Livro do Céu Volume 1 ao 7 Serva de Deus Luisa Piccarreta

LIVRO DO CÉUOs Três Fiat
Livro do Céu Volume 1 ao 7 Serva de Deus Luisa Piccarreta
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O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS
LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Volume 01

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

 IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

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Queremos consagrar este livro e os frutos 

que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade 

Este livro foi traduzido pelo site divinavontadenobrasil.com para distribuição gratuita.

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Volume 01

  1. M. I.

(1) Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

(2) Por pura obediência começo a escrever.

(3) Tu sabes, ó Senhor, o sacrifício que me custa fazer, e que me submeteria a mil mortes antes de  escrever uma só linha das coisas que passaram entre Tu e eu. Oh meu Deus! Minha natureza  treme, sente-se esmagada e quase desfeita só de pensar. ¡ Ah, dá-me a força, ó vida da minha  vida, a fim de que possa cumprir a santa obediência! Tu que deste a inspiração ao confessor, dá

me a graça de poder cumprir o que me é mandado.

(4) Oh Jesus, ó Esposo, ó minha fortaleza! A Ti me dirijo, a Ti venho, em teus braços me introduzo,  me abandono, me repouso. Ah, me Consola me em minha aflição e não me deixe só e  abandonada! Sem sua ajuda estou certa que não terei força de cumprir esta obediência que tanto  me custa, me vencerá o inimigo e temo ser repudiada justamente por Ti por minha desobediência. ¡  Ah! Olha para mim e olha para mim outra vez, ó Santo Esposo nestes teus braços, vê quantas  trevas me rodeiam, são tão densas que não deixam entrar nem sequer um átomo de luz na minha  alma. ¡ Oh! Meu místico Sol Jesus, resplandeça esta luz em minha mente, a fim de que faça fugir  as trevas e possa livremente recordar as graças que fez a minha alma. ¡ Oh! Sol Eterno, manda  outro raio de luz ao íntimo de meu coração e o purifique da lama em que jaz, o queime, o consuma  em teu Amor, a fim de que ele, que mais que tudo provou as doçuras de teu Amor, possa  claramente manifestá-las a quem está obrigado. A culpa é minha! Meu Sol Jesus, manda outro raio  de luz ainda sobre meus lábios para que possa dizer a pura verdade, com a única finalidade de  conhecer se é verdadeiramente Você ou bem ilusão do inimigo. Mas, oh! Jesus, quão escassa de  luz vejo-me ainda nestes braços teus. Ah! Contenta-me, Tu que tanto me amas, continua a  mandar-me luz. . Oh! Meu Sol, meu belo, propriamente quero entrar no centro, a fim de ficar toda  abismada nesta luz puríssima. Faz, ó Sol Divino, que esta luz me preceda diante, me continue  junto, circunde-me por toda parte, se introduza nos mais íntimos esconderijos de meu interior, a fim  de que, consumindo meu ser terreno, transforme tudo em seu Ser Divino.

(5) Virgem Santíssima, Mãe amável, venha em meu auxílio, obtenha-me de você e meu doce Jesus  graça e força para cumprir esta obediência.

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(6) São José, meu amado protetor, Senhor nesta circunstância. Arcanjo São Miguel, defenda-me  do inimigo infernal, que tantos obstáculos me põe na mente para fazer-me faltar a esta obediência.  Arcanjo São Rafael e tu meu Anjo Guardião, vinde assistir-me e acompanhar-me, a dirigir a minha  mão a fim de que possa escrever só a verdade.

(7) Seja tudo para honra e glória de Deus, e para mim toda a confusão. Oh, Santo Esposo, venha  em minha ajuda! Ao considerar as muitas graças que fizeste à minha alma, sinto-me toda  espantada, toda cheia de confusão e vergonha ao me ver ainda tão má e sem corresponder a tuas  graças. Mas meu amável e doce Jesus, perdoa-me, não te retires de mim, continua derramando  em mim tua graça, a fim de que possas fazer de mim um triunfo de tua Misericórdia.

1 Todos os livros apresentados no livro “Libro de Cielo” foram traduzidos da tradução em espanhol,  que foi traduzido do manuscrito original de Luisa Piccarreta. Neste primeiro volume, apresentamos  os quatro primeiros livros escritos por Luisa. Em 28 de fevereiro de 1899, ela recebeu a ordem de  seu confessor, Don Gennaro Di Gennaro, para começar a escrever enquanto Jesus falava com ela  e também escrever tudo o que havia acontecido entre eles até aquele momento. 1 é o único que  não foi escrito enquanto Nosso Senhor falava com ela. Embora seja contínuo, vários temas muito  bem definidos são distinguidos, mas não queremos marcá-los para não alterar a maneira como ela o escreveu. No início deste livro, estão as duas primeiras meditações da novena de Natal, as sete

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restantes estão no final. Por causa do que foi dito anteriormente, queremos deixar a ordem que ela  usou ao escrever este volume, por isso parece inacabado, mas no final estão as meditações  ausentes. Além disso, essa novena esta completa no final deste livro.

Começa sua narração aos 17 anos e só põe as primeiras duas meditações.  

(8) E agora começo a Novena do Santo Natal. Aos dezessete anos, preparei-me para a festa do  Santo Natal praticando diferentes atos de virtude e mortificação, honrando especialmente os nove  meses que Jesus esteve no seio materno com nove horas de meditação por dia, referentes sempre  ao mistério da Encarnação.

(9) 1º. – Como por exemplo, em uma hora me punha com o pensamento no paraíso e me  imaginava à Santíssima Trindade: ao Pai que mandava o Filho à terra, ao Filho que prontamente  obedecia ao Querer do Pai, e ao Espírito Santo que consentia nisso. Minha mente se confundia  tanto ao contemplar um mistério tão grande, um amor tão recíproco, tão igual, tão forte entre eles e  para com os homens; e na ingratidão destes, especialmente a minha; que nisto teria ficado não  uma hora, mas todo o dia, mas uma voz interna me dizia:

(10) “Chega, vem e vê outros maiores excessos do meu Amor”.

(11) 2º. – Então minha mente se punha no seio materno, e ficava estupefata ao considerar aquele  Deus tão grande no Céu, e agora tão humilhado, diminuído, restringido, que quase não podia  mover-se, nem sequer respirar. A voz interior dizia-me:

(12) “Vês quanto te amei? ” Ah! Dá-me um lugar em teu coração, tira tudo o que não é meu,  porque assim me dará mais facilidade para poder me mover e respirar”.

(13) Meu coração se desfazia, lhe pedia perdão, prometia ser toda sua, me desabafava em pranto,  sem embargo, digo-o para minha confusão, voltava a meus habituais defeitos. ¡ Oh! Jesus, quão  bom foste com esta criatura miserável.

(14) E assim passava a segunda hora do dia, e depois, pouco a pouco o resto, que dizer tudo seria  aborrecer. E isto fazia-o às vezes de joelhos e quando era impedida de fazê-lo pela família, fazia-o  mesmo trabalhando, porque a voz interior não me dava nem trégua nem paz se não fizesse o que  queria, assim que o trabalho não me era impedimento para fazer o que devia fazer. Assim passei  os dias da novena, quando chegou a véspera me sentia mais que nunca acendida por um insólito  fervor. Eu estava sozinha no quarto quando o menino Jesus me foi apresentado, todo bonito, sim,  mas tiritando, em atitude de querer me abraçar, eu me levantei e corri para abraçá-lo, mas no  momento em que o ia estreitar desapareceu, isto se repetiu três vezes. Fiquei tão comovida e  acesa de amor, que não sei explicar; mas depois de algum tempo não o levei mais em conta, e não  o disse a ninguém, de vez em quando caía nas habituais faltas. A voz interior não me deixou nunca  mais, em cada coisa me repreendia, me corrigia, me animava, em uma palavra, o Senhor fez

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comigo como um bom pai com um filho que tende a desviar-se, e ele usa todas as diligências, os  cuidados para mantê-lo no reto caminho, de modo de formar dele a sua honra, a sua glória, a sua  coroa. Mas, ó! Senhor, muito ingrata te tenho sido.

Ensina-lhe o desapego. Desapego do mundo exterior. 

(15) Depois o Divino Mestre dá início, põe sua mão para desapegar meu coração de todas as  criaturas, e com voz interior me dizia:

(16) “Eu sou o único que merece ser amado; olha, se você não tirar este pequeno mundo que o  rodeia, isto é, pensamentos de criaturas, imaginações, Eu não posso entrar livremente em seu  coração, este murmúrio em sua mente é impedimento para te deixar ouvir mais clara minha voz,  para derramar as minhas graças e para te fazer apaixonar verdadeiramente por Mim. Prometa ser  toda minha e eu mesmo porei mãos à obra. Tu tens razão em que não podes nada, não temas, Eu  farei tudo, dá-me a tua vontade e isso me basta”.

(17) E isto acontecia mais freqüentemente na Comunhão; então lhe prometia ser toda sua, pedia  perdão por que até aquele momento não o havia sido, lhe dizia que verdadeiramente o queria amar  e lhe rogava que não me deixasse nunca mais só sem Ele. E a voz continuava: (18) “Não, não, virei contigo para observar todas as tuas ações, movimentos e desejos”. (19) Todo o dia o sentia sobre mim, me repreendia de tudo, como por exemplo se me entretinha  demasiado falando com a família de coisas indiferentes, não necessárias, a voz interna me dizia:  (20) “Estas conversas enchem-te a mente de coisas que não me pertencem a Mim, circundam-te o  coração de pó, de modo que te faz sentir débil minha Graça, não mais viva. ¡ Ah! Me imite quando  estava na casa de Nazaré, minha mente não se ocupava de outra coisa que da glória do Pai e da  salvação das almas, minha boca não dizia outra coisa que discursos santos, com minhas palavras  buscava reparar as ofensas ao Pai, tratava de assar os corações e atraí-los ao meu Amor, e  primariamente a minha Mãe e a São José, em uma palavra, tudo nomeava a Deus, tudo era feito  por Deus e tudo a Ele se referia. Por que você não poderia fazer o mesmo?” (21) Eu ficava muda, toda confusa, tratava por quanto mais podia de estar sozinha, confessava-lhe  minha debilidade, pedia-lhe ajuda e graça para poder fazer o que Ele queria, porque por mim só  não sabia fazer outra coisa que mal. Se durante o dia minha mente se ocupava em pensar em  pessoas às quais eu queria, em seguida me repreendia dizendo-me:

(22) “Isto é o bem que me queres? Quem te amou como Eu? Olhe, se você não acabar com isso  Eu te deixo”.

(23) Às vezes eu me sentia dando tais e tantas reprovações amargas, que não fazia outra coisa  que chorar. Especialmente uma manhã, depois da Comunhão, deu-me uma luz tão clara sobre o  grande amor que Ele me dava e sobre a volubilidade e inconstância das criaturas, que o meu  coração ficou tão convencido, que daí em diante já não foi capaz de amar a nenhuma pessoa.

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Ensinou-me a amar as pessoas sem me separar Dele, isto é, a olhar para as criaturas como  imagem de Deus, de modo que se recebia o bem das criaturas, devia pensar que só Deus era o  primeiro autor daquele bem e que se tinha servido da criatura para me dar, então meu coração se unia mais a Deus. Se recebia mortificações, devia vê-las também como instrumentos nas mãos de  Deus para a minha santificação, por isso meu coração não ficava ressentido com meu próximo.  Então por este modo acontecia que eu olhava as criaturas todas em Deus, por qualquer falta que  visse nelas jamais lhes perdia a estima, se zombavam de mim me sentia obrigada com elas  pensando que me faziam fazer novas Aquisições para minha alma, se me louvavam, recebia com  desprezo estes louvores dizendo: “Hoje isto, amanhã podem me odiar, pensando em sua  inconstância”. Em suma, meu coração adquiriu uma liberdade que eu mesma não sei explicar.

Purificação interior. Purificação do interior de sua alma. 

Quando o Divino Mestre me libertou do mundo externo, então pôs a mão a purificar o interior, e  com voz interior me dizia:

(24) “Agora estamos sozinhos, não há mais quem nos perturbe, não está agora mais contente que  antes que devia contentar a tantos e tantos? Olha, é mais fácil contentar um só, deves fazer de  conta que eu e tu estamos sozinhos no mundo, promete ser fiel e eu verterei em ti tais e tantas  graças que tu mesma ficarás maravilhada”.

(25) Depois continuou a dizer-me: “Sobre ti fiz grandes desígnios, sempre e quando tu me  corresponderes, quero fazer de ti uma perfeita imagem minha, começando desde que nasci até  que morri; Eu mesmo te ensinarei um pouco cada vez o modo como o farás”.  (26) E acontecia assim: Todas as manhãs, depois da Comunhão, dizia-me o que devia fazer no  dia. Direi tudo brevemente, porque depois de tanto tempo é impossível poder dizer tudo. Não me  lembro bem, mas me parece que a primeira coisa que me dizia que era necessária para purificar o  interior de meu coração, era o aniquilamento de mim mesma, isto é, a humildade. E continuava  dizendo-me:

27) “Olha, para fazer com que Eu derrame as minhas graças no teu coração, quero fazer-te  compreender que por ti nada podes. Eu me cuido muito bem daquelas almas que se atribuem a si  mesmas o que fazem, querendo me fazer tantos furtos de minhas graças. Em vez disso, com  aquelas que se conhecem a si mesmas, Eu sou generoso em verter a torrentes minhas graças,  sabendo muito bem que nada se referem a elas mesmas, agradecem-me e têm a estima que  convém, Vivem com medo de que, se não me corresponderem, posso tirar-lhes o que lhes dei,  sabendo que não é uma delas. Pelo contrário, nos corações que fedem de soberba, nem sequer  posso entrar em seu coração, porque inflado deles mesmos não há lugar onde possa me colocar;

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as miseráveis não levam em conta minhas graças e vão de queda em queda até à ruína. Por isso  quero que neste dia faça contínuos atos de humildade, quero que você esteja como um menino  envolto em fraldas, que não pode mover nem um pé para dar um passo, nem uma mão para agir,  senão que tudo o espera da mãe, assim você estará junto a Mim como um menino, me rogando  sempre que te assista, que te ajude, confessando-me sempre teu nada, em suma, esperando tudo  de Mim”.

(28) Então procurava fazer quanto mais podia para satisfazê-lo, me diminuía, me aniquilava, e às  vezes chegava a tanto, de sentir quase desfeito meu ser, de modo que não podia obrar, nem dar  um passo, nem sequer um respiro se Ele não me sustentava. Além disso, eu estava tão mal que  tinha vergonha de me deixar ver pelas pessoas, sabendo que sou a mais feia, como em realidade  Eu ainda sou, então quanto mais eu podia fugir e dizer entre mim: “Oh, se vocês soubessem como  eu sou ruim, e se pudessem ver as graças que o Senhor está me fazendo, (porque eu não dizia  nada a ninguém) e que eu sou sempre a mesma; oh, como me teriam horror!”.

(29) Depois, na manhã em que ia de novo a comungar, me parecia que ao vir Jesus a mim fazia  festa pelo contente que sentia ao me ver tão aniquilada, me dizia outras coisas sobre o  aniquilamento de mim mesma, mas sempre de maneira diferente da anterior, Acho que não uma,  mas centenas de vezes ele falou comigo, e se ele me tivesse falado milhares de vezes teria  sempre novas maneiras de falar sobre a mesma virtude, oh! meu Divino Mestre, quão sábio és, se  ao menos te tivesse correspondido

(30) Lembro-me de uma manhã, quando ele me falava sobre a mesma virtude, ele me disse que  por falta de humildade havia cometido muitos pecados, e que se eu tivesse sido humilde, eu teria  ficado mais perto dele e não teria feito tanto mal; ele me fez entender como o pecado era feio, a  afronta que este miserável verme tinha feito a Jesus Cristo, a ingratidão horrenda, a impiedade  enorme, o dano que tinha vindo a minha alma. Fiquei tão espantada que não sabia o que fazer  para reparar, fazia algumas mortificações, pedia outras ao confessor, mas poucas me eram  concedidas, assim que todas me pareciam sombras e não fazia outra coisa que pensar em meus  pecados, mas sempre mais estreita a Ele. Tinha tanto medo de me afastar dele e de agir pior que  antes, que eu mesma não sei explicar. Não fazia outra coisa quando me encontrava com Ele que  dizer-lhe a pena que sentia por havê-lo ofendido, pedia-lhe sempre perdão, agradecia-lhe porque  tinha sido tão bom comigo, e dizia-lhe de coração: “Olha, oh! Senhor o tempo que perdi, enquanto  poderia ter te amado”. Então não sabia dizer outra coisa senão o grave mal que tinha feito;  finalmente, um dia repreendeu-me e disse:

Esqueço-me das culpas. Esqueço-me das culpas. 

(31) “Não quero que penses mais nisto, porque quando uma alma se humilhou, convencida de ter  feito mal e lavado a sua alma no sacramento da confissão e está disposta a morrer antes de me

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ofender, pensar nisso é uma afronta à minha Misericórdia, é um impedimento para a estreitar ao  meu Amor, Porque ela procura sempre, com a sua mente, envolver-se na lama do passado e  impede-me de a fazer voar para o Céu, porque sempre com essas ideias se fecha em si mesma, se  é que procura pensar nelas. E além disso, olha, Eu já não me lembro de nada, eu esqueci  perfeitamente; você vê alguma sombra de rancor da minha parte?”

(32) E eu dizia-lhe: “Não, Senhor, és tão bom”. Mas sentia partir-me o coração de ternura. (33) E Ele: “E bem, quererás manter diante destas coisas?”

(34) E eu: “Não, não, não quero”.

(35) E Ele: “Pensemos em amar-nos e em contentar-nos mutuamente”.

(36) Daí em diante não pensei mais nisso, fazia quanto mais podia por satisfazê-lo e lhe pedia que  Ele mesmo me ensinasse o modo como devia fazer para reparar o tempo passado. E Ele me dizia:  Imitação da sua Vida. Imitação da vida de Jesus.

(37) “Estou pronto a fazer o que tu queres. Olha, a primeira coisa que eu disse que queria de ti era  a imitação da minha Vida, assim que vejamos o que te falta”.

(38) “Senhor”, dizia-lhe, “me falta tudo, não tenho nada”.

(39) “E bem”, dizia-me: “Não temas, pouco a pouco faremos tudo, Eu mesmo conheço como és  fraco, mas é de Mim que deves tomar força”. (Não me lembro em ordem, mas como posso dizê-lo)  E acrescentava:

Espírito de retidão.  

(40) “Quero que sejas sempre reta no teu agir, com um olho deves olhar para Mim e com o outro  deves olhar o que estás a fazer; quero que as criaturas te desapareçam completamente. Se você  não olhar para as pessoas, não, mas deves pensar que eu mesmo quero que faças o que te é  ordenado, então com o olho fixo em Mim não julgarás ninguém, não olharás se a coisa te é penosa  ou te agrada, se podes ou não fazê-la, fechando os olhos a tudo isto os abrirás para olhar só a  Mim, me levarás junto a ti pensando que te estou olhando fixamente e me dirás: “Senhor, só por Ti  o faço, só por Ti quero agir, não mais escrava das criaturas”. Então, se você anda, se você  trabalha, se você fala, em qualquer coisa que você faz, seu único fim deve ser de me agradar só a  Mim. Oh! Quantos defeitos evitará se fizer assim”.

(41) Outras vezes me dizia: “Também quero que se as pessoas te mortifiquem, te injuriam, te  contradizem, o olhar também fixo em Mim, pensando que com a minha própria boca te digo: “Filha,  sou propriamente Eu que quero que sofras isto, não as criaturas, afasta o olhar delas, senão só Eu  e tu sempre, todas as demais destruas. Olha, quero fazer-te bela por meio destes sofrimentos,  quero enriquecer-te com méritos, quero trabalhar a tua alma, tornar-te semelhante a Mim. Você me  fará um presente, me agradecerá afetuosamente, será agradecida com aquelas pessoas que te

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dão a oportunidade de sofrer, recompensando-as com algum benefício. Fazendo assim caminharás  reta diante de Mim, nada te dará mais inquietude e gozarás sempre paz”.

Espírito de mortificação.  

(42) Depois de algum tempo em que tentei exercitar-me nestas coisas, às vezes fazendo e às  vezes caindo (se bem que vejo claro que ainda me falta este espírito de retidão e sempre fico mais  confusa pensando em tanta ingratidão minha)Jesus falou comigo e me fez entender a necessidade  do espírito de mortificação, (se bem me lembro que em todas estas coisas que me dizia,  acrescentava-me sempre que tudo devia ser feito por amor seu, e que as virtudes mais belas, os  sacrifícios maiores, tornavam-se insípidos se não tinham princípio no amor. A caridade, dizia-me, é  uma virtude que dá vida e esplendor a todas as demais, de modo que sem ela todas estão mortas  e meus olhos não sentem nenhum atrativo, e não têm nenhuma força sobre meu coração; esteja,  pois, atenta e faz que tuas obras, mesmo as mínimas sejam investidas pela caridade, isto é, em  Mim, comigo e por Mim). Agora vamos direto à mortificação.

(43) “Quero”, dizia-me, “que em todas as tuas coisas, até às necessárias, sejam feitas com espírito  de sacrifício. Olhe, suas obras não podem ser reconhecidas por Mim como minhas se não têm a  marca da mortificação. Assim como a moeda não é reconhecida pelos povos se não contém em si  mesma a imagem de seu rei, é desprezada e não tomada em conta, assim é de suas obras, se não  têm o enxerto com minha cruz não podem ter nenhum valor. Olha, agora não se trata de destruir as  criaturas, mas a ti mesma, de te fazer morrer para viver somente em Mim e de minha própria Vida.  É verdade que te custará mais do que o que fizeste, mas tem coragem, não temas, não o farás tu,  senão Eu que operarei em ti”.

(44) Então recebia outras luzes sobre a aniquilação de mim mesma e me dizia:  (45) “Você não é outra coisa que uma sombra, que enquanto você quer tomá-la você foge, você é  nada”.

(46) Eu me sentia tão aniquilada que teria querido me esconder nos mais profundos abismos, mas  me via impossibilitada para fazê-lo, sentia tal vergonha que ficava muda. Enquanto estava neste  reconhecimento do meu nada, Ele me dizia:

(47) “Põe-te junto a Mim, apoia-te no meu braço, Eu te sustentarei com as minhas mãos e tu  receberás força. Você está cega, mas minha luz te servirá de guia. olha, eu vou estar na frente e  você não fará outra coisa que olhar para mim para me imitar”.

(48) Depois me dizia: “A primeira coisa que quero que mortifique é sua vontade, aquele “eu” deve  ser destruído em você, quero que a tenha sacrificada como vítima ante Mim, para fazer que de sua  vontade e da minha se forme uma só. Não estás contente?”

(49) Sim Senhor, mas dá-me a graça, porque vejo que por mim nada posso. E Ele continuava

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dizendo-me:

(50) “Sim, Eu mesmo te contradirei em tudo, e às vezes por meio das criaturas”. (51) E assim acontecia. Por exemplo: Se pela manhã eu acordasse e não me levantasse logo, a  voz interior me dizia: “Tu descansas, e eu não tive outro leito que a cruz, a cruz, logo, logo, sem  tanta satisfação”.

(52) Se caminhava e minha vista se ia um pouco longe, logo me repreendia: “Não quero, tua vista  não a afaste de ti além da distância de um passo a outro, para fazer que não tropeces”. (53) Se me encontrava no campo e via flores, árvores, dizia-me: “Eu tudo criei por amor teu, tu  privas a tua vista deste contentamento por amor meu”.

(54) Mesmo nas coisas mais inocentes e santas, como por exemplo os ornamentos dos altares, as  procissões, dizia-me: “Não deves ter outro prazer senão em Mim sozinho”.

(55) Se, enquanto trabalhava, estava sentada, me dizia: “Está muito cômoda, não se lembra que  minha Vida foi um contínuo penar? E você? E você?”.

(56) Logo, para agradá-lo me sentava na metade da cadeira e a outra metade a deixava vazia, e  algumas vezes em brincadeira lhe dizia: “Olha, Senhor, a metade da cadeira está vazia, vem  sentar-te junto a mim”. Uma vez, senti-me tão feliz que nem sei dizer. Algumas vezes que estava  trabalhando com lentidão e desbotada me dizia: “Logo, depressa, que o tempo que ganhará se  apressando virá a passá-lo junto Comigo na oração.”

(57) Às vezes, Ele mesmo me dizia quanto trabalho eu deveria fazer. Pedia que ele viesse me  ajudar. “Sim, sim”, me respondia, “faremos isso juntos para que, depois que você terminar,  ficaremos mais livres”. E acontecia que em uma hora ou duas eu fazia o que tinha que fazer o dia  todo, então ia orar e me dava tantas luzes e me dizia tantas coisas que levaria muito tempo para  dizê-las. Lembro-me de que, enquanto trabalhava sozinha, via que não alcançava o fio para

concluir o trabalho e que teria que ir com a família para busca-lo, então me dirigia a Ele e dizia: “De  que serve, meu amado, ter me ajudado, porque agora vejo que preciso ir à família, e posso  encontrar pessoas e elas me impedirão de voltar novamente, e então nossa conversa terminará. ”  “O que, o que”, ele me dizia, “e você tem fé?” Sim. ” Pois não tema, eu farei você terminar tudo.” E  assim sucedia, e logo eu me punha a rezar.

(58) Se fosse a hora do almoço e eu comesse algo agradável, me repreendia internamente  dizendo: “Talvez você tenha esquecido que eu não tinha outro gosto além de sofrer por seu amor,  e que você não deveria ter outro gosto além de se mortificar por meu amor? Deixe e coma o que  não gosta ”. E eu imediatamente pegava e levava para a pessoa que ajudava no serviço, ou então  dizia que não queria mais, e muitas vezes passava quase em jejum, mas quando ia a oração,  recebia tanta força e sentia tanta saciedade que me sentia enjoada de tudo o mais.

(59) Outras vezes, para me contradizer, se eu não sentisse vontade de comer, ele me dizia:

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“Quero que você coma pelo meu amor, e enquanto a comida se une ao corpo, peça-me para unir  meu amor à sua alma e todas as coisas serão santificadas”.

(60) Em uma palavra, sem ir mais longe, mesmo nas menores coisas tratava de fazer morrer  minha vontade, para me fazer viver apenas para Ele. Permitia que até o confessor me  contradissesse como por exemplo: Eu tinha um grande desejo de receber a comunhão e durante  todo o dia e noite não fiz nada além de me preparar, meus olhos não podiam fechar-se para dormir  devido aos batimentos cardíacos contínuos e eu disse a ele: “Senhor, apresse-se porque não  posso ficar sem Ti, acelere as horas, faça surgir logo o sol porque não aguento mais, meu coração  desmaia ”. Ele próprio me fazia certos convites amorosos com os quais me sentia despedaçar o

coração e me dizia; “Olha, eu estou só, não sinta pena de você não poder dormir, trata-se de fazer  companhia a seu Deus, seu Esposo, seu Tudo, que é continuamente ofendido, ah! não me negues  esse consolo, que mais tarde nas tuas aflições Eu não te deixarei ”. Enquanto eu estava com essas  disposições, de manhã ia com o confessor e sem saber por quê, a primeira coisa que ele me dizia  era: “Não quero que você receba a Comunhão”. Digo a verdade, era tão amargo para mim que às  vezes não fazia nada além de chorar, não me atrevia a dizer nada ao confessor, porque era isso  que Jesus queria que eu fizesse, caso contrário, ele me repreendia; mas ia ter com Ele e dizia minha tristeza: “Oh meu Bem, por isso a vigília que fizemos esta noite, que depois de tanto esperar  e desejar, devia ficar privada de Ti? Sei bem que devo obedecer, mas diga-me posso estar sem  Ti? Quem me dará a força? Ademais , qual o valor de ir a esta igreja sem levar-te comigo? Eu não  sei que fazer, mas Tu podes remediar a tudo. Enquanto assim desabafava, sentia vir um fogo junto  a mim, entrar uma chama no coração e o sentia dentro de mim, e em seguida me dizia: “Acalma-te,  acalma-te, eis me aqui, estou já em seu coração. O que temes agora? No se aflija mais, Eu mesmo  te quero enxugar as lágrimas, tens razão, tú não podia estar sem Mim, não é verdade?

(61) Então eu ficava tão aniquilada em mim mesma por isso, e eu lhe dizia se não tinha sido boa,  Ele não teria colocado dessa maneira, e lhe pedia que ele não me deixasse mais, que sem Ele eu  não queria ficar.

(62) Depois dessas coisas, um dia, após a Comunhão, sentia-o todo amor em mim, e que Ele me  amava tanto, que ficava maravilhada, porque me via tão má, e sem corresponder, e dizia dentro de  mim: “Pelo menos fora boa e lhe correspondera, tenho medo de que me deixe (esse medo de me  deixar sempre tive e ainda tenho, e às vezes é muita a dor que sinto, que acho que a pena de  morte seria menor, e se Ele próprio não vier a me acalmar, não sei como me dar paz) entretanto  Ele quer estreitar-se mais intimamente a mim ”. E enquanto assim que o sentia dentro de mim, com  uma voz interna me disse:

Meditação da Paixão de Nosso Senhor. 

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(63) “Minha amada as coisas passadas foram apenas uma preparação, agora eu quero vir a atos,  e para dispor seu coração para fazer o que eu quero de você, isto é, imitação da minha Vida, quero  que você entre no imenso mar da minha paixão, e quando tiver compreendido bem a amargura das  minhas penas, o amor com que as sofri, quem sou eu que tanto sofri, e quem és tu, s criatura vil,  ah, seu coração não se atreverá a se opor aos golpes, a cruz, que eu só preparei para o seu bem.  Em vez de apenas pensar que eu, seu mestre, ao que sofri, suas tristezas parecerão sombras  comparadas às minhas, sofrimento será doce e você não poderá ficar sem sofrer ”.

(64) Minha natureza tremia só de pensar no sofrimento, pedi a Ele para me dar força, porque sem  Ele eu teria usado seus próprios presentes para ofender o doador. Então comecei a meditar na  Paixão, e isso fez tanto bem à minha alma, que acho que tudo o bem chegou a mim dessa fonte.  Via a paixão de Jesus Cristo como um imenso mar de luz, que com seus inúmeros raios eles me  machucavam muito, isto é, raios de paciência, de humildade, de obediência e de tantas outras  virtudes; Eu me vi toda cercado por essa luz e fui aniquilada me vendo tão diferente de Ele.  Aqueles raios que me inundaram eram para mim muitas outras censuras que me disseram:

(65) “Um Deus paciente, e você? Um Deus humilde e submetido até aos seus próprios inimigos, e  você? Um Deus que sofre tanto por seu amor e seus sofrimentos por seu amor, onde estão eles? (66) Às vezes, ele mesmo me narrava as penas sofridas por Ele, e ficava tão comovida que chorava amargamente. Um dia, enquanto trabalhava, eu estava considerando as penas muito  amargas que meu bom Jesus sofreu, meu coração se sentiu tão oprimido pela dor, que me faltava  a

respiração; Temendo que algo acontecesse comigo, eu queria me distrair inclinando-me para a  varanda a rua, mas o que eu vejo? Eu vejo a rua cheia de gente, e no meio meu amante Jesus  com a cruz nas costas; um o empurrava de um lado e outro alguem pro outro, todo agitado, com o  rosto pingando sangue, que levantou os olhos em minha direção, numa atitude de me pedir ajuda.  Quem pode conta a dor que senti, a impressão que uma cena tão lamentável causou em minha  alma?

Entrei rapidamente no meu quarto, eu mesma não sabia onde estava, meu coração, o sentia rasgar  em pedaços por causa da dor, e chorando lhe dizia:: “Meu Jesus, se ao menos eu pudesse ajudar,  te pudese libertar daqueles lobos furiosos! Ai! eu gostaria ao menos de sofrer essas penas em seu  lugar, para aliviar minha dor. Ah, meu bem, me dê o sofrimento, porque não é justo que Tu sofras

tanto, e eu, pecadora, fique sem sofrer ”.

Desejo de sofrer 

(67) Desde então, recordo que se encendiou em mim tanto desejo de sofrer que não se apagou até

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agora. Também me lembro que, depois da Comunhão, lhe pedia ardentemente para me conceder  sofrimento, e Ele, às vezes, para me contentar, me parecia que tomava os espinhos da sua coroa  e cravava-os no meu coração; outras vezes, sentia que tomava meu coração entre suas mãos, e o  estreitava tão forte que pela dor que eu sentia perdia os sentidos. Quando avisava que as pessoas  podiam perceber algo, e Ele estava disposto a me dar essas penas, eu logo lhe dizia: “Senhor, o  que Tu está fazendo? Peço que me dê o sofrimento, mas que ninguém perceba.

Por algum tempo, ele me contentou, mas meus pecados me tornaram indigna de sofrer  secretamente, sem que ninguem soubesse.

(68) Lembro-me muitas vezes após a Comunhão, ele me dizia: “Você não poderá realmente se  assemelhar a Mim, senão através de sofrimentos. Até agora eu estive ao seu lado, agora quero  deixá-la sozinha um pouco, sem me fazer sentir. Olha, até agora eu te levei de mãos dadas,  ensinando e corrigindo você em tudo, e você não fez nada além de me seguir. Agora eu quero que  você faça isso por si mesma, mas mais atenta do que antes, pensando que eu estou te olhando

fixamente, mas sem me fazer sentir, e que quando eu me fizer sentir novamente, virei, ou recompensá-la se você tiver sido fiel a mim ou puni-la se tiver sido ingrata ”. (69) Fiquei tão chocada e abatida com esta notícia que lhe dizia: Senhor, meu tudo e minha vida,  como poderei sobreviver sem Ti, quem me dará força? Como, depois que me fizesse deixar tudo,  de modo que eu sinto que não existe ninguém para mim, queres me deixar só e abandonada?  Talvez tenha esquecido do quão ruim eu sou, e que sem Ti eu não posso fazer nada? ” E por essa  recriminação, assumindo um aspecto mais sério, acrescentou:

(70) “É que eu quero fazer você compreender bem quem você é. Olha, eu estou fazendo isso  para o seu próprio bem. Não se entristeça, quero preparar seu coração para receber as graças que  lhe designei. Até agora eu te ajudei sensivelmente, agora será menos sensível, te farei você tocar  com a mão seu nada, te cimentarei bem na profunda humildade para poder construir sobre ti os  muros mais altos, assim que em vez de afligir-se, deverias alegrar-se e me agradecer, porque  quanto antes se faça passar pelo mar tempestuoso, quanto mais cedo você chegara a um porto  seguro, quanto mais duras as provas que te sujeitarei, tantas graças maiores que eu te darei.  Então, animo, animo, e depois, logo virei”.

(71) E quando ele me disse isso, ele pareceu me abençoar e foi embora. Quem pode dizer a dor que eu sentia, o vazio que deixava em meu interior, as lágrimas amargas que eu derramei? Porém  eu me resignei à sua Santa Vontade, parecia que de longe lhe beijava a mão que me havia  abençoado dizia-lhe: “Adeus, ó Esposo Santo, adeus”. Vi que tudo para mim tinha acabado, desde  que eu só o tinha, e sem ele, não tinha outro consolo, mas tudo tornou-se tristezas muito amargas.  Antes, as mesmas criaturas intensificavam minha dor, de modo que todas as coisas que via me  pareciam dizer: “Olha, somos obras do seu amado, onde Ele está? Se eu olhasse para a água,

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fogo, flores e até as próprias pedras, imediatamente o pensamento me dizia: “Ah, estas são as  obras do seu Esposo. Elas têm o prazer de vê-lo e você não o vê. ” Ah! obras do meu Senhor, me  dê notícias, me digam, onde ele está? Me disse que logo voltaria, mas quem sabe quando?”

(72) Às vezes alcançava uma desolação tão amarga que sentia falta de ar, me sentia gelar toda,  sentia um calafrio em toda a minha pessoa. Às vezes a família percebia isso e eles atribuíam a  alguma doença física e queriam me colocar em tratamento, chamar médicos; as vezes eles  insistiram tanto que conseguiam, mas eu, no entanto, fizia o máximo que podia para ficar sozinha,  então eles raramente notavam. Recordava tambem de todas as graças, as palavras, as correções,  repreensões, via claramente que tudo Ele fizera até ai, tudo, tudo tinha sido obra de sua graça, e  que de mim não ficava mais que o puro nada e a inclinação ao mal; tocava com a mão que sem Ele eu não sentia mais o amor tão sensível, aquelas luzes tão claras na meditação, de modo que  permanecia por duas ou três horas, fazia o máximo que podia por fazer o que fazia quando o  sentia, porque ouvia aquelas palavras se repetirem: “Se você é fiel a mim, irei premiar-te, se  ingrata, castigar-te ”.

(73) Assim passava as vezes dois dias, às vezes quatro, mais ou menos como a Ele agradava,  meu único consolo era recebê-lo no Sacramento … Ah, sim, certamente, lá o encontrava, não podia duvidar, e lembro-me de que Ele raramente não se fazia ouvir, porque eu tanto lhe pedia e

importunava, que me contentava, mas não amoroso e amavel, senão severo. (74) Passados esses dias no estado descrito acima, especialmente se eu tinha sido fiel a Ele,  sentia-o voltar para dentro de mim, falava comigo mais claramente, e como em nos dias passados eu não tinha conseguido conceber nem uma palavra dentro de mim, nem ouvir qualquer coisa,  então entendia que não era minha fantasia, como muitas vezes eu costumava pensar antes, Até  esse momento, não dizia nada ao confessor ou a nenhuma outra alma vivente, entretanto fazia  quanto podia para corresponder-lhe, porque senão ele me fazia tanta guerra que não teria paz. Ah,  Senhor, tens sido tão bom comigo, e eu sou tão ruim ainda!

Modo de triunfar nas provas 

(75) Continuando com o que havia começado, o sentia dentro de mim, o abraçava, o estreitava e  lhe dizia: “Amado Bem, veja como nossa separação tem sido amarga”.

E Ele me dizia:

(76) “É nada o que você passou, prepare-se para provas mais duras; por isso que eu vim, para  dispor seu coração e fortalece-lo. Agora você vai me contar tudo o que passou, suas dúvidas e  medos, todas as suas dificuldades para poder ensinar-lhe como se comportar na minha ausência ”.

(77) Então eu narrei minhas tristezas dizendo: “Senhor, olha, sem ti eu não tenho conseguido fazer  nada de bom, fiz a meditação toda distraída, feia, tanto que não tinha espírito para oferecer a você.

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Na comunhão, não pude passar horas inteiras como quando te sentia, me via sozinha, não tinha  ninguém para me entender, me sentia vazia de tudo, a dor da sua ausência me fazia provar agonias mortais, minha natureza queria ser despachada em breve para fugir daquela dor, muito  mais do que me pareceu que eu não estava fazendo nada além de perder tempo, e o medo que ao  voltar Tu me castigarias por não ter sido fiel, então eu não sabia o que fazer. Além disso, a dor que  Tu está sendo continuamente ofendido e que eu sem saber quando, como antes, me ensinava,  fazer esses atos de reparação, essas visitas ao Santíssimo Sacramento pelas ofensas que Tu

recebes. Então me diga, como devo fazer? ” E Ele, me instruindo benignamente, ele me dizia: (78) 1º.- “Você tem feito mal por estar tão perturbada, não sabe que eu sou o Espírito de paz? E a  primeira coisa que te recomendo é não perturbar a paz do coração; quando em oração não pode  se recolher-te, não quero que você pense sobre isso ou aquilo, como é ou como não é, fazendo em  ti mesma chamas de distração. Pelo contrário, quando você está nesse estado, a primeira coisa é  que se humilhes, confessando-se merecedora dessas penas, pondo-se como humilde cordeiro nas  mãos do carrasco, que enquanto o mata lhe lambe as mãos; então você, enquanto se ve espancada, abatida, sozinha, você se resignará às minhas santas disposições, me agradecerá de  todo coração, beijarás a mão que te bate, reconhecendo-se indigna dessas dores, então você me  oferecerá aquelas amarguras, angústias e tédio, pedindo que eu aceite isso como sacrifício de  louvor, de satisfação por sua culpa, de reparação pelas ofensas que Me fazem. Ao fazer isso, sua  oração se elevará diante do meu trono como incenso perfumado, ferirá meu coração e atrairá  novas graças e novos carismas para você; o demônio vendo-te humilde e resignada, toda abismada em seu nada, não terá forças para se aproximar. Eis que onde você pensou que estava  perdendo, farás grandes aquisições.

(79) 2º.- Em relação à Comunhão, não quero que você lamente do que não sabe ser, deves saber  que é uma sombra das dores que sofri no Getsêmani, como será quando eu te fizer participante  dos flagelos, dos espinhos e dos cravos? O pensamento dos sofrimentos maiores te fará sofrer  com mais animo as penalidades menores, portanto, quando na Comunhão você se encontrar sozinha, agonizante, pense que eu te quero um pouco em minha companhia na agonia de horto.  Portanto, fique junto a Mim, e faça uma comparação entre suas dores e as minhas. Olha voce

sozinha, privada de Mim, e Eu tambem só, abandonado pelos meus amigos mais fiéis que estão  sonolentos, deixado sozinho até pelo meu Divino Pai, e também no meio de uma dor  amarguissima, cercado por cobras, víboras e cães raivosos, que eram os pecados dos homens, e  onde estavam tambem os seus, que fizeram a parte deles, o que me parecia que eles queriam me  devorar vivo, meu coração sentiu tanta opressão como se estivesse sob uma prensa, tanto que  suei sangue vivo. Diga-me, quando você chegou a sofrer tanto? Então quando se encontre privada de Mim, aflita, vazia de todo consolo, cheio de tristeza, de labuta, de tristezas, vem junto a Mim,

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limpa-me esse sangue, oferece-me essas tristezas como alívio para minha agonia amargissima. Ao  fazer isso, você encontrará uma maneira de se distrair Comigo depois da Comunhão; não que você  não sofra, porque a dor mais amarga que posso dar às minhas queridas almas é privando-as de  Mim, mas você, pensando que com o seu sofrimento você me dá conforto, ficará satisfeita.

(80) 3º.- Em relação às visitas e atos de reparação, você deve saber que tudo o que fiz no decorrer  de trinta e três anos, desde o nascimento até a morte, o continuo no sacramento do altar, por isso  quero que me visite trinta e três vezes por dia, honrando todos meus anos e unindo-se Comigo ao  Sacramento, com minhas mesmas intenções, isto é, de reparação,de adoração. Isso você fará em  todos os momentos do dia: o primeiro pensamento de manhã imediatamente, volta diante do  tabernáculo onde estou por seu amor e visite-me, o último pensamento da tarde, enquanto você  dorme à noite, antes e depois de comer, ao começo de toda ação sua, andando, trabalhando ”.

(81) Enquanto assim me dizia, me sentia toda confusa, e sem saber se poderia alcançar faze-lo Eu disse a ele: “Senhor, peço que fique comigo até que eu tenha o hábito de fazê-lo, porque sei  que contigo posso fazer tudo, mas sem ti o que posso fazer eu, miserável? E ele benignamente  adicionava:

(82) “Sim, sim, eu vou te contentar, quando te faltei? Quero sua boa vontade e qualquer darei a  você qualquer ajuda que desejar. ”

(83) E assim fazia. Depois de algum tempo, às vezes com Ele, às vezes privado dele, um dia após  a comunhão me senti mais intimamente unida a Ele, me fez várias perguntas, como: Se eu queria,  se estava disposta a fazer o que Ele queria, até o sacrifício da vida por seu amor; e ele me dizia: (84) “E você me diz o que quer, estas pronta para fazer o que Eu quero, também Eu farei o que que você quer “.

Ele quer purificá-la de todo minimo defeito. Como a purifica de tudo 

(85) Me sentia confusa, não entendia sua maneira de agir, mas com o tempo eu entendi que ele  usa essa maneira de agir quando quer dispor a alma para novas e mais pesadas cruzes, e sabe  como atrair tanto à Ele com esses estratagemas, que a alma não ousa opor-se ao que Ele quer.  Então eu dizia: “Sim, te amo, mas me diga Tu mesmo, posso encontrar um objeto mais belo, mais  santo e mais amável que Tu? Também por que me pergunta se estou disposta a fazer o que  queres, se há tanto tempo te entreguei a minha vontade e te pedi que não evitasses nem mesmo  me despedaçar de tal maneira que te pudesse agradá-lo? Eu me abandono em Ti. Ó Esposo  Santo, obra livremente, faze de mim o que quiseres, dá-me a tua Graça, pois por mim nada sou e  nada posso”. E Ele me dizia:

(86) “Você está verdadeiramente disposta a tudo o que eu quero?”

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(87) Então me senti mais confusa e atordoado e dizia: “Sim, estou disposta”. Mas quase tremendo,  e Ele compassivamente continuou me dizendo: “Não temas, eu serei sua força, você não sofrerá,  mas serei Eu quem sofrerá e lutará em você. Olha, eu quero purificar sua alma de tudo, do mínimo defeito que poderia impedir meu amor em você, quero provar sua fidelidade, mas como posso ver se isso é verdade, senão colocando-te no meio da batalha? Você deve saber o que eu quero  colocá-la no meio de demônios, lhes darei liberdade para atormentar-te e tentar-te para que  quando você tiver combatido os vícios com as virtudes opostas, já se encontrará de posse de  essas mesmas virtudes que você pensou que perderia e, mais tarde, sua alma purificada e  embelezada, enriquecida, será como um rei que volta vitorioso de uma guerra feroz, que enquanto  acreditava perder o que tinha, se torna mais glorioso e cheio de imensas riquezas. Então eu virei,  formarei minha morada em você, e sempre estaremos juntos. É verdade que será seu estado doloroso, os demônios não lhe darão paz, nem de dia ou noite, eles sempre estarão em ato de  fazer te guerra feroz, mas sempre tenha em mente o que eu quero fazer de você, isso é, tornar-se  semelhante a Mim, e você não será capaz de alcançá-lo, exceto através de muitos e grandes tribulações, e assim terás mais animo para suportar as penas.

(88) Quem pode dizer como fiquei assustada com esse anúncio? Senti meu sangue gelar  arrepiando meu cabelo e minha imaginação estava cheia de espectros negros que me parecia que  eles queriam me devorar viva. Pareceu-me que o Senhor, antes de me colocar nesse estado  doloroso, deu liberdade para tudo que eu tinha que sofrer, e eu estava cercado por tudo isso, então  fui até Ele e disse: “Senhor, tem piedade de mim! Ah, não me deixe sozinha e abandonada, eu vejo  que é tanta a raiva dos demônios, que não deixarão de mim, nem o pó, como posso resistir a  eles? Para Ti minha miséria é bem conhecida e quão ruim eu sou, então me dê uma nova graça  para não ofendê-lo. Senhor meu, a dor que mais dilacera minha alma, é ver que Tu também deve  me deixar. Ah, a quem poderei dizer uma palavra, quem deve me ensinar? Mas que sua Vontade  sempre seja feita, e bendito teu Santo Querer ”. E ele gentilmente continuou a me dizer:

(89) “Não te afliges tanto, você deve saber que eu nunca vou permitir que você seja tentada além  de suas forças, se isso eu permito é para seu bem, eu nunca coloco almas em batalha para fazê las perer, primeiro meço sua força, dou-lhes minha graça e depois as introduzo, e se alguma alma  se precipita, é porque não fica unida a Mim com a oração, não sentindo mais a sensibilidade do  Meu Amor vão implorando amor das criaturas, enquanto somente eu posso satisfazer o coração  humano, eles não se deixam guiar pelo caminho seguro da obediência, acreditando mais no  julgamento próprio que em quem as guias em meu lugar, então que maravilha se se precipitam.

Então o que Eu te recomendo é a oração, embora você deva sofrer penas de morte, jamais deves negligenciar o que costuma fazer, e mais, quanto mais você se veja no precipício, tanto mais  invocará a ajuda de quem pode libertar te. Além disso, quero que você se coloque cegamente em

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mãos do confessor, sem examinar o que lhe é dito, você estará cercada pela escuridão e você será  como alguém que não tem olhos e que precisa de uma mão para guiá-la, o olho para ti será a voz  do confessor que como a luz iluminará as trevas, a mão será a obediência que será guia e suporte  para levá-la a um porto seguro. A última coisa que te recomendo é o valor, quero que você  corajosamente entre na batalha, a coisa que mais faz temer um exército inimigo é ver a coragem, a  força, a maneira como desafiam as batalhas mais perigosas, sem temer nada. Assim são os  demônios, eles não temem nada além de uma alma corajosa, toda apoiada em Mim, que com um  espírito forte, vai no meio deles não ser ferida, mas com a resolução de machucá-los e exterminá los; os demônios ficam assustados, apavorados e gostariam de fugir, mas não podem, porque,  vinculados à minha Vontade, são obrigados a permanecer para seu maior tormento. Assim que não  tema a eles, que nada podem fazer-te sem meu Querer. E também, quando eu vir que você não  você pode resistir mais e está prestes desfalecer, se for fiel a mim imediatamente, virei e colocarei todos em fuga e te darei graça e fortaleza. Anime-se, anime-se!

Peleja com o demônio 

(90) Agora, quem pode dizer a mudança que aconteceu dentro de mim? Tudo foi horror para mim,  aquele amor que eu sentia antes em mim, agora o via se transformar em um ódio atroz, que pena  não poder amá-lo mais. Me rasgava a alma ao pensar naquele Senhor que tinha sido tão bom  comigo, e agora ver me forçada a odiá-lo, a blasfemar como se ele fosse o mais cruel inimigo, não  podendo vê-lo nem em suas imagens, porque ao olhá-los, ter rosários entre minhas mãos, ao beija los, me vinha tal ímpeto de ódio, e tanta força em contra, que fazê-lo ou cortá-los em pedaços era  a mesma coisa, e às vezes eu fazia tanta resistência, que minha natureza tremia da cabeça aos  pés. Oh Deus, que pena amarga! Eu acredito que se no inferno, não se houvesse outras penas, a  mera pena de não poder amar a Deus tornaria o inferno mais horrível. Muitas vezes o diabo  colocou diante de mim as graças que o Senhor me havia dado, agora como obra de minha fantasia  e, por esse motivo, ser capaz de levar uma vida mais livre e confortável; e agora como verdadeiras,  e eles me diziam: “Este e o bem que te queira? Esta é a recompensa, te deixou em nossas mãos,  você é nossa, você é nossa, pois tudo acabou, não há mais que esperar”. E por dentro me sentia colocando tanto ímpeto de aversão contra o Senhor e de desespero, que às vezes com alguma  imagem nas mãos, era tão forte o desprezo que as quebrava, mas enquanto isso fazia, chorava e  as beijava, mas não sei como dizer como forçada a fazer. Quem pode dizer a dor da minha alma?  Os demônios faziam festa e riam, uns fizeram barulho de um lugar, outros o faziam de outro,  alguns fizeram barulhos, outros me ensurdeciam com gritos dizendo: “Olha como você é nossa,  não temos outra coisa mais que levá-la ao inferno, alma e corpo, verá que faremos isso ”. As

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vezes me sentia puxar, ora os vestidos, ora a cadeira onde estava ajoelhada e tanto as moviam e  faziam barulho que eu não podia orar, às vezes o medo era tão grande que, acreditando estar livre,  eu me deitava no cama (porque esses escândalos aconteceram a maior parte a noite), mas estavam lá também puxando o travesseiro, os cobertores. Mas quem pode dizer o terror, o medo  que eu sentia? Eu mesmo não sabia onde estava, si na terra ou no inferno; havia tanto medo de  que eles realmente tinham me levado, que meus olhos não podiam ser fechados para dormir;  estava como alguém que tem um inimigo cruel que jurou que vai tirar- lhe a vida a qualquer custo,

e acreditava que Isso aconteceria comigo assim que eu fechasse os olhos; então parecia que  alguém estava colocando algo em mim dentro dos olhos, então era forçada a tê-los abertos para  ver quando me levariam, talvez eu pudesse me opor ao que eles queriam fazer, então sentia meu  cabelo arrepiar sobre minha cabeça, um por um, um suor frio por todo o meu corpo que me

penetrava até o ossos e sentia separar meus nervos e ossos e eles se agitavam juntos de medo.  Outras vezes me sentia incitar a tais tentações de desespero e suicídio, que alguma vez tendo me  encontrado perto de um poço, ou uma faca, senti-me puxando para me conduzir dentro ou pegar a  faca e me matar, e era tanta a força que eu tinha que fazer para fugir, que sentia penas de morte e,  enquanto fugia, sentia que eles estavam comigo e ouvia sugerir-me que era inútil para mim viver  depois de ter cometido tantos pecados, que Deus tinha me abandonado por não ter sido fiel; além  do mais, via que havia feito tantas infâmias, que não havia qualquer alma no mundo que tinha cometido, que para mim não havia como esperar piedade. Nas profundezas da minha alma, ouvi

os repetir: “Como você pode viver sendo inimiga de Deus? Voce saber quem é este Deus a quem  você tanto insultou, blasfemou, odiou? Ah, é esse Deus imenso que estava ao seu redor e você  diante de seus olhos se atreveu a ofendê-lo. Ah perdido o Deus da sua alma, quem lhe dará paz?  Quem te livrará de tantos inimigos?” Era tamanha a pena que não fazia nada além de chorar; às  vezes eu começava a orar e os demônios para aumentar meu tormento, os sentia vindo encima de  mim, e um me espancava, outro me picava e mais outro me apertava garganta. Lembro-me que uma vez, enquanto orava, me senti puxar meus pés de abaixo, a terra se abrir e as chamas saírem,  e que eu caia dentro; tal foi o horror e a dor que eu fiquei meio morta, tanto que, para me recuperar  daquele estado, Jesus teve que vir e eu Ele reanimou, me fez entender que não era verdade que  eu tinha vontade de ofendê-lo, e que eu podia saber por mim mesma pela pena amarguíssima que  sentia, que o diabo era um mentiroso e que ele não deveria fazer-lhe caso, que por enquanto eu deveria ter paciência e sofrer esses sofrimentos, e que depois a paz viria. Isso acontecia de tempos  em tempos, quando chegava a extremos, e às vezes para me colocar em tormentos mais difíceis.  No momento desse consolo, a alma se convencia, porque nessa luz é impossível que a alma não  aprenda a verdade, mas depois quando eu estava na luta eu estava no mesmo estado de antes.

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(91) Me tentava tambem a não receber a Comunhão, convencendo-me de que depois de eu ter cometido tantos pecados, era atrevimento me aproximar, e que se eu me atrevesse, não Jesus  Cristo teria vindo, se não o demônio, e tantos tormentos ele me daria, que me daria a morte, mas a  obediência a vencia (a tentação), é verdade que às vezes sofria penas mortais, assim que eu podia  trabalhosamente recuperar me após a Comunhão, mas como o confessor queria absolutamente  que eu a recebesse, não poderia fazer de outro modo. Eu lembro que várias vezes não a recebi.

(92) Também me lembro que às vezes, enquanto orava à noite, eles apagavam minha lâmpada;  às vezes faziam tais rugidos de dar medo; outras vezes vozes débeis, como se fossem  moribundos, mas quem poderia dizer tudo o que eles faziam?

(93) Agora, essa dura batalha, embora não me lembre muito bem, durou três anos, embora dias  ou semanas separados, não que parassem por completo, mas começassem a diminuir.  (94) Lembro-me de que, depois de uma Comunhão, o Senhor me ensinou como eu deveria fazer para os pôr em fuga, que era desprezá-los e não lhes prestar nenhuma atenção, e que eu deveria  fingir que eram tantas formigas. Senti-me infundir tanta força que não sentia mais o medo de antes,  e fazia assim: Quando faziam um barulho, rumores, eu dizia lhes: “se ve que não têm nada que  fazer, e que para passar o tempo estão fazendo tantas tonteiras; façam, façam, que depois quando  se cansarem, terminarão”. Às vezes paravam, outras vezes ficavam tão zangados que faziam  ruídos mais altos. Eu os sentia ao meu lado, fazendo-se mais fortes e faziam violência para me  levar, cheirava a horrível peste, sentia o calor do fogo. É verdade que no meu íntimo sentia um  estremecimento, mas me forçava e lhes dizia: “Mentirosos que sois, se isto fosse verdade desde o  primeiro dia o havíeis feito, mas como é falso e que não tendes nenhum poder sobre mim, senão  só aquele que vos vem dado do alto, por isso digam, digam, e depois quando vos cansardes,  estourareis forçava e lhes dizia: Se emitiam lamentos e gritos, dizia-lhes: “O que, não saíram bem  as coisas hoje?” Ou seja, “lamentais-vos porque vos foi tirada alguma alma? Pobrezinhos, não se sentem bem, porém quero também eu fazê-los lamentar outro pouco”. E  começava a rezar pelos pecadores, ou a fazer reparações. Às vezes ria-me quando começavam a  fazer as habituais coisas e lhes dizia: “Como posso temê-los, raça vil? Se fossem seres sérios não  teriam feito tantas tolices, vocês mesmos, não se envergonham? não façam o que os tornam  ridículos”. Depois, se me punham tentações de blasfemar ou de ódio contra Deus, oferecia aquela  pena amarguíssima, aquela violência que me faziam, porque enquanto via que o Senhor merecia  todo o amor, todos os louvores, eu era forçada a fazer o contrário, em reparação de tantos que  livremente o blasfemam e que nem sequer se lembram que existe um Deus, que estão obrigados a  amá-lo. Se me incitavam ao desespero, em meu interior dizia: “Não presto atenção nem do paraíso  nem do inferno, a única coisa que me apressa é amar a meu Deus, este não é tempo de pensar em  outra coisa, senão que é tempo de amar quanto mais possa a meu bom Deus, o paraíso e o inferno

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os deixo em suas mãos ,e Ele, que é tão bom me dará o que mais me convém, e me dará um lugar  onde possa glorificá-lo mais”.

95) Jesus Cristo me ensinou que o meio mais eficaz para fazer com que a alma fique livre de toda  vã apreensão, de toda dúvida, de todo temor, era declarar diante do Céu, da terra e diante dos  próprios demônios, não querer ofender a Deus, mesmo à custa da própria vida, não querer  consentir a qualquer tentação do demônio, e isto enquanto a alma adverte que vem a tentação, se  puder no momento da batalha, e apenas se começa a sentir livre, e também durante o curso do

dia. Fazendo assim, a alma não perderá tempo em pensar se consentiu ou não, porque só recordar  a promessa lhe restituirá a calma, e se o demônio busca inquietá-la, poderá responder-lhe que se  tivesse tido intenção de ofender a Deus, não teria declarado o contrário, e assim ficará livre de todo  temor.

(96) Agora, quem pode dizer a raiva do demônio, pois agindo assim todas as suas astúcias  resultavam para sua confusão, e onde acreditava ganhar perdia, já que de suas mesmas tentações  e artifícios a alma se servia para poder fazer atos de reparação e amor ao seu Deus?  (97) O outro modo que me ensinou para afastar as tentações foi o seguinte: Se me tentavam a  suicídio eu devia responder: “Não tendes nenhuma permissão de Deus, é mais, para vosso  despeito quero viver para poder amar mais a meu Deus”. Se eu fosse espancada, eu deveria me  humilhar, ajoelhar e agradecer ao meu Deus porque isso acontecia como penitência pelos meus  pecados, e não só isso, mas oferecer tudo como atos de reparação por todas as ofensas feitas a  Deus no mundo.

(98) Finalmente, uma tentação feia que durou pouco, Por cerca de um ano e meio com os  demônios tão feios, eu devia ficar grávida e depois parir um pequeno demônio com chifres. Minha  fantasia crescia tanto, que eu me via diante de uma confusão horrível, pelo que se teria dito de mim  por tão espantoso acontecimento.

(99) Depois de cerca de ano e meio desta luta, finalmente terminaram as crueldades dos  demônios e começou uma vida toda nova, mas os demônios não deixaram de me incomodar de  vez em quando, mas não eram tão freqüentes, não tão feroz a batalha, e eu me acostumei a  desprezá-los.

(100) A vida nova que começou foi na casa de campo chamada “Torre Disperata”. Um dia, em  que mais do que nunca tinha sido atormentada pelo demônio, tanto que senti perder as forças e  desmaiar, pela tarde, enquanto estava assim senti vir-me uma coisa mortal e perdi os sentidos,  neste estado vi a Jesus Cristo rodeado de muitos inimigos, quem lhe golpeava, quem lhe  esbofeteava, quem lhe cravava os espinhos na cabeça, quem lhe partia as pernas, quem os  braços. Depois que o reduziram quase em pedaços o puseram nos braços da Virgem, e isto  acontecia um pouco longe de mim. Depois que a Virgem Santíssima o tomou em seus braços,

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aproximou-se de mim e chorando me disse:

(101) “Filha, olha como é tratado meu Filho pelos homens, as horríveis ofensas que cometem  jamais lhe dão trégua, olhe como sofre”.

(102) Eu tentava vê-lo e via-o todo sangue, todo chagas, e quase despedaçado, reduzido a um  estado mortal, sentia tais penas que tivesse querido morrer mil vezes em vez de ver meu Senhor  sofrer tanto, me envergonhava de meus pequenos sofrimentos. A Santíssima Virgem acrescentou,  mas sempre chorando:

Luisa é escolhida como vítima. Confessores 

(103) “Aproxima-te a beijar as chagas de meu Filho, Ele te escolhe como vítima, e se tantos o  ofendem, tu oferecendo-te a sofrer o que Ele sofre lhe darás um alívio em tanto sofrer, não o  aceitas?”

(104) Eu me sentia tão aniquilada, tão má (como ainda sou) e indigna, que não ousava dizer  “sim”. Minha natureza tremia, me sentia tão fraca pelas penas passadas, que mal me restava um  fio de vida. Além disso, não sei como, de longe via os demônios que tanto alvoroçavam, faziam  muito ruído, e via que tudo o que tinha visto que tinham feito ao Senhor deviam faze-lo a mim se  aceitasse. Em mim mesma sentia tais penas, dores, estiramentos de nervos, que acreditei que  deixaria a vida. Finalmente me aproximei e lhe beijei as chagas, parecia que ao fazê-lo aqueles  membros tão lacerados se curavam, e o Senhor que antes parecia quase morto começava a  reanimar-se a nova vida. Internamente recebia tais luzes sobre as ofensas que se cometem,  atrações para aceitar ser vítima ainda que devesse sofrer mil mortes, porque o Senhor tudo  merecia, e que eu não poderia opor-me ao que Ele queria. Isto acontecia enquanto estávamos em  silêncio, mas aqueles olhares que reciprocamente nos dávamos eram tantos convites, tantas  flechas ardentes que me trespassavam o coração. Especialmente a Santíssima Virgem me incitava  a aceitar, mas quem pode dizer tudo o que passei? Finalmente o Senhor, olhando-me com  benignidade, disse-me:

(105) “Tu viste o quanto me ofendem e quantos caminham pelos caminhos da iniqüidade, e sem o  perceberem precipitam-se no abismo. Vem oferecer-te ante a Divina Justiça como vítima de  reparação pelas ofensas que se fazem e pela conversão dos pecadores, que a olhos fechados  bebem na fonte envenenada do pecado. Um imenso campo se abre diante de ti, de sofrimentos,  sim, mas também de graças; Eu não te deixarei mais, virei em ti a sofrer tudo o que me fazem os  homens, fazendo-te participar das minhas penas. Como ajuda e consolo te dou a minha Mãe”.

(106) E parecia que me entregava a Ela, e Ela me aceitava. Eu também me ofereci toda a Ele e à  Virgem, disposta a fazer o que Ele queria, e assim terminou a primeira vez.

(107) Depois de me recuperar daquele estado, sentia tais penas, tal aniquilamento de mim

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mesma, que me via como um miserável verme que não sabia fazer mais que arrastar-se por terra,  e dizia ao Senhor: “Ajuda, tua Onipotência me aterroriza, vejo que se Tu não me levantas, meu  nada se desfaz e vai dispersar-se. Dá-me o sofrimento, mas te rogo me dê a força, porque me sinto  morrer”. E assim começou um alternar-se de visitas de Nosso Senhor e de tormentos por parte dos  demônios; quanto mais me resignava, tanto mais aumentava sua raiva.

(108) Poucos dias depois do dito anteriormente, senti de novo perder os sentidos (Lembro-me que  no início, sempre que isso me acontecia, eu achava que devia deixar a vida). Quando perdi os  sentidos, Nosso Senhor voltou a fez ver-se com a coroa de espinhos na cabeça, tudo jorrando  sangue, e dirigindo-se a mim disse:

(109) “Filha, olha o que me fazem os homens; nestes tristes tempos é tanta sua soberba que  infestaram todo o ar, e é tanta a peste que por toda parte se espalha, tanto, que chegou até meu  trono no empírico. Fazem de tal modo que eles mesmos se fecham o Céu; os miseráveis, não têm  olhos para ver a verdade porque estão ofuscados pelo pecado da soberba, com o cortejo dos  demais vícios que levam consigo. Ah, dá-me um alívio a tão acerbos dores e uma reparação a  tantas ofensas que me fazem”.

(110) Dizendo isto ele tirou a coroa, que não parecia coroa mais um novelo inteiro, assim, nem  sequer uma pequena parte da cabeça ficava livre, mas toda era atravessada por aqueles espinhos.  Quando ele tirou a coroa, veio ter comigo e perguntou-me se eu a aceitava. Eu me sentia tão  aniquilada, sentia tais penas pelas ofensas que lhe são feitas, que me sentia destroçar o coração e  lhe disse: “Senhor, faz de mim o que queiras”. E assim o fez e a empurrou sobre minha cabeça e  desapareceu.

(111) Quem pode dizer a dor que senti ao voltar a mim mesma? A cada movimento da cabeça  acreditava expirar, tantos eram as dores, as picadas que sentia na cabeça, nos olhos, nas orelhas,  atrás na nuca, aqueles espinhos me sentia penetrar até na boca, e esta se apertava de tal modo  que não podia abri-la para tomar o alimento, e estava às vezes duas e às vezes três dias sem  poder tomar nada. Quando de algum modo se atenuavam, sentia sensivelmente uma mão que me  oprimia a cabeça e renovava as penas, e às vezes eram tantas as dores que perdia os sentidos.  No início isto acontecia alguns dias sim e outros não, de vez em quando se repetia três ou quatro  vezes ao dia, às vezes durava um quarto de hora, outras vezes meia hora e outras uma hora, e  depois ficava livre só, que me sentia muito débil e sofrida, na medida em que naquele estado de  dormência me tinham sido comunicadas as penas, assim ficava mais ou menos dolorida.

(112) Lembro-me também como algumas vezes pelos sofrimentos da cabeça, como disse acima,  não podia abrir a boca para tomar o alimento, e como a família sabia que não tinha vontades de  estar no campo, quando viam que não comia atribuíam-no a um capricho meu, e naturalmente se  zangavam, se inquietavam e me repreendiam. Minha natureza queria ressentir-se disto, porque via

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que não era verdade o que eles diziam, mas o Senhor não queria este ressentimento, e eis como  aconteceu:

(113) Uma noite, enquanto estávamos à mesa e eu neste estado de não poder abrir a boca, a  família começou a inquietar-se, eu o sentia tanto que comecei a chorar, e para não ser vista me  levantei e fui a outro quarto para seguir chorando, e pedia a Jesus Cristo e à Virgem Santíssima  que me dessem ajuda e força para suportar essa prova, Mas enquanto fazia isto senti que  começava a perder os sentidos. Meu Deus, que pena só de pensar que a família me veria, sendo  que até então não o tinha advertido! Enquanto eu estava nisso, eu dizia: “Senhor, não deixe que  me vejam”. E eu tinha tanta vergonha de que me vissem, embora não sei dizer por que, e tratava  por quanto mais podia me esconder em lugares onde não podia ser vista; quando era surpreendida  inesperadamente por esse estado, de modo que não tinha tempo de me esconder ou ao menos de  me ajoelhar, porque na posição em que me encontrava assim ficava, e poderiam dizer que estava  rezando, então me descobriam. Enquanto perdia os sentidos, Nosso Senhor se fez ver no meio de  muitos inimigos que lhe lançavam toda classe de insultos, especialmente o agarravam e pisavam no sob os pés, blasfemavam-no, lhe puxavam os cabelos; Parecia-me que o meu bom Jesus  queria fugir debaixo daqueles pés fétidos e ia à procura de uma mão amiga que o libertasse, mas  não encontrava ninguém. Enquanto via isto, eu não fazia outra coisa senão chorar sobre as penas  de meu Senhor, teria querido ir no meio desses inimigos, talvez poderia libertá-lo, mas não me  atrevia e lhe dizia: “Senhor, faz-me participar em tuas penas. ¡¡ Ah, se pudesse aliviar-te e libertar te!” Enquanto isto dizia, aqueles inimigos, como se como se tivessem entendido, vinham contra  mim, mas tão enfurecidos que começaram a me golpear, a puxar-me os cabelos, a pisotear-me, eu  tinha grande temor, sofria, sim, mas dentro de mim estava contente porque via que dava ao Senhor  um pouco de trégua. Depois aqueles inimigos desapareciam e eu ficava sozinha com o meu Jesus.  Tentei compadecer me mas não me atrevia a dizer-lhe nada, e Ele rompendo o silêncio me disse:

(114) “Tudo o que tu viste é nada em comparação com as ofensas que continuamente me fazem,  é tanta a sua cegueira, o entregar-se às coisas terrenas, que chegam a tornar-se não só cruéis  inimigos meus, mas também deles mesmos, e como seus olhos estão fixos na lama, por isso  chegam a desprezar o eterno. Quem me reparará por tanta ingratidão? Quem terá compaixão de  tanta gente que me custa sangue e que vive quase sepultada na imundície das coisas terrenas?  Ah, vem e reza, chora junto Comigo por tantos cegos que são todos olhos para tudo o que sabe a  terra, e desprezam e espezinham minhas graças debaixo de seus imundos pés, como se estas  fossem lama. Ah, eleva-se sobre tudo o que é terra, aborrece e despreza tudo o que a Mim não  pertence, não te importem as zombarias que recebes da família depois de me teres visto sofrer  tanto, só te importas com a minha honra, as ofensas que continuamente me fazem e a perda de  tantas almas. Ah, não me deixe sozinho no meio de tantas penas que me destroçam o coração,

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tudo o que você sofre agora é pouco em comparação com as penas que sofrerá, não te disse  sempre que o que quero de você é a imitação de minha Vida? Olhe como você é de Mim, por isso  coragem e não tenha medo”.

(115) Depois disso voltei a mim mesma e percebi que estava rodeada pela família, todos  choravam e estavam alarmados e tinham tal temor de que se repetisse esse estado, pensando que  morreria, que decidiram voltar a Corato O mais rápido possível para me fazer observar pelos  médicos. Não sei dizer por que sentia tanta pena ao pensar que devia ser examinada pelos  médicos, muitas vezes chorava e me lamentava com o Senhor dizendo: “Quantas vezes, ó Senhor,  te roguei que me faça sofrer em segredo, isto era meu único contentamento, e agora também disto  estou privada. ¡ Ah! me diga, como farei? Só você pode me ajudar e me consolar em minha aflição,  não vê tantas coisas que dizem? Uns pensam de um modo e outros de outro, quem quer aplicar me um remédio e quem outro, são todos olhos sobre mim, de modo que não tenho mais paz. Ah,  socorre-me em tantas penas, porque me sinto faltar a vida”. E o Senhor benignamente  acrescentou:

(116) “Não queiras afligir-te por isto, o que quero de ti é que te abandones como morta entre  meus braços. Até que você mantenha os olhos abertos para ver o que Eu faço e o que fazem e  dizem as criaturas, Eu não posso livremente agir sobre você. Não queres confiar em mim? Não  sabes o quanto te amo e que tudo o que permito, ou através das criaturas ou através dos  demónios, ou através de mim diretamente, é para o teu verdadeiro bem e não serve para outra  coisa senão para conduzir a tua alma ao estado para o qual a escolhi? Por isso quero que de olhos  fechados esteja em meus braços, sem olhar nem investigar isto ou aquilo, confiando inteiramente  em Mim e deixando-me operar livremente. Se em troca queres fazer o contrário, perderás tempo e  chegarás ao oposto do que quero fazer de ti. Quanto às criaturas, use um profundo silêncio, seja  benigna e dócil com todos, faça que sua vida, seu respiro, seus pensamentos e afetos, sejam  contínuos atos de reparação que aplaquem minha Justiça, oferecendo-me também as moléstias  que te dão as criaturas, que não serão poucas”.

(117) Depois disto fiz quanto mais pude para resignar-me à Vontade de Deus, ainda que muitas  vezes era posta em tais problemas por parte das criaturas, que às vezes não fazia outra coisa  senão chorar. Chegou o momento de receber a visita do médico, e julgou que meu estado não era  outra coisa que um problema nervoso, pelo que receitou medicamentos, distrações, passeios,  banhos frios, recomendou à família que me cuidassem bem quando era surpreendida por aquele

estado de ficar petrificada.

(118) Então começou uma guerra por parte da família, impediam-me de ir à igreja, não me davam  já a liberdade de ficar só, era observada continuamente, pelo que freqüentemente percebiam que  caía nesse estado. Muitas vezes me lamentava com o Senhor dizendo lhe:

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119) “Meu bom Jesus, quanto aumentaram as minhas penas, até das coisas mais amadas estou  privada, como são os Sacramentos. Nunca pensei que chegaria a isso, quem sabe onde irei  terminar. Ah! Dê-me ajuda e força, porque minha natureza desfalece”. Muitas vezes dignava-se  bondosamente dizer-me algumas palavras, por exemplo:

(120) “Eu sou a tua ajuda, de que temes? Não te lembras que também sofri da parte de todo o tipo  de pessoas? Uns pensavam de Mim de um modo, e outros de outro, as coisas mais santas que Eu  fazia eram julgadas por eles como defeituosas, más, até me disseram que era um Endemoninhado,  tanto que me viam com olhos sinistros, tinham-me entre eles mas de má vontade, e maquinavam  entre eles tirar-me a vida o mais depressa possível, porque a minha presença se tinha tornado  intolerável para eles. Então, não queres que te faça semelhante a Mim fazendo-te sofrer por parte  das criaturas?”.

(121) E assim passei alguns anos sofrendo por parte das criaturas, dos demônios e diretamente  de Deus, às vezes chegava a tanta amargura por parte das criaturas, e pelo modo como  pensavam, que tinha vergonha de que qualquer pessoa me visse, tanto, que o meu maior sacrifício  era aparecer no meio das pessoas; tanta era a vergonha e a confusão que me sentia atordoada.  Houve outras visitas de outros médicos, mas não serviram para nada, às vezes derramando  amargas lágrimas dizia-lhe com todo o coração: “Senhor, como se tornaram públicos os meus  sofrimentos, agora não só a família o sabe mas também os estranhos me vejo toda coberta de  confusão, parece-me que todos me apontam com o dedo, como se estes sofrimentos fossem as  mais más ações, eu mesma não sei dizer o que me acontece. Ah! Só Tu podes libertar-me de tal  publicidade e fazer-me sofrer ocultamente. Peço-te, suplico-te, escuta-me favoravelmente”.

(122) Às vezes também o Senhor mostrava não me escutar e aumentavam minhas penas, outras Vezes se compadecia de mim dizendo-me:

(123) “Pobre filha, vem a Mim que te quero consolar, tu tens razão em que sofres, mas é que não  te lembras, que também Eu, oh, quanto mais sofri. Até certo momento minhas penas foram ocultas,  mas quando chegou a Vontade do Pai de sofrer em público, rapidamente saí a encontrar  confusões, opróbrios, desprezos, até ser despojado de minhas vestes, estar nu no meio de um  povo numerosíssimo, Poderia imaginar confusão maior que esta? Minha natureza sentia muito este  tipo de sofrimento, mas tinha os olhos fixos à Vontade do Pai, e oferecia essas penas em  reparação de tantos que cometem as mais nefastas ações publicamente, diante dos olhos de  muitos, vangloriando-se sem a mínima vergonha, e lhe dizia: “Pai, aceita as minhas confusões e a  meus opróbios em reparação de tantos que cometem as mais nefastas ações publicamente,  perante os olhos de muitos, vangloriando-se sem a menor vergonha, e lhe dizia: “Pai, aceita as  minhas confusões e a minha desonra em reparação de tantos que têm a audácia de te ofender tão  livremente sem o mínimo desgosto; perdoa-lhes, dá-lhes luz a fim de que vejam a fealdade do

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pecado e se convertam”. Também a ti quero tornar-te partícipe deste tipo de sofrimentos. Você não  sabe que os mais belos presentes que posso dar às almas que amo são as cruzes e as penas?  Você é uma criança ainda no caminho da cruz, por isso se sente muito fraca, quando tiver crescido  e tiver conhecido como é precioso sofrer, então se sentirá mais forte. Por isso apóie-se em Mim,  repouse porque assim adquirirá força”.

(124) Depois de que passei algum tempo neste estado descrito acima, cerca de seis ou sete  meses, os sofrimentos aumentaram mais, tanto que me vi obrigada a estar na cama,  freqüentemente se multiplicava aquele estado de perder os sentidos, e quase não tinha nem uma  hora livre, me reduzi a um estado de extrema debilidade, a boca se apertava de tal modo que não a  podia abrir e em algum momento livre que tinha apenas algumas gotas de algum líquido podia  tomar, se é que o conseguia, E depois era obrigada a devolvê-lo pelos vómitos que sempre tive.  Depois de que estive dezoito dias neste estado contínuo, mandou-se chamar o confessor para me  confessar. Quando o confessor veio me encontrou nesse estado de letargia. Quando me recuperei  me perguntou o que tinha, somente lhe disse, calando todo o resto, e como continuavam as  moléstias dos demônios e as visitas de Nosso Senhor, então lhe disse: “Padre, é o demônio”. Ele  me disse para não ter medo, porque se for ele, o padre liberta-te. Assim dando-me a obediência e  perseguindo-me com a cruz e ajudando-me a mover os braços, porque sentia todo o corpo  petrificado como se tudo se tivesse tornado numa só peça, conseguiu que os braços retomassem o  movimento, Conseguiu fazer com que a boca se abrisse depois de estar imóvel para tudo. Atribuí  isto à santidade do meu confessor, que na verdade era um santo sacerdote, considerei-o quase um  milagre, tanto que dizia entre mim: “Olha, estavas prestes a morrer”. Porque na verdade me sentia  mal, e se tivesse durado esse estado, eu acho que teria deixado a vida. Se bem me lembro que  estava resignada e quando me vi libertada senti um certo pesar porque não tinha morrido.

(125) Depois que o confessor se foi, e eu fiquei livre voltei ao mesmo estado de antes, e assim  acontecia, às vezes semanas, às vezes quinze dias e até meses em que era surpreendida de vez  em quando por aquele estado durante o dia, mas por mim mesma consegui libertar-me; depois  quando era surpreendida com mais frequência, como disse mais acima, então os familiares  mandavam chamar o confessor, pois tinham visto que a primeira vez tinha ficado libertada por ele,  quando todos acreditavam que não me haveria de recuperar mais daquele estado, E, em vez disso,  até pude ir à igreja, por causa disto chamavam o confessor e então ficava livre. Nunca me passou  pela mente que para tal estado se necessitasse o sacerdote para libertar-me, nem que meu mal  fosse uma coisa extraordinária; é certo que quando perdia os sentidos via Jesus Cristo, mas isto  atribuía-o à bondade de Nosso Senhor e dizia para mim mesma: “Olha como o Senhor é bom para  mim, que neste estado de sofrimentos vem a dar-me a força, de outra maneira como poderia  sustentar-me, quem me daria a força?” Também é verdade que quando devia cair nesse estado, na

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manhã da Comunhão Jesus me dizia isso, e caindo nesse estado de Ele mesmo me vinham os  sofrimentos, mas não dava importância a nada. Só de pensar alguma vez em dizê-lo ao confessor  eu acreditava ser a alma mais soberba que existisse no mundo se me atrevia a falar destas coisas  de ver a Jesus Cristo; e sentia tal vergonha que foi impossível dizer algo a esse confessor apesar  do bom e santo que era. Tanto é verdade, que não acreditava que se necessitasse do sacerdote  para me libertar e que isto acontecia pela santidade do confessor, que quando chegou o tempo, ele  foi ao campo, então uma manhã, depois da Comunhão o Senhor me fez entender que devia ser  surpreendida por esse estado, Convidou-me a fazer-lhe companhia com a participação nas suas  dores, mas eu subitamente lhe disse: “Senhor, como farei? O confessor não está, quem deve me  libertar? Quer acaso me fazer morrer?” E o Senhor me disse somente:

(126) “Sua confiança deve estar somente em Mim, esteja resignada, pois a resignação faz a alma  luminosa, faz estar em seu lugar às paixões, de modo que Eu, atraído por esses raios de luz, vou à  alma e a uniformo toda em Mim, e a faço viver de minha mesma Vida”.

(127) Eu resignei-me à sua Santa Vontade, ofereci aquela Comunhão como a última da minha  vida, dei o último adeus a Jesus no Sacramento, e embora estivesse resignada, mas a minha  natureza sentia-o tanto, que todo aquele dia não fiz outra coisa senão chorar e pedir ao Senhor que  me desse força. Na verdade me pareceu muito amargo todo esse fato, e sem pensar nem sabê-lo  encontrei uma nova e pesada cruz que creio ter sido a mais pesada que tive em minha vida.  Enquanto estava naquele estado de sofrimentos, eu não pensava em outra mais do que morrer e  fazer a vontade de Deus. Os familiares, que também sofriam ao me ver naquele estado, tentaram  chamar algum sacerdote, mas ninguém quis vir, um por um e outro por outro; depois de dez dias  veio o sacerdote que me confessava quando era pequena, e aconteceu que também ele me fez  sair desse estado, e então me dei conta da rede na qual o Senhor me havia envolvido.

(128) Daqui veio-me uma guerra por parte dos sacerdotes, quem dizia que era fingimento, quem  precisava dos tacos, outros que queria passar por santa, quem acrescentava que estava  endemoninhada e muitas outras coisas, que dizê-las todas seria fazer muito longa a história. Com  estas idéias em suas mentes, quando sucediam os sofrimentos e a família mandava chamar  alguém, não queriam vir, dizendo todas aquelas coisas, e a pobre família sofreu muito,  especialmente a minha pobre mãe, quantas lágrimas derramou por mim. Ah! Senhor, protege-a  Tu. Oh meu bom Senhor, quanto sofri desde então, só Você sabe tudo!

(129) Quem pode dizer quão amargo me foi este fato, que para me libertar desse estado de  sofrimentos necessitava-se do sacerdote Quantas vezes pedi derramando lágrimas  amarguíssimas, que me libertasse disto! Muitas vezes fiz positivas resistências ao Senhor quando  Ele queria que me oferecesse como vítima, e aceitasse as penas, e lhe dizia: “Senhor, promete-me  que Tu mesmo me libertarás, e então aceito tudo, de outra maneira não, não quero aceitar”. E

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resistia o primeiro dia, o segundo, o terceiro, mas quem pode resistir a Deus? Insistia tanto comigo  que finalmente me via obrigada a submeter-me à cruz. Outras vezes lhe dizia de coração e com  confiança: “Senhor, como é que fazes isto? Como é que entre você e eu, você quis colocar um  terceiro? E este terceiro não quer se emprestar. Olhe, poderíamos estar muito contentes Você e eu  sozinhos. Quando você me queria para sofrer, eu imediatamente aceitava, porque eu sabia que  Você mesmo deveria me libertar, mas agora não, outra mão é necessária, Eu imploro, liberte-me,  porque assim estaremos ambos mais felizes”.

(130) Às vezes fingia não me escutar e não me dizia nada, outras vezes me dizia: (131) “Não temas, Eu sou quem dá as trevas e a luz, virá o tempo da luz é meu costume que  minhas obras as manifesto por meio dos sacerdotes”.

