Livro do Céu Volume 1 ao 7 Serva de Deus Luisa Piccarreta

LIVRO DO CÉUOs Três Fiat
Livro do Céu Volume 1 ao 7 Serva de Deus Luisa Piccarreta
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O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS
LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Volume 01

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

 IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

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Queremos consagrar este livro e os frutos 

que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade 

Este livro foi traduzido pelo site divinavontadenobrasil.com para distribuição gratuita.

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Volume 01

  1. M. I.

(1) Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

(2) Por pura obediência começo a escrever.

(3) Tu sabes, ó Senhor, o sacrifício que me custa fazer, e que me submeteria a mil mortes antes de  escrever uma só linha das coisas que passaram entre Tu e eu. Oh meu Deus! Minha natureza  treme, sente-se esmagada e quase desfeita só de pensar. ¡ Ah, dá-me a força, ó vida da minha  vida, a fim de que possa cumprir a santa obediência! Tu que deste a inspiração ao confessor, dá

me a graça de poder cumprir o que me é mandado.

(4) Oh Jesus, ó Esposo, ó minha fortaleza! A Ti me dirijo, a Ti venho, em teus braços me introduzo,  me abandono, me repouso. Ah, me Consola me em minha aflição e não me deixe só e  abandonada! Sem sua ajuda estou certa que não terei força de cumprir esta obediência que tanto  me custa, me vencerá o inimigo e temo ser repudiada justamente por Ti por minha desobediência. ¡  Ah! Olha para mim e olha para mim outra vez, ó Santo Esposo nestes teus braços, vê quantas  trevas me rodeiam, são tão densas que não deixam entrar nem sequer um átomo de luz na minha  alma. ¡ Oh! Meu místico Sol Jesus, resplandeça esta luz em minha mente, a fim de que faça fugir  as trevas e possa livremente recordar as graças que fez a minha alma. ¡ Oh! Sol Eterno, manda  outro raio de luz ao íntimo de meu coração e o purifique da lama em que jaz, o queime, o consuma  em teu Amor, a fim de que ele, que mais que tudo provou as doçuras de teu Amor, possa  claramente manifestá-las a quem está obrigado. A culpa é minha! Meu Sol Jesus, manda outro raio  de luz ainda sobre meus lábios para que possa dizer a pura verdade, com a única finalidade de  conhecer se é verdadeiramente Você ou bem ilusão do inimigo. Mas, oh! Jesus, quão escassa de  luz vejo-me ainda nestes braços teus. Ah! Contenta-me, Tu que tanto me amas, continua a  mandar-me luz. . Oh! Meu Sol, meu belo, propriamente quero entrar no centro, a fim de ficar toda  abismada nesta luz puríssima. Faz, ó Sol Divino, que esta luz me preceda diante, me continue  junto, circunde-me por toda parte, se introduza nos mais íntimos esconderijos de meu interior, a fim  de que, consumindo meu ser terreno, transforme tudo em seu Ser Divino.

(5) Virgem Santíssima, Mãe amável, venha em meu auxílio, obtenha-me de você e meu doce Jesus  graça e força para cumprir esta obediência.

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(6) São José, meu amado protetor, Senhor nesta circunstância. Arcanjo São Miguel, defenda-me  do inimigo infernal, que tantos obstáculos me põe na mente para fazer-me faltar a esta obediência.  Arcanjo São Rafael e tu meu Anjo Guardião, vinde assistir-me e acompanhar-me, a dirigir a minha  mão a fim de que possa escrever só a verdade.

(7) Seja tudo para honra e glória de Deus, e para mim toda a confusão. Oh, Santo Esposo, venha  em minha ajuda! Ao considerar as muitas graças que fizeste à minha alma, sinto-me toda  espantada, toda cheia de confusão e vergonha ao me ver ainda tão má e sem corresponder a tuas  graças. Mas meu amável e doce Jesus, perdoa-me, não te retires de mim, continua derramando  em mim tua graça, a fim de que possas fazer de mim um triunfo de tua Misericórdia.

1 Todos os livros apresentados no livro “Libro de Cielo” foram traduzidos da tradução em espanhol,  que foi traduzido do manuscrito original de Luisa Piccarreta. Neste primeiro volume, apresentamos  os quatro primeiros livros escritos por Luisa. Em 28 de fevereiro de 1899, ela recebeu a ordem de  seu confessor, Don Gennaro Di Gennaro, para começar a escrever enquanto Jesus falava com ela  e também escrever tudo o que havia acontecido entre eles até aquele momento. 1 é o único que  não foi escrito enquanto Nosso Senhor falava com ela. Embora seja contínuo, vários temas muito  bem definidos são distinguidos, mas não queremos marcá-los para não alterar a maneira como ela o escreveu. No início deste livro, estão as duas primeiras meditações da novena de Natal, as sete

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restantes estão no final. Por causa do que foi dito anteriormente, queremos deixar a ordem que ela  usou ao escrever este volume, por isso parece inacabado, mas no final estão as meditações  ausentes. Além disso, essa novena esta completa no final deste livro.

Começa sua narração aos 17 anos e só põe as primeiras duas meditações.  

(8) E agora começo a Novena do Santo Natal. Aos dezessete anos, preparei-me para a festa do  Santo Natal praticando diferentes atos de virtude e mortificação, honrando especialmente os nove  meses que Jesus esteve no seio materno com nove horas de meditação por dia, referentes sempre  ao mistério da Encarnação.

(9) 1º. – Como por exemplo, em uma hora me punha com o pensamento no paraíso e me  imaginava à Santíssima Trindade: ao Pai que mandava o Filho à terra, ao Filho que prontamente  obedecia ao Querer do Pai, e ao Espírito Santo que consentia nisso. Minha mente se confundia  tanto ao contemplar um mistério tão grande, um amor tão recíproco, tão igual, tão forte entre eles e  para com os homens; e na ingratidão destes, especialmente a minha; que nisto teria ficado não  uma hora, mas todo o dia, mas uma voz interna me dizia:

(10) “Chega, vem e vê outros maiores excessos do meu Amor”.

(11) 2º. – Então minha mente se punha no seio materno, e ficava estupefata ao considerar aquele  Deus tão grande no Céu, e agora tão humilhado, diminuído, restringido, que quase não podia  mover-se, nem sequer respirar. A voz interior dizia-me:

(12) “Vês quanto te amei? ” Ah! Dá-me um lugar em teu coração, tira tudo o que não é meu,  porque assim me dará mais facilidade para poder me mover e respirar”.

(13) Meu coração se desfazia, lhe pedia perdão, prometia ser toda sua, me desabafava em pranto,  sem embargo, digo-o para minha confusão, voltava a meus habituais defeitos. ¡ Oh! Jesus, quão  bom foste com esta criatura miserável.

(14) E assim passava a segunda hora do dia, e depois, pouco a pouco o resto, que dizer tudo seria  aborrecer. E isto fazia-o às vezes de joelhos e quando era impedida de fazê-lo pela família, fazia-o  mesmo trabalhando, porque a voz interior não me dava nem trégua nem paz se não fizesse o que  queria, assim que o trabalho não me era impedimento para fazer o que devia fazer. Assim passei  os dias da novena, quando chegou a véspera me sentia mais que nunca acendida por um insólito  fervor. Eu estava sozinha no quarto quando o menino Jesus me foi apresentado, todo bonito, sim,  mas tiritando, em atitude de querer me abraçar, eu me levantei e corri para abraçá-lo, mas no  momento em que o ia estreitar desapareceu, isto se repetiu três vezes. Fiquei tão comovida e  acesa de amor, que não sei explicar; mas depois de algum tempo não o levei mais em conta, e não  o disse a ninguém, de vez em quando caía nas habituais faltas. A voz interior não me deixou nunca  mais, em cada coisa me repreendia, me corrigia, me animava, em uma palavra, o Senhor fez

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comigo como um bom pai com um filho que tende a desviar-se, e ele usa todas as diligências, os  cuidados para mantê-lo no reto caminho, de modo de formar dele a sua honra, a sua glória, a sua  coroa. Mas, ó! Senhor, muito ingrata te tenho sido.

Ensina-lhe o desapego. Desapego do mundo exterior. 

(15) Depois o Divino Mestre dá início, põe sua mão para desapegar meu coração de todas as  criaturas, e com voz interior me dizia:

(16) “Eu sou o único que merece ser amado; olha, se você não tirar este pequeno mundo que o  rodeia, isto é, pensamentos de criaturas, imaginações, Eu não posso entrar livremente em seu  coração, este murmúrio em sua mente é impedimento para te deixar ouvir mais clara minha voz,  para derramar as minhas graças e para te fazer apaixonar verdadeiramente por Mim. Prometa ser  toda minha e eu mesmo porei mãos à obra. Tu tens razão em que não podes nada, não temas, Eu  farei tudo, dá-me a tua vontade e isso me basta”.

(17) E isto acontecia mais freqüentemente na Comunhão; então lhe prometia ser toda sua, pedia  perdão por que até aquele momento não o havia sido, lhe dizia que verdadeiramente o queria amar  e lhe rogava que não me deixasse nunca mais só sem Ele. E a voz continuava: (18) “Não, não, virei contigo para observar todas as tuas ações, movimentos e desejos”. (19) Todo o dia o sentia sobre mim, me repreendia de tudo, como por exemplo se me entretinha  demasiado falando com a família de coisas indiferentes, não necessárias, a voz interna me dizia:  (20) “Estas conversas enchem-te a mente de coisas que não me pertencem a Mim, circundam-te o  coração de pó, de modo que te faz sentir débil minha Graça, não mais viva. ¡ Ah! Me imite quando  estava na casa de Nazaré, minha mente não se ocupava de outra coisa que da glória do Pai e da  salvação das almas, minha boca não dizia outra coisa que discursos santos, com minhas palavras  buscava reparar as ofensas ao Pai, tratava de assar os corações e atraí-los ao meu Amor, e  primariamente a minha Mãe e a São José, em uma palavra, tudo nomeava a Deus, tudo era feito  por Deus e tudo a Ele se referia. Por que você não poderia fazer o mesmo?” (21) Eu ficava muda, toda confusa, tratava por quanto mais podia de estar sozinha, confessava-lhe  minha debilidade, pedia-lhe ajuda e graça para poder fazer o que Ele queria, porque por mim só  não sabia fazer outra coisa que mal. Se durante o dia minha mente se ocupava em pensar em  pessoas às quais eu queria, em seguida me repreendia dizendo-me:

(22) “Isto é o bem que me queres? Quem te amou como Eu? Olhe, se você não acabar com isso  Eu te deixo”.

(23) Às vezes eu me sentia dando tais e tantas reprovações amargas, que não fazia outra coisa  que chorar. Especialmente uma manhã, depois da Comunhão, deu-me uma luz tão clara sobre o  grande amor que Ele me dava e sobre a volubilidade e inconstância das criaturas, que o meu  coração ficou tão convencido, que daí em diante já não foi capaz de amar a nenhuma pessoa.

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Ensinou-me a amar as pessoas sem me separar Dele, isto é, a olhar para as criaturas como  imagem de Deus, de modo que se recebia o bem das criaturas, devia pensar que só Deus era o  primeiro autor daquele bem e que se tinha servido da criatura para me dar, então meu coração se unia mais a Deus. Se recebia mortificações, devia vê-las também como instrumentos nas mãos de  Deus para a minha santificação, por isso meu coração não ficava ressentido com meu próximo.  Então por este modo acontecia que eu olhava as criaturas todas em Deus, por qualquer falta que  visse nelas jamais lhes perdia a estima, se zombavam de mim me sentia obrigada com elas  pensando que me faziam fazer novas Aquisições para minha alma, se me louvavam, recebia com  desprezo estes louvores dizendo: “Hoje isto, amanhã podem me odiar, pensando em sua  inconstância”. Em suma, meu coração adquiriu uma liberdade que eu mesma não sei explicar.

Purificação interior. Purificação do interior de sua alma. 

Quando o Divino Mestre me libertou do mundo externo, então pôs a mão a purificar o interior, e  com voz interior me dizia:

(24) “Agora estamos sozinhos, não há mais quem nos perturbe, não está agora mais contente que  antes que devia contentar a tantos e tantos? Olha, é mais fácil contentar um só, deves fazer de  conta que eu e tu estamos sozinhos no mundo, promete ser fiel e eu verterei em ti tais e tantas  graças que tu mesma ficarás maravilhada”.

(25) Depois continuou a dizer-me: “Sobre ti fiz grandes desígnios, sempre e quando tu me  corresponderes, quero fazer de ti uma perfeita imagem minha, começando desde que nasci até  que morri; Eu mesmo te ensinarei um pouco cada vez o modo como o farás”.  (26) E acontecia assim: Todas as manhãs, depois da Comunhão, dizia-me o que devia fazer no  dia. Direi tudo brevemente, porque depois de tanto tempo é impossível poder dizer tudo. Não me  lembro bem, mas me parece que a primeira coisa que me dizia que era necessária para purificar o  interior de meu coração, era o aniquilamento de mim mesma, isto é, a humildade. E continuava  dizendo-me:

27) “Olha, para fazer com que Eu derrame as minhas graças no teu coração, quero fazer-te  compreender que por ti nada podes. Eu me cuido muito bem daquelas almas que se atribuem a si  mesmas o que fazem, querendo me fazer tantos furtos de minhas graças. Em vez disso, com  aquelas que se conhecem a si mesmas, Eu sou generoso em verter a torrentes minhas graças,  sabendo muito bem que nada se referem a elas mesmas, agradecem-me e têm a estima que  convém, Vivem com medo de que, se não me corresponderem, posso tirar-lhes o que lhes dei,  sabendo que não é uma delas. Pelo contrário, nos corações que fedem de soberba, nem sequer  posso entrar em seu coração, porque inflado deles mesmos não há lugar onde possa me colocar;

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as miseráveis não levam em conta minhas graças e vão de queda em queda até à ruína. Por isso  quero que neste dia faça contínuos atos de humildade, quero que você esteja como um menino  envolto em fraldas, que não pode mover nem um pé para dar um passo, nem uma mão para agir,  senão que tudo o espera da mãe, assim você estará junto a Mim como um menino, me rogando  sempre que te assista, que te ajude, confessando-me sempre teu nada, em suma, esperando tudo  de Mim”.

(28) Então procurava fazer quanto mais podia para satisfazê-lo, me diminuía, me aniquilava, e às  vezes chegava a tanto, de sentir quase desfeito meu ser, de modo que não podia obrar, nem dar  um passo, nem sequer um respiro se Ele não me sustentava. Além disso, eu estava tão mal que  tinha vergonha de me deixar ver pelas pessoas, sabendo que sou a mais feia, como em realidade  Eu ainda sou, então quanto mais eu podia fugir e dizer entre mim: “Oh, se vocês soubessem como  eu sou ruim, e se pudessem ver as graças que o Senhor está me fazendo, (porque eu não dizia  nada a ninguém) e que eu sou sempre a mesma; oh, como me teriam horror!”.

(29) Depois, na manhã em que ia de novo a comungar, me parecia que ao vir Jesus a mim fazia  festa pelo contente que sentia ao me ver tão aniquilada, me dizia outras coisas sobre o  aniquilamento de mim mesma, mas sempre de maneira diferente da anterior, Acho que não uma,  mas centenas de vezes ele falou comigo, e se ele me tivesse falado milhares de vezes teria  sempre novas maneiras de falar sobre a mesma virtude, oh! meu Divino Mestre, quão sábio és, se  ao menos te tivesse correspondido

(30) Lembro-me de uma manhã, quando ele me falava sobre a mesma virtude, ele me disse que  por falta de humildade havia cometido muitos pecados, e que se eu tivesse sido humilde, eu teria  ficado mais perto dele e não teria feito tanto mal; ele me fez entender como o pecado era feio, a  afronta que este miserável verme tinha feito a Jesus Cristo, a ingratidão horrenda, a impiedade  enorme, o dano que tinha vindo a minha alma. Fiquei tão espantada que não sabia o que fazer  para reparar, fazia algumas mortificações, pedia outras ao confessor, mas poucas me eram  concedidas, assim que todas me pareciam sombras e não fazia outra coisa que pensar em meus  pecados, mas sempre mais estreita a Ele. Tinha tanto medo de me afastar dele e de agir pior que  antes, que eu mesma não sei explicar. Não fazia outra coisa quando me encontrava com Ele que  dizer-lhe a pena que sentia por havê-lo ofendido, pedia-lhe sempre perdão, agradecia-lhe porque  tinha sido tão bom comigo, e dizia-lhe de coração: “Olha, oh! Senhor o tempo que perdi, enquanto  poderia ter te amado”. Então não sabia dizer outra coisa senão o grave mal que tinha feito;  finalmente, um dia repreendeu-me e disse:

Esqueço-me das culpas. Esqueço-me das culpas. 

(31) “Não quero que penses mais nisto, porque quando uma alma se humilhou, convencida de ter  feito mal e lavado a sua alma no sacramento da confissão e está disposta a morrer antes de me

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ofender, pensar nisso é uma afronta à minha Misericórdia, é um impedimento para a estreitar ao  meu Amor, Porque ela procura sempre, com a sua mente, envolver-se na lama do passado e  impede-me de a fazer voar para o Céu, porque sempre com essas ideias se fecha em si mesma, se  é que procura pensar nelas. E além disso, olha, Eu já não me lembro de nada, eu esqueci  perfeitamente; você vê alguma sombra de rancor da minha parte?”

(32) E eu dizia-lhe: “Não, Senhor, és tão bom”. Mas sentia partir-me o coração de ternura. (33) E Ele: “E bem, quererás manter diante destas coisas?”

(34) E eu: “Não, não, não quero”.

(35) E Ele: “Pensemos em amar-nos e em contentar-nos mutuamente”.

(36) Daí em diante não pensei mais nisso, fazia quanto mais podia por satisfazê-lo e lhe pedia que  Ele mesmo me ensinasse o modo como devia fazer para reparar o tempo passado. E Ele me dizia:  Imitação da sua Vida. Imitação da vida de Jesus.

(37) “Estou pronto a fazer o que tu queres. Olha, a primeira coisa que eu disse que queria de ti era  a imitação da minha Vida, assim que vejamos o que te falta”.

(38) “Senhor”, dizia-lhe, “me falta tudo, não tenho nada”.

(39) “E bem”, dizia-me: “Não temas, pouco a pouco faremos tudo, Eu mesmo conheço como és  fraco, mas é de Mim que deves tomar força”. (Não me lembro em ordem, mas como posso dizê-lo)  E acrescentava:

Espírito de retidão.  

(40) “Quero que sejas sempre reta no teu agir, com um olho deves olhar para Mim e com o outro  deves olhar o que estás a fazer; quero que as criaturas te desapareçam completamente. Se você  não olhar para as pessoas, não, mas deves pensar que eu mesmo quero que faças o que te é  ordenado, então com o olho fixo em Mim não julgarás ninguém, não olharás se a coisa te é penosa  ou te agrada, se podes ou não fazê-la, fechando os olhos a tudo isto os abrirás para olhar só a  Mim, me levarás junto a ti pensando que te estou olhando fixamente e me dirás: “Senhor, só por Ti  o faço, só por Ti quero agir, não mais escrava das criaturas”. Então, se você anda, se você  trabalha, se você fala, em qualquer coisa que você faz, seu único fim deve ser de me agradar só a  Mim. Oh! Quantos defeitos evitará se fizer assim”.

(41) Outras vezes me dizia: “Também quero que se as pessoas te mortifiquem, te injuriam, te  contradizem, o olhar também fixo em Mim, pensando que com a minha própria boca te digo: “Filha,  sou propriamente Eu que quero que sofras isto, não as criaturas, afasta o olhar delas, senão só Eu  e tu sempre, todas as demais destruas. Olha, quero fazer-te bela por meio destes sofrimentos,  quero enriquecer-te com méritos, quero trabalhar a tua alma, tornar-te semelhante a Mim. Você me  fará um presente, me agradecerá afetuosamente, será agradecida com aquelas pessoas que te

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dão a oportunidade de sofrer, recompensando-as com algum benefício. Fazendo assim caminharás  reta diante de Mim, nada te dará mais inquietude e gozarás sempre paz”.

Espírito de mortificação.  

(42) Depois de algum tempo em que tentei exercitar-me nestas coisas, às vezes fazendo e às  vezes caindo (se bem que vejo claro que ainda me falta este espírito de retidão e sempre fico mais  confusa pensando em tanta ingratidão minha)Jesus falou comigo e me fez entender a necessidade  do espírito de mortificação, (se bem me lembro que em todas estas coisas que me dizia,  acrescentava-me sempre que tudo devia ser feito por amor seu, e que as virtudes mais belas, os  sacrifícios maiores, tornavam-se insípidos se não tinham princípio no amor. A caridade, dizia-me, é  uma virtude que dá vida e esplendor a todas as demais, de modo que sem ela todas estão mortas  e meus olhos não sentem nenhum atrativo, e não têm nenhuma força sobre meu coração; esteja,  pois, atenta e faz que tuas obras, mesmo as mínimas sejam investidas pela caridade, isto é, em  Mim, comigo e por Mim). Agora vamos direto à mortificação.

(43) “Quero”, dizia-me, “que em todas as tuas coisas, até às necessárias, sejam feitas com espírito  de sacrifício. Olhe, suas obras não podem ser reconhecidas por Mim como minhas se não têm a  marca da mortificação. Assim como a moeda não é reconhecida pelos povos se não contém em si  mesma a imagem de seu rei, é desprezada e não tomada em conta, assim é de suas obras, se não  têm o enxerto com minha cruz não podem ter nenhum valor. Olha, agora não se trata de destruir as  criaturas, mas a ti mesma, de te fazer morrer para viver somente em Mim e de minha própria Vida.  É verdade que te custará mais do que o que fizeste, mas tem coragem, não temas, não o farás tu,  senão Eu que operarei em ti”.

(44) Então recebia outras luzes sobre a aniquilação de mim mesma e me dizia:  (45) “Você não é outra coisa que uma sombra, que enquanto você quer tomá-la você foge, você é  nada”.

(46) Eu me sentia tão aniquilada que teria querido me esconder nos mais profundos abismos, mas  me via impossibilitada para fazê-lo, sentia tal vergonha que ficava muda. Enquanto estava neste  reconhecimento do meu nada, Ele me dizia:

(47) “Põe-te junto a Mim, apoia-te no meu braço, Eu te sustentarei com as minhas mãos e tu  receberás força. Você está cega, mas minha luz te servirá de guia. olha, eu vou estar na frente e  você não fará outra coisa que olhar para mim para me imitar”.

(48) Depois me dizia: “A primeira coisa que quero que mortifique é sua vontade, aquele “eu” deve  ser destruído em você, quero que a tenha sacrificada como vítima ante Mim, para fazer que de sua  vontade e da minha se forme uma só. Não estás contente?”

(49) Sim Senhor, mas dá-me a graça, porque vejo que por mim nada posso. E Ele continuava

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dizendo-me:

(50) “Sim, Eu mesmo te contradirei em tudo, e às vezes por meio das criaturas”. (51) E assim acontecia. Por exemplo: Se pela manhã eu acordasse e não me levantasse logo, a  voz interior me dizia: “Tu descansas, e eu não tive outro leito que a cruz, a cruz, logo, logo, sem  tanta satisfação”.

(52) Se caminhava e minha vista se ia um pouco longe, logo me repreendia: “Não quero, tua vista  não a afaste de ti além da distância de um passo a outro, para fazer que não tropeces”. (53) Se me encontrava no campo e via flores, árvores, dizia-me: “Eu tudo criei por amor teu, tu  privas a tua vista deste contentamento por amor meu”.

(54) Mesmo nas coisas mais inocentes e santas, como por exemplo os ornamentos dos altares, as  procissões, dizia-me: “Não deves ter outro prazer senão em Mim sozinho”.

(55) Se, enquanto trabalhava, estava sentada, me dizia: “Está muito cômoda, não se lembra que  minha Vida foi um contínuo penar? E você? E você?”.

(56) Logo, para agradá-lo me sentava na metade da cadeira e a outra metade a deixava vazia, e  algumas vezes em brincadeira lhe dizia: “Olha, Senhor, a metade da cadeira está vazia, vem  sentar-te junto a mim”. Uma vez, senti-me tão feliz que nem sei dizer. Algumas vezes que estava  trabalhando com lentidão e desbotada me dizia: “Logo, depressa, que o tempo que ganhará se  apressando virá a passá-lo junto Comigo na oração.”

(57) Às vezes, Ele mesmo me dizia quanto trabalho eu deveria fazer. Pedia que ele viesse me  ajudar. “Sim, sim”, me respondia, “faremos isso juntos para que, depois que você terminar,  ficaremos mais livres”. E acontecia que em uma hora ou duas eu fazia o que tinha que fazer o dia  todo, então ia orar e me dava tantas luzes e me dizia tantas coisas que levaria muito tempo para  dizê-las. Lembro-me de que, enquanto trabalhava sozinha, via que não alcançava o fio para

concluir o trabalho e que teria que ir com a família para busca-lo, então me dirigia a Ele e dizia: “De  que serve, meu amado, ter me ajudado, porque agora vejo que preciso ir à família, e posso  encontrar pessoas e elas me impedirão de voltar novamente, e então nossa conversa terminará. ”  “O que, o que”, ele me dizia, “e você tem fé?” Sim. ” Pois não tema, eu farei você terminar tudo.” E  assim sucedia, e logo eu me punha a rezar.

(58) Se fosse a hora do almoço e eu comesse algo agradável, me repreendia internamente  dizendo: “Talvez você tenha esquecido que eu não tinha outro gosto além de sofrer por seu amor,  e que você não deveria ter outro gosto além de se mortificar por meu amor? Deixe e coma o que  não gosta ”. E eu imediatamente pegava e levava para a pessoa que ajudava no serviço, ou então  dizia que não queria mais, e muitas vezes passava quase em jejum, mas quando ia a oração,  recebia tanta força e sentia tanta saciedade que me sentia enjoada de tudo o mais.

(59) Outras vezes, para me contradizer, se eu não sentisse vontade de comer, ele me dizia:

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“Quero que você coma pelo meu amor, e enquanto a comida se une ao corpo, peça-me para unir  meu amor à sua alma e todas as coisas serão santificadas”.

(60) Em uma palavra, sem ir mais longe, mesmo nas menores coisas tratava de fazer morrer  minha vontade, para me fazer viver apenas para Ele. Permitia que até o confessor me  contradissesse como por exemplo: Eu tinha um grande desejo de receber a comunhão e durante  todo o dia e noite não fiz nada além de me preparar, meus olhos não podiam fechar-se para dormir  devido aos batimentos cardíacos contínuos e eu disse a ele: “Senhor, apresse-se porque não  posso ficar sem Ti, acelere as horas, faça surgir logo o sol porque não aguento mais, meu coração  desmaia ”. Ele próprio me fazia certos convites amorosos com os quais me sentia despedaçar o

coração e me dizia; “Olha, eu estou só, não sinta pena de você não poder dormir, trata-se de fazer  companhia a seu Deus, seu Esposo, seu Tudo, que é continuamente ofendido, ah! não me negues  esse consolo, que mais tarde nas tuas aflições Eu não te deixarei ”. Enquanto eu estava com essas  disposições, de manhã ia com o confessor e sem saber por quê, a primeira coisa que ele me dizia  era: “Não quero que você receba a Comunhão”. Digo a verdade, era tão amargo para mim que às  vezes não fazia nada além de chorar, não me atrevia a dizer nada ao confessor, porque era isso  que Jesus queria que eu fizesse, caso contrário, ele me repreendia; mas ia ter com Ele e dizia minha tristeza: “Oh meu Bem, por isso a vigília que fizemos esta noite, que depois de tanto esperar  e desejar, devia ficar privada de Ti? Sei bem que devo obedecer, mas diga-me posso estar sem  Ti? Quem me dará a força? Ademais , qual o valor de ir a esta igreja sem levar-te comigo? Eu não  sei que fazer, mas Tu podes remediar a tudo. Enquanto assim desabafava, sentia vir um fogo junto  a mim, entrar uma chama no coração e o sentia dentro de mim, e em seguida me dizia: “Acalma-te,  acalma-te, eis me aqui, estou já em seu coração. O que temes agora? No se aflija mais, Eu mesmo  te quero enxugar as lágrimas, tens razão, tú não podia estar sem Mim, não é verdade?

(61) Então eu ficava tão aniquilada em mim mesma por isso, e eu lhe dizia se não tinha sido boa,  Ele não teria colocado dessa maneira, e lhe pedia que ele não me deixasse mais, que sem Ele eu  não queria ficar.

(62) Depois dessas coisas, um dia, após a Comunhão, sentia-o todo amor em mim, e que Ele me  amava tanto, que ficava maravilhada, porque me via tão má, e sem corresponder, e dizia dentro de  mim: “Pelo menos fora boa e lhe correspondera, tenho medo de que me deixe (esse medo de me  deixar sempre tive e ainda tenho, e às vezes é muita a dor que sinto, que acho que a pena de  morte seria menor, e se Ele próprio não vier a me acalmar, não sei como me dar paz) entretanto  Ele quer estreitar-se mais intimamente a mim ”. E enquanto assim que o sentia dentro de mim, com  uma voz interna me disse:

Meditação da Paixão de Nosso Senhor. 

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(63) “Minha amada as coisas passadas foram apenas uma preparação, agora eu quero vir a atos,  e para dispor seu coração para fazer o que eu quero de você, isto é, imitação da minha Vida, quero  que você entre no imenso mar da minha paixão, e quando tiver compreendido bem a amargura das  minhas penas, o amor com que as sofri, quem sou eu que tanto sofri, e quem és tu, s criatura vil,  ah, seu coração não se atreverá a se opor aos golpes, a cruz, que eu só preparei para o seu bem.  Em vez de apenas pensar que eu, seu mestre, ao que sofri, suas tristezas parecerão sombras  comparadas às minhas, sofrimento será doce e você não poderá ficar sem sofrer ”.

(64) Minha natureza tremia só de pensar no sofrimento, pedi a Ele para me dar força, porque sem  Ele eu teria usado seus próprios presentes para ofender o doador. Então comecei a meditar na  Paixão, e isso fez tanto bem à minha alma, que acho que tudo o bem chegou a mim dessa fonte.  Via a paixão de Jesus Cristo como um imenso mar de luz, que com seus inúmeros raios eles me  machucavam muito, isto é, raios de paciência, de humildade, de obediência e de tantas outras  virtudes; Eu me vi toda cercado por essa luz e fui aniquilada me vendo tão diferente de Ele.  Aqueles raios que me inundaram eram para mim muitas outras censuras que me disseram:

(65) “Um Deus paciente, e você? Um Deus humilde e submetido até aos seus próprios inimigos, e  você? Um Deus que sofre tanto por seu amor e seus sofrimentos por seu amor, onde estão eles? (66) Às vezes, ele mesmo me narrava as penas sofridas por Ele, e ficava tão comovida que chorava amargamente. Um dia, enquanto trabalhava, eu estava considerando as penas muito  amargas que meu bom Jesus sofreu, meu coração se sentiu tão oprimido pela dor, que me faltava  a

respiração; Temendo que algo acontecesse comigo, eu queria me distrair inclinando-me para a  varanda a rua, mas o que eu vejo? Eu vejo a rua cheia de gente, e no meio meu amante Jesus  com a cruz nas costas; um o empurrava de um lado e outro alguem pro outro, todo agitado, com o  rosto pingando sangue, que levantou os olhos em minha direção, numa atitude de me pedir ajuda.  Quem pode conta a dor que senti, a impressão que uma cena tão lamentável causou em minha  alma?

Entrei rapidamente no meu quarto, eu mesma não sabia onde estava, meu coração, o sentia rasgar  em pedaços por causa da dor, e chorando lhe dizia:: “Meu Jesus, se ao menos eu pudesse ajudar,  te pudese libertar daqueles lobos furiosos! Ai! eu gostaria ao menos de sofrer essas penas em seu  lugar, para aliviar minha dor. Ah, meu bem, me dê o sofrimento, porque não é justo que Tu sofras

tanto, e eu, pecadora, fique sem sofrer ”.

Desejo de sofrer 

(67) Desde então, recordo que se encendiou em mim tanto desejo de sofrer que não se apagou até

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agora. Também me lembro que, depois da Comunhão, lhe pedia ardentemente para me conceder  sofrimento, e Ele, às vezes, para me contentar, me parecia que tomava os espinhos da sua coroa  e cravava-os no meu coração; outras vezes, sentia que tomava meu coração entre suas mãos, e o  estreitava tão forte que pela dor que eu sentia perdia os sentidos. Quando avisava que as pessoas  podiam perceber algo, e Ele estava disposto a me dar essas penas, eu logo lhe dizia: “Senhor, o  que Tu está fazendo? Peço que me dê o sofrimento, mas que ninguém perceba.

Por algum tempo, ele me contentou, mas meus pecados me tornaram indigna de sofrer  secretamente, sem que ninguem soubesse.

(68) Lembro-me muitas vezes após a Comunhão, ele me dizia: “Você não poderá realmente se  assemelhar a Mim, senão através de sofrimentos. Até agora eu estive ao seu lado, agora quero  deixá-la sozinha um pouco, sem me fazer sentir. Olha, até agora eu te levei de mãos dadas,  ensinando e corrigindo você em tudo, e você não fez nada além de me seguir. Agora eu quero que  você faça isso por si mesma, mas mais atenta do que antes, pensando que eu estou te olhando

fixamente, mas sem me fazer sentir, e que quando eu me fizer sentir novamente, virei, ou recompensá-la se você tiver sido fiel a mim ou puni-la se tiver sido ingrata ”. (69) Fiquei tão chocada e abatida com esta notícia que lhe dizia: Senhor, meu tudo e minha vida,  como poderei sobreviver sem Ti, quem me dará força? Como, depois que me fizesse deixar tudo,  de modo que eu sinto que não existe ninguém para mim, queres me deixar só e abandonada?  Talvez tenha esquecido do quão ruim eu sou, e que sem Ti eu não posso fazer nada? ” E por essa  recriminação, assumindo um aspecto mais sério, acrescentou:

(70) “É que eu quero fazer você compreender bem quem você é. Olha, eu estou fazendo isso  para o seu próprio bem. Não se entristeça, quero preparar seu coração para receber as graças que  lhe designei. Até agora eu te ajudei sensivelmente, agora será menos sensível, te farei você tocar  com a mão seu nada, te cimentarei bem na profunda humildade para poder construir sobre ti os  muros mais altos, assim que em vez de afligir-se, deverias alegrar-se e me agradecer, porque  quanto antes se faça passar pelo mar tempestuoso, quanto mais cedo você chegara a um porto  seguro, quanto mais duras as provas que te sujeitarei, tantas graças maiores que eu te darei.  Então, animo, animo, e depois, logo virei”.

(71) E quando ele me disse isso, ele pareceu me abençoar e foi embora. Quem pode dizer a dor que eu sentia, o vazio que deixava em meu interior, as lágrimas amargas que eu derramei? Porém  eu me resignei à sua Santa Vontade, parecia que de longe lhe beijava a mão que me havia  abençoado dizia-lhe: “Adeus, ó Esposo Santo, adeus”. Vi que tudo para mim tinha acabado, desde  que eu só o tinha, e sem ele, não tinha outro consolo, mas tudo tornou-se tristezas muito amargas.  Antes, as mesmas criaturas intensificavam minha dor, de modo que todas as coisas que via me  pareciam dizer: “Olha, somos obras do seu amado, onde Ele está? Se eu olhasse para a água,

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fogo, flores e até as próprias pedras, imediatamente o pensamento me dizia: “Ah, estas são as  obras do seu Esposo. Elas têm o prazer de vê-lo e você não o vê. ” Ah! obras do meu Senhor, me  dê notícias, me digam, onde ele está? Me disse que logo voltaria, mas quem sabe quando?”

(72) Às vezes alcançava uma desolação tão amarga que sentia falta de ar, me sentia gelar toda,  sentia um calafrio em toda a minha pessoa. Às vezes a família percebia isso e eles atribuíam a  alguma doença física e queriam me colocar em tratamento, chamar médicos; as vezes eles  insistiram tanto que conseguiam, mas eu, no entanto, fizia o máximo que podia para ficar sozinha,  então eles raramente notavam. Recordava tambem de todas as graças, as palavras, as correções,  repreensões, via claramente que tudo Ele fizera até ai, tudo, tudo tinha sido obra de sua graça, e  que de mim não ficava mais que o puro nada e a inclinação ao mal; tocava com a mão que sem Ele eu não sentia mais o amor tão sensível, aquelas luzes tão claras na meditação, de modo que  permanecia por duas ou três horas, fazia o máximo que podia por fazer o que fazia quando o  sentia, porque ouvia aquelas palavras se repetirem: “Se você é fiel a mim, irei premiar-te, se  ingrata, castigar-te ”.

(73) Assim passava as vezes dois dias, às vezes quatro, mais ou menos como a Ele agradava,  meu único consolo era recebê-lo no Sacramento … Ah, sim, certamente, lá o encontrava, não podia duvidar, e lembro-me de que Ele raramente não se fazia ouvir, porque eu tanto lhe pedia e

importunava, que me contentava, mas não amoroso e amavel, senão severo. (74) Passados esses dias no estado descrito acima, especialmente se eu tinha sido fiel a Ele,  sentia-o voltar para dentro de mim, falava comigo mais claramente, e como em nos dias passados eu não tinha conseguido conceber nem uma palavra dentro de mim, nem ouvir qualquer coisa,  então entendia que não era minha fantasia, como muitas vezes eu costumava pensar antes, Até  esse momento, não dizia nada ao confessor ou a nenhuma outra alma vivente, entretanto fazia  quanto podia para corresponder-lhe, porque senão ele me fazia tanta guerra que não teria paz. Ah,  Senhor, tens sido tão bom comigo, e eu sou tão ruim ainda!

Modo de triunfar nas provas 

(75) Continuando com o que havia começado, o sentia dentro de mim, o abraçava, o estreitava e  lhe dizia: “Amado Bem, veja como nossa separação tem sido amarga”.

E Ele me dizia:

(76) “É nada o que você passou, prepare-se para provas mais duras; por isso que eu vim, para  dispor seu coração e fortalece-lo. Agora você vai me contar tudo o que passou, suas dúvidas e  medos, todas as suas dificuldades para poder ensinar-lhe como se comportar na minha ausência ”.

(77) Então eu narrei minhas tristezas dizendo: “Senhor, olha, sem ti eu não tenho conseguido fazer  nada de bom, fiz a meditação toda distraída, feia, tanto que não tinha espírito para oferecer a você.

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Na comunhão, não pude passar horas inteiras como quando te sentia, me via sozinha, não tinha  ninguém para me entender, me sentia vazia de tudo, a dor da sua ausência me fazia provar agonias mortais, minha natureza queria ser despachada em breve para fugir daquela dor, muito  mais do que me pareceu que eu não estava fazendo nada além de perder tempo, e o medo que ao  voltar Tu me castigarias por não ter sido fiel, então eu não sabia o que fazer. Além disso, a dor que  Tu está sendo continuamente ofendido e que eu sem saber quando, como antes, me ensinava,  fazer esses atos de reparação, essas visitas ao Santíssimo Sacramento pelas ofensas que Tu

recebes. Então me diga, como devo fazer? ” E Ele, me instruindo benignamente, ele me dizia: (78) 1º.- “Você tem feito mal por estar tão perturbada, não sabe que eu sou o Espírito de paz? E a  primeira coisa que te recomendo é não perturbar a paz do coração; quando em oração não pode  se recolher-te, não quero que você pense sobre isso ou aquilo, como é ou como não é, fazendo em  ti mesma chamas de distração. Pelo contrário, quando você está nesse estado, a primeira coisa é  que se humilhes, confessando-se merecedora dessas penas, pondo-se como humilde cordeiro nas  mãos do carrasco, que enquanto o mata lhe lambe as mãos; então você, enquanto se ve espancada, abatida, sozinha, você se resignará às minhas santas disposições, me agradecerá de  todo coração, beijarás a mão que te bate, reconhecendo-se indigna dessas dores, então você me  oferecerá aquelas amarguras, angústias e tédio, pedindo que eu aceite isso como sacrifício de  louvor, de satisfação por sua culpa, de reparação pelas ofensas que Me fazem. Ao fazer isso, sua  oração se elevará diante do meu trono como incenso perfumado, ferirá meu coração e atrairá  novas graças e novos carismas para você; o demônio vendo-te humilde e resignada, toda abismada em seu nada, não terá forças para se aproximar. Eis que onde você pensou que estava  perdendo, farás grandes aquisições.

(79) 2º.- Em relação à Comunhão, não quero que você lamente do que não sabe ser, deves saber  que é uma sombra das dores que sofri no Getsêmani, como será quando eu te fizer participante  dos flagelos, dos espinhos e dos cravos? O pensamento dos sofrimentos maiores te fará sofrer  com mais animo as penalidades menores, portanto, quando na Comunhão você se encontrar sozinha, agonizante, pense que eu te quero um pouco em minha companhia na agonia de horto.  Portanto, fique junto a Mim, e faça uma comparação entre suas dores e as minhas. Olha voce

sozinha, privada de Mim, e Eu tambem só, abandonado pelos meus amigos mais fiéis que estão  sonolentos, deixado sozinho até pelo meu Divino Pai, e também no meio de uma dor  amarguissima, cercado por cobras, víboras e cães raivosos, que eram os pecados dos homens, e  onde estavam tambem os seus, que fizeram a parte deles, o que me parecia que eles queriam me  devorar vivo, meu coração sentiu tanta opressão como se estivesse sob uma prensa, tanto que  suei sangue vivo. Diga-me, quando você chegou a sofrer tanto? Então quando se encontre privada de Mim, aflita, vazia de todo consolo, cheio de tristeza, de labuta, de tristezas, vem junto a Mim,

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limpa-me esse sangue, oferece-me essas tristezas como alívio para minha agonia amargissima. Ao  fazer isso, você encontrará uma maneira de se distrair Comigo depois da Comunhão; não que você  não sofra, porque a dor mais amarga que posso dar às minhas queridas almas é privando-as de  Mim, mas você, pensando que com o seu sofrimento você me dá conforto, ficará satisfeita.

(80) 3º.- Em relação às visitas e atos de reparação, você deve saber que tudo o que fiz no decorrer  de trinta e três anos, desde o nascimento até a morte, o continuo no sacramento do altar, por isso  quero que me visite trinta e três vezes por dia, honrando todos meus anos e unindo-se Comigo ao  Sacramento, com minhas mesmas intenções, isto é, de reparação,de adoração. Isso você fará em  todos os momentos do dia: o primeiro pensamento de manhã imediatamente, volta diante do  tabernáculo onde estou por seu amor e visite-me, o último pensamento da tarde, enquanto você  dorme à noite, antes e depois de comer, ao começo de toda ação sua, andando, trabalhando ”.

(81) Enquanto assim me dizia, me sentia toda confusa, e sem saber se poderia alcançar faze-lo Eu disse a ele: “Senhor, peço que fique comigo até que eu tenha o hábito de fazê-lo, porque sei  que contigo posso fazer tudo, mas sem ti o que posso fazer eu, miserável? E ele benignamente  adicionava:

(82) “Sim, sim, eu vou te contentar, quando te faltei? Quero sua boa vontade e qualquer darei a  você qualquer ajuda que desejar. ”

(83) E assim fazia. Depois de algum tempo, às vezes com Ele, às vezes privado dele, um dia após  a comunhão me senti mais intimamente unida a Ele, me fez várias perguntas, como: Se eu queria,  se estava disposta a fazer o que Ele queria, até o sacrifício da vida por seu amor; e ele me dizia: (84) “E você me diz o que quer, estas pronta para fazer o que Eu quero, também Eu farei o que que você quer “.

Ele quer purificá-la de todo minimo defeito. Como a purifica de tudo 

(85) Me sentia confusa, não entendia sua maneira de agir, mas com o tempo eu entendi que ele  usa essa maneira de agir quando quer dispor a alma para novas e mais pesadas cruzes, e sabe  como atrair tanto à Ele com esses estratagemas, que a alma não ousa opor-se ao que Ele quer.  Então eu dizia: “Sim, te amo, mas me diga Tu mesmo, posso encontrar um objeto mais belo, mais  santo e mais amável que Tu? Também por que me pergunta se estou disposta a fazer o que  queres, se há tanto tempo te entreguei a minha vontade e te pedi que não evitasses nem mesmo  me despedaçar de tal maneira que te pudesse agradá-lo? Eu me abandono em Ti. Ó Esposo  Santo, obra livremente, faze de mim o que quiseres, dá-me a tua Graça, pois por mim nada sou e  nada posso”. E Ele me dizia:

(86) “Você está verdadeiramente disposta a tudo o que eu quero?”

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(87) Então me senti mais confusa e atordoado e dizia: “Sim, estou disposta”. Mas quase tremendo,  e Ele compassivamente continuou me dizendo: “Não temas, eu serei sua força, você não sofrerá,  mas serei Eu quem sofrerá e lutará em você. Olha, eu quero purificar sua alma de tudo, do mínimo defeito que poderia impedir meu amor em você, quero provar sua fidelidade, mas como posso ver se isso é verdade, senão colocando-te no meio da batalha? Você deve saber o que eu quero  colocá-la no meio de demônios, lhes darei liberdade para atormentar-te e tentar-te para que  quando você tiver combatido os vícios com as virtudes opostas, já se encontrará de posse de  essas mesmas virtudes que você pensou que perderia e, mais tarde, sua alma purificada e  embelezada, enriquecida, será como um rei que volta vitorioso de uma guerra feroz, que enquanto  acreditava perder o que tinha, se torna mais glorioso e cheio de imensas riquezas. Então eu virei,  formarei minha morada em você, e sempre estaremos juntos. É verdade que será seu estado doloroso, os demônios não lhe darão paz, nem de dia ou noite, eles sempre estarão em ato de  fazer te guerra feroz, mas sempre tenha em mente o que eu quero fazer de você, isso é, tornar-se  semelhante a Mim, e você não será capaz de alcançá-lo, exceto através de muitos e grandes tribulações, e assim terás mais animo para suportar as penas.

(88) Quem pode dizer como fiquei assustada com esse anúncio? Senti meu sangue gelar  arrepiando meu cabelo e minha imaginação estava cheia de espectros negros que me parecia que  eles queriam me devorar viva. Pareceu-me que o Senhor, antes de me colocar nesse estado  doloroso, deu liberdade para tudo que eu tinha que sofrer, e eu estava cercado por tudo isso, então  fui até Ele e disse: “Senhor, tem piedade de mim! Ah, não me deixe sozinha e abandonada, eu vejo  que é tanta a raiva dos demônios, que não deixarão de mim, nem o pó, como posso resistir a  eles? Para Ti minha miséria é bem conhecida e quão ruim eu sou, então me dê uma nova graça  para não ofendê-lo. Senhor meu, a dor que mais dilacera minha alma, é ver que Tu também deve  me deixar. Ah, a quem poderei dizer uma palavra, quem deve me ensinar? Mas que sua Vontade  sempre seja feita, e bendito teu Santo Querer ”. E ele gentilmente continuou a me dizer:

(89) “Não te afliges tanto, você deve saber que eu nunca vou permitir que você seja tentada além  de suas forças, se isso eu permito é para seu bem, eu nunca coloco almas em batalha para fazê las perer, primeiro meço sua força, dou-lhes minha graça e depois as introduzo, e se alguma alma  se precipita, é porque não fica unida a Mim com a oração, não sentindo mais a sensibilidade do  Meu Amor vão implorando amor das criaturas, enquanto somente eu posso satisfazer o coração  humano, eles não se deixam guiar pelo caminho seguro da obediência, acreditando mais no  julgamento próprio que em quem as guias em meu lugar, então que maravilha se se precipitam.

Então o que Eu te recomendo é a oração, embora você deva sofrer penas de morte, jamais deves negligenciar o que costuma fazer, e mais, quanto mais você se veja no precipício, tanto mais  invocará a ajuda de quem pode libertar te. Além disso, quero que você se coloque cegamente em

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mãos do confessor, sem examinar o que lhe é dito, você estará cercada pela escuridão e você será  como alguém que não tem olhos e que precisa de uma mão para guiá-la, o olho para ti será a voz  do confessor que como a luz iluminará as trevas, a mão será a obediência que será guia e suporte  para levá-la a um porto seguro. A última coisa que te recomendo é o valor, quero que você  corajosamente entre na batalha, a coisa que mais faz temer um exército inimigo é ver a coragem, a  força, a maneira como desafiam as batalhas mais perigosas, sem temer nada. Assim são os  demônios, eles não temem nada além de uma alma corajosa, toda apoiada em Mim, que com um  espírito forte, vai no meio deles não ser ferida, mas com a resolução de machucá-los e exterminá los; os demônios ficam assustados, apavorados e gostariam de fugir, mas não podem, porque,  vinculados à minha Vontade, são obrigados a permanecer para seu maior tormento. Assim que não  tema a eles, que nada podem fazer-te sem meu Querer. E também, quando eu vir que você não  você pode resistir mais e está prestes desfalecer, se for fiel a mim imediatamente, virei e colocarei todos em fuga e te darei graça e fortaleza. Anime-se, anime-se!

Peleja com o demônio 

(90) Agora, quem pode dizer a mudança que aconteceu dentro de mim? Tudo foi horror para mim,  aquele amor que eu sentia antes em mim, agora o via se transformar em um ódio atroz, que pena  não poder amá-lo mais. Me rasgava a alma ao pensar naquele Senhor que tinha sido tão bom  comigo, e agora ver me forçada a odiá-lo, a blasfemar como se ele fosse o mais cruel inimigo, não  podendo vê-lo nem em suas imagens, porque ao olhá-los, ter rosários entre minhas mãos, ao beija los, me vinha tal ímpeto de ódio, e tanta força em contra, que fazê-lo ou cortá-los em pedaços era  a mesma coisa, e às vezes eu fazia tanta resistência, que minha natureza tremia da cabeça aos  pés. Oh Deus, que pena amarga! Eu acredito que se no inferno, não se houvesse outras penas, a  mera pena de não poder amar a Deus tornaria o inferno mais horrível. Muitas vezes o diabo  colocou diante de mim as graças que o Senhor me havia dado, agora como obra de minha fantasia  e, por esse motivo, ser capaz de levar uma vida mais livre e confortável; e agora como verdadeiras,  e eles me diziam: “Este e o bem que te queira? Esta é a recompensa, te deixou em nossas mãos,  você é nossa, você é nossa, pois tudo acabou, não há mais que esperar”. E por dentro me sentia colocando tanto ímpeto de aversão contra o Senhor e de desespero, que às vezes com alguma  imagem nas mãos, era tão forte o desprezo que as quebrava, mas enquanto isso fazia, chorava e  as beijava, mas não sei como dizer como forçada a fazer. Quem pode dizer a dor da minha alma?  Os demônios faziam festa e riam, uns fizeram barulho de um lugar, outros o faziam de outro,  alguns fizeram barulhos, outros me ensurdeciam com gritos dizendo: “Olha como você é nossa,  não temos outra coisa mais que levá-la ao inferno, alma e corpo, verá que faremos isso ”. As

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vezes me sentia puxar, ora os vestidos, ora a cadeira onde estava ajoelhada e tanto as moviam e  faziam barulho que eu não podia orar, às vezes o medo era tão grande que, acreditando estar livre,  eu me deitava no cama (porque esses escândalos aconteceram a maior parte a noite), mas estavam lá também puxando o travesseiro, os cobertores. Mas quem pode dizer o terror, o medo  que eu sentia? Eu mesmo não sabia onde estava, si na terra ou no inferno; havia tanto medo de  que eles realmente tinham me levado, que meus olhos não podiam ser fechados para dormir;  estava como alguém que tem um inimigo cruel que jurou que vai tirar- lhe a vida a qualquer custo,

e acreditava que Isso aconteceria comigo assim que eu fechasse os olhos; então parecia que  alguém estava colocando algo em mim dentro dos olhos, então era forçada a tê-los abertos para  ver quando me levariam, talvez eu pudesse me opor ao que eles queriam fazer, então sentia meu  cabelo arrepiar sobre minha cabeça, um por um, um suor frio por todo o meu corpo que me

penetrava até o ossos e sentia separar meus nervos e ossos e eles se agitavam juntos de medo.  Outras vezes me sentia incitar a tais tentações de desespero e suicídio, que alguma vez tendo me  encontrado perto de um poço, ou uma faca, senti-me puxando para me conduzir dentro ou pegar a  faca e me matar, e era tanta a força que eu tinha que fazer para fugir, que sentia penas de morte e,  enquanto fugia, sentia que eles estavam comigo e ouvia sugerir-me que era inútil para mim viver  depois de ter cometido tantos pecados, que Deus tinha me abandonado por não ter sido fiel; além  do mais, via que havia feito tantas infâmias, que não havia qualquer alma no mundo que tinha cometido, que para mim não havia como esperar piedade. Nas profundezas da minha alma, ouvi

os repetir: “Como você pode viver sendo inimiga de Deus? Voce saber quem é este Deus a quem  você tanto insultou, blasfemou, odiou? Ah, é esse Deus imenso que estava ao seu redor e você  diante de seus olhos se atreveu a ofendê-lo. Ah perdido o Deus da sua alma, quem lhe dará paz?  Quem te livrará de tantos inimigos?” Era tamanha a pena que não fazia nada além de chorar; às  vezes eu começava a orar e os demônios para aumentar meu tormento, os sentia vindo encima de  mim, e um me espancava, outro me picava e mais outro me apertava garganta. Lembro-me que uma vez, enquanto orava, me senti puxar meus pés de abaixo, a terra se abrir e as chamas saírem,  e que eu caia dentro; tal foi o horror e a dor que eu fiquei meio morta, tanto que, para me recuperar  daquele estado, Jesus teve que vir e eu Ele reanimou, me fez entender que não era verdade que  eu tinha vontade de ofendê-lo, e que eu podia saber por mim mesma pela pena amarguíssima que  sentia, que o diabo era um mentiroso e que ele não deveria fazer-lhe caso, que por enquanto eu deveria ter paciência e sofrer esses sofrimentos, e que depois a paz viria. Isso acontecia de tempos  em tempos, quando chegava a extremos, e às vezes para me colocar em tormentos mais difíceis.  No momento desse consolo, a alma se convencia, porque nessa luz é impossível que a alma não  aprenda a verdade, mas depois quando eu estava na luta eu estava no mesmo estado de antes.

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(91) Me tentava tambem a não receber a Comunhão, convencendo-me de que depois de eu ter cometido tantos pecados, era atrevimento me aproximar, e que se eu me atrevesse, não Jesus  Cristo teria vindo, se não o demônio, e tantos tormentos ele me daria, que me daria a morte, mas a  obediência a vencia (a tentação), é verdade que às vezes sofria penas mortais, assim que eu podia  trabalhosamente recuperar me após a Comunhão, mas como o confessor queria absolutamente  que eu a recebesse, não poderia fazer de outro modo. Eu lembro que várias vezes não a recebi.

(92) Também me lembro que às vezes, enquanto orava à noite, eles apagavam minha lâmpada;  às vezes faziam tais rugidos de dar medo; outras vezes vozes débeis, como se fossem  moribundos, mas quem poderia dizer tudo o que eles faziam?

(93) Agora, essa dura batalha, embora não me lembre muito bem, durou três anos, embora dias  ou semanas separados, não que parassem por completo, mas começassem a diminuir.  (94) Lembro-me de que, depois de uma Comunhão, o Senhor me ensinou como eu deveria fazer para os pôr em fuga, que era desprezá-los e não lhes prestar nenhuma atenção, e que eu deveria  fingir que eram tantas formigas. Senti-me infundir tanta força que não sentia mais o medo de antes,  e fazia assim: Quando faziam um barulho, rumores, eu dizia lhes: “se ve que não têm nada que  fazer, e que para passar o tempo estão fazendo tantas tonteiras; façam, façam, que depois quando  se cansarem, terminarão”. Às vezes paravam, outras vezes ficavam tão zangados que faziam  ruídos mais altos. Eu os sentia ao meu lado, fazendo-se mais fortes e faziam violência para me  levar, cheirava a horrível peste, sentia o calor do fogo. É verdade que no meu íntimo sentia um  estremecimento, mas me forçava e lhes dizia: “Mentirosos que sois, se isto fosse verdade desde o  primeiro dia o havíeis feito, mas como é falso e que não tendes nenhum poder sobre mim, senão  só aquele que vos vem dado do alto, por isso digam, digam, e depois quando vos cansardes,  estourareis forçava e lhes dizia: Se emitiam lamentos e gritos, dizia-lhes: “O que, não saíram bem  as coisas hoje?” Ou seja, “lamentais-vos porque vos foi tirada alguma alma? Pobrezinhos, não se sentem bem, porém quero também eu fazê-los lamentar outro pouco”. E  começava a rezar pelos pecadores, ou a fazer reparações. Às vezes ria-me quando começavam a  fazer as habituais coisas e lhes dizia: “Como posso temê-los, raça vil? Se fossem seres sérios não  teriam feito tantas tolices, vocês mesmos, não se envergonham? não façam o que os tornam  ridículos”. Depois, se me punham tentações de blasfemar ou de ódio contra Deus, oferecia aquela  pena amarguíssima, aquela violência que me faziam, porque enquanto via que o Senhor merecia  todo o amor, todos os louvores, eu era forçada a fazer o contrário, em reparação de tantos que  livremente o blasfemam e que nem sequer se lembram que existe um Deus, que estão obrigados a  amá-lo. Se me incitavam ao desespero, em meu interior dizia: “Não presto atenção nem do paraíso  nem do inferno, a única coisa que me apressa é amar a meu Deus, este não é tempo de pensar em  outra coisa, senão que é tempo de amar quanto mais possa a meu bom Deus, o paraíso e o inferno

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os deixo em suas mãos ,e Ele, que é tão bom me dará o que mais me convém, e me dará um lugar  onde possa glorificá-lo mais”.

95) Jesus Cristo me ensinou que o meio mais eficaz para fazer com que a alma fique livre de toda  vã apreensão, de toda dúvida, de todo temor, era declarar diante do Céu, da terra e diante dos  próprios demônios, não querer ofender a Deus, mesmo à custa da própria vida, não querer  consentir a qualquer tentação do demônio, e isto enquanto a alma adverte que vem a tentação, se  puder no momento da batalha, e apenas se começa a sentir livre, e também durante o curso do

dia. Fazendo assim, a alma não perderá tempo em pensar se consentiu ou não, porque só recordar  a promessa lhe restituirá a calma, e se o demônio busca inquietá-la, poderá responder-lhe que se  tivesse tido intenção de ofender a Deus, não teria declarado o contrário, e assim ficará livre de todo  temor.

(96) Agora, quem pode dizer a raiva do demônio, pois agindo assim todas as suas astúcias  resultavam para sua confusão, e onde acreditava ganhar perdia, já que de suas mesmas tentações  e artifícios a alma se servia para poder fazer atos de reparação e amor ao seu Deus?  (97) O outro modo que me ensinou para afastar as tentações foi o seguinte: Se me tentavam a  suicídio eu devia responder: “Não tendes nenhuma permissão de Deus, é mais, para vosso  despeito quero viver para poder amar mais a meu Deus”. Se eu fosse espancada, eu deveria me  humilhar, ajoelhar e agradecer ao meu Deus porque isso acontecia como penitência pelos meus  pecados, e não só isso, mas oferecer tudo como atos de reparação por todas as ofensas feitas a  Deus no mundo.

(98) Finalmente, uma tentação feia que durou pouco, Por cerca de um ano e meio com os  demônios tão feios, eu devia ficar grávida e depois parir um pequeno demônio com chifres. Minha  fantasia crescia tanto, que eu me via diante de uma confusão horrível, pelo que se teria dito de mim  por tão espantoso acontecimento.

(99) Depois de cerca de ano e meio desta luta, finalmente terminaram as crueldades dos  demônios e começou uma vida toda nova, mas os demônios não deixaram de me incomodar de  vez em quando, mas não eram tão freqüentes, não tão feroz a batalha, e eu me acostumei a  desprezá-los.

(100) A vida nova que começou foi na casa de campo chamada “Torre Disperata”. Um dia, em  que mais do que nunca tinha sido atormentada pelo demônio, tanto que senti perder as forças e  desmaiar, pela tarde, enquanto estava assim senti vir-me uma coisa mortal e perdi os sentidos,  neste estado vi a Jesus Cristo rodeado de muitos inimigos, quem lhe golpeava, quem lhe  esbofeteava, quem lhe cravava os espinhos na cabeça, quem lhe partia as pernas, quem os  braços. Depois que o reduziram quase em pedaços o puseram nos braços da Virgem, e isto  acontecia um pouco longe de mim. Depois que a Virgem Santíssima o tomou em seus braços,

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aproximou-se de mim e chorando me disse:

(101) “Filha, olha como é tratado meu Filho pelos homens, as horríveis ofensas que cometem  jamais lhe dão trégua, olhe como sofre”.

(102) Eu tentava vê-lo e via-o todo sangue, todo chagas, e quase despedaçado, reduzido a um  estado mortal, sentia tais penas que tivesse querido morrer mil vezes em vez de ver meu Senhor  sofrer tanto, me envergonhava de meus pequenos sofrimentos. A Santíssima Virgem acrescentou,  mas sempre chorando:

Luisa é escolhida como vítima. Confessores 

(103) “Aproxima-te a beijar as chagas de meu Filho, Ele te escolhe como vítima, e se tantos o  ofendem, tu oferecendo-te a sofrer o que Ele sofre lhe darás um alívio em tanto sofrer, não o  aceitas?”

(104) Eu me sentia tão aniquilada, tão má (como ainda sou) e indigna, que não ousava dizer  “sim”. Minha natureza tremia, me sentia tão fraca pelas penas passadas, que mal me restava um  fio de vida. Além disso, não sei como, de longe via os demônios que tanto alvoroçavam, faziam  muito ruído, e via que tudo o que tinha visto que tinham feito ao Senhor deviam faze-lo a mim se  aceitasse. Em mim mesma sentia tais penas, dores, estiramentos de nervos, que acreditei que  deixaria a vida. Finalmente me aproximei e lhe beijei as chagas, parecia que ao fazê-lo aqueles  membros tão lacerados se curavam, e o Senhor que antes parecia quase morto começava a  reanimar-se a nova vida. Internamente recebia tais luzes sobre as ofensas que se cometem,  atrações para aceitar ser vítima ainda que devesse sofrer mil mortes, porque o Senhor tudo  merecia, e que eu não poderia opor-me ao que Ele queria. Isto acontecia enquanto estávamos em  silêncio, mas aqueles olhares que reciprocamente nos dávamos eram tantos convites, tantas  flechas ardentes que me trespassavam o coração. Especialmente a Santíssima Virgem me incitava  a aceitar, mas quem pode dizer tudo o que passei? Finalmente o Senhor, olhando-me com  benignidade, disse-me:

(105) “Tu viste o quanto me ofendem e quantos caminham pelos caminhos da iniqüidade, e sem o  perceberem precipitam-se no abismo. Vem oferecer-te ante a Divina Justiça como vítima de  reparação pelas ofensas que se fazem e pela conversão dos pecadores, que a olhos fechados  bebem na fonte envenenada do pecado. Um imenso campo se abre diante de ti, de sofrimentos,  sim, mas também de graças; Eu não te deixarei mais, virei em ti a sofrer tudo o que me fazem os  homens, fazendo-te participar das minhas penas. Como ajuda e consolo te dou a minha Mãe”.

(106) E parecia que me entregava a Ela, e Ela me aceitava. Eu também me ofereci toda a Ele e à  Virgem, disposta a fazer o que Ele queria, e assim terminou a primeira vez.

(107) Depois de me recuperar daquele estado, sentia tais penas, tal aniquilamento de mim

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mesma, que me via como um miserável verme que não sabia fazer mais que arrastar-se por terra,  e dizia ao Senhor: “Ajuda, tua Onipotência me aterroriza, vejo que se Tu não me levantas, meu  nada se desfaz e vai dispersar-se. Dá-me o sofrimento, mas te rogo me dê a força, porque me sinto  morrer”. E assim começou um alternar-se de visitas de Nosso Senhor e de tormentos por parte dos  demônios; quanto mais me resignava, tanto mais aumentava sua raiva.

(108) Poucos dias depois do dito anteriormente, senti de novo perder os sentidos (Lembro-me que  no início, sempre que isso me acontecia, eu achava que devia deixar a vida). Quando perdi os  sentidos, Nosso Senhor voltou a fez ver-se com a coroa de espinhos na cabeça, tudo jorrando  sangue, e dirigindo-se a mim disse:

(109) “Filha, olha o que me fazem os homens; nestes tristes tempos é tanta sua soberba que  infestaram todo o ar, e é tanta a peste que por toda parte se espalha, tanto, que chegou até meu  trono no empírico. Fazem de tal modo que eles mesmos se fecham o Céu; os miseráveis, não têm  olhos para ver a verdade porque estão ofuscados pelo pecado da soberba, com o cortejo dos  demais vícios que levam consigo. Ah, dá-me um alívio a tão acerbos dores e uma reparação a  tantas ofensas que me fazem”.

(110) Dizendo isto ele tirou a coroa, que não parecia coroa mais um novelo inteiro, assim, nem  sequer uma pequena parte da cabeça ficava livre, mas toda era atravessada por aqueles espinhos.  Quando ele tirou a coroa, veio ter comigo e perguntou-me se eu a aceitava. Eu me sentia tão  aniquilada, sentia tais penas pelas ofensas que lhe são feitas, que me sentia destroçar o coração e  lhe disse: “Senhor, faz de mim o que queiras”. E assim o fez e a empurrou sobre minha cabeça e  desapareceu.

(111) Quem pode dizer a dor que senti ao voltar a mim mesma? A cada movimento da cabeça  acreditava expirar, tantos eram as dores, as picadas que sentia na cabeça, nos olhos, nas orelhas,  atrás na nuca, aqueles espinhos me sentia penetrar até na boca, e esta se apertava de tal modo  que não podia abri-la para tomar o alimento, e estava às vezes duas e às vezes três dias sem  poder tomar nada. Quando de algum modo se atenuavam, sentia sensivelmente uma mão que me  oprimia a cabeça e renovava as penas, e às vezes eram tantas as dores que perdia os sentidos.  No início isto acontecia alguns dias sim e outros não, de vez em quando se repetia três ou quatro  vezes ao dia, às vezes durava um quarto de hora, outras vezes meia hora e outras uma hora, e  depois ficava livre só, que me sentia muito débil e sofrida, na medida em que naquele estado de  dormência me tinham sido comunicadas as penas, assim ficava mais ou menos dolorida.

(112) Lembro-me também como algumas vezes pelos sofrimentos da cabeça, como disse acima,  não podia abrir a boca para tomar o alimento, e como a família sabia que não tinha vontades de  estar no campo, quando viam que não comia atribuíam-no a um capricho meu, e naturalmente se  zangavam, se inquietavam e me repreendiam. Minha natureza queria ressentir-se disto, porque via

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que não era verdade o que eles diziam, mas o Senhor não queria este ressentimento, e eis como  aconteceu:

(113) Uma noite, enquanto estávamos à mesa e eu neste estado de não poder abrir a boca, a  família começou a inquietar-se, eu o sentia tanto que comecei a chorar, e para não ser vista me  levantei e fui a outro quarto para seguir chorando, e pedia a Jesus Cristo e à Virgem Santíssima  que me dessem ajuda e força para suportar essa prova, Mas enquanto fazia isto senti que  começava a perder os sentidos. Meu Deus, que pena só de pensar que a família me veria, sendo  que até então não o tinha advertido! Enquanto eu estava nisso, eu dizia: “Senhor, não deixe que  me vejam”. E eu tinha tanta vergonha de que me vissem, embora não sei dizer por que, e tratava  por quanto mais podia me esconder em lugares onde não podia ser vista; quando era surpreendida  inesperadamente por esse estado, de modo que não tinha tempo de me esconder ou ao menos de  me ajoelhar, porque na posição em que me encontrava assim ficava, e poderiam dizer que estava  rezando, então me descobriam. Enquanto perdia os sentidos, Nosso Senhor se fez ver no meio de  muitos inimigos que lhe lançavam toda classe de insultos, especialmente o agarravam e pisavam no sob os pés, blasfemavam-no, lhe puxavam os cabelos; Parecia-me que o meu bom Jesus  queria fugir debaixo daqueles pés fétidos e ia à procura de uma mão amiga que o libertasse, mas  não encontrava ninguém. Enquanto via isto, eu não fazia outra coisa senão chorar sobre as penas  de meu Senhor, teria querido ir no meio desses inimigos, talvez poderia libertá-lo, mas não me  atrevia e lhe dizia: “Senhor, faz-me participar em tuas penas. ¡¡ Ah, se pudesse aliviar-te e libertar te!” Enquanto isto dizia, aqueles inimigos, como se como se tivessem entendido, vinham contra  mim, mas tão enfurecidos que começaram a me golpear, a puxar-me os cabelos, a pisotear-me, eu  tinha grande temor, sofria, sim, mas dentro de mim estava contente porque via que dava ao Senhor  um pouco de trégua. Depois aqueles inimigos desapareciam e eu ficava sozinha com o meu Jesus.  Tentei compadecer me mas não me atrevia a dizer-lhe nada, e Ele rompendo o silêncio me disse:

(114) “Tudo o que tu viste é nada em comparação com as ofensas que continuamente me fazem,  é tanta a sua cegueira, o entregar-se às coisas terrenas, que chegam a tornar-se não só cruéis  inimigos meus, mas também deles mesmos, e como seus olhos estão fixos na lama, por isso  chegam a desprezar o eterno. Quem me reparará por tanta ingratidão? Quem terá compaixão de  tanta gente que me custa sangue e que vive quase sepultada na imundície das coisas terrenas?  Ah, vem e reza, chora junto Comigo por tantos cegos que são todos olhos para tudo o que sabe a  terra, e desprezam e espezinham minhas graças debaixo de seus imundos pés, como se estas  fossem lama. Ah, eleva-se sobre tudo o que é terra, aborrece e despreza tudo o que a Mim não  pertence, não te importem as zombarias que recebes da família depois de me teres visto sofrer  tanto, só te importas com a minha honra, as ofensas que continuamente me fazem e a perda de  tantas almas. Ah, não me deixe sozinho no meio de tantas penas que me destroçam o coração,

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tudo o que você sofre agora é pouco em comparação com as penas que sofrerá, não te disse  sempre que o que quero de você é a imitação de minha Vida? Olhe como você é de Mim, por isso  coragem e não tenha medo”.

(115) Depois disso voltei a mim mesma e percebi que estava rodeada pela família, todos  choravam e estavam alarmados e tinham tal temor de que se repetisse esse estado, pensando que  morreria, que decidiram voltar a Corato O mais rápido possível para me fazer observar pelos  médicos. Não sei dizer por que sentia tanta pena ao pensar que devia ser examinada pelos  médicos, muitas vezes chorava e me lamentava com o Senhor dizendo: “Quantas vezes, ó Senhor,  te roguei que me faça sofrer em segredo, isto era meu único contentamento, e agora também disto  estou privada. ¡ Ah! me diga, como farei? Só você pode me ajudar e me consolar em minha aflição,  não vê tantas coisas que dizem? Uns pensam de um modo e outros de outro, quem quer aplicar me um remédio e quem outro, são todos olhos sobre mim, de modo que não tenho mais paz. Ah,  socorre-me em tantas penas, porque me sinto faltar a vida”. E o Senhor benignamente  acrescentou:

(116) “Não queiras afligir-te por isto, o que quero de ti é que te abandones como morta entre  meus braços. Até que você mantenha os olhos abertos para ver o que Eu faço e o que fazem e  dizem as criaturas, Eu não posso livremente agir sobre você. Não queres confiar em mim? Não  sabes o quanto te amo e que tudo o que permito, ou através das criaturas ou através dos  demónios, ou através de mim diretamente, é para o teu verdadeiro bem e não serve para outra  coisa senão para conduzir a tua alma ao estado para o qual a escolhi? Por isso quero que de olhos  fechados esteja em meus braços, sem olhar nem investigar isto ou aquilo, confiando inteiramente  em Mim e deixando-me operar livremente. Se em troca queres fazer o contrário, perderás tempo e  chegarás ao oposto do que quero fazer de ti. Quanto às criaturas, use um profundo silêncio, seja  benigna e dócil com todos, faça que sua vida, seu respiro, seus pensamentos e afetos, sejam  contínuos atos de reparação que aplaquem minha Justiça, oferecendo-me também as moléstias  que te dão as criaturas, que não serão poucas”.

(117) Depois disto fiz quanto mais pude para resignar-me à Vontade de Deus, ainda que muitas  vezes era posta em tais problemas por parte das criaturas, que às vezes não fazia outra coisa  senão chorar. Chegou o momento de receber a visita do médico, e julgou que meu estado não era  outra coisa que um problema nervoso, pelo que receitou medicamentos, distrações, passeios,  banhos frios, recomendou à família que me cuidassem bem quando era surpreendida por aquele

estado de ficar petrificada.

(118) Então começou uma guerra por parte da família, impediam-me de ir à igreja, não me davam  já a liberdade de ficar só, era observada continuamente, pelo que freqüentemente percebiam que  caía nesse estado. Muitas vezes me lamentava com o Senhor dizendo lhe:

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119) “Meu bom Jesus, quanto aumentaram as minhas penas, até das coisas mais amadas estou  privada, como são os Sacramentos. Nunca pensei que chegaria a isso, quem sabe onde irei  terminar. Ah! Dê-me ajuda e força, porque minha natureza desfalece”. Muitas vezes dignava-se  bondosamente dizer-me algumas palavras, por exemplo:

(120) “Eu sou a tua ajuda, de que temes? Não te lembras que também sofri da parte de todo o tipo  de pessoas? Uns pensavam de Mim de um modo, e outros de outro, as coisas mais santas que Eu  fazia eram julgadas por eles como defeituosas, más, até me disseram que era um Endemoninhado,  tanto que me viam com olhos sinistros, tinham-me entre eles mas de má vontade, e maquinavam  entre eles tirar-me a vida o mais depressa possível, porque a minha presença se tinha tornado  intolerável para eles. Então, não queres que te faça semelhante a Mim fazendo-te sofrer por parte  das criaturas?”.

(121) E assim passei alguns anos sofrendo por parte das criaturas, dos demônios e diretamente  de Deus, às vezes chegava a tanta amargura por parte das criaturas, e pelo modo como  pensavam, que tinha vergonha de que qualquer pessoa me visse, tanto, que o meu maior sacrifício  era aparecer no meio das pessoas; tanta era a vergonha e a confusão que me sentia atordoada.  Houve outras visitas de outros médicos, mas não serviram para nada, às vezes derramando  amargas lágrimas dizia-lhe com todo o coração: “Senhor, como se tornaram públicos os meus  sofrimentos, agora não só a família o sabe mas também os estranhos me vejo toda coberta de  confusão, parece-me que todos me apontam com o dedo, como se estes sofrimentos fossem as  mais más ações, eu mesma não sei dizer o que me acontece. Ah! Só Tu podes libertar-me de tal  publicidade e fazer-me sofrer ocultamente. Peço-te, suplico-te, escuta-me favoravelmente”.

(122) Às vezes também o Senhor mostrava não me escutar e aumentavam minhas penas, outras Vezes se compadecia de mim dizendo-me:

(123) “Pobre filha, vem a Mim que te quero consolar, tu tens razão em que sofres, mas é que não  te lembras, que também Eu, oh, quanto mais sofri. Até certo momento minhas penas foram ocultas,  mas quando chegou a Vontade do Pai de sofrer em público, rapidamente saí a encontrar  confusões, opróbrios, desprezos, até ser despojado de minhas vestes, estar nu no meio de um  povo numerosíssimo, Poderia imaginar confusão maior que esta? Minha natureza sentia muito este  tipo de sofrimento, mas tinha os olhos fixos à Vontade do Pai, e oferecia essas penas em  reparação de tantos que cometem as mais nefastas ações publicamente, diante dos olhos de  muitos, vangloriando-se sem a mínima vergonha, e lhe dizia: “Pai, aceita as minhas confusões e a  meus opróbios em reparação de tantos que cometem as mais nefastas ações publicamente,  perante os olhos de muitos, vangloriando-se sem a menor vergonha, e lhe dizia: “Pai, aceita as  minhas confusões e a minha desonra em reparação de tantos que têm a audácia de te ofender tão  livremente sem o mínimo desgosto; perdoa-lhes, dá-lhes luz a fim de que vejam a fealdade do

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pecado e se convertam”. Também a ti quero tornar-te partícipe deste tipo de sofrimentos. Você não  sabe que os mais belos presentes que posso dar às almas que amo são as cruzes e as penas?  Você é uma criança ainda no caminho da cruz, por isso se sente muito fraca, quando tiver crescido  e tiver conhecido como é precioso sofrer, então se sentirá mais forte. Por isso apóie-se em Mim,  repouse porque assim adquirirá força”.

(124) Depois de que passei algum tempo neste estado descrito acima, cerca de seis ou sete  meses, os sofrimentos aumentaram mais, tanto que me vi obrigada a estar na cama,  freqüentemente se multiplicava aquele estado de perder os sentidos, e quase não tinha nem uma  hora livre, me reduzi a um estado de extrema debilidade, a boca se apertava de tal modo que não a  podia abrir e em algum momento livre que tinha apenas algumas gotas de algum líquido podia  tomar, se é que o conseguia, E depois era obrigada a devolvê-lo pelos vómitos que sempre tive.  Depois de que estive dezoito dias neste estado contínuo, mandou-se chamar o confessor para me  confessar. Quando o confessor veio me encontrou nesse estado de letargia. Quando me recuperei  me perguntou o que tinha, somente lhe disse, calando todo o resto, e como continuavam as  moléstias dos demônios e as visitas de Nosso Senhor, então lhe disse: “Padre, é o demônio”. Ele  me disse para não ter medo, porque se for ele, o padre liberta-te. Assim dando-me a obediência e  perseguindo-me com a cruz e ajudando-me a mover os braços, porque sentia todo o corpo  petrificado como se tudo se tivesse tornado numa só peça, conseguiu que os braços retomassem o  movimento, Conseguiu fazer com que a boca se abrisse depois de estar imóvel para tudo. Atribuí  isto à santidade do meu confessor, que na verdade era um santo sacerdote, considerei-o quase um  milagre, tanto que dizia entre mim: “Olha, estavas prestes a morrer”. Porque na verdade me sentia  mal, e se tivesse durado esse estado, eu acho que teria deixado a vida. Se bem me lembro que  estava resignada e quando me vi libertada senti um certo pesar porque não tinha morrido.

(125) Depois que o confessor se foi, e eu fiquei livre voltei ao mesmo estado de antes, e assim  acontecia, às vezes semanas, às vezes quinze dias e até meses em que era surpreendida de vez  em quando por aquele estado durante o dia, mas por mim mesma consegui libertar-me; depois  quando era surpreendida com mais frequência, como disse mais acima, então os familiares  mandavam chamar o confessor, pois tinham visto que a primeira vez tinha ficado libertada por ele,  quando todos acreditavam que não me haveria de recuperar mais daquele estado, E, em vez disso,  até pude ir à igreja, por causa disto chamavam o confessor e então ficava livre. Nunca me passou  pela mente que para tal estado se necessitasse o sacerdote para libertar-me, nem que meu mal  fosse uma coisa extraordinária; é certo que quando perdia os sentidos via Jesus Cristo, mas isto  atribuía-o à bondade de Nosso Senhor e dizia para mim mesma: “Olha como o Senhor é bom para  mim, que neste estado de sofrimentos vem a dar-me a força, de outra maneira como poderia  sustentar-me, quem me daria a força?” Também é verdade que quando devia cair nesse estado, na

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manhã da Comunhão Jesus me dizia isso, e caindo nesse estado de Ele mesmo me vinham os  sofrimentos, mas não dava importância a nada. Só de pensar alguma vez em dizê-lo ao confessor  eu acreditava ser a alma mais soberba que existisse no mundo se me atrevia a falar destas coisas  de ver a Jesus Cristo; e sentia tal vergonha que foi impossível dizer algo a esse confessor apesar  do bom e santo que era. Tanto é verdade, que não acreditava que se necessitasse do sacerdote  para me libertar e que isto acontecia pela santidade do confessor, que quando chegou o tempo, ele  foi ao campo, então uma manhã, depois da Comunhão o Senhor me fez entender que devia ser  surpreendida por esse estado, Convidou-me a fazer-lhe companhia com a participação nas suas  dores, mas eu subitamente lhe disse: “Senhor, como farei? O confessor não está, quem deve me  libertar? Quer acaso me fazer morrer?” E o Senhor me disse somente:

(126) “Sua confiança deve estar somente em Mim, esteja resignada, pois a resignação faz a alma  luminosa, faz estar em seu lugar às paixões, de modo que Eu, atraído por esses raios de luz, vou à  alma e a uniformo toda em Mim, e a faço viver de minha mesma Vida”.

(127) Eu resignei-me à sua Santa Vontade, ofereci aquela Comunhão como a última da minha  vida, dei o último adeus a Jesus no Sacramento, e embora estivesse resignada, mas a minha  natureza sentia-o tanto, que todo aquele dia não fiz outra coisa senão chorar e pedir ao Senhor que  me desse força. Na verdade me pareceu muito amargo todo esse fato, e sem pensar nem sabê-lo  encontrei uma nova e pesada cruz que creio ter sido a mais pesada que tive em minha vida.  Enquanto estava naquele estado de sofrimentos, eu não pensava em outra mais do que morrer e  fazer a vontade de Deus. Os familiares, que também sofriam ao me ver naquele estado, tentaram  chamar algum sacerdote, mas ninguém quis vir, um por um e outro por outro; depois de dez dias  veio o sacerdote que me confessava quando era pequena, e aconteceu que também ele me fez  sair desse estado, e então me dei conta da rede na qual o Senhor me havia envolvido.

(128) Daqui veio-me uma guerra por parte dos sacerdotes, quem dizia que era fingimento, quem  precisava dos tacos, outros que queria passar por santa, quem acrescentava que estava  endemoninhada e muitas outras coisas, que dizê-las todas seria fazer muito longa a história. Com  estas idéias em suas mentes, quando sucediam os sofrimentos e a família mandava chamar  alguém, não queriam vir, dizendo todas aquelas coisas, e a pobre família sofreu muito,  especialmente a minha pobre mãe, quantas lágrimas derramou por mim. Ah! Senhor, protege-a  Tu. Oh meu bom Senhor, quanto sofri desde então, só Você sabe tudo!

(129) Quem pode dizer quão amargo me foi este fato, que para me libertar desse estado de  sofrimentos necessitava-se do sacerdote Quantas vezes pedi derramando lágrimas  amarguíssimas, que me libertasse disto! Muitas vezes fiz positivas resistências ao Senhor quando  Ele queria que me oferecesse como vítima, e aceitasse as penas, e lhe dizia: “Senhor, promete-me  que Tu mesmo me libertarás, e então aceito tudo, de outra maneira não, não quero aceitar”. E

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resistia o primeiro dia, o segundo, o terceiro, mas quem pode resistir a Deus? Insistia tanto comigo  que finalmente me via obrigada a submeter-me à cruz. Outras vezes lhe dizia de coração e com  confiança: “Senhor, como é que fazes isto? Como é que entre você e eu, você quis colocar um  terceiro? E este terceiro não quer se emprestar. Olhe, poderíamos estar muito contentes Você e eu  sozinhos. Quando você me queria para sofrer, eu imediatamente aceitava, porque eu sabia que  Você mesmo deveria me libertar, mas agora não, outra mão é necessária, Eu imploro, liberte-me,  porque assim estaremos ambos mais felizes”.

(130) Às vezes fingia não me escutar e não me dizia nada, outras vezes me dizia: (131) “Não temas, Eu sou quem dá as trevas e a luz, virá o tempo da luz é meu costume que  minhas obras as manifesto por meio dos sacerdotes”.

(132) Assim passei três ou quatro anos destas contradições por parte dos sacerdotes, muitas  vezes me sujeitavam a provas duríssimas, chegavam a me deixar nesse estado de sofrimentos,  isto é petrificada, incapaz de qualquer mínimo movimento, nem sequer de poder tomar uma gota  de água, até 18 dias quando o queriam. Só o Senhor sabe o que eu passava nesse estado, e logo  quando vinham não tinha sequer o bem de ouvir: “Tem paciência, faz a Vontade de Deus”. Mas foi  repreendido como um caprichoso e desobediente. Oh Deus, que pena! , quantas lágrimas  derramei; quantas vezes pensei que era desobediente e dizia para mim “Como essa virtude da  obediência que para o Senhor é a mais agradável está tão longe de mim, o que pode fazer e  esperar de bem uma alma desobediente?” Muitas vezes me lamentava com Nosso Senhor e às vezes chegava até ressentir-me, e quando Ele queria que aceitasse os sofrimentos, eu resistia  quanto mais podia. Mas o Senhor, quando via que começava a resistir, fazia ver que não me dava  atenção e não me dizia mais nada, e logo de repente vinha me surpreender. O que depois dizia o  confessor é porque não queria que caísse naquele estado, mas isto não estava em meu poder, é  verdade que fui desobediente, e que jamais fui boa para nada. Mas recordo também que a pena  mais dolorosa para mim era o não poder obedecer.

(133) Neste período de tempo, recordo que houve uma epidemia de cólera, e que um dia que  pedia ao meu bom Jesus que fizesse cessar esse flagelo, Ele me disse:

(134) “Contentar-te-ei contanto que aceites oferecer-te a sofrer o que Eu quiser”. (135) Eu disse: “Senhor, não, não posso, Você sabe como eles pensam, a menos que tudo  aconteça apenas entre Você e eu, só assim eu estaria disposta a aceitar tudo”. (136) E Ele me disse: “Minha filha, se Eu tivesse pensado no que os homens pensavam e no que  queriam fazer de Mim, não teria feito a Redenção do gênero humano, mas eu tinha meu olhar fixo  em sua salvação, e o grande amor que me devorava me fazia fazer que quando via pessoas que  pensavam mal de Mim e que davam ocasião de me fazer sofrer mais, Eu oferecia essas mesmas  penas que eles me davam por sua própria salvação. Você esqueceu o que eu quero de ti é a

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imitação da minha Vida, e que quero que participes em tudo o que sofri? Não sabes tu que o ato  mais belo, mais heróico, e mais agradável a Mim e que deves oferecer-me, é o de te oferecer por  aqueles mesmos que te são contrários?”.

(137) Eu fiquei muda, não sabia o que lhe responder, aceitei tudo o que o Senhor queria, e assim  até a tarde fui surpreendida por esse estado de sofrimentos no que estive três dias contínuos, e  depois que voltei em mim não ouvi mais que houvesse cólera.

(138) Depois disso me veio outra mortificação, e foi a de ter que mudar confessor, porque sendo  ele religioso foi chamado ao convento. Eu estava contente com ele, e a maior parte das coisas  ditas acima aconteciam quando ele estava no campo, especialmente no último ano que foi meu  confessor, pois pela cólera que havia na cidade permaneceu seis meses no campo; por isso não  participou tanto nessas coisas, Ele me fazia ficar um dia nesse estado de sofrimento e vinha.  Depois de ter voltado do campo, não passou um mês em que soube que devia partir; isto foi  doloroso para mim, não porque estivesse apegada a ele, mas pela necessidade que tinha. Então  disse ao Senhor minha pena, e Ele me disse:

(139) “Não te aflijas por isso, Eu sou o dono dos corações, e posso Movê-los como me parece e  me agrada. Se ele te fez o bem não foi mais que um instrumento que recebia de Mim e te dava a ti,  assim farei com os demais, do que teme então? Amada minha, enquanto você tiver seu olhar,  agora à direita, agora à esquerda, e a deixe que se pose agora em uma coisa, agora em outra, e  não a mantenha fixa em Mim, não poderá caminhar livremente o caminho do Céu, mas irás sempre  tropeçando e não poderás seguir o influxo da graça. Por isso quero que com santa indiferença olhe  todas as coisas que acontecem ao seu redor, estando toda atenta somente a Mim”.

(140) Depois destas palavras meu coração adquiriu tanta força, que pouco ou nada sofri pela  perda desse confessor que tanto bem tinha feito a minha alma. Foi assim que mudei confessor e  voltei ao que me confessava quando era pequena. Seja sempre bendito o Senhor, que se serve  desses mesmos caminhos que a nós parecem contrários e que quase como que deveriam levar um  dano a nossa alma, para nosso maior bem e para sua glória. Assim aconteceu que comecei a abrir lhe a minha alma, porque até esse momento não tinha dito nada a nenhum, por quanto me  dissessem não o conseguia, mas bem mais impotente me via para dizer as coisas de meu interior,  era tanta a vergonha que sentia ao só pensar em dizer estas coisas, que me era mais fácil dizer os  mais feios pecados. De onde veio isto, não sei dizer, por parte do confessor acho que não, porque  ele era muito bom, me inspirava confiança, era doce e paciente para escutar, tomava cuidado  detalhado de minha alma, tinha o olhar em tudo para que se pudesse caminhar direito. Por parte  minha tampouco, porque sentia um obstáculo em minha alma e tinha toda a vontade de vencê-lo e  de saber ao menos como pensava o confessor, mas me sentia impossibilitada de fazê-lo. Eu  acredito que foi uma permissão do Senhor.

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(141) Então, encontrando-me com o novo confessor, comecei, pouco a pouco a abrir meu interior,  o Senhor muitas vezes me ordenava que manifestasse ao confessor o que Ele me dizia, e quando  eu não o fazia, o Senhor me repreendia severamente e às vezes chegava a me dizer que se não o  fizesse, Ele não viria mais; isto é para mim a pena mais amarga, diante da qual todas as outras  penas não me parecem mais do que fios de palha; por isso, tanto era o temor de que não voltasse  mais, que fazia quanto mais podia manifestar meu interior. É verdade que às vezes me custava  muito, mas o medo de perder o meu amado Jesus fazia-me superar tudo. Por parte do confessor  também me via empurrada a lhe dizer de onde provinha tal estado meu, o que me acontecia  quando estava naquele adormecimento e qual era a causa; agora me ordenava manifestar, agora  me obrigava com preceito de obediência, e logo me punha diante o temor de que pudesse viver na  ilusão e no engano, vivendo para mim mesma, enquanto que se o manifestasse ao sacerdote  poderia estar mais segura e tranqüila, e que o Senhor jamais permite que o sacerdote se engane  quando a alma é obediente. Assim, Jesus Cristo me empurrava por um lado e o confessor por  outro; às vezes me parecia que se punham de acordo entre eles. Assim pude chegar a manifestar  meu interior. Isto não o fazia o confessor anterior, não me fazia nenhuma pergunta, não tratava de  saber que coisas me aconteciam naquele estado de dormência, pelo que eu mesma não sabia  como começar a falar destas coisas. O único cuidado que tomava era que estivesse resignada,  uniformizada ao Querer de Deus, que suportasse a cruz que o Senhor me tinha dado, tanto que se  às vezes me via um pouco perturbada, experimentava grande desgosto

(142) Depois aconteceu que passei cerca de outro ano com este confessor, no mesmo estado dito  acima, mas como sabia de onde provinha esse estado de sofrimento, me dizia que quando Jesus  Cristo quisesse que me viessem os sofrimentos, fosse pedir a ele a obediência para sofrer.  Recordo que uma manhã depois da comunhão o Senhor me disse:

(143) “Filha, são tantas as iniqüidades que se comete , que a balança de minha Justiça está por  transbordar. Deve saber que pesados flagelos farei cair sobre os homens, especialmente uma  feroz guerra na qual farei massacre da carne humana”. “Ah sim”, continuou quase chorando, “Eu  dei os corpos aos homens a fim de que fossem tantos santuários onde Devia ir me deleitar, mas os  transformaram em esgotos de imundícies, e é tanta a peste que me obrigam a estar longe deles.  Vê a recompensa que recebo diante de tanto amor e tanta dor que sofri por eles. Quem foi tratado  como Eu? Ah, nenhum, mas quem é a causa? É o tanto amor que tenho. Por isso vou tentar com  os castigos”

. (144) Eu me sentia partir o coração pela dor, me parecia que eram tantas as ofensas que lhe  faziam, que para fugir queria esconder-se em mim, para encontrar refúgio. Sentia também tanta  pena porque os homens deviam ser castigados, que me parecia que não eles, mas me parecia que  se eu tivesse podido, teria sido mais suportável eu sofrer todos aqueles castigos, antes de ver os

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outros sofrer.

(145) Tratei de sensibiliza-lo o máximo que pude e com todo o coração lhe disse: “Ó Esposo  Santo, evita os flagelos que a tua Justiça tem preparados, se a multiplicidade das iniqüidades dos  homens é grande, está o mar imenso do teu sangue onde, podes enterrá-las, e assim a tua Justiça  ficará satisfeita. Se não tens onde ir para deleitar-te, vem em mim, te dou todo meu coração, para  que repouses, e te deleites com ele, é verdade que também eu sou um lugar imundo de vícios,  mas Tu podes purificar-me e fazer-me como Tu me queres. Mas se for necessário o sacrifício da  minha vida imagens libertadas”. E o Senhor interrompendo o meu falar continuou a dizer-me:

(146) “Precisamente isto é o que eu quero, se tu te ofereceres para sofrer, não como até agora, de  vez em quando, mas continuamente, todos os dias e por um curto período de tempo, Eu libertarei  os homens. Vê, pois, que te porei entre a minha justiça e as iniqüidades das criaturas, e quando a  minha justiça estiver cheia de iniqüidades, de modo que não as possa conter e se veja obrigada a

mandar os flagelos para punir as criaturas, encontrando-se você no meio, em vez de golpeá-los a  eles ficará golpeada você. Só assim poderei te contentar em livrar os homens, de outro modo,  não”.

(147) Eu fiquei toda confusa, e não sabia o que dizer, minha natureza fazia sua parte, se  assustava e tremia, mas via meu bom Jesus que esperava uma resposta, se aceitava ou não,  então vendo-me quase obrigada a falar lhe disse: “Ó Diviníssimo Esposo meu, por parte minha  estaria pronta a aceitar, mas como se arrumará por parte do confessor, se não quiser vir de vez em  quando, como será possível que queira vir todos os dias; liberte-me desta cruz de Precisamos do  confessor para me libertar, e então tudo ficará resolvido entre você e eu”. Então o Senhor me  disse:

(148) “Vai com o confessor e pede-lhe obediência, se ele quiser dizer-lhe tudo o que te tenho dito  e farás o que ele disser. Olhe, não será somente para bem das criaturas pelo que quero estes  sofrimentos contínuos, senão também para teu bem, neste estado de sofrimentos purificarei muito  bem tua alma, de modo de te dispor a formar Comigo um místico matrimonio , e depois disto farei a  última transformação, de modo que os dois seremos como duas velas que postas no fogo, uma se  transforma na outra e se forma uma só, assim transformarei a Mim em ti, e tu ficarás crucificada  Comigo. Ah, não ficaria contente se pudesse dizer: “O Esposo crucificado, mas também a esposa  está crucificada? Ah sim, não há nada que me faça diferente dele”.

(149) Então, quando pude falar com o confessor disse-lhe tudo o que o Senhor me tinha dito, e  como aquela palavra que o Senhor me disse: “Por um certo tempo”, sem me dizer o tempo preciso  que devia estar continuamente sofrendo, eu a tomei como por quarenta dias, mais ou menos, mas  já passaram cerca de doze anos que continuo assim, mas sempre seja bendito Deus, sejam  adorados sempre seus inescrutáveis julgamentos, eu creio que se o Senhor bendito me tivesse

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feito entender com clareza o tempo que devia estar na cama, minha natureza teria se espantado  muito, e dificilmente se teria submetido, recordo que estive sempre resignada, mas então não  conhecia a preciosidade da cruz como o Senhor me fez conhecê-la no decorrer destes doze anos,  nem o confessor tivesse concordado em dar-me a obediência. Então assim disse ao confessor, que  por quarenta dias o Senhor queria que me desse a obediência de estar continuamente sofrendo, e  também lhe disse isso e também lhe disse o resto. Com grande surpresa minha, porque eu achava  impossível, o confessor me disse que se fosse verdadeiramente Vontade de Deus, ele me dava a  obediência, que na realidade não era que ele não pudesse vir, mas sim um pouco de respeito  humano. A minha alma alegrou-se muito porque podia contentar ao Senhor, e também livrar as  criaturas, mas a minha natureza se entristeceu muito ao receber esta obediência, tanto que por  alguns dias estive muito afligida, também a alma a sentia pensativa porque devia estar tanto tempo  sem poder receber a Jesus no Sacramento, minha única consolação; às vezes sentia uma guerra  tão feroz em mim, que eu mesma não sabia o que me havia acontecido, muitas coisas  acrescentava-as o demônio, mas o meu bom Jesus curou tudo, e eis como aconteceu.

Diferentes modos de falar de Jesus.

(150) Mas antes de continuar, por ordem do confessor atual devo manifestar os vários modos com  os quais o Senhor me falou: Parece-me que os modos com os quais Deus me fala sejam quatro,  mas estes quatro modos de falar de Jesus são muito diferentes das inspirações.  (151) 1.- O primeiro modo é quando a alma sai fora de si. Mas antes quero explicar o melhor que  possa, sair de mim mesma. Isto acontece de dois modos: O primeiro é instantâneo, quase como  relâmpago, e é tão repentino que me parece que o corpo se eleva um pouco da cama, para seguir  a alma, mas depois fica na cama e a mim parece que o corpo fica morto, e a alma em vez disso  segue a Jesus caminhando por todo o universo, a terra, o ar, os mares, os montes, o purgatório e o  Céu, onde muitas vezes me fez ver o lugar onde eu estarei depois de morta  (152) O outro modo de sair a alma é mais tranqüilo, parece que o corpo se adormece  insensivelmente e fica como petrificado ante a presença de Jesus Cristo, mas a alma permanece  com o corpo, e este não sente nada das coisas externas, ainda que se transtornasse todo o  universo, mesmo que me queimassem e me reduzissem em pedaços.

(153) Estes dois modos tão diferentes de sair fora de mim mesma, eu os notei sensivelmente,  porque no primeiro modo, devendo eu obedecer ao confessor que vinha a me despertar, o vi desde  o lugar onde me conduzia Jesus; isto é, desde os confins da terra, ou do ar, ou dos montes, ou do  mar, ou do purgatório, ou mesmo do mesmo Paraíso, parecia-me que não tinha tempo de voltar  para que o confessor encontrasse minha alma no corpo, e poder obedecer, e como me encontrava  com a alma tão longe, Eu me agia toda, me angustiava e me afligia pensando que não teria tempo

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de voltar ao corpo para que o confessor me encontrasse, e portanto não ter tempo de obedecer,  mas devo confessar que sempre me encontrei a tempo, e me parecia que a alma entrasse no  corpo antes que o confessor começasse a me dar a obediência de despertar. (154) E mais, digo a verdade, muitas vezes eu via de longe o confessor que vinha, mas para não  deixar Jesus, parecia que não pensava em confessor que vinha e então o próprio Jesus me  apressava a voltar com a alma ao corpo para poder obedecer ao confessor, e então eu sentia uma  grande repugnância, por deixar a Jesus, mas a obediência vencia, e deixando a Jesus, Ele mesmo,  ou me beijava ou me abraçava ou fazia outra coisa para despedir-se de mim. E eu deixando ao  meu amado Jesus dizia: “Vou com o confessor, mas Tu, meu bom Jesus, volta logo que o  confessor se vá”.

(155) Estes são os dois modos pelos quais a alma parecia sair do corpo, e nestes dois modos de  sair a alma, Deus me fala. Este modo de falar, Ele mesmo o chama falar intelectual. Tentarei  explicar: A alma que sai do corpo e se encontra diante de Jesus, não tem necessidade de palavras  para entender o que o Senhor lhe quer dizer, nem a alma tem necessidade de falar para se fazer  entender, senão que tudo é por meio do intelecto, Que bem nos entendemos quando nos  encontramos juntos! De uma luz que de Jesus me vem à inteligência, sinto imprimir em mim tudo o  que meu Jesus quer que eu entenda. Este modo é muito alto e sublime, tanto que a natureza  dificilmente sabe explicá-lo com palavras, apenas pode dizer alguma idéia, este modo em que  Jesus se faz entender é rapidíssimo, num simples instante se aprendem muitas mais coisas  sublimes que lendo livros inteiros. ¡ Oh, que mestre engenhoso é Jesus, que num simples instante  ensina muitas coisas, enquanto que qualquer outro necessitaria anos inteiros, se é que o  consegue, porque o mestre terreno não tem poder para poder atrair a vontade do discípulo, nem de  lhe poder infundir na mente sem esforços nem fadigas o que lhe quer ensinar, mas com Jesus não  é assim, tanta é sua doçura, a amabilidade de seu trato, a suavidade de seu falar, e ademais é tão  belo, que a alma apenas o vê se sente tão atraída, que às vezes é tanta a velocidade com que  corre ao lado de Jesus, que quase sem adverti-lo se encontra transformada no objeto amado, de  modo que a alma não sabe discernir mais seu ser terreno, tanto fica identificada com o Ser Divino.  Quem pode dizer o que a alma experimenta neste estado? Precisaria do próprio Jesus, ou de uma  alma separada perfeitamente do corpo, porque a alma encontrando-se outra vez circundada pelos  muros deste corpo, e perdendo essa luz que antes a tinha abismada, muito perde e fica  obscurecida, de tal modo que se quisesse dizer algo, o diria grosseiramente. Para dar uma idéia  digo que me imagino a um cego de nascimento, que nunca teve o bem de ver o que há no universo  inteiro, e que por poucos minutos tivesse o bem de abrir os olhos à luz, e pudesse ver tudo o que  contém o mundo: o sol, o céu, o mar, As tantas cidades, as tantas máquinas, as variedades das  flores e as tantas outras coisas que há no mundo, e depois daqueles poucos minutos de luz, voltei

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à cegueira de antes. Poderia ele dizer claramente tudo o que viu? Somente poderia fazer um  esboço, dizer alguma coisa confusamente. Isto é uma semelhança do que acontece quando a alma  se encontra separada, e depois no corpo, não sei se digo desatinos; assim como a esse pobre  cego ficaria a pena da perda da vista, assim a alma, vive gemendo e quase em um estado violento,  porque a alma se sente violentada sempre para com o sumo Bem, é tanta a atração que Jesus  deixa na alma de Si, que a alma gostaria de estar sempre abstraída em seu Deus, mas isto não  pode ser, e por isso se vive como se vivesse no purgatório. Acrescento que a alma não tem nada  do seu neste estado, tudo é operação feita pelo Senhor.

(156) Agora tentarei explicar o segundo modo que Jesus tem para falar, e é que a alma  encontrando-se fora de si mesma vê a pessoa de Jesus Cristo, como por exemplo de criança, ou  crucificado, ou em qualquer outro aspecto, e a alma vê que o Senhor com sua boca pronuncia as  palavras e a alma com sua boca responde, às vezes acontece que a alma se põe a conversar com  Jesus como fariam dois íntimos esposos. Se bem que o falar de Jesus é pouquíssimo, apenas  quatro ou cinco palavras e às vezes até mesmo uma só, raríssimas vezes se estende mais, mas  nesse ´pouquíssimo falar, ah, quanta luz põe na alma! Parece-me ver à primeira vista um pequeno riacho, mas vendo bem, em vez de um riacho se vê um vasto mar, assim é uma só palavra dita por  Jesus, é tanta a imensidão da luz que fica na alma, que ruminando muito bem descobre tantas  coisas sublimes e proveitosas a sua alma, que fica assombrada.

(157) Eu acredito que se se juntassem todos os sábios, ficariam todos confundidos e mudos Diante  de uma só palavra de Jesus. Agora, este modo é mais acessível à natureza humana, e facilmente  se sabe manifestar, porque a alma entrando em si mesma leva consigo o que tem ouvido da boca  de Nosso Senhor e o comunica ao corpo; não é tão fácil quando é por meio do intelecto. Eu  considero que Jesus tem este modo de falar para adaptar-se à natureza humana, não que tenha  necessidade da palavra para fazer-se entender, senão porque deste modo a alma mais facilmente  compreende e pode manifestá-lo ao confessor. Em suma, Jesus faz como um mestre doutíssimo,  sábio, inteligente, que possui em grau eminentíssimo todas as ciências e que ninguém pode igualá lo, mas como se encontra entre discípulos que ainda não aprenderam as primeiras letras do  alfabeto, retendo todos os outros conhecimentos em si, ensina aos discípulos apenas o a, b, c, etc.  Oh, como é bom Jesus! , se adapta aos doutos e fala-lhes de modo altíssimo, de modo que para  entendê-lo devem estudar muito bem o que lhes diz, adapta-se aos ignorantes e finge-se também  Ele ignorante, e fala em modo baixo, de maneira que ninguém pode ficar em jejum das lições deste  Divino Mestre.

(158) O terceiro modo com que Jesus me fala é quando falando à alma participa de sua própria  substância. Parece-me como quando o Senhor criou o mundo, com uma só palavra foram criadas  as coisas, assim, sendo sua palavra criadora, no ato mesmo em que diz a palavra, cria na alma

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aquela mesma coisa que diz, como por exemplo, Jesus diz à alma:

Veja como são belas as coisas, enquanto seus olhos possam percorrer a terra ou o céu, jamais  encontrarão beleza similar a Mim”. Neste falar de Jesus, a alma sente entrar nela um algo divino e  fica muito atraída para esta beleza, e ao mesmo tempo perde o atrativo de todas as outras coisas,  por quão belas e preciosas fossem não lhe causam nenhuma impressão, o que lhe fica fixo e  quase transmutado em si é a beleza de Jesus, nisso pensa, dessa beleza se sente investida, e fica  tão apaixonada, que se o Senhor não fizesse outro milagre se lhe partiria o coração, e de puro  amor por esta beleza de Jesus expiraria a alma para voar ao Céu a gozar desta beleza de Jesus.  Eu mesma não sei se digo desatinos.

(159) Para explicar melhor este falar substancial de Jesus digo outra coisa, Jesus diz: “Olha como  sou puro, também em ti quero pureza em tudo”. Nestas palavras a alma sente entrar em si uma  pureza divina, esta pureza se transforma nela mesma e chega a viver como se não tivesse mais  corpo, e assim das outras virtudes. ¡ Oh, como é desejável falar de Jesus! Eu daria tudo o que está  sobre a terra, se fosse a dona de tudo, contanto que tivesse uma só destas palavras de Jesus.

(160) O quarto modo em que Jesus me fala é quando me encontro em mim mesma, isto é no  estado natural, e este falar é também de dois modos: O primeiro é quando me encontrando em  mim mesma, recolhida, no interior do coração, sem articulação de voz ou sons ao ouvido do corpo,  Jesus internamente fala. O segundo é como nós fazemos, e isso acontece às vezes, mesmo  estando distraída ou falando com outras pessoas. Mas uma só destas palavras basta para me  recolher se estou distraída, ou para dar-me a paz se estou turbada, para me consolar se estou  afligida.

Novas regras de vida. Jesus lhe indica o novo sistema de vida. 

(161) Agora eu continuo narrando de onde eu fiquei, e eis que ele colocou um remédio:  (162) Pela manhã eu fui para comungar, e assim que eu recebi a Jesus, súbito eu lhe disse:  “Senhor meu, olha em que tempestade me encontro, deveria te agradecer porque lhe deste luz ao  confessor para me dar a obediência de sofrer, em troca minha natureza o lamenta tanto, que eu  mesma fiquei confusa ao me ver tão má. Mas tudo isto é nada, porque Tu que queres o sacrifício  me darás também a força. Mas a razão de maior peso em mim é ter que estar tanto tempo sem  poder receber no Sacramento, quem poderá resistir sem Ti? Quem me dará força? Onde posso  encontrar consolo nas minhas aflições?” E enquanto dizia isto, sentia tais penas no coração por  esta separação de Jesus Sacramentado, que chorava copiosamente. Então o Senhor  compadeceu-se da minha fraqueza e disse-me:

(163) “Não temas, eu mesmo sustentarei a tua fraqueza, tu não sabes que graças te preparei, por

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isso temes tanto. Eu não sou Eu Onipotente? Não posso suprir a privação de me receber no  Sacramento? Por isso ri-te, põe-te como morta em meus braços, faze-te vítima voluntária para me  reparar as ofensas, pelos pecadores e para evitar aos homens os merecidos flagelos. E eu dou-te  em penhor a minha palavra de não deixar nem um só dia sem vir visitar-te. Até agora tu vieste a  Mim, de agora em diante virei Eu a ti. Não estás contente?”

(164) Então eu me resignei à Santa Vontade de Deus, e fui surpreendida por este estado de  sofrimentos. Quem pode dizer as graças que o Senhor começou a me dar? É impossível poder  dizer tudo detalhadamente, poderei dizer alguma coisa confusamente, mas por quanto possa e  para cumprir a santa obediência que assim o quer, esforçar-me-ei em dizer por quanto me seja  possível.

(165) Lembro-me que desde o início deste estar continuamente na cama, o meu amado Jesus  fazia-se ver muito frequentemente, o que não tinha feito no passado. Desde o início me disse que  queria que levasse um novo sistema de vida para dispor-me àquele místico matrimonio que me  havia prometido, me dizia:

(166) “Amada de meu coração, te coloquei neste estado a fim de poder vir mais livremente e  conversar contigo, olha, te liberei de todas as ocupações externas a fim de que não só a alma, mas  também o corpo esteja a minha disposição, E assim podes estar em contínuo holocausto diante de  Mim. Se não te tivesse posto nesta cama, a dever-te a ti os deveres de família e sujeitar-te a outros  sacrifícios, não poderia Eu vir tão freqüentemente e te fazer partícipe das ofensas conforme as  recebo, no máximo deveria esperar que cumprisse seus deveres, mas agora não, agora ficamos  livres, já não há ninguém que nos incomode e que interrompa a nossa conversa, de agora em  diante as minhas aflições serão tuas, e as tuas, minhas, os meus sofrimentos teus, e os meus, as  minhas consolações tuas, e as tuas; uniremos todas as coisas juntas e tu tomarás interesse das  minhas coisas como se fossem tuas, e assim não haverá mais entre nós dois, isto é meu e isto é  teu, senão que tudo será comum por ambas as partes.

(167) Sabes como fiz contigo? Como um rei quando quer falar com sua esposa rainha, e esta se  encontra com suas damas em outras ocupações. O rei, o que faz? A toma e a leva dentro de seu  quarto, fecha as portas para que ninguém possa entrar a interromper sua conversação e ouvir seus  segredos, e assim estando sós se comunicam reciprocamente suas aflições e seus consolos.  Agora, se algum imprudente fosse bater à porta, a gritar atrás dela e não os deixasse gozar em paz  sua conversa, o rei não o tomaria a mal? Foi o que eu fiz contigo, e se alguém te quiser distrair  deste estado, também me desagradaria”.

(168) E ele continuou a dizer-me: “Quero de ti perfeita conformidade com minha Vontade, de tal  modo de desfazer tua vontade na minha, desapego absoluto de toda coisa, tanto que tudo o que é  terra quero que seja tido por ti como esterco e podridão que dá horror ao só olhá-lo, e isto porque

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as coisas terrenas, Ainda que não se tivesse apego a elas, só tê-las em torno e olhá-las  obscurecem as coisas celestiais e impedem realizar esse matrimonio místico que te prometi. Além  disso quero que assim como Eu fui pobre, também me imites na pobreza, deves considerar-te  nesta cama como uma pobrezinha, os pobres se contentam com o que têm, e agradecem-me  primeiro a Mim, e logo a seus benfeitores. Assim você aceita-te com o que te é dado, sem pedir  nem isto nem aquilo, porque poderia ser um estorvo em tua mente e com santa indiferença, sem  pensar se isso te faria bem ou mal te submeta à vontade dos demais”.

(169) Isso me custou muito no princípio, especialmente pelas obediência que me dava o  Confessor, não sei por que, mas queria que tomasse quinina, e tinha imposta a obediência de que  cada vez que voltasse o estômago outras tantas devia voltar a tomar alimento. Agora, o quinino me  estimulava o apetite e às vezes sentia muita fome, tomava o alimento e quando o tomava, e às  vezes no mesmo momento de tomá-lo, pelos contínuos conatos de vômito estava obrigada a  devolvê-lo, e permanecia com a mesma fome de antes. A palavra “pobre” que Jesus me havia dito  não me deixava ousar pedir nada, e eu mesma tinha vergonha de pedir; pensava entre mim: “O  que dirá a família, voltou o estômago e quer comer? Se me derem alguma coisa a tomo, se não, o  Senhor se ocupará”. Assim me passava contente de poder oferecer alguma coisa a meu amado  Jesus. Isto não durou muito tempo, mas aproximadamente quatro meses. Um dia o Senhor me  disse:

(170) “Pede ao confessor que te dê a obediência de não tomar quinina e de não te fazer tomar o  alimento tantas vezes, que Eu lhe darei luz”.

(171) Depois veio o confessor e disse-lhe, e ele disse-me: “Para não mostrar singularidades, de  agora em diante quero que tomes o alimento uma só vez por dia, e suspendeu também a quinina”.  Assim fiquei mais tranqüila e me passou a fome, mas o vômito não cessou, essa única vez que  tomava o alimento era obrigada a devolvê-lo, o Senhor às vezes me dizia que pedisse a obediência  de não comer, mas o confessor nunca me deu esta obediência, me dizia: “Não importa que  vomites, é outra mortificação”.

(172) Eu então o dizia ao Senhor e Ele me dizia: “Quero que faça a petição, mas com santa  indiferença, quero que esteja ao que te diz a obediência”.

