima e o

agradar aos outros, mas somente e unicamente agradar a Deus.

 

(1) Oh, quanto custa fazê-lo vir um pouco, é uma dor contínua e também medo de que não venha

mais. Oh Deus! Que pena, não sei como vivo, embora vivo morrendo. Então por pouco tempo se

fez ver em um estado que dava compaixão, com um braço mutilado, e todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, olha o que me fazem as criaturas, como queres você que não as castigue?”

(3) E, enquanto dizia isto, parecia que tomava uma cruz alta, de cujos braços dependiam seis ou

sete cidades, e sucediam diversos castigos. Ao ver isto sofri muito, e Ele querendo me distrair

daquela pena acrescentou:

(4) “Minha filha, tu sofres muito quando te privo de minha presença, e isto por necessidade te deve

acontecer, porque tendo estado por tanto tempo próxima, identificada com o contato da Divindade,

gozaste a tuas amplas tudo o agradável da luz divina, E quanto mais alguém gozou a luz, tanto

mais sente a privação dessa luz, e os aborrecimentos, os fastios e as penas que levam consigo as

trevas”.

(5) Depois repetiu: “Mas a coisa principal de cada um é que em cada pensamento seu, palavra e

obra, não busque o próprio interesse, nem a estima e o agradar aos demais, senão só e

unicamente o agradar a Deus”.

 

+ + + +

 

4-120

Março 18, 1902

 

A inquietação faz Jesus sofrer.

 

(1) Esta manhã me sentia inquieta pela ausência de meu adorável Jesus, e tendo recebido a

comunhão, enquanto veio a meu coração comecei a dizer muitos disparates: “Doce Bem meu, não

é coisa de ficar quieta quando não vem, pois Você ao me ver tranqüila abusa e não te dá nenhum

pensamento de vir, portanto é necessário dar passos, de outra forma não se consegue”. Ele, ao

ouvir-me, mexeu-se dentro de mim e fez-se ver em ato de sorrir, porque ouvia os meus disparates

e disse-me:

(2) “Então tu queres que eu sofra, porque sabendo que se estás inquieta Eu venho a sofrer, assim

que não tratar de estar tranqüila é o mesmo que querer me fazer sofrer mais”.

(3) E eu, louca como estava disse: “Melhor que sofras, porque por teu mesmo sofrimento podes ter

mais compaixão do meu sofrimento; e além disso, o sofrimento que te vem pelo pecado é feio, e

basta que não seja esse sofrimento”.

(4) E Jesus: “Mas se venho me obriga a não enviar castigos, enquanto são tão necessários. Então

 

88

 

você deveria se juntar a mim e querer o que quero Eu”.

(5) E eu, lembrando-me do que tinha visto nos dias passados disse: “Que castigos? Que queres

matar as pessoas? Faça-as morrer, alguma vez devem ir a Ti e a sua própria pátria, contanto que

os salve; o que quero é que os liberte dos males contagiosos”. O Senhor não me prestou atenção e

desapareceu. Ao retornar se fazia ver sempre com as costas voltadas ao mundo, e por mais que

fizesse não consegui que o olhasse, e quando queria obrigá-lo pela força me disse:

(6) “Não me force, pois desta maneira me obriga a privar-te de minha presença”.

(7) Então fiquei com um remorso e sinto que cometi muitos erros.

 

+ + + +

 

4-121

Março 19, 1902

 

As criaturas corromperam-se por vontade própria.

Jesus não quer ter compaixão delas.

 

(1) Continuava com o remorso, mas o Senhor continuou vindo, e querendo reparar o que tinha feito

no dia anterior lhe disse: “Senhor, vamos ver o que fazem as criaturas, são suas imagens, não

queres ter compaixão delas?”

(2) E Ele: “Não, não quero ir, por vontade própria se corromperam e Eu permitirei que o que serve

para seu alimento lhes sirva de infecção; queres ir tu a ajudar, a consolar, a fazer alguma coisa?

Veja, mas Eu não”.

(3) Assim deixei o meu amado Jesus, e fui no meio das criaturas, ajudei alguém a morrer, e depois

vi de onde vinha o ar infectado, e fiz várias penitências para afastá-lo, e depois voltei; e continuava

a fazer-se ver o bendito Jesus, mas em silêncio.

+ + + +

 

4-122

Março 23, 1902

 

O apoio da verdadeira santidade é o conhecimento de si mesmo.

(1) Depois de ter esperado muito veio meu dulcíssimo Jesus, e me disse:

(2) “Minha filha, o apoio da verdadeira santidade está no conhecimento de si mesmo”.

(3) E eu: “Sério?

(4) E ele: “Certo, porque o conhecimento de si mesmo desfaz a si mesmo e apóia tudo no

conhecimento que adquire de Deus, de modo que seu agir é o mesmo obrar divino, não ficando

mais nada do próprio ser”.

(5) Depois acrescentou: “Quando o interior se embebe, se ocupa tudo de Deus e de tudo o que a

Ele pertence, Deus se comunica todo Si mesmo à alma; mas quando o interior se ocupa, agora de

Deus, agora de outras coisas, Deus se comunica em parte à alma”.

 

+ + + +

 

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4-123

Março 27, 1902

 

Ensinamento de Jesus acerca da Justiça.

 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma procurava a meu dulcíssimo Jesus, e enquanto girava o vi

nos braços da Rainha Mãe. Cansada como estava, toda atrevida, quase lho tirei e o tomei nos

meus braços dizendo-lhe: “Meu amor, esta é a promessa de que não me deixarias, se nos dias

passados pouco ou nada viestes?”

(2) E Ele: “Minha filha, estava contigo, só que não me viste com clareza, e além disso, se teus

 

desejos tivessem sido tão ardentes de queimar o véu que te impedia de me ver, certamente ter-me-

ias visto”.

 

(3) Depois, como se quisesse fazer-me uma exortação acrescentou:

(4) “Não só deves ser reta, senão justa, e na justiça entra o amar-me, louvar-me, glorificar-me,

agradecer-me, abençoar-me, reparar-me, adorar-me, não só por si, mas por todas as outras

criaturas; estes são direitos de justiça que exijo de toda criatura, e que como Criador me

correspondem, e quem me nega um só destes direitos nunca pode dizer-se justo. Por isso pensa

em cumprir teu dever de justiça, porque na justiça encontrarás o princípio, o meio e o fim da

santidade”.

 

+ + + +

 

4-124

Março 30, 1902

 

Vê a Ressurreição. Vestido de luz da Humanidade ressuscitada de Jesus.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, vi por pouco tempo o meu adorável Jesus

no momento da sua Ressurreição, todo vestido de luz resplandecente, tanto que o sol ficou

obscurecido diante daquela luz. Eu fiquei encantada e disse: “Senhor, se não sou digna de tocar a

tua Humanidade glorificada, faz-me tocar ao menos as tuas vestes”.

(2) E Ele disse-me: “Minha amada, o que dizes? Depois que ressuscitei, não mais precisei de

roupas materiais, mas minhas vestes são de sol, de luz puríssima que cobre a minha humanidade

 

e que resplandecerá eternamente dando alegria indescritível a todos os sentidos dos bem-

aventurados. E isto foi concedido à minha humanidade porque não houve parte dela que não fosse

 

coberta de opróbrios, de dores e de chagas”.

(3) Dito isto desapareceu sem que tenha tocado nem sua Humanidade nem os vestidos, porque

enquanto tomava entre minhas mãos suas sagradas vestes, escapavam-me e não as encontrava.

 

+ + + +

 

90

4-125

Abril 4, 1902

Destruindo os bens morais, destroem-se também os bens físicos e temporais.

(1) Continuando meu habitual estado, meu adorável Jesus vem mas quase sempre em silêncio, ou

bem me diz alguma coisa a respeito da verdade, e acontece que enquanto está o Senhor a

compreendo e me parece que a saberei dizer, Mas, ao desaparecer, sinto que me está a tirar a luz

que me incutiu e não sei dizer nada. Depois, esta manhã tive que sofrer muito por esperá-lo, e ao

vir me transportou para fora de mim mesma, fazendo-se ver muito indignado. Então eu para

aplacá-lo fiz vários atos de arrependimento, mas a Jesus parecia que não lhe agradava nenhum;

eu toda me esforçava em variar os atos de arrependimento, talvez alguém poderia gostar dele, e

no final eu disse:

(2) “Senhor, eu me arrependo das ofensas feitas por mim e por todas as criaturas da terra, e eu me

arrependo e repudio pela única razão de que nós ofendemos a Ti, sumo Bem, porque enquanto

você merece amor, nós ousamos te ofender”.

(3) Com este último parecia que o Senhor ficava satisfeito e mitigado. Depois disto me transportou

no meio de um caminho onde estavam dois homens em forma de bestas, todos ocupados em

destruir todo tipo de bem moral. Pareciam fortes como leões e embriagados de paixão, só vê-los

dava terror e medo. E o bendito Jesus me disse:

(4) “Se queres aplacar-me um pouco vê e passa no meio daqueles homens, para convencê-los do

mal que fazem, enfrentando sua ira”.

(5) Embora um pouco tímida, mas fui e assim que me viram queriam me devorar, mas eu lhes

disse: “Permitam que eu fale e depois façam o que quiserem, devem saber que se conseguirem o

 

vosso propósito de destruir todo o bem moral pertencente à religião, virtude, dependência e bem-

estar social, vocês sem se darem conta do erro, virão destruir ao mesmo tempo todos os bens

 

físicos e temporais, porque quanto se tiram os bens morais, outro tanto se multiplicam os males

físicos; portanto, sem se darem conta vão contra vós mesmos destruindo todos aqueles bens

caducos e passageiros que tanto amais, e não só isso, senão que vão buscando destruir vossa

própria vida, e sereis causa de fazer derramar lágrimas amargas aos vossos descendentes”.

(6) Depois fiz um ato grandíssimo de humildade, que nem sequer sei dizer, e aqueles ficaram como

um a quem passa o estado de loucura, e tão fracos que nem sequer tinham força de me tocar;

assim passei livre e compreendia que não há força que possa resistir à força da razão e da

humildade.

 

+ + + +

 

91

4-126

Abril 16, 1902

Modo de reprimir as paixões. A importância dos primeiros movimentos delas

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então eu, não vendo-o vir, disse: “O que estou

fazendo neste estado, se o objeto que me encantou não vem mais? É melhor acabar logo com

isso”. Enquanto dizia isto, o meu doce Jesus veio por pouco e disse-me:

(2) “Minha filha, todo o ponto está em reprimir os primeiros movimentos, se a alma está atenta a

isto, tudo irá bem; se não, aos primeiros movimentos não reprimidos sairão fora as paixões, e

romperão a força divina, que como perto circunda a alma para tê-la bem guardada e afastada pelos

inimigos que sempre buscam insinuar e danificar a pobre alma; mas se assim que os adverte entra

em si mesma, humilha-se, arrepende-se e com coragem põe remédio, a força divina se fecha de

novo em torno da alma; mas se não põe remédio, A força divina já foi quebrada, dará lugar a todos

os vícios. Por isso está atenta aos primeiros movimentos, pensamentos, palavras que não sejam

retos e santos, porque se se te escapam os primeiros, não é mais a alma que reina, mas as

paixões, se queres que a força não te deixe só um só instante”.

+ + + +

 

4-127

Abril 25, 1902

 

A cruz é Sacramento.

 

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, e depois de ter ido em busca de meu doce

Jesus, o encontrei, mas em atitude tão lamentável que me fazia quebrar o coração; tinha as mãos

chagadas, tão contraídas pela aspereza da dor que não se podiam tocar; Eu tentei tocá-las para

poder esticar-lhe os dedos e curar as chagas, mas não consegui porque o bendito Jesus chorava

pela forte dor. Então, não sabendo o que fazer o tenho estreitado e lhe tenho dito: “Amante meu

bem, desde faz tempo não me participa das dores de tuas chagas, talvez por isso se têm

exacerbado tanto, peço-te que me faças partícipe de tuas penas, assim, sofrendo eu se poderão

 

mitigar teus sofrimentos”. Enquanto dizia isto, saiu um anjo com um prego na mão, e trespassou-

me as mãos e os pés, e, enquanto eu ia pregando o prego nas minhas mãos, os dedos se

 

afrouxavam e as chagas do meu amado Jesus ficavam curadas. E enquanto eu sofria o Senhor me

disse:

(2) “Minha filha, a cruz é sacramento; cada um dos sacramentos contém os seus efeitos especiais:

um tira a culpa, outro confere a graça, outro une com Deus, outro doa a força, e tantos outros

efeitos; agora, só a cruz contém todos juntos estes efeitos produzindo-os na alma com tal eficácia,

de a tornar em pouquíssimo tempo semelhante ao original de onde saiu”.

(3) Depois disto, como se quisesse descansar, retirou-se dentro de mim.

 

92

 

+ + + +

 

4-28

Abril 29, 1902

 

Quem quer todo a Deus, deve dar tudo a Deus.

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus veio por pouco tempo dizendo-me:

(2) “Minha filha, que tudo quer de Deus, deve dar-se tudo Ele mesmo a Deus”.

(3) E parou sem me dizer mais nada; então eu o vi perto de mim e disse: “Senhor, tem compaixão

de mim, não vês como tudo está árido e seco? Parece-me que me tornei tão seca como se jamais

tivesse tido nem gota de chuva”.

(4) E Ele: “Melhor assim. Você não sabe que quanto mais a lenha está seca, tanto mais fácil o fogo

a devora e a converte em fogo? Basta uma única faísca para acendê-la, mas se está cheia de

humores e não bem seca, é preciso grande fogo para acendê-la e muito tempo para convertê-la em

fogo. Assim na alma, quando tudo está seco basta uma só centelha para convertê-la toda em fogo

de amor divino”.

(5) E eu: “Senhor, zomba de mim? Como então tudo é feio, e adicionalmente, que coisa você deve

queimar se tudo estiver seco?”

(6) E Ele: “Não zombo, e você mesma não compreende que quando não está seco tudo na alma,

humor é a complacência, humor é a satisfação, humor o próprio gosto, humor é a estima própria;

ao contrário, quando tudo está seco e a alma trabalha, estes humores não têm de onde nascer e o

fogo divino encontrando só a alma nua, seca como foi criada por Ele, sem outros humores

estranhos, sendo coisa sua lhe resulta facilíssimo convertê-la em seu mesmo fogo divino. E depois

disto Eu lhe infundindo um hábito de paz, sendo conservada esta paz pela obediência interior e

custodiada pela obediência exterior, esta paz pari a todo Deus na alma, isto é todas as obras, as

virtudes, os modos do Verbo humanado, de modo que se descobre nela a sua simplicidade, a

humildade, a dependência da sua vida infantil, a perfeição das suas virtudes adultas, a mortificação

e crucificação do seu morrer; mas isto começa sempre, quando quem quer todo o Cristo deve dar

tudo a Cristo”.