(132) Assim passei três ou quatro anos destas contradições por parte dos sacerdotes, muitas  vezes me sujeitavam a provas duríssimas, chegavam a me deixar nesse estado de sofrimentos,  isto é petrificada, incapaz de qualquer mínimo movimento, nem sequer de poder tomar uma gota  de água, até 18 dias quando o queriam. Só o Senhor sabe o que eu passava nesse estado, e logo  quando vinham não tinha sequer o bem de ouvir: “Tem paciência, faz a Vontade de Deus”. Mas foi  repreendido como um caprichoso e desobediente. Oh Deus, que pena! , quantas lágrimas  derramei; quantas vezes pensei que era desobediente e dizia para mim “Como essa virtude da  obediência que para o Senhor é a mais agradável está tão longe de mim, o que pode fazer e  esperar de bem uma alma desobediente?” Muitas vezes me lamentava com Nosso Senhor e às vezes chegava até ressentir-me, e quando Ele queria que aceitasse os sofrimentos, eu resistia  quanto mais podia. Mas o Senhor, quando via que começava a resistir, fazia ver que não me dava  atenção e não me dizia mais nada, e logo de repente vinha me surpreender. O que depois dizia o  confessor é porque não queria que caísse naquele estado, mas isto não estava em meu poder, é  verdade que fui desobediente, e que jamais fui boa para nada. Mas recordo também que a pena  mais dolorosa para mim era o não poder obedecer.

(133) Neste período de tempo, recordo que houve uma epidemia de cólera, e que um dia que  pedia ao meu bom Jesus que fizesse cessar esse flagelo, Ele me disse:

(134) “Contentar-te-ei contanto que aceites oferecer-te a sofrer o que Eu quiser”. (135) Eu disse: “Senhor, não, não posso, Você sabe como eles pensam, a menos que tudo  aconteça apenas entre Você e eu, só assim eu estaria disposta a aceitar tudo”. (136) E Ele me disse: “Minha filha, se Eu tivesse pensado no que os homens pensavam e no que  queriam fazer de Mim, não teria feito a Redenção do gênero humano, mas eu tinha meu olhar fixo  em sua salvação, e o grande amor que me devorava me fazia fazer que quando via pessoas que  pensavam mal de Mim e que davam ocasião de me fazer sofrer mais, Eu oferecia essas mesmas  penas que eles me davam por sua própria salvação. Você esqueceu o que eu quero de ti é a

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imitação da minha Vida, e que quero que participes em tudo o que sofri? Não sabes tu que o ato  mais belo, mais heróico, e mais agradável a Mim e que deves oferecer-me, é o de te oferecer por  aqueles mesmos que te são contrários?”.

(137) Eu fiquei muda, não sabia o que lhe responder, aceitei tudo o que o Senhor queria, e assim  até a tarde fui surpreendida por esse estado de sofrimentos no que estive três dias contínuos, e  depois que voltei em mim não ouvi mais que houvesse cólera.

(138) Depois disso me veio outra mortificação, e foi a de ter que mudar confessor, porque sendo  ele religioso foi chamado ao convento. Eu estava contente com ele, e a maior parte das coisas  ditas acima aconteciam quando ele estava no campo, especialmente no último ano que foi meu  confessor, pois pela cólera que havia na cidade permaneceu seis meses no campo; por isso não  participou tanto nessas coisas, Ele me fazia ficar um dia nesse estado de sofrimento e vinha.  Depois de ter voltado do campo, não passou um mês em que soube que devia partir; isto foi  doloroso para mim, não porque estivesse apegada a ele, mas pela necessidade que tinha. Então  disse ao Senhor minha pena, e Ele me disse:

(139) “Não te aflijas por isso, Eu sou o dono dos corações, e posso Movê-los como me parece e  me agrada. Se ele te fez o bem não foi mais que um instrumento que recebia de Mim e te dava a ti,  assim farei com os demais, do que teme então? Amada minha, enquanto você tiver seu olhar,  agora à direita, agora à esquerda, e a deixe que se pose agora em uma coisa, agora em outra, e  não a mantenha fixa em Mim, não poderá caminhar livremente o caminho do Céu, mas irás sempre  tropeçando e não poderás seguir o influxo da graça. Por isso quero que com santa indiferença olhe  todas as coisas que acontecem ao seu redor, estando toda atenta somente a Mim”.

(140) Depois destas palavras meu coração adquiriu tanta força, que pouco ou nada sofri pela  perda desse confessor que tanto bem tinha feito a minha alma. Foi assim que mudei confessor e  voltei ao que me confessava quando era pequena. Seja sempre bendito o Senhor, que se serve  desses mesmos caminhos que a nós parecem contrários e que quase como que deveriam levar um  dano a nossa alma, para nosso maior bem e para sua glória. Assim aconteceu que comecei a abrir lhe a minha alma, porque até esse momento não tinha dito nada a nenhum, por quanto me  dissessem não o conseguia, mas bem mais impotente me via para dizer as coisas de meu interior,  era tanta a vergonha que sentia ao só pensar em dizer estas coisas, que me era mais fácil dizer os  mais feios pecados. De onde veio isto, não sei dizer, por parte do confessor acho que não, porque  ele era muito bom, me inspirava confiança, era doce e paciente para escutar, tomava cuidado  detalhado de minha alma, tinha o olhar em tudo para que se pudesse caminhar direito. Por parte  minha tampouco, porque sentia um obstáculo em minha alma e tinha toda a vontade de vencê-lo e  de saber ao menos como pensava o confessor, mas me sentia impossibilitada de fazê-lo. Eu  acredito que foi uma permissão do Senhor.

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(141) Então, encontrando-me com o novo confessor, comecei, pouco a pouco a abrir meu interior,  o Senhor muitas vezes me ordenava que manifestasse ao confessor o que Ele me dizia, e quando  eu não o fazia, o Senhor me repreendia severamente e às vezes chegava a me dizer que se não o  fizesse, Ele não viria mais; isto é para mim a pena mais amarga, diante da qual todas as outras  penas não me parecem mais do que fios de palha; por isso, tanto era o temor de que não voltasse  mais, que fazia quanto mais podia manifestar meu interior. É verdade que às vezes me custava  muito, mas o medo de perder o meu amado Jesus fazia-me superar tudo. Por parte do confessor  também me via empurrada a lhe dizer de onde provinha tal estado meu, o que me acontecia  quando estava naquele adormecimento e qual era a causa; agora me ordenava manifestar, agora  me obrigava com preceito de obediência, e logo me punha diante o temor de que pudesse viver na  ilusão e no engano, vivendo para mim mesma, enquanto que se o manifestasse ao sacerdote  poderia estar mais segura e tranqüila, e que o Senhor jamais permite que o sacerdote se engane  quando a alma é obediente. Assim, Jesus Cristo me empurrava por um lado e o confessor por  outro; às vezes me parecia que se punham de acordo entre eles. Assim pude chegar a manifestar  meu interior. Isto não o fazia o confessor anterior, não me fazia nenhuma pergunta, não tratava de  saber que coisas me aconteciam naquele estado de dormência, pelo que eu mesma não sabia  como começar a falar destas coisas. O único cuidado que tomava era que estivesse resignada,  uniformizada ao Querer de Deus, que suportasse a cruz que o Senhor me tinha dado, tanto que se  às vezes me via um pouco perturbada, experimentava grande desgosto

(142) Depois aconteceu que passei cerca de outro ano com este confessor, no mesmo estado dito  acima, mas como sabia de onde provinha esse estado de sofrimento, me dizia que quando Jesus  Cristo quisesse que me viessem os sofrimentos, fosse pedir a ele a obediência para sofrer.  Recordo que uma manhã depois da comunhão o Senhor me disse:

(143) “Filha, são tantas as iniqüidades que se comete , que a balança de minha Justiça está por  transbordar. Deve saber que pesados flagelos farei cair sobre os homens, especialmente uma  feroz guerra na qual farei massacre da carne humana”. “Ah sim”, continuou quase chorando, “Eu  dei os corpos aos homens a fim de que fossem tantos santuários onde Devia ir me deleitar, mas os  transformaram em esgotos de imundícies, e é tanta a peste que me obrigam a estar longe deles.  Vê a recompensa que recebo diante de tanto amor e tanta dor que sofri por eles. Quem foi tratado  como Eu? Ah, nenhum, mas quem é a causa? É o tanto amor que tenho. Por isso vou tentar com  os castigos”

. (144) Eu me sentia partir o coração pela dor, me parecia que eram tantas as ofensas que lhe  faziam, que para fugir queria esconder-se em mim, para encontrar refúgio. Sentia também tanta  pena porque os homens deviam ser castigados, que me parecia que não eles, mas me parecia que  se eu tivesse podido, teria sido mais suportável eu sofrer todos aqueles castigos, antes de ver os

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outros sofrer.

(145) Tratei de sensibiliza-lo o máximo que pude e com todo o coração lhe disse: “Ó Esposo  Santo, evita os flagelos que a tua Justiça tem preparados, se a multiplicidade das iniqüidades dos  homens é grande, está o mar imenso do teu sangue onde, podes enterrá-las, e assim a tua Justiça  ficará satisfeita. Se não tens onde ir para deleitar-te, vem em mim, te dou todo meu coração, para  que repouses, e te deleites com ele, é verdade que também eu sou um lugar imundo de vícios,  mas Tu podes purificar-me e fazer-me como Tu me queres. Mas se for necessário o sacrifício da  minha vida imagens libertadas”. E o Senhor interrompendo o meu falar continuou a dizer-me:

(146) “Precisamente isto é o que eu quero, se tu te ofereceres para sofrer, não como até agora, de  vez em quando, mas continuamente, todos os dias e por um curto período de tempo, Eu libertarei  os homens. Vê, pois, que te porei entre a minha justiça e as iniqüidades das criaturas, e quando a  minha justiça estiver cheia de iniqüidades, de modo que não as possa conter e se veja obrigada a

mandar os flagelos para punir as criaturas, encontrando-se você no meio, em vez de golpeá-los a  eles ficará golpeada você. Só assim poderei te contentar em livrar os homens, de outro modo,  não”.

(147) Eu fiquei toda confusa, e não sabia o que dizer, minha natureza fazia sua parte, se  assustava e tremia, mas via meu bom Jesus que esperava uma resposta, se aceitava ou não,  então vendo-me quase obrigada a falar lhe disse: “Ó Diviníssimo Esposo meu, por parte minha  estaria pronta a aceitar, mas como se arrumará por parte do confessor, se não quiser vir de vez em  quando, como será possível que queira vir todos os dias; liberte-me desta cruz de Precisamos do  confessor para me libertar, e então tudo ficará resolvido entre você e eu”. Então o Senhor me  disse:

(148) “Vai com o confessor e pede-lhe obediência, se ele quiser dizer-lhe tudo o que te tenho dito  e farás o que ele disser. Olhe, não será somente para bem das criaturas pelo que quero estes  sofrimentos contínuos, senão também para teu bem, neste estado de sofrimentos purificarei muito  bem tua alma, de modo de te dispor a formar Comigo um místico matrimonio , e depois disto farei a  última transformação, de modo que os dois seremos como duas velas que postas no fogo, uma se  transforma na outra e se forma uma só, assim transformarei a Mim em ti, e tu ficarás crucificada  Comigo. Ah, não ficaria contente se pudesse dizer: “O Esposo crucificado, mas também a esposa  está crucificada? Ah sim, não há nada que me faça diferente dele”.

(149) Então, quando pude falar com o confessor disse-lhe tudo o que o Senhor me tinha dito, e  como aquela palavra que o Senhor me disse: “Por um certo tempo”, sem me dizer o tempo preciso  que devia estar continuamente sofrendo, eu a tomei como por quarenta dias, mais ou menos, mas  já passaram cerca de doze anos que continuo assim, mas sempre seja bendito Deus, sejam  adorados sempre seus inescrutáveis julgamentos, eu creio que se o Senhor bendito me tivesse

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feito entender com clareza o tempo que devia estar na cama, minha natureza teria se espantado  muito, e dificilmente se teria submetido, recordo que estive sempre resignada, mas então não  conhecia a preciosidade da cruz como o Senhor me fez conhecê-la no decorrer destes doze anos,  nem o confessor tivesse concordado em dar-me a obediência. Então assim disse ao confessor, que  por quarenta dias o Senhor queria que me desse a obediência de estar continuamente sofrendo, e  também lhe disse isso e também lhe disse o resto. Com grande surpresa minha, porque eu achava  impossível, o confessor me disse que se fosse verdadeiramente Vontade de Deus, ele me dava a  obediência, que na realidade não era que ele não pudesse vir, mas sim um pouco de respeito  humano. A minha alma alegrou-se muito porque podia contentar ao Senhor, e também livrar as  criaturas, mas a minha natureza se entristeceu muito ao receber esta obediência, tanto que por  alguns dias estive muito afligida, também a alma a sentia pensativa porque devia estar tanto tempo  sem poder receber a Jesus no Sacramento, minha única consolação; às vezes sentia uma guerra  tão feroz em mim, que eu mesma não sabia o que me havia acontecido, muitas coisas  acrescentava-as o demônio, mas o meu bom Jesus curou tudo, e eis como aconteceu.

Diferentes modos de falar de Jesus.

(150) Mas antes de continuar, por ordem do confessor atual devo manifestar os vários modos com  os quais o Senhor me falou: Parece-me que os modos com os quais Deus me fala sejam quatro,  mas estes quatro modos de falar de Jesus são muito diferentes das inspirações.  (151) 1.- O primeiro modo é quando a alma sai fora de si. Mas antes quero explicar o melhor que  possa, sair de mim mesma. Isto acontece de dois modos: O primeiro é instantâneo, quase como  relâmpago, e é tão repentino que me parece que o corpo se eleva um pouco da cama, para seguir  a alma, mas depois fica na cama e a mim parece que o corpo fica morto, e a alma em vez disso  segue a Jesus caminhando por todo o universo, a terra, o ar, os mares, os montes, o purgatório e o  Céu, onde muitas vezes me fez ver o lugar onde eu estarei depois de morta  (152) O outro modo de sair a alma é mais tranqüilo, parece que o corpo se adormece  insensivelmente e fica como petrificado ante a presença de Jesus Cristo, mas a alma permanece  com o corpo, e este não sente nada das coisas externas, ainda que se transtornasse todo o  universo, mesmo que me queimassem e me reduzissem em pedaços.

(153) Estes dois modos tão diferentes de sair fora de mim mesma, eu os notei sensivelmente,  porque no primeiro modo, devendo eu obedecer ao confessor que vinha a me despertar, o vi desde  o lugar onde me conduzia Jesus; isto é, desde os confins da terra, ou do ar, ou dos montes, ou do  mar, ou do purgatório, ou mesmo do mesmo Paraíso, parecia-me que não tinha tempo de voltar  para que o confessor encontrasse minha alma no corpo, e poder obedecer, e como me encontrava  com a alma tão longe, Eu me agia toda, me angustiava e me afligia pensando que não teria tempo

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de voltar ao corpo para que o confessor me encontrasse, e portanto não ter tempo de obedecer,  mas devo confessar que sempre me encontrei a tempo, e me parecia que a alma entrasse no  corpo antes que o confessor começasse a me dar a obediência de despertar. (154) E mais, digo a verdade, muitas vezes eu via de longe o confessor que vinha, mas para não  deixar Jesus, parecia que não pensava em confessor que vinha e então o próprio Jesus me  apressava a voltar com a alma ao corpo para poder obedecer ao confessor, e então eu sentia uma  grande repugnância, por deixar a Jesus, mas a obediência vencia, e deixando a Jesus, Ele mesmo,  ou me beijava ou me abraçava ou fazia outra coisa para despedir-se de mim. E eu deixando ao  meu amado Jesus dizia: “Vou com o confessor, mas Tu, meu bom Jesus, volta logo que o  confessor se vá”.

(155) Estes são os dois modos pelos quais a alma parecia sair do corpo, e nestes dois modos de  sair a alma, Deus me fala. Este modo de falar, Ele mesmo o chama falar intelectual. Tentarei  explicar: A alma que sai do corpo e se encontra diante de Jesus, não tem necessidade de palavras  para entender o que o Senhor lhe quer dizer, nem a alma tem necessidade de falar para se fazer  entender, senão que tudo é por meio do intelecto, Que bem nos entendemos quando nos  encontramos juntos! De uma luz que de Jesus me vem à inteligência, sinto imprimir em mim tudo o  que meu Jesus quer que eu entenda. Este modo é muito alto e sublime, tanto que a natureza  dificilmente sabe explicá-lo com palavras, apenas pode dizer alguma idéia, este modo em que  Jesus se faz entender é rapidíssimo, num simples instante se aprendem muitas mais coisas  sublimes que lendo livros inteiros. ¡ Oh, que mestre engenhoso é Jesus, que num simples instante  ensina muitas coisas, enquanto que qualquer outro necessitaria anos inteiros, se é que o  consegue, porque o mestre terreno não tem poder para poder atrair a vontade do discípulo, nem de  lhe poder infundir na mente sem esforços nem fadigas o que lhe quer ensinar, mas com Jesus não  é assim, tanta é sua doçura, a amabilidade de seu trato, a suavidade de seu falar, e ademais é tão  belo, que a alma apenas o vê se sente tão atraída, que às vezes é tanta a velocidade com que  corre ao lado de Jesus, que quase sem adverti-lo se encontra transformada no objeto amado, de  modo que a alma não sabe discernir mais seu ser terreno, tanto fica identificada com o Ser Divino.  Quem pode dizer o que a alma experimenta neste estado? Precisaria do próprio Jesus, ou de uma  alma separada perfeitamente do corpo, porque a alma encontrando-se outra vez circundada pelos  muros deste corpo, e perdendo essa luz que antes a tinha abismada, muito perde e fica  obscurecida, de tal modo que se quisesse dizer algo, o diria grosseiramente. Para dar uma idéia  digo que me imagino a um cego de nascimento, que nunca teve o bem de ver o que há no universo  inteiro, e que por poucos minutos tivesse o bem de abrir os olhos à luz, e pudesse ver tudo o que  contém o mundo: o sol, o céu, o mar, As tantas cidades, as tantas máquinas, as variedades das  flores e as tantas outras coisas que há no mundo, e depois daqueles poucos minutos de luz, voltei

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à cegueira de antes. Poderia ele dizer claramente tudo o que viu? Somente poderia fazer um  esboço, dizer alguma coisa confusamente. Isto é uma semelhança do que acontece quando a alma  se encontra separada, e depois no corpo, não sei se digo desatinos; assim como a esse pobre  cego ficaria a pena da perda da vista, assim a alma, vive gemendo e quase em um estado violento,  porque a alma se sente violentada sempre para com o sumo Bem, é tanta a atração que Jesus  deixa na alma de Si, que a alma gostaria de estar sempre abstraída em seu Deus, mas isto não  pode ser, e por isso se vive como se vivesse no purgatório. Acrescento que a alma não tem nada  do seu neste estado, tudo é operação feita pelo Senhor.

(156) Agora tentarei explicar o segundo modo que Jesus tem para falar, e é que a alma  encontrando-se fora de si mesma vê a pessoa de Jesus Cristo, como por exemplo de criança, ou  crucificado, ou em qualquer outro aspecto, e a alma vê que o Senhor com sua boca pronuncia as  palavras e a alma com sua boca responde, às vezes acontece que a alma se põe a conversar com  Jesus como fariam dois íntimos esposos. Se bem que o falar de Jesus é pouquíssimo, apenas  quatro ou cinco palavras e às vezes até mesmo uma só, raríssimas vezes se estende mais, mas  nesse ´pouquíssimo falar, ah, quanta luz põe na alma! Parece-me ver à primeira vista um pequeno riacho, mas vendo bem, em vez de um riacho se vê um vasto mar, assim é uma só palavra dita por  Jesus, é tanta a imensidão da luz que fica na alma, que ruminando muito bem descobre tantas  coisas sublimes e proveitosas a sua alma, que fica assombrada.

(157) Eu acredito que se se juntassem todos os sábios, ficariam todos confundidos e mudos Diante  de uma só palavra de Jesus. Agora, este modo é mais acessível à natureza humana, e facilmente  se sabe manifestar, porque a alma entrando em si mesma leva consigo o que tem ouvido da boca  de Nosso Senhor e o comunica ao corpo; não é tão fácil quando é por meio do intelecto. Eu  considero que Jesus tem este modo de falar para adaptar-se à natureza humana, não que tenha  necessidade da palavra para fazer-se entender, senão porque deste modo a alma mais facilmente  compreende e pode manifestá-lo ao confessor. Em suma, Jesus faz como um mestre doutíssimo,  sábio, inteligente, que possui em grau eminentíssimo todas as ciências e que ninguém pode igualá lo, mas como se encontra entre discípulos que ainda não aprenderam as primeiras letras do  alfabeto, retendo todos os outros conhecimentos em si, ensina aos discípulos apenas o a, b, c, etc.  Oh, como é bom Jesus! , se adapta aos doutos e fala-lhes de modo altíssimo, de modo que para  entendê-lo devem estudar muito bem o que lhes diz, adapta-se aos ignorantes e finge-se também  Ele ignorante, e fala em modo baixo, de maneira que ninguém pode ficar em jejum das lições deste  Divino Mestre.

(158) O terceiro modo com que Jesus me fala é quando falando à alma participa de sua própria  substância. Parece-me como quando o Senhor criou o mundo, com uma só palavra foram criadas  as coisas, assim, sendo sua palavra criadora, no ato mesmo em que diz a palavra, cria na alma

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aquela mesma coisa que diz, como por exemplo, Jesus diz à alma:

Veja como são belas as coisas, enquanto seus olhos possam percorrer a terra ou o céu, jamais  encontrarão beleza similar a Mim”. Neste falar de Jesus, a alma sente entrar nela um algo divino e  fica muito atraída para esta beleza, e ao mesmo tempo perde o atrativo de todas as outras coisas,  por quão belas e preciosas fossem não lhe causam nenhuma impressão, o que lhe fica fixo e  quase transmutado em si é a beleza de Jesus, nisso pensa, dessa beleza se sente investida, e fica  tão apaixonada, que se o Senhor não fizesse outro milagre se lhe partiria o coração, e de puro  amor por esta beleza de Jesus expiraria a alma para voar ao Céu a gozar desta beleza de Jesus.  Eu mesma não sei se digo desatinos.

(159) Para explicar melhor este falar substancial de Jesus digo outra coisa, Jesus diz: “Olha como  sou puro, também em ti quero pureza em tudo”. Nestas palavras a alma sente entrar em si uma  pureza divina, esta pureza se transforma nela mesma e chega a viver como se não tivesse mais  corpo, e assim das outras virtudes. ¡ Oh, como é desejável falar de Jesus! Eu daria tudo o que está  sobre a terra, se fosse a dona de tudo, contanto que tivesse uma só destas palavras de Jesus.

(160) O quarto modo em que Jesus me fala é quando me encontro em mim mesma, isto é no  estado natural, e este falar é também de dois modos: O primeiro é quando me encontrando em  mim mesma, recolhida, no interior do coração, sem articulação de voz ou sons ao ouvido do corpo,  Jesus internamente fala. O segundo é como nós fazemos, e isso acontece às vezes, mesmo  estando distraída ou falando com outras pessoas. Mas uma só destas palavras basta para me  recolher se estou distraída, ou para dar-me a paz se estou turbada, para me consolar se estou  afligida.

Novas regras de vida. Jesus lhe indica o novo sistema de vida. 

(161) Agora eu continuo narrando de onde eu fiquei, e eis que ele colocou um remédio:  (162) Pela manhã eu fui para comungar, e assim que eu recebi a Jesus, súbito eu lhe disse:  “Senhor meu, olha em que tempestade me encontro, deveria te agradecer porque lhe deste luz ao  confessor para me dar a obediência de sofrer, em troca minha natureza o lamenta tanto, que eu  mesma fiquei confusa ao me ver tão má. Mas tudo isto é nada, porque Tu que queres o sacrifício  me darás também a força. Mas a razão de maior peso em mim é ter que estar tanto tempo sem  poder receber no Sacramento, quem poderá resistir sem Ti? Quem me dará força? Onde posso  encontrar consolo nas minhas aflições?” E enquanto dizia isto, sentia tais penas no coração por  esta separação de Jesus Sacramentado, que chorava copiosamente. Então o Senhor  compadeceu-se da minha fraqueza e disse-me:

(163) “Não temas, eu mesmo sustentarei a tua fraqueza, tu não sabes que graças te preparei, por

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isso temes tanto. Eu não sou Eu Onipotente? Não posso suprir a privação de me receber no  Sacramento? Por isso ri-te, põe-te como morta em meus braços, faze-te vítima voluntária para me  reparar as ofensas, pelos pecadores e para evitar aos homens os merecidos flagelos. E eu dou-te  em penhor a minha palavra de não deixar nem um só dia sem vir visitar-te. Até agora tu vieste a  Mim, de agora em diante virei Eu a ti. Não estás contente?”

(164) Então eu me resignei à Santa Vontade de Deus, e fui surpreendida por este estado de  sofrimentos. Quem pode dizer as graças que o Senhor começou a me dar? É impossível poder  dizer tudo detalhadamente, poderei dizer alguma coisa confusamente, mas por quanto possa e  para cumprir a santa obediência que assim o quer, esforçar-me-ei em dizer por quanto me seja  possível.

(165) Lembro-me que desde o início deste estar continuamente na cama, o meu amado Jesus  fazia-se ver muito frequentemente, o que não tinha feito no passado. Desde o início me disse que  queria que levasse um novo sistema de vida para dispor-me àquele místico matrimonio que me  havia prometido, me dizia:

(166) “Amada de meu coração, te coloquei neste estado a fim de poder vir mais livremente e  conversar contigo, olha, te liberei de todas as ocupações externas a fim de que não só a alma, mas  também o corpo esteja a minha disposição, E assim podes estar em contínuo holocausto diante de  Mim. Se não te tivesse posto nesta cama, a dever-te a ti os deveres de família e sujeitar-te a outros  sacrifícios, não poderia Eu vir tão freqüentemente e te fazer partícipe das ofensas conforme as  recebo, no máximo deveria esperar que cumprisse seus deveres, mas agora não, agora ficamos  livres, já não há ninguém que nos incomode e que interrompa a nossa conversa, de agora em  diante as minhas aflições serão tuas, e as tuas, minhas, os meus sofrimentos teus, e os meus, as  minhas consolações tuas, e as tuas; uniremos todas as coisas juntas e tu tomarás interesse das  minhas coisas como se fossem tuas, e assim não haverá mais entre nós dois, isto é meu e isto é  teu, senão que tudo será comum por ambas as partes.

(167) Sabes como fiz contigo? Como um rei quando quer falar com sua esposa rainha, e esta se  encontra com suas damas em outras ocupações. O rei, o que faz? A toma e a leva dentro de seu  quarto, fecha as portas para que ninguém possa entrar a interromper sua conversação e ouvir seus  segredos, e assim estando sós se comunicam reciprocamente suas aflições e seus consolos.  Agora, se algum imprudente fosse bater à porta, a gritar atrás dela e não os deixasse gozar em paz  sua conversa, o rei não o tomaria a mal? Foi o que eu fiz contigo, e se alguém te quiser distrair  deste estado, também me desagradaria”.

(168) E ele continuou a dizer-me: “Quero de ti perfeita conformidade com minha Vontade, de tal  modo de desfazer tua vontade na minha, desapego absoluto de toda coisa, tanto que tudo o que é  terra quero que seja tido por ti como esterco e podridão que dá horror ao só olhá-lo, e isto porque

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as coisas terrenas, Ainda que não se tivesse apego a elas, só tê-las em torno e olhá-las  obscurecem as coisas celestiais e impedem realizar esse matrimonio místico que te prometi. Além  disso quero que assim como Eu fui pobre, também me imites na pobreza, deves considerar-te  nesta cama como uma pobrezinha, os pobres se contentam com o que têm, e agradecem-me  primeiro a Mim, e logo a seus benfeitores. Assim você aceita-te com o que te é dado, sem pedir  nem isto nem aquilo, porque poderia ser um estorvo em tua mente e com santa indiferença, sem  pensar se isso te faria bem ou mal te submeta à vontade dos demais”.

(169) Isso me custou muito no princípio, especialmente pelas obediência que me dava o  Confessor, não sei por que, mas queria que tomasse quinina, e tinha imposta a obediência de que  cada vez que voltasse o estômago outras tantas devia voltar a tomar alimento. Agora, o quinino me  estimulava o apetite e às vezes sentia muita fome, tomava o alimento e quando o tomava, e às  vezes no mesmo momento de tomá-lo, pelos contínuos conatos de vômito estava obrigada a  devolvê-lo, e permanecia com a mesma fome de antes. A palavra “pobre” que Jesus me havia dito  não me deixava ousar pedir nada, e eu mesma tinha vergonha de pedir; pensava entre mim: “O  que dirá a família, voltou o estômago e quer comer? Se me derem alguma coisa a tomo, se não, o  Senhor se ocupará”. Assim me passava contente de poder oferecer alguma coisa a meu amado  Jesus. Isto não durou muito tempo, mas aproximadamente quatro meses. Um dia o Senhor me  disse:

(170) “Pede ao confessor que te dê a obediência de não tomar quinina e de não te fazer tomar o  alimento tantas vezes, que Eu lhe darei luz”.

(171) Depois veio o confessor e disse-lhe, e ele disse-me: “Para não mostrar singularidades, de  agora em diante quero que tomes o alimento uma só vez por dia, e suspendeu também a quinina”.  Assim fiquei mais tranqüila e me passou a fome, mas o vômito não cessou, essa única vez que  tomava o alimento era obrigada a devolvê-lo, o Senhor às vezes me dizia que pedisse a obediência  de não comer, mas o confessor nunca me deu esta obediência, me dizia: “Não importa que  vomites, é outra mortificação”.

(172) Eu então o dizia ao Senhor e Ele me dizia: “Quero que faça a petição, mas com santa  indiferença, quero que esteja ao que te diz a obediência”.

(173) E assim continuei a fazê-lo. Quando passaram cerca de quarenta dias, que eu considerava  pelas palavras que me tinha dito o Senhor (por um certo tempo) e que eu assim tinha dito ao  confessor, os sofrimentos continuavam a surpreender-me diariamente e ele se via obrigado a vir  todos os dias, Então o confessor começou a me dar a obediência de não estar mais naquele  estado, e acrescentava que se caísse nos sofrimentos, ele não viria. Por minha parte me sentia  disposta a obedecer, especialmente minha natureza queria libertar-se daquele estar continuamente  na cama, que por quão belo fosse, era sempre cama, aquele ter que sujeitar-se a todos, mesmo

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nas coisas mais repugnantes e necessárias à natureza, e estar obrigada a dizer aos outros é um  verdadeiro sacrifício. Por isso a natureza fez seu ofício, toda se consolou ao sentir-se dar esta  obediência, minha alma estava disposta a obedecer ou a permanecer em cama se o Senhor assim  o queria, porque tinha começado a experimentar quão bom tinha sido o Senhor comigo e que a  verdadeira resignação sabe mudar a natureza às coisas e o amargo o converte em doce.

(174) Quando me deu a obediência de não ter que estar mais na cama, eu comecei a resistir e  dizia ao Senhor: “O que queres de mim? Não posso mais, porque a obediência não quer, mas se  queres dar luz ao confessor então eu estou disposta a fazer o que queres”. E passei toda uma  noite discutindo com o Senhor; quando vinha lhe dizia: “Meu amado Jesus, tem paciência, não  venhas, porque a obediência não permite que me faças participar em teus sofrimentos”. Até pela  manhã eu venci, me sentia em mim mesma e livre de sofrimentos, quando em um instante veio o  Senhor e me atraiu de tal maneira a Ele que não pude resistir-lhe, perdi os sentidos, e me encontrei  junto com Ele, mas tão estreitada que por quanta oposição fazia, não pude me separar de Jesus.  Estando com Jesus eu me sentia toda aniquilada, e tinha uma certa vergonha pelas tantas  oposições que lhe havia feito durante a noite, e lhe disse: “Esposo Santo perdoa-me, é o confessor  que assim o quer”. E Ele me disse:

(175) “Não temas, quando é a obediência Eu não me ofendo”. E continuou “Vem, vem a Mim, hoje  é ano novo, quero dar-te teu presente”.

(176) (Justo aquela manhã era o primeiro dia do ano). Então aproximou seus lábios puríssimos  aos meus e derramou um leite dulcíssimo, beijou-me, e tomou um anel de dentro de seu lado, e me  disse:

(177) “Hoje quero te fazer ver o anel que te preparei para quando te despose”. Depois me disse:  “Diga ao confessor que é Minha vontade que continue estando na cama, e como sinal de que sou  Eu diga-lhe que há guerra entre a Itália e a África, e que se ele te dá a obediência de te fazer  continuar sofrendo não deixarei fazer nada a ambas as partes, se porão em paz”.

(178) No mesmo instante de dizer estas palavras, senti-me circundada por sofrimentos como por  um vestido, e por mim mesma não pude libertar-me, pensava : “O que dirá o confessor?” Mas não  estava mais em meu poder. Aquele leite que Jesus derramou em mim me produzia tal amor a Ele,  que me sentia definhar, e sentia tanta saciedade e doçura, que depois de que veio o confessor e  me fez voltar daquele estado, e a família me levou alimento, sentia-me tão satisfeita que o alimento  não baixava, mas para cumprir a obediência que assim queria, tomei um pouco, mas logo fui  obrigada a devolvê-lo, misturado com aquele leite doce que me havia Jesus dado. e Ele como  brincando me disse:

(179) “Não te bastou o que te dei? Não está contente ainda?” Eu fiquei toda corada, mas  rapidamente lhe disse: “O que queres de mim? É a obediência”. Quando o confessor veio,

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começou a ficar inquieto e a dizer-me que era desobediente, ou então dizia-me: “É uma doença. Se  fosse coisa de Deus te teria feito obedecer, por isso em vez de chamar ao confessor deve chamar  aos médicos”. Quando ele terminou de falar, eu lhe disse tudo o que me tinha dito o Senhor, como  disse acima, e ele me disse que era verdade que havia guerra entre a África e a Itália, e disse:  Veremos se nada acontecer”. E assim ficou persuadido de me fazer continuar sofrendo.

(180) Depois de cerca de quatro meses, um dia o confessor veio e me disse que haviam chegado  notícias de que a guerra que havia entre a África e a Itália, sem fazer nenhum dano entre elas,  havia terminado, assinando a paz. Assim o confessor ficou mais persuadido e me deixou ficar em  paz .

(181) Então meu doce Jesus não fazia outra coisa que me dispor daquele matrimonio místico o  que me havia prometido, se fazia ver estando eu nesse estado, às vezes três ou quatro vezes ao  dia, como lhe agradava, e às vezes era um contínuo ir e vir, me parecia um apaixonado que não  sabe estar sem sua esposa, assim fazia Jesus comigo, e às vezes chegava a me dizer:

(182) “Olhe, te amo tanto que não sei estar se não venho, sinto-me quase inquieto pensando que  você está sofrendo por Mim e que está sozinha, por isso vim para ver se tem necessidade de  alguma coisa”.

(183) E enquanto assim dizia, Ele mesmo me levantava a cabeça, colocava seu braço atrás de  meu pescoço e me abraçava, e enquanto assim me tinha, me beijava, e se era tempo de verão e  fazia calor, de sua boca mandava um alento refrescante, ou bem tomava alguma coisa em sua  mão e me abanava e depois me perguntava:

(184) “Como te sentes? Não se sente melhor?”

(185) Eu lhe dizia: “Em qualquer modo que se está Contigo se está sempre bem”. Outras vezes  vinha, e se me via muito fraca pelo contínuo estar naqueles sofrimentos, especialmente se o  confessor vinha na noite, meu amante Jesus vinha, e me vendo naquele estado de extrema  debilidade, tanto que às vezes me sentia morrer, se aproximava a mim e de sua boca vertia na  minha aquele leite, ou bem me fazia pôr-me a seu lado e eu chupava torrentes de doçuras, de  delícias e de fortaleza, e Ele me dizia:

(186) “Quero ser propriamente Eu teu tudo, e também teu alimento da alma e do corpo”. (187) Quem pode dizer o que eu experimentava, tanto na alma como no corpo, por estas graças  que Jesus me fazia? Se fosse eu a dizê-lo, espalhava-me demasiado. Recordo que às vezes  quando não vinha logo, me lamentava com Ele dizendo: “Ah, Esposo Santo, como me fez esperar,  tanto que não podia resistir mais, me sentia morrer sem Ti”. E enquanto assim dizia, era tanta a  pena que sentia que chorava, e Ele compadecia-me toda, me enxugava as lágrimas, me beijava,  me abraçava e dizia:

(188) “Não quero que chore. Olhe, agora estou contigo, me diga o que quer”.

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(189) Eu dizia-lhe: “Não quero outra coisa senão a Ti, e só deixarei de chorar quando me  prometeres que não me farás esperar tanto”.

(190) E Ele me dizia: “Sim, sim, te contentarei”.

(191) Um dia, enquanto estávamos nisto e era tanta a pena que eu sentia que não podia deixar de  chorar, meu bom Jesus me disse:

(192) “Quero te contentar em tudo, sinto-me tão atraído por você que não posso fazer menos que  fazer o que você quer. Se até agora te tirei a vida exterior e me manifestei a ti, agora quero atrair  tua alma para Mim, a fim de que onde quer que eu vá possas vir junto Comigo, assim poderás  desfrutar mais e te estreitar mais intimamente a Mim, o que não fizeste no passado.

(193) Uma manhã, não me lembro muito bem, creio que tinham passado cerca de três meses  desde que comecei a estar continuamente na cama, enquanto estava no meu estado habitual, veio  meu doce Jesus com um aspecto todo amável, como um jovem, como de dezoito anos. ¡ Oh como  era belo! , com sua cabeleira dourada e toda encaracolada, parecia que encadeava os  pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte serena e ampla, onde se olhava como dentro de um  cristal o interior de sua mente, e se descobria sua infinita sabedoria, sua paz imperturbável. ¡ Oh  como me sentia tranquilizar minha mente, meu coração, aliás, minhas mesmas paixões diante de  Jesus caíam por terra e não se atreviam a me dar o mínimo incômodo. Eu acredito, não sei se  estou errada, que não se pode ver a este Jesus tão belo se não se está na calma mais profunda  que o mínimo assombro de intranquilidade impede ter uma vista tão bela. Ah sim! Ao ver a  serenidade de sua fronte adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no interior, que creio  que não há desastre, guerra mais feroz que diante de Jesus não se acalme. Ó meu todo e belo  Jesus, se por poucos momentos que te manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que  se podem sofrer os mais dolorosos martírios, as penas mais humilhantes com a mais perfeita  tranquilidade, me parece uma mistura de paz e de dor, o que será no Paraíso? Oh, como são belos  seus olhos puríssimos, cintilantes de luz; não é como a luz do sol que querendo olhá-la danifica  nossa vista, não, em Jesus enquanto é luz, pode-se muito bem fixar o olhar, e só de olhar o interior  de sua pupila, de uma cor celeste escura oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza de seus  olhos, que um só olhar seu basta para me fazer sair de mim mesma, e me fazer correr atrás Dele  por caminhos e por montes, pela terra e pelo céu, basta um só olhar para me transformar Nele e  sentir descer em mim algo de Divino. Quem pode dizer além da beleza de seu rosto adorável? Sua  tez branca semelhante à neve tingida de uma cor de rosas, das mais belas; em suas bochechas  rosadas descobre-se a grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestoso e todo Divino, que  infunde temor e reverência, e ao mesmo tempo dá tanta confiança, que quanto a mim jamais  encontrei pessoa alguma que me dê ao menos uma sombra da confiança que dá meu amado  Jesus, nem em meus pais, nem nos confessores, nem nas minhas irmãs. Ah sim, esse rosto santo,

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enquanto é tão majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa amabilidade atrai tanto, de modo  que a alma não tem a mínima dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e pecadora se veja.  Belo é também o seu nariz afiado, proporcional ao seu rosto. Graciosa é sua boca, pequena, mas  extremamente bela, seus lábios finíssimos de uma cor escarlate, enquanto fala contém tanta graça  que é impossível poder descrevê-lo. É doce a voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto  fala sai de sua boca um perfume tal, que parece que não se encontra sobre a terra, é penetrante,  de modo que penetra tudo, sente-se descer pelo ouvido ao coração, e oh, quantos afetos produz,  Mas quem pode dizer tudo? Além disso, é tão agradável que acho que não se pode encontrar  outros prazeres como os que se podem encontrar numa só palavra de Jesus. A voz de meu Jesus  é potentíssima, é obrante, e no mesmo ato que fala obra o que diz. Ah sim, é formosa sua boca,  mas mostra mais sua formosa graça no ato de falar, então se vêem seus dentes tão nítidos e bem  alinhados, e exala seu sopro, amor que incendia, setas são lançadas, consome o coração. Belas  são suas mãos, suaves, brancas, delicadíssimas, com seus dedos proporcionados, e os move com  uma maestria tal, que é um encanto. ¡¡¡¡¡¡ Oh, como você é bonito, todo bonito, oh meu doce  Jesus! O que eu disse sobre sua beleza é nada, é mais, eu acho que disse muitos desatinos. Mas  o que queres de mim? Perdoe-me, é a obediência que assim o quer, por mim não me teria atrevido  a dizer nem uma palavra, conhecendo minha incapacidade.

(194) Agora, enquanto via Jesus com o aspecto já descrito, de sua boca me enviou um alento que  me investía toda a alma, e me parecia que Jesus me atraía com esse alento a Ele e comecei a  sentir que a alma saía do corpo, me sentia realmente sair de todas partes, da cabeça, das mãos e  até dos pés, sendo esta a primeira vez que me sucedia dentro de mim comecei a dizer: “Agora  morro, o Senhor veio para me levar”. Quando me vi fora do corpo, a alma tinha a mesma sensação  do corpo, com esta diferença, que o corpo contém carne, nervos e ossos, a alma não, é um corpo  de luz, portanto senti um temor, mas Jesus continuava a enviar-me esse alento e me disse:

(195) “Se te dá tanta pena estar privada de Mim, agora vem junto Comigo porque quero consolar te”.

(196) E Jesus tomou o seu vôo e eu tomei o meu junto, a Ele, giramos por toda a abóbada do céu.  Oh! Como era bonito passear junto com Jesus, agora apoiava a cabeça sobre seu ombro e com  um braço atrás de suas costas e com a outra mão em sua mão, agora se apoiava Jesus em mim,  quando chegávamos a certos lugares onde a iniquidade mais abundava, oh, quanto sofria meu  bom Jesus! Eu via com mais clareza os sofrimentos de seu coração adorável, via-o quase  desmaiar, e lhe dizia: “Apoie se em mim e faz-me partícipe de tuas penas, pois não resiste minha  alma ver-te sofrer sozinho”. E Jesus me dizia:

(197) “Amada minha, ajuda-me que não posso mais”.

(198) E, enquanto assim dizia, aproximava os seus lábios aos meus, e via uma amargura tal, que

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sentia penas mortais quando entrava em mim esse licor tão amargo; sentia entrar como tantas  facas, pontas, flechas que me trespassavam de lado a lado, em suma, em todos os meus membros  se formava uma dor atroz e voltando a alma ao corpo participava estes sofrimentos ao corpo, quem  pode dizer as penas? Só o próprio Jesus que era testemunha, porque Os outros não podiam  mitigar minhas penas estando naquele estado de perda dos sentidos, e se esperava quando estava  presente o confessor, porque também com a obediência se mitigavam. Portanto só Jesus me podia  ajudar quando via que minha natureza não podia mais e que chegava propriamente aos extremos e  não me restava mais que dar o último respiro. ¡ Oh, quantas vezes a morte zombou de mim, mas  virá um dia em que eu me rirei dela! Então Jesus vinha, me tomava em seus braços, me  aproximava de seu coração, e oh, como me sentia voltar a vida, depois, de seus lábios vertia um  licor dulcíssimo, e assim se mitigavam as penas. Outras vezes, enquanto me levava junto com Ele  girando, se eram pecados de blasfêmias, contra a caridade e outros, vertia esse amargo venenoso;  se eram pecados de desonestidade, derramava uma coisa de podridão malcheirosa, e quando  voltava em mim mesma sentia tão bem aquela peste, e era tanto o fedor que me revolvia o  estômago e me sentia desfalecer, e às vezes tomando o alimento, quando o devolvia, sentia que  saía da minha boca aquela podridão misturada com o alimento. Uma vez levava-me às igrejas, e  também ali o meu bom Jesus era ofendido. Oh, como chegavam mal a seu coração aquelas obras,  santas, sim, mas descuidadamente feitas, aquelas orações vazias de espírito interior, aquela  piedade fingida, aparente, parecia que mais bem insultavam a Jesus em vez de lhe dar honra. Ah!  Sim, aquele coração santo, puro, reto, não podia receber essas obras tão mal feitas. Oh! quantas  vezes se lamentava dizendo:

(199) “Filha, também a gente que se diz devota, olha quantas ofensas me fazem, mesmo nos  lugares mais santos, ao receber os mesmos Sacramentos, em vez de sair purificados saem mais enlameados “.

(200) ” Ah! Sim, quanta pena dava a Jesus ver pessoas que comungavam sacrílegamente,  sacerdotes que celebravam o Santo Sacrifício da missa em pecado mortal, por costume, e alguns,  dá horror dizer, por fins de interesse. ¡¡ Oh! Quantas vezes meu Jesus me fez ver estas cenas tão  dolorosas. Quantas vezes, enquanto o sacerdote celebrava o Sacrossanto Mistério, Jesus é  obrigado a descer, porque era chamado pelo poder sacerdotal, às mãos do sacerdote, se viam  aquelas mãos que gotejavam podridão, sangue, ou então estavam sujas de lama. Ah! Como dava  compaixão o estado de Jesus, tão santo, tão puro, naquelas mãos que davam horror só de olhá las, parecia que Jesus queria fugir daquelas mãos, mas era obrigado a permanecer até que se  consumissem as espécies do pão e do vinho. Às vezes, enquanto permanecia ali, com o sacerdote,  ao mesmo tempo vinha-se apressadamente a mim e lamentava-se, e antes de que eu o dissesse,  Ele mesmo me dizia:

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(201) “Filha, deixa-me derramar em ti, porque não posso mais, tem compaixão do meu estado que  é demasiado doloroso, tem paciência, soframos juntos”.

(202) E enquanto dizia isto derramava da sua boca na minha, mas quem pode dizer o que  derramava? Parecia um veneno amargo, uma podridão hedionda, misturada com um alimento tão  duro, repugnante e nauseante, que às vezes eu não podia engolir, quem pode dizer os sofrimentos  que me produzia este derramar de Jesus? Se Ele mesmo não me tivesse sustentado, certamente  teria morrido vítima disso; todavia, só derramava em mim a mínima parte, o que será de Jesus que  contém tanto e tanto? Oh, como é feio o pecado! Ah! Senhor, faça-o conhecer a todos, a fim de  que todos fujam deste monstro tão horrível; mas enquanto via estas cenas tão dolorosas, outras  vezes fazia-me ver também cenas tão consoladoras e belas, que raptavam, e estas eram ver os  bons e santos sacerdotes que celebravam os Sacrossantos Mistérios. ¡ Oh Deus, como é alto,  grande, sublime seu ministério! Como era bonito ver o sacerdote que celebrava a missa e Jesus  transformado nele, parecia que não o sacerdote, mas que o próprio Jesus celebrava o Divino  Sacrifício, e às vezes fazia desaparecer completamente o sacerdote e Jesus só celebrava a missa  e eu a escutava, Oh, como era comovedor ver Jesus recitar aquelas orações, fazer todas aquelas  cerimônias e movimentos que faz o sacerdote! Quem pode dizer o quão consolador eu achava que  veria estas Missas junto com Jesus? Quantas graças recebia, quantas luzes, quantas coisas  compreendia! Mas como são coisas passadas e não as recordo claramente, por isso as passo em  silêncio.

(203) Mas enquanto dizia isto, Jesus moveu-se dentro de mim, chamou-me, e não quer que deixe  isto em silêncio. Ah, Senhor, quanta paciência é necessária Contigo! pois bem, te contentarei. Oh!  Doce amor, direi alguma pequena coisa, mas dá-me tua graça para poder manifestá-lo, porque por  mim não me atreveria a pôr nem uma palavra sobre mistérios tão profundos e sublimes.

A Santa Missa. Que coisa é a Missa. 

(204) Agora, enquanto via Jesus ou o sacerdote que celebrava o Divino Sacrifício, Jesus me fazia  entender que na missa está todo o fundamento de nossa sacrossanta religião. Ah! Sim, a missa  nos diz tudo e nos fala de tudo. A Missa recorda-nos a nossa Redenção, fala-nos detalhadamente  das penas que Jesus sofreu por nós, manifesta-nos também o seu Amor imenso que não ficou  contente por morrer na cruz, mas quis continuar o estado de vítima na Santíssima Eucaristia. A  missa também nos diz que nossos corpos desfeitos, reduzidos a cinzas pela morte, ressurgirão no  dia do juízo junto com Cristo à vida imortal e gloriosa. Jesus me fazia compreender que a coisa  mais consoladora para um cristão e os mistérios mais altos e sublimes de nossa santa religião são:  Jesus no Sacramento e a ressurreição de nossos corpos à glória. São mistérios profundos que só

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os compreenderemos além das estrelas. Mas Jesus no Sacramento faz-nos quase tocar com a  mão em vários modos: em primeiro lugar a sua Ressurreição, em segundo o seu estado de  aniquilamento sob aquelas espécies, mas também é verdade que está nelas vivo e verdadeiro,  mas consumidas essas espécies, sua real presença não existe mais; depois, consagradas as  espécies de novo, Jesus adquire novamente seu estado Sacramental. Assim, Jesus no  Sacramento nos recorda a ressurreição de nossos corpos à glória, e assim como Jesus, cessando  seu estado Sacramentado reside no seio de Deus, seu Pai, assim nós, cessando nossa vida,  nossas almas vão fazer sua morada no Céu, no seio de Deus, e nossos corpos ficam consumidos,  assim que se pode dizer que não existem mais, mas depois com um prodígio da Onipotência de  Deus, nossos corpos adquirirão nova vida, e unindo-se com a alma irão juntos a gozar a bem aventurança eterna. Pode-se dar coisa mais consoladora para o coração humano, que não só a  alma, mas também o corpo deve agradar aos eternos contentes? A mim me parece que naquele  grande dia acontecerá como quando o céu está estrelado e sai o sol, o que acontece? O sol, com  sua imensa luz absorve as estrelas e as faz desaparecer, mas as estrelas existem. O sol é Deus e  todas as almas bem-aventuradas são estrelas, Deus com a sua imensa luz nos absorverá a todos  em Si, de modo que existiremos em Deus e nadaremos no mar imenso de Deus. ¡ Oh, quantas  coisas Jesus nos diz no Sacramento! Mas quem pode dizê-las todas? Certamente me estenderia  demasiado, se o Senhor o permitir reservarei para outra ocasião dizer alguma outra coisa.

Matrimônio. O Matrimonio com Jesus 

(205) Agora, nestas saídas do corpo que o Senhor me fazia fazer, às vezes renovava-me a  promessa do noivado já dito. Quem pode dizer os ardentes desejos que o Senhor infundia em mim  de que se efetuasse este místico matrimonio? Muitas vezes lhe rogava dizendo: “Esposo  dulcíssimo, faça-o logo, não atrase mais minha íntima união Contigo, ah, estreitamo-nos com  vínculos mais fortes de amor, de modo que ninguém nos possa separar nem por poucos instantes”.  E Jesus agora me corrigia de uma coisa, agora de outra. Recordo que um dia me disse:

(206) “Tudo o que é terreno, tudo, deves tirar, não só do teu coração mas também de teu corpo,  tu não podes entender quanto nocivo é e que impedimentos são a meu Amor mesmo as mínimas  sombras terrenas”.

(207) Eu imediatamente lhe disse: “Se tiver alguma outra coisa para tirar, diga-me, porque estou  disposta a fazê-lo”. Mas enquanto dizia isto, eu mesma percebi que tinha um anel de ouro no dedo  que representava a imagem do Crucificado, e imediatamente lhe disse: “Esposo santo, Queres que  o tire?” E Ele me disse:

(208) “Te devendo dar Eu, um anel mais precioso, mais belo, e no qual ao vivo estará impressa

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minha imagem, tanto que cada vez que o vir novas flechas de amor receberá seu coração, por isso  este anel não é necessário”.

(209) E eu prontamente o tirei. Finalmente chegou o suspirado dia, depois de não pouco sofrer.  Recordo que faltava pouco para completar o ano de estar continuamente na cama, era dia da  Pureza de Maria Santíssima. Na noite anterior daquele dia, o meu amado Jesus fez-se ver em  atitude festiva, aproximou-se de mim e tomou o meu coração nas suas mãos e olhou para ele e  olhou para ele, limpou-o e depois devolveu-me. Depois tomou uma vestidura de imensa beleza,  me parecia que o fundo era como com filetes de ouro de várias cores e me vestiu com ela, depois  tomou duas gemas como se fossem brincos e os pôs em minhas orelhas, logo me adornou o  pescoço e os braços e me cingiu a testa com uma coroa de imenso valor, Adornada de pedras e  pedras preciosas, toda resplandecente de luz, e me parecia que essas luzes eram tantas vozes  que ressoavam entre elas e a claras notas falavam da beleza, poder, força e de todas as outras  virtudes de meu esposo Jesus. Quem pode dizer o que eu entendi e em que mar de consolo  nadava minha alma? É impossível poder dizê-lo. Agora, enquanto Jesus me cingiu a testa me  disse:

(210) “Esposa dulcíssima, esta coroa te ponho a fim de que nada falte para te fazer digna de ser  minha esposa, masque depois que se realize nosso matrimonio a levarei ao Céu para reserva-la para o momento da morte”.

(211) Finalmente tomou um véu e com ele cobriu-me toda, desde a cabeça até os pés e assim  deixou-me. Ah! Parecia-me que nesse véu havia um grande significado, porque os demônios ao  me ver coberta com ele ficavam tão espantados e sentiam tal medo de mim, que fugiam  aterrorizados. Os mesmos anjos estavam ao meu redor com tal veneração que eu mesma ficava  confusa e toda cheia de vergonha.

(212) Na manhã desse dia, Jesus fez-se ver de novo todo afável, doce e majestoso, juntamente  com a sua Mãe Santíssima e Santa Catarina. Primeiro os anjos cantaram um hino, Santa Catarina  me assistia, a Mãe tomou minha mão e Jesus pôs em meu dedo o anel, depois nos abraçamos e  me beijou, e assim fez também a Mãe. Depois tivemos um colóquio todo de amor, Jesus falava-me  do grande amor que me tinha, e eu dizia-lhe também do amor com que o amava. A Santíssima  Virgem fez-me compreender a grande graça que tinha recebido e a correspondência que devia dar  ao Amor de Jesus.

(213) Meu esposo Jesus me deu novas regras para viver mais perfeitamente, mas como passou  muito tempo não as recordo muito bem, por isso não as digo, e assim terminou aquele dia.  (214) Quem pode dizer as finezas de amor que Jesus fazia a minha alma? Eram tais e tantas, que  é impossível descrevê-las, mas o pouco que recordo tratarei de dizê-lo. Às vezes, transportando me com Ele, levava-me ao Paraíso, e ali escutava os cânticos dos bem-aventurados, via a

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Divindade, os diversos coros dos anjos, as ordens dos santos, todos imersos, absorvidos e  identificados na Divindade de Deus. Parecia-me que em torno do trono havia muitas luzes, como  se fossem mais que sóis resplandecentes e a claras notas estas luzes denotavam todas as virtudes  e atributos de Deus. Os bem-aventurados, refletindo-se em uma destas luzes, ficavam arrebatados,  mas não chegavam a penetrar toda a imensidão daquela luz, de modo que passavam a uma  segunda luz sem compreender a fundo a primeira. Assim, os bem-aventurados no Céu não podem  compreender perfeitamente a Deus, porque é tanta a Imensidão, a Grandeza, a Santidade de  Deus, que mente criada não pode compreender um Ser incriado. Agora, os bem-aventurados  refletindo-se nestas luzes, parecia-me que vinham participar nas virtudes destas luzes, assim que a  alma no Céu se assemelha a Deus, com esta diferença: que Deus é aquele Sol grandíssimo, e a  alma é um pequeno sol. Mas quem pode dizer tudo o que nessa beata morada se compreende?  Enquanto a alma se encontra nesta prisão do corpo é impossível, enquanto na mente se escuta  algo, os lábios não encontram palavras para poder explicar-se, me parece como uma criança que  começa a balbuciar, que gostaria de dizer tantas e tantas coisas, Mas afinal parece que ele não  sabe dizer uma palavra clara, por isso, vou direto ao assunto. Só direi que às vezes, enquanto me  encontrava naquela bem-aventurada pátria, passeava junto com Jesus no meio dos coros dos  anjos e dos santos, e como eu era nova esposa todos os bem-aventurados se uniam conosco para  participar das alegrias de nosso matrimonio, me parecia que esqueciam seus contentamentos para  cuidar dos nossos, e Jesus me mostrava aos santos dizendo:

(215) “Vejam esta alma, é um triunfo do meu Amor, meu Amor tudo superou nela”.  (216) Outras vezes me fazia ficar no lugar que me tocava e me dizia: “Este é seu lugar, ninguém  pode te tirar”. E às vezes eu chegava a acreditar que não devia voltar mais à terra, mas em um  simples instante me encontrava fechada no muro deste corpo. Quem pode dizer o quão amargo eu  estava de volta? A mim me parecia, pelas coisas do Céu, que as desta terra tudo era podridão,  insípido, fastidioso; as coisas que tanto deleitam aos demais, para mim eram amargas, as pessoas  mais amadas, mais respeitáveis, que os demais quem sabe o que teriam feito para entreter-se com  elas, a mim me resultavam indiferentes e até fastidiosas, só vendo-as como imagens de Deus me  parecia que podia suportá-las, mas minha alma tinha perdido toda satisfação, nada lhe dava a  menor sombra de contente, e era tanta a pena que eu sentia que não fazia mais do que chorar e  lamentar-me com meu amado Jesus. Ah! Meu coração vivia inquieto, entre contínuas ânsias e  desejos, me sentia mais no Céu que na terra, sentia em meu interior uma coisa que me roía  continuamente, tanto, que me resultava amargo e doloroso ter que continuar vivendo. Mas a  obediência pôs um freio a estas penas minhas, mandando-me absolutamente que não desejasse  morrer, e que só devia morrer quando o confessor me desse a obediência. Então para cumprir esta  santa obediência fazia quanto mais podia para não pensar nisso, porque meu interior era uma

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contínua jaculatória de desejo de me querer ir. Assim, em grande parte meu coração se acalmou,  mas não de todo. Confesso a verdade, muito faltou nisto, mas o que podia fazer? Não sabia deter me, para mim era um verdadeiro martírio. Meu benigno Jesus me dizia:

(217) “Acalma-te, qual é a coisa que tanto te faz desejar o Céu?”

(218) E eu lhe dizia: “Porque quero estar sempre unida Contigo, minha alma não resiste mais estar  separada de Ti, não só por um dia, nem sequer por um momento, por isso a qualquer custo quero  ir”.

(219) “Pois bem”. Dizia-me. “Se é por Mim te quero contentar, virei a estar contigo”. (220) Eu lhe dizia: “Mas logo me deixa e eu te perco de vista, em troca no Céu não é assim, lá  jamais te perderei de vista”

(221) Às vezes também Jesus queria brincar, e eis como: Enquanto estava com estas ânsias,  vinha apressado e me dizia: “Queres vir?” E eu lhe dizia: “Onde?” E Ele: “Ao Céu”. E eu: “Dizes me de verdade?” E Ele: “Apresse-se, venha, apresse=se”. E eu: “Está bem, vamos, mas temo que  queira brincar comigo”. E Jesus: “Não, não, de verdade quero levar-te Comigo”. E enquanto assim  dizia sentia minha alma sair do corpo, e junto com Jesus tomava o vôo ao Céu. Oh! como me  sentia contente então acreditando que devia deixar a terra, a vida me parecia um sonho, o sofrer  pouquíssimo! Enquanto chegávamos a um ponto alto do Céu, eu ouvia o canto dos bem aventurados, eu apressava Jesus a me introduzir nessa bem-aventurada morada, mas Jesus o  tomava com calma. Em meu interior começava a suspeitar que não era verdade e dizia: “Quem  sabe se não é uma brincadeira que me fez?” De vez em quando lhe dizia: “Meu Jesus, amado, fá lo depressa”. E Ele me dizia: “Espera mais um pouco, desçamos outra vez à terra, olha, aí está por  perder-se um pecador, vamos, talvez se converta. Peçamos juntos ao Eterno Pai que tenha  misericórdia dele. Não queres que Ele seja salvo? Não estás disposta a sofrer qualquer pena pela  salvação de uma só alma?” E eu: “Sim, tudo o que quiseres que ela sofra, estou disposta, desde  que a salves”. Assim íamos a esse pecador, tentávamos convencê-lo, púnhamos ante sua mente  as mais poderosas razões para rende-lo, mas em vão. Então Jesus todo aflito me dizia: “Minha  esposa, volta outra vez a teu corpo, toma sobre ti as penas que lhe são merecidas, assim a Divina  Justiça, aplacada, poderá usar com ele misericórdia. Você viu, as palavras não o abalaram, nem  sequer as razões, não resta outra coisa que as penas, que são os meios mais poderosos para  satisfazer a Justiça e para render o pecador”. Assim me levava de volta ao corpo. Quem pode dizer  os sofrimentos que me vinham? Só o Senhor sabe que deles era testemunha. Depois de alguns  dias me fazia ver aquela alma convertida e salva, oh, como estava contente Jesus e eu também.

(222) Quem pode dizer quantas vezes Jesus fez estes jogos? Quando se chegava ao ponto de  entrar no Céu, e às vezes mesmo depois de ter entrado, agora dizia que não tinha a obediência do  confessor, e por isso era conveniente voltar à terra, e eu lhe dizia: “Enquanto estive com o

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confessor fui obrigada a obedecer-lhe, mas agora que estou Contigo, devo obedecer-te a Ti,  porque Tu és o primeiro de todos. E Jesus dizia-me: “Não, não, quero que obedeças ao confessor”.  Então, para não me alongar muito, agora por um pretexto, agora por outro, me fazia voltar à terra.

(223) Muito dolorosos me resultavam estes jogos, basta dizer que me tornei tão impertinente, que  o Senhor para castigar minhas impertinências não permitia tão freqüentemente estas brincadeiras.

Renovação do Matrimonio. Matrimonio diante da Santíssima Trindade. Instrui-a sobre a Fé, a Esperança e a Caridade. 

(224) Neste estado que mencionei, passei cerca de três anos, e ainda estava na cama. Quando  uma manhã Jesus me fez entender que queria renovar o noivado mas não já na terra como a  primeira vez, mas no Céu diante da presença de toda a corte Celestial, assim que estivesse  preparada para uma graça tão grande. Eu fiz quanto mais pude para dispor-me, mas que, sendo eu  tão miserável e insuficiente para fazer nenhuma sombra de bem, se necessitava a mão do Artífice

Divino para dispor-me, porque por mim jamais teria conseguido purificar minha alma. (225) Uma manhã, era a véspera da natividade de Maria Santíssima, meu sempre benigno Jesus veio Ele mesmo para me dispor. Não fazia mais que ir e vir continuamente, agora me falava  da fé e me deixava, eu me sentia infundir na alma uma vida de fé, minha alma, tosca como a sentia  antes, agora, depois de falar de Jesus me sentia levíssima, em modo de penetrar em Deus, e  agora olhava a Potência, Agora a Santidade, agora a Bondade e demais, e minha alma ficava  estupefata, num mar de espanto e dizia: “Poderoso Deus, que poder diante de Ti não fica desfeito?  Santidade imensa de Deus, que outra santidade por quão sublime seja, ousará comparecer ante  sua presença?” Depois sentia-me descer em mim mesma e via o meu nada, a nulidade das coisas  terrenas, como nada é diante de Deus. Eu me via como um pequeno verme todo cheio de pó que  me arrastava para dar algum passo e que para me destruir não era preciso senão que alguém me  pusesse o pé em cima, e com isso ficava desfeita. Então, vendo-me tão feia, quase não me atrevia  a ir ante Deus, mas ante minha mente se apresentava sua bondade, e me sentia atraída como por  um ímã para ir até Ele e dizia entre mim: “Se é Santo, também é Misericordioso; se é Poderoso,  contém também em Si plena e suma Bondade”. Parecia-me que a bondade o circundava por fora,  e o inundava por dentro. Quando olhava a Bondade de Deus me parecia que ultrapassava a todos  os outros atributos, mas depois, olhando para os outros, via-os todos iguais em si mesmos,  imensos, incomensuráveis e incompreensíveis à natureza humana. Enquanto minha alma estava  neste estado, Jesus voltava e falava da Esperança.

(226) Recordo algo confusamente, porque depois de tanto tempo é impossível recordar  claramente, mas para cumprir a obediência que assim quer, direi por quanto possa.

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(227) Então disse Jesus, voltando à fé: “Para obtê-la é preciso crer. Assim como à cabeça sem a  vista dos olhos tudo é trevas, tudo é confusão, tanto que se quisesse caminhar, agora cairia em um  ponto, agora em outro e terminaria com precipitar-se de todo, assim o alma sem fé, não faz outra  coisa que ir de precipício em precipício, porque a fé serve de vista à alma e como luz que a guia à  vida eterna. Agora, de que é alimentada esta luz da fé? Pela esperança. E de que substância é  esta luz da fé e este alimento da esperança? A caridade. Estas três virtudes estão enxertadas entre  elas, de modo que uma não pode estar sem a outra”.

(228) Com efeito, de que serve ao homem crer nas imensas riquezas da fé, se não as espera para  ele? As verá, sim, mas com olhar indiferente porque sabe que não são suas, mas a esperança  fornece as asas à luz da fé, e esperando nos méritos de Jesus Cristo olha-as como suas e vem  amá-las.

(229) “A esperança”. Dizia Jesus, “fornece à alma uma veste de força, quase de ferro, de modo  que todos os inimigos com suas flechas não podem feri-la, e não só feri-la, senão que nem sequer  lhe causar o mínimo incômodo. Tudo é tranquilidade nela, tudo é paz. Ah! É bom ver esta alma  investida pela esperança, toda apoiada no seu amado, toda desconfiada de si, e toda confiante em  Deus; desafia os inimigos mais ferozes, é rainha das suas paixões, regula todo o seu interior, as  suas inclinações, os desejos, os batimentos, os pensamentos, com tal mestria, que o próprio Jesus  fica apaixonado porque vê que esta alma trabalha com tal coragem e fortaleza; mas ela os toma e  o espera todo dele, tanto que Jesus vendo esta firme esperança, nada sabe negar a esta alma”.

(230) Agora, enquanto Jesus falava da esperança, retirava-se um pouco, deixando-me uma luz na  inteligência. Quem pode dizer o que entendia sobre esperança? Se as outras virtudes, todas  servem para embelezar a alma, mas podem nos fazer vacilar e nos tornar inconstantes, em troca a  esperança volta à alma firme e estável, como aqueles montes altos que não se podem mover nem  um pouco. Parece-me que a alma investida pela esperança lhe sucede como a certos montes  altíssimos, que todas as inclemências do ar não lhes podem fazer nenhum dano, sobre estes  montes não penetra nem neve, nem ventos, nem calor, qualquer coisa se poderia pôr sobre eles, e  se pode estar seguro que ainda que passassem centenas de anos, Onde quer que ele esteja, está  lá. Assim é a alma vestida pela esperança, nada a pode prejudicar, nem a tribulação, nem a  pobreza, nem todos os acidentes da vida, no máximo a desanimam um instante, mas diz entre si:  “Eu tudo posso fazer, tudo posso suportar, todo sofrer esperando em Jesus que é o objeto de todas  as minhas esperanças”. A esperança torna a alma quase onipotente, invencível e lhe fornece a  perseverança final, tanto que só cessa de esperar e perseverar quando tomou posse do Reino do  Céu, então deixa a esperança e toda se lança no oceano imenso do Amor Divino. Enquanto a  minha alma se perdia no mar imenso da esperança, o meu amado Jesus regressava e falava da  caridade dizendo-me:

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(231) “À fé e à esperança une-se a caridade, e esta une tudo o que há nas outras duas, de modo a  formar uma só enquanto são três. Eis, ó minha esposa, simbolizada nas três virtudes teologais à  Trindade das Divinas Pessoas”

(232) Depois prosseguiu: “Se a fé faz crer, a esperança faz esperar, a caridade faz amar. Se a fé é  luz e serve de vista à alma, a esperança que é o alimento da fé fornece à alma o valor, a paz, a  perseverança e todo o resto; a caridade que é a substância desta luz e deste alimento, É como  aquele unguento dulcíssimo e odoroso que penetrando por toda parte, aplaca, adoça as penas da  vida. A caridade torna doce o sofrer e faz chegar a alma até mesmo a desejar este sofrimento. A  alma que possui a caridade expande odor por toda parte, suas obras feitas todas por amor  despedem odor gratíssimo, e qual é este odor? É o cheiro do próprio Deus. As outras virtudes  tornam a alma solitária e quase rústica com as criaturas; a caridade, ao contrário, sendo substância  que une, une os corações, mas onde? Em Deus. A caridade sendo unguento perfumado se  expande por toda parte e por todos. A caridade faz sofrer com alegria os mais impiedosos  tormentos, e chega a não saber estar sem o sofrer, e quando se vê privada dele diz a seu esposo  Jesus: “Me sustente com os frutos, como é o sofrimento, porque definho de amor, e em que outra  maneira posso te mostrar meu amor senão no sofrer por Ti? A caridade queima, consome todas as  outras coisas, e até as mesmas virtudes, e converte tudo nela. Em suma, é como uma rainha que  quer reinar em toda parte, e que não quer ceder este reinar a nenhum”.

(233) Quem pode dizer o que me ficou depois deste falar de Jesus? Só digo que se acendeu em  mim tal desejo de sofrer, e não só desejo, senão que sinto em mim como uma infusão, como uma  coisa natural, tanto, que tenho para mim como a maior desgraça o não sofrer. Depois disso,  naquela manhã, Jesus, para dispor principalmente meu coração, falou sobre a aniquilação de mim  mesma, também me falou sobre o desejo grandíssimo que devia me excitar para me dispor a  receber a graça. Dizia-me que o desejo supre as faltas e imperfeições que possam existir na alma,  que é como um manto que cobre tudo. Mas isto não era um falar simplesmente, era um infundir em  mim o que dizia.

(234) Enquanto minha alma estava se excitando em ardentes desejos de receber a graça o próprio  Jesus queria fazer-me, Ele voltou e transportou-me para fora de mim mesma, para o paraíso, e ali,  diante da presença da Santíssima Trindade e de toda a corte celestial renovou o matrimonio. Jesus  tirou o anel adornado com três pedras preciosas, branca, vermelha e verde e o entregou ao Pai  que o abençoou e o devolveu ao Filho, o Espírito Santo me tomou a mão direita e Jesus me pôs o  anel no dedo anular. Depois fui admitida ao beijo da Três Divinas Pessoas e me abençoaram.

(235) Quem pode dizer minha confusão quando me encontrei diante da Santíssima Trindade? Só digo que assim que me encontrei ante sua presença caí rosto em terra e ali haveria permanecido  se não tivesse sido por Jesus que me animou para ir a sua presença, tanta era a luz, a Santidade

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de Deus. Só digo isto, as outras coisas deixo-as porque as recordo confusamente. (236) Depois disto, recordo que passaram poucos dias, e ao receber a Comunhão perdi os  sentidos e vi a Santíssima Trindade que tinha visto no Céu presente diante de mim, logo me  prostrei ante sua presença, a adorei, confessei meu nada. Lembro-me que me sentia tão abismada  em mim mesma que não me atrevia a dizer uma só palavra, quando uma voz saiu do meio deles e  disse:

(237) “Não temas, dá-te ânimo, viemos para te confirmar como nossa e tomar posse do teu  coração”.

(238) Enquanto esta voz assim dizia, vi que a Santíssima Trindade desceu em meu coração e se  apoderaram dele e aí formaram sua sede. Quem pode dizer a mudança que aconteceu em mim?  Sentia-me divinizada, não mais vivia eu mas eles viviam em mim. A mim me parecia que meu  corpo fosse como uma habitação, e que dentro habitasse o Deus vivente, porque eu sentia a  presença real sensivelmente em meu interior, ouvia sua voz clara que saía de dentro de meu  interior e ressoava nos ouvidos do corpo. Acontecia precisamente como quando há pessoas dentro  de uma sala, que falam e suas vozes se ouvem claras e distintas mesmo de fora.

(239) Desde então não tive mais a necessidade de ir em sua busca a outros lugares para encontra-lo, mas estava dentro do meu coração. E quando algumas vezes se escondia e eu fui em  busca de Jesus girando pelo céu e pela terra, buscando a meu sumo e único Bem, enquanto me  encontrava na fogueira das lágrimas, na intensidade dos desejos, nas penas inenarráveis por havê lo perdido, Jesus saía de dentro de mim e me dizia:

(240) “Estou aqui contigo, não me procures em outro lugar”.

(241) Eu, entre o espanto e o contentamento de tê-lo encontrado, dizia-lhe: “Meu Jesus, como toda  esta manhã me fizeste girar e girar para te encontrar e estavas aqui? Podias ter-me dito, para não  me ter esforçado tanto doce Bem meu, amada Vida minha, olha como estou cansada, não tenho  mais forças, sinto-me desfalecer, ah, sustem me entre seus braços porque me sinto morrer. E  Jesus me tomava em seus braços e me fazia repousar, e enquanto repousava me sentia restituir  as forças perdidas.

(242) Outras vezes, neste encobrimento que Jesus fazia e eu que ia em busca Dele, quando se  fazia ouvir dentro de mim e que depois saía de dentro de mim não só Jesus, mas as Três Divinas  Pessoas, encontrava-as agora em forma de três crianças graciosas e sumamente belas, agora um  só corpo e três cabeças diferentes, mas de uma mesma semelhança, as três igualmente atraentes.  Quem pode dizer meu contentamento? Especialmente quando via os três meninos e que eu os  continha aos três entre meus braços, agora beijava a um, agora ao outro, e Eles me beijavam a  mim, agora um se apoiava em um ombro meu e outro no outro e um me ficava de frente, e  enquanto me gozava neles, com grande assombro fazia por olhar, e de três encontrava a um só.

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(243) Outra coisa que me maravilhava quando me encontrava com estas três crianças era que o mesmo pesava um que os três juntos. Tanto amor sentia eu por uma destas crianças como pelos  três, e os três me atraíam do mesmo modo.

(244) Para terminar a minha intervenção sobre estes discursos, tive de deixar passar algumas  coisas para seguir o fio da meada, mas agora estou pronto para as dizer.

Matrimônio da cruz. Fala-lhe deste matrimônio e narra as crucifixões que sofreu.  

(245) Regressando ao princípio, quando Jesus se dignava vir, freqüentemente me falava de sua  Paixão e punha atenção a dispor minha alma à imitação de sua Vida e de suas penas, dizendo-me  que além do matrimônio já descrito ficava outro por fazer, e este era o desponsório da cruz.  Lembro-me de me dizer:

(246) “Minha esposa, as virtudes tornam-se fracas se não forem corroboradas, fortificadas pelo  enxerto da cruz. Antes de minha vinda à terra, as penas, as confusões, os opróbrios, as calúnias,  as dores, a pobreza, as enfermidades, especialmente a cruz, eram consideradas como opróbrios,  mas desde que foram levados por Mim, todos ficaram santificados e divinizados por meu contato,  Assim que todos mudaram aspecto e se tornaram doces, gratos, e a alma que tem o bem de ter  algum deles fica honrada, e isto porque recebeu a divisa de Mim, Filho de Deus. E só experimenta  o contrário quem só vê e se detém na casca da cruz, e encontrando o amargo se desgosta, se  lamenta e parece que lhe chegou uma desgraça, mas quem penetra dentro, encontrando o  saboroso, aí forma sua felicidade. Minha filha amada, não desejo outra coisa que o crucificar na  alma e no corpo”.

(247) E enquanto dizia isto sentia-me infundir tais desejos de ser crucificada com Jesus Cristo, que  freqüentemente ia repetindo: “Meu Jesus, Meu Amor, faze-o logo, crucifica – me Contigo”. E  quando Jesus regressava, as primeiras petições que lhe fazia e que me pareciam mais importantes  eram estas: a dor dos meus pecados e a graça de que me crucificasse com Ele. Parecia-me que se  obtivesse isto teria obtido tudo.

248) Então, uma manhã, o meu amantíssimo Jesus apareceu diante de mim crucificado e disse-me  que queria crucificar-me com Ele, e, enquanto dizia isto, vi que de suas santíssimas chagas saíram  raios de luz, e dentro destes raios os pregos que vinham a mim. Enquanto estava nisto, não sei por  que, enquanto desejava tanto que me crucificasse, tanto que me sentia consumir, fui surpreendida  por um grande temor que me fazia tremer da cabeça aos pés, sentia tal aniquilamento de mim  mesma, me via tão indigna de receber esta graça, que não me atrevia a dizer: “Senhor, faze-me  Contigo”. Parecia que Jesus estava em suspenso esperando o meu querer. Quem pode dizer como  no íntimo de minha alma o desejava ardentemente, mas ao mesmo tempo me via indigna? Minha

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natureza se assustava e tremia. Enquanto eu estava nisto, meu amado Jesus intelectualmente me  pedia que aceitasse, então com todo o coração lhe disse: “Esposo Santo, crucificado por mim,  peço-te que me concedas a graça de me crucificar, e ao mesmo tempo peço-te que não faças  aparecer nenhum sinal externo. Sim, dá-me a dor, dá-me as chagas, mas que tudo fique oculto  entre nós”.

(249) E assim aqueles raios de luz, juntamente com os pregos, trespassaram-me as mãos e os  pés, e o coração foi trespassado por um raio de luz juntamente com uma lança. Quem pode dizer a  dor e a alegria? Quanto mais depressa fui surpreendida pelo temor, mais tarde a minha alma  nadava no mar da paz, da alegria e da dor. Era tanto a dor que sentia nas mãos, nos pés e no  coração, que me sentia morrer; os ossos das mãos e dos pés sentia que me faziam pequenos  pedaços, sentia como se estivesse um prego dentro, mas ao mesmo tempo me causava tal  contente, que não sei explicar, e me fornecia tal força, que enquanto me sentia morrer pela dor,  essas mesmas dores me sustentavam para fazer que não morresse. Mas na parte externa do  corpo nada aparecia, mas sentia as dores corporalmente, tão é verdade, que quando vinha o  confessor para me chamar à obediência e me soltava os braços e as mãos contraídas, cada vez  que me tocava nesse ponto das mãos, onde tinha trespassado o raio de luz junto com o prego,  sentia penas mortais. No entanto, quando o confessor ordenava por obediência que cessassem  essas dores, muitos se mitigavam, porque essas dores eram tão fortes que me faziam perder os  sentidos, e se não se tivessem atenuado ante a obediência, dificilmente me teria prestado a  obedecer. ¡ Oh prodígio da santa obediência, você foi tudo para mim! Quantas vezes me encontrei  em contraste com a morte, tanta era a força das dores, e a obediência me restituiu a vida. Seja  sempre bendito o Senhor, seja tudo para sua glória.

(250) Agora, enquanto me sentia em mim mesma, nada via, mas quando perdia os sentidos via as  partes marcadas pelas chagas de Jesus, parecia-me que as chagas do próprio Jesus se tinham  transferido para as minhas mãos. Esta foi a primeira vez que Jesus me crucificou, porque destas crucifixões tem havido tantas, que é impossível numera-los todos, direi somente as coisas  principais relacionadas com isto.

(251) Agora, voltando Jesus, dizia-lhe: “Amado, meu Jesus, dá-me a dor dos meus pecados,  assim, os meus pecados consumidos pela dor, pelo arrependimento de te ter ofendido, podem ser  apagados da minha alma e também da tua memória, sim, dá-me tanta dor por quanto ousei  ofender-te. Mais bem faça que a dor supere isto, assim poderei me estreitar mais intimamente a Ti.

(252) Lembro-me que uma vez, enquanto eu estava dizendo isso, meu sempre benigno Jesus me  disse:

(253) “Já que tu desgosta tanto de ter me ofendido, eu quero que você se disponha a fazer você  sentir a dor de seus pecados, e assim veja como o pecado é feio, e que dor acerba meu coração

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sofreu. Por isso dei junto Comigo: “Se passo o mar, no mar Tu estás, embora não te veja; piso a  terra e estás debaixo dos meus pés, pequei”.

(254) Logo Jesus, em voz baixa, acrescentou quase chorando:

(255) “No entanto te amei, e ao mesmo tempo te conservei”.

(256) Enquanto Jesus dizia isto e eu o repetia junto com Ele, fui surpreendida por tal dor pelas  ofensas feitas que caí rosto a terra, e Jesus desapareceu.

(257) Poucas foram as palavras, mas eu entendi tantas coisas que é impossível dizer tudo o que  compreendi. Nas primeiras palavras compreendi a imensidão, a grandeza, a presença de Deus em  cada coisa presente, sem que pudesse escapar d’Ele nem sequer a sombra do nosso pensamento,  compreendi também o meu nada em comparação com uma Majestade tão grande e santa. Na  palavra “pequei”, compreendia a fealdade do pecado, a maldade, a ousadia que eu tinha tido ao  ofendê-lo. Agora, enquanto minha alma estava considerando isso, ao ouvir Jesus Cristo dizer: “E  ainda assim amei-te e ao mesmo tempo mantive-te”. Meu coração foi tomado por tal dor que me  sentia morrer, porque compreendia o amor imenso que o Senhor me tinha no ato mesmo em que  eu procurava ofendê-lo, e mesmo matá-lo. ¡ Ah Senhor, como você tem sido bom para mim, e eu  sempre ingrata e tão ruim ainda!

(258) Lembro que cada vez que vinha era um alternar-se, ora pedia-lhe a dor dos meus pecados,  e ora a crucificação, e também outras coisas. Como uma manhã enquanto me encontrava em  meus acostumados sofrimentos, meu amado Jesus me transportou para fora de mim mesma e me  fez ver um homem que era assassinado a balas, e que assim que expirava ia ao inferno. ¡ Oh,  quanta pena dava a Jesus a perda daquela alma! Se todo o mundo soubesse quanto Jesus sofre  pela perda das almas, não digo por elas, mas pelo menos para poupar essa pena a nosso Senhor,  usariam todos os meios possíveis para não se perder eternamente. Agora, enquanto junto com  Jesus me encontrava no meio das balas, Jesus aproximou seus lábios ao meu ouvido e me disse:

(259) “Minha filha, queres tu oferecer-te vítima pela salvação desta alma e tomar sobre ti as penas  que merece por seus grandíssimos pecados?”

(260) Eu respondi: “Senhor, estou disposta, mas com o pacto de que o salves e lhe restituas a  vida”. Quem pode dizer os sofrimentos que me chegaram? Foram tais e tantos que eu mesma não  sei como fiquei com vida. Agora, enquanto me encontrava neste estado de sofrimentos há mais de  uma hora, veio meu confessor para me chamar à obediência, e encontrando-me muito sofredor,  com dificuldade pude obedecer, por isso me perguntou a razão de tal estado, eu disse-lhe o fato  assim como o descrevi acima, dizendo-lhe o ponto da cidade onde me pareceu que tinha  acontecido. O confessor me disse que era certo o fato e que o davam por morto, mas depois se  soube que estava gravíssimo e que pouco a pouco se restabeleceu e vive ainda. Seja sempre  bendito o Senhor.

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(261) Lembro-me de que, seguindo o meu pedido de crucificação e transportando-me para fora de  mim mesma, Jesus levou-me aos lugares santos de Jerusalém, onde Nosso Senhor padeceu a sua  dolorosa Paixão, e ali encontramos muitas cruzes e o meu amado Jesus disse-me:

(262) “Se tu soubesses que bem a cruz contém em si, como torna preciosa a alma, que gema de  inestimável valor adquire quem tem o bem de possuir os sofrimentos, basta dizer-te somente que  vindo à terra não escolhi as riquezas, os prazeres, mas tive como amadas e íntimas irmãs a cruz, a  pobreza, os sofrimentos e as ignomínias”.

263) Enquanto assim dizia, mostrava um gosto tal, uma alegria pelo sofrimento, que essas  palavras me trespassavam o coração como tantos dardos ardentes, tanto que me sentia faltar a  vida se o Senhor não me concedia o sofrer, e com toda a força e a voz que tinha não fazia outra  coisa que lhe dizer: “Esposo Santo, dá-me o sofrer, dá-me as cruzes, só com isto saberei que me  amas, se me contentares com as cruzes e com os sofrimentos”. E então tomava uma daquelas  cruzes maiores que via, punha-me sobre ela e rogava a Jesus que viesse crucificar-me, e Ele se  comprazia em tomar minha mão e começava a traspassá-la com o prego, de vez em quando o  bendito Jesus me perguntava:

(264) “Que, te dói muito? Quer que eu pare?”