(173) E assim continuei a fazê-lo. Quando passaram cerca de quarenta dias, que eu considerava  pelas palavras que me tinha dito o Senhor (por um certo tempo) e que eu assim tinha dito ao  confessor, os sofrimentos continuavam a surpreender-me diariamente e ele se via obrigado a vir  todos os dias, Então o confessor começou a me dar a obediência de não estar mais naquele  estado, e acrescentava que se caísse nos sofrimentos, ele não viria. Por minha parte me sentia  disposta a obedecer, especialmente minha natureza queria libertar-se daquele estar continuamente  na cama, que por quão belo fosse, era sempre cama, aquele ter que sujeitar-se a todos, mesmo

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nas coisas mais repugnantes e necessárias à natureza, e estar obrigada a dizer aos outros é um  verdadeiro sacrifício. Por isso a natureza fez seu ofício, toda se consolou ao sentir-se dar esta  obediência, minha alma estava disposta a obedecer ou a permanecer em cama se o Senhor assim  o queria, porque tinha começado a experimentar quão bom tinha sido o Senhor comigo e que a  verdadeira resignação sabe mudar a natureza às coisas e o amargo o converte em doce.

(174) Quando me deu a obediência de não ter que estar mais na cama, eu comecei a resistir e  dizia ao Senhor: “O que queres de mim? Não posso mais, porque a obediência não quer, mas se  queres dar luz ao confessor então eu estou disposta a fazer o que queres”. E passei toda uma  noite discutindo com o Senhor; quando vinha lhe dizia: “Meu amado Jesus, tem paciência, não  venhas, porque a obediência não permite que me faças participar em teus sofrimentos”. Até pela  manhã eu venci, me sentia em mim mesma e livre de sofrimentos, quando em um instante veio o  Senhor e me atraiu de tal maneira a Ele que não pude resistir-lhe, perdi os sentidos, e me encontrei  junto com Ele, mas tão estreitada que por quanta oposição fazia, não pude me separar de Jesus.  Estando com Jesus eu me sentia toda aniquilada, e tinha uma certa vergonha pelas tantas  oposições que lhe havia feito durante a noite, e lhe disse: “Esposo Santo perdoa-me, é o confessor  que assim o quer”. E Ele me disse:

(175) “Não temas, quando é a obediência Eu não me ofendo”. E continuou “Vem, vem a Mim, hoje  é ano novo, quero dar-te teu presente”.

(176) (Justo aquela manhã era o primeiro dia do ano). Então aproximou seus lábios puríssimos  aos meus e derramou um leite dulcíssimo, beijou-me, e tomou um anel de dentro de seu lado, e me  disse:

(177) “Hoje quero te fazer ver o anel que te preparei para quando te despose”. Depois me disse:  “Diga ao confessor que é Minha vontade que continue estando na cama, e como sinal de que sou  Eu diga-lhe que há guerra entre a Itália e a África, e que se ele te dá a obediência de te fazer  continuar sofrendo não deixarei fazer nada a ambas as partes, se porão em paz”.

(178) No mesmo instante de dizer estas palavras, senti-me circundada por sofrimentos como por  um vestido, e por mim mesma não pude libertar-me, pensava : “O que dirá o confessor?” Mas não  estava mais em meu poder. Aquele leite que Jesus derramou em mim me produzia tal amor a Ele,  que me sentia definhar, e sentia tanta saciedade e doçura, que depois de que veio o confessor e  me fez voltar daquele estado, e a família me levou alimento, sentia-me tão satisfeita que o alimento  não baixava, mas para cumprir a obediência que assim queria, tomei um pouco, mas logo fui  obrigada a devolvê-lo, misturado com aquele leite doce que me havia Jesus dado. e Ele como  brincando me disse:

(179) “Não te bastou o que te dei? Não está contente ainda?” Eu fiquei toda corada, mas  rapidamente lhe disse: “O que queres de mim? É a obediência”. Quando o confessor veio,

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começou a ficar inquieto e a dizer-me que era desobediente, ou então dizia-me: “É uma doença. Se  fosse coisa de Deus te teria feito obedecer, por isso em vez de chamar ao confessor deve chamar  aos médicos”. Quando ele terminou de falar, eu lhe disse tudo o que me tinha dito o Senhor, como  disse acima, e ele me disse que era verdade que havia guerra entre a África e a Itália, e disse:  Veremos se nada acontecer”. E assim ficou persuadido de me fazer continuar sofrendo.

(180) Depois de cerca de quatro meses, um dia o confessor veio e me disse que haviam chegado  notícias de que a guerra que havia entre a África e a Itália, sem fazer nenhum dano entre elas,  havia terminado, assinando a paz. Assim o confessor ficou mais persuadido e me deixou ficar em  paz .

(181) Então meu doce Jesus não fazia outra coisa que me dispor daquele matrimonio místico o  que me havia prometido, se fazia ver estando eu nesse estado, às vezes três ou quatro vezes ao  dia, como lhe agradava, e às vezes era um contínuo ir e vir, me parecia um apaixonado que não  sabe estar sem sua esposa, assim fazia Jesus comigo, e às vezes chegava a me dizer:

(182) “Olhe, te amo tanto que não sei estar se não venho, sinto-me quase inquieto pensando que  você está sofrendo por Mim e que está sozinha, por isso vim para ver se tem necessidade de  alguma coisa”.

(183) E enquanto assim dizia, Ele mesmo me levantava a cabeça, colocava seu braço atrás de  meu pescoço e me abraçava, e enquanto assim me tinha, me beijava, e se era tempo de verão e  fazia calor, de sua boca mandava um alento refrescante, ou bem tomava alguma coisa em sua  mão e me abanava e depois me perguntava:

(184) “Como te sentes? Não se sente melhor?”

(185) Eu lhe dizia: “Em qualquer modo que se está Contigo se está sempre bem”. Outras vezes  vinha, e se me via muito fraca pelo contínuo estar naqueles sofrimentos, especialmente se o  confessor vinha na noite, meu amante Jesus vinha, e me vendo naquele estado de extrema  debilidade, tanto que às vezes me sentia morrer, se aproximava a mim e de sua boca vertia na  minha aquele leite, ou bem me fazia pôr-me a seu lado e eu chupava torrentes de doçuras, de  delícias e de fortaleza, e Ele me dizia:

(186) “Quero ser propriamente Eu teu tudo, e também teu alimento da alma e do corpo”. (187) Quem pode dizer o que eu experimentava, tanto na alma como no corpo, por estas graças  que Jesus me fazia? Se fosse eu a dizê-lo, espalhava-me demasiado. Recordo que às vezes  quando não vinha logo, me lamentava com Ele dizendo: “Ah, Esposo Santo, como me fez esperar,  tanto que não podia resistir mais, me sentia morrer sem Ti”. E enquanto assim dizia, era tanta a  pena que sentia que chorava, e Ele compadecia-me toda, me enxugava as lágrimas, me beijava,  me abraçava e dizia:

(188) “Não quero que chore. Olhe, agora estou contigo, me diga o que quer”.

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(189) Eu dizia-lhe: “Não quero outra coisa senão a Ti, e só deixarei de chorar quando me  prometeres que não me farás esperar tanto”.

(190) E Ele me dizia: “Sim, sim, te contentarei”.

(191) Um dia, enquanto estávamos nisto e era tanta a pena que eu sentia que não podia deixar de  chorar, meu bom Jesus me disse:

(192) “Quero te contentar em tudo, sinto-me tão atraído por você que não posso fazer menos que  fazer o que você quer. Se até agora te tirei a vida exterior e me manifestei a ti, agora quero atrair  tua alma para Mim, a fim de que onde quer que eu vá possas vir junto Comigo, assim poderás  desfrutar mais e te estreitar mais intimamente a Mim, o que não fizeste no passado.

(193) Uma manhã, não me lembro muito bem, creio que tinham passado cerca de três meses  desde que comecei a estar continuamente na cama, enquanto estava no meu estado habitual, veio  meu doce Jesus com um aspecto todo amável, como um jovem, como de dezoito anos. ¡ Oh como  era belo! , com sua cabeleira dourada e toda encaracolada, parecia que encadeava os  pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte serena e ampla, onde se olhava como dentro de um  cristal o interior de sua mente, e se descobria sua infinita sabedoria, sua paz imperturbável. ¡ Oh  como me sentia tranquilizar minha mente, meu coração, aliás, minhas mesmas paixões diante de  Jesus caíam por terra e não se atreviam a me dar o mínimo incômodo. Eu acredito, não sei se  estou errada, que não se pode ver a este Jesus tão belo se não se está na calma mais profunda  que o mínimo assombro de intranquilidade impede ter uma vista tão bela. Ah sim! Ao ver a  serenidade de sua fronte adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no interior, que creio  que não há desastre, guerra mais feroz que diante de Jesus não se acalme. Ó meu todo e belo  Jesus, se por poucos momentos que te manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que  se podem sofrer os mais dolorosos martírios, as penas mais humilhantes com a mais perfeita  tranquilidade, me parece uma mistura de paz e de dor, o que será no Paraíso? Oh, como são belos  seus olhos puríssimos, cintilantes de luz; não é como a luz do sol que querendo olhá-la danifica  nossa vista, não, em Jesus enquanto é luz, pode-se muito bem fixar o olhar, e só de olhar o interior  de sua pupila, de uma cor celeste escura oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza de seus  olhos, que um só olhar seu basta para me fazer sair de mim mesma, e me fazer correr atrás Dele  por caminhos e por montes, pela terra e pelo céu, basta um só olhar para me transformar Nele e  sentir descer em mim algo de Divino. Quem pode dizer além da beleza de seu rosto adorável? Sua  tez branca semelhante à neve tingida de uma cor de rosas, das mais belas; em suas bochechas  rosadas descobre-se a grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestoso e todo Divino, que  infunde temor e reverência, e ao mesmo tempo dá tanta confiança, que quanto a mim jamais  encontrei pessoa alguma que me dê ao menos uma sombra da confiança que dá meu amado  Jesus, nem em meus pais, nem nos confessores, nem nas minhas irmãs. Ah sim, esse rosto santo,

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enquanto é tão majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa amabilidade atrai tanto, de modo  que a alma não tem a mínima dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e pecadora se veja.  Belo é também o seu nariz afiado, proporcional ao seu rosto. Graciosa é sua boca, pequena, mas  extremamente bela, seus lábios finíssimos de uma cor escarlate, enquanto fala contém tanta graça  que é impossível poder descrevê-lo. É doce a voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto  fala sai de sua boca um perfume tal, que parece que não se encontra sobre a terra, é penetrante,  de modo que penetra tudo, sente-se descer pelo ouvido ao coração, e oh, quantos afetos produz,  Mas quem pode dizer tudo? Além disso, é tão agradável que acho que não se pode encontrar  outros prazeres como os que se podem encontrar numa só palavra de Jesus. A voz de meu Jesus  é potentíssima, é obrante, e no mesmo ato que fala obra o que diz. Ah sim, é formosa sua boca,  mas mostra mais sua formosa graça no ato de falar, então se vêem seus dentes tão nítidos e bem  alinhados, e exala seu sopro, amor que incendia, setas são lançadas, consome o coração. Belas  são suas mãos, suaves, brancas, delicadíssimas, com seus dedos proporcionados, e os move com  uma maestria tal, que é um encanto. ¡¡¡¡¡¡ Oh, como você é bonito, todo bonito, oh meu doce  Jesus! O que eu disse sobre sua beleza é nada, é mais, eu acho que disse muitos desatinos. Mas  o que queres de mim? Perdoe-me, é a obediência que assim o quer, por mim não me teria atrevido  a dizer nem uma palavra, conhecendo minha incapacidade.

(194) Agora, enquanto via Jesus com o aspecto já descrito, de sua boca me enviou um alento que  me investía toda a alma, e me parecia que Jesus me atraía com esse alento a Ele e comecei a  sentir que a alma saía do corpo, me sentia realmente sair de todas partes, da cabeça, das mãos e  até dos pés, sendo esta a primeira vez que me sucedia dentro de mim comecei a dizer: “Agora  morro, o Senhor veio para me levar”. Quando me vi fora do corpo, a alma tinha a mesma sensação  do corpo, com esta diferença, que o corpo contém carne, nervos e ossos, a alma não, é um corpo  de luz, portanto senti um temor, mas Jesus continuava a enviar-me esse alento e me disse:

(195) “Se te dá tanta pena estar privada de Mim, agora vem junto Comigo porque quero consolar te”.

(196) E Jesus tomou o seu vôo e eu tomei o meu junto, a Ele, giramos por toda a abóbada do céu.  Oh! Como era bonito passear junto com Jesus, agora apoiava a cabeça sobre seu ombro e com  um braço atrás de suas costas e com a outra mão em sua mão, agora se apoiava Jesus em mim,  quando chegávamos a certos lugares onde a iniquidade mais abundava, oh, quanto sofria meu  bom Jesus! Eu via com mais clareza os sofrimentos de seu coração adorável, via-o quase  desmaiar, e lhe dizia: “Apoie se em mim e faz-me partícipe de tuas penas, pois não resiste minha  alma ver-te sofrer sozinho”. E Jesus me dizia:

(197) “Amada minha, ajuda-me que não posso mais”.

(198) E, enquanto assim dizia, aproximava os seus lábios aos meus, e via uma amargura tal, que

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sentia penas mortais quando entrava em mim esse licor tão amargo; sentia entrar como tantas  facas, pontas, flechas que me trespassavam de lado a lado, em suma, em todos os meus membros  se formava uma dor atroz e voltando a alma ao corpo participava estes sofrimentos ao corpo, quem  pode dizer as penas? Só o próprio Jesus que era testemunha, porque Os outros não podiam  mitigar minhas penas estando naquele estado de perda dos sentidos, e se esperava quando estava  presente o confessor, porque também com a obediência se mitigavam. Portanto só Jesus me podia  ajudar quando via que minha natureza não podia mais e que chegava propriamente aos extremos e  não me restava mais que dar o último respiro. ¡ Oh, quantas vezes a morte zombou de mim, mas  virá um dia em que eu me rirei dela! Então Jesus vinha, me tomava em seus braços, me  aproximava de seu coração, e oh, como me sentia voltar a vida, depois, de seus lábios vertia um  licor dulcíssimo, e assim se mitigavam as penas. Outras vezes, enquanto me levava junto com Ele  girando, se eram pecados de blasfêmias, contra a caridade e outros, vertia esse amargo venenoso;  se eram pecados de desonestidade, derramava uma coisa de podridão malcheirosa, e quando  voltava em mim mesma sentia tão bem aquela peste, e era tanto o fedor que me revolvia o  estômago e me sentia desfalecer, e às vezes tomando o alimento, quando o devolvia, sentia que  saía da minha boca aquela podridão misturada com o alimento. Uma vez levava-me às igrejas, e  também ali o meu bom Jesus era ofendido. Oh, como chegavam mal a seu coração aquelas obras,  santas, sim, mas descuidadamente feitas, aquelas orações vazias de espírito interior, aquela  piedade fingida, aparente, parecia que mais bem insultavam a Jesus em vez de lhe dar honra. Ah!  Sim, aquele coração santo, puro, reto, não podia receber essas obras tão mal feitas. Oh! quantas  vezes se lamentava dizendo:

(199) “Filha, também a gente que se diz devota, olha quantas ofensas me fazem, mesmo nos  lugares mais santos, ao receber os mesmos Sacramentos, em vez de sair purificados saem mais enlameados “.

(200) ” Ah! Sim, quanta pena dava a Jesus ver pessoas que comungavam sacrílegamente,  sacerdotes que celebravam o Santo Sacrifício da missa em pecado mortal, por costume, e alguns,  dá horror dizer, por fins de interesse. ¡¡ Oh! Quantas vezes meu Jesus me fez ver estas cenas tão  dolorosas. Quantas vezes, enquanto o sacerdote celebrava o Sacrossanto Mistério, Jesus é  obrigado a descer, porque era chamado pelo poder sacerdotal, às mãos do sacerdote, se viam  aquelas mãos que gotejavam podridão, sangue, ou então estavam sujas de lama. Ah! Como dava  compaixão o estado de Jesus, tão santo, tão puro, naquelas mãos que davam horror só de olhá las, parecia que Jesus queria fugir daquelas mãos, mas era obrigado a permanecer até que se  consumissem as espécies do pão e do vinho. Às vezes, enquanto permanecia ali, com o sacerdote,  ao mesmo tempo vinha-se apressadamente a mim e lamentava-se, e antes de que eu o dissesse,  Ele mesmo me dizia:

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(201) “Filha, deixa-me derramar em ti, porque não posso mais, tem compaixão do meu estado que  é demasiado doloroso, tem paciência, soframos juntos”.

(202) E enquanto dizia isto derramava da sua boca na minha, mas quem pode dizer o que  derramava? Parecia um veneno amargo, uma podridão hedionda, misturada com um alimento tão  duro, repugnante e nauseante, que às vezes eu não podia engolir, quem pode dizer os sofrimentos  que me produzia este derramar de Jesus? Se Ele mesmo não me tivesse sustentado, certamente  teria morrido vítima disso; todavia, só derramava em mim a mínima parte, o que será de Jesus que  contém tanto e tanto? Oh, como é feio o pecado! Ah! Senhor, faça-o conhecer a todos, a fim de  que todos fujam deste monstro tão horrível; mas enquanto via estas cenas tão dolorosas, outras  vezes fazia-me ver também cenas tão consoladoras e belas, que raptavam, e estas eram ver os  bons e santos sacerdotes que celebravam os Sacrossantos Mistérios. ¡ Oh Deus, como é alto,  grande, sublime seu ministério! Como era bonito ver o sacerdote que celebrava a missa e Jesus  transformado nele, parecia que não o sacerdote, mas que o próprio Jesus celebrava o Divino  Sacrifício, e às vezes fazia desaparecer completamente o sacerdote e Jesus só celebrava a missa  e eu a escutava, Oh, como era comovedor ver Jesus recitar aquelas orações, fazer todas aquelas  cerimônias e movimentos que faz o sacerdote! Quem pode dizer o quão consolador eu achava que  veria estas Missas junto com Jesus? Quantas graças recebia, quantas luzes, quantas coisas  compreendia! Mas como são coisas passadas e não as recordo claramente, por isso as passo em  silêncio.

(203) Mas enquanto dizia isto, Jesus moveu-se dentro de mim, chamou-me, e não quer que deixe  isto em silêncio. Ah, Senhor, quanta paciência é necessária Contigo! pois bem, te contentarei. Oh!  Doce amor, direi alguma pequena coisa, mas dá-me tua graça para poder manifestá-lo, porque por  mim não me atreveria a pôr nem uma palavra sobre mistérios tão profundos e sublimes.

A Santa Missa. Que coisa é a Missa. 

(204) Agora, enquanto via Jesus ou o sacerdote que celebrava o Divino Sacrifício, Jesus me fazia  entender que na missa está todo o fundamento de nossa sacrossanta religião. Ah! Sim, a missa  nos diz tudo e nos fala de tudo. A Missa recorda-nos a nossa Redenção, fala-nos detalhadamente  das penas que Jesus sofreu por nós, manifesta-nos também o seu Amor imenso que não ficou  contente por morrer na cruz, mas quis continuar o estado de vítima na Santíssima Eucaristia. A  missa também nos diz que nossos corpos desfeitos, reduzidos a cinzas pela morte, ressurgirão no  dia do juízo junto com Cristo à vida imortal e gloriosa. Jesus me fazia compreender que a coisa  mais consoladora para um cristão e os mistérios mais altos e sublimes de nossa santa religião são:  Jesus no Sacramento e a ressurreição de nossos corpos à glória. São mistérios profundos que só

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os compreenderemos além das estrelas. Mas Jesus no Sacramento faz-nos quase tocar com a  mão em vários modos: em primeiro lugar a sua Ressurreição, em segundo o seu estado de  aniquilamento sob aquelas espécies, mas também é verdade que está nelas vivo e verdadeiro,  mas consumidas essas espécies, sua real presença não existe mais; depois, consagradas as  espécies de novo, Jesus adquire novamente seu estado Sacramental. Assim, Jesus no  Sacramento nos recorda a ressurreição de nossos corpos à glória, e assim como Jesus, cessando  seu estado Sacramentado reside no seio de Deus, seu Pai, assim nós, cessando nossa vida,  nossas almas vão fazer sua morada no Céu, no seio de Deus, e nossos corpos ficam consumidos,  assim que se pode dizer que não existem mais, mas depois com um prodígio da Onipotência de  Deus, nossos corpos adquirirão nova vida, e unindo-se com a alma irão juntos a gozar a bem aventurança eterna. Pode-se dar coisa mais consoladora para o coração humano, que não só a  alma, mas também o corpo deve agradar aos eternos contentes? A mim me parece que naquele  grande dia acontecerá como quando o céu está estrelado e sai o sol, o que acontece? O sol, com  sua imensa luz absorve as estrelas e as faz desaparecer, mas as estrelas existem. O sol é Deus e  todas as almas bem-aventuradas são estrelas, Deus com a sua imensa luz nos absorverá a todos  em Si, de modo que existiremos em Deus e nadaremos no mar imenso de Deus. ¡ Oh, quantas  coisas Jesus nos diz no Sacramento! Mas quem pode dizê-las todas? Certamente me estenderia  demasiado, se o Senhor o permitir reservarei para outra ocasião dizer alguma outra coisa.

Matrimônio. O Matrimonio com Jesus 

(205) Agora, nestas saídas do corpo que o Senhor me fazia fazer, às vezes renovava-me a  promessa do noivado já dito. Quem pode dizer os ardentes desejos que o Senhor infundia em mim  de que se efetuasse este místico matrimonio? Muitas vezes lhe rogava dizendo: “Esposo  dulcíssimo, faça-o logo, não atrase mais minha íntima união Contigo, ah, estreitamo-nos com  vínculos mais fortes de amor, de modo que ninguém nos possa separar nem por poucos instantes”.  E Jesus agora me corrigia de uma coisa, agora de outra. Recordo que um dia me disse:

(206) “Tudo o que é terreno, tudo, deves tirar, não só do teu coração mas também de teu corpo,  tu não podes entender quanto nocivo é e que impedimentos são a meu Amor mesmo as mínimas  sombras terrenas”.

(207) Eu imediatamente lhe disse: “Se tiver alguma outra coisa para tirar, diga-me, porque estou  disposta a fazê-lo”. Mas enquanto dizia isto, eu mesma percebi que tinha um anel de ouro no dedo  que representava a imagem do Crucificado, e imediatamente lhe disse: “Esposo santo, Queres que  o tire?” E Ele me disse:

(208) “Te devendo dar Eu, um anel mais precioso, mais belo, e no qual ao vivo estará impressa

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minha imagem, tanto que cada vez que o vir novas flechas de amor receberá seu coração, por isso  este anel não é necessário”.

(209) E eu prontamente o tirei. Finalmente chegou o suspirado dia, depois de não pouco sofrer.  Recordo que faltava pouco para completar o ano de estar continuamente na cama, era dia da  Pureza de Maria Santíssima. Na noite anterior daquele dia, o meu amado Jesus fez-se ver em  atitude festiva, aproximou-se de mim e tomou o meu coração nas suas mãos e olhou para ele e  olhou para ele, limpou-o e depois devolveu-me. Depois tomou uma vestidura de imensa beleza,  me parecia que o fundo era como com filetes de ouro de várias cores e me vestiu com ela, depois  tomou duas gemas como se fossem brincos e os pôs em minhas orelhas, logo me adornou o  pescoço e os braços e me cingiu a testa com uma coroa de imenso valor, Adornada de pedras e  pedras preciosas, toda resplandecente de luz, e me parecia que essas luzes eram tantas vozes  que ressoavam entre elas e a claras notas falavam da beleza, poder, força e de todas as outras  virtudes de meu esposo Jesus. Quem pode dizer o que eu entendi e em que mar de consolo  nadava minha alma? É impossível poder dizê-lo. Agora, enquanto Jesus me cingiu a testa me  disse:

(210) “Esposa dulcíssima, esta coroa te ponho a fim de que nada falte para te fazer digna de ser  minha esposa, masque depois que se realize nosso matrimonio a levarei ao Céu para reserva-la para o momento da morte”.

(211) Finalmente tomou um véu e com ele cobriu-me toda, desde a cabeça até os pés e assim  deixou-me. Ah! Parecia-me que nesse véu havia um grande significado, porque os demônios ao  me ver coberta com ele ficavam tão espantados e sentiam tal medo de mim, que fugiam  aterrorizados. Os mesmos anjos estavam ao meu redor com tal veneração que eu mesma ficava  confusa e toda cheia de vergonha.

(212) Na manhã desse dia, Jesus fez-se ver de novo todo afável, doce e majestoso, juntamente  com a sua Mãe Santíssima e Santa Catarina. Primeiro os anjos cantaram um hino, Santa Catarina  me assistia, a Mãe tomou minha mão e Jesus pôs em meu dedo o anel, depois nos abraçamos e  me beijou, e assim fez também a Mãe. Depois tivemos um colóquio todo de amor, Jesus falava-me  do grande amor que me tinha, e eu dizia-lhe também do amor com que o amava. A Santíssima  Virgem fez-me compreender a grande graça que tinha recebido e a correspondência que devia dar  ao Amor de Jesus.

(213) Meu esposo Jesus me deu novas regras para viver mais perfeitamente, mas como passou  muito tempo não as recordo muito bem, por isso não as digo, e assim terminou aquele dia.  (214) Quem pode dizer as finezas de amor que Jesus fazia a minha alma? Eram tais e tantas, que  é impossível descrevê-las, mas o pouco que recordo tratarei de dizê-lo. Às vezes, transportando me com Ele, levava-me ao Paraíso, e ali escutava os cânticos dos bem-aventurados, via a

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Divindade, os diversos coros dos anjos, as ordens dos santos, todos imersos, absorvidos e  identificados na Divindade de Deus. Parecia-me que em torno do trono havia muitas luzes, como  se fossem mais que sóis resplandecentes e a claras notas estas luzes denotavam todas as virtudes  e atributos de Deus. Os bem-aventurados, refletindo-se em uma destas luzes, ficavam arrebatados,  mas não chegavam a penetrar toda a imensidão daquela luz, de modo que passavam a uma  segunda luz sem compreender a fundo a primeira. Assim, os bem-aventurados no Céu não podem  compreender perfeitamente a Deus, porque é tanta a Imensidão, a Grandeza, a Santidade de  Deus, que mente criada não pode compreender um Ser incriado. Agora, os bem-aventurados  refletindo-se nestas luzes, parecia-me que vinham participar nas virtudes destas luzes, assim que a  alma no Céu se assemelha a Deus, com esta diferença: que Deus é aquele Sol grandíssimo, e a  alma é um pequeno sol. Mas quem pode dizer tudo o que nessa beata morada se compreende?  Enquanto a alma se encontra nesta prisão do corpo é impossível, enquanto na mente se escuta  algo, os lábios não encontram palavras para poder explicar-se, me parece como uma criança que  começa a balbuciar, que gostaria de dizer tantas e tantas coisas, Mas afinal parece que ele não  sabe dizer uma palavra clara, por isso, vou direto ao assunto. Só direi que às vezes, enquanto me  encontrava naquela bem-aventurada pátria, passeava junto com Jesus no meio dos coros dos  anjos e dos santos, e como eu era nova esposa todos os bem-aventurados se uniam conosco para  participar das alegrias de nosso matrimonio, me parecia que esqueciam seus contentamentos para  cuidar dos nossos, e Jesus me mostrava aos santos dizendo:

(215) “Vejam esta alma, é um triunfo do meu Amor, meu Amor tudo superou nela”.  (216) Outras vezes me fazia ficar no lugar que me tocava e me dizia: “Este é seu lugar, ninguém  pode te tirar”. E às vezes eu chegava a acreditar que não devia voltar mais à terra, mas em um  simples instante me encontrava fechada no muro deste corpo. Quem pode dizer o quão amargo eu  estava de volta? A mim me parecia, pelas coisas do Céu, que as desta terra tudo era podridão,  insípido, fastidioso; as coisas que tanto deleitam aos demais, para mim eram amargas, as pessoas  mais amadas, mais respeitáveis, que os demais quem sabe o que teriam feito para entreter-se com  elas, a mim me resultavam indiferentes e até fastidiosas, só vendo-as como imagens de Deus me  parecia que podia suportá-las, mas minha alma tinha perdido toda satisfação, nada lhe dava a  menor sombra de contente, e era tanta a pena que eu sentia que não fazia mais do que chorar e  lamentar-me com meu amado Jesus. Ah! Meu coração vivia inquieto, entre contínuas ânsias e  desejos, me sentia mais no Céu que na terra, sentia em meu interior uma coisa que me roía  continuamente, tanto, que me resultava amargo e doloroso ter que continuar vivendo. Mas a  obediência pôs um freio a estas penas minhas, mandando-me absolutamente que não desejasse  morrer, e que só devia morrer quando o confessor me desse a obediência. Então para cumprir esta  santa obediência fazia quanto mais podia para não pensar nisso, porque meu interior era uma

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contínua jaculatória de desejo de me querer ir. Assim, em grande parte meu coração se acalmou,  mas não de todo. Confesso a verdade, muito faltou nisto, mas o que podia fazer? Não sabia deter me, para mim era um verdadeiro martírio. Meu benigno Jesus me dizia:

(217) “Acalma-te, qual é a coisa que tanto te faz desejar o Céu?”

(218) E eu lhe dizia: “Porque quero estar sempre unida Contigo, minha alma não resiste mais estar  separada de Ti, não só por um dia, nem sequer por um momento, por isso a qualquer custo quero  ir”.

(219) “Pois bem”. Dizia-me. “Se é por Mim te quero contentar, virei a estar contigo”. (220) Eu lhe dizia: “Mas logo me deixa e eu te perco de vista, em troca no Céu não é assim, lá  jamais te perderei de vista”

(221) Às vezes também Jesus queria brincar, e eis como: Enquanto estava com estas ânsias,  vinha apressado e me dizia: “Queres vir?” E eu lhe dizia: “Onde?” E Ele: “Ao Céu”. E eu: “Dizes me de verdade?” E Ele: “Apresse-se, venha, apresse=se”. E eu: “Está bem, vamos, mas temo que  queira brincar comigo”. E Jesus: “Não, não, de verdade quero levar-te Comigo”. E enquanto assim  dizia sentia minha alma sair do corpo, e junto com Jesus tomava o vôo ao Céu. Oh! como me  sentia contente então acreditando que devia deixar a terra, a vida me parecia um sonho, o sofrer  pouquíssimo! Enquanto chegávamos a um ponto alto do Céu, eu ouvia o canto dos bem aventurados, eu apressava Jesus a me introduzir nessa bem-aventurada morada, mas Jesus o  tomava com calma. Em meu interior começava a suspeitar que não era verdade e dizia: “Quem  sabe se não é uma brincadeira que me fez?” De vez em quando lhe dizia: “Meu Jesus, amado, fá lo depressa”. E Ele me dizia: “Espera mais um pouco, desçamos outra vez à terra, olha, aí está por  perder-se um pecador, vamos, talvez se converta. Peçamos juntos ao Eterno Pai que tenha  misericórdia dele. Não queres que Ele seja salvo? Não estás disposta a sofrer qualquer pena pela  salvação de uma só alma?” E eu: “Sim, tudo o que quiseres que ela sofra, estou disposta, desde  que a salves”. Assim íamos a esse pecador, tentávamos convencê-lo, púnhamos ante sua mente  as mais poderosas razões para rende-lo, mas em vão. Então Jesus todo aflito me dizia: “Minha  esposa, volta outra vez a teu corpo, toma sobre ti as penas que lhe são merecidas, assim a Divina  Justiça, aplacada, poderá usar com ele misericórdia. Você viu, as palavras não o abalaram, nem  sequer as razões, não resta outra coisa que as penas, que são os meios mais poderosos para  satisfazer a Justiça e para render o pecador”. Assim me levava de volta ao corpo. Quem pode dizer  os sofrimentos que me vinham? Só o Senhor sabe que deles era testemunha. Depois de alguns  dias me fazia ver aquela alma convertida e salva, oh, como estava contente Jesus e eu também.

(222) Quem pode dizer quantas vezes Jesus fez estes jogos? Quando se chegava ao ponto de  entrar no Céu, e às vezes mesmo depois de ter entrado, agora dizia que não tinha a obediência do  confessor, e por isso era conveniente voltar à terra, e eu lhe dizia: “Enquanto estive com o

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confessor fui obrigada a obedecer-lhe, mas agora que estou Contigo, devo obedecer-te a Ti,  porque Tu és o primeiro de todos. E Jesus dizia-me: “Não, não, quero que obedeças ao confessor”.  Então, para não me alongar muito, agora por um pretexto, agora por outro, me fazia voltar à terra.

(223) Muito dolorosos me resultavam estes jogos, basta dizer que me tornei tão impertinente, que  o Senhor para castigar minhas impertinências não permitia tão freqüentemente estas brincadeiras.

Renovação do Matrimonio. Matrimonio diante da Santíssima Trindade. Instrui-a sobre a Fé, a Esperança e a Caridade. 

(224) Neste estado que mencionei, passei cerca de três anos, e ainda estava na cama. Quando  uma manhã Jesus me fez entender que queria renovar o noivado mas não já na terra como a  primeira vez, mas no Céu diante da presença de toda a corte Celestial, assim que estivesse  preparada para uma graça tão grande. Eu fiz quanto mais pude para dispor-me, mas que, sendo eu  tão miserável e insuficiente para fazer nenhuma sombra de bem, se necessitava a mão do Artífice

Divino para dispor-me, porque por mim jamais teria conseguido purificar minha alma. (225) Uma manhã, era a véspera da natividade de Maria Santíssima, meu sempre benigno Jesus veio Ele mesmo para me dispor. Não fazia mais que ir e vir continuamente, agora me falava  da fé e me deixava, eu me sentia infundir na alma uma vida de fé, minha alma, tosca como a sentia  antes, agora, depois de falar de Jesus me sentia levíssima, em modo de penetrar em Deus, e  agora olhava a Potência, Agora a Santidade, agora a Bondade e demais, e minha alma ficava  estupefata, num mar de espanto e dizia: “Poderoso Deus, que poder diante de Ti não fica desfeito?  Santidade imensa de Deus, que outra santidade por quão sublime seja, ousará comparecer ante  sua presença?” Depois sentia-me descer em mim mesma e via o meu nada, a nulidade das coisas  terrenas, como nada é diante de Deus. Eu me via como um pequeno verme todo cheio de pó que  me arrastava para dar algum passo e que para me destruir não era preciso senão que alguém me  pusesse o pé em cima, e com isso ficava desfeita. Então, vendo-me tão feia, quase não me atrevia  a ir ante Deus, mas ante minha mente se apresentava sua bondade, e me sentia atraída como por  um ímã para ir até Ele e dizia entre mim: “Se é Santo, também é Misericordioso; se é Poderoso,  contém também em Si plena e suma Bondade”. Parecia-me que a bondade o circundava por fora,  e o inundava por dentro. Quando olhava a Bondade de Deus me parecia que ultrapassava a todos  os outros atributos, mas depois, olhando para os outros, via-os todos iguais em si mesmos,  imensos, incomensuráveis e incompreensíveis à natureza humana. Enquanto minha alma estava  neste estado, Jesus voltava e falava da Esperança.

(226) Recordo algo confusamente, porque depois de tanto tempo é impossível recordar  claramente, mas para cumprir a obediência que assim quer, direi por quanto possa.

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(227) Então disse Jesus, voltando à fé: “Para obtê-la é preciso crer. Assim como à cabeça sem a  vista dos olhos tudo é trevas, tudo é confusão, tanto que se quisesse caminhar, agora cairia em um  ponto, agora em outro e terminaria com precipitar-se de todo, assim o alma sem fé, não faz outra  coisa que ir de precipício em precipício, porque a fé serve de vista à alma e como luz que a guia à  vida eterna. Agora, de que é alimentada esta luz da fé? Pela esperança. E de que substância é  esta luz da fé e este alimento da esperança? A caridade. Estas três virtudes estão enxertadas entre  elas, de modo que uma não pode estar sem a outra”.

(228) Com efeito, de que serve ao homem crer nas imensas riquezas da fé, se não as espera para  ele? As verá, sim, mas com olhar indiferente porque sabe que não são suas, mas a esperança  fornece as asas à luz da fé, e esperando nos méritos de Jesus Cristo olha-as como suas e vem  amá-las.

(229) “A esperança”. Dizia Jesus, “fornece à alma uma veste de força, quase de ferro, de modo  que todos os inimigos com suas flechas não podem feri-la, e não só feri-la, senão que nem sequer  lhe causar o mínimo incômodo. Tudo é tranquilidade nela, tudo é paz. Ah! É bom ver esta alma  investida pela esperança, toda apoiada no seu amado, toda desconfiada de si, e toda confiante em  Deus; desafia os inimigos mais ferozes, é rainha das suas paixões, regula todo o seu interior, as  suas inclinações, os desejos, os batimentos, os pensamentos, com tal mestria, que o próprio Jesus  fica apaixonado porque vê que esta alma trabalha com tal coragem e fortaleza; mas ela os toma e  o espera todo dele, tanto que Jesus vendo esta firme esperança, nada sabe negar a esta alma”.

(230) Agora, enquanto Jesus falava da esperança, retirava-se um pouco, deixando-me uma luz na  inteligência. Quem pode dizer o que entendia sobre esperança? Se as outras virtudes, todas  servem para embelezar a alma, mas podem nos fazer vacilar e nos tornar inconstantes, em troca a  esperança volta à alma firme e estável, como aqueles montes altos que não se podem mover nem  um pouco. Parece-me que a alma investida pela esperança lhe sucede como a certos montes  altíssimos, que todas as inclemências do ar não lhes podem fazer nenhum dano, sobre estes  montes não penetra nem neve, nem ventos, nem calor, qualquer coisa se poderia pôr sobre eles, e  se pode estar seguro que ainda que passassem centenas de anos, Onde quer que ele esteja, está  lá. Assim é a alma vestida pela esperança, nada a pode prejudicar, nem a tribulação, nem a  pobreza, nem todos os acidentes da vida, no máximo a desanimam um instante, mas diz entre si:  “Eu tudo posso fazer, tudo posso suportar, todo sofrer esperando em Jesus que é o objeto de todas  as minhas esperanças”. A esperança torna a alma quase onipotente, invencível e lhe fornece a  perseverança final, tanto que só cessa de esperar e perseverar quando tomou posse do Reino do  Céu, então deixa a esperança e toda se lança no oceano imenso do Amor Divino. Enquanto a  minha alma se perdia no mar imenso da esperança, o meu amado Jesus regressava e falava da  caridade dizendo-me:

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(231) “À fé e à esperança une-se a caridade, e esta une tudo o que há nas outras duas, de modo a  formar uma só enquanto são três. Eis, ó minha esposa, simbolizada nas três virtudes teologais à  Trindade das Divinas Pessoas”

(232) Depois prosseguiu: “Se a fé faz crer, a esperança faz esperar, a caridade faz amar. Se a fé é  luz e serve de vista à alma, a esperança que é o alimento da fé fornece à alma o valor, a paz, a  perseverança e todo o resto; a caridade que é a substância desta luz e deste alimento, É como  aquele unguento dulcíssimo e odoroso que penetrando por toda parte, aplaca, adoça as penas da  vida. A caridade torna doce o sofrer e faz chegar a alma até mesmo a desejar este sofrimento. A  alma que possui a caridade expande odor por toda parte, suas obras feitas todas por amor  despedem odor gratíssimo, e qual é este odor? É o cheiro do próprio Deus. As outras virtudes  tornam a alma solitária e quase rústica com as criaturas; a caridade, ao contrário, sendo substância  que une, une os corações, mas onde? Em Deus. A caridade sendo unguento perfumado se  expande por toda parte e por todos. A caridade faz sofrer com alegria os mais impiedosos  tormentos, e chega a não saber estar sem o sofrer, e quando se vê privada dele diz a seu esposo  Jesus: “Me sustente com os frutos, como é o sofrimento, porque definho de amor, e em que outra  maneira posso te mostrar meu amor senão no sofrer por Ti? A caridade queima, consome todas as  outras coisas, e até as mesmas virtudes, e converte tudo nela. Em suma, é como uma rainha que  quer reinar em toda parte, e que não quer ceder este reinar a nenhum”.

(233) Quem pode dizer o que me ficou depois deste falar de Jesus? Só digo que se acendeu em  mim tal desejo de sofrer, e não só desejo, senão que sinto em mim como uma infusão, como uma  coisa natural, tanto, que tenho para mim como a maior desgraça o não sofrer. Depois disso,  naquela manhã, Jesus, para dispor principalmente meu coração, falou sobre a aniquilação de mim  mesma, também me falou sobre o desejo grandíssimo que devia me excitar para me dispor a  receber a graça. Dizia-me que o desejo supre as faltas e imperfeições que possam existir na alma,  que é como um manto que cobre tudo. Mas isto não era um falar simplesmente, era um infundir em  mim o que dizia.

(234) Enquanto minha alma estava se excitando em ardentes desejos de receber a graça o próprio  Jesus queria fazer-me, Ele voltou e transportou-me para fora de mim mesma, para o paraíso, e ali,  diante da presença da Santíssima Trindade e de toda a corte celestial renovou o matrimonio. Jesus  tirou o anel adornado com três pedras preciosas, branca, vermelha e verde e o entregou ao Pai  que o abençoou e o devolveu ao Filho, o Espírito Santo me tomou a mão direita e Jesus me pôs o  anel no dedo anular. Depois fui admitida ao beijo da Três Divinas Pessoas e me abençoaram.

(235) Quem pode dizer minha confusão quando me encontrei diante da Santíssima Trindade? Só digo que assim que me encontrei ante sua presença caí rosto em terra e ali haveria permanecido  se não tivesse sido por Jesus que me animou para ir a sua presença, tanta era a luz, a Santidade

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de Deus. Só digo isto, as outras coisas deixo-as porque as recordo confusamente. (236) Depois disto, recordo que passaram poucos dias, e ao receber a Comunhão perdi os  sentidos e vi a Santíssima Trindade que tinha visto no Céu presente diante de mim, logo me  prostrei ante sua presença, a adorei, confessei meu nada. Lembro-me que me sentia tão abismada  em mim mesma que não me atrevia a dizer uma só palavra, quando uma voz saiu do meio deles e  disse:

(237) “Não temas, dá-te ânimo, viemos para te confirmar como nossa e tomar posse do teu  coração”.

(238) Enquanto esta voz assim dizia, vi que a Santíssima Trindade desceu em meu coração e se  apoderaram dele e aí formaram sua sede. Quem pode dizer a mudança que aconteceu em mim?  Sentia-me divinizada, não mais vivia eu mas eles viviam em mim. A mim me parecia que meu  corpo fosse como uma habitação, e que dentro habitasse o Deus vivente, porque eu sentia a  presença real sensivelmente em meu interior, ouvia sua voz clara que saía de dentro de meu  interior e ressoava nos ouvidos do corpo. Acontecia precisamente como quando há pessoas dentro  de uma sala, que falam e suas vozes se ouvem claras e distintas mesmo de fora.

(239) Desde então não tive mais a necessidade de ir em sua busca a outros lugares para encontra-lo, mas estava dentro do meu coração. E quando algumas vezes se escondia e eu fui em  busca de Jesus girando pelo céu e pela terra, buscando a meu sumo e único Bem, enquanto me  encontrava na fogueira das lágrimas, na intensidade dos desejos, nas penas inenarráveis por havê lo perdido, Jesus saía de dentro de mim e me dizia:

(240) “Estou aqui contigo, não me procures em outro lugar”.

(241) Eu, entre o espanto e o contentamento de tê-lo encontrado, dizia-lhe: “Meu Jesus, como toda  esta manhã me fizeste girar e girar para te encontrar e estavas aqui? Podias ter-me dito, para não  me ter esforçado tanto doce Bem meu, amada Vida minha, olha como estou cansada, não tenho  mais forças, sinto-me desfalecer, ah, sustem me entre seus braços porque me sinto morrer. E  Jesus me tomava em seus braços e me fazia repousar, e enquanto repousava me sentia restituir  as forças perdidas.

(242) Outras vezes, neste encobrimento que Jesus fazia e eu que ia em busca Dele, quando se  fazia ouvir dentro de mim e que depois saía de dentro de mim não só Jesus, mas as Três Divinas  Pessoas, encontrava-as agora em forma de três crianças graciosas e sumamente belas, agora um  só corpo e três cabeças diferentes, mas de uma mesma semelhança, as três igualmente atraentes.  Quem pode dizer meu contentamento? Especialmente quando via os três meninos e que eu os  continha aos três entre meus braços, agora beijava a um, agora ao outro, e Eles me beijavam a  mim, agora um se apoiava em um ombro meu e outro no outro e um me ficava de frente, e  enquanto me gozava neles, com grande assombro fazia por olhar, e de três encontrava a um só.

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(243) Outra coisa que me maravilhava quando me encontrava com estas três crianças era que o mesmo pesava um que os três juntos. Tanto amor sentia eu por uma destas crianças como pelos  três, e os três me atraíam do mesmo modo.

(244) Para terminar a minha intervenção sobre estes discursos, tive de deixar passar algumas  coisas para seguir o fio da meada, mas agora estou pronto para as dizer.

Matrimônio da cruz. Fala-lhe deste matrimônio e narra as crucifixões que sofreu.  

(245) Regressando ao princípio, quando Jesus se dignava vir, freqüentemente me falava de sua  Paixão e punha atenção a dispor minha alma à imitação de sua Vida e de suas penas, dizendo-me  que além do matrimônio já descrito ficava outro por fazer, e este era o desponsório da cruz.  Lembro-me de me dizer:

(246) “Minha esposa, as virtudes tornam-se fracas se não forem corroboradas, fortificadas pelo  enxerto da cruz. Antes de minha vinda à terra, as penas, as confusões, os opróbrios, as calúnias,  as dores, a pobreza, as enfermidades, especialmente a cruz, eram consideradas como opróbrios,  mas desde que foram levados por Mim, todos ficaram santificados e divinizados por meu contato,  Assim que todos mudaram aspecto e se tornaram doces, gratos, e a alma que tem o bem de ter  algum deles fica honrada, e isto porque recebeu a divisa de Mim, Filho de Deus. E só experimenta  o contrário quem só vê e se detém na casca da cruz, e encontrando o amargo se desgosta, se  lamenta e parece que lhe chegou uma desgraça, mas quem penetra dentro, encontrando o  saboroso, aí forma sua felicidade. Minha filha amada, não desejo outra coisa que o crucificar na  alma e no corpo”.

(247) E enquanto dizia isto sentia-me infundir tais desejos de ser crucificada com Jesus Cristo, que  freqüentemente ia repetindo: “Meu Jesus, Meu Amor, faze-o logo, crucifica – me Contigo”. E  quando Jesus regressava, as primeiras petições que lhe fazia e que me pareciam mais importantes  eram estas: a dor dos meus pecados e a graça de que me crucificasse com Ele. Parecia-me que se  obtivesse isto teria obtido tudo.

248) Então, uma manhã, o meu amantíssimo Jesus apareceu diante de mim crucificado e disse-me  que queria crucificar-me com Ele, e, enquanto dizia isto, vi que de suas santíssimas chagas saíram  raios de luz, e dentro destes raios os pregos que vinham a mim. Enquanto estava nisto, não sei por  que, enquanto desejava tanto que me crucificasse, tanto que me sentia consumir, fui surpreendida  por um grande temor que me fazia tremer da cabeça aos pés, sentia tal aniquilamento de mim  mesma, me via tão indigna de receber esta graça, que não me atrevia a dizer: “Senhor, faze-me  Contigo”. Parecia que Jesus estava em suspenso esperando o meu querer. Quem pode dizer como  no íntimo de minha alma o desejava ardentemente, mas ao mesmo tempo me via indigna? Minha

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natureza se assustava e tremia. Enquanto eu estava nisto, meu amado Jesus intelectualmente me  pedia que aceitasse, então com todo o coração lhe disse: “Esposo Santo, crucificado por mim,  peço-te que me concedas a graça de me crucificar, e ao mesmo tempo peço-te que não faças  aparecer nenhum sinal externo. Sim, dá-me a dor, dá-me as chagas, mas que tudo fique oculto  entre nós”.

(249) E assim aqueles raios de luz, juntamente com os pregos, trespassaram-me as mãos e os  pés, e o coração foi trespassado por um raio de luz juntamente com uma lança. Quem pode dizer a  dor e a alegria? Quanto mais depressa fui surpreendida pelo temor, mais tarde a minha alma  nadava no mar da paz, da alegria e da dor. Era tanto a dor que sentia nas mãos, nos pés e no  coração, que me sentia morrer; os ossos das mãos e dos pés sentia que me faziam pequenos  pedaços, sentia como se estivesse um prego dentro, mas ao mesmo tempo me causava tal  contente, que não sei explicar, e me fornecia tal força, que enquanto me sentia morrer pela dor,  essas mesmas dores me sustentavam para fazer que não morresse. Mas na parte externa do  corpo nada aparecia, mas sentia as dores corporalmente, tão é verdade, que quando vinha o  confessor para me chamar à obediência e me soltava os braços e as mãos contraídas, cada vez  que me tocava nesse ponto das mãos, onde tinha trespassado o raio de luz junto com o prego,  sentia penas mortais. No entanto, quando o confessor ordenava por obediência que cessassem  essas dores, muitos se mitigavam, porque essas dores eram tão fortes que me faziam perder os  sentidos, e se não se tivessem atenuado ante a obediência, dificilmente me teria prestado a  obedecer. ¡ Oh prodígio da santa obediência, você foi tudo para mim! Quantas vezes me encontrei  em contraste com a morte, tanta era a força das dores, e a obediência me restituiu a vida. Seja  sempre bendito o Senhor, seja tudo para sua glória.

(250) Agora, enquanto me sentia em mim mesma, nada via, mas quando perdia os sentidos via as  partes marcadas pelas chagas de Jesus, parecia-me que as chagas do próprio Jesus se tinham  transferido para as minhas mãos. Esta foi a primeira vez que Jesus me crucificou, porque destas crucifixões tem havido tantas, que é impossível numera-los todos, direi somente as coisas  principais relacionadas com isto.

(251) Agora, voltando Jesus, dizia-lhe: “Amado, meu Jesus, dá-me a dor dos meus pecados,  assim, os meus pecados consumidos pela dor, pelo arrependimento de te ter ofendido, podem ser  apagados da minha alma e também da tua memória, sim, dá-me tanta dor por quanto ousei  ofender-te. Mais bem faça que a dor supere isto, assim poderei me estreitar mais intimamente a Ti.

(252) Lembro-me que uma vez, enquanto eu estava dizendo isso, meu sempre benigno Jesus me  disse:

(253) “Já que tu desgosta tanto de ter me ofendido, eu quero que você se disponha a fazer você  sentir a dor de seus pecados, e assim veja como o pecado é feio, e que dor acerba meu coração

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sofreu. Por isso dei junto Comigo: “Se passo o mar, no mar Tu estás, embora não te veja; piso a  terra e estás debaixo dos meus pés, pequei”.

(254) Logo Jesus, em voz baixa, acrescentou quase chorando:

(255) “No entanto te amei, e ao mesmo tempo te conservei”.

(256) Enquanto Jesus dizia isto e eu o repetia junto com Ele, fui surpreendida por tal dor pelas  ofensas feitas que caí rosto a terra, e Jesus desapareceu.

(257) Poucas foram as palavras, mas eu entendi tantas coisas que é impossível dizer tudo o que  compreendi. Nas primeiras palavras compreendi a imensidão, a grandeza, a presença de Deus em  cada coisa presente, sem que pudesse escapar d’Ele nem sequer a sombra do nosso pensamento,  compreendi também o meu nada em comparação com uma Majestade tão grande e santa. Na  palavra “pequei”, compreendia a fealdade do pecado, a maldade, a ousadia que eu tinha tido ao  ofendê-lo. Agora, enquanto minha alma estava considerando isso, ao ouvir Jesus Cristo dizer: “E  ainda assim amei-te e ao mesmo tempo mantive-te”. Meu coração foi tomado por tal dor que me  sentia morrer, porque compreendia o amor imenso que o Senhor me tinha no ato mesmo em que  eu procurava ofendê-lo, e mesmo matá-lo. ¡ Ah Senhor, como você tem sido bom para mim, e eu  sempre ingrata e tão ruim ainda!

(258) Lembro que cada vez que vinha era um alternar-se, ora pedia-lhe a dor dos meus pecados,  e ora a crucificação, e também outras coisas. Como uma manhã enquanto me encontrava em  meus acostumados sofrimentos, meu amado Jesus me transportou para fora de mim mesma e me  fez ver um homem que era assassinado a balas, e que assim que expirava ia ao inferno. ¡ Oh,  quanta pena dava a Jesus a perda daquela alma! Se todo o mundo soubesse quanto Jesus sofre  pela perda das almas, não digo por elas, mas pelo menos para poupar essa pena a nosso Senhor,  usariam todos os meios possíveis para não se perder eternamente. Agora, enquanto junto com  Jesus me encontrava no meio das balas, Jesus aproximou seus lábios ao meu ouvido e me disse:

(259) “Minha filha, queres tu oferecer-te vítima pela salvação desta alma e tomar sobre ti as penas  que merece por seus grandíssimos pecados?”

(260) Eu respondi: “Senhor, estou disposta, mas com o pacto de que o salves e lhe restituas a  vida”. Quem pode dizer os sofrimentos que me chegaram? Foram tais e tantos que eu mesma não  sei como fiquei com vida. Agora, enquanto me encontrava neste estado de sofrimentos há mais de  uma hora, veio meu confessor para me chamar à obediência, e encontrando-me muito sofredor,  com dificuldade pude obedecer, por isso me perguntou a razão de tal estado, eu disse-lhe o fato  assim como o descrevi acima, dizendo-lhe o ponto da cidade onde me pareceu que tinha  acontecido. O confessor me disse que era certo o fato e que o davam por morto, mas depois se  soube que estava gravíssimo e que pouco a pouco se restabeleceu e vive ainda. Seja sempre  bendito o Senhor.

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(261) Lembro-me de que, seguindo o meu pedido de crucificação e transportando-me para fora de  mim mesma, Jesus levou-me aos lugares santos de Jerusalém, onde Nosso Senhor padeceu a sua  dolorosa Paixão, e ali encontramos muitas cruzes e o meu amado Jesus disse-me:

(262) “Se tu soubesses que bem a cruz contém em si, como torna preciosa a alma, que gema de  inestimável valor adquire quem tem o bem de possuir os sofrimentos, basta dizer-te somente que  vindo à terra não escolhi as riquezas, os prazeres, mas tive como amadas e íntimas irmãs a cruz, a  pobreza, os sofrimentos e as ignomínias”.

263) Enquanto assim dizia, mostrava um gosto tal, uma alegria pelo sofrimento, que essas  palavras me trespassavam o coração como tantos dardos ardentes, tanto que me sentia faltar a  vida se o Senhor não me concedia o sofrer, e com toda a força e a voz que tinha não fazia outra  coisa que lhe dizer: “Esposo Santo, dá-me o sofrer, dá-me as cruzes, só com isto saberei que me  amas, se me contentares com as cruzes e com os sofrimentos”. E então tomava uma daquelas  cruzes maiores que via, punha-me sobre ela e rogava a Jesus que viesse crucificar-me, e Ele se  comprazia em tomar minha mão e começava a traspassá-la com o prego, de vez em quando o  bendito Jesus me perguntava:

(264) “Que, te dói muito? Quer que eu pare?”

(265) E eu: “Não, não, meu amado, continua, dói, sim, mas estou contente”. E temia tanto que não  acabasse de me crucificar, que não fazia outra coisa senão dizer-lhe: “Faze-o depressa, ó Jesus,  faze-o depressa, não demores tanto”. Mas o que, quando tinha que cravar a outra mão, os braços  da cruz se encontravam curtos, enquanto antes me haviam parecido suficientes para poder  crucificar-me. Quem pode dizer como ficou mortificada? Isto repetia-se em muitas ocasiões, e às  vezes se os braços da cruz eram adequados, o comprimento da haste não alcançava para poder  distender os pés, em uma palavra, faltava sempre alguma coisa para não se poder cumprir de todo  a crucificação. Quem pode dizer a amargura de minha alma e os lamentos que fazia com Nosso  Senhor porque não me concedia o verdadeiro sofrimento? Dizia-lhe: “Meu amado, tudo termina em  burla, dizias-me que querias levar-me ao Céu, e logo de novo me fazias voltar à terra, dizias-me  que querias crucificar-me, e jamais chegamos à completa crucificação”. E Jesus novamente me  prometeu que me crucificaria.

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1-2

Setembro 14, 1899

(1) Uma manhã, era o dia da exaltação da cruz, o meu doce Jesus transportou-me aos lugares

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santos, mas antes disse-me tantas coisas da virtude da cruz, não me lembro de tudo, apenas  alguma coisa:

(2) “Amada minha, queres ser bela? A cruz lhe dará os traços mais belos que se podem encontrar  tanto no Céu como na terra, tanto de apaixonar a Deus que contém em Si todas as belezas”.  (3) E continuava Jesus: “Queres tu estar cheia de imensas riquezas, não por breve tempo, mas por  toda a eternidade? Pois bem, a cruz te fornecerá todas as espécies de riquezas, desde os mais  pequenos centavos, como são as pequenas cruzes, até as sumamente maiores, que são as cruzes  mais pesadas, porém os homens que são tão ávidos por ganhar dinheiro temporário, que logo  deverão deixar, não se preocupam em adquirir um centavo eterno, e quando Eu, tendo compaixão  deles, vendo sua despreocupação por tudo o que se refere ao eterno, benignamente lhes levo a  ocasião, em vez de tomá-lo a bem se indignam e me ofendem, que loucura humana, parece que a  entendem ao contrário! Minha querida, na cruz estão todos os triunfos, todas as vitórias e as  maiores aquisições, para ti não deve haver outra mira senão a cruz, e esta te bastará por tudo.  Hoje quero te contentar, aquela cruz que até agora não bastava para poder te estender e crucificar te completamente, é a cruz que tu levaste até agora, portanto, devendo crucificar-te  completamente, tens necessidade de que faça descer novas cruzes sobre ti, então aquela cruz que  até agora me levaste a levarei ao Céu para mostrá-la a toda a corte celestial como penhor de seu  amor, e outra maior farei descer do Céu para poder satisfazer meus ardentes anseios que tenho  sobre ti”.

(4) Enquanto Jesus dizia isto, apresentou-se diante de mim aquela cruz que tinha visto as outras  vezes, eu tomei-a e estendi-me sobre ela, enquanto estava assim abriu-se o Céu e dele desceu o  evangelista João, e trazia a cruz que Jesus me tinha indicado; a Rainha Mãe e muitos anjos,  quando chegaram junto a mim, tiraram-me de cima daquela cruz e puseram-me sobre a que me  tinham trazido, muito maior, um anjo tomou aquela cruz de antes e a levou ao Céu. Depois disso,  Jesus com suas próprias mãos começou a me pregar sobre aquela cruz, a Mamãe Rainha me  assistia, os anjos e João proporcionavam os pregos. Meu doce Jesus mostrava tal alegria e alegria  ao crucificar-me, que só por dar essa alegria a Jesus não só teria sofrido a cruz, mas outras penas  ainda. ¡ Ah, me parecia que o Céu fazia nova festa por mim ao ver o contente de Jesus! Muitas  almas do purgatório foram libertadas, embarcando no vôo para o Céu, e alguns pecadores foram  convertidos, porque meu Divino Esposo a todos fez partícipes do bem de meus sofrimentos. Além  disso, quem pode dizer as dores intensas que sofri ao estar bem estendida sobre a cruz e ao  serem trespassadas as mãos e os pés com os pregos? Mas especialmente nos pés era tanta A  atrocidade das penas, que não podem ser descritas. Quando terminaram de me crucificar e eu me  sentia nadando no mar das penas e das dores, a Mamãe Rainha disse a Jesus: “Meu filho, hoje é

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dia de graça, quero que lhe compartilhe todas suas penas, não fica mais que lhe atravesse o  coração com a lança e lhe renove a coroa de espinhos”. Então Jesus tomou a lança e me  traspassou o coração de lado a lado, os anjos tomaram uma coroa de espinhos muito densa, a  deram na mão à Santíssima Virgem, e Ela mesma me cravou na cabeça.

(5) Que dia memorável foi para mim! de dores, sim, mas também de contentos, de penas indizíveis,  mas também de alegrias. Basta dizer que era tanta a força das dores, que Jesus todo esse dia não  se moveu de meu lado para sustentar minha natureza que desfalecia pela intensidade das penas.  Aquelas almas do purgatório que tinham voado para o Céu, desciam junto com os anjos e  rodeavam minha cama me recreando com seus cânticos e agradecendo afetuosamente que por  meus sofrimentos as havia liberado daquelas penas.

(6) E sucedeu que, tendo passado cinco ou seis dias daquelas penas tão intensas, com grande  aflição minha, começaram a diminuir, e então pedi ao meu amado Jesus que me renovasse a  crucificação, e Ele, às vezes cedo e às vezes não, Tinha prazer em me transportar aos lugares  santos e me participava as penas de sua dolorosa Paixão. Agora a coroa de espinhos, agora a  flagelação, agora levava a cruz ao calvário e agora a crucificação. Às vezes um mistério por dia e,  às vezes, tudo num dia, segundo Ele gostava, e isto era para a minha alma de grande dor e  contentamento. Mas me resultava amarguíssimo quando mudava a cena, e em vez de sofrer eu,  era espectadora de ver sofrer a meu amadíssimo Jesus as penas da dolorosa Paixão. Ah, quantas  vezes eu estava no meio dos judeus junto com a Mãe Rainha para ver meu amado Jesus sofrer!  Ah, sim, como é verdade que é mais fácil sofrer-se a si mesmo do que ver sofrer a pessoa amada!  Outras vezes, renovando o meu doce Jesus estas crucifixões, recordo que me disse:

(7) “Amada minha, a cruz faz distinguir os réprobos dos predestinados. Bem como no dia do juízo  os bons se alegrarão ao ver a cruz, assim desde agora se pode ver se algum se salvará ou se  perderá, se ao apresentar-se a cruz a alma a abraça, a leva com resignação, com paciência e beija  e agradece à mão que a envia, é sinal de que é salvo; se ao contrário, ao apresentar-se a cruz se  irritam, a desprezam e chegam até me ofender, pode dizer que é um sinal de que essa alma se  encaminha pela via do inferno; assim farão os réprobos no dia do juízo, que ao ver a cruz se  afligirão e blasfemarão. A cruz diz tudo, a cruz é um livro que sem engano e a claras notas te diz e  te faz distinguir o santo do pecador, o perfeito do imperfeito, o fervoroso do morno. A cruz  comunica tal luz à alma, que desde agora não só faz distinguir o bom do réu, senão faz conhecer  quem deve ser mais ou menos glorioso no Céu, quem deve ocupar um posto superior ou um posto  menor. Todas as outras virtudes estão humildes e reverentes diante da virtude da cruz, e  enxertando-se com ela recebem maior brilho e esplendor”.

(8) Quem pode dizer que chamas de desejos ardentes punha em meu coração este falar de Jesus?  Sentia-me devorar pela fome de sofrer, e Ele para satisfazer minhas ânsias, ou bem, para dizê-lo

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melhor, o que Ele mesmo me infundia, renovava-me a crucificação.

(9) Recordo que às vezes, depois de renovadas estas crucifixões me dizia:

(10) “Amada do meu coração, desejo ardentemente não só crucificar-te a alma e comunicar-te as  dores da cruz ao corpo, mas desejo selar-te também o corpo com o selo das minhas chagas, e  quero ensinar-te a oração para obter esta graça, a oração é esta: “Eu me apresento diante do trono  supremo de Deus, banhada no sangue de Jesus Cristo, pedindo-lhe que, pelo mérito de suas  preclaríssimas virtudes e de sua Divindade, me conceda a graça de crucificar-me”.

(11) E eu, apesar de que sempre tive aversão a tudo o que pode aparecer exteriormente, como  ainda a tenho, no ato em que Jesus dizia, isto me sentia infundir tal anelo de satisfazer o desejo  que Ele mesmo dizia, que também eu me atrevia a dizer a Jesus que me crucifica na alma e no  corpo, e algumas vezes lhe dizia: “Esposo Santo, coisas exteriores não gostaria, e se alguma vez  me atrevo a dizê-lo, é porque Tu mesmo me dizes, e também para dar um sinal ao confessor de  que és Tu quem obra em mim. De resto não queria outra coisa senão que aquelas dores que me  fazes sofrer quando me renovas a crucificação, fossem permanentes, não queria essa diminuição  depois de algum tempo, e só isso me basta, e que da aparência externa, quanto mais o possas  manter oculto, tanto mais me contentará”.

Confissão com Jesus. Luísa se confessa com Jesus .

(12) Lembro-me confusamente que, como lhe pedia frequentemente, quando me encontrava junto  com Nosso Senhor, a dor dos meus pecados e a graça de que me perdoasse tudo o que de mal  tinha feito, e às vezes chegava a dizer-lhe que estaria contente quando de sua própria boca me  dissesse: “Eu perdoo todos os seus pecados”. E Jesus bendito, que nada sabe negar quando é  para nosso bem, uma manhã fez-se ver e me disse:

(13) “Desta vez quero fazer eu mesmo o ofício de confessor, e tu me confessarás a Mim todas as  tuas culpas, e no momento em que fizeres isto te farei compreender um por um as dores que deste  ao meu coração ao me ofender, a fim de que compreendendo tu, por quanto pode uma criatura, o  que é o pecado, tome a resolução de preferir morrer que me ofender. Enquanto tu entra no teu  nada e recita o eu pecador”.

(14) Eu, entrando em mim mesma, advertia toda a minha miséria e maldades, e diante de sua  presença tremia toda, e me faltava a força de pronunciar as palavras do eu pecador, e se o Senhor  não tivesse infundido em mim nova força, dizendo-me: “Não temas, ainda que seja juiz, sou  também teu pai, coragem, sigamos em frente”. Teria ficado lá sem dizer uma palavra. Então disse  o eu pecador toda cheia de confusão e humilhação, e como me via toda coberta por minhas culpas,  dando um olhar descobri que a culpa que mais tinha ofendido a Nosso Senhor era a soberba e por

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isso disse: “Senhor, me acuso ante tua presença de que tenho pecado de soberba”. E Ele: (15) “Aproxima-te do meu coração, ouve-me, e ouve o rasgo cruel que fizeste ao meu coração  com este pecado”.

(16) Toda tremendo pus meu ouvido sobre seu coração adorável, mas quem pode dizer o que ouvi  e compreendi naquele instante? Mas depois de tanto tempo direi só alguma coisa confusamente.  Lembro-me que o seu coração batia tão forte que parecia que queria partir-lhe o peito, logo me  parecia que se despedaçava e pela dor ficava quase destruído. ¡ Ah, se Poderia ter destruído o Ser  Divino com a soberba! Ponho uma semelhança para fazer-me entender, de outra maneira não  tenho palavras para expressar-me: Imaginai um rei e a seus pés um verme, que elevando-se e  inflando se começa a crer alguma coisa e que chega a tal atrevimento, que elevando-se pouco a  pouco, chega à cabeça do rei e quer tirar-lhe a coroa para colocá-la sobre sua cabeça, logo o  despoja de suas vestes reais, o lança do trono e finalmente trata de matá-lo. Mas o pior deste  verme é que ele mesmo não conhece seu próprio ser, engana-se a si mesmo, pois para se  desfazer dele só se necessita que o rei o ponha debaixo dos pés e o esmague, e assim  terminariam seus dias. Isso causa raiva e compaixão, e ao mesmo tempo ridiculariza o orgulho  deste verme se isto pudesse ser dado. Assim me via eu diante de Deus, o que me encheu de tal  confusão e dor que me senti renovar em meu coração o rasgo que sofria o bendito Jesus.

(17) Depois disso me deixou, e eu sentia tanta pena e compreendia como é feio este pecado de  soberba, que é impossível descrevê-lo. Quando pensei muito bem em tudo isso em mim mesma,  meu bom Jesus voltou e me disse para continuar a confissão de minhas culpas, e eu, tremendo,  continuei me acusando dos pensamentos, palavras, obras, causas e omissões, e quando via que  eu não podia seguir fazendo a confissão pela pena que sentia de havê-lo tanto ofendido, porque  tinha uma claridade tão viva diante daquele Sol divino, especialmente porque n’Ele descobria a  pequenez, a nulidade do meu ser e ficava assombrada de como eu tinha tido tanta ousadia, de  onde tinha tomado eu essa coragem de ofender a um Deus tão bom que no ato mesmo em que o  ofendia, Ele me assistia, me conservava, me alimentava, e se tinha algum rancor comigo, era para  o pecado que eu fazia, e que odiava sumamente, em troca a mim me amava imensamente, me  desculpava ante a Divina Justiça, e se ocupava tudo para remover aquele muro de divisão que  tinha produzido o pecado entre a alma e Deus. ¡ Oh, se todos pudessem ver quem é Deus, e quem  é a alma no momento em que se pecaria, todos morreriam de dor e eu acredito que o pecado seria  exilado da terra!

(18) Então, quando Jesus bendito via que pela pena não podia mais, retirava-se e me deixava para  que compreendesse muito bem o mal que tinha feito, e depois voltava de novo e eu continuava  acusando minhas culpas.

(19) Mas quem pode dizer tudo o que compreendi, e explicar, uma por uma, as diversas afrontas e

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as dores especiais que com as minhas culpas tinha causado a Nosso Senhor? Sinto-me quase  impossibilitada de me explicar e também porque não me lembro muito bem. Quando terminei minha  acusação, que durou cerca de sete horas, o amável Jesus tomou o aspecto de pai amorosíssimo, e  como eu me encontrava esgotada de forças pela dor, e muito mais porque via que não era uma dor  suficiente para me doer como convinha a minhas culpas Ele para me animar disse-me:

(20) “Eu quero suprir-te, e aplico à tua alma o mérito da dor que tive no jardim do Getsêmani. Só  isto pode satisfazer à Divina Justiça”.

(21) Depois de ter aplicado a minha alma a sua dor, então pareceu-me disposta a receber a  absolvição. Toda humilhada e confusa como estava, e prostrada aos pés do bom Pai Jesus, com  os raios que enviava à minha mente tratava de me excitar principalmente à dor dizendo, se bem  não recordo tudo: “Grande, sumo foi o mal que fiz a Ti. Estas potências minhas e estes sentidos do  corpo deviam ter sido tantas línguas para te louvar, ah, em troca foram como tantas víboras  venenosas que te mordiam e procuravam até mesmo te matar. Mas, Santo Padre, perdoe-me, não  queira me jogar de Ti pelo grande mal que te fiz pecando”

(22) E Jesus: “E tu, prometes não pecar mais e afastar do teu coração qualquer sombra de mal  que possa ofender o teu Criador?”

(23) E eu: “Ah sim, com todo o coração te prometo. mas bem quero mil vezes morrer que voltar a  pecar, nunca mais, nunca mais”.

(24) E Jesus: “E Eu te perdoo e aplico à tua alma os méritos de minha Paixão e quero lavá-la em  meu sangue”.

(25) E, enquanto dizia isto, levantou a sua mão direita abençoada e pronunciou as palavras da  absolvição, exatas às palavras que o sacerdote diz quando dá a absolvição, e no ato em que isto  fazia, de sua mão corria um rio de sangue, e minha alma ficava toda inundada por ela.  (26) Depois disso me disse: “Vem, ó filha, vem fazer penitência por teus pecados beijando minhas  feridas”.

(27) Toda tremula me levantei e lhe beijei suas sacratíssimas chagas e depois me disse: (28) “Minha filha, sê mais atenta e vigilante, porque hoje te dou a graça de não cair mais no  pecado venial voluntário”.

(29) Depois me fez outras exortações que não recordo bem e desapareceu. Quem pode dizer os  efeitos desta confissão feita a Nosso Senhor? Sentia-me toda encharcada na graça, e ficou-me tão gravada que não posso esquecê-la, e cada vez que me lembro, sinto correr um arrepio nos ossos,  e ao mesmo tempo sinto horror ao pensar qual é a minha correspondência a tantas graças que o  Senhor me fez.

(30) Outras vezes o Senhor se dignou a dar-me Ele mesmo a absolvição, às vezes tomando o  aspecto de sacerdote, e eu me confessava como se fosse sacerdote, se bem sentia diversos

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efeitos, e depois de terminada se fazia conhecer que era Jesus; e às vezes abertamente vinha  fazendo-se conhecer que era Jesus; também algumas vezes tomava o aspecto do confessor, tanto  que eu acreditava que falava com o confessor e lhe dizia todos meus temores, minhas dúvidas;  mas pelo modo de responder-me, pela suavidade da voz, entrelaçada agora como a voz do  confessor e agora como a de Jesus, por seu trato amável e pelos efeitos internos, descobria eu  quem era. Ah, se eu quisesse dizer tudo sobre estas coisas me estenderia muito! Por isso termino  e ponho ponto.

(31) Recordo que houve uma segunda guerra entre a África e a Itália, e o bendito Jesus, um dia,  cerca de nove meses antes, me transportou para fora de mim mesma e me fez ver um caminho  muito longo, cheio de cadáveres imersos no sangue que a rios inundava esse caminho. Dava  horror ver esses cadáveres expostos ao ar livre, sem nem sequer ter quem os sepultasse. Eu toda  assustada disse a Nosso Senhor: “O que é isto?”

(32) E Ele: “No próximo ano haverá guerra. Servem-se da carne para me ofender, e Eu sobre sua  carne eu quero fazer a minha justa vingança”.

(33) Ele disse outras coisas, mas já passou tanto tempo que eu não me lembro. (34) Agora, aconteceu que passado esse período de tempo começou a se ouvir que entre a Itália e  a África havia guerra. Eu rogava ao bom Jesus que livrasse muitas vítimas e que tivesse piedade  de tantas almas que iam ao inferno.

(35) Uma manhã, como o habitual me transportou fora de mim mesma e via que quase todas as  pessoas estavam convencidas de que devia vencer a Itália, me pareceu encontrar-me em Roma e  via os deputados que tinham conselhos sobre o modo como deviam conduzir a guerra para  estarem seguros de fazer vencer a Itália. Estavam tão inchados de si mesmos que davam piedade,  mas o que mais me impressionou foi ver que estes tais, quase todos eram sectários, almas  vendidas ao demônio. Que tristes tempos! parecia que propriamente reinava o reino satânico, e  sua confiança em vez de colocá-la em Deus a punham no demônio. Agora, enquanto estavam  deliberando, meu bendito Jesus me disse:

(36) “Vamos ouvir que se dizem”.

(37) Então me pareceu entrar em seu círculo junto com Jesus. Jesus passeava-se no meio e  derramava lágrimas sobre o seu miserável estado. Quando terminaram de deliberar sobre o modo  de como deviam fazer, vangloriando-se de estar seguros da vitória, Jesus se dirigiu a eles e lhes  disse, ameaçando-os:

(38) “Confiais em vós mesmos e por isso vos humilharei, desta vez perderá a Itália”. Termino da novena de Natal. As 7 meditações restantes da novena de Natal.

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(39) Agora, para obedecer retorno para dizer o que eu deixei na página 6 deste primeiro volume,  isto é, a novena de Natal, em que da segunda meditação passou para a terceira e uma voz interior  me dizia:

(40) 3º. – “Minha filha, apoia tua cabeça sobre o seio de minha Mamãe, olha dentro dele a minha  pequena Humanidade , meu Amor me devorava, os incêndios, os oceanos, os mares imensos do  Amor de minha Divindade me inundavam, me incineravam, levantavam tão alto suas chamas que  se elevavam e se estendiam por toda parte, a todas as gerações, desde o primeiro até o último  homem e minha pequena Humanidade era devorada no meio de tantas chamas, mas sabe você  que coisa queria me fazer devorar meu Eterno Amor? Ah, para as almas! E só fiquei contente  quando as devorei todas, ficando todas concebidas Comigo, era Deus, devia agir como Deus,  devia tomá-las a todas; meu Amor não me teria dado paz se tivesse excluído a alguma. Ah minha  filha, olha bem no seio da minha Mãe, fixa bem os olhos na minha Humanidade recém concebida e  nela encontrarás a tua alma concebida Comigo, e também as chamas do meu Amor que te  devoraram. ¡ Oh, quanto te amei e te amo!”.

(41) Eu me perdia no meio de tanto amor, não sabia sair dali, mas uma voz me chamava forte  dizendo-me:

(42) “Minha filha, isto é nada ainda, abraça-te mais a Mim, dá as tuas mãos à minha amada Mãe a  fim de que te tenha apertada sobre o seu seio materno, e tu dá outro olhar à minha pequena  Humanidade concebida e olha o quarto excesso do meu Amor”.

(43) 4º. – “Minha filha, do amor devorador passa a olhar meu Amor obrante. Cada alma concebida  me levou o fardo de seus pecados, de suas fraquezas e paixões, e meu Amor me ordenou tomar o  fardo de cada um, e não só concebi as almas, mas as penas de cada uma, as satisfações que  cada uma delas devia dar a meu Celestial Pai. Assim que minha Paixão foi concebida junto  Comigo. Olhe-me bem no seio de minha Celestial Mamãe. Oh como minha pequena Humanidade  era rasgada, olhe bem como minha pequena cabeça está circundada por uma coroa de espinhos,  que cingindo-me forte as têmporas me faz derramar rios de lágrimas dos olhos, e não posso me  mover para secá-las. Ah, move-te a compaixão de Mim, seca-me os olhos de tanto pranto, tu que  tens os braços livres para me poder fazer isso, estes espinhos são a coroa dos tantos  pensamentos maus que se amontoam nas mentes humanas, oh, como me picam mais estes  pensamentos que os espinhos que produz a terra, mas olhe que longa crucificação de nove meses,  não podia mover nem um dedo, nem uma mão, nem um pé, estava aqui sempre imóvel, não havia  lugar para poder me mover um pouquinho, que longa e dura crucificação, com o agregado de que  todas as obras más, tomando a forma de pregos, me trespassavam mãos e pés repetidamente”. E  assim continuava a me contar pena por pena todos os martírios de sua pequena Humanidade, e

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que amá-las dizer todas seria muito extenso. Então eu me abandonava ao pranto, e ouvia dizer em  meu interior:

(44) “Minha filha, gostaria de te abraçar mas não posso fazê-lo, não há espaço, estou imóvel, não  o posso fazer; queria ir a ti mas não posso caminhar. Por agora me abrace e venha você a Mim,  depois quando sair do seio materno irei Eu a ti”.

(45) Mas enquanto com minha fantasia o abraçava, o estreitava fortemente a meu coração, uma  voz interior me dizia:

(46) “Basta por agora minha filha, e passa a considerar o quinto excesso do meu Amor”.  (47) 5º. – Então a voz interior seguia: “Minha filha, não te afastes de Mim, não me deixes sozinho,  meu Amor quer companhia, este é outro excesso do meu Amor o não querer estar sozinho. Mas  você sabe de quem esta companhia quer? Da criatura. Olhe, no seio de minha Mãe, Comigo estão  todas as criaturas concebidas junto Comigo. Eu estou com elas todo amor, quero dizer-lhes quanto  as amo, quero falar com elas para lhes dizer as minhas alegrias e as minhas dores, para lhes dizer que vim no meio delas para as fazer felizes, para as consolar, e que estarei no meio delas como  seu irmãozinho dando a cada uma todos os meus bens, o meu reino, à custa da minha morte.  Quero lhes dar meus beijos, minhas carícias; quero me entreter com elas, mas, ai, quantas dores  me dão, quem me foge, quem se faz surda e me reduz ao silêncio, quem despreza meus bens e  não se preocupam com meu reino e correspondem meus beijos e carícias com o descuido e o  esquecimento de Mim, e meu entretenimento o convertem em amargo pranto. ¡ Oh, como estou  sozinho, apesar de estar no meio de tantos! Oh, como me pesa minha solidão! não tenho a quem  dizer uma palavra, com quem fazer um desabafo de amor; estou sempre triste e taciturno, porque  se falo não sou escutado. Ah, minha filha, peço-te, suplico-te que não me deixes sozinho em tanta  solidão! me dê o bem de me fazer falar com ouvir-me, preste ouvidos aos meus ensinamentos, Eu  sou o mestre dos mestres. Quantas coisas quero te ensinar. Se me escutares vais fazer-me parar  de chorar e entreter-me contigo, não queres tu entreter-te Comigo?”. E enquanto me abandonava  nele, compadecendo-o na sua solidão, a voz interior continuava:

(48) “Basta, basta, passa a considerar o 6º excesso do meu Amor”.

(49) 6º. – “Minha filha, vem, roga a minha amada Mãe que te faça um lugar no seu seio materno, a  fim de que tu mesma vejas o estado doloroso em que me encontro”.

(50) Então me parecia com o pensamento, que nossa Rainha Mãe, para contentar a Jesus me  fazia um pequeno lugar e me colocava dentro. Mas era tal e tanta a escuridão que não o via, só  ouvia o seu respiro e Ele dentro de mim continuava a dizer-me:

(51) “Minha filha, olha outro excesso do meu Amor. Eu sou a luz eterna, o sol é uma sombra de  minha luz, mas vê aonde me conduziu meu Amor, em que obscura prisão estou, não há nem um  raio de luz, sempre é noite para Mim, mas noite sem estrelas, sem repouso, sempre acordado,

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¡que pena! a estreiteza da prisão, sem poder me mover minimamente, as trevas densas; até o  respiro, respiro por meio do respiro de minha Mãe, oh, como é cansado! E além disso, acrescenta  as trevas das culpas das criaturas, cada culpa era uma noite para Mim, as que unindo-se juntas  formavam um abismo de escuridão sem confins. ¡ Que pena! ¡ Oh excesso do meu Amor, fazer-me  passar de uma imensidão de luz, de amplitude, a uma profundidade de densas trevas e de tais  estreitos, até me faltar a liberdade do respiro, e isto, tudo por amor das criaturas!”

(52) E enquanto isso dizia gemia, quase com gemidos sufocados por falta de espaço, e chorava.  Eu me desfazia em pranto, lhe agradecia, o compadecia, queria lhe fazer um pouco de luz com  meu amor como Ele me dizia, mas quem pode dizer tudo? A mesma voz interior acrescentava: (53) “Basta por agora. Passa ao sétimo excesso do meu Amor”.

(54) 7º. – A voz interior continuava: “Minha filha, não me deixe sozinho em tanta solidão e em tanta  escuridão, não saia do seio de minha Mãe para que veja o sétimo excesso de meu Amor. Escuta me, no seio de meu Pai Celestial Eu era plenamente feliz, não havia bem que não possuía, alegria,  felicidade, tudo estava a minha disposição; os anjos reverentes me adoravam e estavam a minhas  ordens. Ah, o excesso de meu Amor, poderia dizer que me fez trocar fortuna me restringiu nesta  tétrica prisão, me despojou de todas minhas alegrias, felicidade e bens para me vestir com todas  as infelicidades das criaturas, e tudo isto para fazer a mudança, para dar a elas minha fortuna,  minhas alegrias e minha felicidade eterna. Mas isto não teria sido nada se não tivesse encontrado  nelas só ingratidão e obstinada perfídia. Oh, como meu Amor eterno ficou surpreso ante tanta  ingratidão e chorou a obstinação e perfídia do homem. A ingratidão foi o espinho mais pungente  que me trespassou o coração desde a minha concepção até ao último instante da minha Vida, até  à minha morte. Olhe para o meu coraçãozinho, ele está ferido e está a pingar sangue. Que pena!  Que dor eu sinto! Minha filha, não sejas ingrata; a ingratidão é a pena mais dura para teu Jesus, é  fechar-me na cara as portas para me deixar de fora, aterrado de frio. Mas ante tanta ingratidão  meu Amor não se deteve e se pôs em atitude de Amor suplicante, orando, gemendo e  mendigando, e este é o oitavo excesso do meu Amor”.

(55) 8º. – “Minha filha, não me deixe sozinho, apóie sua cabeça sobre o seio de minha amada  Mamãe, porque também de fora ouvirá meus gemidos, minhas súplicas, e vendo que nem meus  gemidos nem minhas súplicas movem a compaixão de meu Amor à criatura, Ponho-me em atitude  do mais pobre dos mendigos e estendendo minha pequena mãozinha, peço por piedade, pelo  menos a título de esmola suas almas, seus afetos e seus corações. Meu Amor queria vencer a  qualquer custo o coração do homem, e vendo que depois de sete excessos de meu Amor  permanecia relutante, se fazia surdo, não se ocupava de Mim nem se queria dar a Mim, meu Amor  quis ir mais além, deveria ter-se parado, Mas não, ele queria ir além de seus limites, e do seio da  minha mãe Eu fazia chegar a minha voz a cada coração com os modos mais insinuantes, com as

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súplicas mais fervorosas, com as palavras mais penetrantes. Mas sabe o que eu dizia? “Filho meu,  dá-me o teu coração, tudo o que quiseres Eu te darei, desde que me dês o teu coração em troca;  desci do Céu para tomá-lo, ah, não me negues! Não desiludas as minhas esperanças!” E vendo-o  relutante, e que muitos me viravam as costas, passava aos gemidos, juntava as minhas mãozinhas  e chorava, com voz sufocada pelos soluços acrescentava-lhe: ” Ai, ai! sou o pequeno mendigo,  nem sequer de esmola queres dar-me o teu coração?” Não é isto um excesso maior do meu Amor,  que o Criador para se aproximar da criatura tome a forma de uma pequena criança para não lhe  infundir temor, e peça ao menos como esmola o coração da criatura, e vendo que ela não o quer  dar roga, geme e chora?”.

(56) Então me disse: “E tu não queres dar-me o teu coração? Talvez também tu queiras que eu  gema , que implore e chore, para que me dês o teu coração? Quer me negar a esmola que te  peço?

(57) E, enquanto dizia isto, ouvia como se chorasse, e eu lhe disse: “Meu Jesus, não chores, eu te  dou o meu coração e todo eu mesma”. Então a voz interna continuava: “Segue mais adiante, e  passa ao nono excesso do meu Amor”.

(58) 9º. – “Minha filha, meu estado é sempre mais doloroso, se me ama, seu olhar tenha-a fixo em  Mim, para que veja se pode dar ao seu pequeno Jesus algum consolo, uma palavrinha de amor,  uma carícia, um beijo, que dê trégua a meu pranto e a minhas aflições. Escuta minha filha, depois  de ter dado oito excessos de meu Amor, e que o homem tão mal me correspondeu, meu Amor não  se deu por vencido, e ao oitavo excesso quis acrescentar o nono, e este foram as ânsias, os  suspiros de fogo, as chamas dos desejos de que queria sair do seio materno para abraçar o  homem, e isto reduzia a minha pequena Humanidade ainda não nascida a uma agonia tal que  estava a ponto de dar meu último respiro. E enquanto eu estava prestes a dá-lo, minha Divindade,  que era inseparável de mim, me dava goles de vida, e assim retomava de novo a vida para  continuar minha agonia e voltar a morrer novamente. Este foi o nono excesso do meu Amor,  agonizar e morrer continuamente de amor pela criatura. Oh, que longa agonia de nove meses!  Oh, como o amor me sufocava e me fazia morrer! E se não tivesse tido a Divindade Comigo, que  me dava continuamente a vida cada vez que estava por morrer, o amor ter-me-ia consumado antes  de sair à luz do dia.” Depois acrescentava:

(59) “Olha para mim, escuta-me como agonia, como meu pequeno coração bate, se afana, arde;  olha para mim, agora morro”.

(60) E fazia um profundo silêncio. Eu me sentia morrer, me gelava o sangue nas veias e tremia lhe  dizia: “Meu amor, minha vida, não morra, não me deixe sozinha, Você quer amor e eu te amarei,  não te deixarei mais, me dê suas chamas para poder te amar mais e me consumar toda por Ti.

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Nihil obstat Canonico

Annibale M. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

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O REINO DA DIVINA VONTADE ENTRE AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

O chamado às criaturas à ordem, a seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Volume 02

1

Volume 02

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926 Imprima-se

Arcebispado Guadalajara Jal.,

23 de Novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigário Geral

Este livro foi traduzidos pelo site www.divinavontadadenobrasil.com

Volume 02

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Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar da sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

A Rainha do Reino da Divina Vontade

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I.M.I.

2-1 

Fevereiro 28, 1899

Por ordem do confessor começo a escrever o que acontece entre Nosso Senhor e eu dia  por dia. Ano 1899, mês de fevereiro, dia 28. 

(1) Confesso a verdade, sinto uma grande repugnância, é tanto o esforço que devo fazer para  vencer-me, que só o Senhor pode saber o rasgo da minha alma. Mas, ó santa obediência, que  atadura tão poderosa és! Só tu me podias vencer e superar todas as minhas repugnâncias, que  são como montes insuperáveis, e me atas à Vontade de Deus e do confessor. Mas, oh! Esposo  santo, por quão grande é o sacrifício, outro tanto tenho necessidade de ajuda, não quero outra  coisa senão que me introduzas em teus braços e me segures. Assim, assistida por Ti poderei  dizer só a verdade, só por tua glória e para confusão minha.

(2) Esta manhã, tendo celebrado a missa com o confessor, recebi também a comunhão. Minha  mente se encontrava num mar de confusão por causa desta obediência que me vem dada pelo  confessor de escrever tudo o que passa em meu interior. Mal recebi a Jesus comecei a dizer lhe as minhas dores, especialmente a minha insuficiência e muitas outras coisas, mas parecia  que Jesus não dava importância a mim e não respondia a nada. Uma luz veio-me à mente e eu  disse: “Talvez eu seja eu mesma a causa de Jesus não se mostrar segundo o seu costume”.  Então de todo o coração lhe disse: “Ah! Meu Bem e meu tudo, não se mostre comigo tão  indiferente, me despedaça o coração pela dor, se é pelo escrito, venha, que venha, embora me  custe o sacrifício da vida te prometo fazê-lo”. Então Jesus mudou aspecto e todo benigno me  disse:

(3) “De que temes? Não te assisti Eu as outras vezes? Minha luz te circundará por todas as  partes e assim tu poderás manifestá-lo”.

(4) Enquanto assim dizia, não sei como vi o confessor junto a Jesus e o Senhor lhe disse:  “Olha, tudo o que fazes passa para o Céu, por isso vê a pureza com a qual deves agir,  pensando que todos os teus passos, palavras e obras vêm à minha presença, e se são puros,  isto é, feitos por Mim, Eu sinto por isso uma alegria grandíssima e sinto-os em Meu redor, como  tantos mensageiros que me lembram continuamente de ti; mas se eles são feitos por fins  baixos e terrenos, sinto aborrecimento”. E enquanto assim dizia, parecia que lhe pegava as

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mãos e levantava-as para o Céu, lhe dizia: “Os olhos sempre em alto; és do Céu, obra para o  Céu”.

(5) Enquanto via o confessor e Jesus que assim lhe dizia, em minha mente me parecia que se  fizesse assim, aconteceria como quando uma pessoa deve desalojar uma casa para mudar-se  a outra, o que faz? Primeiro manda todas as coisas e tudo o que ela tem e depois vai-se ela.  Assim nós, primeiro mandamos nossas obras para tomar o lugar para nós no Céu, e depois,  quando chegar nosso tempo, iremos nós. Oh, que formoso cortejo nos farão!

(6) Agora, enquanto via o confessor, lembrei-me que ele me tinha dito que devia escrever sobre  a fé, o modo como Jesus me tinha falado sobre esta virtude. Enquanto pensava nisto, num  instante o Senhor atraiu-me de tal forma para Si, que me senti fora de mim mesma no Céu,  juntamente com Jesus, e disse-me estas palavras precisas:

(7) “A fé é Deus”.

(8) Mas estas duas palavras continham uma luz imensa, que é impossível explicá-las, mas  como posso dizê-lo: Na palavra “fé” compreendia que a fé é o próprio Deus. Assim como o  alimento material dá vida ao corpo para que não morra, assim a fé dá a vida à alma; sem a fé a  alma está morta. A fé vivifica, a fé santifica, a fé espiritualiza o homem e o faz ter fixos os olhos  num Ser Supremo, de modo que nada aprende das coisas aqui embaixo, e se as aprende, as  aprende em Deus. Oh! A felicidade de uma alma que vive de fé, seu vôo é sempre para o Céu,  em tudo o que lhe acontece se olha sempre em Deus e eis como na tribulação a fé a eleva em  Deus e não se aflige, nem sequer um lamento, sabendo que não deve formar aqui a sua  alegria, senão no Céu. Assim, se a alegria, a riqueza, os prazeres, a circundam, a fé a eleva  em Deus e diz entre si: “Quanto mais feliz e mais rica serei no Céu!” Então, esses bens  terrenos, ele se irrita, os despreza, e os coloca debaixo dos pés. Parece-me que a uma alma  que vive de fé, acontece como a uma pessoa que possui milhões e milhões de moedas e até  reinos inteiros, e outra pessoa quer oferecer-lhe um centavo. Agora, o que diria aquela? Não se  indignaria, não o jogaria na cara? E acrescento: E se esse centavo estivesse todo enlameado,  como são as coisas terrenas, e além disso, se lhe fosse dado só em empréstimo? Então ela  diria: “Imensas riquezas gozo e possuo, e você se atreve a me oferecer este vil centavo tão  enlouquecido e por pouco tempo?” Eu creio que viraria em seguida o olhar e não aceitaria o  dom. Assim faz a alma que vive de fé a respeito das coisas terrenas.

(9) Agora vamos outra vez à idéia do alimento: O corpo, tomando o alimento, não só se  sustenta, mas participa da substância do alimento que se transforma no mesmo corpo. Agora

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assim a alma que vive de fé; como a fé é o próprio Deus, a alma vem a viver do mesmo Deus,  e alimentando-se do mesmo Deus vem a participar da substância de Deus, e participando vem  a assemelhar-se a Ele e a transformar-se com o mesmo Deus, Portanto, à alma que vive de fé  acontece que santo é Deus, santa é a alma; potente Deus, potente a alma; sábio, forte, justo  Deus, sábio, forte, justa a alma, e assim de todos os demais atributos de Deus. Em suma, a  alma torna-se um pequeno deus. Oh, a bem-aventurança desta alma na terra, para depois ser  mais bem-aventurada no Céu!!

(10) Compreendi também que o que significam aquelas palavras que o Senhor diz às suas  almas prediletas: “Eu te desposarei na fé”. Que o Senhor neste místico matrimonio vem dotar  as almas de suas mesmas virtudes. Parece-me como dois esposos que unindo suas  propriedades, não se discernem mais as coisas de um e as do outro e ambos se fazem donos  de tudo. Mas no nosso caso, a alma é pobre, todo o bem é por parte do Senhor que a torna  partícipe das suas substâncias.

(11) Vida da alma é Deus, a fé é Deus e a alma possuindo a fé, vem a enxertar em si todas as  outras virtudes, de maneira que a fé está como rei no coração e as demais virtudes estão ao  seu redor, como súditas servindo à fé, assim que as mesmas virtudes, sem a fé, são virtudes  que não têm vida.

(12) Parece-me que Deus em dois modos comunica a fé ao homem: a primeira é no santo  batismo; a segunda é quando Deus bendito, depositando uma parte de sua substância na  alma, lhe comunica a virtude de fazer milagres, como a de poder ressuscitar os mortos, curar  os doentes, parar o sol e assim por diante. Oh, se o mundo tivesse fé, mudaria para um paraíso  terrestre!.

(13) Oh! Quão alto e sublime é o vôo da alma que se exercita na fé. A mim parece-me que a  alma, exercitando-se na fé, faz como aqueles tímidos passarinhos que temendo ser tomados  presos pelos caçadores ou bem por qualquer outra insidia, fazem sua morada no topo das  árvores, ou bem nas alturas, quando depois são obrigados a tomar o alimento descem, tomam  o alimento e rapidamente voam a sua morada; e alguém, mais prudente, toma o alimento e  nem sequer o come na terra, para estar mais seguro o leva ao topo das árvores e lá o

come. Assim a alma que vive de fé é tão tímida das coisas terrenas, que por temor de ser  assediada, nem sequer lhes dirige um olhar, sua morada está no alto, acima de todas as coisas  da terra e especialmente nas chagas de Jesus Cristo, e desde dentro daquelas beatas  moradas geme, chora, reza e sofre junto com seu Esposo Jesus sobre a condição e miséria em  que se encontra o gênero humano. Enquanto ela vive naquelas moradas das chagas de Jesus,

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o Senhor dá-lhe uma parte das suas virtudes, e a alma sente em si aquelas virtudes como se  fossem suas, mas contudo adverte que se bem as vê suas, o possuí-las é-lhe dado, que foram  comunicadas pelo Senhor. Acontece como a uma pessoa que recebeu um dom que ela não  possuía, agora o que faz? Toma-o e se faz dona dele, mas cada vez que o olha diz entre si:  “Isto é meu, mas me foi dado por essa pessoa”. Assim faz a alma à qual o Senhor  desprendendo de Si uma parte do seu Ser Divino, a muda em Si mesmo.

(14) Agora, esta alma, como abomina o pecado, mas ao mesmo tempo compadece dos  demais, roga por aquele que vê que caminha no caminho do precipício, se une com Jesus  Cristo e se oferece vítima para sofrer e assim aplacar a divina justiça e para livrar as criaturas  dos merecidos castigos, e se for necessário o sacrifício de sua vida oh! de bom grado o faria  para a salvação de uma só alma.

(15) Havendo-me dito o confessor que lhe explicasse como vejo a Divindade de Nosso Senhor,  respondi-lhe que era impossível saber-lhe dizer algo, mas na noite apareceu-me o bendito  Jesus e quase me repreendeu por esta minha negação e então me fez relampejar como dois  raios luminosíssimos; com o primeiro compreendi em minha inteligência que a fé é Deus e  Deus é a fé. Já tentei dizer alguma coisa sobre a fé, agora tratarei de dizer como vejo a Deus, e  este foi o segundo raio.

(16) Agora, enquanto me encontro fora de mim mesma e encontrando-me no alto dos céus  pareceu-me ver Deus dentro de uma luz e Ele mesmo parecia também luz e nesta luz  encontrava-se beleza, força, sabedoria, imensidão, altura, profundidade sem limites nem  confins, Assim, também no ar que respiramos é o próprio Deus que se respira, assim que cada  um pode fazê-lo como vida própria, como de fato é. Então, nada lhe escapa e nenhuma lhe  pode escapar. Esta luz parece ser toda voz sem que fale, toda obrante enquanto sempre  repousa; encontra-se por toda parte sem estorvar em nada, e enquanto se encontra em toda  parte, tem também seu centro. ¡ Oh Deus, como Sois incompreensível! Vejo-te, sinto-te, és a  minha Vida, restringes-te em mim, enquanto ficas sempre imenso e nada perdes de Ti, no  entanto sinto-me balbuciante e me parece não saber nem dizer nada.

(17) Para me poder explicar melhor segundo a nossa linguagem humana, direi que vejo uma  sombra de Deus em tudo o que foi criado, porque em tudo o que foi criado, onde lançou a  sombra da sua beleza, onde os seus perfumes, onde a sua luz, como no sol, onde vejo uma  sombra especial de Deus, Vejo-o como delineado neste astro, que é como o rei dos planetas. O  que é o sol? Não é outra coisa que um globo de fogo, um é o globo, mas muitos são os raios,  de modo que então podemos compreender facilmente:

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(18) 1° O globo é Deus, os raios os imensos atributos de Deus.

(19) 2°. O sol é fogo, mas ao mesmo tempo é luz e é calor, assim que a Santíssima Trindade está representada no sol: O fogo é o Pai, a luz é o Filho, o calor é o Espírito Santo, mas um é o  sol, e assim como não se pode dividir o fogo da luz e do calor, assim uma é a potência do Pai,  do Filho e do Espírito Santo, que entre eles não se podem realmente separar. E assim como o  fogo produz luz e calor ao mesmo tempo, assim não se pode conceber o fogo sem se conceber  também a luz e o calor, assim não se pode conceber o Pai antes do Filho e do Espírito Santo e  assim reciprocamente, têm os Três o mesmo princípio eterno.

(20) Acrescento que a luz do sol se expande por toda parte; assim Deus, com sua imensidão  onde quer penetra, porém recordemos que não é mais que uma sombra, porque o sol não  chegaria onde não pode penetrar com sua luz, mas Deus penetra onde quer que fosse. Deus é  Espírito puríssimo e nós o podemos simbolizar no sol que faz penetrar seus raios em qualquer  lugar, sem que ninguém os possa tomar entre as mãos, Deus olha tudo, as iniquidades, as  infâmias dos homens e Ele fica sempre o que é, puro, santo, imaculado. Sombra de Deus é o  sol que manda sua luz sobre as imundícias e fica imaculado, expande sua luz no fogo e não se  queima, no mar, nos rios e não se afoga, dá luz a todos, fecunda tudo, dá vida a tudo com seu  calor e não empobrece de luz, nem perde nada de seu calor e muito mais, enquanto faz tanto  bem a todos, ele de nenhum tem necessidade e fica sempre o que é, majestoso,  resplandecente, sem jamais mudar-se. ¡Oh! Como se representam bem no sol as qualidades  divinas, Deus, com sua imensidão se encontra no fogo e não arde, no mar e não se afoga, sob  nossos passos e não o pisamos, dá a todos e não empobrece e de ninguém tem necessidade,  vê tudo, mas é todo olhos e não há coisa que não sinta, está ao dia de cada fibra de nosso  coração, de cada pensamento de nossa mente, e sendo Espírito puríssimo não tem nem  ouvidos, nem olhos, e aconteça o que acontecer não muda jamais. O sol, investindo o mundo  com a sua luz, não se cansa, assim Deus, dando vida a todos, ajudando e regendo o mundo,  não se cansa. Para não gozar mais a luz do sol e seus benéficos efeitos, o homem pode  esconder-se, pode pôr obstáculos, mas ao sol nada lhe faz, permanece como é, o mal cairá  todo sobre o homem. Assim o pecador, com o pecado pode afastar-se de Deus e não gozar  mais de suas benéficas influências, mas a Deus nada lhe faz, todo o mal é seu.

(21) Também o arredondamento do sol me simboliza a eternidade de Deus, que não tem nem  princípio nem fim. A mesma luz penetrante do sol, que ninguém pode conter em seu olho, e que  se alguém quisesse olhá-lo fixamente em pleno meio-dia ficaria ofuscado, e se o sol se  quisesse aproximar do homem, este ficaria reduzido a cinzas. Assim do Sol Divino, nenhuma

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mente criada pode restringi-lo em sua pequena mente para compreendê-lo em tudo o que é, e  se quisesse esforçar-se ficaria deslumbrada e confusa, e se este Sol Divino quisesse fazer  ostentação de todo seu amor, fazendo-o sentir ao homem enquanto ainda está em carne  mortal, o homem ficaria incinerado. Portanto, Deus tem posto uma sombra de Si e de suas  perfeições em tudo o que criou, assim parece que o vemos e o tocamos e por Ele ficamos  tocados continuamente.

(22) Além disso, depois de o Senhor ter dito aquelas palavras: “A fé é Deus”. Eu disse-lhe:  “Jesus, tu amas-me?”

(23) E Ele acrescentou: “E tu, queres-Me?”

(24) Eu imediatamente disse: “Sim, Jesus, e Tu sabes disso, que sem Ti sinto que me falta a  vida”.

(25) “Pois bem”. Jesus acrescentou. “Tu me queres, Eu também, portanto, amemo-nos e  estejamos sempre juntos”.

(26) Assim terminou por esta manhã. Agora, quem pode dizer o quanto minha mente entendeu  este Sol Divino? Parece-me vê-lo e tocá-lo por toda parte, aliás, sinto-me revestida por Ele  dentro e fora de mim mesma, mas minha capacidade é pequena, pequena, que enquanto  parece que compreende alguma coisa de Deus, ao vê-lo parece que não entendi nada, Espero  que Jesus me perdoe.

* * * * * *

2-2 

Março 10, 1899

O Senhor o faz ver muitos castigos. 

(1) Estando em meu habitual estado, fez-se ver meu sempre amável Jesus, todo amargo e  aflito e me disse:

(2) “Minha filha, minha justiça se tornou muito pesada, e são tantas as ofensas que me fazem  os homens que não posso mais sustentá-las. Portanto a foice da morte está a ponto de matar a  muitos, de improviso e de enfermidades, e além disso são tantos os castigos que verterei sobre  o mundo, que serão uma espécie de juízo”.

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(3) Quem pode dizer os tantos castigos que me fez ver, e o modo como eu fiquei aterrorizada e  espantada? É tanta a dor que sente minha alma, que acho que é melhor passá-la em silêncio. (4) Continuo dizendo porque a obediência o quer; então me parecia ver as ruas cheias de  carne humana e o sangue que inundava a terra, cidades sitiadas por inimigos que não  perdoavam nem sequer as crianças; me pareciam como tantos animais saídos do inferno, não  respeitaram nem igrejas nem sacerdotes. Parecia que o Senhor mandava um castigo do Céu,  qualquer que seja não sei dizer, só me parecia que todos receberemos um golpe mortal, e  quem ficará vítima da morte e quem se recuperará. E pareceu-me também ver as plantas secas  e muitos outros males que devem vir em cima das colheitas. ¡ Ó Deus, que pena ver estas  coisas e estar obrigada a manifestá-las! ¡ Ah Senhor, se apresse, eu espero que seu sangue e  suas chagas sejam nosso remédio, ou então os jogue sobre esta pecadora, pois os mereço, de  outra maneira leve-me e então estará livre de fazer o que quiser, mas enquanto viva farei o  possível para me opor!

* * * * * *

2-3 

Março 13, 1899

A caridade não é outra coisa que o desabafo do Ser Divino. Todo o criado fala do amor  de Deus pelo homem, e ensina-lhe o modo como deve amar a Deus. 

(1) Esta manhã o amado Jesus não se fazia ver conforme o habitual, toda amabilidade e  doçura, senão severo, minha mente me sentia em um mar de confusão e minha alma tão  afligida e aniquilada, especialmente pelos castigos vistos nos dias passados; Vendo-o naquele  aspecto não me atrevia a dizer-lhe nada, nos olhávamos mas em silêncio. ¡ Ó Deus, que  pena! Quando de repente vi também o confessor e Jesus mandando um raio de luz intelectual  disse estas palavras:

(2) “Caridade, a caridade não é outra coisa que um desabafo do Ser Divino, e este desabafo o  difunde sobre todo o criado, de modo que todo o criado fala do amor que tenho ao homem, e  lhe ensina o modo como deve me amar; começando desde o ser maior até a mais pequena flor  do campo diz ao homem: “Com o meu suave perfume e com estar-me sempre dirigida para o  céu, tento enviar uma homenagem ao meu Criador; também tu, faz com que todas as tuas  ações sejam perfumadas, santas, puras, Não faças com que o mau cheiro dos teus atos ofenda  o meu Criador”.

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¡Ah, homem! Repete a florzinha, “não sejas tão insensato de ter os olhos fixos à terra, mas  eleva-os ao Céu, olha, lá em cima está o teu destino, a tua pátria, lá em cima está o Criador  meu e teu que te espera”. A água que continuamente corre sob nossos olhos nos diz também:  “Olha, das trevas saí e tanto devo correr e correr até que chegue a sepultar-me no lugar de  onde saí, também tu, ó homem! corre, mas corre ao seio de Deus de onde saíste; ah! Peço-te,  não corras os caminhos tortos, os caminhos que conduzem ao precipício, de outra maneira, ai  de ti!”

Também as bestas mais selvagens nos repetem: “Olha, oh! homem como deves ser selvático  para tudo o que não é Deus; olha, quando nós vemos que alguém se aproxima de nós, com os  nossos rugidos colocamos tanto espanto, que ninguém se atreve a aproximar-se mais a  perturbar a nossa solidão, também tu, quando o fedor das coisas terrenas, seja as tuas paixões  violentas, estejam para te enlamear e te fazer cair no precipício das culpas, com os rugidos da  tua oração e com retirar-te das ocasiões em que te encontras, estarás a salvo de qualquer  perigo”. Assim todos os outros seres, que dizê-los todos seria muito longo, com voz unânime  ressoam entre eles e repetem-nos: “Olha, ó! homem, por amor teu nos criou nosso Criador e  todos estamos a teu serviço, tu não sejas tão ingrato, ama, rogamos-te, te repetimos, ama a  nosso Criador!”.

(3) Depois disto, o meu amável Jesus disse-me: “Isto é tudo o que quero: “Amar a Deus e ao  próximo por amor meu”. Vê quanto amei ao homem, e ele é tão ingrato; como queres tu que  não o castigue?”.

(4) No mesmo instante parecia-me ver uma granizada terrível e um terremoto que deve fazer  notável dano, até destruir as plantas e os homens. Então, com toda a amargura de minha alma  lhe disse: “Meu sempre amável Jesus, por que está tão indignado? Se o homem é ingrato, não  é tanto por malícia mas por debilidade. Oh! Se te conhecessem um pouco, como seriam  humildes e amorosos, por isso, acalma-te, pelo menos te confio Corato e àqueles que me  pertencem”.

(5) No momento de dizer isto, parecia-me que também em Corato devia acontecer algo, mas  em comparação com o que acontecerá nos outros lugares não será nada.

* * * * * *

2-4 

Março 14, 1899

11

Jesus refugia-se no coração e chora a sorte das criaturas. 

A alma faz de tudo para consolá-lo e chora junto com Jesus. 

(1) Esta manhã o meu dulcíssimo Jesus, transportando-me juntamente com Ele, fazia-me ver a  multiplicidade dos pecados que se cometem, e eram tais e tantos, que é impossível descrevê los; via também no ar uma estrela de tamanho desmesurado, e em sua circunferência continha  fogo negro e sangue; infundia tal temor e espanto ao olhá-la, que parecia que fosse menor mal  a morte do que viver em tempos tão tristes. Em outros lugares se viam os vulcões, que abrindo  outros tantos crateras deviam inundar até os povos vizinhos; viam-se também gentes sectárias  que irão favorecendo os incêndios, etc. Enquanto isso via, meu amável mas aflito Jesus me  disse:

(2) “Viu o quanto me ofendem e o que tenho preparado? Eu me retiro do homem”. (3) E enquanto isto dizia, nos retiramos os dois na cama, e via que neste retirar-se de Jesus, os  homens se punham a fazer ações mais feias, mais homicídios, em uma palavra, me parecia ver  gente contra gente. Quando nos retiramos, parecia que Jesus se metia em meu coração e  começou a chorar e a soluçar dizendo:

(4) “Ó homem, quanto te amei! Se você soubesse o quanto me dói ter que te punir! Mas a isto  me obriga minha justiça. Oh homem, oh homem, quanto choro e me dói sua sorte!” (5) Depois dava desabafo ao pranto e de novo repetia as palavras. Quem pode dizer a dor, o  temor, o rasgo que se fazia em minha alma, especialmente ao ver Jesus tão aflito e chorando?  Quanto mais podia esconder a minha dor, e para o consolar, dizia-lhe: “Ó Senhor, para que  nunca castigues os homens! Esposo Santo, não chores, tal como fizestes outras vezes assim  farás agora, derramarás em mim, far-me-ás sofrer a mim, e assim vossa justiça não vos  obrigará a castigar as nações”. E Jesus continuava chorando e eu repetia: “Mas escuta-me um  pouco, não me pusestes nesta cama para que seja vítima pelos demais? Por acaso não estive  disposta a sofrer as outras vezes para evitar os castigos às criaturas? Por que agora não  querem me fazer caso?” Mas com todas as minhas pobres palavras Jesus não se acalmava de  chorar, então não podendo resistir mais, também eu rompi em pranto dizendo: “Senhor, se  vossa intenção é punir aos homens, não me dá o ânimo ver sofrer tanto as criaturas, por isso,  se verdadeiramente quereis mandar os flagelos e meus pecados não me fazem merecer mais o  sofrer eu em lugar dos demais, quero ir ao Céu, Não quero estar mais sobre esta terra”. (6) Depois veio o confessor e tendo-me chamado à obediência, Jesus retirou-se e assim  terminou.

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(7) Na manhã seguinte continuava a ver Jesus retirado em meu coração, e via que as pessoas  vinham até dentro de meu coração e o pisavam, o colocavam sob os pés. Eu fazia quanto mais  podia para libertá-lo e Jesus dirigindo-se a mim me disse:

(8) “Vês até onde vai a ingratidão dos homens? Eles mesmos me obrigam a castigá-los, sem  que possa fazer de outra maneira. E tu, minha querida, depois de me teres visto sofrer tanto, te  sejam mais amadas as cruzes e sinta como deleites as penas”.

* * * * * *

2-5 

Março 18, 1899

Continua a ver Jesus retirado no seu coração. Ele diz-lhe como lhe é querida a caridade. (1) Esta manhã meu querido Jesus continuava a fazer-se ver de dentro do meu coração, e  vendo-o um pouco mais amável, armei-me de coragem e comecei a pedir-lhe que não  mandasse tantos castigos, e Jesus me disse:

(2) “O que te move, ó minha filha, a pedir-me que não castigue as criaturas?” (3) Eu imediatamente respondi: “Porque são tuas imagens e, devendo as criaturas sofrer, virias  tu mesmo a sofrer”. Então Jesus dando um suspiro me disse:

(4) “Me é tão querida a caridade, que você não pode compreendê-lo. A caridade é simples,  como meu Ser, que embora seja imenso, é também simplíssimo, tanto que não há parte na  qual não penetre. Assim a caridade, sendo simples, se difunde por toda parte, não tem  deferência por nenhum, amigo ou inimigo, vizinho ou forasteiro, a todos ama”.

* * * * * *

2-6 

Março 19, 1899

Temores. Jesus a tranquiliza. O demônio pode falar de virtude, mas não pode infundi-la  na alma. 