 

+ + + + +

 

4-129

Maio 16, 1902

 

Dois estados sublimes.

 

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, veio o meu dulcíssimo Jesus, e eu assim que o vi,

apertei-o e disse-lhe: “Amado Bem meu, desta vez te estreitarei tanto que não poderás fugir mais”.

Enquanto estava nisto, senti-me toda cheia de Deus, como se estivesse inundada, de modo que as

minhas potências da alma ficaram como encantadoras e inativas, só contemplavam. Depois de ter

 

93

estado um pouco nesta inativa, mas doce e agradável posição, meu adorável Jesus me disse:

(2) “Minha filha, às vezes, encho a alma tanto de Mim mesmo, que a alma perdendo-se em Mim

fica ociosa; outras vezes lhe deixo alguma parte vazia, e então a alma ante minha presença

negocia admiravelmente, prorrompendo em atos de louvor, de agradecimento, de amor, de

reparação e demais, de modo que enche com eles aqueles vazios que lhe deixo. No entanto, estes

dois estados, ambos são sublimes e se dão reciprocamente a mão”.

 

+ + + +

 

4-130

Maio 22, 1902

 

A Santíssima Virgem incita Jesus a fazer sofrer Luísa.

 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus não vinha, e oh! quanto tive que

sofrer e quantos desatinos disse, é inútil dizê-lo. Então, depois de ter-me cansado muito, senti que

havia uma pessoa próxima a mim, mas não lhe via o rosto, estendi a mão para encontrá-lo e senti

que sua cabeça estava apoiada sobre meu ombro, desmaiado; o vi e reconheci meu doce Jesus,

me parecia desmaiado pelos tantos desatinos que havia dito: por isso assim que o vi que voltava

em si, Não sei quantos outros disparates lhe queria dizer, mas Jesus disse-me:

(2) “Acalma-te, acalma-te, não queiras falar mais, senão far-me-ás desmaiar; o teu silêncio fará me

tomar vigor e assim poderei pelo menos beijar-te, abraçar-te e fazer-te feliz”.

(3) Então eu fiquei em silêncio, e nós dois nos beijamos muitas vezes, e Jesus me fazia tantas

demonstrações de amor, mas não sei explicar. Depois disto me encontrei fora de mim mesma, e ia

buscando ao amado de minha alma, e não o encontrando levantei os olhos ao céu, quem sabe e

talvez o pudesse encontrar de novo, e vi que estava a Rainha Mãe e Jesus Cristo virado de costas,

que discutiam, e como não queria fazer caso à Mãe por isso estava virado de costas, todo cheio de

furor, e parecia que da boca lhe saía o fogo de sua ira. Eu só entendi que Nosso Senhor, naquele

dia queria com o fogo de sua ira destruir tudo o que servia de alimento ao homem, e a Santíssima

Virgem não queria e Jesus dizia:

(4) “Mas em quem hei de libertar este fogo aceso da minha ira?”

(5) E a Mãe dizia: “Estás com quem podes desabafar, apontando para mim, não vês que ela está

sempre disposta a amar-nos?” Jesus, ao ouvir isto, virou-se para a Mãe, como se tivessem

concordado, chamaram os anjos, dando a cada um deles uma centelha daquele fogo que saía de

Jesus Cristo, e eles levaram-nas a mim, pondo-as uma na boca e as outras nas mãos, nos pés e

no coração; eu sofria, sentia-me devorar, amargar por aquele fogo, mas sentia-me resignada a

suportar tudo. O bendito Jesus e a Mãe era espectadora dos meus sofrimentos, e Jesus parecia de

algum modo calmo. Enquanto eu estava nisto, encontrei-me em mim mesma e estava o confessor

para me chamar à obediência como o habitual, mas em vez de me chamar à obediência pôs a

intenção de me fazer sofrer a crucificação. Jesus participou-me dos seus sofrimentos; parecia que

 

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o confessor tinha completado a obra iniciada pela Rainha Mãe. Seja tudo para glória de Deus e

seja sempre bendito!

 

+ + + +

 

4-131

Junho 2, 1902

 

O Trono de Jesus é composto de virtudes. A alma que possui

 

as virtudes o faz reinar em seu coração.

 

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, Jesus bendito se moveu em meu interior e vi que

estava dentro de mim, abraçado, sustentado como por outra pessoa, eu fiquei maravilhada ao ver

isto, e Jesus me disse:

(2) “Minha filha, o interior da alma é um acúmulo de paixões, e conforme a alma vai abatendo as

paixões, assim toma lugar cada uma das virtudes, cortejada por graus de graça, e segundo a

virtude vai-se aperfeiçoando, assim a graça lhe fornece seus graus. E como meu trono é composto

de virtudes, assim a alma que possui as virtudes me fornece os braços, o trono para poder reinar

em seu coração e ter-me continuamente abraçado e cortejado, até me deleitar com ela. Agora,

sendo que a alma pode manchar-se, mas a virtude fica sempre intacta, e até enquanto a alma a

sabe ter, está com ela, quando não, volta-se a Mim, ou seja, de onde saiu. Por isso não se

maravilhe se me viu assim em seu interior”.

+ + + +

 

4-132

Junho 15, 1902

 

O Amor não é um atributo de Deus, mas a sua própria natureza.

A alma que verdadeiramente ama a Jesus não pode perder-se.

 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus transportou-me para fora de

mim mesma e disse-me:

(2) “Minha filha, todas as virtudes podem dizer-se que são os meus dotes e os meus atributos, mas

o amor não pode dizer-se que seja um atributo meu, mas a minha própria natureza. Por isso todas

as virtudes formam meu trono e minhas qualidades, mas o amor me forma a Mim mesmo”.

(3) Ao ouvir isso eu me lembrei que no dia anterior eu tinha dito a uma pessoa que eu temia pela

insegurança da salvação, que quem verdadeiramente ama a Jesus Cristo pode estar seguro de

salvar-se; eu considero impossível que Nosso Senhor afaste de Si uma alma que de todo coração

o ama, por isso pensemos em amá-lo e teremos em nosso próprio punho nossa salvação. Então

perguntei ao amante Jesus se tinha dito mal, e Ele acrescentou:

(4) “Amada minha, com razão você disse isto, porque o amor tem isto de próprio, o formar de dois

objetos um só, de duas vontades uma só; assim que a alma que me ama forma Comigo uma só

 

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coisa, uma só vontade, então, como pode separar-se de Mim? Muito mais que sendo minha

natureza amor, onde encontra alguma centelha de amor na natureza humana, em seguida a une

ao amor eterno. Então, assim como é impossível formar de uma alma, duas almas, de um corpo,

dois corpos, assim é impossível que se perca quem verdadeiramente me ama”.

 

+ + + +

 

4-133

Junho 17, 1902

 

A mortificação produz a glória.

 

(1) Esta manhã, quando vi o meu amado Jesus, parecia que tinha um papel escrito na mão no qual

se lia:

(2) “A mortificação produz a glória. Quem quer encontrar a fonte de todos os prazeres, deve

afastar-se de tudo o que possa desagradar a Deus”.

(3) Disse isto desapareceu.

 

+ + + +

 

4-134

Junho 29, 1902

 

Jesus fala de França.

 

(1) Esta manhã, assim que vi o meu adorável Jesus, ouvi-o dizer, sem saber porquê:

(2) “Pobre França, pobre França, ensoberbeceste-te e quebraste e destroçaste as leis mais

sagradas, desconhecendo-me como teu Deus, e te converteste exemplo às outras nações para

atraí-las ao mal, e teu exemplo tem tanta força, que as outras nações estão por arruinar-se; mas

deves saber que em castigo serás conquistada”.

(3) Depois disto retirou-se em meu interior, e ouvia que buscava ajuda, piedade, compaixão a

tantas penas suas. Era tão triste ouvir que Jesus abençoado queria ajuda de suas criaturas.

 

+ + + +

 

4-135

Julho 1, 1902

 

As verdadeiras vítimas devem expor-se às penas de Jesus.

Maquinações contra a Igreja e contra o Papa.

 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim, ajoelhada sobre um altar

junto com outras duas pessoas. Enquanto eu estava nisto veio Jesus Cristo sobre este altar e

disse:

(2) “As verdadeiras vítimas devem ter comunicação com a minha própria vida, devem desfrutar de

Mim mesmo e expor-se às minhas próprias penas”.

(3) Enquanto eu estava a dizer isto, ele tomou uma taça na mão e deu-nos a todos os três a

comunhão. Atrás daquele altar parecia que estava uma porta que dava para uma rua cheia de

 

96

gente e cheia de demônios, de modo que não se podia caminhar sem ser oprimido por eles, porque

estando cheios de espinhos agudíssimos não se podia fazer movimento sem sentir-se cravar por

toda parte. A qualquer custo teria querido fugir daqueles diabólicos furores, e quase me esforçava

em fazê-lo, mas não sei quem me impediu dizendo:

(4) “Tudo o que você vê são maquinações contra a Igreja e contra o Papa; querem que o Papa saia

de Roma para invadir o Vaticano e apropriar-se dele, e se você quer subtrair-se de Estes

transtornos, os homens e os demônios tomarão força e farão sair estes espinhos que estriparem a

Igreja acerbamente, e se você aceitar sofrê-los, ficarão enfraquecidos uns e os outros”.

(5) Ao ouvir isto, parei, mas quem pode dizer o que passei e sofri; acreditava que não devia sair já

do meio daqueles espíritos diabólicos, mas depois de ter estado quase uma noite, a proteção

divina me libertou.

 

+ + + +

 

4-136

Julho 3, 1902

 

Jesus fala-lhe da sua Vida Eucarística.

 

(1) Continuando meu estado habitual encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma igreja, e

não encontrando meu adorável Jesus, fui tocar a uma custódia para que Ele me abrisse, e não me

abrindo, tornando-me atrevida eu mesma a abri e encontrei a mim mesmo sozinho e único Bem.

Quem pode dizer minha alegria? Fiquei como estática ao ver sua beleza indescritível. E Jesus, ao

ver-me, lançou-se nos meus braços e disse-me:

(2) “Minha filha, cada período da minha Vida deve receber do homem distintos e especiais atos e

graus de imitação, de amor, de reparação e mais. Mas o período da minha Vida Eucarística como é

toda vida de escondimento, de transformação e de contínua consumação, tanto que posso dizer

que meu amor, depois que chegou ao excesso e mesmo ter-se consumado, não pôde encontrar

em minha infinita sabedoria outros sinais externos de demonstração de amor para o homem. E

assim como a encarnação, a vida, a paixão e a morte de cruz obtêm amor, louvor, agradecimento,

imitação, assim a vida sacramental obtém do homem um amor extático, amor de dispersão em

Mim, amor de perfeita consumação, e consolando-se a alma na minha própria vida sacramental,

pode dizer que faz diante da Divindade os mesmos ofícios que continuamente estou fazendo Eu

diante de Deus por amor dos homens. E esta consumação fará com que a alma desemboque à

vida eterna”.

 

+ + + +

 

4-137

Julho 7, 1902

 

A humilhação com Cristo faz começar a exaltação com Cristo.

 

(1) Esta manhã não vindo o bendito Jesus, sentia-me toda confusa e humilhada; depois de ter

esperado muito, fez-se ver-me dizendo:

 

97

 

(2) “Luísa humilhada sempre com Cristo”.

(3) E eu, agradando-me e desejando ser com Cristo humilhada, disse: “Sempre, oh Senhor!”

(4) E Ele continuou: “E o sempre da humilhação com Cristo fará começar o sempre da exaltação

com Cristo”.

(5) Assim, compreendia que por quantas humilhações sofre a alma com Cristo e por amor de

Cristo, e se estas são contínuas, o Senhor outras tantas vezes a exaltará, e esta exaltação a fará

continuamente ante toda a corte celestial, diante dos homens, e até diante dos mesmos demônios.

 

+ + + +

 

4-138

Julho 28, 1902

 

Efeitos da oração contínua.

 

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, e encontrei o meu

adorável Jesus, que não querendo deixar-me ver os males do mundo me disse:

(2) “Minha filha, retira-te, não queiras ver os males gravíssimos que há no mundo”.

(3) E ao dizer isto me retirou Ele mesmo, e ao me conduzir disse:

(4) “O que te recomendo é o espírito de contínua oração. Este buscar sempre a alma o conversar

Comigo, seja com o coração, seja com a mente, seja com a boca e até com a simples intenção, a

faz tão bela a minha vista, que as notas de seu coração harmonizam com as notas de meu

coração, e eu sinto-me tão atraído para conversar com esta alma, que não só lhe manifesto as

obras “ad extra” da minha Humanidade mas vou lhe manifestando algumas coisas das obras “ad

intra” que a Divindade fazia na minha humanidade; e não só isto, senão que é tanta a beleza que

faz adquirir o espírito de contínua oração, que o demónio é atingido como por um raio e fica

frustrado nas insídias com as quais tenta prejudicar esta alma”.

(5) Dito isto desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

+ + + + +

 

4-139

Julho 31, 1902

 

A verdadeira Caridade deve ser desinteressada.

 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, algumas vezes vi meu adorável Jesus, mas sempre

em silêncio; eu me sentia toda confusa e não me atrevia a perguntar-lhe nada, mas parecia que

queria me dizer alguma coisa que feria seu sagrado coração. Finalmente, a última vez que veio me

disse:

(2) “Minha filha, a verdadeira caridade deve ser desinteressada por parte de quem a faz, e por

parte de quem a recebe, e se existe o interesse, essa lama produz uma fumaça que cega a mente

e impede receber a influência e os efeitos da caridade divina. Eis por que em tantas obras, até

 

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santas que se fazem, tantos cuidados caritativos que se realizam, se sente como um vazio e não

recebem o fruto da caridade que fazem”.

 

+ + + + +

 

4-140

Agosto 2, 1902

 

Jesus em todo o curso de sua vida reparava por todos em geral,

 

e por cada um em particular.

 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus depois de me ter feito esperar muito, de improviso veio

expandindo raios de luz, e eu fiquei investida por aquela luz, e não sei como me encontrei dentro

de Jesus Cristo. Quem pode dizer quantas coisas compreendia dentro daquela Humanidade

Santíssima? Só sei dizer que a Divindade dirigia em tudo para a humanidade, e como a Divindade

em um mesmo instante pode fazer tantos atos quantos cada um de nós pode fazer em todo o

período da vida, e quantos mais queira fazer, então, sendo que na humanidade de Jesus Cristo

operava a Divindade, compreendia com clareza que Jesus bendito em todo o curso da vida refazia

por todos em geral, e por cada um em particular tudo o que cada um está obrigado a fazer a Deus,

de modo que adorava a Deus por cada um em particular, agradecia, reparava, glorificava por cada

um, Elogiava, sofria, rogava por cada um. Então compreendia que tudo o que cada um deve fazer,

já foi feito primeiro no coração de Jesus Cristo.