(265) E eu: “Não, não, meu amado, continua, dói, sim, mas estou contente”. E temia tanto que não  acabasse de me crucificar, que não fazia outra coisa senão dizer-lhe: “Faze-o depressa, ó Jesus,  faze-o depressa, não demores tanto”. Mas o que, quando tinha que cravar a outra mão, os braços  da cruz se encontravam curtos, enquanto antes me haviam parecido suficientes para poder  crucificar-me. Quem pode dizer como ficou mortificada? Isto repetia-se em muitas ocasiões, e às  vezes se os braços da cruz eram adequados, o comprimento da haste não alcançava para poder  distender os pés, em uma palavra, faltava sempre alguma coisa para não se poder cumprir de todo  a crucificação. Quem pode dizer a amargura de minha alma e os lamentos que fazia com Nosso  Senhor porque não me concedia o verdadeiro sofrimento? Dizia-lhe: “Meu amado, tudo termina em  burla, dizias-me que querias levar-me ao Céu, e logo de novo me fazias voltar à terra, dizias-me  que querias crucificar-me, e jamais chegamos à completa crucificação”. E Jesus novamente me  prometeu que me crucificaria.

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1-2

Setembro 14, 1899

(1) Uma manhã, era o dia da exaltação da cruz, o meu doce Jesus transportou-me aos lugares

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santos, mas antes disse-me tantas coisas da virtude da cruz, não me lembro de tudo, apenas  alguma coisa:

(2) “Amada minha, queres ser bela? A cruz lhe dará os traços mais belos que se podem encontrar  tanto no Céu como na terra, tanto de apaixonar a Deus que contém em Si todas as belezas”.  (3) E continuava Jesus: “Queres tu estar cheia de imensas riquezas, não por breve tempo, mas por  toda a eternidade? Pois bem, a cruz te fornecerá todas as espécies de riquezas, desde os mais  pequenos centavos, como são as pequenas cruzes, até as sumamente maiores, que são as cruzes  mais pesadas, porém os homens que são tão ávidos por ganhar dinheiro temporário, que logo  deverão deixar, não se preocupam em adquirir um centavo eterno, e quando Eu, tendo compaixão  deles, vendo sua despreocupação por tudo o que se refere ao eterno, benignamente lhes levo a  ocasião, em vez de tomá-lo a bem se indignam e me ofendem, que loucura humana, parece que a  entendem ao contrário! Minha querida, na cruz estão todos os triunfos, todas as vitórias e as  maiores aquisições, para ti não deve haver outra mira senão a cruz, e esta te bastará por tudo.  Hoje quero te contentar, aquela cruz que até agora não bastava para poder te estender e crucificar te completamente, é a cruz que tu levaste até agora, portanto, devendo crucificar-te  completamente, tens necessidade de que faça descer novas cruzes sobre ti, então aquela cruz que  até agora me levaste a levarei ao Céu para mostrá-la a toda a corte celestial como penhor de seu  amor, e outra maior farei descer do Céu para poder satisfazer meus ardentes anseios que tenho  sobre ti”.

(4) Enquanto Jesus dizia isto, apresentou-se diante de mim aquela cruz que tinha visto as outras  vezes, eu tomei-a e estendi-me sobre ela, enquanto estava assim abriu-se o Céu e dele desceu o  evangelista João, e trazia a cruz que Jesus me tinha indicado; a Rainha Mãe e muitos anjos,  quando chegaram junto a mim, tiraram-me de cima daquela cruz e puseram-me sobre a que me  tinham trazido, muito maior, um anjo tomou aquela cruz de antes e a levou ao Céu. Depois disso,  Jesus com suas próprias mãos começou a me pregar sobre aquela cruz, a Mamãe Rainha me  assistia, os anjos e João proporcionavam os pregos. Meu doce Jesus mostrava tal alegria e alegria  ao crucificar-me, que só por dar essa alegria a Jesus não só teria sofrido a cruz, mas outras penas  ainda. ¡ Ah, me parecia que o Céu fazia nova festa por mim ao ver o contente de Jesus! Muitas  almas do purgatório foram libertadas, embarcando no vôo para o Céu, e alguns pecadores foram  convertidos, porque meu Divino Esposo a todos fez partícipes do bem de meus sofrimentos. Além  disso, quem pode dizer as dores intensas que sofri ao estar bem estendida sobre a cruz e ao  serem trespassadas as mãos e os pés com os pregos? Mas especialmente nos pés era tanta A  atrocidade das penas, que não podem ser descritas. Quando terminaram de me crucificar e eu me  sentia nadando no mar das penas e das dores, a Mamãe Rainha disse a Jesus: “Meu filho, hoje é

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dia de graça, quero que lhe compartilhe todas suas penas, não fica mais que lhe atravesse o  coração com a lança e lhe renove a coroa de espinhos”. Então Jesus tomou a lança e me  traspassou o coração de lado a lado, os anjos tomaram uma coroa de espinhos muito densa, a  deram na mão à Santíssima Virgem, e Ela mesma me cravou na cabeça.

(5) Que dia memorável foi para mim! de dores, sim, mas também de contentos, de penas indizíveis,  mas também de alegrias. Basta dizer que era tanta a força das dores, que Jesus todo esse dia não  se moveu de meu lado para sustentar minha natureza que desfalecia pela intensidade das penas.  Aquelas almas do purgatório que tinham voado para o Céu, desciam junto com os anjos e  rodeavam minha cama me recreando com seus cânticos e agradecendo afetuosamente que por  meus sofrimentos as havia liberado daquelas penas.

(6) E sucedeu que, tendo passado cinco ou seis dias daquelas penas tão intensas, com grande  aflição minha, começaram a diminuir, e então pedi ao meu amado Jesus que me renovasse a  crucificação, e Ele, às vezes cedo e às vezes não, Tinha prazer em me transportar aos lugares  santos e me participava as penas de sua dolorosa Paixão. Agora a coroa de espinhos, agora a  flagelação, agora levava a cruz ao calvário e agora a crucificação. Às vezes um mistério por dia e,  às vezes, tudo num dia, segundo Ele gostava, e isto era para a minha alma de grande dor e  contentamento. Mas me resultava amarguíssimo quando mudava a cena, e em vez de sofrer eu,  era espectadora de ver sofrer a meu amadíssimo Jesus as penas da dolorosa Paixão. Ah, quantas  vezes eu estava no meio dos judeus junto com a Mãe Rainha para ver meu amado Jesus sofrer!  Ah, sim, como é verdade que é mais fácil sofrer-se a si mesmo do que ver sofrer a pessoa amada!  Outras vezes, renovando o meu doce Jesus estas crucifixões, recordo que me disse:

(7) “Amada minha, a cruz faz distinguir os réprobos dos predestinados. Bem como no dia do juízo  os bons se alegrarão ao ver a cruz, assim desde agora se pode ver se algum se salvará ou se  perderá, se ao apresentar-se a cruz a alma a abraça, a leva com resignação, com paciência e beija  e agradece à mão que a envia, é sinal de que é salvo; se ao contrário, ao apresentar-se a cruz se  irritam, a desprezam e chegam até me ofender, pode dizer que é um sinal de que essa alma se  encaminha pela via do inferno; assim farão os réprobos no dia do juízo, que ao ver a cruz se  afligirão e blasfemarão. A cruz diz tudo, a cruz é um livro que sem engano e a claras notas te diz e  te faz distinguir o santo do pecador, o perfeito do imperfeito, o fervoroso do morno. A cruz  comunica tal luz à alma, que desde agora não só faz distinguir o bom do réu, senão faz conhecer  quem deve ser mais ou menos glorioso no Céu, quem deve ocupar um posto superior ou um posto  menor. Todas as outras virtudes estão humildes e reverentes diante da virtude da cruz, e  enxertando-se com ela recebem maior brilho e esplendor”.

(8) Quem pode dizer que chamas de desejos ardentes punha em meu coração este falar de Jesus?  Sentia-me devorar pela fome de sofrer, e Ele para satisfazer minhas ânsias, ou bem, para dizê-lo

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melhor, o que Ele mesmo me infundia, renovava-me a crucificação.

(9) Recordo que às vezes, depois de renovadas estas crucifixões me dizia:

(10) “Amada do meu coração, desejo ardentemente não só crucificar-te a alma e comunicar-te as  dores da cruz ao corpo, mas desejo selar-te também o corpo com o selo das minhas chagas, e  quero ensinar-te a oração para obter esta graça, a oração é esta: “Eu me apresento diante do trono  supremo de Deus, banhada no sangue de Jesus Cristo, pedindo-lhe que, pelo mérito de suas  preclaríssimas virtudes e de sua Divindade, me conceda a graça de crucificar-me”.

(11) E eu, apesar de que sempre tive aversão a tudo o que pode aparecer exteriormente, como  ainda a tenho, no ato em que Jesus dizia, isto me sentia infundir tal anelo de satisfazer o desejo  que Ele mesmo dizia, que também eu me atrevia a dizer a Jesus que me crucifica na alma e no  corpo, e algumas vezes lhe dizia: “Esposo Santo, coisas exteriores não gostaria, e se alguma vez  me atrevo a dizê-lo, é porque Tu mesmo me dizes, e também para dar um sinal ao confessor de  que és Tu quem obra em mim. De resto não queria outra coisa senão que aquelas dores que me  fazes sofrer quando me renovas a crucificação, fossem permanentes, não queria essa diminuição  depois de algum tempo, e só isso me basta, e que da aparência externa, quanto mais o possas  manter oculto, tanto mais me contentará”.

Confissão com Jesus. Luísa se confessa com Jesus .

(12) Lembro-me confusamente que, como lhe pedia frequentemente, quando me encontrava junto  com Nosso Senhor, a dor dos meus pecados e a graça de que me perdoasse tudo o que de mal  tinha feito, e às vezes chegava a dizer-lhe que estaria contente quando de sua própria boca me  dissesse: “Eu perdoo todos os seus pecados”. E Jesus bendito, que nada sabe negar quando é  para nosso bem, uma manhã fez-se ver e me disse:

(13) “Desta vez quero fazer eu mesmo o ofício de confessor, e tu me confessarás a Mim todas as  tuas culpas, e no momento em que fizeres isto te farei compreender um por um as dores que deste  ao meu coração ao me ofender, a fim de que compreendendo tu, por quanto pode uma criatura, o  que é o pecado, tome a resolução de preferir morrer que me ofender. Enquanto tu entra no teu  nada e recita o eu pecador”.

(14) Eu, entrando em mim mesma, advertia toda a minha miséria e maldades, e diante de sua  presença tremia toda, e me faltava a força de pronunciar as palavras do eu pecador, e se o Senhor  não tivesse infundido em mim nova força, dizendo-me: “Não temas, ainda que seja juiz, sou  também teu pai, coragem, sigamos em frente”. Teria ficado lá sem dizer uma palavra. Então disse  o eu pecador toda cheia de confusão e humilhação, e como me via toda coberta por minhas culpas,  dando um olhar descobri que a culpa que mais tinha ofendido a Nosso Senhor era a soberba e por

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isso disse: “Senhor, me acuso ante tua presença de que tenho pecado de soberba”. E Ele: (15) “Aproxima-te do meu coração, ouve-me, e ouve o rasgo cruel que fizeste ao meu coração  com este pecado”.

(16) Toda tremendo pus meu ouvido sobre seu coração adorável, mas quem pode dizer o que ouvi  e compreendi naquele instante? Mas depois de tanto tempo direi só alguma coisa confusamente.  Lembro-me que o seu coração batia tão forte que parecia que queria partir-lhe o peito, logo me  parecia que se despedaçava e pela dor ficava quase destruído. ¡ Ah, se Poderia ter destruído o Ser  Divino com a soberba! Ponho uma semelhança para fazer-me entender, de outra maneira não  tenho palavras para expressar-me: Imaginai um rei e a seus pés um verme, que elevando-se e  inflando se começa a crer alguma coisa e que chega a tal atrevimento, que elevando-se pouco a  pouco, chega à cabeça do rei e quer tirar-lhe a coroa para colocá-la sobre sua cabeça, logo o  despoja de suas vestes reais, o lança do trono e finalmente trata de matá-lo. Mas o pior deste  verme é que ele mesmo não conhece seu próprio ser, engana-se a si mesmo, pois para se  desfazer dele só se necessita que o rei o ponha debaixo dos pés e o esmague, e assim  terminariam seus dias. Isso causa raiva e compaixão, e ao mesmo tempo ridiculariza o orgulho  deste verme se isto pudesse ser dado. Assim me via eu diante de Deus, o que me encheu de tal  confusão e dor que me senti renovar em meu coração o rasgo que sofria o bendito Jesus.

(17) Depois disso me deixou, e eu sentia tanta pena e compreendia como é feio este pecado de  soberba, que é impossível descrevê-lo. Quando pensei muito bem em tudo isso em mim mesma,  meu bom Jesus voltou e me disse para continuar a confissão de minhas culpas, e eu, tremendo,  continuei me acusando dos pensamentos, palavras, obras, causas e omissões, e quando via que  eu não podia seguir fazendo a confissão pela pena que sentia de havê-lo tanto ofendido, porque  tinha uma claridade tão viva diante daquele Sol divino, especialmente porque n’Ele descobria a  pequenez, a nulidade do meu ser e ficava assombrada de como eu tinha tido tanta ousadia, de  onde tinha tomado eu essa coragem de ofender a um Deus tão bom que no ato mesmo em que o  ofendia, Ele me assistia, me conservava, me alimentava, e se tinha algum rancor comigo, era para  o pecado que eu fazia, e que odiava sumamente, em troca a mim me amava imensamente, me  desculpava ante a Divina Justiça, e se ocupava tudo para remover aquele muro de divisão que  tinha produzido o pecado entre a alma e Deus. ¡ Oh, se todos pudessem ver quem é Deus, e quem  é a alma no momento em que se pecaria, todos morreriam de dor e eu acredito que o pecado seria  exilado da terra!

(18) Então, quando Jesus bendito via que pela pena não podia mais, retirava-se e me deixava para  que compreendesse muito bem o mal que tinha feito, e depois voltava de novo e eu continuava  acusando minhas culpas.

(19) Mas quem pode dizer tudo o que compreendi, e explicar, uma por uma, as diversas afrontas e

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as dores especiais que com as minhas culpas tinha causado a Nosso Senhor? Sinto-me quase  impossibilitada de me explicar e também porque não me lembro muito bem. Quando terminei minha  acusação, que durou cerca de sete horas, o amável Jesus tomou o aspecto de pai amorosíssimo, e  como eu me encontrava esgotada de forças pela dor, e muito mais porque via que não era uma dor  suficiente para me doer como convinha a minhas culpas Ele para me animar disse-me:

(20) “Eu quero suprir-te, e aplico à tua alma o mérito da dor que tive no jardim do Getsêmani. Só  isto pode satisfazer à Divina Justiça”.

(21) Depois de ter aplicado a minha alma a sua dor, então pareceu-me disposta a receber a  absolvição. Toda humilhada e confusa como estava, e prostrada aos pés do bom Pai Jesus, com  os raios que enviava à minha mente tratava de me excitar principalmente à dor dizendo, se bem  não recordo tudo: “Grande, sumo foi o mal que fiz a Ti. Estas potências minhas e estes sentidos do  corpo deviam ter sido tantas línguas para te louvar, ah, em troca foram como tantas víboras  venenosas que te mordiam e procuravam até mesmo te matar. Mas, Santo Padre, perdoe-me, não  queira me jogar de Ti pelo grande mal que te fiz pecando”

(22) E Jesus: “E tu, prometes não pecar mais e afastar do teu coração qualquer sombra de mal  que possa ofender o teu Criador?”

(23) E eu: “Ah sim, com todo o coração te prometo. mas bem quero mil vezes morrer que voltar a  pecar, nunca mais, nunca mais”.

(24) E Jesus: “E Eu te perdoo e aplico à tua alma os méritos de minha Paixão e quero lavá-la em  meu sangue”.

(25) E, enquanto dizia isto, levantou a sua mão direita abençoada e pronunciou as palavras da  absolvição, exatas às palavras que o sacerdote diz quando dá a absolvição, e no ato em que isto  fazia, de sua mão corria um rio de sangue, e minha alma ficava toda inundada por ela.  (26) Depois disso me disse: “Vem, ó filha, vem fazer penitência por teus pecados beijando minhas  feridas”.

(27) Toda tremula me levantei e lhe beijei suas sacratíssimas chagas e depois me disse: (28) “Minha filha, sê mais atenta e vigilante, porque hoje te dou a graça de não cair mais no  pecado venial voluntário”.

(29) Depois me fez outras exortações que não recordo bem e desapareceu. Quem pode dizer os  efeitos desta confissão feita a Nosso Senhor? Sentia-me toda encharcada na graça, e ficou-me tão gravada que não posso esquecê-la, e cada vez que me lembro, sinto correr um arrepio nos ossos,  e ao mesmo tempo sinto horror ao pensar qual é a minha correspondência a tantas graças que o  Senhor me fez.

(30) Outras vezes o Senhor se dignou a dar-me Ele mesmo a absolvição, às vezes tomando o  aspecto de sacerdote, e eu me confessava como se fosse sacerdote, se bem sentia diversos

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efeitos, e depois de terminada se fazia conhecer que era Jesus; e às vezes abertamente vinha  fazendo-se conhecer que era Jesus; também algumas vezes tomava o aspecto do confessor, tanto  que eu acreditava que falava com o confessor e lhe dizia todos meus temores, minhas dúvidas;  mas pelo modo de responder-me, pela suavidade da voz, entrelaçada agora como a voz do  confessor e agora como a de Jesus, por seu trato amável e pelos efeitos internos, descobria eu  quem era. Ah, se eu quisesse dizer tudo sobre estas coisas me estenderia muito! Por isso termino  e ponho ponto.

(31) Recordo que houve uma segunda guerra entre a África e a Itália, e o bendito Jesus, um dia,  cerca de nove meses antes, me transportou para fora de mim mesma e me fez ver um caminho  muito longo, cheio de cadáveres imersos no sangue que a rios inundava esse caminho. Dava  horror ver esses cadáveres expostos ao ar livre, sem nem sequer ter quem os sepultasse. Eu toda  assustada disse a Nosso Senhor: “O que é isto?”

(32) E Ele: “No próximo ano haverá guerra. Servem-se da carne para me ofender, e Eu sobre sua  carne eu quero fazer a minha justa vingança”.

(33) Ele disse outras coisas, mas já passou tanto tempo que eu não me lembro. (34) Agora, aconteceu que passado esse período de tempo começou a se ouvir que entre a Itália e  a África havia guerra. Eu rogava ao bom Jesus que livrasse muitas vítimas e que tivesse piedade  de tantas almas que iam ao inferno.

(35) Uma manhã, como o habitual me transportou fora de mim mesma e via que quase todas as  pessoas estavam convencidas de que devia vencer a Itália, me pareceu encontrar-me em Roma e  via os deputados que tinham conselhos sobre o modo como deviam conduzir a guerra para  estarem seguros de fazer vencer a Itália. Estavam tão inchados de si mesmos que davam piedade,  mas o que mais me impressionou foi ver que estes tais, quase todos eram sectários, almas  vendidas ao demônio. Que tristes tempos! parecia que propriamente reinava o reino satânico, e  sua confiança em vez de colocá-la em Deus a punham no demônio. Agora, enquanto estavam  deliberando, meu bendito Jesus me disse:

(36) “Vamos ouvir que se dizem”.

(37) Então me pareceu entrar em seu círculo junto com Jesus. Jesus passeava-se no meio e  derramava lágrimas sobre o seu miserável estado. Quando terminaram de deliberar sobre o modo  de como deviam fazer, vangloriando-se de estar seguros da vitória, Jesus se dirigiu a eles e lhes  disse, ameaçando-os:

(38) “Confiais em vós mesmos e por isso vos humilharei, desta vez perderá a Itália”. Termino da novena de Natal. As 7 meditações restantes da novena de Natal.

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(39) Agora, para obedecer retorno para dizer o que eu deixei na página 6 deste primeiro volume,  isto é, a novena de Natal, em que da segunda meditação passou para a terceira e uma voz interior  me dizia:

(40) 3º. – “Minha filha, apoia tua cabeça sobre o seio de minha Mamãe, olha dentro dele a minha  pequena Humanidade , meu Amor me devorava, os incêndios, os oceanos, os mares imensos do  Amor de minha Divindade me inundavam, me incineravam, levantavam tão alto suas chamas que  se elevavam e se estendiam por toda parte, a todas as gerações, desde o primeiro até o último  homem e minha pequena Humanidade era devorada no meio de tantas chamas, mas sabe você  que coisa queria me fazer devorar meu Eterno Amor? Ah, para as almas! E só fiquei contente  quando as devorei todas, ficando todas concebidas Comigo, era Deus, devia agir como Deus,  devia tomá-las a todas; meu Amor não me teria dado paz se tivesse excluído a alguma. Ah minha  filha, olha bem no seio da minha Mãe, fixa bem os olhos na minha Humanidade recém concebida e  nela encontrarás a tua alma concebida Comigo, e também as chamas do meu Amor que te  devoraram. ¡ Oh, quanto te amei e te amo!”.

(41) Eu me perdia no meio de tanto amor, não sabia sair dali, mas uma voz me chamava forte  dizendo-me:

(42) “Minha filha, isto é nada ainda, abraça-te mais a Mim, dá as tuas mãos à minha amada Mãe a  fim de que te tenha apertada sobre o seu seio materno, e tu dá outro olhar à minha pequena  Humanidade concebida e olha o quarto excesso do meu Amor”.

(43) 4º. – “Minha filha, do amor devorador passa a olhar meu Amor obrante. Cada alma concebida  me levou o fardo de seus pecados, de suas fraquezas e paixões, e meu Amor me ordenou tomar o  fardo de cada um, e não só concebi as almas, mas as penas de cada uma, as satisfações que  cada uma delas devia dar a meu Celestial Pai. Assim que minha Paixão foi concebida junto  Comigo. Olhe-me bem no seio de minha Celestial Mamãe. Oh como minha pequena Humanidade  era rasgada, olhe bem como minha pequena cabeça está circundada por uma coroa de espinhos,  que cingindo-me forte as têmporas me faz derramar rios de lágrimas dos olhos, e não posso me  mover para secá-las. Ah, move-te a compaixão de Mim, seca-me os olhos de tanto pranto, tu que  tens os braços livres para me poder fazer isso, estes espinhos são a coroa dos tantos  pensamentos maus que se amontoam nas mentes humanas, oh, como me picam mais estes  pensamentos que os espinhos que produz a terra, mas olhe que longa crucificação de nove meses,  não podia mover nem um dedo, nem uma mão, nem um pé, estava aqui sempre imóvel, não havia  lugar para poder me mover um pouquinho, que longa e dura crucificação, com o agregado de que  todas as obras más, tomando a forma de pregos, me trespassavam mãos e pés repetidamente”. E  assim continuava a me contar pena por pena todos os martírios de sua pequena Humanidade, e

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que amá-las dizer todas seria muito extenso. Então eu me abandonava ao pranto, e ouvia dizer em  meu interior:

(44) “Minha filha, gostaria de te abraçar mas não posso fazê-lo, não há espaço, estou imóvel, não  o posso fazer; queria ir a ti mas não posso caminhar. Por agora me abrace e venha você a Mim,  depois quando sair do seio materno irei Eu a ti”.

(45) Mas enquanto com minha fantasia o abraçava, o estreitava fortemente a meu coração, uma  voz interior me dizia:

(46) “Basta por agora minha filha, e passa a considerar o quinto excesso do meu Amor”.  (47) 5º. – Então a voz interior seguia: “Minha filha, não te afastes de Mim, não me deixes sozinho,  meu Amor quer companhia, este é outro excesso do meu Amor o não querer estar sozinho. Mas  você sabe de quem esta companhia quer? Da criatura. Olhe, no seio de minha Mãe, Comigo estão  todas as criaturas concebidas junto Comigo. Eu estou com elas todo amor, quero dizer-lhes quanto  as amo, quero falar com elas para lhes dizer as minhas alegrias e as minhas dores, para lhes dizer que vim no meio delas para as fazer felizes, para as consolar, e que estarei no meio delas como  seu irmãozinho dando a cada uma todos os meus bens, o meu reino, à custa da minha morte.  Quero lhes dar meus beijos, minhas carícias; quero me entreter com elas, mas, ai, quantas dores  me dão, quem me foge, quem se faz surda e me reduz ao silêncio, quem despreza meus bens e  não se preocupam com meu reino e correspondem meus beijos e carícias com o descuido e o  esquecimento de Mim, e meu entretenimento o convertem em amargo pranto. ¡ Oh, como estou  sozinho, apesar de estar no meio de tantos! Oh, como me pesa minha solidão! não tenho a quem  dizer uma palavra, com quem fazer um desabafo de amor; estou sempre triste e taciturno, porque  se falo não sou escutado. Ah, minha filha, peço-te, suplico-te que não me deixes sozinho em tanta  solidão! me dê o bem de me fazer falar com ouvir-me, preste ouvidos aos meus ensinamentos, Eu  sou o mestre dos mestres. Quantas coisas quero te ensinar. Se me escutares vais fazer-me parar  de chorar e entreter-me contigo, não queres tu entreter-te Comigo?”. E enquanto me abandonava  nele, compadecendo-o na sua solidão, a voz interior continuava:

(48) “Basta, basta, passa a considerar o 6º excesso do meu Amor”.

(49) 6º. – “Minha filha, vem, roga a minha amada Mãe que te faça um lugar no seu seio materno, a  fim de que tu mesma vejas o estado doloroso em que me encontro”.

(50) Então me parecia com o pensamento, que nossa Rainha Mãe, para contentar a Jesus me  fazia um pequeno lugar e me colocava dentro. Mas era tal e tanta a escuridão que não o via, só  ouvia o seu respiro e Ele dentro de mim continuava a dizer-me:

(51) “Minha filha, olha outro excesso do meu Amor. Eu sou a luz eterna, o sol é uma sombra de  minha luz, mas vê aonde me conduziu meu Amor, em que obscura prisão estou, não há nem um  raio de luz, sempre é noite para Mim, mas noite sem estrelas, sem repouso, sempre acordado,

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¡que pena! a estreiteza da prisão, sem poder me mover minimamente, as trevas densas; até o  respiro, respiro por meio do respiro de minha Mãe, oh, como é cansado! E além disso, acrescenta  as trevas das culpas das criaturas, cada culpa era uma noite para Mim, as que unindo-se juntas  formavam um abismo de escuridão sem confins. ¡ Que pena! ¡ Oh excesso do meu Amor, fazer-me  passar de uma imensidão de luz, de amplitude, a uma profundidade de densas trevas e de tais  estreitos, até me faltar a liberdade do respiro, e isto, tudo por amor das criaturas!”

(52) E enquanto isso dizia gemia, quase com gemidos sufocados por falta de espaço, e chorava.  Eu me desfazia em pranto, lhe agradecia, o compadecia, queria lhe fazer um pouco de luz com  meu amor como Ele me dizia, mas quem pode dizer tudo? A mesma voz interior acrescentava: (53) “Basta por agora. Passa ao sétimo excesso do meu Amor”.

(54) 7º. – A voz interior continuava: “Minha filha, não me deixe sozinho em tanta solidão e em tanta  escuridão, não saia do seio de minha Mãe para que veja o sétimo excesso de meu Amor. Escuta me, no seio de meu Pai Celestial Eu era plenamente feliz, não havia bem que não possuía, alegria,  felicidade, tudo estava a minha disposição; os anjos reverentes me adoravam e estavam a minhas  ordens. Ah, o excesso de meu Amor, poderia dizer que me fez trocar fortuna me restringiu nesta  tétrica prisão, me despojou de todas minhas alegrias, felicidade e bens para me vestir com todas  as infelicidades das criaturas, e tudo isto para fazer a mudança, para dar a elas minha fortuna,  minhas alegrias e minha felicidade eterna. Mas isto não teria sido nada se não tivesse encontrado  nelas só ingratidão e obstinada perfídia. Oh, como meu Amor eterno ficou surpreso ante tanta  ingratidão e chorou a obstinação e perfídia do homem. A ingratidão foi o espinho mais pungente  que me trespassou o coração desde a minha concepção até ao último instante da minha Vida, até  à minha morte. Olhe para o meu coraçãozinho, ele está ferido e está a pingar sangue. Que pena!  Que dor eu sinto! Minha filha, não sejas ingrata; a ingratidão é a pena mais dura para teu Jesus, é  fechar-me na cara as portas para me deixar de fora, aterrado de frio. Mas ante tanta ingratidão  meu Amor não se deteve e se pôs em atitude de Amor suplicante, orando, gemendo e  mendigando, e este é o oitavo excesso do meu Amor”.

(55) 8º. – “Minha filha, não me deixe sozinho, apóie sua cabeça sobre o seio de minha amada  Mamãe, porque também de fora ouvirá meus gemidos, minhas súplicas, e vendo que nem meus  gemidos nem minhas súplicas movem a compaixão de meu Amor à criatura, Ponho-me em atitude  do mais pobre dos mendigos e estendendo minha pequena mãozinha, peço por piedade, pelo  menos a título de esmola suas almas, seus afetos e seus corações. Meu Amor queria vencer a  qualquer custo o coração do homem, e vendo que depois de sete excessos de meu Amor  permanecia relutante, se fazia surdo, não se ocupava de Mim nem se queria dar a Mim, meu Amor  quis ir mais além, deveria ter-se parado, Mas não, ele queria ir além de seus limites, e do seio da  minha mãe Eu fazia chegar a minha voz a cada coração com os modos mais insinuantes, com as

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súplicas mais fervorosas, com as palavras mais penetrantes. Mas sabe o que eu dizia? “Filho meu,  dá-me o teu coração, tudo o que quiseres Eu te darei, desde que me dês o teu coração em troca;  desci do Céu para tomá-lo, ah, não me negues! Não desiludas as minhas esperanças!” E vendo-o  relutante, e que muitos me viravam as costas, passava aos gemidos, juntava as minhas mãozinhas  e chorava, com voz sufocada pelos soluços acrescentava-lhe: ” Ai, ai! sou o pequeno mendigo,  nem sequer de esmola queres dar-me o teu coração?” Não é isto um excesso maior do meu Amor,  que o Criador para se aproximar da criatura tome a forma de uma pequena criança para não lhe  infundir temor, e peça ao menos como esmola o coração da criatura, e vendo que ela não o quer  dar roga, geme e chora?”.

(56) Então me disse: “E tu não queres dar-me o teu coração? Talvez também tu queiras que eu  gema , que implore e chore, para que me dês o teu coração? Quer me negar a esmola que te  peço?

(57) E, enquanto dizia isto, ouvia como se chorasse, e eu lhe disse: “Meu Jesus, não chores, eu te  dou o meu coração e todo eu mesma”. Então a voz interna continuava: “Segue mais adiante, e  passa ao nono excesso do meu Amor”.

(58) 9º. – “Minha filha, meu estado é sempre mais doloroso, se me ama, seu olhar tenha-a fixo em  Mim, para que veja se pode dar ao seu pequeno Jesus algum consolo, uma palavrinha de amor,  uma carícia, um beijo, que dê trégua a meu pranto e a minhas aflições. Escuta minha filha, depois  de ter dado oito excessos de meu Amor, e que o homem tão mal me correspondeu, meu Amor não  se deu por vencido, e ao oitavo excesso quis acrescentar o nono, e este foram as ânsias, os  suspiros de fogo, as chamas dos desejos de que queria sair do seio materno para abraçar o  homem, e isto reduzia a minha pequena Humanidade ainda não nascida a uma agonia tal que  estava a ponto de dar meu último respiro. E enquanto eu estava prestes a dá-lo, minha Divindade,  que era inseparável de mim, me dava goles de vida, e assim retomava de novo a vida para  continuar minha agonia e voltar a morrer novamente. Este foi o nono excesso do meu Amor,  agonizar e morrer continuamente de amor pela criatura. Oh, que longa agonia de nove meses!  Oh, como o amor me sufocava e me fazia morrer! E se não tivesse tido a Divindade Comigo, que  me dava continuamente a vida cada vez que estava por morrer, o amor ter-me-ia consumado antes  de sair à luz do dia.” Depois acrescentava:

(59) “Olha para mim, escuta-me como agonia, como meu pequeno coração bate, se afana, arde;  olha para mim, agora morro”.

(60) E fazia um profundo silêncio. Eu me sentia morrer, me gelava o sangue nas veias e tremia lhe  dizia: “Meu amor, minha vida, não morra, não me deixe sozinha, Você quer amor e eu te amarei,  não te deixarei mais, me dê suas chamas para poder te amar mais e me consumar toda por Ti.

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Nihil obstat Canonico

Annibale M. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

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O REINO DA DIVINA VONTADE ENTRE AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

O chamado às criaturas à ordem, a seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Volume 02

1

Volume 02

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926 Imprima-se

Arcebispado Guadalajara Jal.,

23 de Novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigário Geral

Este livro foi traduzidos pelo site www.divinavontadadenobrasil.com

Volume 02

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Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar da sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

A Rainha do Reino da Divina Vontade

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I.M.I.

2-1 

Fevereiro 28, 1899

Por ordem do confessor começo a escrever o que acontece entre Nosso Senhor e eu dia  por dia. Ano 1899, mês de fevereiro, dia 28. 

(1) Confesso a verdade, sinto uma grande repugnância, é tanto o esforço que devo fazer para  vencer-me, que só o Senhor pode saber o rasgo da minha alma. Mas, ó santa obediência, que  atadura tão poderosa és! Só tu me podias vencer e superar todas as minhas repugnâncias, que  são como montes insuperáveis, e me atas à Vontade de Deus e do confessor. Mas, oh! Esposo  santo, por quão grande é o sacrifício, outro tanto tenho necessidade de ajuda, não quero outra  coisa senão que me introduzas em teus braços e me segures. Assim, assistida por Ti poderei  dizer só a verdade, só por tua glória e para confusão minha.

(2) Esta manhã, tendo celebrado a missa com o confessor, recebi também a comunhão. Minha  mente se encontrava num mar de confusão por causa desta obediência que me vem dada pelo  confessor de escrever tudo o que passa em meu interior. Mal recebi a Jesus comecei a dizer lhe as minhas dores, especialmente a minha insuficiência e muitas outras coisas, mas parecia  que Jesus não dava importância a mim e não respondia a nada. Uma luz veio-me à mente e eu  disse: “Talvez eu seja eu mesma a causa de Jesus não se mostrar segundo o seu costume”.  Então de todo o coração lhe disse: “Ah! Meu Bem e meu tudo, não se mostre comigo tão  indiferente, me despedaça o coração pela dor, se é pelo escrito, venha, que venha, embora me  custe o sacrifício da vida te prometo fazê-lo”. Então Jesus mudou aspecto e todo benigno me  disse:

(3) “De que temes? Não te assisti Eu as outras vezes? Minha luz te circundará por todas as  partes e assim tu poderás manifestá-lo”.

(4) Enquanto assim dizia, não sei como vi o confessor junto a Jesus e o Senhor lhe disse:  “Olha, tudo o que fazes passa para o Céu, por isso vê a pureza com a qual deves agir,  pensando que todos os teus passos, palavras e obras vêm à minha presença, e se são puros,  isto é, feitos por Mim, Eu sinto por isso uma alegria grandíssima e sinto-os em Meu redor, como  tantos mensageiros que me lembram continuamente de ti; mas se eles são feitos por fins  baixos e terrenos, sinto aborrecimento”. E enquanto assim dizia, parecia que lhe pegava as

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mãos e levantava-as para o Céu, lhe dizia: “Os olhos sempre em alto; és do Céu, obra para o  Céu”.

(5) Enquanto via o confessor e Jesus que assim lhe dizia, em minha mente me parecia que se  fizesse assim, aconteceria como quando uma pessoa deve desalojar uma casa para mudar-se  a outra, o que faz? Primeiro manda todas as coisas e tudo o que ela tem e depois vai-se ela.  Assim nós, primeiro mandamos nossas obras para tomar o lugar para nós no Céu, e depois,  quando chegar nosso tempo, iremos nós. Oh, que formoso cortejo nos farão!

(6) Agora, enquanto via o confessor, lembrei-me que ele me tinha dito que devia escrever sobre  a fé, o modo como Jesus me tinha falado sobre esta virtude. Enquanto pensava nisto, num  instante o Senhor atraiu-me de tal forma para Si, que me senti fora de mim mesma no Céu,  juntamente com Jesus, e disse-me estas palavras precisas:

(7) “A fé é Deus”.

(8) Mas estas duas palavras continham uma luz imensa, que é impossível explicá-las, mas  como posso dizê-lo: Na palavra “fé” compreendia que a fé é o próprio Deus. Assim como o  alimento material dá vida ao corpo para que não morra, assim a fé dá a vida à alma; sem a fé a  alma está morta. A fé vivifica, a fé santifica, a fé espiritualiza o homem e o faz ter fixos os olhos  num Ser Supremo, de modo que nada aprende das coisas aqui embaixo, e se as aprende, as  aprende em Deus. Oh! A felicidade de uma alma que vive de fé, seu vôo é sempre para o Céu,  em tudo o que lhe acontece se olha sempre em Deus e eis como na tribulação a fé a eleva em  Deus e não se aflige, nem sequer um lamento, sabendo que não deve formar aqui a sua  alegria, senão no Céu. Assim, se a alegria, a riqueza, os prazeres, a circundam, a fé a eleva  em Deus e diz entre si: “Quanto mais feliz e mais rica serei no Céu!” Então, esses bens  terrenos, ele se irrita, os despreza, e os coloca debaixo dos pés. Parece-me que a uma alma  que vive de fé, acontece como a uma pessoa que possui milhões e milhões de moedas e até  reinos inteiros, e outra pessoa quer oferecer-lhe um centavo. Agora, o que diria aquela? Não se  indignaria, não o jogaria na cara? E acrescento: E se esse centavo estivesse todo enlameado,  como são as coisas terrenas, e além disso, se lhe fosse dado só em empréstimo? Então ela  diria: “Imensas riquezas gozo e possuo, e você se atreve a me oferecer este vil centavo tão  enlouquecido e por pouco tempo?” Eu creio que viraria em seguida o olhar e não aceitaria o  dom. Assim faz a alma que vive de fé a respeito das coisas terrenas.

(9) Agora vamos outra vez à idéia do alimento: O corpo, tomando o alimento, não só se  sustenta, mas participa da substância do alimento que se transforma no mesmo corpo. Agora

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assim a alma que vive de fé; como a fé é o próprio Deus, a alma vem a viver do mesmo Deus,  e alimentando-se do mesmo Deus vem a participar da substância de Deus, e participando vem  a assemelhar-se a Ele e a transformar-se com o mesmo Deus, Portanto, à alma que vive de fé  acontece que santo é Deus, santa é a alma; potente Deus, potente a alma; sábio, forte, justo  Deus, sábio, forte, justa a alma, e assim de todos os demais atributos de Deus. Em suma, a  alma torna-se um pequeno deus. Oh, a bem-aventurança desta alma na terra, para depois ser  mais bem-aventurada no Céu!!

(10) Compreendi também que o que significam aquelas palavras que o Senhor diz às suas  almas prediletas: “Eu te desposarei na fé”. Que o Senhor neste místico matrimonio vem dotar  as almas de suas mesmas virtudes. Parece-me como dois esposos que unindo suas  propriedades, não se discernem mais as coisas de um e as do outro e ambos se fazem donos  de tudo. Mas no nosso caso, a alma é pobre, todo o bem é por parte do Senhor que a torna  partícipe das suas substâncias.

(11) Vida da alma é Deus, a fé é Deus e a alma possuindo a fé, vem a enxertar em si todas as  outras virtudes, de maneira que a fé está como rei no coração e as demais virtudes estão ao  seu redor, como súditas servindo à fé, assim que as mesmas virtudes, sem a fé, são virtudes  que não têm vida.

(12) Parece-me que Deus em dois modos comunica a fé ao homem: a primeira é no santo  batismo; a segunda é quando Deus bendito, depositando uma parte de sua substância na  alma, lhe comunica a virtude de fazer milagres, como a de poder ressuscitar os mortos, curar  os doentes, parar o sol e assim por diante. Oh, se o mundo tivesse fé, mudaria para um paraíso  terrestre!.

(13) Oh! Quão alto e sublime é o vôo da alma que se exercita na fé. A mim parece-me que a  alma, exercitando-se na fé, faz como aqueles tímidos passarinhos que temendo ser tomados  presos pelos caçadores ou bem por qualquer outra insidia, fazem sua morada no topo das  árvores, ou bem nas alturas, quando depois são obrigados a tomar o alimento descem, tomam  o alimento e rapidamente voam a sua morada; e alguém, mais prudente, toma o alimento e  nem sequer o come na terra, para estar mais seguro o leva ao topo das árvores e lá o

come. Assim a alma que vive de fé é tão tímida das coisas terrenas, que por temor de ser  assediada, nem sequer lhes dirige um olhar, sua morada está no alto, acima de todas as coisas  da terra e especialmente nas chagas de Jesus Cristo, e desde dentro daquelas beatas  moradas geme, chora, reza e sofre junto com seu Esposo Jesus sobre a condição e miséria em  que se encontra o gênero humano. Enquanto ela vive naquelas moradas das chagas de Jesus,

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o Senhor dá-lhe uma parte das suas virtudes, e a alma sente em si aquelas virtudes como se  fossem suas, mas contudo adverte que se bem as vê suas, o possuí-las é-lhe dado, que foram  comunicadas pelo Senhor. Acontece como a uma pessoa que recebeu um dom que ela não  possuía, agora o que faz? Toma-o e se faz dona dele, mas cada vez que o olha diz entre si:  “Isto é meu, mas me foi dado por essa pessoa”. Assim faz a alma à qual o Senhor  desprendendo de Si uma parte do seu Ser Divino, a muda em Si mesmo.

(14) Agora, esta alma, como abomina o pecado, mas ao mesmo tempo compadece dos  demais, roga por aquele que vê que caminha no caminho do precipício, se une com Jesus  Cristo e se oferece vítima para sofrer e assim aplacar a divina justiça e para livrar as criaturas  dos merecidos castigos, e se for necessário o sacrifício de sua vida oh! de bom grado o faria  para a salvação de uma só alma.

(15) Havendo-me dito o confessor que lhe explicasse como vejo a Divindade de Nosso Senhor,  respondi-lhe que era impossível saber-lhe dizer algo, mas na noite apareceu-me o bendito  Jesus e quase me repreendeu por esta minha negação e então me fez relampejar como dois  raios luminosíssimos; com o primeiro compreendi em minha inteligência que a fé é Deus e  Deus é a fé. Já tentei dizer alguma coisa sobre a fé, agora tratarei de dizer como vejo a Deus, e  este foi o segundo raio.

(16) Agora, enquanto me encontro fora de mim mesma e encontrando-me no alto dos céus  pareceu-me ver Deus dentro de uma luz e Ele mesmo parecia também luz e nesta luz  encontrava-se beleza, força, sabedoria, imensidão, altura, profundidade sem limites nem  confins, Assim, também no ar que respiramos é o próprio Deus que se respira, assim que cada  um pode fazê-lo como vida própria, como de fato é. Então, nada lhe escapa e nenhuma lhe  pode escapar. Esta luz parece ser toda voz sem que fale, toda obrante enquanto sempre  repousa; encontra-se por toda parte sem estorvar em nada, e enquanto se encontra em toda  parte, tem também seu centro. ¡ Oh Deus, como Sois incompreensível! Vejo-te, sinto-te, és a  minha Vida, restringes-te em mim, enquanto ficas sempre imenso e nada perdes de Ti, no  entanto sinto-me balbuciante e me parece não saber nem dizer nada.

(17) Para me poder explicar melhor segundo a nossa linguagem humana, direi que vejo uma  sombra de Deus em tudo o que foi criado, porque em tudo o que foi criado, onde lançou a  sombra da sua beleza, onde os seus perfumes, onde a sua luz, como no sol, onde vejo uma  sombra especial de Deus, Vejo-o como delineado neste astro, que é como o rei dos planetas. O  que é o sol? Não é outra coisa que um globo de fogo, um é o globo, mas muitos são os raios,  de modo que então podemos compreender facilmente:

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(18) 1° O globo é Deus, os raios os imensos atributos de Deus.

(19) 2°. O sol é fogo, mas ao mesmo tempo é luz e é calor, assim que a Santíssima Trindade está representada no sol: O fogo é o Pai, a luz é o Filho, o calor é o Espírito Santo, mas um é o  sol, e assim como não se pode dividir o fogo da luz e do calor, assim uma é a potência do Pai,  do Filho e do Espírito Santo, que entre eles não se podem realmente separar. E assim como o  fogo produz luz e calor ao mesmo tempo, assim não se pode conceber o fogo sem se conceber  também a luz e o calor, assim não se pode conceber o Pai antes do Filho e do Espírito Santo e  assim reciprocamente, têm os Três o mesmo princípio eterno.

(20) Acrescento que a luz do sol se expande por toda parte; assim Deus, com sua imensidão  onde quer penetra, porém recordemos que não é mais que uma sombra, porque o sol não  chegaria onde não pode penetrar com sua luz, mas Deus penetra onde quer que fosse. Deus é  Espírito puríssimo e nós o podemos simbolizar no sol que faz penetrar seus raios em qualquer  lugar, sem que ninguém os possa tomar entre as mãos, Deus olha tudo, as iniquidades, as  infâmias dos homens e Ele fica sempre o que é, puro, santo, imaculado. Sombra de Deus é o  sol que manda sua luz sobre as imundícias e fica imaculado, expande sua luz no fogo e não se  queima, no mar, nos rios e não se afoga, dá luz a todos, fecunda tudo, dá vida a tudo com seu  calor e não empobrece de luz, nem perde nada de seu calor e muito mais, enquanto faz tanto  bem a todos, ele de nenhum tem necessidade e fica sempre o que é, majestoso,  resplandecente, sem jamais mudar-se. ¡Oh! Como se representam bem no sol as qualidades  divinas, Deus, com sua imensidão se encontra no fogo e não arde, no mar e não se afoga, sob  nossos passos e não o pisamos, dá a todos e não empobrece e de ninguém tem necessidade,  vê tudo, mas é todo olhos e não há coisa que não sinta, está ao dia de cada fibra de nosso  coração, de cada pensamento de nossa mente, e sendo Espírito puríssimo não tem nem  ouvidos, nem olhos, e aconteça o que acontecer não muda jamais. O sol, investindo o mundo  com a sua luz, não se cansa, assim Deus, dando vida a todos, ajudando e regendo o mundo,  não se cansa. Para não gozar mais a luz do sol e seus benéficos efeitos, o homem pode  esconder-se, pode pôr obstáculos, mas ao sol nada lhe faz, permanece como é, o mal cairá  todo sobre o homem. Assim o pecador, com o pecado pode afastar-se de Deus e não gozar  mais de suas benéficas influências, mas a Deus nada lhe faz, todo o mal é seu.

(21) Também o arredondamento do sol me simboliza a eternidade de Deus, que não tem nem  princípio nem fim. A mesma luz penetrante do sol, que ninguém pode conter em seu olho, e que  se alguém quisesse olhá-lo fixamente em pleno meio-dia ficaria ofuscado, e se o sol se  quisesse aproximar do homem, este ficaria reduzido a cinzas. Assim do Sol Divino, nenhuma

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mente criada pode restringi-lo em sua pequena mente para compreendê-lo em tudo o que é, e  se quisesse esforçar-se ficaria deslumbrada e confusa, e se este Sol Divino quisesse fazer  ostentação de todo seu amor, fazendo-o sentir ao homem enquanto ainda está em carne  mortal, o homem ficaria incinerado. Portanto, Deus tem posto uma sombra de Si e de suas  perfeições em tudo o que criou, assim parece que o vemos e o tocamos e por Ele ficamos  tocados continuamente.

(22) Além disso, depois de o Senhor ter dito aquelas palavras: “A fé é Deus”. Eu disse-lhe:  “Jesus, tu amas-me?”

(23) E Ele acrescentou: “E tu, queres-Me?”

(24) Eu imediatamente disse: “Sim, Jesus, e Tu sabes disso, que sem Ti sinto que me falta a  vida”.

(25) “Pois bem”. Jesus acrescentou. “Tu me queres, Eu também, portanto, amemo-nos e  estejamos sempre juntos”.

(26) Assim terminou por esta manhã. Agora, quem pode dizer o quanto minha mente entendeu  este Sol Divino? Parece-me vê-lo e tocá-lo por toda parte, aliás, sinto-me revestida por Ele  dentro e fora de mim mesma, mas minha capacidade é pequena, pequena, que enquanto  parece que compreende alguma coisa de Deus, ao vê-lo parece que não entendi nada, Espero  que Jesus me perdoe.

* * * * * *

2-2 

Março 10, 1899

O Senhor o faz ver muitos castigos. 

(1) Estando em meu habitual estado, fez-se ver meu sempre amável Jesus, todo amargo e  aflito e me disse:

(2) “Minha filha, minha justiça se tornou muito pesada, e são tantas as ofensas que me fazem  os homens que não posso mais sustentá-las. Portanto a foice da morte está a ponto de matar a  muitos, de improviso e de enfermidades, e além disso são tantos os castigos que verterei sobre  o mundo, que serão uma espécie de juízo”.

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(3) Quem pode dizer os tantos castigos que me fez ver, e o modo como eu fiquei aterrorizada e  espantada? É tanta a dor que sente minha alma, que acho que é melhor passá-la em silêncio. (4) Continuo dizendo porque a obediência o quer; então me parecia ver as ruas cheias de  carne humana e o sangue que inundava a terra, cidades sitiadas por inimigos que não  perdoavam nem sequer as crianças; me pareciam como tantos animais saídos do inferno, não  respeitaram nem igrejas nem sacerdotes. Parecia que o Senhor mandava um castigo do Céu,  qualquer que seja não sei dizer, só me parecia que todos receberemos um golpe mortal, e  quem ficará vítima da morte e quem se recuperará. E pareceu-me também ver as plantas secas  e muitos outros males que devem vir em cima das colheitas. ¡ Ó Deus, que pena ver estas  coisas e estar obrigada a manifestá-las! ¡ Ah Senhor, se apresse, eu espero que seu sangue e  suas chagas sejam nosso remédio, ou então os jogue sobre esta pecadora, pois os mereço, de  outra maneira leve-me e então estará livre de fazer o que quiser, mas enquanto viva farei o  possível para me opor!

* * * * * *

2-3 

Março 13, 1899

A caridade não é outra coisa que o desabafo do Ser Divino. Todo o criado fala do amor  de Deus pelo homem, e ensina-lhe o modo como deve amar a Deus. 

(1) Esta manhã o amado Jesus não se fazia ver conforme o habitual, toda amabilidade e  doçura, senão severo, minha mente me sentia em um mar de confusão e minha alma tão  afligida e aniquilada, especialmente pelos castigos vistos nos dias passados; Vendo-o naquele  aspecto não me atrevia a dizer-lhe nada, nos olhávamos mas em silêncio. ¡ Ó Deus, que  pena! Quando de repente vi também o confessor e Jesus mandando um raio de luz intelectual  disse estas palavras:

(2) “Caridade, a caridade não é outra coisa que um desabafo do Ser Divino, e este desabafo o  difunde sobre todo o criado, de modo que todo o criado fala do amor que tenho ao homem, e  lhe ensina o modo como deve me amar; começando desde o ser maior até a mais pequena flor  do campo diz ao homem: “Com o meu suave perfume e com estar-me sempre dirigida para o  céu, tento enviar uma homenagem ao meu Criador; também tu, faz com que todas as tuas  ações sejam perfumadas, santas, puras, Não faças com que o mau cheiro dos teus atos ofenda  o meu Criador”.

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¡Ah, homem! Repete a florzinha, “não sejas tão insensato de ter os olhos fixos à terra, mas  eleva-os ao Céu, olha, lá em cima está o teu destino, a tua pátria, lá em cima está o Criador  meu e teu que te espera”. A água que continuamente corre sob nossos olhos nos diz também:  “Olha, das trevas saí e tanto devo correr e correr até que chegue a sepultar-me no lugar de  onde saí, também tu, ó homem! corre, mas corre ao seio de Deus de onde saíste; ah! Peço-te,  não corras os caminhos tortos, os caminhos que conduzem ao precipício, de outra maneira, ai  de ti!”

Também as bestas mais selvagens nos repetem: “Olha, oh! homem como deves ser selvático  para tudo o que não é Deus; olha, quando nós vemos que alguém se aproxima de nós, com os  nossos rugidos colocamos tanto espanto, que ninguém se atreve a aproximar-se mais a  perturbar a nossa solidão, também tu, quando o fedor das coisas terrenas, seja as tuas paixões  violentas, estejam para te enlamear e te fazer cair no precipício das culpas, com os rugidos da  tua oração e com retirar-te das ocasiões em que te encontras, estarás a salvo de qualquer  perigo”. Assim todos os outros seres, que dizê-los todos seria muito longo, com voz unânime  ressoam entre eles e repetem-nos: “Olha, ó! homem, por amor teu nos criou nosso Criador e  todos estamos a teu serviço, tu não sejas tão ingrato, ama, rogamos-te, te repetimos, ama a  nosso Criador!”.

(3) Depois disto, o meu amável Jesus disse-me: “Isto é tudo o que quero: “Amar a Deus e ao  próximo por amor meu”. Vê quanto amei ao homem, e ele é tão ingrato; como queres tu que  não o castigue?”.

(4) No mesmo instante parecia-me ver uma granizada terrível e um terremoto que deve fazer  notável dano, até destruir as plantas e os homens. Então, com toda a amargura de minha alma  lhe disse: “Meu sempre amável Jesus, por que está tão indignado? Se o homem é ingrato, não  é tanto por malícia mas por debilidade. Oh! Se te conhecessem um pouco, como seriam  humildes e amorosos, por isso, acalma-te, pelo menos te confio Corato e àqueles que me  pertencem”.

(5) No momento de dizer isto, parecia-me que também em Corato devia acontecer algo, mas  em comparação com o que acontecerá nos outros lugares não será nada.

* * * * * *

2-4 

Março 14, 1899

11

Jesus refugia-se no coração e chora a sorte das criaturas. 

A alma faz de tudo para consolá-lo e chora junto com Jesus. 

(1) Esta manhã o meu dulcíssimo Jesus, transportando-me juntamente com Ele, fazia-me ver a  multiplicidade dos pecados que se cometem, e eram tais e tantos, que é impossível descrevê los; via também no ar uma estrela de tamanho desmesurado, e em sua circunferência continha  fogo negro e sangue; infundia tal temor e espanto ao olhá-la, que parecia que fosse menor mal  a morte do que viver em tempos tão tristes. Em outros lugares se viam os vulcões, que abrindo  outros tantos crateras deviam inundar até os povos vizinhos; viam-se também gentes sectárias  que irão favorecendo os incêndios, etc. Enquanto isso via, meu amável mas aflito Jesus me  disse:

(2) “Viu o quanto me ofendem e o que tenho preparado? Eu me retiro do homem”. (3) E enquanto isto dizia, nos retiramos os dois na cama, e via que neste retirar-se de Jesus, os  homens se punham a fazer ações mais feias, mais homicídios, em uma palavra, me parecia ver  gente contra gente. Quando nos retiramos, parecia que Jesus se metia em meu coração e  começou a chorar e a soluçar dizendo:

(4) “Ó homem, quanto te amei! Se você soubesse o quanto me dói ter que te punir! Mas a isto  me obriga minha justiça. Oh homem, oh homem, quanto choro e me dói sua sorte!” (5) Depois dava desabafo ao pranto e de novo repetia as palavras. Quem pode dizer a dor, o  temor, o rasgo que se fazia em minha alma, especialmente ao ver Jesus tão aflito e chorando?  Quanto mais podia esconder a minha dor, e para o consolar, dizia-lhe: “Ó Senhor, para que  nunca castigues os homens! Esposo Santo, não chores, tal como fizestes outras vezes assim  farás agora, derramarás em mim, far-me-ás sofrer a mim, e assim vossa justiça não vos  obrigará a castigar as nações”. E Jesus continuava chorando e eu repetia: “Mas escuta-me um  pouco, não me pusestes nesta cama para que seja vítima pelos demais? Por acaso não estive  disposta a sofrer as outras vezes para evitar os castigos às criaturas? Por que agora não  querem me fazer caso?” Mas com todas as minhas pobres palavras Jesus não se acalmava de  chorar, então não podendo resistir mais, também eu rompi em pranto dizendo: “Senhor, se  vossa intenção é punir aos homens, não me dá o ânimo ver sofrer tanto as criaturas, por isso,  se verdadeiramente quereis mandar os flagelos e meus pecados não me fazem merecer mais o  sofrer eu em lugar dos demais, quero ir ao Céu, Não quero estar mais sobre esta terra”. (6) Depois veio o confessor e tendo-me chamado à obediência, Jesus retirou-se e assim  terminou.

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(7) Na manhã seguinte continuava a ver Jesus retirado em meu coração, e via que as pessoas  vinham até dentro de meu coração e o pisavam, o colocavam sob os pés. Eu fazia quanto mais  podia para libertá-lo e Jesus dirigindo-se a mim me disse:

(8) “Vês até onde vai a ingratidão dos homens? Eles mesmos me obrigam a castigá-los, sem  que possa fazer de outra maneira. E tu, minha querida, depois de me teres visto sofrer tanto, te  sejam mais amadas as cruzes e sinta como deleites as penas”.

* * * * * *

2-5 

Março 18, 1899

Continua a ver Jesus retirado no seu coração. Ele diz-lhe como lhe é querida a caridade. (1) Esta manhã meu querido Jesus continuava a fazer-se ver de dentro do meu coração, e  vendo-o um pouco mais amável, armei-me de coragem e comecei a pedir-lhe que não  mandasse tantos castigos, e Jesus me disse:

(2) “O que te move, ó minha filha, a pedir-me que não castigue as criaturas?” (3) Eu imediatamente respondi: “Porque são tuas imagens e, devendo as criaturas sofrer, virias  tu mesmo a sofrer”. Então Jesus dando um suspiro me disse:

(4) “Me é tão querida a caridade, que você não pode compreendê-lo. A caridade é simples,  como meu Ser, que embora seja imenso, é também simplíssimo, tanto que não há parte na  qual não penetre. Assim a caridade, sendo simples, se difunde por toda parte, não tem  deferência por nenhum, amigo ou inimigo, vizinho ou forasteiro, a todos ama”.

* * * * * *

2-6 

Março 19, 1899

Temores. Jesus a tranquiliza. O demônio pode falar de virtude, mas não pode infundi-la  na alma. 

(1) Esta manhã, enquanto Jesus se fazia ver, eu temia que não fosse verdadeiramente Jesus,  mas o demônio que me quisesse enganar; depois que fiz os habituais protestos Jesus me  disse:

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(2) “Filha, não temas, não sou o demônio, e além disso, esse, se fala das virtudes é uma  virtude pintada, não verdadeira virtude, nem tem poder para infundi-la na alma, senão somente  de falar dela, e se alguma vez mostrar que quer fazer praticar um pouco de bem, não é  perseverante e no mesmo ato em que a alma faz esse pouco bem, a alma está desganada e  agitada, só Eu tenho a potência de infundir-me no coração e de fazer praticar as virtudes e  fazer sofrer com ânimo e tranqüilidade e com perseverança. Além disso, quando o demônio foi  em busca de virtude? Sua busca são os vícios. Por isso não tema, fique tranquila”.

* * * * * *

2-7 

Março 20, 1899

Jesus derrama suas amarguras e lhe diz a causa dos males do mundo. 

(1) Esta manhã Jesus transportou-me para fora de mim mesma e fez-me ver muitas pessoas,  todas em discórdia. Oh, quanta dor dava a Jesus! Eu, vendo-o sofrer muito, pedi-lhe que  derramasse em mim suas amarguras, mas como continuava querendo castigar o mundo, Jesus  não queria derramá-las em mim, mas depois de havê-lo pedido e voltado a pedir, para  contentar-me derramou um pouco. Então, tendo-se aliviado um pouco, disse-me:

(2) “A causa pela qual o mundo se reduziu a este triste estado, é por ter perdido a subordinação  às cabeças, e como a primeira cabeça é Deus, ao Qual se rebelaram, como conseqüência  aconteceu que perderam toda sujeição e dependência à Igreja, às leis, e a todos os outros que  se dizem cabeças. ¡ Ah! Minha filha, o que será de tantos membros infectados por este mau  exemplo dado por aqueles mesmos que se dizem cabeças, isto é, por superiores, por pais e  por tantos outros? ¡ Ah, chegarão a tanto, que não se reconhecerão mais nem pais, nem  irmãos, nem reis, nem príncipes, estes membros serão como tantas víboras que  reciprocamente se envenenarão, por isso vê como são necessários os castigos nestes tempos,  e que a morte quase destrua esta gente, para que os poucos que restam aprendam às custas  dos outros a serem humildes e obedientes! Por isso me deixe fazer, não queira se opor a que  castigue as pessoas”.

* * * * * *

2-8 

Março 31, 1899

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Jesus fala da virtude da cruz. 

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fez-se ver crucificado, e depois de me ter comunicado as  suas dores disse-me: “Muitas são as chagas que me fizeram sofrer em minha paixão, mas uma  foi a cruz; isto significa que muitos são os caminhos pelos quais atraio as almas à perfeição,  mas um é o Céu no qual estas almas devem unir-se, assim que equivocado aquele Céu, não  há outro que possa torná-las bem-aventuradas para sempre”.

(2) Depois acrescentou: “Olha um pouco, uma é a cruz, mas de vários troncos foi formada essa  cruz; isto significa que um é o Céu, mas vários lugares que este Céu contém, mais ou menos  gloriosos, e à medida dos sofrimentos sofridos aqui embaixo, mais ou menos pesados, estes  lugares serão distribuídos. ¡ Oh! , se todos conhecessem a preciosidade do sofrer, fariam  concorrência a ver quem quisesse sofrer mais, mas esta ciência não é conhecida pelo mundo,  por isso aborrecem tudo o que pode torná-los mais ricos in eterno”.

* * * * * *

2-9 

Mês de Abril, 1899

Como a humildade é a pequena planta. A humildade sem confiança é virtude falsa. 

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação e de lágrimas, eu me encontrava toda  confusa e aniquilada em mim mesma, em meu interior ia dizendo continuamente: “Diz-me, ó  meu Bem, por que te afastaste de mim, em que te ofendi que não te deixas ver mais, e se te  mostras é quase ofuscado e em silêncio? Ah, não mais me faça esperar e esperar, que meu  coração não pode mais!”.

(2) Finalmente Jesus se mostrou um pouco mais claro, e vendo-me tão aniquilada me disse: (3) “Se tu soubesses quanto me agrada a humildade! A humildade é a planta mais pequena que  se pode encontrar, mas seus ramos são tão altos que chegam até o Céu, estão em torno de  meu trono e penetram até dentro de meu coração. A pequena planta é a humildade, os ramos  que produz esta planta é a confiança, assim que não se pode dar verdadeira humildade sem  confiança. A humildade sem confiança é falsa virtude”.

(4) Pelas palavras de meu Jesus se vê que meu coração não só estava aniquilado, mas  também um pouco desanimado.

* * * * * *

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2-10 

Abril 5, 1899

Como Jesus a tem coberta em seu amor. 

(1) Minha alma continuava em seu aniquilamento e com temor de perder o doce Jesus, quando  num instante, de repente, fez-se ver e me disse:

(2) “Te tenho sob a sombra de minha caridade. Então, assim como a luz penetra por toda parte,  assim meu amor te tem coberta por toda parte e em tudo. Do que teme então? E como posso  Eu te deixar enquanto te tenho tão abismada em meu amor?”

(3) Enquanto Jesus assim dizia, eu queria lhe perguntar por que não se fazia ver segundo seu  costume, mas Jesus logo desapareceu e não me deu tempo de lhe dizer nem sequer uma  palavra. ¡ Oh Deus, que pena!

* * * * * *

2-11 

Abril 7, 1899

Luisa consola Jesus. Ele diz: Quero fazer de ti um objeto das minhas complacências. 

(1) Continua o mesmo estado, mas especialmente esta manhã passei-a amargamente, quase  tinha perdido a esperança de que Jesus viesse. Oh, quantas lágrimas eu tive que derramar! Foi  exatamente a última hora e Jesus não veio ainda. Oh, Deus! o que fazer? Meu coração estava  com uma dor tão forte e em um contínuo palpitar, tão forte, que sentia uma agonia mortal. Em  meu íntimo, dizia-lhe: “Meu bom Jesus, não vês Tu mesmo que me sinto falta da vida? Ao  menos diz-me como se pode fazer para estar sem Ti? Como se pode viver? Se bem que sou  ingrata ante tantas graças, sem embargo te amo e te ofereço esta pena amarguíssima de sua  ausência para te reparar por minha ingratidão; mas vem, Jesus tenha paciência, é tão bom, não  me faça esperar, vem. ¡ Ah! Talvez você não saiba o quão cruel tirano é o amor, e por isso não  tem compaixão de mim?” Enquanto estava neste estado tão doloroso, Jesus veio e toda  compaixão me disse:

(2) “Eis que eu vim, não chores mais, vem a Mim”.

(3) Em um instante me encontrei fora de mim mesma junto com Ele, e eu o olhava, mas com tal  temor que de novo pudesse perdê-lo, que a rios me escorriam as lágrimas dos olhos. Jesus  continuou a dizer-me:

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(4) “Não, não chores mais, olha para o quanto estou a sofrer, olha para a minha cabeça, os  espinhos penetraram tão profundamente, que não há nada lá fora. Vês quantos cortes e  sangue cobrem o meu corpo? Aproxima-te, dá-me um alívio”.

(5) Ao ocupar-me das penas de Jesus esqueci um pouco as minhas, e assim comecei por sua  cabeça, oh! como era dilacerante ver aqueles espinhos tão metidos dentro, que mal se podiam  puxar. Enquanto isso fazia, Jesus se lamentava, tanto era a dor que sofria. Depois que tirei  aquela coroa de espinhos, toda despedaçada, a uni de novo, e sabendo que o maior prazer  que se possa dar a Jesus é o sofrer por Ele, tomei-a e a afundei sobre minha cabeça.

(6) Depois, uma por uma fez-se beijar as chagas e em algumas delas queria que chupasse o  sangue. Eu tentei fazer tudo o que Ele queria, mas em silêncio silêncio, quando a Virgem  Santíssima se apresentou e me disse:

(7) “Pergunte a Jesus o que ele quer fazer de você”.

(8) Eu não me atrevia, mas a Mãe me incitava a fazê-lo; para satisfazê-la, aproximei os lábios  ao ouvido de Jesus, e disse: “Que queres fazer de mim?” E Ele respondeu: (9) “Quero fazer de ti um objeto das minhas complacências”.

(10) E no ato mesmo de dizer estas palavras desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

* * * * * *

2-12 

Abril 9, 1899

Jesus leva a Luisa para fora de si mesma, unida a Ele, não quer deixá-la e Jesus tem-na  consigo na custódia. 

(1) Esta manhã Jesus fez-se ver e transportou-me dentro de uma igreja, ali ouvi a Santa Missa  e recebi a comunhão das mãos de Jesus. Depois disto me abracei aos pés Dele, tão  fortemente que não podia me separar. O pensamento das penas dos dias passados, isto é, da  privação de Jesus, fazia-me temer tanto o perdê-lo de novo, que estando a seus pés chorava e  lhe dizia: “Desta vez, ó Jesus, não te deixarei mais, porque Tu quando te vais de mim me fazes  sofrer e esperar muito”.

(2) Então Jesus me disse: “Vem nos meus braços que quero aliviar-te das penas passadas  nestes dias”.

(3) Eu quase não me atrevia a fazê-lo, mas Jesus estendeu as mãos e me levantou de seus  pés, me abraçou e disse:

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(4) “Não temas, que não te deixo, esta manhã quero te contentar, vem estar Comigo na  custódia”.

(5) E ambos nos retiramos sob custódia. Quem pode dizer o que fizemos? Agora me beijava e  eu a Ele, agora eu repousava nele e Jesus em mim, agora via as ofensas que recebia, e eu  fazia atos de reparação pelas diferentes ofensas. Quem pode dizer a paciência de Jesus no  Sacramento? É tal e tanta que dá terror só de pensar. Mas enquanto estava fazendo isso,  Jesus me fez ver o confessor que vinha me chamar em mim mesma e me disse:

(6) “Basta por agora, vê, que a obediência te chama”.

(7) E assim me parecia que minha alma retornava ao corpo, e em efeito o confessor me  chamava à obediência.

* * * * * *

2-13 

Abril 12, 1899

Jesus disse a Luísa: Tu és o meu tabernáculo, aliás, sinto-me mais feliz em ti, porque te  compartilho as minhas dores. 

(1) Hoje, sem me fazer esperar tanto, Jesus veio logo e me disse:

(2) “Tu és o meu tabernáculo; para mim é o mesmo estar no sacramento que em teu coração,  aliás, em ti se encontra outra coisa de mais, que é o poder participar minhas penas e te ter  junto Comigo como vítima vivente ante a divina justiça, o que não encontro no Sacramento”. (3) E enquanto dizia estas palavras se fechou dentro de mim. Estando em mim, Jesus fazia-me  sentir agora as picadas dos espinhos, agora as dores da cruz, os esforços e os sofrimentos do  coração. Em torno de seu coração via um trançado de pontas de ferro que fazia sofrer muito a  Jesus. Ah! Quanta dor me dava vê-lo sofrer tanto, teria querido sofrer tudo eu antes de fazer  sofrer a meu doce Jesus, e de coração lhe pedia que a mim me desse as penas, a mim o  sofrer. Então Jesus me disse:

(4) “Filha, as ofensas que mais trespassam meu coração são as Missas ditas sacrílegamente, e  as hipocrisias”.

(5) Quem pode dizer o que compreendi nestas duas palavras? Parece-me que externamente  se faz ver que se ama, se louva ao Senhor, mas internamente se tem o veneno pronto para  matá-lo; externamente se faz ver que se quer a glória, a honra de Deus, mas internamente se  busca a honra, a estima própria. Todas as obras feitas com hipocrisia, mesmo as mais santas,  são obras todas envenenadas que amarguram o coração de Jesus.

* * * * * *

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2-14 

Abril 16, 1899

Jesus quer girar com a Luisa e fá-lo ver como é tratado pelas almas. 

(1) Estando no meu estado habitual, Jesus convidou-me a virar para ver o que faziam as  criaturas. Eu disse-lhe: “Meu adorável Jesus, esta manhã não tenho vontades de girar e ver as  ofensas que te fazem, vamos aqui os dois juntos”. Mas Jesus insistia em que queria girar,  então para agradá-lo lhe disse: “Se queres sair, vamos, mas vamos dentro de alguma igreja,  pois aí são poucas as ofensas que te fazem”.

(2) E assim fomos dentro de uma igreja, mas também ali foi ofendido, e mais que em outros  lugares, não porque nas igrejas se façam mais pecados que no mundo, senão porque são  ofensas feitas por seus mais amados, por aqueles que deveriam colocar alma e corpo para  defender a honra e a glória de Deus, por isso resultam mais dolorosas a seu coração adorável.

Então via almas devotas, que por bagatelas de nada não se preparavam bem à comunhão; sua  mente em vez de pensar em Jesus pensava em suas pequenas perturbações, em tantas coisas  de nada, e esta era sua preparação. Quanta pena davam estas almas a Jesus e quanta  compaixão davam elas, porque davam importância a tantas palhinhas, a tantas ociosidades e  em troca não se dignavam dirigir um olhar a Jesus. Então ele me disse:

(3) “Minha filha, quanto impedem estas almas que minha Graça se derrame nelas, Eu não me  fixo nas minúcias, senão no amor com o qual se aproximam, e elas ao contrário, mais se fixam  nas palhas que no amor, é mais, o amor destrói as palhas, mas com muitas palhas não se  aumenta nem um pouco o amor, mas bem o diminui. Mas o que é pior destas almas é que se  perturbam muito, perdem muito tempo, quiseram estar com os confessores horas inteiras para  dizer todas estas minúcias, mas jamais põem mãos à obra com uma boa e corajosa resolução  para extirpar estas palhas.

(4) O que te dizer além disso, oh! minha filha, de certos sacerdotes destes tempos? Pode-se  dizer que atuam quase satanicamente, chegando a fazer-se ídolos das almas. [ Ah! Sim, o meu  coração é mais trespassado pelos meus filhos, porque se os outros me ofendem mais,  ofendem as partes do meu corpo, mas os meus ofendem-me as partes mais sensíveis e  ternas, até no mais íntimo do meu coração”.

(5) Quem pode dizer a amargura de Jesus? Ao dizer estas palavras chorava amargamente. Eu  fazia quanto mais podia compadecer-lhe e repará-lo, mas enquanto isso fazia nos retiramos  juntos no leito.

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* * * * * *

2-15 

Abril 21, 1899

Vê Jesus como uma criança quando está sozinho. Medo de que ele fosse alguém para  fazer-lhe mal. Pergunta quem é, e diz-lhe que é o pobre dos pobres e que queria estar  com ela. 

(1) Esta manhã, estando no meu estado habitual, num momento me encontrei em mim mesma,  mas sem poder me mover, quando de repente senti que alguém entrava em meu quarto, depois  fechou de novo a porta e ouvi que se aproximava da minha cama. Em minha mente pensava  que alguém tinha entrado furtivamente, sem que ninguém da família o tivesse visto e tinha  penetrado até meu quarto. Quem sabe o que eu poderia fazer? Era tanto o medo que eu senti  o sangue gelar nas veias e tremia toda. Oh, Deus! O que fazer? Dizia entre mim: “A família não  o viu, eu sinto-me toda imóvel e não posso defender-me nem pedir ajuda; Jesus, Maria, Mãe  minha, ajudai-me, São José, dizei-me deste perigo”. Quando senti que subia à cama e se  aninhava junto a mim, foi tanto o temor, que abri os olhos e lhe disse: “Dize-me, quem és tu?”

(2) Ele respondeu: “Eu sou o pobre dos pobres, não tenho onde estar; vim a ti para ver se me  queres ter contigo em teu quarto, olha, sou tão pobre que nem sequer tenho vestidos, mas tu  pensará em tudo”.

(3) Eu o olhei bem, era um menino de cinco ou seis anos, sem vestidos, sem sapatos, mas  sumamente belo e gracioso, em seguida lhe respondi: “Por mim com gosto te teria, mas o que  dirá meu papai? Não sou uma pessoa livre que pode fazer o que quiser, tenho meus pais que o  impedem. Vestir-te se posso fazê-lo com meus pobres trabalhos, farei qualquer sacrifício, mas  ter-te comigo é impossível. Além disso, não tens pai, não tens mãe, não tens onde ficar?”

(4) Mas a criança amargamente respondeu: “Não tenho ninguém, ah, não me faças vaguear  mais, deixa-me estar contigo!”

(5) Eu mesma não sabia o que fazer, como tê-lo. Um pensamento me passou pela mente:  “Quem sabe, talvez seja Jesus, ou será algum demônio para me perturbar?” Então disse-lhe de  novo: “Mas dize-me a verdade, quem és tu?” E ele repetiu:

(6) “Eu sou o pobre dos pobres”.

(7) Eu respondi: “Aprendeste a santificar-te?”

(8) “Sim”. Respondeu.

(9) Pois então fá-lo, quero ver como o fazes.

(10) Ele perseguiu-se com o sinal da cruz.

(11) Eu acrescentei: “E a Ave Maria sabes dizer?”

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(12) “Sim, mas se queres que a diga, vamos dizê-la juntos”.

(13) Eu comecei a Ave Maria e Ele a dizia junto comigo, nesse momento uma luz puríssima se  desprendeu de sua fronte adorável e conheci que o pobre dos pobres era Jesus. Num instante,  com aquela luz que Jesus me enviava, fez-me perder de novo os sentidos e tirou-me de mim  mesma. Eu estava toda confusa diante de Jesus, especialmente por tantas rejeições e  rapidamente lhe disse:

(14) “Meu querido, perdoa-me, se te tivesse conhecido não te teria proibido a entrada. Além  disso, porque não me disseste que eras tu? Tenho tantas coisas para te dizer, eu ter-te-ia dito,  não teria perdido o meu tempo com tantas inutilidades e medos. Para te ter a Ti não tenho  necessidade dos meus, posso ter-te livremente porque Tu não te deixas ver por nenhum”. Mas  enquanto dizia isto, Jesus desapareceu e assim acabou tudo, deixando-me uma pena por não  lhe ter dito nada do que queria dizer-lhe.

* * * * * *

2-16 

Abril 23, 1899

Os louvores e desprezos dos outros 

(1) Hoje meditei sobre o mal que pode vir às nossas almas pelos louvores que as criaturas não  nos dão. Enquanto o aplicava a mim mesma para ver se havia em mim a complacência pelos  louvores humanos, Jesus aproximou-se de mim e disse-me:

(2) “Quando o coração está cheio do conhecimento de si mesmo, os louvores dos homens são  como aquelas ondas do mar, que se elevam e transbordam mas jamais saem de seus limites,  assim os louvores humanos fazem estrondo, alvoroçam, aproximam-se até o coração, mas  encontrando-o cheio e bem circundado pelos fortes muros do conhecimento de si mesmo, não  tendo portanto onde ficar, voltam-se atrás sem fazer nenhum mal à alma, por isso deves estar  atenta a isto, que os louvores e os desprezos das criaturas não devem ser levados em conta”.

* * * * * *

2-17 

Abril 26, 1899

Jesus a alegra com respeito ao confessor. Fala-lhe das almas desapegadas, que  enquanto não têm nada, tudo possuem.

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(1) Quando hoje meu amado Jesus se fazia ver, parecia-me que me enviava tantos raios de  luz, que toda me penetravam, quando em um instante nos encontramos fora de mim mesma e  junto se encontrava o confessor. Eu imediatamente pedi ao meu querido Jesus que lhe desse  um beijo ao confessor e que estivesse um pouco em seus braços, (Jesus era menino). Para me  contentar logo beijou o confessor no rosto, mas sem querer separar-se de mim, eu fiquei toda  aflita e lhe disse: “Meu Teseu, não era esta a minha intenção, de te fazer beijar o seu rosto,  mas a boca, a fim de que tocada pelos teus lábios puríssimos fosse santificada e fortificada  daquela debilidade, assim poderá anunciar mais livremente a santa palavra e santificar os  demais. ¡ Ah, te rogo que me contentes!” Assim, Jesus deu outro beijo, mas agora na boca  dele, e depois me disse:

(2) “Me são tão agradáveis as almas desapegadas de tudo, não só no afeto, mas também em  efeito, que à medida que vão despojando-se, assim minha luz as vai investindo e chegam a ser  como cristais, nos quais a luz do sol não encontra impedimento para penetrar dentro deles,  como o encontra nas construções e nas demais coisas materiais”.

(3) Ah! disse depois: “Crêem despojar-se, mas em troca vêm a vestir-se não só das coisas  espirituais, mas também das corporais, porque minha providência tem um cuidado todo  especial e particular por estas almas desapegadas, minha providência as cobre por toda  parte; acontece que nada têm, mas todos possuem”.

(4) Depois disso nos retiramos do confessor e encontramos muitas pessoas religiosas que  pareciam ter toda a intenção de trabalhar por fins de interesses, Jesus passando no meio delas  disse:

(5) “Ai daquele que trabalha pela finalidade de adquirir dinheiro, já receberam em vida seu  pagamento!”

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2-18 

Maio 2, 1899

Como na Igreja está refletido todo o Céu. 

(1) Esta manhã Jesus dava muita compaixão, estava tão aflito e sofredor que eu não me atrevia  a lhe fazer nenhuma pergunta, nos olhávamos em silêncio, de vez em quando me dava um  beijo e eu a Ele, e assim continuou a fazer-se ver algumas vezes. A última vez me fez ver a  Igreja dizendo-me estas palavras:

(2) “Na minha Igreja está representado todo o Céu: Assim como no Céu uma é a cabeça, que é  Deus, e muitos são os santos, de diferentes condições, ordens e méritos, assim na minha

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Igreja, uma é a cabeça, que é o Papa, e até na tiara que rodeia sua cabeça está representada  a Trindade Sacrossanta, e muitos são os membros que desta cabeça dependem, ou seja,  diferentes dignidades, diferentes ordens, superiores e inferiores, desde o menor até o maior,  todos servem para embelezar a minha Igreja, e cada um, segundo o seu grau, tem um ofício  que lhe foi dado, e com o exato cumprimento das virtudes vem dar de si na minha Igreja um  esplendor odoroso, de modo que a terra e o Céu ficam perfumados e iluminados, e as pessoas  ficam tão atraídas por esta luz e por este perfume, que é quase impossível não se render à  verdade. Deixo-te a ti considerar aqueles membros infectados, que em vez de produzir luz dão  trevas, quantos destroços fazem na minha Igreja!”

(3) Enquanto Jesus assim me dizia, vi o confessor junto a Ele, Jesus com o seu olhar  penetrante olhava-o fixamente; depois, dirigindo-se a mim, disse-me:

(4) “Quero que tenha plena confiança com o confessor, mesmo nas mínimas coisas, tanto que  entre Eu e ele não deve haver diferença alguma, porque na medida de sua confiança e da fé  que der a suas palavras, assim Eu entrarei em contato”.

(5) No momento em que Jesus dizia estas palavras lembrei-me de certas tentações do demônio  que haviam produzido em mim um pouco de desconfiança, mas Jesus com seu olho vigilante,  de imediato me tomou novamente junto a Si, e nesse mesmo instante senti-me a tirar de dentro  de mim essa desconfiança. Seja sempre bendito o Senhor, que tem tanto cuidado desta alma  tão miserável e pecadora.

* * * * * *

2-19 

Maio 6, 1899

Luisa procura Jesus entre os anjos. 

(1) Esta manhã quase não se fez ver Jesus, minha mente a sentia tão confusa que quase não  compreendia a perda de Jesus, naquele momento me senti circundada de muitos espíritos,  talvez fossem anjos, mas não sei dizê-lo com segurança. Enquanto me encontrava no meio  deles, de vez em quando me punha a indagar, pois, quem sabe? Talvez pudesse ouvir o hálito  do meu amado, mas por mais que fizesse não advertia nada que indicasse que ali estava meu  amante Bem. Quando de repente, de trás das costas, senti vir um sopro doce, súbito gritei:  “Jesus, meu Senhor!”

(2) Ele respondeu: “Luisa, o que queres?”

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(3) “Jesus, meu lindo, venha, não fique atrás de minhas costas porque não posso te ver, estive  toda esta manhã te esperando e indagando, pois talvez tivesse podido te ver no meio destes  espíritos angélicos que rodeavam a cama, mas não tive êxito, por isso me sinto muito cansada,  porque sem Ti não posso encontrar repouso, vem para repousar juntos”. Assim Jesus se pôs  junto a mim e me sustentava a cabeça. Aqueles espíritos disseram: “Senhor, quão rapidamente  te conheceu, não pela voz, mas com o sopro logo te chamou”.

(4) Jesus respondeu-lhes: “Ela conhece-me a Mim e Eu conheço-a a ela. Ela é-me tão querida,  como me é querida a pupila dos meus olhos”.

(5) E enquanto assim dizia, encontrei-me nos olhos de Jesus. Quem pode dizer o que senti  estando naqueles olhos puríssimos? É impossível expressá-lo com palavras, os próprios anjos  ficaram surpreendidos.

* * * * *

2-20 

Maio 7, 1899

Da pureza da intenção e da verdadeira caridade. 

(1) Enquanto no dia fiz a meditação, Jesus continuava a fazer-se ver junto a mim e disse-me: (2) “Minha pessoa está circundada por todas as obras que fazem as almas como por um  vestido, e à medida da pureza de intenção e da intensidade do amor com o qual se fazem,  assim me dão mais esplendor, e eu lhes darei mais glória, tanto que no dia do juízo as  mostrarei a todo o mundo para fazer conhecer o modo como me honraram meus filhos e o  modo como Eu os honro a eles”.

(3) Então, tomando um ar mais aflito acrescentou:

(4) “Minha filha, o que será de tantas obras, mesmo boas, feitas sem reta intenção, por  costume e com fins de interesse? Qual não será sua vergonha no dia do juízo, ao ver tantas  boas obras em si mesmas, mas murchas por sua intenção, que em vez de dar-lhes honra como  a tantos outros, as mesmas ações produzirão vergonha? Porque não são as grandes obras que  olho, mas a intenção com a qual se fazem, aqui está toda a minha atenção”.