(1) Esta manhã, enquanto Jesus se fazia ver, eu temia que não fosse verdadeiramente Jesus,  mas o demônio que me quisesse enganar; depois que fiz os habituais protestos Jesus me  disse:

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(2) “Filha, não temas, não sou o demônio, e além disso, esse, se fala das virtudes é uma  virtude pintada, não verdadeira virtude, nem tem poder para infundi-la na alma, senão somente  de falar dela, e se alguma vez mostrar que quer fazer praticar um pouco de bem, não é  perseverante e no mesmo ato em que a alma faz esse pouco bem, a alma está desganada e  agitada, só Eu tenho a potência de infundir-me no coração e de fazer praticar as virtudes e  fazer sofrer com ânimo e tranqüilidade e com perseverança. Além disso, quando o demônio foi  em busca de virtude? Sua busca são os vícios. Por isso não tema, fique tranquila”.

* * * * * *

2-7 

Março 20, 1899

Jesus derrama suas amarguras e lhe diz a causa dos males do mundo. 

(1) Esta manhã Jesus transportou-me para fora de mim mesma e fez-me ver muitas pessoas,  todas em discórdia. Oh, quanta dor dava a Jesus! Eu, vendo-o sofrer muito, pedi-lhe que  derramasse em mim suas amarguras, mas como continuava querendo castigar o mundo, Jesus  não queria derramá-las em mim, mas depois de havê-lo pedido e voltado a pedir, para  contentar-me derramou um pouco. Então, tendo-se aliviado um pouco, disse-me:

(2) “A causa pela qual o mundo se reduziu a este triste estado, é por ter perdido a subordinação  às cabeças, e como a primeira cabeça é Deus, ao Qual se rebelaram, como conseqüência  aconteceu que perderam toda sujeição e dependência à Igreja, às leis, e a todos os outros que  se dizem cabeças. ¡ Ah! Minha filha, o que será de tantos membros infectados por este mau  exemplo dado por aqueles mesmos que se dizem cabeças, isto é, por superiores, por pais e  por tantos outros? ¡ Ah, chegarão a tanto, que não se reconhecerão mais nem pais, nem  irmãos, nem reis, nem príncipes, estes membros serão como tantas víboras que  reciprocamente se envenenarão, por isso vê como são necessários os castigos nestes tempos,  e que a morte quase destrua esta gente, para que os poucos que restam aprendam às custas  dos outros a serem humildes e obedientes! Por isso me deixe fazer, não queira se opor a que  castigue as pessoas”.

* * * * * *

2-8 

Março 31, 1899

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Jesus fala da virtude da cruz. 

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fez-se ver crucificado, e depois de me ter comunicado as  suas dores disse-me: “Muitas são as chagas que me fizeram sofrer em minha paixão, mas uma  foi a cruz; isto significa que muitos são os caminhos pelos quais atraio as almas à perfeição,  mas um é o Céu no qual estas almas devem unir-se, assim que equivocado aquele Céu, não  há outro que possa torná-las bem-aventuradas para sempre”.

(2) Depois acrescentou: “Olha um pouco, uma é a cruz, mas de vários troncos foi formada essa  cruz; isto significa que um é o Céu, mas vários lugares que este Céu contém, mais ou menos  gloriosos, e à medida dos sofrimentos sofridos aqui embaixo, mais ou menos pesados, estes  lugares serão distribuídos. ¡ Oh! , se todos conhecessem a preciosidade do sofrer, fariam  concorrência a ver quem quisesse sofrer mais, mas esta ciência não é conhecida pelo mundo,  por isso aborrecem tudo o que pode torná-los mais ricos in eterno”.

* * * * * *

2-9 

Mês de Abril, 1899

Como a humildade é a pequena planta. A humildade sem confiança é virtude falsa. 

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação e de lágrimas, eu me encontrava toda  confusa e aniquilada em mim mesma, em meu interior ia dizendo continuamente: “Diz-me, ó  meu Bem, por que te afastaste de mim, em que te ofendi que não te deixas ver mais, e se te  mostras é quase ofuscado e em silêncio? Ah, não mais me faça esperar e esperar, que meu  coração não pode mais!”.

(2) Finalmente Jesus se mostrou um pouco mais claro, e vendo-me tão aniquilada me disse: (3) “Se tu soubesses quanto me agrada a humildade! A humildade é a planta mais pequena que  se pode encontrar, mas seus ramos são tão altos que chegam até o Céu, estão em torno de  meu trono e penetram até dentro de meu coração. A pequena planta é a humildade, os ramos  que produz esta planta é a confiança, assim que não se pode dar verdadeira humildade sem  confiança. A humildade sem confiança é falsa virtude”.

(4) Pelas palavras de meu Jesus se vê que meu coração não só estava aniquilado, mas  também um pouco desanimado.

* * * * * *

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2-10 

Abril 5, 1899

Como Jesus a tem coberta em seu amor. 

(1) Minha alma continuava em seu aniquilamento e com temor de perder o doce Jesus, quando  num instante, de repente, fez-se ver e me disse:

(2) “Te tenho sob a sombra de minha caridade. Então, assim como a luz penetra por toda parte,  assim meu amor te tem coberta por toda parte e em tudo. Do que teme então? E como posso  Eu te deixar enquanto te tenho tão abismada em meu amor?”

(3) Enquanto Jesus assim dizia, eu queria lhe perguntar por que não se fazia ver segundo seu  costume, mas Jesus logo desapareceu e não me deu tempo de lhe dizer nem sequer uma  palavra. ¡ Oh Deus, que pena!

* * * * * *

2-11 

Abril 7, 1899

Luisa consola Jesus. Ele diz: Quero fazer de ti um objeto das minhas complacências. 

(1) Continua o mesmo estado, mas especialmente esta manhã passei-a amargamente, quase  tinha perdido a esperança de que Jesus viesse. Oh, quantas lágrimas eu tive que derramar! Foi  exatamente a última hora e Jesus não veio ainda. Oh, Deus! o que fazer? Meu coração estava  com uma dor tão forte e em um contínuo palpitar, tão forte, que sentia uma agonia mortal. Em  meu íntimo, dizia-lhe: “Meu bom Jesus, não vês Tu mesmo que me sinto falta da vida? Ao  menos diz-me como se pode fazer para estar sem Ti? Como se pode viver? Se bem que sou  ingrata ante tantas graças, sem embargo te amo e te ofereço esta pena amarguíssima de sua  ausência para te reparar por minha ingratidão; mas vem, Jesus tenha paciência, é tão bom, não  me faça esperar, vem. ¡ Ah! Talvez você não saiba o quão cruel tirano é o amor, e por isso não  tem compaixão de mim?” Enquanto estava neste estado tão doloroso, Jesus veio e toda  compaixão me disse:

(2) “Eis que eu vim, não chores mais, vem a Mim”.

(3) Em um instante me encontrei fora de mim mesma junto com Ele, e eu o olhava, mas com tal  temor que de novo pudesse perdê-lo, que a rios me escorriam as lágrimas dos olhos. Jesus  continuou a dizer-me:

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(4) “Não, não chores mais, olha para o quanto estou a sofrer, olha para a minha cabeça, os  espinhos penetraram tão profundamente, que não há nada lá fora. Vês quantos cortes e  sangue cobrem o meu corpo? Aproxima-te, dá-me um alívio”.

(5) Ao ocupar-me das penas de Jesus esqueci um pouco as minhas, e assim comecei por sua  cabeça, oh! como era dilacerante ver aqueles espinhos tão metidos dentro, que mal se podiam  puxar. Enquanto isso fazia, Jesus se lamentava, tanto era a dor que sofria. Depois que tirei  aquela coroa de espinhos, toda despedaçada, a uni de novo, e sabendo que o maior prazer  que se possa dar a Jesus é o sofrer por Ele, tomei-a e a afundei sobre minha cabeça.

(6) Depois, uma por uma fez-se beijar as chagas e em algumas delas queria que chupasse o  sangue. Eu tentei fazer tudo o que Ele queria, mas em silêncio silêncio, quando a Virgem  Santíssima se apresentou e me disse:

(7) “Pergunte a Jesus o que ele quer fazer de você”.

(8) Eu não me atrevia, mas a Mãe me incitava a fazê-lo; para satisfazê-la, aproximei os lábios  ao ouvido de Jesus, e disse: “Que queres fazer de mim?” E Ele respondeu: (9) “Quero fazer de ti um objeto das minhas complacências”.

(10) E no ato mesmo de dizer estas palavras desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

* * * * * *

2-12 

Abril 9, 1899

Jesus leva a Luisa para fora de si mesma, unida a Ele, não quer deixá-la e Jesus tem-na  consigo na custódia. 

(1) Esta manhã Jesus fez-se ver e transportou-me dentro de uma igreja, ali ouvi a Santa Missa  e recebi a comunhão das mãos de Jesus. Depois disto me abracei aos pés Dele, tão  fortemente que não podia me separar. O pensamento das penas dos dias passados, isto é, da  privação de Jesus, fazia-me temer tanto o perdê-lo de novo, que estando a seus pés chorava e  lhe dizia: “Desta vez, ó Jesus, não te deixarei mais, porque Tu quando te vais de mim me fazes  sofrer e esperar muito”.

(2) Então Jesus me disse: “Vem nos meus braços que quero aliviar-te das penas passadas  nestes dias”.

(3) Eu quase não me atrevia a fazê-lo, mas Jesus estendeu as mãos e me levantou de seus  pés, me abraçou e disse:

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(4) “Não temas, que não te deixo, esta manhã quero te contentar, vem estar Comigo na  custódia”.

(5) E ambos nos retiramos sob custódia. Quem pode dizer o que fizemos? Agora me beijava e  eu a Ele, agora eu repousava nele e Jesus em mim, agora via as ofensas que recebia, e eu  fazia atos de reparação pelas diferentes ofensas. Quem pode dizer a paciência de Jesus no  Sacramento? É tal e tanta que dá terror só de pensar. Mas enquanto estava fazendo isso,  Jesus me fez ver o confessor que vinha me chamar em mim mesma e me disse:

(6) “Basta por agora, vê, que a obediência te chama”.

(7) E assim me parecia que minha alma retornava ao corpo, e em efeito o confessor me  chamava à obediência.

* * * * * *

2-13 

Abril 12, 1899

Jesus disse a Luísa: Tu és o meu tabernáculo, aliás, sinto-me mais feliz em ti, porque te  compartilho as minhas dores. 

(1) Hoje, sem me fazer esperar tanto, Jesus veio logo e me disse:

(2) “Tu és o meu tabernáculo; para mim é o mesmo estar no sacramento que em teu coração,  aliás, em ti se encontra outra coisa de mais, que é o poder participar minhas penas e te ter  junto Comigo como vítima vivente ante a divina justiça, o que não encontro no Sacramento”. (3) E enquanto dizia estas palavras se fechou dentro de mim. Estando em mim, Jesus fazia-me  sentir agora as picadas dos espinhos, agora as dores da cruz, os esforços e os sofrimentos do  coração. Em torno de seu coração via um trançado de pontas de ferro que fazia sofrer muito a  Jesus. Ah! Quanta dor me dava vê-lo sofrer tanto, teria querido sofrer tudo eu antes de fazer  sofrer a meu doce Jesus, e de coração lhe pedia que a mim me desse as penas, a mim o  sofrer. Então Jesus me disse:

(4) “Filha, as ofensas que mais trespassam meu coração são as Missas ditas sacrílegamente, e  as hipocrisias”.

(5) Quem pode dizer o que compreendi nestas duas palavras? Parece-me que externamente  se faz ver que se ama, se louva ao Senhor, mas internamente se tem o veneno pronto para  matá-lo; externamente se faz ver que se quer a glória, a honra de Deus, mas internamente se  busca a honra, a estima própria. Todas as obras feitas com hipocrisia, mesmo as mais santas,  são obras todas envenenadas que amarguram o coração de Jesus.

* * * * * *

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2-14 

Abril 16, 1899

Jesus quer girar com a Luisa e fá-lo ver como é tratado pelas almas. 

(1) Estando no meu estado habitual, Jesus convidou-me a virar para ver o que faziam as  criaturas. Eu disse-lhe: “Meu adorável Jesus, esta manhã não tenho vontades de girar e ver as  ofensas que te fazem, vamos aqui os dois juntos”. Mas Jesus insistia em que queria girar,  então para agradá-lo lhe disse: “Se queres sair, vamos, mas vamos dentro de alguma igreja,  pois aí são poucas as ofensas que te fazem”.

(2) E assim fomos dentro de uma igreja, mas também ali foi ofendido, e mais que em outros  lugares, não porque nas igrejas se façam mais pecados que no mundo, senão porque são  ofensas feitas por seus mais amados, por aqueles que deveriam colocar alma e corpo para  defender a honra e a glória de Deus, por isso resultam mais dolorosas a seu coração adorável.

Então via almas devotas, que por bagatelas de nada não se preparavam bem à comunhão; sua  mente em vez de pensar em Jesus pensava em suas pequenas perturbações, em tantas coisas  de nada, e esta era sua preparação. Quanta pena davam estas almas a Jesus e quanta  compaixão davam elas, porque davam importância a tantas palhinhas, a tantas ociosidades e  em troca não se dignavam dirigir um olhar a Jesus. Então ele me disse:

(3) “Minha filha, quanto impedem estas almas que minha Graça se derrame nelas, Eu não me  fixo nas minúcias, senão no amor com o qual se aproximam, e elas ao contrário, mais se fixam  nas palhas que no amor, é mais, o amor destrói as palhas, mas com muitas palhas não se  aumenta nem um pouco o amor, mas bem o diminui. Mas o que é pior destas almas é que se  perturbam muito, perdem muito tempo, quiseram estar com os confessores horas inteiras para  dizer todas estas minúcias, mas jamais põem mãos à obra com uma boa e corajosa resolução  para extirpar estas palhas.

(4) O que te dizer além disso, oh! minha filha, de certos sacerdotes destes tempos? Pode-se  dizer que atuam quase satanicamente, chegando a fazer-se ídolos das almas. [ Ah! Sim, o meu  coração é mais trespassado pelos meus filhos, porque se os outros me ofendem mais,  ofendem as partes do meu corpo, mas os meus ofendem-me as partes mais sensíveis e  ternas, até no mais íntimo do meu coração”.

(5) Quem pode dizer a amargura de Jesus? Ao dizer estas palavras chorava amargamente. Eu  fazia quanto mais podia compadecer-lhe e repará-lo, mas enquanto isso fazia nos retiramos  juntos no leito.

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* * * * * *

2-15 

Abril 21, 1899

Vê Jesus como uma criança quando está sozinho. Medo de que ele fosse alguém para  fazer-lhe mal. Pergunta quem é, e diz-lhe que é o pobre dos pobres e que queria estar  com ela. 

(1) Esta manhã, estando no meu estado habitual, num momento me encontrei em mim mesma,  mas sem poder me mover, quando de repente senti que alguém entrava em meu quarto, depois  fechou de novo a porta e ouvi que se aproximava da minha cama. Em minha mente pensava  que alguém tinha entrado furtivamente, sem que ninguém da família o tivesse visto e tinha  penetrado até meu quarto. Quem sabe o que eu poderia fazer? Era tanto o medo que eu senti  o sangue gelar nas veias e tremia toda. Oh, Deus! O que fazer? Dizia entre mim: “A família não  o viu, eu sinto-me toda imóvel e não posso defender-me nem pedir ajuda; Jesus, Maria, Mãe  minha, ajudai-me, São José, dizei-me deste perigo”. Quando senti que subia à cama e se  aninhava junto a mim, foi tanto o temor, que abri os olhos e lhe disse: “Dize-me, quem és tu?”

(2) Ele respondeu: “Eu sou o pobre dos pobres, não tenho onde estar; vim a ti para ver se me  queres ter contigo em teu quarto, olha, sou tão pobre que nem sequer tenho vestidos, mas tu  pensará em tudo”.

(3) Eu o olhei bem, era um menino de cinco ou seis anos, sem vestidos, sem sapatos, mas  sumamente belo e gracioso, em seguida lhe respondi: “Por mim com gosto te teria, mas o que  dirá meu papai? Não sou uma pessoa livre que pode fazer o que quiser, tenho meus pais que o  impedem. Vestir-te se posso fazê-lo com meus pobres trabalhos, farei qualquer sacrifício, mas  ter-te comigo é impossível. Além disso, não tens pai, não tens mãe, não tens onde ficar?”

(4) Mas a criança amargamente respondeu: “Não tenho ninguém, ah, não me faças vaguear  mais, deixa-me estar contigo!”

(5) Eu mesma não sabia o que fazer, como tê-lo. Um pensamento me passou pela mente:  “Quem sabe, talvez seja Jesus, ou será algum demônio para me perturbar?” Então disse-lhe de  novo: “Mas dize-me a verdade, quem és tu?” E ele repetiu:

(6) “Eu sou o pobre dos pobres”.

(7) Eu respondi: “Aprendeste a santificar-te?”

(8) “Sim”. Respondeu.

(9) Pois então fá-lo, quero ver como o fazes.

(10) Ele perseguiu-se com o sinal da cruz.

(11) Eu acrescentei: “E a Ave Maria sabes dizer?”

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(12) “Sim, mas se queres que a diga, vamos dizê-la juntos”.

(13) Eu comecei a Ave Maria e Ele a dizia junto comigo, nesse momento uma luz puríssima se  desprendeu de sua fronte adorável e conheci que o pobre dos pobres era Jesus. Num instante,  com aquela luz que Jesus me enviava, fez-me perder de novo os sentidos e tirou-me de mim  mesma. Eu estava toda confusa diante de Jesus, especialmente por tantas rejeições e  rapidamente lhe disse:

(14) “Meu querido, perdoa-me, se te tivesse conhecido não te teria proibido a entrada. Além  disso, porque não me disseste que eras tu? Tenho tantas coisas para te dizer, eu ter-te-ia dito,  não teria perdido o meu tempo com tantas inutilidades e medos. Para te ter a Ti não tenho  necessidade dos meus, posso ter-te livremente porque Tu não te deixas ver por nenhum”. Mas  enquanto dizia isto, Jesus desapareceu e assim acabou tudo, deixando-me uma pena por não  lhe ter dito nada do que queria dizer-lhe.

* * * * * *

2-16 

Abril 23, 1899

Os louvores e desprezos dos outros 

(1) Hoje meditei sobre o mal que pode vir às nossas almas pelos louvores que as criaturas não  nos dão. Enquanto o aplicava a mim mesma para ver se havia em mim a complacência pelos  louvores humanos, Jesus aproximou-se de mim e disse-me:

(2) “Quando o coração está cheio do conhecimento de si mesmo, os louvores dos homens são  como aquelas ondas do mar, que se elevam e transbordam mas jamais saem de seus limites,  assim os louvores humanos fazem estrondo, alvoroçam, aproximam-se até o coração, mas  encontrando-o cheio e bem circundado pelos fortes muros do conhecimento de si mesmo, não  tendo portanto onde ficar, voltam-se atrás sem fazer nenhum mal à alma, por isso deves estar  atenta a isto, que os louvores e os desprezos das criaturas não devem ser levados em conta”.

* * * * * *

2-17 

Abril 26, 1899

Jesus a alegra com respeito ao confessor. Fala-lhe das almas desapegadas, que  enquanto não têm nada, tudo possuem.

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(1) Quando hoje meu amado Jesus se fazia ver, parecia-me que me enviava tantos raios de  luz, que toda me penetravam, quando em um instante nos encontramos fora de mim mesma e  junto se encontrava o confessor. Eu imediatamente pedi ao meu querido Jesus que lhe desse  um beijo ao confessor e que estivesse um pouco em seus braços, (Jesus era menino). Para me  contentar logo beijou o confessor no rosto, mas sem querer separar-se de mim, eu fiquei toda  aflita e lhe disse: “Meu Teseu, não era esta a minha intenção, de te fazer beijar o seu rosto,  mas a boca, a fim de que tocada pelos teus lábios puríssimos fosse santificada e fortificada  daquela debilidade, assim poderá anunciar mais livremente a santa palavra e santificar os  demais. ¡ Ah, te rogo que me contentes!” Assim, Jesus deu outro beijo, mas agora na boca  dele, e depois me disse:

(2) “Me são tão agradáveis as almas desapegadas de tudo, não só no afeto, mas também em  efeito, que à medida que vão despojando-se, assim minha luz as vai investindo e chegam a ser  como cristais, nos quais a luz do sol não encontra impedimento para penetrar dentro deles,  como o encontra nas construções e nas demais coisas materiais”.

(3) Ah! disse depois: “Crêem despojar-se, mas em troca vêm a vestir-se não só das coisas  espirituais, mas também das corporais, porque minha providência tem um cuidado todo  especial e particular por estas almas desapegadas, minha providência as cobre por toda  parte; acontece que nada têm, mas todos possuem”.

(4) Depois disso nos retiramos do confessor e encontramos muitas pessoas religiosas que  pareciam ter toda a intenção de trabalhar por fins de interesses, Jesus passando no meio delas  disse:

(5) “Ai daquele que trabalha pela finalidade de adquirir dinheiro, já receberam em vida seu  pagamento!”

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2-18 

Maio 2, 1899

Como na Igreja está refletido todo o Céu. 

(1) Esta manhã Jesus dava muita compaixão, estava tão aflito e sofredor que eu não me atrevia  a lhe fazer nenhuma pergunta, nos olhávamos em silêncio, de vez em quando me dava um  beijo e eu a Ele, e assim continuou a fazer-se ver algumas vezes. A última vez me fez ver a  Igreja dizendo-me estas palavras:

(2) “Na minha Igreja está representado todo o Céu: Assim como no Céu uma é a cabeça, que é  Deus, e muitos são os santos, de diferentes condições, ordens e méritos, assim na minha

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Igreja, uma é a cabeça, que é o Papa, e até na tiara que rodeia sua cabeça está representada  a Trindade Sacrossanta, e muitos são os membros que desta cabeça dependem, ou seja,  diferentes dignidades, diferentes ordens, superiores e inferiores, desde o menor até o maior,  todos servem para embelezar a minha Igreja, e cada um, segundo o seu grau, tem um ofício  que lhe foi dado, e com o exato cumprimento das virtudes vem dar de si na minha Igreja um  esplendor odoroso, de modo que a terra e o Céu ficam perfumados e iluminados, e as pessoas  ficam tão atraídas por esta luz e por este perfume, que é quase impossível não se render à  verdade. Deixo-te a ti considerar aqueles membros infectados, que em vez de produzir luz dão  trevas, quantos destroços fazem na minha Igreja!”

(3) Enquanto Jesus assim me dizia, vi o confessor junto a Ele, Jesus com o seu olhar  penetrante olhava-o fixamente; depois, dirigindo-se a mim, disse-me:

(4) “Quero que tenha plena confiança com o confessor, mesmo nas mínimas coisas, tanto que  entre Eu e ele não deve haver diferença alguma, porque na medida de sua confiança e da fé  que der a suas palavras, assim Eu entrarei em contato”.

(5) No momento em que Jesus dizia estas palavras lembrei-me de certas tentações do demônio  que haviam produzido em mim um pouco de desconfiança, mas Jesus com seu olho vigilante,  de imediato me tomou novamente junto a Si, e nesse mesmo instante senti-me a tirar de dentro  de mim essa desconfiança. Seja sempre bendito o Senhor, que tem tanto cuidado desta alma  tão miserável e pecadora.

* * * * * *

2-19 

Maio 6, 1899

Luisa procura Jesus entre os anjos. 

(1) Esta manhã quase não se fez ver Jesus, minha mente a sentia tão confusa que quase não  compreendia a perda de Jesus, naquele momento me senti circundada de muitos espíritos,  talvez fossem anjos, mas não sei dizê-lo com segurança. Enquanto me encontrava no meio  deles, de vez em quando me punha a indagar, pois, quem sabe? Talvez pudesse ouvir o hálito  do meu amado, mas por mais que fizesse não advertia nada que indicasse que ali estava meu  amante Bem. Quando de repente, de trás das costas, senti vir um sopro doce, súbito gritei:  “Jesus, meu Senhor!”

(2) Ele respondeu: “Luisa, o que queres?”

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(3) “Jesus, meu lindo, venha, não fique atrás de minhas costas porque não posso te ver, estive  toda esta manhã te esperando e indagando, pois talvez tivesse podido te ver no meio destes  espíritos angélicos que rodeavam a cama, mas não tive êxito, por isso me sinto muito cansada,  porque sem Ti não posso encontrar repouso, vem para repousar juntos”. Assim Jesus se pôs  junto a mim e me sustentava a cabeça. Aqueles espíritos disseram: “Senhor, quão rapidamente  te conheceu, não pela voz, mas com o sopro logo te chamou”.

(4) Jesus respondeu-lhes: “Ela conhece-me a Mim e Eu conheço-a a ela. Ela é-me tão querida,  como me é querida a pupila dos meus olhos”.

(5) E enquanto assim dizia, encontrei-me nos olhos de Jesus. Quem pode dizer o que senti  estando naqueles olhos puríssimos? É impossível expressá-lo com palavras, os próprios anjos  ficaram surpreendidos.

* * * * *

2-20 

Maio 7, 1899

Da pureza da intenção e da verdadeira caridade. 

(1) Enquanto no dia fiz a meditação, Jesus continuava a fazer-se ver junto a mim e disse-me: (2) “Minha pessoa está circundada por todas as obras que fazem as almas como por um  vestido, e à medida da pureza de intenção e da intensidade do amor com o qual se fazem,  assim me dão mais esplendor, e eu lhes darei mais glória, tanto que no dia do juízo as  mostrarei a todo o mundo para fazer conhecer o modo como me honraram meus filhos e o  modo como Eu os honro a eles”.

(3) Então, tomando um ar mais aflito acrescentou:

(4) “Minha filha, o que será de tantas obras, mesmo boas, feitas sem reta intenção, por  costume e com fins de interesse? Qual não será sua vergonha no dia do juízo, ao ver tantas  boas obras em si mesmas, mas murchas por sua intenção, que em vez de dar-lhes honra como  a tantos outros, as mesmas ações produzirão vergonha? Porque não são as grandes obras que  olho, mas a intenção com a qual se fazem, aqui está toda a minha atenção”.

(5) Por um momento Jesus fez silêncio e eu pensava nas palavras que tinha dito, e enquanto  as estava ruminando em minha mente, especialmente sobre a pureza de intenção e como  fazendo o bem às criaturas, as mesmas criaturas devem desaparecer, fazendo uma criatura  com o mesmo Senhor, e fazendo como se as criaturas não existissem, Jesus voltou a falar  dizendo-me:

(6) “No entanto, é esse o caso. Olhe, meu coração é grandíssimo, mas a porta é estreitíssima,  ninguém pode preencher o vazio deste coração, senão só as almas desapegadas, nuas e

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simples, porque como você vê, sendo a porta pequena, qualquer impedimento, ainda mínimo,  isto é, uma sombra de apego, de intenção errônea, uma obra sem o fim de me agradar, impede  que entrem a deleitar-se em meu coração. O amor do próximo muito agrada ao meu coração,  mas deve estar tão unido ao meu, que deve formar um só, sem poder distinguir-se um do outro;  mas aquele outro amor ao próximo que não está transformado em meu amor, Eu não o olho  como coisa que me pertença”.

* * * * * *

2-21 

Maio 9, 1899

Lamentos, petições, colóquio com Jesus. 

(1) Esta manhã encontrava-me num mar de aflição pela perda de Jesus. Depois de muito espe rar veio, e se apertava tanto a mim, que não podia nem sequer vê-lo, chegava a pôr sua testa  sobre a minha, apoiava seu rosto sobre o meu e assim todos os demais membros. Agora, en quanto Jesus estava nesta posição, eu lhe disse: “Meu adorável Jesus, você não me ama  mais?”

(2) E Ele: “Se não te amasse não estaria tão perto de ti”.

(3) E eu voltei a dizer-lhe: “Como me dizes que me amas se não me fazes mais sofrer como  antes? Temo que não me queira mais neste estado, ao menos me liberte então do incômodo  do confessor”.

(4) Enquanto dizia isto, parecia que Jesus ignorava as minhas palavras e me fazia ver uma  multidão de gente que cometia toda classe de infâmias, e Jesus indignado com eles, fazia cair  entre eles diferentes tipos de enfermidades contagiosas, e muitos morriam negros como car vão, parecia que Jesus exterminava da face da terra aquela multidão de pessoas. Enquanto via  isto, pedi a Jesus que pusesse em mim as suas amarguras, a fim de que eu pudesse livrar o  povo, mas nem sequer nisto me dava ouvidos; e respondendo-me às palavras que antes lhe  tinha dito acrescentou:

(5) “O maior castigo que posso dar a ti, ao sacerdote e ao povo, é se eu te libertar deste estado  de sofrimento. A minha justiça desabafaria com toda a sua ira, porque não encontraria mais  oposição. Tanto é verdade, que o pior mal para alguém é ser posto em um ofício e depois ser  deposto, melhor para ele se não lhe tivesse sido encarregado aquele ofício, porque abusando e  não aproveitando se torna indigno”.

(6) Depois Jesus continuou a vir várias vezes no dia de hoje, mas tão aflito que dava piedade e  até fazia chorar, talvez até as mesmas pedras. Por quanto pude procurei consolá-lo, agora o

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abraçava, agora lhe segurava a cabeça tão sofredora, agora lhe dizia: “Coração do meu cora ção, Jesus, nunca foi teu costume aparecer-te a mim tão aflito, se outras vezes te fizeste ver  afligido, com verter em mim tuas amarguras logo mudaste aspecto, mas agora me é negado  dar-te este alívio. Quem diria, que depois de tanto tempo que te dignaste derramar tuas amar guras em mim e fazer-me partícipe de teus sofrimentos, e que Tu mesmo tem feito tanto para  dispor-me, agora deva ficar privada? Sofrer por seu amor era meu único alívio, era o sofrer o  que me fazia suportar o exílio do Céu, mas agora, faltando-me isto sinto que não tenho mais  onde me apoiar e a vida me dá incômodo. ¡ Ah! Esposo santo, amado Bem, amada Vida minha,  faz que voltem a mim as penas, dá-me o sofrer, não olhes minha indignidade e meus graves  pecados, senão tua grande Misericórdia que não está esgotada”.

(7) Enquanto desabafava com Jesus, Ele, aproximando-se mais a mim, disse-me: (8) “Minha filha, é minha Justiça que quer desafogar-se sobre as criaturas; o número de  pecados dos homens está quase completo, e a Justiça quer sair fora para fazer gala de sua ira  e reparar-se das injustiças dos homens. Bom, para te fazer ver como estou amargurado e para  te contentar um pouco, quero verter em ti só meu alento”.

(9) E assim, aproximando seus lábios aos meus me enviava seu respiro, que era tão amargo  que me sentia amargar a boca, o coração e toda minha pessoa. Se seu único fôlego era tão  amargo, o que será do resto de Jesus? Deixou-me tanta pena, que me senti trespassar o  coração.

* * * * * *

2-22 

Maio 12, 1899

Jesus a alegra, derrama de seu lado doçuras e amarguras. Passa a jornada junto  com Jesus. 

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus continuava a fazer-Se ver afligido, transportou-me para  fora de mim mesma e me fazia ver as ofensas que recebia, e eu comecei a pedir de novo que  derramasse em mim suas amarguras. Jesus no princípio não me ouvia e só me disse: (2) “Minha filha, a caridade só é perfeita quando é feita com o único fim de me agradar, e então  é verdadeira e é reconhecida por Mim quando está despojada de tudo”.

(3) Eu, tomando ocasião de suas mesmas palavras, lhe disse: “Amado Jesus meu, é  precisamente por isso que quero que Tu derrames em mim tuas amarguras, para poder aliviar te em tantas penas, e se te peço que libertes também as criaturas, é porque recordo bem que  Tu em outras ocasiões, depois de as haver castigado, ao vê-las sofrer tanto a pobreza e outras  coisas, muito sofreu também Tu. Mas quando eu estive atenta e te pedi e importunado até te

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cansar que derramasses em mim tuas amarguras, tanto que te agradavas em derramar em  mim, livrando-as a elas, depois Tu ficaste muito contente, não te lembras? Além disso, não são  as tuas imagens?”

(4) Jesus, vendo-se convencido, disse-me: “Por ti é necessário contentar-te, aproxima-te e  bebe do meu lado”.

(5) Assim fiz, aproximei-me para beber de seu lado, mas em vez de sair a amargura chupava  um sangue dulcíssimo, que toda me embriagava de amor e de doçura; sim, por isso estava  contente, mas não era esta minha intenção, por isso dirigindo-me a Ele lhe disse: “Querido  Bem meu, o que faz? Não é amargo o que me dás mas doce. Ah, rogo-te, derrama Tu em mim  tuas amarguras!” E Jesus olhando-me benignamente disse-me:

(6) “Continua a beber, que depois virá o amargo”.

(7) Assim, pondo-me de novo ao seu lado, depois de ter continuado a sair o doce, saiu também  o amargo. Mas quem pode dizer a intensidade da amargura? Depois que me fartei de beber,  me retirei e vendo sua cabeça que tinha a coroa de espinhos, a tirei e a afundei em minha  cabeça, e Jesus parecia todo condescendente, enquanto em outras ocasiões não havia  permitido isto. ¡ Como era bonito ver Jesus depois que derramou suas amarguras! Parecia  quase desarmado, sem força, tudo sossegado, como um humilde cordeirinho, todo  condescendente. Eu adverti que a hora era muito tardia, e como o confessor tinha vindo cedo  esta manhã para me chamar à obediência, não é que eu soubesse que devia ser chamada pela  obediência, porque ante a obediência Jesus me deixa livre, por isso volta para Ele lhe disse:  “Jesus dulcíssimo, não permitas que eu sirva de incômodo à família e de incômodo ao  confessor com fazê-lo vir de novo, ah, te peço, faz-me Tu mesmo retornar em mim!” E Jesus  me disse:

(8) “Minha filha, não te quero deixar neste dia”.

(9) E eu: “Nem eu tenho coração para te deixar, mas só por um pouquinho, para fazer ver a  família que estou em mim mesma e depois voltaremos a estar juntos”. Assim, depois de um  longo debate, dando-nos um adeus recíproco me deixou um pouco. Era exatamente a hora da  comida e a família vinha me chamar, e se bem me sentia em mim mesma, mas me sentia toda  cheia de sofrimento, a cabeça não a agüentava, o amargo e o doce bebido do lado de Jesus  me dava tal saciedade e sofrimento ao mesmo tempo, que me era impossível poder tomar  alguma outra coisa. A palavra dada a Jesus fazia-me sentir entre espinhos; assim, com o  pretexto de que me doía a cabeça, disse à família: “Deixai-me só, que não quero nada”. E  assim fiquei livre de novo e em seguida comecei a chamar o doce Jesus, e Ele sempre benigno  voltou; mas quem pode dizer o que passei hoje, quantas graças Jesus fez à minha alma,

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quantas coisas me fez entender? É impossível poder expressá-lo com palavras. Assim, depois  de um longo tempo, Jesus para acalmar meus sofrimentos, de sua boca derramou um leite  doce e depois para a noite me deixou dando-me sua palavra de que logo voltaria, e assim  encontrei-me de novo em mim mesma, mas um pouco mais livre de sofrimentos.

* * * * * *

2-23 

Maio 16, 1899

Jesus fala da cruz e lamenta-se das almas devotas. 

(1) Jesus continuou por outros dias manifestando-se do mesmo modo, não querendo separar se de mim. Parecia que aquele pouco de sofrimento que tinha derramado em mim o atraía  tanto, que não sabia estar sem mim. Esta manhã derramou outro pouco de amargura da sua  boca na minha e depois disse-me:

(2) “A cruz dispõe a alma à paciência. A Cruz abre o Céu e une o Céu e a Terra, isto é, Deus e  a alma. A virtude da cruz é potente e quando entra em uma alma tem a virtude de remover a  ferrugem de todas as coisas terrenas, não só isso, senão que dá o tédio, o fastio, o desprezo  das coisas da terra, e em troca lhe dá o sabor, o agrado das coisas celestiais, mas por poucos  é reconhecida a virtude da cruz, por isso a desprezam”.

(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendi da cruz enquanto Jesus falava? O falar de  Jesus não é como o nosso, que tanto se entende por quanto se diz, mas uma só palavra deixa  uma luz imensa, que ruminando bem poderia fazer estar ocupado todo o dia em profundíssima  meditação. É por isso que, se eu quisesse dizer tudo, me prolongaria demasiado e faltaria o  tempo para o fazer. Depois de um pouco Jesus voltou de novo, mas um pouco mais aflito. Eu  rapidamente lhe perguntei a causa, e Jesus me fez ver muitas almas devotas e me disse:

(4) “Minha filha, o que olho em uma alma é quando se despoja da própria vontade, então minha  Vontade a investe, a diviniza e a faz toda minha. Olha um pouco para estas almas, dizem-se  devotas enquanto as coisas vão à sua maneira, depois uma pequena coisa, se não forem  longas as suas confissões, se o confessor não as satisfaz, perdem a paz e algumas chegam a  não querer fazer mais nada. Isto diz que não é minha Vontade que predomina, mas a  delas. Então acredite em mim, minha filha, você errou o caminho, porque quando eu vejo que  você realmente quer me amar, eu tenho tantas maneiras de dar a minha Graça”.

(5) Quão triste era ver Jesus sofrer por este tipo de gente. Procurei compadecer-Lhe por  quanto pude e assim terminou.

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2-24 

Maio 19, 1899

A humildade dá a certeza dos favores celestiais. 

(1) Esta manhã tive receio de que não fosse Jesus, mas o demónio que me queria  enganar. Então Jesus veio e, vendo-me com este temor, disse-me:

(2) “A humildade é a certeza dos favores celestiais. A humildade veste a alma de tal segurança,  que as astúcias do inimigo não penetram dentro. A humildade põe a salvo todas as graças  celestiais, tanto, que onde vejo a humildade faço correr abundantemente qualquer tipo de  favores celestiais. Por isso não queira preocupar-se por isto, senão com olho simples olhe  sempre em seu interior se está investida pela bela humildade, e de todo o resto não se  preocupe”.

(3) Depois fez-me ver muitas pessoas religiosas, e entre elas, sacerdotes, também de santa  vida, mas por quanto bons fossem, não havia neles esse espírito de simplicidade para crer nas  tantas graças e nos tantos diversos modos que o Senhor tem com as almas. E Jesus me disse: (4) “Eu me comunico aos humildes e aos simples porque logo crêem em minhas graças e as  têm em grande estima, ainda que sejam ignorantes e pobres; mas com estes outros que você  vê Eu sou muito relutante, porque o primeiro passo que aproxima a alma a Mim é o crer; então  acontece que estes, com toda a sua ciência, doutrina e até santidade, nunca provam um raio  de luz celestial, isto é, caminham pelo caminho natural e jamais chegam a tocar nem sequer  por um momento o que é sobrenatural. Esta é também a causa de por que no curso de minha  vida mortal não houve nem sequer um douto, um sacerdote, um poderoso em meu seguimento,  senão todos ignorantes e de baixa condição, porque quanto mais humildes e simples, são  também mais fáceis a fazer grandes sacrifícios por Mim”.

* * * * * *

2-25 

Maio 23, 1899

Jesus brinca e fala do verdadeiro desapego. 

(1) Desta vez meu adorável Jesus queria brincar um pouco; vinha, fazia ver que me queria  escutar, mas enquanto me punha a falar, como um raio desaparecia. ¡¡ Oh Deus, que  pena! Enquanto meu coração nadava nesta tristeza amarguíssima da distância de Jesus e  estava quase um pouco inquieto, Jesus voltou de novo dizendo-me:

(2) “O que há, o que há? Mais calma, mais calma! Diga, diga, o que você quer?”

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(3) Mas no momento da resposta ele desapareceu. Eu fazia o possível para me acalmar, mas o  que, depois de algum tempo meu coração voltou a não saber dar-se paz sem seu único e só  consolo e talvez mais que antes. Jesus voltando de novo me disse:

(4) “Minha filha, a doçura tem a virtude de fazer mudar a natureza às coisas, sabe converter o  amargo em doce, por isso, mais doce, mais doce”.

(5) Mas não me deu tempo de dizer uma só palavra. Assim passei esta manhã. (6) Depois disto, senti-me fora de mim mesma juntamente com Jesus. Havia muitas pessoas,  que cobiçavam as riquezas, quem a honra, quem a glória e quem até a santidade, e tantas  outras coisas, mas não por Deus, mas para serem consideradas como algo grande pelas  outras criaturas. Jesus dirigindo-se a elas, movendo a cabeça lhes disse: (7) “Que tolos sois, estais formando a rede para enredar-vos”.

(8) Depois, dirigindo-se a mim, disse-me:

(9) “Minha filha, por isso a primeira coisa que tanto recomendo é o desapego de todas as  coisas e até de si mesmo, e quando a alma se despegou de tudo, não tem necessidade de se  fazer força para estar longe de todas as coisas da terra, que por elas mesmas se põem a seu redor, mas visto que não são levadas em conta, mas bastante desprezadas, dando-lhe um  adeus se despedem para não lhe dar mais incômodo”.

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2-26 

Maio 26, 1899

Luisa vê seu próprio nada. Jesus lhe ensina 

sobre o desprezo de si mesmo. 

(1) Esta manhã encontrava-me num tal aniquilamento de mim mesma, até me sentir odiosa e  arruinada, me parecia ser a mais abominável que se pudesse encontrar; me via como um  pequeno verme que se movia e se movia mas sempre ficava ali, na lama, sem poder dar um  passo. ¡ Oh Deus, que miséria humana! No entanto, depois de tantas graças que você me deu,  eu sou tão ruim ainda. E meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora, veio e  me disse:

(2) “O desprezo de si mesma só é louvável quando está bem investido pelo espírito de fé, mas  quando não está investido pelo espírito de fé, em vez de te fazer bem poderá te prejudicar,  porque vendo-te tal como tu és, que não podes fazer nada de bem, desconfiarás,  permanecerás abatida, sem te encorajar a dar um passo no caminho do bem, mas apoiando-te

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em Mim, isto é, investindo-te do espírito de fé, virás a conhecer e a desprezar-te a ti, e ao  mesmo tempo a conhecer-me a Mim, confiando totalmente em poder operar tudo com a minha  ajuda, e eis que fazendo desta maneira caminharás segundo a verdade”. (3) Quanto bem fez a minha alma este falar de Jesus, compreendi que devo entrar em meu  nada e conhecer quem sou eu, mas não devo deter-me ali, senão que em seguida, depois de  ter-me conhecido a mim mesma, devo voar ao mar imenso de Deus e aí deter-me a tomar  todas as graças que se necessitam para minha alma, de outra maneira a natureza fica  debilitada e o demônio buscará meios para lança-la na desconfiança.

(4) Seja sempre bendito o Senhor e sempre seja tudo para sua glória.

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2-27 

Maio 31, 1899

Jesus lamenta-se do confessor. 

(1) Esta manhã, estando no meu estado habitual, o meu adorável Jesus veio e ao mesmo  tempo vi o confessor. Jesus mostrava-se um pouco desgostoso com ele, porque parecia que o  confessor queria que todos aprovassem que o meu era obra de Deus, e quase queria  convencer a outros sacerdotes a manifestar-lhes algumas coisas do meu interior. Jesus voltou

se para o confessor e disse-lhe:

(2) “Isto é impossível, até Eu tive adversários, e isto em pessoas das mais notáveis e também  sacerdotes e outras dignidades, tiveram que dizer sobre minhas santas obras, até me tachar de  endemoninhado. Estas oposições, mesmo por pessoas religiosas, Eu as permito para fazer  com que a seu tempo possa brilhar mais a verdade. Que queiras ser aconselhado por dois ou  três sacerdotes dos mais bons e santos e até doutos, para ter luz e até para fazer o que eu  quero nas coisas que se devem fazer, como é o conselho dos bons e a oração, isto eu permito,  mas o resto não, não, seria querer fazer um desperdício de minhas obras e pô-las em  zombaria, o que muito me desgosta”.

(3) Depois me disse a mim: “O que quero de ti é um obrar recto e simples, que do pro e do  contra das criaturas não te preocupes, deixa-as pensar como queiram, sem tomar-te o mais  mínimo incômodo, pois o querer que todos sejam favoráveis é um querer desviar-se da  imitação de minha Vida”.

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2-28 

Junho 2, 1899

Acerca do conhecimento de nós mesmos. 

(1) Esta manhã o meu dulcíssimo Jesus quis fazer-me tocar com as minhas próprias mãos o  meu nada. No momento em que se fez ver, as primeiras palavras que me dirigiu foram: (2) “Quem sou eu, e quem és tu?”

(3) Nestas duas palavras vi duas luzes imensas: Numa compreendia a Deus, na outra via a  minha miséria, o meu nada. Via-me não ser outra coisa que uma sombra, como aquele reflexo  que faz o sol ao iluminar a terra, que depende do sol, e que passando a outros pontos o reflexo  termina de existir. Assim minha sombra, isto é, meu ser, depende do místico Sol Deus, e que  em um simples instante pode desfazer esta sombra. O que dizer além de como deformei esta  sombra que o Senhor me deu, não sendo sequer minha? Dá horror pensar, malcheiroso,  putrefacta, toda aguçada, e no entanto neste estado tão horrendo estava obrigada a estar  diante de um Deus tão santo, oh, como teria estado contente se me fora dado esconder-me  nos mais obscuros abismos!

(4) Depois disto Jesus me disse: “O maior favor que posso fazer a uma alma é fazer-se  conhecer a si mesma. O conhecimento de si e o conhecimento de Deus andam de mãos  dadas, pois quanto te conheceres a ti mesma outro tanto conhecerás a Deus. A alma que se  conheceu a si mesma, vendo que por si mesma não pode fazer nada de bem, esta sombra do  seu ser transforma-a em Deus e disto acontece que em Deus faz todas as suas  operações. Acontece que a alma está em Deus e caminha junto a Ele, sem olhar, sem  investigar, sem falar, em uma palavra, como morta, porque conhecendo a fundo seu nada não  se atreve a fazer nada por si mesma, senão que cegamente segue as operações do Verbo”.

(5) Parece-me que a alma que se conhece a si mesma lhe acontece como a essas pessoas  que vão em um transporte, que enquanto passam de um lugar a outro sem dar um passo por  elas mesmas, fazem longas viagens, mas tudo isso em virtude do transporte que as  leva. Assim a alma, entrando em Deus, como as pessoas no transporte, faz sublimes vôos no  caminho da perfeição, mas conhecendo plenamente que não ela, senão em virtude daquele  Deus bendito que a leva em Si mesmo. ¡ Oh! Como o Senhor favorece, enriquece, concede as  maiores graças à alma que sabendo que não a si mesma, mas tudo a Ele atribui. ¡ Oh, alma  que se conhece a si mesma, como é afortunada!

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2-29 

Junho 3, 1899

Jesus derrama suas amarguras em Luisa. 

(1) Esta manhã me encontrava num mar de aflição porque Jesus ainda não tinha vindo, sentia  tanta pena, que me sentia arrancar o coração. Quando o confessor veio para chamar-me à  obediência porque devia celebrar a santa missa, e Jesus sem fazer-se ver, nem sequer uma  sombra como é seu costume, que quando não vem se faz ver uma mão ou um braço,  especialmente quando é dia de receber a comunhão, Como esta manhã, Ele mesmo vem,  purifica-me, prepara-me para o receber a Ele mesmo sacramentalmente. E dizia entre mim:  “Esposo santo, Jesus amável, por que não vens tu mesmo preparar-me? Como poderei  receber-te?” Enquanto isso, o tempo chegou, o confessor veio, e Jesus sem vir. Que pena  dilacerante, quantas lágrimas amargas!

(2) O confessor disse-me: “Vê-lo-ás na comunhão e perguntar-lhe-ás por obediência o porque  não vem e o que quer de ti”.

(3) Depois da comunhão vi o meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora.  Transportou-me para fora de mim mesma e eu tinha-o nos braços, era como uma criança, todo  aflito. Eu, rapidamente comecei a dizer-lhe: “Meu menino, único e só Bem meu, como é que  não vens? Em que te ofendi? O que queres de mim que me faça chorar tanto?” Mas no ato de  dizer isto, era tanta a pena, que com tudo e que o tinha entre meus braços continuava  chorando. Mas mesmo antes de terminar de dizer a última palavra, Jesus, aproximando a sua  boca da minha, derramou as suas amarguras, sem me responder uma só palavra. Quando  acabava de verter eu começava de novo a dizer, mas Jesus, sem me prestar atenção, voltava a  verter em mim. Depois disto, sem me responder nada do que eu queria me disse:

(4) “Faze-me derramar em ti, de outra maneira, assim como destruí com o granizo outros  lugares, assim destruirei os vossos; por isso me faz verter e não pense em outra coisa”. (5) Assim, sem me dizer mais nada, acabou.

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2-30 

Junho 5, 1899

Luisa reza com Jesus.

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(1) Continua ainda o estado de aniquilação, mas a tal ponto que não ousava dizer uma palavra  ao meu amado Jesus. Mas esta manhã, Jesus, tendo compaixão do meu miserável estado, Ele  mesmo quis aliviar-me, e eis que: Enquanto me fez ver e eu me sentia toda aniquilada e  envergonhada diante dele, Jesus aproximou-se de mim, mas tão intimamente, que me parecia  que Ele estava em mim e eu nele, e me disse:

(2) “Minha filha amada, que tens que estás tão aflita? Diz-me tudo, que te contentarei e  remediarei tudo”.

(3) Mas como continuava a ver-me a mim mesma, como disse no dia anterior, então vendo-me  tão mal, nem sequer ousei dizer-lhe nada, mas Jesus replicou: “Logo, logo, diga-me o que  quer, não demore”.

(4) Vendo-me quase forçada e rompendo em abundante pranto lhe disse: “Jesus santo, como  queres que não esteja afligida, depois de tantas graças não devia ser tão má, às vezes até as  obras boas que busco fazer, nas mesmas orações, misturo tantos defeitos e imperfeições que  eu mesma sinto horror. O que será de você que é tão perfeito e santo? E além disso, o  escassíssimo sofrer em comparação com o de antes, sua grande demora em vir, tudo me diz  claramente que meus pecados, minhas grandes ingratidões são a causa, e que Você, zangado  comigo, me nega também o pão cotidiano que Você concede a todos geralmente, como é a  cruz; assim que depois terminará com me abandonar de todo. Pode dar-se talvez maior aflição  que esta?” Jesus, compadecendo-me toda, me apertou a seu coração e me disse:

(5) “Não temas, esta manhã faremos as coisas juntos, assim Eu suprirei as tuas”. (6) Então me pareceu que Jesus continha uma fonte de água e outra de sangue em seu peito,  e nessas duas fontes tem submergido minha alma, primeiro na água e depois no sangue.  Quem pode dizer como minha alma ficou purificada e embelezada? Depois nos pusemos a  rezar juntos recitando três “Gloria Patri” e isto me disse que o fazia para suplir a minhas  orações e adorações à Majestade de Deus. ¡ Oh, como era belo e comovedor rezar junto com  Jesus! Depois disto Jesus me disse:

(7) “Não te aflija não sofrer, queres tu antecipar a hora designada por Mim? Meu agir não é  apressado, mas tudo a seu tempo, cumpriremos cada coisa, mas a seu devido tempo”. (8) Depois, por um fato todo providencial, inesperadamente, tendo saído o viático da igreja para  ir a outros enfermos, recebi também eu a comunhão. Quem pode dizer tudo o que aconteceu  entre Jesus e eu, os beijos, as carícias que Jesus me fazia? É impossível poder dizer tudo.  Parecia-me que depois da comunhão via a sagrada partícula, e agora via na partícula a boca  de Jesus, agora os olhos, agora uma mão e depois fez-se ver todo Ele. Transportou-me para  fora de mim mesma e agora encontrava-me na abóbada dos céus e agora encontrava-me

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sobre a terra, no meio dos homens, mas sempre junto com Jesus. Ele de vez em quando ia  repetindo:

(9) “Oh, como és bela minha amada, se tu soubesses quanto te amo! E tu, quanto me amas?” (10) Ao ouvir-me dizer estas palavras, senti tal confusão que me sentia a morrer, mas com tudo  isto tive a coragem de lhe dizer: “Meu Jesus, belo, sim, amo-te muito, e Tu, se verdadeiramente  me amas tanto, diz-me também: Tu perdoas-me por todo o mal que fiz? E também concede-me  o sofrer”.

(11) E Jesus: “Sim, perdoo-te e quero-te contentar com derramar em abundância as minhas  amarguras em ti”.

(12) Assim Jesus derramou suas amarguras. Parecia-me que tinha uma fonte de amargura em  seu coração, recebidas pelas ofensas dos homens, e a maior parte a derramava em mim.  Depois Jesus me disse:

(13) “Diz-me que mais queres?”

(14) E eu: “Jesus santo, confio-te ao meu confessor, santifica-me e dá-lhe também a saúde do  corpo, e além disso, é vontade tua que venha este sacerdote?”

(15) E Jesus: “Sim”.

(16) E eu: “Se fosse a tua vontade, fá-lo-ias bem”.

(17) E Ele: “Fique quieta, não queira investigar muito meus julgamentos”. (18) E nesse mesmo instante me fazia ver a melhora da saúde do corpo e a santidade da alma  do confessor, e acrescentou:

(19) “Tu queres ser apressada, mas eu faço tudo a seu tempo”.

(20) Depois confiei-lhe as pessoas que me pertencem e pedi pelos pecadores dizendo a Jesus:  “Oh, quanto desejo que o meu corpo se reduzisse em pequeníssimos pedaços, desde que os  pecadores se convertessem!” E beijei a testa, os olhos, o rosto, a boca de Jesus, fazendo  várias adorações e reparos pelas ofensas que lhe faziam os pecadores. ¡ Oh, como estava  contente Jesus e eu também! Depois, fazendo-me prometer por Jesus que não voltaria a me  deixar, voltei em mim mesma e assim terminou.

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2-31 

Junho 8, 1899

Jesus chupa-a e ela chupa o peito de Jesus. 

(1) Meu adorável Jesus continua a fazer-se ver toda benignidade e doçura. Esta manhã,  quando eu estava com Ele, ele me disse novamente: “Diga-me, o que você quer?” E eu

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imediatamente lhe disse: “Querido Jesus meu, o que na verdade gostaria é que todo mundo se  convertesse”. (Que pedido tão disparatado) Mas ainda assim meu amante Jesus me disse: (2) “Te contentaria com tal que todos tivessem a boa vontade de salvar-se, porém para te fazer  ver que de boa vontade consentiria a tudo o que disseste, vamos juntos em metade do mundo,  e todos aqueles que encontrarmos com a boa vontade de salvar-se, por quanto maus sejam,  Eu os darei”.

(3) Assim saímos no meio das pessoas para ver quem tinha a boa vontade de salvar-se, e com  grande desgosto nosso encontramos um número tão escasso, que dá pena só pensar. E entre  este escassíssimo número estava o meu confessor e a maior parte dos sacerdotes e parte das  almas devotas, mas nem todos de Corato. Depois me fez ver as várias ofensas que recebia, eu  lhe pedi que me fizesse partícipe de seus sofrimentos, e Jesus derramou de sua boca na minha  as suas amarguras. Depois disto me disse:

(4) “Minha filha, sinto a boca muito amarga, anda, ah! te peço que a adoce”. (5) Eu lhe disse: “Com prazer te daria tudo, mas não tenho nada, me diga você mesmo que  coisa poderia te dar”. E Ele me disse:

(6) “Faz-me chupar o leite dos teus seios, e assim poderás adoçar-me”.

(7) E no mesmo instante em que disse isso, ela enrolou-se nos meus braços e começou a  chupar. Enquanto isso me veio um temor, que não fosse o menino Jesus, mas o demônio, por  isso pus minha mão sobre sua testa e lhe fiz o sinal da cruz: “Per Signum Crucis”. E Jesus  olhou para mim todo festivo, e no próprio ato de chupar sorria, e com aqueles olhos vivazes  parecia que me dizia: “Não sou demônio, não sou demônio”.

(8) Depois quando parecia que se tinha saciado, pôs-se de pé em meus braços e me beijava  toda. Agora, sentindo-me eu também a boca amarga pelas amarguras que tinha derramado em  mim, sentia vir as vontades de chupar os seios de Jesus, mas não me atrevia, então Jesus me  convidou a fazê-lo e assim tomei coragem e me pus a chupar, Oh, que doçura de paraíso vinha  daquele peito santo! Mas quem pode dizê-la? Então me encontrei em mim mesma toda  inundada de doçuras e de contentes.

(9) Agora explico que quando Jesus chupa de meus seios, o corpo não participa para nada,  pois é quando me encontro fora de mim mesma, parece que a coisa acontece só entre a alma  e Jesus, e Ele quando quer fazer isto, é sempre como criança. É tão certo que é só a alma e  não o corpo, que quando acontece isto eu me encontro sempre, ou na abóbada do céu, ou bem  girando por outros pontos da terra. Agora, como em algumas ocasiões disse que voltando em  mim mesma sentia uma dor naquela parte em que o menino Jesus havia chupado, é porque ao  chupar, às vezes parecia que o fazia um pouco forte, tanto que parecia que com aquelas

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chupadas queria puxar o coração de dentro do peito. Por isso sentia sensivelmente uma dor e  a alma retornando em mim mesma o participava ao corpo.

(10) Isto acontece também nas outras coisas, como por exemplo quando o Senhor me  transporta para fora de mim mesma e me torna partícipe da crucificação.Jesus mesmo me  estende sobre a cruz, me atravessa as mãos e os pés com os cravos e sinto uma dor tal, que  me sinto morrer, depois, encontrando-me em mim mesma, os sinto muito bem no corpo, tão é  verdade que não posso mover os dedos, os braços, e assim dos demais sofrimentos dos quais  o Senhor me faz partícipe, se tivesse que dizer tudo, me alongaria demasiado.

(11) Recordo também que enquanto Jesus fazia isto de chupar meus seios, neles punha a  boca, mas do coração era de onde me sentia sair aquela coisa que chupava, tanto, que  enquanto isso fazia, Às vezes sentia-me a arrancar o coração do peito e às vezes sentia  vividamente dor, dizia-lhe: “Meu querido, és muito impertinente, fá-lo mais ficar, pois dói-me  muito”. E Ele estava rindo.

(12) Assim também quando me encontro eu chupando a Jesus, é de seu coração que tiro esse  leite, ou bem sangue, tanto que para mim, é o mesmo chupar de seu peito que se bebo de seu  lado. Acrescento ainda outra coisa, que o Senhor de vez em quando se digna verter da boca  um leite dulcíssimo, ou bem me faz beber de seu lado seu preciosíssimo sangue, e quando faz  isto de querer chupar de mim, não chupa outra coisa que aquilo mesmo que Ele me deu,  Porque eu não tenho nada para adoçar, senão muito para amargá-lo. Tão é verdade, que às  vezes no mesmo momento que Ele chupava de mim, eu chupava dele e advertia claramente  que o que saía de mim não era outra coisa senão o mesmo que Ele me dava, parece que me  expliquei suficientemente por quanto pude.

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2-32 

Junho 9, 1899

Jesus lhe faz ver as ofensas que recebe. 

(1) Esta manhã passei-a muito angustiada pela vista das tantas ofensas que faziam os homens,  especialmente por certas desonestidades horrendas. Quanta pena dava a Jesus a perda das  almas, muito mais a de um menino recém-nascido que queriam matar sem administrar-lhe o  santo batismo. Parece-me que este pecado pesa tanto na balança da justiça divina, que é dos  que mais clamam vingança diante de Deus, porém muito freqüentemente se renovam estas

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cenas dolorosas. Meu dulcíssimo Jesus estava tão aflito que dava piedade. Vendo-o em tal  estado não me atrevi a lhe dizer nada e Jesus só me disse:

(2) “Minha filha, une teus sofrimentos com os meus, tuas orações às minhas, assim, diante da  majestade de Deus são mais aceitáveis e aparecem não como coisas tuas, senão como obras  minhas”.

(3) Depois continuou a fazer-se ver outras vezes, mas sempre em silêncio. Seja sempre  bendito o Senhor.

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2-33 

Junho 11, 1899

Efeitos que receberão aqueles que se aproximarem de Luisa. 

(1) Meu doce Jesus continua a fazer-se ver pouquíssimas vezes e quase sempre em silêncio.  Minha mente me sentia toda confusa e cheia de medo de perder a mim só e único Bem e por  tantas outras coisas que não é necessário dizer aqui. ¡ Oh Deus, que pena! Enquanto estava  neste estado, assim que se fez ver, parecia que trazia uma luz, e desta luz saíam muitos balões  de luz e Jesus me disse:

(2) “Tira todo temor de teu coração. Olha, eu trouxe este globo de luz para colocar entre você e  eu e aqueles que se aproximam de você. Aos que se aproximarem de ti com coração reto e  para fazer-te o bem, estes globitos de luz que saem penetrarão em suas mentes, descerão em  seus corações e os encherão de alegria e de graças celestiais e compreenderão com clareza o  que faço em ti; aqueles que vierem com outras intenções experimentarão o contrário, e por  estes globitos de luz ficarão deslumbrados e confundidos.” Assim fiquei mais tranqüila. Seja  tudo para glória de Deus.

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Junho 12, 1899

O próprio Jesus prepara-a para a comunhão. 

(1) Esta manhã, tendo de receber a comunhão, estava a pedir ao bom Jesus que viesse ele  mesmo preparar-me, antes que viesse o confessor para celebrar a Santa Missa. De outra forma  como poderei recebê-la, sendo tão má e estando indisposta? Enquanto fazia isto, o meu doce  Jesus agradou-se em vir, no mesmo momento em que o vi, parecia-me que não fazia outra

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coisa senão tirar-me com os seus olhares puríssimos e resplandecentes de luz. Quem pode  dizer o que faziam em mim aqueles olhares penetrantes que não deixavam escapar nem  sequer a sombra de um pequeno defeito? É impossível poder dizê-lo; aliás, teria querido deixar  tudo isto em silêncio, porque as operações internas da graça dificilmente se sabem expor tal  como são com a boca, parece antes que se desfiguram. Mas a senhora obediência não quer e  quando é por ela, é preciso fechar os olhos e ceder sem dizer nada mais, de outra maneira, ai!  por toda parte, porque sendo senhora, por si mesma se faz respeitar.

(2) Então continuo a dizer: “No primeiro olhar, pedi a Jesus que me purificasse, e assim me  parecia que da minha alma se sacudisse tudo o que a ensombrava. No segundo olhar, pedi-lhe  que me iluminasse, porque em que aproveita a uma pedra preciosa ser pura se não está  resplandecente para atrair os olhares daqueles que a olham? Vão olhar para ela, sim, mas com  olhos indiferentes.Tanto mais eu, que não só devia ser olhado, mas identificada com meu doce  Jesus, tinha necessidade daquela luz, que não só me tornava a alma resplandecente, mas que  me fazia entender a grande ação que estava por realizar, por isso não me bastava ser  purificada, mas também iluminada. Então Jesus naquele olhar parecia que me penetrava, como  a luz do sol penetra o cristal. Depois disto, vendo que Jesus continuava olhando para mim, lhe  disse: “Amantíssimo Jesus, já que te deleitaste primeiro em purificar-me e depois em iluminar me, dígnate agora santificar-me, muito mais, que devendo receber-te a Ti, que és o Santo dos  santos, não é justo que eu seja tão diversa de Ti”.

(3) Então Jesus, sempre benigno a esta miserável, inclinou-se para mim, tomou minha alma  entre seus braços e parecia que com suas próprias mãos toda a retocada, quem pode dizer o  que operavam em mim aqueles toques dessas mãos criadoras? Como minhas paixões ante  aqueles toques se punham em seu posto, meus desejos, inclinações, afetos, batimentos e  demais sentidos, santificados por aqueles toques divinos se mudavam em algo totalmente  diferente e unidos entre eles, não mais discordantes como antes, formavam uma doce  harmonia ao ouvido de meu amado Jesus; me parecia que fossem tantos raios de luz que  feriam seu coração adorável, oh! como Jesus se recriava e que momentos felizes têm sido para  mim. [ Ah! eu experimentava a paz dos santos, para mim era um paraíso de contentes e d

(4) Depois disto parecia que Jesus vestia a minha alma com a veste da fé, da esperança e da  caridade, e no ato mesmo que me vestia, Jesus me sugeria o modo como me devia exercitar  nestas três virtudes. Agora, enquanto eu estava fazendo isso, Jesus, enviando outro raio de luz  me fez entender o meu nada, ah! parecia-me que fosse como um grão de areia no meio de um  vasto mar, qual é Deus, e este pequeno grão ia-se perder naquele mar imenso, mas se perdia  em Deus. Depois me transportou para fora de mim mesma, levando-me em seus braços e

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sugerindo vários atos de contrição de meus pecados; recordo somente que fui um abismo de  iniqüidade. ¡ Senhor, quantas negras ingratidões tive para Ti!

(5) Enquanto fazia isto olhei para Jesus e tinha a coroa de espinhos na cabeça, estendi-lhe a  mão e tirei-lha, dizendo: “Dá-me os espinhos, ó! Jesus, eu sou pecadora, a mim me convêm os  espinhos, não a Ti que és o Justo, o Santo”. Assim Jesus mesmo a cravou sobre minha  cabeça. Depois, não sei como, de longe, vi o confessor, em seguida pedi a Jesus que fosse  preparar o confessor para poder recebê-lo na comunhão; então parecia que Jesus ia com ele.  Depois de um pouco ele voltou e me disse:

(6) “Quero que seja o modo de tratar entre Eu e você e o confessor, e assim também quero  dele, que te olhe e trate contigo como se fosse outro Eu, porque sendo sua vítima como fui Eu,  não quero diferença alguma, e isto para fazer que tudo seja purificado e que em tudo  resplandeça só meu amor”.

(7) Eu disse-lhe: “Senhor, isto parece impossível, que possa tratar com o confessor como faço  Contigo, especialmente quando vejo a instabilidade”. E Jesus:

(8) “No entanto é assim, a verdadeira virtude, o verdadeiro amor, tudo faz desaparecer, tudo  destrói e com uma maestria que encanta, em todo o seu agir não faz resplandecer outra coisa  que só Deus e tudo olha em Deus”.

(9) Depois disto veio o confessor para chamar-me à obediência e assim celebrar a Santa  Missa, e por isso terminou. Então ouvi a Santa Missa e recebi a comunhão. Quem pode dizer a  intimidade que houve entre Jesus e eu? É impossível poder expressá-la, não tenho palavras  para me fazer entender, por isso o deixo em silêncio.

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Junho 14, 1899

Expectação. Jesus quer castigar. 

(1) Esta manhã o amantíssimo Jesus não vinha, e em meu íntimo ia pensando: Como é que  não vem? O que há de novo? ” Ontem veio freqüentemente, e hoje já é tarde e não se faz ver  ainda, que dor, quanta paciência se necessita com Jesus! Todo meu interior me parecia que se  levantasse em armas, porque queriam a Jesus e me faziam uma guerra que me dava penas de  morte. A vontade, como superior a tudo, buscava pôr paz com persuadir a meus sentidos,  inclinações, desejos, afetos e a todo o resto de aquietar-se, porque Jesus devia vir. Assim,  depois de um longo penar, Jesus veio trazendo uma taça na mão, cheia de sangue coagulado,  putrefato e pestilento e me disse:

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(2) “Olha esta taça de sangue, derramarei-a sobre o mundo”.

(3) Enquanto assim dizia, veio a Mãe, a Virgem Santíssima, e junto com Ela meu confessor e  pediam a Jesus que não o derramasse sobre o mundo, senão que me fizesse beber a mim, o  confessor lhe disse: “Senhor, de que adianta tê-la como vítima se não quiser derramá-la sobre  ela? Absolutamente quero que a faça sofrer e perdoe as pessoas”.

(4) A Mãe chorava e insistia diante de Jesus e do confessor para que não desistisse de rogar  até que Jesus não se contentasse em aceitar a mudança. Jesus insistia em que a queria  derramar sobre todo o mundo e parecia que se zangava. Eu me via toda confusa, não sabia  dizer nada porque era tanto o horror que se sentia ao ver aquela taxa cheia de sangue tão  espantosa, que dava estremecimento em toda a natureza; que seria o bebê-la? Mas eu estava  resignada, porque se o Senhor me tivesse dado, tê-la-ia aceitado. Quem pode dizer, além  disso, os castigos que se continham naquele sangue se o Senhor a derramara no mundo? A  partir deste dia, parece que está a preparar uma tempestade de granizo que vai causar muitos  danos, e parece que deve continuar nos próximos dias.

(5) Depois, Jesus parecia um pouco mais calmo, tanto que parecia que abraçava o confessor  porque lhe tinha rogado naquele modo, mas sem chegar a nenhuma determinação se a deve  derramar sobre as pessoas ou não. Assim terminou, deixando-me uma pena indescritível pelo  que poderá acontecer.

* * * * * *

2-36 

Junho 16, 1899

Obtém que Jesus perdoe em parte a sua cidade. 

(1) Jesus continua fazendo-se ver que quer castigar. Eu lhe roguei que derramasse em mim  suas amarguras para livrar a todos, e se isto não fosse possível, ao menos aqueles que me  pertencem e a minha cidade. A esta intenção parecia que se unia também a intenção do  confessor, assim parecia que Jesus, vencido pelas orações, derramou um pouco de sua boca,  mas não aquela taça descrita antes. Este pouco que derramou, parecia que o fazia para livrar  em algum modo a minha cidade, mas não de todo, e aqueles que me pertencem.

(2) Todavia esta manhã eu fui causa de fazer afligir a Jesus, pois como depois de haver  derramado o tenho visto mais tranqüilo, sem pensar lhe disse: “Meu bom Jesus, peço-Te que  me libertes do incômodo que dou ao confessor, de o fazer vir todos os dias, que te custa a Ti  libertar-me, que Tu mesmo me ponhas nos sofrimentos e Tu mesmo me libertes? Certamente  que não te custa nada e se queres tudo podes”. Enquanto lhe dizia isto, Jesus punha um rosto

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tão aflito, que essa aflição me sentia penetrar até o íntimo de meu coração e sem me dizer  palavra desapareceu. como fiquei mortificada ao pensar especialmente que não viria mais,  sabe-o só o Senhor, mas pouco depois voltou, mas com maior aflição, trazendo um rosto todo  inchado e cheio de sangue, porque naquele momento lhe tinham feito aquelas ofensas, Jesus  todo triste disse:

(3) . “Vês o que me fizeram, como dizes que não queres que castigue as criaturas? Os castigos  são necessários para humilhá-las e não deixá-las orgulhar-se mais”.

* * * * * *

2-37 

Junho 17, 1899

Contende com Jesus e convence-o a não dormir. 

(1) Continua sempre o mesmo, mas especialmente esta manhã estive contendendo com meu  amado Jesus; Ele que queria continuar mandando a saraiva como tem feito em dias passados,  e eu que não queria; quando no melhor desta contenda, parecia que se preparava um temporal  e dava ordens aos demônios que destruíssem com o flagelo do granizo vários lugares. Nesse  momento via que de longe me chamava o confessor, dando-me a obediência de que fosse pôr  em fuga os demônios para não deixá-los fazer nada. Enquanto saí para ir, Jesus veio ao meu  encontro fazendo-me voltar atrás e eu lhe disse: “Senhor bendito, não posso, porque é a  obediência que me ordenou e Tu sabes que eu e Tu devemos ceder ante esta virtude, sem  poder nos opor”.

(2) Então Jesus: “Bem, eu o farei por ti”.

(3) E assim ordenou aos demônios que se fossem a lugares mais distantes e que por agora  não tocassem as terras pertencentes a nossa cidade.

(4) Depois disse-me: “Vamos voltar”.

(5) Assim voltamos, eu para a cama e Jesus junto a mim. Assim que chegamos, Jesus queria  descansar, dizendo que estava muito cansado, eu o parei, dizendo: “Quem sabe o que é este  sonho que queres fazer? E além disso, que bonita obediência me fez fazer, porque quer dormir.  Isto é o quanto me ama e que quer me contentar em tudo? Quer dormir? durma pois, basta que  me dê sua palavra que não fará nada”. Então, desagradando-se por meu descontentamento  me disse:

(6) “Minha filha, no entanto, gostaria de te contentar, façamos assim: Vamos sair juntos de novo  entre o povo, e aqueles que vemos que é necessário punir por suas tantas ações infames, e

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que possivelmente ao menos sob o flagelo se arrependerão, O que você quiser deles e aqueles  que são menos necessários para punir e que você não quer que os castigue, Eu os libertarei”. (7) E eu: “Senhor, agradeço-te pela tua bondade ao querer contentar-me, mas com tudo e isto  não posso fazer o que me dizes, não sinto a força de pôr a minha vontade para castigar a  nenhuma das tuas criaturas, e além disso, que tormento será para o meu pobre coração  quando ouvir que tal pessoa ou aquela outra foi castigada e que eu pus a minha vontade  Jamais seja, jamais seja, ó Senhor!”

(8) Depois veio o confessor para me chamar em mim mesma e assim terminou.

* * * * * *

2-38 

Junho 19, 1899

Quem se faz desaparecer a si mesmo, jamais comete pecados. 

(1) Tendo passado ontem uma jornada de purgatório pela privação quase total de meu sumo  Bem, e pelas tantas tentações que me punha o demônio, me parecia que cometia muitos  pecados. ¡ Oh Deus, que pena ofender a Deus!

(2) Esta manhã, assim que vi Jesus, rapidamente lhe disse: “Jesus bom, perdoa-me os tantos  pecados que fiz ontem”. E queria dizer-lhe o mal que sentia que tinha feito. Ele, interrompendo me, disse-me:

(3) “Se te fizeres desaparecer a ti mesma, não cometerás pecados jamais”. (4) Eu queria continuar falando, mas Jesus me fazendo ver muitas almas devotas e mostrando  que não queria ouvir o que queria dizer, continuou dizendo:

(5) “O que mais me desagrada nestas almas é a instabilidade em fazer o bem, basta uma  pequena coisa, um desgosto, mesmo um defeito, enquanto é então o tempo mais necessário  para estreitar-se a Mim, estas em troca, irritam-se, incomodam-se e deixam a metade o bem  começado. Quantas vezes eu preparei obrigado para dar-lhes, mas vendo-os tão instáveis, fui  obrigado a retê-los”.

(6) Depois, sabendo que não queria saber nada do que queria lhe dizer e vendo que meu  confessor estava um pouco mal no corpo, orei longamente por ele, e fazia a Jesus várias  perguntas que não é necessário dizer aqui. E Jesus, benignamente, respondeu-me a tudo e  assim terminou.

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2-39 

Junho 20, 1899

Como tudo está no amor. 

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, parece que Jesus quis aliviar-me um pouco,  depois de que por algum tempo fui em busca Dele. De longe vi um menino, e como um raio que  cai do céu vim, assim que cheguei o tomei em meus braços e me veio uma dúvida de que não  fora Jesus lhe disse:

(2) “Meu querido Teseu, me diga, quem é você?”

(3) E Ele: “Eu sou teu querido e amado Jesus”.

(4) E eu a Ele: “Meu menino formoso, peço-te que tomes meu coração e o leves Contigo ao  Paraíso, pois junto com o coração irá minha alma”.

(5) Parecia que Jesus tomou meu coração e o uniu de tal maneira ao seu, que se tornavam um  só. Depois abriu-se o Céu, parecendo que se preparava para uma festa grandíssima, no  mesmo momento desceu do Céu um jovem de formoso aspecto, todo cintilante de fogo e  chamas. Jesus disse para mim:

(6) “Amanhã é a festa do meu querido Luís, devo assistir”.

(7) E eu: “Então deixa-me sozinha, como farei?”

(8) E Ele: “Também tu virás, olha como é belo Luís, mas o que foi mais nele, que o distinguiu na  terra, era o amor com que operava, tudo era amor nele, o amor ocupava-lhe o interior, o amor  circundava-o no exterior, assim que também o respiro se podia dizer que era amor, por isso  dele se diz que não sofreu jamais distração, porque o amor o inundava por todas as partes e  por este amor será inundado eternamente, como tu vês”.

(9) E assim parecia que era tão grande o amor de São Luís, que podia incinerar todo o  mundo. Depois Jesus acrescentou:

(10) “Eu passeio sobre os montes mais altos e neles formo minha delícia”. (11) Eu não entendi o significado, e ele continuou dizendo:

(12) “Os montes mais altos são os santos que mais me amaram, e Eu faço deles minha delícia  quando estão sobre a terra e quando passam ao Céu, assim que o tudo está no amor”. (13) Depois disto pedi a Jesus que me abençoasse e àqueles que naquele momento via, e Ele  dando a bênção desapareceu.

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2-40 

Junho 21, 1899

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Medos. Jesus promete nunca deixá-la. 

(1) Como Jesus não vinha, estava pensando entre mim: “Quem sabe, talvez Jesus não venha  mais e me deixe abandonada”. E não dizia outra coisa que: “Vem meu amado, vem!” De  improviso veio e me disse:

(2) “Não te deixarei, jamais te abandonarei, também tu, vem, vem a Mim”. (3) Eu logo corri para me colocar em seus braços, e enquanto estava assim Jesus voltou a  dizer:

(4) “Não só não te deixarei a ti, senão que por amor teu não deixarei Corato”. (5) Depois, quase sem me dar conta, num instante desapareceu e eu fiquei desejando-o mais  que antes e ia dizendo: “O que me fizeste? Quando é que te foste embora sem sequer me  dizeres adeus?”

(6) Enquanto desafogava minha dor, a imagem do Menino Jesus que tenho perto de mim,  parecia que se fazia viva e de vez em quando tirava a cabeça da coberta de cristal para ver que  coisa fazia eu, quando via que me dava conta, logo se metia. Eu disse-lhe: “Vê-se que és  demasiado impertinente e que queres portar-te como menino, eu sinto-me enlouquecer pela  pena de que não vens e Tu te pões a jogar, bom pois, joga e brinca também, que eu terei  paciência”.

* * * * * *

2-41 

Junho 22, 1899

Jesus brinca e brinca com ele. 

(1) Esta manhã meu doce Jesus queria continuar se divertindo e querendo brincar, vinha,  punha suas mãos na minha cara como se quisesse me fazer uma carícia, mas no momento de  fazê-la desaparecia, de novo vinha, estendia seus braços para meu pescoço em ato de querer  me abraçar, mas enquanto estendia os meus para abraçá-lo, fugia como um relâmpago, sem  poder encontrá-lo, quem pode dizer as penas de meu coração? Enquanto meu pobre coração  nadava neste mar de dor imenso, até me sentir desfalecer, veio a Mamãe Rainha trazendo-o  como menino entre seus braços e assim nos abraçamos os três juntos, a Mãe, o Filho e eu,  então tive tempo de dizer-lhe: “Meu Senhor Jesus, parece-me que retiraste de mim a tua  graça”.

(2) E Ele: “Tola, tola que és! Como dizes que te retirei a minha graça enquanto estou em ti? E  que coisa é a minha graça senão Eu mesmo?”.

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(3) Fiquei mais confusa do que antes, vendo que não sabia falar e que naquelas duas palavras  que tinha dito, não tinha dito outra coisa que não fosse disparates. Depois a Rainha Mãe  desapareceu e Jesus parecia que se fechava dentro de mim e ali ficava.

(4) Hoje, depois da meditação, se fazia ver que dormia dentro de mim, eu o estava olhando,  deleitando-me em seu belo rosto, mas sem despertá-lo, contente de vê-lo ao menos, quando  em um instante veio de novo a bela Mamãe Rainha, o tomou de dentro de meu coração,  movendo tudo rapidamente para despertá-lo; depois de despertá-lo colocou-o de novo em  meus braços dizendo-me:

(5) “Minha filha, não o deixe dormir, porque se dorme vais ver o que acontecerá”. (6) Era um temporal que se preparava. Assim o menino, meio dormindo, pôs suas mãozinhas  em meu pescoço e apertando-me disse:

(7) “Mamãe minha, mamãe minha, deixa-me dormir”.

(8) E eu: Menino, meu menino bonito, não sou eu quem não quer deixar-te dormir, é nossa  Senhora Mãe que não quer, e eu te peço que a contentes, certamente que nada se nega à  Mãe, e sobretudo a essa Mãe.

(9) Depois de tê-lo mantido acordado por alguns momentos desapareceu e assim terminou.

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2-42 

Junho 23, 1899

Vá ao confessor com Jesus e peça por ele. 

(1) Tendo ouvido a Santa Missa e recebido a comunhão, o meu amado Jesus fazia-se ver de  dentro do meu coração, depois senti-me a sair de mim mesma, mas sem Jesus. Vi o meu  confessor, e como ele me tinha dito que depois da comunhão viria Nosso Senhor, e que lhe  pedisse por ele, então assim que o vi disse-lhe: “Pai, o senhor disse-me que Jesus devia vir e  não veio”. E Ele me disse:

(2) “Porque não o sabes encontrar, por isso dizes que não veio, olha bem, pois está em teu  interior”.

(3) Olhei em mim e vi os pés de Jesus que saíam de meu interior, logo os tomei com a mão e  tirei a Jesus, abracei-o e vendo-o com a coroa de espinhos na cabeça a tirei e a dei na mão ao  confessor dizendo-lhe que a cravasse em minha cabeça e assim o fez, mas o que, por quanto  força fazia não conseguia fazer penetrar nem uma só coluna; eu lhe disse: “Mais forte, não  tema que eu vá sofrer muito, porque como você vê está Jesus que me dá a força”. Mas por

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mais que eu tentasse, tudo era inútil, então me disse: “Não está em minhas forças o poder  fazer isto, porque sendo osso o que devem penetrar estes espinhos, eu não os tenho”. (4) Então dirigi-me ao meu doce Jesus dizendo: “Tu vês que o pai não sabe pô-la, introduz-a  um pouco Tu mesmo”. E Jesus estendeu as suas mãos e, num instante, fez penetrar na minha  cabeça todos aqueles espinhos, com indizível dor e contentamento.

(5) Depois disto, juntamente com o confessor, pedimos a Jesus que derramasse em mim a sua  amargura, para livrar as nações de tantos flagelos que lhes estão ordenados, como hoje, que  estava preparada uma saraivada um pouco longe de nós, então o Senhor, para condescender  com as nossas orações, derramou um pouco.

(6) Além disso, como eu continuava a ver o confessor, comecei a implorar a Jesus por ele,  dizendo: “Meu bom e amado Jesus, peço-te que concedas a graça ao meu confessor, de fazer  tudo teu, segundo o teu coração, e ao mesmo tempo dá-lhe a saúde corporal. Tu viste como  ele cooperou comigo para te aliviar, tanto a cabeça dos espinhos, como para te fazer derramar  as tuas amarguras, e se não conseguiu cravar-me os espinhos na cabeça, não foi para não te  aliviar, nem por sua vontade, mas porque não tinha força; por isso, também por isto deves me  escutar; assim que me diz, ó meu só e único Bem, o farás bem tanto na alma como no corpo?”

(7) Mas Jesus me ouvia e não me respondia, e eu mais me esforçava em rogar-lhe dizendo:  “Esta manhã não te deixarei nem deixarei de rogar se não me der sua palavra de que me  ouvirá favoravelmente no que te peço para ele”.

(8) Mas Jesus não dizia uma palavra. De repente nos encontramos rodeados de pessoas,  estas pareciam que se sentavam ao redor de uma mesa, comendo, e nela também estava  minha porção, e Jesus me disse:

(9) “Minha filha, tenho fome”.

(10) E eu: “Dou-te a minha parte, não estás contente?”

(11) E Jesus: “Sim, mas não quero que vejam que estou aqui”.

(12) E eu: “Está bem, farei ver que a tomo para mim, e sem que se dêem conta te o darei”. E  assim o fizemos.

(13) Logo depois, Jesus, levantando-se e pondo os seus lábios à minha frente, começou a  fazer um ruído com a sua boca, como um som de trombeta, todas aquelas nações  empalideciam e tremiam, dizendo entre elas: “O que acontece, o que acontece? Ah Agora nós  vamos morrer!”

(14) Eu disse-lhe: “Meu Senhor Jesus, que fazes? Como, até agora não queria ser visto e logo  se põe a fazer ruído, fique quieto, fique quieto, não faça que as pessoas tenham medo, não vê  como todos se assustam?”

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(15) E Jesus: “Agora é nada, o que será quando de repente fizer soar mais forte? Será tal o  temor do que serão presas, que muitos e muitos deixarão a vida”.

(16) E eu: “Meu Jesus adorável, que dizes? Sempre nisso, que queres fazer justiça, mas não,  misericórdia, misericórdia, peço-te para o teu povo”.

(17) Depois, tomando seu aspecto doce e benigno, e voltando a ver o confessor, comecei de  novo a importuná-lo e Jesus me disse:

(18) “Farei com seu confessor como com aquela árvore enxertada, que não se reconhece mais  a árvore velha, tanto na alma como no corpo, e em penhor disto te dei em suas mãos como  vítima, para que se sirva disso”.

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2-43 

Junho 25, 1899

Continua no mesmo e Jesus fala da Fé. 

(1) Esta manhã Jesus continua a fazer-se ver de vez em quando, participando-me um pouco de  seus sofrimentos e às vezes via o confessor com Ele, e como ele me havia dito que rezasse  por certas necessidades suas, Vendo-o juntamente com Nosso Senhor, comecei a rezar a  Jesus para que lhe concedesse o que Ele queria. Enquanto eu lhe rogava, Jesus, toda  bondade se dirigiu ao confessor e lhe disse:

(2) “Quero que a fé te inunde por toda parte, como aquelas barcas que são inundadas pelas  águas do mar, e como a fé sou Eu mesmo, sendo inundado por Mim, que tudo possuo, posso e  dou livremente a quem em Mim confia, sem que tu penses no que virá, e ao quando e o como e  o que farás, Eu mesmo, segundo as tuas necessidades me prestarei a socorrer-te”.

(3) Depois ele adicionou: “Se te exercitares nesta fé, quase nadando nela, em recompensa te  infundirei no coração três alegrias espirituais: O primeiro, que penetrarás as coisas de Deus  com clareza e ao fazer coisas santas te sentirás inundado por uma alegria, por um gozo tal,  que te sentirás como empapado, e esta é a unção da minha graça.

(4) O segundo é um aborrecimento das coisas terrenas e sentirás em teu coração alegria pelas  coisas celestiais.

(5) O terceiro é um desapego total de tudo, e onde antes sentia inclinação, sentirá um  incômodo, como há tempos o estou infundindo em seu coração, e você já o está  experimentando. E por isso teu coração será inundado pela alegria que gozam as almas  totalmente desapegadas, que têm seu coração tão inundado de meu amor, que das coisas que  as rodeiam externamente não recebem nenhuma impressão”.

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Julho 4, 1899

Jesus fala da Mãe Celestial. As perturbações. 

(1) Esta manhã, tendo-me renovado Jesus as penas da crucificação, encontrava-se também  nossa Mãe Rainha, e Jesus falando dela disse:

(2) “Meu próprio reino esteve no coração de minha Mãe, e isto porque seu coração não foi  jamais nem minimamente perturbado, tanto, que no mar imenso da Paixão sofreu penas  imensas, seu coração foi traspassado de lado a lado pela espada da dor, Mas não recebeu  nem um sopro de perturbação. Por isso, sendo meu reino um reino de paz, pude estender nela  meu reino, e sem encontrar nenhum obstáculo pude livremente reinar”.

(3) Tendo vindo Jesus mais vezes e vendo-me toda cheia de pecados, disse-lhe: “Senhor meu  Jesus, sinto-me toda coberta de chagas e pecados graves; ah, peço-te, tem piedade desta  miserável”.

(4) E Jesus: “Não temas, que não há culpas graves, e além disso, deve-se ter horror da culpa,  mas não se perturbar, porque a agitação, de onde quer que venha, jamais faz bem à alma”. (5) Depois acrescentou: “Minha filha, tu és vítima como eu, faz que todas as tuas obras  resplandeçam com as minhas mesmas intenções, puras e santas, a fim de que encontrando  em ti a minha imagem possa livremente derramar o influxo das minhas graças, e adornada  assim poderei oferecer-te como vítima perfumada ante a divina justiça”.

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Julho 9, 1899

Jesus participa a Luisa suas penas. 

(1) Esta manhã Jesus quis renovar-me as penas da crucificação, primeiro me transportou para  fora de mim mesma, sobre um monte e me perguntou se queria ser crucificada, eu lhe disse:  “Sim, meu Jesus, não desejo outra coisa que a cruz”. Enquanto dizia isto, surgiu uma cruz  grandíssima, que me estendeu sobre ela e me cravou com as próprias mãos. Que penas  atrozes sofria ao me sentir trespassar as mãos e os pés por aqueles pregos, que por acréscimo  estavam despovoados, e para fazê-los penetrar custava trabalho e sofria muito, mas com Jesus  tudo era tolerável. Depois de acabar de me crucificar, disse-me:

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(2) “Minha filha, sirvo-me de ti para poder continuar a minha Paixão. Como meu corpo  glorificado não é capaz de sofrer mais, vindo a ti me sirvo de teu corpo como me servi do meu  no curso de minha Vida mortal, para poder continuar sofrendo minha Paixão e assim poder te  oferecer ante a divina justiça como vítima vivente de reparação e propiciação”.

(3) Depois disto parecia que se abrisse o Céu e descia uma multidão de santos, todos armados  com espadas, uma voz como de trovão saiu daquela multidão, e dizia: “Viemos defender a  justiça de Deus e punir os homens que tanto abusaram de sua misericórdia”. Quem pode dizer  o que acontecia sobre a terra nesta descida dos santos? Só sei dizer, que quem guerreava em  um ponto e quem em outro, quem fugia, quem se escondia, parecia que todos estavam  consternados.

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Julho 14, 1899

Jesus não pode deixar quem o ama. 

(1) Meu adorável Jesus continua estes dias fazendo-se ver pouquíssimas vezes, sua visita é  como um raio, que enquanto se quer seguir vendo-o foge, e se alguma vez se detém um pouco  é quase sempre em silêncio, outras vezes diz alguma coisa, mas assim que se vai me parece  que se leva essa palavra junto com a luz que me vem de sua palavra, tanto que depois não  recordo nada do que disse, e minha mente fica na mesma confusão de antes. ¡ Que estado  miserável! Meu amado Jesus, tenha piedade desta miserável, continue fazendo uso de sua  misericórdia. Agora, para não me alongar e dizer dia por dia o que passei, direi aqui tudo junto,  algumas palavras que me disse nestes últimos dias.

(2) Lembro-me que depois de ter derramado lágrimas amargíssimas, Jesus, fazendo-se ver e  eu me lamentando com Ele porque me tinha deixado, chamou muitos anjos e santos e  dirigindo-se a eles disse: “Ouçam o que diz, que eu a deixei, digam-lhe, posso eu deixar  aqueles que me amam? Ela me amou, como posso deixá-la?” E os santos concordaram com o  Senhor e eu fiquei mais humilhada e confusa do que antes.

(3) Noutra ocasião, dizendo-lhe que: “No final acabarás por me deixar de todo”. Jesus disse me:

(4) “Filha, não posso deixar-te, e como penhor disto pus em ti os meus sofrimentos”. (5) Depois, encontrando-me ocupada com o pensamento: “Como permitiste Senhor que viesse  o sacerdote, tudo poderia ter acontecido entre Tu e eu”. Em um instante me encontrei fora de

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mim mesma, estendida sobre uma cruz, mas não havia ninguém que pudesse me pregar, eu  comecei a pedir ao Senhor que viesse a crucificar-me e Jesus veio e me disse: (6) “Veja como é necessário que o sacerdote esteja no meio de minhas obras, e isto é ajuda  também para cumprir a crucificação; é certo que se não há ninguém, por ti só não podes  crucificar-te, sempre se necessita da ajuda dos demais”.

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Julho 18, 1899

(1) Continua quase sempre o mesmo. Desta vez me parecia que em meu coração estivesse  Jesus Sacramentado, e desde a hóstia santa espargia tantos raios de luz em meu interior, e a  meu coração saíam tantos fios de luz, que se entrelaçavam todos esses raios de luz, parecia me que Jesus com seu amor atraía todo meu coração, e meu coração com aqueles fios atraía  e amarrava Jesus a estar comigo.

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2-48 

Julho 22, 1899

Como a cruz torna a alma transparente. 

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver com uma cruz de ouro pendurada ao  pescoço, toda resplandecente, e que ao olhá-la se comprazia imensamente. De repente,  encontrou-se presente o confessor e Jesus disse-lhe: “Os sofrimentos dos dias passados  aumentaram tanto o resplendor da cruz que, olhando para ela, sinto-me muito feliz”.

(2) Depois se dirigiu a mim e me disse: “A cruz comunica tal resplendor à alma, de torná-la  transparente e assim como quando um objeto é transparente lhe podem dar todas as cores que  se queira, assim a cruz, com sua luz dá todas as linhas e formas mais belas que jamais se  possam imaginar, não só pelos outros, mas também pela própria alma que os  experimenta. Além disso, em um objeto transparente logo se descobre o pó, as pequenas  manchas e até qualquer escurecimento; assim é a cruz, como faz transparecer à alma, logo  descobre os pequenos defeitos, as mínimas imperfeições, tanto que não há mão mestra mais  hábil que a cruz, para ter a alma preparada para torná-la digna habitação do Deus do Céu”.

(3) Quem pode dizer o que compreendi da cruz e quão invejável é a alma que a possui?

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(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma e me encontrei sobre uma escada  altíssima, sob a qual havia um precipício e por acréscimo os degraus desta escada eram  móveis e tão estreitos que mal se podia apoiar a ponta dos pés; o que mais dava terror era o  precipício e o não poder encontrar apoio de nenhum tipo, e querendo agarrar-se dos degraus,  estes se caíam junto; ver que quase todas as outras pessoas caíam infundia calafrio nos  ossos; Mas não se podia evitar passar por aquela escada. Então o tentei, mas assim que subi  dois ou três degraus, vendo o grande perigo que corria de cair no abismo, comecei a chamar a  Jesus para que viesse em minha ajuda, então, sem saber como, encontrei a Jesus junto a mim  e me disse:

(5) “Minha filha, isto que tu viste é o caminho que percorrem todos os homens nesta terra; os degraus móveis, sobre os quais não podem apoiar-se para ter um sustento, são os apoios  humanos, as coisas terrenas, que se querem apoiar sobre elas, em vez de lhes dar uma ajuda  dão-lhes um empurrão para precipitarem-se mais cedo no inferno. O meio mais seguro é o  caminhar quase voando, sem se apoiar sobre a terra, à força dos próprios braços, com os  olhos em si mesmos, sem olhar aos demais e também tendo-os todos atentos a Mim para ter  ajuda e força, assim se poderá facilmente evitar o precipício”.

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2-49 

Julho 28, 1899

A vida humana é um jogo. Jesus também joga. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio com um aspecto admirável e misterioso, trazia no  pescoço uma corrente que pendia sobre todo o peito, por um lado se via como um arco, por  outro lado da cadeia como uma aljava cheia de pedras preciosas e de gemas, que era um dos  mais belos adornos ao peito de meu doce Jesus e com uma lança na mão. Enquanto eu estava  neste aspecto disse-me:

(2) “A vida humana é um jogo: quem joga o prazer, quem o dinheiro e quem a própria vida, e  tantos outros jogos que fazem. Também Eu me deleito de jogar com as almas, mas quais são  estes jogos que faço? São as cruzes que envio, se as recebem com resignação e me  agradecem, Eu me recreio e jogo com elas, agradando-me imensamente, recebendo por isso  grande honra e glória e a elas faço grandes aquisições”.

(3) No ato de dizer isto começou a me tocar com a lança, com o arco, e com a aljava, e todas  aquelas pedras preciosas que continha a aljava saíam e se trocavam em tantas cruzes e  flechas que feriam as criaturas. Algumas, mas em número muito escasso, alegravam-se,

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beijavam-nas e agradeciam-lhe, e vinham fazer um jogo com Jesus; outras tomavam-nas e  atiravam-nas na cara de Jesus, ó como ficava aflito e que grande perda tinham essas  almas! Depois Jesus adicionou:

(4) “Esta é a sede que gritei na cruz, porque não podendo satisfazê-la completamente então,  me alegro em apagá-la nas almas de meus amados que sofrem. Portanto, sofrendo, vens dar  um alívio à minha sede”.

(5) Voltando outras vezes a rogar-lhe que liberasse o confessor porque sofria, disse-me: (6) “Minha filha, não sabes tu que a marca mais nobre que posso imprimir nos meus amados  filhos é a cruz?”

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2-50 

Julho 30, 1899

Sobre a caridade e sobre a estima da palavra de Jesus. 

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, transportando-me Jesus segundo seu  costume fora de mim mesma, passamos no meio de muitas pessoas, e a maior parte delas  estavam atentas a julgar as ações dos demais, sem olhar as próprias, e meu amado Jesus me  disse:

(2) “O meio mais seguro para ser reto com o próximo é não olhar em absoluto o que fazem,  porque olhar, pensar e julgar é o mesmo, além disso, olhando ao próximo vem defraudar a  própria alma, pelo que acontece que não se é reto nem consigo mesmo, nem com o próximo,  nem com Deus”.

(3) Depois disto lhe disse: “Meu único Bem, já faz tempo que não me dá nem sequer um  beijo”. E assim nos beijamos. E querendo me corrigir quase adicionou:

(4) “Minha filha, o que te recomendo é conservar e estimar minhas palavras, porque minha  palavra é eterna e santa como Eu mesmo, e conservá-la em teu coração e aproveitá-la, terás  tua santificação e por isso receberás em recompensa um esplendor eterno, produzido por  minha palavra; fazendo de outra maneira a tua alma receberá um vazio e ficarás devedora de  Mim”.

* * * * * *

2-51 

Julho 31, 1899

(sem título)

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(1) Jesus veio esta manhã, mas sempre em silêncio, eu estava contentíssima por ter a meu  tesouro Jesus, porque tendo-o a Ele tinha todos meus contentes, ao vê-lo compreendia muitas  coisas de sua beleza, de sua bondade e demais, mas como era tudo por meio da inteligência e  por via de comunicação intelectual, por isso a boca não sabe expressar nada, por isso melhor  faço silêncio.

* * * * * *

2-52 

Agosto 1, 1899

Silêncio e pranto de Jesus pelas criaturas. Fala sobre a pureza. 

(1) Esta manhã, meu gentil Jesus, transportando-me para fora de mim mesma, fazia-me ver a  corrupção na qual caiu o gênero humano. ¡ Dá horror pensar! Enquanto me encontrava no meio  destas pessoas, Jesus dizia quase chorando:

(2) “Ó homem, como te desfiguraste, deformado, desnobrecido! Fiz-te para seres o meu templo  vivo, e tu, por outro lado, tornaste-te o quarto do demônio! ; até as plantas, estando cobertas de  folhas, de flores e de frutos, te ensinam a honestidade, o pudor que deves ter do teu corpo, e  tu, tendo perdido todo o pudor e também a vergonha natural que deverias ter, te tornaste pior  do que os animais, Tanto que não tenho mais ninguém para te comparar. Tu eras a minha  imagem, mas agora já não te reconheces mais, antes me dás tanto horror por tuas impurezas,  que me dá náuseas ver-te, e tu mesmo me obrigas a fugir de ti”.

(3) Enquanto Jesus assim dizia, eu me sentia dilacerado pela dor ao ver tão amargado meu  amado Jesus, por isso lhe disse: “Senhor, tem razão de que não encontra mais nada de bem  no homem e que chegou a tal cegueira, que não sabe nem sequer respeitar as leis da  natureza, então se quiser ver o homem, não fará outra coisa que mandar castigos, por isso te  peço que vejas tua misericórdia e assim será remediado tudo”. Enquanto assim dizia, Jesus me  disse:

(4) “Filha, dá-me tu um alívio às minhas dores”.

(5) Ao dizer isto, tirou-se a coroa de espinhos que parecia encarnada em sua adorável cabeça  e a cravou na minha, eu sentia uma dor fortíssima, mas estava contente de que Jesus se  reconfortasse. Depois disto me disse:

(6) “Filha, Eu amo grandemente as almas puras, e assim como das impuras sou obrigado a  fugir, das puras em troca como por um ímã sou atraído a fazer morada nelas. Às almas puras  com prazer lhes empresto minha boca para fazê-las falar com minha mesma língua, assim que  não se cansam para converter às almas; em ditas almas Eu me agrado não só de continuar

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nelas minha Paixão, e assim continuar ainda a Redenção, mas o que é mais, me alegro  sumamente de glorificar nelas minhas mesmas virtudes”.

* * * * * *

2-53 

Agosto 2, 1899

Ameaças de castigos. Fala sobre a correspondência. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus se fazia ver todo aflito e quase zangado com os homens,  ameaçando com os habituais castigos e de fazer morrer gente de improviso sob raios,  granizadas e fogo, eu lhe pedi muito que se acalmasse e Jesus me disse: (2) “São tantas as iniqüidades que se elevam da terra ao Céu, que se faltasse por um quarto de  hora a oração e almas que fossem vítimas diante de Mim, Eu faria sair fogo da terra e com ele  inundaria as nações”.

(3) Depois acrescentou: “Olha quantas graças devia verter sobre as criaturas, mas como não  encontro correspondência estou obrigado a retê-las em Mim, é mais, me fazem trocá-las em  castigos. Preste atenção, minha filha, a me corresponder às tantas graças que estou  derramando em você, porque a correspondência é a porta aberta para me deixar entrar no  coração e ali formar meu quarto. A correspondência é como aquela boa acolhida, aquela estima  que se dá às pessoas quando vêm fazer uma visita, de modo que atraídas por esse respeito,  por essas maneiras afáveis que se usam com elas, estão obrigadas a vir outras vezes e  chegam a não saber se separar. O todo está em me corresponder, e a medida que as criaturas  me correspondem e me tratam na terra, assim Eu me comportarei com elas no Céu, fazendo lhes encontrar as portas abertas, convidarei a toda a corte celestial a acolhê-los e os colocarei  no mais sublime trono, mas será o contrário para quem não me corresponde”.

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2-54 

Agosto 7, 1899

Sobre nada de nós mesmos. 

(1) Esta manhã meu amável Jesus não vinha, e depois de tanto esperar e esperar, finalmente  veio; era tanta minha confusão e minha aniquilação, que não sabia lhe dizer nada e Jesus me  disse:

(2) “Quanto mais te aniquiles e conheceres o teu nada, tanto mais a minha humanidade,  enviando raios de luz, te comunicará as minhas virtudes”.

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(3) Eu lhe disse: “Senhor, sou tão má e feia que me horrorizo a mim mesma, o que será diante  de Ti?”

(4) E Jesus: “Se tu és feia, sou Eu quem te pode tornar bela”.

(5) E no mesmo momento de dizer isto enviou uma luz Dele para a minha alma, e parecia que  lhe comunicava a sua beleza, e depois, abraçando-me começou a dizer:

(6) “Como és bela, mas bela da minha beleza, por isso sou atraído a amar-te”. (7) Quem pode dizer como fiquei confusa? Mas tudo seja para sua glória.

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2-55 

Agosto 8, 1899

A alma resignada está sempre em repouso. 

(1) Continua a fazer-se parecer apenas e quase zangado com os homens e por mais que lhe  tenha pedido que derramasse em mim suas amarguras, foi impossível e sem prestar-me  atenção ao que lhe dizia, disse-me:

(2) “A resignação absorve tudo o que pode ser de dor ou de desgosto à natureza e o converte  em doce; e sendo meu Ser pacífico, tranquilo, de modo que qualquer coisa que possa  acontecer no Céu e na terra não pode receber nem sequer o menor alento de perturbação,  então a resignação tem a virtude de enxertar na alma estas mesmas virtudes minhas. A alma  resignada está sempre em repouso, não só ela, mas faz-me repousar tranquilamente também a  Mim nela.”

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2-56 

Agosto 10, 1899

Fala da justiça e como Jesus fica ferido pela simplicidade. 

(1) Esta manhã veio o meu doce Jesus, que me transportou para fora de mim mesma, e  desapareceu, e, havendo-me deixado só, vi que do céu desciam como dois candelabros de  fogo e depois, dividindo-se em muitos pedaços, se formavam muitos raios e granizadas que  desciam à terra e faziam uma grandíssima destruição em plantas e homens. Era tanto o horror  e a fúria do temporal, que nem sequer se podia rezar e as pessoas não podiam chegar a suas  casas. Quem pode dizer como fiquei assustada? Então comecei a rezar para aplacar o Senhor,  e Ele retornando, vi que trazia na mão como uma vara de ferro e na ponta uma bola de fogo e  me disse:

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(2) “Minha justiça foi longamente retida e com razão quer tomar vingança contra as criaturas,  pois ousaram destruir nelas toda justiça. ¡ Ah, sim, nada de encontro justo no homem! ; tudo foi  desfigurado, nas palavras, nas obras e nos passos, tudo é engano, tudo é fraude, tudo é  injusto, assim penetrando no coração, interno e externo, não é outra coisa que uma adega de  vícios. ¡ Pobre homem, como te reduziste!”.

(3) Enquanto assim dizia, a vara que tinha na mão movia-a em ato de ferir o homem. Eu lhe  disse: “Senhor, o que faz?”.

(4) E Ele: “Não temas, olha, esta bola de fogo fará fogo, e não castigará mais que aos maus, os  bons não receberão dano”.

(5) E eu acrescentei: “Ah Senhor! Quem é bom? Somos todos maus, peço-te que não olhes  para nós senão para a tua infinita misericórdia, e assim ficarás aplacado por todos”. Depois  disso ele adicionou:

(6) “A filha da justiça é a verdade. Assim como Eu sou Verdade eterna que não engano nem me  podem enganar, assim a alma que possui a justiça faz resplandecer em todas suas ações a  verdade; portanto, conhecendo por experiência a verdadeira luz da verdade, se alguém quer  enganá-la, ao advertir a falta da luz que tem em si, logo conhece o engano, então acontece que  com esta luz da verdade não se engana a si mesma, nem ao próximo, nem pode receber  engano.

(7) Fruto que produz esta justiça e esta verdade, é a simplicidade, outra qualidade de meu Ser,  o ser simples, tanto que penetro em todas partes, não há nada que possa opor-se a que Eu  penetre dentro, penetro no Céu e nos abismos, no bem e no mal, mas meu Ser simplíssimo,  penetrando mesmo no mal; não se suja, aliás, nem sequer recebe a mais mínima  sombra. Assim a alma, com a justiça e com a verdade, recolhendo em si este belo fruto da  simplicidade, penetra no Céu, introduz-se nos corações para conduzi-los a Mim, penetra em  tudo o que é bem e encontrando-se com os pecadores para ver o mal que fazem, não fica  manchada, porque sendo simples prontamente se libera, sem receber dano algum. É tão bela a  simplicidade, que meu coração fica ferido a um só olhar de uma alma simples, e ela é causa de  admiração aos anjos e aos homens”.

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2-57 

Agosto 12, 1899

Jesus transforma-a toda em Si e ensina-lhe a caridade.

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(1) Esta manhã meu adorável Jesus, depois que me fez esperar por algum tempo, veio me  dizendo:

(2) “Minha filha, esta manhã quero uniformizar-te toda a Mim: Quero que penses com a minha  mesma mente, que olhes com os meus olhos, que ouças com os meus ouvidos, que fales com  a minha mesma língua, que trabalhes com as minhas mãos, que caminhes com os meus pés, e  que ames com o meu mesmo coração”.

(3) Depois disto, Jesus unia seus sentidos mencionados acima com os meus, e via que me  dava sua mesma forma; não só isso, mas me dava a graça de usá-los como fez Ele mesmo, e  depois continuou dizendo:

(4) “Graças grandes derramo em você, recomendo que as saiba conservar”. (5) E eu: “Temo muito, ó meu amado Jesus, ao conhecer-me que estou cheia de misérias e  que, em vez de fazer o bem, faço mau uso das tuas graças. Mas o que mais me faz temer é a  língua, que freqüentemente me faz faltar na caridade para com o próximo”. (6) E Jesus: “Não temas, eu mesmo te ensinarei o modo que deves ter ao falar com o próximo”: (7) A primeira coisa: Quando te disser algo a respeito do próximo, faz um olhar sobre ti mesma  e observa se tu és culpado desse mesmo defeito, e então querer corrigir é um querer me  indignar e escandalizar ao próximo.

(8) A segunda: Se tu te vês livre daquele defeito, então levanta-te e procura falar como eu teria  falado, assim falarás com a minha própria língua. Fazendo assim jamais faltarás na caridade do  próximo, aliás, com as tuas palavras farás bem a ti, ao próximo, e a Mim me darás honra e  glória”.

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2-58 

Agosto 13, 1899

Ameaça de castigos e tenta acalmá-lo. 

(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver, ameaçando sempre com castigos, e enquanto  eu me punha a rogar-lhe que se acalmasse, como um relâmpago desaparecia. A última vez que  ele veio se fazia ver crucificado, então me aproximei para beijar suas santíssimas chagas,  fazendo várias adorações, mas enquanto isso fazia, em vez de Jesus Cristo vi minha mesma  imagem. Fiquei surpreendida e disse: “Senhor! O que estou a fazer? Estou a fazer as minhas  próprias adorações? Isto não pode ser feito”. Nesse momento mudou-se na pessoa de Jesus  Cristo e me disse:

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(2) “Não te admires de que tenha tomado tua mesma imagem; se Eu sofro continuamente em  ti, que maravilha é que tenha tomado tua mesma forma? E além disso, não é para fazer-te  imagem minha que te faço sofrer?”

(3) Eu fiquei toda confusa e Jesus desapareceu. Seja tudo para sua glória, seja bendito sempre  seu santo nome.

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2-59 

Agosto 15, 1899

Jesus ordena-lhe a caridade. Festa da Mãe 

Celestial. Dá-lhe o ofício de mãe na terra. 

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus veio todo alegre, trazendo entre as mãos um ramo de  belíssimas flores, e pondo-se em meu coração, com aquelas flores agora se rodeava a cabeça,  agora as tinha entre suas mãos, recriando-se e agradando-se tudo. Enquanto se divertia com  estas flores, como se tivesse feito uma grande aquisição, virou-se para mim e disse-me:

(2) “Amada minha, esta manhã vim para pôr em ordem no teu coração todas as virtudes. As  outras virtudes podem estar separadas uma da outra, mas a caridade ata e ordena tudo. Eis o  que quero fazer em ti, ordenar a caridade”.

(3) Eu disse-lhe: “Sozinho e único Bem meu, como podes fazer isto sendo eu tão má e cheia de  defeitos e imperfeições? Se a caridade é ordem, estes defeitos e pecados não são desordem  que têm tudo em desordem e revolta a minha alma?”

(4) E Jesus: “Eu purificarei tudo e a caridade porá tudo em ordem. E além disso, quando a uma  alma a faço partícipe das penas de minha Paixão, não pode haver culpas graves, a mais algum  defeito venial involuntário, mas meu amor, sendo fogo, consumirá tudo o que é imperfeito em  tua alma”.

(5) Assim parecia que Jesus me purificava e ordenava tudo; depois derramava como um rio de  mel de seu coração no meu e com esse mel regava todo meu interior, de modo que tudo o que  estava em mim ficava ordenado, unido, e com a marca da caridade.

(6) Depois disto me senti saindo de mim mesma na abóbada dos céus, junto com meu amado  Jesus; parecia que tudo estava em festa, Céu, terra e purgatório; todos estavam inundados de  uma nova alegria e júbilo. Muitas almas saíam do purgatório e como raios chegavam ao Céu  para assistir à festa da nossa Rainha Mãe. Também eu me punha no meio daquela imensa  multidão de pessoas, isto é, anjos, santos e almas do purgatório, que ocupavam aquele novo  Céu, que era tão imenso, que o nosso que vemos, comparado com aquele me parecia um  pequeno buraco, muito mais do que tinha a obediência do confessor. Mas enquanto olhava,

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não via outra coisa que um Sol luminosíssimo que espargia raios que me penetravam toda, de  lado a lado, e me tornavam como um cristal, tanto que se descobriam muito bem os pequenos  defeitos e a infinita distância que há entre o Criador e a criatura; tanto mais que aqueles raios,  cada um tinha sua marca: Um delineava a Santidade de Deus, outro a pureza, outro a potência,  outro a sabedoria, e todas as outras virtudes e atributos de Deus. Assim que a alma, vendo seu  nada, suas misérias e sua pobreza, se sentia aniquilada e em vez de olhar, prostrava-se com o  rosto na terra ante aquele Sol Eterno, ante o Qual não há ninguém que possa estar frente a  Ele.

(7) Mas o mais era que para ver a festa de nossa Mãe Rainha, se devia ver desde dentro  daquele Sol, tanto parecia imersa em Deus a Virgem Santíssima, que olhando desde outros  pontos não se via nada. Agora, enquanto me encontrava nestas condições de aniquilamento  ante o Sol Divino e a Mamãe Reina tendo em seus braços o menino, Jesus me disse:

(8) “Nossa Mãe está no Céu, dou a você o ofício de me fazer de mãe na terra, e como minha  vida está sujeita continuamente aos desprezos, à pobreza, às penas, aos abandonos dos  homens, e minha Mãe estando na terra foi minha fiel companheira em todas estas penas, e não  só isso, mas procurava aliviar-me em tudo, por quanto podiam suas forças, assim também tu,  fazendo-me de mãe me farás fiel companhia em todas as minhas penas, sofrendo tu em vez  minha por quanto possas, e onde não possas, buscarás dar-me ao menos um consolo. Saiba  que quero que preste atenção em mim. Serei ciumento até do teu respiro se não o fizeres por  Mim, e quando vir que não estás toda atenta para me contentar, não te darei nem paz nem  repouso”.