+ + + +

 

4-141

Agosto 10, 1902

 

Privações, lamentos, e necessidade dos castigos.

 

(1) Encontrando-me extremamente aflita pela perda de meu Sumo Bem, meu pobre coração é

dilacerado continuamente e sofre uma morte contínua. Agora, vindo o confessor estava lhe dizendo

meu pobre estado, e ele começou a chamá-lo e a pôr intenção, mas que, minha mente ficava

suspensa, por uns instantes via como um relâmpago e fugia e voltava em mim mesma sem vê-lo.

Oh Deus, que pena! São penas que nem sequer se podem explicar. Então, depois de ter esperado

muito, finalmente veio, e ao me queixar com Ele me disse: ,

(2) “Minha filha, se não soubesses a causa de minha ausência terias talvez alguma razão para

lamentar-te, mas sabendo que não venho porque quero castigar o mundo, injustamente te

lamentas”.

(3) E eu: “O que o mundo tem a ver comigo?”

(4) E Ele: “Sim, tem que ver, porque ao vires tu me dizes: “Senhor, quero dar-te satisfação por eles,

quero sofrer por eles. E eu sendo justo não posso receber de um e de outro a satisfação de uma

dívida, e querendo tomar de ti a satisfação, o mundo não faria outra coisa que se ensoberbecer

sempre mais. Enquanto que nestes tempos de rebelião são tão necessários os castigos, e se não

faço isto se tornarão tão densas as trevas, que todos ficarão cegos”.

 

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(5) Enquanto dizia isto encontrei-me fora de mim mesma e via a terra toda cheia de trevas, apenas

alguma estela de luz. O que será do pobre mundo? Dão muito que pensar as coisas tristíssimas

que acontecerão.

 

+ + + +

 

4-142

Setembro 3, 1902

Diz Jesus: Tudo o que mereci na minha vida, cedi-o a todas as criaturas,

e de modo especial e superabundante a quem é vítima por amor meu.

 

(1) Esta manhã me encontrando em meu habitual estado, senti que me vinha um mal natural, tão

forte que me sentia morrer. Então, temendo que pudesse passar do tempo para a eternidade, e

muito mais temia porque o bendito Jesus apenas vem, e ao mais como sombra, porque se viesse

segundo seu costume eu não temeria para nada, então para fazer que me encontrasse em bom

momento, rogava ao Senhor que me cedesse o exercício de sua santa mente para satisfazer pelos

males que tenha podido fazer com meus pensamentos, seus olhos, sua boca, suas mãos, seus

pés, seu coração e todo seu Corpo Santo para satisfazer por todos os males que tenha podido

cometer, e por todo o bem que devia fazer e não fiz. Enquanto isso fazia, o bendito Jesus veio

vestido de festa, em ato de me receber em seus braços e me disse:

(2) “Minha filha, tudo o que mereci cedi-o a todas as criaturas, e de modo especial e

superabundante a quem é vítima por amor meu; então tudo o que queiras te entrego não só a ti,

senão a quem tu queiras”.

(3) E eu, lembrando-me do confessor, disse-lhe: “Senhor, se me levares, peço-te que contentes o

pai”.

(4) E Ele: “É certo que alguma recompensa recebeu graças à caridade que te tem e como ele

cooperou, vindo tu a Mim no ambiente da eternidade, outra recompensa lhe darei”.

(5) O mal aumentava sempre mais, mas me sentia feliz me encontrando no porto da Eternidade.

Enquanto estava nisto, o confessor veio e chamou-me à obediência. Eu teria querido calar tudo,

mas ele me obrigou a dizer tudo, e saiu com o habitual estribilho de que não devo morrer por

obediência. Apesar de tudo isso o mal não cessava.

+ + + +

 

4-143

Setembro 4, 1902

 

O confessor pede a Jesus que não a faça morrer.

 

(1) Continuo me sentindo mal, e ao mesmo tempo sentia uma inquietação por esta estranha

obediência, como se não pudesse empreender o vôo para o meu sumo e único Bem, com a adição

de que, devendo celebrar a santa missa o confessor, Não queria dar-me a comunhão pelos

 

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contínuos vômitos que me incomodavam. Mas Jesus bendito, como o confessor me havia dito que

por obediência me fizesse tocar o estômago por Jesus Cristo, assim que veio me tocou e pararam

os vômitos contínuos, mas o mal não cessava, e Jesus me vendo tão inquieta me disse:

(2) “Minha filha, que fazes? Não sabes que, se a morte te apanha a encontrares-te inquieta, o

purgatório terá de ser tocado? Porque se a mente não se encontra unida à minha, se a vontade

 

não é uma com a minha, os desejos não são os meus mesmos desejos, por necessidade convém-

te a purgação para te transformar toda em Mim; por isso está atenta, pensa só em estar unida

 

Comigo, e eu pensarei no resto”.

(3) Enquanto dizia isto, via a Igreja, o Papa, e parte dela se apoiava nas minhas costas, e ao

mesmo tempo via o confessor que forçava Jesus a não me levar por agora, e o bendito Senhor

disse:

(4) “Os males são gravíssimos e os pecados estão para chegar ao ponto de não merecer mais

almas vítimas, ou seja, quem sustente e proteja o mundo diante de Mim; se este ponto toca a

justiça, certamente a levarei”.

(5) Então eu percebi que as coisas são condicionadas.

+ + + +

 

4-144

Setembro 5, 1902

Jesus, os anjos e os santos incitam-na a ir com eles; o confessor opõe-se.

(1) Continuava a sentir-me mal, e o confessor continuava firme, aliás, começava a inquietar-se

porque não o obedecia no que se refere a não morrer, e pedia ao Senhor que me tirasse o

sofrimento. Por outro lado, sentia-me incitada por Jesus bendito, pelos santos, pelos anjos, a ir com

eles, e agora me encontrava com Jesus, e agora com os cidadãos celestiais. Neste estado me

sentia torturada, eu mesma não sabia o que fazer, No entanto, permaneci tranquila, temendo que

se me levasse não me encontrasse pronta para ir direta a Jesus, por isso toda me abandonava em

suas mãos. Agora, enquanto me encontrava nesta situação via o confessor e outros que pediam

para que não me fizesse morrer, e Jesus me disse:

(2) “Minha filha, sinto-me violentado, não vês que não querem que Eu te leve?”

(3) E eu: “Também eu me sinto violentada, na verdade que colocar uma pobre criatura nesta tortura

valeria uma pena”.

(4) E Jesus: “Que pena queres que lhes dê?”

(5) E eu, não sabendo o que dizer diante daquela fonte de caridade inexaurível, disse: “Doce

Senhor meu, como a santidade leva consigo o sacrifício, faze-lhes santos, porque assim obterão o

propósito de me ter com eles e eu obterei o propósito de vê-los santos, e a pena que leva consigo

a santidade”.

 

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(6) Jesus, ao ouvir-me, agradou-me e beijou-me dizendo:

(7) “Bravo à minha amada, soubeste escolher o que é óptimo para o seu bem e para a minha

glória. Por isso, por agora, deve ceder, reservando-me para outra ocasião levar-te em breve, não

dando-lhes tempo de poder fazer-nos violência”.

(8) Então Jesus desapareceu e eu encontrei-me em mim mesma, mitigados em grande parte os

meus sofrimentos, com um novo vigor como se tivesse renascido. Mas só Deus sabe a dor, o rasgo

de minha alma, espero ao menos que queira aceitar a dureza deste sacrifício.

 

+ + + +

 

4-145

Setembro 10, 1902

 

As prerrogativas do amor.

 

(1) Acreditava que o bendito Jesus voltaria segundo o habitual, mas qual não foi meu

desapontamento, porque depois de ter decidido que por agora não me levará, começou a me fazer

 

esperar para vê-lo, e as mais das vezes como sombra e como raio. Então, esta manhã, sentindo-

me muito cansada e esgotada de forças pelo contínuo desejar e esperar, parece que veio e me

 

transportando para fora de mim mesma me disse:

(2) “Minha filha, se estás cansada vem ao meu coração, bebe e te recuperarás”.

(3) Assim, aproximei-me daquele coração divino, e bebi a grandes goles um leite misturado com

sangue dulcíssimo. Depois disto me disse:

(4) “As prerrogativas do amor são três: Amor constante sem termo, amor forte e amor que une

junto a Deus e ao próximo. Se na alma não se descobrem estas prerrogativas, pode-se dizer que

não é da qualidade do verdadeiro amor”.

 

+ + + +

 

4-146

Outubro 22, 1902

 

Ameaças para a Itália.

 

(1) Esta manhã por poucos instantes veio o meu adorável Jesus, todo indignado e me disse:

(2) “Quando a Itália tiver bebido até ao fundo as mais fétidas sujidades, até se afogar, tanto que se

dirá que está morta, está morta, então ressurgirá”.

(3) Depois, estando mais calmo acrescentou:

(4) “Minha filha, quando Eu quero uma coisa de minhas criaturas, infundindo nelas as disposições

naturais, de modo a mudar a mesma natureza para querer a coisa que quero; por isso você se

tranquilize no estado em que se encontra”.

(5) Dito isto desapareceu e eu fiquei pensativa sobre o que me disse.

 

+ + + +

 

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4-147

Outubro 30, 1902

 

Jesus Cristo veio unir novamente a Deus e ao homem.

 

(1) Esta manhã, encontrando-me num mar de aflições e de lágrimas pelo abandono total de meu

sumo bem, enquanto me sentia consumida pela dor, senti perder a mente, e via Jesus bendito que

me sustentava a testa com sua mão, e como uma luz que continha dentro muitas palavras de

verdade, e eu apenas recordo isto: Que nossa humanidade desatando o nó da obediência que

Deus havia feito entre Ele e a criatura, se dispersou, e Jesus Cristo tomando a natureza humana e

fazendo-se nossa cabeça, veio a reunir a humanidade dispersa, e com a sua obediência ao querer

do Pai veio unir outra vez mas esta união indissolúvel é mais reforçada à medida da nossa

obediência aos quereres divinos.

(2) Depois disto não vi mais o meu amado Jesus, retirando-se junto com Ele a luz.

 

+ + + + +

 

4-148

Novembro 1, 1902

 

A verdadeira seriedade se encontra na religião,

 

e a verdadeira religião consiste em olhar ao próximo em Deus e a Deus no próximo.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, me senti saindo de mim mesma, e encontrei uma

criança que chorava, e vários homens, entre os quais, um mais sério tomou uma bebida

amarguíssima e a deu àquele menino que chorava, o qual ao passá-la sofreu tanto, Parecia que a

garganta estava a fechar-se. Eu, não sabendo quem era, por compaixão o tomei nos braços

dizendo: “E isso que é um homem sério, e te fez isto, pobrezinho, vem a mim que te quero secar o

pranto”.

(2) E Ele me disse: “A verdadeira seriedade se encontra na religião, e a verdadeira religião consiste

em olhar ao próximo em Deus e a Deus no próximo”.

(3) Depois, aproximando-se ao ouvido, tanto que seus lábios me tocavam e sua voz ressoava

dentro de mim, acrescentou:

(4) “A palavra religião para o mundo é palavra ridícula, e parece que não vale nada, mas diante de

mim cada palavra que pertence à religião é uma virtude de valor infinito, tanto, que me serve da

palavra para propagar a fé em todo o universo, e quem nisto se exercita me serve de boca para

manifestar às criaturas a minha Vontade”.

(5) Enquanto dizia isto, compreendia muito bem que era Jesus, ao ouvir sua voz clara, que há tanto

tempo não ouvia, sentia-me ressurgir da morte à vida, e estava esperando que terminasse de falar

pois devia lhe dizer minhas extremas necessidades, mas o que, não apenas terminei de ouvir sua

voz desapareceu, e eu fiquei desconsolada e aflita.

+ + + +

 

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4-149

Novembro 5, 1902

 

Vê uma árvore no coração de Jesus, e Ele explica-lhe o significado.

 

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver dentro de mim, e parecia que tinha uma árvore

plantada no coração, e tão enraizado que parecia que as raízes brotavam da ponta do coração; em

suma, parecia nascido junto com a sua própria natureza. Eu fiquei maravilhada ao ver a beleza, a

perfeição e a altura que parecia que tocava o céu, e seus ramos se estendiam até os últimos

confins do mundo. Então, Jesus bendito ao ver me tão admirada me disse:

(2) “Minha filha, esta árvore foi concebida junto Comigo, no centro do meu coração, e desde então

Eu senti no mais profundo do coração tudo o que de bem e de mal devia fazer o homem graças a

esta árvore da Redenção, chamada árvore da vida, tanto que todas aquelas almas que se mantêm

unidas a esta árvore receberão vida de graça no tempo, e quando eu os tiver feito crescer bem lhes

fornecerá vida de glória na eternidade. No entanto, qual não é a minha dor? Que se não podem

arrancar a árvore, não podem tocar o tronco, muitos tratam de cortar-me os ramos para fazer que

as almas não recebam a vida, e tirar-me toda a glória e o prazer que esta árvore de vida me teria

produzido”.

(3) Enquanto dizia isto desapareceu.

 

+ + + + +

 

4-150

Novembro 9, 1902

 

Diferença entre o agir de Jesus e o agir do homem.

 

(1) Enquanto eu ansiava pelo meu adorável Jesus, ele apareceu com a aparência quando os seus

inimigos o esbofetearam, cobriam-lhe a cara de cuspidelas e lhe vendavam os olhos. Ele, com

admirável paciência, tudo sofria, aliás, parecia que nem sequer os olhava, tão ocupado estava em

seu interior vendo o fruto que aqueles padecimentos lhe teriam produzido. Eu olhava tudo com

espanto, e Jesus me disse:

(2) “Minha filha, em meu agir e sofrer não olhei jamais para fora, mas sempre para dentro, e vendo

o fruto, qualquer coisa que fosse, não só a sofria, mas a sofria com desejo e avidez. Ao contrário, o

homem, ao fazer o bem, não olha para dentro da obra, e não vendo o fruto facilmente se aborrece,

tudo se aborrece e muitas vezes deixa de fazer o bem; se sofre, facilmente se impacienta, e se faz

o mal, não olhando para dentro daquele mal, facilmente fazê-lo”.

(3) Depois ele adicionou: “As criaturas não querem convencer-se de que a vida é acompanhada de

vários e diferentes acontecimentos, agora sofrimentos e agora consolações; e são as plantas, as

flores que dão o exemplo com estar submetidas aos ventos, nevadas, granizadas e calores”.