(5) Por um momento Jesus fez silêncio e eu pensava nas palavras que tinha dito, e enquanto  as estava ruminando em minha mente, especialmente sobre a pureza de intenção e como  fazendo o bem às criaturas, as mesmas criaturas devem desaparecer, fazendo uma criatura  com o mesmo Senhor, e fazendo como se as criaturas não existissem, Jesus voltou a falar  dizendo-me:

(6) “No entanto, é esse o caso. Olhe, meu coração é grandíssimo, mas a porta é estreitíssima,  ninguém pode preencher o vazio deste coração, senão só as almas desapegadas, nuas e

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simples, porque como você vê, sendo a porta pequena, qualquer impedimento, ainda mínimo,  isto é, uma sombra de apego, de intenção errônea, uma obra sem o fim de me agradar, impede  que entrem a deleitar-se em meu coração. O amor do próximo muito agrada ao meu coração,  mas deve estar tão unido ao meu, que deve formar um só, sem poder distinguir-se um do outro;  mas aquele outro amor ao próximo que não está transformado em meu amor, Eu não o olho  como coisa que me pertença”.

* * * * * *

2-21 

Maio 9, 1899

Lamentos, petições, colóquio com Jesus. 

(1) Esta manhã encontrava-me num mar de aflição pela perda de Jesus. Depois de muito espe rar veio, e se apertava tanto a mim, que não podia nem sequer vê-lo, chegava a pôr sua testa  sobre a minha, apoiava seu rosto sobre o meu e assim todos os demais membros. Agora, en quanto Jesus estava nesta posição, eu lhe disse: “Meu adorável Jesus, você não me ama  mais?”

(2) E Ele: “Se não te amasse não estaria tão perto de ti”.

(3) E eu voltei a dizer-lhe: “Como me dizes que me amas se não me fazes mais sofrer como  antes? Temo que não me queira mais neste estado, ao menos me liberte então do incômodo  do confessor”.

(4) Enquanto dizia isto, parecia que Jesus ignorava as minhas palavras e me fazia ver uma  multidão de gente que cometia toda classe de infâmias, e Jesus indignado com eles, fazia cair  entre eles diferentes tipos de enfermidades contagiosas, e muitos morriam negros como car vão, parecia que Jesus exterminava da face da terra aquela multidão de pessoas. Enquanto via  isto, pedi a Jesus que pusesse em mim as suas amarguras, a fim de que eu pudesse livrar o  povo, mas nem sequer nisto me dava ouvidos; e respondendo-me às palavras que antes lhe  tinha dito acrescentou:

(5) “O maior castigo que posso dar a ti, ao sacerdote e ao povo, é se eu te libertar deste estado  de sofrimento. A minha justiça desabafaria com toda a sua ira, porque não encontraria mais  oposição. Tanto é verdade, que o pior mal para alguém é ser posto em um ofício e depois ser  deposto, melhor para ele se não lhe tivesse sido encarregado aquele ofício, porque abusando e  não aproveitando se torna indigno”.

(6) Depois Jesus continuou a vir várias vezes no dia de hoje, mas tão aflito que dava piedade e  até fazia chorar, talvez até as mesmas pedras. Por quanto pude procurei consolá-lo, agora o

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abraçava, agora lhe segurava a cabeça tão sofredora, agora lhe dizia: “Coração do meu cora ção, Jesus, nunca foi teu costume aparecer-te a mim tão aflito, se outras vezes te fizeste ver  afligido, com verter em mim tuas amarguras logo mudaste aspecto, mas agora me é negado  dar-te este alívio. Quem diria, que depois de tanto tempo que te dignaste derramar tuas amar guras em mim e fazer-me partícipe de teus sofrimentos, e que Tu mesmo tem feito tanto para  dispor-me, agora deva ficar privada? Sofrer por seu amor era meu único alívio, era o sofrer o  que me fazia suportar o exílio do Céu, mas agora, faltando-me isto sinto que não tenho mais  onde me apoiar e a vida me dá incômodo. ¡ Ah! Esposo santo, amado Bem, amada Vida minha,  faz que voltem a mim as penas, dá-me o sofrer, não olhes minha indignidade e meus graves  pecados, senão tua grande Misericórdia que não está esgotada”.

(7) Enquanto desabafava com Jesus, Ele, aproximando-se mais a mim, disse-me: (8) “Minha filha, é minha Justiça que quer desafogar-se sobre as criaturas; o número de  pecados dos homens está quase completo, e a Justiça quer sair fora para fazer gala de sua ira  e reparar-se das injustiças dos homens. Bom, para te fazer ver como estou amargurado e para  te contentar um pouco, quero verter em ti só meu alento”.

(9) E assim, aproximando seus lábios aos meus me enviava seu respiro, que era tão amargo  que me sentia amargar a boca, o coração e toda minha pessoa. Se seu único fôlego era tão  amargo, o que será do resto de Jesus? Deixou-me tanta pena, que me senti trespassar o  coração.

* * * * * *

2-22 

Maio 12, 1899

Jesus a alegra, derrama de seu lado doçuras e amarguras. Passa a jornada junto  com Jesus. 

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus continuava a fazer-Se ver afligido, transportou-me para  fora de mim mesma e me fazia ver as ofensas que recebia, e eu comecei a pedir de novo que  derramasse em mim suas amarguras. Jesus no princípio não me ouvia e só me disse: (2) “Minha filha, a caridade só é perfeita quando é feita com o único fim de me agradar, e então  é verdadeira e é reconhecida por Mim quando está despojada de tudo”.

(3) Eu, tomando ocasião de suas mesmas palavras, lhe disse: “Amado Jesus meu, é  precisamente por isso que quero que Tu derrames em mim tuas amarguras, para poder aliviar te em tantas penas, e se te peço que libertes também as criaturas, é porque recordo bem que  Tu em outras ocasiões, depois de as haver castigado, ao vê-las sofrer tanto a pobreza e outras  coisas, muito sofreu também Tu. Mas quando eu estive atenta e te pedi e importunado até te

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cansar que derramasses em mim tuas amarguras, tanto que te agradavas em derramar em  mim, livrando-as a elas, depois Tu ficaste muito contente, não te lembras? Além disso, não são  as tuas imagens?”

(4) Jesus, vendo-se convencido, disse-me: “Por ti é necessário contentar-te, aproxima-te e  bebe do meu lado”.

(5) Assim fiz, aproximei-me para beber de seu lado, mas em vez de sair a amargura chupava  um sangue dulcíssimo, que toda me embriagava de amor e de doçura; sim, por isso estava  contente, mas não era esta minha intenção, por isso dirigindo-me a Ele lhe disse: “Querido  Bem meu, o que faz? Não é amargo o que me dás mas doce. Ah, rogo-te, derrama Tu em mim  tuas amarguras!” E Jesus olhando-me benignamente disse-me:

(6) “Continua a beber, que depois virá o amargo”.

(7) Assim, pondo-me de novo ao seu lado, depois de ter continuado a sair o doce, saiu também  o amargo. Mas quem pode dizer a intensidade da amargura? Depois que me fartei de beber,  me retirei e vendo sua cabeça que tinha a coroa de espinhos, a tirei e a afundei em minha  cabeça, e Jesus parecia todo condescendente, enquanto em outras ocasiões não havia  permitido isto. ¡ Como era bonito ver Jesus depois que derramou suas amarguras! Parecia  quase desarmado, sem força, tudo sossegado, como um humilde cordeirinho, todo  condescendente. Eu adverti que a hora era muito tardia, e como o confessor tinha vindo cedo  esta manhã para me chamar à obediência, não é que eu soubesse que devia ser chamada pela  obediência, porque ante a obediência Jesus me deixa livre, por isso volta para Ele lhe disse:  “Jesus dulcíssimo, não permitas que eu sirva de incômodo à família e de incômodo ao  confessor com fazê-lo vir de novo, ah, te peço, faz-me Tu mesmo retornar em mim!” E Jesus  me disse:

(8) “Minha filha, não te quero deixar neste dia”.

(9) E eu: “Nem eu tenho coração para te deixar, mas só por um pouquinho, para fazer ver a  família que estou em mim mesma e depois voltaremos a estar juntos”. Assim, depois de um  longo debate, dando-nos um adeus recíproco me deixou um pouco. Era exatamente a hora da  comida e a família vinha me chamar, e se bem me sentia em mim mesma, mas me sentia toda  cheia de sofrimento, a cabeça não a agüentava, o amargo e o doce bebido do lado de Jesus  me dava tal saciedade e sofrimento ao mesmo tempo, que me era impossível poder tomar  alguma outra coisa. A palavra dada a Jesus fazia-me sentir entre espinhos; assim, com o  pretexto de que me doía a cabeça, disse à família: “Deixai-me só, que não quero nada”. E  assim fiquei livre de novo e em seguida comecei a chamar o doce Jesus, e Ele sempre benigno  voltou; mas quem pode dizer o que passei hoje, quantas graças Jesus fez à minha alma,

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quantas coisas me fez entender? É impossível poder expressá-lo com palavras. Assim, depois  de um longo tempo, Jesus para acalmar meus sofrimentos, de sua boca derramou um leite  doce e depois para a noite me deixou dando-me sua palavra de que logo voltaria, e assim  encontrei-me de novo em mim mesma, mas um pouco mais livre de sofrimentos.

* * * * * *

2-23 

Maio 16, 1899

Jesus fala da cruz e lamenta-se das almas devotas. 

(1) Jesus continuou por outros dias manifestando-se do mesmo modo, não querendo separar se de mim. Parecia que aquele pouco de sofrimento que tinha derramado em mim o atraía  tanto, que não sabia estar sem mim. Esta manhã derramou outro pouco de amargura da sua  boca na minha e depois disse-me:

(2) “A cruz dispõe a alma à paciência. A Cruz abre o Céu e une o Céu e a Terra, isto é, Deus e  a alma. A virtude da cruz é potente e quando entra em uma alma tem a virtude de remover a  ferrugem de todas as coisas terrenas, não só isso, senão que dá o tédio, o fastio, o desprezo  das coisas da terra, e em troca lhe dá o sabor, o agrado das coisas celestiais, mas por poucos  é reconhecida a virtude da cruz, por isso a desprezam”.

(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendi da cruz enquanto Jesus falava? O falar de  Jesus não é como o nosso, que tanto se entende por quanto se diz, mas uma só palavra deixa  uma luz imensa, que ruminando bem poderia fazer estar ocupado todo o dia em profundíssima  meditação. É por isso que, se eu quisesse dizer tudo, me prolongaria demasiado e faltaria o  tempo para o fazer. Depois de um pouco Jesus voltou de novo, mas um pouco mais aflito. Eu  rapidamente lhe perguntei a causa, e Jesus me fez ver muitas almas devotas e me disse:

(4) “Minha filha, o que olho em uma alma é quando se despoja da própria vontade, então minha  Vontade a investe, a diviniza e a faz toda minha. Olha um pouco para estas almas, dizem-se  devotas enquanto as coisas vão à sua maneira, depois uma pequena coisa, se não forem  longas as suas confissões, se o confessor não as satisfaz, perdem a paz e algumas chegam a  não querer fazer mais nada. Isto diz que não é minha Vontade que predomina, mas a  delas. Então acredite em mim, minha filha, você errou o caminho, porque quando eu vejo que  você realmente quer me amar, eu tenho tantas maneiras de dar a minha Graça”.

(5) Quão triste era ver Jesus sofrer por este tipo de gente. Procurei compadecer-Lhe por  quanto pude e assim terminou.

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2-24 

Maio 19, 1899

A humildade dá a certeza dos favores celestiais. 

(1) Esta manhã tive receio de que não fosse Jesus, mas o demónio que me queria  enganar. Então Jesus veio e, vendo-me com este temor, disse-me:

(2) “A humildade é a certeza dos favores celestiais. A humildade veste a alma de tal segurança,  que as astúcias do inimigo não penetram dentro. A humildade põe a salvo todas as graças  celestiais, tanto, que onde vejo a humildade faço correr abundantemente qualquer tipo de  favores celestiais. Por isso não queira preocupar-se por isto, senão com olho simples olhe  sempre em seu interior se está investida pela bela humildade, e de todo o resto não se  preocupe”.

(3) Depois fez-me ver muitas pessoas religiosas, e entre elas, sacerdotes, também de santa  vida, mas por quanto bons fossem, não havia neles esse espírito de simplicidade para crer nas  tantas graças e nos tantos diversos modos que o Senhor tem com as almas. E Jesus me disse: (4) “Eu me comunico aos humildes e aos simples porque logo crêem em minhas graças e as  têm em grande estima, ainda que sejam ignorantes e pobres; mas com estes outros que você  vê Eu sou muito relutante, porque o primeiro passo que aproxima a alma a Mim é o crer; então  acontece que estes, com toda a sua ciência, doutrina e até santidade, nunca provam um raio  de luz celestial, isto é, caminham pelo caminho natural e jamais chegam a tocar nem sequer  por um momento o que é sobrenatural. Esta é também a causa de por que no curso de minha  vida mortal não houve nem sequer um douto, um sacerdote, um poderoso em meu seguimento,  senão todos ignorantes e de baixa condição, porque quanto mais humildes e simples, são  também mais fáceis a fazer grandes sacrifícios por Mim”.

* * * * * *

2-25 

Maio 23, 1899

Jesus brinca e fala do verdadeiro desapego. 

(1) Desta vez meu adorável Jesus queria brincar um pouco; vinha, fazia ver que me queria  escutar, mas enquanto me punha a falar, como um raio desaparecia. ¡¡ Oh Deus, que  pena! Enquanto meu coração nadava nesta tristeza amarguíssima da distância de Jesus e  estava quase um pouco inquieto, Jesus voltou de novo dizendo-me:

(2) “O que há, o que há? Mais calma, mais calma! Diga, diga, o que você quer?”

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(3) Mas no momento da resposta ele desapareceu. Eu fazia o possível para me acalmar, mas o  que, depois de algum tempo meu coração voltou a não saber dar-se paz sem seu único e só  consolo e talvez mais que antes. Jesus voltando de novo me disse:

(4) “Minha filha, a doçura tem a virtude de fazer mudar a natureza às coisas, sabe converter o  amargo em doce, por isso, mais doce, mais doce”.

(5) Mas não me deu tempo de dizer uma só palavra. Assim passei esta manhã. (6) Depois disto, senti-me fora de mim mesma juntamente com Jesus. Havia muitas pessoas,  que cobiçavam as riquezas, quem a honra, quem a glória e quem até a santidade, e tantas  outras coisas, mas não por Deus, mas para serem consideradas como algo grande pelas  outras criaturas. Jesus dirigindo-se a elas, movendo a cabeça lhes disse: (7) “Que tolos sois, estais formando a rede para enredar-vos”.

(8) Depois, dirigindo-se a mim, disse-me:

(9) “Minha filha, por isso a primeira coisa que tanto recomendo é o desapego de todas as  coisas e até de si mesmo, e quando a alma se despegou de tudo, não tem necessidade de se  fazer força para estar longe de todas as coisas da terra, que por elas mesmas se põem a seu redor, mas visto que não são levadas em conta, mas bastante desprezadas, dando-lhe um  adeus se despedem para não lhe dar mais incômodo”.

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2-26 

Maio 26, 1899

Luisa vê seu próprio nada. Jesus lhe ensina 

sobre o desprezo de si mesmo. 

(1) Esta manhã encontrava-me num tal aniquilamento de mim mesma, até me sentir odiosa e  arruinada, me parecia ser a mais abominável que se pudesse encontrar; me via como um  pequeno verme que se movia e se movia mas sempre ficava ali, na lama, sem poder dar um  passo. ¡ Oh Deus, que miséria humana! No entanto, depois de tantas graças que você me deu,  eu sou tão ruim ainda. E meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora, veio e  me disse:

(2) “O desprezo de si mesma só é louvável quando está bem investido pelo espírito de fé, mas  quando não está investido pelo espírito de fé, em vez de te fazer bem poderá te prejudicar,  porque vendo-te tal como tu és, que não podes fazer nada de bem, desconfiarás,  permanecerás abatida, sem te encorajar a dar um passo no caminho do bem, mas apoiando-te

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em Mim, isto é, investindo-te do espírito de fé, virás a conhecer e a desprezar-te a ti, e ao  mesmo tempo a conhecer-me a Mim, confiando totalmente em poder operar tudo com a minha  ajuda, e eis que fazendo desta maneira caminharás segundo a verdade”. (3) Quanto bem fez a minha alma este falar de Jesus, compreendi que devo entrar em meu  nada e conhecer quem sou eu, mas não devo deter-me ali, senão que em seguida, depois de  ter-me conhecido a mim mesma, devo voar ao mar imenso de Deus e aí deter-me a tomar  todas as graças que se necessitam para minha alma, de outra maneira a natureza fica  debilitada e o demônio buscará meios para lança-la na desconfiança.

(4) Seja sempre bendito o Senhor e sempre seja tudo para sua glória.

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2-27 

Maio 31, 1899

Jesus lamenta-se do confessor. 

(1) Esta manhã, estando no meu estado habitual, o meu adorável Jesus veio e ao mesmo  tempo vi o confessor. Jesus mostrava-se um pouco desgostoso com ele, porque parecia que o  confessor queria que todos aprovassem que o meu era obra de Deus, e quase queria  convencer a outros sacerdotes a manifestar-lhes algumas coisas do meu interior. Jesus voltou

se para o confessor e disse-lhe:

(2) “Isto é impossível, até Eu tive adversários, e isto em pessoas das mais notáveis e também  sacerdotes e outras dignidades, tiveram que dizer sobre minhas santas obras, até me tachar de  endemoninhado. Estas oposições, mesmo por pessoas religiosas, Eu as permito para fazer  com que a seu tempo possa brilhar mais a verdade. Que queiras ser aconselhado por dois ou  três sacerdotes dos mais bons e santos e até doutos, para ter luz e até para fazer o que eu  quero nas coisas que se devem fazer, como é o conselho dos bons e a oração, isto eu permito,  mas o resto não, não, seria querer fazer um desperdício de minhas obras e pô-las em  zombaria, o que muito me desgosta”.

(3) Depois me disse a mim: “O que quero de ti é um obrar recto e simples, que do pro e do  contra das criaturas não te preocupes, deixa-as pensar como queiram, sem tomar-te o mais  mínimo incômodo, pois o querer que todos sejam favoráveis é um querer desviar-se da  imitação de minha Vida”.

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2-28 

Junho 2, 1899

Acerca do conhecimento de nós mesmos. 

(1) Esta manhã o meu dulcíssimo Jesus quis fazer-me tocar com as minhas próprias mãos o  meu nada. No momento em que se fez ver, as primeiras palavras que me dirigiu foram: (2) “Quem sou eu, e quem és tu?”

(3) Nestas duas palavras vi duas luzes imensas: Numa compreendia a Deus, na outra via a  minha miséria, o meu nada. Via-me não ser outra coisa que uma sombra, como aquele reflexo  que faz o sol ao iluminar a terra, que depende do sol, e que passando a outros pontos o reflexo  termina de existir. Assim minha sombra, isto é, meu ser, depende do místico Sol Deus, e que  em um simples instante pode desfazer esta sombra. O que dizer além de como deformei esta  sombra que o Senhor me deu, não sendo sequer minha? Dá horror pensar, malcheiroso,  putrefacta, toda aguçada, e no entanto neste estado tão horrendo estava obrigada a estar  diante de um Deus tão santo, oh, como teria estado contente se me fora dado esconder-me  nos mais obscuros abismos!

(4) Depois disto Jesus me disse: “O maior favor que posso fazer a uma alma é fazer-se  conhecer a si mesma. O conhecimento de si e o conhecimento de Deus andam de mãos  dadas, pois quanto te conheceres a ti mesma outro tanto conhecerás a Deus. A alma que se  conheceu a si mesma, vendo que por si mesma não pode fazer nada de bem, esta sombra do  seu ser transforma-a em Deus e disto acontece que em Deus faz todas as suas  operações. Acontece que a alma está em Deus e caminha junto a Ele, sem olhar, sem  investigar, sem falar, em uma palavra, como morta, porque conhecendo a fundo seu nada não  se atreve a fazer nada por si mesma, senão que cegamente segue as operações do Verbo”.

(5) Parece-me que a alma que se conhece a si mesma lhe acontece como a essas pessoas  que vão em um transporte, que enquanto passam de um lugar a outro sem dar um passo por  elas mesmas, fazem longas viagens, mas tudo isso em virtude do transporte que as  leva. Assim a alma, entrando em Deus, como as pessoas no transporte, faz sublimes vôos no  caminho da perfeição, mas conhecendo plenamente que não ela, senão em virtude daquele  Deus bendito que a leva em Si mesmo. ¡ Oh! Como o Senhor favorece, enriquece, concede as  maiores graças à alma que sabendo que não a si mesma, mas tudo a Ele atribui. ¡ Oh, alma  que se conhece a si mesma, como é afortunada!

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2-29 

Junho 3, 1899

Jesus derrama suas amarguras em Luisa. 

(1) Esta manhã me encontrava num mar de aflição porque Jesus ainda não tinha vindo, sentia  tanta pena, que me sentia arrancar o coração. Quando o confessor veio para chamar-me à  obediência porque devia celebrar a santa missa, e Jesus sem fazer-se ver, nem sequer uma  sombra como é seu costume, que quando não vem se faz ver uma mão ou um braço,  especialmente quando é dia de receber a comunhão, Como esta manhã, Ele mesmo vem,  purifica-me, prepara-me para o receber a Ele mesmo sacramentalmente. E dizia entre mim:  “Esposo santo, Jesus amável, por que não vens tu mesmo preparar-me? Como poderei  receber-te?” Enquanto isso, o tempo chegou, o confessor veio, e Jesus sem vir. Que pena  dilacerante, quantas lágrimas amargas!

(2) O confessor disse-me: “Vê-lo-ás na comunhão e perguntar-lhe-ás por obediência o porque  não vem e o que quer de ti”.

(3) Depois da comunhão vi o meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora.  Transportou-me para fora de mim mesma e eu tinha-o nos braços, era como uma criança, todo  aflito. Eu, rapidamente comecei a dizer-lhe: “Meu menino, único e só Bem meu, como é que  não vens? Em que te ofendi? O que queres de mim que me faça chorar tanto?” Mas no ato de  dizer isto, era tanta a pena, que com tudo e que o tinha entre meus braços continuava  chorando. Mas mesmo antes de terminar de dizer a última palavra, Jesus, aproximando a sua  boca da minha, derramou as suas amarguras, sem me responder uma só palavra. Quando  acabava de verter eu começava de novo a dizer, mas Jesus, sem me prestar atenção, voltava a  verter em mim. Depois disto, sem me responder nada do que eu queria me disse:

(4) “Faze-me derramar em ti, de outra maneira, assim como destruí com o granizo outros  lugares, assim destruirei os vossos; por isso me faz verter e não pense em outra coisa”. (5) Assim, sem me dizer mais nada, acabou.

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2-30 

Junho 5, 1899

Luisa reza com Jesus.

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(1) Continua ainda o estado de aniquilação, mas a tal ponto que não ousava dizer uma palavra  ao meu amado Jesus. Mas esta manhã, Jesus, tendo compaixão do meu miserável estado, Ele  mesmo quis aliviar-me, e eis que: Enquanto me fez ver e eu me sentia toda aniquilada e  envergonhada diante dele, Jesus aproximou-se de mim, mas tão intimamente, que me parecia  que Ele estava em mim e eu nele, e me disse:

(2) “Minha filha amada, que tens que estás tão aflita? Diz-me tudo, que te contentarei e  remediarei tudo”.

(3) Mas como continuava a ver-me a mim mesma, como disse no dia anterior, então vendo-me  tão mal, nem sequer ousei dizer-lhe nada, mas Jesus replicou: “Logo, logo, diga-me o que  quer, não demore”.

(4) Vendo-me quase forçada e rompendo em abundante pranto lhe disse: “Jesus santo, como  queres que não esteja afligida, depois de tantas graças não devia ser tão má, às vezes até as  obras boas que busco fazer, nas mesmas orações, misturo tantos defeitos e imperfeições que  eu mesma sinto horror. O que será de você que é tão perfeito e santo? E além disso, o  escassíssimo sofrer em comparação com o de antes, sua grande demora em vir, tudo me diz  claramente que meus pecados, minhas grandes ingratidões são a causa, e que Você, zangado  comigo, me nega também o pão cotidiano que Você concede a todos geralmente, como é a  cruz; assim que depois terminará com me abandonar de todo. Pode dar-se talvez maior aflição  que esta?” Jesus, compadecendo-me toda, me apertou a seu coração e me disse:

(5) “Não temas, esta manhã faremos as coisas juntos, assim Eu suprirei as tuas”. (6) Então me pareceu que Jesus continha uma fonte de água e outra de sangue em seu peito,  e nessas duas fontes tem submergido minha alma, primeiro na água e depois no sangue.  Quem pode dizer como minha alma ficou purificada e embelezada? Depois nos pusemos a  rezar juntos recitando três “Gloria Patri” e isto me disse que o fazia para suplir a minhas  orações e adorações à Majestade de Deus. ¡ Oh, como era belo e comovedor rezar junto com  Jesus! Depois disto Jesus me disse:

(7) “Não te aflija não sofrer, queres tu antecipar a hora designada por Mim? Meu agir não é  apressado, mas tudo a seu tempo, cumpriremos cada coisa, mas a seu devido tempo”. (8) Depois, por um fato todo providencial, inesperadamente, tendo saído o viático da igreja para  ir a outros enfermos, recebi também eu a comunhão. Quem pode dizer tudo o que aconteceu  entre Jesus e eu, os beijos, as carícias que Jesus me fazia? É impossível poder dizer tudo.  Parecia-me que depois da comunhão via a sagrada partícula, e agora via na partícula a boca  de Jesus, agora os olhos, agora uma mão e depois fez-se ver todo Ele. Transportou-me para  fora de mim mesma e agora encontrava-me na abóbada dos céus e agora encontrava-me

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sobre a terra, no meio dos homens, mas sempre junto com Jesus. Ele de vez em quando ia  repetindo:

(9) “Oh, como és bela minha amada, se tu soubesses quanto te amo! E tu, quanto me amas?” (10) Ao ouvir-me dizer estas palavras, senti tal confusão que me sentia a morrer, mas com tudo  isto tive a coragem de lhe dizer: “Meu Jesus, belo, sim, amo-te muito, e Tu, se verdadeiramente  me amas tanto, diz-me também: Tu perdoas-me por todo o mal que fiz? E também concede-me  o sofrer”.

(11) E Jesus: “Sim, perdoo-te e quero-te contentar com derramar em abundância as minhas  amarguras em ti”.

(12) Assim Jesus derramou suas amarguras. Parecia-me que tinha uma fonte de amargura em  seu coração, recebidas pelas ofensas dos homens, e a maior parte a derramava em mim.  Depois Jesus me disse:

(13) “Diz-me que mais queres?”

(14) E eu: “Jesus santo, confio-te ao meu confessor, santifica-me e dá-lhe também a saúde do  corpo, e além disso, é vontade tua que venha este sacerdote?”

(15) E Jesus: “Sim”.

(16) E eu: “Se fosse a tua vontade, fá-lo-ias bem”.

(17) E Ele: “Fique quieta, não queira investigar muito meus julgamentos”. (18) E nesse mesmo instante me fazia ver a melhora da saúde do corpo e a santidade da alma  do confessor, e acrescentou:

(19) “Tu queres ser apressada, mas eu faço tudo a seu tempo”.

(20) Depois confiei-lhe as pessoas que me pertencem e pedi pelos pecadores dizendo a Jesus:  “Oh, quanto desejo que o meu corpo se reduzisse em pequeníssimos pedaços, desde que os  pecadores se convertessem!” E beijei a testa, os olhos, o rosto, a boca de Jesus, fazendo  várias adorações e reparos pelas ofensas que lhe faziam os pecadores. ¡ Oh, como estava  contente Jesus e eu também! Depois, fazendo-me prometer por Jesus que não voltaria a me  deixar, voltei em mim mesma e assim terminou.

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2-31 

Junho 8, 1899

Jesus chupa-a e ela chupa o peito de Jesus. 

(1) Meu adorável Jesus continua a fazer-se ver toda benignidade e doçura. Esta manhã,  quando eu estava com Ele, ele me disse novamente: “Diga-me, o que você quer?” E eu

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imediatamente lhe disse: “Querido Jesus meu, o que na verdade gostaria é que todo mundo se  convertesse”. (Que pedido tão disparatado) Mas ainda assim meu amante Jesus me disse: (2) “Te contentaria com tal que todos tivessem a boa vontade de salvar-se, porém para te fazer  ver que de boa vontade consentiria a tudo o que disseste, vamos juntos em metade do mundo,  e todos aqueles que encontrarmos com a boa vontade de salvar-se, por quanto maus sejam,  Eu os darei”.

(3) Assim saímos no meio das pessoas para ver quem tinha a boa vontade de salvar-se, e com  grande desgosto nosso encontramos um número tão escasso, que dá pena só pensar. E entre  este escassíssimo número estava o meu confessor e a maior parte dos sacerdotes e parte das  almas devotas, mas nem todos de Corato. Depois me fez ver as várias ofensas que recebia, eu  lhe pedi que me fizesse partícipe de seus sofrimentos, e Jesus derramou de sua boca na minha  as suas amarguras. Depois disto me disse:

(4) “Minha filha, sinto a boca muito amarga, anda, ah! te peço que a adoce”. (5) Eu lhe disse: “Com prazer te daria tudo, mas não tenho nada, me diga você mesmo que  coisa poderia te dar”. E Ele me disse:

(6) “Faz-me chupar o leite dos teus seios, e assim poderás adoçar-me”.

(7) E no mesmo instante em que disse isso, ela enrolou-se nos meus braços e começou a  chupar. Enquanto isso me veio um temor, que não fosse o menino Jesus, mas o demônio, por  isso pus minha mão sobre sua testa e lhe fiz o sinal da cruz: “Per Signum Crucis”. E Jesus  olhou para mim todo festivo, e no próprio ato de chupar sorria, e com aqueles olhos vivazes  parecia que me dizia: “Não sou demônio, não sou demônio”.

(8) Depois quando parecia que se tinha saciado, pôs-se de pé em meus braços e me beijava  toda. Agora, sentindo-me eu também a boca amarga pelas amarguras que tinha derramado em  mim, sentia vir as vontades de chupar os seios de Jesus, mas não me atrevia, então Jesus me  convidou a fazê-lo e assim tomei coragem e me pus a chupar, Oh, que doçura de paraíso vinha  daquele peito santo! Mas quem pode dizê-la? Então me encontrei em mim mesma toda  inundada de doçuras e de contentes.

(9) Agora explico que quando Jesus chupa de meus seios, o corpo não participa para nada,  pois é quando me encontro fora de mim mesma, parece que a coisa acontece só entre a alma  e Jesus, e Ele quando quer fazer isto, é sempre como criança. É tão certo que é só a alma e  não o corpo, que quando acontece isto eu me encontro sempre, ou na abóbada do céu, ou bem  girando por outros pontos da terra. Agora, como em algumas ocasiões disse que voltando em  mim mesma sentia uma dor naquela parte em que o menino Jesus havia chupado, é porque ao  chupar, às vezes parecia que o fazia um pouco forte, tanto que parecia que com aquelas

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chupadas queria puxar o coração de dentro do peito. Por isso sentia sensivelmente uma dor e  a alma retornando em mim mesma o participava ao corpo.

(10) Isto acontece também nas outras coisas, como por exemplo quando o Senhor me  transporta para fora de mim mesma e me torna partícipe da crucificação.Jesus mesmo me  estende sobre a cruz, me atravessa as mãos e os pés com os cravos e sinto uma dor tal, que  me sinto morrer, depois, encontrando-me em mim mesma, os sinto muito bem no corpo, tão é  verdade que não posso mover os dedos, os braços, e assim dos demais sofrimentos dos quais  o Senhor me faz partícipe, se tivesse que dizer tudo, me alongaria demasiado.

(11) Recordo também que enquanto Jesus fazia isto de chupar meus seios, neles punha a  boca, mas do coração era de onde me sentia sair aquela coisa que chupava, tanto, que  enquanto isso fazia, Às vezes sentia-me a arrancar o coração do peito e às vezes sentia  vividamente dor, dizia-lhe: “Meu querido, és muito impertinente, fá-lo mais ficar, pois dói-me  muito”. E Ele estava rindo.

(12) Assim também quando me encontro eu chupando a Jesus, é de seu coração que tiro esse  leite, ou bem sangue, tanto que para mim, é o mesmo chupar de seu peito que se bebo de seu  lado. Acrescento ainda outra coisa, que o Senhor de vez em quando se digna verter da boca  um leite dulcíssimo, ou bem me faz beber de seu lado seu preciosíssimo sangue, e quando faz  isto de querer chupar de mim, não chupa outra coisa que aquilo mesmo que Ele me deu,  Porque eu não tenho nada para adoçar, senão muito para amargá-lo. Tão é verdade, que às  vezes no mesmo momento que Ele chupava de mim, eu chupava dele e advertia claramente  que o que saía de mim não era outra coisa senão o mesmo que Ele me dava, parece que me  expliquei suficientemente por quanto pude.

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2-32 

Junho 9, 1899

Jesus lhe faz ver as ofensas que recebe. 

(1) Esta manhã passei-a muito angustiada pela vista das tantas ofensas que faziam os homens,  especialmente por certas desonestidades horrendas. Quanta pena dava a Jesus a perda das  almas, muito mais a de um menino recém-nascido que queriam matar sem administrar-lhe o  santo batismo. Parece-me que este pecado pesa tanto na balança da justiça divina, que é dos  que mais clamam vingança diante de Deus, porém muito freqüentemente se renovam estas

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cenas dolorosas. Meu dulcíssimo Jesus estava tão aflito que dava piedade. Vendo-o em tal  estado não me atrevi a lhe dizer nada e Jesus só me disse:

(2) “Minha filha, une teus sofrimentos com os meus, tuas orações às minhas, assim, diante da  majestade de Deus são mais aceitáveis e aparecem não como coisas tuas, senão como obras  minhas”.

(3) Depois continuou a fazer-se ver outras vezes, mas sempre em silêncio. Seja sempre  bendito o Senhor.

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2-33 

Junho 11, 1899

Efeitos que receberão aqueles que se aproximarem de Luisa. 

(1) Meu doce Jesus continua a fazer-se ver pouquíssimas vezes e quase sempre em silêncio.  Minha mente me sentia toda confusa e cheia de medo de perder a mim só e único Bem e por  tantas outras coisas que não é necessário dizer aqui. ¡ Oh Deus, que pena! Enquanto estava  neste estado, assim que se fez ver, parecia que trazia uma luz, e desta luz saíam muitos balões  de luz e Jesus me disse:

(2) “Tira todo temor de teu coração. Olha, eu trouxe este globo de luz para colocar entre você e  eu e aqueles que se aproximam de você. Aos que se aproximarem de ti com coração reto e  para fazer-te o bem, estes globitos de luz que saem penetrarão em suas mentes, descerão em  seus corações e os encherão de alegria e de graças celestiais e compreenderão com clareza o  que faço em ti; aqueles que vierem com outras intenções experimentarão o contrário, e por  estes globitos de luz ficarão deslumbrados e confundidos.” Assim fiquei mais tranqüila. Seja  tudo para glória de Deus.

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Junho 12, 1899

O próprio Jesus prepara-a para a comunhão. 

(1) Esta manhã, tendo de receber a comunhão, estava a pedir ao bom Jesus que viesse ele  mesmo preparar-me, antes que viesse o confessor para celebrar a Santa Missa. De outra forma  como poderei recebê-la, sendo tão má e estando indisposta? Enquanto fazia isto, o meu doce  Jesus agradou-se em vir, no mesmo momento em que o vi, parecia-me que não fazia outra

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coisa senão tirar-me com os seus olhares puríssimos e resplandecentes de luz. Quem pode  dizer o que faziam em mim aqueles olhares penetrantes que não deixavam escapar nem  sequer a sombra de um pequeno defeito? É impossível poder dizê-lo; aliás, teria querido deixar  tudo isto em silêncio, porque as operações internas da graça dificilmente se sabem expor tal  como são com a boca, parece antes que se desfiguram. Mas a senhora obediência não quer e  quando é por ela, é preciso fechar os olhos e ceder sem dizer nada mais, de outra maneira, ai!  por toda parte, porque sendo senhora, por si mesma se faz respeitar.

(2) Então continuo a dizer: “No primeiro olhar, pedi a Jesus que me purificasse, e assim me  parecia que da minha alma se sacudisse tudo o que a ensombrava. No segundo olhar, pedi-lhe  que me iluminasse, porque em que aproveita a uma pedra preciosa ser pura se não está  resplandecente para atrair os olhares daqueles que a olham? Vão olhar para ela, sim, mas com  olhos indiferentes.Tanto mais eu, que não só devia ser olhado, mas identificada com meu doce  Jesus, tinha necessidade daquela luz, que não só me tornava a alma resplandecente, mas que  me fazia entender a grande ação que estava por realizar, por isso não me bastava ser  purificada, mas também iluminada. Então Jesus naquele olhar parecia que me penetrava, como  a luz do sol penetra o cristal. Depois disto, vendo que Jesus continuava olhando para mim, lhe  disse: “Amantíssimo Jesus, já que te deleitaste primeiro em purificar-me e depois em iluminar me, dígnate agora santificar-me, muito mais, que devendo receber-te a Ti, que és o Santo dos  santos, não é justo que eu seja tão diversa de Ti”.

(3) Então Jesus, sempre benigno a esta miserável, inclinou-se para mim, tomou minha alma  entre seus braços e parecia que com suas próprias mãos toda a retocada, quem pode dizer o  que operavam em mim aqueles toques dessas mãos criadoras? Como minhas paixões ante  aqueles toques se punham em seu posto, meus desejos, inclinações, afetos, batimentos e  demais sentidos, santificados por aqueles toques divinos se mudavam em algo totalmente  diferente e unidos entre eles, não mais discordantes como antes, formavam uma doce  harmonia ao ouvido de meu amado Jesus; me parecia que fossem tantos raios de luz que  feriam seu coração adorável, oh! como Jesus se recriava e que momentos felizes têm sido para  mim. [ Ah! eu experimentava a paz dos santos, para mim era um paraíso de contentes e d

(4) Depois disto parecia que Jesus vestia a minha alma com a veste da fé, da esperança e da  caridade, e no ato mesmo que me vestia, Jesus me sugeria o modo como me devia exercitar  nestas três virtudes. Agora, enquanto eu estava fazendo isso, Jesus, enviando outro raio de luz  me fez entender o meu nada, ah! parecia-me que fosse como um grão de areia no meio de um  vasto mar, qual é Deus, e este pequeno grão ia-se perder naquele mar imenso, mas se perdia  em Deus. Depois me transportou para fora de mim mesma, levando-me em seus braços e

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sugerindo vários atos de contrição de meus pecados; recordo somente que fui um abismo de  iniqüidade. ¡ Senhor, quantas negras ingratidões tive para Ti!

(5) Enquanto fazia isto olhei para Jesus e tinha a coroa de espinhos na cabeça, estendi-lhe a  mão e tirei-lha, dizendo: “Dá-me os espinhos, ó! Jesus, eu sou pecadora, a mim me convêm os  espinhos, não a Ti que és o Justo, o Santo”. Assim Jesus mesmo a cravou sobre minha  cabeça. Depois, não sei como, de longe, vi o confessor, em seguida pedi a Jesus que fosse  preparar o confessor para poder recebê-lo na comunhão; então parecia que Jesus ia com ele.  Depois de um pouco ele voltou e me disse:

(6) “Quero que seja o modo de tratar entre Eu e você e o confessor, e assim também quero  dele, que te olhe e trate contigo como se fosse outro Eu, porque sendo sua vítima como fui Eu,  não quero diferença alguma, e isto para fazer que tudo seja purificado e que em tudo  resplandeça só meu amor”.

(7) Eu disse-lhe: “Senhor, isto parece impossível, que possa tratar com o confessor como faço  Contigo, especialmente quando vejo a instabilidade”. E Jesus:

(8) “No entanto é assim, a verdadeira virtude, o verdadeiro amor, tudo faz desaparecer, tudo  destrói e com uma maestria que encanta, em todo o seu agir não faz resplandecer outra coisa  que só Deus e tudo olha em Deus”.

(9) Depois disto veio o confessor para chamar-me à obediência e assim celebrar a Santa  Missa, e por isso terminou. Então ouvi a Santa Missa e recebi a comunhão. Quem pode dizer a  intimidade que houve entre Jesus e eu? É impossível poder expressá-la, não tenho palavras  para me fazer entender, por isso o deixo em silêncio.

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Junho 14, 1899

Expectação. Jesus quer castigar. 

(1) Esta manhã o amantíssimo Jesus não vinha, e em meu íntimo ia pensando: Como é que  não vem? O que há de novo? ” Ontem veio freqüentemente, e hoje já é tarde e não se faz ver  ainda, que dor, quanta paciência se necessita com Jesus! Todo meu interior me parecia que se  levantasse em armas, porque queriam a Jesus e me faziam uma guerra que me dava penas de  morte. A vontade, como superior a tudo, buscava pôr paz com persuadir a meus sentidos,  inclinações, desejos, afetos e a todo o resto de aquietar-se, porque Jesus devia vir. Assim,  depois de um longo penar, Jesus veio trazendo uma taça na mão, cheia de sangue coagulado,  putrefato e pestilento e me disse:

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(2) “Olha esta taça de sangue, derramarei-a sobre o mundo”.

(3) Enquanto assim dizia, veio a Mãe, a Virgem Santíssima, e junto com Ela meu confessor e  pediam a Jesus que não o derramasse sobre o mundo, senão que me fizesse beber a mim, o  confessor lhe disse: “Senhor, de que adianta tê-la como vítima se não quiser derramá-la sobre  ela? Absolutamente quero que a faça sofrer e perdoe as pessoas”.

(4) A Mãe chorava e insistia diante de Jesus e do confessor para que não desistisse de rogar  até que Jesus não se contentasse em aceitar a mudança. Jesus insistia em que a queria  derramar sobre todo o mundo e parecia que se zangava. Eu me via toda confusa, não sabia  dizer nada porque era tanto o horror que se sentia ao ver aquela taxa cheia de sangue tão  espantosa, que dava estremecimento em toda a natureza; que seria o bebê-la? Mas eu estava  resignada, porque se o Senhor me tivesse dado, tê-la-ia aceitado. Quem pode dizer, além  disso, os castigos que se continham naquele sangue se o Senhor a derramara no mundo? A  partir deste dia, parece que está a preparar uma tempestade de granizo que vai causar muitos  danos, e parece que deve continuar nos próximos dias.

(5) Depois, Jesus parecia um pouco mais calmo, tanto que parecia que abraçava o confessor  porque lhe tinha rogado naquele modo, mas sem chegar a nenhuma determinação se a deve  derramar sobre as pessoas ou não. Assim terminou, deixando-me uma pena indescritível pelo  que poderá acontecer.

* * * * * *

2-36 

Junho 16, 1899

Obtém que Jesus perdoe em parte a sua cidade. 

(1) Jesus continua fazendo-se ver que quer castigar. Eu lhe roguei que derramasse em mim  suas amarguras para livrar a todos, e se isto não fosse possível, ao menos aqueles que me  pertencem e a minha cidade. A esta intenção parecia que se unia também a intenção do  confessor, assim parecia que Jesus, vencido pelas orações, derramou um pouco de sua boca,  mas não aquela taça descrita antes. Este pouco que derramou, parecia que o fazia para livrar  em algum modo a minha cidade, mas não de todo, e aqueles que me pertencem.

(2) Todavia esta manhã eu fui causa de fazer afligir a Jesus, pois como depois de haver  derramado o tenho visto mais tranqüilo, sem pensar lhe disse: “Meu bom Jesus, peço-Te que  me libertes do incômodo que dou ao confessor, de o fazer vir todos os dias, que te custa a Ti  libertar-me, que Tu mesmo me ponhas nos sofrimentos e Tu mesmo me libertes? Certamente  que não te custa nada e se queres tudo podes”. Enquanto lhe dizia isto, Jesus punha um rosto

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tão aflito, que essa aflição me sentia penetrar até o íntimo de meu coração e sem me dizer  palavra desapareceu. como fiquei mortificada ao pensar especialmente que não viria mais,  sabe-o só o Senhor, mas pouco depois voltou, mas com maior aflição, trazendo um rosto todo  inchado e cheio de sangue, porque naquele momento lhe tinham feito aquelas ofensas, Jesus  todo triste disse:

(3) . “Vês o que me fizeram, como dizes que não queres que castigue as criaturas? Os castigos  são necessários para humilhá-las e não deixá-las orgulhar-se mais”.

* * * * * *

2-37 

Junho 17, 1899

Contende com Jesus e convence-o a não dormir. 

(1) Continua sempre o mesmo, mas especialmente esta manhã estive contendendo com meu  amado Jesus; Ele que queria continuar mandando a saraiva como tem feito em dias passados,  e eu que não queria; quando no melhor desta contenda, parecia que se preparava um temporal  e dava ordens aos demônios que destruíssem com o flagelo do granizo vários lugares. Nesse  momento via que de longe me chamava o confessor, dando-me a obediência de que fosse pôr  em fuga os demônios para não deixá-los fazer nada. Enquanto saí para ir, Jesus veio ao meu  encontro fazendo-me voltar atrás e eu lhe disse: “Senhor bendito, não posso, porque é a  obediência que me ordenou e Tu sabes que eu e Tu devemos ceder ante esta virtude, sem  poder nos opor”.

(2) Então Jesus: “Bem, eu o farei por ti”.

(3) E assim ordenou aos demônios que se fossem a lugares mais distantes e que por agora  não tocassem as terras pertencentes a nossa cidade.

(4) Depois disse-me: “Vamos voltar”.

(5) Assim voltamos, eu para a cama e Jesus junto a mim. Assim que chegamos, Jesus queria  descansar, dizendo que estava muito cansado, eu o parei, dizendo: “Quem sabe o que é este  sonho que queres fazer? E além disso, que bonita obediência me fez fazer, porque quer dormir.  Isto é o quanto me ama e que quer me contentar em tudo? Quer dormir? durma pois, basta que  me dê sua palavra que não fará nada”. Então, desagradando-se por meu descontentamento  me disse:

(6) “Minha filha, no entanto, gostaria de te contentar, façamos assim: Vamos sair juntos de novo  entre o povo, e aqueles que vemos que é necessário punir por suas tantas ações infames, e

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que possivelmente ao menos sob o flagelo se arrependerão, O que você quiser deles e aqueles  que são menos necessários para punir e que você não quer que os castigue, Eu os libertarei”. (7) E eu: “Senhor, agradeço-te pela tua bondade ao querer contentar-me, mas com tudo e isto  não posso fazer o que me dizes, não sinto a força de pôr a minha vontade para castigar a  nenhuma das tuas criaturas, e além disso, que tormento será para o meu pobre coração  quando ouvir que tal pessoa ou aquela outra foi castigada e que eu pus a minha vontade  Jamais seja, jamais seja, ó Senhor!”

(8) Depois veio o confessor para me chamar em mim mesma e assim terminou.

* * * * * *

2-38 

Junho 19, 1899

Quem se faz desaparecer a si mesmo, jamais comete pecados. 

(1) Tendo passado ontem uma jornada de purgatório pela privação quase total de meu sumo  Bem, e pelas tantas tentações que me punha o demônio, me parecia que cometia muitos  pecados. ¡ Oh Deus, que pena ofender a Deus!

(2) Esta manhã, assim que vi Jesus, rapidamente lhe disse: “Jesus bom, perdoa-me os tantos  pecados que fiz ontem”. E queria dizer-lhe o mal que sentia que tinha feito. Ele, interrompendo me, disse-me:

(3) “Se te fizeres desaparecer a ti mesma, não cometerás pecados jamais”. (4) Eu queria continuar falando, mas Jesus me fazendo ver muitas almas devotas e mostrando  que não queria ouvir o que queria dizer, continuou dizendo:

(5) “O que mais me desagrada nestas almas é a instabilidade em fazer o bem, basta uma  pequena coisa, um desgosto, mesmo um defeito, enquanto é então o tempo mais necessário  para estreitar-se a Mim, estas em troca, irritam-se, incomodam-se e deixam a metade o bem  começado. Quantas vezes eu preparei obrigado para dar-lhes, mas vendo-os tão instáveis, fui  obrigado a retê-los”.

(6) Depois, sabendo que não queria saber nada do que queria lhe dizer e vendo que meu  confessor estava um pouco mal no corpo, orei longamente por ele, e fazia a Jesus várias  perguntas que não é necessário dizer aqui. E Jesus, benignamente, respondeu-me a tudo e  assim terminou.

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2-39 

Junho 20, 1899

Como tudo está no amor. 

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, parece que Jesus quis aliviar-me um pouco,  depois de que por algum tempo fui em busca Dele. De longe vi um menino, e como um raio que  cai do céu vim, assim que cheguei o tomei em meus braços e me veio uma dúvida de que não  fora Jesus lhe disse:

(2) “Meu querido Teseu, me diga, quem é você?”

(3) E Ele: “Eu sou teu querido e amado Jesus”.

(4) E eu a Ele: “Meu menino formoso, peço-te que tomes meu coração e o leves Contigo ao  Paraíso, pois junto com o coração irá minha alma”.

(5) Parecia que Jesus tomou meu coração e o uniu de tal maneira ao seu, que se tornavam um  só. Depois abriu-se o Céu, parecendo que se preparava para uma festa grandíssima, no  mesmo momento desceu do Céu um jovem de formoso aspecto, todo cintilante de fogo e  chamas. Jesus disse para mim:

(6) “Amanhã é a festa do meu querido Luís, devo assistir”.

(7) E eu: “Então deixa-me sozinha, como farei?”

(8) E Ele: “Também tu virás, olha como é belo Luís, mas o que foi mais nele, que o distinguiu na  terra, era o amor com que operava, tudo era amor nele, o amor ocupava-lhe o interior, o amor  circundava-o no exterior, assim que também o respiro se podia dizer que era amor, por isso  dele se diz que não sofreu jamais distração, porque o amor o inundava por todas as partes e  por este amor será inundado eternamente, como tu vês”.

(9) E assim parecia que era tão grande o amor de São Luís, que podia incinerar todo o  mundo. Depois Jesus acrescentou:

(10) “Eu passeio sobre os montes mais altos e neles formo minha delícia”. (11) Eu não entendi o significado, e ele continuou dizendo:

(12) “Os montes mais altos são os santos que mais me amaram, e Eu faço deles minha delícia  quando estão sobre a terra e quando passam ao Céu, assim que o tudo está no amor”. (13) Depois disto pedi a Jesus que me abençoasse e àqueles que naquele momento via, e Ele  dando a bênção desapareceu.

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2-40 

Junho 21, 1899

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Medos. Jesus promete nunca deixá-la. 

(1) Como Jesus não vinha, estava pensando entre mim: “Quem sabe, talvez Jesus não venha  mais e me deixe abandonada”. E não dizia outra coisa que: “Vem meu amado, vem!” De  improviso veio e me disse:

(2) “Não te deixarei, jamais te abandonarei, também tu, vem, vem a Mim”. (3) Eu logo corri para me colocar em seus braços, e enquanto estava assim Jesus voltou a  dizer:

(4) “Não só não te deixarei a ti, senão que por amor teu não deixarei Corato”. (5) Depois, quase sem me dar conta, num instante desapareceu e eu fiquei desejando-o mais  que antes e ia dizendo: “O que me fizeste? Quando é que te foste embora sem sequer me  dizeres adeus?”

(6) Enquanto desafogava minha dor, a imagem do Menino Jesus que tenho perto de mim,  parecia que se fazia viva e de vez em quando tirava a cabeça da coberta de cristal para ver que  coisa fazia eu, quando via que me dava conta, logo se metia. Eu disse-lhe: “Vê-se que és  demasiado impertinente e que queres portar-te como menino, eu sinto-me enlouquecer pela  pena de que não vens e Tu te pões a jogar, bom pois, joga e brinca também, que eu terei  paciência”.

* * * * * *

2-41 

Junho 22, 1899

Jesus brinca e brinca com ele. 

(1) Esta manhã meu doce Jesus queria continuar se divertindo e querendo brincar, vinha,  punha suas mãos na minha cara como se quisesse me fazer uma carícia, mas no momento de  fazê-la desaparecia, de novo vinha, estendia seus braços para meu pescoço em ato de querer  me abraçar, mas enquanto estendia os meus para abraçá-lo, fugia como um relâmpago, sem  poder encontrá-lo, quem pode dizer as penas de meu coração? Enquanto meu pobre coração  nadava neste mar de dor imenso, até me sentir desfalecer, veio a Mamãe Rainha trazendo-o  como menino entre seus braços e assim nos abraçamos os três juntos, a Mãe, o Filho e eu,  então tive tempo de dizer-lhe: “Meu Senhor Jesus, parece-me que retiraste de mim a tua  graça”.

(2) E Ele: “Tola, tola que és! Como dizes que te retirei a minha graça enquanto estou em ti? E  que coisa é a minha graça senão Eu mesmo?”.

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(3) Fiquei mais confusa do que antes, vendo que não sabia falar e que naquelas duas palavras  que tinha dito, não tinha dito outra coisa que não fosse disparates. Depois a Rainha Mãe  desapareceu e Jesus parecia que se fechava dentro de mim e ali ficava.

(4) Hoje, depois da meditação, se fazia ver que dormia dentro de mim, eu o estava olhando,  deleitando-me em seu belo rosto, mas sem despertá-lo, contente de vê-lo ao menos, quando  em um instante veio de novo a bela Mamãe Rainha, o tomou de dentro de meu coração,  movendo tudo rapidamente para despertá-lo; depois de despertá-lo colocou-o de novo em  meus braços dizendo-me:

(5) “Minha filha, não o deixe dormir, porque se dorme vais ver o que acontecerá”. (6) Era um temporal que se preparava. Assim o menino, meio dormindo, pôs suas mãozinhas  em meu pescoço e apertando-me disse:

(7) “Mamãe minha, mamãe minha, deixa-me dormir”.

(8) E eu: Menino, meu menino bonito, não sou eu quem não quer deixar-te dormir, é nossa  Senhora Mãe que não quer, e eu te peço que a contentes, certamente que nada se nega à  Mãe, e sobretudo a essa Mãe.

(9) Depois de tê-lo mantido acordado por alguns momentos desapareceu e assim terminou.

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2-42 

Junho 23, 1899

Vá ao confessor com Jesus e peça por ele. 

(1) Tendo ouvido a Santa Missa e recebido a comunhão, o meu amado Jesus fazia-se ver de  dentro do meu coração, depois senti-me a sair de mim mesma, mas sem Jesus. Vi o meu  confessor, e como ele me tinha dito que depois da comunhão viria Nosso Senhor, e que lhe  pedisse por ele, então assim que o vi disse-lhe: “Pai, o senhor disse-me que Jesus devia vir e  não veio”. E Ele me disse:

(2) “Porque não o sabes encontrar, por isso dizes que não veio, olha bem, pois está em teu  interior”.

(3) Olhei em mim e vi os pés de Jesus que saíam de meu interior, logo os tomei com a mão e  tirei a Jesus, abracei-o e vendo-o com a coroa de espinhos na cabeça a tirei e a dei na mão ao  confessor dizendo-lhe que a cravasse em minha cabeça e assim o fez, mas o que, por quanto  força fazia não conseguia fazer penetrar nem uma só coluna; eu lhe disse: “Mais forte, não  tema que eu vá sofrer muito, porque como você vê está Jesus que me dá a força”. Mas por

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mais que eu tentasse, tudo era inútil, então me disse: “Não está em minhas forças o poder  fazer isto, porque sendo osso o que devem penetrar estes espinhos, eu não os tenho”. (4) Então dirigi-me ao meu doce Jesus dizendo: “Tu vês que o pai não sabe pô-la, introduz-a  um pouco Tu mesmo”. E Jesus estendeu as suas mãos e, num instante, fez penetrar na minha  cabeça todos aqueles espinhos, com indizível dor e contentamento.

(5) Depois disto, juntamente com o confessor, pedimos a Jesus que derramasse em mim a sua  amargura, para livrar as nações de tantos flagelos que lhes estão ordenados, como hoje, que  estava preparada uma saraivada um pouco longe de nós, então o Senhor, para condescender  com as nossas orações, derramou um pouco.

(6) Além disso, como eu continuava a ver o confessor, comecei a implorar a Jesus por ele,  dizendo: “Meu bom e amado Jesus, peço-te que concedas a graça ao meu confessor, de fazer  tudo teu, segundo o teu coração, e ao mesmo tempo dá-lhe a saúde corporal. Tu viste como  ele cooperou comigo para te aliviar, tanto a cabeça dos espinhos, como para te fazer derramar  as tuas amarguras, e se não conseguiu cravar-me os espinhos na cabeça, não foi para não te  aliviar, nem por sua vontade, mas porque não tinha força; por isso, também por isto deves me  escutar; assim que me diz, ó meu só e único Bem, o farás bem tanto na alma como no corpo?”

(7) Mas Jesus me ouvia e não me respondia, e eu mais me esforçava em rogar-lhe dizendo:  “Esta manhã não te deixarei nem deixarei de rogar se não me der sua palavra de que me  ouvirá favoravelmente no que te peço para ele”.

(8) Mas Jesus não dizia uma palavra. De repente nos encontramos rodeados de pessoas,  estas pareciam que se sentavam ao redor de uma mesa, comendo, e nela também estava  minha porção, e Jesus me disse:

(9) “Minha filha, tenho fome”.

(10) E eu: “Dou-te a minha parte, não estás contente?”

(11) E Jesus: “Sim, mas não quero que vejam que estou aqui”.

(12) E eu: “Está bem, farei ver que a tomo para mim, e sem que se dêem conta te o darei”. E  assim o fizemos.

(13) Logo depois, Jesus, levantando-se e pondo os seus lábios à minha frente, começou a  fazer um ruído com a sua boca, como um som de trombeta, todas aquelas nações  empalideciam e tremiam, dizendo entre elas: “O que acontece, o que acontece? Ah Agora nós  vamos morrer!”

(14) Eu disse-lhe: “Meu Senhor Jesus, que fazes? Como, até agora não queria ser visto e logo  se põe a fazer ruído, fique quieto, fique quieto, não faça que as pessoas tenham medo, não vê  como todos se assustam?”

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(15) E Jesus: “Agora é nada, o que será quando de repente fizer soar mais forte? Será tal o  temor do que serão presas, que muitos e muitos deixarão a vida”.

(16) E eu: “Meu Jesus adorável, que dizes? Sempre nisso, que queres fazer justiça, mas não,  misericórdia, misericórdia, peço-te para o teu povo”.

(17) Depois, tomando seu aspecto doce e benigno, e voltando a ver o confessor, comecei de  novo a importuná-lo e Jesus me disse:

(18) “Farei com seu confessor como com aquela árvore enxertada, que não se reconhece mais  a árvore velha, tanto na alma como no corpo, e em penhor disto te dei em suas mãos como  vítima, para que se sirva disso”.

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2-43 

Junho 25, 1899

Continua no mesmo e Jesus fala da Fé. 

(1) Esta manhã Jesus continua a fazer-se ver de vez em quando, participando-me um pouco de  seus sofrimentos e às vezes via o confessor com Ele, e como ele me havia dito que rezasse  por certas necessidades suas, Vendo-o juntamente com Nosso Senhor, comecei a rezar a  Jesus para que lhe concedesse o que Ele queria. Enquanto eu lhe rogava, Jesus, toda  bondade se dirigiu ao confessor e lhe disse:

(2) “Quero que a fé te inunde por toda parte, como aquelas barcas que são inundadas pelas  águas do mar, e como a fé sou Eu mesmo, sendo inundado por Mim, que tudo possuo, posso e  dou livremente a quem em Mim confia, sem que tu penses no que virá, e ao quando e o como e  o que farás, Eu mesmo, segundo as tuas necessidades me prestarei a socorrer-te”.

(3) Depois ele adicionou: “Se te exercitares nesta fé, quase nadando nela, em recompensa te  infundirei no coração três alegrias espirituais: O primeiro, que penetrarás as coisas de Deus  com clareza e ao fazer coisas santas te sentirás inundado por uma alegria, por um gozo tal,  que te sentirás como empapado, e esta é a unção da minha graça.

(4) O segundo é um aborrecimento das coisas terrenas e sentirás em teu coração alegria pelas  coisas celestiais.

(5) O terceiro é um desapego total de tudo, e onde antes sentia inclinação, sentirá um  incômodo, como há tempos o estou infundindo em seu coração, e você já o está  experimentando. E por isso teu coração será inundado pela alegria que gozam as almas  totalmente desapegadas, que têm seu coração tão inundado de meu amor, que das coisas que  as rodeiam externamente não recebem nenhuma impressão”.

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Julho 4, 1899

Jesus fala da Mãe Celestial. As perturbações. 

(1) Esta manhã, tendo-me renovado Jesus as penas da crucificação, encontrava-se também  nossa Mãe Rainha, e Jesus falando dela disse:

(2) “Meu próprio reino esteve no coração de minha Mãe, e isto porque seu coração não foi  jamais nem minimamente perturbado, tanto, que no mar imenso da Paixão sofreu penas  imensas, seu coração foi traspassado de lado a lado pela espada da dor, Mas não recebeu  nem um sopro de perturbação. Por isso, sendo meu reino um reino de paz, pude estender nela  meu reino, e sem encontrar nenhum obstáculo pude livremente reinar”.

(3) Tendo vindo Jesus mais vezes e vendo-me toda cheia de pecados, disse-lhe: “Senhor meu  Jesus, sinto-me toda coberta de chagas e pecados graves; ah, peço-te, tem piedade desta  miserável”.

(4) E Jesus: “Não temas, que não há culpas graves, e além disso, deve-se ter horror da culpa,  mas não se perturbar, porque a agitação, de onde quer que venha, jamais faz bem à alma”. (5) Depois acrescentou: “Minha filha, tu és vítima como eu, faz que todas as tuas obras  resplandeçam com as minhas mesmas intenções, puras e santas, a fim de que encontrando  em ti a minha imagem possa livremente derramar o influxo das minhas graças, e adornada  assim poderei oferecer-te como vítima perfumada ante a divina justiça”.

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Julho 9, 1899

Jesus participa a Luisa suas penas. 

(1) Esta manhã Jesus quis renovar-me as penas da crucificação, primeiro me transportou para  fora de mim mesma, sobre um monte e me perguntou se queria ser crucificada, eu lhe disse:  “Sim, meu Jesus, não desejo outra coisa que a cruz”. Enquanto dizia isto, surgiu uma cruz  grandíssima, que me estendeu sobre ela e me cravou com as próprias mãos. Que penas  atrozes sofria ao me sentir trespassar as mãos e os pés por aqueles pregos, que por acréscimo  estavam despovoados, e para fazê-los penetrar custava trabalho e sofria muito, mas com Jesus  tudo era tolerável. Depois de acabar de me crucificar, disse-me:

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(2) “Minha filha, sirvo-me de ti para poder continuar a minha Paixão. Como meu corpo  glorificado não é capaz de sofrer mais, vindo a ti me sirvo de teu corpo como me servi do meu  no curso de minha Vida mortal, para poder continuar sofrendo minha Paixão e assim poder te  oferecer ante a divina justiça como vítima vivente de reparação e propiciação”.

(3) Depois disto parecia que se abrisse o Céu e descia uma multidão de santos, todos armados  com espadas, uma voz como de trovão saiu daquela multidão, e dizia: “Viemos defender a  justiça de Deus e punir os homens que tanto abusaram de sua misericórdia”. Quem pode dizer  o que acontecia sobre a terra nesta descida dos santos? Só sei dizer, que quem guerreava em  um ponto e quem em outro, quem fugia, quem se escondia, parecia que todos estavam  consternados.

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Julho 14, 1899

Jesus não pode deixar quem o ama. 

(1) Meu adorável Jesus continua estes dias fazendo-se ver pouquíssimas vezes, sua visita é  como um raio, que enquanto se quer seguir vendo-o foge, e se alguma vez se detém um pouco  é quase sempre em silêncio, outras vezes diz alguma coisa, mas assim que se vai me parece  que se leva essa palavra junto com a luz que me vem de sua palavra, tanto que depois não  recordo nada do que disse, e minha mente fica na mesma confusão de antes. ¡ Que estado  miserável! Meu amado Jesus, tenha piedade desta miserável, continue fazendo uso de sua  misericórdia. Agora, para não me alongar e dizer dia por dia o que passei, direi aqui tudo junto,  algumas palavras que me disse nestes últimos dias.

(2) Lembro-me que depois de ter derramado lágrimas amargíssimas, Jesus, fazendo-se ver e  eu me lamentando com Ele porque me tinha deixado, chamou muitos anjos e santos e  dirigindo-se a eles disse: “Ouçam o que diz, que eu a deixei, digam-lhe, posso eu deixar  aqueles que me amam? Ela me amou, como posso deixá-la?” E os santos concordaram com o  Senhor e eu fiquei mais humilhada e confusa do que antes.

(3) Noutra ocasião, dizendo-lhe que: “No final acabarás por me deixar de todo”. Jesus disse me:

(4) “Filha, não posso deixar-te, e como penhor disto pus em ti os meus sofrimentos”. (5) Depois, encontrando-me ocupada com o pensamento: “Como permitiste Senhor que viesse  o sacerdote, tudo poderia ter acontecido entre Tu e eu”. Em um instante me encontrei fora de

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mim mesma, estendida sobre uma cruz, mas não havia ninguém que pudesse me pregar, eu  comecei a pedir ao Senhor que viesse a crucificar-me e Jesus veio e me disse: (6) “Veja como é necessário que o sacerdote esteja no meio de minhas obras, e isto é ajuda  também para cumprir a crucificação; é certo que se não há ninguém, por ti só não podes  crucificar-te, sempre se necessita da ajuda dos demais”.

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Julho 18, 1899

(1) Continua quase sempre o mesmo. Desta vez me parecia que em meu coração estivesse  Jesus Sacramentado, e desde a hóstia santa espargia tantos raios de luz em meu interior, e a  meu coração saíam tantos fios de luz, que se entrelaçavam todos esses raios de luz, parecia me que Jesus com seu amor atraía todo meu coração, e meu coração com aqueles fios atraía  e amarrava Jesus a estar comigo.

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2-48 

Julho 22, 1899

Como a cruz torna a alma transparente. 

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver com uma cruz de ouro pendurada ao  pescoço, toda resplandecente, e que ao olhá-la se comprazia imensamente. De repente,  encontrou-se presente o confessor e Jesus disse-lhe: “Os sofrimentos dos dias passados  aumentaram tanto o resplendor da cruz que, olhando para ela, sinto-me muito feliz”.

(2) Depois se dirigiu a mim e me disse: “A cruz comunica tal resplendor à alma, de torná-la  transparente e assim como quando um objeto é transparente lhe podem dar todas as cores que  se queira, assim a cruz, com sua luz dá todas as linhas e formas mais belas que jamais se  possam imaginar, não só pelos outros, mas também pela própria alma que os  experimenta. Além disso, em um objeto transparente logo se descobre o pó, as pequenas  manchas e até qualquer escurecimento; assim é a cruz, como faz transparecer à alma, logo  descobre os pequenos defeitos, as mínimas imperfeições, tanto que não há mão mestra mais  hábil que a cruz, para ter a alma preparada para torná-la digna habitação do Deus do Céu”.

(3) Quem pode dizer o que compreendi da cruz e quão invejável é a alma que a possui?

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(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma e me encontrei sobre uma escada  altíssima, sob a qual havia um precipício e por acréscimo os degraus desta escada eram  móveis e tão estreitos que mal se podia apoiar a ponta dos pés; o que mais dava terror era o  precipício e o não poder encontrar apoio de nenhum tipo, e querendo agarrar-se dos degraus,  estes se caíam junto; ver que quase todas as outras pessoas caíam infundia calafrio nos  ossos; Mas não se podia evitar passar por aquela escada. Então o tentei, mas assim que subi  dois ou três degraus, vendo o grande perigo que corria de cair no abismo, comecei a chamar a  Jesus para que viesse em minha ajuda, então, sem saber como, encontrei a Jesus junto a mim  e me disse:

(5) “Minha filha, isto que tu viste é o caminho que percorrem todos os homens nesta terra; os degraus móveis, sobre os quais não podem apoiar-se para ter um sustento, são os apoios  humanos, as coisas terrenas, que se querem apoiar sobre elas, em vez de lhes dar uma ajuda  dão-lhes um empurrão para precipitarem-se mais cedo no inferno. O meio mais seguro é o  caminhar quase voando, sem se apoiar sobre a terra, à força dos próprios braços, com os  olhos em si mesmos, sem olhar aos demais e também tendo-os todos atentos a Mim para ter  ajuda e força, assim se poderá facilmente evitar o precipício”.

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2-49 

Julho 28, 1899

A vida humana é um jogo. Jesus também joga. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio com um aspecto admirável e misterioso, trazia no  pescoço uma corrente que pendia sobre todo o peito, por um lado se via como um arco, por  outro lado da cadeia como uma aljava cheia de pedras preciosas e de gemas, que era um dos  mais belos adornos ao peito de meu doce Jesus e com uma lança na mão. Enquanto eu estava  neste aspecto disse-me:

(2) “A vida humana é um jogo: quem joga o prazer, quem o dinheiro e quem a própria vida, e  tantos outros jogos que fazem. Também Eu me deleito de jogar com as almas, mas quais são  estes jogos que faço? São as cruzes que envio, se as recebem com resignação e me  agradecem, Eu me recreio e jogo com elas, agradando-me imensamente, recebendo por isso  grande honra e glória e a elas faço grandes aquisições”.

(3) No ato de dizer isto começou a me tocar com a lança, com o arco, e com a aljava, e todas  aquelas pedras preciosas que continha a aljava saíam e se trocavam em tantas cruzes e  flechas que feriam as criaturas. Algumas, mas em número muito escasso, alegravam-se,

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beijavam-nas e agradeciam-lhe, e vinham fazer um jogo com Jesus; outras tomavam-nas e  atiravam-nas na cara de Jesus, ó como ficava aflito e que grande perda tinham essas  almas! Depois Jesus adicionou:

(4) “Esta é a sede que gritei na cruz, porque não podendo satisfazê-la completamente então,  me alegro em apagá-la nas almas de meus amados que sofrem. Portanto, sofrendo, vens dar  um alívio à minha sede”.

(5) Voltando outras vezes a rogar-lhe que liberasse o confessor porque sofria, disse-me: (6) “Minha filha, não sabes tu que a marca mais nobre que posso imprimir nos meus amados  filhos é a cruz?”

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2-50 

Julho 30, 1899

Sobre a caridade e sobre a estima da palavra de Jesus. 

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, transportando-me Jesus segundo seu  costume fora de mim mesma, passamos no meio de muitas pessoas, e a maior parte delas  estavam atentas a julgar as ações dos demais, sem olhar as próprias, e meu amado Jesus me  disse:

(2) “O meio mais seguro para ser reto com o próximo é não olhar em absoluto o que fazem,  porque olhar, pensar e julgar é o mesmo, além disso, olhando ao próximo vem defraudar a  própria alma, pelo que acontece que não se é reto nem consigo mesmo, nem com o próximo,  nem com Deus”.

(3) Depois disto lhe disse: “Meu único Bem, já faz tempo que não me dá nem sequer um  beijo”. E assim nos beijamos. E querendo me corrigir quase adicionou:

(4) “Minha filha, o que te recomendo é conservar e estimar minhas palavras, porque minha  palavra é eterna e santa como Eu mesmo, e conservá-la em teu coração e aproveitá-la, terás  tua santificação e por isso receberás em recompensa um esplendor eterno, produzido por  minha palavra; fazendo de outra maneira a tua alma receberá um vazio e ficarás devedora de  Mim”.

* * * * * *

2-51 

Julho 31, 1899

(sem título)

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(1) Jesus veio esta manhã, mas sempre em silêncio, eu estava contentíssima por ter a meu  tesouro Jesus, porque tendo-o a Ele tinha todos meus contentes, ao vê-lo compreendia muitas  coisas de sua beleza, de sua bondade e demais, mas como era tudo por meio da inteligência e  por via de comunicação intelectual, por isso a boca não sabe expressar nada, por isso melhor  faço silêncio.

* * * * * *

2-52 

Agosto 1, 1899

Silêncio e pranto de Jesus pelas criaturas. Fala sobre a pureza. 

(1) Esta manhã, meu gentil Jesus, transportando-me para fora de mim mesma, fazia-me ver a  corrupção na qual caiu o gênero humano. ¡ Dá horror pensar! Enquanto me encontrava no meio  destas pessoas, Jesus dizia quase chorando:

(2) “Ó homem, como te desfiguraste, deformado, desnobrecido! Fiz-te para seres o meu templo  vivo, e tu, por outro lado, tornaste-te o quarto do demônio! ; até as plantas, estando cobertas de  folhas, de flores e de frutos, te ensinam a honestidade, o pudor que deves ter do teu corpo, e  tu, tendo perdido todo o pudor e também a vergonha natural que deverias ter, te tornaste pior  do que os animais, Tanto que não tenho mais ninguém para te comparar. Tu eras a minha  imagem, mas agora já não te reconheces mais, antes me dás tanto horror por tuas impurezas,  que me dá náuseas ver-te, e tu mesmo me obrigas a fugir de ti”.

(3) Enquanto Jesus assim dizia, eu me sentia dilacerado pela dor ao ver tão amargado meu  amado Jesus, por isso lhe disse: “Senhor, tem razão de que não encontra mais nada de bem  no homem e que chegou a tal cegueira, que não sabe nem sequer respeitar as leis da  natureza, então se quiser ver o homem, não fará outra coisa que mandar castigos, por isso te  peço que vejas tua misericórdia e assim será remediado tudo”. Enquanto assim dizia, Jesus me  disse:

(4) “Filha, dá-me tu um alívio às minhas dores”.

(5) Ao dizer isto, tirou-se a coroa de espinhos que parecia encarnada em sua adorável cabeça  e a cravou na minha, eu sentia uma dor fortíssima, mas estava contente de que Jesus se  reconfortasse. Depois disto me disse:

(6) “Filha, Eu amo grandemente as almas puras, e assim como das impuras sou obrigado a  fugir, das puras em troca como por um ímã sou atraído a fazer morada nelas. Às almas puras  com prazer lhes empresto minha boca para fazê-las falar com minha mesma língua, assim que  não se cansam para converter às almas; em ditas almas Eu me agrado não só de continuar

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nelas minha Paixão, e assim continuar ainda a Redenção, mas o que é mais, me alegro  sumamente de glorificar nelas minhas mesmas virtudes”.

* * * * * *

2-53 

Agosto 2, 1899

Ameaças de castigos. Fala sobre a correspondência. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus se fazia ver todo aflito e quase zangado com os homens,  ameaçando com os habituais castigos e de fazer morrer gente de improviso sob raios,  granizadas e fogo, eu lhe pedi muito que se acalmasse e Jesus me disse: (2) “São tantas as iniqüidades que se elevam da terra ao Céu, que se faltasse por um quarto de  hora a oração e almas que fossem vítimas diante de Mim, Eu faria sair fogo da terra e com ele  inundaria as nações”.

(3) Depois acrescentou: “Olha quantas graças devia verter sobre as criaturas, mas como não  encontro correspondência estou obrigado a retê-las em Mim, é mais, me fazem trocá-las em  castigos. Preste atenção, minha filha, a me corresponder às tantas graças que estou  derramando em você, porque a correspondência é a porta aberta para me deixar entrar no  coração e ali formar meu quarto. A correspondência é como aquela boa acolhida, aquela estima  que se dá às pessoas quando vêm fazer uma visita, de modo que atraídas por esse respeito,  por essas maneiras afáveis que se usam com elas, estão obrigadas a vir outras vezes e  chegam a não saber se separar. O todo está em me corresponder, e a medida que as criaturas  me correspondem e me tratam na terra, assim Eu me comportarei com elas no Céu, fazendo lhes encontrar as portas abertas, convidarei a toda a corte celestial a acolhê-los e os colocarei  no mais sublime trono, mas será o contrário para quem não me corresponde”.

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2-54 

Agosto 7, 1899

Sobre nada de nós mesmos. 

(1) Esta manhã meu amável Jesus não vinha, e depois de tanto esperar e esperar, finalmente  veio; era tanta minha confusão e minha aniquilação, que não sabia lhe dizer nada e Jesus me  disse:

(2) “Quanto mais te aniquiles e conheceres o teu nada, tanto mais a minha humanidade,  enviando raios de luz, te comunicará as minhas virtudes”.

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(3) Eu lhe disse: “Senhor, sou tão má e feia que me horrorizo a mim mesma, o que será diante  de Ti?”

(4) E Jesus: “Se tu és feia, sou Eu quem te pode tornar bela”.

(5) E no mesmo momento de dizer isto enviou uma luz Dele para a minha alma, e parecia que  lhe comunicava a sua beleza, e depois, abraçando-me começou a dizer:

(6) “Como és bela, mas bela da minha beleza, por isso sou atraído a amar-te”. (7) Quem pode dizer como fiquei confusa? Mas tudo seja para sua glória.

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2-55 

Agosto 8, 1899

A alma resignada está sempre em repouso. 

(1) Continua a fazer-se parecer apenas e quase zangado com os homens e por mais que lhe  tenha pedido que derramasse em mim suas amarguras, foi impossível e sem prestar-me  atenção ao que lhe dizia, disse-me:

(2) “A resignação absorve tudo o que pode ser de dor ou de desgosto à natureza e o converte  em doce; e sendo meu Ser pacífico, tranquilo, de modo que qualquer coisa que possa  acontecer no Céu e na terra não pode receber nem sequer o menor alento de perturbação,  então a resignação tem a virtude de enxertar na alma estas mesmas virtudes minhas. A alma  resignada está sempre em repouso, não só ela, mas faz-me repousar tranquilamente também a  Mim nela.”

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2-56 

Agosto 10, 1899

Fala da justiça e como Jesus fica ferido pela simplicidade. 

(1) Esta manhã veio o meu doce Jesus, que me transportou para fora de mim mesma, e  desapareceu, e, havendo-me deixado só, vi que do céu desciam como dois candelabros de  fogo e depois, dividindo-se em muitos pedaços, se formavam muitos raios e granizadas que  desciam à terra e faziam uma grandíssima destruição em plantas e homens. Era tanto o horror  e a fúria do temporal, que nem sequer se podia rezar e as pessoas não podiam chegar a suas  casas. Quem pode dizer como fiquei assustada? Então comecei a rezar para aplacar o Senhor,  e Ele retornando, vi que trazia na mão como uma vara de ferro e na ponta uma bola de fogo e  me disse:

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(2) “Minha justiça foi longamente retida e com razão quer tomar vingança contra as criaturas,  pois ousaram destruir nelas toda justiça. ¡ Ah, sim, nada de encontro justo no homem! ; tudo foi  desfigurado, nas palavras, nas obras e nos passos, tudo é engano, tudo é fraude, tudo é  injusto, assim penetrando no coração, interno e externo, não é outra coisa que uma adega de  vícios. ¡ Pobre homem, como te reduziste!”.

(3) Enquanto assim dizia, a vara que tinha na mão movia-a em ato de ferir o homem. Eu lhe  disse: “Senhor, o que faz?”.

(4) E Ele: “Não temas, olha, esta bola de fogo fará fogo, e não castigará mais que aos maus, os  bons não receberão dano”.

(5) E eu acrescentei: “Ah Senhor! Quem é bom? Somos todos maus, peço-te que não olhes  para nós senão para a tua infinita misericórdia, e assim ficarás aplacado por todos”. Depois  disso ele adicionou:

(6) “A filha da justiça é a verdade. Assim como Eu sou Verdade eterna que não engano nem me  podem enganar, assim a alma que possui a justiça faz resplandecer em todas suas ações a  verdade; portanto, conhecendo por experiência a verdadeira luz da verdade, se alguém quer  enganá-la, ao advertir a falta da luz que tem em si, logo conhece o engano, então acontece que  com esta luz da verdade não se engana a si mesma, nem ao próximo, nem pode receber  engano.

(7) Fruto que produz esta justiça e esta verdade, é a simplicidade, outra qualidade de meu Ser,  o ser simples, tanto que penetro em todas partes, não há nada que possa opor-se a que Eu  penetre dentro, penetro no Céu e nos abismos, no bem e no mal, mas meu Ser simplíssimo,  penetrando mesmo no mal; não se suja, aliás, nem sequer recebe a mais mínima  sombra. Assim a alma, com a justiça e com a verdade, recolhendo em si este belo fruto da  simplicidade, penetra no Céu, introduz-se nos corações para conduzi-los a Mim, penetra em  tudo o que é bem e encontrando-se com os pecadores para ver o mal que fazem, não fica  manchada, porque sendo simples prontamente se libera, sem receber dano algum. É tão bela a  simplicidade, que meu coração fica ferido a um só olhar de uma alma simples, e ela é causa de  admiração aos anjos e aos homens”.

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2-57 

Agosto 12, 1899

Jesus transforma-a toda em Si e ensina-lhe a caridade.

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(1) Esta manhã meu adorável Jesus, depois que me fez esperar por algum tempo, veio me  dizendo:

(2) “Minha filha, esta manhã quero uniformizar-te toda a Mim: Quero que penses com a minha  mesma mente, que olhes com os meus olhos, que ouças com os meus ouvidos, que fales com  a minha mesma língua, que trabalhes com as minhas mãos, que caminhes com os meus pés, e  que ames com o meu mesmo coração”.

(3) Depois disto, Jesus unia seus sentidos mencionados acima com os meus, e via que me  dava sua mesma forma; não só isso, mas me dava a graça de usá-los como fez Ele mesmo, e  depois continuou dizendo:

(4) “Graças grandes derramo em você, recomendo que as saiba conservar”. (5) E eu: “Temo muito, ó meu amado Jesus, ao conhecer-me que estou cheia de misérias e  que, em vez de fazer o bem, faço mau uso das tuas graças. Mas o que mais me faz temer é a  língua, que freqüentemente me faz faltar na caridade para com o próximo”. (6) E Jesus: “Não temas, eu mesmo te ensinarei o modo que deves ter ao falar com o próximo”: (7) A primeira coisa: Quando te disser algo a respeito do próximo, faz um olhar sobre ti mesma  e observa se tu és culpado desse mesmo defeito, e então querer corrigir é um querer me  indignar e escandalizar ao próximo.

(8) A segunda: Se tu te vês livre daquele defeito, então levanta-te e procura falar como eu teria  falado, assim falarás com a minha própria língua. Fazendo assim jamais faltarás na caridade do  próximo, aliás, com as tuas palavras farás bem a ti, ao próximo, e a Mim me darás honra e  glória”.

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2-58 

Agosto 13, 1899

Ameaça de castigos e tenta acalmá-lo. 

(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver, ameaçando sempre com castigos, e enquanto  eu me punha a rogar-lhe que se acalmasse, como um relâmpago desaparecia. A última vez que  ele veio se fazia ver crucificado, então me aproximei para beijar suas santíssimas chagas,  fazendo várias adorações, mas enquanto isso fazia, em vez de Jesus Cristo vi minha mesma  imagem. Fiquei surpreendida e disse: “Senhor! O que estou a fazer? Estou a fazer as minhas  próprias adorações? Isto não pode ser feito”. Nesse momento mudou-se na pessoa de Jesus  Cristo e me disse:

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(2) “Não te admires de que tenha tomado tua mesma imagem; se Eu sofro continuamente em  ti, que maravilha é que tenha tomado tua mesma forma? E além disso, não é para fazer-te  imagem minha que te faço sofrer?”

(3) Eu fiquei toda confusa e Jesus desapareceu. Seja tudo para sua glória, seja bendito sempre  seu santo nome.

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2-59 

Agosto 15, 1899

Jesus ordena-lhe a caridade. Festa da Mãe 

Celestial. Dá-lhe o ofício de mãe na terra. 