(9) Depois disto, comecei a fazer-lhe de mãe, mas oh! quanta atenção era necessária para  satisfazê-lo. Para vê-lo feliz não se podia nem olhar para outra parte. Agora queria dormir,  agora queria beber, agora queria que o acariciasse e eu devia encontrar-me pronta a tudo o  que queria; agora dizia: “Mamãe minha, me dói a cabeça, ah, me alivie!” E eu imediatamente  lhe revistava a cabeça, e encontrando espinhos, tirava-os e, pondo-lhe o meu braço debaixo da  cabeça, o fazia repousar. Enquanto fazia que repousasse, de repente se levantava e dizia:  “Sinto um peso e um sofrimento no coração, tanto de sentir-me morrer; vê que há”. E olhando  para o interior do coração, encontrei todos os instrumentos da Paixão, e um a um tirei-os e  coloquei-os no meu coração. Depois, vendo-o aliviado, comecei a acariciá-lo e a beijá-lo e  disse: “Meu único e único tesouro, nem sequer me deixaste ver a festa de nossa Rainha Mãe,  nem ouvir os primeiros cânticos que lhe cantaram os anjos e os santos no ingresso que fez no  Paraíso”.

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(10) E Jesus: “O primeiro canto que fizeram a minha Mãe foi a Ave Maria, porque na Ave Maria  estão os louvores mais belos, as maiores honras, e renova-se-lhe a alegria que teve ao ser  feita Mãe de Deus, por isso, Vamos recitá-la juntos para honrá-la e quando você vier ao  Paraíso, eu a encontrarei como se a tivesse dito com os anjos aquela primeira vez no Céu”.

(11) E assim recitamos a primeira parte da Ave Maria juntos. ¡ Oh, como era terno e comovedor  saudar a nossa Mãe Santíssima junto com seu amado Filho! Cada palavra que Ele dizia, levava  uma luz imensa na qual se compreendiam muitas coisas sobre a Virgem Santíssima, mas  quem pode dizê-las todas? Muito mais pela minha incapacidade, por isso passo-as em silêncio.

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2-60 

Agosto 16, 1899

Continue fazendo de mãe a Jesus. 

(1) Jesus continua querendo que lhe faça de mamãe, e fazendo-se parecer como graciosíssimo  menino chorava, e para acalmá-lo o pranto, tendo-o entre meus braços comecei a cantar, e  acontecia que quando eu cantava parava de chorar, e quando não, voltava a chorar. Eu teria  querido deixar no silêncio o que cantava, primeiro porque não me lembro de tudo, pois estando  fora de mim mesma dificilmente recordo todas as coisas que acontecem, e também porque  acredito que são desatinos, mas a senhora obediência, sendo demasiado impertinente não me  quer conceder; basta com que se faça como ela quer, se contente ainda que sejam  desatinos. Eu não sei, diz-se que esta senhora obediência é cega, mas a mim parece-me  melhor que é toda olhos, porque olha até as mínimas coisas, e quando não se faz como ela diz,  torna-se tão impertinente que não te dá paz. Então para ter paz da parte desta bela senhora  obediência, porque além disso é tão boa quando se faz como ela diz, que tudo o que se quer,  por meio dele se obtém, por isso me disponho a dizer o que recordo que cantava:

(2) Menino, és pequeno e forte, de Ti espero todo consolo; menino gracioso e belo, Tu  apaixonas até as estrelas; menino, róbam-me o coração para enchê-lo de teu amor; menino  terno, faz-me a minha menina; menino, és um Paraíso, ah! me faça ir me divertir no eterno  sorriso.

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2-61 

Agosto 17, 1899

Jesus fala da obediência.

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(1) Esta manhã, tendo recebido a Comunhão, estava dizendo ao meu amável Jesus: “Como é  que esta virtude da obediência é tão impertinente e às vezes tão forte, que chega a tornar-se  caprichosa?”

(2) E Ele: “Sabe por que esta nobre senhora obediência é como você diz? Porque dá morte a  todos os vícios, e naturalmente alguém que deve fazer sofrer a morte a outro deve ser forte,  valente, e se não o conseguir com isto se serve das impertinências e dos caprichos. Se isto é  necessário para matar o corpo que é tão frágil, muito mais para dar morte aos vícios e às  próprias paixões, que é tão difícil que muitas vezes enquanto parecem mortas, começam a  reviver de novo. Eis por que esta diligente senhora está sempre em movimento e  continuamente vigiando, e se vê que a alma põe a mínima dificuldade ao que lhe é mandado,  então temendo que algum vício possa começar a reviver em seu coração, lhe faz tanta guerra e  não lhe dá paz até que a alma se prostra a seus pés e adora em silêncio o que ela quer; eis por  que é tão impertinente e quase caprichosa como você diz.¡Ah! sim, não há verdadeira paz sem  obediência, e se parece que se goza de paz, é paz falsa, e digo parece, porque vai de acordo  com as próprias paixões, mas jamais com as virtudes e se acaba com arruinar-se, porque  separando-se da obediência se separam de Mim, que fui o Rei desta nobre virtude. Além disso,  a obediência mata a própria vontade e a torrentes verte a Divina, tanto, que se pode dizer que a  alma obediente não vive de sua vontade, senão da Divina; e se pode dar vida mais bela, mais  santa, que o viver da Vontade de Deus mesmo? Por isso, com as outras virtudes, mesmo com  as mais sublimes, pode estar junto o amor próprio, mas com a obediência jamais”.

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2-62 

18 de agosto de 1899

Como a palavra de Deus não só é verdade, mas também luz. 

(1) Vindo esta manhã o amantíssimo Jesus lhe disse: “Meu amado Jesus, eu creio que tudo o  que escrevo são muitos disparates”.

(2) E Jesus: “A minha palavra não só é verdade, mas também luz, e quando uma luz entra num  quarto escuro, o que faz? Dissipa as trevas e faz descobrir os objetos que há, feios ou belos,  se estão em ordem ou em desordem, e do modo como se encontra esse quarto julga-se a  pessoa que ocupa aquela habitação. Agora, a vida humana é o quarto escuro, e quando a luz  da verdade entra em uma alma, dissipa as trevas, isto é, faz descobrir o verdadeiro do falso, o  temporal do eterno, assim que lança de si os vícios e se mete à ordem das virtudes, porque  sendo minha luz santa, que é minha própria Divindade, não poderá comunicar outra coisa que

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santidade e ordem, portanto a alma sente sair de si, luz de paciência, de humildade, de  caridade e mais. Se minha palavra produz em você estes sinais, por que teme?” (3) Depois disto, Jesus me fez ouvir que rogava ao Pai por mim, dizendo: “Pai Santo, peço-te  por esta alma, faz com que cumpra em tudo perfeitamente a nossa Santíssima Vontade, faz Ó  Pai adorável que as suas ações estejam tão conformadas com as minhas, mas de tal modo  que não se possam distinguir umas das outras, e assim poder cumprir sobre ela o que  desenhei”.

(4) Mas quem pode dizer a força que me sentia infundir na minha alma por esta oração de  Jesus? Sentia-me a vestir a alma por uma força tal, que para cumprir a Vontade Santíssima de  Deus não me teria importado sofrer mil martírios, se assim fosse seu beneplácito. Sempre  sejam dadas as graças ao Senhor, que tanta misericórdia usa com esta pobre pecadora.

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2-63 

21 de agosto de 1899

Efeitos de agradar somente a Jesus. 

(1) Depois de ter passado dois dias de sofrimentos, Jesus mostrava-se todo afabilidade e  doçura. Em meu íntimo eu dizia: “Como é bom comigo o Senhor, porém não encontro em mim  nada de bom que lhe possa agradar”. E Jesus, respondendo, disse-me:

(2) “Amada minha, assim como você não encontra outro prazer nem outro contente, que te  entreter e conversar Comigo e dar-me gosto só a Mim, de modo que todas as outras coisas  que não são minhas te desgostam, assim Eu, meu prazer e minha consolação é vir a me  entreter e falar contigo. Tu não podes entender a força que tem sobre meu coração, de me  atrair a ela, uma alma que tem a única finalidade de me agradar só a Mim; sinto-me tão unido  com ela que estou obrigado a fazer o que ela quer”.

(3) Enquanto Jesus assim dizia, compreendi que falava no modo como em dias passados,  enquanto sofria acerbos dores, em meu interior ia dizendo: “Meu Jesus, tudo por teu amor,  estas dores sejam tantos atos de louvor, de honra, de homenagem que te ofereço, estas dores  sejam tantas vozes que te glorifiquem e tantos testemunhos que digam que te amo”.

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2-64 

Agosto 22, 1899

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Jesus comunica-lhe as suas virtudes. 

(1) Meu amado Jesus continua vindo, todo amável e majestoso;enquanto estava neste aspecto  me disse:

(2) “A pureza dos meus olhares resplandeça em todas as tuas obras, de modo que subindo de  novo aos meus olhos me produza um resplendor e me distraia das porcarias que fazem as  criaturas”.

(3) Eu fiquei toda confusa diante destas palavras, tanto que não ousava dizer-lhe nada, mas  Jesus me alentou, para me dar confiança começou a dizer-me:

(4) “Diz-me, o que queres?”

(5) E eu: “Quando tenho a Ti, há mais alguma coisa que possa desejar?” (6) Mas Jesus insistiu mais de uma vez que lhe dissesse o que queria;e eu olhando para ele, vi  a beleza de suas virtudes e lhe disse: “Meu dulcíssimo Jesus, dá-me suas virtudes”. (7) E Ele, abrindo o seu coração, fazia sair tantos raios diferentes das suas virtudes, que ao  entrar no meu sentia-me fortalecido nas virtudes.

(8) Em seguida, acrescentou: “O que mais você quer?”

(9) E eu, lembrando-me que nos dias passados por uma dor que sofria não conseguia que  meus sentidos se perdessem em Deus, disse-lhe: “Meu benigno Jesus, faz que a dor não me  impeça o poder perder-me em Ti”.

(10) E Jesus, tocando-me com a sua mão a parte em que sofria, atenuou a acuidade da dor, de  modo que posso recolher-me e perder-me nele.

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Agosto 27, 1899

O efeito quando Jesus vai à alma. 

(1) Esta manhã enquanto via o meu doce Jesus, sentia um temor de que não fosse Ele senão o  demônio para me enganar. E Jesus, respondendo ao meu temor, disse-me: (2) “Quando sou Eu quem se apresenta à alma, todas as potências interiores se aniquilam e  conhecem o seu nada, e Eu, vendo a alma humilhada, faço abundar o meu amor, como tantos  rios, de modo a inundar tudo e fortalecê-la no bem. O oposto acontece quando ele é o  demônio”.

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2-66 

Agosto 30, 18991

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Jesus lhe faz ver o estado lamentável do mundo. 

(1) Esta manhã meu amado Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fez ver a  decadência da religião nos homens e um preparativo de guerra. Eu disse-lhe: “Ó Senhor, em  que estado se encontra tão lamentável o mundo nestes tempos quanto à religião! Parece que o  mundo já não reconhece Aquele que enobrece o homem e o faz aspirar a um fim eterno, mas o  que mais faz chorar, é que parte daqueles mesmos que se dizem religiosos, que deveriam pôr  a própria vida para defender a religião e fazê-la ressurgir, a ignoram”. E Jesus, tomando um  aspecto afligidíssimo, disse-me:

(2) “Minha filha, esta é a causa de que o homem viva como besta, porque perdeu a religião;  mas tempos mais tristes virão para o homem em castigo da cegueira na qual ele mesmo se  submergiu, tanto, que me oprime o coração ao vê-lo. Mas o sangue fará reviver esta santa  religião, este sangue que farei derramar por todo tipo de gente, por leigos e religiosos, regará  ao resto das pessoas que vivem como selvagens, e civilizá-las lhes restituirá de novo sua  nobreza. Eis a necessidade de que o sangue se derrame e que as mesmas igrejas fiquem  quase abatidas, para fazer que voltem de novo e existam com seu primeiro brilho e esplendor”.

(3) Mas quem pode dizer o rasgo cruel que farão nos tempos vindouros? Passo-o em silêncio  porque não o recordo bem e não o vejo tão claro; se o Senhor quer que o diga dar-me-á mais  claridade e então tomarei de novo a pena sobre este argumento, por isso, por agora termino.

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2-67 

Agosto 31, 1899

O confessor dá a obediência de rejeitar Jesus e não falar com Ele. 

(1) Tendo dado ao confessor a obediência de que quando viesse Jesus devia dizer: “Não posso  falar, afasta-te”. Eu o tomei como uma brincadeira, não como obediência formal, por isso  quando veio Jesus, quase não levando em conta a ordem recebida, ousei dizer-lhe: “Meu bom  Jesus, olhe um pouco o que quer fazer o pai”.

(2) E Ele disse-me: “Filha, abnegação”.

(3) E eu: “Mas Senhor, a coisa é séria: trata-se de não te querer! Como posso fazê-lo?” (4) E  Ele, pela segunda vez: “Abnegação”.

(5) E eu: “Mas Senhor! Que dizes? Crês Tu que possa estar sem Ti?”

(6) E Ele pela terceira vez: “Minha filha, abnegação”.

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(7) E desapareceu. Quem pode dizer como fiquei ao ver que Jesus queria que me dispusesse à  obediência?

* * * * * *

2-68 

Setembro 1, 1899

Continua a obediência, mas um pouco mais moderada. 

(1) Vindo o confessor, perguntou-me se tinha cumprido a obediência, e tendo-lhe dito o que  tinha acontecido, renovou a obediência de que não devia absolutamente falar com Jesus, meu  único e único consolo, e que devia despedi-lo se viesse. E eis que, havendo entendido que a  obediência que me era dada era verdadeira, em meu interior disse o “Fiat Voluntas Tua”  também nisto; mas, oh, quanto me custa e que cruel martírio! Sinto como um prego cravado no  coração, que o atravessa de lado a lado; e como meu coração está acostumado a pedir e  desejar a Jesus continuamente, tanto, que assim como é contínuo o respirar e o bater, assim  me parece que é contínuo o desejar e querer a meu único Bem, Então, querer impedir isso  seria o mesmo que impedir alguém de respirar e bater do coração, como poderia viver? No  entanto, é preciso fazer prevalecer a obediência. ¡Oh Deus, que pena, que rasgo tão atroz!  Como impedir ao coração que peça sua própria vida? Como detê-lo? A vontade se punha com  toda sua força a freá-lo, mas como se necessitava contínua e grande vigilância, de vez em  quando se cansava e se distraía e o coração fazia sua escapada e pedia a Jesus; a vontade  dando-se conta disto se punha com maior força a freá-lo, mas era vencida freqüentemente;  pelo que me parecia que fazia contínuos atos de desobediência. ¡ Oh, em que contrastes, que  guerra sangrenta, que agonias mortais sofria meu pobre coração! Encontrava-me em tais  estreitezas e em tais sofrimentos, que acreditava que me ia a vida, não obstante isto teria sido  um consolo para mim se pudesse morrer, mas não, e o que era pior era que sentia penas de  morte, mas sem poder morrer.

(2) Então, depois de haver derramado lágrimas amarguíssimas todo o dia, na noite,  encontrando-me em meu habitual estado, meu sempre benigno Jesus veio, e eu, obrigada pela  obediência lhe disse: “Senhor, não venha, porque a obediência não quer”. (3) E Ele compadecendo-me e querendo fortalecer-me nos sofrimentos em que me encontrava,  com a sua mão criadora marcou a minha pessoa com um grande sinal de cruz e deixou-me. (4) Mas quem pode dizer o purgatório em que me encontrava? O pior era que não podia me  lançar para meu sumo e único Bem. ¡ Ah sim, eu era negado pedir e desejar Jesus! Oh! às  almas benditas do purgatório lhes é permitido pedir, desejar, lançar-se ao sumo Bem, só que  lhes está proibido tomar posse dele, a mim, não, a mim me era negado mesmo este consolo.

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Então, toda a noite não fiz outra coisa que chorar; quando minha débil natureza não podia  mais, o amável Jesus voltou em atitude de querer falar comigo, e eu em seguida, recordando a  obediência que quer reinar sobre tudo, lhe disse: “Amada Vida minha, não posso falar, e não  venha, porque a obediência não quer. Se queres fazer entender a tua vontade, vai ter com o  confessor”.

(5) Enquanto dizia isto, vi o confessor, e Jesus, aproximando-se dele, disse-lhe: “Isto é  impossível, tenho as minhas almas tão submersas em Mim, que formamos uma mesma  substância, tanto que não se distingue mais uma da outra, e assim como quando duas  substâncias se unem, uma se transmite na outra, e depois, embora se queira separá-las, é  inútil até mesmo pensar, assim é impossível que minhas almas possam estar separadas de  Mim”.

(6) E, havendo dito isto, já se foi, e eu fiquei mais aflita do que antes, o meu coração batia tão  forte que sentia abrir-me o peito. Depois disto, não sei dizer como, encontrei-me fora de mim  mesma, e esquecendo-me não sei como da obediência recebida, virei pela abóbada do céu  chorando, gritando e buscando a meu doce Jesus, quando de repente o vi vir, lançando-se  entre meus braços, todo cheio de amor e definhando, mas logo me lembrei do mandato  recebido e lhe disse: “Senhor, não me queiras tentar esta manhã, não sabes que a obediência  não quer?”

(7) E Ele: “Mandou-me o confessor, por isso vim”.

(8) E eu: “Não é verdade, és porventura algum demónio que me quer enganar e fazer-me faltar  à obediência?”

(9) E Jesus: “Não sou demónio”.

(10) E eu: “Se não és demónio, façamo-nos juntos o sinal da cruz”. E os dois signamos-nos  com a cruz. Depois, continuei dizendo-lhe: “Se é verdade que o confessor te enviou, vamos a  ele, a fim de que ele mesmo possa ver se és Jesus Cristo ou bem o demônio, e então poderei  estar segura”.

(11) Assim fomos com o confessor, e como Jesus estava em forma de menino o dei em seus  braços dizendo-lhe: “Pai, veja você mesmo, é meu doce Jesus, ou não?” (12) Agora, enquanto Jesus bendito estava com o pai, disse-lhe: “Se és verdadeiramente  Jesus, beija a mão do confessor”. E em minha mente pensava que se fosse o Senhor teria feito  essa humilhação de lhe beijar a mão, mas se fosse um demônio, não. E Jesus a beijou, mas  não ao homem, senão a potestade sacerdotal, assim a beijou. Depois disto parecia que o  confessor o conjurava para ver se era demônio, e não o encontrando tal me devolveu. Mas com  tudo isso meu pobre coração não podia gozar os abraços do meu amado Jesus, porque a

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obediência o tinha como atado, impedido, muito mais porque ainda não havia nenhuma ordem  contrária, por isso meu coração não ousava desabafar, nem sequer dizer uma palavra de  amor…

(13) Ó santa obediência, como és forte e poderoso! Eu te vejo nestes dias de martírio ante mim  como um guerreiro potentíssimo, armado da cabeça aos pés com espadas, flechas, cheio de  todos aqueles instrumentos aptos para ferir, e quando vê que meu pobre coração cansado e  abatido quer consolar-se buscando seu refrigério, sua vida, o centro ao qual se sente atrair  como por um ímã, você, olhando-me com mil olhos, por toda parte me fere com feridas mortais.  ¡ Ah, tenha piedade de mim e não seja tão cruel comigo!

(14) Mas enquanto digo isto, a voz do meu adorável Jesus faz-se ouvir nos meus ouvidos que  diz:

(15) “A obediência foi tudo para Mim, a obediência quero que seja tudo para ti. A obediência me  fez nascer, a obediência me fez morrer, as chagas que tenho em meu corpo são feridas e  marcas que me fez a obediência. Com razão disse que é um guerreiro potentíssimo, armado  com toda classe de armas aptas para ferir, porque em Mim não me deixou nem uma gota de  sangue, me arrancou as carnes, me deslocou os ossos, e meu pobre coração, destroçado,  sangrante, ia buscando um alívio, Alguém que tivesse compaixão de mim. A obediência então,  tornando-se para Mim mais do que cruel tirano, só se contentou quando me sacrificou na cruz e  me viu expirar vítima por seu amor. E por que isso? Porque o ofício deste potentíssimo  guerreiro é de sacrificar às almas, por isso não faz outra coisa que mover guerra encarniçada a  quem não se sacrifica tudo por ela, por isso não tem nenhuma consideração se a alma sofre ou goza, se vive ou morre, seus olhos estão atentos para ver se ela vence, que das outras coisas  não se dá ao trabalho. Por isso o nome deste guerreiro é “vitória”, porque concede todas as  vitórias à alma obediente, e quando parece que esta morre, então começa a verdadeira vida. E  o que não me deu obediência? Por meio dele venci a morte, derrotei o inferno, desamarrei o  homem acorrentado, abri o Céu, e como Rei vitorioso tomei posse do meu reino, não só para  Mim, mas para todos os meus filhos que se teriam aproveitado da minha Redenção. ¡ Ah! sim,  é verdade que me custou a vida, mas a palavra “obediência” me soa doce ao ouvido e por isso  amo tanto as almas que são obedientes”.

(16) Volto a falar de onde deixei.

(17) Depois de um pouco veio o confessor, e tendo-lhe dito tudo o que disse acima, renovou me a obediência de continuar da mesma maneira, e tendo-lhe dito: “Pai, permita ao menos dar  a liberdade ao meu coração de rogar a Jesus, que a obediência de lhe dizer quando vem, não  venha e não posso conversar, faço-a”.

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(18) E Ele: “Faça o que puder para detê-lo, e quando não puder, então dê-lhe liberdade”.

* * * * * *

2-69 

Setembro 2, 1899

O confessor deixa-a livre. 

(1) Agora, com esta obediência um pouco mais mitigada, meu pobre coração parecia que de  estar morto começasse a reviver um pouco, mas com tudo e isto não deixava de estar  dilacerado de mil maneiras, porque a obediência, quando via que o coração se detinha um  pouco mais em busca de seu Criador, como se quisesse repousar nele porque estava sem  força, vinha-me em cima e com suas armas me feria toda. E além disso, esse ter que repetir  aquele refrão quando o bendito Jesus se fazia ver: “Não venhas, não posso conversar porque a  obediência não quer”, era para mim o mais atroz e cruel martírio. Então meu doce Jesus,  encontrando-me eu em meu estado habitual, veio e eu lhe manifestei a ordem recebida, e Ele  se foi. Uma vez, enquanto eu lhe dizia: “Não venhas, que a obediência não quer”, disse-me:

(2) “Minha filha, tenha sempre diante de sua mente a luz de minha Paixão, porque ao ver  minhas acerbísimas penas, as suas lhe parecerão pequenas, e ao considerar a causa pela qual  sofri tantas dores imensas, que foi o pecado, os menores defeitos lhe parecerão graves. Em  troca, se não olhar em Mim, as menores penas lhe parecerão pesadas e os defeitos graves os  tomará como coisa de nada”. E desapareceu.

(3) Depois de um pouco veio o confessor, e tendo-lhe perguntado se ainda devia continuar esta  obediência, disse-me: “Não, podes dizer-lhe o que quiseres e tê-lo quanto queiras”. (4) Parece que fui deixada livre e já não tenho tanto que fazer com este guerreiro tão potente,  de outra maneira esta vez se teria feito tão forte que me daria a morte, mas me teria feito fazer  uma grande ganância porque me teria unido para sempre ao sumo Bem, e não a intervalos, e  ter-lhe-ia agradecido, aliás, ter-lhe-ia cantado o cântico da obediência, ou seja, o cântico das  vitórias, assim que me teria rido de toda a sua força… Mas enquanto dizia isto, diante de mim  apareceu um olho resplandecente e belo, e uma voz que dizia: “E eu ter-me-ia unido a ti e ter me-ia agradado de rir, porque teria sido minha a vitória”.

(5) E eu: “Oh! Querida obediência, depois de nos termos rido juntas, ter-te-ia deixado aos  portões do Paraíso para te dizer adeus e não nos vermos mais, e assim não ter-me-ia que ver  mais contigo, e ter-me-ia cuidado muito bem de não te deixar entrar”.

* * * * * *

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2-70 

Setembro 5, 1899

Como Jesus opera a perfeição na alma pouco a pouco. 

(1) Esta manhã estava tão desanimada e parecia tão má, que eu mesma me tornava  insuportável. Tendo vindo Jesus, disse-lhe as minhas mágoas e o miserável estado em que me  encontrava, e Ele disse-me:

(2) “Minha filha, não queira perder o ânimo, este é meu costume, o obrar a perfeição passo a  passo e não tudo em um instante, a fim de que a alma, vendo sempre que lhe falta alguma  coisa, se impulsione, faça todos os esforços para alcançar o que lhe falta, a fim de me agradar  mais e de se santificar mais, então Eu, atraído por esses atos sinto-me forçado a lhe dar novas  graças e favores celestiais, e com isto se vem a formar um comércio todo divino entre a alma e  Deus, de outra maneira, possuindo a alma em si a plenitude da perfeição, e portanto de todas  as virtudes, não encontraria modos de se esforçar, como lhe agradar mais e viria a faltar a  fogueira para acender o fogo entre a criatura e o Criador”.

(3) ¡ Seja sempre bendito o Senhor!

* * * * * *

2-71 

Setembro 9, 1899

Jesus fala-lhe do nada e do amor que o leva. 

(1) Jesus continua a vir, mas com um aspecto todo novo. Parecia que de seu coração bendito  saía um tronco de árvore que tinha três raízes distintas, e este tronco, de seu coração entrava  no meu, e saindo de meu coração o tronco formava tantas formosas ramificações carregadas  de flores, de frutos, de pérolas e de pedras preciosas, resplandecentes como estrelas  fulgidíssimas. Agora, meu amado Jesus, vendo-se à sombra desta árvore, se recriava tudo,  muito mais que da árvore caíam tantas pérolas que formavam um belo adorno a sua  Santíssima Humanidade. Enquanto estava nesta posição, disse-me:

(2) “Minha querida filha, as três raízes que vês nesta árvore são: a fé, a esperança e a  caridade. E o que você vê que este tronco sai de Mim e se introduz em tua oração, significa  que não há bem que possuam as almas que não venha de Mim; assim que depois da fé, a  esperança e a caridade, o primeiro desenvolvimento que faz este tronco é o fazer conhecer que  todo o bem vem de Deus, que delas não têm outra coisa senão a sua própria nada, e que este  nada não faz outra coisa senão dar-me a liberdade de me fazer entrar nelas e fazer-me

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trabalhar o que quero; enquanto que há outras nadas, isto é, outras almas, que com a livre  vontade que têm se opõem, então, faltando este conhecimento, o tronco não produz nem  ramos nem frutos, nem nenhuma outra coisa de bom. Os ramos que contém esta árvore, com  todo o aparato das flores, frutos, pérolas e pedras preciosas, são todas as diversas virtudes  que pode possuir a alma. Quem deu vida a esta bela árvore? Certamente as raízes, isto  significa que a fé, a esperança e a caridade abraçam tudo, contêm todas as virtudes, tanto que  são colocadas como base e fundamento da árvore, e sem elas não se pode produzir nenhuma  outra virtude”.

(3) Assim compreendi também que as flores significam as virtudes, os frutos os sofrimentos, as  pedras preciosas e as pérolas o sofrer unicamente pelo só amor de Deus. Eis por que aquelas  pérolas que caíam formavam esse belo ornamento a Nosso Senhor. Agora, enquanto Jesus se  sentava à sombra desta árvore, olhava-me com ternura toda paterna, então, tomado por um  arrebatamento amoroso, que parecia que não podia conter em Si, abraçando-me fortemente  começou a dizer:

(4) “Como és bela! Vós sois minha cândida pomba, minha amada morada, meu templo vivo, no  qual unido com o Pai e o Espírito Santo me deleito em deleitar-me. Seu contínuo pesar por Mim  me alivia e conforta das contínuas ofensas que me fazem as criaturas. Deve saber que é tanto  o amor que te tenho, que sou obrigado a escondê-lo em parte, para fazer que você não  enlouqueça e possa viver, porque se o fizesse ver não só enlouqueceria, senão que não  poderia continuar vivendo, sua fraca natureza seria consumada pelas chamas do meu amor”.

(5) Enquanto dizia isto, sentia-me toda confusa e aniquiladora, e sentia-me afundar no abismo  do meu nada, porque me via toda imperfeita, especialmente notava a minha ingratidão e frieza  às tantas graças que o Senhor me faz. Mas espero que tudo redunde em sua glória e honra,  esperando com firme confiança que em um esforço de seu amor queira vencer minha dureza.

* * * * * *

2-72 

16 de setembro de 1899

Divergência com Jesus. Efeitos do sofrer só por Deus. 

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus veio, e temendo que fosse o demônio, eu lhe disse:  “Permita-me que te mostre a testa com a cruz”, e logo o persegui e assim fiquei mais segura e  tranqüila.

(2) Agora, Jesus bendito parecia cansado e queria repousar em mim, e como também eu me

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sentia cansada pelos sofrimentos dos dias passados, especialmente por suas pouquíssimas  chegadas, sentia a necessidade de repousar nele. Então, depois de ter discutido um pouco me  disse:

(3) “A vida do coração é o amor. Eu sou como um enfermo que arde pela febre, que vai  buscando um refresco, um alívio para o fogo que o devora. Minha febre é o amor; mas onde  obtenho os refrescos, os alívios mais aptos para o fogo que me consome? Das dores e aflições  sofridas por minhas almas prediletas só por meu amor; muitas vezes estou esperando e  esperando a que a alma se volte a Mim para dizer-me: “Senhor, só por amor teu eu quero  sofrer esta dor”. Ah sim, estes são os meus lanches e os alívios mais aptos que me aliviam e  me apagam o fogo que me consome!”

(4) Depois disso ele se jogou em meus braços definhando para descansar. Enquanto Jesus  repousava eu compreendia muitas coisas sobre as palavras ditas por Ele, especialmente sobre  o sofrer por seu amor. ¡ Oh, que moeda de valor inestimável! Se todos a conhecêssemos,  faríamos concorrência para ver quem sofreria mais; mas eu acredito que todos somos míopes  para conhecer esta moeda tão preciosa, por isso não se chega a ter conhecimento dela.

* * * * * *

2-73 

Setembro 19, 1899

Jesus fala da fé, da esperança e da caridade. 

(1) Encontrando-me esta manhã um pouco perturbada, especialmente pelo temor de que não  seja Jesus quem vem senão o demônio, e de que meu estado não seja Vontade de Deus,  enquanto me encontrava nesta agitação, veio meu adorável Jesus e me disse: (2) “Minha filha, não quero que perca tempo, pensando nisso você se distrai de Mim e me faz  faltar o alimento para me nutrir, o que quero é que pense somente em me amar e em estar toda  abandonada em Mim, assim me preparará um alimento muito agradável, e não de vez em  quando como faria se continuasse fazendo assim, senão continuamente. E não seria isto a tua  grandíssima alegria, que a tua vontade, estando abandonada em Mim e no meu amor, fosse  alimento para Mim, teu Deus?”

(3) Depois disto me fez ver seu coração e dentro tinha três balões de luz distintos, que depois  formavam um só, e Jesus voltando a falar me disse:

(4) “Os balões de luz que vês no meu coração são a fé, a esperança e a caridade, que trouxe à

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terra para fazer feliz o homem sofredor, oferecendo-o em dom; agora, também a ti quero fazer te um dom mais especial”.

(5) E enquanto assim dizia, daqueles globos de luz saíam como tantos fios de luz que  inundavam minha alma, formando como uma espécie de rede, e eu ficava dentro. (6) E Jesus: “Olha no que quero que ocupes tua alma: Primeiro voa com as asas da fé e  submergindo nessa luz conhecerás e adquirirás sempre novas notícias de Mim, teu Deus, mas  ao conhecer-me mais teu nada se sentirá quase dispersa, e não terás onde te apoiar. Mas tu te  eleve mais e lançando-te no mar imenso da esperança, que são todos meus méritos que  adquiri no curso de minha vida mortal, e todas as penas de minha Paixão que também delas fiz  dom ao homem, e só por meio destes podes esperar os bens imensos da fé, Porque não há  outro meio para obtê-los. Então, servindo-te destes meus méritos como se fossem teus, teu  nada se sentirá mais dispersa e afundada no abismo do nada, senão que adquirindo nova vida  ficará embelezada, enriquecida em modo tal de atrair-se os mesmos olhares divinas; e então  não mais tímida, mas a esperança fornecer-lhe-á a coragem, a força, de modo a voltar à alma  estável como coluna, exposta a todas as inclemências do ar, como são as diferentes  tribulações da vida, que não a moverão nada, e a esperança fará com que a alma não só se  submerja sem temor nas imensas riquezas da fé, senão que se tornará dona e chegará a tanto  com a esperança, de fazer seu ao mesmo Deus. ¡ Ah! Sim, a esperança faz a alma chegar até  onde quer, a esperança é a porta do Céu, assim que só por seu meio se abre, porque quem  tudo espera, tudo obtém. Então a alma, quando tiver chegado a fazer seu ao mesmo Deus,  súbito, sem nenhum obstáculo se encontrará no oceano imenso da caridade, e aí levando  consigo a fé e a esperança, mergulhará dentro e fará uma só coisa Comigo, seu Deus”. (7) O amantíssimo Jesus continua dizendo: “Se a fé é o rei e a caridade é a rainha, a  esperança é como mãe pacificadora que põe paz em tudo, porque com a fé e a caridade pode  haver tribulações, mas a esperança, sendo vínculo de paz, converte tudo em paz. A esperança  é sustento, a esperança é alívio, e quando a alma elevando-se com a fé vê a beleza, a  santidade, o amor com o qual é amada por Deus, sente-se atraída a amá-lo, mas vendo sua  insuficiência, o pouco que faz por Deus, o como deveria amá-lo e não o ama, sente-se  desconsolada, perturbada e quase não se atreve a aproximar-se de Deus; então, logo sai esta

mãe pacificadora da esperança, e pondo-se no meio da fé e a caridade começa a fazer seu  ofício de pôr paz, assim que põe em paz de novo a alma, a empurra, a eleva, lhe dá novas  forças e levando-a diante do rei da fé e a rainha da caridade, desculpa a alma, põe diante da  alma nova efusão de seus méritos e lhes pede que a queiram receber, e a fé e a caridade,  tendo em vista somente esta mãe pacificadora, tão terna e cheia de compaixão, recebem a

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alma e Deus forma a delícia da alma, e a alma a delícia de Deus”.

(8) Ó santa esperança, como você é admirável! Eu imagino ver a alma que é possuída por esta  bela esperança, como um nobre viajante que caminha para ir tomar posse de umas terras que  formarão toda sua fortuna, mas como é desconhecido e viaja por terras que não são suas,  quem o escarnece, quem o insulta, quem o despoja de seus vestidos e quem chega até  golpeá-lo e a ameaçar com lhe tirar a pele, e o nobre viajante o que faz em todas estas  dificuldades? Será que ele vai ficar perturbado? Ah, não, nunca! Pelo contrário, não terá em  conta aqueles que lhe fazem tudo isto, e sabendo bem que, quanto mais sofrer, tanto mais será  honrado e glorificado quando chegar a tomar posse de suas terras, por isso ele mesmo incita  as pessoas a atormentá-lo mais. Mas ele está sempre tranquilo, goza a mais perfeita paz, e no  meio destes insultos está tão calmo, que enquanto os outros estão acordados ao seu redor, ele  está dormindo no seio de seu suspirado Deus. Quem fornecerá a este viajante tanta paz e tanta  firmeza para seguir a viagem empreendida? Certamente a esperança dos bens eternos que  serão seus, e assim superará tudo para tomar posse deles. Agora pensando que são seus,  vem amá-los, e eis que a esperança faz nascer a caridade.

(9) Quem pode dizer o que Jesus bendito me faz ver com aquela luz? Queria passá-lo em  silêncio, mas vejo que a senhora obediência deixando o vestido amigável, toma o aspecto de  guerreiro e toma suas armas para fazer-me guerra e ferir-me. ¡¡ Ah, não te armes tão cedo! ,  deixa tuas garras, fica tranqüila, que por quanto possa farei como tu dizes, e assim  permaneceremos sempre amigas.

(10) Agora, quando a alma se põe no vasto mar da caridade, prova delícias inefáveis, goza  alegrias inenarráveis a uma alma mortal. Tudo é amor; seus suspiros, seus batimentos, seus  pensamentos, são tantas vozes sonoras que faz ressoar em torno de seu amadíssimo Deus,  vozes todas de amor que o chamam, de modo que Deus bendito, atraído, ferido por estas  vozes amorosas, lhe corresponde, e acontece que os suspiros, O coração e todo o Ser Divino  continuamente chamam a alma para Deus.

(11) Quem pode dizer como a alma é ferida por estas vozes? Como começa a delirar como se  tivesse febre altíssima, como corre como enlouquecida e vai lançar-se no amoroso coração de  seu Amado para encontrar refresco e a torrentes chupa as delícias divinas? Ela fica  embriagada de amor, e em sua embriaguez entoa cantos todos amorosos a seu Esposo  dulcíssimo. Mas quem pode dizer tudo o que acontece entre a alma e Deus? Quem pode dizer  algo sobre esta caridade que é o próprio Deus?

(12) Neste momento vejo uma luz grandíssima e minha mente agora fica assombrada, agora  se fixa em um ponto, agora em outro, e faço por colocá-lo no papel mas me sinto balbuciante

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ao explicá-lo. Portanto, não sabendo o que fazer, por agora faço silêncio; e espero que a  senhora obediência por esta vez queira perdoar-me, pois se ela quer zangar-se comigo, desta  vez não tem tanta razão, porque a culpa é sua, porque não me dá uma língua ágil para saber  dizê-lo. Compreendeu, Excelência? Ficamos em paz, não é verdade?

* * * * * *

2-74 

21 de setembro de 1899

Divergências com a obediência. A causa de seu estado. 

(1) No entanto, quem diria? Embora a culpa seja sua, que não me dá a capacidade de o saber  manifestar, a senhora obediência levou a mal e começou a fazê-la de tirano cruel, e chegou a  tal crueldade que me tirou a vista do meu amado Bem, meu único e único consolo. Vê-se que  às vezes até se comporta como criança, que quando quer sair com a sua num capricho, se não  o consegue pela boa enche a casa com gritos, com choros, tanto, que se vê obrigado a  satisfazê-la pela força. Não há razões, não há meios para persuadi-la; assim faz a senhora  obediência, é tenaz, não teria acreditado assim, e como ela quer vencer, quer que ainda  balbuciante escreva sobre a caridade. ¡ Oh Deus santo! Torna-a tu mesmo mais razoável,  porque deste modo não se pode seguir em frente. E tu, oh! Obediência, devolve-me o meu  doce Jesus, não me toques mais ao vivo e peço-te que não me tires a vista de meu sumo Bem,  e eu prometo-te que ainda balbuciante escreverei como queres tu. Só te peço a graça de que  me deixe reanimar durante alguns dias, porque minha mente, muito pequena, não resiste mais  estar submersa naquele vasto oceano da caridade divina, especialmente que aí descubro mais  minhas misérias e minha feiura, e ao ver o amor que Deus me tem, Sinto-me quase louco, por  isso, a minha fraca natureza sente-se desfalecer e não pode mais. Mas ao mesmo tempo eu  vou me ocupar em escrever outras coisas, para depois continuar com a caridade.

(2) Eu continuo com o meu pobre dizer. Encontrando minha mente ocupada nas coisas ditas  antes, pensava entre mim: “Em que aproveitaria escrever isto se eu mesma não praticasse o  que escrevo? Este escrito certamente seria uma condenação para mim”. Enquanto isso  pensava, veio o bendito Jesus e me disse: “Este escrito servirá para fazer conhecer quem é  Aquele que te fala e ocupa tua pessoa; e além disso, se não te servir a ti, minha luz servirá a  outros que lerão o que te faço escrever”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao pensar que outros aproveitarão as graças que  me faz se lerem estes escritos, e eu que os recebo não? Não me condenarão eles? E ainda, só

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de pensar que chegarão às mãos de outros, me oprime o coração pela pena e pela vergonha  de mim mesma. Agora, permanecendo em grandíssima aflição, ia repetindo: “Em que aproveita  o meu estado se servirá de condenação?”

(4) E o amorosíssimo Jesus regressado disse-me: “Minha Vida foi necessária para a salvação  dos povos, e como não pude continuar sobre a terra, por isso escolho a quem me apraz para  prossegui-la neles, para poder continuar a salvação dos povos, eis o proveito de seu estado”.

* * * * * *

2-75 

22 de setembro de 1899

Jesus lhe fala de seus escritos. Contendas com a obediência. 

(1) Sentindo-me um prego cravado no coração pelas palavras que ontem disse meu doce  Jesus, e sendo Ele sempre benigno com esta miserável pecadora, para aliviar minhas penas  veio, e compadecendo-me toda me disse:

(2) “Minha filha, não queira te afligir mais. Deves saber que tudo o que te faço escrever, ou  sobre as virtudes ou sob alguma semelhança, não é outra coisa que fazer que te pintes tu  mesma, e a essa perfeição à qual fiz chegar a tua alma”.

(3) ¡ Oh Deus! Que grande repugnância sinto ao escrever estas palavras, porque não me  parece que seja verdade o que diz. Sinto que ainda não entendo o que é virtude e perfeição,  mas a obediência assim o quer, e é melhor morrer do que ter que ver com ela. Muito mais que  tem duas faces: Se se faz como ela diz, toma o aspecto de senhora e te acaricia como amiga  fiel, e até te promete todos os bens que há no Céu e na terra; mas se depois descobre uma  sombra de dificuldade contra, súbito, sem que se o avise, se um olhar se encontra como um  guerreiro que está preparando suas armas para te ferir e destruir. ¡ Oh meu Jesus! Que tipo de  virtude é esta obediência que faz tremer só de pensar nela?

(4) Então, enquanto Jesus me dizia aquelas palavras, eu lhe disse: “Meu bom Jesus, em que  aproveita a minha alma ter tantas graças, se depois me amargam toda a minha vida,  especialmente nas horas da tua privação? Porque o compreender quem Tu és e de quem estou  privada, é um contínuo martírio para mim; portanto não me servem mais do que para fazer-me  viver continuamente amarga”.

(5) E Ele acrescentou: “Quando uma pessoa gostou do doce de um alimento e depois é  obrigada a tomar o amargo, para tirar essa amargura duplica-se o desejo de saborear o doce, e  isto serve muito aquela pessoa, porque se ela sempre gostou do doce sem nunca provar o

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amargo, não teria grande apreço pelo doce, e se sempre gostasse do amargo sem conhecer o  doce, não conhecendo-o nem sequer o desejaria, por isso um e o outro servem, e assim te  servem também”.

(6) E eu: “Meu Jesus pacientíssimo, perdoa-me por ter que suportar uma alma tão mísera e  ingrata, parece-me que desta vez quero investigar demasiado”.

(7) E Jesus: “Não te perturbes, sou Eu mesmo quem ponho as dificuldades em teu interior para  ter ocasião de conversar contigo, e ao mesmo tempo para te instruir em tudo”.

* * * * * *

2-76 

Setembro 25, 1899

Medo de que seus escritos possam ser encontrados nas mãos de outros. 

(1) Em minha mente estava pensando: “Se estes escritos chegassem às mãos de alguém,  talvez dissesse: “Deve ser uma boa cristã porque o Senhor lhe faz tantas graças”, sem saber  que apesar de tudo isto sou ainda muito má. Eis como as pessoas podem ser enganadas tanto  no bem como no mal. Ah Senhor, só Você conhece a verdade e o fundo dos corações!”  Enquanto isso pensava veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Amada minha, e se as nações soubessem que tu és a minha defensora, e a delas?” (3) E eu: “Meu Jesus, que dizes?”

(4) E Ele: “Como! Não é verdade que você me defende das penas que elas me dão ao te  colocar no meio entre Eu e elas, e toma sobre você o golpe que Eu estava para receber em  Mim, e o que Eu devia descarregar sobre elas? E se alguma vez não os recebes sobre ti é  porque não to permito, e isto com grande pena, até te lamentares Comigo; podes porventura  negá-lo?”

(5) “Não Senhor, não posso negá-lo, mas vejo que é uma coisa que Você mesmo infundiu em  mim, por isso digo que o fato não é que eu seja boa, e me sinto toda confusa ao ouvir que me  diz estas palavras”.

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2-77 

Setembro 26, 1899

Causa pela qual Jesus não leva em conta as 

oposições. Visão abstrata e intuitiva da alma.

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(1) Esta manhã, tendo vindo o meu adorável Jesus, transportou-me para fora de mim mesma,  mas com o meu profundo pesar, via-o de costas, e por quanto lhe pedi que me deixasse ver o  seu santíssimo rosto me era impossível. Em meu interior ia dizendo: “Quem sabe, talvez sejam  minhas oposições à obediência de escrever, pelo que não se digna fazer ver seu rosto  adorável”. E enquanto isso dizia, chorava. Depois de me ter feito chorar, virou-se e disse:

(2) “Eu não levo em conta suas oposições, porque sua vontade está tão fundida com a minha  que não pode querer senão o que quero Eu; por isso enquanto te repugna, ao mesmo tempo  se sente atraída como por um ímã a fazê-lo, Assim, suas repugnâncias não servem para outra  coisa que para tornar mais bela e resplandecente a virtude da obediência, por isso não as tomo  em conta”.

(3) Depois vi seu belíssimo rosto, e em meu interior sentia um contentamento indescritível, e  dirigindo-me a Ele lhe disse: “Dulcíssimo Amor meu, se eu sinto tanto deleite ao verte, o que  terá sentido nossa Mamãe Rainha quando se fechou em seu seio puríssimo? Que felizes,  quantos agradecimentos não lhe deu?”

(4) E Ele: “Minha filha, foram tais e tantas as delícias e as graças que derramei nela, que basta  dizer-te que o que Eu sou por natureza, nossa Mãe o chegou a ser por graça; muito mais, pois  não tendo culpa, minha graça pôde dominar Nela livremente, assim que não há coisa de meu  Ser, que não confiei a Ela”.

(5) Naquele instante me parecia ver a nossa Rainha Mãe como se fosse outro Deus, com esta  única diferença: que em Deus é natureza própria, e em Maria Santíssima é graça conseguida.  Quem pode dizer como fiquei espantada? Como minha mente se perdia ao ver um portento de  graça tão prodigioso? Então, dirigindo-me a Ele lhe disse: “Amado Bem meu, nossa Mãe teve  tanto bem porque te fazia ver intuitivamente; eu gostaria de saber como te mostras a mim, com  a vista abstrata ou intuitiva. Quem sabe se é também abstrata”.

(6) E Ele: “Quero fazer-te compreender a diferença que há entre uma e outra. Na abstrata a  alma olha para Deus, na intuitiva entra dentro Dele e consegue as graças, isto é, recebe em si  a participação do Ser Divino; e tu, quantas vezes não participaste do meu Ser? Esse sofrer que  em você parece como se fosse natural, essa pureza que chega até sentir como se não tivesse  corpo, e tantas outras coisas, não te dei quando te atraí a Mim intuitivamente?”

(7) “Ah! Senhor, é verdade, e eu, que agradecimentos te dei por tudo isto? Qual foi a minha  correspondência? Sinto vergonha só de pensar nisso, mas ah! me perdoe e faça que me  possam conhecer no Céu e na terra como um sujeito de suas infinitas misericórdias. * * * * * *

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2-78 

Setembro 30, 1899

Tentações. Como a paciência em sofrer as 

tentações é como um alimento substancioso. 

(1) Primeiro devo dizer que passei uma hora de inferno.Logo, rapidamente olhei uma imagem  do menino Jesus, e um pensamento como raio disse ao menino: “Como és feio!” Tenho tentado  não dar importância nem me perturbar para evitar qualquer jogo com o demônio, mas apesar  disso aquele raio diabólico me penetrou no coração, e sentia que meu pobre coração odiava a  Jesus. ¡ Ah sim, me sentia no inferno fazendo companhia aos condenados, sentia o amor  mudado em ódio! Oh Deus, que pena o não poder te amar! Dizia: “Senhor, é verdade que não  sou digna de te amar, mas ao menos aceita esta pena, que gostaria de te amar e não posso”.

(2) Depois de ter passado no inferno mais de uma hora, parece que saí, graças a Deus, mas  quem pode dizer quanto afligido ficou meu pobre coração, débil pela guerra mantida entre o  ódio e o amor? Sentia tal prostração de forças que me parecia não ter mais vida. Então fui  surpreendida pelo meu estado habitual, mas oh, como estava decaída, meu coração e todas as  potências interiores, que com ânsia inenarrável desejam e vão em busca de seu sumo e único  Bem e só param quando o encontraram, e com sumo contente se o gozam, desta vez não se  atreviam a mover-se, estavam tão aniquiladas, confusas e abismadas em seu próprio nada,  que não se faziam sentir. ¡ Oh Deus, que golpe cruel teve que sofrer meu pobre coração! Com  tudo isto, o meu sempre benigno Jesus veio e a sua vista consoladora fez-me esquecer  rapidamente o ter estado no inferno, tanto que nem sequer pedi perdão a Jesus. As potências  interiores, humilhadas, cansadas como estavam, pareciam repousar n’Ele; tudo era silêncio, de  ambas as partes, não havia mais que algum olhar amoroso com o qual nos feríamos o coração  um ao outro. Depois de haver estado por algum tempo é este profundo silêncio, Jesus me  disse:

(3) “Minha filha, tenho fome, dá-me alguma coisa”.

(4) E eu: “Não tenho nada para te dar”. Mas nesse mesmo instante vi um pão e dei-lho, e  parecia que Ele com todo o gosto o comia. Agora, dentro de mim estava a dizer: “Há já alguns  dias que não me diz nada”. E Jesus respondeu ao meu pensamento:

(5) “Às vezes, o esposo tem prazer em tratar com a sua esposa, em confiar-lhe os seus  segredos mais íntimos; outras vezes, deleita-se com mais prazer em descansar e em  contemplar-se mutuamente a sua beleza, enquanto o falar impede o repouso, e o simples  pensamento do que se deve dizer ou do que se deve tratar, não deixa prestar atenção em ver a  beleza do esposo e da esposa, mas no entanto isto serve, porque depois de haver repousado e

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compreendido de mais sua beleza, vêm amar-se mais e com maior força saem para trabalhar,  tratar e defender seus interesses. É o que estou fazendo com você, não está feliz?” (6) Depois disto, um pensamento me iluminou na mente, acerca da hora passada no inferno e  subito disse: “Senhor, perdoa-me quantas ofensas te fiz”.

(7) E Ele: “Não queiras afligir-te nem perturbar-te, sou Eu quem conduz a alma até o profundo  do abismo, para poder depois conduzi-la mais rápido ao Céu”.

(8) Depois me fez compreender que aquele pão que encontrei em mim não era outra coisa que  a paciência com a qual havia suportado essa hora de sangrenta batalha, assim que a  paciência, a humilhação, a oferta a Deus do que se sofre em tempo de tentação, é um pão  substancioso que se dá a Nosso Senhor e que Ele aceita com muito gosto.

* * * * * *

2-79 

Outubro 1, 1899

Jesus fala com amargura dos abusos dos sacramentos. 

(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver em silêncio, mas com um aspecto  afligidíssimo, e tinha cravada na cabeça uma tupida coroa de espinhos; minhas potências  interiores as sentia em silêncio e não se atreviam a dizer uma só palavra; vendo que sofria  muito na cabeça estendi minhas mãos e pouco a pouco lhe tirei a coroa, mas, que acerbo  espasmo sofria, como se abriam as feridas e o sangue corria a rios! Na verdade, era uma coisa  que rasgava a alma. Depois de lhe ter tirado a coroa de espinhos, coloquei-a sobre a minha  cabeça, e Ele mesmo ajudava a que penetrasse bem, mas tudo era silêncio de ambas as  partes. Mas qual foi meu espanto, porque pouco depois o olhei de novo e lhe estavam pondo  outra coroa de espinhos com as ofensas que lhe faziam. ¡ Oh perfídia humana! Oh  incomparável paciência do meu Jesus, quão grande você é! E Jesus calava-se e quase não os  via para não saber quem eram os seus ofensores. Então, tirei-a de novo, e, avivando-lhe todas  as minhas forças interiores por uma terna compaixão, disse-lhe:

(2) “Meu bem amado, minha doce vida, por que não me diz nada? Nunca foi seu costume  esconder seus segredos de mim. Ah! , falemos um pouco, assim desafogaremos um pouco a  dor e o amor que nos oprime”.

(3) E Ele: “Minha filha, tu és o alívio em minhas penas. No entanto deves saber que não te digo

nada porque tu me obrigas sempre a não castigar as pessoas, queres opor-te à minha justiça,

e se não faço como tu queres fica descontente e Eu sinto uma pena de mais, ou seja, não te ter

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contente, Então, para evitar problemas de ambos os lados, é melhor eu ficar em silêncio”.

(4) E eu: “Meu bom Jesus, esqueceste-te de quanto sofres depois de teres usado a justiça?

Ver-te sofrer nas criaturas é o que me obriga a forçar-te a não punires as pessoas. E além

disso, esse ver as mesmas criaturas se voltarem contra Ti como tantas víboras venenosas, que

se estivesse em seu poder já teriam te tirado a vida, porque se vêem sob seus flagelos, e

assim irritam mais sua justiça, não me dá coragem para dizer Fiat Voluntas Tua”.

5) E Ele: “A minha justiça não pode continuar; sinto-me ferido por todos, por sacerdotes, por

devotos, por leigos, especialmente pelo abuso dos sacramentos: Quem não lhes presta

atenção, acrescentando os desprezos; quem os frequenta, deles fazem uma conversa de

prazer, e quem não estando satisfeito em seus caprichos, chega por isto a ofender-me. ¡ Oh!

como fica dilacerado meu coração ao ver reduzidos os sacramentos como aqueles quadros

pintados, ou como aquelas estátuas de pedra que de longe parecem vivas, mas se se aproxima

um se começa a descobrir o engano; e então se se faz por tocá-las, que coisa se encontra?

Papel, pedra, madeira, objetos inanimados, e fica desenganado de tudo. Assim são reduzidos

os sacramentos, para a maior parte não há outra coisa senão a aparência e ficam mais sujos

que limpos. E além disso, o espírito de interesse que reina nos religiosos, é para chorar, não te

parece que são todos olhos aí onde há um miserável lucro, até chegar a degradar sua

dignidade? Mas onde não há interesse, não têm mãos nem pés para mover-se nem sequer um

pouquinho. Este espírito de interesse enche-lhes tanto o interior, que transborda para o exterior

e até os próprios leigos sentem a peste, e escandalizados não têm fé em suas palavras. ¡¡¡ Ah

sim, ninguém deixa de me ofender! ; há quem me ofenda diretamente, e quem, podendo

impedir tanto mal, não se preocupa em fazê-lo, por isso não tenho a quem me dirigir. Mas Eu

os castigarei de maneira a torná-los inúteis, e a quem destruirei perfeitamente, chegarão a

tanto, que ficarão desertas as igrejas, sem ter quem administre os sacramentos”.

(6) Interrompendo a sua palavra, toda espantada disse: “Senhor, o que dizes? Se há quem

abuse dos sacramentos, também há muitas filhas boas que as recebem com as devidas

disposições e sofrem muito se não as frequentam”.

(7) E Ele: “Muito escasso é seu número, e além disso sua pena por não poder recebê-los,

servirá como uma reparação a Mim e para ser vítimas por aqueles que abusam”.

(8) Quem pode dizer como fiquei ferida por falar de Jesus bendito? Mas espero que queira

aplacar-se por sua infinita misericórdia.

* * * * * *

2-80

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Outubro 3, 1899

Divergências com a obediência, e como esta é o próprio Jesus.

(1) Esta manhã, Jesus continuava fazendo-se ver afligido. Eu não tinha coragem de dizer uma

palavra ao meu pacientíssimo Jesus, por temor de que voltasse a lamentar-se pelo estado

religioso, e isto porque a obediência quer que escreva tudo, também no que diz respeito à

caridade do próximo, e isto é tão penoso para mim que tive que lutar a braço partido com a

senhora obediência, a que tomou seu aspecto de guerreiro potentíssimo, armado com suas

armas para me dar a morte. Na verdade me encontrei em tais estreitezas, que eu mesma não

sabia o que fazer. Escrever segundo a luz com a qual Jesus me fazia ver a caridade do

próximo, me parecia impossível, me sentia ferir o coração por mil espinhos, me sentia

emudecer a boca e diminuir o ânimo e lhe dizia: “Amada obediência, tu sabes quanto te amo e

que de boa vontade por amor teu daria a vida, mas vejo que aqui não posso, e tu mesma vês o

rasgo da minha alma. ¡ Ah! Não se torne inimiga, não seja impiedosa comigo, seja mais

indulgente com quem tanto te ama. Venha comigo você mesma e vejamos juntas o que mais

nos convém dizer”.

(2) Assim parece que depôs sua ira e ela mesma ditava o que era mais necessário, encerrando

em poucas palavras todo o sentido das diferentes coisas a respeito da caridade, embora às

vezes quisesse ser mais detalhada e eu lhe dizia, basta, que com um pouco de reflexão

entendam o que significa, não é melhor encerrar numa palavra todo o significado, do que em

tantas palavras?.

(3) Às vezes cedia a obediência, às vezes eu, e assim parece que estivemos de acordo.

Quanta paciência se necessita com esta bendita senhora obediência, verdadeiramente

senhora, porque basta que lhe seja dado o direito de dominar, e muda seu aspecto pelo de um

mansíssimo cordeiro, ela mesma faz o sacrifício do trabalho e faz repousar a alma com seu

Senhor, E enquanto a alma dorme, esta nobre senhora, o que faz? Ela está suando de sua

testa, apressando-se no trabalho que tocava a alma, o que verdadeiramente faz assombrar a

qualquer mente humana inteligente, e move os corações a amá-la.

(4) Agora, enquanto digo isto, no meu íntimo penso: “Mas que coisa é esta obediência? De que

está formada? Qual é o alimento que a sustenta?” E Jesus faz ouvir a sua voz harmoniosa no

meu ouvido que diz:

(5) “Queres saber o que é a obediência? A obediência é a quintessência do amor; a obediência

é o amor mais fino, mais puro, mais perfeito, extraído pelo sacrifício mais doloroso, que é

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destruir-se a si mesmo para viver de Deus. A obediência, sendo nobilíssima e divina, não

admite na alma nada de humano e que não seja seu, por isso toda sua atenção é destruir na

alma tudo o que não pertence a sua nobreza divina, como é o amor próprio, e feito isso, pouco

lhe interessa que seja ela sozinha que se esforce e se fatigue por isso deveria fazer a alma, e a

esta a faz repousar tranqüilamente. Finalmente, a obediência sou Eu mesmo”.

(6) Quem pode dizer como fiquei maravilhada e estática ao ouvir este falar de Jesus

abençoado? Oh! santa obediência, como és incompreensível, eu me prostro a teus pés e te

adoro; peço-te que sejas meu guia, mestra, luz no desastroso caminho da vida, para que

guiada, ensinada, escoltada por tua luz puríssima possa com segurança tomar posse do porto

eterno. Acabo por me esforçar quase para sair desta virtude da obediência, senão nunca mais

falaria. É tanta a luz que vejo desta virtude, que poderia escrever sempre sobre ela, mas outras

coisas me chamam, por isso faço silêncio e sigo onde deixei.

(7) Então vi meu doce Jesus aflito, e lembrando que a obediência me havia dito que rezasse

por uma pessoa, com todo o coração a confiei, e Jesus me disse:

(8) “Minha filha, que faça de maneira que todas as suas obras resplandeçam só de virtude, mas

especialmente lhe recomendo que não se intrometa nas coisas de família; se tem alguma

coisa, que se desfaça dela, se não tem, não quero que ele se intrometa; que deixe que as

coisas sejam feitas por quem deve e ele permaneça livre, sem se enfatizar nas coisas terrenas,

de outra maneira viria a incorrer na desventura dos demais, que a princípio, tendo querido

intrometer-se em alguma coisa de família, depois de todo o peso ter ficado nos seus ombros, e

Eu, somente por minha misericórdia, tive que permitir que não prosperassem, mas sim que

empobrecem e assim fazê-los tocar com a mão como inconveniente é a um ministro meu

enlamear-se nas coisas terrenas, enquanto, palavra que saiu da minha boca, que aos ministros

do meu santuário, desde que não tocassem nas coisas terrenas, jamais lhes faltaria o alimento

quotidiano. Agora, se a estes Eu os houvesse feito prosperar, teriam enlameado seu coração e

não teriam prestado atenção nem a Deus nem às coisas pertencentes a seu ministério; agora,

aborrecidos, cansados de seu estado, querem libertar-se mas não podem e isto é em castigo

pelo que não deveriam fazer”.

(9) Depois lhe confiei a um enfermo, e Jesus me mostrava suas chagas, que lhe tinha feito

aquele enfermo. Eu tentei suplicar-lhe, aplacá-lo e repará-lo e parecia que aquelas chagas se

fechavam. E Jesus, toda a bondade me disse:

(10) “Minha filha, hoje tu fizeste o ofício de um médico muito experiente, que procurou não só

aliviar, de ligar, mas também curar as chagas que me fez esse enfermo, por isso sinto-me muito

aliviado e aplacado”.

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(11) Então compreendi que rezando pelos doentes faz-se o ofício de médico a Nosso Senhor,

que sofre nas suas próprias imagens.

* * * * * *

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Outubro 7, 1899

Vê Jesus zangado contra as pessoas

(1) Esta manhã o bendito Jesus não vinha e tive que me armar de paciência para esperá-lo.

Dentro de mim dizia: “Meu amado Jesus, vem, não me faças esperar tanto. Desde ontem à

noite não te vejo e agora já é muito tarde e Você não vem ainda. Veja com quanta paciência eu

esperei por você. Ah! não me faça chegar a impacientar porque demora tanto em vir, pois a

causa é Você com suas demoras. Por isso vêem, porque não posso mais”.

(2) Agora, enquanto eu estava dizendo estes e outros disparates, meu único Bem veio, mas

com grande dor minha, eu o vi irritado com as pessoas. Súbito, disse-lhe: “Meu bom Jesus,

peço-te que faças a paz com o mundo”.

(3) E Ele: “Filha, não posso; eu sou como um rei que quer entrar numa casa, mas aquela casa

está cheia de coisas imundas, de podridões e de muitas outras porcarias. O rei, como rei tem o

poder de entrar, não há ninguém que o possa impedir e ainda pode limpar aquela habitação

com suas próprias mãos, mas não quer fazê-lo, porque não é decoroso a sua real pessoa

descer a tantas baixezas, e enquanto o quarto não for limpo por outros, contudo e que tenha o

poder, o querer e um grande desejo, até a sofrer, não se dignará pôr nele o pé. Assim sou Eu.

Sou Rei que posso e quero, mas quero sua vontade, quero que tirem a podridão das culpas

para entrar e fazer a paz com eles. Não, não é digno a minha realeza entrar e pôr-me em paz

com eles, é mais, não farei outra coisa que mandar castigos. O fogo da tribulação os inundará

por toda parte, até aterrorizá-los, a fim de que se lembrem que existe um Deus, o único que

pode ajudá-los e libertá-los”.

(4) E eu, interrompendo o seu falar, disse-lhe: “Senhor, se queres lançar mão dos castigos, eu

quero ir para o Céu, não quero estar mais nesta terra. Como poderá o meu coração resistir a

ver as tuas criaturas sofrerem?” E Jesus, tomando um aspecto benigno, disse-me:

5) “Se tu vieres, para onde irei habitar nesta terra? Por agora pensemos em estar juntos aqui,

porque no Céu teremos muito tempo para estar juntos, como é toda a eternidade. E além disso,

muito cedo você esqueceu o ofício de me fazer de mãe na terra. Portanto, enquanto castigue

as pessoas eu virei me refugiar e morarei contigo”.

(6) E eu: “Ah Senhor, de que serviu o meu estado de vítima durante tantos anos? Que bem tem

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chegado aos povos, já que Tu me dizias que me querias como vítima para evitar os castigos às

pessoas? E agora me faz ver que esses castigos, em vez de acontecerem tantos anos atrás,

vão acontecer agora, nem mais nem menos que isto”.

(7) E Ele: “Minha filha, não digas isso; minha magnanimidade foi por amor de ti, e o bem que

veio disto, foi que terríveis castigos que deviam fazer estragos por muitíssimo tempo, agora por

isso serão mais breves. E não é um bem que alguém, em vez de estar por muitos anos sob o

peso de um castigo, esteja apenas por poucos? Além disso, ao longo destes últimos anos,

guerras, mortes imprevistas que não deviam ter tempo de se converter, agora em vez disso

tiveram-no e salvaram-se, não é isto um grande bem? Minha querida, por agora não é

necessário fazer-te compreender o proveito de teu estado para ti e para os povos, mas o

mostrarei quando vieres ao Céu e o dia do juízo o mostrarei a todas as nações. Por isso, não

fale mais deste modo”.

* * * * * *

2-82

Outubro 14, 1899

Jesus diz como são necessários os castigos, e

fala em modo comovedor da esperança.

(1) Esta manhã sentia-me um pouco perturbada e toda aniquilada em mim mesma. Via-me

como se o Senhor me quisesse atirar de Si. Meu Deus, que pena! Quando me encontrava em

tal estado, o bendito Jesus veio com uma cordinha na mão e golpeando meu coração três

vezes, disse-me:

(2) “Paz, paz, paz, paz, não sabes tu que o reino da esperança é reino de paz, e o direito desta

esperança é a justiça? Tu, quando vires que a minha justiça se arma contra as nações, entra

no reino da esperança, e investindo-te das mais poderosas qualidades que ela possui, sobe ao

meu trono e faze o que puderes para desarmar o meu braço armado; e isto o farás com as

vozes mais eloquentes, mais ternas, mais piedosas, com as razões mais poderosas, com as

orações mais ardentes, que a mesma esperança te ditará. Mas quando você vê que a mesma

esperança está para sustentar certos direitos de justiça que são absolutamente necessários, e

que querê-los ceder seria um querer fazer afronta a si mesma, o que não pode jamais ser,

então junte-se a Mim e entregue-se à justiça”.

(3) E eu, mais aterrorizada do que nunca, porque devia ceder à justiça, disse-lhe: “Ah Senhor,

como posso fazer isto? Parece-me impossível, o simples pensamento de que deves castigar as

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pessoas, sendo tuas imagens, não posso tolerá-lo, se ao menos fossem criaturas que não te

pertenciam. No entanto, isto é nada, o que mais me entristece é que devo ver Ti, quase estou

por dizer, golpeado por Ti mesmo, esbofeteado, açoitado, afligido, porque os castigos cairão

sobre teus mesmos membros, não sobre os outros, e por isso Tu mesmo virá a sofrer. Diga-me,

meu único e único Bem, como poderá resistir meu coração te ver sofrer, golpeado por Ti

mesmo? Que te façam sofrer as criaturas, são sempre criaturas e é mais tolerável, mas isto é

tão duro, que não posso aceitá-lo, por isso não posso me conformar Contigo, nem ceder”.

(4) Ele, pois, se compadecendo e sentindo pena de tudo por causa deste meu falar, e tomando

um aspecto aflito e benigno, disse-me:

(5) “Minha filha, você tem razão em que ficarei golpeado em meus próprios membros, tanto que

ao te ouvir falar, todas minhas entranhas me sinto comovidas e movidas a misericórdia e o

coração me sinto destroçado de ternura. Mas acredite em mim que são necessários castigos, e

se você não quiser me ver espancado agora um pouco, me verá mais tarde terrivelmente,

porque mais me ofenderão, e isto não te desagradaria mais? Por isso, aceita-te Comigo, de

outra maneira me obrigarás, para não te ver desgostosa, a não te dizer nada, e com isto virás a

negar-me o alívio que sinto ao conversar contigo. ¡ Ah! sim, me reduzirá ao silêncio sem ter

com quem desabafar minhas penas”.

(6) Quem pode dizer como fiquei amarga por sua falar? E Jesus, como se me quisesse distrair

da minha aflição, continuou a falar sobre a esperança, dizendo-me:

(7) “Minha filha, não se perturbe, a esperança é paz, e assim como Eu, no momento mesmo de

fazer justiça estou na mais perfeita paz, assim você, imergindo-se na esperança esteja em paz.

A alma que está na esperança, ao querer afligir-se, turbar, desconfiar, incorreria na desventura

daquela que, enquanto possui milhões e milhões de moedas e é rainha de vários reinos, vai

imaginando e dando lamentos dizendo: “De que vou viver? Como eu vou me vestir? Oh, eu

estou morrendo de fome! Hum, eu sou muito infeliz! Eu vou me reduzir para a mais estreita

miséria e eu vou acabar perecendo!” E ao dizer isto chora, suspira e passa seus dias triste,

esquálida, imersa na maior tristeza. E isto não é tudo, o que é pior é que se vê seus tesouros,

se caminha por suas propriedades, em vez de alegrar-se aflige mais pensando em seu fim

próximo e vendo o alimento não o quer tocar para sustentar-se, e se alguém quer persuadi-la

fazendo-lhe tocar com a mão suas riquezas mostrando-as e dizendo-lhe que não pode ser que

se reduza à mais estreita miséria, ela não se convence, fica aturdida e chora ainda mais sua

triste sorte.O que as pessoas diriam dela? Que está louca, que se vê que não tem razão, que

perdeu o cérebro; a razão está clara, não pode ser de outra maneira. No entanto, pode

acontecer que esta situação possa cair na desventura que se imagina, mas de que modo?

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Saindo de seus reinos, abandonando todas suas riquezas e indo a terras estrangeiras, no meio

de gente bárbara, onde ninguém se digne dar-lhe nem uma migalha de pão. E eis que sua

fantasia se tornou realidade; o que era falso agora é verdade. Mas quem foi a causa? A quem

se culparia de uma mudança de estado tão triste? a sua pérfida e obstinada vontade.

Precisamente assim é uma alma que se encontra em posse da esperança: o querer perturbar-

se, desanimar, já é a maior loucura”.

(8) E eu: “Ah! Senhor, como pode ser que a alma possa estar sempre em paz vivendo na

esperança? E se a alma comete algum pecado, como pode estar em paz?”.

(9) E Jesus: “No momento em que a alma peca, sai do reino da esperança, já que pecado e

esperança não podem estar juntos. Qualquer razão aceita que cada um é obrigado a respeitar,

conservar e cultivar o que é seu, quem é aquele homem que vai a seus terrenos e queima o

que possui? Quem é que não tem zelosamente guardadas suas posses? Creio que nenhum.

Agora, a alma que vive na esperança, com o pecado, ofende à mesma esperança e, se

estivesse em seu poder, queimaria todos os bens que possui a esperança, e então se

encontraria na desventura daquela tal que, abandonando seus bens vai viver a terras

estranhas. Assim a alma, com o pecado, afastando-se desta mãe pacífica, da esperança tão

terna e piedosa, que chega a alimentá-la com as suas próprias carnes, como é Jesus no

Sacramento, objecto primário da nossa esperança, vai-se viver no meio de gente bárbara como

são os demónios, que, negando-lhe até o menor consolo, não a alimentarão de outra coisa

senão de veneno, que é o pecado. Não obstante, esta mãe piedosa. O que faz? Enquanto a

alma se afasta dela, ficará indiferente? Ah não! Chora, reza, chama-a com as vozes mais

ternas, mais comovedoras, vai junto a ela e só se contenta quando a retorna ao seu reino”.

(10) O meu doce Jesus continua a dizer-me: “A natureza da esperança é paz, e o que ela é por

natureza, a alma que vive no seio desta mãe pacífica consegue-o por graça”.

(11) E no mesmo momento em que Jesus bendito diz estas palavras, com uma luz intelectual

faz-me ver sob a semelhança de uma mãe o que fez esta esperança pelo homem. ¡ Oh, que

cena tão comovente e terníssima, que se todos pudessem vê-la, chorariam de pena até os

corações mais duros e todos se afeiçoariam, iriam amá-la tanto, que seria impossível separar-

se por um só momento de seus joelhos maternos. E agora tentarei dizer o que compreendo e

posso:

(12) O homem vivia acorrentado, escravo do demônio, condenado à morte eterna, sem

esperança de poder ressurgir à vida eterna; tudo estava perdido e sua sorte estava em ruínas.

Esta mãe vivia no Empíreo, unida com o Pai e o Espírito Santo, bem-aventurada, feliz com

Eles; mas parecia que não estava contente, queria a seus filhos, a suas amadas imagens em

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torno dela, a obra mais bela saída de suas mãos. Agora, enquanto estava no Céu, seu olho

estava atento ao homem que estava perdido na terra. Toda ela se ocupa da maneira de salvar

a estes seus amados filhos, e vendo que estes filhos não podem absolutamente satisfazer à

Divindade, mesmo à custa de qualquer sacrifício, pois são muito inferiores a Ela, o que faz esta

mãe piedosa?Vê que não há outro meio para salvar a estes filhos que dar a própria vida para

salvar a deles, e tomar sobre si suas penas e misérias e fazer tudo o que eles deviam fazer por

eles mesmos, então, o que pensa fazer? Esta mãe amorosa se apresenta ante a divina justiça

com lágrimas nos olhos, com as vozes mais ternas, com as razões mais potentes que seu

magnânimo coração lhe dita e diz: “Graça te peço para meus perdidos filhos, não me resiste o

ânimo vê-los separados de Mim, a qualquer custo quero salvá-los, e se bem vejo que não há

outro meio que pôr minha própria vida, quero colocá-la com tal de que readquiram a deles. O

que queres deles? Reparação? Reparo eu por eles. Glória, honra? Eu te honro e glorifico por

eles. Agradecimentos? Eu te agradeço, tudo o que queres deles te dou Eu, desde que os

possa ter junto Comigo reinando”.

(13) A Divindade fica comovida ao ver as lágrimas, o amor desta piedosa mãe, e convencida

por suas potentes razões se sente inclinada a amar a estes filhos, e choram juntos sua

desventura, e pondo-se de acordo concluem que aceitam o sacrifício da vida desta mãe,

ficando por isso plenamente satisfeitos, para readquirir estes filhos. Não apenas é assinado o

decreto, desce em seguida do Céu e vem à terra, e deixando suas vestes reais que tinha no

Céu se veste das misérias humanas, como se fosse a mais vil escrava e vive na pobreza mais

extrema, nos sofrimentos mais inauditos, nos mais insuportáveis desprezos pela natureza

humana; não faz outra coisa senão chorar e interceder por seus amados filhos. Mas o que mais

o faz ficar espantado, tanto desta mãe como destes filhos, é que enquanto ela ama tanto estes

filhos, estes, em vez de receber esta mãe com os braços abertos, já que vem salvá-los, fazem

o contrário; ninguém a quer receber ou reconhecer, aliás, a obrigam a ir errante, a desprezam e

começam a planejar como matar a esta mãe tão terna e excessivamente amante deles. O que

fará esta mãe tão terna ao ver-se tão mal correspondida por seus ingratos filhos? Acaso irá

parar? Ah! Não, mas acende-se mais de amor por eles e corre de um ponto a outro para reuni-

los e colocá-los em seu colo. ¡ Oh, como se cansa, como se cansa, até pingar suor, não só de

água mas também de sangue! Não se dá um momento de trégua, está sempre em atitude de

efetuar sua salvação, provê a todas suas necessidades, remedia todos seus males passados,

presentes e futuros; em suma, não há nada que não ordene e disponha para seu bem.

(14) Mas o que fazem esses filhos? Arrependeram-se talvez da ingratidão que tiveram ao

recebê-la? Você mudou seus pensamentos em favor desta mãe? oh! não, olham-na com maus

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olhos, desonram-na com as calúnias mais negras, procuram-lhe opróbrios, desprezos,

confusões, golpeiam-na com todo tipo de flagelos, reduzindo-a toda a uma chaga, e acabam

por fazê-la morrer com uma morte, a mais infame que se possa encontrar, em meio a cruéis

espasmos e dores. Mas o que essa mãe faz no meio de tantas dores? Será que ela odiará

talvez esses filhos tão rebeldes e insolentes? Ah não, nunca! , agora mais do que nunca os

ama extremamente, oferece suas penas por sua própria salvação e expira com a palavra da

paz e do perdão.

(15) OH! Minha mãe bela, ó amada esperança, como você é amável em si mesma, eu te amo!

Ah! Mantenha-me sempre em seu colo e serei a mais feliz do mundo. Enquanto estou

determinada a deixar de falar da esperança, uma voz ressoa-me por toda a parte que diz:

(16) “A esperança contém todo o bem presente e futuro, e quem vive no seu colo e cresce

sobre os seus joelhos obtém tudo o que deseja. O que a alma quer: glória, honra? A esperança

lhe dará toda a maior honra e glória na terra, diante de todas as nações, e no Céu a glorificará

eternamente. Você talvez vai querer riqueza? ” Oh! Esta mãe esperança é riquíssima, e o que é

mais, dando seus bens a seus filhos, não diminuem suas riquezas em nada; além disso, estas

riquezas não são fugazes e passageiras, mas eternas. Você vai querer prazeres,

contentamentos? Ah! Sim, esta esperança contém em si todos os prazeres e gostos possíveis,

que se possam encontrar no Céu e na terra, que nenhum outro jamais poderá iguala-la, e quem

a seu seio se nutre, gosta-os até a saciedade, e oh! como é feliz e contente. Quererá ser douta,

sábia? Esta Mãe esperança contém em si as ciências mais sublimes, antes é a mestra de

todos os mestres, e quem se faz ensinar por ela aprende a ciência da verdadeira santidade”.

(17) Em suma, a esperança nos fornece tudo, de modo que, se um é fraco, lhe dará a força; se

outro está manchado, a esperança instituiu os Sacramentos e aí preparou a lavagem de suas

manchas; se sente fome e sede, esta Mãe piedosa nos dá o alimento mais belo, mais

saboroso, como são suas delicadíssimas carnes e por bebida seu preciosíssimo sangue. Que

outra coisa mais pode fazer esta mãe pacífica da esperança? Quem se assemelhará a ela? Ah!

Só ela pôs em paz o Céu e a terra, a esperança uniu com ela a fé e a caridade e formou esse

anel indissolúvel entre a natureza humana e a Divina. Mas quem é esta Mãe? Quem é esta

esperança? É Jesus Cristo, que operou a nossa Redenção e formou a esperança do homem

extraviado.

* * * * * *

2-83

Outubro 16, 1899

Expectativas. Jesus fala de castigos.

90

(1) Esta manhã meu doce Jesus não vinha e desde ontem à noite não o vi, quando se fez ver

com um aspecto que dava piedade e terror ao mesmo tempo, queria-se esconder para não ver

os castigos que Ele mesmo estava mandando às pessoas e o modo como devia destruí-las. ¡¡

Oh Deus, que espetáculo tão dilacerante, jamais visto! Enquanto esperava e esperava, em meu

interior ia dizendo: “Como é que não vem? Quem sabe, talvez não venha porque eu não me

conformo com sua justiça, mas, como posso fazê-lo? Me parece quase impossível dizer “Fiat

Voluntas Tua”. Dizia também: “Não vem porque o confessor não me manda”. Agora, enquanto

pensava isto, quando quase não vi a sua sombra, disse-me:

(2) “Não temas, o poder dos sacerdotes é limitado; só que na medida em que se prestem a

pedir-me que venha a ti e a oferecer-te para te fazer sofrer com o fim de conseguir que perdoe

as pessoas, assim Eu, quando enviar os castigos os curarei e os libertarei, mas se nenhum

pensamento for dado, Eu também não terei consideração por eles”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me num mar de aflição e de lágrimas.

* * * * * *

2-84

Outubro 21, 1899

Os bens terrenos devem servir para a santificação,

não para serem ídolos para o homem. Causa dos castigos.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, sentia-me cansada e sem forças, ainda

que ia oferecendo estas mesmas penas dizendo: “Senhor, Tu sabes quanto me custa estar

privada de Ti, mas me resigno a tua Santa Vontade, oferecendo esta pena acerbíssima como

meio para atestar-te meu amor e aplacar-te. Estes aborrecimentos, aborrecimentos, fraquezas,

frieiras que sinto, tenho intenção de enviá-los como mensageiros de louvores e de reparações

por mim e por todas as criaturas; isto tenho e isto te ofereço. É certo que Tu aceitas o sacrifício

da boa vontade quando se te oferece o que se pode sem reserva alguma, mas vem, porque

não posso mais”.

(2) Muitas vezes me vinha a tentação de me conformar à justiça e pensava que a causa pela

qual não vinha era eu mesma, porque quando Jesus, nos dias passados, me tinha dito que se

não me conformasse o obrigaria a que não viesse e a não dizer-me mais nada para não ter-me

descontente, mas não tinha vontade de fazê-lo, muito mais porque a obediência não o

consentia. Enquanto me encontrava entre estas amarguras, primeiro veio uma luz, com uma

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voz que dizia:

(3) “À medida que o homem se intromete nas coisas terrenas, assim se afasta e perde a estima

dos bens eternos. Eu dei as riquezas para que se sirvam delas para sua santificação, mas elas

se serviram delas para me ofender e formar um ídolo para seu coração, e eu destruirei as

pessoas e as riquezas junto com elas”.

(4) Depois disto vi o meu caríssimo Jesus, mas tão sofredor, ofendido e irado com as nações,

que dava terror. Eu súbito comecei a dizer-lhe: “Senhor, ofereço-te as tuas chagas, o teu

sangue, o uso santíssimo dos teus santíssimos sentidos que fizeste no curso da tua vida

mortal, para te reparar as ofensas e o mau uso dos sentidos que fazem as criaturas”.

(5) E Jesus, levando um aspecto sério e quase irado disse:

(6) “Você sabe como os sentidos das criaturas se tornaram? Como aqueles rugidos das bestas

ferozes, que com seus rugidos afastam os homens em vez de atraí-los. É tanta a podridão e a

multiplicidade das culpas que sai de seus sentidos, que me obrigam a fugir”.

(7) E eu: “Ah! Senhor, como te vejo zangado. Se queres continuar a mandar castigos, eu quero

ir para o Céu, ou então quero sair deste estado. De que adianta estar nele se não posso mais

me oferecer vítima para livrar as pessoas?” E Ele, falando-me sério, tanto que me sentia

aterrado, disse-me:

(8) “Tu queres tocar os dois extremos, ou que não faça nada, ou que tu queres vir. Não te

contentas com que as nações sejam perdoadas em parte? Crês tu que Corato seja o melhor e

o que menos me ofende? E o fato de o ter perdoado em parte em comparação com as outras

cidades é coisa de nada? Por isso, conforta-te e acalma-te, e enquanto Eu me ocupo em

castigar as nações, Tu me acompanhas com teus suspiros e com teus sofrimentos, pedindo-me

que os mesmos castigos sirvam para a conversão dos povos”.

* * * * * *

2-85

Outubro 22, 1899

A cruz, um caminho cravejado de estrelas.

(1) Continua Jesus fazendo-se ver afligido. Assim que chegou, lançou-se em meus braços, todo

extenuado como querendo um alívio. Participou-me um pouco dos seus sofrimentos e depois

disse-me:

(2) “Minha filha, o caminho da cruz é um caminho cheio de estrelas, à medida que se caminha,

essas estrelas mudam-se em sóis luminosíssimos. Que felicidade será para a alma por toda a

eternidade estar circundada por estes sóis? Além disso, o grande prêmio que dou à cruz é tal,

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que não há medida, nem de comprimento nem de largura, é quase incompreensível às mentes

humanas, e isto porque ao suportar as cruzes não pode haver nada de humano, senão todo

divino”.

* * * * * *

2-86

Outubro 24, 1899

O homem é uma reprodução do Ser Divino.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, entre as

nações, e parecia que Jesus olhava com olhos de compaixão as criaturas, e os mesmos

castigos apareciam como infinita misericórdia sua, saída do mais íntimo de seu coração

amorosíssimo; então, voltou para mim e disse:

(2) “Minha filha, o homem é uma reprodução do Ser Divino, e como nosso alimento é o amor,

sempre recíproco, conforme e constante entre as Três Divinas Pessoas, por isso, o homem

tendo saído de nossas mãos e do amor puro e desinteressado, É como uma partícula do nosso

alimento. Agora, esta partícula tornou-se amarga; não só isso, mas a maior parte, separando-se

de nós tornou-se pasto das chamas infernais e alimento do ódio implacável dos demônios,

nossos e seus capitais inimigos. Eis a causa principal de nosso descontentamento pela perda

das almas: Porque são nossas, são coisa que nos pertence; e também a causa que me impele

a castigá-los é o grande amor que tenho por eles, para poder pôr a salvo suas almas”.

(3) E eu: “Ah! Senhor, parece que desta vez não tens outras palavras a dizer além de castigos,

a tua Potência tem tantos outros meios para salvar estas almas. E além disso, se estivesse

certa que toda a pena cairia sobre eles e Você ficasse livre, sem sofrer neles, me contentaria,

mas vejo que já está sofrendo muito por aqueles castigos que tem mandado, o que será se

continuar mandando outros castigos?”

(4) E Jesus: “Apesar de tudo o que sofro, o amor obriga-me a enviar flagelos mais pesados, e

isto porque não há meio mais potente para fazer entrar em si mesmo o homem e fazê-lo

conhecer o que é seu ser, do que fazer que se veja a si mesmo desfeito; Os outros meios

parecem que o robustecem de mais, por isso, recompõe-te à minha justiça. Vejo bem que o

amor que você me tem é o que te leva a não se conformar Comigo e não tem coração de me

ver sofrer; mas também minha Mãe me amou mais que todas as criaturas, tanto, que nenhuma

outra jamais poderá iguala-la, No entanto, para salvar as almas, conformou-se com a justiça e

contentou-se em ver-me sofrer tanto. Se minha Mãe fez isso, como você não poderia?”

(5) E no momento em que Jesus falava, sentia-me tão atraído pela sua vontade que quase não

sabia resistir a conformar-me com a sua justiça, não sabia o que dizer, tão convencida me

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sentia; no entanto, não manifestei a minha vontade. Jesus desapareceu e eu fiquei nesta

dúvida, se devo ou não me conformar.

* * * * * *

2-87

Outubro 25, 1899

Jesus fala do seu grande amor pelas criaturas.

(1) O meu dulcíssimo Jesus continua a manifestar-se quase sempre igual. Esta manhã

acrescentou:

(2) “Minha filha, é tanto o amor pelas criaturas, que como um eco ressoa nas regiões celestes,

enche a atmosfera e se difunde sobre toda a terra. Mas qual é a correspondência que as

criaturas dão a este eco amoroso? Ah! Correspondem-me com um eco de ingratidão,

venenoso, cheio de todo tipo de amarguras e de pecados, com um eco quase assassino, apto

só para me ferir. Mas eu despovoarei a face da terra, a fim de que este eco cheio de veneno

não mais atordoado meus ouvidos”.

(3) E eu: “Ah! Senhor, o que dizes?”

(4) E Jesus: “Eu não faço mais que como um médico piedoso, que tem os remédios extremos

para seus filhos, e estes filhos estão cheios de chagas, o que faz este pai e médico que ama a

seus filhos mais que a própria vida? Deixará que gangrenem estas chagas? Os deixará morrer

por temor de que aplicando o fogo e os instrumentos eles sofram? Não, jamais! Embora sentira

como se tais instrumentos se aplicassem a ele, contudo e isto tomará os instrumentos, rasgo e

corta a carne, aplica o remédio, o fogo, para impedir que a corrupção avance mais. Se bem que

muitas vezes acontece que nestas operações os pobres filhos morrem, mas não era esta a

vontade do pai médico, senão que sua vontade é vê-los curados. Assim sou Eu, magoo para

curá-los, destruo-os para ressuscitá-los. Que muitos pereçam, não é essa minha Vontade, isto

é efeito de sua malvada e obstinada vontade, é efeito deste eco venenoso que, até serem

destruídos, querem me enviar”.

(5) E eu: “Diz-me, meu único Bem, como poderia adoçar-te este eco venenoso que tanto te

aflige?”

(6) E Ele: “O único meio é que tu faças sempre todas as tuas obras com a única finalidade de

me agradar e que uses todos os teus sentidos e poderes com a finalidade de me amar e

glorificar. Faz com que cada pensamento teu, palavra e todo o resto, não queira outra coisa

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que o amor que tens por Mim, assim o teu eco subirá agradável ao meu trono e adoçará o meu

ouvido”.

* * * * * *

2-88

Outubro 28, 1899

Quem é você e quem sou eu?

(1) Esta manhã o meu amável Jesus veio no meio de uma luz, e olhando para mim como se me

penetrasse por todos os lados, tanto que me sentia aniquilada, disse-me:

(2) “Quem sou eu, e quem és tu?”

(3) Estas palavras me penetravam até a medula dos ossos e descobria a infinita distância que

há entre o Infinito e o finito, entre o Todo e o nada; e não só isso, senão que descobria também

a maldade deste nada e o modo como se tinha enlameado, me parecia como um peixe que

nada nas águas, assim minha alma nadava na podridão, nos vermes e em tantas outras coisas

aptas somente para dar horror à vista. ¡ Oh Deus, que vista abominável! Minha alma queria

fugir da vista de Deus três vezes Santo, mas com outras duas palavras me amarrou: “Qual é o

meu Amor para contigo? E qual é a sua correspondência para mim?”

(4) Agora, enquanto à primeira palavra teria querido fugir espantada pela sua presença, à

segunda palavra, qual é o meu Amor para contigo? Encontrei-me abismada, atada por toda

parte por seu amor, assim que minha existência era um produto de seu amor, e se este amor

cessava, eu não existia mais. Então, me parecia que os batimentos do coração, a inteligência e

até o respiro eram todos uma reprodução de seu Amor, eu nadava nele e mesmo o querer fugir

me parecia impossível, porque seu amor me circundava por todos lados. Meu amor me parecia

como uma gota de água atirada no mar, que desaparece e não se pode mais distinguir.

(5) Quantas coisas compreendi, mas se quisesse dizê-las todas, prolongar-me-ia

demasiado. Então Jesus desapareceu e eu fiquei toda confusa, via-me todo pecado e em meu

íntimo implorava perdão e misericórdia. Pouco depois meu único Bem voltou e eu me sentia

toda banhada pela amargura e pela dor de meus pecados, e Ele me disse:

(6) “Minha filha, quando uma alma está convencida de ter feito mal ao me ofender, faz já o

ofício da Madalena que banhou meus pés com suas lágrimas, ungiu-os com bálsamo e os

secou com seus cabelos. A alma, quando começa a ver em si mesma o mal que fez, prepara-

me um banho às minhas chagas. Vendo o mal, sente amargura e prova dor, e com isto vem

ungir as minhas chagas com um bálsamo requintado. Por este conhecimento a alma gostaria

de fazer uma reparação, e vendo a ingratidão passada, sente nascer nela o amor por um Deus

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tão bom e gostaria de dar a sua vida para testemunhar o seu amor, e estes são os cabelos, que

como tantas correntes de ouro a unem ao meu amor”.

* * * * * *

2-89

Outubro 29, 1899

Jesus a leva nos braços e a instrui.

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, mas esta manhã, quando veio me tomou em seus

braços e me transportou para fora de mim mesma; e eu, encontrando-me naqueles braços

compreendia muitas coisas e especialmente que para poder estar livremente nos braços de

Nosso Senhor e também para entrar boamente em seu coração e sair dele como a alma mais

lhe agrade, e para não ser de peso e aborrecimento ao bendito Jesus, é absolutamente

necessário despojar-se de tudo. Portanto, com todo o coração lhe disse: “Meu amado e único

Bem, o que te peço para mim é que me despojes de tudo, porque bem vejo que para ser

revestida por Ti e viver em Ti, e que Tu vivas em mim, é necessário que não tenha sequer a

sombra do que não te pertence”. E Ele, toda benignidade, me disse:

(2) “Minha filha, a coisa principal para que Eu entre em uma alma e forme minha habitação

nela, é o desapego total de toda coisa. Sem isto, não só não posso viver nela, como nem

sequer uma virtude pode tomar lugar na alma.Depois que a alma fez sair tudo de si, então eu

entro nela e unido com a vontade da alma fabricamos uma casa, os fundamentos desta casa

se baseiam na humildade, e quanto mais profundos forem, tanto mais altos e fortes são os

muros; estas paredes serão feitas de pedras de mortificação, cobertas de ouro puríssimo de

caridade. Depois que os muros foram construídos, Eu, como um pintor excelentíssimo, não

com cal e água, mas com os méritos da minha Paixão, simbolizados pela cal, e com as cores

do meu sangue, simbolizados pela água, os revesti e neles formo as mais Excelentíssimas

pinturas, e isto serve para protegê-la bem das chuvas, das nevadas e de qualquer golpe.

Imediatamente depois vêm as portas, e para fazer que estas sejam sólidas como madeira, não

presas à mariposa, é necessário o silêncio, que forma a morte dos sentidos exteriores. Para

guardar esta casa é necessário um guardião que vigie por toda parte, por dentro e por fora, e

este é o santo temor de Deus, que a guarda de qualquer inconveniente, vento, ou qualquer

outra coisa que possa ameaçá-la.Este temor será a salvaguarda desta casa, que fará agir a

alma não por temor da pena, mas por temor de ofender ao proprietário desta casa. Este santo

temor deve fazer com que tudo seja feito para agradar a Deus, sem nenhuma outra

intenção. Logo se deve adornar esta casa e enchê-la de tesouros, estes tesouros não devem

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ser outra coisa que desejos santos, lágrimas; estes eram os tesouros do Antigo Testamento e

neles encontraram sua salvação, no cumprimento de seus votos sua consolação, a força nos

sofrimentos; em suma, toda a sua fortuna se baseava no desejo do futuro Redentor e nesse

desejo agiam como atletas. A alma sem desejo trabalha quase como morta; mesmo as mesmas

virtudes, tudo é tédio, aborrecimento, animosidade, nada lhe agrada, caminha quase

arrastando-se pelo caminho do bem. Ao contrário a alma que deseja, nada lhe causa peso,

tudo é alegria, voa, nas mesmas penas encontra seus gostos, e isto porque havia um

antecipado desejo, e as coisas que primeiro se desejam, depois vêm a amar-se, e amando-se,

encontram-se os prazeres mais agradáveis. Por isso este desejo deve acompanhar a alma

desde antes de que se fabrique esta casa.

(3) Os adornos desta casa serão as pedras mais preciosas, as pérolas, as gemas mais caras

desta minha vida, baseada sempre no sofrer e no puro sofrer; e como Aquele que a habita é o

doador de todo bem, põe nela o enxoval de todas as virtudes, a perfuma com os mais suaves

odores, semeia as flores mais encantadoras e perfumadas, faz soar uma música celestial das

mais agradáveis, faz respirar um ar de Paraíso.

(4) Esqueci de dizer que é preciso ver se há paz doméstica, e esta não deve ser outra coisa

que o recolhimento e o silêncio dos sentidos interiores”.

(5) Depois disto, eu continuava nos braços de Nosso Senhor e me encontrava despojada de

tudo; enquanto estava nisto, via o confessor presente e Jesus me disse, mas me parecia que

queria fazer uma brincadeira para ver o que eu dizia:

(6) “Minha filha, você se despojou de tudo, e você sabe que quando se despoja se necessita

outra pessoa que pense em vesti-lo, em alimentá-lo e que lhe dê um lugar onde viver. Tu, onde

queres estar, nos braços do confessor ou nos meus?”

(7) E enquanto dizia isto, tentava colocar-me nos braços do confessor. Eu comecei a insistir

que não queria ir, e Ele que queria. Depois de um pouco de disputa me disse:

(8) “Não temas, te tenho em meus braços”.

(9) E assim ficamos em paz.

* * * * * *

2-90

Outubro 30, 1899

Ameaça de castigos. Não se conforma à Justiça.

(1) Esta manhã meu benigno Jesus veio todo aflito, e as primeiras palavras que me disse

foram:

(2) “Pobre Roma, como será destruída! Ao te ver Eu te compadeço!”

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(3) E o dizia com tal ternura que dava compaixão; mas não entendi se serão só as pessoas ou

também os edifícios. Eu, como tinha a obediência de não me conformar à justiça, mas de rezar,

por isso lhe disse: “Meu amado Jesus, quando se fala de castigos não se necessita opor mais,

senão somente rezar”. E assim comecei a rezar, a beijar suas chagas e a fazer atos de

reparação. E enquanto isso fazia, Ele de vez em quando me dizia:

(4) “Minha filha, não me faças violência, fazendo isto tu queres forçar-me, por isso fica quieta”.

(5) E eu: “Senhor, é a obediência que assim o quer, não sou eu que o quero”.

(6) Ele acrescentou: “O rio da iniqüidade é tanto, que chega a impedir a redenção das almas, e

só a oração e minhas chagas impedem que este rio impetuoso as arraste a todas nele”.

* * * * * *

GLORIA A DEUS!

Nihil obstat

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arzobispo Giuseppe M. Leo

Octubre de 1926

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Volume 03 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Queremos consagrar este livro e os frutos 

que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade 

 Volume 03

3

I.M.I.

3-1

Novembro 1, 1899

Purificação da Igreja. As almas vítimas são o seu sustento 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma  igreja, e ali estava um sacerdote que celebrava o divino sacrifício, e enquanto isso fazia chorava  amargamente e dizia: “A coluna da minha Igreja não tem onde apoiar-se”.

(2) No momento em que dizia isto vi uma coluna, cujo cume tocava o céu, e abaixo desta coluna  estavam sacerdotes, bispos, cardeais e todas as outras dignidades que sustentavam essa coluna,  mas com minha surpresa, ao olhar vi que destas pessoas, quem era muito fraco, quem era meio  acabado, quem era doente, quem era cheio de lama; escassíssimo era o número daqueles que se  encontravam em estado de sustentá-la, assim que esta pobre coluna, tantas eram as sacudidas  que recebia por baixo, que cambaleava sem poder estar firme. Até acima desta coluna estava o  Santo Padre, que com correntes de ouro e com os raios que despedia de toda sua pessoa, fazia  quanto mais podia para sustentá-la, para acorrentar e iluminar as pessoas que moravam na parte  baixa, Embora alguma escapasse para ter mais oportunidade de degradar-se e enlamear-se , e  não só a estas pessoas mas que tratava de atar e iluminar a todo o mundo.

(3) Enquanto eu via isto, aquele sacerdote que celebrava a missa (embora tenha dúvidas se e sacerdote ou Nosso Senhor, parece-me que era Ele, mas não sei dizer com certeza), chamou-me  junto a Ele e disse-me:

(4) “Minha filha, olha em que estado lamentável se encontra minha Igreja, as mesmas pessoas que  deviam sustentá-la, desfalecem, e com suas obras a abatem, golpeiam-na, e chegam a denegri-la.  O único remédio é que faça derramar tanto sangue, até formar um banho para poder lavar esse  purulento lodo e curar suas profundas chagas, para que sanadas, reforçadas, embelezadas por  esse sangue, possam ser instrumentos hábeis para mantê-la estável e firme”. Depois acrescentou:  “Chamei-te para te dizer: Queres tu ser vítima e assim ser como uma escora para segurar esta  coluna em tempos tão incorrigíveis?”.

(5) Eu, em princípio, senti um arrepio correr por medo, e porque possivelmente não teria a força,  mas logo me ofereci e pronunciei o Fiat. Enquanto estava nisto, encontrei-me rodeada por muitos  santos, anjos e almas purgantes que com flagelos e outros instrumentos me atormentavam; e eu,  embora no princípio sentisse temor, mas depois, quanto mais sofria, tanto mais me vinha o desejo

1 Este livro foi traduzido da tradução em espanhol que foi feita do original manuscrito de Luisa Piccarreta.

4

de sofrer e saboreava o sofrer, como um dulcíssimo néctar. E muito mais porque me veio um  pensamento: “Quem sabe se essas penas pudessem ser meios para consumir a vida, e assim  poder empreender o último vôo para meu sumo e único Bem”. Mas com muita pena, depois de ter  sofrido acerbas penas, vi que essas penas não me consumiam a vida. ¡¡ Ó Deus, que pena, que  esta frágil carne me impeça de unir-me com meu Bem Eterno! (6) Depois disto, vi o massacre  sangrento que se fazia daquelas pessoas que estavam debaixo da coluna. Que horrível catástrofe!  Escassíssimo era o número dos que não caíam vítimas, chegavam a tal atrevimento, que tentavam  matar o Santo Padre. Mas depois parecia que aquele sangue derramado, aquelas sangrentas  vítimas destroçadas, eram meios para fazer fortes aqueles que ficavam, de modo que sustentavam  a coluna sem fazê-la balançar mais. ” Oh, que dias felizes!. Depois disso despontavam dias de  triunfos e de paz, a face da terra parecia renovada, a coluna adquiria seu primeiro brilho e  esplendor. ¡ Oh dias felizes, de longe eu vos saúdo, pois tanta glória dareis à Igreja e tanto honra a  Deus que é sua Cabeça!

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3-2

3, Novembro 1899

Jesus entretenimento com Luisa. 

(1) Esta manhã meu amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, dentro de uma  igreja e desapareceu, e eu fiquei sozinha. Agora, encontrando-me diante da presença do  Santíssimo Sacramento, fiz a minha habitual adoração, mas enquanto fazia isto, parecia que me  tinha virado todos os olhos para ver se podia descobrir o meu doce Jesus. Enquanto estava nisto,  vi-o sobre o altar, como criança, que me chamava com sua graciosa mãozinha. Quem pode dizer o  meu contentamento? Voei a Ele, e sem pensar em outra coisa, o apertei entre meus braços e o  beijei, mas no momento de fazer isto tomou um aspecto sério, e mostrava que não lhe agradam  meus beijos e começou a me rejeitar. Eu, não levando em conta isto, continuei e lhe disse: “Meu  querido, belo, no outro dia Você quis desabafar comigo com beijos e abraços, e eu te dei toda a  liberdade; hoje Quero com você desabafar também eu, ah, me dê a liberdade”. Mas Ele continuava  me rejeitando, e vendo que eu não cessava desapareceu. Quem pode dizer o quão mortificada e  pensativa fiquei ao me encontrar em mim mesma? Mas depois de um pouco voltou, e eu lhe pedia  perdão por minhas impertinências; me perdoou querendo Ele desafogar comigo, e enquanto me  beijava me disse:

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(2) “Amada de meu coração, minha Divindade habita em ti habitualmente, e à medida que tu vais  inventando novas coisas para me deleitar contigo, assim Eu, para estar à par, uso novos modos  para fazer você se deleitar Comigo”.

(3) Com isso eu entendi que era uma brincadeira que Jesus queria fazer.

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3-3

Novembro 4, 1899

Efeitos diferentes entre a presença de Jesus e a do demônio. 

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, o demônio tratava de tomar seu aspecto e fazer se ver, mas eu não advertindo os habituais efeitos, comecei a duvidar e persegui-me com a cruz,  primeiro eu e depois a ele, e o demônio vendo-se perseguido tremia; Imediatamente o rejeitei de  mim sem olhar para ele. Pouco depois veio meu amado Jesus, e temendo que fosse outra vez o  espírito maligno, tratava de rechaçá-lo e invocar a ajuda de Jesus e da Rainha Mãe, mas Ele para  assegurar-me que não era o demônio me disse:

(2) “Minha filha, para te assegurar se sou Eu, ou não sou Eu, tua atenção deve estar nos efeitos  internos, se se movem a virtude ou a vício, já que como minha natureza é virtude, de nenhuma  outra Eu faço herdeiros dos meus filhos, mais do que da virtude. Isto você pode compreender  também na natureza humana, que sendo carne, acontece que se tem alguma chaga, a carne se  muda em pus e se pode dizer que não é mais carne; assim minha natureza, se minimamente  pudesse reter em si a sombra do vício, cessaria de ser aquele Deus que é, o que não pode  acontecer jamais”.

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3-4

Novembro 6, 1899

Pureza de intenção.

(1) Esta manhã, tendo vindo o adorável Jesus e transportando-me para fora de mim mesma, fez me ver ruas cheias de cadáveres. ¡ Que cruel carnificina! dá horror pensar. Depois fez-me ver que  acontecia uma coisa no ar e muitos morriam de improviso; vi isso também no mês de Março. Eu  comecei, segundo meu costume, a rogar-lhe que se acalmasse e que livrasse a suas mesmas  imagens de suplícios tão cruéis, de guerras tão sangrentas, e como tinha a coroa de espinhos a  tirei para que eu a colocasse, e isto para aplacá-lo principalmente; Mas com grande tristeza vi que  quase todos os espinhos estavam quebrados na sua cabeça santíssima, de modo que pouco me  restava para sofrer a mim. Jesus se mostrava severo; quase sem me prestar atenção o que  significava aquilo, para romper esse ar severo que tinha lhe disse: “Dulcíssimo amor meu, te

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ofereço estes movimentos de meu corpo que Tu mesmo me fizeste e todos os demais que possa  eu fazer, com o único fim de te agradar e te glorificar. Ah sim, quero que também os movimentos  das pálpebras, os de meus olhos, de meus lábios e de toda eu mesma sejam feitos com o único fim  de te agradar só a Ti. Faze, ó bom Jesus, que todos os meus ossos, os meus nervos, ressoem  entre eles e com clara voz te atestem o meu amor”.

(2) E Ele me disse: “Tudo o que se faz com a única finalidade de me agradar, resplandece Diante  de mim de uma maneira tal, que atrai meus olhares divinos, e me agrada tanto, que a essas ações,  embora fossem só um movimento de cílios, lhes dou o valor como se fossem feitas por Mim. Em  troca as outras ações, que em si mesmas são boas e ainda grandes, não feitas unicamente para  Mim, são como esse ouro enlameado e cheio de ferrugem que não resplandece, e Eu não me  digno nem sequer olhá-las”.

(3) E eu: “Ah Senhor, que fácil é que o pó suje nossas ações”.

(4) E Ele: “Não se necessita prestar atenção ao pó, porque este se agita, ao que há que atender é  à intenção”.

(5) Agora, enquanto isso se dizia, Jesus se ocupava em atar-me os braços. Eu lhe disse: “Senhor,  que fazes?”

(6) E Ele: “Faço isto porque Tu estando na posição da crucificação me aplacas, e como Eu quero  punir as pessoas Eu estou amarrando-os a você”.

(7) E disse isso desapareceu.

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3-5

Novembro10, 1889

A obediência ao confessor. 

(1) Depois de ter passado alguns dias em contenda com Jesus, porque eu queria ser desatada e  Ele não queria, agora se fazia ver que dormia, agora me impunha silêncio; finalmente esta manhã,  enquanto o vi, Via o confessor que me ordenava absolutamente que me fizesse desatar por Jesus,  e isto mais de uma vez, mas Jesus não fazia caso, e eu obrigada pela obediência lhe disse: “Meu  amável Jesus, quando te opuseste à obediência? Não sou eu que quero ser desatada, é o  confessor que quer que me faças sofrer a crucificação, por isso rende-te a esta virtude tão predileta  por Ti, que entretém toda a tua vida, e formou o último elo, unindo tudo em um o sacrifício da cruz”.  (2) E Jesus: “Tu queres fazer-me violência tocando-me esse elo que uniu a Divindade e a  humanidade, e formou um só elo, que é a obediência”.

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(3) E, enquanto isto dizia, assumiu o aspecto de Crucificado e, quase forçado pelo poder  sacerdotal, tive a participação das dores da crucificação. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo  para sua glória. Assim parece que fiquei desatada.

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3-6

Novembro 11, 1899

A obediência impede-a de se ajustar à justiça.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e me parecia que  girava pela terra. ¡¡ Oh, como estava inundada por todo tipo de iniquidades, dá horror pensar!  Agora, enquanto eu girava, cheguei a um ponto e encontrei um sacerdote de vida santa, e em outro  ponto uma virgem de vida pura e santa. Nos unimos os três e começamos a falar sobre os tantos  castigos que o Senhor está enviando e tantos outros que tem preparados. Eu lhes disse: “E vós,  que fazeis? Acaso vos conformastes à divina justiça?” E eles:

(2) “Vendo a extrema necessidade destes tristes tempos, e que o homem não se renderia nem que  viesse um apóstolo, nem se o Senhor enviasse a outro São Vicente Ferrer, que com milagres e  sinais portentosas o pudesse induzir à conversão é mais, vendo que o homem chegou a tal  obstinação e a uma espécie de loucura, que a mesma força dos milagres o tornaria mais incrédulo,  então, obrigados por esta premente necessidade, pelo bem deles e para deter este mar purulento  que inunda a face da terra, e para glória do nosso Deus tão ultrajado, conformamo-nos à justiça, só  estamos rogando e oferecendo-nos vítimas para fazer que estes castigos sirvam para a conversão  dos povos. E tu, que fazes? Não te conformaste conosco?”

(3) E eu: “Ah não, não posso, porque a obediência não quer, embora Jesus queira que me  uniforme, mas como a obediência não quer, deve prevalecer sobre tudo, devo estar sempre em  oposição com Jesus bendito, o que me aflige muito”.

(4) E Eles: “Quando há obediência, certamente não precisa aderir”.

(5) Depois disto, encontrando-me em mim mesma, assim que vi o amadíssimo Jesus quis saber de  que parte eram aquele sacerdote e aquela virgem, e Ele me disse que eram do Peru. + + + +

3-7

Novembro 12, 1899

Luisa evita alguns castigos 

(1) Esta manhã, o amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, e via como se eu  devesse mover-se do céu uma coisa e tocar a terra. Fiquei tão espantada que gritei e disse: “Ah,  Senhor, que fazes? Quanta ruína haverá se isto acontecer. Me diz que me ama muito e quer me

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assustar, viu, não? não faça, não, não, não pode fazer, porque eu não quero”. E Jesus,  compadecendo-me, disse-me:

(2) “Minha filha, não tenhas medo. Além disso, quando queres que eu faça algo? Não devo Deixar te ver nada quando castigo as pessoas, senão amarras-me por todo o lado. E bem, fortificarei teu  coração com força, e farei surgir dele como um tronco para poder manter firme o que tu vês, e

depois derramarei em ti tantas graças, de modo de poder me nutrir Eu e meus filhos”. (3) Enquanto estava nisto saiu de dentro de meu coração como um tronco, e no topo como dois  ramos em forma de forquilha, que elevando-se no ar tomava pela metade o que estava por mover se, e assim ficava detida; só num ponto longínquo parecia que tocava a terra. Depois me encontrei  em mim mesma e lhe implorei que se aplacara, e parecia que rendia-se, tanto que me participou as  dores da cruz, e desapareceu.

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3-8

Novembro,13 1889 

Jesus sofre ao ver sofrer as criaturas. Luisa se oferece para consolá-lo.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus parecia inquieto, não fazia outra coisa que ir e vir, agora se  entretia comigo, agora quase atraído por seu ardente amor pelas criaturas ia ver o que faziam, e  tudo se lamentava pelo que sofriam, como se Ele mesmo e não elas estivesse sofrendo. Muitas  vezes vi o confessor, que com seu poder sacerdotal obrigava Jesus a fazer-me sofrer suas penas  para poder aplacá-lo, e Ele, enquanto parecia que não queria ser aplacado, depois mostrava-se  contente e agradecia de coração a quem se ocupava em sustentar seu braço indignado, e agora  me participava um sofrimento e agora outro. Oh, como era terno e comovedor vê-lo neste estado!  Fazia destroçar o coração de compaixão. Muitas vezes me disse:

(2) “Conforme-se a minha Justiça, que não posso mais. Ah! o homem é muito ingrato e quase me  obriga por toda parte a castigá-lo, arranca-me ele mesmo das minhas mãos os castigos. Se você  soubesse quanto sofro ao fazer uso de minha justiça, mas é o próprio homem que me faz violência!  Ah! se não tivesse feito outra coisa que comprar a preço de sangue sua liberdade, mesmo assim  deveria ser agradecido Comigo; mas o homem, para me fazer maior agravo vai inventando novas  maneiras para fazer inútil meu desembolso”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente, e eu para consolá-lo eu disse: “Doce Bem meu,  não te aflijas, vejo que a tua aflição é maior porque te sentes obrigado a punir as pessoas. Ah não,  não seja jamais! Se Tu és tudo para mim, eu quero ser toda para Ti, assim que sobre mim manda  os flagelos, aqui está a vítima sempre disposta e à tua disposição, podes fazer-me sofrer o que

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quiseres e assim ficará tua justiça de algum modo aplacada, e Tu aliviado da aflição que sentes ao  ver as criaturas sofrerem. Foi sempre esta a minha intenção ao não me conformar à justiça, porque  sofrendo o homem sofrerás mais Tu do que Ele mesmo”.

(4) Enquanto isso eu estava dizendo que a nossa Rainha Mãe veio, e eu me lembrei que, tendo  pedido ao confessor a obediência de me conformar com a justiça, ele tinha me dito para perguntar  à Virgem Santíssima se eu queria me uniformizar. Eu disse-lhe e ela disse-me: “Não, não, reza  antes minha filha, e nestes dias trata por quanto mais possas ter a Jesus junto contigo e aplacá-lo,  porque muitos castigos estão preparados”.

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3-9 

Novembro 17, 1899

O poder sacerdotal deve coincidir com a vítima.

(1) Continua meu amável Jesus fazendo-se ver afligido. Esta manhã junto com Ele veio a nossa  Rainha Mãe, e me parecia que Ela me trazia a fim de que o aplacasse e lhe rogasse junto com Ela  que me fizesse sofrer a mim para livrar as pessoas, e me disse que se nestes dias passados não  me tivesse interposta, e o confessor não tivesse feito uso do poder sacerdotal para concorrer com  as suas intenções de me fazer sofrer, muitas catástrofes teriam acontecido. Enquanto eu estava  nisto, vi o confessor, e eu imediatamente implorei por ele a Jesus e à Rainha Mãe, e Jesus disse  todas as benignidades:

(2) “À medida que eu levar em conta os meus interesses, com o pedir-me e também com empenho em renovar a intenção de te fazer sofrer, a fim de livrar as nações, assim tomarei cuidado dele e o  livrarei. Eu estaria disposto a fazer este pacto com ele”.

(3) Depois disto fiz por olhar para o meu doce e único Bem, e vi que em suas mãos tinha dois  raios, em um continha como preparado um forte terremoto e uma guerra; no outro muitos tipos de  mortes imprevistas e doenças contagiosas. Eu comecei a rogar-lhe que jogasse sobre mim aqueles  raios, e quase os queria tirar de suas mãos, mas Ele para não me deixar chegar a isto, começou a  afastar-se de mim, eu procurava segui-lo e por isso encontrei-me fora de mim mesma; Jesus  desapareceu e eu fiquei sozinha.