 

+ + + +

 

104

4-151

Novembro 16, 1902

 

A palavra de Deus é alegria. O confessor lhe disse que Monsenhor

ordenava que por nenhum motivo deveria vir mais

o sacerdote para fazê-la sair de seu habitual estado.

 

(1) Esta noite passei-a muito angustiada, via o confessor em atitude de me dar proibições e ordens.

O bendito Jesus por pouco tempo veio e só me disse:

(2) “Minha filha, a palavra de Deus é alegria, e quem a escuta e não a faz frutificar com as obras,

lhe põe uma tinta negra e a enlameia “.

(3) Então, sentindo-me muito sofredor tentei não prestar atenção ao que via, e encontrando-me

neste estado veio o confessor me dizendo que Monsenhor ordenava que por nenhum motivo devia

vir mais o sacerdote a me fazer sair de meu habitual estado, senão que por mim mesma devia sair

dele, coisa que durante dezoito anos jamais pude obter, por mais lágrimas e orações, votos e

promessas que tenha feito ao Altíssimo, porque, confesso diante de Deus, que tudo o que pude

passar de sofrimentos não foram para mim verdadeiras cruzes, mas gostos e graças de Deus, e a

única e verdadeira cruz para mim foi a vinda do sacerdote. Então, conhecendo por tantos anos de

experiência a impossibilidade do êxito, meu coração era dilacerado pelo temor de não poder

obedecer, não fazendo outra coisa que derramar lágrimas amarguíssimas, rogando àquele Deus

que é o único que observa o fundo do coração, que tivesse piedade da situação em que me

encontrava. Enquanto rezava chorando vi um raio de luz e uma voz que dizia:

(4) “Minha filha para fazer que sou Eu, obedecerei a ele, e depois de ter dado provas de

obediência, ele me obedecerá a Mim”.

(5) E dizendo eu: “Senhor, temo muito não poder obedecer”. Ele adicionou:

(6) “A obediência desata e encadeia, e como é cadeia ata ao Querer Divino com o humano e deles

forma um só, de modo que a alma não opera com o poder de sua vontade, senão com o poder da

Vontade Divina, e ademais não será você a que obedecerá, senão Eu que obedecerei em ti”.

(7) Depois, todo aflito acrescentou: “Minha filha, não te dizia, que te ter neste estado de vítima e

começar a devastação na Itália me é quase impossível?”

(8) Então eu fiquei um pouco mais tranqüila, mas não sabia em que modo devia realizar-se esta

obediência.

 

+ + + +

 

4-152

Novembro 17, 1902

Impossibilidade de perder os sentidos. É decreto da Vontade de Deus servir-se do sacerdote

 

para recuperá-la do estado de sofrimento.

 

105

(1) Sendo a hora de ser surpreendida por meu habitual estado, com grande amargura minha, mas

amargura tal que semelhante não senti em minha vida, minha mente não sabia mais perder os

sentidos. E minha vida, meu tesouro, Aquele que formava todo meu gosto, meu todo amável Jesus

não vinha, tratava de me recolher por quanto podia, mas sentia tão desperta minha mente que não

podia perder os sentidos, nem dormir, por isso não fazia outra coisa que tirar o freio às lágrimas,

fazia o que podia para seguir em meu interior o que fazia no estado de perda dos sentidos, e uma

por uma recordava os ensinamentos, as palavras do modo como devia estar sempre unida com

Ele, e estas eram tantas flechas que feriam meu coração acerbamente dizendo-me: “Ai! depois de

quinze anos que o viste cada dia, quando mais, quando menos, quando três ou quatro vezes, e

quando uma, quando te falou e quando em silêncio, mas sempre o viste; mas agora o perdeste,

não o vês mais, não ouves mais sua voz doce e suave, para ti tudo acabou”. E meu pobre coração

se enchia tanto de amarguras e de dor, que posso dizer que meu pão era a dor e minha bebida as

lágrimas, e tão saciada estava delas que nem uma gota de água entrava na minha garganta. A isto

se acrescentava outro espinho, que muitas vezes tinha dito a meu adorável Jesus: “Quanto temo

que meu estado seja toda fantasia minha, que seja fingimento!”

(2) E Ele me dizia: “Tira estes temores, depois verás que virão dias que a custo de qualquer

esforço e sacrifício que quererás fazer para perder os sentidos, não o poderás fazer”.

(3) Apesar de tudo isto sentia calma em meu interior, porque ao menos obedecia, se me custava a

vida. De onde acreditava que assim deviam continuar as coisas, convencendo-me de que o

Senhor, como não me queria mais naquele estado, tinha-se servido de Monsenhor para me dar

essa obediência. Então, depois de ter passado dois dias, à noite eu me dispunha a fazer a

adoração ao crucificado, e um raio de luz se fazia ante minha mente, me sentia abrir o coração, e

uma voz me dizia:

(4) “Por poucos dias te terei suspensa, e depois te farei cair de novo”.

(5) E eu: “Senhor, far-me-ás tu voltar a mim, se me fizeres cair?”

(6) E a voz: “Não, é decreto de minha Vontade servir-me da obra do sacerdote para fazer-te

recuperar desse estado de sofrimentos, e se querem saber o porquê, que venham a Mim

perguntar-me. Minha Sabedoria é incompreensível e tem muitos modos inusitados para a salvação

das almas, e se bem incompreensível, se querem encontrar a razão, vão ao fundo que a acharão

clara como o sol. Minha justiça é como uma nuvem carregada de granizo, trovões e flechas, e em

você encontrava um dique para não descarregar sobre os povos, por isso não querem antecipar o

tempo de minha ira”.

(7) E eu: “Só para mim estava reservado este castigo, sem esperança de ser libertada; fizestes

tantas graças às demais almas, sofreram tanto por amor vosso, porém não tinham necessidade de

nenhuma obra de sacerdote”.

 

106

(8) E a voz continuou: “Serás libertada, não agora, mas quando começarem os estragos na Itália”.

(9) Isto tem sido para mim novo motivo de dores e de lágrimas amargais, tanto que meu Caríssimo

Jesus, tendo compaixão de mim, moveu-se dentro de mim, pondo-se como um véu diante do que

me dissera, e sem fazer-me ver me fazia ouvir a sua voz que dizia:

(10) “Minha filha, vem a Mim, não queiras afligir-te, afastemos um pouco a justiça, demos lugar ao

amor, de outra maneira sucumbes; escuta-me, tenho tantas coisas para te ensinar, crês tu que

acabei de te falar? Não”.

(11) E como eu chorava, tendo-se tornado meus olhos em dois rios de lágrimas acrescentou:

(12) “Não chores, amada minha, escuta-me, esta manhã quero ouvir a missa junto contigo,

ensinando-te o modo como deves ouvi-la”.

(13) E assim Ele dizia e eu o seguia, mas como não o via meu coração era despedaçado

continuamente pela dor, e para interromper de vez em quando meu pranto, chamava-me

continuamente, agora me ensinando alguma coisa da Paixão, explicando-me o significado, e agora

me ensinava a fazer o que fazia em seu interior no curso de sua Paixão, que por agora Omito

escrever, reservando-o para outro tempo se Deus quiser. Assim tenho continuado por outros dois

dias.

 

+ + + ++

 

4-153

Novembro 21, 1902

Jesus serve-se da natureza de Luísa para continuar o curso dos seus sofrimentos nela.

(1) Continuava sem poder perder os sentidos, nem dormir, minha pobre natureza não podia mais, e

meu amadíssimo Jesus, quando eu me sentia mais do que nunca convencida de que não o veria

mais, de improviso veio e me fez perder os sentidos, Parecia que tinha sido atingida por um raio.

Quem pode dizer meu medo, mas o que, não era mais dona de mim mesma, não estava mais em

meu poder recuperar meus sentidos. E Jesus me disse:

(2) “Minha filha, não temas, vim para te fortalecer; não vês tu mesma que não podes mais, e como

tua natureza sem Mim desfalece?”

(3) E eu lhe disse chorando: “Ah! vida minha, sem Ti estou morta, não sinto mais forças vitais; Tu

formavas todo o meu ser, e faltando-me Tu me falta tudo; seguro que se Tu seguires sem vir, eu

morrerei de dor”.

(4) E Ele: “Filha amada minha, tu dizes que Eu sou a tua vida, e Eu te digo que tu és a minha vida

vivente. Assim como me servi de minha Humanidade para sofrer, assim me sirvo de tua natureza

para continuar o curso de meus padecimentos em ti; por isso toda minha tu és, mas bem és minha

mesma Vida”.

(5) Enquanto dizia isto, lembrei-me da obediência e disse-lhe: “Meu Doce Bem, far-me-ás

 

107

 

obedecer, fazendo-me recuperar por mim mesma?”

(6) E Ele: “Minha filha, Eu, Criador, obedeci à criatura tendo-te suspensa nestes dias, é muito justo

que a criatura obedeça ao seu Criador submetendo-se à minha Vontade, porque diante da minha

Vontade Divina a razão humana não vale, e a razão mais forte diante da Vontade Suprema se

torna fumaça”.

(7) Quem pode dizer como fiquei amargurada, porém resignada, fazendo voto ao Senhor de jamais

retirar minha vontade da sua nem sequer por um piscar de olhos, e como me haviam dito que se

fosse surpreendida por este estado e não me recuperasse por mim mesma me deixariam morrer,

por isso estava me preparando para a morte, considerando-a como uma grande fortuna, e pedia ao

Senhor que me tomasse em seus braços.

(8) Enquanto fazia isto veio o confessor para me fazer voltar em mim, amargurando-me

principalmente, tanto que o Senhor ao me ver tão amarga me disse em meu interior:

 

(9) “Diga-lhe que me conceda outros dois dias de suspensão, para dar-lhes tempo a poder regular-

se”.

 

(10) E assim se foi, deixando-me toda trespassada e cheia de amargura; e Jesus, fazendo ouvir de

novo a sua voz, me disse:

(11) “Pobre filha, como a amargam, sinto-me dilacerar o coração ao ver-te, ânimo, não temas

minha filha; ademais recorda que pela intervenção da obediência foste suspensa deste estado, se

agora não querem já, Eu te farei obedecer, não é este o prego que mais te trespassa, não

obedecer?”

(12) E eu: “Sim”.

(13) “Pois bem, Eu te prometi que te farei obedecer, portanto não quero que te amargures. No

entanto, diga-lhes: Quer jogar Comigo? A quem quer jogar Comigo e lutar contra a minha

Vontade!”.

(14) E eu: “Sem Ti como faço? Porque se não estou surpreendida por esse estado eu não te vejo”.

(15) “E Ele: “Como não é tua vontade sair deste estado de sacrifício, Eu encontrarei outras

maneiras para fazer-me ver e entreter-me contigo; não estás contente?”.

(16) Assim na manhã seguinte, sem perder os sentidos fez-se ver sensivelmente me dando

algumas gotas de leite para me fortalecer, pois era extrema minha debilidade.

 

+ + + +

 

4-154

Novembro 22, 1902

 

Corre perigo de morrer, a obediência se opõe.

 

(1) O dia 22 de Novembro continuava a sentir-me mal, e de novo o bendito Jesus veio e disse-me:

(2) “Amada minha, queres vir?”

 

108

 

(3) E eu: “Sim, não me deixes mais nesta terra”.

(4) E Ele: “Sim, quero-te contentar desta vez”.

(5) E enquanto dizia isto senti-me fechar o estômago e a garganta, de modo que já não entrava

nada, mal podia respirar, sentindo-me sufocar. Depois vi que Jesus bendito chamava os anjos e

lhes dizia: “Agora que a vítima vem, suspendam as forças, a fim de que os povos façam o que

quiserem”.

(6) E eu: “Senhor, quem são eles?”

(7) E Ele: “São os anjos que guardam as cidades, até que as cidades sejam assistidas pela força

da proteção divina comunicada aos anjos, não podem fazer nada, quando esta proteção lhes é

retirada pelas graves culpas que cometem, deixando-as em poder deles mesmos, podem fazer

revoluções e qualquer tipo de mal”.

(8) Então eu me sentia tranquila e vendo-me sozinha com meu amado Jesus e abandonada por

todas as criaturas, de coração agradecia ao Senhor e lhe pedia que se dignasse não deixar que

Venha ninguém me incomodar. Enquanto eu estava nesta situação, minha irmã veio e me olhando

mal mandou chamar o confessor, que por caminho de obediência conseguiu me fazer abrir um

pouco a garganta e foi me dando a obediência de não morrer. Pobre quem tem que enfrentá-las

com as criaturas, porque não conhecendo a fundo todas as penas e desgarros de uma pobre alma,

agregam às penas maiores dores, e é mais fácil obter compaixão de Deus, ajuda e consolo, que

das criaturas, é mais, parece que atiçam maioritariamente. Mas seja sempre bendito o Senhor que

tudo dispõe para sua glória e para o bem das almas !

+ + + +

 

4-155

Novembro 30, 1902

 

Temor de que seu estado fora obra do demônio. Jesus lhe ensina como

 

conhecer quando é Ele, e quando o demônio.

 

(1) Encontrando-me com temores, dúvidas, agitações, de que tudo fosse obra do demônio, vindo

meu adorável Jesus me disse:

(2) “Minha filha, Eu sou Sol que enche de luz o mundo, e indo à alma se reproduz nela outro Sol,

de modo que por caminho de raios de luz lançam setas mutuamente de contínuo. Agora, em meio

a estes dois Sóis se produzem nuvens, que são as mortificações, as humilhações, contrariedades,

sofrimentos e demais; se estes são verdadeiramente Sóis, têm tanta força, que com lançar setas

continuamente triunfam sobre estas nuvens e as convertem em luz; mas se são sóis aparentes e

falsos, estas nuvens que se produzem em meio têm força de converter a estes sóis em trevas. Este

é o sinal mais certo para saber se eu sou Eu ou o demônio, e depois que uma pessoa recebeu este

sinal, pode arriscar a vida para confessar a verdade, que é luz e não trevas”.

 

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(3) Eu estive ruminando em minha mente se estes sinais são encontrados em mim, e eu pareço tão

defeituosa que eu não tenho palavras para manifestar minha maldade. No entanto, não desconfio,

mas espero que a misericórdia do Senhor queira ter compaixão desta pobre criatura.

 

+ + + + +

 

4-156

Dezembro 3, 1902

 

Transtornos pela obediência, Jesus tranquiliza-a.

 

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu habitual estado e continuando os meus temores, ao vir o

bendito Jesus disse-lhe: “Vida da minha vida, de onde vem que não me fazes obedecer às ordens

dos superiores?”