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus veio todo alegre, trazendo entre as mãos um ramo de  belíssimas flores, e pondo-se em meu coração, com aquelas flores agora se rodeava a cabeça,  agora as tinha entre suas mãos, recriando-se e agradando-se tudo. Enquanto se divertia com  estas flores, como se tivesse feito uma grande aquisição, virou-se para mim e disse-me:

(2) “Amada minha, esta manhã vim para pôr em ordem no teu coração todas as virtudes. As  outras virtudes podem estar separadas uma da outra, mas a caridade ata e ordena tudo. Eis o  que quero fazer em ti, ordenar a caridade”.

(3) Eu disse-lhe: “Sozinho e único Bem meu, como podes fazer isto sendo eu tão má e cheia de  defeitos e imperfeições? Se a caridade é ordem, estes defeitos e pecados não são desordem  que têm tudo em desordem e revolta a minha alma?”

(4) E Jesus: “Eu purificarei tudo e a caridade porá tudo em ordem. E além disso, quando a uma  alma a faço partícipe das penas de minha Paixão, não pode haver culpas graves, a mais algum  defeito venial involuntário, mas meu amor, sendo fogo, consumirá tudo o que é imperfeito em  tua alma”.

(5) Assim parecia que Jesus me purificava e ordenava tudo; depois derramava como um rio de  mel de seu coração no meu e com esse mel regava todo meu interior, de modo que tudo o que  estava em mim ficava ordenado, unido, e com a marca da caridade.

(6) Depois disto me senti saindo de mim mesma na abóbada dos céus, junto com meu amado  Jesus; parecia que tudo estava em festa, Céu, terra e purgatório; todos estavam inundados de  uma nova alegria e júbilo. Muitas almas saíam do purgatório e como raios chegavam ao Céu  para assistir à festa da nossa Rainha Mãe. Também eu me punha no meio daquela imensa  multidão de pessoas, isto é, anjos, santos e almas do purgatório, que ocupavam aquele novo  Céu, que era tão imenso, que o nosso que vemos, comparado com aquele me parecia um  pequeno buraco, muito mais do que tinha a obediência do confessor. Mas enquanto olhava,

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não via outra coisa que um Sol luminosíssimo que espargia raios que me penetravam toda, de  lado a lado, e me tornavam como um cristal, tanto que se descobriam muito bem os pequenos  defeitos e a infinita distância que há entre o Criador e a criatura; tanto mais que aqueles raios,  cada um tinha sua marca: Um delineava a Santidade de Deus, outro a pureza, outro a potência,  outro a sabedoria, e todas as outras virtudes e atributos de Deus. Assim que a alma, vendo seu  nada, suas misérias e sua pobreza, se sentia aniquilada e em vez de olhar, prostrava-se com o  rosto na terra ante aquele Sol Eterno, ante o Qual não há ninguém que possa estar frente a  Ele.

(7) Mas o mais era que para ver a festa de nossa Mãe Rainha, se devia ver desde dentro  daquele Sol, tanto parecia imersa em Deus a Virgem Santíssima, que olhando desde outros  pontos não se via nada. Agora, enquanto me encontrava nestas condições de aniquilamento  ante o Sol Divino e a Mamãe Reina tendo em seus braços o menino, Jesus me disse:

(8) “Nossa Mãe está no Céu, dou a você o ofício de me fazer de mãe na terra, e como minha  vida está sujeita continuamente aos desprezos, à pobreza, às penas, aos abandonos dos  homens, e minha Mãe estando na terra foi minha fiel companheira em todas estas penas, e não  só isso, mas procurava aliviar-me em tudo, por quanto podiam suas forças, assim também tu,  fazendo-me de mãe me farás fiel companhia em todas as minhas penas, sofrendo tu em vez  minha por quanto possas, e onde não possas, buscarás dar-me ao menos um consolo. Saiba  que quero que preste atenção em mim. Serei ciumento até do teu respiro se não o fizeres por  Mim, e quando vir que não estás toda atenta para me contentar, não te darei nem paz nem  repouso”.

(9) Depois disto, comecei a fazer-lhe de mãe, mas oh! quanta atenção era necessária para  satisfazê-lo. Para vê-lo feliz não se podia nem olhar para outra parte. Agora queria dormir,  agora queria beber, agora queria que o acariciasse e eu devia encontrar-me pronta a tudo o  que queria; agora dizia: “Mamãe minha, me dói a cabeça, ah, me alivie!” E eu imediatamente  lhe revistava a cabeça, e encontrando espinhos, tirava-os e, pondo-lhe o meu braço debaixo da  cabeça, o fazia repousar. Enquanto fazia que repousasse, de repente se levantava e dizia:  “Sinto um peso e um sofrimento no coração, tanto de sentir-me morrer; vê que há”. E olhando  para o interior do coração, encontrei todos os instrumentos da Paixão, e um a um tirei-os e  coloquei-os no meu coração. Depois, vendo-o aliviado, comecei a acariciá-lo e a beijá-lo e  disse: “Meu único e único tesouro, nem sequer me deixaste ver a festa de nossa Rainha Mãe,  nem ouvir os primeiros cânticos que lhe cantaram os anjos e os santos no ingresso que fez no  Paraíso”.

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(10) E Jesus: “O primeiro canto que fizeram a minha Mãe foi a Ave Maria, porque na Ave Maria  estão os louvores mais belos, as maiores honras, e renova-se-lhe a alegria que teve ao ser  feita Mãe de Deus, por isso, Vamos recitá-la juntos para honrá-la e quando você vier ao  Paraíso, eu a encontrarei como se a tivesse dito com os anjos aquela primeira vez no Céu”.

(11) E assim recitamos a primeira parte da Ave Maria juntos. ¡ Oh, como era terno e comovedor  saudar a nossa Mãe Santíssima junto com seu amado Filho! Cada palavra que Ele dizia, levava  uma luz imensa na qual se compreendiam muitas coisas sobre a Virgem Santíssima, mas  quem pode dizê-las todas? Muito mais pela minha incapacidade, por isso passo-as em silêncio.

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2-60 

Agosto 16, 1899

Continue fazendo de mãe a Jesus. 

(1) Jesus continua querendo que lhe faça de mamãe, e fazendo-se parecer como graciosíssimo  menino chorava, e para acalmá-lo o pranto, tendo-o entre meus braços comecei a cantar, e  acontecia que quando eu cantava parava de chorar, e quando não, voltava a chorar. Eu teria  querido deixar no silêncio o que cantava, primeiro porque não me lembro de tudo, pois estando  fora de mim mesma dificilmente recordo todas as coisas que acontecem, e também porque  acredito que são desatinos, mas a senhora obediência, sendo demasiado impertinente não me  quer conceder; basta com que se faça como ela quer, se contente ainda que sejam  desatinos. Eu não sei, diz-se que esta senhora obediência é cega, mas a mim parece-me  melhor que é toda olhos, porque olha até as mínimas coisas, e quando não se faz como ela diz,  torna-se tão impertinente que não te dá paz. Então para ter paz da parte desta bela senhora  obediência, porque além disso é tão boa quando se faz como ela diz, que tudo o que se quer,  por meio dele se obtém, por isso me disponho a dizer o que recordo que cantava:

(2) Menino, és pequeno e forte, de Ti espero todo consolo; menino gracioso e belo, Tu  apaixonas até as estrelas; menino, róbam-me o coração para enchê-lo de teu amor; menino  terno, faz-me a minha menina; menino, és um Paraíso, ah! me faça ir me divertir no eterno  sorriso.

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2-61 

Agosto 17, 1899

Jesus fala da obediência.

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(1) Esta manhã, tendo recebido a Comunhão, estava dizendo ao meu amável Jesus: “Como é  que esta virtude da obediência é tão impertinente e às vezes tão forte, que chega a tornar-se  caprichosa?”

(2) E Ele: “Sabe por que esta nobre senhora obediência é como você diz? Porque dá morte a  todos os vícios, e naturalmente alguém que deve fazer sofrer a morte a outro deve ser forte,  valente, e se não o conseguir com isto se serve das impertinências e dos caprichos. Se isto é  necessário para matar o corpo que é tão frágil, muito mais para dar morte aos vícios e às  próprias paixões, que é tão difícil que muitas vezes enquanto parecem mortas, começam a  reviver de novo. Eis por que esta diligente senhora está sempre em movimento e  continuamente vigiando, e se vê que a alma põe a mínima dificuldade ao que lhe é mandado,  então temendo que algum vício possa começar a reviver em seu coração, lhe faz tanta guerra e  não lhe dá paz até que a alma se prostra a seus pés e adora em silêncio o que ela quer; eis por  que é tão impertinente e quase caprichosa como você diz.¡Ah! sim, não há verdadeira paz sem  obediência, e se parece que se goza de paz, é paz falsa, e digo parece, porque vai de acordo  com as próprias paixões, mas jamais com as virtudes e se acaba com arruinar-se, porque  separando-se da obediência se separam de Mim, que fui o Rei desta nobre virtude. Além disso,  a obediência mata a própria vontade e a torrentes verte a Divina, tanto, que se pode dizer que a  alma obediente não vive de sua vontade, senão da Divina; e se pode dar vida mais bela, mais  santa, que o viver da Vontade de Deus mesmo? Por isso, com as outras virtudes, mesmo com  as mais sublimes, pode estar junto o amor próprio, mas com a obediência jamais”.

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2-62 

18 de agosto de 1899

Como a palavra de Deus não só é verdade, mas também luz. 

(1) Vindo esta manhã o amantíssimo Jesus lhe disse: “Meu amado Jesus, eu creio que tudo o  que escrevo são muitos disparates”.

(2) E Jesus: “A minha palavra não só é verdade, mas também luz, e quando uma luz entra num  quarto escuro, o que faz? Dissipa as trevas e faz descobrir os objetos que há, feios ou belos,  se estão em ordem ou em desordem, e do modo como se encontra esse quarto julga-se a  pessoa que ocupa aquela habitação. Agora, a vida humana é o quarto escuro, e quando a luz  da verdade entra em uma alma, dissipa as trevas, isto é, faz descobrir o verdadeiro do falso, o  temporal do eterno, assim que lança de si os vícios e se mete à ordem das virtudes, porque  sendo minha luz santa, que é minha própria Divindade, não poderá comunicar outra coisa que

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santidade e ordem, portanto a alma sente sair de si, luz de paciência, de humildade, de  caridade e mais. Se minha palavra produz em você estes sinais, por que teme?” (3) Depois disto, Jesus me fez ouvir que rogava ao Pai por mim, dizendo: “Pai Santo, peço-te  por esta alma, faz com que cumpra em tudo perfeitamente a nossa Santíssima Vontade, faz Ó  Pai adorável que as suas ações estejam tão conformadas com as minhas, mas de tal modo  que não se possam distinguir umas das outras, e assim poder cumprir sobre ela o que  desenhei”.

(4) Mas quem pode dizer a força que me sentia infundir na minha alma por esta oração de  Jesus? Sentia-me a vestir a alma por uma força tal, que para cumprir a Vontade Santíssima de  Deus não me teria importado sofrer mil martírios, se assim fosse seu beneplácito. Sempre  sejam dadas as graças ao Senhor, que tanta misericórdia usa com esta pobre pecadora.

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2-63 

21 de agosto de 1899

Efeitos de agradar somente a Jesus. 

(1) Depois de ter passado dois dias de sofrimentos, Jesus mostrava-se todo afabilidade e  doçura. Em meu íntimo eu dizia: “Como é bom comigo o Senhor, porém não encontro em mim  nada de bom que lhe possa agradar”. E Jesus, respondendo, disse-me:

(2) “Amada minha, assim como você não encontra outro prazer nem outro contente, que te  entreter e conversar Comigo e dar-me gosto só a Mim, de modo que todas as outras coisas  que não são minhas te desgostam, assim Eu, meu prazer e minha consolação é vir a me  entreter e falar contigo. Tu não podes entender a força que tem sobre meu coração, de me  atrair a ela, uma alma que tem a única finalidade de me agradar só a Mim; sinto-me tão unido  com ela que estou obrigado a fazer o que ela quer”.

(3) Enquanto Jesus assim dizia, compreendi que falava no modo como em dias passados,  enquanto sofria acerbos dores, em meu interior ia dizendo: “Meu Jesus, tudo por teu amor,  estas dores sejam tantos atos de louvor, de honra, de homenagem que te ofereço, estas dores  sejam tantas vozes que te glorifiquem e tantos testemunhos que digam que te amo”.

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2-64 

Agosto 22, 1899

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Jesus comunica-lhe as suas virtudes. 

(1) Meu amado Jesus continua vindo, todo amável e majestoso;enquanto estava neste aspecto  me disse:

(2) “A pureza dos meus olhares resplandeça em todas as tuas obras, de modo que subindo de  novo aos meus olhos me produza um resplendor e me distraia das porcarias que fazem as  criaturas”.

(3) Eu fiquei toda confusa diante destas palavras, tanto que não ousava dizer-lhe nada, mas  Jesus me alentou, para me dar confiança começou a dizer-me:

(4) “Diz-me, o que queres?”

(5) E eu: “Quando tenho a Ti, há mais alguma coisa que possa desejar?” (6) Mas Jesus insistiu mais de uma vez que lhe dissesse o que queria;e eu olhando para ele, vi  a beleza de suas virtudes e lhe disse: “Meu dulcíssimo Jesus, dá-me suas virtudes”. (7) E Ele, abrindo o seu coração, fazia sair tantos raios diferentes das suas virtudes, que ao  entrar no meu sentia-me fortalecido nas virtudes.

(8) Em seguida, acrescentou: “O que mais você quer?”

(9) E eu, lembrando-me que nos dias passados por uma dor que sofria não conseguia que  meus sentidos se perdessem em Deus, disse-lhe: “Meu benigno Jesus, faz que a dor não me  impeça o poder perder-me em Ti”.

(10) E Jesus, tocando-me com a sua mão a parte em que sofria, atenuou a acuidade da dor, de  modo que posso recolher-me e perder-me nele.

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Agosto 27, 1899

O efeito quando Jesus vai à alma. 

(1) Esta manhã enquanto via o meu doce Jesus, sentia um temor de que não fosse Ele senão o  demônio para me enganar. E Jesus, respondendo ao meu temor, disse-me: (2) “Quando sou Eu quem se apresenta à alma, todas as potências interiores se aniquilam e  conhecem o seu nada, e Eu, vendo a alma humilhada, faço abundar o meu amor, como tantos  rios, de modo a inundar tudo e fortalecê-la no bem. O oposto acontece quando ele é o  demônio”.

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2-66 

Agosto 30, 18991

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Jesus lhe faz ver o estado lamentável do mundo. 

(1) Esta manhã meu amado Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fez ver a  decadência da religião nos homens e um preparativo de guerra. Eu disse-lhe: “Ó Senhor, em  que estado se encontra tão lamentável o mundo nestes tempos quanto à religião! Parece que o  mundo já não reconhece Aquele que enobrece o homem e o faz aspirar a um fim eterno, mas o  que mais faz chorar, é que parte daqueles mesmos que se dizem religiosos, que deveriam pôr  a própria vida para defender a religião e fazê-la ressurgir, a ignoram”. E Jesus, tomando um  aspecto afligidíssimo, disse-me:

(2) “Minha filha, esta é a causa de que o homem viva como besta, porque perdeu a religião;  mas tempos mais tristes virão para o homem em castigo da cegueira na qual ele mesmo se  submergiu, tanto, que me oprime o coração ao vê-lo. Mas o sangue fará reviver esta santa  religião, este sangue que farei derramar por todo tipo de gente, por leigos e religiosos, regará  ao resto das pessoas que vivem como selvagens, e civilizá-las lhes restituirá de novo sua  nobreza. Eis a necessidade de que o sangue se derrame e que as mesmas igrejas fiquem  quase abatidas, para fazer que voltem de novo e existam com seu primeiro brilho e esplendor”.

(3) Mas quem pode dizer o rasgo cruel que farão nos tempos vindouros? Passo-o em silêncio  porque não o recordo bem e não o vejo tão claro; se o Senhor quer que o diga dar-me-á mais  claridade e então tomarei de novo a pena sobre este argumento, por isso, por agora termino.

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2-67 

Agosto 31, 1899

O confessor dá a obediência de rejeitar Jesus e não falar com Ele. 

(1) Tendo dado ao confessor a obediência de que quando viesse Jesus devia dizer: “Não posso  falar, afasta-te”. Eu o tomei como uma brincadeira, não como obediência formal, por isso  quando veio Jesus, quase não levando em conta a ordem recebida, ousei dizer-lhe: “Meu bom  Jesus, olhe um pouco o que quer fazer o pai”.

(2) E Ele disse-me: “Filha, abnegação”.

(3) E eu: “Mas Senhor, a coisa é séria: trata-se de não te querer! Como posso fazê-lo?” (4) E  Ele, pela segunda vez: “Abnegação”.

(5) E eu: “Mas Senhor! Que dizes? Crês Tu que possa estar sem Ti?”

(6) E Ele pela terceira vez: “Minha filha, abnegação”.

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(7) E desapareceu. Quem pode dizer como fiquei ao ver que Jesus queria que me dispusesse à  obediência?

* * * * * *

2-68 

Setembro 1, 1899

Continua a obediência, mas um pouco mais moderada. 

(1) Vindo o confessor, perguntou-me se tinha cumprido a obediência, e tendo-lhe dito o que  tinha acontecido, renovou a obediência de que não devia absolutamente falar com Jesus, meu  único e único consolo, e que devia despedi-lo se viesse. E eis que, havendo entendido que a  obediência que me era dada era verdadeira, em meu interior disse o “Fiat Voluntas Tua”  também nisto; mas, oh, quanto me custa e que cruel martírio! Sinto como um prego cravado no  coração, que o atravessa de lado a lado; e como meu coração está acostumado a pedir e  desejar a Jesus continuamente, tanto, que assim como é contínuo o respirar e o bater, assim  me parece que é contínuo o desejar e querer a meu único Bem, Então, querer impedir isso  seria o mesmo que impedir alguém de respirar e bater do coração, como poderia viver? No  entanto, é preciso fazer prevalecer a obediência. ¡Oh Deus, que pena, que rasgo tão atroz!  Como impedir ao coração que peça sua própria vida? Como detê-lo? A vontade se punha com  toda sua força a freá-lo, mas como se necessitava contínua e grande vigilância, de vez em  quando se cansava e se distraía e o coração fazia sua escapada e pedia a Jesus; a vontade  dando-se conta disto se punha com maior força a freá-lo, mas era vencida freqüentemente;  pelo que me parecia que fazia contínuos atos de desobediência. ¡ Oh, em que contrastes, que  guerra sangrenta, que agonias mortais sofria meu pobre coração! Encontrava-me em tais  estreitezas e em tais sofrimentos, que acreditava que me ia a vida, não obstante isto teria sido  um consolo para mim se pudesse morrer, mas não, e o que era pior era que sentia penas de  morte, mas sem poder morrer.

(2) Então, depois de haver derramado lágrimas amarguíssimas todo o dia, na noite,  encontrando-me em meu habitual estado, meu sempre benigno Jesus veio, e eu, obrigada pela  obediência lhe disse: “Senhor, não venha, porque a obediência não quer”. (3) E Ele compadecendo-me e querendo fortalecer-me nos sofrimentos em que me encontrava,  com a sua mão criadora marcou a minha pessoa com um grande sinal de cruz e deixou-me. (4) Mas quem pode dizer o purgatório em que me encontrava? O pior era que não podia me  lançar para meu sumo e único Bem. ¡ Ah sim, eu era negado pedir e desejar Jesus! Oh! às  almas benditas do purgatório lhes é permitido pedir, desejar, lançar-se ao sumo Bem, só que  lhes está proibido tomar posse dele, a mim, não, a mim me era negado mesmo este consolo.

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Então, toda a noite não fiz outra coisa que chorar; quando minha débil natureza não podia  mais, o amável Jesus voltou em atitude de querer falar comigo, e eu em seguida, recordando a  obediência que quer reinar sobre tudo, lhe disse: “Amada Vida minha, não posso falar, e não  venha, porque a obediência não quer. Se queres fazer entender a tua vontade, vai ter com o  confessor”.

(5) Enquanto dizia isto, vi o confessor, e Jesus, aproximando-se dele, disse-lhe: “Isto é  impossível, tenho as minhas almas tão submersas em Mim, que formamos uma mesma  substância, tanto que não se distingue mais uma da outra, e assim como quando duas  substâncias se unem, uma se transmite na outra, e depois, embora se queira separá-las, é  inútil até mesmo pensar, assim é impossível que minhas almas possam estar separadas de  Mim”.

(6) E, havendo dito isto, já se foi, e eu fiquei mais aflita do que antes, o meu coração batia tão  forte que sentia abrir-me o peito. Depois disto, não sei dizer como, encontrei-me fora de mim  mesma, e esquecendo-me não sei como da obediência recebida, virei pela abóbada do céu  chorando, gritando e buscando a meu doce Jesus, quando de repente o vi vir, lançando-se  entre meus braços, todo cheio de amor e definhando, mas logo me lembrei do mandato  recebido e lhe disse: “Senhor, não me queiras tentar esta manhã, não sabes que a obediência  não quer?”

(7) E Ele: “Mandou-me o confessor, por isso vim”.

(8) E eu: “Não é verdade, és porventura algum demónio que me quer enganar e fazer-me faltar  à obediência?”

(9) E Jesus: “Não sou demónio”.

(10) E eu: “Se não és demónio, façamo-nos juntos o sinal da cruz”. E os dois signamos-nos  com a cruz. Depois, continuei dizendo-lhe: “Se é verdade que o confessor te enviou, vamos a  ele, a fim de que ele mesmo possa ver se és Jesus Cristo ou bem o demônio, e então poderei  estar segura”.

(11) Assim fomos com o confessor, e como Jesus estava em forma de menino o dei em seus  braços dizendo-lhe: “Pai, veja você mesmo, é meu doce Jesus, ou não?” (12) Agora, enquanto Jesus bendito estava com o pai, disse-lhe: “Se és verdadeiramente  Jesus, beija a mão do confessor”. E em minha mente pensava que se fosse o Senhor teria feito  essa humilhação de lhe beijar a mão, mas se fosse um demônio, não. E Jesus a beijou, mas  não ao homem, senão a potestade sacerdotal, assim a beijou. Depois disto parecia que o  confessor o conjurava para ver se era demônio, e não o encontrando tal me devolveu. Mas com  tudo isso meu pobre coração não podia gozar os abraços do meu amado Jesus, porque a

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obediência o tinha como atado, impedido, muito mais porque ainda não havia nenhuma ordem  contrária, por isso meu coração não ousava desabafar, nem sequer dizer uma palavra de  amor…

(13) Ó santa obediência, como és forte e poderoso! Eu te vejo nestes dias de martírio ante mim  como um guerreiro potentíssimo, armado da cabeça aos pés com espadas, flechas, cheio de  todos aqueles instrumentos aptos para ferir, e quando vê que meu pobre coração cansado e  abatido quer consolar-se buscando seu refrigério, sua vida, o centro ao qual se sente atrair  como por um ímã, você, olhando-me com mil olhos, por toda parte me fere com feridas mortais.  ¡ Ah, tenha piedade de mim e não seja tão cruel comigo!

(14) Mas enquanto digo isto, a voz do meu adorável Jesus faz-se ouvir nos meus ouvidos que  diz:

(15) “A obediência foi tudo para Mim, a obediência quero que seja tudo para ti. A obediência me  fez nascer, a obediência me fez morrer, as chagas que tenho em meu corpo são feridas e  marcas que me fez a obediência. Com razão disse que é um guerreiro potentíssimo, armado  com toda classe de armas aptas para ferir, porque em Mim não me deixou nem uma gota de  sangue, me arrancou as carnes, me deslocou os ossos, e meu pobre coração, destroçado,  sangrante, ia buscando um alívio, Alguém que tivesse compaixão de mim. A obediência então,  tornando-se para Mim mais do que cruel tirano, só se contentou quando me sacrificou na cruz e  me viu expirar vítima por seu amor. E por que isso? Porque o ofício deste potentíssimo  guerreiro é de sacrificar às almas, por isso não faz outra coisa que mover guerra encarniçada a  quem não se sacrifica tudo por ela, por isso não tem nenhuma consideração se a alma sofre ou goza, se vive ou morre, seus olhos estão atentos para ver se ela vence, que das outras coisas  não se dá ao trabalho. Por isso o nome deste guerreiro é “vitória”, porque concede todas as  vitórias à alma obediente, e quando parece que esta morre, então começa a verdadeira vida. E  o que não me deu obediência? Por meio dele venci a morte, derrotei o inferno, desamarrei o  homem acorrentado, abri o Céu, e como Rei vitorioso tomei posse do meu reino, não só para  Mim, mas para todos os meus filhos que se teriam aproveitado da minha Redenção. ¡ Ah! sim,  é verdade que me custou a vida, mas a palavra “obediência” me soa doce ao ouvido e por isso  amo tanto as almas que são obedientes”.

(16) Volto a falar de onde deixei.

(17) Depois de um pouco veio o confessor, e tendo-lhe dito tudo o que disse acima, renovou me a obediência de continuar da mesma maneira, e tendo-lhe dito: “Pai, permita ao menos dar  a liberdade ao meu coração de rogar a Jesus, que a obediência de lhe dizer quando vem, não  venha e não posso conversar, faço-a”.

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(18) E Ele: “Faça o que puder para detê-lo, e quando não puder, então dê-lhe liberdade”.

* * * * * *

2-69 

Setembro 2, 1899

O confessor deixa-a livre. 

(1) Agora, com esta obediência um pouco mais mitigada, meu pobre coração parecia que de  estar morto começasse a reviver um pouco, mas com tudo e isto não deixava de estar  dilacerado de mil maneiras, porque a obediência, quando via que o coração se detinha um  pouco mais em busca de seu Criador, como se quisesse repousar nele porque estava sem  força, vinha-me em cima e com suas armas me feria toda. E além disso, esse ter que repetir  aquele refrão quando o bendito Jesus se fazia ver: “Não venhas, não posso conversar porque a  obediência não quer”, era para mim o mais atroz e cruel martírio. Então meu doce Jesus,  encontrando-me eu em meu estado habitual, veio e eu lhe manifestei a ordem recebida, e Ele  se foi. Uma vez, enquanto eu lhe dizia: “Não venhas, que a obediência não quer”, disse-me:

(2) “Minha filha, tenha sempre diante de sua mente a luz de minha Paixão, porque ao ver  minhas acerbísimas penas, as suas lhe parecerão pequenas, e ao considerar a causa pela qual  sofri tantas dores imensas, que foi o pecado, os menores defeitos lhe parecerão graves. Em  troca, se não olhar em Mim, as menores penas lhe parecerão pesadas e os defeitos graves os  tomará como coisa de nada”. E desapareceu.

(3) Depois de um pouco veio o confessor, e tendo-lhe perguntado se ainda devia continuar esta  obediência, disse-me: “Não, podes dizer-lhe o que quiseres e tê-lo quanto queiras”. (4) Parece que fui deixada livre e já não tenho tanto que fazer com este guerreiro tão potente,  de outra maneira esta vez se teria feito tão forte que me daria a morte, mas me teria feito fazer  uma grande ganância porque me teria unido para sempre ao sumo Bem, e não a intervalos, e  ter-lhe-ia agradecido, aliás, ter-lhe-ia cantado o cântico da obediência, ou seja, o cântico das  vitórias, assim que me teria rido de toda a sua força… Mas enquanto dizia isto, diante de mim  apareceu um olho resplandecente e belo, e uma voz que dizia: “E eu ter-me-ia unido a ti e ter me-ia agradado de rir, porque teria sido minha a vitória”.

(5) E eu: “Oh! Querida obediência, depois de nos termos rido juntas, ter-te-ia deixado aos  portões do Paraíso para te dizer adeus e não nos vermos mais, e assim não ter-me-ia que ver  mais contigo, e ter-me-ia cuidado muito bem de não te deixar entrar”.

* * * * * *

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2-70 

Setembro 5, 1899

Como Jesus opera a perfeição na alma pouco a pouco. 

(1) Esta manhã estava tão desanimada e parecia tão má, que eu mesma me tornava  insuportável. Tendo vindo Jesus, disse-lhe as minhas mágoas e o miserável estado em que me  encontrava, e Ele disse-me:

(2) “Minha filha, não queira perder o ânimo, este é meu costume, o obrar a perfeição passo a  passo e não tudo em um instante, a fim de que a alma, vendo sempre que lhe falta alguma  coisa, se impulsione, faça todos os esforços para alcançar o que lhe falta, a fim de me agradar  mais e de se santificar mais, então Eu, atraído por esses atos sinto-me forçado a lhe dar novas  graças e favores celestiais, e com isto se vem a formar um comércio todo divino entre a alma e  Deus, de outra maneira, possuindo a alma em si a plenitude da perfeição, e portanto de todas  as virtudes, não encontraria modos de se esforçar, como lhe agradar mais e viria a faltar a  fogueira para acender o fogo entre a criatura e o Criador”.

(3) ¡ Seja sempre bendito o Senhor!

* * * * * *

2-71 

Setembro 9, 1899

Jesus fala-lhe do nada e do amor que o leva. 

(1) Jesus continua a vir, mas com um aspecto todo novo. Parecia que de seu coração bendito  saía um tronco de árvore que tinha três raízes distintas, e este tronco, de seu coração entrava  no meu, e saindo de meu coração o tronco formava tantas formosas ramificações carregadas  de flores, de frutos, de pérolas e de pedras preciosas, resplandecentes como estrelas  fulgidíssimas. Agora, meu amado Jesus, vendo-se à sombra desta árvore, se recriava tudo,  muito mais que da árvore caíam tantas pérolas que formavam um belo adorno a sua  Santíssima Humanidade. Enquanto estava nesta posição, disse-me:

(2) “Minha querida filha, as três raízes que vês nesta árvore são: a fé, a esperança e a  caridade. E o que você vê que este tronco sai de Mim e se introduz em tua oração, significa  que não há bem que possuam as almas que não venha de Mim; assim que depois da fé, a  esperança e a caridade, o primeiro desenvolvimento que faz este tronco é o fazer conhecer que  todo o bem vem de Deus, que delas não têm outra coisa senão a sua própria nada, e que este  nada não faz outra coisa senão dar-me a liberdade de me fazer entrar nelas e fazer-me

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trabalhar o que quero; enquanto que há outras nadas, isto é, outras almas, que com a livre  vontade que têm se opõem, então, faltando este conhecimento, o tronco não produz nem  ramos nem frutos, nem nenhuma outra coisa de bom. Os ramos que contém esta árvore, com  todo o aparato das flores, frutos, pérolas e pedras preciosas, são todas as diversas virtudes  que pode possuir a alma. Quem deu vida a esta bela árvore? Certamente as raízes, isto  significa que a fé, a esperança e a caridade abraçam tudo, contêm todas as virtudes, tanto que  são colocadas como base e fundamento da árvore, e sem elas não se pode produzir nenhuma  outra virtude”.

(3) Assim compreendi também que as flores significam as virtudes, os frutos os sofrimentos, as  pedras preciosas e as pérolas o sofrer unicamente pelo só amor de Deus. Eis por que aquelas  pérolas que caíam formavam esse belo ornamento a Nosso Senhor. Agora, enquanto Jesus se  sentava à sombra desta árvore, olhava-me com ternura toda paterna, então, tomado por um  arrebatamento amoroso, que parecia que não podia conter em Si, abraçando-me fortemente  começou a dizer:

(4) “Como és bela! Vós sois minha cândida pomba, minha amada morada, meu templo vivo, no  qual unido com o Pai e o Espírito Santo me deleito em deleitar-me. Seu contínuo pesar por Mim  me alivia e conforta das contínuas ofensas que me fazem as criaturas. Deve saber que é tanto  o amor que te tenho, que sou obrigado a escondê-lo em parte, para fazer que você não  enlouqueça e possa viver, porque se o fizesse ver não só enlouqueceria, senão que não  poderia continuar vivendo, sua fraca natureza seria consumada pelas chamas do meu amor”.

(5) Enquanto dizia isto, sentia-me toda confusa e aniquiladora, e sentia-me afundar no abismo  do meu nada, porque me via toda imperfeita, especialmente notava a minha ingratidão e frieza  às tantas graças que o Senhor me faz. Mas espero que tudo redunde em sua glória e honra,  esperando com firme confiança que em um esforço de seu amor queira vencer minha dureza.

* * * * * *

2-72 

16 de setembro de 1899

Divergência com Jesus. Efeitos do sofrer só por Deus. 

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus veio, e temendo que fosse o demônio, eu lhe disse:  “Permita-me que te mostre a testa com a cruz”, e logo o persegui e assim fiquei mais segura e  tranqüila.

(2) Agora, Jesus bendito parecia cansado e queria repousar em mim, e como também eu me

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sentia cansada pelos sofrimentos dos dias passados, especialmente por suas pouquíssimas  chegadas, sentia a necessidade de repousar nele. Então, depois de ter discutido um pouco me  disse:

(3) “A vida do coração é o amor. Eu sou como um enfermo que arde pela febre, que vai  buscando um refresco, um alívio para o fogo que o devora. Minha febre é o amor; mas onde  obtenho os refrescos, os alívios mais aptos para o fogo que me consome? Das dores e aflições  sofridas por minhas almas prediletas só por meu amor; muitas vezes estou esperando e  esperando a que a alma se volte a Mim para dizer-me: “Senhor, só por amor teu eu quero  sofrer esta dor”. Ah sim, estes são os meus lanches e os alívios mais aptos que me aliviam e  me apagam o fogo que me consome!”

(4) Depois disso ele se jogou em meus braços definhando para descansar. Enquanto Jesus  repousava eu compreendia muitas coisas sobre as palavras ditas por Ele, especialmente sobre  o sofrer por seu amor. ¡ Oh, que moeda de valor inestimável! Se todos a conhecêssemos,  faríamos concorrência para ver quem sofreria mais; mas eu acredito que todos somos míopes  para conhecer esta moeda tão preciosa, por isso não se chega a ter conhecimento dela.

* * * * * *

2-73 

Setembro 19, 1899

Jesus fala da fé, da esperança e da caridade. 

(1) Encontrando-me esta manhã um pouco perturbada, especialmente pelo temor de que não  seja Jesus quem vem senão o demônio, e de que meu estado não seja Vontade de Deus,  enquanto me encontrava nesta agitação, veio meu adorável Jesus e me disse: (2) “Minha filha, não quero que perca tempo, pensando nisso você se distrai de Mim e me faz  faltar o alimento para me nutrir, o que quero é que pense somente em me amar e em estar toda  abandonada em Mim, assim me preparará um alimento muito agradável, e não de vez em  quando como faria se continuasse fazendo assim, senão continuamente. E não seria isto a tua  grandíssima alegria, que a tua vontade, estando abandonada em Mim e no meu amor, fosse  alimento para Mim, teu Deus?”

(3) Depois disto me fez ver seu coração e dentro tinha três balões de luz distintos, que depois  formavam um só, e Jesus voltando a falar me disse:

(4) “Os balões de luz que vês no meu coração são a fé, a esperança e a caridade, que trouxe à

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terra para fazer feliz o homem sofredor, oferecendo-o em dom; agora, também a ti quero fazer te um dom mais especial”.

(5) E enquanto assim dizia, daqueles globos de luz saíam como tantos fios de luz que  inundavam minha alma, formando como uma espécie de rede, e eu ficava dentro. (6) E Jesus: “Olha no que quero que ocupes tua alma: Primeiro voa com as asas da fé e  submergindo nessa luz conhecerás e adquirirás sempre novas notícias de Mim, teu Deus, mas  ao conhecer-me mais teu nada se sentirá quase dispersa, e não terás onde te apoiar. Mas tu te  eleve mais e lançando-te no mar imenso da esperança, que são todos meus méritos que  adquiri no curso de minha vida mortal, e todas as penas de minha Paixão que também delas fiz  dom ao homem, e só por meio destes podes esperar os bens imensos da fé, Porque não há  outro meio para obtê-los. Então, servindo-te destes meus méritos como se fossem teus, teu  nada se sentirá mais dispersa e afundada no abismo do nada, senão que adquirindo nova vida  ficará embelezada, enriquecida em modo tal de atrair-se os mesmos olhares divinas; e então  não mais tímida, mas a esperança fornecer-lhe-á a coragem, a força, de modo a voltar à alma  estável como coluna, exposta a todas as inclemências do ar, como são as diferentes  tribulações da vida, que não a moverão nada, e a esperança fará com que a alma não só se  submerja sem temor nas imensas riquezas da fé, senão que se tornará dona e chegará a tanto  com a esperança, de fazer seu ao mesmo Deus. ¡ Ah! Sim, a esperança faz a alma chegar até  onde quer, a esperança é a porta do Céu, assim que só por seu meio se abre, porque quem  tudo espera, tudo obtém. Então a alma, quando tiver chegado a fazer seu ao mesmo Deus,  súbito, sem nenhum obstáculo se encontrará no oceano imenso da caridade, e aí levando  consigo a fé e a esperança, mergulhará dentro e fará uma só coisa Comigo, seu Deus”. (7) O amantíssimo Jesus continua dizendo: “Se a fé é o rei e a caridade é a rainha, a  esperança é como mãe pacificadora que põe paz em tudo, porque com a fé e a caridade pode  haver tribulações, mas a esperança, sendo vínculo de paz, converte tudo em paz. A esperança  é sustento, a esperança é alívio, e quando a alma elevando-se com a fé vê a beleza, a  santidade, o amor com o qual é amada por Deus, sente-se atraída a amá-lo, mas vendo sua  insuficiência, o pouco que faz por Deus, o como deveria amá-lo e não o ama, sente-se  desconsolada, perturbada e quase não se atreve a aproximar-se de Deus; então, logo sai esta

mãe pacificadora da esperança, e pondo-se no meio da fé e a caridade começa a fazer seu  ofício de pôr paz, assim que põe em paz de novo a alma, a empurra, a eleva, lhe dá novas  forças e levando-a diante do rei da fé e a rainha da caridade, desculpa a alma, põe diante da  alma nova efusão de seus méritos e lhes pede que a queiram receber, e a fé e a caridade,  tendo em vista somente esta mãe pacificadora, tão terna e cheia de compaixão, recebem a

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alma e Deus forma a delícia da alma, e a alma a delícia de Deus”.

(8) Ó santa esperança, como você é admirável! Eu imagino ver a alma que é possuída por esta  bela esperança, como um nobre viajante que caminha para ir tomar posse de umas terras que  formarão toda sua fortuna, mas como é desconhecido e viaja por terras que não são suas,  quem o escarnece, quem o insulta, quem o despoja de seus vestidos e quem chega até  golpeá-lo e a ameaçar com lhe tirar a pele, e o nobre viajante o que faz em todas estas  dificuldades? Será que ele vai ficar perturbado? Ah, não, nunca! Pelo contrário, não terá em  conta aqueles que lhe fazem tudo isto, e sabendo bem que, quanto mais sofrer, tanto mais será  honrado e glorificado quando chegar a tomar posse de suas terras, por isso ele mesmo incita  as pessoas a atormentá-lo mais. Mas ele está sempre tranquilo, goza a mais perfeita paz, e no  meio destes insultos está tão calmo, que enquanto os outros estão acordados ao seu redor, ele  está dormindo no seio de seu suspirado Deus. Quem fornecerá a este viajante tanta paz e tanta  firmeza para seguir a viagem empreendida? Certamente a esperança dos bens eternos que  serão seus, e assim superará tudo para tomar posse deles. Agora pensando que são seus,  vem amá-los, e eis que a esperança faz nascer a caridade.

(9) Quem pode dizer o que Jesus bendito me faz ver com aquela luz? Queria passá-lo em  silêncio, mas vejo que a senhora obediência deixando o vestido amigável, toma o aspecto de  guerreiro e toma suas armas para fazer-me guerra e ferir-me. ¡¡ Ah, não te armes tão cedo! ,  deixa tuas garras, fica tranqüila, que por quanto possa farei como tu dizes, e assim  permaneceremos sempre amigas.

(10) Agora, quando a alma se põe no vasto mar da caridade, prova delícias inefáveis, goza  alegrias inenarráveis a uma alma mortal. Tudo é amor; seus suspiros, seus batimentos, seus  pensamentos, são tantas vozes sonoras que faz ressoar em torno de seu amadíssimo Deus,  vozes todas de amor que o chamam, de modo que Deus bendito, atraído, ferido por estas  vozes amorosas, lhe corresponde, e acontece que os suspiros, O coração e todo o Ser Divino  continuamente chamam a alma para Deus.

(11) Quem pode dizer como a alma é ferida por estas vozes? Como começa a delirar como se  tivesse febre altíssima, como corre como enlouquecida e vai lançar-se no amoroso coração de  seu Amado para encontrar refresco e a torrentes chupa as delícias divinas? Ela fica  embriagada de amor, e em sua embriaguez entoa cantos todos amorosos a seu Esposo  dulcíssimo. Mas quem pode dizer tudo o que acontece entre a alma e Deus? Quem pode dizer  algo sobre esta caridade que é o próprio Deus?

(12) Neste momento vejo uma luz grandíssima e minha mente agora fica assombrada, agora  se fixa em um ponto, agora em outro, e faço por colocá-lo no papel mas me sinto balbuciante

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ao explicá-lo. Portanto, não sabendo o que fazer, por agora faço silêncio; e espero que a  senhora obediência por esta vez queira perdoar-me, pois se ela quer zangar-se comigo, desta  vez não tem tanta razão, porque a culpa é sua, porque não me dá uma língua ágil para saber  dizê-lo. Compreendeu, Excelência? Ficamos em paz, não é verdade?

* * * * * *

2-74 

21 de setembro de 1899

Divergências com a obediência. A causa de seu estado. 

(1) No entanto, quem diria? Embora a culpa seja sua, que não me dá a capacidade de o saber  manifestar, a senhora obediência levou a mal e começou a fazê-la de tirano cruel, e chegou a  tal crueldade que me tirou a vista do meu amado Bem, meu único e único consolo. Vê-se que  às vezes até se comporta como criança, que quando quer sair com a sua num capricho, se não  o consegue pela boa enche a casa com gritos, com choros, tanto, que se vê obrigado a  satisfazê-la pela força. Não há razões, não há meios para persuadi-la; assim faz a senhora  obediência, é tenaz, não teria acreditado assim, e como ela quer vencer, quer que ainda  balbuciante escreva sobre a caridade. ¡ Oh Deus santo! Torna-a tu mesmo mais razoável,  porque deste modo não se pode seguir em frente. E tu, oh! Obediência, devolve-me o meu  doce Jesus, não me toques mais ao vivo e peço-te que não me tires a vista de meu sumo Bem,  e eu prometo-te que ainda balbuciante escreverei como queres tu. Só te peço a graça de que  me deixe reanimar durante alguns dias, porque minha mente, muito pequena, não resiste mais  estar submersa naquele vasto oceano da caridade divina, especialmente que aí descubro mais  minhas misérias e minha feiura, e ao ver o amor que Deus me tem, Sinto-me quase louco, por  isso, a minha fraca natureza sente-se desfalecer e não pode mais. Mas ao mesmo tempo eu  vou me ocupar em escrever outras coisas, para depois continuar com a caridade.

(2) Eu continuo com o meu pobre dizer. Encontrando minha mente ocupada nas coisas ditas  antes, pensava entre mim: “Em que aproveitaria escrever isto se eu mesma não praticasse o  que escrevo? Este escrito certamente seria uma condenação para mim”. Enquanto isso  pensava, veio o bendito Jesus e me disse: “Este escrito servirá para fazer conhecer quem é  Aquele que te fala e ocupa tua pessoa; e além disso, se não te servir a ti, minha luz servirá a  outros que lerão o que te faço escrever”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao pensar que outros aproveitarão as graças que  me faz se lerem estes escritos, e eu que os recebo não? Não me condenarão eles? E ainda, só

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de pensar que chegarão às mãos de outros, me oprime o coração pela pena e pela vergonha  de mim mesma. Agora, permanecendo em grandíssima aflição, ia repetindo: “Em que aproveita  o meu estado se servirá de condenação?”

(4) E o amorosíssimo Jesus regressado disse-me: “Minha Vida foi necessária para a salvação  dos povos, e como não pude continuar sobre a terra, por isso escolho a quem me apraz para  prossegui-la neles, para poder continuar a salvação dos povos, eis o proveito de seu estado”.

* * * * * *

2-75 

22 de setembro de 1899

Jesus lhe fala de seus escritos. Contendas com a obediência. 

(1) Sentindo-me um prego cravado no coração pelas palavras que ontem disse meu doce  Jesus, e sendo Ele sempre benigno com esta miserável pecadora, para aliviar minhas penas  veio, e compadecendo-me toda me disse:

(2) “Minha filha, não queira te afligir mais. Deves saber que tudo o que te faço escrever, ou  sobre as virtudes ou sob alguma semelhança, não é outra coisa que fazer que te pintes tu  mesma, e a essa perfeição à qual fiz chegar a tua alma”.

(3) ¡ Oh Deus! Que grande repugnância sinto ao escrever estas palavras, porque não me  parece que seja verdade o que diz. Sinto que ainda não entendo o que é virtude e perfeição,  mas a obediência assim o quer, e é melhor morrer do que ter que ver com ela. Muito mais que  tem duas faces: Se se faz como ela diz, toma o aspecto de senhora e te acaricia como amiga  fiel, e até te promete todos os bens que há no Céu e na terra; mas se depois descobre uma  sombra de dificuldade contra, súbito, sem que se o avise, se um olhar se encontra como um  guerreiro que está preparando suas armas para te ferir e destruir. ¡ Oh meu Jesus! Que tipo de  virtude é esta obediência que faz tremer só de pensar nela?

(4) Então, enquanto Jesus me dizia aquelas palavras, eu lhe disse: “Meu bom Jesus, em que  aproveita a minha alma ter tantas graças, se depois me amargam toda a minha vida,  especialmente nas horas da tua privação? Porque o compreender quem Tu és e de quem estou  privada, é um contínuo martírio para mim; portanto não me servem mais do que para fazer-me  viver continuamente amarga”.

(5) E Ele acrescentou: “Quando uma pessoa gostou do doce de um alimento e depois é  obrigada a tomar o amargo, para tirar essa amargura duplica-se o desejo de saborear o doce, e  isto serve muito aquela pessoa, porque se ela sempre gostou do doce sem nunca provar o

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amargo, não teria grande apreço pelo doce, e se sempre gostasse do amargo sem conhecer o  doce, não conhecendo-o nem sequer o desejaria, por isso um e o outro servem, e assim te  servem também”.

(6) E eu: “Meu Jesus pacientíssimo, perdoa-me por ter que suportar uma alma tão mísera e  ingrata, parece-me que desta vez quero investigar demasiado”.

(7) E Jesus: “Não te perturbes, sou Eu mesmo quem ponho as dificuldades em teu interior para  ter ocasião de conversar contigo, e ao mesmo tempo para te instruir em tudo”.

* * * * * *

2-76 

Setembro 25, 1899

Medo de que seus escritos possam ser encontrados nas mãos de outros. 

(1) Em minha mente estava pensando: “Se estes escritos chegassem às mãos de alguém,  talvez dissesse: “Deve ser uma boa cristã porque o Senhor lhe faz tantas graças”, sem saber  que apesar de tudo isto sou ainda muito má. Eis como as pessoas podem ser enganadas tanto  no bem como no mal. Ah Senhor, só Você conhece a verdade e o fundo dos corações!”  Enquanto isso pensava veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Amada minha, e se as nações soubessem que tu és a minha defensora, e a delas?” (3) E eu: “Meu Jesus, que dizes?”

(4) E Ele: “Como! Não é verdade que você me defende das penas que elas me dão ao te  colocar no meio entre Eu e elas, e toma sobre você o golpe que Eu estava para receber em  Mim, e o que Eu devia descarregar sobre elas? E se alguma vez não os recebes sobre ti é  porque não to permito, e isto com grande pena, até te lamentares Comigo; podes porventura  negá-lo?”

(5) “Não Senhor, não posso negá-lo, mas vejo que é uma coisa que Você mesmo infundiu em  mim, por isso digo que o fato não é que eu seja boa, e me sinto toda confusa ao ouvir que me  diz estas palavras”.

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2-77 

Setembro 26, 1899

Causa pela qual Jesus não leva em conta as 

oposições. Visão abstrata e intuitiva da alma.

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(1) Esta manhã, tendo vindo o meu adorável Jesus, transportou-me para fora de mim mesma,  mas com o meu profundo pesar, via-o de costas, e por quanto lhe pedi que me deixasse ver o  seu santíssimo rosto me era impossível. Em meu interior ia dizendo: “Quem sabe, talvez sejam  minhas oposições à obediência de escrever, pelo que não se digna fazer ver seu rosto  adorável”. E enquanto isso dizia, chorava. Depois de me ter feito chorar, virou-se e disse:

(2) “Eu não levo em conta suas oposições, porque sua vontade está tão fundida com a minha  que não pode querer senão o que quero Eu; por isso enquanto te repugna, ao mesmo tempo  se sente atraída como por um ímã a fazê-lo, Assim, suas repugnâncias não servem para outra  coisa que para tornar mais bela e resplandecente a virtude da obediência, por isso não as tomo  em conta”.

(3) Depois vi seu belíssimo rosto, e em meu interior sentia um contentamento indescritível, e  dirigindo-me a Ele lhe disse: “Dulcíssimo Amor meu, se eu sinto tanto deleite ao verte, o que  terá sentido nossa Mamãe Rainha quando se fechou em seu seio puríssimo? Que felizes,  quantos agradecimentos não lhe deu?”

(4) E Ele: “Minha filha, foram tais e tantas as delícias e as graças que derramei nela, que basta  dizer-te que o que Eu sou por natureza, nossa Mãe o chegou a ser por graça; muito mais, pois  não tendo culpa, minha graça pôde dominar Nela livremente, assim que não há coisa de meu  Ser, que não confiei a Ela”.

(5) Naquele instante me parecia ver a nossa Rainha Mãe como se fosse outro Deus, com esta  única diferença: que em Deus é natureza própria, e em Maria Santíssima é graça conseguida.  Quem pode dizer como fiquei espantada? Como minha mente se perdia ao ver um portento de  graça tão prodigioso? Então, dirigindo-me a Ele lhe disse: “Amado Bem meu, nossa Mãe teve  tanto bem porque te fazia ver intuitivamente; eu gostaria de saber como te mostras a mim, com  a vista abstrata ou intuitiva. Quem sabe se é também abstrata”.

(6) E Ele: “Quero fazer-te compreender a diferença que há entre uma e outra. Na abstrata a  alma olha para Deus, na intuitiva entra dentro Dele e consegue as graças, isto é, recebe em si  a participação do Ser Divino; e tu, quantas vezes não participaste do meu Ser? Esse sofrer que  em você parece como se fosse natural, essa pureza que chega até sentir como se não tivesse  corpo, e tantas outras coisas, não te dei quando te atraí a Mim intuitivamente?”

(7) “Ah! Senhor, é verdade, e eu, que agradecimentos te dei por tudo isto? Qual foi a minha  correspondência? Sinto vergonha só de pensar nisso, mas ah! me perdoe e faça que me  possam conhecer no Céu e na terra como um sujeito de suas infinitas misericórdias. * * * * * *

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2-78 

Setembro 30, 1899

Tentações. Como a paciência em sofrer as 

tentações é como um alimento substancioso. 

(1) Primeiro devo dizer que passei uma hora de inferno.Logo, rapidamente olhei uma imagem  do menino Jesus, e um pensamento como raio disse ao menino: “Como és feio!” Tenho tentado  não dar importância nem me perturbar para evitar qualquer jogo com o demônio, mas apesar  disso aquele raio diabólico me penetrou no coração, e sentia que meu pobre coração odiava a  Jesus. ¡ Ah sim, me sentia no inferno fazendo companhia aos condenados, sentia o amor  mudado em ódio! Oh Deus, que pena o não poder te amar! Dizia: “Senhor, é verdade que não  sou digna de te amar, mas ao menos aceita esta pena, que gostaria de te amar e não posso”.

(2) Depois de ter passado no inferno mais de uma hora, parece que saí, graças a Deus, mas  quem pode dizer quanto afligido ficou meu pobre coração, débil pela guerra mantida entre o  ódio e o amor? Sentia tal prostração de forças que me parecia não ter mais vida. Então fui  surpreendida pelo meu estado habitual, mas oh, como estava decaída, meu coração e todas as  potências interiores, que com ânsia inenarrável desejam e vão em busca de seu sumo e único  Bem e só param quando o encontraram, e com sumo contente se o gozam, desta vez não se  atreviam a mover-se, estavam tão aniquiladas, confusas e abismadas em seu próprio nada,  que não se faziam sentir. ¡ Oh Deus, que golpe cruel teve que sofrer meu pobre coração! Com  tudo isto, o meu sempre benigno Jesus veio e a sua vista consoladora fez-me esquecer  rapidamente o ter estado no inferno, tanto que nem sequer pedi perdão a Jesus. As potências  interiores, humilhadas, cansadas como estavam, pareciam repousar n’Ele; tudo era silêncio, de  ambas as partes, não havia mais que algum olhar amoroso com o qual nos feríamos o coração  um ao outro. Depois de haver estado por algum tempo é este profundo silêncio, Jesus me  disse:

(3) “Minha filha, tenho fome, dá-me alguma coisa”.

(4) E eu: “Não tenho nada para te dar”. Mas nesse mesmo instante vi um pão e dei-lho, e  parecia que Ele com todo o gosto o comia. Agora, dentro de mim estava a dizer: “Há já alguns  dias que não me diz nada”. E Jesus respondeu ao meu pensamento:

(5) “Às vezes, o esposo tem prazer em tratar com a sua esposa, em confiar-lhe os seus  segredos mais íntimos; outras vezes, deleita-se com mais prazer em descansar e em  contemplar-se mutuamente a sua beleza, enquanto o falar impede o repouso, e o simples  pensamento do que se deve dizer ou do que se deve tratar, não deixa prestar atenção em ver a  beleza do esposo e da esposa, mas no entanto isto serve, porque depois de haver repousado e

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compreendido de mais sua beleza, vêm amar-se mais e com maior força saem para trabalhar,  tratar e defender seus interesses. É o que estou fazendo com você, não está feliz?” (6) Depois disto, um pensamento me iluminou na mente, acerca da hora passada no inferno e  subito disse: “Senhor, perdoa-me quantas ofensas te fiz”.

(7) E Ele: “Não queiras afligir-te nem perturbar-te, sou Eu quem conduz a alma até o profundo  do abismo, para poder depois conduzi-la mais rápido ao Céu”.

(8) Depois me fez compreender que aquele pão que encontrei em mim não era outra coisa que  a paciência com a qual havia suportado essa hora de sangrenta batalha, assim que a  paciência, a humilhação, a oferta a Deus do que se sofre em tempo de tentação, é um pão  substancioso que se dá a Nosso Senhor e que Ele aceita com muito gosto.

* * * * * *

2-79 

Outubro 1, 1899

Jesus fala com amargura dos abusos dos sacramentos. 

(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver em silêncio, mas com um aspecto  afligidíssimo, e tinha cravada na cabeça uma tupida coroa de espinhos; minhas potências  interiores as sentia em silêncio e não se atreviam a dizer uma só palavra; vendo que sofria  muito na cabeça estendi minhas mãos e pouco a pouco lhe tirei a coroa, mas, que acerbo  espasmo sofria, como se abriam as feridas e o sangue corria a rios! Na verdade, era uma coisa  que rasgava a alma. Depois de lhe ter tirado a coroa de espinhos, coloquei-a sobre a minha  cabeça, e Ele mesmo ajudava a que penetrasse bem, mas tudo era silêncio de ambas as  partes. Mas qual foi meu espanto, porque pouco depois o olhei de novo e lhe estavam pondo  outra coroa de espinhos com as ofensas que lhe faziam. ¡ Oh perfídia humana! Oh  incomparável paciência do meu Jesus, quão grande você é! E Jesus calava-se e quase não os  via para não saber quem eram os seus ofensores. Então, tirei-a de novo, e, avivando-lhe todas  as minhas forças interiores por uma terna compaixão, disse-lhe:

(2) “Meu bem amado, minha doce vida, por que não me diz nada? Nunca foi seu costume  esconder seus segredos de mim. Ah! , falemos um pouco, assim desafogaremos um pouco a  dor e o amor que nos oprime”.

(3) E Ele: “Minha filha, tu és o alívio em minhas penas. No entanto deves saber que não te digo

nada porque tu me obrigas sempre a não castigar as pessoas, queres opor-te à minha justiça,

e se não faço como tu queres fica descontente e Eu sinto uma pena de mais, ou seja, não te ter

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contente, Então, para evitar problemas de ambos os lados, é melhor eu ficar em silêncio”.

(4) E eu: “Meu bom Jesus, esqueceste-te de quanto sofres depois de teres usado a justiça?

Ver-te sofrer nas criaturas é o que me obriga a forçar-te a não punires as pessoas. E além

disso, esse ver as mesmas criaturas se voltarem contra Ti como tantas víboras venenosas, que

se estivesse em seu poder já teriam te tirado a vida, porque se vêem sob seus flagelos, e

assim irritam mais sua justiça, não me dá coragem para dizer Fiat Voluntas Tua”.

5) E Ele: “A minha justiça não pode continuar; sinto-me ferido por todos, por sacerdotes, por

devotos, por leigos, especialmente pelo abuso dos sacramentos: Quem não lhes presta

atenção, acrescentando os desprezos; quem os frequenta, deles fazem uma conversa de

prazer, e quem não estando satisfeito em seus caprichos, chega por isto a ofender-me. ¡ Oh!

como fica dilacerado meu coração ao ver reduzidos os sacramentos como aqueles quadros

pintados, ou como aquelas estátuas de pedra que de longe parecem vivas, mas se se aproxima

um se começa a descobrir o engano; e então se se faz por tocá-las, que coisa se encontra?

Papel, pedra, madeira, objetos inanimados, e fica desenganado de tudo. Assim são reduzidos

os sacramentos, para a maior parte não há outra coisa senão a aparência e ficam mais sujos

que limpos. E além disso, o espírito de interesse que reina nos religiosos, é para chorar, não te

parece que são todos olhos aí onde há um miserável lucro, até chegar a degradar sua

dignidade? Mas onde não há interesse, não têm mãos nem pés para mover-se nem sequer um

pouquinho. Este espírito de interesse enche-lhes tanto o interior, que transborda para o exterior

e até os próprios leigos sentem a peste, e escandalizados não têm fé em suas palavras. ¡¡¡ Ah

sim, ninguém deixa de me ofender! ; há quem me ofenda diretamente, e quem, podendo

impedir tanto mal, não se preocupa em fazê-lo, por isso não tenho a quem me dirigir. Mas Eu

os castigarei de maneira a torná-los inúteis, e a quem destruirei perfeitamente, chegarão a

tanto, que ficarão desertas as igrejas, sem ter quem administre os sacramentos”.

(6) Interrompendo a sua palavra, toda espantada disse: “Senhor, o que dizes? Se há quem

abuse dos sacramentos, também há muitas filhas boas que as recebem com as devidas

disposições e sofrem muito se não as frequentam”.

(7) E Ele: “Muito escasso é seu número, e além disso sua pena por não poder recebê-los,

servirá como uma reparação a Mim e para ser vítimas por aqueles que abusam”.

(8) Quem pode dizer como fiquei ferida por falar de Jesus bendito? Mas espero que queira

aplacar-se por sua infinita misericórdia.

* * * * * *

2-80

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Outubro 3, 1899

Divergências com a obediência, e como esta é o próprio Jesus.

(1) Esta manhã, Jesus continuava fazendo-se ver afligido. Eu não tinha coragem de dizer uma

palavra ao meu pacientíssimo Jesus, por temor de que voltasse a lamentar-se pelo estado

religioso, e isto porque a obediência quer que escreva tudo, também no que diz respeito à

caridade do próximo, e isto é tão penoso para mim que tive que lutar a braço partido com a

senhora obediência, a que tomou seu aspecto de guerreiro potentíssimo, armado com suas

armas para me dar a morte. Na verdade me encontrei em tais estreitezas, que eu mesma não

sabia o que fazer. Escrever segundo a luz com a qual Jesus me fazia ver a caridade do

próximo, me parecia impossível, me sentia ferir o coração por mil espinhos, me sentia

emudecer a boca e diminuir o ânimo e lhe dizia: “Amada obediência, tu sabes quanto te amo e

que de boa vontade por amor teu daria a vida, mas vejo que aqui não posso, e tu mesma vês o

rasgo da minha alma. ¡ Ah! Não se torne inimiga, não seja impiedosa comigo, seja mais

indulgente com quem tanto te ama. Venha comigo você mesma e vejamos juntas o que mais

nos convém dizer”.

(2) Assim parece que depôs sua ira e ela mesma ditava o que era mais necessário, encerrando

em poucas palavras todo o sentido das diferentes coisas a respeito da caridade, embora às

vezes quisesse ser mais detalhada e eu lhe dizia, basta, que com um pouco de reflexão

entendam o que significa, não é melhor encerrar numa palavra todo o significado, do que em

tantas palavras?.

(3) Às vezes cedia a obediência, às vezes eu, e assim parece que estivemos de acordo.

Quanta paciência se necessita com esta bendita senhora obediência, verdadeiramente

senhora, porque basta que lhe seja dado o direito de dominar, e muda seu aspecto pelo de um

mansíssimo cordeiro, ela mesma faz o sacrifício do trabalho e faz repousar a alma com seu

Senhor, E enquanto a alma dorme, esta nobre senhora, o que faz? Ela está suando de sua

testa, apressando-se no trabalho que tocava a alma, o que verdadeiramente faz assombrar a

qualquer mente humana inteligente, e move os corações a amá-la.

(4) Agora, enquanto digo isto, no meu íntimo penso: “Mas que coisa é esta obediência? De que

está formada? Qual é o alimento que a sustenta?” E Jesus faz ouvir a sua voz harmoniosa no

meu ouvido que diz:

(5) “Queres saber o que é a obediência? A obediência é a quintessência do amor; a obediência

é o amor mais fino, mais puro, mais perfeito, extraído pelo sacrifício mais doloroso, que é

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destruir-se a si mesmo para viver de Deus. A obediência, sendo nobilíssima e divina, não

admite na alma nada de humano e que não seja seu, por isso toda sua atenção é destruir na

alma tudo o que não pertence a sua nobreza divina, como é o amor próprio, e feito isso, pouco

lhe interessa que seja ela sozinha que se esforce e se fatigue por isso deveria fazer a alma, e a

esta a faz repousar tranqüilamente. Finalmente, a obediência sou Eu mesmo”.

(6) Quem pode dizer como fiquei maravilhada e estática ao ouvir este falar de Jesus

abençoado? Oh! santa obediência, como és incompreensível, eu me prostro a teus pés e te

adoro; peço-te que sejas meu guia, mestra, luz no desastroso caminho da vida, para que

guiada, ensinada, escoltada por tua luz puríssima possa com segurança tomar posse do porto

eterno. Acabo por me esforçar quase para sair desta virtude da obediência, senão nunca mais

falaria. É tanta a luz que vejo desta virtude, que poderia escrever sempre sobre ela, mas outras

coisas me chamam, por isso faço silêncio e sigo onde deixei.

(7) Então vi meu doce Jesus aflito, e lembrando que a obediência me havia dito que rezasse

por uma pessoa, com todo o coração a confiei, e Jesus me disse:

(8) “Minha filha, que faça de maneira que todas as suas obras resplandeçam só de virtude, mas

especialmente lhe recomendo que não se intrometa nas coisas de família; se tem alguma

coisa, que se desfaça dela, se não tem, não quero que ele se intrometa; que deixe que as

coisas sejam feitas por quem deve e ele permaneça livre, sem se enfatizar nas coisas terrenas,

de outra maneira viria a incorrer na desventura dos demais, que a princípio, tendo querido

intrometer-se em alguma coisa de família, depois de todo o peso ter ficado nos seus ombros, e

Eu, somente por minha misericórdia, tive que permitir que não prosperassem, mas sim que

empobrecem e assim fazê-los tocar com a mão como inconveniente é a um ministro meu

enlamear-se nas coisas terrenas, enquanto, palavra que saiu da minha boca, que aos ministros

do meu santuário, desde que não tocassem nas coisas terrenas, jamais lhes faltaria o alimento

quotidiano. Agora, se a estes Eu os houvesse feito prosperar, teriam enlameado seu coração e

não teriam prestado atenção nem a Deus nem às coisas pertencentes a seu ministério; agora,

aborrecidos, cansados de seu estado, querem libertar-se mas não podem e isto é em castigo

pelo que não deveriam fazer”.

(9) Depois lhe confiei a um enfermo, e Jesus me mostrava suas chagas, que lhe tinha feito

aquele enfermo. Eu tentei suplicar-lhe, aplacá-lo e repará-lo e parecia que aquelas chagas se

fechavam. E Jesus, toda a bondade me disse:

(10) “Minha filha, hoje tu fizeste o ofício de um médico muito experiente, que procurou não só

aliviar, de ligar, mas também curar as chagas que me fez esse enfermo, por isso sinto-me muito

aliviado e aplacado”.

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(11) Então compreendi que rezando pelos doentes faz-se o ofício de médico a Nosso Senhor,

que sofre nas suas próprias imagens.

* * * * * *

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Outubro 7, 1899

Vê Jesus zangado contra as pessoas

(1) Esta manhã o bendito Jesus não vinha e tive que me armar de paciência para esperá-lo.

Dentro de mim dizia: “Meu amado Jesus, vem, não me faças esperar tanto. Desde ontem à

noite não te vejo e agora já é muito tarde e Você não vem ainda. Veja com quanta paciência eu

esperei por você. Ah! não me faça chegar a impacientar porque demora tanto em vir, pois a

causa é Você com suas demoras. Por isso vêem, porque não posso mais”.

(2) Agora, enquanto eu estava dizendo estes e outros disparates, meu único Bem veio, mas

com grande dor minha, eu o vi irritado com as pessoas. Súbito, disse-lhe: “Meu bom Jesus,

peço-te que faças a paz com o mundo”.

(3) E Ele: “Filha, não posso; eu sou como um rei que quer entrar numa casa, mas aquela casa

está cheia de coisas imundas, de podridões e de muitas outras porcarias. O rei, como rei tem o

poder de entrar, não há ninguém que o possa impedir e ainda pode limpar aquela habitação

com suas próprias mãos, mas não quer fazê-lo, porque não é decoroso a sua real pessoa

descer a tantas baixezas, e enquanto o quarto não for limpo por outros, contudo e que tenha o

poder, o querer e um grande desejo, até a sofrer, não se dignará pôr nele o pé. Assim sou Eu.

Sou Rei que posso e quero, mas quero sua vontade, quero que tirem a podridão das culpas

para entrar e fazer a paz com eles. Não, não é digno a minha realeza entrar e pôr-me em paz

com eles, é mais, não farei outra coisa que mandar castigos. O fogo da tribulação os inundará

por toda parte, até aterrorizá-los, a fim de que se lembrem que existe um Deus, o único que

pode ajudá-los e libertá-los”.

(4) E eu, interrompendo o seu falar, disse-lhe: “Senhor, se queres lançar mão dos castigos, eu

quero ir para o Céu, não quero estar mais nesta terra. Como poderá o meu coração resistir a

ver as tuas criaturas sofrerem?” E Jesus, tomando um aspecto benigno, disse-me:

5) “Se tu vieres, para onde irei habitar nesta terra? Por agora pensemos em estar juntos aqui,

porque no Céu teremos muito tempo para estar juntos, como é toda a eternidade. E além disso,

muito cedo você esqueceu o ofício de me fazer de mãe na terra. Portanto, enquanto castigue

as pessoas eu virei me refugiar e morarei contigo”.

(6) E eu: “Ah Senhor, de que serviu o meu estado de vítima durante tantos anos? Que bem tem

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chegado aos povos, já que Tu me dizias que me querias como vítima para evitar os castigos às

pessoas? E agora me faz ver que esses castigos, em vez de acontecerem tantos anos atrás,

vão acontecer agora, nem mais nem menos que isto”.

(7) E Ele: “Minha filha, não digas isso; minha magnanimidade foi por amor de ti, e o bem que

veio disto, foi que terríveis castigos que deviam fazer estragos por muitíssimo tempo, agora por

isso serão mais breves. E não é um bem que alguém, em vez de estar por muitos anos sob o

peso de um castigo, esteja apenas por poucos? Além disso, ao longo destes últimos anos,

guerras, mortes imprevistas que não deviam ter tempo de se converter, agora em vez disso

tiveram-no e salvaram-se, não é isto um grande bem? Minha querida, por agora não é

necessário fazer-te compreender o proveito de teu estado para ti e para os povos, mas o

mostrarei quando vieres ao Céu e o dia do juízo o mostrarei a todas as nações. Por isso, não

fale mais deste modo”.

* * * * * *

2-82

Outubro 14, 1899

Jesus diz como são necessários os castigos, e

fala em modo comovedor da esperança.

(1) Esta manhã sentia-me um pouco perturbada e toda aniquilada em mim mesma. Via-me

como se o Senhor me quisesse atirar de Si. Meu Deus, que pena! Quando me encontrava em

tal estado, o bendito Jesus veio com uma cordinha na mão e golpeando meu coração três

vezes, disse-me:

(2) “Paz, paz, paz, paz, não sabes tu que o reino da esperança é reino de paz, e o direito desta

esperança é a justiça? Tu, quando vires que a minha justiça se arma contra as nações, entra

no reino da esperança, e investindo-te das mais poderosas qualidades que ela possui, sobe ao

meu trono e faze o que puderes para desarmar o meu braço armado; e isto o farás com as

vozes mais eloquentes, mais ternas, mais piedosas, com as razões mais poderosas, com as

orações mais ardentes, que a mesma esperança te ditará. Mas quando você vê que a mesma

esperança está para sustentar certos direitos de justiça que são absolutamente necessários, e

que querê-los ceder seria um querer fazer afronta a si mesma, o que não pode jamais ser,

então junte-se a Mim e entregue-se à justiça”.

(3) E eu, mais aterrorizada do que nunca, porque devia ceder à justiça, disse-lhe: “Ah Senhor,

como posso fazer isto? Parece-me impossível, o simples pensamento de que deves castigar as

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pessoas, sendo tuas imagens, não posso tolerá-lo, se ao menos fossem criaturas que não te

pertenciam. No entanto, isto é nada, o que mais me entristece é que devo ver Ti, quase estou

por dizer, golpeado por Ti mesmo, esbofeteado, açoitado, afligido, porque os castigos cairão

sobre teus mesmos membros, não sobre os outros, e por isso Tu mesmo virá a sofrer. Diga-me,

meu único e único Bem, como poderá resistir meu coração te ver sofrer, golpeado por Ti

mesmo? Que te façam sofrer as criaturas, são sempre criaturas e é mais tolerável, mas isto é

tão duro, que não posso aceitá-lo, por isso não posso me conformar Contigo, nem ceder”.

(4) Ele, pois, se compadecendo e sentindo pena de tudo por causa deste meu falar, e tomando

um aspecto aflito e benigno, disse-me:

(5) “Minha filha, você tem razão em que ficarei golpeado em meus próprios membros, tanto que

ao te ouvir falar, todas minhas entranhas me sinto comovidas e movidas a misericórdia e o

coração me sinto destroçado de ternura. Mas acredite em mim que são necessários castigos, e

se você não quiser me ver espancado agora um pouco, me verá mais tarde terrivelmente,

porque mais me ofenderão, e isto não te desagradaria mais? Por isso, aceita-te Comigo, de

outra maneira me obrigarás, para não te ver desgostosa, a não te dizer nada, e com isto virás a

negar-me o alívio que sinto ao conversar contigo. ¡ Ah! sim, me reduzirá ao silêncio sem ter

com quem desabafar minhas penas”.

(6) Quem pode dizer como fiquei amarga por sua falar? E Jesus, como se me quisesse distrair

da minha aflição, continuou a falar sobre a esperança, dizendo-me:

(7) “Minha filha, não se perturbe, a esperança é paz, e assim como Eu, no momento mesmo de

fazer justiça estou na mais perfeita paz, assim você, imergindo-se na esperança esteja em paz.

A alma que está na esperança, ao querer afligir-se, turbar, desconfiar, incorreria na desventura

daquela que, enquanto possui milhões e milhões de moedas e é rainha de vários reinos, vai

imaginando e dando lamentos dizendo: “De que vou viver? Como eu vou me vestir? Oh, eu

estou morrendo de fome! Hum, eu sou muito infeliz! Eu vou me reduzir para a mais estreita

miséria e eu vou acabar perecendo!” E ao dizer isto chora, suspira e passa seus dias triste,

esquálida, imersa na maior tristeza. E isto não é tudo, o que é pior é que se vê seus tesouros,

se caminha por suas propriedades, em vez de alegrar-se aflige mais pensando em seu fim

próximo e vendo o alimento não o quer tocar para sustentar-se, e se alguém quer persuadi-la

fazendo-lhe tocar com a mão suas riquezas mostrando-as e dizendo-lhe que não pode ser que

se reduza à mais estreita miséria, ela não se convence, fica aturdida e chora ainda mais sua

triste sorte.O que as pessoas diriam dela? Que está louca, que se vê que não tem razão, que

perdeu o cérebro; a razão está clara, não pode ser de outra maneira. No entanto, pode

acontecer que esta situação possa cair na desventura que se imagina, mas de que modo?

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Saindo de seus reinos, abandonando todas suas riquezas e indo a terras estrangeiras, no meio

de gente bárbara, onde ninguém se digne dar-lhe nem uma migalha de pão. E eis que sua

fantasia se tornou realidade; o que era falso agora é verdade. Mas quem foi a causa? A quem

se culparia de uma mudança de estado tão triste? a sua pérfida e obstinada vontade.

Precisamente assim é uma alma que se encontra em posse da esperança: o querer perturbar-

se, desanimar, já é a maior loucura”.

(8) E eu: “Ah! Senhor, como pode ser que a alma possa estar sempre em paz vivendo na

esperança? E se a alma comete algum pecado, como pode estar em paz?”.

(9) E Jesus: “No momento em que a alma peca, sai do reino da esperança, já que pecado e

esperança não podem estar juntos. Qualquer razão aceita que cada um é obrigado a respeitar,

conservar e cultivar o que é seu, quem é aquele homem que vai a seus terrenos e queima o

que possui? Quem é que não tem zelosamente guardadas suas posses? Creio que nenhum.

Agora, a alma que vive na esperança, com o pecado, ofende à mesma esperança e, se

estivesse em seu poder, queimaria todos os bens que possui a esperança, e então se

encontraria na desventura daquela tal que, abandonando seus bens vai viver a terras

estranhas. Assim a alma, com o pecado, afastando-se desta mãe pacífica, da esperança tão

terna e piedosa, que chega a alimentá-la com as suas próprias carnes, como é Jesus no

Sacramento, objecto primário da nossa esperança, vai-se viver no meio de gente bárbara como

são os demónios, que, negando-lhe até o menor consolo, não a alimentarão de outra coisa

senão de veneno, que é o pecado. Não obstante, esta mãe piedosa. O que faz? Enquanto a

alma se afasta dela, ficará indiferente? Ah não! Chora, reza, chama-a com as vozes mais

ternas, mais comovedoras, vai junto a ela e só se contenta quando a retorna ao seu reino”.

(10) O meu doce Jesus continua a dizer-me: “A natureza da esperança é paz, e o que ela é por

natureza, a alma que vive no seio desta mãe pacífica consegue-o por graça”.

(11) E no mesmo momento em que Jesus bendito diz estas palavras, com uma luz intelectual

faz-me ver sob a semelhança de uma mãe o que fez esta esperança pelo homem. ¡ Oh, que

cena tão comovente e terníssima, que se todos pudessem vê-la, chorariam de pena até os

corações mais duros e todos se afeiçoariam, iriam amá-la tanto, que seria impossível separar-

se por um só momento de seus joelhos maternos. E agora tentarei dizer o que compreendo e

posso:

(12) O homem vivia acorrentado, escravo do demônio, condenado à morte eterna, sem

esperança de poder ressurgir à vida eterna; tudo estava perdido e sua sorte estava em ruínas.

Esta mãe vivia no Empíreo, unida com o Pai e o Espírito Santo, bem-aventurada, feliz com

Eles; mas parecia que não estava contente, queria a seus filhos, a suas amadas imagens em

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torno dela, a obra mais bela saída de suas mãos. Agora, enquanto estava no Céu, seu olho

estava atento ao homem que estava perdido na terra. Toda ela se ocupa da maneira de salvar

a estes seus amados filhos, e vendo que estes filhos não podem absolutamente satisfazer à

Divindade, mesmo à custa de qualquer sacrifício, pois são muito inferiores a Ela, o que faz esta

mãe piedosa?Vê que não há outro meio para salvar a estes filhos que dar a própria vida para

salvar a deles, e tomar sobre si suas penas e misérias e fazer tudo o que eles deviam fazer por

eles mesmos, então, o que pensa fazer? Esta mãe amorosa se apresenta ante a divina justiça

com lágrimas nos olhos, com as vozes mais ternas, com as razões mais potentes que seu

magnânimo coração lhe dita e diz: “Graça te peço para meus perdidos filhos, não me resiste o

ânimo vê-los separados de Mim, a qualquer custo quero salvá-los, e se bem vejo que não há

outro meio que pôr minha própria vida, quero colocá-la com tal de que readquiram a deles. O

que queres deles? Reparação? Reparo eu por eles. Glória, honra? Eu te honro e glorifico por

eles. Agradecimentos? Eu te agradeço, tudo o que queres deles te dou Eu, desde que os

possa ter junto Comigo reinando”.

(13) A Divindade fica comovida ao ver as lágrimas, o amor desta piedosa mãe, e convencida

por suas potentes razões se sente inclinada a amar a estes filhos, e choram juntos sua

desventura, e pondo-se de acordo concluem que aceitam o sacrifício da vida desta mãe,

ficando por isso plenamente satisfeitos, para readquirir estes filhos. Não apenas é assinado o

decreto, desce em seguida do Céu e vem à terra, e deixando suas vestes reais que tinha no

Céu se veste das misérias humanas, como se fosse a mais vil escrava e vive na pobreza mais

extrema, nos sofrimentos mais inauditos, nos mais insuportáveis desprezos pela natureza

humana; não faz outra coisa senão chorar e interceder por seus amados filhos. Mas o que mais

o faz ficar espantado, tanto desta mãe como destes filhos, é que enquanto ela ama tanto estes

filhos, estes, em vez de receber esta mãe com os braços abertos, já que vem salvá-los, fazem

o contrário; ninguém a quer receber ou reconhecer, aliás, a obrigam a ir errante, a desprezam e

começam a planejar como matar a esta mãe tão terna e excessivamente amante deles. O que

fará esta mãe tão terna ao ver-se tão mal correspondida por seus ingratos filhos? Acaso irá

parar? Ah! Não, mas acende-se mais de amor por eles e corre de um ponto a outro para reuni-

los e colocá-los em seu colo. ¡ Oh, como se cansa, como se cansa, até pingar suor, não só de

água mas também de sangue! Não se dá um momento de trégua, está sempre em atitude de

efetuar sua salvação, provê a todas suas necessidades, remedia todos seus males passados,

presentes e futuros; em suma, não há nada que não ordene e disponha para seu bem.

(14) Mas o que fazem esses filhos? Arrependeram-se talvez da ingratidão que tiveram ao

recebê-la? Você mudou seus pensamentos em favor desta mãe? oh! não, olham-na com maus

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olhos, desonram-na com as calúnias mais negras, procuram-lhe opróbrios, desprezos,

confusões, golpeiam-na com todo tipo de flagelos, reduzindo-a toda a uma chaga, e acabam

por fazê-la morrer com uma morte, a mais infame que se possa encontrar, em meio a cruéis

espasmos e dores. Mas o que essa mãe faz no meio de tantas dores? Será que ela odiará

talvez esses filhos tão rebeldes e insolentes? Ah não, nunca! , agora mais do que nunca os

ama extremamente, oferece suas penas por sua própria salvação e expira com a palavra da

paz e do perdão.

(15) OH! Minha mãe bela, ó amada esperança, como você é amável em si mesma, eu te amo!

Ah! Mantenha-me sempre em seu colo e serei a mais feliz do mundo. Enquanto estou

determinada a deixar de falar da esperança, uma voz ressoa-me por toda a parte que diz:

(16) “A esperança contém todo o bem presente e futuro, e quem vive no seu colo e cresce

sobre os seus joelhos obtém tudo o que deseja. O que a alma quer: glória, honra? A esperança

lhe dará toda a maior honra e glória na terra, diante de todas as nações, e no Céu a glorificará

eternamente. Você talvez vai querer riqueza? ” Oh! Esta mãe esperança é riquíssima, e o que é

mais, dando seus bens a seus filhos, não diminuem suas riquezas em nada; além disso, estas

riquezas não são fugazes e passageiras, mas eternas. Você vai querer prazeres,

contentamentos? Ah! Sim, esta esperança contém em si todos os prazeres e gostos possíveis,

que se possam encontrar no Céu e na terra, que nenhum outro jamais poderá iguala-la, e quem

a seu seio se nutre, gosta-os até a saciedade, e oh! como é feliz e contente. Quererá ser douta,

sábia? Esta Mãe esperança contém em si as ciências mais sublimes, antes é a mestra de

todos os mestres, e quem se faz ensinar por ela aprende a ciência da verdadeira santidade”.

(17) Em suma, a esperança nos fornece tudo, de modo que, se um é fraco, lhe dará a força; se

outro está manchado, a esperança instituiu os Sacramentos e aí preparou a lavagem de suas

manchas; se sente fome e sede, esta Mãe piedosa nos dá o alimento mais belo, mais

saboroso, como são suas delicadíssimas carnes e por bebida seu preciosíssimo sangue. Que

outra coisa mais pode fazer esta mãe pacífica da esperança? Quem se assemelhará a ela? Ah!

Só ela pôs em paz o Céu e a terra, a esperança uniu com ela a fé e a caridade e formou esse

anel indissolúvel entre a natureza humana e a Divina. Mas quem é esta Mãe? Quem é esta

esperança? É Jesus Cristo, que operou a nossa Redenção e formou a esperança do homem

extraviado.

* * * * * *

2-83

Outubro 16, 1899

Expectativas. Jesus fala de castigos.

90

(1) Esta manhã meu doce Jesus não vinha e desde ontem à noite não o vi, quando se fez ver

com um aspecto que dava piedade e terror ao mesmo tempo, queria-se esconder para não ver

os castigos que Ele mesmo estava mandando às pessoas e o modo como devia destruí-las. ¡¡

Oh Deus, que espetáculo tão dilacerante, jamais visto! Enquanto esperava e esperava, em meu

interior ia dizendo: “Como é que não vem? Quem sabe, talvez não venha porque eu não me

conformo com sua justiça, mas, como posso fazê-lo? Me parece quase impossível dizer “Fiat

Voluntas Tua”. Dizia também: “Não vem porque o confessor não me manda”. Agora, enquanto

pensava isto, quando quase não vi a sua sombra, disse-me:

(2) “Não temas, o poder dos sacerdotes é limitado; só que na medida em que se prestem a

pedir-me que venha a ti e a oferecer-te para te fazer sofrer com o fim de conseguir que perdoe

as pessoas, assim Eu, quando enviar os castigos os curarei e os libertarei, mas se nenhum

pensamento for dado, Eu também não terei consideração por eles”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me num mar de aflição e de lágrimas.

* * * * * *

2-84

Outubro 21, 1899

Os bens terrenos devem servir para a santificação,

não para serem ídolos para o homem. Causa dos castigos.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, sentia-me cansada e sem forças, ainda

que ia oferecendo estas mesmas penas dizendo: “Senhor, Tu sabes quanto me custa estar

privada de Ti, mas me resigno a tua Santa Vontade, oferecendo esta pena acerbíssima como

meio para atestar-te meu amor e aplacar-te. Estes aborrecimentos, aborrecimentos, fraquezas,

frieiras que sinto, tenho intenção de enviá-los como mensageiros de louvores e de reparações

por mim e por todas as criaturas; isto tenho e isto te ofereço. É certo que Tu aceitas o sacrifício

da boa vontade quando se te oferece o que se pode sem reserva alguma, mas vem, porque

não posso mais”.

(2) Muitas vezes me vinha a tentação de me conformar à justiça e pensava que a causa pela

qual não vinha era eu mesma, porque quando Jesus, nos dias passados, me tinha dito que se

não me conformasse o obrigaria a que não viesse e a não dizer-me mais nada para não ter-me

descontente, mas não tinha vontade de fazê-lo, muito mais porque a obediência não o

consentia. Enquanto me encontrava entre estas amarguras, primeiro veio uma luz, com uma

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voz que dizia:

(3) “À medida que o homem se intromete nas coisas terrenas, assim se afasta e perde a estima

dos bens eternos. Eu dei as riquezas para que se sirvam delas para sua santificação, mas elas

se serviram delas para me ofender e formar um ídolo para seu coração, e eu destruirei as

pessoas e as riquezas junto com elas”.