(4) Agora, encontrando-me sozinha virei um pouco e cheguei a um lugar onde nesta estação fazem  a ceifa, parecia que ali havia ruídos de guerra e eu queria ir para ajudar a essas pobres gentes,  mas os demônios impediam-me de ir aonde estavam por acontecer tais coisas, e me batiam para  que não pudesse ajudar, nem tampouco impedir seus artifícios, e usaram tanta força que me  fizeram retroceder.

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Novembro 19, 1899

Males da soberba.  

(1) Continua a vir meu adorável Jesus, e como minha mente, antes de que viesse estava pensando  em certas coisas que me havia dito em anos passados, e que não recordo bem, Ele, como para me  lembrar disse:

(2) “Minha filha, a soberba roe a graça. Nos corações dos soberbos não há outra coisa que um  vazio todo cheio de fumaça, que produz a cegueira. A soberba não faz mais que fazer de si mesmo  um ídolo, assim que a alma soberba não tem o seu Deus consigo; com o pecado procurou destruí lo em seu coração, e levantando um altar nele, se põe em cima e se adora a si mesmo”.  (3) Oh! Deus, que monstro abominável é este vício, a mim me parece que se a alma está atenta a  não deixá-lo entrar nela, estará livre de todos os outros vícios, mas se por sua desventura se deixa  dominar por ele, como é mãe monstruosa e má, lhe parirá todos seus filhos díscolos, os quais são  os outros pecados. Ah Senhor, mantenha-a longe de mim!

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3-11

Novembro 21, 1899

Jesus quer deleitar-se olhando-se em Luisa,

e ela é auxiliada pela Santíssima Virgem

(1) Esta manhã meu caríssimo Jesus, mal veio me disse:

(2) “Minha filha, todo o teu deleite deve ser contemplar-te em Mim, e se isto o fazes sempre, Tomarás em ti todas as minhas qualidades, a minha fisionomia, as minhas próprias linhas, e Eu  encontrarei em correspondência todo o meu gosto e sumo contente em deleitar-me olhando-me em  ti”.

(3) Dito isto desapareceu, e eu estava ruminando em minha mente essas palavras, quando de  improviso voltou, colocou sua santa mão na minha cabeça e voltando minha cara para Ele  acrescentou:

(4) “Hoje quero me deleitar um pouco olhando para mim em você”.

(5) Um estremecimento me correu por todo o corpo, um espanto de me sentir morrer porque via  que me olhava fixo, fixo, querendo deleitar-se em meus pensamentos, olhares, palavras e em todo  o resto, com o contemplar-se em mim. ¡¡¡ Oh Deus! Sou causa de deleite ou de amargura? Ia  repetindo em meu interior. Enquanto estava nisto veio nossa amada Mãe Rainha em minha ajuda,  trazendo uma vestidura branca entre as mãos, e toda amabilidade me disse:

(6) “Filha, não temas, quero suprir Eu mesma por ti vestindo-te com minha inocência, para que  assim meu Filho ao contemplar-se em ti possa encontrar o maior deleite que se possa encontrar  em uma criatura humana”.

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(7) Então vestiu-me com essa vestidura e apresentou-me ao meu amado Bem Jesus dizendo-lhe:  (8) “Amado Filho, aceita-a por consideração a Mim e aceita-te nela”.

(9) Assim me tirou todo temor e Jesus se deleitou em mim e eu Nele.

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3-12

Novembro 24, 1899

Luisa quer receber as amarguras de Jesus.

(1) Esta manhã o meu doce Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma. Agora, como  tenho visto tudo cheio de amargura, pedi-lhe e voltei a pedir-lhe que a derramasse em mim, mas,  porque lhe roguei, não consegui obter que vertesse em mim suas amarguras, e conforme me  aproximava de sua boca para recebê-las saía um hálito amargo. Enquanto fazia isto via um  sacerdote que morria, mas não sabia bem quem era, e como tinha a intenção de rezar por um  sacerdote doente, não o reconhecendo me confundi se era ele ou algum outro. Então eu disse a

Jesus: “Senhor, o que fazes? Não vês quanta falta de sacerdotes há em Corato, e queres tirar-nos  outros?” Jesus não me dando atenção e ameaçando com a mão dizia:

(2) “Eu os destruirei demais”.

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3-13 

Novembro 26, 1899 

Complacência da Santíssima Trindade diante do sofrimento de Luísa. 

(1) Encontrando-me no meio de grandes sofrimentos, meu amável Jesus veio e me pôs o braço por  detrás do pescoço, em ato de me segurar. Agora, estando perto d’Ele comecei a fazer minhas  habituais adorações a todos os seus santos membros, começando por sua sacratíssima cabeça.  No momento em que fazia isto, disse-me:

(2) “Amada minha, tenho sede, tira-me a sede com o teu amor, que não resisto mais”.  (3) E tomando aspecto de menino pôs-se em meus braços e pôs-se a mamar, parecia que sentia  um gosto grandíssimo e ficava tudo confortado e acalmava sua sede. Depois disto, querendo  brincar comigo, com uma lança que tinha na mão me trespassava o coração de lado a lado. Eu  sentia uma dor terrível, mas oh! como estava contente de sofrer, especialmente porque eram as  mesmas mãos de meu só e único Bem as que me davam o sofrer, e o incitava a me rasgar  principalmente, tanto era o gosto e a doçura que eu sentia. E Jesus bendito, para me satisfazer  mais, arrancou-me o coração, tomando-o entre as suas mãos, e com essa mesma lança abriu-o  pela metade e encontrou uma cruz resplandecente e macia, tomou-a entre as suas mãos  agradando-se grandemente e disse-me:

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(4) “Esta cruz foi produzida pelo amor e a pureza com que sofres, estou tão contente no modo com  que tu sofres, que não só eu, mas eu chamo o Pai e o Espírito Santo para agradar Comigo”.  (5) Num instante olhei e vi Três Pessoas que me circundando se deleitavam em olhar esta cruz,  mas eu, lamentando-me com Eles disse:

(6) “Grande Deus, muito pouco é meu sofrer, não estou contente só com a cruz, senão que quero  também os espinhos e os cravos, e se eu não o mereço, porque sou indigna e pecadora, Vós,  certamente podeis dar-me as disposições para merecê-lo”.

(7) E Jesus, enviando-me um raio de luz intelectual, fez-me perceber que queria que eu  confessasse as minhas culpas. Senti-me aterrorizada ante as Três Divinas Pessoas, mas a  Humanidade de Nosso Senhor me inspirava confiança, assim que dirigindo-me a Ele disse o “eu  pecador”, e depois comecei a fazer a confissão de minhas culpas. Agora, enquanto me encontrava  toda imersa em minha miséria, uma voz saiu do meio deles que dizia:

(8) “Te perdoamos, e você, não peque mais”.

(9) Eu esperava receber a absolvição de Nosso Senhor, mas nesse momento desapareceu. (10)  Pouco depois voltou crucificado e me participou as dores da cruz.

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3-14

Novembro 27, 1899

A graça faz feliz a alma. 

(1) Esta manhã meu amado Jesus não vinha, mas depois de muito esperar, enquanto o Vi me  lamentei com Ele por sua demora, dizendo-lhe: “Senhor bendito, como é que demoras tanto , talvez  te tenhas esquecido que não posso estar sem Ti? Ou por acaso perdi a tua graça e por isso não  vens?” E Ele interrompeu os meus lamentos e disse-me:

(2) “Minha filha, sabes o que faz a minha graça? Minha graça faz feliz a alma dos bem-aventurados  compromissados, e torna feliz a alma dos viadores, com esta única diferença, que os  compromissados se alegrando e deleitando-se, e os viadores trabalhando e colocando-a em  comércio. Assim, quem possui a graça, tem em si mesma o paraíso, porque a graça não é outra  coisa que possuir-me a Mim mesmo, e sendo Eu só o objeto encantador que encanta a todo o  paraíso e que formo todos os contentos dos bem-aventurados, a alma, possuindo a alma,  possuindo a graça, onde quer que se encontre possui o seu paraíso”.

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3-15

Novembro 28, 1899

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Luisa aceita sofrer no purgatório para libertar algumas almas.

(1) Meu amado Jesus veio toda afabilidade, parecia-me como um íntimo amigo que tem tantas  formalidades para outro amigo para lhe demonstrar seu amor, e as primeiras palavras que me  disse foram:

(2) “Amada minha, se tu soubesses quanto te amo. Sinto-me extremamente atraído a amar-te, as  minhas próprias demoras em vir forçam-me e são novas causas de me fazer vir e encher-te de  novas graças e carismas celestes. Se você pudesse entender o quanto te amo; seu amor  comparado com o meu apenas o perceberia.

(3) E eu: “Meu doce Jesus, é verdade o que dizes, mas também eu sinto que te amo muito, e se Tu  dizes que meu amor comparado com o teu apenas se percebe, isto é porque teu poder é sem  limites e o meu é limitado, e por tanto, posso fazer por quanto de Ti mesmo me vem dado; assim é  verdade, que quando tenho vontade de sofrer mais para demonstrar-te principalmente meu amor,  se Tu não me concedes as penas, não está em meu poder sofrer, e estou obrigada a resignar-me  mesmo nisto, e ser esse ser inútil que por mim fui sempre. Mas em Ti está em teu poder o mesmo  sofrer, e em qualquer maneira que queiras manifestar-me teu amor, podes fazê-lo. Amado meu, dá

me o poder e te farei ver quanto sei fazer por amor teu, porque na medida em que me dás, nessa  mesma medida te darei”.

(4) Ele ouvia com grande prazer o meu falar disparatado, e quase querendo pôr-me à prova me  transportou para fora de mim mesma, perto de um lugar profundo, cheio de fogo líquido e  tenebroso, dava horror e espanto só de vê-lo. Jesus me disse:

(5) “Aqui está o purgatório, e muitas almas estão concentradas neste fogo. Tu irás a esse lugar a  sofrer para libertar aquelas almas que me agradam, e isto o farás por amor meu”.  (6) Eu imediatamente, embora eu tremia um pouco, eu disse: “Tudo por amor de você, eu estou  pronto, mas você deve vir Você junto comigo, de outra forma, se você me deixar, não deixá-lo  encontrar mais, e então você me faz chorar muito”.

(7) E Ele: “Se vou junto contigo, qual seria o teu purgatório? Essas penas com a minha presença,  para ti se trocariam em alegrias e em contentos”.

(8) E eu: “Sozinha não quero ir, e além disso, enquanto estivermos nesse fogo Tu estarás atrás de  minhas costas, assim não te vejo e aceitarei este sofrimento”.

(9) Assim fui àquele lugar cheio de trevas, e ele me seguia por trás, e eu, por temor de que me  deixasse, lhe tomei as mãos, tendo-as estreitadas aos meus ombros. Tendo chegado abaixo, quem  pode dizer as penas que sofriam aquelas almas? Certamente são inenarráveis a pessoas vestidas  de humana carne. Então, ao ir eu a esse fogo, este se apagava e se apagavam as trevas, e muitas  almas saíam, outras ficavam aliviadas. Depois de ter estado perto de um quarto de hora, saímos, e  Jesus se lamentava, e eu rapidamente lhe disse: “Diz-me meu Bem, por que te lamentas? Minha

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querida vida, talvez tenha sido eu a causa porque não quis ir sozinha a esse lugar de penas? Diga me, diga-me, sofreu muito ao ver essas almas sofrerem? O que você sente?”  (10) E Jesus: “Minha querida, sinto-me todo cheio de amarguras, tanto, que não as posso conter  mais, estou prestes a derramá-las sobre a terra”.

(11) E eu: “Não, não meu doce amor, derramarás em mim, não é verdade?” E aproximando-me de  sua boca derramou um licor amargo, em tanta abundância que eu não podia contê-lo, e lhe pedia a  Ele mesmo que me desse a força para o sustentar, de outra maneira, o que não havia deixado  fazer a Nosso Senhor teria feito eu, derramá-lo sobre a terra, e fazer isto me incomodava muito;  porém parece que me deu força, se bem que fossem tantos os sofrimentos que me sentia  desfalecer, mas Jesus me tomando entre seus braços me sustentava e me dizia:

(12) “Contigo há que ceder por força, te volta tão molesta que me sinto quase com a necessidade  de te contentar”.

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Novembro 30, 1899

Membros doentes e membros sãos no corpo místico de Jesus 

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, e desta vez o via no momento quando estava atado à  coluna; Ele, desatendo se lançava em meus braços para ser compadecido por mim. Eu o estreitava  e começava a arrumar-lhe os cabelos, todos com coágulos de sangue, a secar-lhe os olhos e o  rosto, e ao mesmo tempo o beijava e fazia diversos atos de reparação. Quando cheguei às mãos e  lhe tirei a corrente, com suma maravilha vi que a cabeça era de Nosso Senhor, mas os membros  eram de tantas outras pessoas, especialmente religiosas. ¡ Oh! quantos membros infectados que  davam mais trevas do que luz; no lado esquerdo estavam os que davam mais sofrimento a Jesus,  se viam membros doentes, cheios de chagas com vermes e profundas, outros que apenas ficavam  unidos por um nervo àquele corpo, oh, como se doía e vacilava aquela cabeça divina sobre  aqueles membros. Ao lado direito se viam aqueles que eram melhores, isto é, membros sãos,  resplandecentes, cobertos de flores e de orvalho celestial, perfumados com fragrâncias, e entre  estes membros se descobria algum que desprendia um perfume apagado.

(2) Esta cabeça divina sobre estes membros sofria muito; é verdade que havia membros  resplandecentes, que quase se assemelhavam à luz daquela cabeça, que a recriavam e lhe davam  grandíssima glória, mas eram em número maior os membros infectados. Jesus, abrindo sua  dulcíssima boca me disse:

(3) “Minha filha, quantas dores me dão estes membros! Este corpo que você vê é o corpo místico  de minha Igreja, do qual me glorio de ser sua cabeça, mas que cruel rasgo fazem estes membros  neste corpo! Eles parecem estar se esgueirando entre eles para ver quem pode me causar mais

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tormento”.

(4) Ele disse outras coisas que eu não me lembro bem sobre este corpo, por isso ponho ponto.  ++++

3-17

Dezembro 2, 1899

Eloquente elogio da cruz. 

(1) Encontrando-me muito aflita por certas coisas que não é lícito dizer aqui, o amável Jesus,  querendo aliviar-me na minha aflição veio com um aspecto todo novo, me parecia vestido de cor  celeste, todo adornado de sinos pequenos de ouro, que ao baterem umas nas outras ressoavam  com um som jamais ouvido. Ante o aspecto de Jesus e o harmonioso som me senti encantar e  aliviar em minha aflição, que como fumaça se afastava de mim. Eu teria permanecido ali, em  silêncio, tanto me sentia encantar as potências de minha alma, se o bendito Jesus não tivesse  rompido meu silêncio ao me dizer:

(2) “Minha querida filha, todos estes sinos são tantas vozes que te falam do meu amor e que te  chamam a amar-me. Agora, deixe-me ver quantos sinos você tem, que me falem de seu amor e  que me chamem a te amar”.

(3) E eu, toda cheia de vergonha, disse-lhe: “Ah Senhor! Que dizes? Eu não tenho nada, não tenho  outra coisa senão defeitos”.

(4) Então Jesus compadecendo-se da minha miséria, continuou a dizer-me:  (5) “Tu não tens nada, é verdade, pois bem, quero adornar-te Eu com os meus sinos, a fim de que  possas ter tantas vozes para me chamar e para me demonstrar o teu amor”. (6) Assim parecia que  como uma faixa adornada destes sininhos me apertava a cintura. Depois disto, fiquei em silêncio e  Ele acrescentou:

(7) “Hoje quero entreter-me contigo, diz-me alguma coisa”.

(8) E eu: “Você sabe que todo meu contentamento é estar junto Contigo, e tendo-te a Ti tenho tudo,  por isso possuindo-te a Ti, parece-me que não tenho outra coisa que desejar, nem que dizer”. (9) E Jesus: “Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu  te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz”.

(10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz  intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: “Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz?  , só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está  bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a  Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta  do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em  cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de

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inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de  moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz  sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o  conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da  Sabedoria increada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz  me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita  escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não  só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me  conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio  da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho  sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz  desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas  garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos;  de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá,  dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de  ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa  dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me  perdida em Ti e vivo de tua mesma vida”.

(11) Depois de dizer isto, (não sei se são desatinos) meu amável Jesus ao me ouvir, tudo se  comprazia e levado por um entusiasmo de amor, toda me beijava e me disse:  (12) “Bravo, bravo a minha amada filha, disse bem. Meu amor é fogo, mas não como fogo terreno  que onde quer que penetre tudo o torna estéril e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só  esteriliza o que não é virtude, mas a tudo o mais dá vida e faz germinar as belas flores, faz produzir  os mais requintados frutos e converte a alma no mais delicioso jardim celestial.  (13) A Cruz é tão poderosa e comuniquei-lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios  sacramentos, e isto porque ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as  disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem  faltar, mas a cruz tem a virtude de dispor a alma à graça”.

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Dezembro 21, 1899

Luisa fala da virgindade e da pureza 

(1) Depois de um longo silêncio, esta manhã o meu amável Jesus, interrompendo-o, disse-me:  (2) “Eu sou o receptáculo das almas puras”.

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(3) E nestas suas palavras tive uma luz intelectual que me fazia compreender muitas coisas sobre  a pureza, mas pouco ou nada sei pôr em palavras do que ouço no intelecto. Mas a honorável  senhora obediência quer que escreva alguma coisa, mesmo desatinando, e para agradá-la direi  meus desatinos sobre a pureza.

(4) Parecia-me que a pureza era a gema mais nobre que a alma poderia possuir. A alma que  possui a pureza está investida de cândida luz, de modo que Deus bendito, olhando-a encontra sua  mesma Imagem, sente-se atraído a amá-la, tanto que chega a apaixonar-se dela, e é tomado por  tanto amor que lhe dá por cidade seu puríssimo coração, Porque só o que é puro e puro entra em  Deus, nada entra manchado naquele seio puríssimo. A alma que possui a pureza conserva em si  seu primeiro esplendor que Deus lhe deu ao criá-la, nada há nela desfigurado, sem nobreza, senão  que como rainha que aspira às núpcias do Rei celestial, conserva sua nobreza até que esta nobre  flor seja transplantada nos jardins celestiais ¡Oh, como esta flor virginal é perfumada com aroma  especial! Eleva-se sempre sobre todas as outras flores, e mesmo sobre os mesmos anjos. ¡ Como  se destaca com variadas belezas! Assim, todos são tomados por estima e amor, e livremente todos  lhe dão o passo até fazê-la chegar ao Esposo Divino, de modo que o primeiro posto em torno de  Nosso Senhor é destas nobres flores. Então Nosso Senhor se deleita grandemente em passear no  meio destes lírios que perfumam a terra e o céu, e muito mais se alegra em estar circundado por  estes lírios, porque sendo Ele o primeiro nobre lírio e o modelo, é o exemplar de todos os demais.  Oh, como é bonito ver uma alma virgem! Seu coração não emite outro alento que de pureza e de  candura, nem sequer tem a sombra de outro amor que não seja Deus, também seu corpo exala  cheiro de pureza; tudo é puro nela: Pura nos passos, pura no agir, no falar, no olhar, também no  mover-se, assim que ao só vê-la se sente a fragrância e se descobre uma alma virgem de verdade.  ¡ Que carismas, que obrigado, que recíproco amor, que estratagemas amorosas entre esta alma e  o Esposo Jesus! Só quem as sente pode dizer alguma coisa, porque nem sequer se pode narrar  tudo, e eu não me sinto em dever de falar sobre isto, por isso faço silêncio e passo adiante.

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3-19 

Dezembro 22, 1899

Como Deus nos atrai a amá-lo em três modos, 

e como em três modos se manifesta à alma. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Depois de muito esperar e continuar esperando,  apenas, quase como um raio que foge se deixou ver várias vezes, mas me parecia mais uma luz  que a Jesus, e nesta luz uma voz que dizia a primeira vez que veio:

(2) “Eu te atraio a me amar em três modos: à força de benefícios, à força de atrações e à força de  persuasões”.

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(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendia nestas três palavras? Parecia-me que Jesus  bendito, para atrair-se meu amor e também o das outras criaturas, faz chover benefícios em nosso  favor, e vendo que esta chuva de benefícios não chega ao ponto de ganhar nosso amor, chega a  fazer-se atrativo. E qual é essa atração? São as suas dores sofridas por nosso amor, até morrer  jorrando sangue sobre uma cruz, onde se tornou tão atraente que apaixonou por Si os seus  próprios carrascos e seus mais ferozes inimigos. Além disso, para nos atrair principalmente e tornar  mais forte e estável o nosso amor, deixou-nos a luz dos seus santíssimos exemplos, unidos à sua  celeste doutrina, e que como luz nos purificam as trevas desta vida e nos conduzem à eterna  salvação.

(4) A segunda vez que veio me disse:

(5) “Eu me manifesto à alma em três modos diferentes: Com a potência com a notícia e com o  amor. A potência é o Pai, a notícia é o Verbo, o amor é o Espírito Santo”.

(6) Oh, quantas outras coisas compreendia! Mas muito escassa é o que sei manifestar. Parecia me que com o poder se manifesta Deus à alma em tudo o criado, desde o primeiro ao último ser é  manifestada a onipotência de Deus. O céu, as estrelas e todos os outros seres nos falam, embora  em linguagem muda, de um Ente Supremo, de um Ser Incriado, de sua onipotência, porque o  homem mais instruído, com toda sua ciência não pode chegar a criar o mais vil mosquito, e isto nos  diz que deve haver um Ser Incriado potentíssimo que criou tudo e dá vida e subsistência a todos os  seres. ¡ Oh, como todo o universo a claras notas e com caracteres indeléveis nos fala de Deus e de  sua onipotência! Então quem não vê é cego voluntário.

(7) Com a notícia, parecia-me que Jesus abençoado descendo do Céu veio pessoalmente à terra  para nos dar a notícia do que para nós é invisível, e em quantos modos Ele não se manifestou?  Acredito que cada um, por si mesmo, compreenderá todo o resto, por isso não me alongo mais.  + + + +

3-20

Dezembro 25, 1899

Jesus quer de Luisa contínua atitude de sacrifício.

(1) Depois de ter passado alguns dias quase de privação total de meu sumo e único Bem,  acompanhados por uma dureza de coração, sem poder nem sequer chorar minha grande perda,  ainda que oferecia a Deus também aquela dureza dizendo-lhe: “Senhor, aceita-a como sacrifício,  só Tu podes amaciar este coração tão duro”. Finalmente, depois de um longo pesar, veio minha  amada Mamãe Rainha trazendo em seu colo o celestial Menino envolto em uma fralda, todo  trêmulo; me deu entre meus braços dizendo:

(2) “Minha filha, aquece-o com teus afetos, porque meu Filho nasceu em extrema pobreza, em total  abandono dos homens e em suma mortificação”.

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(3) Oh, como era agradável com sua celestial beleza! Eu tomei entre meus braços, abracei-o e  apertei-o para o aquecer, porque estava quase entorpecido pelo frio, não tendo outra coisa que o  cobrisse que uma só fralda. Depois de o ter aquecido por quanto pude, meu terno Menino,  entreabrindo os seus lábios purpúreos, disse-me:

(4) “Prometes-me tu ser sempre vítima por amor meu, como Eu o sou por amor teu?”  (5) E eu: “Sim, querido, eu prometo”.

(6) E Ele: “Não estou contente só com as palavras, quero um juramento e também uma assinatura  com o teu sangue”.

(7) E eu: “Se quer a obediência o farei”.

(8) Ele parecia todo contente, e acrescentou:

(9) “Meu coração desde que nasci o tive sempre oferecido em sacrifício para glorificar ao Pai para  a conversão dos pecadores e pelas pessoas que me rodeavam e que mais me foram fiéis  companheiros em minhas penas. Assim quero que seu coração esteja em contínua atitude,  oferecido em espírito de sacrifício por estes três fins”.

(10) Enquanto dizia isto, a Rainha Mãe queria o Menino para alimentá-lo com seu leite dulcíssimo.  Eu o devolvi e Ela puxou seu peito para colocá-lo na boca do Divino Menino, e eu astuta, querendo  fazer uma piada, coloquei minha boca para chupar, tirei poucas gotas, e no momento de fazer isto  desapareceram, deixando-me contente e descontente.

(11) Seja tudo para glória de Deus e para confusão desta miserável pecadora.

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3-21

Dezembro 27,1889

A caridade deve ser como um manto que deve cobrir as ações 

(1) Jesus continua a fazer-se parecer como sombra e como raio. Enquanto me encontrava num  mar de amargura pela sua ausência, num instante fez-se ver-me dizendo:

(2) “A caridade deve ser como um manto que deve cobrir todas as tuas ações, de modo que tudo  deve resplandecer de perfeita caridade. O que significa esse desgosto quando não sofres? Que a  tua caridade não é perfeita, porque o sofrer por amor meu e o não sofrer por meu amor, sem a tua  vontade, tudo é o mesmo”.

(3) E desapareceu deixando-me mais amarga do que antes, querendo tocar uma nota muito  delicada para mim, e que Ele mesmo me infundiu. Então depois de ter derramado amargas  lágrimas em meu estado miserável, e pela ausência de meu adorável Jesus, Ele voltou e me disse: 4) Com as almas justas me porto com justiça, antes as recompenso duplamente por sua justiça,

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favorecendo-as com as graças maiores e falando-lhes com palavras justas e de santidade”.  (5) No entanto, eu estava tão confusa e má, que não me atrevia a dizer uma só palavra, aliás,  continuava a derramar lágrimas sobre a minha miséria. E Jesus, querendo dar-me confiança  colocou sua mão sob a minha cabeça para levantá-la, porque eu não a sustentava, e acrescentou:  (6) “Não temas, Eu sou o escudo dos atribulados”.

(7) E desapareceu.

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3-22

Dezembro 30, 1899

Efeitos da humilhação e da mortificação. 

(1) Esta manhã assim que vi o meu adorável Jesus, e como a obediência me tinha dito que rezasse  por uma pessoa, por isso assim que Jesus veio, confiei-lhe, e Ele disse-me:  (2) “A humilhação não só deve ser aceita, mas também amá-la, tanto como para mastigá-la como  um alimento, e como quando um alimento é amargo, quanto mais se mastiga tanto mais se sente a  amargura, assim a humilhação bem mastigada faz nascer a mortificação, e estes são dois meios  potentíssimos, isto é, a humilhação e a mortificação, para superar certos obstáculos e obter as  graças que são necessárias. E enquanto parecem daninhos à natureza humana, como o alimento  amargo parece querer causar mais mal que bem, assim a humilhação e a mortificação, mas não.  Quando o ferro é mais atingido sobre a bigorna, tanto mais lança faíscas de fogo e fica puro, assim  a alma, quanto mais é humilhada e golpeada sob a bigorna da mortificação, tanto mais lança  faíscas de fogo celestial, e fica purgada se verdadeiramente quer caminhar a via do bem; mas se é  falsa acontece todo o contrário”.

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3-23

Janeiro 1, 1900

Efeito do conhecimento de si mesmo. 

(1) Achando-me muito aflita pela privação do meu sumo e único Bem, depois de muito esperar e  esperar, finalmente o vi sair chorando de dentro do meu coração, fazendo-me sinal com os olhos  que lhe doía a ferida feita na circuncisão, e por isso chorava, e que esperava de mim que lhe  secasse o sangue que corria da ferida e adoçasse a dor do corte. Eu era toda compaixão e  confusão ao mesmo tempo, tanto que não me atrevia a fazê-lo, mas atraída pelo amor, não sei  como encontrei um trapo na mão e tratei por quanto pude limpar o sangue ao menino Jesus.  Enquanto fazia isto, sentia-me toda cheia de pecado, e pensava que eu era a causa dessa dor de  Jesus Oh, como me dava pena, me sentia absorvida naquela amargura e o bendito menino  compadecendo meu miserável estado me disse:

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(2) “Quanto mais a alma se humilha e se conhece a si mesma, tanto mais se aproxima da verdade,  e encontrando-se na verdade procura dirigir-se ao caminho das virtudes, do qual se vê muito  longínqua, e se vê que se encontra neste caminho, logo descobre o muito que lhe resta a fazer,  porque as virtudes não têm termo, são infinitas como eu sou. Então, a alma, encontrando-se na  verdade, procura sempre aperfeiçoar-se, mas jamais chegará a ver-se perfeita, e isto lhe serve e  fará com que a alma esteja continuamente trabalhando, esforçando-se para mais aperfeiçoar-se,  sem perder o tempo em ociosidades; E eu, me comprazendo com este trabalho, pouco a pouco  vou retocando-a para pintar nela minha semelhança. Eis por que quis ser circuncidado, para dar  um exemplo de grandíssima humildade, que fez desconcertar os próprios anjos do Céu”.

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3-24

Janeiro 3, 1900

A paz.

(1) Continuo a ver-me toda cheia de misérias, e não só isso, mas também inquieta. Parece-me que  todo o meu interior foi posto em armas pela perda de Jesus. Estava pensando entre mim, que  meus grandes pecados tinham me merecido que meu adorável Jesus me tivesse deixado, e por  isso não o veria mais. Oh, que morte cruel é este pensamento para mim! É mais, pensamento mais  impiedoso que qualquer morte. Não ver mais Jesus! Não ouvir mais a suavidade de sua voz!  Perder Aquele do qual depende minha vida e do qual me vem tudo bem! Como poder viver sem  Ele? Ah, se eu perder Jesus para mim tudo acabou! Com estes pensamentos sentia uma agonia  de morte, todo o meu interior transtornado porque amava a Jesus, e Ele, num lampejo de luz,  manifestou-se à minha alma dizendo-me:

(2) “Paz, paz, não queiras perturbar-te. Assim como uma flor odorosa perfuma o lugar onde se põe,  assim a paz enche de Deus a alma que a possui”.

(3) E como relâmpago se foi. Oh Senhor, quão bom és com esta pecadora, e em confiança te digo  também: Como és impertinente, pois nada menos devo perder-te a ti, e nem sequer queres que me  perturbe ou me inquiete, e se o faço, fazes-me entender que eu mesma afasto-me de Ti, porque  com a paz me encho de Deus e com a minha inquietação me encho de tentações diabólicas. ¡ Oh  meu doce Jesus, quanta paciência se necessita contigo, porque qualquer coisa que me aconteça,  nem sequer posso me inquietar, nem me perturbar, senão que queres que esteja em perfeita  calma e paz.

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3-25

Janeiro 5, 1900

Efeitos do pecado e da confissão. 

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(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me a sair de mim mesma e encontrei o meu  adorável Jesus, mas como me via cheia de pecados diante da sua presença! Em meu íntimo sentia  um forte desejo de me confessar com Nosso Senhor, por isso me dirigindo a Ele comecei a dizer  minhas culpas, e Jesus me escutava. Quando terminei de falar, dirigindo-se a mim com um rosto  cheio de tristeza me disse:

(2) “Minha filha, o pecado, se é grave, é um abraço venenoso e mortífero à alma, e não só a ela, mas também a todas as virtudes que se encontram na alma; se é venial, é um abraço que fere, que  torna a alma muito débil e enferma, e junto com ela adoecem as virtudes que tinha adquirido. Que  arma mortal é o pecado! Só o pecado pode ferir e matar a alma! Nada mais pode danificá-la, nada  mais a torna ignominiosa, odiosa diante de Mim, senão só o pecado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu compreendia a feiura do pecado e sentia tal pena, que nem sequer sei  explicá-la. E Jesus, vendo-me toda compenetrada, levantou a sua mão direita abençoada e  pronunciou as palavras da absolvição. Depois acrescentou:

(4) “Assim como o pecado fere e dá morte à alma, assim o sacramento da confissão dá a vida e a  cura das feridas, e restitui o vigor às virtudes, e isto mais ou menos, segundo as disposições da  alma, assim opera a virtude do sacramento”.

(5) Pareceu-me que minha alma recebia nova vida, depois que Jesus me deu a absolvição não  sentia mais aquele incômodo de antes. Seja sempre glorificado o Senhor e sempre lhe sejam  dadas as graças.

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3-26

Janeiro 6, 1900

A confiança: Escada para subir à Divindade. 

(1) Esta manhã recebi a comunhão e encontrei Jesus, estava também a Mãe Rainha, e oh!  maravilha, via a Mãe e via o coração dela transformado em Jesus Menino, olhava para o Filho e via  no coração do Menino a Mãe. Enquanto estava nisto, lembrei-me que hoje é a Epifania, e eu, a  exemplo dos Santos Magos, devia oferecer alguma coisa ao Menino Jesus, mas via que não tinha  nada para lhe dar. Então, vendo minha miséria, veio-me o pensamento de oferecer-lhe por mirra  meu corpo com todos os sofrimentos dos doze anos que estive em cama disposta a sofrer e a estar  todo o tempo que Ele quisesse (2); por ouro a pena que sinto quando me priva de sua presença,  que é a coisa mais penosa e dolorosa para mim; por incenso minhas pobres orações unidas às da  Rainha Mãe, a fim de que fossem mais aceitáveis ao Menino Jesus. Então fiz a oferta com toda a  confiança de que o Menino aceitaria tudo. Parecia que Jesus com muito gosto aceitava minhas  pobres ofertas, mas o que mais lhe agradava era a confiança com a qual os tinha oferecido. Então

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me disse:

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(2) sea que se puso en este estado en el año 1888, a la edad de 23 años.

(2) “A confiança tem dois braços, com um se abraça à minha humanidade e se serve dela como  escada para subir à minha Divindade, com o outro se abraça à Divindade e a torrentes toma as  graças celestiais, assim que a alma fica toda inundada pelo Ser Divino. Quando a alma confia, está  segura de obter o que pede, Eu me faço atar os braços, a faço fazer o que quer, a faço penetrar  até dentro de meu coração e por si mesma lhe faço tomar o que me pediu. Se não fizesse isto,  sentir-me-ia num estado de violência”.

(3) Enquanto isto dizia, do peito do Menino e do da Mãe saíam tantos rios de licor (mas não sei  dizer propriamente como se chamava aquilo que digo licor), que me inundavam a alma. E a Rainha  Mãe desapareceu.

(4) Depois disto, juntamente com o Menino, saímos para fora, na abóbada dos céus, o seu  gracioso rosto o via triste e disse entre mim: “Talvez queira leite e por isso está triste”. Então eu  disse: “Quer mamar em mim, porque a Rainha Mamãe não está?” Mas antes de fazer isto, senti  medo de que fosse demônio, então para me assegurar o persegui várias vezes com a cruz e lhe  disse: “És Tu realmente Jesus Nazareno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de  Maria Virgem Mãe de Deus?” O Menino assegurava que sim. Então assegurada, o pus a mamar de  mim. O Menino parecia que se reanimava tomando um aspecto alegre, e eu via que sugava parte  dos rios dos quais Ele mesmo me tinha inundado. E, enquanto isso fazia, sentia-me puxar o  coração, porque parecia que dele vinha aquele leite que Jesus chupava de mim. Quem pode dizer  o que se passava entre o Menino Jesus e eu? Não tenho língua para o poder manifestar, não tenho  palavras para poder descrever-lo.

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3-27

Janeiro 8, 1900

Mesmo os erros serão úteis. 

(1) Estava a pensar entre mim: “Quem sabe quantas loucuras, quantos erros contêm estas coisas  que escrevo”. Entretanto senti que perdia os sentidos, e veio o bendito Jesus e me disse: (2) “Minha filha, até os erros servirão, e isto para fazer saber que não há nenhum artifício por parte  tua, nem que tu sejas algum doutor, porque se isto fosse, tu mesma terias advertido onde te  equivocavas, e isto também fará resplandecer de mais que sou Eu quem te falo, se vêem as coisas  com simplicidade; porém te asseguro que não encontrarão nem a sombra do vício, nem coisa que  não fale de virtude, porque enquanto você escreve, Eu mesmo estou te guiando a mão; no máximo

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poderão encontrar algum erro à primeira vista, mas se o observam bem, aí encontrarão a verdade”.  (3) Dito isto desapareceu, mas depois de algumas horas voltou e eu me sentia toda titubeante e  pensativa acerca das palavras que me tinha dito, e Ele acrescentou:

(4) “Meu patrimônio é a firmeza e a estabilidade, não estou sujeito a nenhuma mudança, e a alma, quanto mais se aproxima de Mim e se adentra no caminho das virtudes, tanto mais se sente firme e  estável no agir o bem, e quanto mais distante está de Mim, tanto mais estará sujeita a mudar-se e  a inclinar-se agora ao bem e agora ao mal”.

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3-28

Janeiro 12, 1900

Diferença entre o conhecimento de si mesmo e a humildade.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu amável Jesus veio em um estado que dava  compaixão. Tinha as mãos atadas fortemente e o rosto coberto de salivares, e algumas pessoas  esbofeteavam-no horrivelmente, e Ele permanecia quieto, plácido, sem fazer nem um movimento  nem emitir um lamento, nem sequer um movimento de cílios, para demonstrar que Ele queria sofrer  estes ultrajes, e isto não só externamente, mas também internamente. ¡ Que espetáculo tão  comovente, de fazer despedaçar os corações mais duros! ¡ Quantas coisas dizia aquele rosto com  as cusparadas, manchado de lama! Eu me sentia horrorizada tremia, me via toda soberba diante  de Jesus. Enquanto eu estava neste aspecto, Ele me disse:

(2) “Minha filha, só os pequenos se deixam conduzir como se quer, não aqueles que são pequenos  de razão humana, mas aqueles que são pequenos mas cheios de razão divina. Só Eu posso dizer  que eu sou humilde, porque no homem o que se diz humildade, mas deve-se dizer conhecimento  de si mesmo, e quem não se conhece a si mesmo caminha já na falsidade”.

(3) Durante alguns minutos Jesus fez silêncio e eu o contemplava. Enquanto fazia isso, vi uma mão  que trazia uma luz, que, escavando em meu interior, nos mais íntimos esconderijos, queria ver se  havia em mim o conhecimento de mim mesma e o amor às humilhações, às confusões e aos  opróbrios; aquela luz encontrava um vazio em meu interior, e eu também via que devia ser  preenchido com humilhações e confusões a exemplo do bendito Jesus. Oh, quantas coisas me  fazia compreender aquela luz e aquele rosto santo que estava diante de mim! Dizia entre mim: “Um  Deus, humilhado por amor meu, confuso, e eu, pecadora, sem estas divisas. Um Deus estável,  firme em suportar tantas injúrias, tanto que não se move nem um pouquinho para se livrar dessas  cusparadas fétidas, – ah! Parece-me ver seu interior ante a Divindade, e o exterior ante os homens  – no entanto, se quiser pode fazê-lo, porque não são as correntes que o atam, senão sua estável

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Vontade, que a qualquer custo quer salvar o gênero humano. E eu? E eu? Onde estão minhas  humilhações, onde a firmeza, a constância em fazer o bem por amor de meu Jesus e por amor de  meu próximo? Ai, que diferentes vítimas somos eu e Jesus, porque de fato não nos parecemos em  nada!” Enquanto meu pequeno cérebro se perdia nisto, meu adorável Jesus me disse:

(4) “Minha humanidade esteve cheia somente de opróbios e humilhações, tanto, de derramar fora,  eis por que diante de minhas virtudes treme o Céu e a terra, e as almas que me amam se servem  de minha Humanidade como escada para subir a provar algumas gotinhas de minhas virtudes. Diz me, perante a minha humildade, onde está a tua? Só Eu posso gloriar-me de possuir a verdadeira  humildade, minha Divindade unida a minha Humanidade podia operar prodígios em cada passo,  palavra e obra, em troca voluntariamente me restringia no cerco de minha Humanidade e me

mostrava como o mais pobre, e começava a confundir-me com os mesmos pecadores.  (5) A obra da Redenção em tão pouco tempo podia fazê-la, mesmo com uma só palavra, mas quis  durante tantos anos, com tantos trabalhos e sofrimentos, fazer minhas as misérias do homem, Quis  exercer-me em tantas ações diversas para fazer com que o homem fosse todo renovado,  divinizado, mesmo nas mínimas obras, porque realizadas por Mim, que era Deus e Homem,  recebiam novo esplendor e ficavam com a marca de obras divinas. Minha Divindade escondida em  minha Humanidade, com descer a tanta baixeza, sujeitar-se ao curso das ações humanas  enquanto que com um só ato de Vontade poderia criar infinitos mundos, com sentir as misérias, as  debilidades de outros como se fossem suas, com ver-se coberta de todos os pecados dos homens  ante a divina justiça, e que devia pagar com o preço de penas inauditas e com o desembolso de  todo seu sangue, exercia contínuos atos de profunda e heróica humildade.

(6) Eis, ó minha filha, a grandíssima diferença da minha humildade com a humildade das criaturas,  que perante a minha, é apenas uma sombra; até a de todos os meus santos, porque a criatura é  sempre criatura e não sabe quanto pesa a culpa como eu a conheço, embora sejam almas  heróicas que ao meu exemplo se ofereceram a sofrer as penas de outros, mas estas não são  diferentes daquelas, das outras criaturas, não são coisas novas para elas, porque estão formadas  do mesmo barro. Além disso, só pensar que essas penas são causa de novas aquisições e que  glorificam a Deus, é uma grande honra para elas. Além disso, a criatura está restrita no cerco onde  Deus a colocou, e não pode sair desses limites com os quais Deus a cercou. Oh! se estivesse em  seu poder fazer e desfazer, quantas outras coisas fariam, cada um chegaria às estrelas. Mas  minha Humanidade divinizada não tinha limites, senão que voluntariamente se restringia em Si  mesma, e isto era um entrelaçar todas minhas obras de heroica humildade. Tinha sido esta a  causa de todos os males que inundam a terra, isto é, a falta de humildade, e Eu com o exercício  desta virtude devia atrair da justiça divina todos os bens. Ah, sim, que não partem de meu trono  resgates de graças senão por meio da humildade! Nenhum bilhete pode ser recebido por Mim, se

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não contém a assinatura da humildade, nenhuma oração escuta meus ouvidos e move a  compaixão meu coração, se não está perfumado com o aroma da humildade. Se a criatura não  chegar a destruir o germe de honra, de estima, e isto se destrói com chegar a amar o ser  desprezada, humilhada, confundida, sentirá um entrelaçamento de espinhos ao redor de seu  coração, perceberá um vazio em seu coração que lhe dará sempre incômodo e a tornará muito  diferente de minha Santíssima Humanidade, e se não chegar a amar as humilhações, no máximo  poderá conhecer-se um pouco a si mesma, mas não resplandecerá diante de Mim vestida pela  bela e agradável vestidura da humildade”.

(7) Quem pode dizer quantas coisas compreendia sobre esta virtude e a diferença entre conhecer se a si mesmo e a humildade? Parecia-me tocar com a mão a diferença destas duas virtudes, mas  não tenho palavras para me explicar. Para dizer alguma coisa me sirvo de uma idéia, por exemplo:  Um pobre diz que é pobre, e mesmo a pessoas que não o conhecem e que talvez possam crer que  possui alguma coisa, ele lhes manifesta com franqueza sua pobreza, pode-se dizer que se  conhece a si mesmo e diz a verdade, e por isso é mais amado, move aos demais a compaixão de  seu miserável estado e todos o ajudam, isto é o conhecer-se a si mesmo. Se depois, aquele pobre,  envergonhado de manifestar a sua pobreza, se vangloriasse de que é rico, enquanto todos sabem  que nem sequer tem vestidos para se cobrir e que morre de fome, o que aconteceria? Todos o  desprezam, ninguém o ajuda e chega a ser sujeito de zombaria e de ridículo a qualquer que o  conhece, e o miserável, indo de mal a pior, acaba por perecer. Tal é a soberba diante de Deus e  mesmo diante dos homens, e eis que quem não se conhece a si mesmo, já está fora da verdade e  se precipita pelo caminho da falsidade.

(8) Agora, a diferença com a humildade, embora me pareça que são duas irmãs nascidas no  mesmo parto e que jamais se pode ser humilde se não se conhece a si mesmo, é por exemplo um  rico, que despojando-se por amor das humilhações de suas nobres vestes, cobre-se com  miseráveis trapos, vive desconhecido, a ninguém manifesta quem é ele, confunde-se com os mais  pobres, vive com os pobres como se fosse igual a eles, faz dos desprezos e confusões as suas  delícias, e esta é a bela irmã do conhecimento de si mesmo, isto é a humildade. Ah! Sim, a  humildade chama à graça; a humildade rompe as cadeias mais fortes, como são o pecado; a  humildade supera qualquer muro de divisão entre a alma e Deus, e a Ele a devolve. A humildade é  a pequena planta, mas sempre verde e florida, não sujeita a ser roída pelos vermes, nem os  ventos, nem as granizadas, nem o calor poderão lhe fazer mal nem murchar minimamente. A  humildade, embora seja a mais pequena planta, sempre tira ramos altíssimos que penetram até o  céu e se entrelaçam ao redor do coração de Nosso Senhor, e só os ramos que saem desta  pequena planta têm livre a entrada nesse coração adorável. A humildade é a âncora da paz nas  tempestades das ondas do mar desta vida. A humildade é sal que tempera todas as virtudes, e

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preserva a alma da corrupção do pecado. A humildade é a erva que brota no caminho pisado pelos  caminhantes, que enquanto é pisada desaparece, mas logo se vê surgir de novo mais bela do que  antes. A humildade é como enxerto nobre que enobrece a planta silvestre. A humildade é o ocaso  da culpa. A humildade é a recém-nascida da graça. A humildade é como lua que nos guia nas  trevas da noite desta vida. A humildade é como aquele ganancioso negociante que sabe negociar  bem suas riquezas, e não esbanja nem sequer um centavo da graça que lhe vem dada. A  humildade é a chave da porta do Céu, assim ninguém pode entrar nele se não tiver bem guardada  esta chave. Finalmente, caso contrário eu nunca iria terminar e alongar-me muito, humildade é o  sorriso de Deus e de todo o Empírico, e o choro de todo o inferno.

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Janeiro 17, 1900

A maldade e astúcia do homem.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ia e vinha, mas sempre em silêncio. Depois senti-me sair de  mim mesma, e ouvia Jesus dizer-me por detrás:

(2) “O homem diz – porque já não há retidão – : “Até que as coisas estejam deste modo não  poderemos ter nenhum êxito em nossos planos, finjamos virtude, finjamos ser retos, mostremos  nos verdadeiros amigos externamente, porque assim será mais fácil tecer as nossas redes e atraí los ao engano, e quando sairmos para apanhá-los e fazer-lhes mal, cada um, acreditando-nos

amigos, tê-los-emos em nossas mãos”. Vai um pouco até onde chega a astúcia do homem”.  (3) Depois disto o bendito Jesus querendo um ato de reparação especial, parecia que me tirava a  vida oferecendo-me à divina justiça. No momento em que isso acontecia, eu acreditava que Jesus  me fazia terminar esta vida, então lhe disse: “Senhor, não quero ir para o Céu sem suas insígnias,  primeiro me proteja e depois me leve”.

(4) Assim me trespassou as mãos e os pés com os pregos, e enquanto isso fazia, com grande  amargura minha, Ele desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, e disse para mim: “Aqui  estou eu ainda. Ah! Quantas vezes me fez meu amado Jesus, tem uma arte especial para sabê-lo  fazer, porque me faz crer que devo morrer, e então eu rio-me do mundo, das penas, rio-me de Ti  mesmo porque terminou o tempo de estar separados, não haverá mais intervalos de separação.  Mas apenas começo a rir quando me encontro outra vez atada pelas correntes da prisão deste  frágil corpo, e esquecendo o ter começado a rir, continuo o pranto, os gemidos, os suspiros da  minha separação de Ti. Ah Senhor, faça-o logo, porque me sinto impelida fortemente a ir!”

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Janeiro 22, 1900

Correspondência à graça. 

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, meu pobre coração lutava entre o temor de  havê-lo perdido e a esperança de talvez poder vê-lo de novo. Oh! Deus, que guerra sangrenta teve  que sustentar este meu pobre coração; era tanta a pena que agora se congelava e agora era  espremido como sob uma imprensa e gotejava sangue. Enquanto estava neste estado, senti-me  próximo do meu doce Jesus, que tirando um véu que me impedia de vê-lo, finalmente pude fazê-lo.  Logo lhe disse: “Ah Senhor, já não me amas?”

(2) E Ele: “Sim, sim, o que te recomendo é a correspondência à minha graça, e para ser fiel deves  ser como aquele eco que ressoa dentro de um vazio, que não apenas começa a emitir-se a voz,  imediatamente, sem o mínimo atraso se ouve ressoar o eco. Assim você, não apenas comece a  receber minha graça, sem nem sequer esperar que a termine de dar, imediatamente começa o eco  de sua correspondência”.

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3-31

Janeiro 27, 1900

A ordem das virtudes na alma. 

(1) Continuo a ficar quase privada do meu doce Jesus, a minha vida desfalece pela dor, sinto um  tédio, um aborrecimento, um cansaço da vida. Ia dizendo em meu interior: “Oh, como se estendeu  meu exílio! Que felicidade seria a minha se pudesse desatar as ataduras deste corpo e assim  minha alma empreenderia livre o vôo para meu sumo Bem!” Então um pensamento me disse: “E se  você for ao inferno?” E eu, para não chamar o demónio a combater-me, logo o rejeitei dizendo:  “Pois bem, também do inferno enviarei os meus suspiros ao meu doce Jesus, também ali quero  amá-lo”. Enquanto eu estava nestes e outros pensamentos, que seria muito longa a história se eu  os dissesse todos, o amável Jesus por pouco tempo fez-se ver, mas com um aspecto sério, e  disse-me:

(2) “Ainda não chegou o teu tempo”.

(3) Depois, com uma luz intelectual me fazia compreender que na alma tudo deve estar arrumado.  A alma possui muitos pequenos apartamentos onde cada virtude toma seu lugar, e se bem se pode  dizer que uma só virtude contém em si todas as demais, e que a alma possuindo uma só, é cortejada por todas as outras virtudes; mas apesar disso todas são distintas entre elas, tanto, que  cada uma tem seu lugar na alma, e eis que todas as virtudes têm seu princípio no mistério da  Santíssima Trindade, que enquanto é Uma, são Três Pessoas distintas, e enquanto são Três são

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Uma. Compreendia também que estes apartamentos na alma, ou estão cheios de virtude ou do  vício oposto àquela virtude, e se não está nem a virtude nem o vício, ficam vazios. Parecia-me  como uma casa que contém muitos quartos, todos vazios, ou uma cheia de serpentes, outra de  lama, outra cheia de alguns móveis cobertos de pó, outra escura. Ah Senhor, só Você pode pôr em  ordem minha pobre alma!

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Janeiro 28, 1900

A mortificação. 

(1) Continua o mesmo. Esta manhã Jesus me transportou para fora de mim mesma, e depois de  tanto tempo parece que vi Jesus com clareza, mas me via tão má que não me atrevia a dizer uma  só palavra, nos olhávamos, mas em silêncio; Naqueles olhares mútuos, compreendia que o meu  bom Jesus estava cheio de amargura, mas não me atrevia a dizer-lhe que as derramasse em mim.  Então Ele mesmo se aproximou e começou a derramá-las, e eu não podia contê-las, conforme as  recebia, lançava-as por terra. Então ele me disse:

(2) “O que você faz? Você não quer mais participar de minhas amarguras? Você não quer me dar  mais alívio nas minhas dores?”

(3) E eu: “Senhor, não é a minha vontade, eu mesma não sei o que me aconteceu, sinto-me tão  cheia que não tenho onde as conter, só um prodígio teu pode alargar o meu interior e assim  poderei receber as tuas amarguras”.

(4) Então Jesus me marcou com um grande sinal de cruz e derramou de novo, assim parece que  pude contê-las, e depois acrescentou

(5) “Minha filha, a mortificação é como o fogo que faz secar todos os humores; assim a mortificação  seca todos os humores maus que há na alma e a inunda de um humor santificante, de modo que  faz germinar as mais belas virtudes”.

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3-33

Janeiro 31, 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois que Jesus veio várias vezes, mas sempre em silêncio, eu me sentia um vazio e uma  pena porque não ouvia a voz dulcíssima do meu doce Jesus e Ele, retornando, quase para me  contentar me disse:

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(2) “A graça é a vida da alma. Assim como ao corpo dá vida a alma, assim a graça dá vida à alma.  Mas ao corpo não basta ter vida só ter a alma, senão que necessita também de um alimento para  nutrir-se e crescer a devida estatura, assim a alma não basta ter a graça para ter vida, senão que  necessita um alimento para alimentá-la e conduzi-la a devida estatura, E qual é esse alimento? É a  correspondência. Assim que a graça e a correspondência formam essa cadeia que a conduz ao  Céu, e à medida que a alma corresponde à graça, são formados os elos desta cadeia”.

(3) Depois acrescentou: “Qual é o passaporte para entrar no reino da graça? É a humildade. A  alma, olhando sempre para o seu nada e descobrindo que não é senão pó, que vento, toda a sua  confiança a porá na graça, tanto que a fará dona, e a graça tomando o domínio sobre toda a alma,  a conduz pelo caminho de todas as virtudes e a faz chegar ao topo da perfeição”.

(4) O que será a alma sem graça? Parecia-me como o corpo sem a alma, que se torna pestilento e  se enche de vermes e podridão por toda parte, tanto que se faz objeto de horror à mesma vista  humana; assim a alma sem a graça, torna-se tão abominável que dá horror à vista, não dos  homens, mas daquele Deus três vezes Santo.

(5) Ah Senhor, livra-me de tanta desgraça e do monstro abominável do pecado!

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Fevereiro 4, 1900

Desconfiança.  

(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu  sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:

(2) “O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis  frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a  árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário,  como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim  acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento”.

(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via  tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada  pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d’Ele, suas graças, seus  carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:

(4) “O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda?  que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar,  nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que  para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as  virtudes em perigo de expirar”.

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(5) “Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo,  e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o  túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma  poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na  alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega  a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.

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Fevereiro 5, 1900

(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre,  meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera  aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma  deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela  desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o  conhecimento do próprio nada”.

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Fevereiro 12, 1900

Os defeitos voluntários formam nuvens.

(1) Encontrando-me num estado de abandono por parte de meu adorável Jesus, a meu pobre  coração sentia-o, pela dor, espremer como sob uma imprensa. ¡ Meu Deus, que pena! Enquanto  me encontrava neste estado, quase como sombra vi o meu amado Bem, mas não claramente, só vi  claramente uma mão que me parecia que levava uma lâmpada acesa, e molhava o dedo no óleo  da lâmpada e ungia-me a parte do coração, exacerbada pela dor da sua privação. Neste momento  ouvi uma voz que dizia:

(2) “A verdade é luz, que levou o Verbo à terra. Assim como o sol ilumina, vivifica e fecunda a terra,  assim a luz da verdade dá vida, luz, e torna fecundas de virtude as almas. Ainda que muitas  nuvens, que são as iniqüidades dos homens, ofuscam esta luz de verdade, mas apesar disso não  deixa, desde detrás das nuvens, de mandar flashes de luz vivificante, e assim aquecer as almas, e  se estas nuvens são nuvens de imperfeições e de defeitos involuntários, esta luz, rasgando-as com  o seu calor as dissipa e livremente se introduz na alma”.

(3) Então compreendia que a alma deve estar atenta a não cair na sombra do defeito voluntário,  porque estes são aquelas nuvens perigosas que impedem a entrada à luz divina.

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Fevereiro 13, 1900

A mortificação é como a cal. 

(1) Esta manhã depois de ter recebido a comunhão vi o meu adorável Jesus, mas tudo mudou de  aspecto. Parecia sério, tudo reservado, em ato de repreender-me. Que triste mudança! Meu pobre  coração, em vez de ser aliviado, sentia-me mais oprimido, mais trespassado diante do aspecto tão  insólito de Jesus. No entanto, sentia toda a necessidade de um alívio pelas dores sofridas nos  últimos dias por sua privação, em que me parecia que Vivia, mas agonizante e em contínua  violência. Mas Jesus bendito, querendo repreender-me porque ia buscando alívio devido a sua  presença, enquanto não devia procurar outra coisa que sofrer, disse-me:

(2) “Assim como a cal tem virtude de queimar os objetos que se metem nela, assim a mortificação  tem virtude de queimar todas as imperfeições e os defeitos que se encontram na alma, e chega a  tanto, que espiritualiza até o corpo, e como um cerco se põe ao redor, e aí sela todas as virtudes.  Até que a mortificação não te queime bem, tanto a alma como o corpo, até desfazê-lo, não poderei  selar perfeitamente em ti a marca da minha crucificação”.

(3) Depois disto, não sei bem quem era, mas me parecia que fosse um anjo, me trespassou as  mãos e os pés, e Jesus com uma lança que saía de seu coração, traspassou-me o meu com  extrema dor e desapareceu deixando-me mais aflita que antes. Oh!, como compreendia bem a  necessidade da mortificação, minha inseparável amiga, e que em mim não existia nem sequer a  sombra de amizade com ela! Ah! Senhor, ata-me Tu com indissolúvel amizade a esta boa amiga,  porque por mim não sei mostrar-me mais que toda rudeza, e ela não vendo-se acolhida por mim  com boa cara, usa comigo todas as considerações, vai me fugindo sempre, temendo que eu lhe  volte as costas completamente, e jamais cumpre comigo seu belo e majestoso trabalho, porque  estamos um pouco distantes, suas mãos prodigiosas não chegam até mim para poder trabalhar e  apresentar-me diante de Ti como obra digna de suas santíssimas mãos.

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Fevereiro 16, 1900

A mortificação deve ser o respiro da alma. 

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, depois de me ter renovado as penas da  crucificação, disse-me:

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(2) “A mortificação deve ser o respiro da alma. Assim como ao corpo é necessária a respiração, e  do ar bom ou mau que se respira assim fica infectado ou purificado, também pela respiração se  conhece se está são ou doente o interior do homem, se todas as partes vitais estão de acordo,  assim a alma: se respira o ar da mortificação, tudo estará nela purificado, todos seus sentidos  soarão com um mesmo som concordante, seu interior exalará um respiro balsâmico, saudável,  fortificante; mas se não respirar o ar da mortificação tudo será discordante na alma, exalará um  respiro malcheiroso e nauseante; enquanto está por domar uma paixão, outra se desenfreada. Em  suma, sua vida não será outra coisa que um jogo de crianças”.

(3) Parecia-me ver a mortificação como um instrumento musical, no qual, se todas as cordas estão  boas e fortes, produz um som harmonioso e agradável, mas se as cordas não são boas, agora há  que reparar uma, agora há que afinar outra, por isso todo o tempo o emprega em ajustá-lo, mas  jamais em tocá-lo, no máximo poderá emitir um som discordante e desagradável, por isso jamais  fará nada de bom.

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Fevereiro 19, 1900

Ameaça de castigos. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, via muita  gente, toda em movimento, me parecia, mas não estou segura, como uma guerra, ou bem uma  revolução, e a Nosso Senhor não faziam mais que tecer coroas de espinhos, tanto que enquanto  eu estava toda atenta a tirar-lhe uma, outra mais dolorosa lhe punham. Ah, sim, parece que nosso  século será célebre pela soberba! A maior desventura é perder a cabeça, porque tendo perdido a  cabeça com o cérebro, todos os outros membros tornam-se inábeis, ou tornam-se inimigos de si  mesmos e dos demais, por isso acontece que a pessoa abre um caminho a todos os outros vícios.  (2) Meu paciente Jesus tolerava todas essas coroas de espinhos, e eu mal tinha tempo de tirando as, então se virou para essa gente e lhes disse:

(3) “Morrereis, que na guerra, que nas prisões e que em terremotos, poucos permanecereis. A  soberba formou o curso das ações de vossa vida, e a soberba vos dará a morte” (4) Depois disto, o bendito Jesus tirou-me do meio daquela gente, e fazendo-se menino eu o levava  nos meus braços para o fazer repousar. Ele, pedindo-me um refrigério queria mamar de mim, eu,  temendo que fosse demônio o persegui várias vezes com a cruz, e depois lhe disse: “Se  verdadeiramente és Jesus, rezemos juntos a Ave Maria a nossa Rainha Mãe”. E Jesus recitou a  primeira parte, e eu o Santa Maria. Depois, Ele mesmo quis dizer o Pai Nosso, oh! como era  comovente sua oração, enternecia tanto, que o coração parecia que se derretia. Depois  acrescentou:

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(5) “Filha, minha vida a tive do coração, a diferença dos demais; eis uma razão por que sou todo  coração para as almas, e por que sou levado a querer o coração, e não tolero nele nem sequer  uma sombra do que não é meu. Então entre você e eu quero que tudo seja totalmente para Mim, e  o que você dará às criaturas não será outra coisa que o transbordamento de nosso amor”.

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Fevereiro 20, 1900

Jesus é a luz do Céu, da qual todos tomam as suas pequenas luzes. 

(1) Continua a vir o meu benigno Jesus. Depois de ter recebido a Comunhão me renovou as penas  da crucificação, e eu fiquei tão entorpecida que sentia necessidade de um alívio, mas não me  atrevia a pedi-lo. Depois de um pouco voltou como menino e me beijava toda, e de seus lábios  corria leite, e eu bebi a grandes goles esse leite dulcíssimo de seus puríssimos lábios. Agora,  enquanto fazia isso, me disse:

(2) “Eu sou a flor do Éden celestial, e é tanto o perfume que expando, que diante de mim fragrância  fica atraído todo o empíreo, e como Eu sou a luz que manda luz a todos, tanto, de tê-los  abismados, todos meus santos tomam de Mim suas pequenas luzes, assim que não há luz no Céu  que não tenha sido tomada desta Luz”.

(3) Ah sim! não há nem mesmo cheiro de virtude sem Jesus, e não há luz, embora fosse ao mais  alto dos Céus, sem Ele.

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Fevereiro 21, 1900

O dom da pureza é graça conseguida, e esta é obtida com a mortificação. (1) Esta manhã meu amável Jesus começou a fazer suas habituais demoras. Seja sempre bendito;  de verdade que se necessita uma paciência de santo para suportá-lo, e há que tratar com Jesus  para saber quanta paciência se necessita. Quem não o experimenta não pode acreditar, e é quase  impossível não ter algum pequeno desgosto com Ele. Então, depois de ter usado a paciência ao  esperá-lo e esperá-lo, finalmente veio e me disse:

(2) “Minha filha, o dom da pureza não é dom natural, senão que é graça conseguida, e esta se  obtém com tornar-se atrativa, e a alma se faz tal com a mortificação e os sofrimentos. ¡ Oh, como  se torna atrativa a alma mortificada e sofredora como ela é bonita, e eu sinto tal atração por ela que  enlouqueço por esta alma e tudo o que ela quer dou-lhe. Você, quando estiver privada de Mim,

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sofre minha privação, que é a pena mais dolorosa para você, por meu amor, e Eu sentirei mais  atração que antes e te concederei novos dons”.

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Fevereiro 23, 1900

O sinal mais certo para saber se um estado é a Vontade de Deus. 

(1) Esta manhã depois de ter perdido quase a esperança de que o bendito Jesus viesse, de  improviso veio e me renovou as penas da crucificação e me disse:

(2) “O tempo chegou, o fim se aproxima, mas a hora é incerta”.

(3) E eu, sem prestar atenção ao significado das palavras que dizia, fiquei em dúvida se devia  atribuí-lo à minha completa crucificação ou bem aos castigos, e disse-lhe: “Senhor, quanto temo  que o meu estado não seja Vontade de Deus”. (

4) E Ele: “O sinal mais certo para saber se é Minha vontade um estado, é que se sente a força para  sustentar esse estado”.

(5) E eu: “Se fosse tua Vontade não sucederia esta mudança, que não vens como antes”.  (6) E Ele: “Quando uma pessoa se torna familiar numa família, não se usam tanto essas  cerimônias, essas considerações que se usavam antes quando era estranha. Assim faço Eu. No  entanto, isto não é sinal que seja vontade dessa família não querer tê-la com eles, nem que não a  amem mais que antes. Por isso fica quieta, deixa-me fazer a Mim, não queiras atormentar-te o  cérebro nem perturbar a paz do coração; quando chegar o tempo oportuno conhecerás o meu  agir”.

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Fevereiro 24, 1900

Luisa resiste à obediência.

(1) Esta manhã estava cheia de medo, acreditava que tudo era fantasia, ou seja, demônio que  queria me iludir. Então tudo o que via o desprezava e me desagradava: Via o confessor que punha  a intenção de que Jesus me renovasse as dores da crucificação, e eu tentava resistir. O bendito  Jesus no princípio me tolerava, mas como o confessor renovava a intenção, então Jesus me disse:  (2) “Minha filha, parece que desta vez faltaremos à obediência. Não sabes tu que a obediência  deve selar a alma, e que a obediência deve fazer a alma como suave cera, de modo que o  confessor possa dar-lhe a forma que queira?”

(3) Assim, não levando em conta minhas resistências me participou as dores da crucifixão, e eu,  não podendo resistir mais a tudo isso, porque não queria pelo temor de que não fosse Jesus, tive  que sucumbir sob o peso das dores. Seja sempre bendito e tudo seja para glorificá-lo em tudo e

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sempre.

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Fevereiro 26, 1900

A Divina Vontade é felicidade de todos.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, quando no máximo vinha alguma vez como  sombra e fugia, eu sentia tal pena que me desfazia em lágrimas, e o bendito Jesus tendo  compaixão de minha dor, veio e me via e me via, e depois me disse:

(2) “Minha filha, não temas, que não te deixo; agora, quando estiveres sem minha presença, não  quero que te desanimes, antes, de hoje em diante quando estiveres privada de Mim, quero que  tomes minha Vontade e que nela te deleites, Amando-me e glorificando-me nela e tendo a minha  vontade como se fosse a minha própria Pessoa. Fazendo isso, você me terá em suas próprias  mãos. Que coisa forma a bem-aventurança do Paraíso? Certamente minha Divindade. Agora, o  que formará a bem-aventurança de meus amados na terra? Com certeza minha Vontade. Ela não  te poderá fugir jamais, tê-la-á sempre em tua posse, e se tu permaneceres no círculo da minha  Vontade, ali sentirás as alegrias mais inefáveis e os prazeres mais puros. A alma, não saindo  jamais do círculo da minha Vontade, torna-se nobre, diviniza-se e todas as suas obras repercutem  no centro do Sol divino, assim como os raios do sol repercutem na superfície da terra, e nem um só  sai do centro que é Deus. A alma que faz minha vontade é a única nobre rainha que se nutre de  meu alento, porque seu alimento e sua bebida não as toma mais que de minha Vontade, e  nutrindo-se de minha Vontade toda santa, em suas veias correrá um sangue puríssimo, seu hálito  exalará um perfume que me recriará, porque será produzido pelo meu próprio hálito. Por isso não  quero outra coisa de ti, senão que formes tua bem-aventurança no giro da minha Vontade, sem sair  jamais, nem sequer por um breve instante”.

(3) Enquanto dizia isto, em meu íntimo sentia uma inquietude e um temor, porque o falar de Jesus  indicava que não ia vir, e que eu devia aquietar-me em sua Vontade. Oh! Deus, que pena mortal!  Que aperto de coração! Mas Jesus sempre benigno adicionou:

(4) “Como posso deixá-la se você é vítima? Só deixarei de vir quando você deixar de ser vítima,  mas enquanto for vítima me sentirei sempre atraído a vir”.

(5) Assim parece que fiquei 37ranquila; mas me sinto como circundada pela adorável Vontade de  Deus, de modo que não encontro nenhuma abertura pela qual sair. Espero que me queira sempre  neste cerco que me une toda a Deus.

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3-45

Fevereiro 27, 1900

A Divina Vontade ata Jesus à alma. O grande mal da murmuração. 

(1) Havendo-me abandonado toda na amável Vontade de Nosso Senhor, eu me via toda  circundada pelo meu doce Jesus, por fora e por dentro. Com o ter-me abandonada Nele me via  como se meu ser se tivesse tornado transparente e a qualquer parte que virava via a meu sumo  Bem, mas o que me fazia maravilhar era que enquanto me via rodeada por dentro e por fora por  Jesus, assim eu, meu pobre ser, minha vontade, circundava a Jesus como dentro de um círculo, de  modo que Ele não encontrava a abertura para poder sair, porque minha vontade unida à sua o  tinha acorrentado, sem que me pudesse fugir. Oh, admirável segredo da Vontade de meu Senhor,  indescritível é sua felicidade! Agora, enquanto eu estava neste estado, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, na alma toda transformada no meu querer Eu encontro um doce repouso. A alma  se converte para Mim como aqueles objetos suaves que não dão nenhum incômodo a quem quer  repousar neles, é mais, ainda que fossem pessoas cansadas e doloridas, é tanta a suavidade e o  prazer que tomam ao repousar sobre estes objetos, que ao acordarem se encontram fortes e  saudáveis. Assim é para mim a alma conformada a meu Querer, e Eu em recompensa me faço atar  por sua vontade e nela faço resplandecer o Sol Divino como no pleno meio-dia”.

(3) Disse isto desapareceu. Pouco depois, tendo recebido a comunhão voltou e me transportou  para fora de mim mesma. Via muita gente e Jesus me dizia:

(4) “Diga-lhes, diga-lhes quão grande é o mal que fazem com murmurar um do outro, porque  atraem minha indignação, e isto com justiça, porque vejo que enquanto estão sujeitos às mesmas  misérias e fraquezas, não fazem outra coisa que erigir tribunais um contra o outro. Se assim fazem  entre eles, que farei eu, que sou santo e puro, com eles? De acordo com a caridade que exercitem

se uns com os outros, assim Eu me sinto atraído a usar misericórdia com eles”.  (5) Jesus me dizia isso, e eu o repetia a essa gente, e depois nos retiramos.  + + + + +

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Março 2, 1900

A união dos querer ata a alma a Jesus.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, o meu doce Jesus fazia-se ver crucificado, e  internamente sentia-me atraída a olhar para Ele, para poder assemelhar-me a Ele, e Jesus se  refletia em mim para atrair-me à sua semelhança. Enquanto isso eu fazia, sentia-me infundir em  mim as dores do meu Senhor crucificado, que com toda a bondade me disse:

(2) “Quero que o teu alimento seja o sofrer, não só por sofrer, mas como fruto da minha Vontade. O

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beijo mais sincero que ata mais forte nossa amizade, é a união de nossos querer, e o nó  indissolúvel que nos estreitará em contínuos abraços será o contínuo sofrer”.  (3) Enquanto dizia isto, o bendito Jesus despregou se da cruz, a tomou e a estendeu no interior  de meu corpo, e eu ficava tão estendida nela que me sentia deslocar os ossos, além disso, uma  mão que não sei dizer com certeza de quem era, me traspassava as mãos e os pés, e Jesus que  estava sentado sobre a cruz que estava estendida dentro de mim, tudo se comprazia em meu  sofrer e em quem me traspassava as mãos, e acrescentou:

(4) “Agora posso descansar tranquilamente, não tenho que tomar nem sequer o incômodo de  crucificar-te, porque a obediência quer fazer tudo, e Eu livremente te deixo nas mãos da  obediência.

(5) E, levantando-se da cruz, pôs-se sobre o meu coração para repousar. Quem pode dizer como é  que eu sofri estando nessa posição? Depois de ter estado muito tempo, Jesus não se apressava  em aliviar-me como das outras vezes para me fazer voltar ao meu estado natural, e à mão que me  tinha posto sobre a cruz não a via mais, isto dizia-o a Jesus, que me respondia:

(6) “Quem te pôs sobre a cruz? Talvez tenha sido Eu? Foi a obediência, e a obediência deve tirar te daí”.

(7) Parece que desta vez tive vontade de jogar, e como suma graça obtive que me libertasse o  bendito Jesus.

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3-47

Março 7, 1900

A alma conformada ao Divino Querer, chega a atar a Deus. 

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, tive que girar e girar para encontrar o  bendito Jesus. Felizmente, entrei numa igreja e encontrei-o sobre um altar onde se celebrava o  sacrifício divino. Subitamente corri e abracei-o dizendo-lhe: “Finalmente encontrei-te! Fizeste-me  girar tanto até me cansar, e Tu estavas aqui”. E Ele me olhando sério, não com sua habitual  benignidade me disse:

(2) “Esta manhã me sinto muito amargo e sinto toda a necessidade de pôr as mãos nos castigos  para desagravar me”.

(3) Eu, em seguida: “Meu amado, não é nada, remediaremos isto agora mesmo, derramarás em  mim tuas amarguras e assim ficarás desagravado, não é verdade?”

(4) E Ele condescendendo a meu pedido derramou em mim suas amarguras. Depois, estreitando me a Ele, como se tivesse se liberado de um grave peso, acrescentou:

(5) “A alma conformada a meu Querer se sabe infiltrar tanto em minha potência, que chega a me

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atar tudo e a seu gosto me desarma como quer. Ah! tu, tu, quantas vezes me amarras!”  (6) E enquanto isto dizia tomou seu habitual aspecto doce e benigno.

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Março 9, 1900

A graça é como o sol.

(1) Encontrando-me um pouco perturbada por uma coisa que não é necessário dizer aqui, minha  mente queria andar vagando para certificar-se sobre minha turbação e assim ficar em paz, mas o  bendito Jesus querendo contradizer meu querer, impedia-me que eu pudesse ver o que queria, e  como eu insistia em querer ver me disse:

(2) “Por que quer ir vagando? Não sabes tu que quem sai da minha Vontade sai da luz e se confina  nas trevas?”

(3) E querendo me distrair do que eu queria, me transportou para fora de mim mesma, e mudando  de assunto acrescentou:

(4) “Olhe um pouco como os homens são ingratos para mim. Assim como a luz do sol enche toda a  terra, de um ponto ao outro, de modo que não há terra que não goze o benefício de sua luz, nem  há pessoa que possa lamentar-se de estar privada de suas benéficas influências, tão é verdade,  que o sol, investindo a todo o universo, para poder dar luz a todos, toma-o como em sua mão, só  pode lamentar-se de não gozar de sua luz quem fugindo de sua mão vai esconder-se em lugares  tenebrosos; porém o sol continuando seu caritativo ofício não deixa de lhe enviar algum raio de luz  de entre os seus dedos; assim a minha graça é uma imagem do sol, que por toda a parte inunda as  nações, pobres e ricos, ignorantes e doutos, cristãos e infiéis, nenhum pode dizer que está privado  dela, Porque a luz da verdade e a influência da minha graça enchem a terra, e mais do que o sol  no seu meio-dia. Mas qual não é a minha pena ao ver as nações, que cruzando esta luz a olhos  fechados e enfrentando a minha graça com a torrente pestífera de suas iniqüidades, desviam-se  desta luz e voluntariamente vivem em lugares tenebrosos, em meio de cruéis inimigos? Elas estão  expostas a mil perigos, porque não tendo luz, não podem conhecer claramente se se encontram no  meio de amigos ou de inimigos, nem fugir dos perigos que os cercam.

(5 Ah, se o sol tivesse razão, e os homens lhe pudessem fazer esta afronta à sua luz, e que alguns  chegassem a tal ingratidão, que para desprezar e não ver seu resplendor, arrancariam os olhos, e  assim ficam mais seguros de viver nas trevas, Ai, o sol em vez de mandar luz mandaria lamentos e  lágrimas de dor, até perturbar toda a natureza! Não obstante, o que os homens teriam horror de  fazer à luz natural, chegam a tal excesso de enfrentar desse modo a minha graça. Mas a minha  graça sempre benigna com eles, no meio das mesmas trevas e da loucura da sua cegueira, manda  sempre resplendores de luz, porque a minha graça jamais deixa a ninguém, senão que o homem

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voluntariamente se afasta dela, e a graça não o tendo em si, tenta segui-lo com o fulgor de sua  luz”.

6) Enquanto dizia isto, o doce Jesus estava extremamente aflito, e eu fazia quanto mais podia, para  consolá-lo, pedindo-lhe que derramasse em mim suas amarguras, e Ele acrescentou:  (7) “Compadece-me se te sou causa de aflição, porque de vez em quando sinto toda a  necessidade de desabafar em palavras, com minhas almas diletas, minha dor sobre a ingratidão  dos homens, para mover seus corações a reparar-me em tantos excessos, e a compaixão dos proprios homens”.

(8) E eu: “Senhor, o que eu gostaria é que não me impedisses de participar nas tuas penas”. E  querendo eu dizer mais, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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3-49

Março 10, 1900

Efeitos do sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, via o meu amado Jesus como Menino, com  uma lança na mão, em atitude de me querer trespassar o coração, e como tinha dito uma coisa ao  confessor, Jesus, querendo repreender-me, disse-me: “Tu queres afastar o sofrimento, e Eu quero  que comeces uma nova vida de sofrimentos e de obediência”.

(2) E enquanto isso dizia, trespassou-me o coração com a lança e depois acrescentou:  (3) “Assim como o fogo arde segundo a lenha que se lhe põe, e assim tem maior atividade em  queimar e consumir os objetos que se lançam nele, e por quanto maior é o fogo, outro tanto é  maior o calor e a luz que contém, assim o sofrimento e a obediência, quanto maior, tanto mais a  alma se torna hábil para destruir o que é material, e a obediência, como a macia cera lhe dá a  forma que quer”.

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3-50

Março 11, 1900

Encontro com uma alma do purgatório.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã via o bom Jesus mais aflito do que de costume,  ameaçando com uma mortandade de gente, e via em certos lugares que muitos morriam. Depois  passei pelo purgatório e reconhecendo a uma amiga falecida perguntava-lhe várias coisas sobre  meu estado, especialmente se é Vontade de Deus este estado, se é verdade que é Jesus que vem,  ou bem o demônio, porque lhe dizia: “Como tu te encontras diante da Verdade e conheces com  clareza as coisas, sem que possas enganar-te podes dizer-me a verdade sobre as minhas  circunstâncias”.

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(2) E ela disse-me: “Não temas, o teu estado é a vontade de Deus e Jesus ama-te muito, por isso  manifesta-se a ti”.

(3) E eu, dizendo-lhe algumas das minhas dúvidas, pedi-lhe que visse ante a luz da verdade se  eram verdadeiras ou falsas e fizesse-me a caridade de me vir dizer, e que se o fizesse, eu em  recompensa mandava-lhe celebrar uma missa em sufrágio, e ela acrescentou:  (4) “Se o quer o Senhor, porque nós estamos tão imersos em Deus, que não podemos sequer  mover as pestanas se não concorre Ele; nós habitamos em Deus como uma pessoa que habitasse  em outro corpo, que tanto pode pensar, falar, ver, agir, caminhar, porque lhe é dado por aquele  corpo que a circunda por fora, porque em nós não é como em vós que tendes o livre arbítrio, a  própria vontade terminou, nossa vontade é só a Vontade de Deus, dela vivemos, nela encontramos  todo nosso contentamento e Ela forma todo nosso bem e nossa glória”.

(5) E mostrando uma satisfação indescritível por esta Vontade de Deus, nos separamos.

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Março 14, 1900

Modo para atrair as almas ao catolicismo.

(1) Havendo-me dado o confessor a obediência de pedir ao Senhor que me manifestasse o modo  como fazer para atrair as almas ao catolicismo, e para tirar tanta incredulidade, eu sei pedi-o vários  dias e o Senhor não se dignava pronunciar-se sobre este ponto. Finalmente, esta manhã me  encontrei fora de mim mesma, transportada dentro de um jardim que me parecia ser o jardim da  Igreja, e ali estavam muitos sacerdotes e outras dignidades que discutiam sobre este tema, e  enquanto discutiam saía um cão de desmesurado tamanho e força, e a maioria dessas pessoas  ficavam tão assustados e debilitados, que chegavam a fazer-se morder por aquela besta, e depois  retiravam-se como covardes da empresa. Aquele cão enfurecido não tinha força para morder  aqueles que tinham como centro Jesus, no próprio coração, que portanto vinha a formar o centro  de todas suas ações, pensamentos e desejos. Ah sim! Jesus formava o selo destas pessoas, e  aquela besta ficava tão fraca que não tinha força nem sequer de respirar.

(2) Agora, enquanto discutiam, eu ouvia a Jesus que desde detrás de minhas costas dizia:  (3) “Todas as demais sociedades conhecem quem pertence a seu partido, só minha Igreja não  conhece quem são seus filhos. O primeiro passo é conhecer quem são aqueles que lhe pertencem,  e a estes podeis conhecê-los, estabelecendo um dia uma reunião na qual convidareis aqueles que  são católicos a irem ao lugar destinado para tal reunião, e aí com a ajuda dos católicos leigos,  estabelecer o que convém fazer. O segundo passo é obrigar à confissão aqueles católicos que  intervêm nisto, pois esta é a coisa principal que renova o homem e forma os verdadeiros católicos,

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e isto não só àqueles que se encontram presentes, mas obrigar aqueles que são patrões a obrigar  os seus súditos à confissão, e se não o conseguem pelas boas, mesmo despedindo-os do seu  serviço. Quando cada sacerdote tiver formado o corpo de seus católicos, então poderão  encaminhar-se a outros passos superiores, porque reconhecer a oportunidade do tempo, como  entrar nos partidos e a prudência em expor-se, é como a poda às árvores, que faz produzir frutos  grandes e maduros, mas se a árvore não é podada, produz, sim, um belo conjunto de folhagem e  de flores, mas apenas cai uma geada, sopra um vento, não tendo a árvore humor suficiente e força  para sustentar tantas flores para trocá-las em frutos, as flores caem e a árvore fica nua. Assim  acontece nas coisas de religião: Primeiro devem formar um conveniente corpo de católicos para  poder fazer frente aos outros partidos, e depois podem chegar a introduzir-se nos outros partidos  para formar um só”.

(4) Dito isto, não o ouvi mais, e sem sequer vê-lo me encontrei em mim mesma. Quem pode dizer  minha pena por não ter visto o bendito Jesus durante todo o dia, e as lágrimas que tive que  derramar?

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Março 15, 1900

Jesus sente-se desarmado pelas almas vitimas. 

(1) Jesus continua sem vir, eu me consumia em dor e sentia uma febre que me fazia delirar. Agora,  como o confessor veio celebrar o divino sacrifício, eu comunguei, mas não via, como é habitual, o  meu amado Jesus, por isso comecei a dizer os meus disparates: “Diz-me meu Bem, por que não te  fazes ver? Desta vez parece-me que não te dei ocasião para que te escondas. Como, da maneira  mais fácil? Ai, nem mesmo os amigos desta terra agem desta maneira; quando devem afastar-se  ao menos dizem adeus, e você nem sequer me diz adeus? Como, assim se faz? me perdoe se  assim falo, é a febre que me faz delirar e me faz chegar à loucura”. Quem pode dizer todas as  minhas loucuras que lhe disse? Seria querer perder tempo. Agora, enquanto estava delirando e  chorando, Jesus fazia ver agora uma mão, agora um braço, então vi o confessor que me dava a  obediência de sofrer a crucificação, e Jesus como obrigado pela obediência se fez ver e eu “Por  que não se mostra?” E Ele, mostrando um aspecto sério disse:

(2) “Não é nada, não é nada, é que quero castigar a terra, e Eu, estando bem mesmo com uma só  criatura, sinto-me desarmado e não tenho força para lançar mão dos castigos, e ao fazer-me ver  você começa a dizer-me, se vês que devo mandar castigos: “Derrama em mim, faz-me sofrer a  mim”. E sinto-me vencido por ti, e nunca ponho as mãos em castigos, e os homens não fazem  outra coisa senão ensoberbecer-se de demais”.

3) Agora, repetindo o confessor a obediência de me fazer sofrer a crucificação, Jesus mostrava-se

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lento em fazer-me fazer esta obediência, não como as outras vezes que em seguida queria que me  submetesse, e me disse:

(4) “E tu que queres fazer?”

(5) E eu: “Senhor, o que Tu quiseres”.

(6) Então, dirigindo-se ao confessor com aspecto sério, disse-lhe:

(7) “Também tu queres atar-me com dar-lhe esta obediência de fazê-la sofrer?”  (8) E enquanto isso dizia começou a me participar as dores da cruz, e depois, mostrando-se mais  calmo derramou suas amarguras, depois acrescentou:

(9) “O confessor, onde está?”

(10) E eu: “Senhor, não sei para onde foi, é verdade que não o vejo mais conosco”.  (11) E Ele: “Eu o amo, porque como Ele me consolou a Mim, assim Eu quero confortar a Ele”.  + + + +

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Março 17, 1900

Dor do Papa. Humildade.

(1) Esta manhã o bendito Jesus me fazia ver o Santo Padre com as asas abertas, que ia em busca  de seus filhos para recolhê-los sob suas asas, e ouvia seus lamentos que diziam: “Meus filhos,  meus filhos, quantas vezes busquei reunir-vos sob minhas asas e vocês me fogem! Ah, escutem  meus lamentos e tenham compaixão de minha dor!” E enquanto dizia isto chorava amargamente, e  parecia que não eram só os leigos que se afastavam do Papa, mas também os sacerdotes, e estes  davam mais dor ao Santo Padre. Que pena dava ver o Papa nesta posição! Depois disto vi Jesus  que fazia eco aos lamentos do Santo Padre e acrescentava:

(2) “Poucos são os que permaneceram fiéis, e estes poucos vivem como raposas escondidas em  suas próprias cavernas, têm medo de expor-se para arrancar seus próprios filhos da boca dos  lobos; falam, propõem, mas todas são palavras ditas ao vento, jamais chegam aos fatos”.  (3) Dito isto, ele desapareceu. Depois de pouco tempo voltou e eu me sentia toda aniquilada em  mim mesma ante a presença de Jesus, e Ele, vendo-me assim me disse:

(4) “Minha filha, quanto mais você se abaixa em si mesma, tanto mais me sinto atraído a me  abaixar para você e te encher de minha graça, eis por que a humildade é precursora da luz”.

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Março 20, 1900

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Advertência de castigos. 

(1) Tendo recebido a comunhão, via meu doce Jesus que me convidava a sair com Ele, mas com o  pacto de que ao ir junto com Ele, onde via que Jesus estava obrigado a mandar castigos pelos  pecados, não devia discutir com Ele para que não os mandasse. Com esta condição saímos,  percorrendo a terra. Em primeiro lugar comecei a ver, não muito longe de nós, especialmente em  certos pontos, tudo seco, então me dirigindo a Ele disse: “Senhor, como farão estas pobres gentes  se lhes falta o alimento para se nutrirem? Ah! Você pode tudo, assim como fez secar, assim faça  que reverdeça”. E como tinha a coroa de espinhos estendi-lhe a mão, dizendo: “Meu Bem, que te  fizeram estas nações? Talvez te tenham posto esta coroa de espinhos; pois bem, entregue-a a  mim, assim ficarás aplacado e lhes darás o alimento para não as deixar morrer”. E tirando-a,  coloquei-a sobre a minha cabeça. Enquanto fazia isso, Jesus me disse:

(2) “Parece que não posso levá-lo junto Comigo, porque levá-lo e não poder fazer nada é o  mesmo”.

(3) E eu: “Senhor, não fiz nada, perdoa-me se achas que fiz mal, mas leva-me juntamente contigo”.  (4) E Ele: “O teu modo de agir me ata por todas as partes”.

(5) E eu: “Não sou eu que faço assim, és tu mesmo que me obrigas a fazer assim, porque ao  encontrar-me contigo, vejo que todas as coisas são tuas, e se não tomar cuidado das tuas coisas,  parece-me que viria a não tomar cuidado de Ti mesmo. Por isso deves perdoar-me se faço assim,  já que o faço por amor teu e não deves afastar-me por isto.

(6) Em seguida, continuamos a girar. Eu fazia quanto mais podia para não lhe dizer nada de que  não castigasse em alguns pontos, para não lhe dar ocasião que me mandasse retirar e assim  perder sua amável presença; mas onde não podia começar a discutir com Ele. Chegamos a um  ponto da Itália onde estavam fazendo um convênio que devia causar uma grande desordem, mas  não entendi o que era, porque tendo começado a dizer, Senhor, não permita, pobre gente, como  farão? Vendo Jesus que eu me afanava e queria impedi-lo, disse-me com império:

(7) “Retira-te, retira-te”.

(8) E tirando uma cinta de pregos, de alfinetes que tinha encaixada em seu corpo, que o fazia  sofrer muito, acrescentou:

(9) “Retira-te e leva esta cinta contigo, assim me aliviarás muito”.

(10) E eu: “Sim, eu a porei em teu lugar, mas deixa-me estar Contigo”.

(11) E Ele: “Não, retira-te”.

(12) E o disse com tal império, que não podendo resistir, em um instante me encontrei em mim  mesma, e não pude entender qual era aquele convênio.

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Março 25, 1900

O Verbo de Deus na encarnação torna-se luz das almas.

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus ao vir me disse:

(2) “Assim como o sol é a luz do mundo, assim o Verbo de Deus ao encarnar se fez luz das almas,  e assim como o sol material dá luz a todos em geral e a cada um em particular, tanto que cada um  o pode gozar como se fosse próprio, assim o Verbo, enquanto dá luz em geral, é sol para cada um  particular, assim é verdadeiro, que a este sol divino cada um o pode ter consigo como se fosse  para ele somente”.

(3) Quem pode dizer o que entendia sobre esta luz e os efeitos benéficos que produz nas almas  que têm este Sol como se fosse seu? Parecia-me que a alma possuindo esta luz põe em fuga as  trevas, como o sol material ao surgir sobre nosso horizonte põe em fuga as trevas da noite. Esta  luz divina, se a alma é fria, aquece-a; se está nua de virtudes, torna-a fecunda; se está inundada  pela nociva enfermidade da tibieza, com seu calor absorve aquele humor mau; numa palavra, para  não me alongar demasiado, este sol divino, introduzindo a alma no centro de sua esfera, a cobre  com todos seus raios e chega a transformá-la em sua mesma luz.

(4) Depois disto, como eu me sentia toda abatida, Jesus querendo me aliviar me disse:  (5) “Esta manhã quero deleitar-me em ti”.

(6) E ele começou a fazer seus truques amorosos habituais.

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Abril 1, 1900

As paixões mudadas em virtudes. 

(1) Depois de esperar e esperar, meu doce Jesus fazia-se ver dentro de meu coração. Parecia-me  ver um sol que expandia raios, e olhando no centro deste sol descobria o rosto de Nosso Senhor,  mas o que me fez espantar é que via no meu coração muitas donzelas vestidas de branco, com  coroas na cabeça que rodeavam este sol divino, alimentando-se daqueles raios que expandem  este sol. Oh! como eram belas, modestas, humildes e todas atentas, e deleitando-se em Jesus!  Então, não conhecendo o significado disto, com um pouco de temor pedi a Jesus que me fizesse  saber quem eram aquelas donzelas, e Ele me disse:

(2) “Estas donzelas eram suas paixões, que agora com minha graça mudei em outras tantas  virtudes que me fazem nobre cortejo, estando todas à minha disposição, e Eu em recompensa as  vou nutrindo com minha contínua graça”.

(3) Ah Senhor, no entanto me sinto tão mal que me envergonho de mim mesma!  + + + +

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Abril 2, 1900

Jesus julga não segundo as obras que se fazem,  

mas segundo a vontade com que se obra. 

(1) Esta manhã sofri muito pela ausência de meu amado Jesus, mas Ele recompensou minhas  penas satisfazendo um desejo meu de querer saber uma coisa que há muito desejava. Então,  depois de ter girado e girado em busca de Jesus, e que agora o chamava com a oração, agora  com as lágrimas, agora com o canto, pois talvez pudesse ficar ferido por minha voz e se deixasse  encontrar, mas tudo em vão. Tenho repetido meus gemidos; a quem encontrava perguntava sobre  Ele, finalmente, quando meu coração se sentia despedaçado e que não podia mais, o encontrei,  mas o via de costas, e lembrando-me de uma resistência que lhe fiz, a que direi no livro do  confessor (3) pedi perdão e assim parece que nos pusemos de acordo, tanto que ele mesmo me  perguntou o que queria, e eu lhe disse: “Diga-me para conhecer sua Vontade sobre meu estado,  especialmente o que devo fazer quando me encontro com poucos sofrimentos e Você não vem, e  se você vem é quase como sombra; então, não te vendo, meus sentidos os sinto em mim mesma,  e encontrando-me nesta posição sinto como se pusesse do meu e não fosse necessário esperar a  vinda do confessor para sair daquele estado”.

(2) E Jesus: “Sofras ou não sofras, venha Eu ou não venha, teu estado é sempre de vítima, muito  mais que esta é minha Vontade e a tua, e Eu julgo não segundo as obras que se fazem, senão  segundo a vontade com que se obra”.

(3) E eu: “Senhor meu, está bem como dizes, mas me parece que estou inútil e se perde muito  tempo, e sinto um incômodo, um temor, e além disso fazer vir ao confessor, me atormenta a alma  que não fosse Tua vontade”.

(4) E Ele: “Pensas tu que seja pecado fazer vir ao confessor?”

(5) E eu: “Não, mas temo que não seja Tua Vontade”.

(6) E Ele: “Deves fugir do pecado, mesmo da sua sombra, mas do resto não deves preocupar-te”.  (7) E eu: “E se não fosse a tua vontade, em que aproveitaria estar assim?” (8) E Ele: “Ah, me  parece que minha filha quer fugir do estado de vítima, não é verdade?”

(9) E eu, ficando vermelho, disse: “Não Senhor, digo isto pelas vezes que não me fazes sofrer e  não vens, de resto faz-me sofrer e eu não me preocuparei”.

(10) E Jesus: “E a mim parece-me que queres fugir. Além disso, você sabe que horas eu reservei  para vir aqui e comunicar minhas dores, se a primeira, a segunda, a terceira, ou talvez a última  hora? Por isso distraindo-te de Mim e esforçando-te por sair ocupar-te-ás em outra coisa, e Eu  vindo não te encontrarei preparada, darei a volta e irei a outra parte”.

(11) E eu toda assustada “Jamais seja, ó Senhor. Não quero saber outra coisa senão a tua  Santíssima Vontade”.

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(12) E Ele: “Permanece calma e espera o confessor”.

(13) Dito isto, ele desapareceu. Parece que me sinto aliviada de um grande peso por este falar de  Jesus, mas com tudo isto não diminuiu em mim a pena dolorosa quando Jesus me priva Dele. 3 Não se tem notícia deste livro 

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Abril 9, 1900

Abandono em Deus. 

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não  via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver  e me disse quase repreendendo:

(2) “Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha  Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em  Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo”.  (3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você  toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!

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Abril 10, 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto  mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais,  fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: “Meu coração, esperemos outro pouco, talvez  venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha”. E, dirigindo-me a Ele,  dizia: “Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso  estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação  como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou  digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta  da vida”. E como não vinha, dizia: “Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando  estiveres cansado, nem sequer então virás?” Mas quem pode dizer todos os meus desatinos?  Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.

(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:  (3) “Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos  move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que

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enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela”.  (4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por  toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

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Abril 16, 1900

As três assinaturas do passaporte da bem-aventurança na terra.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de reprovações do bendito Jesus por  minhas ingratidões e resistências a seu Querer e a suas graças, esta manhã ao vir me disse:  (2) “Minha filha, o passaporte para entrar na felicidade que a alma pode possuir sobre esta terra,  deve ser assinado com três assinaturas, e estas são: resignação, humildade e obediência.  (3) A resignação perfeita a meu Querer é cera que funde nossos querer e deles forma um só, é  açúcar e mel, mas se há uma pequena resistência a meu Querer a cera se desune, o açúcar se  torna amargo e o mel se converte em veneno. Agora, não basta estar resignada, senão que a alma  deve estar convencida que o maior bem para si mesma e o maior modo de glorificar-me é fazer  sempre minha Vontade. Eis a necessidade da assinatura da humildade, porque a humildade  produz este conhecimento. Mas quem enobrece estas duas virtudes? Quem as fortifica? Quem as  faz perseverantes? Quem as acorrenta juntas para não se poder separar? Quem as coroa? A  obediência.

Ah sim! A obediência destruindo de todo o próprio querer e tudo o que é material, espiritualiza tudo,  e como coroa se põe ao redor, assim que a resignação e a humildade sem a obediência estarão  sujeitas a instabilidade, mas com a obediência serão firmes e estáveis, e eis a estreita necessidade  da assinatura da obediência, para fazer que este passaporte possa correr para passar ao reino da  bem-aventurança espiritual que a alma pode gozar daqui. Sem estas três assinaturas o passaporte  não terá valor, e a alma será sempre rejeitada do reino da bem-aventurança e estará obrigada a  estar no reino da inquietação, dos temores e dos perigos, e para sua desgraça terá por deus a seu  próprio eu, e este estará cortejado pela soberba e pela rebelião”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, dentro de um jardim, que parecia ser o  jardim da Igreja, no qual via que se desviavam, por causa de cinco ou seis pessoas, sacerdotes e  leigos, que unindo-se com os inimigos da Igreja moviam uma revolução. Que pena dava ver a  Jesus bendito chorar o triste estado destas pessoas! Depois vi no ar e vi uma nuvem de água cheia  de grandes pedaços de gelo que caíam sobre a terra. Oh!, quanto destroço faziam sobre as  colheitas e sobre a humanidade!. Mas espero que queira aplacar-se. Então, mais aflita que antes  voltei a mim.

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Abril 20, 1900

A cruz dá-nos as linhas e a semelhança de Jesus. 

(1) Continua meu adorável Jesus vindo apenas como sombra, e ao vir não diz nada. Esta manhã,  depois de ter-me renovado as dores da cruz por duas vezes, olhando-me com ternura enquanto  sofria a dor das perfurações dos pregos, disse-me:

(2) “A cruz é um espelho onde a alma vê a Divindade, e contemplando-se nele adquire os  lineamentos, a semelhança mais perfeita com Deus. A cruz não se deve apenas amar, desejar,  mas ter como honra e glória a mesma cruz, e isto é agir como Deus e tornar-se como Deus por  participação, porque só Eu me gloriei da cruz e considerei como uma honra sofrer, e a amei tanto,  que em toda minha vida não quis estar um momento sem a cruz”.

(3) Quem pode dizer o que compreendia da cruz por falar do bendito Jesus? Mas me sinto muda  para expressá-lo com palavras. Ah! Senhor, peço-te que me mantenhas sempre pregada na cruz, a  fim de que tendo sempre diante deste espelho divino, possa limpar todas as minhas manchas e  embelezar-me sempre mais à tua semelhança.

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Abril 21, 1900

Mais que o sacramento, a cruz sela a Deus na alma. 

(1) Encontrando-me em meu próprio estado, é mais, com um pouco de temor por uma coisa que  não é necessário dizer aqui, meu doce Jesus ao vir me disse:

(2) “E ainda que sejam vasos sagrados, é necessário de vez em quando sacudi-los; vossos corpos  são tantos vasos sagrados nos quais faço minha morada, por isso é necessário que de vez em  quando lhes dê uma sacudida, isto é, que os visite com alguma tribulação para fazer que Eu esteja  neles com mais decoro. Por isso fique calma”.

(3) Depois disto, tendo recebido a comunhão e tendo-me renovado as dores da crucificação,  acrescentou:

(4) “Minha filha, como é preciosa a cruz, olha um pouco: O sacramento do meu corpo ao dar-se à  alma, une-a Comigo, transforma-a até a tornar uma mesma coisa Comigo, mas ao consumir-se as  espécies desune-se a união realmente contraída; mas a cruz não, ela toma a Deus e o une com a  alma para sempre, e para maior segurança ela se põe como selo. Portanto, a cruz sela a Deus na  alma, de modo que jamais há separação entre Deus e a alma crucificada.

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Abril 23, 1900

A resignação é óleo que unge. 

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, via meu doce Jesus que sofria muito, e lhe  pedi que me desse parte de suas penas, e Ele me disse:

(2) “Também você sofre, melhor Eu me ponho em seu lugar e você me faz o ofício de enfermeira”.  (3) Então parecia que Jesus se colocava em minha cama, e eu ao seu lado começava a examinar lhe a cabeça, e um a um lhe tirei os espinhos que estavam pregados. Depois segui com seu corpo  e percorri todas suas chagas, lhes secava o sangue, as beijava, mas não tinha com que ungi-las  para mitigar a dor, então vi que de mim saía um azeite e eu o tomava e ungia as chagas de Jesus,  mas com certo temor porque não compreendia o que significava aquele óleo que saía de mim. Mas  Jesus bendito me fez entender que a resignação ao Querer Divino é óleo, que enquanto unge e  mitiga nossas penas, ao mesmo tempo é óleo que unge e mitiga a dor das chagas de Jesus.  Então, depois de ter estado por um bom tempo fazendo este ofício a meu amado Jesus,  desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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Abril 24, 1900

A Eucaristia e o sofrimento. 

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, parecia-me que o confessor tinha a intenção de me  fazer sofrer a crucificação, e vi imediatamente o anjo da guarda que me estendia sobre a cruz para  a fazer sofrer. Depois disto vi meu doce Jesus que me compadecia toda e me disse:  (2) “Teu refrigério sou Eu, meu refrigério é teu sofrer”.

(3) E mostrava um contentamento indescritível por mim sofrer e pelo confessor, porque com a  obediência que me tinha dado de sofrer lhe tinha procurado aquele alívio, depois acrescentou:  (4) “Como o sacramento da Eucaristia é fruto da cruz, por isso sinto-me mais disposto a conceder te o sofrimento quando recebes o meu corpo, porque vendo-te sofrer, parece-me que não  misticamente, senão realmente continuo em ti a minha Paixão em proveito das almas, e isto é para  Mim um grande alívio, porque recolho o verdadeiro fruto da minha cruz e da Eucaristia”.  (5) Depois disto disse: “Até agora foi a obediência que te fez sofrer, queres tu que eu me divirta um  pouco com renovar-te de novo a crucificação com as minhas próprias mãos?”  (6) E eu, embora me sentisse muito sofredor e mesmo afresco as dores da cruz participadas, disse:

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“Senhor, estou nas tuas mãos, faze de mim o que quiseres”.

(7) Então Jesus todo contente começou a me cravar de novo os cravos nas mãos e nos pés, sentia  tal intensidade de dor, que eu mesma não sei como fiquei viva, porém estava contente porque  contentava a Jesus. Depois de cravar os pregos, pondo-se junto a mim começou a dizer:  (8) “Como és bela! Mas quanto mais cresce a tua beleza com o teu sofrer! Oh, como me é amada,  meus olhos ficam feridos ao te ver, porque descobrem em ti minha mesma imagem!”  (9) E dizia tantas outras coisas que seria inútil dizê-las, primeiro porque sou má, e segundo porque  não me vendo como o Senhor me diz, sinto uma confusão e uma vergonha ao dizer estas coisas,  por isso espero que o Senhor me faça verdadeiramente boa e bela, e então, diminuindo minha  vergonha poderei descrevê-las, por isso ponho ponto.

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3-65

Abril 25, 1900

A pureza no agir é luz.  

(1) Encontrando-me fora de mim mesma e não encontrando a meu doce Jesus, tive que girar muito  para ir em busca d’Ele. No final, encontrei-o nos braços da Rainha Mãe, a beber o leite do seu  peito, e enquanto eu lhe dizia e fazia, parecia que não me prestava atenção, ou melhor, nem  sequer me olhava. Quem pode dizer a dor de meu pobre coração ao ver que Jesus não me fazia  caso? Depois de ter dado rédea solta às lágrimas, tendo compaixão de mim veio em meus braços  e derramou em minha boca um pouco desse leite que tinha chupado da Mamãe Rainha.

(2) Depois disto olhei seu peito, e tinha uma pequena pérola, tão resplandecente que investia de  luz a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor. Então, querendo saber o significado, perguntei a  Jesus que coisa era essa pérola, que enquanto parecia tão pequena expandia tanta luz. E Jesus:  (3) “É a pureza do teu sofrer, porque embora seja pequeno, mas como sofres somente por amor  meu e estarias disposta a sofrer mais se Eu te concedesse, esta é a causa de tanta luz. Minha  filha, a pureza no agir é tão grande, que quem opera com o único fim de agradar a Mim só, não faz  outra coisa que mandar luz em todo seu agir. Quem não age corretamente, mesmo o bem, não faz  outra coisa senão espalhar trevas”.

(4) Então eu vi no peito de Nosso Senhor, e ele tinha um espelho muito claro, e parecia que quem  caminhava retamente estava tudo absorvido naquele espelho, que não estava, ficava fora, sem que  pudessem receber qualquer marca da imagem do bendito Jesus. Ah Senhor! Tenha-me toda  absorvida neste espelho divino, a fim de que nenhuma outra sombra de intenção tenha eu em meu  obrar.

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3-66

Maio 1, 1900

Frutos da cruz.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu doce Jesus fez-se ver toda afabilidade, e como parecia que o  confessor punha a intenção da crucificação, minha natureza sentia quase repugnância de  submeter-se. Então o meu doce Jesus para me animar disse-me:

(2) “Minha filha, se a Eucaristia é garantia da futura glória, a cruz é pagamento para comprá-la. Se  a Eucaristia é semente que impede a corrupção, e é como essas ervas aromáticas, com as quais  ungindo os cadáveres não se corrompem, e doa a imortalidade à alma e ao corpo, a cruz a  embeleza e é tão potente, que se houver dívidas contraídas ela se faz fiadora e com mais  segurança faz com que lhe restitua a escritura da dívida contraída, e depois de ter cumprido todo o  débito, com isso forma a alma o trono mais deslumbrante na glória futura. Ah! Sim, a Cruz e a  Eucaristia se alternam juntas, e uma obra mais potentemente que a outra”.

(3) Depois acrescentou: “A cruz é o meu leito florido, não porque não sofresse dores atrozes, mas  porque por meio da cruz dava à luz tantas almas à graça, via brotar tantas belas flores que  produziam tantos frutos celestiais, assim que vendo tanto bem, Tinha para meu deleite aquele leito  de dor e me deleitava da cruz e do sofrimento. Também tua filha, toma como delícias as penas e te  alegre de estar crucificada na minha cruz. Não, não quero que temas o sofrer, como se quisesses  agir como preguiçosa, ânimo, obra com animosidade e expõe te por ti mesma ao sofrer”. (4)  Enquanto dizia isto, via o meu anjo que estava preparado para me crucificar, e eu mesma estendi  os braços, e o anjo me crucificou. Oh, como gozava o bom Jesus de meu sofrer, e como estava eu  contente, porque podia dar gosto a Jesus sendo uma alma tão miserável! Pareceu-me uma grande  honra para mim sofrer por seu amor.

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Maio 3, 1900

Festa da Cruz no Céu.  

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via todo o céu semeado de cruzes, pequenas,  grandes, médias. As maiores, mais resplendor davam. Era um encanto dulcíssimo ver tantas  cruzes que embelezavam o firmamento, mais resplandecentes que o sol. Depois disto pareceu que  se abria o Céu e se via e ouvia a festa que os bem-aventurados faziam à cruz. Quem mais havia  sofrido era mais festejado neste dia. Distinguiam-se de modo especial os mártires e os que haviam  sofrido ocultamente. Eis Oh, como se estimava nessa bem-aventurada morada a cruz e a quem  mais tinha sofrido! Enquanto via isto, uma voz ressoou por todo o empírico que dizia:

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(2) “Se o Senhor não mandasse as cruzes sobre a terra, seria como aquele pai que não tem amor  pelos próprios filhos, que em vez de querer vê-los honrados e ricos, quer vê-los pobres e  desonrados”.

(3) O resto que vi desta festa não tenho palavras para explicá-lo, sinto-o em mim mas não sei manifesta-lo , por isso faço silencio.

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Maio 9, 1900 

Luisa vê o mistério da Santíssima Trindade na forma de três sóis. 

(1) Depois de ter passado dias de privação, e não só isso, mas também de perturbação, esta  manhã, encontrando-me mais perturbada sobre o meu miserável estado, o adorável Jesus ao vir  disse-me:

(2) “Tu, estando inquieta, perturbaste o meu doce repouso. Ah! Sim, não me deixa descansar  mais”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao ouvir que tinha tirado o repouso de Jesus Cristo?  Apesar de tudo isto, por algumas horas me acalmei, mas depois me encontrei mais inquieta do que  antes, tanto que eu mesma não sei desta vez onde irei terminar.

(4) Depois daquelas poucas palavras que Jesus disse, encontrei-me fora de mim e, olhando para a  abóbada dos céus, descobria nela três sóis: um deles parecia pousar no oriente, outro no ocidente,  terceiro no meio do dia. Era tanto o esplendor dos raios que emanavam, que se uniam uns com os  outros, de modo que formavam um só. Parecia-me ver o mistério da Santíssima Trindade, e o  homem formado com as três potências à imagem dela. Compreendia também que quem estava  naquela luz, sua vontade ficava transformada no Pai, a inteligência no Filho e a memória no  Espírito Santo. Quantas coisas compreendia! mas não sei manifestá-lo.

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Maio 13, 1900

Privação de Jesus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, se bem faço quanto posso para estar quieta sem  me perturbar, porque assim quer a obediência, mas com tudo isto não deixo de sentir o peso do  abandono que me oprime e chega até me esmagar. Ó Deus! que estado é este? Diga-me ao  menos em que te ofendi? Qual é a causa? ¡ Ah Senhor, se você quiser continuar deste modo eu  acho que não posso resistir mais!

(2) Por isso, assim que se fez ver, pondo uma mão sob o queixo em atitude de Compadecer-me,  disse-me:

(3) “Pobre filha, a que estado te reduziste!”

(4) E fazendo-me partícipe de suas penas, como raio desapareceu deixando-me mais aflita que

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antes, como se não tivesse vindo, é mais, sinto-me como se não tivesse vindo há muito tempo, e  sinto tal aflição por isto, que vivo, mas meu viver é um contínuo agonizar. Ah! Senhor, me dê ajuda  e não me deixe no abandono, embora eu mereça!

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Maio 17, 1900

Poder das almas vítimas.

(1) Continua o mesmo estado de privação e de abandono. Então, encontrando-me fora de mim mesma via uma  inundação de água misturada com granizo, parecia que várias cidades ficavam inundadas com notáveis danos. Enquanto  via isto, encontrava-me em grande consternação porque queria impedir aquela inundação, mas como me encontrava  sozinha e sobretudo não tinha comigo a Jesus, meus pobres braços sentia-os fracos para poder fazê-lo. Então, com  grande surpresa vi vir uma virgem (me parecia que era da América), e ela de um ponto e eu do outro conseguimos  impedir em grande parte o flagelo que nos ameaçava. Depois disto, tendo-nos reunido, via aquela virgem com as  insígnias da paixão e coroada com coroa de espinhos, como também eu me encontrava, e uma pessoa que me parecia  que fosse um anjo que dizia:

(2) “Ó poder das almas vítimas! O que não nos é dado fazer a nós, anjos, elas com seus sofrimentos podem fazê-lo.  Oh! se os homens soubessem o bem que lhes vem delas, porque estão para o bem público e particular, não fariam outra  coisa que implorar a Deus que multiplique estas almas sobre a terra”.

(3) Depois disto, tendo-nos dito que nos confiámos mutuamente ao Senhor, separamo-nos .

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Maio 18, 1900

Preencher o interior de Deus.

(1) Encontro-me ainda privada de meu adorável Jesus, no máximo alguma sombra vejo, oh quanto me custa amá-lo,  quantas lágrimas devo derramar! Esta manhã, depois de o haver buscado e esperado muito, o encontrei em minha  mesma cama, todo aflito, com a coroa de espinhos que lhe traspassava a cabeça; a tirei pouco a pouco e a coloquei  sobre a minha. ¡ Oh, como me via mal diante de sua presença! Não tinha força para dizer uma só palavra. Jesus, tendo  compaixão de mim, disse-me:

(2) “Tem coragem, não temas, procura preencher teu interior de Mim e enriquecê-lo com todas as virtudes, até que  transborde fora, e quando chegares a desbordá-las, então te levarei ao Céu e terminarão todas as tuas privações”.  (3) Depois disso, ele agregou tomando um ar afligido: “Minha filha, reza, porque estão preparados três diferentes dias,  um longe do outro, de tempestades, granizadas, raios, inundações, que causarão grande dano aos homens e às plantas”.  (4) Dito isto desapareceu, deixando-me um pouco mais aliviada no estado em que me encontro, mas com um  pensamento: “Quem sabe quando chegarei a transbordar, e se não o fizer, talvez me restará estar sempre distante Dele”.

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Maio 20, 1900

Todas as coisas têm início no nada.

Necessidade do repouso e do silêncio interior.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, me parecia que fosse de noite e via todo o universo, toda a ordem da natureza,

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o céu estrelado, o silêncio noturno, em suma, me parecia que tudo tinha um significado. Enquanto olhava para isto,  parecia-me que via Nosso Senhor, que tomando a palavra acerca do que via disse:

(2) “Toda a natureza convida ao repouso, mas qual é o verdadeiro repouso? É o repouso interior e o silêncio de tudo o  que não é Deus. Olhe, as estrelas cintilantes de luz moderada, não deslumbrante como o sol; o sono e o silêncio de toda  a natureza, dos homens e até dos animais, e que todos procuram um lugar, uma caverna onde estar em silêncio e  repousar do cansaço da vida. Se isso é necessário para o corpo, muito mais para a alma é necessário repousar em seu  próprio centro que é Deus. Mas para poder repousar em Deus é necessário o silêncio interior, como ao corpo é

necessário o silêncio exterior para poder-se pacificamente adormecer. Mas o que é este silêncio interior? É fazer calar as  próprias paixões tendo-as em seu lugar, é impor silêncio aos desejos, às inclinações, aos afetos, em suma, a tudo o que  não chama a Deus. Agora, qual é o meio para chegar a isto? O único meio e de absoluta necessidade é desfazer o  próprio ser e reduzir-se ao nada, como era antes de ser criada, e quando tiver reduzido a nada o seu ser, retomá-lo em  Deus.