(2) E ele: “E tu, minha filha, não vês de onde vem o conflito? De que o querer humano não se una

com o Divino e se dêem o beijo juntos, de modo de formar um só, e quando há conflito entre estes

dois querer, sendo superior o Querer Divino, o querer humano deve perder por força. E além disso,

o que mais querem? Eu te disse que se quiserem te faço cair neste estado, se não querem te faço

obedecer com respeito à obediência de que Eu te devo fazer cair e Eu devo te fazer voltar em ti

sem que eles venham, deixando a coisa independente deles e toda a minha disposição. Fica a Mim

se te quero ter um minuto ou meia hora neste estado, se te devo fazer sofrer ou não, isto fica tudo

a meu cargo, e querendo eles fazer diversamente seria um querer ditar-me leis do modo, do como

e do quando devo fazer Eu as coisas; isto seria um querer meter-se demasiado em meus

julgamentos e querer fazer-me de mestre, a quem a criatura está obrigada a adorar, e não a

investigar”.

(3) Ele me deixou de tal forma que eu não sabia o que responder. Vendo que eu não respondia

agregou:

(4) “Este não querer persuadir-se me desagrada muito; tu, porém, nos conflitos e mortificações não

tenhas o olhar neles, mas fixa-o em Mim que fui o centro das contradições, e sofrendo-as tu virás a

ser mais semelhante a Mim; assim tua natureza não poderá separar-se, mas que permanecerás

calma e tranquila. Quero que faça o que puder para obedecê-los, o resto deixe comigo, sem te

perturbar”.

 

+ + + +

 

4-157

Dezembro 4, 1902

 

Jesus manifesta as razões do seu agir.

 

(1) Estava pensando em minha mente nesta obediência dizendo: “Eles têm razão de me ordenar

isso, e logo não é uma grande coisa que o Senhor me faça obedecer no modo querido por eles.

Além de que eles dizem: “Ou que te faça obedecer, ou que diga a razão pela qual quer que venha

 

110

o sacerdote para te fazer recuperar desse estado”. Enquanto isso eu pensava, meu adorável Jesus

se moveu dentro de mim dizendo-me:

(2) “Minha filha, Eu queria que eles mesmos tivessem encontrado a razão de meu agir, porque em

minha Vida, desde que nasci até que morri, tendo encerrado em Mim a vida de toda a Igreja, tudo

se encontra, as questões mais difíceis confrontadas com algum acontecimento da minha Vida onde

se possam uniformizar, se resolvem; as coisas mais enredadas se soltam, e as mais escuras e

obtusas em que a mente humana quase se perde nessa escuridão, encontram a luz mais clara e

resplandecente. Isto significa que não têm por regra de seu obrar minha vida, de outra maneira

teriam encontrado a razão. Mas já que eles não encontraram a razão, é necessário que Eu fale e a

manifeste”.

(3) Depois disto se levantou e com império, tanto que eu temia, disse:

(4) “O que significa o Stende te Sacerdoti?”. ( você está abaixo do Sacerdote)

(5) Depois, tornando-se um pouco mais doce acrescentou:

(6) “Minha Potência se estendia por toda parte, e de qualquer lugar que me encontrasse podia

realizar os mais estrepitosos milagres, no entanto, em quase todos os milagres quis assistir

pessoalmente, como ao ressuscitar Lázaro, fui, fiz remover a lápide, o fiz desatar, e depois com o

império da minha voz voltei a chamar-lhe a vida. Ao ressuscitar a menina, tomei-a pela mão com a

minha mão direita chamando-a de novo à vida, e tantas outras coisas que estão registradas no

Evangelho, que a todos são conhecidas, quis assistir com a minha presença. Isto ensina, estando

fechada a vida futura da Igreja na minha, o modo como deve Comportar-se o sacerdote em seu

agir. E estas são coisas que se referem a ti, mas em modo geral, teu lugar próprio o encontrarão

sobre o calvário. Eu, sacerdote e vítima e levantado sobre o tronco da cruz, quis um sacerdote que

me assistisse naquele estado de vítima, que foi São João, que representava a Igreja nascente; nele

eu via a todos: papas, bispos, sacerdotes e todos os fiéis juntos, e ele, enquanto me assistia,

oferecia-me como vítima para a glória do Pai e para o bom êxito da Igreja nascente. Isto não

aconteceu por acaso, que um sacerdote me assistisse nesse estado de vítima, senão que tudo foi

um profundo mistério, predestinado desde “ab eterno” na mente divina, significando que ao

escolher uma alma vítima pelas graves necessidades que na Igreja há, um sacerdote me la

ofereça-a ,assista-a, ajude-a e encoraje-a a sofrer; se estas coisas são compreendidas, está bem,

eles mesmos receberão o fruto da obra que prestam, como São João, quantos bens não recebeu

por ter-me assistido no monte calvário? Se em troca não, não fazem outra coisa que pôr minha

obra em contínuos conflitos, desviando meus mais belos desígnios.

(7) Além disso, minha sabedoria é infinita e ao enviar alguma cruz à alma para santificar-se não só

toma uma, senão cinco, dez, quantas Me aprazem, a fim de que não só uma, senão todas estas

juntas se santifiquem. Como no calvário, não estive Eu só, além de ter um sacerdote tive uma Mãe,

 

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tive amigos e até inimigos, que ao ver o prodígio de minha paciência, muitos creram em Mim como

o Deus que era e se converteram; se Eu tivesse estado só, teriam recebido estes grandes bens?

Certamente que não”.

(8) Mas quem pode dizer tudo o que me disse, e explicar os mais minuciosos significados? Disse-o

o melhor que pude, como na minha rusticidade soube dizê-lo, o resto espero que o Senhor o faça,

iluminando-os para fazê-los compreender o que eu não soube manifestar bem.

 

+ + + +

 

4-158

Dezembro 5, 1902

 

Vê uma mulher que chora o estado dos povos,

ela lhe pede que não saia de seu estado de vítima.

 

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, o bendito Jesus me comunicou suas penas, e estando

sofrendo via uma mulher que chorava copiosamente e dizia: “Os reis se aliaram e os povos

perecem, e estes não vendo-se ajudados, protegidos, mas despojados, se perderão, e os reis sem

os povos não podem subsistir. Mas o que me faz chorar mais é que vejo faltar as fortalezas da

justiça, que são as vítimas, único e só sustenta que mantém a justiça nestes tempos tristíssimos;

pelo menos me dá você a palavra de não sair deste estado de vítima?”

(2) E eu, não sei porque, me senti tão decidida que respondi: “Esta palavra não a dou, não,

permanecerei até que o Senhor queira, mas assim que Ele me diga que terminou o tempo de fazer

esta penitência, não permanecerei nem sequer um minuto mais”. E ela, ao ouvir a minha vontade

irremovível, chorava mais, como se quisesse com o seu pranto que eu dissesse sim, e eu, mais do

que nunca resolvida, disse: “Não, não”.

(3) E ela chorando disse: “Então haverá justiça, castigos, massacres, sem qualquer diminuição”.

(4) Entretanto, tendo dito ao confessor, me disse que por obediência retirasse o não.

 

+ + + +

 

4-159

Dezembro 7, 1902

 

França e Itália não reconhecem mais a Jesus.

Jesus suspende-a de seu estado de vítima, mas ela

não aceita e luta para que não se redija a lei do divórcio.

 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma encontrei-me numa densíssima escuridão, e nela estavam

milhares de pessoas, essa escuridão as tornava cegas, tanto que elas mesmas não entendiam o

que faziam. Parecia que fazia parte da Itália e fazia parte da França. Oh! quantos erros se

percebiam em França, piores que os da Itália, parecia que tinham perdido a razão humana,

primeiro dote do homem e que o distinguia das bestas, e tinham-se tornado piores que estas

mesmas. Perto desta escuridão se via uma luz, me aproximei e encontrei meu amante Jesus, mas

 

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tão aflito e indignado contra aquela gente, que eu temia e tremia de “Senhor, acalma-te e faz-me

sofrer a mim, derramando sobre mim a tua indignação”.

(3) E Ele me disse: “Como posso aplacar-me, se me querem desviar deles, como se não fossem

obra criada por Mim? Não vê como a França me retirou de si, considerando-se honrada de não me

reconhecer mais? E como a Itália quer seguir a França, havendo alguns que dariam a alma ao

diabo para poder formar a lei do divórcio, tantas vezes tentada por eles e que ficaram esmagados e

confundidos; mais do que me aplacar e derramar sobre ti a minha indignação te suspendo do

estado de vítima, porque quando a minha justiça tem provado várias vezes, usando todo o seu

poder para não dar aquele castigo querido pelo mesmo homem, e com tudo isto o quer, é

necessário que a justiça suspenda quem a detém e faça cair o castigo”.

(4) E eu: “Senhor, se me quisesses suspender por outros castigos, facilmente teria aceitado porque

é justo que a criatura se uniformize em tudo ao teu Santo Querer, mas aceitá-lo por este mal

gravíssimo, a minha alma não pode tolerar esta suspensão, Em vez disso, dá-me o teu poder e

deixa-me estar no meio daqueles que querem isto”.

(5) Enquanto dizia, encontrei-me com eles, pareciam revestidos por forças diabólicas,

especialmente um que parecia furioso, como se quisesse perturbar tudo. Eu disse e disse

novamente e eu mal consegui jogar alguma luz de razão, fazendo-os saber o erro que eles

estavam cometendo, e depois disso eu me encontrei em mim mesma com muito poucos

sofrimentos.

 

+ + + +

 

4-160

Dezembro 8, 1902

 

O confessor usa o poder da Igreja para ter crucificado Jesus em Luísa,

crucificando-a juntamente para impedir a lei do divórcio.

 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me disse:

(2) “Minha filha, hoje quero te manter suspensa sem te fazer sofrer”.

(3) E eu comecei a temer e a lamentar-me com Ele, e acrescentou:

(4) “Não temas, Eu estarei contigo, mas sim, quando tu ocupas o estado de vítima estás exposta à

justiça, e além dos outros sofrimentos muitas vezes te toca sofrer minha mesma privação e a

escuridão, em suma, tudo o que merece o homem por suas culpas, mas suspendendo-te o ofício

de vítima tudo será misericórdia e amor que mostrarei a ti”.

(5) Eu me sentia libertada, se bem via meu amado Jesus e compreendia muito bem que não era

Sua vinda o que tornava necessária a vinda do sacerdote para me fazer recuperar, senão antes os

sofrimentos que Jesus me dava. Então, não sei dizer por que, minha alma sentia uma pena, mas

minha natureza sentia uma grande satisfação e dizia: “Pelo menos pouparei ao confessor o

 

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sacrifício de vir”. Mas enquanto isso pensava, vi junto com Nosso Senhor um sacerdote vestido de

branco, me parecia que fosse o Papa e junto ao confessor, e eles lhe rogavam que me fizesse

sofrer para impedir que redigissem esta lei do divórcio. Mas Jesus não lhes fazia caso, então o

confessor não fazendo caso de que não o ouvia, com ímpeto extraordinário, que parecia que não

fora ele, tomou Jesus Cristo nos braços e a força o colocou dentro de mim dizendo: “Estarás

crucificado nela, crucificando-a, mas esta lei não a queremos”.

(6) Jesus ficou como que atado dentro de mim, crucificado por aquela imposição, sentindo eu

acerbamente as dores da cruz, e disse:

(7) “Filha, é a Igreja que o quer, e seu poder unido à força da oração me ata”.

 

+ + + +

 

4-161

Dezembro 9, 1902

Luisa se encontra junto com Jesus Cristo, como pregada com Ele. Falam sobre o divórcio.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma junto com Jesus

Cristo, como pregada com Ele, e como eu sofria permanecia em silêncio. Enquanto isso, vi o

confessor junto com o anjo da guarda que lhe dizia:

(2) “Esta pobrezinha está sofrendo muito, tanto que a impede de falar, lhe dê um pouco de trégua,

porque quando dois amantes desafogam entre eles o que têm em seu interior, terminam

concedendo-se mutuamente o que querem”.

(3) Então me senti aliviando os sofrimentos, e primeiramente disse certas necessidades do padre,

rogando-lhe que fizesse tudo de Deus, porque quando alguém se torna tal, não pode encontrar

nenhuma dificuldade para que lhe concedam o que quer, porque não poderá buscar outra coisa

senão o que agrada a Deus; depois disse: “Senhor, esta lei do divórcio chegarão os homens a

formá-la na Itália?”

(4) E Ele: “Minha filha, há perigo, a menos que algum raio chinês chegue a impedir-lhes este

propósito”.

(5) E eu: “Senhor, como? É talvez algum da China, que enquanto estão por fazer isto tomará algum

raio e o jogará entre eles para matá-los, de modo que aqueles assustados vão fugir?”

(6) E Jesus: “Quando você não entender é melhor que cales”.

(7) Eu fiquei confusa e não me atrevi a falar mais, e sem ter compreendido o significado. Mas o

anjo da guarda estava dizendo ao confessor que além da intenção da cruz unir a de fazê-lo

derramar, que se isso conseguisse venceria o ponto e não poderão fazê-lo.

 

114

 

+ + + +

 

4-162

Dezembro 15, 1902

 

Ela é pregada com Jesus. O homem está para ser

esmagado pelo peso da justiça divina.

 

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma e encontrei o meu

adorável Jesus atirado por terra, crucificado, que todos o espezinhavam, e eu para impedir que isto

fizesse estendi-me sobre Ele para receber sobre mim o que faziam a Nosso Senhor. E enquanto

estava naquela posição disse: “Senhor, o que te custa que esses mesmos pregos que te

trespassem, me trespassem ao mesmo tempo?” Enquanto eu estava nisto eu encontrei-me

pregada com aqueles mesmos pregos que tinham pregado ao bendito Jesus, Ele abaixo e eu

acima; e nesta posição nos encontramos no meio daqueles homens que querem o divórcio, e

Jesus lhes mandava tantos raios de luz produzidos pelos sofrimentos que Jesus e eu sofriamos, e

eles ficavam impressionados e confundidos. E compreendia que se o Senhor quiser fazer-me

sofrer quando eles vierem para fazer isto, fracassarão e não concluirão nada.

(2) Depois disto desapareceu, ficando eu sozinha a sofrer, depois voltou de novo mas não

crucificado, e se lançou em meus braços, mas se tornou tão pesado que meus pobres braços não

resistiam e estava a ponto de deixá-lo cair a terra. Então, vendo que por mais que fizesse e me

esforçasse não podia sustentar esse peso, era tanta a pena que sentia que chorava

abundantemente, e Ele vendo o perigo de cair e meu pranto, chorava junto comigo. ¡ Que cena

mais dilacerante! Então, fazendo-me violência o beijei no rosto, e me beijando Ele também lhe

disse: “Vida e força minha, por mim sou débil e nada posso, mas contigo tudo posso; por isso

fortalece minha debilidade infundindo-me tua mesma força, e assim poderei sustentar o peso de

sua pessoa, único meio para podermos reciprocamente evitar este desgosto, eu de te fazer cair e

Você de sofrer a queda”. Ao ouvir isto, Jesus disse-me:

(3) “Minha filha, não compreendes tu o significado do meu pesar? Deves saber que é o peso

enorme da justiça que nem Eu posso suportá-lo mais, nem tu poderás contê-lo, e o homem está

por ser esmagado pelo peso da justiça divina”.