(4) Depois disto vi o meu caríssimo Jesus, mas tão sofredor, ofendido e irado com as nações,

que dava terror. Eu súbito comecei a dizer-lhe: “Senhor, ofereço-te as tuas chagas, o teu

sangue, o uso santíssimo dos teus santíssimos sentidos que fizeste no curso da tua vida

mortal, para te reparar as ofensas e o mau uso dos sentidos que fazem as criaturas”.

(5) E Jesus, levando um aspecto sério e quase irado disse:

(6) “Você sabe como os sentidos das criaturas se tornaram? Como aqueles rugidos das bestas

ferozes, que com seus rugidos afastam os homens em vez de atraí-los. É tanta a podridão e a

multiplicidade das culpas que sai de seus sentidos, que me obrigam a fugir”.

(7) E eu: “Ah! Senhor, como te vejo zangado. Se queres continuar a mandar castigos, eu quero

ir para o Céu, ou então quero sair deste estado. De que adianta estar nele se não posso mais

me oferecer vítima para livrar as pessoas?” E Ele, falando-me sério, tanto que me sentia

aterrado, disse-me:

(8) “Tu queres tocar os dois extremos, ou que não faça nada, ou que tu queres vir. Não te

contentas com que as nações sejam perdoadas em parte? Crês tu que Corato seja o melhor e

o que menos me ofende? E o fato de o ter perdoado em parte em comparação com as outras

cidades é coisa de nada? Por isso, conforta-te e acalma-te, e enquanto Eu me ocupo em

castigar as nações, Tu me acompanhas com teus suspiros e com teus sofrimentos, pedindo-me

que os mesmos castigos sirvam para a conversão dos povos”.

* * * * * *

2-85

Outubro 22, 1899

A cruz, um caminho cravejado de estrelas.

(1) Continua Jesus fazendo-se ver afligido. Assim que chegou, lançou-se em meus braços, todo

extenuado como querendo um alívio. Participou-me um pouco dos seus sofrimentos e depois

disse-me:

(2) “Minha filha, o caminho da cruz é um caminho cheio de estrelas, à medida que se caminha,

essas estrelas mudam-se em sóis luminosíssimos. Que felicidade será para a alma por toda a

eternidade estar circundada por estes sóis? Além disso, o grande prêmio que dou à cruz é tal,

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que não há medida, nem de comprimento nem de largura, é quase incompreensível às mentes

humanas, e isto porque ao suportar as cruzes não pode haver nada de humano, senão todo

divino”.

* * * * * *

2-86

Outubro 24, 1899

O homem é uma reprodução do Ser Divino.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, entre as

nações, e parecia que Jesus olhava com olhos de compaixão as criaturas, e os mesmos

castigos apareciam como infinita misericórdia sua, saída do mais íntimo de seu coração

amorosíssimo; então, voltou para mim e disse:

(2) “Minha filha, o homem é uma reprodução do Ser Divino, e como nosso alimento é o amor,

sempre recíproco, conforme e constante entre as Três Divinas Pessoas, por isso, o homem

tendo saído de nossas mãos e do amor puro e desinteressado, É como uma partícula do nosso

alimento. Agora, esta partícula tornou-se amarga; não só isso, mas a maior parte, separando-se

de nós tornou-se pasto das chamas infernais e alimento do ódio implacável dos demônios,

nossos e seus capitais inimigos. Eis a causa principal de nosso descontentamento pela perda

das almas: Porque são nossas, são coisa que nos pertence; e também a causa que me impele

a castigá-los é o grande amor que tenho por eles, para poder pôr a salvo suas almas”.

(3) E eu: “Ah! Senhor, parece que desta vez não tens outras palavras a dizer além de castigos,

a tua Potência tem tantos outros meios para salvar estas almas. E além disso, se estivesse

certa que toda a pena cairia sobre eles e Você ficasse livre, sem sofrer neles, me contentaria,

mas vejo que já está sofrendo muito por aqueles castigos que tem mandado, o que será se

continuar mandando outros castigos?”

(4) E Jesus: “Apesar de tudo o que sofro, o amor obriga-me a enviar flagelos mais pesados, e

isto porque não há meio mais potente para fazer entrar em si mesmo o homem e fazê-lo

conhecer o que é seu ser, do que fazer que se veja a si mesmo desfeito; Os outros meios

parecem que o robustecem de mais, por isso, recompõe-te à minha justiça. Vejo bem que o

amor que você me tem é o que te leva a não se conformar Comigo e não tem coração de me

ver sofrer; mas também minha Mãe me amou mais que todas as criaturas, tanto, que nenhuma

outra jamais poderá iguala-la, No entanto, para salvar as almas, conformou-se com a justiça e

contentou-se em ver-me sofrer tanto. Se minha Mãe fez isso, como você não poderia?”

(5) E no momento em que Jesus falava, sentia-me tão atraído pela sua vontade que quase não

sabia resistir a conformar-me com a sua justiça, não sabia o que dizer, tão convencida me

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sentia; no entanto, não manifestei a minha vontade. Jesus desapareceu e eu fiquei nesta

dúvida, se devo ou não me conformar.

* * * * * *

2-87

Outubro 25, 1899

Jesus fala do seu grande amor pelas criaturas.

(1) O meu dulcíssimo Jesus continua a manifestar-se quase sempre igual. Esta manhã

acrescentou:

(2) “Minha filha, é tanto o amor pelas criaturas, que como um eco ressoa nas regiões celestes,

enche a atmosfera e se difunde sobre toda a terra. Mas qual é a correspondência que as

criaturas dão a este eco amoroso? Ah! Correspondem-me com um eco de ingratidão,

venenoso, cheio de todo tipo de amarguras e de pecados, com um eco quase assassino, apto

só para me ferir. Mas eu despovoarei a face da terra, a fim de que este eco cheio de veneno

não mais atordoado meus ouvidos”.

(3) E eu: “Ah! Senhor, o que dizes?”

(4) E Jesus: “Eu não faço mais que como um médico piedoso, que tem os remédios extremos

para seus filhos, e estes filhos estão cheios de chagas, o que faz este pai e médico que ama a

seus filhos mais que a própria vida? Deixará que gangrenem estas chagas? Os deixará morrer

por temor de que aplicando o fogo e os instrumentos eles sofram? Não, jamais! Embora sentira

como se tais instrumentos se aplicassem a ele, contudo e isto tomará os instrumentos, rasgo e

corta a carne, aplica o remédio, o fogo, para impedir que a corrupção avance mais. Se bem que

muitas vezes acontece que nestas operações os pobres filhos morrem, mas não era esta a

vontade do pai médico, senão que sua vontade é vê-los curados. Assim sou Eu, magoo para

curá-los, destruo-os para ressuscitá-los. Que muitos pereçam, não é essa minha Vontade, isto

é efeito de sua malvada e obstinada vontade, é efeito deste eco venenoso que, até serem

destruídos, querem me enviar”.

(5) E eu: “Diz-me, meu único Bem, como poderia adoçar-te este eco venenoso que tanto te

aflige?”

(6) E Ele: “O único meio é que tu faças sempre todas as tuas obras com a única finalidade de

me agradar e que uses todos os teus sentidos e poderes com a finalidade de me amar e

glorificar. Faz com que cada pensamento teu, palavra e todo o resto, não queira outra coisa

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que o amor que tens por Mim, assim o teu eco subirá agradável ao meu trono e adoçará o meu

ouvido”.

* * * * * *

2-88

Outubro 28, 1899

Quem é você e quem sou eu?

(1) Esta manhã o meu amável Jesus veio no meio de uma luz, e olhando para mim como se me

penetrasse por todos os lados, tanto que me sentia aniquilada, disse-me:

(2) “Quem sou eu, e quem és tu?”

(3) Estas palavras me penetravam até a medula dos ossos e descobria a infinita distância que

há entre o Infinito e o finito, entre o Todo e o nada; e não só isso, senão que descobria também

a maldade deste nada e o modo como se tinha enlameado, me parecia como um peixe que

nada nas águas, assim minha alma nadava na podridão, nos vermes e em tantas outras coisas

aptas somente para dar horror à vista. ¡ Oh Deus, que vista abominável! Minha alma queria

fugir da vista de Deus três vezes Santo, mas com outras duas palavras me amarrou: “Qual é o

meu Amor para contigo? E qual é a sua correspondência para mim?”

(4) Agora, enquanto à primeira palavra teria querido fugir espantada pela sua presença, à

segunda palavra, qual é o meu Amor para contigo? Encontrei-me abismada, atada por toda

parte por seu amor, assim que minha existência era um produto de seu amor, e se este amor

cessava, eu não existia mais. Então, me parecia que os batimentos do coração, a inteligência e

até o respiro eram todos uma reprodução de seu Amor, eu nadava nele e mesmo o querer fugir

me parecia impossível, porque seu amor me circundava por todos lados. Meu amor me parecia

como uma gota de água atirada no mar, que desaparece e não se pode mais distinguir.

(5) Quantas coisas compreendi, mas se quisesse dizê-las todas, prolongar-me-ia

demasiado. Então Jesus desapareceu e eu fiquei toda confusa, via-me todo pecado e em meu

íntimo implorava perdão e misericórdia. Pouco depois meu único Bem voltou e eu me sentia

toda banhada pela amargura e pela dor de meus pecados, e Ele me disse:

(6) “Minha filha, quando uma alma está convencida de ter feito mal ao me ofender, faz já o

ofício da Madalena que banhou meus pés com suas lágrimas, ungiu-os com bálsamo e os

secou com seus cabelos. A alma, quando começa a ver em si mesma o mal que fez, prepara-

me um banho às minhas chagas. Vendo o mal, sente amargura e prova dor, e com isto vem

ungir as minhas chagas com um bálsamo requintado. Por este conhecimento a alma gostaria

de fazer uma reparação, e vendo a ingratidão passada, sente nascer nela o amor por um Deus

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tão bom e gostaria de dar a sua vida para testemunhar o seu amor, e estes são os cabelos, que

como tantas correntes de ouro a unem ao meu amor”.

* * * * * *

2-89

Outubro 29, 1899

Jesus a leva nos braços e a instrui.

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, mas esta manhã, quando veio me tomou em seus

braços e me transportou para fora de mim mesma; e eu, encontrando-me naqueles braços

compreendia muitas coisas e especialmente que para poder estar livremente nos braços de

Nosso Senhor e também para entrar boamente em seu coração e sair dele como a alma mais

lhe agrade, e para não ser de peso e aborrecimento ao bendito Jesus, é absolutamente

necessário despojar-se de tudo. Portanto, com todo o coração lhe disse: “Meu amado e único

Bem, o que te peço para mim é que me despojes de tudo, porque bem vejo que para ser

revestida por Ti e viver em Ti, e que Tu vivas em mim, é necessário que não tenha sequer a

sombra do que não te pertence”. E Ele, toda benignidade, me disse:

(2) “Minha filha, a coisa principal para que Eu entre em uma alma e forme minha habitação

nela, é o desapego total de toda coisa. Sem isto, não só não posso viver nela, como nem

sequer uma virtude pode tomar lugar na alma.Depois que a alma fez sair tudo de si, então eu

entro nela e unido com a vontade da alma fabricamos uma casa, os fundamentos desta casa

se baseiam na humildade, e quanto mais profundos forem, tanto mais altos e fortes são os

muros; estas paredes serão feitas de pedras de mortificação, cobertas de ouro puríssimo de

caridade. Depois que os muros foram construídos, Eu, como um pintor excelentíssimo, não

com cal e água, mas com os méritos da minha Paixão, simbolizados pela cal, e com as cores

do meu sangue, simbolizados pela água, os revesti e neles formo as mais Excelentíssimas

pinturas, e isto serve para protegê-la bem das chuvas, das nevadas e de qualquer golpe.

Imediatamente depois vêm as portas, e para fazer que estas sejam sólidas como madeira, não

presas à mariposa, é necessário o silêncio, que forma a morte dos sentidos exteriores. Para

guardar esta casa é necessário um guardião que vigie por toda parte, por dentro e por fora, e

este é o santo temor de Deus, que a guarda de qualquer inconveniente, vento, ou qualquer

outra coisa que possa ameaçá-la.Este temor será a salvaguarda desta casa, que fará agir a

alma não por temor da pena, mas por temor de ofender ao proprietário desta casa. Este santo

temor deve fazer com que tudo seja feito para agradar a Deus, sem nenhuma outra

intenção. Logo se deve adornar esta casa e enchê-la de tesouros, estes tesouros não devem

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ser outra coisa que desejos santos, lágrimas; estes eram os tesouros do Antigo Testamento e

neles encontraram sua salvação, no cumprimento de seus votos sua consolação, a força nos

sofrimentos; em suma, toda a sua fortuna se baseava no desejo do futuro Redentor e nesse

desejo agiam como atletas. A alma sem desejo trabalha quase como morta; mesmo as mesmas

virtudes, tudo é tédio, aborrecimento, animosidade, nada lhe agrada, caminha quase

arrastando-se pelo caminho do bem. Ao contrário a alma que deseja, nada lhe causa peso,

tudo é alegria, voa, nas mesmas penas encontra seus gostos, e isto porque havia um

antecipado desejo, e as coisas que primeiro se desejam, depois vêm a amar-se, e amando-se,

encontram-se os prazeres mais agradáveis. Por isso este desejo deve acompanhar a alma

desde antes de que se fabrique esta casa.

(3) Os adornos desta casa serão as pedras mais preciosas, as pérolas, as gemas mais caras

desta minha vida, baseada sempre no sofrer e no puro sofrer; e como Aquele que a habita é o

doador de todo bem, põe nela o enxoval de todas as virtudes, a perfuma com os mais suaves

odores, semeia as flores mais encantadoras e perfumadas, faz soar uma música celestial das

mais agradáveis, faz respirar um ar de Paraíso.

(4) Esqueci de dizer que é preciso ver se há paz doméstica, e esta não deve ser outra coisa

que o recolhimento e o silêncio dos sentidos interiores”.

(5) Depois disto, eu continuava nos braços de Nosso Senhor e me encontrava despojada de

tudo; enquanto estava nisto, via o confessor presente e Jesus me disse, mas me parecia que

queria fazer uma brincadeira para ver o que eu dizia:

(6) “Minha filha, você se despojou de tudo, e você sabe que quando se despoja se necessita

outra pessoa que pense em vesti-lo, em alimentá-lo e que lhe dê um lugar onde viver. Tu, onde

queres estar, nos braços do confessor ou nos meus?”

(7) E enquanto dizia isto, tentava colocar-me nos braços do confessor. Eu comecei a insistir

que não queria ir, e Ele que queria. Depois de um pouco de disputa me disse:

(8) “Não temas, te tenho em meus braços”.

(9) E assim ficamos em paz.

* * * * * *

2-90

Outubro 30, 1899

Ameaça de castigos. Não se conforma à Justiça.

(1) Esta manhã meu benigno Jesus veio todo aflito, e as primeiras palavras que me disse

foram:

(2) “Pobre Roma, como será destruída! Ao te ver Eu te compadeço!”

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(3) E o dizia com tal ternura que dava compaixão; mas não entendi se serão só as pessoas ou

também os edifícios. Eu, como tinha a obediência de não me conformar à justiça, mas de rezar,

por isso lhe disse: “Meu amado Jesus, quando se fala de castigos não se necessita opor mais,

senão somente rezar”. E assim comecei a rezar, a beijar suas chagas e a fazer atos de

reparação. E enquanto isso fazia, Ele de vez em quando me dizia:

(4) “Minha filha, não me faças violência, fazendo isto tu queres forçar-me, por isso fica quieta”.

(5) E eu: “Senhor, é a obediência que assim o quer, não sou eu que o quero”.

(6) Ele acrescentou: “O rio da iniqüidade é tanto, que chega a impedir a redenção das almas, e

só a oração e minhas chagas impedem que este rio impetuoso as arraste a todas nele”.

* * * * * *

GLORIA A DEUS!

Nihil obstat

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arzobispo Giuseppe M. Leo

Octubre de 1926

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Volume 03 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Queremos consagrar este livro e os frutos 

que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade 

 Volume 03

3

I.M.I.

3-1

Novembro 1, 1899

Purificação da Igreja. As almas vítimas são o seu sustento 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma  igreja, e ali estava um sacerdote que celebrava o divino sacrifício, e enquanto isso fazia chorava  amargamente e dizia: “A coluna da minha Igreja não tem onde apoiar-se”.

(2) No momento em que dizia isto vi uma coluna, cujo cume tocava o céu, e abaixo desta coluna  estavam sacerdotes, bispos, cardeais e todas as outras dignidades que sustentavam essa coluna,  mas com minha surpresa, ao olhar vi que destas pessoas, quem era muito fraco, quem era meio  acabado, quem era doente, quem era cheio de lama; escassíssimo era o número daqueles que se  encontravam em estado de sustentá-la, assim que esta pobre coluna, tantas eram as sacudidas  que recebia por baixo, que cambaleava sem poder estar firme. Até acima desta coluna estava o  Santo Padre, que com correntes de ouro e com os raios que despedia de toda sua pessoa, fazia  quanto mais podia para sustentá-la, para acorrentar e iluminar as pessoas que moravam na parte  baixa, Embora alguma escapasse para ter mais oportunidade de degradar-se e enlamear-se , e  não só a estas pessoas mas que tratava de atar e iluminar a todo o mundo.

(3) Enquanto eu via isto, aquele sacerdote que celebrava a missa (embora tenha dúvidas se e sacerdote ou Nosso Senhor, parece-me que era Ele, mas não sei dizer com certeza), chamou-me  junto a Ele e disse-me:

(4) “Minha filha, olha em que estado lamentável se encontra minha Igreja, as mesmas pessoas que  deviam sustentá-la, desfalecem, e com suas obras a abatem, golpeiam-na, e chegam a denegri-la.  O único remédio é que faça derramar tanto sangue, até formar um banho para poder lavar esse  purulento lodo e curar suas profundas chagas, para que sanadas, reforçadas, embelezadas por  esse sangue, possam ser instrumentos hábeis para mantê-la estável e firme”. Depois acrescentou:  “Chamei-te para te dizer: Queres tu ser vítima e assim ser como uma escora para segurar esta  coluna em tempos tão incorrigíveis?”.

(5) Eu, em princípio, senti um arrepio correr por medo, e porque possivelmente não teria a força,  mas logo me ofereci e pronunciei o Fiat. Enquanto estava nisto, encontrei-me rodeada por muitos  santos, anjos e almas purgantes que com flagelos e outros instrumentos me atormentavam; e eu,  embora no princípio sentisse temor, mas depois, quanto mais sofria, tanto mais me vinha o desejo

1 Este livro foi traduzido da tradução em espanhol que foi feita do original manuscrito de Luisa Piccarreta.

4

de sofrer e saboreava o sofrer, como um dulcíssimo néctar. E muito mais porque me veio um  pensamento: “Quem sabe se essas penas pudessem ser meios para consumir a vida, e assim  poder empreender o último vôo para meu sumo e único Bem”. Mas com muita pena, depois de ter  sofrido acerbas penas, vi que essas penas não me consumiam a vida. ¡¡ Ó Deus, que pena, que  esta frágil carne me impeça de unir-me com meu Bem Eterno! (6) Depois disto, vi o massacre  sangrento que se fazia daquelas pessoas que estavam debaixo da coluna. Que horrível catástrofe!  Escassíssimo era o número dos que não caíam vítimas, chegavam a tal atrevimento, que tentavam  matar o Santo Padre. Mas depois parecia que aquele sangue derramado, aquelas sangrentas  vítimas destroçadas, eram meios para fazer fortes aqueles que ficavam, de modo que sustentavam  a coluna sem fazê-la balançar mais. ” Oh, que dias felizes!. Depois disso despontavam dias de  triunfos e de paz, a face da terra parecia renovada, a coluna adquiria seu primeiro brilho e  esplendor. ¡ Oh dias felizes, de longe eu vos saúdo, pois tanta glória dareis à Igreja e tanto honra a  Deus que é sua Cabeça!

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3-2

3, Novembro 1899

Jesus entretenimento com Luisa. 

(1) Esta manhã meu amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, dentro de uma  igreja e desapareceu, e eu fiquei sozinha. Agora, encontrando-me diante da presença do  Santíssimo Sacramento, fiz a minha habitual adoração, mas enquanto fazia isto, parecia que me  tinha virado todos os olhos para ver se podia descobrir o meu doce Jesus. Enquanto estava nisto,  vi-o sobre o altar, como criança, que me chamava com sua graciosa mãozinha. Quem pode dizer o  meu contentamento? Voei a Ele, e sem pensar em outra coisa, o apertei entre meus braços e o  beijei, mas no momento de fazer isto tomou um aspecto sério, e mostrava que não lhe agradam  meus beijos e começou a me rejeitar. Eu, não levando em conta isto, continuei e lhe disse: “Meu  querido, belo, no outro dia Você quis desabafar comigo com beijos e abraços, e eu te dei toda a  liberdade; hoje Quero com você desabafar também eu, ah, me dê a liberdade”. Mas Ele continuava  me rejeitando, e vendo que eu não cessava desapareceu. Quem pode dizer o quão mortificada e  pensativa fiquei ao me encontrar em mim mesma? Mas depois de um pouco voltou, e eu lhe pedia  perdão por minhas impertinências; me perdoou querendo Ele desafogar comigo, e enquanto me  beijava me disse:

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(2) “Amada de meu coração, minha Divindade habita em ti habitualmente, e à medida que tu vais  inventando novas coisas para me deleitar contigo, assim Eu, para estar à par, uso novos modos  para fazer você se deleitar Comigo”.

(3) Com isso eu entendi que era uma brincadeira que Jesus queria fazer.

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3-3

Novembro 4, 1899

Efeitos diferentes entre a presença de Jesus e a do demônio. 

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, o demônio tratava de tomar seu aspecto e fazer se ver, mas eu não advertindo os habituais efeitos, comecei a duvidar e persegui-me com a cruz,  primeiro eu e depois a ele, e o demônio vendo-se perseguido tremia; Imediatamente o rejeitei de  mim sem olhar para ele. Pouco depois veio meu amado Jesus, e temendo que fosse outra vez o  espírito maligno, tratava de rechaçá-lo e invocar a ajuda de Jesus e da Rainha Mãe, mas Ele para  assegurar-me que não era o demônio me disse:

(2) “Minha filha, para te assegurar se sou Eu, ou não sou Eu, tua atenção deve estar nos efeitos  internos, se se movem a virtude ou a vício, já que como minha natureza é virtude, de nenhuma  outra Eu faço herdeiros dos meus filhos, mais do que da virtude. Isto você pode compreender  também na natureza humana, que sendo carne, acontece que se tem alguma chaga, a carne se  muda em pus e se pode dizer que não é mais carne; assim minha natureza, se minimamente  pudesse reter em si a sombra do vício, cessaria de ser aquele Deus que é, o que não pode  acontecer jamais”.

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3-4

Novembro 6, 1899

Pureza de intenção.

(1) Esta manhã, tendo vindo o adorável Jesus e transportando-me para fora de mim mesma, fez me ver ruas cheias de cadáveres. ¡ Que cruel carnificina! dá horror pensar. Depois fez-me ver que  acontecia uma coisa no ar e muitos morriam de improviso; vi isso também no mês de Março. Eu  comecei, segundo meu costume, a rogar-lhe que se acalmasse e que livrasse a suas mesmas  imagens de suplícios tão cruéis, de guerras tão sangrentas, e como tinha a coroa de espinhos a  tirei para que eu a colocasse, e isto para aplacá-lo principalmente; Mas com grande tristeza vi que  quase todos os espinhos estavam quebrados na sua cabeça santíssima, de modo que pouco me  restava para sofrer a mim. Jesus se mostrava severo; quase sem me prestar atenção o que  significava aquilo, para romper esse ar severo que tinha lhe disse: “Dulcíssimo amor meu, te

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ofereço estes movimentos de meu corpo que Tu mesmo me fizeste e todos os demais que possa  eu fazer, com o único fim de te agradar e te glorificar. Ah sim, quero que também os movimentos  das pálpebras, os de meus olhos, de meus lábios e de toda eu mesma sejam feitos com o único fim  de te agradar só a Ti. Faze, ó bom Jesus, que todos os meus ossos, os meus nervos, ressoem  entre eles e com clara voz te atestem o meu amor”.

(2) E Ele me disse: “Tudo o que se faz com a única finalidade de me agradar, resplandece Diante  de mim de uma maneira tal, que atrai meus olhares divinos, e me agrada tanto, que a essas ações,  embora fossem só um movimento de cílios, lhes dou o valor como se fossem feitas por Mim. Em  troca as outras ações, que em si mesmas são boas e ainda grandes, não feitas unicamente para  Mim, são como esse ouro enlameado e cheio de ferrugem que não resplandece, e Eu não me  digno nem sequer olhá-las”.

(3) E eu: “Ah Senhor, que fácil é que o pó suje nossas ações”.

(4) E Ele: “Não se necessita prestar atenção ao pó, porque este se agita, ao que há que atender é  à intenção”.

(5) Agora, enquanto isso se dizia, Jesus se ocupava em atar-me os braços. Eu lhe disse: “Senhor,  que fazes?”

(6) E Ele: “Faço isto porque Tu estando na posição da crucificação me aplacas, e como Eu quero  punir as pessoas Eu estou amarrando-os a você”.

(7) E disse isso desapareceu.

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3-5

Novembro10, 1889

A obediência ao confessor. 

(1) Depois de ter passado alguns dias em contenda com Jesus, porque eu queria ser desatada e  Ele não queria, agora se fazia ver que dormia, agora me impunha silêncio; finalmente esta manhã,  enquanto o vi, Via o confessor que me ordenava absolutamente que me fizesse desatar por Jesus,  e isto mais de uma vez, mas Jesus não fazia caso, e eu obrigada pela obediência lhe disse: “Meu  amável Jesus, quando te opuseste à obediência? Não sou eu que quero ser desatada, é o  confessor que quer que me faças sofrer a crucificação, por isso rende-te a esta virtude tão predileta  por Ti, que entretém toda a tua vida, e formou o último elo, unindo tudo em um o sacrifício da cruz”.  (2) E Jesus: “Tu queres fazer-me violência tocando-me esse elo que uniu a Divindade e a  humanidade, e formou um só elo, que é a obediência”.

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(3) E, enquanto isto dizia, assumiu o aspecto de Crucificado e, quase forçado pelo poder  sacerdotal, tive a participação das dores da crucificação. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo  para sua glória. Assim parece que fiquei desatada.

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3-6

Novembro 11, 1899

A obediência impede-a de se ajustar à justiça.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e me parecia que  girava pela terra. ¡¡ Oh, como estava inundada por todo tipo de iniquidades, dá horror pensar!  Agora, enquanto eu girava, cheguei a um ponto e encontrei um sacerdote de vida santa, e em outro  ponto uma virgem de vida pura e santa. Nos unimos os três e começamos a falar sobre os tantos  castigos que o Senhor está enviando e tantos outros que tem preparados. Eu lhes disse: “E vós,  que fazeis? Acaso vos conformastes à divina justiça?” E eles:

(2) “Vendo a extrema necessidade destes tristes tempos, e que o homem não se renderia nem que  viesse um apóstolo, nem se o Senhor enviasse a outro São Vicente Ferrer, que com milagres e  sinais portentosas o pudesse induzir à conversão é mais, vendo que o homem chegou a tal  obstinação e a uma espécie de loucura, que a mesma força dos milagres o tornaria mais incrédulo,  então, obrigados por esta premente necessidade, pelo bem deles e para deter este mar purulento  que inunda a face da terra, e para glória do nosso Deus tão ultrajado, conformamo-nos à justiça, só  estamos rogando e oferecendo-nos vítimas para fazer que estes castigos sirvam para a conversão  dos povos. E tu, que fazes? Não te conformaste conosco?”

(3) E eu: “Ah não, não posso, porque a obediência não quer, embora Jesus queira que me  uniforme, mas como a obediência não quer, deve prevalecer sobre tudo, devo estar sempre em  oposição com Jesus bendito, o que me aflige muito”.

(4) E Eles: “Quando há obediência, certamente não precisa aderir”.

(5) Depois disto, encontrando-me em mim mesma, assim que vi o amadíssimo Jesus quis saber de  que parte eram aquele sacerdote e aquela virgem, e Ele me disse que eram do Peru. + + + +

3-7

Novembro 12, 1899

Luisa evita alguns castigos 

(1) Esta manhã, o amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, e via como se eu  devesse mover-se do céu uma coisa e tocar a terra. Fiquei tão espantada que gritei e disse: “Ah,  Senhor, que fazes? Quanta ruína haverá se isto acontecer. Me diz que me ama muito e quer me

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assustar, viu, não? não faça, não, não, não pode fazer, porque eu não quero”. E Jesus,  compadecendo-me, disse-me:

(2) “Minha filha, não tenhas medo. Além disso, quando queres que eu faça algo? Não devo Deixar te ver nada quando castigo as pessoas, senão amarras-me por todo o lado. E bem, fortificarei teu  coração com força, e farei surgir dele como um tronco para poder manter firme o que tu vês, e

depois derramarei em ti tantas graças, de modo de poder me nutrir Eu e meus filhos”. (3) Enquanto estava nisto saiu de dentro de meu coração como um tronco, e no topo como dois  ramos em forma de forquilha, que elevando-se no ar tomava pela metade o que estava por mover se, e assim ficava detida; só num ponto longínquo parecia que tocava a terra. Depois me encontrei  em mim mesma e lhe implorei que se aplacara, e parecia que rendia-se, tanto que me participou as  dores da cruz, e desapareceu.

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3-8

Novembro,13 1889 

Jesus sofre ao ver sofrer as criaturas. Luisa se oferece para consolá-lo.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus parecia inquieto, não fazia outra coisa que ir e vir, agora se  entretia comigo, agora quase atraído por seu ardente amor pelas criaturas ia ver o que faziam, e  tudo se lamentava pelo que sofriam, como se Ele mesmo e não elas estivesse sofrendo. Muitas  vezes vi o confessor, que com seu poder sacerdotal obrigava Jesus a fazer-me sofrer suas penas  para poder aplacá-lo, e Ele, enquanto parecia que não queria ser aplacado, depois mostrava-se  contente e agradecia de coração a quem se ocupava em sustentar seu braço indignado, e agora  me participava um sofrimento e agora outro. Oh, como era terno e comovedor vê-lo neste estado!  Fazia destroçar o coração de compaixão. Muitas vezes me disse:

(2) “Conforme-se a minha Justiça, que não posso mais. Ah! o homem é muito ingrato e quase me  obriga por toda parte a castigá-lo, arranca-me ele mesmo das minhas mãos os castigos. Se você  soubesse quanto sofro ao fazer uso de minha justiça, mas é o próprio homem que me faz violência!  Ah! se não tivesse feito outra coisa que comprar a preço de sangue sua liberdade, mesmo assim  deveria ser agradecido Comigo; mas o homem, para me fazer maior agravo vai inventando novas  maneiras para fazer inútil meu desembolso”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente, e eu para consolá-lo eu disse: “Doce Bem meu,  não te aflijas, vejo que a tua aflição é maior porque te sentes obrigado a punir as pessoas. Ah não,  não seja jamais! Se Tu és tudo para mim, eu quero ser toda para Ti, assim que sobre mim manda  os flagelos, aqui está a vítima sempre disposta e à tua disposição, podes fazer-me sofrer o que

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quiseres e assim ficará tua justiça de algum modo aplacada, e Tu aliviado da aflição que sentes ao  ver as criaturas sofrerem. Foi sempre esta a minha intenção ao não me conformar à justiça, porque  sofrendo o homem sofrerás mais Tu do que Ele mesmo”.

(4) Enquanto isso eu estava dizendo que a nossa Rainha Mãe veio, e eu me lembrei que, tendo  pedido ao confessor a obediência de me conformar com a justiça, ele tinha me dito para perguntar  à Virgem Santíssima se eu queria me uniformizar. Eu disse-lhe e ela disse-me: “Não, não, reza  antes minha filha, e nestes dias trata por quanto mais possas ter a Jesus junto contigo e aplacá-lo,  porque muitos castigos estão preparados”.

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3-9 

Novembro 17, 1899

O poder sacerdotal deve coincidir com a vítima.

(1) Continua meu amável Jesus fazendo-se ver afligido. Esta manhã junto com Ele veio a nossa  Rainha Mãe, e me parecia que Ela me trazia a fim de que o aplacasse e lhe rogasse junto com Ela  que me fizesse sofrer a mim para livrar as pessoas, e me disse que se nestes dias passados não  me tivesse interposta, e o confessor não tivesse feito uso do poder sacerdotal para concorrer com  as suas intenções de me fazer sofrer, muitas catástrofes teriam acontecido. Enquanto eu estava  nisto, vi o confessor, e eu imediatamente implorei por ele a Jesus e à Rainha Mãe, e Jesus disse  todas as benignidades:

(2) “À medida que eu levar em conta os meus interesses, com o pedir-me e também com empenho em renovar a intenção de te fazer sofrer, a fim de livrar as nações, assim tomarei cuidado dele e o  livrarei. Eu estaria disposto a fazer este pacto com ele”.

(3) Depois disto fiz por olhar para o meu doce e único Bem, e vi que em suas mãos tinha dois  raios, em um continha como preparado um forte terremoto e uma guerra; no outro muitos tipos de  mortes imprevistas e doenças contagiosas. Eu comecei a rogar-lhe que jogasse sobre mim aqueles  raios, e quase os queria tirar de suas mãos, mas Ele para não me deixar chegar a isto, começou a  afastar-se de mim, eu procurava segui-lo e por isso encontrei-me fora de mim mesma; Jesus  desapareceu e eu fiquei sozinha.

(4) Agora, encontrando-me sozinha virei um pouco e cheguei a um lugar onde nesta estação fazem  a ceifa, parecia que ali havia ruídos de guerra e eu queria ir para ajudar a essas pobres gentes,  mas os demônios impediam-me de ir aonde estavam por acontecer tais coisas, e me batiam para  que não pudesse ajudar, nem tampouco impedir seus artifícios, e usaram tanta força que me  fizeram retroceder.

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Novembro 19, 1899

Males da soberba.  

(1) Continua a vir meu adorável Jesus, e como minha mente, antes de que viesse estava pensando  em certas coisas que me havia dito em anos passados, e que não recordo bem, Ele, como para me  lembrar disse:

(2) “Minha filha, a soberba roe a graça. Nos corações dos soberbos não há outra coisa que um  vazio todo cheio de fumaça, que produz a cegueira. A soberba não faz mais que fazer de si mesmo  um ídolo, assim que a alma soberba não tem o seu Deus consigo; com o pecado procurou destruí lo em seu coração, e levantando um altar nele, se põe em cima e se adora a si mesmo”.  (3) Oh! Deus, que monstro abominável é este vício, a mim me parece que se a alma está atenta a  não deixá-lo entrar nela, estará livre de todos os outros vícios, mas se por sua desventura se deixa  dominar por ele, como é mãe monstruosa e má, lhe parirá todos seus filhos díscolos, os quais são  os outros pecados. Ah Senhor, mantenha-a longe de mim!

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3-11

Novembro 21, 1899

Jesus quer deleitar-se olhando-se em Luisa,

e ela é auxiliada pela Santíssima Virgem

(1) Esta manhã meu caríssimo Jesus, mal veio me disse:

(2) “Minha filha, todo o teu deleite deve ser contemplar-te em Mim, e se isto o fazes sempre, Tomarás em ti todas as minhas qualidades, a minha fisionomia, as minhas próprias linhas, e Eu  encontrarei em correspondência todo o meu gosto e sumo contente em deleitar-me olhando-me em  ti”.

(3) Dito isto desapareceu, e eu estava ruminando em minha mente essas palavras, quando de  improviso voltou, colocou sua santa mão na minha cabeça e voltando minha cara para Ele  acrescentou:

(4) “Hoje quero me deleitar um pouco olhando para mim em você”.

(5) Um estremecimento me correu por todo o corpo, um espanto de me sentir morrer porque via  que me olhava fixo, fixo, querendo deleitar-se em meus pensamentos, olhares, palavras e em todo  o resto, com o contemplar-se em mim. ¡¡¡ Oh Deus! Sou causa de deleite ou de amargura? Ia  repetindo em meu interior. Enquanto estava nisto veio nossa amada Mãe Rainha em minha ajuda,  trazendo uma vestidura branca entre as mãos, e toda amabilidade me disse:

(6) “Filha, não temas, quero suprir Eu mesma por ti vestindo-te com minha inocência, para que  assim meu Filho ao contemplar-se em ti possa encontrar o maior deleite que se possa encontrar  em uma criatura humana”.

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(7) Então vestiu-me com essa vestidura e apresentou-me ao meu amado Bem Jesus dizendo-lhe:  (8) “Amado Filho, aceita-a por consideração a Mim e aceita-te nela”.

(9) Assim me tirou todo temor e Jesus se deleitou em mim e eu Nele.

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3-12

Novembro 24, 1899

Luisa quer receber as amarguras de Jesus.

(1) Esta manhã o meu doce Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma. Agora, como  tenho visto tudo cheio de amargura, pedi-lhe e voltei a pedir-lhe que a derramasse em mim, mas,  porque lhe roguei, não consegui obter que vertesse em mim suas amarguras, e conforme me  aproximava de sua boca para recebê-las saía um hálito amargo. Enquanto fazia isto via um  sacerdote que morria, mas não sabia bem quem era, e como tinha a intenção de rezar por um  sacerdote doente, não o reconhecendo me confundi se era ele ou algum outro. Então eu disse a

Jesus: “Senhor, o que fazes? Não vês quanta falta de sacerdotes há em Corato, e queres tirar-nos  outros?” Jesus não me dando atenção e ameaçando com a mão dizia:

(2) “Eu os destruirei demais”.

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3-13 

Novembro 26, 1899 

Complacência da Santíssima Trindade diante do sofrimento de Luísa. 

(1) Encontrando-me no meio de grandes sofrimentos, meu amável Jesus veio e me pôs o braço por  detrás do pescoço, em ato de me segurar. Agora, estando perto d’Ele comecei a fazer minhas  habituais adorações a todos os seus santos membros, começando por sua sacratíssima cabeça.  No momento em que fazia isto, disse-me:

(2) “Amada minha, tenho sede, tira-me a sede com o teu amor, que não resisto mais”.  (3) E tomando aspecto de menino pôs-se em meus braços e pôs-se a mamar, parecia que sentia  um gosto grandíssimo e ficava tudo confortado e acalmava sua sede. Depois disto, querendo  brincar comigo, com uma lança que tinha na mão me trespassava o coração de lado a lado. Eu  sentia uma dor terrível, mas oh! como estava contente de sofrer, especialmente porque eram as  mesmas mãos de meu só e único Bem as que me davam o sofrer, e o incitava a me rasgar  principalmente, tanto era o gosto e a doçura que eu sentia. E Jesus bendito, para me satisfazer  mais, arrancou-me o coração, tomando-o entre as suas mãos, e com essa mesma lança abriu-o  pela metade e encontrou uma cruz resplandecente e macia, tomou-a entre as suas mãos  agradando-se grandemente e disse-me:

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(4) “Esta cruz foi produzida pelo amor e a pureza com que sofres, estou tão contente no modo com  que tu sofres, que não só eu, mas eu chamo o Pai e o Espírito Santo para agradar Comigo”.  (5) Num instante olhei e vi Três Pessoas que me circundando se deleitavam em olhar esta cruz,  mas eu, lamentando-me com Eles disse:

(6) “Grande Deus, muito pouco é meu sofrer, não estou contente só com a cruz, senão que quero  também os espinhos e os cravos, e se eu não o mereço, porque sou indigna e pecadora, Vós,  certamente podeis dar-me as disposições para merecê-lo”.

(7) E Jesus, enviando-me um raio de luz intelectual, fez-me perceber que queria que eu  confessasse as minhas culpas. Senti-me aterrorizada ante as Três Divinas Pessoas, mas a  Humanidade de Nosso Senhor me inspirava confiança, assim que dirigindo-me a Ele disse o “eu  pecador”, e depois comecei a fazer a confissão de minhas culpas. Agora, enquanto me encontrava  toda imersa em minha miséria, uma voz saiu do meio deles que dizia:

(8) “Te perdoamos, e você, não peque mais”.

(9) Eu esperava receber a absolvição de Nosso Senhor, mas nesse momento desapareceu. (10)  Pouco depois voltou crucificado e me participou as dores da cruz.

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3-14

Novembro 27, 1899

A graça faz feliz a alma. 

(1) Esta manhã meu amado Jesus não vinha, mas depois de muito esperar, enquanto o Vi me  lamentei com Ele por sua demora, dizendo-lhe: “Senhor bendito, como é que demoras tanto , talvez  te tenhas esquecido que não posso estar sem Ti? Ou por acaso perdi a tua graça e por isso não  vens?” E Ele interrompeu os meus lamentos e disse-me:

(2) “Minha filha, sabes o que faz a minha graça? Minha graça faz feliz a alma dos bem-aventurados  compromissados, e torna feliz a alma dos viadores, com esta única diferença, que os  compromissados se alegrando e deleitando-se, e os viadores trabalhando e colocando-a em  comércio. Assim, quem possui a graça, tem em si mesma o paraíso, porque a graça não é outra  coisa que possuir-me a Mim mesmo, e sendo Eu só o objeto encantador que encanta a todo o  paraíso e que formo todos os contentos dos bem-aventurados, a alma, possuindo a alma,  possuindo a graça, onde quer que se encontre possui o seu paraíso”.

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3-15

Novembro 28, 1899

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Luisa aceita sofrer no purgatório para libertar algumas almas.

(1) Meu amado Jesus veio toda afabilidade, parecia-me como um íntimo amigo que tem tantas  formalidades para outro amigo para lhe demonstrar seu amor, e as primeiras palavras que me  disse foram:

(2) “Amada minha, se tu soubesses quanto te amo. Sinto-me extremamente atraído a amar-te, as  minhas próprias demoras em vir forçam-me e são novas causas de me fazer vir e encher-te de  novas graças e carismas celestes. Se você pudesse entender o quanto te amo; seu amor  comparado com o meu apenas o perceberia.

(3) E eu: “Meu doce Jesus, é verdade o que dizes, mas também eu sinto que te amo muito, e se Tu  dizes que meu amor comparado com o teu apenas se percebe, isto é porque teu poder é sem  limites e o meu é limitado, e por tanto, posso fazer por quanto de Ti mesmo me vem dado; assim é  verdade, que quando tenho vontade de sofrer mais para demonstrar-te principalmente meu amor,  se Tu não me concedes as penas, não está em meu poder sofrer, e estou obrigada a resignar-me  mesmo nisto, e ser esse ser inútil que por mim fui sempre. Mas em Ti está em teu poder o mesmo  sofrer, e em qualquer maneira que queiras manifestar-me teu amor, podes fazê-lo. Amado meu, dá

me o poder e te farei ver quanto sei fazer por amor teu, porque na medida em que me dás, nessa  mesma medida te darei”.

(4) Ele ouvia com grande prazer o meu falar disparatado, e quase querendo pôr-me à prova me  transportou para fora de mim mesma, perto de um lugar profundo, cheio de fogo líquido e  tenebroso, dava horror e espanto só de vê-lo. Jesus me disse:

(5) “Aqui está o purgatório, e muitas almas estão concentradas neste fogo. Tu irás a esse lugar a  sofrer para libertar aquelas almas que me agradam, e isto o farás por amor meu”.  (6) Eu imediatamente, embora eu tremia um pouco, eu disse: “Tudo por amor de você, eu estou  pronto, mas você deve vir Você junto comigo, de outra forma, se você me deixar, não deixá-lo  encontrar mais, e então você me faz chorar muito”.

(7) E Ele: “Se vou junto contigo, qual seria o teu purgatório? Essas penas com a minha presença,  para ti se trocariam em alegrias e em contentos”.

(8) E eu: “Sozinha não quero ir, e além disso, enquanto estivermos nesse fogo Tu estarás atrás de  minhas costas, assim não te vejo e aceitarei este sofrimento”.

(9) Assim fui àquele lugar cheio de trevas, e ele me seguia por trás, e eu, por temor de que me  deixasse, lhe tomei as mãos, tendo-as estreitadas aos meus ombros. Tendo chegado abaixo, quem  pode dizer as penas que sofriam aquelas almas? Certamente são inenarráveis a pessoas vestidas  de humana carne. Então, ao ir eu a esse fogo, este se apagava e se apagavam as trevas, e muitas  almas saíam, outras ficavam aliviadas. Depois de ter estado perto de um quarto de hora, saímos, e  Jesus se lamentava, e eu rapidamente lhe disse: “Diz-me meu Bem, por que te lamentas? Minha

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querida vida, talvez tenha sido eu a causa porque não quis ir sozinha a esse lugar de penas? Diga me, diga-me, sofreu muito ao ver essas almas sofrerem? O que você sente?”  (10) E Jesus: “Minha querida, sinto-me todo cheio de amarguras, tanto, que não as posso conter  mais, estou prestes a derramá-las sobre a terra”.

(11) E eu: “Não, não meu doce amor, derramarás em mim, não é verdade?” E aproximando-me de  sua boca derramou um licor amargo, em tanta abundância que eu não podia contê-lo, e lhe pedia a  Ele mesmo que me desse a força para o sustentar, de outra maneira, o que não havia deixado  fazer a Nosso Senhor teria feito eu, derramá-lo sobre a terra, e fazer isto me incomodava muito;  porém parece que me deu força, se bem que fossem tantos os sofrimentos que me sentia  desfalecer, mas Jesus me tomando entre seus braços me sustentava e me dizia:

(12) “Contigo há que ceder por força, te volta tão molesta que me sinto quase com a necessidade  de te contentar”.

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Novembro 30, 1899

Membros doentes e membros sãos no corpo místico de Jesus 

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, e desta vez o via no momento quando estava atado à  coluna; Ele, desatendo se lançava em meus braços para ser compadecido por mim. Eu o estreitava  e começava a arrumar-lhe os cabelos, todos com coágulos de sangue, a secar-lhe os olhos e o  rosto, e ao mesmo tempo o beijava e fazia diversos atos de reparação. Quando cheguei às mãos e  lhe tirei a corrente, com suma maravilha vi que a cabeça era de Nosso Senhor, mas os membros  eram de tantas outras pessoas, especialmente religiosas. ¡ Oh! quantos membros infectados que  davam mais trevas do que luz; no lado esquerdo estavam os que davam mais sofrimento a Jesus,  se viam membros doentes, cheios de chagas com vermes e profundas, outros que apenas ficavam  unidos por um nervo àquele corpo, oh, como se doía e vacilava aquela cabeça divina sobre  aqueles membros. Ao lado direito se viam aqueles que eram melhores, isto é, membros sãos,  resplandecentes, cobertos de flores e de orvalho celestial, perfumados com fragrâncias, e entre  estes membros se descobria algum que desprendia um perfume apagado.

(2) Esta cabeça divina sobre estes membros sofria muito; é verdade que havia membros  resplandecentes, que quase se assemelhavam à luz daquela cabeça, que a recriavam e lhe davam  grandíssima glória, mas eram em número maior os membros infectados. Jesus, abrindo sua  dulcíssima boca me disse:

(3) “Minha filha, quantas dores me dão estes membros! Este corpo que você vê é o corpo místico  de minha Igreja, do qual me glorio de ser sua cabeça, mas que cruel rasgo fazem estes membros  neste corpo! Eles parecem estar se esgueirando entre eles para ver quem pode me causar mais

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tormento”.

(4) Ele disse outras coisas que eu não me lembro bem sobre este corpo, por isso ponho ponto.  ++++

3-17

Dezembro 2, 1899

Eloquente elogio da cruz. 

(1) Encontrando-me muito aflita por certas coisas que não é lícito dizer aqui, o amável Jesus,  querendo aliviar-me na minha aflição veio com um aspecto todo novo, me parecia vestido de cor  celeste, todo adornado de sinos pequenos de ouro, que ao baterem umas nas outras ressoavam  com um som jamais ouvido. Ante o aspecto de Jesus e o harmonioso som me senti encantar e  aliviar em minha aflição, que como fumaça se afastava de mim. Eu teria permanecido ali, em  silêncio, tanto me sentia encantar as potências de minha alma, se o bendito Jesus não tivesse  rompido meu silêncio ao me dizer:

(2) “Minha querida filha, todos estes sinos são tantas vozes que te falam do meu amor e que te  chamam a amar-me. Agora, deixe-me ver quantos sinos você tem, que me falem de seu amor e  que me chamem a te amar”.

(3) E eu, toda cheia de vergonha, disse-lhe: “Ah Senhor! Que dizes? Eu não tenho nada, não tenho  outra coisa senão defeitos”.

(4) Então Jesus compadecendo-se da minha miséria, continuou a dizer-me:  (5) “Tu não tens nada, é verdade, pois bem, quero adornar-te Eu com os meus sinos, a fim de que  possas ter tantas vozes para me chamar e para me demonstrar o teu amor”. (6) Assim parecia que  como uma faixa adornada destes sininhos me apertava a cintura. Depois disto, fiquei em silêncio e  Ele acrescentou:

(7) “Hoje quero entreter-me contigo, diz-me alguma coisa”.

(8) E eu: “Você sabe que todo meu contentamento é estar junto Contigo, e tendo-te a Ti tenho tudo,  por isso possuindo-te a Ti, parece-me que não tenho outra coisa que desejar, nem que dizer”. (9) E Jesus: “Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu  te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz”.

(10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz  intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: “Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz?  , só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está  bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a  Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta  do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em  cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de

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inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de  moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz  sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o  conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da  Sabedoria increada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz  me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita  escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não  só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me  conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio  da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho  sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz  desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas  garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos;  de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá,  dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de  ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa  dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me  perdida em Ti e vivo de tua mesma vida”.

(11) Depois de dizer isto, (não sei se são desatinos) meu amável Jesus ao me ouvir, tudo se  comprazia e levado por um entusiasmo de amor, toda me beijava e me disse:  (12) “Bravo, bravo a minha amada filha, disse bem. Meu amor é fogo, mas não como fogo terreno  que onde quer que penetre tudo o torna estéril e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só  esteriliza o que não é virtude, mas a tudo o mais dá vida e faz germinar as belas flores, faz produzir  os mais requintados frutos e converte a alma no mais delicioso jardim celestial.  (13) A Cruz é tão poderosa e comuniquei-lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios  sacramentos, e isto porque ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as  disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem  faltar, mas a cruz tem a virtude de dispor a alma à graça”.

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Dezembro 21, 1899

Luisa fala da virgindade e da pureza 

(1) Depois de um longo silêncio, esta manhã o meu amável Jesus, interrompendo-o, disse-me:  (2) “Eu sou o receptáculo das almas puras”.

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(3) E nestas suas palavras tive uma luz intelectual que me fazia compreender muitas coisas sobre  a pureza, mas pouco ou nada sei pôr em palavras do que ouço no intelecto. Mas a honorável  senhora obediência quer que escreva alguma coisa, mesmo desatinando, e para agradá-la direi  meus desatinos sobre a pureza.

(4) Parecia-me que a pureza era a gema mais nobre que a alma poderia possuir. A alma que  possui a pureza está investida de cândida luz, de modo que Deus bendito, olhando-a encontra sua  mesma Imagem, sente-se atraído a amá-la, tanto que chega a apaixonar-se dela, e é tomado por  tanto amor que lhe dá por cidade seu puríssimo coração, Porque só o que é puro e puro entra em  Deus, nada entra manchado naquele seio puríssimo. A alma que possui a pureza conserva em si  seu primeiro esplendor que Deus lhe deu ao criá-la, nada há nela desfigurado, sem nobreza, senão  que como rainha que aspira às núpcias do Rei celestial, conserva sua nobreza até que esta nobre  flor seja transplantada nos jardins celestiais ¡Oh, como esta flor virginal é perfumada com aroma  especial! Eleva-se sempre sobre todas as outras flores, e mesmo sobre os mesmos anjos. ¡ Como  se destaca com variadas belezas! Assim, todos são tomados por estima e amor, e livremente todos  lhe dão o passo até fazê-la chegar ao Esposo Divino, de modo que o primeiro posto em torno de  Nosso Senhor é destas nobres flores. Então Nosso Senhor se deleita grandemente em passear no  meio destes lírios que perfumam a terra e o céu, e muito mais se alegra em estar circundado por  estes lírios, porque sendo Ele o primeiro nobre lírio e o modelo, é o exemplar de todos os demais.  Oh, como é bonito ver uma alma virgem! Seu coração não emite outro alento que de pureza e de  candura, nem sequer tem a sombra de outro amor que não seja Deus, também seu corpo exala  cheiro de pureza; tudo é puro nela: Pura nos passos, pura no agir, no falar, no olhar, também no  mover-se, assim que ao só vê-la se sente a fragrância e se descobre uma alma virgem de verdade.  ¡ Que carismas, que obrigado, que recíproco amor, que estratagemas amorosas entre esta alma e  o Esposo Jesus! Só quem as sente pode dizer alguma coisa, porque nem sequer se pode narrar  tudo, e eu não me sinto em dever de falar sobre isto, por isso faço silêncio e passo adiante.

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3-19 

Dezembro 22, 1899

Como Deus nos atrai a amá-lo em três modos, 

e como em três modos se manifesta à alma. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Depois de muito esperar e continuar esperando,  apenas, quase como um raio que foge se deixou ver várias vezes, mas me parecia mais uma luz  que a Jesus, e nesta luz uma voz que dizia a primeira vez que veio:

(2) “Eu te atraio a me amar em três modos: à força de benefícios, à força de atrações e à força de  persuasões”.

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(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendia nestas três palavras? Parecia-me que Jesus  bendito, para atrair-se meu amor e também o das outras criaturas, faz chover benefícios em nosso  favor, e vendo que esta chuva de benefícios não chega ao ponto de ganhar nosso amor, chega a  fazer-se atrativo. E qual é essa atração? São as suas dores sofridas por nosso amor, até morrer  jorrando sangue sobre uma cruz, onde se tornou tão atraente que apaixonou por Si os seus  próprios carrascos e seus mais ferozes inimigos. Além disso, para nos atrair principalmente e tornar  mais forte e estável o nosso amor, deixou-nos a luz dos seus santíssimos exemplos, unidos à sua  celeste doutrina, e que como luz nos purificam as trevas desta vida e nos conduzem à eterna  salvação.

(4) A segunda vez que veio me disse:

(5) “Eu me manifesto à alma em três modos diferentes: Com a potência com a notícia e com o  amor. A potência é o Pai, a notícia é o Verbo, o amor é o Espírito Santo”.

(6) Oh, quantas outras coisas compreendia! Mas muito escassa é o que sei manifestar. Parecia me que com o poder se manifesta Deus à alma em tudo o criado, desde o primeiro ao último ser é  manifestada a onipotência de Deus. O céu, as estrelas e todos os outros seres nos falam, embora  em linguagem muda, de um Ente Supremo, de um Ser Incriado, de sua onipotência, porque o  homem mais instruído, com toda sua ciência não pode chegar a criar o mais vil mosquito, e isto nos  diz que deve haver um Ser Incriado potentíssimo que criou tudo e dá vida e subsistência a todos os  seres. ¡ Oh, como todo o universo a claras notas e com caracteres indeléveis nos fala de Deus e de  sua onipotência! Então quem não vê é cego voluntário.

(7) Com a notícia, parecia-me que Jesus abençoado descendo do Céu veio pessoalmente à terra  para nos dar a notícia do que para nós é invisível, e em quantos modos Ele não se manifestou?  Acredito que cada um, por si mesmo, compreenderá todo o resto, por isso não me alongo mais.  + + + +

3-20

Dezembro 25, 1899

Jesus quer de Luisa contínua atitude de sacrifício.

(1) Depois de ter passado alguns dias quase de privação total de meu sumo e único Bem,  acompanhados por uma dureza de coração, sem poder nem sequer chorar minha grande perda,  ainda que oferecia a Deus também aquela dureza dizendo-lhe: “Senhor, aceita-a como sacrifício,  só Tu podes amaciar este coração tão duro”. Finalmente, depois de um longo pesar, veio minha  amada Mamãe Rainha trazendo em seu colo o celestial Menino envolto em uma fralda, todo  trêmulo; me deu entre meus braços dizendo:

(2) “Minha filha, aquece-o com teus afetos, porque meu Filho nasceu em extrema pobreza, em total  abandono dos homens e em suma mortificação”.

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(3) Oh, como era agradável com sua celestial beleza! Eu tomei entre meus braços, abracei-o e  apertei-o para o aquecer, porque estava quase entorpecido pelo frio, não tendo outra coisa que o  cobrisse que uma só fralda. Depois de o ter aquecido por quanto pude, meu terno Menino,  entreabrindo os seus lábios purpúreos, disse-me:

(4) “Prometes-me tu ser sempre vítima por amor meu, como Eu o sou por amor teu?”  (5) E eu: “Sim, querido, eu prometo”.

(6) E Ele: “Não estou contente só com as palavras, quero um juramento e também uma assinatura  com o teu sangue”.

(7) E eu: “Se quer a obediência o farei”.

(8) Ele parecia todo contente, e acrescentou:

(9) “Meu coração desde que nasci o tive sempre oferecido em sacrifício para glorificar ao Pai para  a conversão dos pecadores e pelas pessoas que me rodeavam e que mais me foram fiéis  companheiros em minhas penas. Assim quero que seu coração esteja em contínua atitude,  oferecido em espírito de sacrifício por estes três fins”.

(10) Enquanto dizia isto, a Rainha Mãe queria o Menino para alimentá-lo com seu leite dulcíssimo.  Eu o devolvi e Ela puxou seu peito para colocá-lo na boca do Divino Menino, e eu astuta, querendo  fazer uma piada, coloquei minha boca para chupar, tirei poucas gotas, e no momento de fazer isto  desapareceram, deixando-me contente e descontente.

(11) Seja tudo para glória de Deus e para confusão desta miserável pecadora.

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3-21

Dezembro 27,1889

A caridade deve ser como um manto que deve cobrir as ações 

(1) Jesus continua a fazer-se parecer como sombra e como raio. Enquanto me encontrava num  mar de amargura pela sua ausência, num instante fez-se ver-me dizendo:

(2) “A caridade deve ser como um manto que deve cobrir todas as tuas ações, de modo que tudo  deve resplandecer de perfeita caridade. O que significa esse desgosto quando não sofres? Que a  tua caridade não é perfeita, porque o sofrer por amor meu e o não sofrer por meu amor, sem a tua  vontade, tudo é o mesmo”.

(3) E desapareceu deixando-me mais amarga do que antes, querendo tocar uma nota muito  delicada para mim, e que Ele mesmo me infundiu. Então depois de ter derramado amargas  lágrimas em meu estado miserável, e pela ausência de meu adorável Jesus, Ele voltou e me disse: 4) Com as almas justas me porto com justiça, antes as recompenso duplamente por sua justiça,

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favorecendo-as com as graças maiores e falando-lhes com palavras justas e de santidade”.  (5) No entanto, eu estava tão confusa e má, que não me atrevia a dizer uma só palavra, aliás,  continuava a derramar lágrimas sobre a minha miséria. E Jesus, querendo dar-me confiança  colocou sua mão sob a minha cabeça para levantá-la, porque eu não a sustentava, e acrescentou:  (6) “Não temas, Eu sou o escudo dos atribulados”.

(7) E desapareceu.

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3-22

Dezembro 30, 1899

Efeitos da humilhação e da mortificação. 

(1) Esta manhã assim que vi o meu adorável Jesus, e como a obediência me tinha dito que rezasse  por uma pessoa, por isso assim que Jesus veio, confiei-lhe, e Ele disse-me:  (2) “A humilhação não só deve ser aceita, mas também amá-la, tanto como para mastigá-la como  um alimento, e como quando um alimento é amargo, quanto mais se mastiga tanto mais se sente a  amargura, assim a humilhação bem mastigada faz nascer a mortificação, e estes são dois meios  potentíssimos, isto é, a humilhação e a mortificação, para superar certos obstáculos e obter as  graças que são necessárias. E enquanto parecem daninhos à natureza humana, como o alimento  amargo parece querer causar mais mal que bem, assim a humilhação e a mortificação, mas não.  Quando o ferro é mais atingido sobre a bigorna, tanto mais lança faíscas de fogo e fica puro, assim  a alma, quanto mais é humilhada e golpeada sob a bigorna da mortificação, tanto mais lança  faíscas de fogo celestial, e fica purgada se verdadeiramente quer caminhar a via do bem; mas se é  falsa acontece todo o contrário”.

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3-23

Janeiro 1, 1900

Efeito do conhecimento de si mesmo. 

(1) Achando-me muito aflita pela privação do meu sumo e único Bem, depois de muito esperar e  esperar, finalmente o vi sair chorando de dentro do meu coração, fazendo-me sinal com os olhos  que lhe doía a ferida feita na circuncisão, e por isso chorava, e que esperava de mim que lhe  secasse o sangue que corria da ferida e adoçasse a dor do corte. Eu era toda compaixão e  confusão ao mesmo tempo, tanto que não me atrevia a fazê-lo, mas atraída pelo amor, não sei  como encontrei um trapo na mão e tratei por quanto pude limpar o sangue ao menino Jesus.  Enquanto fazia isto, sentia-me toda cheia de pecado, e pensava que eu era a causa dessa dor de  Jesus Oh, como me dava pena, me sentia absorvida naquela amargura e o bendito menino  compadecendo meu miserável estado me disse:

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(2) “Quanto mais a alma se humilha e se conhece a si mesma, tanto mais se aproxima da verdade,  e encontrando-se na verdade procura dirigir-se ao caminho das virtudes, do qual se vê muito  longínqua, e se vê que se encontra neste caminho, logo descobre o muito que lhe resta a fazer,  porque as virtudes não têm termo, são infinitas como eu sou. Então, a alma, encontrando-se na  verdade, procura sempre aperfeiçoar-se, mas jamais chegará a ver-se perfeita, e isto lhe serve e  fará com que a alma esteja continuamente trabalhando, esforçando-se para mais aperfeiçoar-se,  sem perder o tempo em ociosidades; E eu, me comprazendo com este trabalho, pouco a pouco  vou retocando-a para pintar nela minha semelhança. Eis por que quis ser circuncidado, para dar  um exemplo de grandíssima humildade, que fez desconcertar os próprios anjos do Céu”.

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3-24

Janeiro 3, 1900

A paz.

(1) Continuo a ver-me toda cheia de misérias, e não só isso, mas também inquieta. Parece-me que  todo o meu interior foi posto em armas pela perda de Jesus. Estava pensando entre mim, que  meus grandes pecados tinham me merecido que meu adorável Jesus me tivesse deixado, e por  isso não o veria mais. Oh, que morte cruel é este pensamento para mim! É mais, pensamento mais  impiedoso que qualquer morte. Não ver mais Jesus! Não ouvir mais a suavidade de sua voz!  Perder Aquele do qual depende minha vida e do qual me vem tudo bem! Como poder viver sem  Ele? Ah, se eu perder Jesus para mim tudo acabou! Com estes pensamentos sentia uma agonia  de morte, todo o meu interior transtornado porque amava a Jesus, e Ele, num lampejo de luz,  manifestou-se à minha alma dizendo-me:

(2) “Paz, paz, não queiras perturbar-te. Assim como uma flor odorosa perfuma o lugar onde se põe,  assim a paz enche de Deus a alma que a possui”.

(3) E como relâmpago se foi. Oh Senhor, quão bom és com esta pecadora, e em confiança te digo  também: Como és impertinente, pois nada menos devo perder-te a ti, e nem sequer queres que me  perturbe ou me inquiete, e se o faço, fazes-me entender que eu mesma afasto-me de Ti, porque  com a paz me encho de Deus e com a minha inquietação me encho de tentações diabólicas. ¡ Oh  meu doce Jesus, quanta paciência se necessita contigo, porque qualquer coisa que me aconteça,  nem sequer posso me inquietar, nem me perturbar, senão que queres que esteja em perfeita  calma e paz.

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3-25

Janeiro 5, 1900

Efeitos do pecado e da confissão. 

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(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me a sair de mim mesma e encontrei o meu  adorável Jesus, mas como me via cheia de pecados diante da sua presença! Em meu íntimo sentia  um forte desejo de me confessar com Nosso Senhor, por isso me dirigindo a Ele comecei a dizer  minhas culpas, e Jesus me escutava. Quando terminei de falar, dirigindo-se a mim com um rosto  cheio de tristeza me disse:

(2) “Minha filha, o pecado, se é grave, é um abraço venenoso e mortífero à alma, e não só a ela, mas também a todas as virtudes que se encontram na alma; se é venial, é um abraço que fere, que  torna a alma muito débil e enferma, e junto com ela adoecem as virtudes que tinha adquirido. Que  arma mortal é o pecado! Só o pecado pode ferir e matar a alma! Nada mais pode danificá-la, nada  mais a torna ignominiosa, odiosa diante de Mim, senão só o pecado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu compreendia a feiura do pecado e sentia tal pena, que nem sequer sei  explicá-la. E Jesus, vendo-me toda compenetrada, levantou a sua mão direita abençoada e  pronunciou as palavras da absolvição. Depois acrescentou:

(4) “Assim como o pecado fere e dá morte à alma, assim o sacramento da confissão dá a vida e a  cura das feridas, e restitui o vigor às virtudes, e isto mais ou menos, segundo as disposições da  alma, assim opera a virtude do sacramento”.

(5) Pareceu-me que minha alma recebia nova vida, depois que Jesus me deu a absolvição não  sentia mais aquele incômodo de antes. Seja sempre glorificado o Senhor e sempre lhe sejam  dadas as graças.

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3-26

Janeiro 6, 1900

A confiança: Escada para subir à Divindade. 

(1) Esta manhã recebi a comunhão e encontrei Jesus, estava também a Mãe Rainha, e oh!  maravilha, via a Mãe e via o coração dela transformado em Jesus Menino, olhava para o Filho e via  no coração do Menino a Mãe. Enquanto estava nisto, lembrei-me que hoje é a Epifania, e eu, a  exemplo dos Santos Magos, devia oferecer alguma coisa ao Menino Jesus, mas via que não tinha  nada para lhe dar. Então, vendo minha miséria, veio-me o pensamento de oferecer-lhe por mirra  meu corpo com todos os sofrimentos dos doze anos que estive em cama disposta a sofrer e a estar  todo o tempo que Ele quisesse (2); por ouro a pena que sinto quando me priva de sua presença,  que é a coisa mais penosa e dolorosa para mim; por incenso minhas pobres orações unidas às da  Rainha Mãe, a fim de que fossem mais aceitáveis ao Menino Jesus. Então fiz a oferta com toda a  confiança de que o Menino aceitaria tudo. Parecia que Jesus com muito gosto aceitava minhas  pobres ofertas, mas o que mais lhe agradava era a confiança com a qual os tinha oferecido. Então

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me disse:

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(2) sea que se puso en este estado en el año 1888, a la edad de 23 años.

(2) “A confiança tem dois braços, com um se abraça à minha humanidade e se serve dela como  escada para subir à minha Divindade, com o outro se abraça à Divindade e a torrentes toma as  graças celestiais, assim que a alma fica toda inundada pelo Ser Divino. Quando a alma confia, está  segura de obter o que pede, Eu me faço atar os braços, a faço fazer o que quer, a faço penetrar  até dentro de meu coração e por si mesma lhe faço tomar o que me pediu. Se não fizesse isto,  sentir-me-ia num estado de violência”.

(3) Enquanto isto dizia, do peito do Menino e do da Mãe saíam tantos rios de licor (mas não sei  dizer propriamente como se chamava aquilo que digo licor), que me inundavam a alma. E a Rainha  Mãe desapareceu.

(4) Depois disto, juntamente com o Menino, saímos para fora, na abóbada dos céus, o seu  gracioso rosto o via triste e disse entre mim: “Talvez queira leite e por isso está triste”. Então eu  disse: “Quer mamar em mim, porque a Rainha Mamãe não está?” Mas antes de fazer isto, senti  medo de que fosse demônio, então para me assegurar o persegui várias vezes com a cruz e lhe  disse: “És Tu realmente Jesus Nazareno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de  Maria Virgem Mãe de Deus?” O Menino assegurava que sim. Então assegurada, o pus a mamar de  mim. O Menino parecia que se reanimava tomando um aspecto alegre, e eu via que sugava parte  dos rios dos quais Ele mesmo me tinha inundado. E, enquanto isso fazia, sentia-me puxar o  coração, porque parecia que dele vinha aquele leite que Jesus chupava de mim. Quem pode dizer  o que se passava entre o Menino Jesus e eu? Não tenho língua para o poder manifestar, não tenho  palavras para poder descrever-lo.

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3-27

Janeiro 8, 1900

Mesmo os erros serão úteis. 

(1) Estava a pensar entre mim: “Quem sabe quantas loucuras, quantos erros contêm estas coisas  que escrevo”. Entretanto senti que perdia os sentidos, e veio o bendito Jesus e me disse: (2) “Minha filha, até os erros servirão, e isto para fazer saber que não há nenhum artifício por parte  tua, nem que tu sejas algum doutor, porque se isto fosse, tu mesma terias advertido onde te  equivocavas, e isto também fará resplandecer de mais que sou Eu quem te falo, se vêem as coisas  com simplicidade; porém te asseguro que não encontrarão nem a sombra do vício, nem coisa que  não fale de virtude, porque enquanto você escreve, Eu mesmo estou te guiando a mão; no máximo

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poderão encontrar algum erro à primeira vista, mas se o observam bem, aí encontrarão a verdade”.  (3) Dito isto desapareceu, mas depois de algumas horas voltou e eu me sentia toda titubeante e  pensativa acerca das palavras que me tinha dito, e Ele acrescentou:

(4) “Meu patrimônio é a firmeza e a estabilidade, não estou sujeito a nenhuma mudança, e a alma, quanto mais se aproxima de Mim e se adentra no caminho das virtudes, tanto mais se sente firme e  estável no agir o bem, e quanto mais distante está de Mim, tanto mais estará sujeita a mudar-se e  a inclinar-se agora ao bem e agora ao mal”.

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3-28

Janeiro 12, 1900

Diferença entre o conhecimento de si mesmo e a humildade.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu amável Jesus veio em um estado que dava  compaixão. Tinha as mãos atadas fortemente e o rosto coberto de salivares, e algumas pessoas  esbofeteavam-no horrivelmente, e Ele permanecia quieto, plácido, sem fazer nem um movimento  nem emitir um lamento, nem sequer um movimento de cílios, para demonstrar que Ele queria sofrer  estes ultrajes, e isto não só externamente, mas também internamente. ¡ Que espetáculo tão  comovente, de fazer despedaçar os corações mais duros! ¡ Quantas coisas dizia aquele rosto com  as cusparadas, manchado de lama! Eu me sentia horrorizada tremia, me via toda soberba diante  de Jesus. Enquanto eu estava neste aspecto, Ele me disse:

(2) “Minha filha, só os pequenos se deixam conduzir como se quer, não aqueles que são pequenos  de razão humana, mas aqueles que são pequenos mas cheios de razão divina. Só Eu posso dizer  que eu sou humilde, porque no homem o que se diz humildade, mas deve-se dizer conhecimento  de si mesmo, e quem não se conhece a si mesmo caminha já na falsidade”.

(3) Durante alguns minutos Jesus fez silêncio e eu o contemplava. Enquanto fazia isso, vi uma mão  que trazia uma luz, que, escavando em meu interior, nos mais íntimos esconderijos, queria ver se  havia em mim o conhecimento de mim mesma e o amor às humilhações, às confusões e aos  opróbrios; aquela luz encontrava um vazio em meu interior, e eu também via que devia ser  preenchido com humilhações e confusões a exemplo do bendito Jesus. Oh, quantas coisas me  fazia compreender aquela luz e aquele rosto santo que estava diante de mim! Dizia entre mim: “Um  Deus, humilhado por amor meu, confuso, e eu, pecadora, sem estas divisas. Um Deus estável,  firme em suportar tantas injúrias, tanto que não se move nem um pouquinho para se livrar dessas  cusparadas fétidas, – ah! Parece-me ver seu interior ante a Divindade, e o exterior ante os homens  – no entanto, se quiser pode fazê-lo, porque não são as correntes que o atam, senão sua estável

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Vontade, que a qualquer custo quer salvar o gênero humano. E eu? E eu? Onde estão minhas  humilhações, onde a firmeza, a constância em fazer o bem por amor de meu Jesus e por amor de  meu próximo? Ai, que diferentes vítimas somos eu e Jesus, porque de fato não nos parecemos em  nada!” Enquanto meu pequeno cérebro se perdia nisto, meu adorável Jesus me disse:

(4) “Minha humanidade esteve cheia somente de opróbios e humilhações, tanto, de derramar fora,  eis por que diante de minhas virtudes treme o Céu e a terra, e as almas que me amam se servem  de minha Humanidade como escada para subir a provar algumas gotinhas de minhas virtudes. Diz me, perante a minha humildade, onde está a tua? Só Eu posso gloriar-me de possuir a verdadeira  humildade, minha Divindade unida a minha Humanidade podia operar prodígios em cada passo,  palavra e obra, em troca voluntariamente me restringia no cerco de minha Humanidade e me

mostrava como o mais pobre, e começava a confundir-me com os mesmos pecadores.  (5) A obra da Redenção em tão pouco tempo podia fazê-la, mesmo com uma só palavra, mas quis  durante tantos anos, com tantos trabalhos e sofrimentos, fazer minhas as misérias do homem, Quis  exercer-me em tantas ações diversas para fazer com que o homem fosse todo renovado,  divinizado, mesmo nas mínimas obras, porque realizadas por Mim, que era Deus e Homem,  recebiam novo esplendor e ficavam com a marca de obras divinas. Minha Divindade escondida em  minha Humanidade, com descer a tanta baixeza, sujeitar-se ao curso das ações humanas  enquanto que com um só ato de Vontade poderia criar infinitos mundos, com sentir as misérias, as  debilidades de outros como se fossem suas, com ver-se coberta de todos os pecados dos homens  ante a divina justiça, e que devia pagar com o preço de penas inauditas e com o desembolso de  todo seu sangue, exercia contínuos atos de profunda e heróica humildade.

(6) Eis, ó minha filha, a grandíssima diferença da minha humildade com a humildade das criaturas,  que perante a minha, é apenas uma sombra; até a de todos os meus santos, porque a criatura é  sempre criatura e não sabe quanto pesa a culpa como eu a conheço, embora sejam almas  heróicas que ao meu exemplo se ofereceram a sofrer as penas de outros, mas estas não são  diferentes daquelas, das outras criaturas, não são coisas novas para elas, porque estão formadas  do mesmo barro. Além disso, só pensar que essas penas são causa de novas aquisições e que  glorificam a Deus, é uma grande honra para elas. Além disso, a criatura está restrita no cerco onde  Deus a colocou, e não pode sair desses limites com os quais Deus a cercou. Oh! se estivesse em  seu poder fazer e desfazer, quantas outras coisas fariam, cada um chegaria às estrelas. Mas  minha Humanidade divinizada não tinha limites, senão que voluntariamente se restringia em Si  mesma, e isto era um entrelaçar todas minhas obras de heroica humildade. Tinha sido esta a  causa de todos os males que inundam a terra, isto é, a falta de humildade, e Eu com o exercício  desta virtude devia atrair da justiça divina todos os bens. Ah, sim, que não partem de meu trono  resgates de graças senão por meio da humildade! Nenhum bilhete pode ser recebido por Mim, se

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não contém a assinatura da humildade, nenhuma oração escuta meus ouvidos e move a  compaixão meu coração, se não está perfumado com o aroma da humildade. Se a criatura não  chegar a destruir o germe de honra, de estima, e isto se destrói com chegar a amar o ser  desprezada, humilhada, confundida, sentirá um entrelaçamento de espinhos ao redor de seu  coração, perceberá um vazio em seu coração que lhe dará sempre incômodo e a tornará muito  diferente de minha Santíssima Humanidade, e se não chegar a amar as humilhações, no máximo  poderá conhecer-se um pouco a si mesma, mas não resplandecerá diante de Mim vestida pela  bela e agradável vestidura da humildade”.

(7) Quem pode dizer quantas coisas compreendia sobre esta virtude e a diferença entre conhecer se a si mesmo e a humildade? Parecia-me tocar com a mão a diferença destas duas virtudes, mas  não tenho palavras para me explicar. Para dizer alguma coisa me sirvo de uma idéia, por exemplo:  Um pobre diz que é pobre, e mesmo a pessoas que não o conhecem e que talvez possam crer que  possui alguma coisa, ele lhes manifesta com franqueza sua pobreza, pode-se dizer que se  conhece a si mesmo e diz a verdade, e por isso é mais amado, move aos demais a compaixão de  seu miserável estado e todos o ajudam, isto é o conhecer-se a si mesmo. Se depois, aquele pobre,  envergonhado de manifestar a sua pobreza, se vangloriasse de que é rico, enquanto todos sabem  que nem sequer tem vestidos para se cobrir e que morre de fome, o que aconteceria? Todos o  desprezam, ninguém o ajuda e chega a ser sujeito de zombaria e de ridículo a qualquer que o  conhece, e o miserável, indo de mal a pior, acaba por perecer. Tal é a soberba diante de Deus e  mesmo diante dos homens, e eis que quem não se conhece a si mesmo, já está fora da verdade e  se precipita pelo caminho da falsidade.

(8) Agora, a diferença com a humildade, embora me pareça que são duas irmãs nascidas no  mesmo parto e que jamais se pode ser humilde se não se conhece a si mesmo, é por exemplo um  rico, que despojando-se por amor das humilhações de suas nobres vestes, cobre-se com  miseráveis trapos, vive desconhecido, a ninguém manifesta quem é ele, confunde-se com os mais  pobres, vive com os pobres como se fosse igual a eles, faz dos desprezos e confusões as suas  delícias, e esta é a bela irmã do conhecimento de si mesmo, isto é a humildade. Ah! Sim, a  humildade chama à graça; a humildade rompe as cadeias mais fortes, como são o pecado; a  humildade supera qualquer muro de divisão entre a alma e Deus, e a Ele a devolve. A humildade é  a pequena planta, mas sempre verde e florida, não sujeita a ser roída pelos vermes, nem os  ventos, nem as granizadas, nem o calor poderão lhe fazer mal nem murchar minimamente. A  humildade, embora seja a mais pequena planta, sempre tira ramos altíssimos que penetram até o  céu e se entrelaçam ao redor do coração de Nosso Senhor, e só os ramos que saem desta  pequena planta têm livre a entrada nesse coração adorável. A humildade é a âncora da paz nas  tempestades das ondas do mar desta vida. A humildade é sal que tempera todas as virtudes, e

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preserva a alma da corrupção do pecado. A humildade é a erva que brota no caminho pisado pelos  caminhantes, que enquanto é pisada desaparece, mas logo se vê surgir de novo mais bela do que  antes. A humildade é como enxerto nobre que enobrece a planta silvestre. A humildade é o ocaso  da culpa. A humildade é a recém-nascida da graça. A humildade é como lua que nos guia nas  trevas da noite desta vida. A humildade é como aquele ganancioso negociante que sabe negociar  bem suas riquezas, e não esbanja nem sequer um centavo da graça que lhe vem dada. A  humildade é a chave da porta do Céu, assim ninguém pode entrar nele se não tiver bem guardada  esta chave. Finalmente, caso contrário eu nunca iria terminar e alongar-me muito, humildade é o  sorriso de Deus e de todo o Empírico, e o choro de todo o inferno.

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Janeiro 17, 1900

A maldade e astúcia do homem.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ia e vinha, mas sempre em silêncio. Depois senti-me sair de  mim mesma, e ouvia Jesus dizer-me por detrás:

(2) “O homem diz – porque já não há retidão – : “Até que as coisas estejam deste modo não  poderemos ter nenhum êxito em nossos planos, finjamos virtude, finjamos ser retos, mostremos  nos verdadeiros amigos externamente, porque assim será mais fácil tecer as nossas redes e atraí los ao engano, e quando sairmos para apanhá-los e fazer-lhes mal, cada um, acreditando-nos

amigos, tê-los-emos em nossas mãos”. Vai um pouco até onde chega a astúcia do homem”.  (3) Depois disto o bendito Jesus querendo um ato de reparação especial, parecia que me tirava a  vida oferecendo-me à divina justiça. No momento em que isso acontecia, eu acreditava que Jesus  me fazia terminar esta vida, então lhe disse: “Senhor, não quero ir para o Céu sem suas insígnias,  primeiro me proteja e depois me leve”.

(4) Assim me trespassou as mãos e os pés com os pregos, e enquanto isso fazia, com grande  amargura minha, Ele desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, e disse para mim: “Aqui  estou eu ainda. Ah! Quantas vezes me fez meu amado Jesus, tem uma arte especial para sabê-lo  fazer, porque me faz crer que devo morrer, e então eu rio-me do mundo, das penas, rio-me de Ti  mesmo porque terminou o tempo de estar separados, não haverá mais intervalos de separação.  Mas apenas começo a rir quando me encontro outra vez atada pelas correntes da prisão deste  frágil corpo, e esquecendo o ter começado a rir, continuo o pranto, os gemidos, os suspiros da  minha separação de Ti. Ah Senhor, faça-o logo, porque me sinto impelida fortemente a ir!”

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Janeiro 22, 1900

Correspondência à graça. 

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, meu pobre coração lutava entre o temor de  havê-lo perdido e a esperança de talvez poder vê-lo de novo. Oh! Deus, que guerra sangrenta teve  que sustentar este meu pobre coração; era tanta a pena que agora se congelava e agora era  espremido como sob uma imprensa e gotejava sangue. Enquanto estava neste estado, senti-me  próximo do meu doce Jesus, que tirando um véu que me impedia de vê-lo, finalmente pude fazê-lo.  Logo lhe disse: “Ah Senhor, já não me amas?”

(2) E Ele: “Sim, sim, o que te recomendo é a correspondência à minha graça, e para ser fiel deves  ser como aquele eco que ressoa dentro de um vazio, que não apenas começa a emitir-se a voz,  imediatamente, sem o mínimo atraso se ouve ressoar o eco. Assim você, não apenas comece a  receber minha graça, sem nem sequer esperar que a termine de dar, imediatamente começa o eco  de sua correspondência”.

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3-31

Janeiro 27, 1900

A ordem das virtudes na alma. 

(1) Continuo a ficar quase privada do meu doce Jesus, a minha vida desfalece pela dor, sinto um  tédio, um aborrecimento, um cansaço da vida. Ia dizendo em meu interior: “Oh, como se estendeu  meu exílio! Que felicidade seria a minha se pudesse desatar as ataduras deste corpo e assim  minha alma empreenderia livre o vôo para meu sumo Bem!” Então um pensamento me disse: “E se  você for ao inferno?” E eu, para não chamar o demónio a combater-me, logo o rejeitei dizendo:  “Pois bem, também do inferno enviarei os meus suspiros ao meu doce Jesus, também ali quero  amá-lo”. Enquanto eu estava nestes e outros pensamentos, que seria muito longa a história se eu  os dissesse todos, o amável Jesus por pouco tempo fez-se ver, mas com um aspecto sério, e  disse-me:

(2) “Ainda não chegou o teu tempo”.

(3) Depois, com uma luz intelectual me fazia compreender que na alma tudo deve estar arrumado.  A alma possui muitos pequenos apartamentos onde cada virtude toma seu lugar, e se bem se pode  dizer que uma só virtude contém em si todas as demais, e que a alma possuindo uma só, é cortejada por todas as outras virtudes; mas apesar disso todas são distintas entre elas, tanto, que  cada uma tem seu lugar na alma, e eis que todas as virtudes têm seu princípio no mistério da  Santíssima Trindade, que enquanto é Uma, são Três Pessoas distintas, e enquanto são Três são

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Uma. Compreendia também que estes apartamentos na alma, ou estão cheios de virtude ou do  vício oposto àquela virtude, e se não está nem a virtude nem o vício, ficam vazios. Parecia-me  como uma casa que contém muitos quartos, todos vazios, ou uma cheia de serpentes, outra de  lama, outra cheia de alguns móveis cobertos de pó, outra escura. Ah Senhor, só Você pode pôr em  ordem minha pobre alma!