(3) Minha filha, todas as coisas têm princípio do nada, esta mesma máquina do universo que você vê com tanta ordem,  se antes de criá-la tivesse estado cheia de outras coisas, Eu não poderia colocar minha mão criadora para fazê-la com  tanta maestria e deixá-la tão esplêndida e adornada, no máximo poderia desfazer tudo o que podia estar, e depois  refazê-la como a Mim me agradava; mas estamos sempre ali, em que todas minhas obras têm princípio do nada, e  quando há mistura de outras coisas, não é decoroso para minha Majestade descer e obrar na alma, mas quando a alma  se reduz a nada e sobe a Mim, e toma seu ser no meu, então Eu obro como o Deus que sou, e a alma aí encontra o  verdadeiro repouso. Eis como todas as virtudes têm princípio na humildade e no aniquilamento de si mesmo.

(4) Quem pode dizer quanto compreendia sobre o que me dizia o bendito Jesus? Oh, como seria feliz minha alma se  pudesse chegar a desfazer meu pobre ser, para poder receber de meu Deus seu Ser Divino! ¡ Oh, como me enobreceria,  como ficaria santificada! Mas que tolice é a minha, onde tenho o cérebro se ainda não o faço? ¡ Que miséria humana, que  em vez de buscar seu verdadeiro bem e de empreender seu vôo ao alto, se contenta com arrastar-se por terra e viver na  lama e na podridão!

(5) Depois disto meu amado Jesus me transportou dentro de um jardim em que havia muita gente que se preparava para  assistir a uma festa, mas só aqueles que recebiam uma divisa podiam assistir, mas eram poucos os que recebiam esta  divisa; a mim me veio um grande desejo de recebê-la, e tanto fiz que consegui meu propósito. Depois, tendo chegado ao  ponto onde os recebiam, uma venerável matrona primeiro me vestiu de branco, depois me pôs uma banda celestial da  qual pendia uma medalha marcada com o rosto de Jesus, e que enquanto era rosto ao mesmo tempo era espelho, que  ao contemplar-se nele se descobriam as menores manchas, e que a alma com a ajuda de uma luz que vinha de dentro  daquele rosto, podia ser facilmente removido. Parecia-me que essa medalha continha um significado misterioso. Depois  tomou um manto de ouro finíssimo e me cobriu toda. Parecia-me que vestida assim podia competir com as virgens bem aventuradas. Enquanto isso acontecia Jesus me disse:

(6) “Minha filha, voltemos a ver o que fazem os homens, por agora basta que estejas vestida, quando for a festa então te  levarei para assistir”.

(7) Assim, depois de ter virado um pouco, transportou-me para a minha cama.

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Maio 21, 1900

O estado mais sublime é desfazer o nosso querer

no Querer de Deus, e viver da sua Vontade.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha; depois de muito esperar veio e me acariciou me disse:

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(2) “Minha filha, sabes qual é a minha mira sobre ti, e o estado que quero de ti?”

(3) E parando um pouco acrescentou: “O olhar que tenho sobre ti não é de coisas prodigiosas, e de tantas outras coisas  que poderia obrar em ti para mostrar minha obra, senão que minha mira é te absorver em minha Vontade e te fazer uma  só coisa com Ela, e fazer de ti um exemplar perfeito de uniformidade de teu querer com o meu. Este é o estado mais  sublime, é o prodígio maior, é o milagre dos milagres o que de você quero fazer.

(4) Minha filha, para chegar perfeitamente a fazer um nosso querer, a alma deve tornar-se invisível, deve imitar-me a  Mim, que enquanto encho o mundo com tê-lo absorvido em Mim e com não ficar absorvido nele, torno-me invisível e de  nenhum modo me deixo ver. Isto significa que não há nenhuma matéria em Mim, senão que tudo é puríssimo Espírito, e  se em minha Humanidade assumida tomei a matéria, foi para assemelhar-me em tudo ao homem e dar-lhe um exemplar  perfeitíssimo de como espiritualizar esta mesma matéria. Então a alma deve espiritualizar tudo e chegar a tornar-se  invisível para poder fazer facilmente uma sua vontade com minha Vontade, porque o que é invisível pode ser absorvido  em outro objeto. De dois objetos com os quais se quer formar um só, é necessário que um perca a própria forma, de  outra maneira jamais se chegaria a formar um só ser.

(5) Que sorte seria a sua se destruindo a si mesma, até se tornar invisível, pudesse receber uma forma toda divina! E mais, tu com ficar absorvida em Mim e Eu em ti, formando um só ser, virias a reter em ti a fonte divina, e como minha  Vontade contém todo o bem que pode existir, virias a reter todos os bens, todos os dons, todas as graças, E não teria  que procurar em outro lugar senão em você mesma. E se as virtudes não têm confins, estando em minha Vontade  segundo a criatura possa chegar, encontrará seu termo, porque minha Vontade faz chegar a adquirir as virtudes mais  heróicas e mais sublimes que a criatura por si só não pode superar .

(6) É tanta a altura da perfeição da alma desfeita em meu Querer, que chega a agir como Deus, e isto não é de admirar,  porque como não vive mais sua vontade nela, senão a Vontade do próprio Deus, cessa todo assombro se vivendo com  esta Vontade possui a potência, a sabedoria, a santidade e todas as outras virtudes que o próprio Deus contém. Basta te  dizer, para fazer que você se apaixone e coopere o quanto puder por sua parte para chegar a tanto, que a alma que  chega a viver só de meu Querer é rainha de todas as rainhas e seu trono é tão alto, que chega até o trono do Eterno, e  entra nos segredos da Augustíssima Trindade e participa no amor recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Oh,  como todos os anjos e santos a honram, os homens a admiram e os demônios a temem, descobrindo nela o Ser Divino!”.  (7) Ah Senhor! Quando é que me vais fazer chegar a isto, porque não posso fazer nada por mim? Agora, quem pode  dizer o que o Senhor infundia em mim com luz intelectual sobre esta uniformidade de querer-vos? É tanta a altura dos  conceitos, que minha língua não bem treinada não tem palavras para expressá-los, apenas pude dizer isto pouco, se bem  disparatando, do que o Senhor com luz vivíssima me fez compreender.

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Maio 26, 1900

O querer de Luísa é um com o de Jesus. 

(1) Encontrando-me muito afligida pela privação de meu adorável Jesus, que ao mais vem como sombra e relâmpago,  sinto que não posso seguir adiante se Ele quiser continuar assim. Então, encontrando-me no máximo da aflição, por  pouco se fez ver, todo cansado, como se tivesse necessidade de um alívio, e pondo os seus braços ao meu pescoço me  disse:

(2) “Amada minha, traze-me flores e circunda-me tudo, porque me sinto definhar de amor. Minha filha, o odor do perfume  de tuas flores me será de alívio e porá um remédio a meus males, porque definho e desfaleço”.  (3) Eu logo acrescentei: “E Tu, meu amado Jesus, dá-me frutos, porque o lazer e o escasso sofrer aumentam de tal  maneira o meu definhar, que desfaço até me sentir morto; e então não só flores, senão que poderei dar-te frutos para  poder consolar maioritariamente o teu definhar”. E Jesus voltou a falar e me disse:

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(4) “Oh, como nos ajustamos bem, não é verdade? Parece que seu querer é um com o meu. (5) Por um momento parecia que ficava aliviada, como se quisesse cessar o estado em que me encontrava, mas depois  de um pouco me encontrei imersa na mesma letargia de antes, privada de meu Sumo Bem, abandonada e sozinha.  + + + +

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Maio 27, 1900

O amor e a graça penetram nas profundezes do ser do homem.

(1) Esta manhã, sentindo-me mais do que nunca afligida pela privação do meu sumo Bem, assim que me fez ver, disse me:

(2) “Assim como um vento impetuoso investe nas pessoas e penetra até nas vísceras, de modo a sacudir toda a pessoa,  assim meu amor e minha graça voando sobre as asas dos ventos, invistam e penetram no coração, na mente e nas mais  profundas partes do homem. Com tudo isso, o homem ingrato rejeita minha graça e me ofende, oh! qual não é a minha  acerbo dor?”

(3) Eu estava toda confusa e aniquilada em mim mesma e não ousava dizer uma só palavra, só pensava: “Como é que  não vem?” E também: Se ele vier, não vejo claramente, parece que perdi a claridade, quem sabe se verei o seu lindo  rosto revelado como antes?” Enquanto assim pensava, meu benigno Jesus acrescentou:

(4) “Minha filha, por que temes, se teu estado está nos Céus pela união de nossos querer?”  (5) E querendo me animar e compadecer meu estado doloroso me disse:

(6) “Tu és meu novo Jó. Não te oprimas muito se não me vês com clareza .Disse-te desde o outro dia, que não venho  como é habitual porque quero castigar as nações, e se tu me visses com clareza compreenderias o que Eu estou  fazendo, e teu coração, como recebeu o enxerto do meu, por isso sei o que tu virias a sofrer, como o meu coração está a  sofrer porque sou forçado a punir as minhas criaturas. Então, para poupar-lhe essas dores, eu não me faço ver com  clareza”.

(7) Quem pode dizer as feridas que deixou meu pobre coração? Ah Senhor, dá-me a força para suportar a dor!  + + + +

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Maio 29, 1900

Ameaça de castigos.

(1) Continuo a estar no mesmo estado, sentia-me toda oprimida e tinha toda a necessidade de um  apoio para poder suportar a privação do meu Sumo Bem. O bendito Jesus, tendo compaixão de  mim, por alguns minutos mostrou o seu rosto de dentro do meu coração, mas não com clareza, e  fazendo-me ouvir a sua suave voz disse-me:

(2) “Tem ânimo mais um pouco minha filha, deixa-me terminar de castigar e depois virei como  antes”.

(3) Enquanto dizia isto, em minha mente pensava: “Quais são os castigos que começou a  mandar?” E Ele acrescentou:

(4) “A chuva contínua é mais do que granizo, que está a fazer e vai trazer tristes consequências  para as pessoas”.

(5) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, dentro de um jardim, e dali de  dentro se viam as colheitas e as vinhas secas, e dentro de mim ia dizendo: “Pobre gente, pobre

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gente, como farão?” Enquanto dizia isto, dentro daquele jardim estava um menino que chorava e  gritava tão forte que ensurdecia Céu e Terra, mas ninguem tinha compaixão dele, ainda que todos  o ouvissem que chorava tanto, não o levavam em conta e o deixavam sozinho e abandonado. Um  pensamento passou pela minha cabeça: “Quem sabe? Como melhor será Jesus”. Mas não estava

segura. Então, aproximando-me Dele lhe disse: “Que tens que chorar menino amado? Queres vir  comigo, já que todos te deixaram abandonado às tuas lágrimas e à dor que te oprime tanto que te  faz gritar tão forte?” Mas o que, quem poderia acalmá-lo? Apenas entre soluços respondeu que  sim, que queria vir. Então eu o peguei pela mão para conduzi-lo junto comigo, e no momento que  fiz isso, me encontrei em mim mesma.

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Junho 3, 1900

A falta de estima pelas pessoas é falta de verdadeira humildade.

(1) Encontrando-me no mesmo estado, esta manhã, por um pouco vi meu adorável Jesus, que  estava dentro de meu coração e dormia, e seu sonho atraía a minha alma a adormecer junto com  Ele, tanto que sentia todas as potências interiores adormecidas, sem obrar mais. Às vezes me  esforçava para sair daquele sonho, mas não podia, quando por um pouco se despertou o bendito  Jesus e ordenou por três vezes seu alento dentro de mim, e me parecia que Ele ficava tudo  absorvido em mim. Depois me parecia que Jesus atraiu outra vez dentro Dele esses três alentos  que me havia enviado, e eu me encontrei toda transformada Nele. Quem pode dizer o que  acontecia em mim por estes sopros divinos? Daquela união inseparável entre Jesus e eu, não  tenho palavras para expressá-la. Depois disso parece que eu poderia acordar e Jesus, quebrando  o silêncio me disse:

(2) “Minha filha, olhei e voltei a olhar, procurei e voltei a procurar, percorrendo toda a terra, mas em  ti fixei os meus olhares e encontrei as minhas complacências, e escolhi-te entre milhares”.  (3) Depois, dirigindo-se a certas pessoas que via, repreendeu-as dizendo-lhes:  (4) “A falta de estima pelas outras pessoas é falta de verdadeira humildade cristã e de docilidade,  porque um espírito humilde e doce sabe respeitar a todos e interpreta sempre bem os atos dos  demais”.

(5) Dito isso, ele desapareceu sem sequer dizer uma palavra. Seja sempre abençoado que ele  quer, e tudo seja para a sua glória.

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Junho 6, 1900

Luisa crucificada, evita alguns castigos sobre Corato.  

(1) Como meu adorável Jesus continuava sem se fazer ver com clareza, esta manhã, tendo  recebido a comunhão, o confessor pôs a intenção da crucificação; enquanto me encontrava nesses

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sofrimentos, o bendito Jesus, quase atraído por minhas penas mostrou-se com clareza. Oh Deus!  Quem pode dizer os sofrimentos que sofria Jesus e o estado violento em que se encontrava,  porque enquanto estava obrigado a mandar os castigos, sentia tal violência que não queria mandá los? Dava tanta compaixão vê-lo neste estado, que se os homens o pudessem ver, ainda que seus  corações fossem de diamante se romperiam Como vidro frágil pela ternura. Então comecei a  implorar-lhe que se acalmasse e que se contentasse em fazer-me sofrer a mim, e que perdoasse o  povo. Depois acrescentei: “Senhor, se não queres ouvir as minhas orações, sei que o mereço; se  não queres ter compaixão dos povos, tens razão, porque grandes são as nossas iniqüidades, mas  peço-te em graça que tenhas compaixão de ti mesmo, tem piedade da violência que te fazes ao  castigar as tuas imagens. Ah! sim, te peço por amor de Ti mesmo, que não mande castigos até  chegar a tirar o pão a seus filhos e fazê-los perecer. Ah! não, não é da natureza do seu coração  agir deste modo, por isso é a violência que sentes, que se pudesse te daria a morte”.

(2) E Ele, todo aflito, me disse: “Minha filha, é a justiça que me faz violência, e o amor que tenho  pelos homens me faz violência mais forte, tanto, de pôr a meu coração em angústias de morte ao  castigar as criaturas”.

(3) E eu: “Por isso, Senhor, descarrega sobre mim a justiça, e teu amor não será mais violentado  pela justiça e não se encontrará em conflito para castigar as nações, porque em verdade, como  farão se Tu agires, como me fazes compreender, secando tudo o que serve de alimento ao  homem? Ah, peço-te, deixa-me sofrer e perdoa-lhes a eles, se não em tudo pelo menos em parte”.

(4) E Jesus, como se fosse obrigado por minhas orações, aproximou-se da minha boca e derramou  da sua um pouco de amargura, densa e nauseante, que assim que a engoli me produziu tais e  tantas espécies de penas que me sentia morrer. Então o bendito Jesus, sustentando-me nessas  penas, caso contrário teria ficado vítima (e todavia não havia derramado mais que um pouco, o que  será de seu coração adorável que tanta continha?), suspirou como se tivesse se aliviado de um  peso e me disse:

(5) “Minha filha, minha justiça tinha decidido destruir tudo, mas agora descarregando um pouco sobre ti, por amor teu concede um terço do que serve de alimento ao homem”.  (6) E eu: “Ah Senhor, é muito pouco, pelo menos a metade!”

(7) E Ele: “Não minha filha, aceita-te”.

(8) E eu: “Não Senhor, se não me queres contentar por todos, pelo menos diz-me por Corato e por  aqueles que me pertencem”.

(9) E Jesus: “Hoje está preparada uma saraivada que deve fazer grande dano, tu estás com as  dores da cruz, sai de ti mesma e em forma crucificada vê no ar e põe em fuga os demônios de cima  de Corato, porque ante tua forma crucificada não poderão resistir e irão a outra parte”.  (10) Assim saí de mim mesma, crucificada, e vi a saraiva e os raios que estavam prestes a irromper

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sobre Corato. Quem pode dizer o espanto dos demônios, como à vista de minha forma crucificada  corriam, mordiam os dedos de raiva e chegavam a tomá-la contra o confessor que esta manhã me  tinha dado a obediência de sofrer a crucificação, já que contra mim não a podiam tomar, aliás,  eram obrigados a fugir de mim pelo sinal da Redenção que advertiam? Então, depois de tê-los  posto em fuga retornei a mim mesma, encontrando-me com uma boa dose de sofrimentos. Seja  tudo para a glória de Deus.

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Junho 7, 1900

Jesus lhe entrega as chaves da justiça e uma luz para descobri-la. 

(1) Como me encontrava sofredora, parecia-me que aqueles sofrimentos eram uma doce corrente  que atraía meu bom Jesus a fazê-lo vir quase que continuamente, e me parecia que aquelas penas  chamavam a Jesus para fazê-lo derramar em mim outras amarguras. Então, ao vir, agora me  segurava em seus braços para me dar força, e agora derramava de novo. Eu de vez em quando  lhe dizia: “Senhor, agora sinto em mim parte de tuas penas, rogo-te que me contentes, como te  disse ontem de dar-me ao menos a metade do que serve para alimento do homem”.

(2) E Ele: “Minha filha, para te contentar te entrego as chaves da justiça e o conhecimento de quanto é absolutamente necessário castigar o homem, e com isto farás o que te agrade, não estás  contente por isso?”

(3) Ao ouvir-me dizer isto, consolei-me e disse dentro de mim: “Se está em mim, de facto não  castigarei nenhum”. Mas como fiquei desiludida quando o bendito Jesus me deu uma chave e me  pôs no meio de uma luz, e olhando do meio daquela luz descobria todos os atributos de Deus, e  também os da justiça. ¡ Oh, como tudo está ordenado em Deus! E se a justiça castiga, é ordem; e  se não castiga não estaria em ordem com os demais atributos. Agora me via como miserável  verme no meio daquela luz, e que se quisesse impedir o curso à justiça, arruinaria a ordem e iria  contra os mesmos homens, porque compreendia que a mesma justiça é amor puríssimo para com  eles. Então me encontrei toda confusa e incomodada, por isso para me desentender disse a nosso  Senhor: “Com esta luz da qual me rodeastes entendo as coisas de maneira diversa, e se me  deixasses agir a mim fá-lo-ia pior do que Tu, por isso não aceito este conhecimento e renuncio às  chaves da justiça; o que aceito e quero é que me faças sofrer e que libertes as pessoas; do resto  não quero saber nada”.

(4) E Jesus, sorrindo diante de mim, disse-me:

(5) “Como! Tão logo queres te afastar, não querendo conhecer nenhuma razão e querer fazer-me  violência mais forte queres sair com duas palavras: Faz-me sofrer a mim e livra-te deles”.  (6) E eu: “Senhor, não é que não queira saber nenhuma razão, senão que não é ofício meu, mas

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teu. Meu ofício é o de ser vítima, por isso Tu faz teu ofício e eu faço o meu, não é verdade meu  amado Jesus?”

(7) E Ele, mostrando como uma aprovação desapareceu.

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Junho 10, 1900

Ofício de vítima. Castigos. 

(1) Parece-me que o meu adorável Jesus continua a dividir em dois a justiça, derramando um  pouco em mim e o resto nas pessoas. Esta manhã, especialmente quando me encontrei com  Jesus, me destroçava a alma ao ver a tortura de seu dulcíssimo coração ao castigar as criaturas.  Era tanto o estado sofredor no qual se encontrava, que não fazia outra coisa que emitir contínuos  gemidos, tinha na cabeça uma tupida coroa de espinhos, toda encarnada, tanto que a cabeça  parecia um conjunto de espinhos. Então, para aliviá-lo um pouco, eu disse-lhe: “Diz-me, meu bem,  o que é que tens que estás a sofrer tanto? Permite-me que te tire estes espinhos que não tão  pouco te atormentam”. Mas Jesus não me respondia, aliás, nem sequer escutava o que eu dizia.  Então me pus a remover aqueles espinhos, uma por uma, e depois as pus sobre minha cabeça.  Agora, enquanto fazia isto, vi que em lugares longínquos devia acontecer um terremoto que faria  matança de pessoas. Depois Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma, mas com suma  aflição minha ao pensar no estado sofredor de Jesus e nas desgraças da miserável humanidade. +  + + +

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Junho 12, 1900

A obediência a faz pedir a Jesus que 

a faça sofrer para impedir os castigos. 

(1) Esta manhã, ao vir o meu amável Jesus, comecei a dizer: “Senhor, o que fazes? Parece que  estás a ir longe demais com a justiça”. E enquanto queria continuar a falar para desculpar as  misérias humanas, Jesus impôs-me silêncio dizendo-me:

(2) “Cala-te, se queres que me entretenha contigo vem beijar-me e curar-me com as tuas habituais  adorações todos os meus membros sofredores”.

(3) Assim comecei pela cabeça, e depois, pouco a pouco pelos outros membros. ¡ Oh, quantas  chagas profundas tinha aquele corpo sacrossanto, que só olhá-las dava horror! Então, não apenas  tinha terminado desapareceu, deixando-me com pouquíssimo sofrimento e com um temor: quem  sabe como se derramará sobre as nações, porque não se dignou derramar sobre mim as suas  amarguras.

(4) Pouco depois veio o confessor e disse-lhe o anterior, e ele disse-me que hoje, por obediência  absoluta, quando fizer a meditação deves pedir-lhe que te faça sofrer a crucificação e que deixe de  mandar os flagelos. Então, quando fiz a meditação, assim que se fez ver lhe roguei de acordo com

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a obediência recebida, mas não me pôs atenção, é mais, agora se fazia ver que virava as costas  às pessoas, agora que dormia para não ser importunado por mim, e que sei eu, me sentia morrer  porque não se preocupava em me fazer a obediência; então tomei coragem, e pondo toda a  confiança na santa obediência o tomei por um braço, e movendo-o para despertá-lo eu lhe disse:  “Senhor, que fazes? Este é o amor que tens pela tua virtude predileta da obediência? Estes são os  elogios que lhe deram tantas vezes? Estas são as honras que lhe concedeste, até dizer que te  sentes abalado e não podes resistir à virtude da obediência e sentes-te cativado pela alma que se  doa a esta virtude, que agora parece que não te importas de me obedecer? Enquanto isto e outras  coisas dizia, e que me prolongaria demasiado se quisesse escrevê-las, o bendito Jesus sacudiu-se,  e como atingido por uma vivência de dor, rompeu em abundante pranto, e soluçando disse:

(5) “Nem Eu quero mandar açoites, é a justiça que me obriga quase à força, mas tu com este falar  queres-me ferir ao vivo e tocar-me uma fibra muito delicada para Mim e muito amada por Mim,  tanto que não quis outra honra nem outro título que o de obediente. E para te fazer ver que não é  que não me importe de te fazer obedecer, com tudo o que a justiça me obriga a não fazer, te  compartilho em parte as dores da cruz”.

(6) Enquanto fazia isto, desapareceu, deixando-me contente porque me fez obedecer e com um  desgosto na alma, como se tivesse sido causa de fazer chorar ao Senhor com o meu falar. ¡ Ah  Senhor, peço que me perdoe!

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Junho 14, 1900

Efeitos da cruz. 

(1) Encontrando-me não pouco sofredor, meu adorável Jesus, ao vir toda me compadecia e me  disse:

(2) “Minha filha, o que tens que sofres tanto? Deixe-me aliviar um pouco”.

(3) E (mas Jesus estava mais sofredor que eu) assim me deu um beijo, e como estava crucificado  me atraiu fora de mim mesma e pôs minhas mãos nas suas, meus pés nos seus, minha cabeça  apoiava sobre a sua e a sua sobre a minha. Como estava contente por me encontrar nesta  posição! Se bem que os cravos e os espinhos de Jesus me causavam dor, eram dores que me  davam alegria porque eram sofridos por amor ao meu amado Bem; aliás, queria que  aumentassem. Também Jesus parecia contente comigo porque me tinha naquele modo em que me  sentia atraída por Ele. Parecia-me que Jesus me consolava e eu era consolação para Ele.

(4) Então, nesta posição saímos fora, e tendo encontrado o confessor, em seguida pedi por suas  necessidades e disse ao Senhor que se dignasse fazer ouvir ao confessor como é doce e suave  sua voz. Jesus para me contentar se dirigiu a ele e lhe falou da cruz dizendo:

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(5) “A cruz absorve na alma minha Divindade, a assemelha à minha Humanidade e copia em si  mesma minhas mesmas obras”.

(6) Depois continuamos a girar mais um pouco e, oh, quantas cenas dolorosas que trespassavam a  alma de lado a lado! As graves iniqüidades dos homens, que nem sequer se curvam perante a  justiça, ao contrário, lançam-se com maior furor, como se quisessem dar duplas feridas por cada  ferida, e a grande miséria que eles próprios se preparam. Então, com grande amargura nos  retiramos; Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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Junho 17, 1900

Colocar-se em Deus e não sair dos confins da paz, é o mesmo.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, em meu íntimo me sentia suscitar alguma sombra  de perturbação sobre o por que não vinha; Então ao vir me disse:

(2) “Minha filha, conter-se em Deus e não sair dos confins da paz é tudo o mesmo. Então, se você  percebe um pouco de perturbação, é sinal de que você saiu um pouco de dentro de Deus, porque  se preencher Dele e não ter perfeita paz é impossível, muito mais que os confins de a paz são  intermináveis, antes tudo o que pertence a Deus é paz”.

(3) Depois acrescentou: “Não sabes tu que as privações à alma servem como o inverno às plantas,  que faz que aprofundarem-se as raízes, as fortifica e as faz reverdecer e florescer em maio?”  (4) Depois disto, transportou-me para fora de mim mesma e, tendo-lhe confiado várias  necessidades, desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma, com o desejo de me manter  sempre dentro de Deus, a fim de que me pudesse encontrar dentro dos confins da paz.

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Junho 18, 1900

Tudo o que é criado nos ensina o amor de Deus,  

o corpo chagado de Jesus, o amor do próximo.

(1) Jesus continua sem vir, e eu tratava de me ocupar em considerar o mistério da flagelação.  Enquanto fazia isto vi o bendito Jesus todo chagado e jorrando sangue e me disse:  (2) “Minha filha, o céu com tudo o criado te ensina o amor de Deus; meu corpo chagado te ensina o  amor do próximo, tanto, que minha Humanidade unida a minha Divindade, de duas naturezas fiz  uma só e as tornei inseparáveis, porque não só satisfiz a divina justiça, mas realizei a salvação dos  homens. E para fazer com que todos assumissem esta obrigação de amar a Deus e o próximo, não  só fiz disto uma única obrigação, mas cheguei a fazer desta obrigação um preceito divino. Assim,  minhas chagas e meu sangue são tantas línguas que ensinam a cada um o modo de amar-se, e a

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obrigação que todos têm de prestar atenção à salvação dos demais”.

(3) Depois, tomando um aspecto mais aflito acrescentou:

(4) “Que tirano impiedoso é para mim o amor, porque não só empreguei todo o curso de minha vida  mortal em contínuos sacrifícios, até morrer sangrando sobre uma cruz, senão que me deixei como  vítima perene no sacramento da Eucaristia. E não só isto, mas a todos os meus membros  prediletos tenho vítimas viventes em contínuos sofrimentos, empenhados na salvação dos homens,  como entre tantos escolhi a ti para ter-te sacrificada por amor meu e pelos homens. Ah sim! Meu

coração não encontra descanso nem repouso se não encontrar o homem, e o homem, como é que  me corresponde? Com ingratidões enormes.”

(5) Dito isto, ele desapareceu.

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Junho 20, 1900

A humildade mais perfeita produz na alma a união mais íntima com Deus. (1) Esta manhã, estando fora de mim mesma e não encontrando meu Sumo Bem, tive que girar e  girar em busca Dele; quando me cansei até sentir desfalecer, senti-o atrás de minhas costas, que  me sustentava. Então estendi o braço e o puxei para a frente dizendo: “Meu amado, sabes que não  posso ficar sem Ti, não obstante me fazes esperar tanto, até me fazer desmaiar. Diz-me pelo  menos, qual é a causa, em que te ofendi que me submetes a dilacerações tão cruéis, a martírios

tão dolorosos como é a tua privação?” E Jesus interrompendo o meu discurso disse-me:  (2) “Minha filha, minha filha, não acrescente mais rasgos ao meu coração exacerbado ao máximo,  pois se encontra em contínua luta pelas violências que constantemente todos me fazem: Violência  me fazem as iniqüidades dos homens, que atraindo sobre eles a justiça me forçam a puni-los, e a  justiça pondo-se em contínua luta com o amor que tenho pelos homens, rasga-me o coração de  modo tão doloroso, de me fazer morrer continuamente; violência me fazes tu, porque vindo Eu e  conhecendo tu os castigos que estou enviando, não estás quieta, não, mas que me força, me faz  violência e não quer que castigue, e sabendo Eu que você não pode fazer de outra maneira ante  minha presença, para não expor meu coração a uma luta mais feroz, me abstenho de vir. Por isso  não me violentes para me fazeres vir agora; deixa-me desabafar a minha ira, e não queiras  aumentar as minhas penas com as tuas palavras. Quanto ao resto não quero que pense, porque a  humildade mais perfeita, mais sublime, é a de perder toda razão e não discorrer sobre o porquê e  do como, mas se desfazer no próprio nada, e enquanto a alma faz isto, sem adverti-lo encontra-se  perdida em Deus, e isto produz nela a união mais íntima, o amor mais perfeito para o sumo Bem.  Isto com sumo proveito da alma, porque perdendo a própria razão adquire a razão divina, e  perdendo todo pensamento sobre si mesma, isto é, se está fria ou quente, se são favoráveis ou

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adversas as coisas que lhe acontecem, se interessará e adquirirá uma linguagem toda celestial e  divina.

(3) Além disso, a humildade produz na alma uma vestidura de segurança, pelo que envolta neste  vestido de segurança, a alma está na calma mais profunda, embelezando-se toda para agradar ao  seu querido e amado Jesus”.

(4) Quem pode dizer como fiquei surpreendida por este falar de Jesus? Não tive nem uma palavra  para responder. Pouco depois desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, quieta, sim, mas  aflita no máximo, primeiro pelas aflições e lutas nas quais se encontrava meu amado Jesus, e  depois pelo temor de que não viesse. Quem poderá resistir? Como farei para suportar a mim  mesma por sua ausência? Ah! Senhor, dá-me a força para suportar tão duro martírio, tão  insuportável a minha pobre alma! De resto, diga o que quiser, porque por mim não deixarei nenhum  meio, tentarei todos os caminhos, usarei todos os estratagemas para atraí-lo para que venha.

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Junho 24, 1900

A cruz é o alimento da humildade.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, em que no máximo se fazia ver como sombra,  como um relâmpago, minhas potências as sentia todas adormecidas, de modo que eu mesma não  entendia o que acontecia em meu interior. Neste adormecimento uma só pena se despertava em  meu interior, e era que me parecia que tinha acontecido como a um que enquanto dorme perde a  vista, ou bem é despojado de todas suas riquezas, pelo que o miserável não pode nem doer-se,  nem defender-se, nem usar algum meio para libertar-se de seus infortúnios. Pobrezinho, em que  estado tão desastroso se encontra! Mas, qual é a causa? O sonho, porque se estivesse acordado  certamente saberia defender-se de suas desventuras. Assim é meu mísero estado, não me é dado  nem sequer dar um gemido, um suspiro, derramar uma lágrima, porque perdi de vista Aquele que é  todo meu amor, todo meu bem e que forma todo meu contentamento. Parece que para que eu não  sofra por sua privação me adormeceu e me deixou-me. A. Ah! Senhor, acorda-me Tu, a fim de que  possa ver minhas misérias e conhecer ao menos do que estou privada.

(2) Agora, enquanto me encontrava neste estado, de dentro de mim ouvi o bendito Jesus que se  lamentava continuamente. Esses lamentos feriram meus ouvidos e despertando um pouco disse:  “Meu só e único Bem, por teus lamentos advirto o estado tão sofredor no qual te encontras, isto te  sucede porque queres sofrer só e não queres me fazer partícipe de tuas penas, é mais, Para não  me teres na tua companhia, fizeste-me adormecer e deixaste-me sem me fazer entender mais  nada. Entendo o porquê de tudo isto, para estar mais livre para punir, mas ah! tem compaixão de

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mim, pois sem Ti estou cega, e tem compaixão de Ti, porque é sempre bom em todas as  circunstâncias ter quem te faça companhia, que te console e que de algum modo diminua a tua ira,  porque por agora estás firme em mandar açoites, Mas quando vires as tuas imagens a perecer da  miséria, lamentarás mais do que agora e talvez me digas: “Ah, se tu te tivesses empenhado mais  em aplacar-me, se tivesses tomado sobre ti as penas das criaturas, não veria tão destroçados os  meus próprios membros!” Não é verdade meu pacientíssimo Jesus? Ah, Jesus, Jesus, deixa-te  sofrer um pouco e deixa-me sofrer em teu lugar!”

(3) Enquanto isso dizia, Ele se lamentava continuamente, quase no ato de querer ser compadecido  e aliviado, mas queria que lhe arrancasse quase por força este mesmo alívio, pelo que depois de  meus rogos estendeu em meu interior suas mãos e pés cravados e me participou um pouco suas  penas. Depois disto, dando um pouco de trégua a seus lamentos me disse:

(4) “Minha filha, são os tristes tempos que a isto me obrigam, porque os homens se fortaleceram e  ensoberbecido tanto, que cada um acredita ser deus para si mesmo, e se Eu não ponho mão nos  flagelos faria um dano a suas almas, porque só a cruz é o alimento da humildade. Então, se eu não  fizesse isso, eu mesmo lhes faria falta o meio para humilhá-los e rende-los de sua estranha  loucura, ainda que a maior parte me ofendam mais, mas Eu faço como um pai que reparte a todos  o pão para alimentá-los; que alguns filhos não o queiram tomar, mas sim que se sirvam dele para  atirá-lo na cara ao pai, que culpa tem disso o pobre pai? Assim sou Eu. Por isso compadece-me  em minhas aflições”.

(5) Dito isto, desapareceu deixando-me meio acordada e meio adormecida, não sabendo eu  mesma nem se devo acordar perfeitamente, nem se devo dormir outra vez.

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Junho 27, 1900

A alma deve reconhecer-se em Jesus, não em si mesma. 

(1) Continuo adormecida. Esta manhã por poucos minutos me encontrei acordada e compreendia  meu estado miserável, sentia a amargura da privação de meu sumo e único Bem; apenas pude  derramar duas lágrimas lhe dizendo: “Meu sempre bom Jesus, como é que não vem? Estas são  coisas que não se fazem, ferir a uma alma de Ti e depois deixá-la. E além disso, para não lhe dar a  conhecer o que faz, deixa-a em poder do sonho. Ah, venha, não me faça esperar tanto!” Enquanto  isso e outros desatinos mais disse, em um instante veio e me transportou para fora de mim mesma;  e como eu queria lhe dizer meu pobre estado, Jesus impondo-me silêncio me disse:

(2) “Minha filha, o que quero de ti é que não te reconheças mais em ti mesma, senão que te  reconheças somente em Mim; assim que de ti não te recordarás mais, nem terás mais  reconhecimento de ti, senão te lembrarás de Mim, e te desconhecendo a ti mesma adquirirás só

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meu reconhecimento, e à medida que te esqueceres e te destruíres a ti mesma, assim avançarás  em meu conhecimento e te reconhecerás somente em Mim, quando tiveres feito isto, não mais  pensará com a tua mente, mas com a minha, não olharás com os teus olhos, não falarás mais com  a tua boca, nem palpitarás com o teu coração, nem trabalharás com as tuas mãos, nem andarás  com os teus pés, mas com tudo o que é meu, para te reconheceres somente em Deus, a alma tem  necessidade de ir à sua origem e voltar ao seu princípio, Deus, isto é, de onde veio, e que se  uniformiza toda a si mesma ao seu Criador; e que tudo o que detém de si mesma e que não é  conforme ao seu princípio, deve desfazê-lo e reduzi-lo a nada. Só assim, nua, desfeita, pode voltar  à sua origem e reconhecer-se só em Deus, e agir segundo o fim para o qual foi criada. Eis aqui então que para uniformizar-se toda em Mim, a alma deve tornar-se indivisível Comigo”.

(3) Enquanto dizia isto, via o terrível castigo das plantas secas e como deve avançar mais. Mal  pude dizer: “Ah! Senhor, como farão as pobres pessoas?” E Ele, para não me prestar atenção,  como um relâmpago fugiu e desapareceu. Quem pode dizer a amargura de minha alma ao  encontrar-me em mim mesma, por não haver podido dizer nem sequer uma palavra por mim e por  meu próximo, e pela tendência ao sono, porque de novo estou nesse estado.

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Junho 28, 1900

Os castigos presentes, não são outra coisa que 

uma preparação aos castigos futuros. 

(1) Esta manhã, encontrando-me extremamente aflita pela privação do meu amado Jesus, assim  que o vi, disse-me:

(2) “Minha filha, quantas máscaras serão tiradas nestes tempos de castigos, porque estes castigos  presentes não são outra coisa que uma preparação a todos os castigos que te manifestei no curso  do ano passado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu dentro de mim pensava: “Se o Senhor continua a fazer da mesma forma  que está a fazer, isto é, porque quer mandar castigos não vem, não me participa as suas penas,  trata-me com modos insólitos, quem poderá resistir? Quem me dará a força para permanecer neste  estado?” E Jesus respondendo ao meu pensamento acrescentou em atitude de compaixão:

(4) “E então, queres tu que suspenda por um pouco o estado de vítima e depois te faça retomá-lo?”  (5) Enquanto dizia isto, senti confusão e amargura, via que o Senhor com essa proposta me  lançava de Si, porque não soube dizer nem sim, nem não, nem para ouvir o que decide a  obediência. Então, sem esperar minha resposta desapareceu, deixando-me como um prego fixo no  coração ao pensar que Jesus me lançava de Si. Era tanto a dor que não fiz outra coisa que  derramar lágrimas amargas.

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Junho 29, 1900

Jesus e Luísa confortam-se reciprocamente.

(1) Estando ainda amarga, meu adorável Jesus tendo compaixão de mim veio, e parecia que me  sustentava entre seus braços. Depois, transportando-me para fora de mim mesma via que reinava  um profundo silêncio, uma tristeza, um luto por toda parte. Era tanta a impressão que causava no  ânimo ver naquele modo as pessoas, que se sentia uma estreiteza no coração. Então o bendito  Jesus, levando-me à parte, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemos por pouco o que nos aflige e interroguemo-nos mutuamente”. (3) Enquanto dizia isto começou a acariciar-me e a beijar-me, mas era tanta a minha confusão que  não me atrevia a devolver-lhe os beijos e as carícias, e Ele acrescentou:

(4) “Como! Eu te reconforto com beijos e carícias, e tu não queres confortar-me dando-me os teus  beijos e as tuas carícias?”

(5) Então eu me senti confiante para pagá-lo com a mesma moeda; e enquanto isso fazia  desapareceu.

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Julho 2, 1900

Com seus sofrimentos, Luisa evita um castigo. 

(1) Continuo sendo amarga e afligida, como uma tola. Esta manhã não tinha vindo Jesus, mas veio  o confessor e pôs a intenção da crucificação. Mas o bendito Jesus não comparecia, e depois de lhe  ter rogado que se dignasse fazer-me obedecer, assim que se fez ver me disse:  (2) “Que queres? Por que me querem fazer violência à força uma vez que é necessário castigar os  povos?”

(3) E eu: “Senhor, não sou eu, é a obediência que o quer”.

(4) E Ele: “Se é a obediência, está bem, quero participar-te minha crucificação e ao mesmo tempo  quero reconfortar-me um pouco”.

(5) Enquanto dizia isto, tive a participação das dores da cruz, e enquanto eu sofria, Jesus pôs-se  ao meu lado e parecia que se consolava um pouco. Agora, enquanto me encontrava nesta posição  junto com Ele, me fez ver no ar, que por uma parte vinha uma nuvem negra, negra, que ao só vê-la  dava terror e espanto, e todos diziam: “desta vez morremos”. Enquanto todos estavam  aterrorizados, levantou-se no meio de Jesus e eu uma cruz resplandecente, que pondo-se contra  aquela borrasca a pôs em fuga em grande parte, tanto que parecia que as pessoas se acalmavam.  Não sei dizer certamente, mas me parece que era um furacão acompanhado de raios e de  granizadas tão fortes, que tinha força para arrancar as construções; e a cruz que a pôs em fuga em

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grande parte, me parecia que era meu pequeno sofrer que Jesus me participou. Seja bendito o  Senhor e tudo seja para sua glória e honra.

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Julho 3, 1900

Castigos com enfermidades contagiosas.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, assim que vi o meu adorável Jesus, disse-lhe: “Meu  amado Senhor, como é que mandas tantos castigos? Por que desta vez você não quer a nenhum  custo aplacar-se? Parece que todos os meios são inúteis, nem rogar, nem dizer “Senhor, derrama  em mim tuas amarguras”. Porém, não foi teu costume agir deste modo!” Enquanto dizia isto, Jesus  bendito interrompendo o meu falar respondeu:

(2) “No entanto, minha filha, os castigos que estou mandando são nada ainda em comparação com  aqueles que estão preparados. Por isso não queiras afligir-te por isto, porque não são matéria de  grande aflição”.

(3) Enquanto dizia isto, diante de mim via muitas pessoas infectadas com enfermidades  contagiosas, que morriam por elas, então, presa de espanto lhe disse: “Ah Senhor! Isso também é  necessário? O que você faz? O que você faz? Se você quiser fazer isso, me tire desta terra, pois  não resiste o ânimo ver espetáculos tão funestos. E além disso, quem poderá resistir continuar  neste estado em que me puseste, de que não vens, ou vens como sombra, e não só isso, senão  que me deixas atordoada, adormecida, que não me fazes entender mais nada? No entanto,  disseste-me que me deixarias assim até que de algum modo desabafasses a tua ira. Agora queres  acrescentar furor a furor, parece que não terminarás por agora, assim que, pobre de mim, pobre de  mim! Quem me dará a força para estar neste estado? Quem poderá resistir?”

(4) Enquanto desafogava minha aflição, Jesus, compadecendo-me disse-me:  (5) “Minha filha, não temas de teu estado de adormecimento, isto diz que assim como Eu estou com as pessoas, como se dormisse, como se não as ouvisse e visse, assim te pus no mesmo  estado. Caso contrário, se você não gosta, eu disse-lhe da outra vez, você quer ser suspensa do  status de vítima?”

(6) E eu: “Senhor, a obediência não quer que aceite a suspensão”.

(7) E Ele: “E bem, que queres de Mim? Fica quieta e obedece”.

(8) Quem pode dizer o quanto sofri? E não só isto, mas me parece que ficaram tão adormecidas  minhas potências internas, que vivo como se não vivesse. ¡ Ah Senhor, tenha piedade de mim, não  me deixe em abandono, em um estado tão lamentável e doloroso!

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Julho 9, 1900

Viver não só para Deus mas em Deus. 

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, e se alguma vez se faz ver é como sombra e raio,  e quase sempre em silêncio. Esta manhã, encontrando-me no máximo da aflição e da torpeza pelo  sono contínuo, assim que me fez ver disse-me:

(2) “Ânimo, minha filha, a alma verdadeiramente minha deve viver não só para Deus, mas em  Deus. Tu procura viver em Mim, porque em Mim encontrarás o receptáculo de todas as virtudes, e passeando no meio delas te alimentarás de seu perfume, tanto de ficar cheia delas, e tu mesma  não farás outra coisa que enviar luz e perfume celestial, porque viver em Mim é a verdadeira  virtude, e tem virtude de dar à alma a mesma forma da Divina Pessoa na qual faz sua morada, e de  transformá-la nas mesmas virtudes divinas das quais se nutre”.

(3) Depois disto como relâmpago desapareceu, e minha alma correndo atrás daquele Relâmpago  se encontrou fora de mim mesma, mas já havia fugido e não me foi dado encontrá-lo de novo, e  sofri a amargura de ver granizadas terríveis que tinham feito grandes estragos, raios que haviam  produzido incêndios e outras coisas que estavam preparadas. Depois de ter visto isto, me encontrei  em mim mesma, mais aflita que antes.

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Julho 10, 1900

Diferença entre viver para Deus e viver em Deus. 

(1) Encontrando-me na mesma confusão, como um relâmpago se fez ver e me fez entender que  não tinha escrito tudo o que Ele me tinha dito ontem, isto é, que a alma não só deve viver para  Deus, mas em Deus. Então o bendito Jesus me repetiu a diferença que há entre o viver para Deus  e o viver em Deus, dizendo-me:

(2) “No viver para Deus, a alma pode estar sujeita às turbações, às amarguras, a ser inconstante, a  sentir o peso das paixões, a misturar-se nas coisas terrenas. Mas no viver em Deus não, tudo é  diferente, porque a coisa principal para fazer que uma pessoa possa entrar a habitar em outra  pessoa, é deixar tudo o que é seu, isto é, despojar-se de tudo, deixar as próprias paixões, em uma  palavra, deixar tudo para encontrar tudo em Deus. Agora, quando a alma não só se despojou, mas  se reduziu muito bem, então poderá entrar pela porta estreita do meu coração a viver em Mim, à  minha maneira e da minha própria vida, porque, se bem que o meu coração seja grandíssimo,  tanto que não há fim aos seus confins, mas a porta é estreita e só pode entrar quem está  despojado de tudo; e isto com razão, porque sendo Eu santíssimo, jamais admitiria a viver em Mim  alguém que fosse estranho a minha Santidade. Por isso minha filha, procura viver em Mim e  possuirás o paraíso antecipado”.

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(3) Quem pode dizer quanto compreendia sobre este viver em Deus? Mas depois desapareceu e  fiquei no mesmo estado.

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Julho 11, 1900

Os sofrimentos de Luisa tornam menos rigorosos os castigos.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão e continuando o mesmo estado de confusão, estava  toda recolhida em mim mesma, quando vi a meu adorável Jesus que vinha depressa para mim  dizendo:

(2) “Minha filha, atenua um pouco minha ira, de outra maneira… !”

(3) E eu, toda assustada, disse: “Que queres que faça para acalmar a tua ira?”  (4) E Ele: “Com chamar em ti os meus sofrimentos virás a aplacar a minha ira”.  (5) Enquanto eu estava nisto, eu via como se chamasse o confessor, enviando um raio de luz, e ele  imediatamente colocou a intenção de me fazer sofrer a crucificação. O Senhor bendito logo  concorreu e eu me encontrei em tantos sofrimentos, que pela força das dores me senti sair a alma  do corpo; quando acreditei que estava a ponto de expirar, e contente de que Jesus recebesse  minha alma, vi ao confessor que com dizer “basta, basta”, me chamava novamente em mim  mesma.

(6) Então Jesus me disse: “A obediência te chama”.

(7) E eu: “Ah, Senhor, quero vir!”

(8) E Jesus: “O que queres de mim? A obediência continua chamando você”.  (9) E assim parece que esta nova obediência não deixou ir mais além os sofrimentos, mas  obediência certamente cruel para mim, porque enquanto me parecia chegar ao porto, fui atirada  fora para navegar o caminho. Depois, embora tenha sofrido, mas já não me sentia a morrer, e o  meu benigno Senhor continuou a dizer-me:

(10) “Minha filha, se você hoje não tivesse acalmado minha ira, teria chegado ao cúmulo, que não  só teria destruído as plantas, mas também os homens, e se o mesmo confessor não se tivesse  interposto chamando novamente em ti meus sofrimentos, Nem sequer teria tido consideração por  ele. É verdade que são necessários os castigos, mas é necessário que de vez em quando, quando  minha ira avançar, você me acalme, do contrário minha filha, quantos flagelos demais mandarei!”  (11) E enquanto dizia isto, parecia-me vê-lo todo cansado, que lamentando-se, agora dizia: “Minha  filha!” e agora: “Meus filhos! Pobres filhos meus, como vos vejo reduzidos!” E com a minha  surpresa fez-me entender que depois de ter-se acalmado um pouco devia voltar a tomar o furor  para continuar os castigos, e que isto tinha servido só para fazer com que não castigasse  demasiado as nações. ¡ Ah Senhor, acalma-te e tem piedade daqueles que Tu mesmo chamas

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“filhos meus”!

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3-95

Julho 14, 1900

O decreto dos castigos está assinado. 

(1) Parece que passei vários dias sem estar imersa na letargia do sono, e estando um pouco perto  de Jesus bendito, dando-nos mutuamente um pouco de alívio. Mas quanto temo que me tenha que  lançar outra vez naquele sono tão profundo. Então esta manhã, depois de me haver reconfortado  com o leite que escorria de sua boca ao derramá-la em mim, e eu o reconfortei tirando-lhe a coroa  de espinhos para cravá-la em minha cabeça, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, o decreto dos castigos está assinado, não resta mais que decidir o tempo de sua  execução”.

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3-96

Julho 16, 1900

Os castigos servem para o bem das criaturas.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus não veio. Depois de muito esperar veio e me disse:  (2) “Minha filha, a melhor coisa é pôr-te em Mim e em Meu Querer, então, pondo-te em Mim, e  sendo Eu paz, ainda que visses mandar castigos ficarias em paz, sem sentir perturbação”.  (3) E eu: “Ah Senhor, estás sempre nisso, nos castigos! Acalma-te de uma vez e não castigues  mais! Além disso, não posso me abandonar em seu Querer nisto”.

(4) E Ele acrescentou: “Não posso me aplacar. O que dirias se visses uma pessoa nua, que, em  vez de cobrir a sua nudez, prestasse atenção a adornar-se com bagatelas, deixando as partes  mais íntimas expostas à nudez?”

(5) E eu: “Ficaria horrorizado de vê-la e certamente desaprovaria”.

(6) E Ele: “Pois bem, assim são as almas, nuas de tudo, não têm mais virtudes que cubram. Por  isso é necessário que as golpeie, castigue-as, as despoje, para fazê-las entrar nelas mesmas e  que se fixem na nudez de suas almas, coisa mais necessária que a do corpo. E se isto não fizesse,  prestaria mais atenção às bagatelas, como a pessoa desaprovada por ti, as quais são coisas que  se referem ao corpo e não prestaria atenção à coisa mais essencial, qual é a alma, a que tornaram

se tão monstruosa que não se reconhece mais.

(7) Depois disto parecia-me que tinha na mão uma pequena couraça, que passando-a por detrás  do pescoço me amarrava e depois amarrava o seu a essa mesma corda, e assim fez ao coração e  às mãos, e com isto parecia que me amarrava toda a seu Querer. Tendo feito isso desapareceu.

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3-97

Julho 17, 1900

Luísa dá um alívio a Jesus. Ele o faz considerar os castigos que evita.

(1) Tendo recebido a comunhão, não via segundo o costume o bendito Jesus. Depois de ter  esperado muito, senti-me a sair de mim mesma e encontrei-o. Assim que o vi, ele me disse:  (2) “Filha, eu estava esperando por você para poder descansar um pouco em você, porque eu não  posso mais. Ah, me dê um alívio!”

(3) Imediatamente o tomei em meus braços para satisfazê-lo, e vi que tinha uma chaga profunda  no ombro, que dava compaixão e horror olhá-la. Então por poucos minutos repousou; depois desse  breve repouso vi e a chaga havia quase curado, e entre a maravilha e o espanto, e vendo-o mais  aliviado, tomei coragem e disse-lhe: “Senhor bendito, meu pobre coração está dilacerado pelo  temor de que já não me ame, temo que tenha incorrido em tua indignação e por isso já não vens  como antes e não derramas mais em mim tuas amarguras, e não me dás mais meu bem, qual é o  sofrer, e negando-me isto vem a negar-me a Ti mesmo. Ah, dá a paz a um pobre coração! Diz-me,  garante-me, jura-me, amas-me? Continuas a amar-me?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sim, amo-te”.

(5) E eu: “Como posso ter certeza disso, quando se sabe que uma pessoa é realmente amada Tudo o que quer recebe? Eu te digo: “não castigues as nações”, e Tu as castigas; te digo,  “derrama em mim tuas amarguras”, e não as derramas, mas parece que desta vez avanças

demasiado nos castigos. Então, onde posso me apoiar para saber que você me ama?” (6) E Ele: “Minha filha, você leva em conta os castigos que mando, mas os que economizo não os  leva em conta. Quantos outros castigos teria mandado, quantos mais massacres e mais sangue  teria feito derramar se não levasse em consideração aqueles poucos que me amam, e que Eu amo  com um amor especial?”

(7) Depois disso, parecia que Jesus tomava o caminho para ir aonde aconteciam destroços de  carne humana, e eu, querendo segui-lo, não me foi dado fazê-lo, e com suma amargura minha me  encontrei em mim mesma.

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3-98

Julho 18, 1900

Os pecados das nações caem sobre elas mesmas, formando a sua ruína. (1) Encontrando-me em meu estado habitual, vi meu adorável Jesus todo aflito dentro de meu  coração, e ao mesmo tempo vi muita gente que cometia muitos pecados, estes pecados tomavam  o vôo para mim para vir a ferir a meu amado Senhor até dentro de meu coração, mas Jesus os

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rejeitava de Si, e caíam sobre as mesmas nações, e caindo sobre Elas formavam sua própria ruína,  mudando-se em tantas espécies de flagelos sobre os povos, que dava horror até aos corações  mais duros. Então Jesus, afligindo-se de tudo me disse:

(2) “Minha filha, até onde chega a cegueira dos homens, pois enquanto tentam me ferir a Mim,  ferem-se eles mesmos com suas próprias mãos”.

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3-99

Julho 19, 1900

Luisa oferece-se para sofrer para evitar o sofrimento aos povos.

(1) Esta manhã, depois de ter estado toda a noite e grande parte da manhã esperando a meu  adorável Jesus, Ele não se dignava vir. Então, cansada de esperá-lo, esforcei-me por sair do meu  habitual estado, pensando que já não era Vontade de Deus. Enquanto me esforçava por sair,  estando quase impaciente, meu benigno Jesus moveu-se dentro de meu coração, fazendo-se ver  apenas e olhando-me em silêncio. Impaciente como estava, disse-lhe: “Meu bom Jesus, como és  cruel! Pode-se dar crueldade maior que esta, de abandonar a uma alma em poder do impiedoso  tirano do amor que a faz viver em agonia contínua? ” Oh, como você mudou, de amante para  cruel!” Enquanto dizia isto, diante de mim via muitos membros de gente mutilada, e por isso  acrescentei: “Ah Senhor, quanta carne humana mutilada! Quanta amargura e tristeza! Que pena!  Não teria sido menos cruel se te tivesses satisfeito neste meu corpo, e o tivesses reduzido a tantos  pedaços por quantos pedaços fizeste estes membros? Não era menor mal ver sofrer uma só que a  tantos pobres povos?”

(2) Enquanto dizia isto, Jesus continuava a olhar-me fixamente, como se ficasse ferido, não sei  dizer se também desgostoso, e me disse:

(3) “No entanto é o princípio do jogo, ainda é nada em comparação do que virá”.  (4) Dito isto se escondeu a minha vista, sem poder vê-lo mais, deixando-me em um mar de amarguras.

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3-100

Julho 21, 1900

Necessidade de purgação.

(1) Depois de ter passado um dia adormecida e tão sonolenta que não sabia de mim mesma, e  tendo recebido a comunhão, me senti saindo de mim mesma, e não encontrando o meu único e  sumo Bem, comecei a girar e girar, chegando ao delírio. Enquanto fazia isso, senti uma pessoa  entre os braços, toda noite, sem poder ver quem era, então, não podendo resistir mais rasguei  aquele véu e vi meu suspirado Tudo. Ao vê-lo senti que queria irromper em reclamações e  desatinos, mas Jesus para acabar com minha impaciência e meu delírio me deu um beijo. Esse

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beijo me infundiu a vida, a calma, acabou com minha impaciência, tanto que não soube dizer nada mais. Então, esquecendo todas as minhas misérias, e tendo muitas, lembrei-me das pobres nações  e disse a Jesus: “Apresse-se, livre tantos povos de destroços tão cruéis; vamos juntos àqueles  lugares onde acontecem tais coisas, a fim de que reanimemos e consolemos aqueles pobres  cristãos que se encontram em estado tão triste”. (

2) E Ele: “Minha filha, não quero levar-te porque teu coração não resistiria ver matança tão  dilacerante”.

(3) E eu: “Ah Senhor, como foi que permitiste isto?”

(4) E Ele: “É absolutamente necessário para a purga em todas as partes, porque no campo  semeado por Mim cresceram tanto as ervas daninhas, os espinhos, que se fizeram árvores, e estas  árvores espinhosas não fazem outra coisa senão inundar meu campo de águas venenosas e  pestilentas, que se alguma espiga se mantém intacta, não recebe outra coisa senão picadas e  fetidez, tanto que não podem germinar outras espigas, primeiro porque lhes falta o terreno,  ocupado por tantas plantas nocivas; segundo, pelos contínuos furos que recebem que não lhes dão  paz. Eis a necessidade da matança, para extirpar tantas plantas más, e o derramamento de  sangue para purgar meu campo das águas venenosas e pestilentas. Por isso não te queiras  entristecer ao princípio, porque não só onde já ordenei os flagelos, mas em todas as outras partes  se necessita a purga”.

(5) Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ouvir este falar de Jesus? Então de novo  insisti que queria ir ver, mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu ficando sozinha  tomei o caminho para ir, mas agora encontrava um anjo que me fazia retroceder, e agora a almas  purgantes, tanto que fui obrigada a retornar em mim mesma.

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3-101

Julho 25, 1900

Em Jesus não há crueldade alguma, senão que tudo é amor. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me fez ver uma máquina onde parecia que muitos  membros humanos foram esmagados, e no ar como dois sinais de castigos que davam terror.  Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ver tudo isto? Mas o bendito Jesus, vendo me tão amarga, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemo-nos por um pouco daquilo que tanto nos aflige e interroguemo-nos com  brincar um pouco juntos”.

(3) Quem pode dizer o que aconteceu entre Jesus e eu neste jogo, as finezas de amor, as  estratagemas, os beijos, as carícias que reciprocamente nos dávamos? Se bem que me  ultrapassava meu amado Jesus, porque eu, sendo débil, me sentia desfalecer, tão é verdade que

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não podendo conter em mim o que Ele me dava tenho dito: “Meu amado, basta, basta, que não  posso mais, eu desfaço, meu pobre coração não é tão grande para ser capaz de receber tanto, por  isso basta por agora”.

(4) Então, querendo me reprovar por falar do outro dia, docemente me disse: (5) “Dizei-me as vossas querelas, dizei-o, dizei-o, sou cruel? O meu Amor para convosco mudou  em crueldade?”

(6) E eu envergonhando-me de tudo disse: “Não Senhor, não és cruel quando vens, mas quando  não vens, então direi que és cruel”.

(7) E Ele sorrindo diante de minhas palavras acrescentou:

(8) “No entanto, você continua dizendo que quando eu não venho eu sou cruel, não, não, em Mim  não pode haver nenhuma crueldade, mas tudo é amor; e você deve saber que se é como você diz,  então o mesmo ser cruel, é amor maior”.

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3-102

Julho 27, 1900

Veja os ataques à Igreja na guerra da China. 

(1) Encontrava-me toda preocupada por meu miserável estado, especialmente de que este não  fosse mais Vontade de Deus, considerando como sinal certo o escasso sofrer e suas contínuas  privações. Enquanto estava consumindo meu pequeno cérebro nisto e esforçando-me em sair  deste estado, meu sempre bom Jesus, como relâmpago se fez ver dizendo-me:

(2) “Minha filha, o que queres que eu faça? Diga-me, Eu farei o que você quer”.  (3) Ante esta proposta tão inesperada não soube o que dizer, sentia tal confusão de que o bendito  Jesus deveria fazer o que eu queria, enquanto que sou eu a que deve fazer o que Ele quer, que  fiquei muda. Então, ao ver que eu não dizia nada, como relâmpago fugiu, e eu, correndo atrás  dessa luz me encontrei fora de mim mesma, mas não o encontrei e girei pela terra, pelo céu, pelas  estrelas, e agora o chamava com a voz, e agora com o canto, pensando entre mim que o bendito  Jesus ao ouvir minha voz e meu canto ficaria ferido e com certeza o encontraria. Agora, enquanto  girava, vi a matança cruel que se continua a fazer na guerra da China, as igrejas demolidas, as  imagens de Nosso Senhor lançadas por terra, e isto é nada ainda, o que me deu mais espanto foi  ver que se agora o fazem os bárbaros, os leigos, depois o farão os falsos religiosos, que  desmascarando e fazendo-se conhecer quem são, unindo-se com os inimigos abertos da Igreja,  darão tal assalto, que parece incrível à mente humana. ¡ Oh, quantas mortes mais cruéis ainda!  Parece que eles juraram entre eles terminar com a Igreja. Mas o Senhor tomará vingança deles  destruindo-os, por isso, sangue por uma parte e sangue pela outra. Então me encontrei dentro de  um jardim que me parecia que era a Igreja, e dentro havia uma multidão de gente sob o aspecto de

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dragões, de víboras e de outros animais enfurecidos, que, devastando aquele jardim e logo saindo  dele, formavam a ruína das nações. Enquanto via isto encontrei o meu amado Senhor nos meus  braços e disse-lhe: “Finalmente deixaste-te encontrar, és tu verdadeiramente o meu amado  Jesus?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sou teu Jesus”.

(5) Eu queria dizer-lhe que livrasse tantas pessoas, mas Ele não me fazendo caso, todo aflito  acrescentou:

(6) “Minha filha, estou bastante cansado, vamos para a cama descansar se queres que me  entretenha contigo”.

(7) E eu, temendo que fosse embora fiz silêncio, fazendo-o dormir. Logo depois reentrado em meu  interior, deixando-me reanimada, sim, mas extremamente aflita.

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3-103

Julho 30, 1900

Luisa detém a espada da Justiça. 

(1) Passei uma noite e um dia inquieto. Desde o princípio me sentia saindo de mim mesma, sem  que pudesse encontrar a meu adorável Jesus; não via mais que coisas que me davam terror e  espanto. Via que na Itália se levantava um fogo e outro que se levantava na China, que pouco a  pouco, unindo-se, se confundiam num só. Neste fogo via o rei da Itália, morto subitamente por  engano, e isto era como que um meio para avivar e engrandecer o fogo. Em suma, via uma  rebelião, um tumulto, uma matança de pessoas. Tendo visto estas coisas senti-me em mim  mesma, e sentia rasgar-me a alma, até me sentir morrer, muito mais que não via a minha adorável  Jesus. Depois de muito esperar se fez ver com uma espada na mão em ato de usá-la sobre as  nações. Eu, toda assustada e sendo um pouco atrevida, peguei a espada com a mão e disse-lhe:  “Senhor, que fazes? Não vê quantas aflições acontecerão se usar esta espada? O que mais me  aflige é que vejo que toma no meio da Itália. Ah Senhor, se apresse! Tenha piedade de suas  imagens! E se você diz que me ama, poupe-me desta terrível dor”. E enquanto isso dizia, detinha a  espada com toda a força que podia. Jesus, dando um suspiro, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, deixa-a, deixa-a cair sobre as nações, porque não posso mais”.  (3) E eu a tomando mais forte: “Não posso deixá-la, não tenho coragem para fazê-lo”.  (4) E Ele: “Não te disse muitas vezes, que sou obrigado a não te fazer ver nada, de outra maneira  não sou livre de fazer o que quero”.

(5) E enquanto isso dizia baixou o braço com a espada e pôs-se em atitude de acalmar-se de sua  ira. Pouco depois desapareceu e eu fiquei com um certo temor, quem sabe e talvez sem me deixar  ver me puxasse a espada e a usasse sobre as pessoas. Oh Deus, que angústia ao só me lembrar!

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Agosto 1, 1900

A Humanidade de Jesus é o espelho da Divindade. Castigos.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo poucas vezes e por pouco tempo. Esta manhã me sentia  toda aniquilada e quase não me atrevia a ir em busca do meu sumo Bem; mas Ele sempre benigno  veio, e querendo me infundir confiança me disse:

(2) “Minha filha, diante de minha Majestade e pureza não há quem possa estar de frente, mas  todos estão obrigados a estar por terra e golpeados pelo fulgor de minha Santidade. O homem  gostaria de quase fugir de Mim, porque é tal e tanta sua miséria, que não tem coragem para  sustentar-se diante do Ser Divino. Então fazendo uso de minha misericórdia assumi minha  Humanidade, a que atenuando os raios da Divindade, é meio para infundir confiança e ânimo ao  homem para vir a Mim, o qual pondo-se de frente a minha Humanidade, que expande raios  atenuados da Divindade tem o bem de poder purificar-se, santificar e até divinizar em minha  própria Humanidade divinizada. Por isso tu estás sempre de frente para a minha humanidade,  tendo-a como espelho no qual purificarás todas as tuas manchas; e não somente isto, mas como  espelho no qual, refletindo, adquirirás a beleza, e pouco a pouco irás adornando-te à semelhança  de Mim mesmo, porque é propriedade do espelho fazer aparecer dentro de si a imagem similar  àquela de quem se olha nele; se assim é o espelho material, muito mais é o divino, porque minha  Humanidade serve ao homem como espelho para olhar para a minha Divindade. Eis por que todos  os bens para o homem derivam da minha Humanidade”.

(3) Ao dizer isto, senti-me confiante, que me veio o pensamento de querer falar-lhe dos castigos,  talvez me ouvisse e fizesse a tentativa de o aplacar completamente. Mas enquanto me dispus a  isto, como raio desapareceu, e minha alma correndo atrás dele se encontrou fora de mim mesma;  mas não o pude reencontrar mais, e com grande amargura minha vi muitas pessoas que iam às  prisões, a outros sectários que saíam para atentar contra outras vidas de reis e de outros chefes;  Via que se consumiam de raiva porque lhes falta o meio para sair entre os povos e fazer matança,  sem dúvida chegará seu tempo. Depois disso eu me encontrei em mim mesma, toda oprimida e  aflita.

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3-105

Agosto 3, 1900

Deus trabalha apenas sobre o nada. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, eu estava desejando e procurando o meu amante  Jesus. Depois de haver esperado longamente, veio e me disse:

(2) “Minha filha, por que me procuras fora de ti, enquanto poderias encontrar-me mais facilmente

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dentro de ti? Quando você quiser me encontrar entre em você, chegue até seu nada e aí, sem  você, no brevíssimo giro de seu nada descobrirá os alicerces que pôs em você e as construções  que levantou em você o Ser Divino. Esforce-se e vá”.

(3) Eu olhei e vi os sólidos alicerces e os muros altíssimos que chegavam até o céu, mas o que  mais me surpreendia era que via que o Senhor tinha feito este grande trabalho sobre meu nada, e  os muros estavam todos fechados, sem nenhuma abertura. Via-se apenas no teto uma abertura  que correspondia ao Céu, e nesta abertura residia nosso Senhor, sobre uma coluna estável que  sobressaía dos alicerces formados sobre o nada. Agora, enquanto estava toda assombrada  olhando, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Os fundamentos formados no nada significam que a mão divina trabalha ali, onde está o nada,  e jamais mistura suas obras com as obras materiais. Os muros sem abertura ao redor, significam  que a alma não deve ter nenhuma correspondência com as coisas terrenas, tanto, que não haja  nenhum perigo que possa entrar nem sequer um pouco de pó, porque tudo está bem fechado. A  única correspondência que estes muros dão é para o Céu, isto é, do nada ao Céu, e do Céu ao  nada, este é o significado da abertura feita no teto. A estabilidade da coluna significa que a alma  está tão estável no bem, que não há vento contrário que a possa mover. E eu que resido sobre  esta, é verdade que a obra feita é toda divina”.

(5) Quem pode dizer o que compreendia sobre isto? Mas minha mente se perde e não sabe dizer  nada. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória e honra.

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3-106

Agosto 9, 1900

Tudo o que se quer e deseja, deve-se querer e desejar porque Deus o quer.  (1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de esperá-lo muito, assim que se fez ver  me disse:

(2) “Assim como um instrumento musical soa agradável ao ouvido de quem o escuta, assim seus  desejos, suas esperas, seus suspiros, suas lágrimas, ressoam a meu ouvido como uma música das  mais agradáveis. Mas para fazer com que desça mais doce e agradável, quero ensinar-te outro  modo, isto é, desejar-me não como desejo teu, mas como desejo meu, porque Eu amo  grandemente manifestar-me contigo. Em suma, tudo o que você quer e deseja, você deve querer e  desejar porque eu quero Eu, isto é, levá-lo de dentro de Mim e torná-lo seu. Assim será mais

agradável tua música a meu ouvido, porque é música saída de Mim mesmo”.  (3) Depois ele adicionou: “Tudo o que sai de Mim entra em Mim, é por isso que os homens se  lamentam que não obtêm tão facilmente o que me pedem, porque não são coisas que saem de Mim, e não sendo coisas que saem de Mim, não é tão fácil que entrem em Mim e saiam depois

para dar-se a eles, porque sai de mim e entra em mim tudo o que é santo, puro e celestial. Então

por que se surpreender se a audiência está fechada se o que pedem não é assim? Por isso você

tenha em mente que tudo o que sai de Deus entra em Deus”.

(4) Quem pode dizer o que compreendia sobre estas palavras? Mas não tenho palavras para me

poder explicar. ¡ Ah Senhor, dá-me a graça de que possa pedir tudo o que é santo e que seja

desejo e Vontade tua, assim poderás comunicar-te comigo mais abundantemente!

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3-107

Agosto 19, 1900

O amor estéril e o amor obrante

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu amado Jesus fez-se ver em ato de querer

instruir-me, e pondo como um exemplo me disse:

(2) “Minha filha, se um jovem tomasse esposa, e ela, levada de amor a ele, quisesse estar sempre

junto a ele, sem separar-se nem um momento, sem prestar atenção às outras coisas que

correspondem a uma esposa para fazer feliz a este jovem, o que diria ele? Agradeceria o amor

dela, mas certamente não estaria contente de sua conduta, porque este modo de amar não seria

mais que um amor estéril, infecundo, que causaria dano a esse pobre jovem em vez de bem, e

pouco a pouco este estranho amor produziria incômodo em vez de gosto, porque toda a satisfação

deste amor é da jovem. E como o amor estéril não tem lenha para fomentar o fogo, muito logo se

reduziria a cinzas, porque só o amor obrante é duradouro, os demais amores, como fumaça se

dissipam no ar, e depois se chega ao aborrecimento, a não levar em conta e talvez a desprezar o

que tanto se amava.

(3) Assim é a conduta das almas que prestam atenção somente a si mesmas, isto é, à sua

satisfação, aos fervores e a tudo o que lhes agrada, dizendo que isto é amor por Mim, enquanto

tudo é satisfação delas, porque se vê com os fatos que não põem atenção aos meus interesses e

às coisas que me pertencem, e se chega a faltar o que lhes satisfaz, não põem mais atenção de

Mim, e chegam até a me ofender. Ah! filha, só o amor obrante é o que distingue os verdadeiros

dos falsos amantes, porque todo o resto é fumaça”.

(4) Enquanto dizia isto, via pessoas e como se eu quisesse prestar atenção a elas, mas Jesus

distraiu-me ao dizer-me:

(5) “Não queiras intrometer-te nos atos alheios, deixemo-los fazer, porque cada coisa tem o seu

tempo. Quando for o tempo do juízo, então será o tempo de discernir todas as coisas, porque criá-

las muito bem virá a conhecer o grão, as palhas e a semente estéril e nociva. Oh, quantas coisas

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que parecem grão se encontrarão naquele dia como palhas e sementes estéreis, dignas só de

serem lançadas ao fogo!”

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3-108

Agosto 20, 1900

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então depois de muito esperar, quando meu pobre

coração não podia mais, fez-se ver desde dentro de meu interior e me disse:

(2) “Minha filha, não queiras afligir-te porque não me vês, porque estou dentro de ti, e daqui, por

meio de ti estou vendo o mundo”.

(3) Depois continuou a fazer-se ver de vez em quando, sem me dizer mais nada.

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3-109

Agosto 24, 1900

Tudo se torna bem para quem verdadeiramente ama a Jesus.

(1) Tendo passado um dia inquieta, sentia-me toda cheia de tentações e pecados. Oh! Meu Deus,

que pena te ofender! Fazia quanto mais podia por estar em Deus, por me resignar a seu santo

Querer, para oferecer por amor seu esse mesmo estado inquieto, para não lhe pôr atenção ao

inimigo mostrando-me com suma indiferença, a fim de que não o incitasse eu mesma a me tentar

maioritariamente, mas com tudo isto não podia fazer menos que ouvir o murmúrio que o inimigo

suscitava ao meu redor. Então, encontrando-me em meu habitual estado, não me atrevia a desejar

ao meu amado Jesus, tão feia e miserável me via. Mas Ele sempre benigno com esta pecadora,

sem que eu o pedisse veio, e como se compadecia de mim, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas. Não sabe você que certas águas frias e impetuosas são mais

potentes para purificar de qualquer mancha mínima que o mesmo fogo? E além disso, tudo se

converte em bem para quem verdadeiramente me ama”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me reanimada, sim, mas fraca, como se tivesse sofrido uma

febre.

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3-110

Agosto 30, 1900

Luisa vai ao purgatório para aliviar o falecido rei da Itália.

(1) Havendo passado alguns dias de privação e de amargura, em que no máximo vi Jesus alguma

vez como sombra e relâmpago. Esta manhã encontrei-me no máximo da amargura, e não só isso,

senão como se tivesse perdido a esperança de voltar a vê-lo. Depois de ter recebido a comunhão

me parecia que o confessor colocava a intenção da crucificação, então o bendito Jesus para fazer-

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me obedecer se mostrou e me participou suas penas. Enquanto isso, vi a Rainha Mãe, que me

tomando me oferecia a Ele a fim de que se acalmasse. E Jesus, tendo consideração da Mãe,

aceitou o oferecimento e parecia que se acalmava um pouco. Depois disto, a Mãe Rainha me

disse:

(2) “Queres ir ao purgatório para aliviar o rei das penas horríveis em que se encontra?”

(3) E eu: “Minha mãe, como Tu quiseres”.

(4) Num instante me tomou, e me transportou a um lugar de suplícios atrozes, todos mortais. Ali

estava aquele miserável, que de um suplício passava ao outro, parecia que por quantas almas se

haviam perdido por sua causa, outras tantas mortes ele devia sofrer. Então, depois de ter passado

eu por alguns daqueles suplícios, ele ficou um pouco mais aliviado e a Mamãe Rainha me tirou

desse lugar de penas e me encontrei em mim mesma.

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3-111

Agosto 31, 1900

Nas almas interiores não pode estar a perturbação.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual e não vindo meu adorável Jesus, estava toda afligida

e um pouco pensativa sobre o por que não vinha. Depois de muito esperar e esperar veio, e vendo

que de suas mãos brotava sangue, pedi-lhe que de sua mão esquerda derramasse sangue sobre o

mundo em proveito dos pecadores que estavam para morrer e em perigo de se perder, e da mão

direita que derramasse o seu sangue no purgatório; e Ele, ouvindo-me com brandura, sacudiu e

derramou o seu sangue sobre uma e outra parte. Depois disto me disse:

(2) “Minha filha, nas almas interiores não pode estar a perturbação, e se esta entra é porque a alma

sai de si mesma, e fazendo isto faz de verdugo a si mesma, porque saindo fora dela se apega a

tantas coisas que vê e que não são Deus, e às vezes nem sequer coisas que se referem ao

verdadeiro bem da alma, por isso regressando em si mesma e levando coisas que lhe são

estranhas, tortura-se por si mesma e com isto vem a adoecer a si mesma e à graça. Por isso,

esteja sempre em você mesma e estará sempre em calma”.

(3) Quem pode dizer como compreendia com clareza, e como encontrava a verdade nestas

palavras de Jesus? Ah Senhor, se te dignas instruir-me, dá-me graça para aproveitar teus santos

ensinamentos, de outra maneira tudo será para minha condenação!

+ + + +

3-112

Setembro 1, 1900

A obediência põe a paz entre Deus e a alma.

(1) Continuando Jesus sem vir, estava eu dizendo: “Meu bom Jesus, vem, não me faças esperar

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tanto, esta manhã não tenho vontade de me inquietar e de te buscar até chegar a cansar-me. Vem

de uma vez, logo, pronto, assim, pela boa”. E vendo que não vinha continuava dizendo: “Vê-se que

queres que me canse e que chegue até me inquietar, de outra maneira não vens”.

(2) Enquanto isso e outros desatinos dizia, Jesus veio e me disse:

(3) “Você me saberia dizer o que mantém a correspondência entre a alma e Deus?”

(4) E eu, mas sempre com uma luz que vinha dele eu disse: “A oração”.

(5) E Jesus, aprovando o que eu disse, acrescentou: “Mas o que atrai Deus a conversas familiares

com a alma?”

(6) E eu não sabia responder, mas logo a luz se moveu em minha inteligência e disse: “Se a oração

vocal serve para manter a correspondência, certamente a meditação interior deve servir de

alimento para manter a conversa entre Deus e a alma”.

(7) Ele, contente com isto, respondeu: “Agora, saberias tu dizer-me quem quebra as doces

controvérsias, quem tira os amorosos zangados que podem surgir entre Deus e a alma?”

(8) E eu ao não responder, Ele mesmo disse:

(9)”Minha filha, só a obediência tem este ofício, porque ela sozinha decide as coisas relacionadas

entre a alma e Eu, e surgindo controvérsias, ou algum enfado para mortificar a alma, ao chegar a

obediência rompe as contendas, tira as zangas e põe paz entre Deus e a alma”.

(10) E eu: “Ah! Senhor, muitas vezes parece que tampouco a obediência quer tomar o incômodo e

fica indiferente, e a pobre alma é obrigada a estar naquele estado de controvérsias e de raiva”.

(11) E Jesus: “Isto o faz por um certo tempo, querendo também ela agradar-se em assistir a essas

amáveis controvérsias, mas depois toma seu ofício e pacifica tudo. Assim, a obediência coloca a

paz entre a alma e Deus”.

(12) Dito isto, desapareceu.

+ + + +

3-113

Setembro 4, 1900

A impureza e as boas obras feitas imperfeitamente,

são alimento repugnante para Jesus.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma,

fazendo-me parecer extremamente aflito e amargo. Então lhe pedi que derramasse em mim suas

amarguras, mas Jesus não me dava ouvidos, mas insistindo, depois de muito tempo se agradou

em derramá-las. Depois de ter derramado um pouco de amargura lhe perguntei: “Senhor, não te

sentes melhor agora?”

(2) E Ele: “Sim, mas não foi o que derramei que me causou tanta pena, mas um alimento

nauseante e insípido que não me deixa repousar”.

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(3) E eu: “Derrama um pouco em mim, assim te aliviarás um pouco”.

(4) E Ele: “Se não posso digeri-lo e suportá-lo Eu, como o poderás tu?”

(5) E eu: “Sei que a minha fraqueza é grande, mas Tu me darás graça e força, e assim terei êxito

em contê-lo em mim”. Compreendia que esse alimento nauseante eram as impurezas, o insípido,

as boas obras mal feitas, todas deterioradas, que a Nosso Senhor são bem de aborrecimento, de

peso e quase desdenha recebê-las, porque não podendo suportá-las quer atirá-las de sua boca.

Quem sabe quantas das minhas estavam ali! Então, como obrigado por mim derramou também um

pouco daquele alimento. Quanta razão tinha Jesus, que era mais tolerável o amargo que aquele

alimento nauseante e insípido! ” Se não fosse por seu amor, a nenhum custo o teria aceitado!

(6) Depois disto, o bendito Jesus pôs-me o braço atrás do pescoço, e apoiando a sua cabeça sobre

o meu ombro pôs-se em atitude de repousar. Enquanto repousava encontrei-me num lugar onde

havia por piso muitas tábuas móveis, e abaixo o abismo. Eu, temendo precipitar-me, despertei-o,

invocando a sua ajuda, e Ele disse-me:

(7) “Não temas, é o caminho que todos percorrem. Não é preciso outra coisa que toda a atenção, e

como a maior parte caminham distraídos, esta é a causa pela qual muitos se precipitam ao abismo,

e poucos são o que chegam ao porto da salvação”.

(8) Depois disto desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma.

Graças a Deus!

Nihil obstat

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Bispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

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I.M.I.

1 de Novembro de 1899

Purificação da Igreja. As almas vítimas são o seu sustento

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma igreja, e ali estava um sacerdote que celebrava o divino sacrifício, e enquanto isso fazia chorava amargamente e dizia: “A coluna da minha Igreja não tem onde apoiar-se”.

(2) No momento em que dizia isto vi uma coluna, cujo cume tocava o céu, e abaixo desta coluna estavam sacerdotes, bispos, cardeais e todas as outras dignidades que sustentavam essa coluna, mas com minha surpresa, ao olhar vi que destas pessoas, quem era muito fraco, quem era meio acabado, quem era doente, quem era cheio de lama; escassíssimo era o número daqueles que se encontravam em estado de sustentá-la, assim que esta pobre coluna, tantas eram as sacudidas que recebia por baixo, que cambaleava sem poder estar firme. Até acima desta coluna estava o Santo Padre, que com correntes de ouro e com os raios que despedia de toda sua pessoa, fazia quanto mais podia para sustentá-la, para acorrentar e iluminar as pessoas que moravam na parte baixa, Embora alguma escapasse para ter mais oportunidade de degradar-se e enlamear-se , e não só a estas pessoas mas que tratava de atar e iluminar a todo o mundo.

(3) Enquanto eu via isto, aquele sacerdote que celebrava a missa (embora tenha dúvidas se e sacerdote ou Nosso Senhor, parece-me que era Ele, mas não sei dizer com certeza), chamou-me junto a Ele e disse-me:

(4) “Minha filha, olha em que estado lamentável se encontra minha Igreja, as mesmas pessoas que deviam sustentá-la, desfalecem, e com suas obras a abatem, golpeiam-na, e chegam a denegri-la. O único remédio é que faça derramar tanto sangue, até formar um banho para poder lavar esse purulento lodo e curar suas profundas chagas, para que sanadas, reforçadas, embelezadas por esse sangue, possam ser instrumentos hábeis para mantê-la estável e firme”. Depois acrescentou: “Chamei-te para te dizer: Queres tu ser vítima e assim ser como uma escora para segurar esta coluna em tempos tão incorrigíveis?”.

(5) Eu, em princípio, senti um arrepio correr por medo, e porque possivelmente não teria a força, mas logo me ofereci e pronunciei o Fiat. Enquanto estava nisto, encontrei-me rodeada por muitos santos, anjos e almas purgantes que com flagelos e outros instrumentos me atormentavam; e eu, embora no princípio sentisse temor, mas depois, quanto mais sofria, tanto mais me vinha o desejo de sofrer e saboreava o sofrer, como um dulcíssimo néctar. E muito mais porque me veio um pensamento: “Quem sabe se essas penas pudessem ser meios para consumir a vida, e assim poder empreender o último vôo para meu sumo e único Bem”. Mas com muita pena, depois de ter sofrido acerbas penas, vi que essas penas não me consumiam a vida. Ó Deus, que pena, que esta frágil carne me impeça de unir-me com meu Bem Eterno!

(6) Depois disto, vi o massacre sangrento que se fazia daquelas pessoas que estavam debaixo da coluna. Que horrível catástrofe! Escassíssimo era o número dos que não caíam vítimas, chegavam a tal atrevimento, que tentavam matar o Santo Padre. Mas depois parecia que aquele sangue derramado, aquelas sangrentas vítimas destroçadas, eram meios para fazer fortes aqueles que ficavam, de modo que sustentavam a coluna sem fazê-la balançar mais. ” Oh, que dias felizes!. Depois disso despontavam dias de triunfos e de paz, a face da terra parecia renovada, a coluna adquiria seu primeiro brilho e esplendor. ¡ Oh dias felizes, de longe eu vos saúdo, pois tanta glória dareis à Igreja e tanto honra a Deus que é sua Cabeça!

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03 de Novembro de  1899

 Jesus entretenimento com Luisa.

(1) Esta manhã meu amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, dentro de uma igreja e desapareceu, e eu fiquei sozinha. Agora, encontrando-me diante da presença do Santíssimo Sacramento, fiz a minha habitual adoração, mas enquanto fazia isto, parecia que me tinha virado todos os olhos para ver se podia descobrir o meu doce Jesus. Enquanto estava nisto, vi-o sobre o altar, como criança, que me chamava com sua graciosa mãozinha. Quem pode dizer o meu contentamento?

Voei a Ele, e sem pensar em outra coisa, o apertei entre meus braços e o beijei, mas no momento de fazer isto tomou um aspecto sério, e mostrava que não lhe agradam meus beijos e começou a me rejeitar. Eu, não levando em conta isto, continuei e lhe disse: “Meu querido, belo, no outro dia Você quis desabafar comigo com beijos e abraços, e eu te dei toda a liberdade; hoje Quero com você desabafar também eu, ah, me dê a liberdade”. Mas Ele continuava me rejeitando, e vendo que eu não cessava desapareceu. Quem pode dizer o quão mortificada e pensativa fiquei ao me encontrar em mim mesma? Mas depois de um pouco voltou, e eu lhe pedia perdão por minhas impertinências; me perdoou querendo Ele desafogar comigo, e enquanto me beijava me disse:

(2) “Amada de meu coração, minha Divindade habita em ti habitualmente, e à medida que tu vais inventando novas coisas para me deleitar contigo, assim Eu, para estar à par, uso novos modos para fazer você se deleitar Comigo”.

(3) Com isso eu entendi que era uma brincadeira que Jesus queria fazer.

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04 de Novembro de 1899

Efeitos diferentes entre a presença de Jesus e a do demônio.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, o demônio tratava de tomar seu aspecto e fazerse ver, mas eu não advertindo os habituais efeitos, comecei a duvidar e persegui-me com a cruz, primeiro eu e depois a ele, e o demônio vendo-se perseguido tremia; Imediatamente o rejeitei de mim sem olhar para ele. Pouco depois veio meu amado Jesus, e temendo que fosse outra vez o espírito maligno, tratava de rechaçá-lo e invocar a ajuda de Jesus e da Rainha Mãe, mas Ele para assegurar-me que não era o demônio me disse:

(2) “Minha filha, para te assegurar se sou Eu, ou não sou Eu, tua atenção deve estar nos efeitos internos, se se movem a virtude ou a vício, já que como minha natureza é virtude, de nenhuma outra Eu faço herdeiros dos meus filhos, mais do que da virtude. Isto você pode compreender também na natureza humana, que sendo carne, acontece que se tem alguma chaga, a carne se muda em pus e se pode dizer que não é mais carne; assim minha natureza, se minimamente pudesse reter em si a sombra do vício, cessaria de ser aquele Deus que é, o que não pode acontecer jamais”.

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06 de Novembro de 1899

Pureza de intenção.

(1) Esta manhã, tendo vindo o adorável Jesus e transportando-me para fora de mim mesma, fezme ver ruas cheias de cadáveres. ¡ Que cruel carnificina! dá horror pensar. Depois fez-me ver que acontecia uma coisa no ar e muitos morriam de improviso; vi isso também no mês de Março. Eu comecei, segundo meu costume, a rogar-lhe que se acalmasse e que livrasse a suas mesmas imagens de suplícios tão cruéis, de guerras tão sangrentas, e como tinha a coroa de espinhos a tirei para que eu a colocasse, e isto para aplacá-lo principalmente; Mas com grande tristeza vi que quase todos os espinhos estavam quebrados na sua cabeça santíssima, de modo que pouco me restava para sofrer a mim. Jesus se mostrava severo; quase sem me prestar atenção o que significava aquilo, para romper esse ar severo que tinha lhe disse: “Dulcíssimo amor meu, te ofereço estes movimentos de meu corpo que Tu mesmo me fizeste e todos os demais que possa eu fazer, com o único fim de te agradar e te glorificar. Ah sim, quero que também os movimentos das pálpebras, os de meus olhos, de meus lábios e de toda eu mesma sejam feitos com o único fim de te agradar só a Ti. Faze, ó bom Jesus, que todos os meus ossos, os meus nervos, ressoem entre eles e com clara voz te atestem o meu amor”.

(2) E Ele me disse: “Tudo o que se faz com a única finalidade de me agradar, resplandece Diante de mim de uma maneira tal, que atrai meus olhares divinos, e me agrada tanto, que a essas ações, embora fossem só um movimento de cílios, lhes dou o valor como se fossem feitas por Mim. Em troca as outras ações, que em si mesmas são boas e ainda grandes, não feitas unicamente para Mim, são como esse ouro enlameado e cheio de ferrugem que não resplandece, e Eu não me digno nem sequer olhá-las”.

(3) E eu: “Ah Senhor, que fácil é que o pó suje nossas ações”.

(4) E Ele: “Não se necessita prestar atenção ao pó, porque este se agita, ao que há que atender é a intenção”.

(5) Agora, enquanto isso se dizia, Jesus se ocupava em atar-me os braços. Eu lhe disse: “Senhor, que fazes?”

(6) E Ele: “Faço isto porque Tu estando na posição da crucificação me aplacas, e como Eu quero punir as pessoas Eu estou amarrando-os a você“.

(7) E disse isso desapareceu.

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10 de Novembro de 1889

A obediência ao confessor.

(1) Depois de ter passado alguns dias em contenda com Jesus, porque eu queria ser desatada e Ele não queria, agora se fazia ver que dormia, agora me impunha silêncio; finalmente esta manhã, enquanto o vi, Via o confessor que me ordenava absolutamente que me fizesse desatar por Jesus, e isto mais de uma vez, mas Jesus não fazia caso, e eu obrigada pela obediência lhe disse: “Meu amável Jesus, quando te opuseste à obediência? Não sou eu que quero ser desatada, é o confessor que quer que me faças sofrer a crucificação, por isso rende-te a esta virtude tão predileta por Ti, que entretém toda a tua vida, e formou o último elo, unindo tudo em um o sacrifício da cruz”.

(2) E Jesus: “Tu queres fazer-me violência tocando-me esse elo que uniu a Divindade e a humanidade, e formou um só elo, que é a obediência”.

(3) E, enquanto isto dizia, assumiu o aspecto de Crucificado e, quase forçado pelo poder sacerdotal, tive a participação das dores da crucificação. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória. Assim parece que fiquei desatada.

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11 de Novembro de 1899

A obediência impede-a de se ajustar à justiça.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e me parecia que girava pela terra. ¡¡ Oh, como estava inundada por todo tipo de iniquidades, dá horror pensar! Agora, enquanto eu girava, cheguei a um ponto e encontrei um sacerdote de vida santa, e em outro ponto uma virgem de vida pura e santa. Nos unimos os três e começamos a falar sobre os tantos castigos que o Senhor está enviando e tantos outros que tem preparados. Eu lhes disse: “E vós, que fazeis? Acaso vos conformastes à divina justiça?” E Ele:

(2) “Vendo a extrema necessidade destes tristes tempos, e que o homem não se renderia nem que viesse um apóstolo, nem se o Senhor enviasse a outro São Vicente Ferrer, que com milagres e sinais portentosas o pudesse induzir à conversão é mais, vendo que o homem chegou a tal obstinação e a uma espécie de loucura, que a mesma força dos milagres o tornaria mais incrédulo, então, obrigados por esta premente necessidade, pelo bem deles e para deter este mar purulento que inunda a face da terra, e para glória do nosso Deus tão ultrajado, conformamo-nos à justiça, só estamos rogando e oferecendo-nos vítimas para fazer que estes castigos sirvam para a conversão dos povos. E tu, que fazes? Não te conformaste conosco?”

(3) E eu: “Ah não, não posso, porque a obediência não quer, embora Jesus queira que me uniforme, mas como a obediência não quer, deve prevalecer sobre tudo, devo estar sempre em oposição com Jesus bendito, o que me aflige muito”.

(4) E Ele: “Quando há obediência, certamente não precisa aderir”.

(5) Depois disto, encontrando-me em mim mesma, assim que vi o amadíssimo Jesus quis saber de que parte eram aquele sacerdote e aquela virgem, e Ele me disse que eram do Peru.

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12 de Novembro de 1899

Luisa evita alguns castigos

(1) Esta manhã, o amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, e via como se eu devesse mover-se do céu uma coisa e tocar a terra. Fiquei tão espantada que gritei e disse: “Ah, Senhor, que fazes? Quanta ruína haverá se isto acontecer. Me diz que me ama muito e quer me assustar, viu, não? não faça, não, não, não pode fazer, porque eu não quero”. E Jesus, compadecendo-me, disse-me:

(2) “Minha filha, não tenhas medo. Além disso, quando queres que eu faça algo? Não devo Deixar-te ver nada quando castigo as pessoas, senão amarras-me por todo o lado. E bem, fortificarei teu coração com força, e farei surgir dele como um tronco para poder manter firme o que tu vês, e depois derramarei em ti tantas graças, de modo de poder me nutrir Eu e meus filhos”.

(3) Enquanto estava nisto saiu de dentro de meu coração como um tronco, e no topo como dois ramos em forma de forquilha, que elevando-se no ar tomava pela metade o que estava por mover-se, e assim ficava detida; só num ponto longínquo parecia que tocava a terra. Depois me encontrei em mim mesma e lhe implorei que se aplacara, e parecia que rendia-se, tanto que me participou as dores da cruz, e desapareceu.

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13 de Novembro de 1889

Jesus sofre ao ver sofrer as criaturas. Luisa se oferece para consolá-lo.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus parecia inquieto, não fazia outra coisa que ir e vir, agora se entretia comigo, agora quase atraído por seu ardente amor pelas criaturas ia ver o que faziam, e tudo se lamentava pelo que sofriam, como se Ele mesmo e não elas estivesse sofrendo. Muitas vezes vi o confessor, que com seu poder sacerdotal obrigava Jesus a fazer-me sofrer suas penas para poder aplacá-lo, e Ele, enquanto parecia que não queria ser aplacado, depois mostrava-se contente e agradecia de coração a quem se ocupava em sustentar seu braço indignado, e agora me participava um sofrimento e agora outro. Oh, como era terno e comovedor vê-lo neste estado! Fazia destroçar o coração de compaixão. Muitas vezes me disse:

(2) “Conforme-se a minha Justiça, que não posso mais. Ah! o homem é muito ingrato e quase me obriga por toda parte a castigá-lo, arranca-me ele mesmo das minhas mãos os castigos. Se você soubesse quanto sofro ao fazer uso de minha justiça, mas é o próprio homem que me faz violência! Ah! se não tivesse feito outra coisa que comprar a preço de sangue sua liberdade, mesmo assim deveria ser agradecido Comigo; mas o homem, para me fazer maior agravo vai inventando novas maneiras para fazer inútil meu desembolso”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente, e eu para consolá-lo eu disse: “Doce Bem meu, não te aflijas, vejo que a tua aflição é maior porque te sentes obrigado a punir as pessoas. Ah não, não seja jamais! Se Tu és tudo para mim, eu quero ser toda para Ti, assim que sobre mim manda os flagelos, aqui está a vítima sempre disposta e à tua disposição, podes fazer-me sofrer o que 10 quiseres e assim ficará tua justiça de algum modo aplacada, e Tu aliviado da aflição que sentes ao ver as criaturas sofrerem. Foi sempre esta a minha intenção ao não me conformar à justiça, porque sofrendo o homem sofrerás mais Tu do que Ele mesmo”.

(4) Enquanto isso eu estava dizendo que a nossa Rainha Mãe veio, e eu me lembrei que, tendo pedido ao confessor a obediência de me conformar com a justiça, ele tinha me dito para perguntar à Virgem Santíssima se eu queria me uniformizar. Eu disse-lhe e ela disse-me: “Não, não, reza antes minha filha, e nestes dias trata por quanto mais possas ter a Jesus junto contigo e aplacá-lo, porque muitos castigos estão preparados”.

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17 de Novembro de 1899

O poder sacerdotal deve coincidir com a vítima.

(1) Continua meu amável Jesus fazendo-se ver afligido. Esta manhã junto com Ele veio a nossa Rainha Mãe, e me parecia que Ela me trazia a fim de que o aplacasse e lhe rogasse junto com Ela que me fizesse sofrer a mim para livrar as pessoas, e me disse que se nestes dias passados não me tivesse interposta, e o confessor não tivesse feito uso do poder sacerdotal para concorrer com as suas intenções de me fazer sofrer, muitas catástrofes teriam acontecido. Enquanto eu estava nisto, vi o confessor, e eu imediatamente implorei por ele a Jesus e à Rainha Mãe, e Jesus disse todas as benignidades:

(2) “À medida que eu levar em conta os meus interesses, com o pedir-me e também com empenho em renovar a intenção de te fazer sofrer, a fim de livrar as nações, assim tomarei cuidado dele e o livrarei. Eu estaria disposto a fazer este pacto com ele”.

(3) Depois disto fiz por olhar para o meu doce e único Bem, e vi que em suas mãos tinha dois raios, em um continha como preparado um forte terremoto e uma guerra; no outro muitos tipos de mortes imprevistas e doenças contagiosas. Eu comecei a rogar-lhe que jogasse sobre mim aqueles raios, e quase os queria tirar de suas mãos, mas Ele para não me deixar chegar a isto, começou a afastar-se de mim, eu procurava segui-lo e por isso encontrei-me fora de mim mesma; Jesus desapareceu e eu fiquei sozinha.

(4) Agora, encontrando-me sozinha virei um pouco e cheguei a um lugar onde nesta estação fazem a ceifa, parecia que ali havia ruídos de guerra e eu queria ir para ajudar a essas pobres gentes, mas os demônios impediam-me de ir aonde estavam por acontecer tais coisas, e me batiam para que não pudesse ajudar, nem tampouco impedir seus artifícios, e usaram tanta força que me fizeram retroceder.

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19 de Novembro de 1899

Males da soberba.

(1) Continua a vir meu adorável Jesus, e como minha mente, antes de que viesse estava pensando em certas coisas que me havia dito em anos passados, e que não recordo bem, Ele, como para me lembrar disse:

(2) “Minha filha, a soberba roe a graça. Nos corações dos soberbos não há outra coisa que um vazio todo cheio de fumaça, que produz a cegueira. A soberba não faz mais que fazer de si mesmo um ídolo, assim que a alma soberba não tem o seu Deus consigo; com o pecado procurou destruílo em seu coração, e levantando um altar nele, se põe em cima e se adora a si mesmo”.

(3) Oh! Deus, que monstro abominável é este vício, a mim me parece que se a alma está atenta a não deixá-lo entrar nela, estará livre de todos os outros vícios, mas se por sua desventura se deixa dominar por ele, como é mãe monstruosa e má, lhe parirá todos seus filhos díscolos, os quais são os outros pecados. Ah Senhor, mantenha-a longe de mim!

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21 de Novembro de 1899

 Jesus quer deleitar-se olhando-se em Luisa, e ela é auxiliada pela Santíssima Virgem

(1) Esta manhã meu caríssimo Jesus, mal veio me disse:

(2) “Minha filha, todo o teu deleite deve ser contemplar-te em Mim, e se isto o fazes sempre, Tomarás em ti todas as minhas qualidades, a minha fisionomia, as minhas próprias linhas, e Eu encontrarei em correspondência todo o meu gosto e sumo contente em deleitar-me olhando-me em ti”.

(3) Dito isto desapareceu, e eu estava ruminando em minha mente essas palavras, quando de improviso voltou, colocou sua santa mão na minha cabeça e voltando minha cara para Ele acrescentou:

(4) “Hoje quero me deleitar um pouco olhando para mim em você”.

(5) Um estremecimento me correu por todo o corpo, um espanto de me sentir morrer porque via que me olhava fixo, fixo, querendo deleitar-se em meus pensamentos, olhares, palavras e em todo o resto, com o contemplar-se em mim.  Oh Deus! Sou causa de deleite ou de amargura? Ia repetindo em meu interior. Enquanto estava nisto veio nossa amada Mãe Rainha em minha ajuda, trazendo uma vestidura branca entre as mãos, e toda amabilidade me disse:

(6) “Filha, não temas, quero suprir Eu mesma por ti vestindo-te com minha inocência, para que assim meu Filho ao contemplar-se em ti possa encontrar o maior deleite que se possa encontrar em uma criatura humana”.

(7) Então vestiu-me com essa vestidura e apresentou-me ao meu amado Bem Jesus dizendo-lhe:

(8) “Amada Filha, aceita-a por consideração a Mim e aceita-te nela”.

(9) Assim me tirou todo temor e Jesus se deleitou em mim e eu Nele.

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24 de Novembro de 1899

Luisa quer receber as amarguras de Jesus.

(1) Esta manhã o meu doce Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma. Agora, como tenho visto tudo cheio de amargura, pedi-lhe e voltei a pedir-lhe que a derramasse em mim, mas, porque lhe roguei, não consegui obter que vertesse em mim suas amarguras, e conforme me aproximava de sua boca para recebê-las saía um hálito amargo. Enquanto fazia isto via um sacerdote que morria, mas não sabia bem quem era, e como tinha a intenção de rezar por um sacerdote doente, não o reconhecendo me confundi se era ele ou algum outro. Então eu disse a Jesus: “Senhor, o que fazes? Não vês quanta falta de sacerdotes há em Corato, e queres tirar-nos outros?” Jesus não me dando atenção e ameaçando com a mão dizia:

(2) “Eu os destruirei demais”.

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26 de Novembro de 1899

Complacência da Santíssima Trindade diante do sofrimento de Luísa.

(1) Encontrando-me no meio de grandes sofrimentos, meu amável Jesus veio e me pôs o braço por detrás do pescoço, em ato de me segurar. Agora, estando perto d’Ele comecei a fazer minhas habituais adorações a todos os seus santos membros, começando por sua sacratíssima cabeça. No momento em que fazia isto, disse-me:

(2) “Amada minha, tenho sede, tira-me a sede com o teu amor, que não resisto mais”.

(3) E tomando aspecto de menino pôs-se em meus braços e pôs-se a mamar, parecia que sentia um gosto grandíssimo e ficava tudo confortado e acalmava sua sede. Depois disto, querendo brincar comigo, com uma lança que tinha na mão me trespassava o coração de lado a lado. Eu sentia uma dor terrível, mas oh! como estava contente de sofrer, especialmente porque eram as mesmas mãos de meu só e único Bem as que me davam o sofrer, e o incitava a me rasgar principalmente, tanto era o gosto e a doçura que eu sentia. E Jesus bendito, para me satisfazer mais, arrancou-me o coração, tomando-o entre as suas mãos, e com essa mesma lança abriu-o pela metade e encontrou uma cruz resplandecente e macia, tomou-a entre as suas mãos agradando-se grandemente e disse-me:

(4) “Esta cruz foi produzida pelo amor e a pureza com que sofres, estou tão contente no modo com que tu sofres, que não só eu, mas eu chamo o Pai e o Espírito Santo para agradar Comigo”. (5) Num instante olhei e vi Três Pessoas que me circundando se deleitavam em olhar esta cruz, mas eu, lamentando-me com Eles disse: (6) “Grande Deus, muito pouco é meu sofrer, não estou contente só com a cruz, senão que quero também os espinhos e os cravos, e se eu não o mereço, porque sou indigna e pecadora, Vós, certamente podeis dar-me as disposições para merecê-lo”.

(7) E Jesus, enviando-me um raio de luz intelectual, fez-me perceber que queria que eu confessasse as minhas culpas. Senti-me aterrorizada ante as Três Divinas Pessoas, mas a Humanidade de Nosso Senhor me inspirava confiança, assim que dirigindo-me a Ele disse o “eu pecador”, e depois comecei a fazer a confissão de minhas culpas. Agora, enquanto me encontrava toda imersa em minha miséria, uma voz saiu do meio deles que dizia: (8) “Te perdoamos, e você, não peque mais”.

(9) Eu esperava receber a absolvição de Nosso Senhor, mas nesse momento desapareceu. (10) Pouco depois voltou crucificado e me participou as dores da cruz.

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27 de Novembro de 1899

A graça faz feliz a alma.

(1) Esta manhã meu amado Jesus não vinha, mas depois de muito esperar, enquanto o Vi me lamentei com Ele por sua demora, dizendo-lhe: “Senhor bendito, como é que demoras tanto , talvez te tenhas esquecido que não posso estar sem Ti? Ou por acaso perdi a tua graça e por isso não vens?” E Ele interrompeu os meus lamentos e disse-me:

(2) “Minha filha, sabes o que faz a minha graça? Minha graça faz feliz a alma dos bem-aventurados compromissados, e torna feliz a alma dos viadores, com esta única diferença, que os compromissados se alegrando e deleitando-se, e os viadores trabalhando e colocando-a em comércio. Assim, quem possui a graça, tem em si mesma o paraíso, porque a graça não é outra coisa que possuir-me a Mim mesmo, e sendo Eu só o objeto encantador que encanta a todo o paraíso e que formo todos os contentos dos bem-aventurados, a alma, possuindo a alma, possuindo a graça, onde quer que se encontre possui o seu paraíso”.

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28 de Novembro de 1899

Luisa aceita sofrer no purgatório para libertar algumas almas.

(1) Meu amado Jesus veio toda afabilidade, parecia-me como um íntimo amigo que tem tantas formalidades para outro amigo para lhe demonstrar seu amor, e as primeiras palavras que me disse foram:

(2) “Amada minha, se tu soubesses quanto te amo. Sinto-me extremamente atraído a amar-te, as minhas próprias demoras em vir forçam-me e são novas causas de me fazer vir e encher-te de novas graças e carismas celestes. Se você pudesse entender o quanto te amo; seu amor comparado com o meu apenas o perceberia.¨

(3) E eu: “Meu doce Jesus, é verdade o que dizes, mas também eu sinto que te amo muito, e se Tu dizes que meu amor comparado com o teu apenas se percebe, isto é porque teu poder é sem limites e o meu é limitado, e por tanto, posso fazer por quanto de Ti mesmo me vem dado; assim é verdade, que quando tenho vontade de sofrer mais para demonstrar-te principalmente meu amor, se Tu não me concedes as penas, não está em meu poder sofrer, e estou obrigada a resignar-me mesmo nisto, e ser esse ser inútil que por mim fui sempre. Mas em Ti está em teu poder o mesmo sofrer, e em qualquer maneira que queiras manifestar-me teu amor, podes fazê-lo. Amado meu, dá-me o poder e te farei ver quanto sei fazer por amor teu, porque na medida em que me dás, nessa mesma medida te darei”.

(4) Ele ouvia com grande prazer o meu falar disparatado, e quase querendo pôr-me à prova me transportou para fora de mim mesma, perto de um lugar profundo, cheio de fogo líquido e tenebroso, dava horror e espanto só de vê-lo. Jesus me disse:

(5) “Aqui está o purgatório, e muitas almas estão concentradas neste fogo. Tu irás a esse lugar a sofrer para libertar aquelas almas que me agradam, e isto o farás por amor meu”.

(6) Eu imediatamente, embora eu tremia um pouco, eu disse: “Tudo por amor de você, eu estou pronta, mas você deve vir Você junto comigo, de outra forma, se você me deixar, não deixá-lo encontrar mais, e então você me faz chorar muito”.

(7) E Ele: “Se vou junto contigo, qual seria o teu purgatório? Essas penas com a minha presença, para ti se trocariam em alegrias e em contentos”.

(8) E eu: “Sozinha não quero ir, e além disso, enquanto estivermos nesse fogo Tu estarás atrás de minhas costas, assim não te vejo e aceitarei este sofrimento”.

(9) Assim fui àquele lugar cheio de trevas, e ele me seguia por trás, e eu, por temor de que me deixasse, lhe tomei as mãos, tendo-as estreitadas aos meus ombros. Tendo chegado abaixo, quem pode dizer as penas que sofriam aquelas almas? Certamente são inenarráveis a pessoas vestidas de humana carne. Então, ao ir eu a esse fogo, este se apagava e se apagavam as trevas, e muitas almas saíam, outras ficavam aliviadas. Depois de ter estado perto de um quarto de hora, saímos, e Jesus se lamentava, e eu rapidamente lhe disse: “Diz-me meu Bem, por que te lamentas? Minha querida vida, talvez tenha sido eu a causa porque não quis ir sozinha a esse lugar de penas? Diga-me, diga-me, sofreu muito ao ver essas almas sofrerem? O que você sente?”

(10) E Jesus: “Minha querida, sinto-me todo cheio de amarguras, tanto, que não as posso conter mais, estou prestes a derramá-las sobre a terra”.

(11) E eu: “Não, não meu doce amor, derramarás em mim, não é verdade?” E aproximando-me de sua boca derramou um licor amargo, em tanta abundância que eu não podia contê-lo, e lhe pedia a Ele mesmo que me desse a força para o sustentar, de outra maneira, o que não havia deixado fazer a Nosso Senhor teria feito eu, derramá-lo sobre a terra, e fazer isto me incomodava muito; porém parece que me deu força, se bem que fossem tantos os sofrimentos que me sentia desfalecer, mas Jesus me tomando entre seus braços me sustentava e me dizia:

(12) “Contigo há que ceder por força, te volta tão molesta que me sinto quase com a necessidade de te contentar“.

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30 de Novembro de 1899

Membros doentes e membros sãos no corpo místico de Jesus

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, e desta vez o via no momento quando estava atado à coluna; Ele, desatendo se lançava em meus braços para ser compadecido por mim. Eu o estreitava e começava a arrumar-lhe os cabelos, todos com coágulos de sangue, a secar-lhe os olhos e o rosto, e ao mesmo tempo o beijava e fazia diversos atos de reparação. Quando cheguei às mãos e lhe tirei a corrente, com suma maravilha vi que a cabeça era de Nosso Senhor, mas os membros eram de tantas outras pessoas, especialmente religiosas.  Oh! quantos membros infectados que davam mais trevas do que luz; no lado esquerdo estavam os que davam mais sofrimento a Jesus, se viam membros doentes, cheios de chagas com vermes e profundas, outros que apenas ficavam unidos por um nervo àquele corpo, oh, como se doía e vacilava aquela cabeça divina sobre aqueles membros. Ao lado direito se viam aqueles que eram melhores, isto é, membros sãos, resplandecentes, cobertos de flores e de orvalho celestial, perfumados com fragrâncias, e entre estes membros se descobria algum que desprendia um perfume apagado.

(2) Esta cabeça divina sobre estes membros sofria muito; é verdade que havia membros resplandecentes, que quase se assemelhavam à luz daquela cabeça, que a recriavam e lhe davam grandíssima glória, mas eram em número maior os membros infectados. Jesus, abrindo sua dulcíssima boca me disse:

(3) “Minha filha, quantas dores me dão estes membros! Este corpo que você vê é o corpo místico de minha Igreja, do qual me glorio de ser sua cabeça, mas que cruel rasgo fazem estes membros neste corpo! Eles parecem estar se esgueirando entre eles para ver quem pode me causar mais 16 tormento”.

(4) Ele disse outras coisas que eu não me lembro bem sobre este corpo, por isso ponho ponto.

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02 de Dezembro de 1899

Eloquente elogio da cruz.

(1) Encontrando-me muito aflita por certas coisas que não é lícito dizer aqui, o amável Jesus, querendo aliviar-me na minha aflição veio com um aspecto todo novo, me parecia vestido de cor celeste, todo adornado de sinos pequenos de ouro, que ao baterem umas nas outras ressoavam com um som jamais ouvido. Ante o aspecto de Jesus e o harmonioso som me senti encantar e aliviar em minha aflição, que como fumaça se afastava de mim. Eu teria permanecido ali, em silêncio, tanto me sentia encantar as potências de minha alma, se o bendito Jesus não tivesse rompido meu silêncio ao me dizer:

(2) “Minha querida filha, todos estes sinos são tantas vozes que te falam do meu amor e que te chamam a amar-me. Agora, deixe-me ver quantos sinos você tem, que me falem de seu amor e que me chamem a te amar“.

(3) E eu, toda cheia de vergonha, disse-lhe: “Ah Senhor! Que dizes? Eu não tenho nada, não tenho outra coisa senão defeitos”.

(4) Então Jesus compadecendo-se da minha miséria, continuou a dizer-me:

(5) “Tu não tens nada, é verdade, pois bem, quero adornar-te Eu com os meus sinos, a fim de que possas ter tantas vozes para me chamar e para me demonstrar o teu amor”.

(6) Assim parecia que como uma faixa adornada destes sininhos me apertava a cintura. Depois disto, fiquei em silêncio e Ele acrescentou:

(7) “Hoje quero entreter-me contigo, diz-me alguma coisa“.

(8) E eu: “Você sabe que todo meu contentamento é estar junto Contigo, e tendo-te a Ti tenho tudo, por isso possuindo-te a Ti, parece-me que não tenho outra coisa que desejar, nem que dizer”.

(9) E Jesus: “Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz”.

(10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: “Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz? , só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de  inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da Sabedoria incriada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos; de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá, dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me perdida em Ti e vivo de tua mesma vida”.

(11) Depois de dizer isto, (não sei se são desatinos) meu amável Jesus ao me ouvir, tudo se comprazia e levado por um entusiasmo de amor, toda me beijava e me disse:

(12) “Bravo, bravo a minha amada filha, disse bem. Meu amor é fogo, mas não como fogo terreno que onde quer que penetre tudo o torna estéril e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só esteriliza o que não é virtude, mas a tudo o mais dá vida e faz germinar as belas flores, faz produzir os mais requintados frutos e converte a alma no mais delicioso jardim celestial.

(13) A Cruz é tão poderosa e comuniquei-lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios sacramentos, e isto porque ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem faltar, mas a cruz tem a virtude de dispor a alma à graça”.

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21 de Dezembro 21 de 1899

Luisa fala da virgindade e da pureza

(1) Depois de um longo silêncio, esta manhã o meu amável Jesus, interrompendo-o, disse-me:

(2) “Eu sou o receptáculo das almas puras“.