(4) Eu, ouvindo isto, chorava, e Ele, para me distrair, como antes de vir, tinha um forte temor de

que não devesse obedecer sobre certas coisas, acrescentou:

(5) “E tu, minha amada, por que temes tanto que não te fizesse obedecer? Não sabe que quando

atraio alguém, identifico a alma Comigo, comunicando-lhe meus segredos, a primeira tecla que

ponho, a que soa mais bela e que comunica o som a todas as outras teclas, é a tecla da

obediência? Tanto, que se as outras teclas não estão em comunicação com a primeira tecla,

soarão de um modo discordante, que jamais poderá ser agradável a meu ouvido. Por isso não

temas, e além disso, não tu mas Eu obedecerei em ti, e sendo uma obediência que me compete

 

115

fazer a Mim, deixa-me agir a Mim, sem te preocupares, porque só Eu sei o que convém, e o modo

para fazer-me conhecer”.

(6) Dito isto desapareceu e eu encontrei-me em mim mesma. Seja sempre bendito o Senhor.

 

+ + + +

 

4-163

Dezembro 17, 1902

 

Para poder ser vítima é necessária a união permanente com Jesus.

 

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus, estava-lhe rogando que se acalmasse, dizendo-lhe:

“Senhor, se eu não puder suportar sozinha o peso de tua justiça, há tantas almas boas, que

dividindo um pouco em cada uma, será mais fácil sustentar o peso, e assim as nações poderão ser

perdoadas”.

(2) E Ele: “E tu, minha filha, não sabes que para que minha justiça possa descarregar sobre

alguma alma o peso do castigo de outros, deve-se encontrar em posse de minha união

permanente, de modo que tudo o que obra, sofre, intercede e obtém, vem-lhe dado por virtude de

minha união estabelecida nela, não fazendo outra coisa a alma que pôr sua vontade e unificá-la

com a minha; nem minha justiça poderia fazê-lo se antes não lhe dá as graças necessárias para

poder pôr a alma a sofrer por causa dos demais?”

(3) E eu: “Como, sua união é permanente em mim? Eu pareço tão ruim”.

(4) E Ele interrompendo meu discurso acrescentou: “Tola, o que você diz? Não me ouve

continuamente em você, não percebe os movimentos sensíveis que faço em seu interior? A oração

contínua que em teu interior se eleva, não podendo tu fazer de outra maneira, acaso és tu ou Eu

que habito em ti? No máximo você nunca me vê, e isso não diz que minha união não é permanente

em você”.

(5) Eu fiquei confusa e não sabia o que responder.

+ + + +

 

4-164

Dezembro 18, 1902

Jesus leva-a de novo a sofrer com Ele, para vencer aqueles que querem o divórcio.

(1) Não apenas me encontrei em meu estado habitual, o bendito Jesus veio, mas sofrendo tanto

que dava compaixão; então todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, vem de novo a sofrer Comigo para poder vencer a obstinação daqueles que

querem o divórcio, provemos outra vez, tu estarás sempre disposta a sofrer o que quero, Não é

verdade? Dás-me o teu consentimento?”

(3) E eu: “Sim, Senhor, faz o que quiseres”.

(4) Não apenas tinha dito sim, o bendito Jesus se estendeu dentro de mim, crucificado, e como

 

116

minha natureza era menor que a sua, me esticou até me fazer chegar ao seu mesmo tamanho,

depois derramou pouquíssimo, sim, mas tão amargo e cheio de sofrimentos, que não só sentia os

pregos nos pontos da crucificação, mas todo o corpo me sentia cravado por tantos pregos, de

modo que me sentia toda destroçada. Então, por pouco tempo deixou-me nessa posição e

encontrei-me no meio dos demônios, que vendo-me tão sofrida diziam: “Até o último esta maldita

deve vencer outra vez para que não façamos a lei do divórcio. Maldita sua existência, você busca

nos danar e desbaratar nossos planos, arruinando nossas tantas fadigas mandando-as ao vazio,

mas a faremos pagar, te colocaremos contra bispos, sacerdotes e gentes, de modo que em outra

ocasião faremos que te passe o capricho de aceitar os sofrimentos”. E enquanto isso diziam me

enviavam turbilhões de chamas e fumaça. Eu me sentia tão dolorida que não me dava conta nem

de mim mesma. O bendito Jesus retornou e os demônios fugiram ante sua vista, e de novo me

renovou os mesmos sofrimentos, mais fortes que antes, e assim o repetiu outras duas às vezes, e

embora eu estivesse quase sempre com Jesus, como eu me encontrava como oprimida por fortes

sofrimentos não lhe disse nada, só Ele me dizia:

(5) “Minha filha, por agora é necessário que sofras, tem paciência. Não queres cuidar dos meus

interesses como se fossem teus?”

(6) E agora me sustentava em seus braços, não podendo minha natureza sustentar por si só o

peso daqueles sofrimentos. Depois me disse:

(7) “Amada, queres ver o mal que aconteceu naqueles dias que te suspendi deste estado?”

(8) Naquele momento não sei como, vi a justiça, e a via cheia de luz, de graça, de castigos e de

trevas, e por quantos dias estivera suspensa, tantos rios de trevas desciam sobre a terra, e aqueles

 

que querem fazer mal e falar mal ficavam mais cegos e tomavam força para executá-lo, lançando-

se contra a Igreja e as pessoas sagradas. Eu fiquei espantada e Jesus me disse:

 

(9) “Você acreditava que era nada, tanto que não se preocupava, mas não era assim, viu quanto

mal veio e quanta força tomaram os inimigos, até chegar a fazer o que durante o tempo em que te

tive sempre neste estado não tinham podido”.

(10) Depois disso, ele desapareceu.

 

+ + + ++

 

4-165

Dezembro 24, 1902

 

Efeitos do sofrer. Valor da soberba.

 

(1) Continuando o meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e encontrei Nosso

Senhor, que junto tinha uma cruz toda entrelaçada de espinhos. Então tomou-a e colocou-a sobre

os meus ombros, ordenando-me que a levasse no meio de uma multidão de pessoas para dar

prova de Sua misericórdia e aplacar a justiça divina. Era tão pesada que a levava curvada e quase

me arrastando. Enquanto a levava Jesus desapareceu, e aquele que me guiava quando cheguei a

 

117

 

um ponto me há dito:

(2) “Deixa a Cruz e desnuda-te, porque deve retornar Nosso Senhor e te deve encontrar pronta

para a crucificação”.

(3) Eu me despi e retive as vestes na mão pela vergonha que a natureza sentia, e disse entre mim:

“Assim que vier, eu as deixarei”. Enquanto eu estava nisso ele voltou e me encontrou com as

vestes na mão ele me disse:

(4) “Você nem mesmo se despiu completamente para poder rapidamente crucificá-la, então

deixaremos para outro tempo”.

 

(5) Eu fiquei confusa e aflita, sem poder pronunciar uma palavra, e Jesus para me consolar tomou-

me pela mão e disse-me:

 

(6) “Dize-me, que queres que te doe?”

(7) E eu: “Senhor, sofrer”.

(8) E Ele: “E que mais?”

(9) E eu: “Não sei pedir-te outra coisa senão sofrer”.

(10) E Jesus: E amor não queres?”

(11) E eu: “Não, sofrer, porque me dando o sofrimento me dará mais amor, e isto eu sei por

experiência, que para obter as graças, o amor mais forte e a todo o Tu mesmo, não se obtém por

outra coisa senão por meio do sofrimento, e para merecer-me todas as tuas atrações, gostos e

complacências, o único meio é sofrer por amor teu”.

(12) E Ele: “Amada minha, quis-te provar para reacender em ti principalmente o desejo de sofrer

por amor meu”.

(13) Depois disto vi pessoas que acreditavam em algo mais do que os outros, e o bendito Jesus

disse:

(14) “Minha filha, que diante de Mim e diante dos homens se crê alguma coisa, nada vale; e quem

se crê nada vale tudo. Primeiro diante de mim, porque se faz alguma coisa, não acredita que a faz

porque pode fazê-la, porque tem a força, a capacidade, mas fá-la porque recebe de Deus a graça,

as ajudas, as luzes, portanto pode-se dizer que a faz em virtude do poder divino, e quem tem

consigo o poder divino, já vale tudo. Segundo, diante dos homens, este agir em virtude do poder

divino, fá-la agir tudo diferente, e não faz outra coisa que transmitir luz do poder divino que em si

contém, de modo que os mais perversos, sem querer, sentem a força desta luz e se submetem a

seu querer, e eis que também diante dos homens vale tudo. Ao contrário, quem acredita em

alguma coisa, além de não valer nada, me é abominável, e pelos modos ostentosos e refinados

que têm, acreditando-se eles alguma coisa, zombando dos demais, os homens os têm assinalados

com o dedo como sujeitos de escárnio e de perseguição”.

 

118

 

+ + + +

 

4-166

Dezembro 26, 1902

As calúnias, as perseguições, as oposições, servem para justificar o homem.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me toda oprimida e com temor de receber

perseguições, oposições, calúnias, não só eu, pois de mim não me preocupo porque sou uma

pobre criatura que nada valho, mas pelo confessor com outros sacerdotes. Então eu senti o

coração esmagado por este peso, sem ser capaz de encontrar a calma. Neste momento, veio o

meu Jesus adorável dizendo-me:

(2) “Minha filha, por que estar perturbada e inquieta perdendo tempo? Por suas coisas não há

nada, e além disso tudo é providência divina que permite as calúnias, as perseguições, as

oposições, para justificar o homem e fazê-lo retornar à união com o Criador, a sós, sem apoio

humano, como saiu ao ser criado. E eis que o homem, por mais bom e santo que fosse, tem

sempre alguma coisa de espírito humano em seu interior, como também em seu exterior não é

perfeitamente livre, sempre tem alguma coisa de humano na qual espera, confia e se apóia, e pela

qual quer obter estima e respeito, assim que a providência divina faz que sopre um pouco o vento

das calúnias, perseguições e oposições, oh! , que Destruidora de granizo recebe o espírito

humano, porque o homem vendo-se combatido, mal visto, desprezado pelas criaturas, não

encontra mais satisfação entre elas; pelo contrário, falta-lhe tudo junto: ajudas, apoios, confiança e

estima, e se antes ia em busca delas, depois ele mesmo os foge, porque para onde se volta só

encontra amarguras e espinhos. Assim, reduzido a este estado permanece sozinho, e o homem

não pode estar, nem é feito para estar sozinho, o que fará o pobrezinho? Se tornará tudo, sem o

mínimo estorvo a seu centro Deus, e Deus se dará tudo a ele, e o homem se dará tudo a Deus,

aplicando sua inteligência em conhecê-lo, sua memória em lembrar-se de Deus e de seus

benefícios, a vontade a amá-lo. E eis aqui, minha filha, justificado, santificado, e recusa na sua

alma a finalidade para a qual foi criado. E ainda que depois lhe convenha tratar com as criaturas,

se vê que lhe são oferecidas ajudas, apoios, estima, recebe-os com indiferença, conhecendo por

experiência quem são, e se se serve delas, só o faz quando vê nisso a honra e a glória de Deus,

ficando sempre só Deus e ele”.

 

+ + + +

 

4-167

Dezembro 30, 1902

O Senhor a faz ver terremotos, destruição de cidades e lhe fala de sua Vontade.

 

119

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, me parecia ver a Santíssima Trindade e eu no meio

deles, como se quisessem resolver o que deviam fazer com o mundo. Então parecia que diziam:

(2) “Se ao mundo não se lhe mandam fortíssimos flagelos, tudo terá terminado para ele em matéria

de religião, e se voltarão pior que os mesmos bárbaros”.

(3) Enquanto diziam isso, parecia que guerras de todas as espécies, terremotos que destruíam

cidades inteiras e doenças, desciam à terra. Eu ao ver isto, tremendo toda disse: “Majestade

Suprema, perdoai a ingratidão humana, agora mais do que nunca o coração do homem se rebelou,

se for castigado se rebelará principalmente, acrescentando ultrajes a ultrajes a Vossa Majestade”.

E uma voz que saía do meio deles dizia:

(4) “O homem pode rebelar-se quando só é mortificado, mas quando é destruído cessa sua

rebelião. Agora, aqui não se fala de mortificações mas de destruição”.

(5) Depois disto desapareceram; mas quem pode dizer como fiquei, muito mais porque sentia como

uma disposição de querer sair deste estado de sofrimentos, e uma vontade não perfeitamente

resignada ao Querer Divino. Via com clareza que a mais feia afronta que a criatura pode fazer ao

Criador é opor-se a seu Querer Santíssimo, por isso sentia a pena, temia fortemente que pudesse

fazer um ato oposto a seu Querer, e com tudo isso não podia me acalmar. Então, depois de muito

esperar, regressou o meu adorável Jesus e me disse:

(6) “Minha filha, muitas vezes Eu me contento em escolher as almas, em cercá-las de força divina

de modo que nenhum inimigo possa entrar nela, e aí estabeleço minha perpétua morada, e neste

morar que faço me abaixo, pode-se dizer, aos mais pequenos serviços, a limpo, lhe extirpo todos

os espinhos, lhe destruo tudo o que de mal tem produzido a natureza humana, e nela planto tudo o

que de belo e de bom em Mim se encontra, tanto de formar o mais belo jardim de minhas delícias,

do qual me sirvo a meu gosto e segundo as circunstâncias de a minha glória e o bem dos outros,

tanto que se pode dizer que já não tem nada do seu, servindo-me só para meu quarto. Então, você

sabe o que é preciso para destruir tudo isso? Um ato oposto à minha Vontade, e tudo isso você

fará se você se opor à minha Vontade”.

(7) E eu: “Temo Senhor que os superiores possam me dar a obediência da outra vez”.

(8) E Ele: “Isso não é coisa tua, e Eu as verei com eles, mas nisto está o teu querer”.

(9) Apesar de tudo isto não podia me acalmar e ia repetindo em meu interior: “Que mudança

funesta me aconteceu! Quem tem desunido meu querer do Querer de meu Deus, que parecia que

formava um só.

 

+ + + +

 

4-168

Dezembro 31, 1902

 

Jesus ama tanto a Luisa, que chega a amá-la quanto se ama a

Si mesmo embora às vezes não possa vê-la e lhe seja repugnante.

 

120

 

Explicações.