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Janeiro 28, 1900

A mortificação. 

(1) Continua o mesmo. Esta manhã Jesus me transportou para fora de mim mesma, e depois de  tanto tempo parece que vi Jesus com clareza, mas me via tão má que não me atrevia a dizer uma  só palavra, nos olhávamos, mas em silêncio; Naqueles olhares mútuos, compreendia que o meu  bom Jesus estava cheio de amargura, mas não me atrevia a dizer-lhe que as derramasse em mim.  Então Ele mesmo se aproximou e começou a derramá-las, e eu não podia contê-las, conforme as  recebia, lançava-as por terra. Então ele me disse:

(2) “O que você faz? Você não quer mais participar de minhas amarguras? Você não quer me dar  mais alívio nas minhas dores?”

(3) E eu: “Senhor, não é a minha vontade, eu mesma não sei o que me aconteceu, sinto-me tão  cheia que não tenho onde as conter, só um prodígio teu pode alargar o meu interior e assim  poderei receber as tuas amarguras”.

(4) Então Jesus me marcou com um grande sinal de cruz e derramou de novo, assim parece que  pude contê-las, e depois acrescentou

(5) “Minha filha, a mortificação é como o fogo que faz secar todos os humores; assim a mortificação  seca todos os humores maus que há na alma e a inunda de um humor santificante, de modo que  faz germinar as mais belas virtudes”.

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3-33

Janeiro 31, 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois que Jesus veio várias vezes, mas sempre em silêncio, eu me sentia um vazio e uma  pena porque não ouvia a voz dulcíssima do meu doce Jesus e Ele, retornando, quase para me  contentar me disse:

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(2) “A graça é a vida da alma. Assim como ao corpo dá vida a alma, assim a graça dá vida à alma.  Mas ao corpo não basta ter vida só ter a alma, senão que necessita também de um alimento para  nutrir-se e crescer a devida estatura, assim a alma não basta ter a graça para ter vida, senão que  necessita um alimento para alimentá-la e conduzi-la a devida estatura, E qual é esse alimento? É a  correspondência. Assim que a graça e a correspondência formam essa cadeia que a conduz ao  Céu, e à medida que a alma corresponde à graça, são formados os elos desta cadeia”.

(3) Depois acrescentou: “Qual é o passaporte para entrar no reino da graça? É a humildade. A  alma, olhando sempre para o seu nada e descobrindo que não é senão pó, que vento, toda a sua  confiança a porá na graça, tanto que a fará dona, e a graça tomando o domínio sobre toda a alma,  a conduz pelo caminho de todas as virtudes e a faz chegar ao topo da perfeição”.

(4) O que será a alma sem graça? Parecia-me como o corpo sem a alma, que se torna pestilento e  se enche de vermes e podridão por toda parte, tanto que se faz objeto de horror à mesma vista  humana; assim a alma sem a graça, torna-se tão abominável que dá horror à vista, não dos  homens, mas daquele Deus três vezes Santo.

(5) Ah Senhor, livra-me de tanta desgraça e do monstro abominável do pecado!

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Fevereiro 4, 1900

Desconfiança.  

(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu  sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:

(2) “O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis  frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a  árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário,  como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim  acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento”.

(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via  tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada  pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d’Ele, suas graças, seus  carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:

(4) “O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda?  que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar,  nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que  para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as  virtudes em perigo de expirar”.

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(5) “Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo,  e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o  túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma  poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na  alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega  a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.

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Fevereiro 5, 1900

(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre,  meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera  aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma  deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela  desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o  conhecimento do próprio nada”.

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Fevereiro 12, 1900

Os defeitos voluntários formam nuvens.

(1) Encontrando-me num estado de abandono por parte de meu adorável Jesus, a meu pobre  coração sentia-o, pela dor, espremer como sob uma imprensa. ¡ Meu Deus, que pena! Enquanto  me encontrava neste estado, quase como sombra vi o meu amado Bem, mas não claramente, só vi  claramente uma mão que me parecia que levava uma lâmpada acesa, e molhava o dedo no óleo  da lâmpada e ungia-me a parte do coração, exacerbada pela dor da sua privação. Neste momento  ouvi uma voz que dizia:

(2) “A verdade é luz, que levou o Verbo à terra. Assim como o sol ilumina, vivifica e fecunda a terra,  assim a luz da verdade dá vida, luz, e torna fecundas de virtude as almas. Ainda que muitas  nuvens, que são as iniqüidades dos homens, ofuscam esta luz de verdade, mas apesar disso não  deixa, desde detrás das nuvens, de mandar flashes de luz vivificante, e assim aquecer as almas, e  se estas nuvens são nuvens de imperfeições e de defeitos involuntários, esta luz, rasgando-as com  o seu calor as dissipa e livremente se introduz na alma”.

(3) Então compreendia que a alma deve estar atenta a não cair na sombra do defeito voluntário,  porque estes são aquelas nuvens perigosas que impedem a entrada à luz divina.

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Fevereiro 13, 1900

A mortificação é como a cal. 

(1) Esta manhã depois de ter recebido a comunhão vi o meu adorável Jesus, mas tudo mudou de  aspecto. Parecia sério, tudo reservado, em ato de repreender-me. Que triste mudança! Meu pobre  coração, em vez de ser aliviado, sentia-me mais oprimido, mais trespassado diante do aspecto tão  insólito de Jesus. No entanto, sentia toda a necessidade de um alívio pelas dores sofridas nos  últimos dias por sua privação, em que me parecia que Vivia, mas agonizante e em contínua  violência. Mas Jesus bendito, querendo repreender-me porque ia buscando alívio devido a sua  presença, enquanto não devia procurar outra coisa que sofrer, disse-me:

(2) “Assim como a cal tem virtude de queimar os objetos que se metem nela, assim a mortificação  tem virtude de queimar todas as imperfeições e os defeitos que se encontram na alma, e chega a  tanto, que espiritualiza até o corpo, e como um cerco se põe ao redor, e aí sela todas as virtudes.  Até que a mortificação não te queime bem, tanto a alma como o corpo, até desfazê-lo, não poderei  selar perfeitamente em ti a marca da minha crucificação”.

(3) Depois disto, não sei bem quem era, mas me parecia que fosse um anjo, me trespassou as  mãos e os pés, e Jesus com uma lança que saía de seu coração, traspassou-me o meu com  extrema dor e desapareceu deixando-me mais aflita que antes. Oh!, como compreendia bem a  necessidade da mortificação, minha inseparável amiga, e que em mim não existia nem sequer a  sombra de amizade com ela! Ah! Senhor, ata-me Tu com indissolúvel amizade a esta boa amiga,  porque por mim não sei mostrar-me mais que toda rudeza, e ela não vendo-se acolhida por mim  com boa cara, usa comigo todas as considerações, vai me fugindo sempre, temendo que eu lhe  volte as costas completamente, e jamais cumpre comigo seu belo e majestoso trabalho, porque  estamos um pouco distantes, suas mãos prodigiosas não chegam até mim para poder trabalhar e  apresentar-me diante de Ti como obra digna de suas santíssimas mãos.

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Fevereiro 16, 1900

A mortificação deve ser o respiro da alma. 

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, depois de me ter renovado as penas da  crucificação, disse-me:

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(2) “A mortificação deve ser o respiro da alma. Assim como ao corpo é necessária a respiração, e  do ar bom ou mau que se respira assim fica infectado ou purificado, também pela respiração se  conhece se está são ou doente o interior do homem, se todas as partes vitais estão de acordo,  assim a alma: se respira o ar da mortificação, tudo estará nela purificado, todos seus sentidos  soarão com um mesmo som concordante, seu interior exalará um respiro balsâmico, saudável,  fortificante; mas se não respirar o ar da mortificação tudo será discordante na alma, exalará um  respiro malcheiroso e nauseante; enquanto está por domar uma paixão, outra se desenfreada. Em  suma, sua vida não será outra coisa que um jogo de crianças”.

(3) Parecia-me ver a mortificação como um instrumento musical, no qual, se todas as cordas estão  boas e fortes, produz um som harmonioso e agradável, mas se as cordas não são boas, agora há  que reparar uma, agora há que afinar outra, por isso todo o tempo o emprega em ajustá-lo, mas  jamais em tocá-lo, no máximo poderá emitir um som discordante e desagradável, por isso jamais  fará nada de bom.

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Fevereiro 19, 1900

Ameaça de castigos. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, via muita  gente, toda em movimento, me parecia, mas não estou segura, como uma guerra, ou bem uma  revolução, e a Nosso Senhor não faziam mais que tecer coroas de espinhos, tanto que enquanto  eu estava toda atenta a tirar-lhe uma, outra mais dolorosa lhe punham. Ah, sim, parece que nosso  século será célebre pela soberba! A maior desventura é perder a cabeça, porque tendo perdido a  cabeça com o cérebro, todos os outros membros tornam-se inábeis, ou tornam-se inimigos de si  mesmos e dos demais, por isso acontece que a pessoa abre um caminho a todos os outros vícios.  (2) Meu paciente Jesus tolerava todas essas coroas de espinhos, e eu mal tinha tempo de tirando as, então se virou para essa gente e lhes disse:

(3) “Morrereis, que na guerra, que nas prisões e que em terremotos, poucos permanecereis. A  soberba formou o curso das ações de vossa vida, e a soberba vos dará a morte” (4) Depois disto, o bendito Jesus tirou-me do meio daquela gente, e fazendo-se menino eu o levava  nos meus braços para o fazer repousar. Ele, pedindo-me um refrigério queria mamar de mim, eu,  temendo que fosse demônio o persegui várias vezes com a cruz, e depois lhe disse: “Se  verdadeiramente és Jesus, rezemos juntos a Ave Maria a nossa Rainha Mãe”. E Jesus recitou a  primeira parte, e eu o Santa Maria. Depois, Ele mesmo quis dizer o Pai Nosso, oh! como era  comovente sua oração, enternecia tanto, que o coração parecia que se derretia. Depois  acrescentou:

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(5) “Filha, minha vida a tive do coração, a diferença dos demais; eis uma razão por que sou todo  coração para as almas, e por que sou levado a querer o coração, e não tolero nele nem sequer  uma sombra do que não é meu. Então entre você e eu quero que tudo seja totalmente para Mim, e  o que você dará às criaturas não será outra coisa que o transbordamento de nosso amor”.

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Fevereiro 20, 1900

Jesus é a luz do Céu, da qual todos tomam as suas pequenas luzes. 

(1) Continua a vir o meu benigno Jesus. Depois de ter recebido a Comunhão me renovou as penas  da crucificação, e eu fiquei tão entorpecida que sentia necessidade de um alívio, mas não me  atrevia a pedi-lo. Depois de um pouco voltou como menino e me beijava toda, e de seus lábios  corria leite, e eu bebi a grandes goles esse leite dulcíssimo de seus puríssimos lábios. Agora,  enquanto fazia isso, me disse:

(2) “Eu sou a flor do Éden celestial, e é tanto o perfume que expando, que diante de mim fragrância  fica atraído todo o empíreo, e como Eu sou a luz que manda luz a todos, tanto, de tê-los  abismados, todos meus santos tomam de Mim suas pequenas luzes, assim que não há luz no Céu  que não tenha sido tomada desta Luz”.

(3) Ah sim! não há nem mesmo cheiro de virtude sem Jesus, e não há luz, embora fosse ao mais  alto dos Céus, sem Ele.

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Fevereiro 21, 1900

O dom da pureza é graça conseguida, e esta é obtida com a mortificação. (1) Esta manhã meu amável Jesus começou a fazer suas habituais demoras. Seja sempre bendito;  de verdade que se necessita uma paciência de santo para suportá-lo, e há que tratar com Jesus  para saber quanta paciência se necessita. Quem não o experimenta não pode acreditar, e é quase  impossível não ter algum pequeno desgosto com Ele. Então, depois de ter usado a paciência ao  esperá-lo e esperá-lo, finalmente veio e me disse:

(2) “Minha filha, o dom da pureza não é dom natural, senão que é graça conseguida, e esta se  obtém com tornar-se atrativa, e a alma se faz tal com a mortificação e os sofrimentos. ¡ Oh, como  se torna atrativa a alma mortificada e sofredora como ela é bonita, e eu sinto tal atração por ela que  enlouqueço por esta alma e tudo o que ela quer dou-lhe. Você, quando estiver privada de Mim,

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sofre minha privação, que é a pena mais dolorosa para você, por meu amor, e Eu sentirei mais  atração que antes e te concederei novos dons”.

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Fevereiro 23, 1900

O sinal mais certo para saber se um estado é a Vontade de Deus. 

(1) Esta manhã depois de ter perdido quase a esperança de que o bendito Jesus viesse, de  improviso veio e me renovou as penas da crucificação e me disse:

(2) “O tempo chegou, o fim se aproxima, mas a hora é incerta”.

(3) E eu, sem prestar atenção ao significado das palavras que dizia, fiquei em dúvida se devia  atribuí-lo à minha completa crucificação ou bem aos castigos, e disse-lhe: “Senhor, quanto temo  que o meu estado não seja Vontade de Deus”. (

4) E Ele: “O sinal mais certo para saber se é Minha vontade um estado, é que se sente a força para  sustentar esse estado”.

(5) E eu: “Se fosse tua Vontade não sucederia esta mudança, que não vens como antes”.  (6) E Ele: “Quando uma pessoa se torna familiar numa família, não se usam tanto essas  cerimônias, essas considerações que se usavam antes quando era estranha. Assim faço Eu. No  entanto, isto não é sinal que seja vontade dessa família não querer tê-la com eles, nem que não a  amem mais que antes. Por isso fica quieta, deixa-me fazer a Mim, não queiras atormentar-te o  cérebro nem perturbar a paz do coração; quando chegar o tempo oportuno conhecerás o meu  agir”.

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Fevereiro 24, 1900

Luisa resiste à obediência.

(1) Esta manhã estava cheia de medo, acreditava que tudo era fantasia, ou seja, demônio que  queria me iludir. Então tudo o que via o desprezava e me desagradava: Via o confessor que punha  a intenção de que Jesus me renovasse as dores da crucificação, e eu tentava resistir. O bendito  Jesus no princípio me tolerava, mas como o confessor renovava a intenção, então Jesus me disse:  (2) “Minha filha, parece que desta vez faltaremos à obediência. Não sabes tu que a obediência  deve selar a alma, e que a obediência deve fazer a alma como suave cera, de modo que o  confessor possa dar-lhe a forma que queira?”

(3) Assim, não levando em conta minhas resistências me participou as dores da crucifixão, e eu,  não podendo resistir mais a tudo isso, porque não queria pelo temor de que não fosse Jesus, tive  que sucumbir sob o peso das dores. Seja sempre bendito e tudo seja para glorificá-lo em tudo e

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sempre.

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Fevereiro 26, 1900

A Divina Vontade é felicidade de todos.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, quando no máximo vinha alguma vez como  sombra e fugia, eu sentia tal pena que me desfazia em lágrimas, e o bendito Jesus tendo  compaixão de minha dor, veio e me via e me via, e depois me disse:

(2) “Minha filha, não temas, que não te deixo; agora, quando estiveres sem minha presença, não  quero que te desanimes, antes, de hoje em diante quando estiveres privada de Mim, quero que  tomes minha Vontade e que nela te deleites, Amando-me e glorificando-me nela e tendo a minha  vontade como se fosse a minha própria Pessoa. Fazendo isso, você me terá em suas próprias  mãos. Que coisa forma a bem-aventurança do Paraíso? Certamente minha Divindade. Agora, o  que formará a bem-aventurança de meus amados na terra? Com certeza minha Vontade. Ela não  te poderá fugir jamais, tê-la-á sempre em tua posse, e se tu permaneceres no círculo da minha  Vontade, ali sentirás as alegrias mais inefáveis e os prazeres mais puros. A alma, não saindo  jamais do círculo da minha Vontade, torna-se nobre, diviniza-se e todas as suas obras repercutem  no centro do Sol divino, assim como os raios do sol repercutem na superfície da terra, e nem um só  sai do centro que é Deus. A alma que faz minha vontade é a única nobre rainha que se nutre de  meu alento, porque seu alimento e sua bebida não as toma mais que de minha Vontade, e  nutrindo-se de minha Vontade toda santa, em suas veias correrá um sangue puríssimo, seu hálito  exalará um perfume que me recriará, porque será produzido pelo meu próprio hálito. Por isso não  quero outra coisa de ti, senão que formes tua bem-aventurança no giro da minha Vontade, sem sair  jamais, nem sequer por um breve instante”.

(3) Enquanto dizia isto, em meu íntimo sentia uma inquietude e um temor, porque o falar de Jesus  indicava que não ia vir, e que eu devia aquietar-me em sua Vontade. Oh! Deus, que pena mortal!  Que aperto de coração! Mas Jesus sempre benigno adicionou:

(4) “Como posso deixá-la se você é vítima? Só deixarei de vir quando você deixar de ser vítima,  mas enquanto for vítima me sentirei sempre atraído a vir”.

(5) Assim parece que fiquei 37ranquila; mas me sinto como circundada pela adorável Vontade de  Deus, de modo que não encontro nenhuma abertura pela qual sair. Espero que me queira sempre  neste cerco que me une toda a Deus.

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3-45

Fevereiro 27, 1900

A Divina Vontade ata Jesus à alma. O grande mal da murmuração. 

(1) Havendo-me abandonado toda na amável Vontade de Nosso Senhor, eu me via toda  circundada pelo meu doce Jesus, por fora e por dentro. Com o ter-me abandonada Nele me via  como se meu ser se tivesse tornado transparente e a qualquer parte que virava via a meu sumo  Bem, mas o que me fazia maravilhar era que enquanto me via rodeada por dentro e por fora por  Jesus, assim eu, meu pobre ser, minha vontade, circundava a Jesus como dentro de um círculo, de  modo que Ele não encontrava a abertura para poder sair, porque minha vontade unida à sua o  tinha acorrentado, sem que me pudesse fugir. Oh, admirável segredo da Vontade de meu Senhor,  indescritível é sua felicidade! Agora, enquanto eu estava neste estado, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, na alma toda transformada no meu querer Eu encontro um doce repouso. A alma  se converte para Mim como aqueles objetos suaves que não dão nenhum incômodo a quem quer  repousar neles, é mais, ainda que fossem pessoas cansadas e doloridas, é tanta a suavidade e o  prazer que tomam ao repousar sobre estes objetos, que ao acordarem se encontram fortes e  saudáveis. Assim é para mim a alma conformada a meu Querer, e Eu em recompensa me faço atar  por sua vontade e nela faço resplandecer o Sol Divino como no pleno meio-dia”.

(3) Disse isto desapareceu. Pouco depois, tendo recebido a comunhão voltou e me transportou  para fora de mim mesma. Via muita gente e Jesus me dizia:

(4) “Diga-lhes, diga-lhes quão grande é o mal que fazem com murmurar um do outro, porque  atraem minha indignação, e isto com justiça, porque vejo que enquanto estão sujeitos às mesmas  misérias e fraquezas, não fazem outra coisa que erigir tribunais um contra o outro. Se assim fazem  entre eles, que farei eu, que sou santo e puro, com eles? De acordo com a caridade que exercitem

se uns com os outros, assim Eu me sinto atraído a usar misericórdia com eles”.  (5) Jesus me dizia isso, e eu o repetia a essa gente, e depois nos retiramos.  + + + + +

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Março 2, 1900

A união dos querer ata a alma a Jesus.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, o meu doce Jesus fazia-se ver crucificado, e  internamente sentia-me atraída a olhar para Ele, para poder assemelhar-me a Ele, e Jesus se  refletia em mim para atrair-me à sua semelhança. Enquanto isso eu fazia, sentia-me infundir em  mim as dores do meu Senhor crucificado, que com toda a bondade me disse:

(2) “Quero que o teu alimento seja o sofrer, não só por sofrer, mas como fruto da minha Vontade. O

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beijo mais sincero que ata mais forte nossa amizade, é a união de nossos querer, e o nó  indissolúvel que nos estreitará em contínuos abraços será o contínuo sofrer”.  (3) Enquanto dizia isto, o bendito Jesus despregou se da cruz, a tomou e a estendeu no interior  de meu corpo, e eu ficava tão estendida nela que me sentia deslocar os ossos, além disso, uma  mão que não sei dizer com certeza de quem era, me traspassava as mãos e os pés, e Jesus que  estava sentado sobre a cruz que estava estendida dentro de mim, tudo se comprazia em meu  sofrer e em quem me traspassava as mãos, e acrescentou:

(4) “Agora posso descansar tranquilamente, não tenho que tomar nem sequer o incômodo de  crucificar-te, porque a obediência quer fazer tudo, e Eu livremente te deixo nas mãos da  obediência.

(5) E, levantando-se da cruz, pôs-se sobre o meu coração para repousar. Quem pode dizer como é  que eu sofri estando nessa posição? Depois de ter estado muito tempo, Jesus não se apressava  em aliviar-me como das outras vezes para me fazer voltar ao meu estado natural, e à mão que me  tinha posto sobre a cruz não a via mais, isto dizia-o a Jesus, que me respondia:

(6) “Quem te pôs sobre a cruz? Talvez tenha sido Eu? Foi a obediência, e a obediência deve tirar te daí”.

(7) Parece que desta vez tive vontade de jogar, e como suma graça obtive que me libertasse o  bendito Jesus.

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3-47

Março 7, 1900

A alma conformada ao Divino Querer, chega a atar a Deus. 

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, tive que girar e girar para encontrar o  bendito Jesus. Felizmente, entrei numa igreja e encontrei-o sobre um altar onde se celebrava o  sacrifício divino. Subitamente corri e abracei-o dizendo-lhe: “Finalmente encontrei-te! Fizeste-me  girar tanto até me cansar, e Tu estavas aqui”. E Ele me olhando sério, não com sua habitual  benignidade me disse:

(2) “Esta manhã me sinto muito amargo e sinto toda a necessidade de pôr as mãos nos castigos  para desagravar me”.

(3) Eu, em seguida: “Meu amado, não é nada, remediaremos isto agora mesmo, derramarás em  mim tuas amarguras e assim ficarás desagravado, não é verdade?”

(4) E Ele condescendendo a meu pedido derramou em mim suas amarguras. Depois, estreitando me a Ele, como se tivesse se liberado de um grave peso, acrescentou:

(5) “A alma conformada a meu Querer se sabe infiltrar tanto em minha potência, que chega a me

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atar tudo e a seu gosto me desarma como quer. Ah! tu, tu, quantas vezes me amarras!”  (6) E enquanto isto dizia tomou seu habitual aspecto doce e benigno.

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Março 9, 1900

A graça é como o sol.

(1) Encontrando-me um pouco perturbada por uma coisa que não é necessário dizer aqui, minha  mente queria andar vagando para certificar-se sobre minha turbação e assim ficar em paz, mas o  bendito Jesus querendo contradizer meu querer, impedia-me que eu pudesse ver o que queria, e  como eu insistia em querer ver me disse:

(2) “Por que quer ir vagando? Não sabes tu que quem sai da minha Vontade sai da luz e se confina  nas trevas?”

(3) E querendo me distrair do que eu queria, me transportou para fora de mim mesma, e mudando  de assunto acrescentou:

(4) “Olhe um pouco como os homens são ingratos para mim. Assim como a luz do sol enche toda a  terra, de um ponto ao outro, de modo que não há terra que não goze o benefício de sua luz, nem  há pessoa que possa lamentar-se de estar privada de suas benéficas influências, tão é verdade,  que o sol, investindo a todo o universo, para poder dar luz a todos, toma-o como em sua mão, só  pode lamentar-se de não gozar de sua luz quem fugindo de sua mão vai esconder-se em lugares  tenebrosos; porém o sol continuando seu caritativo ofício não deixa de lhe enviar algum raio de luz  de entre os seus dedos; assim a minha graça é uma imagem do sol, que por toda a parte inunda as  nações, pobres e ricos, ignorantes e doutos, cristãos e infiéis, nenhum pode dizer que está privado  dela, Porque a luz da verdade e a influência da minha graça enchem a terra, e mais do que o sol  no seu meio-dia. Mas qual não é a minha pena ao ver as nações, que cruzando esta luz a olhos  fechados e enfrentando a minha graça com a torrente pestífera de suas iniqüidades, desviam-se  desta luz e voluntariamente vivem em lugares tenebrosos, em meio de cruéis inimigos? Elas estão  expostas a mil perigos, porque não tendo luz, não podem conhecer claramente se se encontram no  meio de amigos ou de inimigos, nem fugir dos perigos que os cercam.

(5 Ah, se o sol tivesse razão, e os homens lhe pudessem fazer esta afronta à sua luz, e que alguns  chegassem a tal ingratidão, que para desprezar e não ver seu resplendor, arrancariam os olhos, e  assim ficam mais seguros de viver nas trevas, Ai, o sol em vez de mandar luz mandaria lamentos e  lágrimas de dor, até perturbar toda a natureza! Não obstante, o que os homens teriam horror de  fazer à luz natural, chegam a tal excesso de enfrentar desse modo a minha graça. Mas a minha  graça sempre benigna com eles, no meio das mesmas trevas e da loucura da sua cegueira, manda  sempre resplendores de luz, porque a minha graça jamais deixa a ninguém, senão que o homem

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voluntariamente se afasta dela, e a graça não o tendo em si, tenta segui-lo com o fulgor de sua  luz”.

6) Enquanto dizia isto, o doce Jesus estava extremamente aflito, e eu fazia quanto mais podia, para  consolá-lo, pedindo-lhe que derramasse em mim suas amarguras, e Ele acrescentou:  (7) “Compadece-me se te sou causa de aflição, porque de vez em quando sinto toda a  necessidade de desabafar em palavras, com minhas almas diletas, minha dor sobre a ingratidão  dos homens, para mover seus corações a reparar-me em tantos excessos, e a compaixão dos proprios homens”.

(8) E eu: “Senhor, o que eu gostaria é que não me impedisses de participar nas tuas penas”. E  querendo eu dizer mais, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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3-49

Março 10, 1900

Efeitos do sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, via o meu amado Jesus como Menino, com  uma lança na mão, em atitude de me querer trespassar o coração, e como tinha dito uma coisa ao  confessor, Jesus, querendo repreender-me, disse-me: “Tu queres afastar o sofrimento, e Eu quero  que comeces uma nova vida de sofrimentos e de obediência”.

(2) E enquanto isso dizia, trespassou-me o coração com a lança e depois acrescentou:  (3) “Assim como o fogo arde segundo a lenha que se lhe põe, e assim tem maior atividade em  queimar e consumir os objetos que se lançam nele, e por quanto maior é o fogo, outro tanto é  maior o calor e a luz que contém, assim o sofrimento e a obediência, quanto maior, tanto mais a  alma se torna hábil para destruir o que é material, e a obediência, como a macia cera lhe dá a  forma que quer”.

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3-50

Março 11, 1900

Encontro com uma alma do purgatório.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã via o bom Jesus mais aflito do que de costume,  ameaçando com uma mortandade de gente, e via em certos lugares que muitos morriam. Depois  passei pelo purgatório e reconhecendo a uma amiga falecida perguntava-lhe várias coisas sobre  meu estado, especialmente se é Vontade de Deus este estado, se é verdade que é Jesus que vem,  ou bem o demônio, porque lhe dizia: “Como tu te encontras diante da Verdade e conheces com  clareza as coisas, sem que possas enganar-te podes dizer-me a verdade sobre as minhas  circunstâncias”.

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(2) E ela disse-me: “Não temas, o teu estado é a vontade de Deus e Jesus ama-te muito, por isso  manifesta-se a ti”.

(3) E eu, dizendo-lhe algumas das minhas dúvidas, pedi-lhe que visse ante a luz da verdade se  eram verdadeiras ou falsas e fizesse-me a caridade de me vir dizer, e que se o fizesse, eu em  recompensa mandava-lhe celebrar uma missa em sufrágio, e ela acrescentou:  (4) “Se o quer o Senhor, porque nós estamos tão imersos em Deus, que não podemos sequer  mover as pestanas se não concorre Ele; nós habitamos em Deus como uma pessoa que habitasse  em outro corpo, que tanto pode pensar, falar, ver, agir, caminhar, porque lhe é dado por aquele  corpo que a circunda por fora, porque em nós não é como em vós que tendes o livre arbítrio, a  própria vontade terminou, nossa vontade é só a Vontade de Deus, dela vivemos, nela encontramos  todo nosso contentamento e Ela forma todo nosso bem e nossa glória”.

(5) E mostrando uma satisfação indescritível por esta Vontade de Deus, nos separamos.

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Março 14, 1900

Modo para atrair as almas ao catolicismo.

(1) Havendo-me dado o confessor a obediência de pedir ao Senhor que me manifestasse o modo  como fazer para atrair as almas ao catolicismo, e para tirar tanta incredulidade, eu sei pedi-o vários  dias e o Senhor não se dignava pronunciar-se sobre este ponto. Finalmente, esta manhã me  encontrei fora de mim mesma, transportada dentro de um jardim que me parecia ser o jardim da  Igreja, e ali estavam muitos sacerdotes e outras dignidades que discutiam sobre este tema, e  enquanto discutiam saía um cão de desmesurado tamanho e força, e a maioria dessas pessoas  ficavam tão assustados e debilitados, que chegavam a fazer-se morder por aquela besta, e depois  retiravam-se como covardes da empresa. Aquele cão enfurecido não tinha força para morder  aqueles que tinham como centro Jesus, no próprio coração, que portanto vinha a formar o centro  de todas suas ações, pensamentos e desejos. Ah sim! Jesus formava o selo destas pessoas, e  aquela besta ficava tão fraca que não tinha força nem sequer de respirar.

(2) Agora, enquanto discutiam, eu ouvia a Jesus que desde detrás de minhas costas dizia:  (3) “Todas as demais sociedades conhecem quem pertence a seu partido, só minha Igreja não  conhece quem são seus filhos. O primeiro passo é conhecer quem são aqueles que lhe pertencem,  e a estes podeis conhecê-los, estabelecendo um dia uma reunião na qual convidareis aqueles que  são católicos a irem ao lugar destinado para tal reunião, e aí com a ajuda dos católicos leigos,  estabelecer o que convém fazer. O segundo passo é obrigar à confissão aqueles católicos que  intervêm nisto, pois esta é a coisa principal que renova o homem e forma os verdadeiros católicos,

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e isto não só àqueles que se encontram presentes, mas obrigar aqueles que são patrões a obrigar  os seus súditos à confissão, e se não o conseguem pelas boas, mesmo despedindo-os do seu  serviço. Quando cada sacerdote tiver formado o corpo de seus católicos, então poderão  encaminhar-se a outros passos superiores, porque reconhecer a oportunidade do tempo, como  entrar nos partidos e a prudência em expor-se, é como a poda às árvores, que faz produzir frutos  grandes e maduros, mas se a árvore não é podada, produz, sim, um belo conjunto de folhagem e  de flores, mas apenas cai uma geada, sopra um vento, não tendo a árvore humor suficiente e força  para sustentar tantas flores para trocá-las em frutos, as flores caem e a árvore fica nua. Assim  acontece nas coisas de religião: Primeiro devem formar um conveniente corpo de católicos para  poder fazer frente aos outros partidos, e depois podem chegar a introduzir-se nos outros partidos  para formar um só”.

(4) Dito isto, não o ouvi mais, e sem sequer vê-lo me encontrei em mim mesma. Quem pode dizer  minha pena por não ter visto o bendito Jesus durante todo o dia, e as lágrimas que tive que  derramar?

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Março 15, 1900

Jesus sente-se desarmado pelas almas vitimas. 

(1) Jesus continua sem vir, eu me consumia em dor e sentia uma febre que me fazia delirar. Agora,  como o confessor veio celebrar o divino sacrifício, eu comunguei, mas não via, como é habitual, o  meu amado Jesus, por isso comecei a dizer os meus disparates: “Diz-me meu Bem, por que não te  fazes ver? Desta vez parece-me que não te dei ocasião para que te escondas. Como, da maneira  mais fácil? Ai, nem mesmo os amigos desta terra agem desta maneira; quando devem afastar-se  ao menos dizem adeus, e você nem sequer me diz adeus? Como, assim se faz? me perdoe se  assim falo, é a febre que me faz delirar e me faz chegar à loucura”. Quem pode dizer todas as  minhas loucuras que lhe disse? Seria querer perder tempo. Agora, enquanto estava delirando e  chorando, Jesus fazia ver agora uma mão, agora um braço, então vi o confessor que me dava a  obediência de sofrer a crucificação, e Jesus como obrigado pela obediência se fez ver e eu “Por  que não se mostra?” E Ele, mostrando um aspecto sério disse:

(2) “Não é nada, não é nada, é que quero castigar a terra, e Eu, estando bem mesmo com uma só  criatura, sinto-me desarmado e não tenho força para lançar mão dos castigos, e ao fazer-me ver  você começa a dizer-me, se vês que devo mandar castigos: “Derrama em mim, faz-me sofrer a  mim”. E sinto-me vencido por ti, e nunca ponho as mãos em castigos, e os homens não fazem  outra coisa senão ensoberbecer-se de demais”.

3) Agora, repetindo o confessor a obediência de me fazer sofrer a crucificação, Jesus mostrava-se

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lento em fazer-me fazer esta obediência, não como as outras vezes que em seguida queria que me  submetesse, e me disse:

(4) “E tu que queres fazer?”

(5) E eu: “Senhor, o que Tu quiseres”.

(6) Então, dirigindo-se ao confessor com aspecto sério, disse-lhe:

(7) “Também tu queres atar-me com dar-lhe esta obediência de fazê-la sofrer?”  (8) E enquanto isso dizia começou a me participar as dores da cruz, e depois, mostrando-se mais  calmo derramou suas amarguras, depois acrescentou:

(9) “O confessor, onde está?”

(10) E eu: “Senhor, não sei para onde foi, é verdade que não o vejo mais conosco”.  (11) E Ele: “Eu o amo, porque como Ele me consolou a Mim, assim Eu quero confortar a Ele”.  + + + +

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Março 17, 1900

Dor do Papa. Humildade.

(1) Esta manhã o bendito Jesus me fazia ver o Santo Padre com as asas abertas, que ia em busca  de seus filhos para recolhê-los sob suas asas, e ouvia seus lamentos que diziam: “Meus filhos,  meus filhos, quantas vezes busquei reunir-vos sob minhas asas e vocês me fogem! Ah, escutem  meus lamentos e tenham compaixão de minha dor!” E enquanto dizia isto chorava amargamente, e  parecia que não eram só os leigos que se afastavam do Papa, mas também os sacerdotes, e estes  davam mais dor ao Santo Padre. Que pena dava ver o Papa nesta posição! Depois disto vi Jesus  que fazia eco aos lamentos do Santo Padre e acrescentava:

(2) “Poucos são os que permaneceram fiéis, e estes poucos vivem como raposas escondidas em  suas próprias cavernas, têm medo de expor-se para arrancar seus próprios filhos da boca dos  lobos; falam, propõem, mas todas são palavras ditas ao vento, jamais chegam aos fatos”.  (3) Dito isto, ele desapareceu. Depois de pouco tempo voltou e eu me sentia toda aniquilada em  mim mesma ante a presença de Jesus, e Ele, vendo-me assim me disse:

(4) “Minha filha, quanto mais você se abaixa em si mesma, tanto mais me sinto atraído a me  abaixar para você e te encher de minha graça, eis por que a humildade é precursora da luz”.

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Março 20, 1900

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Advertência de castigos. 

(1) Tendo recebido a comunhão, via meu doce Jesus que me convidava a sair com Ele, mas com o  pacto de que ao ir junto com Ele, onde via que Jesus estava obrigado a mandar castigos pelos  pecados, não devia discutir com Ele para que não os mandasse. Com esta condição saímos,  percorrendo a terra. Em primeiro lugar comecei a ver, não muito longe de nós, especialmente em  certos pontos, tudo seco, então me dirigindo a Ele disse: “Senhor, como farão estas pobres gentes  se lhes falta o alimento para se nutrirem? Ah! Você pode tudo, assim como fez secar, assim faça  que reverdeça”. E como tinha a coroa de espinhos estendi-lhe a mão, dizendo: “Meu Bem, que te  fizeram estas nações? Talvez te tenham posto esta coroa de espinhos; pois bem, entregue-a a  mim, assim ficarás aplacado e lhes darás o alimento para não as deixar morrer”. E tirando-a,  coloquei-a sobre a minha cabeça. Enquanto fazia isso, Jesus me disse:

(2) “Parece que não posso levá-lo junto Comigo, porque levá-lo e não poder fazer nada é o  mesmo”.

(3) E eu: “Senhor, não fiz nada, perdoa-me se achas que fiz mal, mas leva-me juntamente contigo”.  (4) E Ele: “O teu modo de agir me ata por todas as partes”.

(5) E eu: “Não sou eu que faço assim, és tu mesmo que me obrigas a fazer assim, porque ao  encontrar-me contigo, vejo que todas as coisas são tuas, e se não tomar cuidado das tuas coisas,  parece-me que viria a não tomar cuidado de Ti mesmo. Por isso deves perdoar-me se faço assim,  já que o faço por amor teu e não deves afastar-me por isto.

(6) Em seguida, continuamos a girar. Eu fazia quanto mais podia para não lhe dizer nada de que  não castigasse em alguns pontos, para não lhe dar ocasião que me mandasse retirar e assim  perder sua amável presença; mas onde não podia começar a discutir com Ele. Chegamos a um  ponto da Itália onde estavam fazendo um convênio que devia causar uma grande desordem, mas  não entendi o que era, porque tendo começado a dizer, Senhor, não permita, pobre gente, como  farão? Vendo Jesus que eu me afanava e queria impedi-lo, disse-me com império:

(7) “Retira-te, retira-te”.

(8) E tirando uma cinta de pregos, de alfinetes que tinha encaixada em seu corpo, que o fazia  sofrer muito, acrescentou:

(9) “Retira-te e leva esta cinta contigo, assim me aliviarás muito”.

(10) E eu: “Sim, eu a porei em teu lugar, mas deixa-me estar Contigo”.

(11) E Ele: “Não, retira-te”.

(12) E o disse com tal império, que não podendo resistir, em um instante me encontrei em mim  mesma, e não pude entender qual era aquele convênio.

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Março 25, 1900

O Verbo de Deus na encarnação torna-se luz das almas.

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus ao vir me disse:

(2) “Assim como o sol é a luz do mundo, assim o Verbo de Deus ao encarnar se fez luz das almas,  e assim como o sol material dá luz a todos em geral e a cada um em particular, tanto que cada um  o pode gozar como se fosse próprio, assim o Verbo, enquanto dá luz em geral, é sol para cada um  particular, assim é verdadeiro, que a este sol divino cada um o pode ter consigo como se fosse  para ele somente”.

(3) Quem pode dizer o que entendia sobre esta luz e os efeitos benéficos que produz nas almas  que têm este Sol como se fosse seu? Parecia-me que a alma possuindo esta luz põe em fuga as  trevas, como o sol material ao surgir sobre nosso horizonte põe em fuga as trevas da noite. Esta  luz divina, se a alma é fria, aquece-a; se está nua de virtudes, torna-a fecunda; se está inundada  pela nociva enfermidade da tibieza, com seu calor absorve aquele humor mau; numa palavra, para  não me alongar demasiado, este sol divino, introduzindo a alma no centro de sua esfera, a cobre  com todos seus raios e chega a transformá-la em sua mesma luz.

(4) Depois disto, como eu me sentia toda abatida, Jesus querendo me aliviar me disse:  (5) “Esta manhã quero deleitar-me em ti”.

(6) E ele começou a fazer seus truques amorosos habituais.

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Abril 1, 1900

As paixões mudadas em virtudes. 

(1) Depois de esperar e esperar, meu doce Jesus fazia-se ver dentro de meu coração. Parecia-me  ver um sol que expandia raios, e olhando no centro deste sol descobria o rosto de Nosso Senhor,  mas o que me fez espantar é que via no meu coração muitas donzelas vestidas de branco, com  coroas na cabeça que rodeavam este sol divino, alimentando-se daqueles raios que expandem  este sol. Oh! como eram belas, modestas, humildes e todas atentas, e deleitando-se em Jesus!  Então, não conhecendo o significado disto, com um pouco de temor pedi a Jesus que me fizesse  saber quem eram aquelas donzelas, e Ele me disse:

(2) “Estas donzelas eram suas paixões, que agora com minha graça mudei em outras tantas  virtudes que me fazem nobre cortejo, estando todas à minha disposição, e Eu em recompensa as  vou nutrindo com minha contínua graça”.

(3) Ah Senhor, no entanto me sinto tão mal que me envergonho de mim mesma!  + + + +

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Abril 2, 1900

Jesus julga não segundo as obras que se fazem,  

mas segundo a vontade com que se obra. 

(1) Esta manhã sofri muito pela ausência de meu amado Jesus, mas Ele recompensou minhas  penas satisfazendo um desejo meu de querer saber uma coisa que há muito desejava. Então,  depois de ter girado e girado em busca de Jesus, e que agora o chamava com a oração, agora  com as lágrimas, agora com o canto, pois talvez pudesse ficar ferido por minha voz e se deixasse  encontrar, mas tudo em vão. Tenho repetido meus gemidos; a quem encontrava perguntava sobre  Ele, finalmente, quando meu coração se sentia despedaçado e que não podia mais, o encontrei,  mas o via de costas, e lembrando-me de uma resistência que lhe fiz, a que direi no livro do  confessor (3) pedi perdão e assim parece que nos pusemos de acordo, tanto que ele mesmo me  perguntou o que queria, e eu lhe disse: “Diga-me para conhecer sua Vontade sobre meu estado,  especialmente o que devo fazer quando me encontro com poucos sofrimentos e Você não vem, e  se você vem é quase como sombra; então, não te vendo, meus sentidos os sinto em mim mesma,  e encontrando-me nesta posição sinto como se pusesse do meu e não fosse necessário esperar a  vinda do confessor para sair daquele estado”.

(2) E Jesus: “Sofras ou não sofras, venha Eu ou não venha, teu estado é sempre de vítima, muito  mais que esta é minha Vontade e a tua, e Eu julgo não segundo as obras que se fazem, senão  segundo a vontade com que se obra”.

(3) E eu: “Senhor meu, está bem como dizes, mas me parece que estou inútil e se perde muito  tempo, e sinto um incômodo, um temor, e além disso fazer vir ao confessor, me atormenta a alma  que não fosse Tua vontade”.

(4) E Ele: “Pensas tu que seja pecado fazer vir ao confessor?”

(5) E eu: “Não, mas temo que não seja Tua Vontade”.

(6) E Ele: “Deves fugir do pecado, mesmo da sua sombra, mas do resto não deves preocupar-te”.  (7) E eu: “E se não fosse a tua vontade, em que aproveitaria estar assim?” (8) E Ele: “Ah, me  parece que minha filha quer fugir do estado de vítima, não é verdade?”

(9) E eu, ficando vermelho, disse: “Não Senhor, digo isto pelas vezes que não me fazes sofrer e  não vens, de resto faz-me sofrer e eu não me preocuparei”.

(10) E Jesus: “E a mim parece-me que queres fugir. Além disso, você sabe que horas eu reservei  para vir aqui e comunicar minhas dores, se a primeira, a segunda, a terceira, ou talvez a última  hora? Por isso distraindo-te de Mim e esforçando-te por sair ocupar-te-ás em outra coisa, e Eu  vindo não te encontrarei preparada, darei a volta e irei a outra parte”.

(11) E eu toda assustada “Jamais seja, ó Senhor. Não quero saber outra coisa senão a tua  Santíssima Vontade”.

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(12) E Ele: “Permanece calma e espera o confessor”.

(13) Dito isto, ele desapareceu. Parece que me sinto aliviada de um grande peso por este falar de  Jesus, mas com tudo isto não diminuiu em mim a pena dolorosa quando Jesus me priva Dele. 3 Não se tem notícia deste livro 

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Abril 9, 1900

Abandono em Deus. 

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não  via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver  e me disse quase repreendendo:

(2) “Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha  Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em  Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo”.  (3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você  toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!

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Abril 10, 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto  mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais,  fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: “Meu coração, esperemos outro pouco, talvez  venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha”. E, dirigindo-me a Ele,  dizia: “Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso  estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação  como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou  digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta  da vida”. E como não vinha, dizia: “Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando  estiveres cansado, nem sequer então virás?” Mas quem pode dizer todos os meus desatinos?  Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.

(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:  (3) “Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos  move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que

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enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela”.  (4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por  toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

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Abril 16, 1900

As três assinaturas do passaporte da bem-aventurança na terra.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de reprovações do bendito Jesus por  minhas ingratidões e resistências a seu Querer e a suas graças, esta manhã ao vir me disse:  (2) “Minha filha, o passaporte para entrar na felicidade que a alma pode possuir sobre esta terra,  deve ser assinado com três assinaturas, e estas são: resignação, humildade e obediência.  (3) A resignação perfeita a meu Querer é cera que funde nossos querer e deles forma um só, é  açúcar e mel, mas se há uma pequena resistência a meu Querer a cera se desune, o açúcar se  torna amargo e o mel se converte em veneno. Agora, não basta estar resignada, senão que a alma  deve estar convencida que o maior bem para si mesma e o maior modo de glorificar-me é fazer  sempre minha Vontade. Eis a necessidade da assinatura da humildade, porque a humildade  produz este conhecimento. Mas quem enobrece estas duas virtudes? Quem as fortifica? Quem as  faz perseverantes? Quem as acorrenta juntas para não se poder separar? Quem as coroa? A  obediência.

Ah sim! A obediência destruindo de todo o próprio querer e tudo o que é material, espiritualiza tudo,  e como coroa se põe ao redor, assim que a resignação e a humildade sem a obediência estarão  sujeitas a instabilidade, mas com a obediência serão firmes e estáveis, e eis a estreita necessidade  da assinatura da obediência, para fazer que este passaporte possa correr para passar ao reino da  bem-aventurança espiritual que a alma pode gozar daqui. Sem estas três assinaturas o passaporte  não terá valor, e a alma será sempre rejeitada do reino da bem-aventurança e estará obrigada a  estar no reino da inquietação, dos temores e dos perigos, e para sua desgraça terá por deus a seu  próprio eu, e este estará cortejado pela soberba e pela rebelião”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, dentro de um jardim, que parecia ser o  jardim da Igreja, no qual via que se desviavam, por causa de cinco ou seis pessoas, sacerdotes e  leigos, que unindo-se com os inimigos da Igreja moviam uma revolução. Que pena dava ver a  Jesus bendito chorar o triste estado destas pessoas! Depois vi no ar e vi uma nuvem de água cheia  de grandes pedaços de gelo que caíam sobre a terra. Oh!, quanto destroço faziam sobre as  colheitas e sobre a humanidade!. Mas espero que queira aplacar-se. Então, mais aflita que antes  voltei a mim.

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Abril 20, 1900

A cruz dá-nos as linhas e a semelhança de Jesus. 

(1) Continua meu adorável Jesus vindo apenas como sombra, e ao vir não diz nada. Esta manhã,  depois de ter-me renovado as dores da cruz por duas vezes, olhando-me com ternura enquanto  sofria a dor das perfurações dos pregos, disse-me:

(2) “A cruz é um espelho onde a alma vê a Divindade, e contemplando-se nele adquire os  lineamentos, a semelhança mais perfeita com Deus. A cruz não se deve apenas amar, desejar,  mas ter como honra e glória a mesma cruz, e isto é agir como Deus e tornar-se como Deus por  participação, porque só Eu me gloriei da cruz e considerei como uma honra sofrer, e a amei tanto,  que em toda minha vida não quis estar um momento sem a cruz”.

(3) Quem pode dizer o que compreendia da cruz por falar do bendito Jesus? Mas me sinto muda  para expressá-lo com palavras. Ah! Senhor, peço-te que me mantenhas sempre pregada na cruz, a  fim de que tendo sempre diante deste espelho divino, possa limpar todas as minhas manchas e  embelezar-me sempre mais à tua semelhança.

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Abril 21, 1900

Mais que o sacramento, a cruz sela a Deus na alma. 

(1) Encontrando-me em meu próprio estado, é mais, com um pouco de temor por uma coisa que  não é necessário dizer aqui, meu doce Jesus ao vir me disse:

(2) “E ainda que sejam vasos sagrados, é necessário de vez em quando sacudi-los; vossos corpos  são tantos vasos sagrados nos quais faço minha morada, por isso é necessário que de vez em  quando lhes dê uma sacudida, isto é, que os visite com alguma tribulação para fazer que Eu esteja  neles com mais decoro. Por isso fique calma”.

(3) Depois disto, tendo recebido a comunhão e tendo-me renovado as dores da crucificação,  acrescentou:

(4) “Minha filha, como é preciosa a cruz, olha um pouco: O sacramento do meu corpo ao dar-se à  alma, une-a Comigo, transforma-a até a tornar uma mesma coisa Comigo, mas ao consumir-se as  espécies desune-se a união realmente contraída; mas a cruz não, ela toma a Deus e o une com a  alma para sempre, e para maior segurança ela se põe como selo. Portanto, a cruz sela a Deus na  alma, de modo que jamais há separação entre Deus e a alma crucificada.

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Abril 23, 1900

A resignação é óleo que unge. 

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, via meu doce Jesus que sofria muito, e lhe  pedi que me desse parte de suas penas, e Ele me disse:

(2) “Também você sofre, melhor Eu me ponho em seu lugar e você me faz o ofício de enfermeira”.  (3) Então parecia que Jesus se colocava em minha cama, e eu ao seu lado começava a examinar lhe a cabeça, e um a um lhe tirei os espinhos que estavam pregados. Depois segui com seu corpo  e percorri todas suas chagas, lhes secava o sangue, as beijava, mas não tinha com que ungi-las  para mitigar a dor, então vi que de mim saía um azeite e eu o tomava e ungia as chagas de Jesus,  mas com certo temor porque não compreendia o que significava aquele óleo que saía de mim. Mas  Jesus bendito me fez entender que a resignação ao Querer Divino é óleo, que enquanto unge e  mitiga nossas penas, ao mesmo tempo é óleo que unge e mitiga a dor das chagas de Jesus.  Então, depois de ter estado por um bom tempo fazendo este ofício a meu amado Jesus,  desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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Abril 24, 1900

A Eucaristia e o sofrimento. 

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, parecia-me que o confessor tinha a intenção de me  fazer sofrer a crucificação, e vi imediatamente o anjo da guarda que me estendia sobre a cruz para  a fazer sofrer. Depois disto vi meu doce Jesus que me compadecia toda e me disse:  (2) “Teu refrigério sou Eu, meu refrigério é teu sofrer”.

(3) E mostrava um contentamento indescritível por mim sofrer e pelo confessor, porque com a  obediência que me tinha dado de sofrer lhe tinha procurado aquele alívio, depois acrescentou:  (4) “Como o sacramento da Eucaristia é fruto da cruz, por isso sinto-me mais disposto a conceder te o sofrimento quando recebes o meu corpo, porque vendo-te sofrer, parece-me que não  misticamente, senão realmente continuo em ti a minha Paixão em proveito das almas, e isto é para  Mim um grande alívio, porque recolho o verdadeiro fruto da minha cruz e da Eucaristia”.  (5) Depois disto disse: “Até agora foi a obediência que te fez sofrer, queres tu que eu me divirta um  pouco com renovar-te de novo a crucificação com as minhas próprias mãos?”  (6) E eu, embora me sentisse muito sofredor e mesmo afresco as dores da cruz participadas, disse:

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“Senhor, estou nas tuas mãos, faze de mim o que quiseres”.

(7) Então Jesus todo contente começou a me cravar de novo os cravos nas mãos e nos pés, sentia  tal intensidade de dor, que eu mesma não sei como fiquei viva, porém estava contente porque  contentava a Jesus. Depois de cravar os pregos, pondo-se junto a mim começou a dizer:  (8) “Como és bela! Mas quanto mais cresce a tua beleza com o teu sofrer! Oh, como me é amada,  meus olhos ficam feridos ao te ver, porque descobrem em ti minha mesma imagem!”  (9) E dizia tantas outras coisas que seria inútil dizê-las, primeiro porque sou má, e segundo porque  não me vendo como o Senhor me diz, sinto uma confusão e uma vergonha ao dizer estas coisas,  por isso espero que o Senhor me faça verdadeiramente boa e bela, e então, diminuindo minha  vergonha poderei descrevê-las, por isso ponho ponto.

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3-65

Abril 25, 1900

A pureza no agir é luz.  

(1) Encontrando-me fora de mim mesma e não encontrando a meu doce Jesus, tive que girar muito  para ir em busca d’Ele. No final, encontrei-o nos braços da Rainha Mãe, a beber o leite do seu  peito, e enquanto eu lhe dizia e fazia, parecia que não me prestava atenção, ou melhor, nem  sequer me olhava. Quem pode dizer a dor de meu pobre coração ao ver que Jesus não me fazia  caso? Depois de ter dado rédea solta às lágrimas, tendo compaixão de mim veio em meus braços  e derramou em minha boca um pouco desse leite que tinha chupado da Mamãe Rainha.

(2) Depois disto olhei seu peito, e tinha uma pequena pérola, tão resplandecente que investia de  luz a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor. Então, querendo saber o significado, perguntei a  Jesus que coisa era essa pérola, que enquanto parecia tão pequena expandia tanta luz. E Jesus:  (3) “É a pureza do teu sofrer, porque embora seja pequeno, mas como sofres somente por amor  meu e estarias disposta a sofrer mais se Eu te concedesse, esta é a causa de tanta luz. Minha  filha, a pureza no agir é tão grande, que quem opera com o único fim de agradar a Mim só, não faz  outra coisa que mandar luz em todo seu agir. Quem não age corretamente, mesmo o bem, não faz  outra coisa senão espalhar trevas”.

(4) Então eu vi no peito de Nosso Senhor, e ele tinha um espelho muito claro, e parecia que quem  caminhava retamente estava tudo absorvido naquele espelho, que não estava, ficava fora, sem que  pudessem receber qualquer marca da imagem do bendito Jesus. Ah Senhor! Tenha-me toda  absorvida neste espelho divino, a fim de que nenhuma outra sombra de intenção tenha eu em meu  obrar.

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3-66

Maio 1, 1900

Frutos da cruz.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu doce Jesus fez-se ver toda afabilidade, e como parecia que o  confessor punha a intenção da crucificação, minha natureza sentia quase repugnância de  submeter-se. Então o meu doce Jesus para me animar disse-me:

(2) “Minha filha, se a Eucaristia é garantia da futura glória, a cruz é pagamento para comprá-la. Se  a Eucaristia é semente que impede a corrupção, e é como essas ervas aromáticas, com as quais  ungindo os cadáveres não se corrompem, e doa a imortalidade à alma e ao corpo, a cruz a  embeleza e é tão potente, que se houver dívidas contraídas ela se faz fiadora e com mais  segurança faz com que lhe restitua a escritura da dívida contraída, e depois de ter cumprido todo o  débito, com isso forma a alma o trono mais deslumbrante na glória futura. Ah! Sim, a Cruz e a  Eucaristia se alternam juntas, e uma obra mais potentemente que a outra”.

(3) Depois acrescentou: “A cruz é o meu leito florido, não porque não sofresse dores atrozes, mas  porque por meio da cruz dava à luz tantas almas à graça, via brotar tantas belas flores que  produziam tantos frutos celestiais, assim que vendo tanto bem, Tinha para meu deleite aquele leito  de dor e me deleitava da cruz e do sofrimento. Também tua filha, toma como delícias as penas e te  alegre de estar crucificada na minha cruz. Não, não quero que temas o sofrer, como se quisesses  agir como preguiçosa, ânimo, obra com animosidade e expõe te por ti mesma ao sofrer”. (4)  Enquanto dizia isto, via o meu anjo que estava preparado para me crucificar, e eu mesma estendi  os braços, e o anjo me crucificou. Oh, como gozava o bom Jesus de meu sofrer, e como estava eu  contente, porque podia dar gosto a Jesus sendo uma alma tão miserável! Pareceu-me uma grande  honra para mim sofrer por seu amor.

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Maio 3, 1900

Festa da Cruz no Céu.  

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via todo o céu semeado de cruzes, pequenas,  grandes, médias. As maiores, mais resplendor davam. Era um encanto dulcíssimo ver tantas  cruzes que embelezavam o firmamento, mais resplandecentes que o sol. Depois disto pareceu que  se abria o Céu e se via e ouvia a festa que os bem-aventurados faziam à cruz. Quem mais havia  sofrido era mais festejado neste dia. Distinguiam-se de modo especial os mártires e os que haviam  sofrido ocultamente. Eis Oh, como se estimava nessa bem-aventurada morada a cruz e a quem  mais tinha sofrido! Enquanto via isto, uma voz ressoou por todo o empírico que dizia:

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(2) “Se o Senhor não mandasse as cruzes sobre a terra, seria como aquele pai que não tem amor  pelos próprios filhos, que em vez de querer vê-los honrados e ricos, quer vê-los pobres e  desonrados”.

(3) O resto que vi desta festa não tenho palavras para explicá-lo, sinto-o em mim mas não sei manifesta-lo , por isso faço silencio.

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Maio 9, 1900 

Luisa vê o mistério da Santíssima Trindade na forma de três sóis. 

(1) Depois de ter passado dias de privação, e não só isso, mas também de perturbação, esta  manhã, encontrando-me mais perturbada sobre o meu miserável estado, o adorável Jesus ao vir  disse-me:

(2) “Tu, estando inquieta, perturbaste o meu doce repouso. Ah! Sim, não me deixa descansar  mais”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao ouvir que tinha tirado o repouso de Jesus Cristo?  Apesar de tudo isto, por algumas horas me acalmei, mas depois me encontrei mais inquieta do que  antes, tanto que eu mesma não sei desta vez onde irei terminar.

(4) Depois daquelas poucas palavras que Jesus disse, encontrei-me fora de mim e, olhando para a  abóbada dos céus, descobria nela três sóis: um deles parecia pousar no oriente, outro no ocidente,  terceiro no meio do dia. Era tanto o esplendor dos raios que emanavam, que se uniam uns com os  outros, de modo que formavam um só. Parecia-me ver o mistério da Santíssima Trindade, e o  homem formado com as três potências à imagem dela. Compreendia também que quem estava  naquela luz, sua vontade ficava transformada no Pai, a inteligência no Filho e a memória no  Espírito Santo. Quantas coisas compreendia! mas não sei manifestá-lo.

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Maio 13, 1900

Privação de Jesus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, se bem faço quanto posso para estar quieta sem  me perturbar, porque assim quer a obediência, mas com tudo isto não deixo de sentir o peso do  abandono que me oprime e chega até me esmagar. Ó Deus! que estado é este? Diga-me ao  menos em que te ofendi? Qual é a causa? ¡ Ah Senhor, se você quiser continuar deste modo eu  acho que não posso resistir mais!

(2) Por isso, assim que se fez ver, pondo uma mão sob o queixo em atitude de Compadecer-me,  disse-me:

(3) “Pobre filha, a que estado te reduziste!”

(4) E fazendo-me partícipe de suas penas, como raio desapareceu deixando-me mais aflita que

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antes, como se não tivesse vindo, é mais, sinto-me como se não tivesse vindo há muito tempo, e  sinto tal aflição por isto, que vivo, mas meu viver é um contínuo agonizar. Ah! Senhor, me dê ajuda  e não me deixe no abandono, embora eu mereça!

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Maio 17, 1900

Poder das almas vítimas.

(1) Continua o mesmo estado de privação e de abandono. Então, encontrando-me fora de mim mesma via uma  inundação de água misturada com granizo, parecia que várias cidades ficavam inundadas com notáveis danos. Enquanto  via isto, encontrava-me em grande consternação porque queria impedir aquela inundação, mas como me encontrava  sozinha e sobretudo não tinha comigo a Jesus, meus pobres braços sentia-os fracos para poder fazê-lo. Então, com  grande surpresa vi vir uma virgem (me parecia que era da América), e ela de um ponto e eu do outro conseguimos  impedir em grande parte o flagelo que nos ameaçava. Depois disto, tendo-nos reunido, via aquela virgem com as  insígnias da paixão e coroada com coroa de espinhos, como também eu me encontrava, e uma pessoa que me parecia  que fosse um anjo que dizia:

(2) “Ó poder das almas vítimas! O que não nos é dado fazer a nós, anjos, elas com seus sofrimentos podem fazê-lo.  Oh! se os homens soubessem o bem que lhes vem delas, porque estão para o bem público e particular, não fariam outra  coisa que implorar a Deus que multiplique estas almas sobre a terra”.

(3) Depois disto, tendo-nos dito que nos confiámos mutuamente ao Senhor, separamo-nos .

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Maio 18, 1900

Preencher o interior de Deus.

(1) Encontro-me ainda privada de meu adorável Jesus, no máximo alguma sombra vejo, oh quanto me custa amá-lo,  quantas lágrimas devo derramar! Esta manhã, depois de o haver buscado e esperado muito, o encontrei em minha  mesma cama, todo aflito, com a coroa de espinhos que lhe traspassava a cabeça; a tirei pouco a pouco e a coloquei  sobre a minha. ¡ Oh, como me via mal diante de sua presença! Não tinha força para dizer uma só palavra. Jesus, tendo  compaixão de mim, disse-me:

(2) “Tem coragem, não temas, procura preencher teu interior de Mim e enriquecê-lo com todas as virtudes, até que  transborde fora, e quando chegares a desbordá-las, então te levarei ao Céu e terminarão todas as tuas privações”.  (3) Depois disso, ele agregou tomando um ar afligido: “Minha filha, reza, porque estão preparados três diferentes dias,  um longe do outro, de tempestades, granizadas, raios, inundações, que causarão grande dano aos homens e às plantas”.  (4) Dito isto desapareceu, deixando-me um pouco mais aliviada no estado em que me encontro, mas com um  pensamento: “Quem sabe quando chegarei a transbordar, e se não o fizer, talvez me restará estar sempre distante Dele”.

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Maio 20, 1900

Todas as coisas têm início no nada.

Necessidade do repouso e do silêncio interior.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, me parecia que fosse de noite e via todo o universo, toda a ordem da natureza,

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o céu estrelado, o silêncio noturno, em suma, me parecia que tudo tinha um significado. Enquanto olhava para isto,  parecia-me que via Nosso Senhor, que tomando a palavra acerca do que via disse:

(2) “Toda a natureza convida ao repouso, mas qual é o verdadeiro repouso? É o repouso interior e o silêncio de tudo o  que não é Deus. Olhe, as estrelas cintilantes de luz moderada, não deslumbrante como o sol; o sono e o silêncio de toda  a natureza, dos homens e até dos animais, e que todos procuram um lugar, uma caverna onde estar em silêncio e  repousar do cansaço da vida. Se isso é necessário para o corpo, muito mais para a alma é necessário repousar em seu  próprio centro que é Deus. Mas para poder repousar em Deus é necessário o silêncio interior, como ao corpo é

necessário o silêncio exterior para poder-se pacificamente adormecer. Mas o que é este silêncio interior? É fazer calar as  próprias paixões tendo-as em seu lugar, é impor silêncio aos desejos, às inclinações, aos afetos, em suma, a tudo o que  não chama a Deus. Agora, qual é o meio para chegar a isto? O único meio e de absoluta necessidade é desfazer o  próprio ser e reduzir-se ao nada, como era antes de ser criada, e quando tiver reduzido a nada o seu ser, retomá-lo em  Deus.

(3) Minha filha, todas as coisas têm princípio do nada, esta mesma máquina do universo que você vê com tanta ordem,  se antes de criá-la tivesse estado cheia de outras coisas, Eu não poderia colocar minha mão criadora para fazê-la com  tanta maestria e deixá-la tão esplêndida e adornada, no máximo poderia desfazer tudo o que podia estar, e depois  refazê-la como a Mim me agradava; mas estamos sempre ali, em que todas minhas obras têm princípio do nada, e  quando há mistura de outras coisas, não é decoroso para minha Majestade descer e obrar na alma, mas quando a alma  se reduz a nada e sobe a Mim, e toma seu ser no meu, então Eu obro como o Deus que sou, e a alma aí encontra o  verdadeiro repouso. Eis como todas as virtudes têm princípio na humildade e no aniquilamento de si mesmo.

(4) Quem pode dizer quanto compreendia sobre o que me dizia o bendito Jesus? Oh, como seria feliz minha alma se  pudesse chegar a desfazer meu pobre ser, para poder receber de meu Deus seu Ser Divino! ¡ Oh, como me enobreceria,  como ficaria santificada! Mas que tolice é a minha, onde tenho o cérebro se ainda não o faço? ¡ Que miséria humana, que  em vez de buscar seu verdadeiro bem e de empreender seu vôo ao alto, se contenta com arrastar-se por terra e viver na  lama e na podridão!

(5) Depois disto meu amado Jesus me transportou dentro de um jardim em que havia muita gente que se preparava para  assistir a uma festa, mas só aqueles que recebiam uma divisa podiam assistir, mas eram poucos os que recebiam esta  divisa; a mim me veio um grande desejo de recebê-la, e tanto fiz que consegui meu propósito. Depois, tendo chegado ao  ponto onde os recebiam, uma venerável matrona primeiro me vestiu de branco, depois me pôs uma banda celestial da  qual pendia uma medalha marcada com o rosto de Jesus, e que enquanto era rosto ao mesmo tempo era espelho, que  ao contemplar-se nele se descobriam as menores manchas, e que a alma com a ajuda de uma luz que vinha de dentro  daquele rosto, podia ser facilmente removido. Parecia-me que essa medalha continha um significado misterioso. Depois  tomou um manto de ouro finíssimo e me cobriu toda. Parecia-me que vestida assim podia competir com as virgens bem aventuradas. Enquanto isso acontecia Jesus me disse:

(6) “Minha filha, voltemos a ver o que fazem os homens, por agora basta que estejas vestida, quando for a festa então te  levarei para assistir”.

(7) Assim, depois de ter virado um pouco, transportou-me para a minha cama.

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Maio 21, 1900

O estado mais sublime é desfazer o nosso querer

no Querer de Deus, e viver da sua Vontade.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha; depois de muito esperar veio e me acariciou me disse:

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(2) “Minha filha, sabes qual é a minha mira sobre ti, e o estado que quero de ti?”

(3) E parando um pouco acrescentou: “O olhar que tenho sobre ti não é de coisas prodigiosas, e de tantas outras coisas  que poderia obrar em ti para mostrar minha obra, senão que minha mira é te absorver em minha Vontade e te fazer uma  só coisa com Ela, e fazer de ti um exemplar perfeito de uniformidade de teu querer com o meu. Este é o estado mais  sublime, é o prodígio maior, é o milagre dos milagres o que de você quero fazer.

(4) Minha filha, para chegar perfeitamente a fazer um nosso querer, a alma deve tornar-se invisível, deve imitar-me a  Mim, que enquanto encho o mundo com tê-lo absorvido em Mim e com não ficar absorvido nele, torno-me invisível e de  nenhum modo me deixo ver. Isto significa que não há nenhuma matéria em Mim, senão que tudo é puríssimo Espírito, e  se em minha Humanidade assumida tomei a matéria, foi para assemelhar-me em tudo ao homem e dar-lhe um exemplar  perfeitíssimo de como espiritualizar esta mesma matéria. Então a alma deve espiritualizar tudo e chegar a tornar-se  invisível para poder fazer facilmente uma sua vontade com minha Vontade, porque o que é invisível pode ser absorvido  em outro objeto. De dois objetos com os quais se quer formar um só, é necessário que um perca a própria forma, de  outra maneira jamais se chegaria a formar um só ser.

(5) Que sorte seria a sua se destruindo a si mesma, até se tornar invisível, pudesse receber uma forma toda divina! E mais, tu com ficar absorvida em Mim e Eu em ti, formando um só ser, virias a reter em ti a fonte divina, e como minha  Vontade contém todo o bem que pode existir, virias a reter todos os bens, todos os dons, todas as graças, E não teria  que procurar em outro lugar senão em você mesma. E se as virtudes não têm confins, estando em minha Vontade  segundo a criatura possa chegar, encontrará seu termo, porque minha Vontade faz chegar a adquirir as virtudes mais  heróicas e mais sublimes que a criatura por si só não pode superar .

(6) É tanta a altura da perfeição da alma desfeita em meu Querer, que chega a agir como Deus, e isto não é de admirar,  porque como não vive mais sua vontade nela, senão a Vontade do próprio Deus, cessa todo assombro se vivendo com  esta Vontade possui a potência, a sabedoria, a santidade e todas as outras virtudes que o próprio Deus contém. Basta te  dizer, para fazer que você se apaixone e coopere o quanto puder por sua parte para chegar a tanto, que a alma que  chega a viver só de meu Querer é rainha de todas as rainhas e seu trono é tão alto, que chega até o trono do Eterno, e  entra nos segredos da Augustíssima Trindade e participa no amor recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Oh,  como todos os anjos e santos a honram, os homens a admiram e os demônios a temem, descobrindo nela o Ser Divino!”.  (7) Ah Senhor! Quando é que me vais fazer chegar a isto, porque não posso fazer nada por mim? Agora, quem pode  dizer o que o Senhor infundia em mim com luz intelectual sobre esta uniformidade de querer-vos? É tanta a altura dos  conceitos, que minha língua não bem treinada não tem palavras para expressá-los, apenas pude dizer isto pouco, se bem  disparatando, do que o Senhor com luz vivíssima me fez compreender.

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Maio 26, 1900

O querer de Luísa é um com o de Jesus. 

(1) Encontrando-me muito afligida pela privação de meu adorável Jesus, que ao mais vem como sombra e relâmpago,  sinto que não posso seguir adiante se Ele quiser continuar assim. Então, encontrando-me no máximo da aflição, por  pouco se fez ver, todo cansado, como se tivesse necessidade de um alívio, e pondo os seus braços ao meu pescoço me  disse:

(2) “Amada minha, traze-me flores e circunda-me tudo, porque me sinto definhar de amor. Minha filha, o odor do perfume  de tuas flores me será de alívio e porá um remédio a meus males, porque definho e desfaleço”.  (3) Eu logo acrescentei: “E Tu, meu amado Jesus, dá-me frutos, porque o lazer e o escasso sofrer aumentam de tal  maneira o meu definhar, que desfaço até me sentir morto; e então não só flores, senão que poderei dar-te frutos para  poder consolar maioritariamente o teu definhar”. E Jesus voltou a falar e me disse:

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(4) “Oh, como nos ajustamos bem, não é verdade? Parece que seu querer é um com o meu. (5) Por um momento parecia que ficava aliviada, como se quisesse cessar o estado em que me encontrava, mas depois  de um pouco me encontrei imersa na mesma letargia de antes, privada de meu Sumo Bem, abandonada e sozinha.  + + + +

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Maio 27, 1900

O amor e a graça penetram nas profundezes do ser do homem.

(1) Esta manhã, sentindo-me mais do que nunca afligida pela privação do meu sumo Bem, assim que me fez ver, disse me:

(2) “Assim como um vento impetuoso investe nas pessoas e penetra até nas vísceras, de modo a sacudir toda a pessoa,  assim meu amor e minha graça voando sobre as asas dos ventos, invistam e penetram no coração, na mente e nas mais  profundas partes do homem. Com tudo isso, o homem ingrato rejeita minha graça e me ofende, oh! qual não é a minha  acerbo dor?”

(3) Eu estava toda confusa e aniquilada em mim mesma e não ousava dizer uma só palavra, só pensava: “Como é que  não vem?” E também: Se ele vier, não vejo claramente, parece que perdi a claridade, quem sabe se verei o seu lindo  rosto revelado como antes?” Enquanto assim pensava, meu benigno Jesus acrescentou:

(4) “Minha filha, por que temes, se teu estado está nos Céus pela união de nossos querer?”  (5) E querendo me animar e compadecer meu estado doloroso me disse:

(6) “Tu és meu novo Jó. Não te oprimas muito se não me vês com clareza .Disse-te desde o outro dia, que não venho  como é habitual porque quero castigar as nações, e se tu me visses com clareza compreenderias o que Eu estou  fazendo, e teu coração, como recebeu o enxerto do meu, por isso sei o que tu virias a sofrer, como o meu coração está a  sofrer porque sou forçado a punir as minhas criaturas. Então, para poupar-lhe essas dores, eu não me faço ver com  clareza”.

(7) Quem pode dizer as feridas que deixou meu pobre coração? Ah Senhor, dá-me a força para suportar a dor!  + + + +

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Maio 29, 1900

Ameaça de castigos.

(1) Continuo a estar no mesmo estado, sentia-me toda oprimida e tinha toda a necessidade de um  apoio para poder suportar a privação do meu Sumo Bem. O bendito Jesus, tendo compaixão de  mim, por alguns minutos mostrou o seu rosto de dentro do meu coração, mas não com clareza, e  fazendo-me ouvir a sua suave voz disse-me:

(2) “Tem ânimo mais um pouco minha filha, deixa-me terminar de castigar e depois virei como  antes”.

(3) Enquanto dizia isto, em minha mente pensava: “Quais são os castigos que começou a  mandar?” E Ele acrescentou:

(4) “A chuva contínua é mais do que granizo, que está a fazer e vai trazer tristes consequências  para as pessoas”.

(5) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, dentro de um jardim, e dali de  dentro se viam as colheitas e as vinhas secas, e dentro de mim ia dizendo: “Pobre gente, pobre

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gente, como farão?” Enquanto dizia isto, dentro daquele jardim estava um menino que chorava e  gritava tão forte que ensurdecia Céu e Terra, mas ninguem tinha compaixão dele, ainda que todos  o ouvissem que chorava tanto, não o levavam em conta e o deixavam sozinho e abandonado. Um  pensamento passou pela minha cabeça: “Quem sabe? Como melhor será Jesus”. Mas não estava

segura. Então, aproximando-me Dele lhe disse: “Que tens que chorar menino amado? Queres vir  comigo, já que todos te deixaram abandonado às tuas lágrimas e à dor que te oprime tanto que te  faz gritar tão forte?” Mas o que, quem poderia acalmá-lo? Apenas entre soluços respondeu que  sim, que queria vir. Então eu o peguei pela mão para conduzi-lo junto comigo, e no momento que  fiz isso, me encontrei em mim mesma.

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Junho 3, 1900

A falta de estima pelas pessoas é falta de verdadeira humildade.

(1) Encontrando-me no mesmo estado, esta manhã, por um pouco vi meu adorável Jesus, que  estava dentro de meu coração e dormia, e seu sonho atraía a minha alma a adormecer junto com  Ele, tanto que sentia todas as potências interiores adormecidas, sem obrar mais. Às vezes me  esforçava para sair daquele sonho, mas não podia, quando por um pouco se despertou o bendito  Jesus e ordenou por três vezes seu alento dentro de mim, e me parecia que Ele ficava tudo  absorvido em mim. Depois me parecia que Jesus atraiu outra vez dentro Dele esses três alentos  que me havia enviado, e eu me encontrei toda transformada Nele. Quem pode dizer o que  acontecia em mim por estes sopros divinos? Daquela união inseparável entre Jesus e eu, não  tenho palavras para expressá-la. Depois disso parece que eu poderia acordar e Jesus, quebrando  o silêncio me disse:

(2) “Minha filha, olhei e voltei a olhar, procurei e voltei a procurar, percorrendo toda a terra, mas em  ti fixei os meus olhares e encontrei as minhas complacências, e escolhi-te entre milhares”.  (3) Depois, dirigindo-se a certas pessoas que via, repreendeu-as dizendo-lhes:  (4) “A falta de estima pelas outras pessoas é falta de verdadeira humildade cristã e de docilidade,  porque um espírito humilde e doce sabe respeitar a todos e interpreta sempre bem os atos dos  demais”.

(5) Dito isso, ele desapareceu sem sequer dizer uma palavra. Seja sempre abençoado que ele  quer, e tudo seja para a sua glória.

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Junho 6, 1900

Luisa crucificada, evita alguns castigos sobre Corato.  

(1) Como meu adorável Jesus continuava sem se fazer ver com clareza, esta manhã, tendo  recebido a comunhão, o confessor pôs a intenção da crucificação; enquanto me encontrava nesses

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sofrimentos, o bendito Jesus, quase atraído por minhas penas mostrou-se com clareza. Oh Deus!  Quem pode dizer os sofrimentos que sofria Jesus e o estado violento em que se encontrava,  porque enquanto estava obrigado a mandar os castigos, sentia tal violência que não queria mandá los? Dava tanta compaixão vê-lo neste estado, que se os homens o pudessem ver, ainda que seus  corações fossem de diamante se romperiam Como vidro frágil pela ternura. Então comecei a  implorar-lhe que se acalmasse e que se contentasse em fazer-me sofrer a mim, e que perdoasse o  povo. Depois acrescentei: “Senhor, se não queres ouvir as minhas orações, sei que o mereço; se  não queres ter compaixão dos povos, tens razão, porque grandes são as nossas iniqüidades, mas  peço-te em graça que tenhas compaixão de ti mesmo, tem piedade da violência que te fazes ao  castigar as tuas imagens. Ah! sim, te peço por amor de Ti mesmo, que não mande castigos até  chegar a tirar o pão a seus filhos e fazê-los perecer. Ah! não, não é da natureza do seu coração  agir deste modo, por isso é a violência que sentes, que se pudesse te daria a morte”.

(2) E Ele, todo aflito, me disse: “Minha filha, é a justiça que me faz violência, e o amor que tenho  pelos homens me faz violência mais forte, tanto, de pôr a meu coração em angústias de morte ao  castigar as criaturas”.

(3) E eu: “Por isso, Senhor, descarrega sobre mim a justiça, e teu amor não será mais violentado  pela justiça e não se encontrará em conflito para castigar as nações, porque em verdade, como  farão se Tu agires, como me fazes compreender, secando tudo o que serve de alimento ao  homem? Ah, peço-te, deixa-me sofrer e perdoa-lhes a eles, se não em tudo pelo menos em parte”.

(4) E Jesus, como se fosse obrigado por minhas orações, aproximou-se da minha boca e derramou  da sua um pouco de amargura, densa e nauseante, que assim que a engoli me produziu tais e  tantas espécies de penas que me sentia morrer. Então o bendito Jesus, sustentando-me nessas  penas, caso contrário teria ficado vítima (e todavia não havia derramado mais que um pouco, o que  será de seu coração adorável que tanta continha?), suspirou como se tivesse se aliviado de um  peso e me disse:

(5) “Minha filha, minha justiça tinha decidido destruir tudo, mas agora descarregando um pouco sobre ti, por amor teu concede um terço do que serve de alimento ao homem”.  (6) E eu: “Ah Senhor, é muito pouco, pelo menos a metade!”

(7) E Ele: “Não minha filha, aceita-te”.

(8) E eu: “Não Senhor, se não me queres contentar por todos, pelo menos diz-me por Corato e por  aqueles que me pertencem”.

(9) E Jesus: “Hoje está preparada uma saraivada que deve fazer grande dano, tu estás com as  dores da cruz, sai de ti mesma e em forma crucificada vê no ar e põe em fuga os demônios de cima  de Corato, porque ante tua forma crucificada não poderão resistir e irão a outra parte”.  (10) Assim saí de mim mesma, crucificada, e vi a saraiva e os raios que estavam prestes a irromper

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sobre Corato. Quem pode dizer o espanto dos demônios, como à vista de minha forma crucificada  corriam, mordiam os dedos de raiva e chegavam a tomá-la contra o confessor que esta manhã me  tinha dado a obediência de sofrer a crucificação, já que contra mim não a podiam tomar, aliás,  eram obrigados a fugir de mim pelo sinal da Redenção que advertiam? Então, depois de tê-los  posto em fuga retornei a mim mesma, encontrando-me com uma boa dose de sofrimentos. Seja  tudo para a glória de Deus.

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Junho 7, 1900

Jesus lhe entrega as chaves da justiça e uma luz para descobri-la. 

(1) Como me encontrava sofredora, parecia-me que aqueles sofrimentos eram uma doce corrente  que atraía meu bom Jesus a fazê-lo vir quase que continuamente, e me parecia que aquelas penas  chamavam a Jesus para fazê-lo derramar em mim outras amarguras. Então, ao vir, agora me  segurava em seus braços para me dar força, e agora derramava de novo. Eu de vez em quando  lhe dizia: “Senhor, agora sinto em mim parte de tuas penas, rogo-te que me contentes, como te  disse ontem de dar-me ao menos a metade do que serve para alimento do homem”.

(2) E Ele: “Minha filha, para te contentar te entrego as chaves da justiça e o conhecimento de quanto é absolutamente necessário castigar o homem, e com isto farás o que te agrade, não estás  contente por isso?”

(3) Ao ouvir-me dizer isto, consolei-me e disse dentro de mim: “Se está em mim, de facto não  castigarei nenhum”. Mas como fiquei desiludida quando o bendito Jesus me deu uma chave e me  pôs no meio de uma luz, e olhando do meio daquela luz descobria todos os atributos de Deus, e  também os da justiça. ¡ Oh, como tudo está ordenado em Deus! E se a justiça castiga, é ordem; e  se não castiga não estaria em ordem com os demais atributos. Agora me via como miserável  verme no meio daquela luz, e que se quisesse impedir o curso à justiça, arruinaria a ordem e iria  contra os mesmos homens, porque compreendia que a mesma justiça é amor puríssimo para com  eles. Então me encontrei toda confusa e incomodada, por isso para me desentender disse a nosso  Senhor: “Com esta luz da qual me rodeastes entendo as coisas de maneira diversa, e se me  deixasses agir a mim fá-lo-ia pior do que Tu, por isso não aceito este conhecimento e renuncio às  chaves da justiça; o que aceito e quero é que me faças sofrer e que libertes as pessoas; do resto  não quero saber nada”.

(4) E Jesus, sorrindo diante de mim, disse-me:

(5) “Como! Tão logo queres te afastar, não querendo conhecer nenhuma razão e querer fazer-me  violência mais forte queres sair com duas palavras: Faz-me sofrer a mim e livra-te deles”.  (6) E eu: “Senhor, não é que não queira saber nenhuma razão, senão que não é ofício meu, mas

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teu. Meu ofício é o de ser vítima, por isso Tu faz teu ofício e eu faço o meu, não é verdade meu  amado Jesus?”

(7) E Ele, mostrando como uma aprovação desapareceu.

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Junho 10, 1900

Ofício de vítima. Castigos. 

(1) Parece-me que o meu adorável Jesus continua a dividir em dois a justiça, derramando um  pouco em mim e o resto nas pessoas. Esta manhã, especialmente quando me encontrei com  Jesus, me destroçava a alma ao ver a tortura de seu dulcíssimo coração ao castigar as criaturas.  Era tanto o estado sofredor no qual se encontrava, que não fazia outra coisa que emitir contínuos  gemidos, tinha na cabeça uma tupida coroa de espinhos, toda encarnada, tanto que a cabeça  parecia um conjunto de espinhos. Então, para aliviá-lo um pouco, eu disse-lhe: “Diz-me, meu bem,  o que é que tens que estás a sofrer tanto? Permite-me que te tire estes espinhos que não tão  pouco te atormentam”. Mas Jesus não me respondia, aliás, nem sequer escutava o que eu dizia.  Então me pus a remover aqueles espinhos, uma por uma, e depois as pus sobre minha cabeça.  Agora, enquanto fazia isto, vi que em lugares longínquos devia acontecer um terremoto que faria  matança de pessoas. Depois Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma, mas com suma  aflição minha ao pensar no estado sofredor de Jesus e nas desgraças da miserável humanidade. +  + + +

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Junho 12, 1900

A obediência a faz pedir a Jesus que 

a faça sofrer para impedir os castigos. 

(1) Esta manhã, ao vir o meu amável Jesus, comecei a dizer: “Senhor, o que fazes? Parece que  estás a ir longe demais com a justiça”. E enquanto queria continuar a falar para desculpar as  misérias humanas, Jesus impôs-me silêncio dizendo-me:

(2) “Cala-te, se queres que me entretenha contigo vem beijar-me e curar-me com as tuas habituais  adorações todos os meus membros sofredores”.

(3) Assim comecei pela cabeça, e depois, pouco a pouco pelos outros membros. ¡ Oh, quantas  chagas profundas tinha aquele corpo sacrossanto, que só olhá-las dava horror! Então, não apenas  tinha terminado desapareceu, deixando-me com pouquíssimo sofrimento e com um temor: quem  sabe como se derramará sobre as nações, porque não se dignou derramar sobre mim as suas  amarguras.