(3) E nestas suas palavras tive uma luz intelectual que me fazia compreender muitas coisas sobre a pureza, mas pouco ou nada sei pôr em palavras do que ouço no intelecto. Mas a honorável senhora obediência quer que escreva alguma coisa, mesmo desatinando, e para agradá-la direi meus desatinos sobre a pureza.

(4) Parecia-me que a pureza era a gema mais nobre que a alma poderia possuir. A alma que possui a pureza está investida de cândida luz, de modo que Deus bendito, olhando-a encontra sua mesma Imagem, sente-se atraído a amá-la, tanto que chega a apaixonar-se dela, e é tomado por tanto amor que lhe dá por cidade seu puríssimo coração, Porque só o que é puro e puro entra em Deus, nada entra manchado naquele seio puríssimo. A alma que possui a pureza conserva em si seu primeiro esplendor que Deus lhe deu ao criá-la, nada há nela desfigurado, sem nobreza, senão que como rainha que aspira às núpcias do Rei celestial, conserva sua nobreza até que esta nobre flor seja transplantada nos jardins celestiais Oh, como esta flor virginal é perfumada com aroma especial! Eleva-se sempre sobre todas as outras flores, e mesmo sobre os mesmos anjos.  Como se destaca com variadas belezas! Assim, todos são tomados por estima e amor, e livremente todos lhe dão o passo até fazê-la chegar ao Esposo Divino, de modo que o primeiro posto em torno de Nosso Senhor é destas nobres flores. Então Nosso Senhor se deleita grandemente em passear no meio destes lírios que perfumam a terra e o céu, e muito mais se alegra em estar circundado por estes lírios, porque sendo Ele o primeiro nobre lírio e o modelo, é o exemplar de todos os demais. Oh, como é bonito ver uma alma virgem! Seu coração não emite outro alento que de pureza e de candura, nem sequer tem a sombra de outro amor que não seja Deus, também seu corpo exala cheiro de pureza; tudo é puro nela: Pura nos passos, pura no agir, no falar, no olhar, também no mover-se, assim que ao só vê-la se sente a fragrância e se descobre uma alma virgem de verdade. Que carismas, que obrigado, que recíproco amor, que estratagemas amorosos entre esta alma e o Esposo Jesus! Só quem as sente pode dizer alguma coisa, porque nem sequer se pode narrar tudo, e eu não me sinto em dever de falar sobre isto, por isso faço silêncio e passo adiante.

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22 de Dezembro  de 1899

Como Deus nos atrai a amá-lo em três modos, e como em três modos se manifesta à alma.

 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Depois de muito esperar e continuar esperando, apenas, quase como um raio que foge se deixou ver várias vezes, mas me parecia mais uma luz que a Jesus, e nesta luz uma voz que dizia a primeira vez que veio:

(2) “Eu te atraio a me amar em três modos: à força de benefícios, à força de atrações e à força de persuasões“.

(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendia nestas três palavras? Parecia-me que Jesus bendito, para atrair-se meu amor e também o das outras criaturas, faz chover benefícios em nosso favor, e vendo que esta chuva de benefícios não chega ao ponto de ganhar nosso amor, chega a fazer-se atrativo. E qual é essa atração? São as suas dores sofridas por nosso amor, até morrer jorrando sangue sobre uma cruz, onde se tornou tão atraente que apaixonou por Si os seus próprios carrascos e seus mais ferozes inimigos. Além disso, para nos atrair principalmente e tornar mais forte e estável o nosso amor, deixou-nos a luz dos seus santíssimos exemplos, unidos à sua celeste doutrina, e que como luz nos purificam as trevas desta vida e nos conduzem à eterna salvação.

(4) A segunda vez que veio me disse:

(5) “Eu me manifesto à alma em três modos diferentes: Com a potência com a notícia e com o amor. A potência é o Pai, a notícia é o Verbo, o amor é o Espírito Santo”.

(6) Oh, quantas outras coisas compreendia! Mas muito escassa é o que sei manifestar. Parecia-me que com o poder se manifesta Deus à alma em tudo o criado, desde o primeiro ao último ser é manifestada a onipotência de Deus. O céu, as estrelas e todos os outros seres nos falam, embora em linguagem muda, de um Ente Supremo, de um Ser Incriado, de sua onipotência, porque o homem mais instruído, com toda sua ciência não pode chegar a criar o mais vil mosquito, e isto nos diz que deve haver um Ser Incriado potentíssimo que criou tudo e dá vida e subsistência a todos os seres.  Oh, como todo o universo a claras notas e com caracteres indeléveis nos fala de Deus e de sua onipotência! Então quem não vê é cego voluntário.

(7) Com a notícia, parecia-me que Jesus abençoado descendo do Céu veio pessoalmente à terra para nos dar a notícia do que para nós é invisível, e em quantos modos Ele não se manifestou? Acredito que cada um, por si mesmo, compreenderá todo o resto, por isso não me alongo mais.

 

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25 de Dezembro de 1899

 Jesus quer de Luisa contínua atitude de sacrifício.

(1) Depois de ter passado alguns dias quase de privação total de meu sumo e único Bem, acompanhados por uma dureza de coração, sem poder nem sequer chorar minha grande perda, ainda que oferecia a Deus também aquela dureza dizendo-lhe: “Senhor, aceita-a como sacrifício, só Tu podes amaciar este coração tão duro”. Finalmente, depois de um longo pesar, veio minha amada Mamãe Rainha trazendo em seu colo o celestial Menino envolto em uma fralda, todo trêmulo; me deu entre meus braços dizendo:

(2) “Minha filha, aquece-o com teus afetos, porque meu Filho nasceu em extrema pobreza, em total abandono dos homens e em suma mortificação“.

(3) Oh, como era agradável com sua celestial beleza! Eu tomei entre meus braços, abracei-o e apertei-o para o aquecer, porque estava quase entorpecido pelo frio, não tendo outra coisa que o cobrisse que uma só fralda. Depois de o ter aquecido por quanto pude, meu terno Menino, entreabrindo os seus lábios purpúreos, disse-me:

(4) “Prometes-me tu ser sempre vítima por amor meu, como Eu o sou por amor teu?”

(5) E eu: “Sim, querido, eu prometo”.

(6) E Ele: “Não estou contente só com as palavras, quero um juramento e também uma assinatura com o teu sangue”.

(7) E eu: “Se quer a obediência o farei”.

(8) Ele parecia todo contente, e acrescentou:

(9) “Meu coração desde que nasci o tive sempre oferecido em sacrifício para glorificar ao Pai para a conversão dos pecadores e pelas pessoas que me rodeavam e que mais me foram fiéis companheiros em minhas penas. Assim quero que seu coração esteja em contínua atitude, oferecido em espírito de sacrifício por estes três fins”.

(10) Enquanto dizia isto, a Rainha Mãe queria o Menino para alimentá-lo com seu leite dulcíssimo. Eu o devolvi e Ela puxou seu peito para colocá-lo na boca do Divino Menino, e eu astuta, querendo fazer uma piada, coloquei minha boca para chupar, tirei poucas gotas, e no momento de fazer isto desapareceram, deixando-me contente e descontente.

(11) Seja tudo para glória de Deus e para confusão desta miserável pecadora.

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27 de Dezembro de 1889

A caridade deve ser como um manto que deve cobrir as ações

(1) Jesus continua a fazer-se parecer como sombra e como raio. Enquanto me encontrava num mar de amargura pela sua ausência, num instante fez-se ver-me dizendo:

(2) “A caridade deve ser como um manto que deve cobrir todas as tuas ações, de modo que tudo deve resplandecer de perfeita caridade. O que significa esse desgosto quando não sofres? Que a tua caridade não é perfeita, porque o sofrer por amor meu e o não sofrer por meu amor, sem a tua vontade, tudo é o mesmo”.

(3) E desapareceu deixando-me mais amarga do que antes, querendo tocar uma nota muito delicada para mim, e que Ele mesmo me infundiu. Então depois de ter derramado amargas lágrimas em meu estado miserável, e pela ausência de meu adorável Jesus, Ele voltou e me disse:

4) Com as almas justas me porto com justiça, antes as recompenso duplamente por sua justiça, favorecendo-as com as graças maiores e falando-lhes com palavras justas e de santidade”.

(5) No entanto, eu estava tão confusa e má, que não me atrevia a dizer uma só palavra, aliás, continuava a derramar lágrimas sobre a minha miséria. E Jesus, querendo dar-me confiança colocou sua mão sob a minha cabeça para levantá-la, porque eu não a sustentava, e acrescentou:

(6) “Não temas, Eu sou o escudo dos atribulados“.

(7) E desapareceu.

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30 de Dezembro 30 de 1899

Efeitos da humilhação e da mortificação.

(1) Esta manhã assim que vi o meu adorável Jesus, e como a obediência me tinha dito que rezasse por uma pessoa, por isso assim que Jesus veio, confiei-lhe, e Ele disse-me:

(2) “A humilhação não só deve ser aceita, mas também amá-la, tanto como para mastigá-la como um alimento, e como quando um alimento é amargo, quanto mais se mastiga tanto mais se sente a amargura, assim a humilhação bem mastigada faz nascer a mortificação, e estes são dois meios potentíssimos, isto é, a humilhação e a mortificação, para superar certos obstáculos e obter as graças que são necessárias. E enquanto parecem daninhos à natureza humana, como o alimento amargo parece querer causar mais mal que bem, assim a humilhação e a mortificação, mas não. Quando o ferro é mais atingido sobre a bigorna, tanto mais lança faíscas de fogo e fica puro, assim a alma, quanto mais é humilhada e golpeada sob a bigorna da mortificação, tanto mais lança faíscas de fogo celestial, e fica purgada se verdadeiramente quer caminhar a via do bem; mas se é falsa acontece todo o contrário”.

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1 de Janeiro de  1900

Efeito do conhecimento de si mesmo.

  • Achando-me muito aflita pela privação do meu sumo e único Bem, depois de muito esperar e esperar, finalmente o vi sair chorando de dentro do meu coração, fazendo-me sinal com os olhos que lhe doía a ferida feita na circuncisão, e por isso chorava, e que esperava de mim que lhe secasse o sangue que corria da ferida e adoçasse a dor do corte. Eu era toda compaixão e confusão ao mesmo tempo, tanto que não me atrevia a fazê-lo, mas atraída pelo amor, não sei como encontrei um trapo na mão e tratei por quanto pude limpar o sangue ao menino Jesus. Enquanto fazia isto, sentia-me toda cheia de pecado, e pensava que eu era a causa dessa dor de Jesus Oh, como me dava pena, me sentia absorvida naquela amargura e o bendito menino compadecendo meu miserável estado me disse:(2) “Quanto mais a alma se humilha e se conhece a si mesma, tanto mais se aproxima da verdade, e encontrando-se na verdade procura dirigir-se ao caminho das virtudes, do qual se vê muito longínqua, e se vê que se encontra neste caminho, logo descobre o muito que lhe resta a fazer, porque as virtudes não têm termo, são infinitas como eu sou. Então, a alma, encontrando-se na verdade, procura sempre aperfeiçoar-se, mas jamais chegará a ver-se perfeita, e isto lhe serve e fará com que a alma esteja continuamente trabalhando, esforçando-se para mais aperfeiçoar-se, sem perder o tempo em ociosidades; E eu, me comprazendo com este trabalho, pouco a pouco vou retocando-a para pintar nela minha semelhança. Eis por que quis ser circuncidado, para dar um exemplo de grandíssima humildade, que fez desconcertar os próprios anjos do Céu”.

 

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03 Janeiro de 1900

 

A paz.

 

(1) Continuo a ver-me toda cheia de misérias, e não só isso, mas também inquieta. Parece-me que todo o meu interior foi posto em armas pela perda de Jesus. Estava pensando entre mim, que meus grandes pecados tinham me merecido que meu adorável Jesus me tivesse deixado, e por isso não o veria mais. Oh, que morte cruel é este pensamento para mim! É mais, pensamento mais impiedoso que qualquer morte. Não ver mais Jesus! Não ouvir mais a suavidade de sua voz! Perder Aquele do qual depende minha vida e do qual me vem tudo bem! Como poder viver sem Ele? Ah, se eu perder Jesus para mim tudo acabou! Com estes pensamentos sentia uma agonia de morte, todo o meu interior transtornado porque amava a Jesus, e Ele, num lampejo de luz, manifestou-se à minha alma dizendo-me:

 

(2) “Paz, paz, não queiras perturbar-te. Assim como uma flor odorosa perfuma o lugar onde se põe, assim a paz enche de Deus a alma que a possui”.

 

  • E como relâmpago se foi. Oh Senhor, quão bom és com esta pecadora, e em confiança te digo também: Como és impertinente, pois nada menos devo perder-te a ti, e nem sequer queres que me perturbe ou me inquiete, e se o faço, fazes-me entender que eu mesma afasto-me de Ti, porque com a paz me encho de Deus e com a minha inquietação me encho de tentações diabólicas. Oh meu doce Jesus, quanta paciência se necessita contigo, porque qualquer coisa que me aconteça, nem sequer posso me inquietar, nem me perturbar, senão que queres que esteja em perfeita calma e paz.

 

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05 de Janeiro de 1900

Efeitos do pecado e da confissão.

 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me a sair de mim mesma e encontrei o meu adorável Jesus, mas como me via cheia de pecados diante da sua presença! Em meu íntimo sentia um forte desejo de me confessar com Nosso Senhor, por isso me dirigindo a Ele comecei a dizer minhas culpas, e Jesus me escutava. Quando terminei de falar, dirigindo-se a mim com um rosto cheio de tristeza me disse:

(2) “Minha filha, o pecado, se é grave, é um abraço venenoso e mortífero à alma, e não só a ela, mas também a todas as virtudes que se encontram na alma; se é venial, é um abraço que fere, que torna a alma muito débil e enferma, e junto com ela adoecem as virtudes que tinha adquirido. Que arma mortal é o pecado! Só o pecado pode ferir e matar a alma! Nada mais pode danificá-la, nada mais a torna ignominiosa, odiosa diante de Mim, senão só o pecado“.

(3) Enquanto dizia isto, eu compreendia a feiura do pecado e sentia tal pena, que nem sequer sei explicá-la. E Jesus, vendo-me toda compenetrada, levantou a sua mão direita abençoada e pronunciou as palavras da absolvição. Depois acrescentou:

(4) “Assim como o pecado fere e dá morte à alma, assim o sacramento da confissão dá a vida e a cura das feridas, e restitui o vigor às virtudes, e isto mais ou menos, segundo as disposições da alma, assim opera a virtude do sacramento”. (5) Pareceu-me que minha alma recebia nova vida, depois que Jesus me deu a absolvição não sentia mais aquele incômodo de antes. Seja sempre glorificado o Senhor e sempre lhe sejam dadas as graças.

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06 de Janeiro de 1900

A confiança: Escada para subir à Divindade.

(1) Esta manhã recebi a comunhão e encontrei Jesus, estava também a Mãe Rainha, e oh! maravilha, via a Mãe e via o coração dela transformado em Jesus Menino, olhava para o Filho e via no coração do Menino a Mãe. Enquanto estava nisto, lembrei-me que hoje é a Epifania, e eu, a exemplo dos Santos Magos, devia oferecer alguma coisa ao Menino Jesus, mas via que não tinha nada para lhe dar. Então, vendo minha miséria, veio-me o pensamento de oferecer-lhe por mirra meu corpo com todos os sofrimentos dos doze anos que estive em cama disposta a sofrer e a estar todo o tempo que Ele quisesse

(2); por ouro a pena que sinto quando me priva de sua presença, que é a coisa mais penosa e dolorosa para mim; por incenso minhas pobres orações unidas às da Rainha Mãe, a fim de que fossem mais aceitáveis ao Menino Jesus. Então fiz a oferta com toda a confiança de que o Menino aceitaria tudo. Parecia que Jesus com muito gosto aceitava minhas pobres ofertas, mas o que mais lhe agradava era a confiança com a qual os tinha oferecido. Então me disse:

(2) “A confiança tem dois braços, com um se abraça à minha humanidade e se serve dela como escada para subir à minha Divindade, com o outro se abraça à Divindade e a torrentes toma as graças celestiais, assim que a alma fica toda inundada pelo Ser Divino. Quando a alma confia, está segura de obter o que pede, Eu me faço atar os braços, a faço fazer o que quer, a faço penetrar até dentro de meu coração e por si mesma lhe faço tomar o que me pediu. Se não fizesse isto, sentir-me-ia num estado de violência”.

(3) Enquanto isto dizia, do peito do Menino e do da Mãe saíam tantos rios de licor (mas não sei dizer propriamente como se chamava aquilo que digo licor), que me inundavam a alma. E a Rainha Mãe desapareceu.

(4) Depois disto, juntamente com o Menino, saímos para fora, na abóbada dos céus, o seu gracioso rosto o via triste e disse entre mim: “Talvez queira leite e por isso está triste”. Então eu disse: “Quer mamar em mim, porque a Rainha Mamãe não está?” Mas antes de fazer isto, senti medo de que fosse demônio, então para me assegurar o persegui várias vezes com a cruz e lhe disse: “És Tu realmente Jesus Nazareno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Maria Virgem Mãe de Deus?” O Menino assegurava que sim. Então assegurada, o pus a mamar de mim. O Menino parecia que se reanimava tomando um aspecto alegre, e eu via que sugava parte dos rios dos quais Ele mesmo me tinha inundado. E, enquanto isso fazia, sentia-me puxar o coração, porque parecia que dele vinha aquele leite que Jesus chupava de mim. Quem pode dizer o que se passava entre o Menino Jesus e eu? Não tenho língua para o poder manifestar, não tenho palavras para poder descrevê-lo.

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08 de Janeiro de 1900

Mesmo os erros serão úteis.

(1) Estava a pensar entre mim: “Quem sabe quantas loucuras, quantos erros contêm estas coisas que escrevo”. Entretanto senti que perdia os sentidos, e veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, até os erros servirão, e isto para fazer saber que não há nenhum artifício por parte tua, nem que tu sejas algum doutor, porque se isto fosse, tu mesma terias advertido onde te equivocavas, e isto também fará resplandecer de mais que sou Eu quem te falo, se vêem as coisas com simplicidade; porém te asseguro que não encontrarão nem a sombra do vício, nem coisa que não fale de virtude, porque enquanto você escreve, Eu mesmo estou te guiando a mão; no máximo poderão encontrar algum erro à primeira vista, mas se o observam bem, aí encontrarão a verdade”.

(3) Dito isto desapareceu, mas depois de algumas horas voltou e eu me sentia toda titubeante e pensativa acerca das palavras que me tinha dito, e Ele acrescentou:

(4) “Meu patrimônio é a firmeza e a estabilidade, não estou sujeito a nenhuma mudança, e a alma, quanto mais se aproxima de Mim e se adentra no caminho das virtudes, tanto mais se sente firme e estável no agir o bem, e quanto mais distante está de Mim, tanto mais estará sujeita a mudar-se e a inclinar-se agora ao bem e agora ao mal”.

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12 de Janeiro de 1900

Diferença entre o conhecimento de si mesmo e a humildade.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu amável Jesus veio em um estado que dava compaixão. Tinha as mãos atadas fortemente e o rosto coberto de salivares, e algumas pessoas esbofeteavam-no horrivelmente, e Ele permanecia quieto, plácido, sem fazer nem um movimento nem emitir um lamento, nem sequer um movimento de cílios, para demonstrar que Ele queria sofrer estes ultrajes, e isto não só externamente, mas também internamente. Que espetáculo tão comovente, de fazer despedaçar os corações mais duros! Quantas coisas dizia aquele rosto com as cusparadas, manchado de lama! Eu me sentia horrorizada tremia, me via toda soberba diante de Jesus. Enquanto eu estava neste aspecto, Ele me disse:

(2) “Minha filha, só os pequenos se deixam conduzir como se quer, não aqueles que são pequenos de razão humana, mas aqueles que são pequenos mas cheios de razão divina. Só Eu posso dizer que eu sou humilde, porque no homem o que se diz humildade, mas deve-se dizer conhecimento de si mesmo, e quem não se conhece a si mesmo caminha já na falsidade”.

(3) Durante alguns minutos Jesus fez silêncio e eu o contemplava. Enquanto fazia isso, vi uma mão que trazia uma luz, que, escavando em meu interior, nos mais íntimos esconderijos, queria ver se havia em mim o conhecimento de mim mesma e o amor às humilhações, às confusões e aos opróbrios; aquela luz encontrava um vazio em meu interior, e eu também via que devia ser preenchido com humilhações e confusões a exemplo do bendito Jesus. Oh, quantas coisas me fazia compreender aquela luz e aquele rosto santo que estava diante de mim! Dizia entre mim: “Um Deus, humilhado por amor meu, confuso, e eu, pecadora, sem estas divisas. Um Deus estável, firme em suportar tantas injúrias, tanto que não se move nem um pouquinho para se livrar dessas cusparadas fétidas, – ah! Parece-me ver seu interior ante a Divindade, e o exterior ante os homens – no entanto, se quiser pode fazê-lo, porque não são as correntes que o atam, senão sua estável Vontade, que a qualquer custo quer salvar o gênero humano. E eu? E eu? Onde estão minhas humilhações, onde a firmeza, a constância em fazer o bem por amor de meu Jesus e por amor de meu próximo? Ai, que diferentes vítimas somos eu e Jesus, porque de fato não nos parecemos em nada!” Enquanto meu pequeno cérebro se perdia nisto, meu adorável Jesus me disse:

(4) “Minha humanidade esteve cheia somente de opróbios e humilhações, tanto, de derramar fora, eis por que diante de minhas virtudes treme o Céu e a terra, e as almas que me amam se servem de minha Humanidade como escada para subir a provar algumas gotinhas de minhas virtudes. Diz-me, perante a minha humildade, onde está a tua? Só Eu posso gloriar-me de possuir a verdadeira humildade, minha Divindade unida a minha Humanidade podia operar prodígios em cada passo, palavra e obra, em troca voluntariamente me restringia no cerco de minha Humanidade e me mostrava como o mais pobre, e começava a confundir-me com os mesmos pecadores.

(5) A obra da Redenção em tão pouco tempo podia fazê-la, mesmo com uma só palavra, mas quis durante tantos anos, com tantos trabalhos e sofrimentos, fazer minhas as misérias do homem, Quis exercer-me em tantas ações diversas para fazer com que o homem fosse todo renovado, divinizado, mesmo nas mínimas obras, porque realizadas por Mim, que era Deus e Homem, recebiam novo esplendor e ficavam com a marca de obras divinas. Minha Divindade escondida em minha Humanidade, com descer a tanta baixeza, sujeitar-se ao curso das ações humanas enquanto que com um só ato de Vontade poderia criar infinitos mundos, com sentir as misérias, as debilidades de outros como se fossem suas, com ver-se coberta de todos os pecados dos homens ante a divina justiça, e que devia pagar com o preço de penas inauditas e com o desembolso de todo seu sangue, exercia contínuos atos de profunda e heróica humildade.

(6) Eis, ó minha filha, a grandíssima diferença da minha humildade com a humildade das criaturas, que perante a minha, é apenas uma sombra; até a de todos os meus santos, porque a criatura é sempre criatura e não sabe quanto pesa a culpa como eu a conheço, embora sejam almas heróicas que ao meu exemplo se ofereceram a sofrer as penas de outros, mas estas não são diferentes daquelas, das outras criaturas, não são coisas novas para elas, porque estão formadas do mesmo barro. Além disso, só pensar que essas penas são causa de novas aquisições e que glorificam a Deus, é uma grande honra para elas. Além disso, a criatura está restrita no cerco onde Deus a colocou, e não pode sair desses limites com os quais Deus a cercou. Oh! se estivesse em seu poder fazer e desfazer, quantas outras coisas fariam, cada um chegaria às estrelas. Mas minha Humanidade divinizada não tinha limites, senão que voluntariamente se restringia em Si mesma, e isto era um entrelaçar todas minhas obras de heroica humildade. Tinha sido esta a causa de todos os males que inundam a terra, isto é, a falta de humildade, e Eu com o exercício desta virtude devia atrair da justiça divina todos os bens. Ah, sim, que não partem de meu trono resgates de graças senão por meio da humildade! Nenhum bilhete pode ser recebido por Mim, se não contém a assinatura da humildade, nenhuma oração escuta meus ouvidos e move a compaixão meu coração, se não está perfumado com o aroma da humildade. Se a criatura não chegar a destruir o germe de honra, de estima, e isto se destrói com chegar a amar o ser desprezada, humilhada, confundida, sentirá um entrelaçamento de espinhos ao redor de seu coração, perceberá um vazio em seu coração que lhe dará sempre incômodo e a tornará muito diferente de minha Santíssima Humanidade, e se não chegar a amar as humilhações, no máximo poderá conhecer-se um pouco a si mesma, mas não resplandecerá diante de Mim vestida pela bela e agradável vestidura da humildade”.

(7) Quem pode dizer quantas coisas compreendia sobre esta virtude e a diferença entre conhecer-se a si mesmo e a humildade? Parecia-me tocar com a mão a diferença destas duas virtudes, mas não tenho palavras para me explicar. Para dizer alguma coisa me sirvo de uma idéia, por exemplo: Um pobre diz que é pobre, e mesmo a pessoas que não o conhecem e que talvez possam crer que possui alguma coisa, ele lhes manifesta com franqueza sua pobreza, pode-se dizer que se conhece a si mesmo e diz a verdade, e por isso é mais amado, move aos demais a compaixão de seu miserável estado e todos o ajudam, isto é o conhecer-se a si mesmo. Se depois, aquele pobre, envergonhado de manifestar a sua pobreza, se vangloriasse de que é rico, enquanto todos sabem que nem sequer tem vestidos para se cobrir e que morre de fome, o que aconteceria? Todos o desprezam, ninguém o ajuda e chega a ser sujeito de zombaria e de ridículo a qualquer que o conhece, e o miserável, indo de mal a pior, acaba por perecer. Tal é a soberba diante de Deus e mesmo diante dos homens, e eis que quem não se conhece a si mesmo, já está fora da verdade e se precipita pelo caminho da falsidade.

(8) Agora, a diferença com a humildade, embora me pareça que são duas irmãs nascidas no mesmo parto e que jamais se pode ser humilde se não se conhece a si mesmo, é por exemplo um rico, que despojando-se por amor das humilhações de suas nobres vestes, cobre-se com miseráveis trapos, vive desconhecido, a ninguém manifesta quem é ele, confunde-se com os mais pobres, vive com os pobres como se fosse igual a eles, faz dos desprezos e confusões as suas delícias, e esta é a bela irmã do conhecimento de si mesmo, isto é a humildade. Ah! Sim, a humildade chama à graça; a humildade rompe as cadeias mais fortes, como são o pecado; a humildade supera qualquer muro de divisão entre a alma e Deus, e a Ele a devolve. A humildade é a pequena planta, mas sempre verde e florida, não sujeita a ser roída pelos vermes, nem os ventos, nem as granizadas, nem o calor poderão lhe fazer mal nem murchar minimamente. A humildade, embora seja a mais pequena planta, sempre tira ramos altíssimos que penetram até o céu e se entrelaçam ao redor do coração de Nosso Senhor, e só os ramos que saem desta pequena planta têm livre a entrada nesse coração adorável. A humildade é a âncora da paz nas tempestades das ondas do mar desta vida. A humildade é sal que tempera todas as virtudes, e 28 preserva a alma da corrupção do pecado. A humildade é a erva que brota no caminho pisado pelos caminhantes, que enquanto é pisada desaparece, mas logo se vê surgir de novo mais bela do que antes. A humildade é como enxerto nobre que enobrece a planta silvestre. A humildade é o ocaso da culpa. A humildade é a recém-nascida da graça. A humildade é como lua que nos guia nas trevas da noite desta vida. A humildade é como aquele ganancioso negociante que sabe negociar bem suas riquezas, e não esbanja nem sequer um centavo da graça que lhe vem dada. A humildade é a chave da porta do Céu, assim ninguém pode entrar nele se não tiver bem guardada esta chave. Finalmente, caso contrário eu nunca iria terminar e alongar-me muito, humildade é o sorriso de Deus e de todo o Céu Empírico, e o choro de todo o inferno.

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17 de Janeiro 17 de 1900

A maldade e astúcia do homem.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ia e vinha, mas sempre em silêncio. Depois senti-me sair de mim mesma, e ouvia Jesus dizer-me por detrás:

(2) “O homem diz – porque já não há retidão – : “Até que as coisas estejam deste modo não poderemos ter nenhum êxito em nossos planos, finjamos virtude, finjamos ser retos, mostremos nos verdadeiros amigos externamente, porque assim será mais fácil tecer as nossas redes e atraí-los ao engano, e quando sairmos para apanhá-los e fazer-lhes mal, cada um, acreditando-nos amigos, tê-los-emos em nossas mãos”. Vai um pouco até onde chega a astúcia do homem“.

(3) Depois disto o bendito Jesus querendo um ato de reparação especial, parecia que me tirava a vida oferecendo-me à divina justiça. No momento em que isso acontecia, eu acreditava que Jesus me fazia terminar esta vida, então lhe disse: “Senhor, não quero ir para o Céu sem suas insígnias, primeiro me proteja e depois me leve”.

(4) Assim me trespassou as mãos e os pés com os pregos, e enquanto isso fazia, com grande amargura minha, Ele desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, e disse para mim: “Aqui estou eu ainda. Ah! Quantas vezes me fez meu amado Jesus, tem uma arte especial para sabê-lo fazer, porque me faz crer que devo morrer, e então eu rio-me do mundo, das penas, rio-me de Ti mesmo porque terminou o tempo de estar separados, não haverá mais intervalos de separação. Mas apenas começo a rir quando me encontro outra vez atada pelas correntes da prisão deste frágil corpo, e esquecendo o ter começado a rir, continuo o pranto, os gemidos, os suspiros da minha separação de Ti. Ah Senhor, faça-o logo, porque me sinto impelida fortemente a ir!”

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22 de Janeiro de 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, meu pobre coração lutava entre o temor de havê-lo perdido e a esperança de talvez poder vê-lo de novo. Oh! Deus, que guerra sangrenta teve que sustentar este meu pobre coração; era tanta a pena que agora se congelava e agora era espremido como sob uma imprensa e gotejava sangue. Enquanto estava neste estado, senti-me próximo do meu doce Jesus, que tirando um véu que me impedia de vê-lo, finalmente pude fazê-lo. Logo lhe disse: “Ah Senhor, já não me amas?”

(2) E Ele: “Sim, sim, o que te recomendo é a correspondência à minha graça, e para ser fiel deves ser como aquele eco que ressoa dentro de um vazio, que não apenas começa a emitir-se a voz, imediatamente, sem o mínimo atraso se ouve ressoar o eco. Assim você, não apenas comece a receber minha graça, sem nem sequer esperar que a termine de dar, imediatamente começa o eco de sua correspondência”.

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27 de  Janeiro de 1900

 A ordem das virtudes na alma.

(1) Continuo a ficar quase privada do meu doce Jesus, a minha vida desfalece pela dor, sinto um tédio, um aborrecimento, um cansaço da vida. Ia dizendo em meu interior: “Oh, como se estendeu meu exílio! Que felicidade seria a minha se pudesse desatar as ataduras deste corpo e assim minha alma empreenderia livre o vôo para meu sumo Bem!” Então um pensamento me disse: “E se você for ao inferno?” E eu, para não chamar o demónio a combater-me, logo o rejeitei dizendo: “Pois bem, também do inferno enviarei os meus suspiros ao meu doce Jesus, também ali quero amá-lo”. Enquanto eu estava nestes e outros pensamentos, que seria muito longa a história se eu os dissesse todos, o amável Jesus por pouco tempo fez-se ver, mas com um aspecto sério, e disse-me:

(2) “Ainda não chegou o teu tempo”.

(3) Depois, com uma luz intelectual me fazia compreender que na alma tudo deve estar arrumado. A alma possui muitos pequenos apartamentos onde cada virtude toma seu lugar, e se bem se pode dizer que uma só virtude contém em si todas as demais, e que a alma possuindo uma só, é cortejada por todas as outras virtudes; mas apesar disso todas são distintas entre elas, tanto, que cada uma tem seu lugar na alma, e eis que todas as virtudes têm seu princípio no mistério da Santíssima Trindade, que enquanto é Uma, são Três Pessoas distintas, e enquanto são Três são Uma. Compreendia também que estes apartamentos na alma, ou estão cheios de virtude ou do vício oposto àquela virtude, e se não está nem a virtude nem o vício, ficam vazios. Parecia-me como uma casa que contém muitos quartos, todos vazios, ou uma cheia de serpentes, outra de lama, outra cheia de alguns móveis cobertos de pó, outra escura. Ah Senhor, só Você pode pôr em ordem minha pobre alma!

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28 de Janeiro de 1900

A mortificação.

(1) Continua o mesmo. Esta manhã Jesus me transportou para fora de mim mesma, e depois de tanto tempo parece que vi Jesus com clareza, mas me via tão má que não me atrevia a dizer uma só palavra, nos olhávamos, mas em silêncio; Naqueles olhares mútuos, compreendia que o meu bom Jesus estava cheio de amargura, mas não me atrevia a dizer-lhe que as derramasse em mim. Então Ele mesmo se aproximou e começou a derramá-las, e eu não podia contê-las, conforme as recebia, lançava-as por terra. Então ele me disse:

(2) “O que você faz? Você não quer mais participar de minhas amarguras? Você não quer me dar mais alívio nas minhas dores?”

(3) E eu: “Senhor, não é a minha vontade, eu mesma não sei o que me aconteceu, sinto-me tão cheia que não tenho onde as conter, só um prodígio teu pode alargar o meu interior e assim poderei receber as tuas amarguras”.

(4) Então Jesus me marcou com um grande sinal de cruz e derramou de novo, assim parece que pude contê-las, e depois acrescentou:

(5) “Minha filha, a mortificação é como o fogo que faz secar todos os humores; assim a mortificação seca todos os humores maus que há na alma e a inunda de um humor santificante, de modo que faz germinar as mais belas virtudes”.

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31 de Janeiro de 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois que Jesus veio várias vezes, mas sempre em silêncio, eu me sentia um vazio e uma pena porque não ouvia a voz dulcíssima do meu doce Jesus e Ele, retornando, quase para me contentar me disse:

(2) “A graça é a vida da alma. Assim como ao corpo dá vida a alma, assim a graça dá vida à alma. Mas ao corpo não basta ter vida só ter a alma, senão que necessita também de um alimento para nutrir-se e crescer a devida estatura, assim a alma não basta ter a graça para ter vida, senão que necessita um alimento para alimentá-la e conduzi-la a devida estatura, E qual é esse alimento? É a correspondência. Assim que a graça e a correspondência formam essa cadeia que a conduz ao Céu, e à medida que a alma corresponde à graça, são formados os elos desta cadeia”.

(3) Depois acrescentou: “Qual é o passaporte para entrar no reino da graça? É a humildade. A alma, olhando sempre para o seu nada e descobrindo que não é senão pó, que vento, toda a sua confiança a porá na graça, tanto que a fará dona, e a graça tomando o domínio sobre toda a alma, a conduz pelo caminho de todas as virtudes e a faz chegar ao topo da perfeição”.

(4) O que será a alma sem graça? Parecia-me como o corpo sem a alma, que se torna pestilento e se enche de vermes e podridão por toda parte, tanto que se faz objeto de horror à mesma vista humana; assim a alma sem a graça, torna-se tão abominável que dá horror à vista, não dos homens, mas daquele Deus três vezes Santo.

(5) Ah Senhor, livra-me de tanta desgraça e do monstro abominável do pecado!

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04 de Fevereiro de  1900

Desconfiança.

(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:

(2) “O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário, como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento”.

(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d’Ele, suas graças, seus carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:

(4) “O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda? que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar, nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as virtudes em perigo de expirar”.

(5) “Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo, e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.

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5 Fevereiro de 1900

(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre, meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o conhecimento do próprio nada”.

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12 de  Fevereiro de 1900

Os defeitos voluntários formam nuvens.

(1) Encontrando-me num estado de abandono por parte de meu adorável Jesus, a meu pobre coração sentia-o, pela dor, espremer como sob uma imprensa. ¡ Meu Deus, que pena! Enquanto me encontrava neste estado, quase como sombra vi o meu amado Bem, mas não claramente, só vi claramente uma mão que me parecia que levava uma lâmpada acesa, e molhava o dedo no óleo da lâmpada e ungia-me a parte do coração, exacerbada pela dor da sua privação. Neste momento ouvi uma voz que dizia:

(2) “A verdade é luz, que levou o Verbo à terra. Assim como o sol ilumina, vivifica e fecunda a terra, assim a luz da verdade dá vida, luz, e torna fecundas de virtude as almas. Ainda que muitas nuvens, que são as iniqüidades dos homens, ofuscam esta luz de verdade, mas apesar disso não deixa, desde detrás das nuvens, de mandar flashes de luz vivificante, e assim aquecer as almas, e se estas nuvens são nuvens de imperfeições e de defeitos involuntários, esta luz, rasgando-as com o seu calor as dissipa e livremente se introduz na alma”.

(3) Então compreendia que a alma deve estar atenta a não cair na sombra do defeito voluntário, porque estes são aquelas nuvens perigosas que impedem a entrada à luz divina.

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13 de  Fevereiro de 1900

A mortificação é como o cal.

(1) Esta manhã depois de ter recebido a comunhão vi o meu adorável Jesus, mas tudo mudou de aspecto. Parecia sério, tudo reservado, em ato de repreender-me. Que triste mudança! Meu pobre coração, em vez de ser aliviado, sentia-me mais oprimido, mais trespassado diante do aspecto tão insólito de Jesus. No entanto, sentia toda a necessidade de um alívio pelas dores sofridas nos últimos dias por sua privação, em que me parecia que Vivia, mas agonizante e em contínua violência. Mas Jesus bendito, querendo repreender-me porque ia buscando alívio devido a sua presença, enquanto não devia procurar outra coisa que sofrer, disse-me:

(2) “Assim como o cal tem virtude de queimar os objetos que se metem nela, assim a mortificação tem virtude de queimar todas as imperfeições e os defeitos que se encontram na alma, e chega a tanto, que espiritualiza até o corpo, e como um cerco se põe ao redor, e aí sela todas as virtudes. Até que a mortificação não te queime bem, tanto a alma como o corpo, até desfazê-lo, não poderei selar perfeitamente em ti a marca da minha crucificação”.

(3) Depois disto, não sei bem quem era, mas me parecia que fosse um anjo, me trespassou as mãos e os pés, e Jesus com uma lança que saía de seu coração, traspassou-me o meu com extrema dor e desapareceu deixando-me mais aflita que antes. Oh!, como compreendia bem a necessidade da mortificação, minha inseparável amiga, e que em mim não existia nem sequer a sombra de amizade com ela! Ah! Senhor, ata-me Tu com indissolúvel amizade a esta boa amiga, porque por mim não sei mostrar-me mais que toda rudeza, e ela não vendo-se acolhida por mim com boa cara, usa comigo todas as considerações, vai me fugindo sempre, temendo que eu lhe volte as costas completamente, e jamais cumpre comigo seu belo e majestoso trabalho, porque estamos um pouco distantes, suas mãos prodigiosas não chegam até mim para poder trabalhar e apresentar-me diante de Ti como obra digna de suas santíssimas mãos.

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16 de Fevereiro de 1900

A mortificação deve ser o respiro da alma.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, depois de me ter renovado as penas da crucificação, disse-me:

(2) “A mortificação deve ser o respiro da alma. Assim como ao corpo é necessária a respiração, e do ar bom ou mau que se respira assim fica infectado ou purificado, também pela respiração se conhece se está são ou doente o interior do homem, se todas as partes vitais estão de acordo, assim a alma: se respira o ar da mortificação, tudo estará nela purificado, todos seus sentidos soarão com um mesmo som concordante, seu interior exalará um respiro balsâmico, saudável, fortificante; mas se não respirar o ar da mortificação tudo será discordante na alma, exalará um respiro malcheiroso e nauseante; enquanto está por domar uma paixão, outra se desenfreada. Em suma, sua vida não será outra coisa que um jogo de crianças”.

(3) Parecia-me ver a mortificação como um instrumento musical, no qual, se todas as cordas estão boas e fortes, produz um som harmonioso e agradável, mas se as cordas não são boas, agora há que reparar uma, agora há que afinar outra, por isso todo o tempo o emprega em ajustá-lo, mas jamais em tocá-lo, no máximo poderá emitir um som discordante e desagradável, por isso jamais fará nada de bom.

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19 de Fevereiro de 1900

Ameaça de castigos.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, via muita gente, toda em movimento, me parecia, mas não estou segura, como uma guerra, ou bem uma revolução, e a Nosso Senhor não faziam mais que tecer coroas de espinhos, tanto que enquanto eu estava toda atenta a tirar-lhe uma, outra mais dolorosa lhe punham. Ah, sim, parece que nosso século será célebre pela soberba! A maior desventura é perder a cabeça, porque tendo perdido a cabeça com o cérebro, todos os outros membros tornam-se inábeis, ou tornam-se inimigos de si mesmos e dos demais, por isso acontece que a pessoa abre um caminho a todos os outros vícios.

(2) Meu paciente Jesus tolerava todas essas coroas de espinhos, e eu mal tinha tempo de tirando-as, então se virou para essa gente e lhes disse:

(3) “Morrereis, que na guerra, que nas prisões e que em terremotos, poucos permanecereis. A soberba formou o curso das ações de vossa vida, e a soberba vos dará a morte”

(4) Depois disto, o bendito Jesus tirou-me do meio daquela gente, e fazendo-se menino eu o levava nos meus braços para o fazer repousar. Ele, pedindo-me um refrigério queria mamar de mim, eu, temendo que fosse demônio o persegui várias vezes com a cruz, e depois lhe disse: “Se verdadeiramente és Jesus, rezemos juntos a Ave Maria a nossa Rainha Mãe”. E Jesus recitou a primeira parte, e eu o Santa Maria. Depois, Ele mesmo quis dizer o Pai Nosso, oh! como era comovente sua oração, enternecia tanto, que o coração parecia que se derretia. Depois acrescentou:

(5) “Filha, minha vida a tive do coração, a diferença dos demais; eis uma razão por que sou todo coração para as almas, e por que sou levado a querer o coração, e não tolero nele nem sequer uma sombra do que não é meu. Então entre você e eu quero que tudo seja totalmente para Mim, e o que você dará às criaturas não será outra coisa que o transbordamento de nosso amor“.

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20 de  Fevereiro de 1900

Jesus é a luz do Céu, da qual todos tomam as suas pequenas luzes.

(1) Continua a vir o meu benigno Jesus. Depois de ter recebido a Comunhão me renovou as penas da crucificação, e eu fiquei tão entorpecida que sentia necessidade de um alívio, mas não me atrevia a pedi-lo. Depois de um pouco voltou como menino e me beijava toda, e de seus lábios corria leite, e eu bebi a grandes goles esse leite dulcíssimo de seus puríssimos lábios. Agora, enquanto fazia isso, me disse:

(2) “Eu sou a flor do Éden celestial, e é tanto o perfume que expando, que diante de mim fragrância fica atraído todo o empíreo, e como Eu sou a luz que manda luz a todos, tanto, de tê-los abismados, todos meus santos tomam de Mim suas pequenas luzes, assim que não há luz no Céu que não tenha sido tomada desta Luz”. (3) Ah sim! não há nem mesmo cheiro de virtude sem Jesus, e não há luz, embora fosse ao mais alto dos Céus, sem Ele.

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21 de Fevereiro de 1900

O dom da pureza é graça conseguida, e esta é obtida com a mortificação.

(1) Esta manhã meu amável Jesus começou a fazer suas habituais demoras. Seja sempre bendito; de verdade que se necessita uma paciência de santo para suportá-lo, e há que tratar com Jesus para saber quanta paciência se necessita. Quem não o experimenta não pode acreditar, e é quase impossível não ter algum pequeno desgosto com Ele. Então, depois de ter usado a paciência ao esperá-lo e esperá-lo, finalmente veio e me disse:

(2) “Minha filha, o dom da pureza não é dom natural, senão que é graça conseguida, e esta se obtém com tornar-se atrativa, e a alma se faz tal com a mortificação e os sofrimentos. ¡ Oh, como se torna atrativa a alma mortificada e sofredora como ela é bonita, e eu sinto tal atração por ela que enlouqueço por esta alma e tudo o que ela quer dou-lhe. Você, quando estiver privada de Mim, sofre minha privação, que é a pena mais dolorosa para você, por meu amor, e Eu sentirei mais atração que antes e te concederei novos dons”.

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23 de Fevereiro de 1900

O sinal mais certo para saber se um estado é a Vontade de Deus.

(1) Esta manhã depois de ter perdido quase a esperança de que o bendito Jesus viesse, de improviso veio e me renovou as penas da crucificação e me disse:

(2) “O tempo chegou, o fim se aproxima, mas a hora é incerta“.

(3) E eu, sem prestar atenção ao significado das palavras que dizia, fiquei em dúvida se devia atribuí-lo à minha completa crucificação ou bem aos castigos, e disse-lhe: “Senhor, quanto temo que o meu estado não seja Vontade de Deus”.

( 4) E Ele: “O sinal mais certo para saber se é Minha vontade um estado, é que se sente a força para sustentar esse estado“.

(5) E eu: “Se fosse tua Vontade não sucederia esta mudança, que não vens como antes”.

(6) E Ele: “Quando uma pessoa se torna familiar numa família, não se usam tanto essas cerimônias, essas considerações que se usavam antes quando era estranha. Assim faço Eu. No entanto, isto não é sinal que seja vontade dessa família não querer tê-la com eles, nem que não a amem mais que antes. Por isso fica quieta, deixa-me fazer a Mim, não queiras atormentar-te o cérebro nem perturbar a paz do coração; quando chegar o tempo oportuno conhecerás o meu agir”.

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24 de Fevereiro de 1900

 Luisa resiste à obediência.

(1) Esta manhã estava cheia de medo, acreditava que tudo era fantasia, ou seja, demônio que queria me iludir. Então tudo o que via o desprezava e me desagradava: Via o confessor que punha a intenção de que Jesus me renovasse as dores da crucificação, e eu tentava resistir. O bendito Jesus no princípio me tolerava, mas como o confessor renovava a intenção, então Jesus me disse:

(2) “Minha filha, parece que desta vez faltaremos à obediência. Não sabes tu que a obediência deve selar a alma, e que a obediência deve fazer a alma como suave cera, de modo que o confessor possa dar-lhe a forma que queira?”

(3) Assim, não levando em conta minhas resistências me participou as dores da crucifixão, e eu, não podendo resistir mais a tudo isso, porque não queria pelo temor de que não fosse Jesus, tive que sucumbir sob o peso das dores. Seja sempre bendito e tudo seja para glorificá-lo em tudo e sempre.

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26 de  Fevereiro de 1900

A Divina Vontade é felicidade de todos.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, quando no máximo vinha alguma vez como sombra e fugia, eu sentia tal pena que me desfazia em lágrimas, e o bendito Jesus tendo compaixão de minha dor, veio e me via e me via, e depois me disse:

(2) “Minha filha, não temas, que não te deixo; agora, quando estiveres sem minha presença, não quero que te desanimes, antes, de hoje em diante quando estiveres privada de Mim, quero que tomes minha Vontade e que nela te deleites, Amando-me e glorificando-me nela e tendo a minha vontade como se fosse a minha própria Pessoa. Fazendo isso, você me terá em suas próprias mãos. Que coisa forma a bem-aventurança do Paraíso? Certamente minha Divindade. Agora, o que formará a bem-aventurança de meus amados na terra? Com certeza minha Vontade. Ela não te poderá fugir jamais, tê-la-á sempre em tua posse, e se tu permaneceres no círculo da minha Vontade, ali sentirás as alegrias mais inefáveis e os prazeres mais puros. A alma, não saindo jamais do círculo da minha Vontade, torna-se nobre, diviniza-se e todas as suas obras repercutem no centro do Sol divino, assim como os raios do sol repercutem na superfície da terra, e nem um só sai do centro que é Deus. A alma que faz minha vontade é a única nobre rainha que se nutre de meu alento, porque seu alimento e sua bebida não as toma mais que de minha Vontade, e nutrindo-se de minha Vontade toda santa, em suas veias correrá um sangue puríssimo, seu hálito exalará um perfume que me recriará, porque será produzido pelo meu próprio hálito. Por isso não quero outra coisa de ti, senão que formes tua bem-aventurança no giro da minha Vontade, sem sair jamais, nem sequer por um breve instante”.

(3) Enquanto dizia isto, em meu íntimo sentia uma inquietude e um temor, porque o falar de Jesus indicava que não ia vir, e que eu devia aquietar-me em sua Vontade. Oh! Deus, que pena mortal! Que aperto de coração! Mas Jesus sempre benigno adicionou:

(4) “Como posso deixá-la se você é vítima? Só deixarei de vir quando você deixar de ser vítima, mas enquanto for vítima me sentirei sempre atraído a vir”.

(5) Assim parece que fiquei tranquila; mas me sinto como circundada pela adorável Vontade de Deus, de modo que não encontro nenhuma abertura pela qual sair. Espero que me queira sempre neste cerco que me une toda a Deus.

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27 de  Fevereiro de 1900

A Divina Vontade ata Jesus à alma. O grande mal da murmuração.

(1) Havendo-me abandonado toda na amável Vontade de Nosso Senhor, eu me via toda circundada pelo meu doce Jesus, por fora e por dentro. Com o ter-me abandonada Nele me via como se meu ser se tivesse tornado transparente e a qualquer parte que virava via a meu sumo Bem, mas o que me fazia maravilhar era que enquanto me via rodeada por dentro e por fora por Jesus, assim eu, meu pobre ser, minha vontade, circundava a Jesus como dentro de um círculo, de modo que Ele não encontrava a abertura para poder sair, porque minha vontade unida à sua o tinha acorrentado, sem que me pudesse fugir. Oh, admirável segredo da Vontade de meu Senhor, indescritível é sua felicidade! Agora, enquanto eu estava neste estado, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, na alma toda transformada no meu querer Eu encontro um doce repouso. A alma se converte para Mim como aqueles objetos suaves que não dão nenhum incômodo a quem quer repousar neles, é mais, ainda que fossem pessoas cansadas e doloridas, é tanta a suavidade e o prazer que tomam ao repousar sobre estes objetos, que ao acordarem se encontram fortes e saudáveis. Assim é para mim a alma conformada a meu Querer, e Eu em recompensa me faço atar por sua vontade e nela faço resplandecer o Sol Divino como no pleno meio-dia”.

(3) Disse isto desapareceu. Pouco depois, tendo recebido a comunhão voltou e me transportou para fora de mim mesma. Via muita gente e Jesus me dizia:

(4) “Diga-lhes, diga-lhes quão grande é o mal que fazem com murmurar um do outro, porque atraem minha indignação, e isto com justiça, porque vejo que enquanto estão sujeitos às mesmas misérias e fraquezas, não fazem outra coisa que erigir tribunais um contra o outro. Se assim fazem entre eles, que farei eu, que sou santo e puro, com eles? De acordo com a caridade que exercitem-se uns com os outros, assim Eu me sinto atraído a usar misericórdia com eles”.

(5) Jesus me dizia isso, e eu o repetia a essa gente, e depois nos retiramos.

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02 de Março de 1900

A união das vontades une a alma a Jesus.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, o meu doce Jesus fazia-se ver crucificado, e internamente sentia-me atraída a olhar para Ele, para poder assemelhar-me a Ele, e Jesus se refletia em mim para atrair-me à sua semelhança. Enquanto isso eu fazia, sentia-me infundir em mim as dores do meu Senhor crucificado, que com toda a bondade me disse:

(2) “Quero que o teu alimento seja o sofrer, não só por sofrer, mas como fruto da minha Vontade. O beijo mais sincero que ata mais forte nossa amizade, é a união de nossos querer, e o nó indissolúvel que nos estreitará em contínuos abraços será o contínuo sofrer”.

(3) Enquanto dizia isto, o bendito Jesus despregou se da cruz, a tomou e a estendeu no interior de meu corpo, e eu ficava tão estendida nela que me sentia deslocar os ossos, além disso, uma mão que não sei dizer com certeza de quem era, me traspassava as mãos e os pés, e Jesus que estava sentado sobre a cruz que estava estendida dentro de mim, tudo se comprazia em meu sofrer e em quem me traspassava as mãos, e acrescentou:

(4) “Agora posso descansar tranquilamente, não tenho que tomar nem sequer o incômodo de crucificar-te, porque a obediência quer fazer tudo, e Eu livremente te deixo nas mãos da obediência. ¨

(5) E, levantando-se da cruz, pôs-se sobre o meu coração para repousar. Quem pode dizer como é que eu sofri estando nessa posição? Depois de ter estado muito tempo, Jesus não se apressava em aliviar-me como das outras vezes para me fazer voltar ao meu estado natural, e à mão que me tinha posto sobre a cruz não a via mais, isto dizia-o a Jesus, que me respondia:

(6) “Quem te pôs sobre a cruz? Talvez tenha sido Eu? Foi a obediência, e a obediência deve tirarte daí”.

(7) Parece que desta vez tive vontade de jogar, e como suma graça obtive que me libertasse o bendito Jesus.

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07 de Março 1900

A alma conformada ao Divino Querer, chega a prender a Deus.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, tive que girar e girar para encontrar o bendito Jesus. Felizmente, entrei numa igreja e encontrei-o sobre um altar onde se celebrava o sacrifício divino. Subitamente corri e abracei-o dizendo-lhe: “Finalmente encontrei-te! Fizeste-me girar tanto até me cansar, e Tu estavas aqui”. E Ele me olhando sério, não com sua habitual benignidade me disse:

(2) “Esta manhã me sinto muito amargo e sinto toda a necessidade de pôr as mãos nos castigos para desagravar me“.

(3) Eu, em seguida: “Meu amado, não é nada, remediaremos isto agora mesmo, derramarás em mim tuas amarguras e assim ficarás desagravado, não é verdade?”

(4) E Ele condescendendo a meu pedido derramou em mim suas amarguras. Depois, estreitando-me a Ele, como se tivesse se liberado de um grave peso, acrescentou:

(5) “A alma conformada a meu Querer se sabe infiltrar tanto em minha potência, que chega a me prender a tudo e a seu gosto me desarma como quer. Ah! tu, tu, quantas vezes me amarras!”

(6) E enquanto isto dizia tomou seu habitual aspecto doce e benigno.

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09 de Março de 1900

A graça é como o sol.

(1) Encontrando-me um pouco perturbada por uma coisa que não é necessário dizer aqui, minha mente queria andar vagando para certificar-se sobre minha turbação e assim ficar em paz, mas o bendito Jesus querendo contradizer meu querer, impedia-me que eu pudesse ver o que queria, e como eu insistia em querer ver me disse: (2) “Por que quer ir vagando? Não sabes tu que quem sai da minha Vontade sai da luz e se confina nas trevas?”

(3) E querendo me distrair do que eu queria, me transportou para fora de mim mesma, e mudando de assunto acrescentou:

(4) “Olhe um pouco como os homens são ingratos para mim. Assim como a luz do sol enche toda a terra, de um ponto ao outro, de modo que não há terra que não goze o benefício de sua luz, nem há pessoa que possa lamentar-se de estar privada de suas benéficas influências, tão é verdade, que o sol, investindo a todo o universo, para poder dar luz a todos, toma-o como em sua mão, só pode lamentar-se de não gozar de sua luz quem fugindo de sua mão vai esconder-se em lugares tenebrosos; porém o sol continuando seu caritativo ofício não deixa de lhe enviar algum raio de luz de entre os seus dedos; assim a minha graça é uma imagem do sol, que por toda a parte inunda as nações, pobres e ricos, ignorantes e doutos, cristãos e infiéis, nenhum pode dizer que está privado dela, Porque a luz da verdade e a influência da minha graça enchem a terra, e mais do que o sol no seu meio-dia. Mas qual não é a minha pena ao ver as nações, que cruzando esta luz a olhos fechados e enfrentando a minha graça com a torrente pestífera de suas iniqüidades, desviam-se desta luz e voluntariamente vivem em lugares tenebrosos, em meio de cruéis inimigos? Elas estão expostas a mil perigos, porque não tendo luz, não podem conhecer claramente se se encontram no meio de amigos ou de inimigos, nem fugir dos perigos que os cercam.

(5) Ah, se o sol tivesse razão, e os homens lhe pudessem fazer esta afronta à sua luz, e que alguns chegassem a tal ingratidão, que para desprezar e não ver seu resplendor, arrancariam os olhos, e assim ficam mais seguros de viver nas trevas, Ai, o sol em vez de mandar luz mandaria lamentos e lágrimas de dor, até perturbar toda a natureza! Não obstante, o que os homens teriam horror de fazer à luz natural, chegam a tal excesso de enfrentar desse modo a minha graça. Mas a minha graça sempre benigna com eles, no meio das mesmas trevas e da loucura da sua cegueira, manda sempre resplendores de luz, porque a minha graça jamais deixa a ninguém, senão que o homem voluntariamente se afasta dela, e a graça não o tendo em si, tenta segui-lo com o fulgor de sua luz”.

6) Enquanto dizia isto, o doce Jesus estava extremamente aflito, e eu fazia quanto mais podia, para consolá-lo, pedindo-lhe que derramasse em mim suas amarguras, e Ele acrescentou:

(7) “Compadece-me se te sou causa de aflição, porque de vez em quando sinto toda a necessidade de desabafar em palavras, com minhas almas diletas, minha dor sobre a ingratidão dos homens, para mover seus corações a reparar-me em tantos excessos, e a compaixão dos proprios homens”.

(8) E eu: “Senhor, o que eu gostaria é que não me impedisses de participar nas tuas penas”. E querendo eu dizer mais, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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10 de Março de 1900

Efeitos do sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, via o meu amado Jesus como Menino, com uma lança na mão, em atitude de me querer trespassar o coração, e como tinha dito uma coisa ao confessor, Jesus, querendo repreender-me, disse-me: “Tu queres afastar o sofrimento, e Eu quero que comeces uma nova vida de sofrimentos e de obediência”.

(2) E enquanto isso dizia, trespassou-me o coração com a lança e depois acrescentou:

(3) “Assim como o fogo arde segundo a lenha que se lhe põe, e assim tem maior atividade em queimar e consumir os objetos que se lançam nele, e por quanto maior é o fogo, outro tanto é maior o calor e a luz que contém, assim o sofrimento e a obediência, quanto maior, tanto mais a alma se torna hábil para destruir o que é material, e a obediência, como a macia cera lhe dá a forma que quer“.

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11 de Março de 1900

 Encontro com uma alma do purgatório.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã via o bom Jesus mais aflito do que de costume, ameaçando com uma mortandade de gente, e via em certos lugares que muitos morriam. Depois passei pelo purgatório e reconhecendo a uma amiga falecida perguntava-lhe várias coisas sobre meu estado, especialmente se é Vontade de Deus este estado, se é verdade que é Jesus que vem, ou bem o demônio, porque lhe dizia: “Como tu te encontras diante da Verdade e conheces com clareza as coisas, sem que possas enganar-te podes dizer-me a verdade sobre as minhas circunstâncias”.

(2) E ela disse-me: “Não temas, o teu estado é a vontade de Deus e Jesus ama-te muito, por isso manifesta-se a ti”.

(3) E eu, dizendo-lhe algumas das minhas dúvidas, pedi-lhe que visse ante a luz da verdade se eram verdadeiras ou falsas e fizesse-me a caridade de me vir dizer, e que se o fizesse, eu em recompensa mandava-lhe celebrar uma missa em sufrágio, e ela acrescentou:

(4) “Se o quer o Senhor, porque nós estamos tão imersos em Deus, que não podemos sequer mover as pestanas se não concorre Ele; nós habitamos em Deus como uma pessoa que habitasse em outro corpo, que tanto pode pensar, falar, ver, agir, caminhar, porque lhe é dado por aquele corpo que a circunda por fora, porque em nós não é como em vós que tendes o livre arbítrio, a própria vontade terminou, nossa vontade é só a Vontade de Deus, dela vivemos, nela encontramos todo nosso contentamento e Ela forma todo nosso bem e nossa glória”.

(5) E mostrando uma satisfação indescritível por esta Vontade de Deus, nos separamos.

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14 Março de 1900

Modo para atrair as almas ao catolicismo.

(1) Havendo-me dado o confessor a obediência de pedir ao Senhor que me manifestasse o modo como fazer para atrair as almas ao catolicismo, e para tirar tanta incredulidade, eu sei pedi-o vários dias e o Senhor não se dignava pronunciar-se sobre este ponto. Finalmente, esta manhã me encontrei fora de mim mesma, transportada dentro de um jardim que me parecia ser o jardim da Igreja, e ali estavam muitos sacerdotes e outras dignidades que discutiam sobre este tema, e enquanto discutiam saía um cão de desmesurado tamanho e força, e a maioria dessas pessoas ficavam tão assustados e debilitados, que chegavam a fazer-se morder por aquela besta, e depois retiravam-se como covardes da empresa. Aquele cão enfurecido não tinha força para morder aqueles que tinham como centro Jesus, no próprio coração, que portanto vinha a formar o centro de todas suas ações, pensamentos e desejos. Ah sim! Jesus formava o selo destas pessoas, e aquela besta ficava tão fraca que não tinha força nem sequer de respirar.

(2) Agora, enquanto discutiam, eu ouvia a Jesus que desde detrás de minhas costas dizia:

(3) “Todas as demais sociedades conhecem quem pertence a seu partido, só minha Igreja não conhece quem são seus filhos. O primeiro passo é conhecer quem são aqueles que lhe pertencem, e a estes podeis conhecê-los, estabelecendo um dia uma reunião na qual convidareis aqueles que são católicos a irem ao lugar destinado para tal reunião, e aí com a ajuda dos católicos leigos, estabelecer o que convém fazer. O segundo passo é obrigar à confissão aqueles católicos que intervêm nisto, pois esta é a coisa principal que renova o homem e forma os verdadeiros católicos, e isto não só àqueles que se encontram presentes, mas obrigar aqueles que são patrões a obrigar os seus súditos à confissão, e se não o conseguem pelas boas, mesmo despedindo-os do seu serviço. Quando cada sacerdote tiver formado o corpo de seus católicos, então poderão encaminhar-se a outros passos superiores, porque reconhecer a oportunidade do tempo, como entrar nos partidos e a prudência em expor-se, é como a poda às árvores, que faz produzir frutos grandes e maduros, mas se a árvore não é podada, produz, sim, um belo conjunto de folhagem e de flores, mas apenas cai uma geada, sopra um vento, não tendo a árvore humor suficiente e força para sustentar tantas flores para trocá-las em frutos, as flores caem e a árvore fica nua. Assim acontece nas coisas de religião: Primeiro devem formar um conveniente corpo de católicos para poder fazer frente aos outros partidos, e depois podem chegar a introduzir-se nos outros partidos para formar um só“.

(4) Dito isto, não o ouvi mais, e sem sequer vê-lo me encontrei em mim mesma. Quem pode dizer minha pena por não ter visto o bendito Jesus durante todo o dia, e as lágrimas que tive que derramar?

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15 de Março de 1900

Jesus sente-se desarmado pelas almas vitimas.

(1) Jesus continua sem vir, eu me consumia em dor e sentia uma febre que me fazia delirar. Agora, como o confessor veio celebrar o divino sacrifício, eu comunguei, mas não via, como é habitual, o meu amado Jesus, por isso comecei a dizer os meus disparates: “Diz-me meu Bem, por que não te fazes ver? Desta vez parece-me que não te dei ocasião para que te escondas. Como, da maneira mais fácil? Ai, nem mesmo os amigos desta terra agem desta maneira; quando devem afastar-se ao menos dizem adeus, e você nem sequer me diz adeus? Como, assim se faz? me perdoe se assim falo, é a febre que me faz delirar e me faz chegar à loucura”. Quem pode dizer todas as minhas loucuras que lhe disse? Seria querer perder tempo. Agora, enquanto estava delirando e chorando, Jesus fazia ver agora uma mão, agora um braço, então vi o confessor que me dava a obediência de sofrer a crucificação, e Jesus como obrigado pela obediência se fez ver e eu “Por que não se mostra?” E Ele, mostrando um aspecto sério disse:

(2) “Não é nada, não é nada, é que quero castigar a terra, e Eu, estando bem mesmo com uma só criatura, sinto-me desarmado e não tenho força para lançar mão dos castigos, e ao fazer-me ver você começa a dizer-me, se vês que devo mandar castigos: “Derrama em mim, faz-me sofrer a mim”. E sinto-me vencido por ti, e nunca ponho as mãos em castigos, e os homens não fazem outra coisa senão ensoberbecer-se de demais”.

3) Agora, repetindo o confessor a obediência de me fazer sofrer a crucificação, Jesus mostrava-se lento em fazer-me fazer esta obediência, não como as outras vezes que em seguida queria que me submetesse, e me disse:

(4) “E tu que queres fazer?

(5) E eu: “Senhor, o que Tu quiseres”.

(6) Então, dirigindo-se ao confessor com aspecto sério, disse-lhe:

(7) “Também tu queres atar-me com dar-lhe esta obediência de fazê-la sofrer?”

(8) E enquanto isso dizia começou a me participar as dores da cruz, e depois, mostrando-se mais calmo derramou suas amarguras, depois acrescentou:

(9) “O confessor, onde está?”

(10) E eu: “Senhor, não sei para onde foi, é verdade que não o vejo mais conosco”.

(11) E Ele: “Eu o amo, porque como Ele me consolou a Mim, assim Eu quero confortar a Ele“.

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17 de Março de 1900

Dor do Papa. Humildade.

(1) Esta manhã o bendito Jesus me fazia ver o Santo Padre com as asas abertas, que ia em busca de seus filhos para recolhê-los sob suas asas, e ouvia seus lamentos que diziam: “Meus filhos, meus filhos, quantas vezes busquei reunir-vos sob minhas asas e vocês me fogem! Ah, escutem meus lamentos e tenham compaixão de minha dor!” E enquanto dizia isto chorava amargamente, e parecia que não eram só os leigos que se afastavam do Papa, mas também os sacerdotes, e estes davam mais dor ao Santo Padre. Que pena dava ver o Papa nesta posição! Depois disto vi Jesus que fazia eco aos lamentos do Santo Padre e acrescentava:

(2) “Poucos são os que permaneceram fiéis, e estes poucos vivem como raposas escondidas em suas próprias cavernas, têm medo de expor-se para arrancar seus próprios filhos da boca dos lobos; falam, propõem, mas todas são palavras ditas ao vento, jamais chegam aos fatos“.

(3) Dito isto, ele desapareceu. Depois de pouco tempo voltou e eu me sentia toda aniquilada em mim mesma ante a presença de Jesus, e Ele, vendo-me assim me disse:

(4) “Minha filha, quanto mais você se abaixa em si mesma, tanto mais me sinto atraído a me abaixar para você e te encher de minha graça, eis por que a humildade é precursora da luz”.

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20 de Março de 1900

Advertência de castigos.

(1) Tendo recebido a comunhão, via meu doce Jesus que me convidava a sair com Ele, mas com o pacto de que ao ir junto com Ele, onde via que Jesus estava obrigado a mandar castigos pelos pecados, não devia discutir com Ele para que não os mandasse. Com esta condição saímos, percorrendo a terra. Em primeiro lugar comecei a ver, não muito longe de nós, especialmente em certos pontos, tudo seco, então me dirigindo a Ele disse: “Senhor, como farão estas pobres gentes se lhes falta o alimento para se nutrirem? Ah! Você pode tudo, assim como fez secar, assim faça que reverdeça”. E como tinha a coroa de espinhos estendi-lhe a mão, dizendo: “Meu Bem, que te fizeram estas nações? Talvez te tenham posto esta coroa de espinhos; pois bem, entregue-a a mim, assim ficarás aplacado e lhes darás o alimento para não as deixar morrer”. E tirando-a, coloquei-a sobre a minha cabeça. Enquanto fazia isso, Jesus me disse:

(2) “Parece que não posso levá-la junto Comigo, porque levá-la e não poder fazer nada é o mesmo“.

(3) E eu: “Senhor, não fiz nada, perdoa-me se achas que fiz mal, mas leva-me juntamente contigo”.

(4) E Ele: “O teu modo de agir me ata por todas as partes”.

(5) E eu: “Não sou eu que faço assim, és tu mesmo que me obrigas a fazer assim, porque ao encontrar-me contigo, vejo que todas as coisas são tuas, e se não tomar cuidado das tuas coisas, parece-me que viria a não tomar cuidado de Ti mesmo. Por isso deves perdoar-me se faço assim, já que o faço por amor teu e não deves afastar-me por isto.

(6) Em seguida, continuamos a girar. Eu fazia quanto mais podia para não lhe dizer nada de que não castigasse em alguns pontos, para não lhe dar ocasião que me mandasse retirar e assim perder sua amável presença; mas onde não podia começar a discutir com Ele. Chegamos a um ponto da Itália onde estavam fazendo um convênio que devia causar uma grande desordem, mas não entendi o que era, porque tendo começado a dizer, Senhor, não permita, pobre gente, como farão? Vendo Jesus que eu me afanava e queria impedi-lo, disse-me com império:

(7) “Retira-te, retira-te”.

(8) E tirando uma cinta de pregos, de alfinetes que tinha encaixada em seu corpo, que o fazia sofrer muito, acrescentou:

(9) “Retira-te e leva esta cinta contigo, assim me aliviarás muito“.

(10) E eu: “Sim, eu a porei em teu lugar, mas deixa-me estar Contigo”.

(11) E Ele: “Não, retira-te”.

(12) E o disse com tal império, que não podendo resistir, em um instante me encontrei em mim mesma, e não pude entender qual era aquele convênio.

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25 de Março de 1900

O Verbo de Deus na encarnação torna-se luz das almas.

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus ao vir me disse:

(2) “Assim como o sol é a luz do mundo, assim o Verbo de Deus ao encarnar se fez luz das almas, e assim como o sol material dá luz a todos em geral e a cada um em particular, tanto que cada um o pode gozar como se fosse próprio, assim o Verbo, enquanto dá luz em geral, é sol para cada um particular, assim é verdadeiro, que a este sol divino cada um o pode ter consigo como se fosse para ele somente”.

(3) Quem pode dizer o que entendia sobre esta luz e os efeitos benéficos que produz nas almas que têm este Sol como se fosse seu? Parecia-me que a alma possuindo esta luz põe em fuga as trevas, como o sol material ao surgir sobre nosso horizonte põe em fuga as trevas da noite. Esta luz divina, se a alma é fria, aquece-a; se está nua de virtudes, torna-a fecunda; se está inundada pela nociva enfermidade da tibieza, com seu calor absorve aquele humor mau; numa palavra, para não me alongar demasiado, este sol divino, introduzindo a alma no centro de sua esfera, a cobre com todos seus raios e chega a transformá-la em sua mesma luz.

(4) Depois disto, como eu me sentia toda abatida, Jesus querendo me aliviar me disse:

(5) “Esta manhã quero deleitar-me em ti”.

(6) E ele começou a fazer seus truques amorosos habituais.

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01 de  Abril de 1900

As paixões mudadas em virtudes.

(1) Depois de esperar e esperar, meu doce Jesus fazia-se ver dentro de meu coração. Parecia-me ver um sol que expandia raios, e olhando no centro deste sol descobria o rosto de Nosso Senhor, mas o que me fez espantar é que via no meu coração muitas donzelas vestidas de branco, com coroas na cabeça que rodeavam este sol divino, alimentando-se daqueles raios que expandem este sol. Oh! como eram belas, modestas, humildes e todas atentas, e deleitando-se em Jesus! Então, não conhecendo o significado disto, com um pouco de temor pedi a Jesus que me fizesse saber quem eram aquelas donzelas, e Ele me disse:

(2) “Estas donzelas eram suas paixões, que agora com minha graça mudei em outras tantas virtudes que me fazem nobre cortejo, estando todas à minha disposição, e Eu em recompensa as vou nutrindo com minha contínua graça“.

(3) Ah Senhor, no entanto me sinto tão mal que me envergonho de mim mesma!

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02 de Abril de 1900

Jesus julga não segundo as obras que se fazem, mas segundo a vontade com que se obra.

(1) Esta manhã sofri muito pela ausência de meu amado Jesus, mas Ele recompensou minhas penas satisfazendo um desejo meu de querer saber uma coisa que há muito desejava. Então, depois de ter girado e girado em busca de Jesus, e que agora o chamava com a oração, agora com as lágrimas, agora com o canto, pois talvez pudesse ficar ferido por minha voz e se deixasse encontrar, mas tudo em vão. Tenho repetido meus gemidos; a quem encontrava perguntava sobre Ele, finalmente, quando meu coração se sentia despedaçado e que não podia mais, o encontrei, mas o via de costas, e lembrando-me de uma resistência que lhe fiz, a que direi no livro do confessor pedi perdão e assim parece que nos pusemos de acordo, tanto que ele mesmo me perguntou o que queria, e eu lhe disse: “Diga-me para conhecer sua Vontade sobre meu estado, especialmente o que devo fazer quando me encontro com poucos sofrimentos e Você não vem, e se você vem é quase como sombra; então, não te vendo, meus sentidos os sinto em mim mesma, e encontrando-me nesta posição sinto como se pusesse do meu e não fosse necessário esperar a vinda do confessor para sair daquele estado”.

(2) E Jesus: “Sofras ou não sofras, venha Eu ou não venha, teu estado é sempre de vítima, muito mais que esta é minha Vontade e a tua, e Eu julgo não segundo as obras que se fazem, senão segundo a vontade com que se obra”.

(3) E eu: “Senhor meu, está bem como dizes, mas me parece que estou inútil e se perde muito tempo, e sinto um incômodo, um temor, e além disso fazer vir ao confessor, me atormenta a alma que não fosse Tua vontade”.

(4) E Ele: “Pensas tu que seja pecado fazer vir ao confessor?”

(5) E eu: “Não, mas temo que não seja Tua Vontade”.

(6) E Ele: “Deves fugir do pecado, mesmo da sua sombra, mas do resto não deves preocupar-te”.

(7) E eu: “E se não fosse a tua vontade, em que aproveitaria estar assim?”

(8) E Ele: “Ah, me parece que minha filha quer fugir do estado de vítima, não é verdade?”

(9) E eu, ficando vermelho, disse: “Não Senhor, digo isto pelas vezes que não me fazes sofrer e não vens, de resto faz-me sofrer e eu não me preocuparei”.

(10) E Jesus: “E a mim parece-me que queres fugir. Além disso, você sabe que horas eu reservei para vir aqui e comunicar minhas dores, se a primeira, a segunda, a terceira, ou talvez a última hora? Por isso distraindo-te de Mim e esforçando-te por sair ocupar-te-ás em outra coisa, e Eu vindo não te encontrarei preparada, darei a volta e irei a outra parte”.

(11) E eu toda assustada “Jamais seja, ó Senhor. Não quero saber outra coisa senão a tua Santíssima Vontade”.

(12) E Ele: “Permanece calma e espera o confessor“.

(13) Dito isto, Ele desapareceu. Parece que me sinto aliviada de um grande peso por este falar de Jesus, mas com tudo isto não diminuiu em mim a pena dolorosa quando Jesus me priva Dele. 3 Não se tem notícia deste livro

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09 de Abril de 1900

Abandono em Deus.

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver e me disse quase repreendendo:

(2) “Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo”.

(3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!

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10 de Abril de 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais, fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: “Meu coração, esperemos outro pouco, talvez venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha”. E, dirigindo-me a Ele, dizia: “Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta da vida”. E como não vinha, dizia: “Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando estiveres cansado, nem sequer então virás?” Mas quem pode dizer todos os meus desatinos? Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.

(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:

(3) “Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela”.

(4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

+ + + + 16 de Abril de 1900

As três assinaturas do passaporte da bem-aventurança na terra.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de reprovações do bendito Jesus por minhas ingratidões e resistências a seu Querer e a suas graças, esta manhã ao vir me disse:

(2) “Minha filha, o passaporte para entrar na felicidade que a alma pode possuir sobre esta terra, deve ser assinado com três assinaturas, e estas são: resignação, humildade e obediência.

(3) A resignação perfeita a meu Querer é cera que funde nossos querer e deles forma um só, é açúcar e mel, mas se há uma pequena resistência a meu Querer a cera se desune, o açúcar se torna amargo e o mel se converte em veneno. Agora, não basta estar resignada, senão que a alma deve estar convencida que o maior bem para si mesma e o maior modo de glorificar-me é fazer sempre minha Vontade. Eis a necessidade da assinatura da humildade, porque a humildade produz este conhecimento. Mas quem enobrece estas duas virtudes? Quem as fortifica? Quem as faz perseverantes? Quem as acorrenta juntas para não se poder separar? Quem as coroa? A obediência. Ah sim! A obediência destruindo de todo o próprio querer e tudo o que é material, espiritualiza tudo, e como coroa se põe ao redor, assim que a resignação e a humildade sem a obediência estarão sujeitas a instabilidade, mas com a obediência serão firmes e estáveis, e eis a estreita necessidade da assinatura da obediência, para fazer que este passaporte possa correr para passar ao reino da bem-aventurança espiritual que a alma pode gozar daqui. Sem estas três assinaturas o passaporte não terá valor, e a alma será sempre rejeitada do reino da bem-aventurança e estará obrigada a estar no reino da inquietação, dos temores e dos perigos, e para sua desgraça terá por deus a seu próprio eu, e este estará cortejado pela soberba e pela rebelião”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, dentro de um jardim, que parecia ser o jardim da Igreja, no qual via que se desviavam, por causa de cinco ou seis pessoas, sacerdotes e leigos, que unindo-se com os inimigos da Igreja moviam uma revolução. Que pena dava ver a Jesus bendito chorar o triste estado destas pessoas! Depois vi no ar e vi uma nuvem de água cheia de grandes pedaços de gelo que caíam sobre a terra. Oh!, quanto destroço faziam sobre as colheitas e sobre a humanidade!. Mas espero que queira aplacar-se. Então, mais aflita que antes voltei a mim.

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20 de Abril de 1900

A cruz dá-nos as linhas e a semelhança de Jesus.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo apenas como sombra, e ao vir não diz nada. Esta manhã, depois de ter-me renovado as dores da cruz por duas vezes, olhando-me com ternura enquanto sofria a dor das perfurações dos pregos, disse-me:

(2) “A cruz é um espelho onde a alma vê a Divindade, e contemplando-se nele adquire os lineamentos, a semelhança mais perfeita com Deus. A cruz não se deve apenas amar, desejar, mas ter como honra e glória a mesma cruz, e isto é agir como Deus e tornar-se como Deus por participação, porque só Eu me gloriei da cruz e considerei como uma honra sofrer, e a amei tanto, que em toda minha vida não quis estar um momento sem a cruz”.

(3) Quem pode dizer o que compreendia da cruz por falar do bendito Jesus? Mas me sinto muda para expressá-lo com palavras. Ah! Senhor, peço-te que me mantenhas sempre pregada na cruz, a fim de que tendo sempre diante deste espelho divino, possa limpar todas as minhas manchas e embelezar-me sempre mais à tua semelhança.

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21 de Abril de 1900

Mais que o sacramento, a cruz sela a Deus na alma.

(1) Encontrando-me em meu próprio estado, é mais, com um pouco de temor por uma coisa que não é necessário dizer aqui, meu doce Jesus ao vir me disse:

(2) “E ainda que sejam vasos sagrados, é necessário de vez em quando sacudi-los; vossos corpos são tantos vasos sagrados nos quais faço minha morada, por isso é necessário que de vez em quando lhes dê uma sacudida, isto é, que os visite com alguma tribulação para fazer que Eu esteja neles com mais decoro. Por isso fique calma”.

(3) Depois disto, tendo recebido a comunhão e tendo-me renovado as dores da crucificação, acrescentou:

(4) “Minha filha, como é preciosa a cruz, olha um pouco: O sacramento do meu corpo ao dar-se à alma, une-a Comigo, transforma-a até a tornar uma mesma coisa Comigo, mas ao consumir-se as espécies desune-se a união realmente contraída; mas a cruz não, ela toma a Deus e o une com a alma para sempre, e para maior segurança ela se põe como selo. Portanto, a cruz sela a Deus na alma, de modo que jamais há separação entre Deus e a alma crucificada.

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23 de Abril de 1900

A resignação é óleo que unge.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, via meu doce Jesus que sofria muito, e lhe pedi que me desse parte de suas penas, e Ele me disse:

(2) “Também você sofre, melhor Eu me ponho em seu lugar e você me faz o ofício de enfermeira”.

(3) Então parecia que Jesus se colocava em minha cama, e eu ao seu lado começava a examinar-lhe a cabeça, e um a um lhe tirei os espinhos que estavam pregados. Depois segui com seu corpo e percorri todas suas chagas, lhes secava o sangue, as beijava, mas não tinha com que ungi-las para mitigar a dor, então vi que de mim saía um azeite e eu o tomava e ungia as chagas de Jesus, mas com certo temor porque não compreendia o que significava aquele óleo que saía de mim. Mas Jesus bendito me fez entender que a resignação ao Querer Divino é óleo, que enquanto unge e mitiga nossas penas, ao mesmo tempo é óleo que unge e mitiga a dor das chagas de Jesus. Então, depois de ter estado por um bom tempo fazendo este ofício a meu amado Jesus, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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24 de Abril de 1900

A Eucaristia e o sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, parecia-me que o confessor tinha a intenção de me fazer sofrer a crucificação, e vi imediatamente o anjo da guarda que me estendia sobre a cruz para a fazer sofrer. Depois disto vi meu doce Jesus que me compadecia toda e me disse:

(2) “Teu refrigério sou Eu, meu refrigério é teu sofrer”.

(3) E mostrava um contentamento indescritível por mim sofrer e pelo confessor, porque com a obediência que me tinha dado de sofrer lhe tinha procurado aquele alívio, depois acrescentou:

(4) “Como o sacramento da Eucaristia é fruto da cruz, por isso sinto-me mais disposto a conceder-te o sofrimento quando recebes o meu corpo, porque vendo-te sofrer, parece-me que não misticamente, senão realmente continuo em ti a minha Paixão em proveito das almas, e isto é para Mim um grande alívio, porque recolho o verdadeiro fruto da minha cruz e da Eucaristia”.

(5) Depois disto disse: “Até agora foi a obediência que te fez sofrer, queres tu que eu me divirta um pouco com renovar-te de novo a crucificação com as minhas próprias mãos?”

(6) E eu, embora me sentisse muito sofredor e mesmo afresco as dores da cruz participadas, disse:  “Senhor, estou nas tuas mãos, faze de mim o que quiseres”.

(7) Então Jesus todo contente começou a me cravar de novo os cravos nas mãos e nos pés, sentia tal intensidade de dor, que eu mesma não sei como fiquei viva, porém estava contente porque contentava a Jesus. Depois de cravar os pregos, pondo-se junto a mim começou a dizer:

(8) “Como és bela! Mas quanto mais cresce a tua beleza com o teu sofrer! Oh, como me é amada, meus olhos ficam feridos ao te ver, porque descobrem em ti minha mesma imagem!

(9) E dizia tantas outras coisas que seria inútil dizê-las, primeiro porque sou má, e segundo porque não me vendo como o Senhor me diz, sinto uma confusão e uma vergonha ao dizer estas coisas, por isso espero que o Senhor me faça verdadeiramente boa e bela, e então, diminuindo minha vergonha poderei descrevê-las, por isso ponho ponto.

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25 de Abril de 1900

A pureza no agir é luz.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma e não encontrando a meu doce Jesus, tive que girar muito para ir em busca d’Ele. No final, encontrei-o nos braços da Rainha Mãe, a beber o leite do seu peito, e enquanto eu lhe dizia e fazia, parecia que não me prestava atenção, ou melhor, nem sequer me olhava. Quem pode dizer a dor de meu pobre coração ao ver que Jesus não me fazia caso? Depois de ter dado rédea solta às lágrimas, tendo compaixão de mim veio em meus braços e derramou em minha boca um pouco desse leite que tinha chupado da Mamãe Rainha.

(2) Depois disto olhei seu peito, e tinha uma pequena pérola, tão resplandecente que investia de luz a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor. Então, querendo saber o significado, perguntei a Jesus que coisa era essa pérola, que enquanto parecia tão pequena expandia tanta luz. E Jesus:

(3) “É a pureza do teu sofrer, porque embora seja pequeno, mas como sofres somente por amor meu e estarias disposta a sofrer mais se Eu te concedesse, esta é a causa de tanta luz. Minha filha, a pureza no agir é tão grande, que quem opera com o único fim de agradar a Mim só, não faz outra coisa que mandar luz em todo seu agir. Quem não age corretamente, mesmo o bem, não faz outra coisa senão espalhar trevas”.

(4) Então eu vi no peito de Nosso Senhor, e ele tinha um espelho muito claro, e parecia que quem caminhava retamente estava tudo absorvido naquele espelho, que não estava, ficava fora, sem que pudessem receber qualquer marca da imagem do bendito Jesus. Ah Senhor! Tenha-me toda absorvida neste espelho divino, a fim de que nenhuma outra sombra de intenção tenha eu em meu obrar.

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01 de Maio de 1900

Frutos da cruz.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu doce Jesus fez-se ver toda afabilidade, e como parecia que o confessor punha a intenção da crucificação, minha natureza sentia quase repugnância de submeter-se. Então o meu doce Jesus para me animar disse-me: (2) “Minha filha, se a Eucaristia é garantia da futura glória, a cruz é pagamento para comprá-la. Se a Eucaristia é semente que impede a corrupção, e é como essas ervas aromáticas, com as quais ungindo os cadáveres não se corrompem, e doa a imortalidade à alma e ao corpo, a cruz a embeleza e é tão potente, que se houver dívidas contraídas ela se faz fiadora e com mais segurança faz com que lhe restitua a escritura da dívida contraída, e depois de ter cumprido todo o débito, com isso forma a alma o trono mais deslumbrante na glória futura. Ah! Sim, a Cruz e a Eucaristia se alternam juntas, e uma obra mais potentemente que a outra”.

(3) Depois acrescentou: “A cruz é o meu leito florido, não porque não sofresse dores atrozes, mas porque por meio da cruz dava à luz tantas almas à graça, via brotar tantas belas flores que produziam tantos frutos celestiais, assim que vendo tanto bem, Tinha para meu deleite aquele leito de dor e me deleitava da cruz e do sofrimento. Também tua filha, toma como delícias as penas e te alegre de estar crucificada na minha cruz. Não, não quero que temas o sofrer, como se quisesses agir como preguiçosa, ânimo, obra com animosidade e expõe te por ti mesma ao sofrer”.

(4) Enquanto dizia isto, via o meu anjo que estava preparado para me crucificar, e eu mesma estendi os braços, e o anjo me crucificou. Oh, como gozava o bom Jesus de meu sofrer, e como estava eu contente, porque podia dar gosto a Jesus sendo uma alma tão miserável! Pareceu-me uma grande honra para mim sofrer por seu amor.

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03 de Maio de 1900

Festa da Cruz no Céu.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via todo o céu semeado de cruzes, pequenas, grandes, médias. As maiores, mais resplendor davam. Era um encanto dulcíssimo ver tantas cruzes que embelezavam o firmamento, mais resplandecentes que o sol. Depois disto pareceu que se abria o Céu e se via e ouvia a festa que os bem-aventurados faziam à cruz. Quem mais havia sofrido era mais festejado neste dia. Distinguiam-se de modo especial os mártires e os que haviam sofrido ocultamente. Eis Oh, como se estimava nessa bem-aventurada morada a cruz e a quem mais tinha sofrido! Enquanto via isto, uma voz ressoou por todo o céu empírico que dizia:

(2) “Se o Senhor não mandasse as cruzes sobre a terra, seria como aquele pai que não tem amor pelos próprios filhos, que em vez de querer vê-los honrados e ricos, quer vê-los pobres e desonrados”.

(3) O resto que vi desta festa não tenho palavras para explicá-lo, sinto-o em mim mas não sei manifesta-lo , por isso faço silencio.

 

 

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09 de Maio de 1900

Luisa vê o mistério da Santíssima Trindade na forma de três sóis.

(1) Depois de ter passado dias de privação, e não só isso, mas também de perturbação, esta manhã, encontrando-me mais perturbada sobre o meu miserável estado, o adorável Jesus ao vir disse-me:

(2) “Tu, estando inquieta, perturbaste o meu doce repouso. Ah! Sim, não me deixa descansar mais”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao ouvir que tinha tirado o repouso de Jesus Cristo? Apesar de tudo isto, por algumas horas me acalmei, mas depois me encontrei mais inquieta do que antes, tanto que eu mesma não sei desta vez onde irei terminar.

(4) Depois daquelas poucas palavras que Jesus disse, encontrei-me fora de mim e, olhando para a abóbada dos céus, descobria nela três sóis: um deles parecia pousar no oriente, outro no ocidente, terceiro no meio do dia. Era tanto o esplendor dos raios que emanavam, que se uniam uns com os outros, de modo que formavam um só. Parecia-me ver o mistério da Santíssima Trindade, e o homem formado com as três potências à imagem dela. Compreendia também que quem estava naquela luz, sua vontade ficava transformada no Pai, a inteligência no Filho e a memória no Espírito Santo. Quantas coisas compreendia! mas não sei manifestá-lo.

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13 de Maio de  1900

Privação de Jesus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, se bem faço quanto posso para estar quieta sem me perturbar, porque assim quer a obediência, mas com tudo isto não deixo de sentir o peso do abandono que me oprime e chega até me esmagar. Ó Deus! que estado é este? Diga-me ao menos em que te ofendi? Qual é a causa?  Ah Senhor, se você quiser continuar deste modo eu acho que não posso resistir mais!

(2) Por isso, assim que se fez ver, pondo uma mão sob o queixo em atitude de Compadecer-me, disse-me:

(3) “Pobre filha, a que estado te reduziste!”

(4) E fazendo-me partícipe de suas penas, como raio desapareceu deixando-me mais aflita que antes, como se não tivesse vindo, é mais, sinto-me como se não tivesse vindo há muito tempo, e sinto tal aflição por isto, que vivo, mas meu viver é um contínuo agonizar. Ah! Senhor, me dê ajuda e não me deixe no abandono, embora eu mereça!

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17 de  Maio de  1900

Poder das almas vítimas.

(1) Continua o mesmo estado de privação e de abandono. Então, encontrando-me fora de mim mesma via uma inundação de água misturada com granizo, parecia que várias cidades ficavam inundadas com notáveis danos. Enquanto via isto, encontrava-me em grande consternação porque queria impedir aquela inundação, mas como me encontrava sozinha e sobretudo não tinha comigo a Jesus, meus pobres braços sentia-os fracos para poder fazê-lo. Então, com grande surpresa vi vir uma virgem (me parecia que era da América), e ela de um ponto e eu do outro conseguimos impedir em grande parte o flagelo que nos ameaçava. Depois disto, tendo-nos reunido, via aquela virgem com as insígnias da paixão e coroada com coroa de espinhos, como também eu me encontrava, e uma pessoa que me parecia que fosse um anjo que dizia:

(2) “Ó poder das almas vítimas! O que não nos é dado fazer a nós, anjos, elas com seus sofrimentos podem fazê-lo. Oh! se os homens soubessem o bem que lhes vem delas, porque estão para o bem público e particular, não fariam outra coisa que implorar a Deus que multiplique estas almas sobre a terra”.

(3) Depois disto, tendo-nos dito que nos confiámos mutuamente ao Senhor, separamo-nos .

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18 Maio de 1900

Preencher o interior de Deus.

(1) Encontro-me ainda privada de meu adorável Jesus, no máximo alguma sombra vejo, oh quanto me custa amá-lo, quantas lágrimas devo derramar! Esta manhã, depois de o haver buscado e esperado muito, o encontrei em minha mesma cama, todo aflito, com a coroa de espinhos que lhe traspassava a cabeça; a tirei pouco a pouco e a coloquei sobre a minha.  Oh, como me via mal diante de sua presença! Não tinha força para dizer uma só palavra. Jesus, tendo compaixão de mim, disse-me:

(2) “Tem coragem, não temas, procura preencher teu interior de Mim e enriquecê-lo com todas as virtudes, até que transborde fora, e quando chegares a desbordá-las, então te levarei ao Céu e terminarão todas as tuas privações”.

(3) Depois disso, Ele agregou tomando um ar afligido: “Minha filha, reza, porque estão preparados três diferentes dias, um longe do outro, de tempestades, granizadas, raios, inundações, que causarão grande dano aos homens e às plantas”.

(4) Dito isto desapareceu, deixando-me um pouco mais aliviada no estado em que me encontro, mas com um pensamento: “Quem sabe quando chegarei a transbordar, e se não o fizer, talvez me restará estar sempre distante Dele”.

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20 de Maio de 1900

Todas as coisas têm início no nada. Necessidade do repouso e do silêncio interior.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, me parecia que fosse de noite e via todo o universo, toda a ordem da natureza, 56 o céu estrelado, o silêncio noturno, em suma, me parecia que tudo tinha um significado. Enquanto olhava para isto, parecia-me que via Nosso Senhor, que tomando a palavra acerca do que via disse:

(2) “Toda a natureza convida ao repouso, mas qual é o verdadeiro repouso? É o repouso interior e o silêncio de tudo o que não é Deus. Olhe, as estrelas cintilantes de luz moderada, não deslumbrante como o sol; o sono e o silêncio de toda a natureza, dos homens e até dos animais, e que todos procuram um lugar, uma caverna onde estar em silêncio e repousar do cansaço da vida. Se isso é necessário para o corpo, muito mais para a alma é necessário repousar em seu próprio centro que é Deus. Mas para poder repousar em Deus é necessário o silêncio interior, como ao corpo é necessário o silêncio exterior para poder-se pacificamente adormecer. Mas o que é este silêncio interior? É fazer calar as próprias paixões tendo-as em seu lugar, é impor silêncio aos desejos, às inclinações, aos afetos, em suma, a tudo o que não chama a Deus. Agora, qual é o meio para chegar a isto? O único meio e de absoluta necessidade é desfazer o próprio ser e reduzir-se ao nada, como era antes de ser criada, e quando tiver reduzido a nada o seu ser, retomá-lo em Deus.

(3) Minha filha, todas as coisas têm princípio do nada, esta mesma máquina do universo que você vê com tanta ordem, se antes de criá-la tivesse estado cheia de outras coisas, Eu não poderia colocar minha mão criadora para fazê-la com tanta maestria e deixá-la tão esplêndida e adornada, no máximo poderia desfazer tudo o que podia estar, e depois refazê-la como a Mim me agradava; mas estamos sempre ali, em que todas minhas obras têm princípio do nada, e quando há mistura de outras coisas, não é decoroso para minha Majestade descer e obrar na alma, mas quando a alma se reduz a nada e sobe a Mim, e toma seu ser no meu, então Eu obro como o Deus que sou, e a alma aí encontra o verdadeiro repouso. Eis como todas as virtudes têm princípio na humildade e no aniquilamento de si mesmo.

(4) Quem pode dizer quanto compreendia sobre o que me dizia o bendito Jesus? Oh, como seria feliz minha alma se pudesse chegar a desfazer meu pobre ser, para poder receber de meu Deus seu Ser Divino! ¡ Oh, como me enobreceria, como ficaria santificada! Mas que tolice é a minha, onde tenho o cérebro se ainda não o faço? Que miséria humana, que em vez de buscar seu verdadeiro bem e de empreender seu vôo ao alto, se contenta com arrastar-se por terra e viver na lama e na podridão!

(5) Depois disto meu amado Jesus me transportou dentro de um jardim em que havia muita gente que se preparava para assistir a uma festa, mas só aqueles que recebiam uma divisa podiam assistir, mas eram poucos os que recebiam esta divisa; a mim me veio um grande desejo de recebê-la, e tanto fiz que consegui meu propósito. Depois, tendo chegado ao ponto onde os recebiam, uma venerável matrona primeiro me vestiu de branco, depois me pôs uma banda celestial da qual pendia uma medalha marcada com o rosto de Jesus, e que enquanto era rosto ao mesmo tempo era espelho, que ao contemplar-se nele se descobriam as menores manchas, e que a alma com a ajuda de uma luz que vinha de dentro daquele rosto, podia ser facilmente removido. Parecia-me que essa medalha continha um significado misterioso. Depois tomou um manto de ouro finíssimo e me cobriu toda. Parecia-me que vestida assim podia competir com as virgens bem aventuradas. Enquanto isso acontecia Jesus me disse:

(6) “Minha filha, voltemos a ver o que fazem os homens, por agora basta que estejas vestida, quando for a festa então te levarei para assistir”.

(7) Assim, depois de ter virado um pouco, transportou-me para a minha cama.

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21 de Maio de 1900

O estado mais sublime é desfazer o nosso querer no Querer de Deus, e viver da sua Vontade.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha; depois de muito esperar veio e me acariciou me disse:

(2) “Minha filha, sabes qual é a minha mira sobre ti, e o estado que quero de ti?”

(3) E parando um pouco acrescentou: “O olhar que tenho sobre ti não é de coisas prodigiosas, e de tantas outras coisas que poderia obrar em ti para mostrar minha obra, senão que minha mira é te absorver em minha Vontade e te fazer uma só coisa com Ela, e fazer de ti um exemplar perfeito de uniformidade de teu querer com o meu. Este é o estado mais sublime, é o prodígio maior, é o milagre dos milagres o que de você quero fazer.

(4) Minha filha, para chegar perfeitamente a fazer um nosso querer, a alma deve tornar-se invisível, deve imitar-me a Mim, que enquanto encho o mundo com tê-lo absorvido em Mim e com não ficar absorvido nele, torno-me invisível e de nenhum modo me deixo ver. Isto significa que não há nenhuma matéria em Mim, senão que tudo é puríssimo Espírito, e se em minha Humanidade assumida tomei a matéria, foi para assemelhar-me em tudo ao homem e dar-lhe um exemplar perfeitíssimo de como espiritualizar esta mesma matéria. Então a alma deve espiritualizar tudo e chegar a tornar-se invisível para poder fazer facilmente uma sua vontade com minha Vontade, porque o que é invisível pode ser absorvido em outro objeto. De dois objetos com os quais se quer formar um só, é necessário que um perca a própria forma, de outra maneira jamais se chegaria a formar um só ser.

(5) Que sorte seria a sua se destruindo a si mesma, até se tornar invisível, pudesse receber uma forma toda divina! E mais, tu com ficar absorvida em Mim e Eu em ti, formando um só ser, virias a reter em ti a fonte divina, e como minha Vontade contém todo o bem que pode existir, virias a reter todos os bens, todos os dons, todas as graças, E não teria que procurar em outro lugar senão em você mesma. E se as virtudes não têm confins, estando em minha Vontade segundo a criatura possa chegar, encontrará seu termo, porque minha Vontade faz chegar a adquirir as virtudes mais heróicas e mais sublimes que a criatura por si só não pode superar .

(6) É tanta a altura da perfeição da alma desfeita em meu Querer, que chega a agir como Deus, e isto não é de admirar, porque como não vive mais sua vontade nela, senão a Vontade do próprio Deus, cessa todo assombro se vivendo com esta Vontade possui a potência, a sabedoria, a santidade e todas as outras virtudes que o próprio Deus contém. Basta te dizer, para fazer que você se apaixone e coopere o quanto puder por sua parte para chegar a tanto, que a alma que chega a viver só de meu Querer é rainha de todas as rainhas e seu trono é tão alto, que chega até o trono do Eterno, e entra nos segredos da Augustíssima Trindade e participa no amor recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Oh, como todos os anjos e santos a honram, os homens a admiram e os demônios a temem, descobrindo nela o Ser Divino!”.

(7) Ah Senhor! Quando é que me vais fazer chegar a isto, porque não posso fazer nada por mim? Agora, quem pode dizer o que o Senhor infundia em mim com luz intelectual sobre esta uniformidade de querer-vos? É tanta a altura dos conceitos, que minha língua não bem treinada não tem palavras para expressá-los, apenas pude dizer isto pouco, se bem disparatando, do que o Senhor com luz vivíssima me fez compreender.

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26 de  Maio de 1900

 O querer de Luísa é um com o de Jesus.

(1) Encontrando-me muito afligida pela privação de meu adorável Jesus, que ao mais vem como sombra e relâmpago, sinto que não posso seguir adiante se Ele quiser continuar assim. Então, encontrando-me no máximo da aflição, por pouco se fez ver, todo cansado, como se tivesse necessidade de um alívio, e pondo os seus braços ao meu pescoço me disse:

(2) “Amada minha, traze-me flores e circunda-me tudo, porque me sinto definhar de amor. Minha filha, o odor do perfume de tuas flores me será de alívio e porá um remédio a meus males, porque definho e desfaleço”.

(3) Eu logo acrescentei: “E Tu, meu amado Jesus, dá-me frutos, porque o lazer e o escasso sofrer aumentam de tal maneira o meu definhar, que desfaço até me sentir morto; e então não só flores, senão que poderei dar-te frutos para poder consolar maioritariamente o teu definhar”. E Jesus voltou a falar e me disse:

(4) “Oh, como nos ajustamos bem, não é verdade? Parece que seu querer é um com o meu.

(5) Por um momento parecia que ficava aliviada, como se quisesse cessar o estado em que me encontrava, mas depois de um pouco me encontrei imersa na mesma letargia de antes, privada de meu Sumo Bem, abandonada e sozinha.

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27 de Maio de 1900

O amor e a graça penetram nas profundezes do ser do homem.

(1) Esta manhã, sentindo-me mais do que nunca afligida pela privação do meu sumo Bem, assim que me fez ver, disse-me:

(2) “Assim como um vento impetuoso investe nas pessoas e penetra até nas vísceras, de modo a sacudir toda a pessoa, assim meu amor e minha graça voando sobre as asas dos ventos, invistam e penetram no coração, na mente e nas mais profundas partes do homem. Com tudo isso, o homem ingrato rejeita minha graça e me ofende, oh! qual não é a minha acerbo dor?”

(3) Eu estava toda confusa e aniquilada em mim mesma e não ousava dizer uma só palavra, só pensava: “Como é que não vem?” E também: Se ele vier, não vejo claramente, parece que perdi a claridade, quem sabe se verei o seu lindo rosto revelado como antes?” Enquanto assim pensava, meu benigno Jesus acrescentou:

(4) “Minha filha, por que temes, se teu estado está nos Céus pela união de nossos querer?

(5) E querendo me animar e compadecer meu estado doloroso me disse:

(6) “Tu és meu novo Jó. Não te oprimas muito se não me vês com clareza .Disse-te desde o outro dia, que não venho como é habitual porque quero castigar as nações, e se tu me visses com clareza compreenderias o que Eu estou fazendo, e teu coração, como recebeu o enxerto do meu, por isso sei o que tu virias a sofrer, como o meu coração está a sofrer porque sou forçado a punir as minhas criaturas. Então, para poupar-lhe essas dores, eu não me faço ver com clareza”.

(7) Quem pode dizer as feridas que deixou meu pobre coração? Ah Senhor, dá-me a força para suportar a dor!

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29 Maio de 1900

Ameaça de castigos.

(1) Continuo a estar no mesmo estado, sentia-me toda oprimida e tinha toda a necessidade de um apoio para poder suportar a privação do meu Sumo Bem. O bendito Jesus, tendo compaixão de mim, por alguns minutos mostrou o seu rosto de dentro do meu coração, mas não com clareza, e fazendo-me ouvir a sua suave voz disse-me:

(2) “Tem ânimo mais um pouco minha filha, deixa-me terminar de castigar e depois virei como antes”.

(3) Enquanto dizia isto, em minha mente pensava: “Quais são os castigos que começou a mandar?” E Ele acrescentou:

(4) “A chuva contínua é mais do que granizo, que está a fazer e vai trazer tristes consequências para as pessoas“.

(5) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, dentro de um jardim, e dali de dentro se viam as colheitas e as vinhas secas, e dentro de mim ia dizendo: “Pobre gente, pobre  gente, como farão?” Enquanto dizia isto, dentro daquele jardim estava um menino que chorava e gritava tão forte que ensurdecia Céu e Terra, mas ninguém tinha compaixão dele, ainda que todos o ouvissem que chorava tanto, não o levavam em conta e o deixavam sozinho e abandonado. Um pensamento passou pela minha cabeça: “Quem sabe? Como melhor será Jesus”. Mas não estava segura. Então, aproximando-me Dele lhe disse: “Que tens que chorar menino amado? Queres vir comigo, já que todos te deixaram abandonado às tuas lágrimas e à dor que te oprime tanto que te faz gritar tão forte?” Mas o que, quem poderia acalmá-lo? Apenas entre soluços respondeu que sim, que queria vir. Então eu o peguei pela mão para conduzi-lo junto comigo, e no momento que fiz isso, me encontrei em mim mesma.

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03 de Junho de 1900

A falta de estima pelas pessoas é falta de verdadeira humildade.

(1) Encontrando-me no mesmo estado, esta manhã, por um pouco vi meu adorável Jesus, que estava dentro de meu coração e dormia, e seu sonho atraía a minha alma a adormecer junto com Ele, tanto que sentia todas as potências interiores adormecidas, sem obrar mais. Às vezes me esforçava para sair daquele sonho, mas não podia, quando por um pouco se despertou o bendito Jesus e ordenou por três vezes seu alento dentro de mim, e me parecia que Ele ficava tudo absorvido em mim. Depois me parecia que Jesus atraiu outra vez dentro Dele esses três alentos que me havia enviado, e eu me encontrei toda transformada Nele. Quem pode dizer o que acontecia em mim por estes sopros divinos? Daquela união inseparável entre Jesus e eu, não tenho palavras para expressá-la. Depois disso parece que eu poderia acordar e Jesus, quebrando o silêncio me disse:

(2) “Minha filha, olhei e voltei a olhar, procurei e voltei a procurar, percorrendo toda a terra, mas em ti fixei os meus olhares e encontrei as minhas complacências, e escolhi-te entre milhares”.

(3) Depois, dirigindo-se a certas pessoas que via, repreendeu-as dizendo-lhes:

(4) “A falta de estima pelas outras pessoas é falta de verdadeira humildade cristã e de docilidade, porque um espírito humilde e doce sabe respeitar a todos e interpreta sempre bem os atos dos demais”.

(5) Dito isso, ele desapareceu sem sequer dizer uma palavra. Seja sempre abençoado que ele quer, e tudo seja para a sua glória.

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06 de Junho de 1900

Luisa crucificada, evita alguns castigos sobre Corato.

(1) Como meu adorável Jesus continuava sem se fazer ver com clareza, esta manhã, tendo recebido a comunhão, o confessor pôs a intenção da crucificação; enquanto me encontrava nesses sofrimentos, o bendito Jesus, quase atraído por minhas penas mostrou-se com clareza. Oh Deus! Quem pode dizer os sofrimentos que sofria Jesus e o estado violento em que se encontrava, porque enquanto estava obrigado a mandar os castigos, sentia tal violência que não queria mandálos? Dava tanta compaixão vê-lo neste estado, que se os homens o pudessem ver, ainda que seus corações fossem de diamante se romperiam Como vidro frágil pela ternura. Então comecei a implorar-lhe que se acalmasse e que se contentasse em fazer-me sofrer a mim, e que perdoasse o povo. Depois acrescentei: “Senhor, se não queres ouvir as minhas orações, sei que o mereço; se não queres ter compaixão dos povos, tens razão, porque grandes são as nossas iniqüidades, mas peço-te em graça que tenhas compaixão de ti mesmo, tem piedade da violência que te fazes ao castigar as tuas imagens. Ah! sim, te peço por amor de Ti mesmo, que não mande castigos até chegar a tirar o pão a seus filhos e fazê-los perecer. Ah! não, não é da natureza do seu coração agir deste modo, por isso é a violência que sentes, que se pudesse te daria a morte”.

(2) E Ele, todo aflito, me disse: “Minha filha, é a justiça que me faz violência, e o amor que tenho pelos homens me faz violência mais forte, tanto, de pôr a meu coração em angústias de morte ao castigar as criaturas”.

(3) E eu: “Por isso, Senhor, descarrega sobre mim a justiça, e teu amor não será mais violentado pela justiça e não se encontrará em conflito para castigar as nações, porque em verdade, como farão se Tu agires, como me fazes compreender, secando tudo o que serve de alimento ao homem? Ah, peço-te, deixa-me sofrer e perdoa-lhes a eles, se não em tudo pelo menos em parte”.

(4) E Jesus, como se fosse obrigado por minhas orações, aproximou-se da minha boca e derramou da sua um pouco de amargura, densa e nauseante, que assim que a engoli me produziu tais e tantas espécies de penas que me sentia morrer. Então o bendito Jesus, sustentando-me nessas penas, caso contrário teria ficado vítima (e todavia não havia derramado mais que um pouco, o que será de seu coração adorável que tanta continha?), suspirou como se tivesse se aliviado de um peso e me disse:

(5) “Minha filha, minha justiça tinha decidido destruir tudo, mas agora descarregando um pouco sobre ti, por amor teu concede um terço do que serve de alimento ao homem”. (6) E eu: “Ah Senhor, é muito pouco, pelo menos a metade!”

(7) E Ele: “Não minha filha, aceita-te”.

(8) E eu: “Não Senhor, se não me queres contentar por todos, pelo menos diz-me por Corato e por aqueles que me pertencem”.

(9) E Jesus: “Hoje está preparada uma saraivada que deve fazer grande dano, tu estás com as dores da cruz, sai de ti mesma e em forma crucificada vê no ar e põe em fuga os demônios de cima de Corato, porque ante tua forma crucificada não poderão resistir e irão a outra parte”.

(10) Assim saí de mim mesma, crucificada, e vi a saraiva e os raios que estavam prestes a irromper sobre Corato. Quem pode dizer o espanto dos demônios, como à vista de minha forma crucificada corriam, mordiam os dedos de raiva e chegavam a tomá-la contra o confessor que esta manhã me tinha dado a obediência de sofrer a crucificação, já que contra mim não a podiam tomar, aliás, eram obrigados a fugir de mim pelo sinal da Redenção que advertiam? Então, depois de tê-los posto em fuga retornei a mim mesma, encontrando-me com uma boa dose de sofrimentos. Seja tudo para a glória de Deus.

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07 de Junho de 1900

Jesus lhe entrega as chaves da justiça e uma luz para descobri-la.

(1) Como me encontrava sofredora, parecia-me que aqueles sofrimentos eram uma doce corrente que atraía meu bom Jesus a fazê-lo vir quase que continuamente, e me parecia que aquelas penas chamavam a Jesus para fazê-lo derramar em mim outras amarguras. Então, ao vir, agora me segurava em seus braços para me dar força, e agora derramava de novo. Eu de vez em quando lhe dizia: “Senhor, agora sinto em mim parte de tuas penas, rogo-te que me contentes, como te disse ontem de dar-me ao menos a metade do que serve para alimento do homem”.

(2) E Ele: “Minha filha, para te contentar te entrego as chaves da justiça e o conhecimento de quanto é absolutamente necessário castigar o homem, e com isto farás o que te agrade, não estás contente por isso?”

(3) Ao ouvir-me dizer isto, consolei-me e disse dentro de mim: “Se está em mim, de facto não castigarei nenhum”. Mas como fiquei desiludida quando o bendito Jesus me deu uma chave e me pôs no meio de uma luz, e olhando do meio daquela luz descobria todos os atributos de Deus, e também os da justiça. ¡ Oh, como tudo está ordenado em Deus! E se a justiça castiga, é ordem; e se não castiga não estaria em ordem com os demais atributos. Agora me via como miserável verme no meio daquela luz, e que se quisesse impedir o curso à justiça, arruinaria a ordem e iria contra os mesmos homens, porque compreendia que a mesma justiça é amor puríssimo para com eles. Então me encontrei toda confusa e incomodada, por isso para me desentender disse a nosso Senhor: “Com esta luz da qual me rodeastes entendo as coisas de maneira diversa, e se me deixasses agir a mim fá-lo-ia pior do que Tu, por isso não aceito este conhecimento e renuncio às chaves da justiça; o que aceito e quero é que me faças sofrer e que libertes as pessoas; do resto não quero saber nada”.

(4) E Jesus, sorrindo diante de mim, disse-me:

(5) “Como! Tão logo queres te afastar, não querendo conhecer nenhuma razão e querer fazer-me violência mais forte queres sair com duas palavras: Faz-me sofrer a mim e livra-te deles”.

(6) E eu: “Senhor, não é que não queira saber nenhuma razão, senão que não é ofício meu, mas teu. Meu ofício é o de ser vítima, por isso Tu faz teu ofício e eu faço o meu, não é verdade meu amado Jesus?”

(7) E Ele, mostrando como uma aprovação desapareceu.

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10 de  Junho de 1900

Ofício de vítima. Castigos.

(1) Parece-me que o meu adorável Jesus continua a dividir em dois a justiça, derramando um pouco em mim e o resto nas pessoas. Esta manhã, especialmente quando me encontrei com Jesus, me destroçava a alma ao ver a tortura de seu dulcíssimo coração ao castigar as criaturas. Era tanto o estado sofredor no qual se encontrava, que não fazia outra coisa que emitir contínuos gemidos, tinha na cabeça uma tupida coroa de espinhos, toda encarnada, tanto que a cabeça parecia um conjunto de espinhos. Então, para aliviá-lo um pouco, eu disse-lhe: “Diz-me, meu bem, o que é que tens que estás a sofrer tanto? Permite-me que te tire estes espinhos que não tão pouco te atormentam”. Mas Jesus não me respondia, aliás, nem sequer escutava o que eu dizia. Então me pus a remover aqueles espinhos, uma por uma, e depois as pus sobre minha cabeça. Agora, enquanto fazia isto, vi que em lugares longínquos devia acontecer um terremoto que faria matança de pessoas. Depois Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma, mas com suma aflição minha ao pensar no estado sofredor de Jesus e nas desgraças da miserável humanidade.