 

(1) Continuava com o temor de que pudesse opor-me ao Querer de meu adorável Jesus, sentia-me

toda oprimida e angustiada, e estava pedindo-lhe que me libertasse, dizendo-lhe: “Senhor, tem

piedade de mim, não vês o perigo em que me encontro? É possível que eu, vilíssimo vermezinho

me atreva tanto, de sentir-me oposto a seu Santo Querer? E além disso, que bem posso encontrar

e em que precipício cairei se me encontro desunida de sua Vontade?” Enquanto dizia isto, o

bendito Jesus se moveu em meu interior, e com uma luz que me mandava parecia que me dizia:

(2) “Tu nunca compreendes nada, este estado é estado de vítima; quando te ofereceram vítima por

Corato tu aceitaste; agora, que coisa há de mal em Corato? Não há talvez a rebelião para com o

Criador por parte da criatura, entre sacerdotes e leigos, entre partidos e partidos? E bem, teu

estado de rebelião não querido, o temor, tuas penas, é estado expiatório, e este estado de

expiação Eu o sofri no Getsémani, tanto, que cheguei a dizer: “Se é possível passar de Mim este

cálice, mas não se faça minha vontade senão a tua”. Enquanto que em todo o curso de minha Vida

a tinha desejado tanto, até me sentir consumir”.

(3) Ao ouvir isto, parece que me acalmei e me senti fortificada, e lhe pedi que derramasse em mim

suas amarguras, e havendo-me aproximado de sua boca, por quanto chupava não saía nada, só

um fôlego amarguíssimo que me amargava todo o interior, E eu, vendo que nada derramava, disse:

“Senhor, já não me amas? Se você não quer derramar amargura pelo menos derramar suas

doçuras”.

(4) E Ele: “Mas bem te amo mais, e se você pudesse entrar em meu interior veria com clareza em

todas as minhas partículas o amor especial para você, e algumas vezes te amo tanto, que chego a

te amar quanto me amo a Mim mesmo, se bem às vezes não te posso ver e me é nauseante”.

(5) Estas últimas palavras foram como um relâmpago a meu pobre coração, pensar que nem

sempre era amada por meu amante Jesus, e que em ocasiões chegava a ser uma alma

abominável. Se Ele mesmo não tivesse corrido a explicar-me o significado, eu não teria podido

viver mais. Então ele adicionou:

(6) “Pobre filha, é muito difícil para você? Você encontrou a minha sorte, Eu era sempre o que era,

Uno com a Trindade Sacrossanta e nos amávamos com um amor eterno, indissolúvel, porém

coberto como vítima de todas as iniquidades dos homens, meu exterior era abominável ante a

Divindade, tanto que a justiça divina não me perdoou em nenhuma parte, tornando-se inexorável

até me abandonar. Tu és sempre como és Comigo, mas como desempenhas o estado de vítima,

teu exterior aparece ante a divina justiça coberto das culpas dos demais, eis por que te disse essas

palavras; sem embargo tu tranqüiliza-te, porque te amo sempre”.

(7) Dito isto desapareceu. Parece que o bendito Jesus desta vez tinha vontade de me inquietar,

mas logo me dá a paz. Seja sempre bendito e agradecido.

 

121

 

+ + + + +

 

4-169

Janeiro 5, 1903

 

A liberdade é necessária para conhecer o bom e o mau.

 

(1) Esta manhã me sentia quase livre dos sofrimentos, eu mesma não sabia o que fazer, quando

de repente me senti fora de mim mesma e via pessoas de nossa cidade, que além das palavras e

calúnias que haviam dito, planejavam chegar aos atos. Enquanto estava nisto vi o bendito Jesus e

disse: “Senhor, demasiada liberdade dás a estes homens infernais, até agora têm sido palavras de

inferno, e agora querem chegar a pôr as mãos sobre os teus ministros; convida-os e tem

compaixão deles, e ao mesmo tempo defende aqueles que te pertencem”.

(2) E Ele: “Filha, é necessária esta liberdade para conhecer o bom e o mau, mas deves saber que

estou cansado do homem, e tão cansado que o compartilho a ti, de modo que quando sentes esse

cansaço de teu estado de vítima e quase a vontade de querer sair dele, vem-te de Mim, mas

advirto-te que estejas atenta em não meter nenhuma vontade, porque eu vou buscar a vontade da

criatura para me apoiar e punir os rebeldes. Entretanto provemos, ainda te farei sofrer, e aqueles

ficarão sem força e não poderão fazer nada do que querem”.

(3) Quem pode dizer o que sofri e quantas vezes me renovou a crucifixão, e enquanto fazia isto me

disse levantando sua mão para o céu:

(4) “Minha filha, ao homem não o fiz para a terra, mas para o Céu, e sua mente, seu coração, e

tudo o que o seu interior contém devia existir no Céu, e se isso fizesse, receberia nas três

potências o influxo da Santíssima Trindade, e Ela ficaria copiada nele mesmo; mas como se ocupa

de terra, recebe em si a lama, a podridão e toda a cloaca de vícios que a terra contém”.

 

+ + + +

 

4-170

Janeiro 7, 1903

 

Pede a Jesus que lhe esclareça o seu estado, e Ele esclarece-o.

 

(1) Continuando meu habitual estado, estava pensando: “Será possível, pode ser verdade que por

poucos sofrimentos meus o Senhor suspenda os castigos, que debilite as forças humanas para que

não façam revoluções e para não formar leis iníquas? E além disso, quem sou eu para merecer

com poucos sofrimentos tudo isso?” Enquanto isso pensava, veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Filha minha, nem tu, nem quem te dirige compreenderam teu estado; tu no estado de

sofrimentos desapareces de todo, e Eu só, não misticamente, senão em carne viva reproduzo

meus mesmos sofrimentos que sofreu minha Humanidade. E não foram talvez os meus sofrimentos

que enfraqueceram os demônios, iluminaram as mentes cegas, em uma palavra, os que formaram

a redenção do homem? E se o puderam fazer então na minha Humanidade, não o poderão fazer

agora na tua? Se um rei fosse habitar em um pequeno barraco, e dali dispensasse graças, ajuda,

 

122

moedas, continuaria seu ofício de rei, se alguém não acreditasse se diria que é tolo, pois se é rei

pode fazer o bem tanto no palácio real como no pequeno barraco; e mais, admira-se mais sua

bondade, porque sendo rei não desdenha habitar em pequenas pocilgas e viçosas cabanas; assim

é a sua situação”.

(3) Eu compreendia com clareza tudo isto e disse: “Meu Senhor, tudo está bem como dizes, toda a

dificuldade do meu estado está na vinda do sacerdote”.

(4) E Ele: “Minha filha, ainda que um rei habitasse em pequenas pocilgas, pelas circunstâncias,

pelas necessidades, pela condição de rei, é conveniente que seus ministros não o deixem sozinho,

mas que lhe façam companhia servindo-o e obedecendo-o no que ele quer”.

(5) Fiquei tão convencida, que não sabia mais o que dizer.

+ + + +

 

4-171

Janeiro 9, 1903

 

Tudo está escrito no coração de quem crê, espera e ama.

 

(1) Esta manhã me sentia toda oprimida, pois tinha vindo Monsenhor a me visitar porque dizia que

não era certo que fosse Jesus Cristo quem operava em mim; e ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, para compreender bem a um sujeito se necessita crer, porque sem isto tudo é

escuridão no intelecto humano, enquanto que o só crer acende na mente uma luz, e por meio desta

luz descobre com clareza a verdade e a falsidade, quando opera a graça e quando a natureza e

quando o diabólico. Olha, o Evangelho é conhecido por todos, mas quem compreende o significado

das minhas palavras, as verdades que ele contém? Quem as conserva em seu próprio coração e

faz delas um tesouro para comprar o reino eterno, ou seja, quem crê. E todos os outros não só não

compreendem nada, mas servem-se delas para zombar e zombar das coisas mais santas. Portanto

pode-se dizer que tudo está escrito nos corações de quem crê, espera e ama, e para todos os

outros, nada está escrito para eles. Assim é de você, quem crê um pouco vê as coisas com clareza

e encontra a verdade; quem não, vê as coisas todas confusas”.

 

+ + + +

 

4-172

Janeiro 10, 1903

 

As palavras que mais confortam à doce Mãe são: “Dominus Tecum”.1

 

(2) Esta manhã, depois de ter esperado muito, veio a Rainha Mãe com o Menino nos braços, e

deu-mo dizendo-me que o tivesse cortejado com atos contínuos de amor. Por quanto pude o fiz, e

enquanto isso fazia Jesus me disse:

(2) “Amada minha, as palavras mais agradáveis e que mais consolam a minha Mãe são o

1

O Senhor é Contigo

 

123

“Dominus Tecum”, porque não apenas foram pronunciadas pelo arcanjo, sentiu comunicar-se nela

todo o Ser Divino, e por isso se sentiu investida do poder divino, de modo que o seu, diante do

poder divino se perdeu, e minha Mãe ficou com o poder divino em suas mãos”.

 

+ + + +

 

4-173

Janeiro 11, 1903

 

Vê Monsenhor que luta pela religião.

 

(1) Havendo-me dito o confessor que rezasse segundo as intenções de Monsenhor, via,

encontrando-me fora de mim mesma, que não concerne a Monsenhor mas a outras pessoas, e

entre elas via uma mulher muito boa, mas toda consternada e que chorava, e monsenhor sob os

braços de uma cruz com Cristo pregado em cima dela, que defendia, e devia ter ocasião para

combater pela religião, e o bendito Jesus que dizia:

(2) “Eu os confundirei”.

 

+ + + +

 

4-174

Janeiro 13, 1903

 

Vê a Santíssima Trindade. Males das adulações.

 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, parecia-me ver a Santíssima Trindade que

reciprocamente se olhavam, e era tanta sua beleza que ficavam estáticos só de se olhar, e neste

estado se transbordavam fora em amor, e por este amor ficavam como sacudidos, e permaneciam

mais intensamente estáticos, assim que todo seu bem e complacência estavam compreendidos

neles mesmos, e toda sua eterna vida e bem-aventurança, e funcionamento, estavam encerrados

nesta única palavra: “amor”. E toda a bem-aventurança dos santos era formada por esta obra

perfeita da Santíssima Trindade.

(2) Enquanto via isto, o Filho tomou a forma de Crucifixo, e, saindo do meio deles, veio a mim,

participando-me das penas da crucificação, e, enquanto estava comigo, pôs-se de novo no meio

deles, e ofereceu os seus e os meus sofrimentos, e deu satisfação pelo amor que lhe deviam todas

as criaturas. Quem pode dizer sua complacência, e como ficavam satisfeitos com a oferta do Filho.

Parecia que assim como ao criar as criaturas não havia saído outra coisa de seu interior que

chamas contidas de amor, pois para desafogar a este amor começaram a criar tantas outras

imagens deles, então ficavam satisfeitos quando recebiam o que tinham dado, isto é: Amor deram,

amor querem; assim que a mais Ofensa feia é não amá-los. No entanto, ó Deus três vezes Santo!

Quem é aquele que te ama?

(3) Depois disto desapareceram. Mas quem pode dizer o que compreendia? Minha mente se perdia

e a língua não sabe articular palavra. Então, pouco depois, voltou o bendito Jesus com o rosto

coberto de cuspidelas e de lodo, e disse-me:

 

124

(4) “Minha filha, os louvores, as adulações, são cuspidelas e lama que sujam e mancham a alma e

cegam a mente, para não deixá-la conhecer quem verdadeiramente é ela, especialmente se não

partem da verdade, porque se partem da verdade e a pessoa é digna de louvores, sabendo a

verdade me dará a Glória, mas se partem da falsidade, empurram a tal excesso a alma, que se

confirma principalmente no mal”.

 

+ + + +

 

4-175

Janeiro 31, 1903

 

Efeitos da coroa de espinhos de Jesus.

 

(1) Depois de ter esperado muito, vi o bendito Jesus em meu interior que tinha a coroa de

espinhos, e eu me pus a contemplá-lo e a compadece-lo, e Ele me disse:

(2) “Minha filha, quis sofrer estes espinhos na minha cabeça, além de para expiar todos os pecados

de pensamento, para unir a inteligência divina à humana, porque a inteligência divina estava como

dispersa nas mentes humanas, E meus espinhos a chamaram do Céu e a enxertaram de novo.

Não só isto, mas consegui, para quem devia manifestar as coisas divinas, ajuda, força, lucidez para

fazê-la conhecer aos demais”.

 

+ + + +

 

4-176

Fevereiro 1, 1903

 

A Rainha Mãe a repreende. Abre-se uma igreja protestante em Corato.

 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, sentia-me toda aflita, especialmente porque meu

confessor me havia dito que esta manhã se abria em Corato uma igreja protestante, e que eu devia

rogar ao Senhor que fizesse acontecer alguma coisa para confundi-los, à custa de qualquer

sofrimento meu, e vendo que o Senhor não vinha e portanto eu não sentia grandes sofrimentos,

único meio para obter esta espécie de graças, sentia uma aflição grandíssima. Depois de muito

esperar veio o bendito Jesus, e via o confessor que insistia muito e rogava para me fazer sofrer;

assim parece que me participaram as penas da cruz, e depois me disse:

(2) “Minha filha, fiz-te sofrer obrigado pelo poder sacerdotal, e permitirei que aqueles que vão, em

vez de ficarem convencidos do que os protestantes dizem, os tomem a ridículo, e além disso, como

o castigo caiu sobre Corato nos dias que te tive suspensa do estado de vítima, deve ter seu curso,

e se você continuar sofrendo disporei de modo tal aos corações, que a tempo oportuno me servirei

de alguma ocasião para fazê-los ficar totalmente confundidos e destruídos”.

(3) Depois, veio a Rainha Mãe, como se tivesse querido usar comigo um trato de justiça me

repreendeu áspero por algum pensamento e palavra, especialmente quando me vendo com

pouquíssimos sofrimentos digo que já não é Vontade de Deus, e então quero sair deste estado.

 

125

Quem pode dizer com que rigor me repreendeu? E disse-me: “Que o Senhor permita que alguns

dias te suspenda, pode ser; mas que te disponhas tu, isto é intolerável diante de Deus, vindo tu

quase a ditar leis do modo como te quer ter”. Senti tanto a força do rigor, que estava por desmaiar,

tanto que o bendito Jesus tendo compaixão de mim, me sustentou entre seus braços.

 

+ + + +

 

4-177

Fevereiro 9, 1903

 

Os bens da Igreja Católica, e os males dos protestantes.

 

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma via o confessor com outro sacerdote santo, o

qual dizia: “Tira todo pensamento de que não é Vontade de Deus tua situação”.