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12 de Junho de 1900

A obediência a faz pedir a Jesus que a faça sofrer para impedir os castigos.

(1) Esta manhã, ao vir o meu amável Jesus, comecei a dizer: “Senhor, o que fazes? Parece que estás a ir longe demais com a justiça”. E enquanto queria continuar a falar para desculpar as misérias humanas, Jesus impôs-me silêncio dizendo-me:

(2) “Cala-te, se queres que me entretenha contigo vem beijar-me e curar-me com as tuas habituais adorações todos os meus membros sofredores”.

(3) Assim comecei pela cabeça, e depois, pouco a pouco pelos outros membros. Oh, quantas chagas profundas tinha aquele corpo sacrossanto, que só olhá-las dava horror! Então, não apenas tinha terminado desapareceu, deixando-me com pouquíssimo sofrimento e com um temor: quem sabe como se derramará sobre as nações, porque não se dignou derramar sobre mim as suas amarguras.

(4) Pouco depois veio o confessor e disse-lhe o anterior, e ele disse-me que hoje, por obediência absoluta, quando fizer a meditação deves pedir-lhe que te faça sofrer a crucificação e que deixe de mandar os flagelos. Então, quando fiz a meditação, assim que se fez ver lhe roguei de acordo com 63 a obediência recebida, mas não me pôs atenção, é mais, agora se fazia ver que virava as costas às pessoas, agora que dormia para não ser importunado por mim, e que sei eu, me sentia morrer porque não se preocupava em me fazer a obediência; então tomei coragem, e pondo toda a confiança na santa obediência o tomei por um braço, e movendo-o para despertá-lo eu lhe disse: “Senhor, que fazes? Este é o amor que tens pela tua virtude predileta da obediência? Estes são os elogios que lhe deram tantas vezes? Estas são as honras que lhe concedeste, até dizer que te sentes abalado e não podes resistir à virtude da obediência e sentes-te cativado pela alma que se doa a esta virtude, que agora parece que não te importas de me obedecer? Enquanto isto e outras coisas dizia, e que me prolongaria demasiado se quisesse escrevê-las, o bendito Jesus sacudiu-se, e como atingido por uma vivência de dor, rompeu em abundante pranto, e soluçando disse:

(5) “Nem Eu quero mandar açoites, é a justiça que me obriga quase à força, mas tu com este falar queres-me ferir ao vivo e tocar-me uma fibra muito delicada para Mim e muito amada por Mim, tanto que não quis outra honra nem outro título que o de obediente. E para te fazer ver que não é que não me importe de te fazer obedecer, com tudo o que a justiça me obriga a não fazer, te compartilho em parte as dores da cruz”.

(6) Enquanto fazia isto, desapareceu, deixando-me contente porque me fez obedecer e com um desgosto na alma, como se tivesse sido causa de fazer chorar ao Senhor com o meu falar. Ah Senhor, peço que me perdoe!

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14 Junho de 1900

 Efeitos da cruz.

(1) Encontrando-me não pouco sofredor, meu adorável Jesus, ao vir toda me compadecia e me disse:

(2) “Minha filha, o que tens que sofres tanto? Deixe-me aliviar um pouco”.

(3) E mas Jesus estava mais sofredor que eu) assim me deu um beijo, e como estava crucificado me atraiu fora de mim mesma e pôs minhas mãos nas suas, meus pés nos seus, minha cabeça apoiava sobre a sua e a sua sobre a minha. Como estava contente por me encontrar nesta posição! Se bem que os cravos e os espinhos de Jesus me causavam dor, eram dores que me davam alegria porque eram sofridos por amor ao meu amado Bem; aliás, queria que aumentassem. Também Jesus parecia contente comigo porque me tinha naquele modo em que me sentia atraída por Ele. Parecia-me que Jesus me consolava e eu era consolação para Ele.

(4) Então, nesta posição saímos fora, e tendo encontrado o confessor, em seguida pedi por suas necessidades e disse ao Senhor que se dignasse fazer ouvir ao confessor como é doce e suave sua voz. Jesus para me contentar se dirigiu a ele e lhe falou da cruz dizendo:

(5) “A cruz absorve na alma minha Divindade, a assemelha à minha Humanidade e copia em si mesma minhas mesmas obras”.

(6) Depois continuamos a girar mais um pouco e, oh, quantas cenas dolorosas que trespassavam a alma de lado a lado! As graves iniqüidades dos homens, que nem sequer se curvam perante a justiça, ao contrário, lançam-se com maior furor, como se quisessem dar duplas feridas por cada ferida, e a grande miséria que eles próprios se preparam. Então, com grande amargura nos retiramos; Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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17 de Junho de 1900

Colocar-se em Deus e não sair dos confins da paz, é o mesmo.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, em meu íntimo me sentia suscitar alguma sombra de perturbação sobre o por que não vinha; Então ao vir me disse:

(2) “Minha filha, conter-se em Deus e não sair dos confins da paz é tudo o mesmo. Então, se você percebe um pouco de perturbação, é sinal de que você saiu um pouco de dentro de Deus, porque se preencher Dele e não ter perfeita paz é impossível, muito mais que os confins de a paz são intermináveis, antes tudo o que pertence a Deus é paz”.

(3) Depois acrescentou: “Não sabes tu que as privações à alma servem como o inverno às plantas, que faz que aprofundarem-se as raízes, as fortifica e as faz reverdecer e florescer em maio?”

(4) Depois disto, transportou-me para fora de mim mesma e, tendo-lhe confiado várias necessidades, desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma, com o desejo de me manter sempre dentro de Deus, a fim de que me pudesse encontrar dentro dos confins da paz.

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18 de Junho 18 de 1900

Tudo o que é criado nos ensina o amor de Deus, o corpo chagado de Jesus, o amor do próximo.

(1) Jesus continua sem vir, e eu tratava de me ocupar em considerar o mistério da flagelação. Enquanto fazia isto vi o bendito Jesus todo chagado e jorrando sangue e me disse:

(2) “Minha filha, o céu com tudo o criado te ensina o amor de Deus; meu corpo chagado te ensina o amor do próximo, tanto, que minha Humanidade unida a minha Divindade, de duas naturezas fiz uma só e as tornei inseparáveis, porque não só satisfiz a divina justiça, mas realizei a salvação dos homens. E para fazer com que todos assumissem esta obrigação de amar a Deus e o próximo, não só fiz disto uma única obrigação, mas cheguei a fazer desta obrigação um preceito divino. Assim, minhas chagas e meu sangue são tantas línguas que ensinam a cada um o modo de amar-se, e a 65 obrigação que todos têm de prestar atenção à salvação dos demais”.

 

(3) Depois, tomando um aspecto mais aflito acrescentou:

(4) “Que tirano impiedoso é para mim o amor, porque não só empreguei todo o curso de minha vida mortal em contínuos sacrifícios, até morrer sangrando sobre uma cruz, senão que me deixei como vítima perene no sacramento da Eucaristia. E não só isto, mas a todos os meus membros prediletos tenho vítimas viventes em contínuos sofrimentos, empenhados na salvação dos homens, como entre tantos escolhi a ti para ter-te sacrificada por amor meu e pelos homens. Ah sim! Meu coração não encontra descanso nem repouso se não encontrar o homem, e o homem, como é que me corresponde? Com ingratidões enormes.”

(5) Dito isto, Ele desapareceu.

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20 de  Junho de 1900

A humildade mais perfeita produz na alma a união mais íntima com Deus.

(1) Esta manhã, estando fora de mim mesma e não encontrando meu Sumo Bem, tive que girar e girar em busca Dele; quando me cansei até sentir desfalecer, senti-o atrás de minhas costas, que me sustentava. Então estendi o braço e o puxei para a frente dizendo: “Meu amado, sabes que não posso ficar sem Ti, não obstante me fazes esperar tanto, até me fazer desmaiar. Diz-me pelo menos, qual é a causa, em que te ofendi que me submetes a dilacerações tão cruéis, a martírios tão dolorosos como é a tua privação?” E Jesus interrompendo o meu discurso disse-me:

(2) “Minha filha, minha filha, não acrescente mais rasgos ao meu coração exacerbado ao máximo, pois se encontra em contínua luta pelas violências que constantemente todos me fazem: Violência me fazem as iniqüidades dos homens, que atraindo sobre eles a justiça me forçam a puni-los, e a justiça pondo-se em contínua luta com o amor que tenho pelos homens, rasga-me o coração de modo tão doloroso, de me fazer morrer continuamente; violência me fazes tu, porque vindo Eu e conhecendo tu os castigos que estou enviando, não estás quieta, não, mas que me força, me faz violência e não quer que castigue, e sabendo Eu que você não pode fazer de outra maneira ante minha presença, para não expor meu coração a uma luta mais feroz, me abstenho de vir. Por isso não me violentes para me fazeres vir agora; deixa-me desabafar a minha ira, e não queiras aumentar as minhas penas com as tuas palavras. Quanto ao resto não quero que pense, porque a humildade mais perfeita, mais sublime, é a de perder toda razão e não discorrer sobre o porquê e do como, mas se desfazer no próprio nada, e enquanto a alma faz isto, sem adverti-lo encontra-se perdida em Deus, e isto produz nela a união mais íntima, o amor mais perfeito para o sumo Bem. Isto com sumo proveito da alma, porque perdendo a própria razão adquire a razão divina, e perdendo todo pensamento sobre si mesma, isto é, se está fria ou quente, se são favoráveis ou 66 adversas as coisas que lhe acontecem, se interessará e adquirirá uma linguagem toda celestial e divina.

(3) Além disso, a humildade produz na alma uma vestidura de segurança, pelo que envolta neste vestido de segurança, a alma está na calma mais profunda, embelezando-se toda para agradar ao seu querido e amado Jesus”.

(4) Quem pode dizer como fiquei surpreendida por este falar de Jesus? Não tive nem uma palavra para responder. Pouco depois desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, quieta, sim, mas aflita no máximo, primeiro pelas aflições e lutas nas quais se encontrava meu amado Jesus, e depois pelo temor de que não viesse. Quem poderá resistir? Como farei para suportar a mim mesma por sua ausência? Ah! Senhor, dá-me a força para suportar tão duro martírio, tão insuportável a minha pobre alma! De resto, diga o que quiser, porque por mim não deixarei nenhum meio, tentarei todos os caminhos, usarei todos os estratagemas para atraí-lo para que venha.

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24 de Junho de 1900

A cruz é o alimento da humildade.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, em que no máximo se fazia ver como sombra, como um relâmpago, minhas potências as sentia todas adormecidas, de modo que eu mesma não entendia o que acontecia em meu interior. Neste adormecimento uma só pena se despertava em meu interior, e era que me parecia que tinha acontecido como a um que enquanto dorme perde a vista, ou bem é despojado de todas suas riquezas, pelo que o miserável não pode nem doer-se, nem defender-se, nem usar algum meio para libertar-se de seus infortúnios. Pobrezinho, em que estado tão desastroso se encontra! Mas, qual é a causa? O sonho, porque se estivesse acordado certamente saberia defender-se de suas desventuras. Assim é meu mísero estado, não me é dado nem sequer dar um gemido, um suspiro, derramar uma lágrima, porque perdi de vista Aquele que é todo meu amor, todo meu bem e que forma todo meu contentamento. Parece que para que eu não sofra por sua privação me adormeceu e me deixou-me. A. Ah! Senhor, acorda-me Tu, a fim de que possa ver minhas misérias e conhecer ao menos do que estou privada.

(2) Agora, enquanto me encontrava neste estado, de dentro de mim ouvi o bendito Jesus que se lamentava continuamente. Esses lamentos feriram meus ouvidos e despertando um pouco disse: “Meu só e único Bem, por teus lamentos advirto o estado tão sofredor no qual te encontras, isto te sucede porque queres sofrer só e não queres me fazer partícipe de tuas penas, é mais, Para não me teres na tua companhia, fizeste-me adormecer e deixaste-me sem me fazer entender mais nada. Entendo o porquê de tudo isto, para estar mais livre para punir, mas ah! tem compaixão de  mim, pois sem Ti estou cega, e tem compaixão de Ti, porque é sempre bom em todas as circunstâncias ter quem te faça companhia, que te console e que de algum modo diminua a tua ira, porque por agora estás firme em mandar açoites, Mas quando vires as tuas imagens a perecer da miséria, lamentarás mais do que agora e talvez me digas: “Ah, se tu te tivesses empenhado mais em aplacar-me, se tivesses tomado sobre ti as penas das criaturas, não veria tão destroçados os meus próprios membros!” Não é verdade meu pacientíssimo Jesus? Ah, Jesus, Jesus, deixa-te sofrer um pouco e deixa-me sofrer em teu lugar!”

(3) Enquanto isso dizia, Ele se lamentava continuamente, quase no ato de querer ser compadecido e aliviado, mas queria que lhe arrancasse quase por força este mesmo alívio, pelo que depois de meus rogos estendeu em meu interior suas mãos e pés cravados e me participou um pouco suas penas. Depois disto, dando um pouco de trégua a seus lamentos me disse:

(4) “Minha filha, são os tristes tempos que a isto me obrigam, porque os homens se fortaleceram e ensoberbecido tanto, que cada um acredita ser deus para si mesmo, e se Eu não ponho mão nos flagelos faria um dano a suas almas, porque só a cruz é o alimento da humildade. Então, se eu não fizesse isso, eu mesmo lhes faria falta o meio para humilhá-los e rende-los de sua estranha loucura, ainda que a maior parte me ofendam mais, mas Eu faço como um pai que reparte a todos o pão para alimentá-los; que alguns filhos não o queiram tomar, mas sim que se sirvam dele para atirá-lo na cara ao pai, que culpa tem disso o pobre pai? Assim sou Eu. Por isso compadece-me em minhas aflições”.

(5) Dito isto, desapareceu deixando-me meio acordada e meio adormecida, não sabendo eu mesma nem se devo acordar perfeitamente, nem se devo dormir outra vez.

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27 de Junho de 1900

A alma deve reconhecer-se em Jesus, não em si mesma.

(1) Continuo adormecida. Esta manhã por poucos minutos me encontrei acordada e compreendia meu estado miserável, sentia a amargura da privação de meu sumo e único Bem; apenas pude derramar duas lágrimas lhe dizendo: “Meu sempre bom Jesus, como é que não vem? Estas são coisas que não se fazem, ferir a uma alma de Ti e depois deixá-la. E além disso, para não lhe dar a conhecer o que faz, deixa-a em poder do sonho. Ah, venha, não me faça esperar tanto!” Enquanto isso e outros desatinos mais disse, em um instante veio e me transportou para fora de mim mesma; e como eu queria lhe dizer meu pobre estado, Jesus impondo-me silêncio me disse:

(2) “Minha filha, o que quero de ti é que não te reconheças mais em ti mesma, senão que te reconheças somente em Mim; assim que de ti não te recordarás mais, nem terás mais reconhecimento de ti, senão te lembrarás de Mim, e te desconhecendo a ti mesma adquirirás só 68 meu reconhecimento, e à medida que te esqueceres e te destruíres a ti mesma, assim avançarás em meu conhecimento e te reconhecerás somente em Mim, quando tiveres feito isto, não mais pensará com a tua mente, mas com a minha, não olharás com os teus olhos, não falarás mais com a tua boca, nem palpitarás com o teu coração, nem trabalharás com as tuas mãos, nem andarás com os teus pés, mas com tudo o que é meu, para te reconheceres somente em Deus, a alma tem necessidade de ir à sua origem e voltar ao seu princípio, Deus, isto é, de onde veio, e que se uniformiza toda a si mesma ao seu Criador; e que tudo o que detém de si mesma e que não é conforme ao seu princípio, deve desfazê-lo e reduzi-lo a nada. Só assim, nua, desfeita, pode voltar à sua origem e reconhecer-se só em Deus, e agir segundo o fim para o qual foi criada. Eis aqui então que para uniformizar-se toda em Mim, a alma deve tornar-se indivisível Comigo”.

(3) Enquanto dizia isto, via o terrível castigo das plantas secas e como deve avançar mais. Mal pude dizer: “Ah! Senhor, como farão as pobres pessoas?” E Ele, para não me prestar atenção, como um relâmpago fugiu e desapareceu. Quem pode dizer a amargura de minha alma ao encontrar-me em mim mesma, por não haver podido dizer nem sequer uma palavra por mim e por meu próximo, e pela tendência ao sono, porque de novo estou nesse estado.

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28 de Junho de 1900

Os castigos presentes, não são outra coisa que uma preparação aos castigos futuros.

(1) Esta manhã, encontrando-me extremamente aflita pela privação do meu amado Jesus, assim que o vi, disse-me:

(2) “Minha filha, quantas máscaras serão tiradas nestes tempos de castigos, porque estes castigos presentes não são outra coisa que uma preparação a todos os castigos que te manifestei no curso do ano passado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu dentro de mim pensava: “Se o Senhor continua a fazer da mesma forma que está a fazer, isto é, porque quer mandar castigos não vem, não me participa as suas penas, trata-me com modos insólitos, quem poderá resistir? Quem me dará a força para permanecer neste estado?” E Jesus respondendo ao meu pensamento acrescentou em atitude de compaixão:

(4) “E então, queres tu que suspenda por um pouco o estado de vítima e depois te faça retomá-lo?”

(5) Enquanto dizia isto, senti confusão e amargura, via que o Senhor com essa proposta me lançava de Si, porque não soube dizer nem sim, nem não, nem para ouvir o que decide a obediência. Então, sem esperar minha resposta desapareceu, deixando-me como um prego fixo no coração ao pensar que Jesus me lançava de Si. Era tanto a dor que não fiz outra coisa que derramar lágrimas amargas.

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29 de Junho de 1900

Jesus e Luísa confortam-se reciprocamente.

(1) Estando ainda amarga, meu adorável Jesus tendo compaixão de mim veio, e parecia que me sustentava entre seus braços. Depois, transportando-me para fora de mim mesma via que reinava um profundo silêncio, uma tristeza, um luto por toda parte. Era tanta a impressão que causava no ânimo ver naquele modo as pessoas, que se sentia uma estreiteza no coração. Então o bendito Jesus, levando-me à parte, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemos por pouco o que nos aflige e interroguemo-nos mutuamente”.

(3) Enquanto dizia isto começou a acariciar-me e a beijar-me, mas era tanta a minha confusão que não me atrevia a devolver-lhe os beijos e as carícias, e Ele acrescentou: (4) “Como! Eu te reconforto com beijos e carícias, e tu não queres confortar-me dando-me os teus beijos e as tuas carícias?”

(5) Então eu me senti confiante para pagá-lo com a mesma moeda; e enquanto isso fazia desapareceu.

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02 de Julho de 1900

Com seus sofrimentos, Luisa evita um castigo.

(1) Continuo sendo amarga e afligida, como uma tola. Esta manhã não tinha vindo Jesus, mas veio o confessor e pôs a intenção da crucificação. Mas o bendito Jesus não comparecia, e depois de lhe ter rogado que se dignasse fazer-me obedecer, assim que se fez ver me disse:

(2) “Que queres? Por que me querem fazer violência à força uma vez que é necessário castigar os povos?”

(3) E eu: “Senhor, não sou eu, é a obediência que o quer”.

(4) E Ele: “Se é a obediência, está bem, quero participar-te minha crucificação e ao mesmo tempo quero reconfortar-me um pouco”.

(5) Enquanto dizia isto, tive a participação das dores da cruz, e enquanto eu sofria, Jesus pôs-se ao meu lado e parecia que se consolava um pouco. Agora, enquanto me encontrava nesta posição junto com Ele, me fez ver no ar, que por uma parte vinha uma nuvem negra, negra, que ao só vê-la dava terror e espanto, e todos diziam: “desta vez morremos”. Enquanto todos estavam aterrorizados, levantou-se no meio de Jesus e eu uma cruz resplandecente, que pondo-se contra aquela borrasca a pôs em fuga em grande parte, tanto que parecia que as pessoas se acalmavam. Não sei dizer certamente, mas me parece que era um furacão acompanhado de raios e de granizadas tão fortes, que tinha força para arrancar as construções; e a cruz que a pôs em fuga em grande parte, me parecia que era meu pequeno sofrer que Jesus me participou. Seja bendito o Senhor e tudo seja para sua glória e honra.

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03 de Julho de 1900

Castigos com enfermidades contagiosas.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, assim que vi o meu adorável Jesus, disse-lhe: “Meu amado Senhor, como é que mandas tantos castigos? Por que desta vez você não quer a nenhum custo aplacar-se? Parece que todos os meios são inúteis, nem rogar, nem dizer “Senhor, derrama em mim tuas amarguras”. Porém, não foi teu costume agir deste modo!” Enquanto dizia isto, Jesus bendito interrompendo o meu falar respondeu:

(2) “No entanto, minha filha, os castigos que estou mandando são nada ainda em comparação com aqueles que estão preparados. Por isso não queiras afligir-te por isto, porque não são matéria de grande aflição”.

(3) Enquanto dizia isto, diante de mim via muitas pessoas infectadas com enfermidades contagiosas, que morriam por elas, então, presa de espanto lhe disse: “Ah Senhor! Isso também é necessário? O que você faz? O que você faz? Se você quiser fazer isso, me tire desta terra, pois não resiste o ânimo ver espetáculos tão funestos. E além disso, quem poderá resistir continuar neste estado em que me puseste, de que não vens, ou vens como sombra, e não só isso, senão que me deixas atordoada, adormecida, que não me fazes entender mais nada? No entanto, disseste-me que me deixarias assim até que de algum modo desabafasses a tua ira. Agora queres acrescentar furor a furor, parece que não terminarás por agora, assim que, pobre de mim, pobre de mim! Quem me dará a força para estar neste estado? Quem poderá resistir?”

(4) Enquanto desafogava minha aflição, Jesus, compadecendo-me disse-me:

(5) “Minha filha, não temas de teu estado de adormecimento, isto diz que assim como Eu estou com as pessoas, como se dormisse, como se não as ouvisse e visse, assim te pus no mesmo estado. Caso contrário, se você não gosta, eu disse-lhe da outra vez, você quer ser suspensa do status de vítima?”

(6) E eu: “Senhor, a obediência não quer que aceite a suspensão”.

(7) E Ele: “E bem, que queres de Mim? Fica quieta e obedece“.

(8) Quem pode dizer o quanto sofri? E não só isto, mas me parece que ficaram tão adormecidas minhas potências internas, que vivo como se não vivesse.  Ah Senhor, tenha piedade de mim, não me deixe em abandono, em um estado tão lamentável e doloroso!

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09 de  Julho de 1900

Viver não só para Deus mas em Deus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, e se alguma vez se faz ver é como sombra e raio, e quase sempre em silêncio. Esta manhã, encontrando-me no máximo da aflição e da torpeza pelo sono contínuo, assim que me fez ver disse-me:

(2) “Ânimo, minha filha, a alma verdadeiramente minha deve viver não só para Deus, mas em Deus. Tu procura viver em Mim, porque em Mim encontrarás o receptáculo de todas as virtudes, e passeando no meio delas te alimentarás de seu perfume, tanto de ficar cheia delas, e tu mesma não farás outra coisa que enviar luz e perfume celestial, porque viver em Mim é a verdadeira virtude, e tem virtude de dar à alma a mesma forma da Divina Pessoa na qual faz sua morada, e de transformá-la nas mesmas virtudes divinas das quais se nutre”.

(3) Depois disto como relâmpago desapareceu, e minha alma correndo atrás daquele Relâmpago se encontrou fora de mim mesma, mas já havia fugido e não me foi dado encontrá-lo de novo, e sofri a amargura de ver granizadas terríveis que tinham feito grandes estragos, raios que haviam produzido incêndios e outras coisas que estavam preparadas. Depois de ter visto isto, me encontrei em mim mesma, mais aflita que antes.

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10 de Julho  de 1900

Diferença entre viver para Deus e viver em Deus.

(1) Encontrando-me na mesma confusão, como um relâmpago se fez ver e me fez entender que não tinha escrito tudo o que Ele me tinha dito ontem, isto é, que a alma não só deve viver para Deus, mas em Deus. Então o bendito Jesus me repetiu a diferença que há entre o viver para Deus e o viver em Deus, dizendo-me:

(2) “No viver para Deus, a alma pode estar sujeita às perturbações, às amarguras, a ser inconstante, a sentir o peso das paixões, a misturar-se nas coisas terrenas. Mas no viver em Deus não, tudo é diferente, porque a coisa principal para fazer que uma pessoa possa entrar a habitar em outra pessoa, é deixar tudo o que é seu, isto é, despojar-se de tudo, deixar as próprias paixões, em uma palavra, deixar tudo para encontrar tudo em Deus. Agora, quando a alma não só se despojou, mas se reduziu muito bem, então poderá entrar pela porta estreita do meu coração a viver em Mim, à minha maneira e da minha própria vida, porque, se bem que o meu coração seja grandíssimo, tanto que não há fim aos seus confins, mas a porta é estreita e só pode entrar quem está despojado de tudo; e isto com razão, porque sendo Eu santíssimo, jamais admitiria a viver em Mim alguém que fosse estranho a minha Santidade. Por isso minha filha, procura viver em Mim e possuirás o paraíso antecipado“.

(3) Quem pode dizer quanto compreendia sobre este viver em Deus? Mas depois desapareceu e fiquei no mesmo estado.

+ + + + + 11 de Julho de 1900

Os sofrimentos de Luisa tornam menos rigorosos os castigos.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão e continuando o mesmo estado de confusão, estava toda recolhida em mim mesma, quando vi a meu adorável Jesus que vinha depressa para mim dizendo:

(2) “Minha filha, atenua um pouco minha ira, de outra maneira… !”

(3) E eu, toda assustada, disse: “Que queres que faça para acalmar a tua ira?”

(4) E Ele: “Com chamar em ti os meus sofrimentos virás a aplacar a minha ira“.

(5) Enquanto eu estava nisto, eu via como se chamasse o confessor, enviando um raio de luz, e ele imediatamente colocou a intenção de me fazer sofrer a crucificação. O Senhor bendito logo concorreu e eu me encontrei em tantos sofrimentos, que pela força das dores me senti sair a alma do corpo; quando acreditei que estava a ponto de expirar, e contente de que Jesus recebesse minha alma, vi ao confessor que com dizer “basta, basta”, me chamava novamente em mim mesma.

(6) Então Jesus me disse: “A obediência te chama”.

(7) E eu: “Ah, Senhor, quero vir!”

(8) E Jesus: “O que queres de mim? A obediência continua chamando você“.

(9) E assim parece que esta nova obediência não deixou ir mais além os sofrimentos, mas obediência certamente cruel para mim, porque enquanto me parecia chegar ao porto, fui atirada fora para navegar o caminho. Depois, embora tenha sofrido, mas já não me sentia a morrer, e o meu benigno Senhor continuou a dizer-me:

(10) “Minha filha, se você hoje não tivesse acalmado minha ira, teria chegado ao cúmulo, que não só teria destruído as plantas, mas também os homens, e se o mesmo confessor não se tivesse interposto chamando novamente em ti meus sofrimentos, Nem sequer teria tido consideração por ele. É verdade que são necessários os castigos, mas é necessário que de vez em quando, quando minha ira avançar, você me acalme, do contrário minha filha, quantos flagelos demais mandarei!”

(11) E enquanto dizia isto, parecia-me vê-lo todo cansado, que lamentando-se, agora dizia: “Minha filha!” e agora: “Meus filhos! Pobres filhos meus, como vos vejo reduzidos!” E com a minha surpresa fez-me entender que depois de ter-se acalmado um pouco devia voltar a tomar o furor para continuar os castigos, e que isto tinha servido só para fazer com que não castigasse demasiado as nações. Ah Senhor, acalma-te e tem piedade daqueles que Tu mesmo chamas “filhos meus”!

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14 de  Julho  de 1900

O decreto dos castigos está assinado.

(1) Parece que passei vários dias sem estar imersa na letargia do sono, e estando um pouco perto de Jesus bendito, dando-nos mutuamente um pouco de alívio. Mas quanto temo que me tenha que lançar outra vez naquele sono tão profundo. Então esta manhã, depois de me haver reconfortado com o leite que escorria de sua boca ao derramá-la em mim, e eu o reconfortei tirando-lhe a coroa de espinhos para cravá-la em minha cabeça, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, o decreto dos castigos está assinado, não resta mais que decidir o tempo de sua execução”.

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16 de Julho de 1900

Os castigos servem para o bem das criaturas.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus não veio. Depois de muito esperar veio e me disse:

(2) “Minha filha, a melhor coisa é pôr-te em Mim e em Meu Querer, então, pondo-te em Mim, e sendo Eu paz, ainda que visses mandar castigos ficarias em paz, sem sentir perturbação“.

(3) E eu: “Ah Senhor, estás sempre nisso, nos castigos! Acalma-te de uma vez e não castigues mais! Além disso, não posso me abandonar em seu Querer nisto”.

(4) E Ele acrescentou: “Não posso me aplacar. O que dirias se visses uma pessoa nua, que, em vez de cobrir a sua nudez, prestasse atenção a adornar-se com bagatelas, deixando as partes mais íntimas expostas à nudez?”

(5) E eu: “Ficaria horrorizado de vê-la e certamente desaprovaria”.

(6) E Ele: “Pois bem, assim são as almas, nuas de tudo, não têm mais virtudes que cubram. Por isso é necessário que as golpeie, castigue-as, as despoje, para fazê-las entrar nelas mesmas e que se fixem na nudez de suas almas, coisa mais necessária que a do corpo. E se isto não fizesse, prestaria mais atenção às bagatelas, como a pessoa desaprovada por ti, as quais são coisas que se referem ao corpo e não prestaria atenção à coisa mais essencial, qual é a alma, a que tornaram-se tão monstruosa que não se reconhece mais.

(7) Depois disto parecia-me que tinha na mão uma pequena couraça, que passando-a por detrás do pescoço me amarrava e depois amarrava o seu a essa mesma corda, e assim fez ao coração e às mãos, e com isto parecia que me amarrava toda a seu Querer. Tendo feito isso desapareceu.

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17 de Julho de 1900

Luísa dá um alívio a Jesus. Ele o faz considerar os castigos que evita.

(1) Tendo recebido a comunhão, não via segundo o costume o bendito Jesus. Depois de ter esperado muito, senti-me a sair de mim mesma e encontrei-o. Assim que o vi, ele me disse:

(2) “Filha, eu estava esperando por você para poder descansar um pouco em você, porque eu não posso mais. Ah, me dê um alívio!”

(3) Imediatamente o tomei em meus braços para satisfazê-lo, e vi que tinha uma chaga profunda no ombro, que dava compaixão e horror olhá-la. Então por poucos minutos repousou; depois desse breve repouso vi e a chaga havia quase curado, e entre a maravilha e o espanto, e vendo-o mais aliviado, tomei coragem e disse-lhe: “Senhor bendito, meu pobre coração está dilacerado pelo temor de que já não me ame, temo que tenha incorrido em tua indignação e por isso já não vens como antes e não derramas mais em mim tuas amarguras, e não me dás mais meu bem, qual é o sofrer, e negando-me isto vem a negar-me a Ti mesmo. Ah, dá a paz a um pobre coração! Diz-me, garante-me, jura-me, amas-me? Continuas a amar-me?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sim, amo-te”.

(5) E eu: “Como posso ter certeza disso, quando se sabe que uma pessoa é realmente amada Tudo o que quer recebe? Eu te digo: “não castigues as nações”, e Tu as castigas; te digo, “derrama em mim tuas amarguras”, e não as derramas, mas parece que desta vez avanças demasiado nos castigos. Então, onde posso me apoiar para saber que você me ama?”

(6) E Ele: “Minha filha, você leva em conta os castigos que mando, mas os que economizo não os leva em conta. Quantos outros castigos teria mandado, quantos mais massacres e mais sangue teria feito derramar se não levasse em consideração aqueles poucos que me amam, e que Eu amo com um amor especial?”

(7) Depois disso, parecia que Jesus tomava o caminho para ir aonde aconteciam destroços de carne humana, e eu, querendo segui-lo, não me foi dado fazê-lo, e com suma amargura minha me encontrei em mim mesma.

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18 de Julho de 1900

Os pecados das nações caem sobre elas mesmas, formando a sua ruína.

  • Encontrando-me em meu estado habitual, vi meu adorável Jesus todo aflito dentro de meu coração, e ao mesmo tempo vi muita gente que cometia muitos pecados, estes pecados tomavam o vôo para mim para vir a ferir a meu amado Senhor até dentro de meu coração, mas Jesus os rejeitava de Si, e caíam sobre as mesmas nações, e caindo sobre Elas formavam sua própria ruína, mudando-se em tantas espécies de flagelos sobre os povos, que dava horror até aos corações mais duros. Então Jesus, afligindo-se de tudo me disse:

(2) “Minha filha, até onde chega a cegueira dos homens, pois enquanto tentam me ferir a Mim, ferem-se eles mesmos com suas próprias mãos”.

 

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19 de Julho de 1900

Luisa oferece-se para sofrer para evitar o sofrimento aos povos.

(1) Esta manhã, depois de ter estado toda a noite e grande parte da manhã esperando a meu adorável Jesus, Ele não se dignava vir. Então, cansada de esperá-lo, esforcei-me por sair do meu habitual estado, pensando que já não era Vontade de Deus. Enquanto me esforçava por sair, estando quase impaciente, meu benigno Jesus moveu-se dentro de meu coração, fazendo-se ver apenas e olhando-me em silêncio. Impaciente como estava, disse-lhe: “Meu bom Jesus, como és cruel! Pode-se dar crueldade maior que esta, de abandonar a uma alma em poder do impiedoso tirano do amor que a faz viver em agonia contínua? ” Oh, como você mudou, de amante para cruel!” Enquanto dizia isto, diante de mim via muitos membros de gente mutilada, e por isso acrescentei: “Ah Senhor, quanta carne humana mutilada! Quanta amargura e tristeza! Que pena! Não teria sido menos cruel se te tivesses satisfeito neste meu corpo, e o tivesses reduzido a tantos pedaços por quantos pedaços fizeste estes membros? Não era menor mal ver sofrer uma só que a tantos pobres povos?”

 

(2) Enquanto dizia isto, Jesus continuava a olhar-me fixamente, como se ficasse ferido, não sei dizer se também desgostoso, e me disse:

(3) “No entanto é o princípio do jogo, ainda é nada em comparação do que virá”.

(4) Dito isto se escondeu a minha vista, sem poder vê-lo mais, deixando-me em um mar de amarguras.

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21 de Julho de 1900

Necessidade de purgação.

  • Depois de ter passado um dia adormecida e tão sonolenta que não sabia de mim mesma, e tendo recebido a comunhão, me senti saindo de mim mesma, e não encontrando o meu único e sumo Bem, comecei a girar e girar, chegando ao delírio. Enquanto fazia isso, senti uma pessoa entre os braços, toda noite, sem poder ver quem era, então, não podendo resistir mais rasguei aquele véu e vi meu suspirado Tudo. Ao vê-lo senti que queria irromper em reclamações e desatinos, mas Jesus para acabar com minha impaciência e meu delírio me deu um beijo. Esse 76 beijo me infundiu a vida, a calma, acabou com minha impaciência, tanto que não soube dizer nada mais. Então, esquecendo todas as minhas misérias, e tendo muitas, lembrei-me das pobres nações e disse a Jesus: “Apresse-se, livre tantos povos de destroços tão cruéis; vamos juntos àqueles lugares onde acontecem tais coisas, a fim de que reanimemos e consolemos aqueles pobres cristãos que se encontram em estado tão triste”.

( 2) E Ele: “Minha filha, não quero levar-te porque teu coração não resistiria ver matança tão dilacerante“.

(3) E eu: “Ah Senhor, como foi que permitiste isto?”

(4) E Ele: “É absolutamente necessário para a purga em todas as partes, porque no campo semeado por Mim cresceram tanto as ervas daninhas, os espinhos, que se fizeram árvores, e estas árvores espinhosas não fazem outra coisa senão inundar meu campo de águas venenosas e pestilentas, que se alguma espiga se mantém intacta, não recebe outra coisa senão picadas e fetidez, tanto que não podem germinar outras espigas, primeiro porque lhes falta o terreno, ocupado por tantas plantas nocivas; segundo, pelos contínuos furos que recebem que não lhes dão paz. Eis a necessidade da matança, para extirpar tantas plantas más, e o derramamento de sangue para purgar meu campo das águas venenosas e pestilentas. Por isso não te queiras entristecer ao princípio, porque não só onde já ordenei os flagelos, mas em todas as outras partes se necessita a purga”.

(5) Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ouvir este falar de Jesus? Então de novo insisti que queria ir ver, mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu ficando sozinha tomei o caminho para ir, mas agora encontrava um anjo que me fazia retroceder, e agora a almas purgantes, tanto que fui obrigada a retornar em mim mesma.

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25 de Julho de 1900

Em Jesus não há crueldade alguma, senão que tudo é amor.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me fez ver uma máquina onde parecia que muitos membros humanos foram esmagados, e no ar como dois sinais de castigos que davam terror. Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ver tudo isto? Mas o bendito Jesus, vendo-me tão amarga, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemo-nos por um pouco daquilo que tanto nos aflige e interroguemo-nos com brincar um pouco juntos“.

(3) Quem pode dizer o que aconteceu entre Jesus e eu neste jogo, as finezas de amor, as estratagemas, os beijos, as carícias que reciprocamente nos dávamos? Se bem que me ultrapassava meu amado Jesus, porque eu, sendo débil, me sentia desfalecer, tão é verdade que não podendo conter em mim o que Ele me dava tenho dito: “Meu amado, basta, basta, que não posso mais, eu desfaço, meu pobre coração não é tão grande para ser capaz de receber tanto, por isso basta por agora”.

(4) Então, querendo me reprovar por falar do outro dia, docemente me disse:

(5) “Dizei-me as vossas querelas, dizei-o, dizei-o, sou cruel? O meu Amor para convosco mudou em crueldade?”

(6) E eu envergonhando-me de tudo disse: “Não Senhor, não és cruel quando vens, mas quando não vens, então direi que és cruel”.

(7) E Ele sorrindo diante de minhas palavras acrescentou:

(8) “No entanto, você continua dizendo que quando eu não venho eu sou cruel, não, não, em Mim não pode haver nenhuma crueldade, mas tudo é amor; e você deve saber que se é como você diz, então o mesmo ser cruel, é amor maior”.

 

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27 de Julho de 1900

Veja os ataques à Igreja na guerra da China.

  • Encontrava-me toda preocupada por meu miserável estado, especialmente de que este não fosse mais Vontade de Deus, considerando como sinal certo o escasso sofrer e suas contínuas privações. Enquanto estava consumindo meu pequeno cérebro nisto e esforçando-me em sair deste estado, meu sempre bom Jesus, como relâmpago se fez ver dizendo-me:(2) “Minha filha, o que queres que eu faça? Diga-me, Eu farei o que você quer“.
    (3) Ante esta proposta tão inesperada não soube o que dizer, sentia tal confusão de que o bendito Jesus deveria fazer o que eu queria, enquanto que sou eu a que deve fazer o que Ele quer, que fiquei muda. Então, ao ver que eu não dizia nada, como relâmpago fugiu, e eu, correndo atrás dessa luz me encontrei fora de mim mesma, mas não o encontrei e girei pela terra, pelo céu, pelas estrelas, e agora o chamava com a voz, e agora com o canto, pensando entre mim que o bendito Jesus ao ouvir minha voz e meu canto ficaria ferido e com certeza o encontraria. Agora, enquanto girava, vi a matança cruel que se continua a fazer na guerra da China, as igrejas demolidas, as imagens de Nosso Senhor lançadas por terra, e isto é nada ainda, o que me deu mais espanto foi ver que se agora o fazem os bárbaros, os leigos, depois o farão os falsos religiosos, que desmascarando e fazendo-se conhecer quem são, unindo-se com os inimigos abertos da Igreja, darão tal assalto, que parece incrível à mente humana. Oh, quantas mortes mais cruéis ainda! Parece que eles juraram entre eles terminar com a Igreja. Mas o Senhor tomará vingança deles destruindo-os, por isso, sangue por uma parte e sangue pela outra. Então me encontrei dentro de um jardim que me parecia que era a Igreja, e dentro havia uma multidão de gente sob o aspecto de dragões, de víboras e de outros animais enfurecidos, que, devastando aquele jardim e logo saindo dele, formavam a ruína das nações. Enquanto via isto encontrei o meu amado Senhor nos meus braços e disse-lhe: “Finalmente deixaste-te encontrar, és tu verdadeiramente o meu amado Jesus?”
    (4) E Ele: “Sim, sim, sou teu Jesus”.
    (5) Eu queria dizer-lhe que livrasse tantas pessoas, mas Ele não me fazendo caso, todo aflito acrescentou:
    (6) “Minha filha, estou bastante cansado, vamos para a cama descansar se queres que me entretenha contigo“.
    (7) E eu, temendo que fosse embora fiz silêncio, fazendo-o dormir. Logo depois reentrado em meu interior, deixando-me reanimada, sim, mas extremamente aflita.
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30 de Julho de 1900

Luisa detém a espada da Justiça.

(1) Passei uma noite e um dia inquieto. Desde o princípio me sentia saindo de mim mesma, sem que pudesse encontrar a meu adorável Jesus; não via mais que coisas que me davam terror e espanto. Via que na Itália se levantava um fogo e outro que se levantava na China, que pouco a pouco, unindo-se, se confundiam num só. Neste fogo via o rei da Itália, morto subitamente por engano, e isto era como que um meio para avivar e engrandecer o fogo. Em suma, via uma rebelião, um tumulto, uma matança de pessoas. Tendo visto estas coisas senti-me em mim mesma, e sentia rasgar-me a alma, até me sentir morrer, muito mais que não via a minha adorável Jesus. Depois de muito esperar se fez ver com uma espada na mão em ato de usá-la sobre as nações. Eu, toda assustada e sendo um pouco atrevida, peguei a espada com a mão e disse-lhe: “Senhor, que fazes? Não vê quantas aflições acontecerão se usar esta espada? O que mais me aflige é que vejo que toma no meio da Itália. Ah Senhor, se apresse! Tenha piedade de suas imagens! E se você diz que me ama, poupe-me desta terrível dor”. E enquanto isso dizia, detinha a espada com toda a força que podia. Jesus, dando um suspiro, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, deixa-a, deixa-a cair sobre as nações, porque não posso mais”.

(3) E eu a tomando mais forte: “Não posso deixá-la, não tenho coragem para fazê-lo”.

(4) E Ele: “Não te disse muitas vezes, que sou obrigado a não te fazer ver nada, de outra maneira não sou livre de fazer o que quero“.

(5) E enquanto isso dizia baixou o braço com a espada e pôs-se em atitude de acalmar-se de sua ira. Pouco depois desapareceu e eu fiquei com um certo temor, quem sabe e talvez sem me deixar ver me puxasse a espada e a usasse sobre as pessoas. Oh Deus, que angústia ao só me lembrar!

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01 de Agosto de 1900

A Humanidade de Jesus é o espelho da Divindade. Castigos.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo poucas vezes e por pouco tempo. Esta manhã me sentia toda aniquilada e quase não me atrevia a ir em busca do meu sumo Bem; mas Ele sempre benigno veio, e querendo me infundir confiança me disse:

(2) “Minha filha, diante de minha Majestade e pureza não há quem possa estar de frente, mas todos estão obrigados a estar por terra e golpeados pelo fulgor de minha Santidade. O homem gostaria de quase fugir de Mim, porque é tal e tanta sua miséria, que não tem coragem para sustentar-se diante do Ser Divino. Então fazendo uso de minha misericórdia assumi minha Humanidade, a que atenuando os raios da Divindade, é meio para infundir confiança e ânimo ao homem para vir a Mim, o qual pondo-se de frente a minha Humanidade, que expande raios atenuados da Divindade tem o bem de poder purificar-se, santificar e até divinizar em minha própria Humanidade divinizada. Por isso tu estás sempre de frente para a minha humanidade, tendo-a como espelho no qual purificarás todas as tuas manchas; e não somente isto, mas como espelho no qual, refletindo, adquirirás a beleza, e pouco a pouco irás adornando-te à semelhança de Mim mesmo, porque é propriedade do espelho fazer aparecer dentro de si a imagem similar àquela de quem se olha nele; se assim é o espelho material, muito mais é o divino, porque minha Humanidade serve ao homem como espelho para olhar para a minha Divindade. Eis por que todos os bens para o homem derivam da minha Humanidade”.

(3) Ao dizer isto, senti-me confiante, que me veio o pensamento de querer falar-lhe dos castigos, talvez me ouvisse e fizesse a tentativa de o aplacar completamente. Mas enquanto me dispus a isto, como raio desapareceu, e minha alma correndo atrás dele se encontrou fora de mim mesma; mas não o pude reencontrar mais, e com grande amargura minha vi muitas pessoas que iam às prisões, a outros sectários que saíam para atentar contra outras vidas de reis e de outros chefes; Via que se consumiam de raiva porque lhes falta o meio para sair entre os povos e fazer matança, sem dúvida chegará seu tempo. Depois disso eu me encontrei em mim mesma, toda oprimida e aflita.

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03 de  Agosto de 1900

Deus trabalha apenas sobre o nada.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, eu estava desejando e procurando o meu amante Jesus. Depois de haver esperado longamente, veio e me disse:

(2) “Minha filha, por que me procuras fora de ti, enquanto poderias encontrar-me mais facilmente dentro de ti? Quando você quiser me encontrar entre em você, chegue até seu nada e aí, sem você, no brevíssimo giro de seu nada descobrirá os alicerces que pôs em você e as construções que levantou em você o Ser Divino. Esforce-se e vá”.

(3) Eu olhei e vi os sólidos alicerces e os muros altíssimos que chegavam até o céu, mas o que mais me surpreendia era que via que o Senhor tinha feito este grande trabalho sobre meu nada, e os muros estavam todos fechados, sem nenhuma abertura. Via-se apenas no teto uma abertura que correspondia ao Céu, e nesta abertura residia nosso Senhor, sobre uma coluna estável que sobressaía dos alicerces formados sobre o nada. Agora, enquanto estava toda assombrada olhando, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Os fundamentos formados no nada significam que a mão divina trabalha ali, onde está o nada, e jamais mistura suas obras com as obras materiais. Os muros sem abertura ao redor, significam que a alma não deve ter nenhuma correspondência com as coisas terrenas, tanto, que não haja nenhum perigo que possa entrar nem sequer um pouco de pó, porque tudo está bem fechado. A única correspondência que estes muros dão é para o Céu, isto é, do nada ao Céu, e do Céu ao nada, este é o significado da abertura feita no teto. A estabilidade da coluna significa que a alma está tão estável no bem, que não há vento contrário que a possa mover. E eu que resido sobre esta, é verdade que a obra feita é toda divina”.

(5) Quem pode dizer o que compreendia sobre isto? Mas minha mente se perde e não sabe dizer nada. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória e honra.

+ + + + 09 de  Agosto de 1900

Tudo o que se quer e deseja, deve-se querer e desejar porque Deus o quer.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de esperá-lo muito, assim que se fez ver me disse:

(2) “Assim como um instrumento musical soa agradável ao ouvido de quem o escuta, assim seus desejos, suas esperas, seus suspiros, suas lágrimas, ressoam a meu ouvido como uma música das mais agradáveis. Mas para fazer com que desça mais doce e agradável, quero ensinar-te outro modo, isto é, desejar-me não como desejo teu, mas como desejo meu, porque Eu amo grandemente manifestar-me contigo. Em suma, tudo o que você quer e deseja, você deve querer e desejar porque eu quero Eu, isto é, levá-lo de dentro de Mim e torná-lo seu. Assim será mais agradável tua música a meu ouvido, porque é música saída de Mim mesmo“.

(3) Depois ele adicionou: “Tudo o que sai de Mim entra em Mim, é por isso que os homens se lamentam que não obtêm tão facilmente o que me pedem, porque não são coisas que saem de Mim, e não sendo coisas que saem de Mim, não é tão fácil que entrem em Mim e saiam depois para dar-se a eles, porque sai de mim e entra em mim tudo o que é santo, puro e celestial. Então por que se surpreender se a audiência está fechada se o que pedem não é assim? Por isso você tenha em mente que tudo o que sai de Deus entra em Deus”.

(4) Quem pode dizer o que compreendia sobre estas palavras? Mas não tenho palavras para me poder explicar.  Ah Senhor, dá-me a graça de que possa pedir tudo o que é santo e que seja desejo e Vontade tua, assim poderás comunicar-te comigo mais abundantemente!

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19 de Agosto de 1900

O amor estéril e o amor obrante

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu amado Jesus fez-se ver em ato de querer instruir-me, e pondo como um exemplo me disse:

(2) “Minha filha, se um jovem tomasse esposa, e ela, levada de amor a ele, quisesse estar sempre junto a ele, sem separar-se nem um momento, sem prestar atenção às outras coisas que correspondem a uma esposa para fazer feliz a este jovem, o que diria ele? Agradeceria o amor dela, mas certamente não estaria contente de sua conduta, porque este modo de amar não seria mais que um amor estéril, infecundo, que causaria dano a esse pobre jovem em vez de bem, e pouco a pouco este estranho amor produziria incômodo em vez de gosto, porque toda a satisfação deste amor é da jovem. E como o amor estéril não tem lenha para fomentar o fogo, muito logo se reduziria a cinzas, porque só o amor obrante é duradouro, os demais amores, como fumaça se dissipam no ar, e depois se chega ao aborrecimento, a não levar em conta e talvez a desprezar o que tanto se amava.

(3) Assim é a conduta das almas que prestam atenção somente a si mesmas, isto é, à sua satisfação, aos fervores e a tudo o que lhes agrada, dizendo que isto é amor por Mim, enquanto tudo é satisfação delas, porque se vê com os fatos que não põem atenção aos meus interesses e às coisas que me pertencem, e se chega a faltar o que lhes satisfaz, não põem mais atenção de Mim, e chegam até a me ofender. Ah! filha, só o amor obrante é o que distingue os verdadeiros dos falsos amantes, porque todo o resto é fumaça”.

(4) Enquanto dizia isto, via pessoas e como se eu quisesse prestar atenção a elas, mas Jesus distraiu-me ao dizer-me:

(5) “Não queiras intrometer-te nos atos alheios, deixemo-los fazer, porque cada coisa tem o seu tempo. Quando for o tempo do juízo, então será o tempo de discernir todas as coisas, porque cria-las muito bem virá a conhecer o grão, as palhas e a semente estéril e nociva. Oh, quantas coisas 82 que parecem grão se encontrarão naquele dia como palhas e sementes estéreis, dignas só de serem lançadas ao fogo!”

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20 de Agosto de 1900

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então depois de muito esperar, quando meu pobre coração não podia mais, fez-se ver desde dentro de meu interior e me disse:

(2) “Minha filha, não queiras afligir-te porque não me vês, porque estou dentro de ti, e daqui, por meio de ti estou vendo o mundo“.

(3) Depois continuou a fazer-se ver de vez em quando, sem me dizer mais nada.

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24 de  Agosto de 1900

Tudo se torna bem para quem verdadeiramente ama a Jesus.

(1) Tendo passado um dia inquieta, sentia-me toda cheia de tentações e pecados. Oh! Meu Deus, que pena te ofender! Fazia quanto mais podia por estar em Deus, por me resignar a seu santo Querer, para oferecer por amor seu esse mesmo estado inquieto, para não lhe pôr atenção ao inimigo mostrando-me com suma indiferença, a fim de que não o incitasse eu mesma a me tentar maioritariamente, mas com tudo isto não podia fazer menos que ouvir o murmúrio que o inimigo suscitava ao meu redor. Então, encontrando-me em meu habitual estado, não me atrevia a desejar ao meu amado Jesus, tão feia e miserável me via. Mas Ele sempre benigno com esta pecadora, sem que eu o pedisse veio, e como se compadecia de mim, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas. Não sabe você que certas águas frias e impetuosas são mais potentes para purificar de qualquer mancha mínima que o mesmo fogo? E além disso, tudo se converte em bem para quem verdadeiramente me ama”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me reanimada, sim, mas fraca, como se tivesse sofrido uma febre.

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30 de Agosto de 1900

Luisa vai ao purgatório para aliviar o falecido rei da Itália.

(1) Havendo passado alguns dias de privação e de amargura, em que no máximo vi Jesus alguma vez como sombra e relâmpago. Esta manhã encontrei-me no máximo da amargura, e não só isso, senão como se tivesse perdido a esperança de voltar a vê-lo. Depois de ter recebido a comunhão me parecia que o confessor colocava a intenção da crucificação, então o bendito Jesus para fazer- 83 me obedecer se mostrou e me participou suas penas. Enquanto isso, vi a Rainha Mãe, que me tomando me oferecia a Ele a fim de que se acalmasse. E Jesus, tendo consideração da Mãe, aceitou o oferecimento e parecia que se acalmava um pouco. Depois disto, a Mãe Rainha me disse:

(2) “Queres ir ao purgatório para aliviar o rei das penas horríveis em que se encontra?” (3) E eu: “Minha mãe, como Tu quiseres”.

(4) Num instante me tomou, e me transportou a um lugar de suplícios atrozes, todos mortais. Ali estava aquele miserável, que de um suplício passava ao outro, parecia que por quantas almas se haviam perdido por sua causa, outras tantas mortes ele devia sofrer. Então, depois de ter passado eu por alguns daqueles suplícios, ele ficou um pouco mais aliviado e a Mamãe Rainha me tirou desse lugar de penas e me encontrei em mim mesma.

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31 de Agosto de 1900

Nas almas interiores não pode estar a perturbação.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual e não vindo meu adorável Jesus, estava toda afligida e um pouco pensativa sobre o por que não vinha. Depois de muito esperar e esperar veio, e vendo que de suas mãos brotava sangue, pedi-lhe que de sua mão esquerda derramasse sangue sobre o mundo em proveito dos pecadores que estavam para morrer e em perigo de se perder, e da mão direita que derramasse o seu sangue no purgatório; e Ele, ouvindo-me com brandura, sacudiu e derramou o seu sangue sobre uma e outra parte. Depois disto me disse:

(2) “Minha filha, nas almas interiores não pode estar a perturbação, e se esta entra é porque a alma sai de si mesma, e fazendo isto faz de verdugo a si mesma, porque saindo fora dela se apega a tantas coisas que vê e que não são Deus, e às vezes nem sequer coisas que se referem ao verdadeiro bem da alma, por isso regressando em si mesma e levando coisas que lhe são estranhas, tortura-se por si mesma e com isto vem a adoecer a si mesma e à graça. Por isso, esteja sempre em você mesma e estará sempre em calma”.

(3) Quem pode dizer como compreendia com clareza, e como encontrava a verdade nestas palavras de Jesus? Ah Senhor, se te dignas instruir-me, dá-me graça para aproveitar teus santos ensinamentos, de outra maneira tudo será para minha condenação!

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01 de Setembro de 1900

A obediência põe a paz entre Deus e a alma.

(1) Continuando Jesus sem vir, estava eu dizendo: “Meu bom Jesus, vem, não me faças esperar  tanto, esta manhã não tenho vontade de me inquietar e de te buscar até chegar a cansar-me. Vem de uma vez, logo, pronto, assim, pela boa”. E vendo que não vinha continuava dizendo: “Vê-se que queres que me canse e que chegue até me inquietar, de outra maneira não vens”.

(2) Enquanto isso e outros desatinos dizia, Jesus veio e me disse:

(3) “Você me saberia dizer o que mantém a correspondência entre a alma e Deus?”

(4) E eu, mas sempre com uma luz que vinha dele eu disse: “A oração”.

(5) E Jesus, aprovando o que eu disse, acrescentou: “Mas o que atrai Deus a conversas familiares com a alma?”

 

(6) E eu não sabia responder, mas logo a luz se moveu em minha inteligência e disse: “Se a oração vocal serve para manter a correspondência, certamente a meditação interior deve servir de alimento para manter a conversa entre Deus e a alma”.

(7) Ele, contente com isto, respondeu: “Agora, saberias tu dizer-me quem quebra as doces controvérsias, quem tira os amorosos zangados que podem surgir entre Deus e a alma?”

(8) E eu ao não responder, Ele mesmo disse:

(9)”Minha filha, só a obediência tem este ofício, porque ela sozinha decide as coisas relacionadas entre a alma e Eu, e surgindo controvérsias, ou algum enfado para mortificar a alma, ao chegar a obediência rompe as contendas, tira as zangas e põe paz entre Deus e a alma”.

 

(10) E eu: “Ah! Senhor, muitas vezes parece que tampouco a obediência quer tomar o incômodo e fica indiferente, e a pobre alma é obrigada a estar naquele estado de controvérsias e de raiva”.

(11) E Jesus: “Isto o faz por um certo tempo, querendo também ela agradar-se em assistir a essas amáveis controvérsias, mas depois toma seu ofício e pacifica tudo. Assim, a obediência coloca a paz entre a alma e Deus“.

(12) Dito isto, desapareceu.

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04 de  Setembro de 1900

A impureza e as boas obras feitas imperfeitamente, são alimento repugnante para Jesus.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma, fazendo-me parecer extremamente aflito e amargo. Então lhe pedi que derramasse em mim suas amarguras, mas Jesus não me dava ouvidos, mas insistindo, depois de muito tempo se agradou em derramá-las. Depois de ter derramado um pouco de amargura lhe perguntei: “Senhor, não te sentes melhor agora?”

(2) E Ele: “Sim, mas não foi o que derramei que me causou tanta pena, mas um alimento nauseante e insípido que não me deixa repousar”.

(3) E eu: “Derrama um pouco em mim, assim te aliviarás um pouco”.

(4) E Ele: “Se não posso digeri-lo e suportá-lo Eu, como o poderás tu?”

(5) E eu: “Sei que a minha fraqueza é grande, mas Tu me darás graça e força, e assim terei êxito em contê-lo em mim”. Compreendia que esse alimento nauseante eram as impurezas, o insípido, as boas obras mal feitas, todas deterioradas, que a Nosso Senhor são bem de aborrecimento, de peso e quase desdenha recebê-las, porque não podendo suportá-las quer atirá-las de sua boca. Quem sabe quantas das minhas estavam ali! Então, como obrigado por mim derramou também um pouco daquele alimento. Quanta razão tinha Jesus, que era mais tolerável o amargo que aquele alimento nauseante e insípido! ” Se não fosse por seu amor, a nenhum custo o teria aceitado!

(6) Depois disto, o bendito Jesus pôs-me o braço atrás do pescoço, e apoiando a sua cabeça sobre o meu ombro pôs-se em atitude de repousar. Enquanto repousava encontrei-me num lugar onde havia por piso muitas tábuas móveis, e abaixo o abismo. Eu, temendo precipitar-me, despertei-o, invocando a sua ajuda, e Ele disse-me:

(7) “Não temas, é o caminho que todos percorrem. Não é preciso outra coisa que toda a atenção, e como a maior parte caminham distraídos, esta é a causa pela qual muitos se precipitam ao abismo, e poucos são o que chegam ao porto da salvação”.

(8) Depois disto desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma. Graças a Deus!

 

Nihil obstat Canonico Annibale

  1. Di Francia Eccl. Imprimatur

Bispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita 

Volume 04

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do Reino da Divina Vontade

3

1

  1. M. I.

4-1

Setembro 5, 1900

A Esperança, alimento do Amor. 

(1) Como nos dias passados meu adorável Jesus não se fazia ver, eu me sentia desconfiada na  esperança de tê-lo de novo; antes acreditava que tudo havia terminado para mim: visitas de Nosso  Senhor e estado de vítima. Mas esta manhã, ao vir o bendito Jesus, trazia uma horrível coroa de  espinhos, e pôs-se junto a mim, lamentando-se tudo, em atitude de querer um alívio; então eu a  tirei pouco a pouco, e para lhe dar mais gosto a coloquei sobre minha cabeça. Pouco depois me  disse:

(2) “Minha filha, o verdadeiro amor é quando é sustentado pela esperança, e pela esperança  perseverante, porque se hoje espero e amanhã não, o amor adoece, porque o amor sendo  alimentado pela esperança, por quanto alimento se lhe fornece tanto mais forte se torna, mais  robusto, mais vivo o amor, e se isto vem a faltar, primeiro se adoece o pobre amor, e se fica só,  sem sustento, termina com morrer de todo. Por isso, por maiores que sejam as tuas dificuldades,  jamais, nem sequer por um instante deves afastar-te da esperança com o temor de me perder, mas  bem deves fazer de modo que a esperança, superando tudo, te faça encontrar-te sempre unida  Comigo, e então o amor terá vida perpétua”.

(3) Depois disso, continuou a vir sem me dizer mais nada.

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4-2

Setembro 6, 1900

Estado de vítima. 

(1) Continua vindo meu dulcíssimo Jesus. Esta manhã, quando veio, quis derramar um pouco de  amargura em mim, e depois disse-me:

(2) “Minha filha, Eu quero dormir um pouco, tu fazes o meu ofício de sofrer, rogar e aplacar a  justiça”.

(3) Assim Ele adormeceu, e eu pus-me a rezar junto a Jesus. Depois, acordando, viramos um  pouco entre as pessoas, e me fez ver diversos planos que estão idealizando para fazer revoluções,  e especialmente via que estavam maquinando um ataque de improviso para ter melhor resultado  em seu propósito, e para fazer com que nenhum se possa defender ou prevenir contra o inimigo.

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1 Este livro foi traduzido da tradução em espanhol. 

Quantos espetáculos funestos! Mas parece que o Senhor ainda não lhes dá liberdade para fazer

4

isso, e não sabendo eles a razão se roem de raiva, porque apesar de sua perversa vontade se vêm  impotentes para realizá-lo. Não é preciso outra coisa senão que o Senhor lhes conceda esta  liberdade, porque tudo está preparado. Depois disso voltamos, e Jesus se mostrava todo chagado  (4) “Olhe quantas chagas me abriram e a necessidade do estado contínuo de vítima, de seus  sofrimentos, porque não há momento em que deixem de me ofender, e sendo contínuas as  ofensas, contínuos devem ser os sofrimentos e as orações para me aliviar em algo; e se você se vê suspenso sofre, treme e teme, porque não me vendo aliviado em minhas penas, não vá a conceder  aos inimigos essa liberdade tão desejada por eles”.

(5) Ao ouvir isto, pus-me a rogar-lhe que me fizesse sofrer a mim, e enquanto estava nisto via o  confessor que com suas intenções forçava a Jesus a me fazer sofrer. Então o bendito Senhor me  participou tais e tantas penas, que eu mesma não sei como fiquei viva, mas o Senhor em minhas  penas não me deixou só, mas bem parecia que não resistia se seu coração me deixasse, e passei  alguns dias junto com Jesus, e me comunicou tantas graças e me fez compreender muitas coisas;  mas, parte pelo estado de sofrimento, e parte porque não sei me expressar, passo adiante e faço  silêncio.

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4-3

Setembro 9, 1900

Jesus prepara a alma de Luisa para a comunhão. 

Ameaça contra os governantes dos povos. 

(1) Continua vindo, mas tenho estado a maior parte da noite sem Jesus, então ao vir me disse:  (2) “Minha filha, o que queres que com tanta ânsia me estás esperando? Você precisa de alguma  coisa?”

(3) E eu como sabia que tinha que comungar disse:

(4) “Senhor, toda a noite te estive esperando, sobretudo que devendo receber a comunhão temia  que meu coração não estivesse bem disposto para poder te receber, por isso tenho necessidade  de que minha alma seja revisada por Ti, para poder se dispor a unir-me a ti sacramentalmente.” (5) E Jesus, benignamente reviu minha alma para me preparar para recebê-lo, e depois me  transportou para fora de mim mesma, e junto encontrei nossa Rainha Mãe que dizia a Jesus:  (6) “Meu filho, esta alma estará sempre disposta a fazer e a sofrer o que Nós quisermos; e isto é  como uma atadura que ata à justiça, por isso Tu evita tantas matanças e tanto sangue que devem  derramar as nações”.

(7) E Jesus disse: “Minha mãe, é necessário o derramamento de sangue porque quero que esta  estirpe do rei caia de seu reinado, e isto não pode ser sem sangue, e também para purgar a minha  Igreja porque está muito infectada; no máximo posso conceder evitar em parte, em consideração

5

dos sofrimentos”.

(8) Enquanto eu fazia isso, eu via a maioria dos deputados que estavam planejando como derrubar  o rei, e eles pensavam em colocar um dos deputados que estavam tramando no trono. Depois disto eu encontrei-me em mim mesma. Quantas misérias humanas! Ah Senhor, tenha compaixão da  cegueira na qual está imersa a pobre humanidade! Depois, ao continuar a ver o Senhor e a  Rainha-Mãe, vi o confessor ao seu lado, e a Virgem Santa disse:

(9) “Olha meu filho, temos um terceiro, que é o confessor, que se quer unir a Nós e fazer seu  trabalho comprometendo-se a concorrer para fazê-la sofrer, para satisfazer à divina justiça, e  também isto é um voltar mais forte a corda que te ata para aplacar; e além disso, quando Contigo  somente com a única finalidade de te glorificar e para o bem dos povos?”

(10) Jesus ouvia a Mãe, tinha consideração pelo confessor, mas não pronunciou sentença de todo  favorável, senão que se limitava a evitar em parte.

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4-4

Setembro 10, 1900

Ameaça contra os perversos.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via as tantas infâmias e pecados enormes que  se comentem, assim como também os cometidos contra a Igreja e o Santo Padre. Depois, voltando  em mim mesma, veio o meu adorável Jesus e disse-me:

(2) “Que dizes tu do mundo?”

(3) E eu, sem saber aonde queria chegar com esta pergunta, impressionada como estava pelas  coisas vistas, disse: “Senhor bendito, quem pode dizer a perversidade, a dureza, a feiúra do  mundo? Não tenho palavras para te dizer o quão ruim é”.

(4) E Ele, tomando ocasião de minhas mesmas palavras acrescentou: “Viu como é perverso? Tu  mesma o disseste, não há maneira de fazê-lo render-se, depois de que quase lhe tirei o pão,  permanece na mesma obstinação, bastante pior, e por agora vai consegui-lo com os roubos e com  as rapinas, fazendo mal aos seus semelhantes, portanto, é necessário que você toque a pele, caso  contrário você vai perverter mais”.

(5) Quem pode dizer como fiquei petrificada ante este falar de Jesus, me parece que fui eu a  ocasião para fazer que se irritasse contra o mundo; em vez de desculpá-lo o tenho pintado preto,  depois fiz o que pude por desculpá-lo, mas não me prestou atenção; o mal já estava feito. Ah  Senhor, perdoe esta falta de caridade e use misericórdia!

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4-5

Setembro 12, 1900

6

Sofrimento impiedoso, Jesus a alivia. 

Maquinações de revoluções contra a Igreja. 

(1) Continua quase o mesmo, esta manhã ao vir derramou suas amarguras, e eu fiquei tão sofredor que  comecei a pedir ao Senhor que me desse a força e que me aliviasse um pouco, porque não podia resistir.  Enquanto estava nisso, veio-me uma luz à mente fazendo que pensasse que cometia pecado ao fazer isto, e  além disso, que dirá o bendito Jesus? Enquanto em outras ocasiões lhe roguei tanto que derramasse, desta  vez que sem fazer rogar tinha derramado, estava buscando alívio, de parece que me vou fazendo mais má, e  chega a tanto minha maldade, que mesmo diante dele mesmo não me abstenho de cometer defeitos e  pecados. Então, não sabendo o que fazer para reparar, resolvi dentro de mim que desta vez, para fazer um  maior sacrifício e me dar uma penitência a fim de que minha natureza em outra ocasião não ousaria procurar  alívio, renunciar à vinda de Nosso Senhor, e se viesse devia lhe dizer: “Não venha amor, tenha compaixão de  mim, não me alivie”. Assim fiz e passei algumas horas em intenso sofrimento e sem Jesus; quão amargo me  parecia. Mas Jesus tendo compaixão de mim, sem que o buscasse veio, e eu logo lhe disse: “Tenha  paciência, não venha, que não quero alívio”.

(2) E Ele: “Minha filha, estou contente de teu sacrifício, mas tens necessidade de um consolo, de outro modo  desfalecerias.”

(3) E eu: “Não, Senhor, não quero alívio”.

(4) Mas Ele, aproximando-Se da minha boca, quase à força derramou da sua boca alguma gota de leite  doce, que amenizaram o meu sofrimento; quem pode dizer a confusão, a vergonha que sentia diante Dele,  esperando-me uma repreensão, mas Jesus como se não tivesse percebido minha falta se mostrava mais  afável, mais doce. Eu, vendo-o assim disse: “Meu adorável Jesus, uma vez que derramaste em mim e eu  sofro, deves perdoar o mundo, não é verdade?”.

(5) E ele: “Minha filha, acreditas que eu derramei tudo em ti? E, além disso, como poderias enfrentar tudo o  que de castigo derramarei sobre o mundo? Você mesma viu que aquele pouco que derramei não podia  resistir, e se não tivesse vindo te ajudar teria sucumbido, agora, o que seria se derramasse tudo em ti? Minha  querida, dei-te a minha palavra, contentar-te-ei em parte”.

(6) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, no meio das pessoas, e continuava a ver os tantos  males, especialmente maquinações de revoluções contra a Igreja, e entre a sociedade, planos para matar o  Santo Padre e os sacerdotes. Eu sentia-me dilacerar a alma ao ver estas coisas, e pensava: “Se, jamais seja,  chegarem a realizar-se estas maquinações, o que acontecerá? Quantos males virão?” E toda aflita olhei para

Jesus, e Ele me disse:

(7) “E daquela revolta que aconteceu aqui, o que você diz?”.

(8) E eu: “Qual revolta? No meu país nada aconteceu”.

(9) E Ele: “Não te lembras da revolta de Andria?”.

(10) “Sim Senhor”.

(11) “E bem, parece que é nada, mas não é assim, aquela foi toda uma ocasião, e é um fomento, uma força  para outras cidades para mover-se e derramar sangue, causando ultraje às pessoas consagradas, e a meus  templos, e como cada um quer mostrar quanto é mais feroz em exaltar o errado, competirão para ver quem  pode fazer mais mal”.

7

(12) E eu: “Ah Senhor, dá a paz à Igreja e não permitas tantas desgraças!” E querendo dizer mais, me  desapareceu, deixando-me toda aflita e pensativa.

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4-6

Setembro 14, 1900

Jesus derrama para aplacar sua justiça. O heroísmo da verdadeira virtude.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de muito esperar se fazia ver dentro de meu interior,  que apoiando-se em meu coração cingia seus braços ao seu redor e apoiava sua sacratíssima cabeça nele,  todo afligido, sério, de modo que te impunha silêncio, e virado de costas para o mundo. Depois de ter estado  um pouco em silêncio, porque o aspecto com que se mostrava não permitia o atrever-se a dizer uma palavra,  se tirou dessa posição e me disse:

(2) “Eu tinha resolvido não derramar, mas as coisas chegaram a tal ponto, que se eu não derramar estouraria  iminentemente tais alvoroços, de mover revoluções que fariam sangrentas matanças”.  (3) E eu: “Sim Senhor, derrama, este é meu único desejo, que desabafes sobre mim tua ira e perdoes as  criaturas”. Assim derramou um pouco. Depois, como se tivesse se acalmado acrescentou:  (4) “Minha filha, como cordeiro me fiz conduzir ao matadouro e estive mudo ante quem me sacrificou, assim  será daqueles poucos bons destes tempos; porém isto é o heroísmo da verdadeira virtude. 5) Acrescentou mais uma vez: “Derramei, queres que eu derrame mais um pouco, para que eu fique mais  aliviado?”

(6) E eu: “Meu Senhor, não me pergunte, estou à sua disposição, pode fazer de mim o que quiser”. Assim  derramou de novo e desapareceu deixando-me sofredor e contente pelo pensamento de que tinha aliviado as  penas do meu amado Jesus.

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4-7

Setembro 16, 1900

Andria 

(1) Meu amável Jesus continua a vir, e me participou algumas penas de sua Paixão, e depois me transportou  para fora de mim mesma, fazendo-me ver os povos circunvizinhos, especialmente me parecia que fosse  Andria, que se o Senhor não fizer uso de sua onipotência para seu castigo, as revoltas se farão sérias, muito  mais que parecia que havia incitação por parte de alguns sacerdotes para estas revoltas, o que amargurava  mais a Nosso Senhor. Então, depois de haver visitado várias igrejas junto com Jesus bendito, fazendo atos  de reparação e adoração pelas tantas profanações que se cometem nas igrejas, Jesus me disse:

(2) “Minha filha, deixa-me derramar um pouco, pois são tais e tantas as amarguras que não posso sofrer só,  e meu coração não pode suportá-las”.

(3) Assim derramou e desapareceu, retornando outras vezes sem me dizer mais nada. + + + +

4-8

Setembro 18, 1900

8

A Caridade ao próximo. Roga-lhe que a leve ao Céu.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fazia ver os  muitos males que se cometem contra a caridade do próximo, quanta pena davam ao pacientíssimo  Jesus, parecia que os recebia Ele mesmo; então todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, quem faz mal ao próximo se faz mal a si mesmo, e matando ao próximo mata sua  alma, e assim como a caridade predispõe a alma a todas as virtudes, assim não ter a caridade  predispõe a alma a cometer toda sorte de vícios”.

(3) Depois disto nos retiramos, e como há vários dias sofria uma dor intensa nas costelas, me  sentia por isso sem forças. E o bendito Jesus, compadecendo-me, disse-me:  (4) “Amada minha, tu queres vir, não queres?”

(5) E eu: “Queira o Céu meu Senhor, que esta dor fosse causa para vir a Ti; como lhe estaria  agradecida, como me seria querido, e tê-lo-ia por um de meus mais fiéis amigos, mas creio que  queres me tentar como as outras vezes, e excitar-me com teus convites, e, ficando desiludida, virás  a tornar mais crua e dilacerante o meu martírio. Mas, ah, tem compaixão de mim e não me deixe  muito mais tempo sobre a terra! absorve em Ti este mísero verme que tem razão, porque de Ti  mesmo saiu”. O amável Jesus enternecendo-se todo ao ouvir-me, disse:

(6) “Pobre filha, não temas, porque é certo que virá o teu dia no qual ficarás absorvida em Mim, no  entanto, deves saber que as tuas contínuas violências de vir a Mim, especialmente depois dos  meus convites, te servem muito e te fazem viver na atmosfera do ar, sem a sombra de nenhum  peso terreno; tanto que tu és como aquelas flores que nem sequer têm a raiz na terra, e vivendo  assim suspensa no ar, vens recriar o Céu e a terra, e tu, olhando para o Céu, somente nele te  recrias e te nutres de tudo o que é celestial, e vendo a terra tens compaixão dela, e a ajudas por  quanto podes por parte tua; mas em comparação com o cheiro do Céu advertes imediatamente a  peste que exala da terra e a aborreces. Poderia te colocar em uma posição para Mim e para o Céu  mais querido, e para ti e para o mundo mais proveitoso?”

(7) E eu: “Contudo, ó meu Senhor, deverias ter compaixão de mim por não alargar a minha morada  aqui, pelas tantas razões que tenho; especialmente pelos tristes tempos que se preparam; quem  terá coração para ver carnificina tão sangrenta? E além disso, por suas contínuas privações que  me custam mais que a morte”. Enquanto dizia isto, vi uma multidão de anjos ao redor de Nosso  Senhor que diziam:

(8) “Senhor e nosso Deus, não vos façais mais importunar, contenta-la, nós com ânsia a  esperamos. Feridos por sua voz viemos aqui para ouvi-la, e estamos ansiosos por levá-la conosco.  E tu, ó escolhida, vem alegrar-nos na nossa celeste morada”.

(9) O bendito Jesus, comovido, parecia que queria condescender e desapareceu, e encontrando-

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me em mim mesma me sentia aumentado a dor, tanto, que delirava continuamente; mas não me  entendia a mim mesma pelo contentamento.

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4-9

Setembro 19, 1900

Obediência de pedir alívio nas penas a Jesus.

1) Duplicando-se sempre mais o espasmo da dor, teria querido escondê-lo e fazer que ninguém se  desse conta, e teria querido mantê-lo em segredo, sem dizer ao confessor o que disse acima; mas  era tão forte o espasmo que me pareceu impossível, e o confessor, usando a sua habitual arma da  obediência, ordenou-me que lhe manifestasse tudo; então, depois de lhe ter manifestado todas as  coisas, disse-me que por obediência devia pedir ao Senhor que me libertasse, de outra maneira  cometeria pecado. Oh, que tipo de obediência é esta, é sempre ela que se atravessa em meus  planos! Então, de má vontade aceitei esta nova obediência, mas apesar disto não tinha coração  para rogar ao Senhor que me libertasse de um amigo tão querido, como o é a dor, muito mais que  esperava sair do exílio desta vida. O bendito Jesus me tolerava, e ao vir me disse:

(2) “Tu sofres muito, queres que te liberte?”

(3) E eu, tendo-me esquecido um momento da obediência disse: “Não Senhor, não, não me  libertes, quero ir; e além disso Tu sabes que não sei te amar, sou fria, não faço grandes coisas por  Ti, ao menos te ofereço este sofrer para satisfazer ao que não sei fazer por amor teu”.  (4) E Ele: “E Eu minha filha, infundirei tanto amor e tanta graça em ti, de modo que nenhum me  possa amar e desejar como tu, não estás contente?” (5) “Sim, mas quero vir”. Jesus desapareceu,  e eu voltando em mim mesma me lembrei da obediência recebida, e tive que me acusar com o  confessor, e me ordenou que absolutamente não queria que me fosse, e que o Senhor me  libertasse. Que pena senti ao receber esta obediência! parece que quer tocar os extremos de  minha paciência.

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4-10

Setembro 20, 1900

Sinais de cruz para recuperar a saúde.

(1) Continuo a sofrer, mais do que nunca, porque me foi negado o poder de morrer. Então ao vir  meu adorável Jesus me repreendeu por minha demora em obedecer, porque até então parecia que  me tolerava; enquanto isso via o confessor e Jesus virando-se para ele tomou-lhe a mão e disse lhe:

(2) “Quando vier, marque-a com o sinal da cruz na parte da dor, que a farei obedecer”.  (3) E desapareceu. Então, ficando sozinha sentia mais intensa a dor. Depois vindo o confessor e  encontrando-me sofrendo, também ele me repreendeu porque não obedecia, e tendo-lhe dito o que

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tinha visto e o que Nosso Senhor tinha dito ao confessor, ele ao ouvir-me fez o sinal da cruz na  parte onde sofria, e em dois minutos pude respirar e mover-me, enquanto antes não podia fazê-lo  sem sentir espasmos atrozes; parece-me que a obediência e aqueles sinais de cruz ataram a dor,  de modo que não posso mais me doer, e eis por que fiquei decepcionada em meus planos, porque  esta senhora obediência tomou tal poder sobre mim, que não me deixa fazer nada do que quero,  até no mesmo sofrer quer ela dominar, e devo estar em tudo e para tudo sob seu império.

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4-11

Setembro 21, 1900

Força da obediência. A obediência deve ser tudo para ela. 

(1) Quem pode dizer minha aflição ao ficar privada de meu amadíssimo amigo dor? Admirava, sim,  o prodigioso império da santa obediência, como também a virtude que o Senhor tinha comunicado  ao confessor, que com a obediência e com fazer-me o sinal da cruz me havia liberado de um mal  que eu considerava grave, e que era suficiente para desfazer meu corpo; mas com tudo isto não  podia fazer menos que sentir a pena de estar privada de uma dor tão boa, que apiedava e  enternecia ao bendito Jesus, de modo que o fazia vir quase continuamente. Então, vindo Nosso  Senhor, lamentei-me com Ele, dizendo: “Amado Bem meu, o que me fizeste? Libertaste-me pelo  confessor, portanto perdi a esperança de deixar por agora a terra, e além disso para que tantos  rodeios, podias Tu mesmo libertar-me, por que puseste o pai no meio? Ah! Talvez você não quis  me desagradar diretamente, não é?”

(2) E Ele: “Ah, minha filha, como logo esqueceste que a obediência foi tudo para Mim; a obediência  quero que seja tudo para ti! E também coloquei o pai no meio para que você o tenha em  consideração como a mim mesma”.

(3) Dito isto desapareceu deixando-me toda amargurada. Quantas sabe fazer a senhora  obediência! , você precisa conhecê-la e ter a ver com ela por um longo tempo, não por pouco, para  poder dizer realmente quem é ela, e bravo, bravo à senhora obediência, quanto mais se está em  contato com ela mais se faz conhecer. Eu por mim, para dizer a verdade, admiro-te, sou obrigada  também a amar-te; assim não posso fazer menos que não sentir-me zangada contigo  especialmente quando me faz uma grande. Por isso te peço, oh amada obediência, ser mais  indulgente, mais indulgente em fazer-me sofrer.

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4-12

Setembro 22, 1900

Por quantas vezes se dispõe a fazer o sacrifício da morte, 

outras tantas vezes Jesus lhe dá o mérito 

como se realmente morresse.

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(1) Encontrando-me toda oprimida e aflita, ao vir o meu adorável Jesus disse-me: “Minha filha, por  que te submergiste toda na tua aflição?”

(2) E eu: “Oh, meu amado, como não devo estar aflita se ainda não me queres levar contigo e me  deixa mais tempo sobre esta terra?”

(3) E Ele: “Ah não, não quero que você respire este ar triste, porque tudo o que coloquei dentro e  fora de você, tudo é santo, tão é verdade, que se se aproxima de você alguma coisa ou pessoa  que não é reta e santa, você sente incômodo, advertindo imediatamente a peste do que não é  santo. Agora, por que queres ensombrar com este ar de tristeza o que pus dentro de ti? No entanto  deves saber que cada vez que te dispõe a fazer o sacrifício da morte, outras tantas vezes te dou o  mérito, como se realmente morresses, e isto deve ser de grande consolação para ti, muito mais  porque te conformas principalmente a Mim, porque minha Vida foi um contínuo morrer”.

(4) E eu: “Ah Senhor, não me parece que a morte seja um sacrifício, mas sim, sacrifício me parece  a vida”. E querendo dizer mais desapareceu.

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4-13

Setembro 29, 1900

As almas vítimas são apoios e suportes para Jesus. 

(1) Tendo passado alguns dias de silêncio entre Jesus e eu, e com pouco sofrimento, parece-me  que gostaria de continuar a tentar fazer-me exercitar um pouco mais a paciência, e eis como:  (2) Ao vir, dizia: “Minha amada, do Céu te suspiro, no Céu, no Céu te espero”.  (3) E como relâmpago desaparecia. Depois, voltando, repetia: “Cessa já dos teus ardentes  suspiros, que me fazes definhar continuamente, até desfalecer”.

(4) Outras vezes: “Teu ardente amor, tuas ânsias são consolo a meu triste coração”.  (5) Mas quem pode dizer tudo? Parecia-me que tinha vontades de fazer versos, e estes versos às  vezes os expressava cantando-os; mas sem dar-me tempo de lhe dizer uma palavra, logo fugia.  Depois, esta manhã, tendo posto o confessor a intenção de me fazer sofrer a crucificação, vi a  Rainha Mãe que chorava e quase discutia com Jesus para livrar o mundo dos tantos castigos, mas  Ele mostrava-se relutante, E só para agradar à mãe, ela veio para me fazer sofrer. Pouco depois,  como se tivesse diminuído um pouco disse:

(6) “Minha filha, é verdade que quero castigar o mundo, tenho na mão os castigos para golpeá-lo,  mas é também verdade que se se interessarem tanto você como o confessor em rogar-me e sofrer,  é sempre um apoio, e viriam a pôr tantos suportes para livrar o pelo menos em parte, caso  contrário, não encontrar qualquer apoio e escora, mãos livres eu vou desabafar sobre as pessoas”.  (7) Dito isto desapareceu.

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4-14

Setembro 30, 1900

Jesus pede-lhe para consolar a sua mãe aflita. 

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus não vinha e tive que ter muita paciência em esperá-lo,  cheguei até me esforçar em sair de meu habitual estado porque não tinha força para continuar  nele. Jesus não vinha, o sofrer me parecia que havia fugido de mim, os sentidos me os sentia em  mim mesma, não me restava mais que fazer um esforço para sair, mas enquanto isso fazia, o  bendito Jesus veio e fez um cerco ao redor de minha cabeça com seus braços, e desde esse  momento não me tenho sentido mais em mim mesma, e via Nosso Senhor muito indignado com o  mundo e, querendo aplacá-lo, disse-me:

(2) “Por agora, não queiras cuidar de Mim, mas peço-te que te ocupes de minha Mãe, consola-a,  porque está muito afligida pelos castigos mais pesados que estou prestes a derramar sobre a  terra”.

(3) Quem pode dizer o quanto aflita fiquei?

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4-15

Outubro 2, 1900

Estado de vítima pela Itália e Corato.  

(1) Temendo que não fosse mais Vontade de Deus meu estado, ao vir o bendito Jesus disse:  “Quanto temo que já não seja Vontade teu estado, porque vejo que me faltam as duas coisas  principais que me haviam atado, isto é, o sofrimento e tua presença”.

(2) E Ele: “Minha filha, não é que não queira ter-te mais neste estado, senão como quero castigar  ao mundo, por isso não venho e te faço faltar o sofrer”.

(3) E eu: “Para que estou neste estado?”

(4) E Ele: “Tua posição de vítima e teu contínuo esperar me desarmam os braços, porque tu não  me vês, Eu em troca te vejo muito bem e numero todos os teus suspiros, tuas penas, teus desejos  de me amar, e este teu estar toda atenta em Mim, é sempre um ato de reparação por tantos que  não se preocupam comigo, nem me desejam, mas sim me desprezam e estão todos atentos às  coisas terrenas, enlameados na sujeira dos vícios. Então, seu estado sendo totalmente oposto ao  deles, vem sempre a desarmar a justiça, tanto, que ter você neste estado e começar as guerras  sangrentas na Itália, me resulta quase impossível”.

(5) E eu: “Ah! Senhor, estar neste estado sem sofrer me parece quase impossível, sinto que me  faltam as forças, porque a força para estar neste estado me vem dos sofrimentos. Então, faltando me estes, algum dia que não venha eu tratarei de sair, te digo isso antes a fim de que não te  desgoste”.

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(6) E Ele: “Ah sim, sim, sairá deste estado quando começar a matança na Itália, então te  suspenderei de tudo”.

(7) Enquanto dizia isto, fazia-me ver as guerras ferozes que deverão acontecer tanto entre os  leigos, como aquelas contra a Igreja; o sangue inundava as cidades como quando há uma chuva  densa, meu pobre coração se retorceu pela dor ao ver isto, E pensando na minha cidade, eu disse:  “Ah! Senhor, se Tu dizes que me suspenderás de todo, dás a entender que nem sequer do pobre  Corato terás compaixão, nem o perdoarás?”.

(8) E Ele: “Se os pecados chegam a um certo número, de modo que não mereçam ter almas  vítimas, e aqueles que te têm vítima não se interessam, Eu não terei nenhuma consideração de  Corato”.

(9) Dito isto desapareceu, e eu fiquei toda afligida e oprimida.

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Outubro 4, 1900

Jesus sofre ao castigar o homem porque são suas imagens. 

(1) Depois de ter passado um dia de privação e com escasso sofrimento, sentia-me convencida de  que o Senhor não queria ter-me mais neste estado; no entanto a obediência, mesmo nisto, não  quer ceder, e quer que continue a estar nele, ainda que deva morrer. Seja sempre bendito o  Senhor e em tudo seja feito seu santo e amável Querer. Então, esta manhã, ao vir o bendito Jesus,  fazia-se ver em um estado que dava compaixão, parecia que sofria em seus membros, e seu corpo  era cortado em tantos pedaços que era impossível numera-los; e com voz lastimosa dizia:

(2) “Minha filha, que sinto! O que sinto! são penas inenarráveis e incompreensíveis à natureza  humana; é carne de meus filhos que é dilacerada, e é tanto a dor que sinto, que me sinto dilacerar  minha própria carne”.

(3) E enquanto isso gemia e doía. Eu sentia-me enternecedor ao vê-lo neste estado, e fiz tudo o  que pude por compadecê-lo e rogar-lhe que me participasse suas tristezas. Agradou-me em parte  e apenas pude dizer-lhe: “Ah Senhor, não te dizia eu, que não lançasses mão dos castigos, porque  o que mais me desagrada é que ficarás ferido nos teus próprios membros? Ah, desta vez não  houve modos nem orações para aplacar-te!” Mas Jesus não prestou atenção a minhas palavras,  parecia que tinha uma coisa séria no coração que o levava a outra parte, e num instante me  transportou fora de mim mesma, levando-me a lugares onde Ocorriam massacres sangrentos. ¡  Oh, quantas cenas dolorosas se viam no mundo, quantas carnes humanas atormentadas, feitas em  pedaços, pisoteadas como se pisa a terra e deixadas sem sepultar; quantas desgraças, quantas  misérias! e o pior era que outras coisas mais terríveis deviam acontecer. O bendito Senhor olhou, e  comovendo-se tudo começou a chorar amargamente. Eu, não podendo resistir chorei junto com Ele

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a triste condição do mundo, tanto que minhas lágrimas se misturavam com as de Jesus. Depois de  ter chorado um bom momento, admirei outro traço da bondade de Nosso Senhor: Para fazer que  deixasse de chorar ocultou seu rosto de mim, secou-se as lágrimas, e logo voltando-se de novo  com rosto alegre me disse:

(4) “Amada minha, não chores, basta, basta, o que vês serve para justificar a minha Justiça”.  (5) E eu: “Ah Senhor, digo bem que já não é Vontade tua o meu estado, em que aproveita o meu  estado de vítima se não me for dado livrar os teus caríssimos membros e isentar o mundo de  tantos castigos?”

(6) E Ele: “Não é como você diz; também Eu fui vítima, e apesar de sê-lo não me foi dado livrar ao  mundo de todos os castigos; abri-lhe o Céu, o livrei da culpa, sim, levei sobre Mim suas penas, mas  é justiça que o homem receba sobre si parte daqueles castigos que ele mesmo se atrai pecando.  E, se não fosse pelas vítimas, não só mereceria o simples castigo, ou seja, a destruição do corpo,  mas também a perda da alma; e eis a necessidade das vítimas, que quem se quiser servir delas,  porque o homem é sempre livre na sua vontade, pode encontrar o perdão da pena e o porto de sua  salvação”.

(7) E eu: “Ah Senhor, como gostaria de ir antes que avancem mais estes castigos!”  (8) E Ele: “Se o mundo chega a tal impiedade de não merecer nenhuma vítima, seguro que te levarei”.

(9) Ao ouvir isto disse: “Senhor, não permita que permaneça aqui, e assistir a cenas tão dolorosas”.  (10) E Jesus, quase me repreendeu acrescentou: “Em vez de me pedir que os liberte, você diz que  quer vir; se Eu levasse todos os meus, o que seria do pobre mundo? Certamente não teria mais o  que fazer com ele, e não lhe teria mais nenhuma consideração”.

(11) Depois disso eu pedi por várias pessoas, Ele desapareceu e eu retornei em mim mesma. + + + +

4-17

Outubro 10, 1900

Estes escritos manifestam claramente ao mundo o modo 

como Jesus ama as almas. 

A alma só pode sair do corpo, por força da dor ou do amor. 

(1) Enquanto escrevia estava pensando entre mim: “Quem sabe quantos desatinos haverá nestes  escritos, merecem ser lançados ao fogo, se a obediência me o concedesse, de boa vontade o faria,  porque sinto como um enfado na alma, especialmente se chegassem a ser vistos por alguma  pessoa, já que em alguns pontos fazem parecer como se amasse ou fizesse alguma coisa por  Deus, enquanto que não faço nada, não o amo, e sou a alma mais fria que se possa encontrar no  mundo, e então me teriam em um conceito diferente do que sou, e isto é uma pena para mim; mas  como é a obediência que quer que escreva, sendo isto para mim um dos maiores sacrifícios,

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portanto me entrego toda a ela, com a esperança certa que ela me desculpará e justificará minha  causa diante de Deus e diante dos homens”. Mas enquanto digo isto, o bendito Jesus mexeu-se  dentro de mim e está a repreender-me e quer que retire o que disse, e se não o fizer não quer que  continue a escrever. Está me dizendo que ao dizer isto me afastei da verdade, sendo que a coisa  mais essencial de uma alma é não sair jamais do círculo da verdade. Como! você não me ama?  Com que intrepidez diz, não Tu queres sofrer por Mim?”.

(2) E eu envergonhando-me toda: “Sim, Senhor”.

(3) E Ele: “E bem, como é que vens a sair da verdade?”

(4) Dito isto, retirou-se em meu interior, sem mais fazer-se ouvir, ficando eu como se tivesse  recebido um golpe. ¡ Quantas me faz a senhora obediência, se não fosse por ela não me  encontraria nestas lutas com meu amado Jesus! ; quanta paciência é necessária com esta bendita  obediência!

(5) Agora, vou dizer o que devia dizer, pois o Senhor me distraiu um pouco do que havia começado, então, ao vir o bendito Jesus respondeu ao meu pensamento dizendo-me:  (6) “Certamente merecem ser queimados estes escritos teus, mas queres saber em qual fogo? No  fogo de meu amor, porque não há página neles que não manifeste claramente o modo como amo  as almas; tanto se são coisas que se referem a ti, como se referem ao mundo; e meu amor nestes  teus escritos encontra um desabafo aos meus preocupados e amorosos desfalecimentos”.  (7) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, e encontrando-me sozinha, sem corpo,  disse: “Meu amado e único Bem, que castigo é para mim ter que retornar tantas vezes a meu  corpo, porque é certo que agora não o tenho, é só minha alma que está junto Contigo; e depois,  não sei como me encontro aprisionada em meu mísero corpo como dentro de uma prisão  tenebrosa, e aí perco aquela liberdade que me vem dada ao sair dele. Isto não é um castigo para  mim, o mais duro que se possa dar?”

8) E Jesus: “Minha filha, não é castigo o que tu dizes, nem por culpa tua que isto te acontece, antes  deves saber que só por duas razões a alma pode sair do corpo: por força da dor, porque acontece  a morte natural; ou por força de amor recíproco entre a alma e Eu, porque sendo este amor tão  forte, nem a alma suportaria, nem Eu posso suportar muito sem gozá-la, por isso a vou atraindo a  Mim, e logo a devolvo a seu estado natural; e a alma mais que atraída por um fio elétrico vai e vem  como a Mim me agrada. Eis que o que tu crês castigo é amor finíssimo”.

(9) E eu: “Ah Senhor, se o meu amor fosse bastante e forte, creio que teria a força de subsistir  diante de Ti, e não estaria sujeita a retornar ao meu corpo; mas como é muito débil, por isso é que  estou sujeita a estas vicissitudes”.

(10) E Ele: “Antes te digo que é amor maior, é extraído do amor do sacrifício, porque por amor meu  e por amor dos teus irmãos te privas e regressas às misérias da vida”.

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(11) Depois disto o bendito Jesus me transportou a uma cidade, onde eram tantas as culpas que se  cometiam, que saía como uma neblina densíssima, malcheirosa, que se levantava para o céu; e do  céu descia outra neblina tupida, e dentro estavam condensados tantos castigos, que pareciam ser  suficientes para exterminar esta cidade. Então eu disse: “Senhor, onde nos encontramos? Que  lugares são estes?”

(12) E Ele: “Aqui é Roma, onde são tantas as maldades que se cometem, não só pelos leigos, mas  também pelos religiosos, que merecem que esta névoa os acabe de cegar, merecendo com isso o  seu extermínio”.

(13) Num instante vi o estrago que acontecia, e parecia que o Vaticano recebia parte das  sacudidas; não eram libertados nem sequer os sacerdotes, por isso toda consternada disse: “Meu  Senhor, liberta a tua cidade predileta, a tantos ministros teus, ao Papa. Oh, de boa vontade te  ofereço a mim mesma para sofrer seus tormentos, contanto que os perdoe!”

(14) E Jesus comovido me disse: “Vem Comigo e te farei ver até onde chega a malicia humana.” 15) E transportou-me para dentro de um palácio, e num quarto secreto estavam cinco ou seis  deputados e diziam entre eles: “Só cederemos quando tivermos destruído os cristãos”. E parecia  que queriam obrigar o rei a escrever de seu próprio punho o decreto de morte contra os cristãos, e  a promessa de deixá-los apoderar-se dos bens destes, dizendo-lhe que, contanto que consentisse  com eles, ele não faria nada, porque não o fariam por agora, mas em tempo e circunstâncias  oportunas o teriam feito. Depois disto me transportou a outra parte, e me fazia ver que devia morrer  um daqueles que se dizem chefes, e este tal parecia tão unido com o demônio, que nem sequer  nesse ponto se afastava, toda sua força a tomava dos demônios que o cortejavam como seu fiel  amigo. Os demônios ao me ver se moveram, e um me queria bater, outro me queria fazer uma  coisa e outra, entretanto eu, não fazendo caso a suas moléstias, porque me importava mais a  salvação daquela alma, me esforcei e cheguei junto a esse homem. Oh Deus, que vista tão  espantosa, mais que os mesmos demônios! Em que estado tão lamentável jazia ele! Mais duro que  pedra, em nada o comoveu nossa presença, mas bem parecia que zombava. Jesus logo me tirou  desse lugar, e eu comecei a rogar pela salvação dessa alma.

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4-18

Outubro 12, 1900

Os inimigos mais poderosos do homem são: 

o amor aos prazeres, às riquezas e às honras.

(1) Continua vindo meu adorável Jesus; esta manhã trazia uma densa da coroa de espinhos; a tirei  pouco a pouco e a pus em minha cabeça, e disse: “Senhor, ajuda-me a cravá-la”.  (2) E Ele: “Desta vez quero que tu mesma a crave, quero ver o que saber fazer, e como queres

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sofrer por amor a mim”.

(3) Eu a cravei muito bem, muito mais que se tratava de lhe fazer ver até onde chegava meu amor  de sofrer por Ele, tanto que Ele mesmo, todo enternecido e estreitando-me disse:  (4) “Basta, basta, que meu coração não resiste mais o verte sofrer”.

(5) E me deixando muito sofrida, meu amado Jesus não fazia outra coisa senão ir e vir. Depois  disto tomou o aspecto de crucificado e me participou suas penas, e me disse:  (6) “Minha filha, os inimigos mais poderosos do homem são: o amor aos prazeres, às riquezas e às  honras, que fazem infeliz ao homem, porque estes inimigos se introduzem até no coração e o roem  continuamente, o amargam, o abatem, tanto, de fazer-lhe perder toda a felicidade, e eu sobre o  Calvário derrotei estes três inimigos, e obtive graça para o homem de que pudesse vencê-los  também ele, e restituí-lhe a felicidade perdida, mas o homem sempre ingrato rechaça minha graça  e ama raivosamente estes inimigos, que colocam o coração humano em uma tortura contínua”.  (7) Dito isto desapareceu e eu compreendia com tal clareza a verdade destas palavras, que sentia  uma repugnância, um ódio para com estes inimigos.

(8) Seja sempre bendito o Senhor e tudo seja para sua glória.

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4-19 

Outubro 14, 1900

O perigoso flagelo dos burgueses. 

Só a inocência atrai a misericórdia e mitiga a justa indignação.

(1) Esta manhã me sentia tão aturdida, que não reagia, nem podia ir como o habitual em busca de  meu sumo Bem. De vez em quando se movia dentro de mim e se fazia ver, e me abraçando toda e  compadecendo me dizia:

(2) “Pobre filha, tens razão de não poder estar sem Mim, como poderias viver sem teu amado?”  (3) E eu, perturbada por suas palavras, disse: “Ah, meu amado, que duro martírio é a vida por os  intervalos em que sou obrigada a estar sem Ti. Tu mesmo o dizes, que tenho razão nisto, e logo  me deixas?”

(4) E ele se escondeu como se não quisesse que ouvisse o que me dizia, e eu fiquei de novo no  meu tumulto, não podendo dizer mais nada; e, vendo-me de novo, turbada, disse: (5) “Tu és todo o meu contentamento, no teu coração encontro o verdadeiro repouso e,  repousando, sinto nele as mais queridas delícias”.

(6) E eu, sacudindo-me de novo, disse-lhe: “Também para mim Tu és todo o meu contentamento,  tanto que todas as outras coisas não são para mim senão amarguras”.

(7) E Ele retirando-se de novo me deixou meio a falar, ficando mais perturbada que antes, e assim  continuou esta manhã, parecia que tinha vontade de jogar um pouco. Depois disto me senti fora de  mim mesma, e vi que vinham pessoas desconhecidas vestidas de burgueses, e as pessoas ao vê-

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las, todas se horrorizavam e davam um grito de espanto e de dor, especialmente as crianças, e  diziam: “Se estes nos caem em cima, para nós tudo terminou”, e acrescentavam: “Escondam as  jovens; pobre juventude se chega às mãos destes”. Então eu, dirigindo-me ao Senhor lhe disse:  “Piedade, misericórdia, afasta este flagelo tão perigoso para a mísera humanidade, te movam a  compaixão as lágrimas da inocência”.

(8) E Ele: “Ah! minha filha, só pela inocência tenho consideração pelos outros, só ela me arranca a  misericórdia e mitiga minha justa ira”.

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4-20

Outubro 15, 1900

Luta entre o confessor e Jesus pela crucificação de Luísa.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, o bendito Jesus fez-me ouvir a sua voz que dizia: (2) “Minha filha, esta manhã sinto toda a necessidade de ser confortado, ah, toma um pouco as  minhas penas sobre ti, e deixa-me repousar no teu coração!”

(3) E eu: “Sim meu Bem, torna-me partícipe das tuas dores, e enquanto eu sofro em teu lugar,  terás todo o tempo para te poder restaurar e para teres um doce repouso; só te peço que esperes  mais um pouco até que eu fique sozinha, porque me parece que ainda está o confessor, para que  ninguém me veja sofrer”.

(4) E Ele: “Que importa que esteja presente o pai, não seria melhor que em vez de ter alguem que  me alivie, tenha dois, você sofrendo e ele concordando comigo com minha mesma intenção?”  (5) Enquanto isso, vi o confessor que colocava a intenção da crucificação, e de imediato o Senhor,  sem o mínimo atraso me participou as penas da cruz. Depois de ter estado um pouco nesses  sofrimentos, o confessor chamou-me à obediência, Jesus retirou-se e eu tratava de submeter-me a  quem me ordenava. Quando em um instante, de novo veio o meu doce Jesus que me queria  submeter pela segunda vez às penas da crucifixão, e o pai não queria; e eu, quando me  uniformizava com Jesus, isto é a sofrer, Ele vinha; quando o confessor via que começava a sofrer,  com a obediência parava o sofrimento e Jesus se retirava, eu sofria uma pena grande ao vê-lo  retirar-se, mas fazia quanto mais por obedecer, e às vezes, como via presente ao confessor,  deixava-os fazer a Eles, esperando a ver quem vencia: a obediência ou Nosso Senhor. Ah,  parecia-me ver lutar a obediência e a Jesus, ambos potentes, capazes de poder enfrentar uma luta.  Depois de terem lutado, no momento de ver quem vencia, veio a Rainha Mãe, que se aproximando  do pai lhe disse:

(6) “Meu filho, esta manhã em que Ele mesmo quer que sofra, deixe-o fazer, de outra maneira não  serão livrados, nem sequer em parte dos castigos”.

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(7) Naquele momento, o pai cessou, como se se tivesse distraído em sustentar a luta, e Jesus  vencedor me sujeitou de novo às dores, mas com tal veemência e acerbos dores, que eu mesma  não sei como fiquei viva; Quando pensava que ia morrer, a obediência chamou-me novamente e  encontrei-me em mim mesma. Reconfortado o bendito Jesus, mas não contente ainda,  regressando queria repetir pela terceira vez, mas a obediência armando-se de força, desta vez se  fez vencedora, perdendo meu amado Jesus. Com tudo isto de vez em quando o tentava, quem  sabe e talvez pudesse vencer novamente Ele, tanto que não me dava calma, e devia dizer: “Mas  meu Senhor, fica um pouco quieto e deixa-me em paz; não vês que a obediência se pôs em armas,  e não quer ceder? Por isso tenha paciência, e se quiser repetir a terceira vez prometa-me que me  fará morrer”.

(8) E Jesus: “Sim, venha”.

(9) Eu disse ao pai e também nisto a obediência se tornou inexorável, apesar de que o meu doce  Bem me chamava dizendo: “Luísa vem”, eu lhe dizia que me chamava, mas me respondia com um  não determinante. Que obediência é esta que quer fazer em tudo, e sobre tudo, de senhora, quer se meter em coisas que a ela não lhe pertencem, como é o morrer; e além disso, bonita coisa,  expõe uma pobre infeliz aos perigos de morrer, faz-lhe tocar com a mão o porto da felicidade  eterna, E então para mostrar que em tudo sabe fazer de senhora, pela força que possui a detém e  a faz permanecer na mísera prisão do corpo, e se lhe perguntarem por que tudo isso, primeiro não  te responde, e depois em sua mudo linguagem te diz: “Por que? Porque sou senhora e tenho  império sobre tudo”. Parece que sim, quer estar em paz com esta bendita obediência, se necessita  uma paciência de santo, e não só, mas a mesma de Nosso Senhor; de outra maneira se está em  contínuas fricções, porque se trata de que quer tocar os extremos. Então vendo que não podia  vencer em nada, o bendito Senhor se acalmou diante da obediência e me deixou em paz, me  amenizou as penas que sofria e me disse:

(10) “Minha querida, nas dores que sofreste, quis fazer-te sentir o furor da minha justiça ao  derramá-la um pouco sobre ti. Se você pudesse ver com clareza o ponto até onde os homens a  fizeram chegar, e como o furor de minha justiça se armou contra eles, você tremeria dos pés a  cabeça, e não faria outra coisa que me pedir que chovessem sobre você as penas.

(11) Então parecia que me sustentava nos meus sofrimentos, e para me animar dizia-me:  (12) “Eu sinto-me melhor, e tu?”

(13) E eu: “Ah! Senhor, quem pode dizer o que sinto? , me parece como se tivesse sido triturada  dentro de uma máquina, sinto tal aniquilamento de forças, que se Tu não me infundes vigor não  posso recuperar”.

(14) E Ele: “Amada minha, é necessário que ao menos de vez em quando sintas com intensidade  as penas; primeiro por ti, porque por quanto bom seja um ferro, se se deixa largamente sem o pôr

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no fogo, sempre adquire algo de ferrugem; segundo por Mim, que se por longo tempo não me  derramava sobre ti, minha ira se ascendia em tal modo, que não teria nenhuma consideração, nem  livraria a ninguém, e se não pusesse sobre ti minhas penas, como poderia manter-te a palavra de  perdoar em parte ao mundo dos castigos?”

(15) Depois disso, o confessor veio chamar-me à obediência, e assim eu voltei em mim mesma.  + + + +

4-21

Outubro 17, 1900

Uma alma sofredora e uma oração humilde, 

fazem perder toda a força a Jesus, 

e o torna tão débil de deixar-se atar por aquela alma. 

O aspecto da justiça. 

1) Ao vir o meu adorável Jesus, pareceu-me vê-lo tão sofredor que dava compaixão, e lançando-se  em meus braços me disse:

(2) “Minha filha, acalma o furor de minha justiça, de outra maneira”…

(3) Enquanto estava nisto, pareceu-me ver a justiça divina armada de espadas, de flechas de fogo,  que dava terror, e ao mesmo tempo a força com que pode agir. Por isso toda assustada disse:  “Como posso acalmar a tua ira se te vejo tão forte que podes num simples instante aniquilar céu e  terra?”

(4) E Ele: “No entanto uma alma sofredora, e uma oração humildíssima, fazem-me perder toda a  minha força, e fazem-me tão débil que me deixo atar por essa alma como a ela parece e lhe e  apraz.

(5) E eu: “Ah, Senhor, em que aspecto tão feio se faz ver a justiça!”.

(6) E Jesus acrescentou: “Não é feia, se tu a vês tão armada, isto foi provocado pelos homens,  mas em si mesma é boa e santa, como os meus outros atributos, porque em Mim não pode haver  sequer a sombra do mal; é verdade que seu aspecto parece áspero, pungente, amargo, mas os  frutos são doces e saborosos”.

(7) Dito isto desapareceu.

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4-22

Outubro 20, 1900

A Justiça quer a satisfação do que é injusto, 

assim o amor quer o alívio de amar e de ser amado. 

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus me fazia ver seus atributos e me disse:  (2) “Minha filha, todos meus atributos estão em contínua atitude para com os homens, e todos  exigem o seu tributo”.

(3) Depois acrescentou: “Assim como a justiça quer a satisfação do que é injusto, assim meu amor

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quer o desabafo de amar e de ser amado. Tu põe-te na justiça e reza, repara, e quando receberes  algum golpe tem a paciência de suportá-lo; depois passa ao meu amor e dá-me o desafogo do  amor, de outra maneira ficaria desiludido no amor. Desta vez sinto toda a necessidade de  desabafar o meu amor reprimido, e se me fosse dado fazê-lo, definharia e desmaiaria”.

(4) Enquanto dizia isto começou a me beijar, a me acariciar e a me fazer tantas que não tenho  palavras para saber manifestá-las; e queria que eu lhe correspondesse, dizendo-me:  (5) “Assim como Eu sinto a necessidade de desabafar contigo em amor, assim tu tens necessidade  de desabafar em amor Comigo, não é verdade?”

(6) Então, depois de nos termos descarregado mutuamente no amor, desapareceu. ++++

4-23

Outubro 22, 1900

Dúvidas de Luisa sobre as coisas que lhe acontecem, 

ela quer saber se são de Deus ou do demônio. 

A obediência não tem razão humana, sua razão é divina.

(1) Esta manhã me encontrava toda oprimida e com temor de que não fosse Jesus bendito que  operava em mim, mas o demônio, mas apesar disso não sabia conter-me em buscá-lo e desejá-lo,  e assim que se dignou vir me disse:

(2) “O que é que garante que o sol nasce senão a luz que põe em fuga as trevas noturnas e o calor  que expande na mesma luz? Se se dissesse que o sol nasceu, e no entanto parece mais densa a  escuridão da noite e não se sente nenhum calor, o que dirias tu? Que não é sol verdadeiro o que  saiu, senão falso, porque não se vêem os efeitos do sol. Agora, se a minha visão te afasta das  trevas e te mostra a luz da verdade, fazendo-te sentir o calor da minha graça, por que queres  cansar-te o cérebro pensando que não sou Eu quem obra em ti?”

(3) Acrescento porque assim o quer a obediência, que no outro dia estava pensando que se de  verdade acontecem tantos castigos que escrevi nestes cadernos, quem terá coração de ser  espectador? E o bendito Senhor claramente me fez compreender que alguns se realizarão  enquanto ainda estiver sobre esta terra, outros depois de minha morte, e alguns outros serão  diminuídos em parte. Então fiquei um pouco mais aliviada por pensar que não era a minha vez de  ver todos. Aqui está satisfeita a senhora obediência, que começou a franzir a testa, a dar lamentos  e a repreender; parece que esta bendita senhora não quer em nenhum modo adaptar-se à razão  humana, não quer ocupar-se de nenhuma circunstância, mas parece que não tem razão, e na  verdade é um martírio ter que ver com alguém que não tem razão, porque para poder estar um  pouco bem é necessário perder a própria razão, porque a senhorita vai se gabando: “Eu não tenho  nenhuma razão humana, por isso não sei adaptar-me à maneira humana, minha razão é divina, e  quem quiser viver em paz Comigo é absolutamente necessário que perca a sua, para fazer

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aquisição da minha”. Assim é como raciocina a senhorita, o que se pode dizer? É melhor calar-se,  porque ao direito ou ao contrário sempre quer a razão, e se gloria de negá-la sempre.

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4-24

Outubro 23, 1900

O verdadeiro amor nunca está sozinho.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me fazia ver o confessor que  punha a intenção de me fazer sofrer a crucificação; minha pobre natureza sentia repugnância, não  porque não quisesse sofrer, senão por outras razões que não é necessário descrevê-las aqui, Mas  Jesus, como lamentando-se de mim dizia ao pai:

(2) “Não quer submeter-se”.

(3) Eu me enterneci ante o lamento, o padre renovou a ordem e me submeti. Depois de ter sofrido  um pouco, como via o pai presente, o Senhor disse:

(4) “Amada minha, eis o símbolo da Santíssima Trindade: Eu, o Pai e tu. Meu amor desde “ab  eterno” jamais esteve sozinho, senão sempre unido em perfeita e recíproca união com As Divinas  Pessoas, porque o verdadeiro amor jamais está sozinho, senão que produz outros amores e goza  o ser amado pelos amores que ele mesmo produziu, e se está só, ou não é da natureza do amor  divino, ou bem está só aparentemente. Se soubesses quanto me agrado e me agrada poder  continuar nas criaturas aquele amor que desde “ab eterno” reinava e reina ainda agora na  Santíssima Trindade. Eis por que digo que quero o consentimento da intenção do confessor unido  comigo, para poder continuar mais perfeitamente este amor que simboliza a Trindade  Sacrossanta”.

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4-25

Outubro 29, 1900

A coisa mais essencial e necessária numa alma é a caridade. 

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação e de silêncio, esta manhã ao vir o bendito Jesus  disse: “Vê-se que não é mais Vontade tua o meu estado”.

(2) E Ele: “Sim, sim; levanta-te e vem aos meus braços”.

(3) Por este falar esqueci o estado penoso dos dias passados e corri a seus braços, e como se via  o lado aberto disse: “Meu amado, já faz algum tempo que não me admitiste a chupar do teu lado,  peço-te que me admitas hoje”.

(4) E Jesus: “Amada minha, bebe pois ao teu prazer e cura-te”.

(5) Quem pode dizer minha alegria e avidez com que pus minha boca para beber daquela fonte

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divina? Depois de beber até não ter mais onde colocar nem sequer outra gota, separei-me, e Jes