(2) Depois falou sobre estes protestantes que dizem de Corato, e disse: “Pouco ou nada farão,

porque os protestantes não têm o anzol da verdade para pescar os corações, como tem a Igreja

Católica, lhes falta o barco da verdadeira virtude para colocá-los a salvo, estão desprovidos de

velas, de remos, de âncora, que são os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo, e chegam a

não ter nem um pão para tirar a fome, nem água para tirar a sede e lavar-se, como são os

sacramentos, e o que é mais, falta-lhes até o mar da Graça para poder ir pescar almas. Então,

faltando tudo isso, que progressos poderão fazer?” E disse tantas outras coisas que eu não sei

repetir bem. Depois veio meu amável Jesus e me disse:

(3) “Minha filha, quem me ama fixa-se de frente ao centro Divino, mas quem se resigna e faz em

tudo a Vontade Divina, possui em si mesmo o centro da Divindade”.

(4) E como relâmpago desapareceu. Pouco depois voltou, e eu lhe estava agradecendo pela

Criação e Redenção e por tantos outros benefícios. E Ele acrescentou:

(5) “Na Criação formei o mundo material, e na Redenção formei o mundo espiritual”.

 

+ + + +

 

4-178

Fevereiro 22, 1903

 

O pecado é veneno, e a dor é o antídoto.

 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, por pouco tempo vi meu adorável Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, o pecado ofende a Deus e fere o homem, e como foi cometido pelo homem, e foi

ofendido Deus, para receber uma plena satisfação se necessitava um homem e um Deus que me

satisfez. E os trinta anos de minha Vida mortal deram satisfação pelas três idades do mundo, pelos

três diferentes estados de lei: a natural, a escrita e a da graça, e pelas três diversas idades de cada

homem: Adolescência, juventude e velhice. Eu por todos dei satisfação, mereci e impetrei, e minha

 

126

humanidade serve de escada para subir ao Céu; mas se o homem não sobe esta escada com o

exercício das próprias virtudes, em vão tenta subir e tornará inútil para si mesmo o meu agir”.

(3) Então eu, ouvindo o nome do pecado, disse: “Senhor, fala-me um pouco do porquê te agrada

tanto quando uma alma se magoa de ter te ofendido”.

(4) E Ele: “O pecado é um veneno que envenena toda a alma e a torna tão deformada, que chega

a fazer desaparecer nela minha imagem, e a dor destrói este veneno e lhe restitui minha imagem, a

verdadeira dor é um antídoto, e à medida que a dor destrói o veneno, faz um vazio na alma, e este

vazio o enche minha graça; esta é a causa de meu agrado, porque vejo ressuscitada por meio da

dor a obra de minha Redenção”.

 

+ + + +

 

4-179

Fevereiro 23, 1903

 

Não querem por cabeça a Nosso Senhor. A Igreja será sempre Igreja.

 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei-me perto de um jardim que parecia ser a Igreja,

perto do qual estavam pessoas que maquinavam um atentado à Igreja e ao Papa, e no meio deles

estava Nosso Senhor crucificado, mas sem cabeça. Quem pode dizer a pena, o horror que dava

ver seu santíssimo corpo naquele estado? E compreendia que os homens não querem a Jesus

Cristo por sua cabeça, e como a Igreja o representa sobre esta terra, por isso buscam destruir

aquele que faz suas vezes. Depois me encontrei em outro lugar, no qual estavam outras pessoas

que me perguntavam: “O que diz você da Igreja?”

 

(2) E eu, sentindo uma luz na mente disse: “A Igreja será sempre Igreja, no máximo poderá lavar-

se em seu próprio sangue, mas esta lavagem a tornará mais bela e gloriosa”.

 

(3) Eles ao ouvirem isso disseram: “É falso, vamos chamar o nosso deus e ver o que ele diz”.

(4) Então saiu um homem que superava a todos em altura, com coroa na cabeça, e disse: “A Igreja

será destruída, não existirão funções públicas, ao mais alguma escondida, e a Virgem não será

mais reconhecida”.

(5) Quando eu ouvi isto, eu disse: “E quem és tu que te atreves a dizer isto? Acaso não és tu

aquela serpente condenada por Deus a rastejar pela terra? E agora atreves-te a tanto que fazes

crer que és rei, enganando as nações, ordeno-te que te faças conhecer pelo que és”.

(6) Enquanto eu estava dizendo isso, a altura tornou-se baixo, baixo, tomou a forma de serpente, e

provocando um relâmpago se precipitou; e eu encontrei-me em mim mesma.

 

+ + + +

 

4-180

Março 5, 1903

Jesus faz-se ver levando um maço de cruzes nos braços, e diz-lhe que são as cruzes do

 

127

 

desapontamento, que tem prontas para cada um.

 

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, encontrei-me junto com o bendito Jesus, que levava

um maço de cruzes, de espinhos nos braços, todo cansado e afanado. E eu, vendo-o naquele

estado, disse: “Senhor, com que finalidade te esforçar tanto com este maço nos braços?”

(2) E Ele: “Minha filha, estas são as cruzes do desapontamento, que tenho sempre prontas para

desenganar as criaturas”.

(3) Agora, enquanto dizia isto, nos encontramos no meio das nações, e o bendito Jesus, não

apenas via a um que se apegava às criaturas, tomava daquele maço a cruz da perseguição e a

dava, e aquele vendo-se perseguido, mal visto, ficava desiludido e compreendia o que eram as

criaturas e que só Deus merece ser amado. Se algum outro se apegava às riquezas, tomava

daquele maço a cruz da pobreza e a dava, e aquele vendo-se esfumadas as riquezas,

empobrecido, compreendia que tudo é fumaça aqui embaixo e que verdadeiras riquezas são as

eternas, e portanto a tudo o que é eterno apegava seu coração. Se outro se apegava à própria

estima, ao saber, o bendito Jesus com toda doçura tomava a cruz das calúnias e das confusões e

lhe dava, e aquele, confundido, caluniado, tirava-se como uma máscara e compreendia o seu

nada, seu ser, e todo seu interior o ordenava em ordem só a Deus e não mais a si mesmo. E assim

por todas as outras cruzes. Depois disso, meu adorável Jesus me disse:

 

(4) “Você viu a causa pela qual tenho este maço de cruzes nos braços? O amor às criaturas obriga-

me a tê-lo, estando em contínua atitude para com elas; sendo a cruz o desapontamento primário e

 

o primeiro que julga o agir das criaturas, de modo que se a criatura se render, a cruz lhe fará evitar

o juízo de Deus, me dando por satisfeito quando alguem em vida se submete ao juízo da cruz;

mas se não se render, se encontrará no ambiente do segundo desapontamento da morte, e será

julgado com um estrito rigor por Deus, muito mais por ter escapado do juízo da cruz, que é juízo

todo de amor”.

(5) Depois disto desapareceu, e eu compreendia também que é verdade que Jesus ama a cruz,

mas muitas vezes o próprio homem incita, provoca Jesus a dar-lhe a cruz, porque se estivesse

ordenado em ordem a Deus, a si mesmo e às criaturas, não vendo nele nenhuma desordem, o

Senhor as guardaria e daria a paz.

 

+ + + +

 

4-181

Março 6, 1903

 

Jesus leva-a a ver o mundo e diz “Ecce homo”. 2

 

(1) Depois de ter esperado muito, o bendito Jesus fazia-se ver dentro de mim, dizendo-me:

(2) “Queres que vaiamos ver se as criaturas me querem?”

2

Eis o Homem

 

128

(3) E eu: “Certamente te amarão; sendo Tu o Ser mais amável, quem terá a audácia de não te

amar?”

(4) E Ele: “Vamos e depois verás o que farão”.

(5) Fomos embora, e quando chegamos a um ponto onde havia muita gente, tirou sua cabeça de

dentro de mim e disse aquelas palavras que disse Pilatos quando o mostrou ao povo: “Ecce

Homo”. E compreendia que aquelas palavras significavam se queriam que o Senhor reinasse como

seu Rei, e tivesse o domínio em seus corações, nas mentes, e obras; e aqueles responderam:

“Tirai-o, não o queremos, mas, ao contrário, levai-o, a fim de que seja destruída toda sua memória”.

Oh, quantas vezes essas cenas se repetem! Então o Senhor disse a todos: “Ecce Homo”.

(6) Ao dizer isto aconteceu um murmúrio, uma confusão, que dizia: “Não o quero por meu Rei,

quero a riqueza, outro o prazer, outro a honra, quem as dignidades e outros tantas outras coisas

mais. Com horror eu escutava estas vozes e o Senhor me disse:

(7) “Você entendeu como ninguém me quer, mas isso é nada, vamos nos dirigir à classe religiosa e

ver se eles me querem”.

(8) Então me encontrei no meio de sacerdotes, bispos, religiosas, consagrados; e Jesus com voz

sonora repetiu: “Ecce Homo”.

(9) E aqueles diziam: “Queremos, mas queremos também nossa conveniência”. Outros: “Nós o

amamos, mas junto com o interesse”. Outros responderam: “Nós o amamos, mas unidos à estima,

à honra, o que faz um religioso sem estima?” Eles diziam: “Nós o amamos, mas junto com alguma

satisfação de criatura, como podemos viver sozinhos e sem que ninguém nos satisfaça?” E alguns

chegavam a querer pelo menos a satisfação no sacramento da confissão. Mas só, só, quase

ninguém o queria, não faltando também que alguém não se ocupasse de fato de Jesus Cristo.

(10) Então todo aflito me disse: “Minha filha, vamos nos retirar, você viu como ninguém me quer,

ou no máximo me querem unido com alguma coisa que lhes agrada, Eu não me contento com isso,

porque o verdadeiro reinar é quando reina sozinho”.

(11) Enquanto dizia isto, encontrei-me em mim mesma.

+ + + +

 

4-182

Março 9, 1903

 

Jesus fala da humildade e da correspondência.

 

(1) Continuando o meu estado habitual, ouvia que no meu íntimo o bendito Jesus rezava dizendo:

(2) “Pai Santo, glorifica o teu nome, confunde e esconde-te dos soberbos e manifesta-te aos

humildes, porque só o humilde te reconhece pelo seu Criador, e se reconhece como tua criatura”.

(3) Dito isto não se deixou ouvir mais, embora eu compreendesse a força da humildade diante de

Deus, parecia-me que não tem nenhuma dúvida em confiar-lhe os mais preciosos tesouros, mas

sim tudo está aberto para os humildes, nada está fechado à chave; todo o contrário para os

 

129

soberbos, mas parece que lhes põe um laço nos pés para os confundir a cada passo. Pouco

depois fez-se ver outra vez e me disse:

(4) “Minha filha, se um corpo está vivo se conhece pelo calor interno contínuo, porque se pode dar

que mediante algum calor externo se possa aquecer, mas não vindo da verdadeira vida logo volta a

esfriar-se. Assim a alma, pode-se conhecer se está viva à graça se sua vida interna está viva no

obrar, em amar-me, se sente a força de minha mesma vida na sua; se em troca, é por qualquer

causa aparente que se aquece, faz algum bem e depois se esfria, regressa aos vícios, comete as

habituais fraquezas, há uma grande certeza de que está morta à graça, ou bem está nos últimos

extremos da vida. Assim se pode saber se verdadeiramente sou Eu quem vou à alma, se sente

minha graça em seu interior e todo seu bem se funda em seu interior; se em troca tudo é externo e

nada adverte em seu interior de bem, pode ser obra do demônio”.

(5) Enquanto isto dizia desapareceu, mas pouco depois voltou e acrescentou:

(6) “Minha filha, que terrível pode ser para as almas que foram muito fecundadas pela minha graça

e não retribuíram. A nação hebraica, a mais predileta, a mais fecundada, não obstante a mais

estéril, e toda a minha pessoa não produziu aquele fruto que Paulo produziu nas outras nações

menos fecundadas, mas mais correspondentes, porque a não correspondência à graça, cega a

alma, e a faz errar e a dispõe à obstinação, mesmo diante de qualquer milagre”.

 

+ + + +

 

4-183

Março 12,1903

 

Lamentos. Jesus fala da sua vida e da Eucaristia.

 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, via-me sozinha e abandonada, então, depois de ter

esperado muito se fez ver em meu interior, e eu lhe disse:

(2) “Doce vida minha, como me deixaste sozinha, quando Tu me puseste neste estado tudo foi

união, e tudo o que combinamos juntos, e com doce força me atraíste toda a Ti. Oh! como se

mudou a cena, não só me abandonaste, não só não me fazes nenhuma força para ter-me naquele

estado, senão que estou obrigada a fazer-te uma contínua força para não sair deste estado, e este

forçar-te é para mim um contínuo morrer”.

(3) E Ele me disse: “Minha filha, o mesmo aconteceu quando no consistório da Sacrossanta

Trindade decretou o mistério da Encarnação para salvar o gênero humano, e Eu unido com sua

Vontade aceitei e me ofereci vítima pelo homem; tudo foi união entre as Três Divinas Pessoas e

tudo foi planejado juntos, mas quando me pus à obra chegou um momento, especialmente quando

me encontrei no ambiente das penas, dos opróbrios, carregado de todas as maldades das

criaturas, que fiquei só e abandonado por todos, até por meu amado Pai; e não só isto, senão que

assim, carregado de todas as penas como estava, devia forçar o Onipotente a aceitar e que me

fizesse continuar meu sacrifício pela salvação de todo o gênero humano, presente, passado e

 

130

futuro. E isso eu consegui. O sacrifício ainda dura, o esforço é contínuo, embora esforço todo de

amor, e você quer saber onde e como? No sacramento da Eucaristia, nele o sacrifício é contínuo,

perpétuo, é a força que faço ao Pai para que use misericórdia com as criaturas e com as almas

para obter o seu amor, e encontro-me em contínuo contraste de morrer continuamente, embora

todas as mortes de amor. Então, não estás contente por eu te fazer participar nos períodos da

minha própria vida?”

 

+ + + +

 

4-184

Março 18, 1903

 

Jesus diz que quem faz o seu Querer escolhe o melhor.

 

(1) Esta manhã, tendo-me perguntado o confessor se sentia o desejo de sofrer, eu lhe respondi:

“Sim”, mas me sentia mais tranqüila, gozava mais paz e contente quando não queria outra coisa

senão o que quer Deus; por isso queria deter-me. Depois, havendo vindo o bendito Jesus me

disse:

(2) “Minha filha, tu escolheste o melhor, porque quem está sempre em minha Vontade, me ata em

modo de fazer sair de Mim uma contínua virtude para tê-la em contínua atitude para comigo, tanto,

que ela forma o meu alimento e eu o dela. Ao contrário, ainda que a alma fizesse coisas grandes,

santas e boas, como não é virtude que tenha saído de Mim, não poderá ser para Mim alimento

saboroso, porque não as reconheço como obras de Minha Vontade”.

 

Deo Gratias

Graças a Deus!

 

Nihil obstat

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl

 

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

 

 

 

 

 

 

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