(4) Pouco depois veio o confessor e disse-lhe o anterior, e ele disse-me que hoje, por obediência  absoluta, quando fizer a meditação deves pedir-lhe que te faça sofrer a crucificação e que deixe de  mandar os flagelos. Então, quando fiz a meditação, assim que se fez ver lhe roguei de acordo com

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a obediência recebida, mas não me pôs atenção, é mais, agora se fazia ver que virava as costas  às pessoas, agora que dormia para não ser importunado por mim, e que sei eu, me sentia morrer  porque não se preocupava em me fazer a obediência; então tomei coragem, e pondo toda a  confiança na santa obediência o tomei por um braço, e movendo-o para despertá-lo eu lhe disse:  “Senhor, que fazes? Este é o amor que tens pela tua virtude predileta da obediência? Estes são os  elogios que lhe deram tantas vezes? Estas são as honras que lhe concedeste, até dizer que te  sentes abalado e não podes resistir à virtude da obediência e sentes-te cativado pela alma que se  doa a esta virtude, que agora parece que não te importas de me obedecer? Enquanto isto e outras  coisas dizia, e que me prolongaria demasiado se quisesse escrevê-las, o bendito Jesus sacudiu-se,  e como atingido por uma vivência de dor, rompeu em abundante pranto, e soluçando disse:

(5) “Nem Eu quero mandar açoites, é a justiça que me obriga quase à força, mas tu com este falar  queres-me ferir ao vivo e tocar-me uma fibra muito delicada para Mim e muito amada por Mim,  tanto que não quis outra honra nem outro título que o de obediente. E para te fazer ver que não é  que não me importe de te fazer obedecer, com tudo o que a justiça me obriga a não fazer, te  compartilho em parte as dores da cruz”.

(6) Enquanto fazia isto, desapareceu, deixando-me contente porque me fez obedecer e com um  desgosto na alma, como se tivesse sido causa de fazer chorar ao Senhor com o meu falar. ¡ Ah  Senhor, peço que me perdoe!

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Junho 14, 1900

Efeitos da cruz. 

(1) Encontrando-me não pouco sofredor, meu adorável Jesus, ao vir toda me compadecia e me  disse:

(2) “Minha filha, o que tens que sofres tanto? Deixe-me aliviar um pouco”.

(3) E (mas Jesus estava mais sofredor que eu) assim me deu um beijo, e como estava crucificado  me atraiu fora de mim mesma e pôs minhas mãos nas suas, meus pés nos seus, minha cabeça  apoiava sobre a sua e a sua sobre a minha. Como estava contente por me encontrar nesta  posição! Se bem que os cravos e os espinhos de Jesus me causavam dor, eram dores que me  davam alegria porque eram sofridos por amor ao meu amado Bem; aliás, queria que  aumentassem. Também Jesus parecia contente comigo porque me tinha naquele modo em que me  sentia atraída por Ele. Parecia-me que Jesus me consolava e eu era consolação para Ele.

(4) Então, nesta posição saímos fora, e tendo encontrado o confessor, em seguida pedi por suas  necessidades e disse ao Senhor que se dignasse fazer ouvir ao confessor como é doce e suave  sua voz. Jesus para me contentar se dirigiu a ele e lhe falou da cruz dizendo:

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(5) “A cruz absorve na alma minha Divindade, a assemelha à minha Humanidade e copia em si  mesma minhas mesmas obras”.

(6) Depois continuamos a girar mais um pouco e, oh, quantas cenas dolorosas que trespassavam a  alma de lado a lado! As graves iniqüidades dos homens, que nem sequer se curvam perante a  justiça, ao contrário, lançam-se com maior furor, como se quisessem dar duplas feridas por cada  ferida, e a grande miséria que eles próprios se preparam. Então, com grande amargura nos  retiramos; Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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Junho 17, 1900

Colocar-se em Deus e não sair dos confins da paz, é o mesmo.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, em meu íntimo me sentia suscitar alguma sombra  de perturbação sobre o por que não vinha; Então ao vir me disse:

(2) “Minha filha, conter-se em Deus e não sair dos confins da paz é tudo o mesmo. Então, se você  percebe um pouco de perturbação, é sinal de que você saiu um pouco de dentro de Deus, porque  se preencher Dele e não ter perfeita paz é impossível, muito mais que os confins de a paz são  intermináveis, antes tudo o que pertence a Deus é paz”.

(3) Depois acrescentou: “Não sabes tu que as privações à alma servem como o inverno às plantas,  que faz que aprofundarem-se as raízes, as fortifica e as faz reverdecer e florescer em maio?”  (4) Depois disto, transportou-me para fora de mim mesma e, tendo-lhe confiado várias  necessidades, desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma, com o desejo de me manter  sempre dentro de Deus, a fim de que me pudesse encontrar dentro dos confins da paz.

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Junho 18, 1900

Tudo o que é criado nos ensina o amor de Deus,  

o corpo chagado de Jesus, o amor do próximo.

(1) Jesus continua sem vir, e eu tratava de me ocupar em considerar o mistério da flagelação.  Enquanto fazia isto vi o bendito Jesus todo chagado e jorrando sangue e me disse:  (2) “Minha filha, o céu com tudo o criado te ensina o amor de Deus; meu corpo chagado te ensina o  amor do próximo, tanto, que minha Humanidade unida a minha Divindade, de duas naturezas fiz  uma só e as tornei inseparáveis, porque não só satisfiz a divina justiça, mas realizei a salvação dos  homens. E para fazer com que todos assumissem esta obrigação de amar a Deus e o próximo, não  só fiz disto uma única obrigação, mas cheguei a fazer desta obrigação um preceito divino. Assim,  minhas chagas e meu sangue são tantas línguas que ensinam a cada um o modo de amar-se, e a

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obrigação que todos têm de prestar atenção à salvação dos demais”.

(3) Depois, tomando um aspecto mais aflito acrescentou:

(4) “Que tirano impiedoso é para mim o amor, porque não só empreguei todo o curso de minha vida  mortal em contínuos sacrifícios, até morrer sangrando sobre uma cruz, senão que me deixei como  vítima perene no sacramento da Eucaristia. E não só isto, mas a todos os meus membros  prediletos tenho vítimas viventes em contínuos sofrimentos, empenhados na salvação dos homens,  como entre tantos escolhi a ti para ter-te sacrificada por amor meu e pelos homens. Ah sim! Meu

coração não encontra descanso nem repouso se não encontrar o homem, e o homem, como é que  me corresponde? Com ingratidões enormes.”

(5) Dito isto, ele desapareceu.

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Junho 20, 1900

A humildade mais perfeita produz na alma a união mais íntima com Deus. (1) Esta manhã, estando fora de mim mesma e não encontrando meu Sumo Bem, tive que girar e  girar em busca Dele; quando me cansei até sentir desfalecer, senti-o atrás de minhas costas, que  me sustentava. Então estendi o braço e o puxei para a frente dizendo: “Meu amado, sabes que não  posso ficar sem Ti, não obstante me fazes esperar tanto, até me fazer desmaiar. Diz-me pelo  menos, qual é a causa, em que te ofendi que me submetes a dilacerações tão cruéis, a martírios

tão dolorosos como é a tua privação?” E Jesus interrompendo o meu discurso disse-me:  (2) “Minha filha, minha filha, não acrescente mais rasgos ao meu coração exacerbado ao máximo,  pois se encontra em contínua luta pelas violências que constantemente todos me fazem: Violência  me fazem as iniqüidades dos homens, que atraindo sobre eles a justiça me forçam a puni-los, e a  justiça pondo-se em contínua luta com o amor que tenho pelos homens, rasga-me o coração de  modo tão doloroso, de me fazer morrer continuamente; violência me fazes tu, porque vindo Eu e  conhecendo tu os castigos que estou enviando, não estás quieta, não, mas que me força, me faz  violência e não quer que castigue, e sabendo Eu que você não pode fazer de outra maneira ante  minha presença, para não expor meu coração a uma luta mais feroz, me abstenho de vir. Por isso  não me violentes para me fazeres vir agora; deixa-me desabafar a minha ira, e não queiras  aumentar as minhas penas com as tuas palavras. Quanto ao resto não quero que pense, porque a  humildade mais perfeita, mais sublime, é a de perder toda razão e não discorrer sobre o porquê e  do como, mas se desfazer no próprio nada, e enquanto a alma faz isto, sem adverti-lo encontra-se  perdida em Deus, e isto produz nela a união mais íntima, o amor mais perfeito para o sumo Bem.  Isto com sumo proveito da alma, porque perdendo a própria razão adquire a razão divina, e  perdendo todo pensamento sobre si mesma, isto é, se está fria ou quente, se são favoráveis ou

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adversas as coisas que lhe acontecem, se interessará e adquirirá uma linguagem toda celestial e  divina.

(3) Além disso, a humildade produz na alma uma vestidura de segurança, pelo que envolta neste  vestido de segurança, a alma está na calma mais profunda, embelezando-se toda para agradar ao  seu querido e amado Jesus”.

(4) Quem pode dizer como fiquei surpreendida por este falar de Jesus? Não tive nem uma palavra  para responder. Pouco depois desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, quieta, sim, mas  aflita no máximo, primeiro pelas aflições e lutas nas quais se encontrava meu amado Jesus, e  depois pelo temor de que não viesse. Quem poderá resistir? Como farei para suportar a mim  mesma por sua ausência? Ah! Senhor, dá-me a força para suportar tão duro martírio, tão  insuportável a minha pobre alma! De resto, diga o que quiser, porque por mim não deixarei nenhum  meio, tentarei todos os caminhos, usarei todos os estratagemas para atraí-lo para que venha.

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Junho 24, 1900

A cruz é o alimento da humildade.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, em que no máximo se fazia ver como sombra,  como um relâmpago, minhas potências as sentia todas adormecidas, de modo que eu mesma não  entendia o que acontecia em meu interior. Neste adormecimento uma só pena se despertava em  meu interior, e era que me parecia que tinha acontecido como a um que enquanto dorme perde a  vista, ou bem é despojado de todas suas riquezas, pelo que o miserável não pode nem doer-se,  nem defender-se, nem usar algum meio para libertar-se de seus infortúnios. Pobrezinho, em que  estado tão desastroso se encontra! Mas, qual é a causa? O sonho, porque se estivesse acordado  certamente saberia defender-se de suas desventuras. Assim é meu mísero estado, não me é dado  nem sequer dar um gemido, um suspiro, derramar uma lágrima, porque perdi de vista Aquele que é  todo meu amor, todo meu bem e que forma todo meu contentamento. Parece que para que eu não  sofra por sua privação me adormeceu e me deixou-me. A. Ah! Senhor, acorda-me Tu, a fim de que  possa ver minhas misérias e conhecer ao menos do que estou privada.

(2) Agora, enquanto me encontrava neste estado, de dentro de mim ouvi o bendito Jesus que se  lamentava continuamente. Esses lamentos feriram meus ouvidos e despertando um pouco disse:  “Meu só e único Bem, por teus lamentos advirto o estado tão sofredor no qual te encontras, isto te  sucede porque queres sofrer só e não queres me fazer partícipe de tuas penas, é mais, Para não  me teres na tua companhia, fizeste-me adormecer e deixaste-me sem me fazer entender mais  nada. Entendo o porquê de tudo isto, para estar mais livre para punir, mas ah! tem compaixão de

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mim, pois sem Ti estou cega, e tem compaixão de Ti, porque é sempre bom em todas as  circunstâncias ter quem te faça companhia, que te console e que de algum modo diminua a tua ira,  porque por agora estás firme em mandar açoites, Mas quando vires as tuas imagens a perecer da  miséria, lamentarás mais do que agora e talvez me digas: “Ah, se tu te tivesses empenhado mais  em aplacar-me, se tivesses tomado sobre ti as penas das criaturas, não veria tão destroçados os  meus próprios membros!” Não é verdade meu pacientíssimo Jesus? Ah, Jesus, Jesus, deixa-te  sofrer um pouco e deixa-me sofrer em teu lugar!”

(3) Enquanto isso dizia, Ele se lamentava continuamente, quase no ato de querer ser compadecido  e aliviado, mas queria que lhe arrancasse quase por força este mesmo alívio, pelo que depois de  meus rogos estendeu em meu interior suas mãos e pés cravados e me participou um pouco suas  penas. Depois disto, dando um pouco de trégua a seus lamentos me disse:

(4) “Minha filha, são os tristes tempos que a isto me obrigam, porque os homens se fortaleceram e  ensoberbecido tanto, que cada um acredita ser deus para si mesmo, e se Eu não ponho mão nos  flagelos faria um dano a suas almas, porque só a cruz é o alimento da humildade. Então, se eu não  fizesse isso, eu mesmo lhes faria falta o meio para humilhá-los e rende-los de sua estranha  loucura, ainda que a maior parte me ofendam mais, mas Eu faço como um pai que reparte a todos  o pão para alimentá-los; que alguns filhos não o queiram tomar, mas sim que se sirvam dele para  atirá-lo na cara ao pai, que culpa tem disso o pobre pai? Assim sou Eu. Por isso compadece-me  em minhas aflições”.

(5) Dito isto, desapareceu deixando-me meio acordada e meio adormecida, não sabendo eu  mesma nem se devo acordar perfeitamente, nem se devo dormir outra vez.

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Junho 27, 1900

A alma deve reconhecer-se em Jesus, não em si mesma. 

(1) Continuo adormecida. Esta manhã por poucos minutos me encontrei acordada e compreendia  meu estado miserável, sentia a amargura da privação de meu sumo e único Bem; apenas pude  derramar duas lágrimas lhe dizendo: “Meu sempre bom Jesus, como é que não vem? Estas são  coisas que não se fazem, ferir a uma alma de Ti e depois deixá-la. E além disso, para não lhe dar a  conhecer o que faz, deixa-a em poder do sonho. Ah, venha, não me faça esperar tanto!” Enquanto  isso e outros desatinos mais disse, em um instante veio e me transportou para fora de mim mesma;  e como eu queria lhe dizer meu pobre estado, Jesus impondo-me silêncio me disse:

(2) “Minha filha, o que quero de ti é que não te reconheças mais em ti mesma, senão que te  reconheças somente em Mim; assim que de ti não te recordarás mais, nem terás mais  reconhecimento de ti, senão te lembrarás de Mim, e te desconhecendo a ti mesma adquirirás só

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meu reconhecimento, e à medida que te esqueceres e te destruíres a ti mesma, assim avançarás  em meu conhecimento e te reconhecerás somente em Mim, quando tiveres feito isto, não mais  pensará com a tua mente, mas com a minha, não olharás com os teus olhos, não falarás mais com  a tua boca, nem palpitarás com o teu coração, nem trabalharás com as tuas mãos, nem andarás  com os teus pés, mas com tudo o que é meu, para te reconheceres somente em Deus, a alma tem  necessidade de ir à sua origem e voltar ao seu princípio, Deus, isto é, de onde veio, e que se  uniformiza toda a si mesma ao seu Criador; e que tudo o que detém de si mesma e que não é  conforme ao seu princípio, deve desfazê-lo e reduzi-lo a nada. Só assim, nua, desfeita, pode voltar  à sua origem e reconhecer-se só em Deus, e agir segundo o fim para o qual foi criada. Eis aqui então que para uniformizar-se toda em Mim, a alma deve tornar-se indivisível Comigo”.

(3) Enquanto dizia isto, via o terrível castigo das plantas secas e como deve avançar mais. Mal  pude dizer: “Ah! Senhor, como farão as pobres pessoas?” E Ele, para não me prestar atenção,  como um relâmpago fugiu e desapareceu. Quem pode dizer a amargura de minha alma ao  encontrar-me em mim mesma, por não haver podido dizer nem sequer uma palavra por mim e por  meu próximo, e pela tendência ao sono, porque de novo estou nesse estado.

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Junho 28, 1900

Os castigos presentes, não são outra coisa que 

uma preparação aos castigos futuros. 

(1) Esta manhã, encontrando-me extremamente aflita pela privação do meu amado Jesus, assim  que o vi, disse-me:

(2) “Minha filha, quantas máscaras serão tiradas nestes tempos de castigos, porque estes castigos  presentes não são outra coisa que uma preparação a todos os castigos que te manifestei no curso  do ano passado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu dentro de mim pensava: “Se o Senhor continua a fazer da mesma forma  que está a fazer, isto é, porque quer mandar castigos não vem, não me participa as suas penas,  trata-me com modos insólitos, quem poderá resistir? Quem me dará a força para permanecer neste  estado?” E Jesus respondendo ao meu pensamento acrescentou em atitude de compaixão:

(4) “E então, queres tu que suspenda por um pouco o estado de vítima e depois te faça retomá-lo?”  (5) Enquanto dizia isto, senti confusão e amargura, via que o Senhor com essa proposta me  lançava de Si, porque não soube dizer nem sim, nem não, nem para ouvir o que decide a  obediência. Então, sem esperar minha resposta desapareceu, deixando-me como um prego fixo no  coração ao pensar que Jesus me lançava de Si. Era tanto a dor que não fiz outra coisa que  derramar lágrimas amargas.

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Junho 29, 1900

Jesus e Luísa confortam-se reciprocamente.

(1) Estando ainda amarga, meu adorável Jesus tendo compaixão de mim veio, e parecia que me  sustentava entre seus braços. Depois, transportando-me para fora de mim mesma via que reinava  um profundo silêncio, uma tristeza, um luto por toda parte. Era tanta a impressão que causava no  ânimo ver naquele modo as pessoas, que se sentia uma estreiteza no coração. Então o bendito  Jesus, levando-me à parte, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemos por pouco o que nos aflige e interroguemo-nos mutuamente”. (3) Enquanto dizia isto começou a acariciar-me e a beijar-me, mas era tanta a minha confusão que  não me atrevia a devolver-lhe os beijos e as carícias, e Ele acrescentou:

(4) “Como! Eu te reconforto com beijos e carícias, e tu não queres confortar-me dando-me os teus  beijos e as tuas carícias?”

(5) Então eu me senti confiante para pagá-lo com a mesma moeda; e enquanto isso fazia  desapareceu.

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Julho 2, 1900

Com seus sofrimentos, Luisa evita um castigo. 

(1) Continuo sendo amarga e afligida, como uma tola. Esta manhã não tinha vindo Jesus, mas veio  o confessor e pôs a intenção da crucificação. Mas o bendito Jesus não comparecia, e depois de lhe  ter rogado que se dignasse fazer-me obedecer, assim que se fez ver me disse:  (2) “Que queres? Por que me querem fazer violência à força uma vez que é necessário castigar os  povos?”

(3) E eu: “Senhor, não sou eu, é a obediência que o quer”.

(4) E Ele: “Se é a obediência, está bem, quero participar-te minha crucificação e ao mesmo tempo  quero reconfortar-me um pouco”.

(5) Enquanto dizia isto, tive a participação das dores da cruz, e enquanto eu sofria, Jesus pôs-se  ao meu lado e parecia que se consolava um pouco. Agora, enquanto me encontrava nesta posição  junto com Ele, me fez ver no ar, que por uma parte vinha uma nuvem negra, negra, que ao só vê-la  dava terror e espanto, e todos diziam: “desta vez morremos”. Enquanto todos estavam  aterrorizados, levantou-se no meio de Jesus e eu uma cruz resplandecente, que pondo-se contra  aquela borrasca a pôs em fuga em grande parte, tanto que parecia que as pessoas se acalmavam.  Não sei dizer certamente, mas me parece que era um furacão acompanhado de raios e de  granizadas tão fortes, que tinha força para arrancar as construções; e a cruz que a pôs em fuga em

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grande parte, me parecia que era meu pequeno sofrer que Jesus me participou. Seja bendito o  Senhor e tudo seja para sua glória e honra.

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Julho 3, 1900

Castigos com enfermidades contagiosas.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, assim que vi o meu adorável Jesus, disse-lhe: “Meu  amado Senhor, como é que mandas tantos castigos? Por que desta vez você não quer a nenhum  custo aplacar-se? Parece que todos os meios são inúteis, nem rogar, nem dizer “Senhor, derrama  em mim tuas amarguras”. Porém, não foi teu costume agir deste modo!” Enquanto dizia isto, Jesus  bendito interrompendo o meu falar respondeu:

(2) “No entanto, minha filha, os castigos que estou mandando são nada ainda em comparação com  aqueles que estão preparados. Por isso não queiras afligir-te por isto, porque não são matéria de  grande aflição”.

(3) Enquanto dizia isto, diante de mim via muitas pessoas infectadas com enfermidades  contagiosas, que morriam por elas, então, presa de espanto lhe disse: “Ah Senhor! Isso também é  necessário? O que você faz? O que você faz? Se você quiser fazer isso, me tire desta terra, pois  não resiste o ânimo ver espetáculos tão funestos. E além disso, quem poderá resistir continuar  neste estado em que me puseste, de que não vens, ou vens como sombra, e não só isso, senão  que me deixas atordoada, adormecida, que não me fazes entender mais nada? No entanto,  disseste-me que me deixarias assim até que de algum modo desabafasses a tua ira. Agora queres  acrescentar furor a furor, parece que não terminarás por agora, assim que, pobre de mim, pobre de  mim! Quem me dará a força para estar neste estado? Quem poderá resistir?”

(4) Enquanto desafogava minha aflição, Jesus, compadecendo-me disse-me:  (5) “Minha filha, não temas de teu estado de adormecimento, isto diz que assim como Eu estou com as pessoas, como se dormisse, como se não as ouvisse e visse, assim te pus no mesmo  estado. Caso contrário, se você não gosta, eu disse-lhe da outra vez, você quer ser suspensa do  status de vítima?”

(6) E eu: “Senhor, a obediência não quer que aceite a suspensão”.

(7) E Ele: “E bem, que queres de Mim? Fica quieta e obedece”.

(8) Quem pode dizer o quanto sofri? E não só isto, mas me parece que ficaram tão adormecidas  minhas potências internas, que vivo como se não vivesse. ¡ Ah Senhor, tenha piedade de mim, não  me deixe em abandono, em um estado tão lamentável e doloroso!

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Julho 9, 1900

Viver não só para Deus mas em Deus. 

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, e se alguma vez se faz ver é como sombra e raio,  e quase sempre em silêncio. Esta manhã, encontrando-me no máximo da aflição e da torpeza pelo  sono contínuo, assim que me fez ver disse-me:

(2) “Ânimo, minha filha, a alma verdadeiramente minha deve viver não só para Deus, mas em  Deus. Tu procura viver em Mim, porque em Mim encontrarás o receptáculo de todas as virtudes, e passeando no meio delas te alimentarás de seu perfume, tanto de ficar cheia delas, e tu mesma  não farás outra coisa que enviar luz e perfume celestial, porque viver em Mim é a verdadeira  virtude, e tem virtude de dar à alma a mesma forma da Divina Pessoa na qual faz sua morada, e de  transformá-la nas mesmas virtudes divinas das quais se nutre”.

(3) Depois disto como relâmpago desapareceu, e minha alma correndo atrás daquele Relâmpago  se encontrou fora de mim mesma, mas já havia fugido e não me foi dado encontrá-lo de novo, e  sofri a amargura de ver granizadas terríveis que tinham feito grandes estragos, raios que haviam  produzido incêndios e outras coisas que estavam preparadas. Depois de ter visto isto, me encontrei  em mim mesma, mais aflita que antes.

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Julho 10, 1900

Diferença entre viver para Deus e viver em Deus. 

(1) Encontrando-me na mesma confusão, como um relâmpago se fez ver e me fez entender que  não tinha escrito tudo o que Ele me tinha dito ontem, isto é, que a alma não só deve viver para  Deus, mas em Deus. Então o bendito Jesus me repetiu a diferença que há entre o viver para Deus  e o viver em Deus, dizendo-me:

(2) “No viver para Deus, a alma pode estar sujeita às turbações, às amarguras, a ser inconstante, a  sentir o peso das paixões, a misturar-se nas coisas terrenas. Mas no viver em Deus não, tudo é  diferente, porque a coisa principal para fazer que uma pessoa possa entrar a habitar em outra  pessoa, é deixar tudo o que é seu, isto é, despojar-se de tudo, deixar as próprias paixões, em uma  palavra, deixar tudo para encontrar tudo em Deus. Agora, quando a alma não só se despojou, mas  se reduziu muito bem, então poderá entrar pela porta estreita do meu coração a viver em Mim, à  minha maneira e da minha própria vida, porque, se bem que o meu coração seja grandíssimo,  tanto que não há fim aos seus confins, mas a porta é estreita e só pode entrar quem está  despojado de tudo; e isto com razão, porque sendo Eu santíssimo, jamais admitiria a viver em Mim  alguém que fosse estranho a minha Santidade. Por isso minha filha, procura viver em Mim e  possuirás o paraíso antecipado”.

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(3) Quem pode dizer quanto compreendia sobre este viver em Deus? Mas depois desapareceu e  fiquei no mesmo estado.

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Julho 11, 1900

Os sofrimentos de Luisa tornam menos rigorosos os castigos.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão e continuando o mesmo estado de confusão, estava  toda recolhida em mim mesma, quando vi a meu adorável Jesus que vinha depressa para mim  dizendo:

(2) “Minha filha, atenua um pouco minha ira, de outra maneira… !”

(3) E eu, toda assustada, disse: “Que queres que faça para acalmar a tua ira?”  (4) E Ele: “Com chamar em ti os meus sofrimentos virás a aplacar a minha ira”.  (5) Enquanto eu estava nisto, eu via como se chamasse o confessor, enviando um raio de luz, e ele  imediatamente colocou a intenção de me fazer sofrer a crucificação. O Senhor bendito logo  concorreu e eu me encontrei em tantos sofrimentos, que pela força das dores me senti sair a alma  do corpo; quando acreditei que estava a ponto de expirar, e contente de que Jesus recebesse  minha alma, vi ao confessor que com dizer “basta, basta”, me chamava novamente em mim  mesma.

(6) Então Jesus me disse: “A obediência te chama”.

(7) E eu: “Ah, Senhor, quero vir!”

(8) E Jesus: “O que queres de mim? A obediência continua chamando você”.  (9) E assim parece que esta nova obediência não deixou ir mais além os sofrimentos, mas  obediência certamente cruel para mim, porque enquanto me parecia chegar ao porto, fui atirada  fora para navegar o caminho. Depois, embora tenha sofrido, mas já não me sentia a morrer, e o  meu benigno Senhor continuou a dizer-me:

(10) “Minha filha, se você hoje não tivesse acalmado minha ira, teria chegado ao cúmulo, que não  só teria destruído as plantas, mas também os homens, e se o mesmo confessor não se tivesse  interposto chamando novamente em ti meus sofrimentos, Nem sequer teria tido consideração por  ele. É verdade que são necessários os castigos, mas é necessário que de vez em quando, quando  minha ira avançar, você me acalme, do contrário minha filha, quantos flagelos demais mandarei!”  (11) E enquanto dizia isto, parecia-me vê-lo todo cansado, que lamentando-se, agora dizia: “Minha  filha!” e agora: “Meus filhos! Pobres filhos meus, como vos vejo reduzidos!” E com a minha  surpresa fez-me entender que depois de ter-se acalmado um pouco devia voltar a tomar o furor  para continuar os castigos, e que isto tinha servido só para fazer com que não castigasse  demasiado as nações. ¡ Ah Senhor, acalma-te e tem piedade daqueles que Tu mesmo chamas

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“filhos meus”!

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3-95

Julho 14, 1900

O decreto dos castigos está assinado. 

(1) Parece que passei vários dias sem estar imersa na letargia do sono, e estando um pouco perto  de Jesus bendito, dando-nos mutuamente um pouco de alívio. Mas quanto temo que me tenha que  lançar outra vez naquele sono tão profundo. Então esta manhã, depois de me haver reconfortado  com o leite que escorria de sua boca ao derramá-la em mim, e eu o reconfortei tirando-lhe a coroa  de espinhos para cravá-la em minha cabeça, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, o decreto dos castigos está assinado, não resta mais que decidir o tempo de sua  execução”.

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3-96

Julho 16, 1900

Os castigos servem para o bem das criaturas.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus não veio. Depois de muito esperar veio e me disse:  (2) “Minha filha, a melhor coisa é pôr-te em Mim e em Meu Querer, então, pondo-te em Mim, e  sendo Eu paz, ainda que visses mandar castigos ficarias em paz, sem sentir perturbação”.  (3) E eu: “Ah Senhor, estás sempre nisso, nos castigos! Acalma-te de uma vez e não castigues  mais! Além disso, não posso me abandonar em seu Querer nisto”.

(4) E Ele acrescentou: “Não posso me aplacar. O que dirias se visses uma pessoa nua, que, em  vez de cobrir a sua nudez, prestasse atenção a adornar-se com bagatelas, deixando as partes  mais íntimas expostas à nudez?”

(5) E eu: “Ficaria horrorizado de vê-la e certamente desaprovaria”.

(6) E Ele: “Pois bem, assim são as almas, nuas de tudo, não têm mais virtudes que cubram. Por  isso é necessário que as golpeie, castigue-as, as despoje, para fazê-las entrar nelas mesmas e  que se fixem na nudez de suas almas, coisa mais necessária que a do corpo. E se isto não fizesse,  prestaria mais atenção às bagatelas, como a pessoa desaprovada por ti, as quais são coisas que  se referem ao corpo e não prestaria atenção à coisa mais essencial, qual é a alma, a que tornaram

se tão monstruosa que não se reconhece mais.

(7) Depois disto parecia-me que tinha na mão uma pequena couraça, que passando-a por detrás  do pescoço me amarrava e depois amarrava o seu a essa mesma corda, e assim fez ao coração e  às mãos, e com isto parecia que me amarrava toda a seu Querer. Tendo feito isso desapareceu.

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3-97

Julho 17, 1900

Luísa dá um alívio a Jesus. Ele o faz considerar os castigos que evita.

(1) Tendo recebido a comunhão, não via segundo o costume o bendito Jesus. Depois de ter  esperado muito, senti-me a sair de mim mesma e encontrei-o. Assim que o vi, ele me disse:  (2) “Filha, eu estava esperando por você para poder descansar um pouco em você, porque eu não  posso mais. Ah, me dê um alívio!”

(3) Imediatamente o tomei em meus braços para satisfazê-lo, e vi que tinha uma chaga profunda  no ombro, que dava compaixão e horror olhá-la. Então por poucos minutos repousou; depois desse  breve repouso vi e a chaga havia quase curado, e entre a maravilha e o espanto, e vendo-o mais  aliviado, tomei coragem e disse-lhe: “Senhor bendito, meu pobre coração está dilacerado pelo  temor de que já não me ame, temo que tenha incorrido em tua indignação e por isso já não vens  como antes e não derramas mais em mim tuas amarguras, e não me dás mais meu bem, qual é o  sofrer, e negando-me isto vem a negar-me a Ti mesmo. Ah, dá a paz a um pobre coração! Diz-me,  garante-me, jura-me, amas-me? Continuas a amar-me?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sim, amo-te”.

(5) E eu: “Como posso ter certeza disso, quando se sabe que uma pessoa é realmente amada Tudo o que quer recebe? Eu te digo: “não castigues as nações”, e Tu as castigas; te digo,  “derrama em mim tuas amarguras”, e não as derramas, mas parece que desta vez avanças

demasiado nos castigos. Então, onde posso me apoiar para saber que você me ama?” (6) E Ele: “Minha filha, você leva em conta os castigos que mando, mas os que economizo não os  leva em conta. Quantos outros castigos teria mandado, quantos mais massacres e mais sangue  teria feito derramar se não levasse em consideração aqueles poucos que me amam, e que Eu amo  com um amor especial?”

(7) Depois disso, parecia que Jesus tomava o caminho para ir aonde aconteciam destroços de  carne humana, e eu, querendo segui-lo, não me foi dado fazê-lo, e com suma amargura minha me  encontrei em mim mesma.

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3-98

Julho 18, 1900

Os pecados das nações caem sobre elas mesmas, formando a sua ruína. (1) Encontrando-me em meu estado habitual, vi meu adorável Jesus todo aflito dentro de meu  coração, e ao mesmo tempo vi muita gente que cometia muitos pecados, estes pecados tomavam  o vôo para mim para vir a ferir a meu amado Senhor até dentro de meu coração, mas Jesus os

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rejeitava de Si, e caíam sobre as mesmas nações, e caindo sobre Elas formavam sua própria ruína,  mudando-se em tantas espécies de flagelos sobre os povos, que dava horror até aos corações  mais duros. Então Jesus, afligindo-se de tudo me disse:

(2) “Minha filha, até onde chega a cegueira dos homens, pois enquanto tentam me ferir a Mim,  ferem-se eles mesmos com suas próprias mãos”.

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3-99

Julho 19, 1900

Luisa oferece-se para sofrer para evitar o sofrimento aos povos.

(1) Esta manhã, depois de ter estado toda a noite e grande parte da manhã esperando a meu  adorável Jesus, Ele não se dignava vir. Então, cansada de esperá-lo, esforcei-me por sair do meu  habitual estado, pensando que já não era Vontade de Deus. Enquanto me esforçava por sair,  estando quase impaciente, meu benigno Jesus moveu-se dentro de meu coração, fazendo-se ver  apenas e olhando-me em silêncio. Impaciente como estava, disse-lhe: “Meu bom Jesus, como és  cruel! Pode-se dar crueldade maior que esta, de abandonar a uma alma em poder do impiedoso  tirano do amor que a faz viver em agonia contínua? ” Oh, como você mudou, de amante para  cruel!” Enquanto dizia isto, diante de mim via muitos membros de gente mutilada, e por isso  acrescentei: “Ah Senhor, quanta carne humana mutilada! Quanta amargura e tristeza! Que pena!  Não teria sido menos cruel se te tivesses satisfeito neste meu corpo, e o tivesses reduzido a tantos  pedaços por quantos pedaços fizeste estes membros? Não era menor mal ver sofrer uma só que a  tantos pobres povos?”

(2) Enquanto dizia isto, Jesus continuava a olhar-me fixamente, como se ficasse ferido, não sei  dizer se também desgostoso, e me disse:

(3) “No entanto é o princípio do jogo, ainda é nada em comparação do que virá”.  (4) Dito isto se escondeu a minha vista, sem poder vê-lo mais, deixando-me em um mar de amarguras.

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3-100

Julho 21, 1900

Necessidade de purgação.

(1) Depois de ter passado um dia adormecida e tão sonolenta que não sabia de mim mesma, e  tendo recebido a comunhão, me senti saindo de mim mesma, e não encontrando o meu único e  sumo Bem, comecei a girar e girar, chegando ao delírio. Enquanto fazia isso, senti uma pessoa  entre os braços, toda noite, sem poder ver quem era, então, não podendo resistir mais rasguei  aquele véu e vi meu suspirado Tudo. Ao vê-lo senti que queria irromper em reclamações e  desatinos, mas Jesus para acabar com minha impaciência e meu delírio me deu um beijo. Esse

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beijo me infundiu a vida, a calma, acabou com minha impaciência, tanto que não soube dizer nada mais. Então, esquecendo todas as minhas misérias, e tendo muitas, lembrei-me das pobres nações  e disse a Jesus: “Apresse-se, livre tantos povos de destroços tão cruéis; vamos juntos àqueles  lugares onde acontecem tais coisas, a fim de que reanimemos e consolemos aqueles pobres  cristãos que se encontram em estado tão triste”. (

2) E Ele: “Minha filha, não quero levar-te porque teu coração não resistiria ver matança tão  dilacerante”.

(3) E eu: “Ah Senhor, como foi que permitiste isto?”

(4) E Ele: “É absolutamente necessário para a purga em todas as partes, porque no campo  semeado por Mim cresceram tanto as ervas daninhas, os espinhos, que se fizeram árvores, e estas  árvores espinhosas não fazem outra coisa senão inundar meu campo de águas venenosas e  pestilentas, que se alguma espiga se mantém intacta, não recebe outra coisa senão picadas e  fetidez, tanto que não podem germinar outras espigas, primeiro porque lhes falta o terreno,  ocupado por tantas plantas nocivas; segundo, pelos contínuos furos que recebem que não lhes dão  paz. Eis a necessidade da matança, para extirpar tantas plantas más, e o derramamento de  sangue para purgar meu campo das águas venenosas e pestilentas. Por isso não te queiras  entristecer ao princípio, porque não só onde já ordenei os flagelos, mas em todas as outras partes  se necessita a purga”.

(5) Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ouvir este falar de Jesus? Então de novo  insisti que queria ir ver, mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu ficando sozinha  tomei o caminho para ir, mas agora encontrava um anjo que me fazia retroceder, e agora a almas  purgantes, tanto que fui obrigada a retornar em mim mesma.

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3-101

Julho 25, 1900

Em Jesus não há crueldade alguma, senão que tudo é amor. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me fez ver uma máquina onde parecia que muitos  membros humanos foram esmagados, e no ar como dois sinais de castigos que davam terror.  Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ver tudo isto? Mas o bendito Jesus, vendo me tão amarga, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemo-nos por um pouco daquilo que tanto nos aflige e interroguemo-nos com  brincar um pouco juntos”.

(3) Quem pode dizer o que aconteceu entre Jesus e eu neste jogo, as finezas de amor, as  estratagemas, os beijos, as carícias que reciprocamente nos dávamos? Se bem que me  ultrapassava meu amado Jesus, porque eu, sendo débil, me sentia desfalecer, tão é verdade que

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não podendo conter em mim o que Ele me dava tenho dito: “Meu amado, basta, basta, que não  posso mais, eu desfaço, meu pobre coração não é tão grande para ser capaz de receber tanto, por  isso basta por agora”.

(4) Então, querendo me reprovar por falar do outro dia, docemente me disse: (5) “Dizei-me as vossas querelas, dizei-o, dizei-o, sou cruel? O meu Amor para convosco mudou  em crueldade?”

(6) E eu envergonhando-me de tudo disse: “Não Senhor, não és cruel quando vens, mas quando  não vens, então direi que és cruel”.

(7) E Ele sorrindo diante de minhas palavras acrescentou:

(8) “No entanto, você continua dizendo que quando eu não venho eu sou cruel, não, não, em Mim  não pode haver nenhuma crueldade, mas tudo é amor; e você deve saber que se é como você diz,  então o mesmo ser cruel, é amor maior”.

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3-102

Julho 27, 1900

Veja os ataques à Igreja na guerra da China. 

(1) Encontrava-me toda preocupada por meu miserável estado, especialmente de que este não  fosse mais Vontade de Deus, considerando como sinal certo o escasso sofrer e suas contínuas  privações. Enquanto estava consumindo meu pequeno cérebro nisto e esforçando-me em sair  deste estado, meu sempre bom Jesus, como relâmpago se fez ver dizendo-me:

(2) “Minha filha, o que queres que eu faça? Diga-me, Eu farei o que você quer”.  (3) Ante esta proposta tão inesperada não soube o que dizer, sentia tal confusão de que o bendito  Jesus deveria fazer o que eu queria, enquanto que sou eu a que deve fazer o que Ele quer, que  fiquei muda. Então, ao ver que eu não dizia nada, como relâmpago fugiu, e eu, correndo atrás  dessa luz me encontrei fora de mim mesma, mas não o encontrei e girei pela terra, pelo céu, pelas  estrelas, e agora o chamava com a voz, e agora com o canto, pensando entre mim que o bendito  Jesus ao ouvir minha voz e meu canto ficaria ferido e com certeza o encontraria. Agora, enquanto  girava, vi a matança cruel que se continua a fazer na guerra da China, as igrejas demolidas, as  imagens de Nosso Senhor lançadas por terra, e isto é nada ainda, o que me deu mais espanto foi  ver que se agora o fazem os bárbaros, os leigos, depois o farão os falsos religiosos, que  desmascarando e fazendo-se conhecer quem são, unindo-se com os inimigos abertos da Igreja,  darão tal assalto, que parece incrível à mente humana. ¡ Oh, quantas mortes mais cruéis ainda!  Parece que eles juraram entre eles terminar com a Igreja. Mas o Senhor tomará vingança deles  destruindo-os, por isso, sangue por uma parte e sangue pela outra. Então me encontrei dentro de  um jardim que me parecia que era a Igreja, e dentro havia uma multidão de gente sob o aspecto de

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dragões, de víboras e de outros animais enfurecidos, que, devastando aquele jardim e logo saindo  dele, formavam a ruína das nações. Enquanto via isto encontrei o meu amado Senhor nos meus  braços e disse-lhe: “Finalmente deixaste-te encontrar, és tu verdadeiramente o meu amado  Jesus?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sou teu Jesus”.

(5) Eu queria dizer-lhe que livrasse tantas pessoas, mas Ele não me fazendo caso, todo aflito  acrescentou:

(6) “Minha filha, estou bastante cansado, vamos para a cama descansar se queres que me  entretenha contigo”.

(7) E eu, temendo que fosse embora fiz silêncio, fazendo-o dormir. Logo depois reentrado em meu  interior, deixando-me reanimada, sim, mas extremamente aflita.

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3-103

Julho 30, 1900

Luisa detém a espada da Justiça. 

(1) Passei uma noite e um dia inquieto. Desde o princípio me sentia saindo de mim mesma, sem  que pudesse encontrar a meu adorável Jesus; não via mais que coisas que me davam terror e  espanto. Via que na Itália se levantava um fogo e outro que se levantava na China, que pouco a  pouco, unindo-se, se confundiam num só. Neste fogo via o rei da Itália, morto subitamente por  engano, e isto era como que um meio para avivar e engrandecer o fogo. Em suma, via uma  rebelião, um tumulto, uma matança de pessoas. Tendo visto estas coisas senti-me em mim  mesma, e sentia rasgar-me a alma, até me sentir morrer, muito mais que não via a minha adorável  Jesus. Depois de muito esperar se fez ver com uma espada na mão em ato de usá-la sobre as  nações. Eu, toda assustada e sendo um pouco atrevida, peguei a espada com a mão e disse-lhe:  “Senhor, que fazes? Não vê quantas aflições acontecerão se usar esta espada? O que mais me  aflige é que vejo que toma no meio da Itália. Ah Senhor, se apresse! Tenha piedade de suas  imagens! E se você diz que me ama, poupe-me desta terrível dor”. E enquanto isso dizia, detinha a  espada com toda a força que podia. Jesus, dando um suspiro, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, deixa-a, deixa-a cair sobre as nações, porque não posso mais”.  (3) E eu a tomando mais forte: “Não posso deixá-la, não tenho coragem para fazê-lo”.  (4) E Ele: “Não te disse muitas vezes, que sou obrigado a não te fazer ver nada, de outra maneira  não sou livre de fazer o que quero”.

(5) E enquanto isso dizia baixou o braço com a espada e pôs-se em atitude de acalmar-se de sua  ira. Pouco depois desapareceu e eu fiquei com um certo temor, quem sabe e talvez sem me deixar  ver me puxasse a espada e a usasse sobre as pessoas. Oh Deus, que angústia ao só me lembrar!

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Agosto 1, 1900

A Humanidade de Jesus é o espelho da Divindade. Castigos.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo poucas vezes e por pouco tempo. Esta manhã me sentia  toda aniquilada e quase não me atrevia a ir em busca do meu sumo Bem; mas Ele sempre benigno  veio, e querendo me infundir confiança me disse:

(2) “Minha filha, diante de minha Majestade e pureza não há quem possa estar de frente, mas  todos estão obrigados a estar por terra e golpeados pelo fulgor de minha Santidade. O homem  gostaria de quase fugir de Mim, porque é tal e tanta sua miséria, que não tem coragem para  sustentar-se diante do Ser Divino. Então fazendo uso de minha misericórdia assumi minha  Humanidade, a que atenuando os raios da Divindade, é meio para infundir confiança e ânimo ao  homem para vir a Mim, o qual pondo-se de frente a minha Humanidade, que expande raios  atenuados da Divindade tem o bem de poder purificar-se, santificar e até divinizar em minha  própria Humanidade divinizada. Por isso tu estás sempre de frente para a minha humanidade,  tendo-a como espelho no qual purificarás todas as tuas manchas; e não somente isto, mas como  espelho no qual, refletindo, adquirirás a beleza, e pouco a pouco irás adornando-te à semelhança  de Mim mesmo, porque é propriedade do espelho fazer aparecer dentro de si a imagem similar  àquela de quem se olha nele; se assim é o espelho material, muito mais é o divino, porque minha  Humanidade serve ao homem como espelho para olhar para a minha Divindade. Eis por que todos  os bens para o homem derivam da minha Humanidade”.

(3) Ao dizer isto, senti-me confiante, que me veio o pensamento de querer falar-lhe dos castigos,  talvez me ouvisse e fizesse a tentativa de o aplacar completamente. Mas enquanto me dispus a  isto, como raio desapareceu, e minha alma correndo atrás dele se encontrou fora de mim mesma;  mas não o pude reencontrar mais, e com grande amargura minha vi muitas pessoas que iam às  prisões, a outros sectários que saíam para atentar contra outras vidas de reis e de outros chefes;  Via que se consumiam de raiva porque lhes falta o meio para sair entre os povos e fazer matança,  sem dúvida chegará seu tempo. Depois disso eu me encontrei em mim mesma, toda oprimida e  aflita.

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3-105

Agosto 3, 1900

Deus trabalha apenas sobre o nada. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, eu estava desejando e procurando o meu amante  Jesus. Depois de haver esperado longamente, veio e me disse:

(2) “Minha filha, por que me procuras fora de ti, enquanto poderias encontrar-me mais facilmente

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dentro de ti? Quando você quiser me encontrar entre em você, chegue até seu nada e aí, sem  você, no brevíssimo giro de seu nada descobrirá os alicerces que pôs em você e as construções  que levantou em você o Ser Divino. Esforce-se e vá”.

(3) Eu olhei e vi os sólidos alicerces e os muros altíssimos que chegavam até o céu, mas o que  mais me surpreendia era que via que o Senhor tinha feito este grande trabalho sobre meu nada, e  os muros estavam todos fechados, sem nenhuma abertura. Via-se apenas no teto uma abertura  que correspondia ao Céu, e nesta abertura residia nosso Senhor, sobre uma coluna estável que  sobressaía dos alicerces formados sobre o nada. Agora, enquanto estava toda assombrada  olhando, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Os fundamentos formados no nada significam que a mão divina trabalha ali, onde está o nada,  e jamais mistura suas obras com as obras materiais. Os muros sem abertura ao redor, significam  que a alma não deve ter nenhuma correspondência com as coisas terrenas, tanto, que não haja  nenhum perigo que possa entrar nem sequer um pouco de pó, porque tudo está bem fechado. A  única correspondência que estes muros dão é para o Céu, isto é, do nada ao Céu, e do Céu ao  nada, este é o significado da abertura feita no teto. A estabilidade da coluna significa que a alma  está tão estável no bem, que não há vento contrário que a possa mover. E eu que resido sobre  esta, é verdade que a obra feita é toda divina”.

(5) Quem pode dizer o que compreendia sobre isto? Mas minha mente se perde e não sabe dizer  nada. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória e honra.

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3-106

Agosto 9, 1900

Tudo o que se quer e deseja, deve-se querer e desejar porque Deus o quer.  (1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de esperá-lo muito, assim que se fez ver  me disse:

(2) “Assim como um instrumento musical soa agradável ao ouvido de quem o escuta, assim seus  desejos, suas esperas, seus suspiros, suas lágrimas, ressoam a meu ouvido como uma música das  mais agradáveis. Mas para fazer com que desça mais doce e agradável, quero ensinar-te outro  modo, isto é, desejar-me não como desejo teu, mas como desejo meu, porque Eu amo  grandemente manifestar-me contigo. Em suma, tudo o que você quer e deseja, você deve querer e  desejar porque eu quero Eu, isto é, levá-lo de dentro de Mim e torná-lo seu. Assim será mais

agradável tua música a meu ouvido, porque é música saída de Mim mesmo”.  (3) Depois ele adicionou: “Tudo o que sai de Mim entra em Mim, é por isso que os homens se  lamentam que não obtêm tão facilmente o que me pedem, porque não são coisas que saem de Mim, e não sendo coisas que saem de Mim, não é tão fácil que entrem em Mim e saiam depois

para dar-se a eles, porque sai de mim e entra em mim tudo o que é santo, puro e celestial. Então

por que se surpreender se a audiência está fechada se o que pedem não é assim? Por isso você

tenha em mente que tudo o que sai de Deus entra em Deus”.

(4) Quem pode dizer o que compreendia sobre estas palavras? Mas não tenho palavras para me

poder explicar. ¡ Ah Senhor, dá-me a graça de que possa pedir tudo o que é santo e que seja

desejo e Vontade tua, assim poderás comunicar-te comigo mais abundantemente!

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3-107

Agosto 19, 1900

O amor estéril e o amor obrante

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu amado Jesus fez-se ver em ato de querer

instruir-me, e pondo como um exemplo me disse:

(2) “Minha filha, se um jovem tomasse esposa, e ela, levada de amor a ele, quisesse estar sempre

junto a ele, sem separar-se nem um momento, sem prestar atenção às outras coisas que

correspondem a uma esposa para fazer feliz a este jovem, o que diria ele? Agradeceria o amor

dela, mas certamente não estaria contente de sua conduta, porque este modo de amar não seria

mais que um amor estéril, infecundo, que causaria dano a esse pobre jovem em vez de bem, e

pouco a pouco este estranho amor produziria incômodo em vez de gosto, porque toda a satisfação

deste amor é da jovem. E como o amor estéril não tem lenha para fomentar o fogo, muito logo se

reduziria a cinzas, porque só o amor obrante é duradouro, os demais amores, como fumaça se

dissipam no ar, e depois se chega ao aborrecimento, a não levar em conta e talvez a desprezar o

que tanto se amava.

(3) Assim é a conduta das almas que prestam atenção somente a si mesmas, isto é, à sua

satisfação, aos fervores e a tudo o que lhes agrada, dizendo que isto é amor por Mim, enquanto

tudo é satisfação delas, porque se vê com os fatos que não põem atenção aos meus interesses e

às coisas que me pertencem, e se chega a faltar o que lhes satisfaz, não põem mais atenção de

Mim, e chegam até a me ofender. Ah! filha, só o amor obrante é o que distingue os verdadeiros

dos falsos amantes, porque todo o resto é fumaça”.

(4) Enquanto dizia isto, via pessoas e como se eu quisesse prestar atenção a elas, mas Jesus

distraiu-me ao dizer-me:

(5) “Não queiras intrometer-te nos atos alheios, deixemo-los fazer, porque cada coisa tem o seu

tempo. Quando for o tempo do juízo, então será o tempo de discernir todas as coisas, porque criá-

las muito bem virá a conhecer o grão, as palhas e a semente estéril e nociva. Oh, quantas coisas

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que parecem grão se encontrarão naquele dia como palhas e sementes estéreis, dignas só de

serem lançadas ao fogo!”

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3-108

Agosto 20, 1900

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então depois de muito esperar, quando meu pobre

coração não podia mais, fez-se ver desde dentro de meu interior e me disse:

(2) “Minha filha, não queiras afligir-te porque não me vês, porque estou dentro de ti, e daqui, por

meio de ti estou vendo o mundo”.

(3) Depois continuou a fazer-se ver de vez em quando, sem me dizer mais nada.

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3-109

Agosto 24, 1900

Tudo se torna bem para quem verdadeiramente ama a Jesus.

(1) Tendo passado um dia inquieta, sentia-me toda cheia de tentações e pecados. Oh! Meu Deus,

que pena te ofender! Fazia quanto mais podia por estar em Deus, por me resignar a seu santo

Querer, para oferecer por amor seu esse mesmo estado inquieto, para não lhe pôr atenção ao

inimigo mostrando-me com suma indiferença, a fim de que não o incitasse eu mesma a me tentar

maioritariamente, mas com tudo isto não podia fazer menos que ouvir o murmúrio que o inimigo

suscitava ao meu redor. Então, encontrando-me em meu habitual estado, não me atrevia a desejar

ao meu amado Jesus, tão feia e miserável me via. Mas Ele sempre benigno com esta pecadora,

sem que eu o pedisse veio, e como se compadecia de mim, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas. Não sabe você que certas águas frias e impetuosas são mais

potentes para purificar de qualquer mancha mínima que o mesmo fogo? E além disso, tudo se

converte em bem para quem verdadeiramente me ama”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me reanimada, sim, mas fraca, como se tivesse sofrido uma

febre.

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3-110

Agosto 30, 1900

Luisa vai ao purgatório para aliviar o falecido rei da Itália.

(1) Havendo passado alguns dias de privação e de amargura, em que no máximo vi Jesus alguma

vez como sombra e relâmpago. Esta manhã encontrei-me no máximo da amargura, e não só isso,

senão como se tivesse perdido a esperança de voltar a vê-lo. Depois de ter recebido a comunhão

me parecia que o confessor colocava a intenção da crucificação, então o bendito Jesus para fazer-

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me obedecer se mostrou e me participou suas penas. Enquanto isso, vi a Rainha Mãe, que me

tomando me oferecia a Ele a fim de que se acalmasse. E Jesus, tendo consideração da Mãe,

aceitou o oferecimento e parecia que se acalmava um pouco. Depois disto, a Mãe Rainha me

disse:

(2) “Queres ir ao purgatório para aliviar o rei das penas horríveis em que se encontra?”

(3) E eu: “Minha mãe, como Tu quiseres”.

(4) Num instante me tomou, e me transportou a um lugar de suplícios atrozes, todos mortais. Ali

estava aquele miserável, que de um suplício passava ao outro, parecia que por quantas almas se

haviam perdido por sua causa, outras tantas mortes ele devia sofrer. Então, depois de ter passado

eu por alguns daqueles suplícios, ele ficou um pouco mais aliviado e a Mamãe Rainha me tirou

desse lugar de penas e me encontrei em mim mesma.

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3-111

Agosto 31, 1900

Nas almas interiores não pode estar a perturbação.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual e não vindo meu adorável Jesus, estava toda afligida

e um pouco pensativa sobre o por que não vinha. Depois de muito esperar e esperar veio, e vendo

que de suas mãos brotava sangue, pedi-lhe que de sua mão esquerda derramasse sangue sobre o

mundo em proveito dos pecadores que estavam para morrer e em perigo de se perder, e da mão

direita que derramasse o seu sangue no purgatório; e Ele, ouvindo-me com brandura, sacudiu e

derramou o seu sangue sobre uma e outra parte. Depois disto me disse:

(2) “Minha filha, nas almas interiores não pode estar a perturbação, e se esta entra é porque a alma

sai de si mesma, e fazendo isto faz de verdugo a si mesma, porque saindo fora dela se apega a

tantas coisas que vê e que não são Deus, e às vezes nem sequer coisas que se referem ao

verdadeiro bem da alma, por isso regressando em si mesma e levando coisas que lhe são

estranhas, tortura-se por si mesma e com isto vem a adoecer a si mesma e à graça. Por isso,

esteja sempre em você mesma e estará sempre em calma”.

(3) Quem pode dizer como compreendia com clareza, e como encontrava a verdade nestas

palavras de Jesus? Ah Senhor, se te dignas instruir-me, dá-me graça para aproveitar teus santos

ensinamentos, de outra maneira tudo será para minha condenação!

+ + + +

3-112

Setembro 1, 1900

A obediência põe a paz entre Deus e a alma.

(1) Continuando Jesus sem vir, estava eu dizendo: “Meu bom Jesus, vem, não me faças esperar

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tanto, esta manhã não tenho vontade de me inquietar e de te buscar até chegar a cansar-me. Vem

de uma vez, logo, pronto, assim, pela boa”. E vendo que não vinha continuava dizendo: “Vê-se que

queres que me canse e que chegue até me inquietar, de outra maneira não vens”.

(2) Enquanto isso e outros desatinos dizia, Jesus veio e me disse:

(3) “Você me saberia dizer o que mantém a correspondência entre a alma e Deus?”

(4) E eu, mas sempre com uma luz que vinha dele eu disse: “A oração”.

(5) E Jesus, aprovando o que eu disse, acrescentou: “Mas o que atrai Deus a conversas familiares

com a alma?”

(6) E eu não sabia responder, mas logo a luz se moveu em minha inteligência e disse: “Se a oração

vocal serve para manter a correspondência, certamente a meditação interior deve servir de

alimento para manter a conversa entre Deus e a alma”.

(7) Ele, contente com isto, respondeu: “Agora, saberias tu dizer-me quem quebra as doces

controvérsias, quem tira os amorosos zangados que podem surgir entre Deus e a alma?”

(8) E eu ao não responder, Ele mesmo disse:

(9)”Minha filha, só a obediência tem este ofício, porque ela sozinha decide as coisas relacionadas

entre a alma e Eu, e surgindo controvérsias, ou algum enfado para mortificar a alma, ao chegar a

obediência rompe as contendas, tira as zangas e põe paz entre Deus e a alma”.

(10) E eu: “Ah! Senhor, muitas vezes parece que tampouco a obediência quer tomar o incômodo e

fica indiferente, e a pobre alma é obrigada a estar naquele estado de controvérsias e de raiva”.

(11) E Jesus: “Isto o faz por um certo tempo, querendo também ela agradar-se em assistir a essas

amáveis controvérsias, mas depois toma seu ofício e pacifica tudo. Assim, a obediência coloca a

paz entre a alma e Deus”.

(12) Dito isto, desapareceu.

+ + + +

3-113

Setembro 4, 1900

A impureza e as boas obras feitas imperfeitamente,

são alimento repugnante para Jesus.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma,

fazendo-me parecer extremamente aflito e amargo. Então lhe pedi que derramasse em mim suas

amarguras, mas Jesus não me dava ouvidos, mas insistindo, depois de muito tempo se agradou

em derramá-las. Depois de ter derramado um pouco de amargura lhe perguntei: “Senhor, não te

sentes melhor agora?”

(2) E Ele: “Sim, mas não foi o que derramei que me causou tanta pena, mas um alimento

nauseante e insípido que não me deixa repousar”.

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(3) E eu: “Derrama um pouco em mim, assim te aliviarás um pouco”.

(4) E Ele: “Se não posso digeri-lo e suportá-lo Eu, como o poderás tu?”

(5) E eu: “Sei que a minha fraqueza é grande, mas Tu me darás graça e força, e assim terei êxito

em contê-lo em mim”. Compreendia que esse alimento nauseante eram as impurezas, o insípido,

as boas obras mal feitas, todas deterioradas, que a Nosso Senhor são bem de aborrecimento, de

peso e quase desdenha recebê-las, porque não podendo suportá-las quer atirá-las de sua boca.

Quem sabe quantas das minhas estavam ali! Então, como obrigado por mim derramou também um

pouco daquele alimento. Quanta razão tinha Jesus, que era mais tolerável o amargo que aquele

alimento nauseante e insípido! ” Se não fosse por seu amor, a nenhum custo o teria aceitado!

(6) Depois disto, o bendito Jesus pôs-me o braço atrás do pescoço, e apoiando a sua cabeça sobre

o meu ombro pôs-se em atitude de repousar. Enquanto repousava encontrei-me num lugar onde

havia por piso muitas tábuas móveis, e abaixo o abismo. Eu, temendo precipitar-me, despertei-o,

invocando a sua ajuda, e Ele disse-me:

(7) “Não temas, é o caminho que todos percorrem. Não é preciso outra coisa que toda a atenção, e

como a maior parte caminham distraídos, esta é a causa pela qual muitos se precipitam ao abismo,

e poucos são o que chegam ao porto da salvação”.

(8) Depois disto desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma.

Graças a Deus!

Nihil obstat

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Bispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

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I.M.I.

1 de Novembro de 1899

Purificação da Igreja. As almas vítimas são o seu sustento

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma igreja, e ali estava um sacerdote que celebrava o divino sacrifício, e enquanto isso fazia chorava amargamente e dizia: “A coluna da minha Igreja não tem onde apoiar-se”.

(2) No momento em que dizia isto vi uma coluna, cujo cume tocava o céu, e abaixo desta coluna estavam sacerdotes, bispos, cardeais e todas as outras dignidades que sustentavam essa coluna, mas com minha surpresa, ao olhar vi que destas pessoas, quem era muito fraco, quem era meio acabado, quem era doente, quem era cheio de lama; escassíssimo era o número daqueles que se encontravam em estado de sustentá-la, assim que esta pobre coluna, tantas eram as sacudidas que recebia por baixo, que cambaleava sem poder estar firme. Até acima desta coluna estava o Santo Padre, que com correntes de ouro e com os raios que despedia de toda sua pessoa, fazia quanto mais podia para sustentá-la, para acorrentar e iluminar as pessoas que moravam na parte baixa, Embora alguma escapasse para ter mais oportunidade de degradar-se e enlamear-se , e não só a estas pessoas mas que tratava de atar e iluminar a todo o mundo.

(3) Enquanto eu via isto, aquele sacerdote que celebrava a missa (embora tenha dúvidas se e sacerdote ou Nosso Senhor, parece-me que era Ele, mas não sei dizer com certeza), chamou-me junto a Ele e disse-me:

(4) “Minha filha, olha em que estado lamentável se encontra minha Igreja, as mesmas pessoas que deviam sustentá-la, desfalecem, e com suas obras a abatem, golpeiam-na, e chegam a denegri-la. O único remédio é que faça derramar tanto sangue, até formar um banho para poder lavar esse purulento lodo e curar suas profundas chagas, para que sanadas, reforçadas, embelezadas por esse sangue, possam ser instrumentos hábeis para mantê-la estável e firme”. Depois acrescentou: “Chamei-te para te dizer: Queres tu ser vítima e assim ser como uma escora para segurar esta coluna em tempos tão incorrigíveis?”.

(5) Eu, em princípio, senti um arrepio correr por medo, e porque possivelmente não teria a força, mas logo me ofereci e pronunciei o Fiat. Enquanto estava nisto, encontrei-me rodeada por muitos santos, anjos e almas purgantes que com flagelos e outros instrumentos me atormentavam; e eu, embora no princípio sentisse temor, mas depois, quanto mais sofria, tanto mais me vinha o desejo de sofrer e saboreava o sofrer, como um dulcíssimo néctar. E muito mais porque me veio um pensamento: “Quem sabe se essas penas pudessem ser meios para consumir a vida, e assim poder empreender o último vôo para meu sumo e único Bem”. Mas com muita pena, depois de ter sofrido acerbas penas, vi que essas penas não me consumiam a vida. Ó Deus, que pena, que esta frágil carne me impeça de unir-me com meu Bem Eterno!

(6) Depois disto, vi o massacre sangrento que se fazia daquelas pessoas que estavam debaixo da coluna. Que horrível catástrofe! Escassíssimo era o número dos que não caíam vítimas, chegavam a tal atrevimento, que tentavam matar o Santo Padre. Mas depois parecia que aquele sangue derramado, aquelas sangrentas vítimas destroçadas, eram meios para fazer fortes aqueles que ficavam, de modo que sustentavam a coluna sem fazê-la balançar mais. ” Oh, que dias felizes!. Depois disso despontavam dias de triunfos e de paz, a face da terra parecia renovada, a coluna adquiria seu primeiro brilho e esplendor. ¡ Oh dias felizes, de longe eu vos saúdo, pois tanta glória dareis à Igreja e tanto honra a Deus que é sua Cabeça!

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03 de Novembro de  1899

 Jesus entretenimento com Luisa.

(1) Esta manhã meu amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, dentro de uma igreja e desapareceu, e eu fiquei sozinha. Agora, encontrando-me diante da presença do Santíssimo Sacramento, fiz a minha habitual adoração, mas enquanto fazia isto, parecia que me tinha virado todos os olhos para ver se podia descobrir o meu doce Jesus. Enquanto estava nisto, vi-o sobre o altar, como criança, que me chamava com sua graciosa mãozinha. Quem pode dizer o meu contentamento?

Voei a Ele, e sem pensar em outra coisa, o apertei entre meus braços e o beijei, mas no momento de fazer isto tomou um aspecto sério, e mostrava que não lhe agradam meus beijos e começou a me rejeitar. Eu, não levando em conta isto, continuei e lhe disse: “Meu querido, belo, no outro dia Você quis desabafar comigo com beijos e abraços, e eu te dei toda a liberdade; hoje Quero com você desabafar também eu, ah, me dê a liberdade”. Mas Ele continuava me rejeitando, e vendo que eu não cessava desapareceu. Quem pode dizer o quão mortificada e pensativa fiquei ao me encontrar em mim mesma? Mas depois de um pouco voltou, e eu lhe pedia perdão por minhas impertinências; me perdoou querendo Ele desafogar comigo, e enquanto me beijava me disse:

(2) “Amada de meu coração, minha Divindade habita em ti habitualmente, e à medida que tu vais inventando novas coisas para me deleitar contigo, assim Eu, para estar à par, uso novos modos para fazer você se deleitar Comigo”.

(3) Com isso eu entendi que era uma brincadeira que Jesus queria fazer.

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04 de Novembro de 1899

Efeitos diferentes entre a presença de Jesus e a do demônio.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, o demônio tratava de tomar seu aspecto e fazerse ver, mas eu não advertindo os habituais efeitos, comecei a duvidar e persegui-me com a cruz, primeiro eu e depois a ele, e o demônio vendo-se perseguido tremia; Imediatamente o rejeitei de mim sem olhar para ele. Pouco depois veio meu amado Jesus, e temendo que fosse outra vez o espírito maligno, tratava de rechaçá-lo e invocar a ajuda de Jesus e da Rainha Mãe, mas Ele para assegurar-me que não era o demônio me disse:

(2) “Minha filha, para te assegurar se sou Eu, ou não sou Eu, tua atenção deve estar nos efeitos internos, se se movem a virtude ou a vício, já que como minha natureza é virtude, de nenhuma outra Eu faço herdeiros dos meus filhos, mais do que da virtude. Isto você pode compreender também na natureza humana, que sendo carne, acontece que se tem alguma chaga, a carne se muda em pus e se pode dizer que não é mais carne; assim minha natureza, se minimamente pudesse reter em si a sombra do vício, cessaria de ser aquele Deus que é, o que não pode acontecer jamais”.

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06 de Novembro de 1899

Pureza de intenção.

(1) Esta manhã, tendo vindo o adorável Jesus e transportando-me para fora de mim mesma, fezme ver ruas cheias de cadáveres. ¡ Que cruel carnificina! dá horror pensar. Depois fez-me ver que acontecia uma coisa no ar e muitos morriam de improviso; vi isso também no mês de Março. Eu comecei, segundo meu costume, a rogar-lhe que se acalmasse e que livrasse a suas mesmas imagens de suplícios tão cruéis, de guerras tão sangrentas, e como tinha a coroa de espinhos a tirei para que eu a colocasse, e isto para aplacá-lo principalmente; Mas com grande tristeza vi que quase todos os espinhos estavam quebrados na sua cabeça santíssima, de modo que pouco me restava para sofrer a mim. Jesus se mostrava severo; quase sem me prestar atenção o que significava aquilo, para romper esse ar severo que tinha lhe disse: “Dulcíssimo amor meu, te ofereço estes movimentos de meu corpo que Tu mesmo me fizeste e todos os demais que possa eu fazer, com o único fim de te agradar e te glorificar. Ah sim, quero que também os movimentos das pálpebras, os de meus olhos, de meus lábios e de toda eu mesma sejam feitos com o único fim de te agradar só a Ti. Faze, ó bom Jesus, que todos os meus ossos, os meus nervos, ressoem entre eles e com clara voz te atestem o meu amor”.

(2) E Ele me disse: “Tudo o que se faz com a única finalidade de me agradar, resplandece Diante de mim de uma maneira tal, que atrai meus olhares divinos, e me agrada tanto, que a essas ações, embora fossem só um movimento de cílios, lhes dou o valor como se fossem feitas por Mim. Em troca as outras ações, que em si mesmas são boas e ainda grandes, não feitas unicamente para Mim, são como esse ouro enlameado e cheio de ferrugem que não resplandece, e Eu não me digno nem sequer olhá-las”.

(3) E eu: “Ah Senhor, que fácil é que o pó suje nossas ações”.

(4) E Ele: “Não se necessita prestar atenção ao pó, porque este se agita, ao que há que atender é a intenção”.

(5) Agora, enquanto isso se dizia, Jesus se ocupava em atar-me os braços. Eu lhe disse: “Senhor, que fazes?”

(6) E Ele: “Faço isto porque Tu estando na posição da crucificação me aplacas, e como Eu quero punir as pessoas Eu estou amarrando-os a você“.

(7) E disse isso desapareceu.

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10 de Novembro de 1889

A obediência ao confessor.

(1) Depois de ter passado alguns dias em contenda com Jesus, porque eu queria ser desatada e Ele não queria, agora se fazia ver que dormia, agora me impunha silêncio; finalmente esta manhã, enquanto o vi, Via o confessor que me ordenava absolutamente que me fizesse desatar por Jesus, e isto mais de uma vez, mas Jesus não fazia caso, e eu obrigada pela obediência lhe disse: “Meu amável Jesus, quando te opuseste à obediência? Não sou eu que quero ser desatada, é o confessor que quer que me faças sofrer a crucificação, por isso rende-te a esta virtude tão predileta por Ti, que entretém toda a tua vida, e formou o último elo, unindo tudo em um o sacrifício da cruz”.

(2) E Jesus: “Tu queres fazer-me violência tocando-me esse elo que uniu a Divindade e a humanidade, e formou um só elo, que é a obediência”.

(3) E, enquanto isto dizia, assumiu o aspecto de Crucificado e, quase forçado pelo poder sacerdotal, tive a participação das dores da crucificação. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória. Assim parece que fiquei desatada.

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11 de Novembro de 1899

A obediência impede-a de se ajustar à justiça.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e me parecia que girava pela terra. ¡¡ Oh, como estava inundada por todo tipo de iniquidades, dá horror pensar! Agora, enquanto eu girava, cheguei a um ponto e encontrei um sacerdote de vida santa, e em outro ponto uma virgem de vida pura e santa. Nos unimos os três e começamos a falar sobre os tantos castigos que o Senhor está enviando e tantos outros que tem preparados. Eu lhes disse: “E vós, que fazeis? Acaso vos conformastes à divina justiça?” E Ele:

(2) “Vendo a extrema necessidade destes tristes tempos, e que o homem não se renderia nem que viesse um apóstolo, nem se o Senhor enviasse a outro São Vicente Ferrer, que com milagres e sinais portentosas o pudesse induzir à conversão é mais, vendo que o homem chegou a tal obstinação e a uma espécie de loucura, que a mesma força dos milagres o tornaria mais incrédulo, então, obrigados por esta premente necessidade, pelo bem deles e para deter este mar purulento que inunda a face da terra, e para glória do nosso Deus tão ultrajado, conformamo-nos à justiça, só estamos rogando e oferecendo-nos vítimas para fazer que estes castigos sirvam para a conversão dos povos. E tu, que fazes? Não te conformaste conosco?”

(3) E eu: “Ah não, não posso, porque a obediência não quer, embora Jesus queira que me uniforme, mas como a obediência não quer, deve prevalecer sobre tudo, devo estar sempre em oposição com Jesus bendito, o que me aflige muito”.

(4) E Ele: “Quando há obediência, certamente não precisa aderir”.

(5) Depois disto, encontrando-me em mim mesma, assim que vi o amadíssimo Jesus quis saber de que parte eram aquele sacerdote e aquela virgem, e Ele me disse que eram do Peru.

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12 de Novembro de 1899

Luisa evita alguns castigos

(1) Esta manhã, o amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, e via como se eu devesse mover-se do céu uma coisa e tocar a terra. Fiquei tão espantada que gritei e disse: “Ah, Senhor, que fazes? Quanta ruína haverá se isto acontecer. Me diz que me ama muito e quer me assustar, viu, não? não faça, não, não, não pode fazer, porque eu não quero”. E Jesus, compadecendo-me, disse-me:

(2) “Minha filha, não tenhas medo. Além disso, quando queres que eu faça algo? Não devo Deixar-te ver nada quando castigo as pessoas, senão amarras-me por todo o lado. E bem, fortificarei teu coração com força, e farei surgir dele como um tronco para poder manter firme o que tu vês, e depois derramarei em ti tantas graças, de modo de poder me nutrir Eu e meus filhos”.

(3) Enquanto estava nisto saiu de dentro de meu coração como um tronco, e no topo como dois ramos em forma de forquilha, que elevando-se no ar tomava pela metade o que estava por mover-se, e assim ficava detida; só num ponto longínquo parecia que tocava a terra. Depois me encontrei em mim mesma e lhe implorei que se aplacara, e parecia que rendia-se, tanto que me participou as dores da cruz, e desapareceu.

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13 de Novembro de 1889

Jesus sofre ao ver sofrer as criaturas. Luisa se oferece para consolá-lo.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus parecia inquieto, não fazia outra coisa que ir e vir, agora se entretia comigo, agora quase atraído por seu ardente amor pelas criaturas ia ver o que faziam, e tudo se lamentava pelo que sofriam, como se Ele mesmo e não elas estivesse sofrendo. Muitas vezes vi o confessor, que com seu poder sacerdotal obrigava Jesus a fazer-me sofrer suas penas para poder aplacá-lo, e Ele, enquanto parecia que não queria ser aplacado, depois mostrava-se contente e agradecia de coração a quem se ocupava em sustentar seu braço indignado, e agora me participava um sofrimento e agora outro. Oh, como era terno e comovedor vê-lo neste estado! Fazia destroçar o coração de compaixão. Muitas vezes me disse:

(2) “Conforme-se a minha Justiça, que não posso mais. Ah! o homem é muito ingrato e quase me obriga por toda parte a castigá-lo, arranca-me ele mesmo das minhas mãos os castigos. Se você soubesse quanto sofro ao fazer uso de minha justiça, mas é o próprio homem que me faz violência! Ah! se não tivesse feito outra coisa que comprar a preço de sangue sua liberdade, mesmo assim deveria ser agradecido Comigo; mas o homem, para me fazer maior agravo vai inventando novas maneiras para fazer inútil meu desembolso”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente, e eu para consolá-lo eu disse: “Doce Bem meu, não te aflijas, vejo que a tua aflição é maior porque te sentes obrigado a punir as pessoas. Ah não, não seja jamais! Se Tu és tudo para mim, eu quero ser toda para Ti, assim que sobre mim manda os flagelos, aqui está a vítima sempre disposta e à tua disposição, podes fazer-me sofrer o que 10 quiseres e assim ficará tua justiça de algum modo aplacada, e Tu aliviado da aflição que sentes ao ver as criaturas sofrerem. Foi sempre esta a minha intenção ao não me conformar à justiça, porque sofrendo o homem sofrerás mais Tu do que Ele mesmo”.

(4) Enquanto isso eu estava dizendo que a nossa Rainha Mãe veio, e eu me lembrei que, tendo pedido ao confessor a obediência de me conformar com a justiça, ele tinha me dito para perguntar à Virgem Santíssima se eu queria me uniformizar. Eu disse-lhe e ela disse-me: “Não, não, reza antes minha filha, e nestes dias trata por quanto mais possas ter a Jesus junto contigo e aplacá-lo, porque muitos castigos estão preparados”.

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17 de Novembro de 1899

O poder sacerdotal deve coincidir com a vítima.

(1) Continua meu amável Jesus fazendo-se ver afligido. Esta manhã junto com Ele veio a nossa Rainha Mãe, e me parecia que Ela me trazia a fim de que o aplacasse e lhe rogasse junto com Ela que me fizesse sofrer a mim para livrar as pessoas, e me disse que se nestes dias passados não me tivesse interposta, e o confessor não tivesse feito uso do poder sacerdotal para concorrer com as suas intenções de me fazer sofrer, muitas catástrofes teriam acontecido. Enquanto eu estava nisto, vi o confessor, e eu imediatamente implorei por ele a Jesus e à Rainha Mãe, e Jesus disse todas as benignidades:

(2) “À medida que eu levar em conta os meus interesses, com o pedir-me e também com empenho em renovar a intenção de te fazer sofrer, a fim de livrar as nações, assim tomarei cuidado dele e o livrarei. Eu estaria disposto a fazer este pacto com ele”.

(3) Depois disto fiz por olhar para o meu doce e único Bem, e vi que em suas mãos tinha dois raios, em um continha como preparado um forte terremoto e uma guerra; no outro muitos tipos de mortes imprevistas e doenças contagiosas. Eu comecei a rogar-lhe que jogasse sobre mim aqueles raios, e quase os queria tirar de suas mãos, mas Ele para não me deixar chegar a isto, começou a afastar-se de mim, eu procurava segui-lo e por isso encontrei-me fora de mim mesma; Jesus desapareceu e eu fiquei sozinha.

(4) Agora, encontrando-me sozinha virei um pouco e cheguei a um lugar onde nesta estação fazem a ceifa, parecia que ali havia ruídos de guerra e eu queria ir para ajudar a essas pobres gentes, mas os demônios impediam-me de ir aonde estavam por acontecer tais coisas, e me batiam para que não pudesse ajudar, nem tampouco impedir seus artifícios, e usaram tanta força que me fizeram retroceder.

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19 de Novembro de 1899

Males da soberba.

(1) Continua a vir meu adorável Jesus, e como minha mente, antes de que viesse estava pensando em certas coisas que me havia dito em anos passados, e que não recordo bem, Ele, como para me lembrar disse:

(2) “Minha filha, a soberba roe a graça. Nos corações dos soberbos não há outra coisa que um vazio todo cheio de fumaça, que produz a cegueira. A soberba não faz mais que fazer de si mesmo um ídolo, assim que a alma soberba não tem o seu Deus consigo; com o pecado procurou destruílo em seu coração, e levantando um altar nele, se põe em cima e se adora a si mesmo”.

(3) Oh! Deus, que monstro abominável é este vício, a mim me parece que se a alma está atenta a não deixá-lo entrar nela, estará livre de todos os outros vícios, mas se por sua desventura se deixa dominar por ele, como é mãe monstruosa e má, lhe parirá todos seus filhos díscolos, os quais são os outros pecados. Ah Senhor, mantenha-a longe de mim!

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21 de Novembro de 1899

 Jesus quer deleitar-se olhando-se em Luisa, e ela é auxiliada pela Santíssima Virgem

(1) Esta manhã meu caríssimo Jesus, mal veio me disse:

(2) “Minha filha, todo o teu deleite deve ser contemplar-te em Mim, e se isto o fazes sempre, Tomarás em ti todas as minhas qualidades, a minha fisionomia, as minhas próprias linhas, e Eu encontrarei em correspondência todo o meu gosto e sumo contente em deleitar-me olhando-me em ti”.

(3) Dito isto desapareceu, e eu estava ruminando em minha mente essas palavras, quando de improviso voltou, colocou sua santa mão na minha cabeça e voltando minha cara para Ele acrescentou:

(4) “Hoje quero me deleitar um pouco olhando para mim em você”.

(5) Um estremecimento me correu por todo o corpo, um espanto de me sentir morrer porque via que me olhava fixo, fixo, querendo deleitar-se em meus pensamentos, olhares, palavras e em todo o resto, com o contemplar-se em mim.  Oh Deus! Sou causa de deleite ou de amargura? Ia repetindo em meu interior. Enquanto estava nisto veio nossa amada Mãe Rainha em minha ajuda, trazendo uma vestidura branca entre as mãos, e toda amabilidade me disse:

(6) “Filha, não temas, quero suprir Eu mesma por ti vestindo-te com minha inocência, para que assim meu Filho ao contemplar-se em ti possa encontrar o maior deleite que se possa encontrar em uma criatura humana”.

(7) Então vestiu-me com essa vestidura e apresentou-me ao meu amado Bem Jesus dizendo-lhe:

(8) “Amada Filha, aceita-a por consideração a Mim e aceita-te nela”.

(9) Assim me tirou todo temor e Jesus se deleitou em mim e eu Nele.

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24 de Novembro de 1899

Luisa quer receber as amarguras de Jesus.

(1) Esta manhã o meu doce Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma. Agora, como tenho visto tudo cheio de amargura, pedi-lhe e voltei a pedir-lhe que a derramasse em mim, mas, porque lhe roguei, não consegui obter que vertesse em mim suas amarguras, e conforme me aproximava de sua boca para recebê-las saía um hálito amargo. Enquanto fazia isto via um sacerdote que morria, mas não sabia bem quem era, e como tinha a intenção de rezar por um sacerdote doente, não o reconhecendo me confundi se era ele ou algum outro. Então eu disse a Jesus: “Senhor, o que fazes? Não vês quanta falta de sacerdotes há em Corato, e queres tirar-nos outros?” Jesus não me dando atenção e ameaçando com a mão dizia:

(2) “Eu os destruirei demais”.

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26 de Novembro de 1899

Complacência da Santíssima Trindade diante do sofrimento de Luísa.

(1) Encontrando-me no meio de grandes sofrimentos, meu amável Jesus veio e me pôs o braço por detrás do pescoço, em ato de me segurar. Agora, estando perto d’Ele comecei a fazer minhas habituais adorações a todos os seus santos membros, começando por sua sacratíssima cabeça. No momento em que fazia isto, disse-me:

(2) “Amada minha, tenho sede, tira-me a sede com o teu amor, que não resisto mais”.

(3) E tomando aspecto de menino pôs-se em meus braços e pôs-se a mamar, parecia que sentia um gosto grandíssimo e ficava tudo confortado e acalmava sua sede. Depois disto, querendo brincar comigo, com uma lança que tinha na mão me trespassava o coração de lado a lado. Eu sentia uma dor terrível, mas oh! como estava contente de sofrer, especialmente porque eram as mesmas mãos de meu só e único Bem as que me davam o sofrer, e o incitava a me rasgar principalmente, tanto era o gosto e a doçura que eu sentia. E Jesus bendito, para me satisfazer mais, arrancou-me o coração, tomando-o entre as suas mãos, e com essa mesma lança abriu-o pela metade e encontrou uma cruz resplandecente e macia, tomou-a entre as suas mãos agradando-se grandemente e disse-me:

(4) “Esta cruz foi produzida pelo amor e a pureza com que sofres, estou tão contente no modo com que tu sofres, que não só eu, mas eu chamo o Pai e o Espírito Santo para agradar Comigo”. (5) Num instante olhei e vi Três Pessoas que me circundando se deleitavam em olhar esta cruz, mas eu, lamentando-me com Eles disse: (6) “Grande Deus, muito pouco é meu sofrer, não estou contente só com a cruz, senão que quero também os espinhos e os cravos, e se eu não o mereço, porque sou indigna e pecadora, Vós, certamente podeis dar-me as disposições para merecê-lo”.

(7) E Jesus, enviando-me um raio de luz intelectual, fez-me perceber que queria que eu confessasse as minhas culpas. Senti-me aterrorizada ante as Três Divinas Pessoas, mas a Humanidade de Nosso Senhor me inspirava confiança, assim que dirigindo-me a Ele disse o “eu pecador”, e depois comecei a fazer a confissão de minhas culpas. Agora, enquanto me encontrava toda imersa em minha miséria, uma voz saiu do meio deles que dizia: (8) “Te perdoamos, e você, não peque mais”.

(9) Eu esperava receber a absolvição de Nosso Senhor, mas nesse momento desapareceu. (10) Pouco depois voltou crucificado e me participou as dores da cruz.

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27 de Novembro de 1899

A graça faz feliz a alma.

(1) Esta manhã meu amado Jesus não vinha, mas depois de muito esperar, enquanto o Vi me lamentei com Ele por sua demora, dizendo-lhe: “Senhor bendito, como é que demoras tanto , talvez te tenhas esquecido que não posso estar sem Ti? Ou por acaso perdi a tua graça e por isso não vens?” E Ele interrompeu os meus lamentos e disse-me:

(2) “Minha filha, sabes o que faz a minha graça? Minha graça faz feliz a alma dos bem-aventurados compromissados, e torna feliz a alma dos viadores, com esta única diferença, que os compromissados se alegrando e deleitando-se, e os viadores trabalhando e colocando-a em comércio. Assim, quem possui a graça, tem em si mesma o paraíso, porque a graça não é outra coisa que possuir-me a Mim mesmo, e sendo Eu só o objeto encantador que encanta a todo o paraíso e que formo todos os contentos dos bem-aventurados, a alma, possuindo a alma, possuindo a graça, onde quer que se encontre possui o seu paraíso”.

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28 de Novembro de 1899

Luisa aceita sofrer no purgatório para libertar algumas almas.

(1) Meu amado Jesus veio toda afabilidade, parecia-me como um íntimo amigo que tem tantas formalidades para outro amigo para lhe demonstrar seu amor, e as primeiras palavras que me disse foram:

(2) “Amada minha, se tu soubesses quanto te amo. Sinto-me extremamente atraído a amar-te, as minhas próprias demoras em vir forçam-me e são novas causas de me fazer vir e encher-te de novas graças e carismas celestes. Se você pudesse entender o quanto te amo; seu amor comparado com o meu apenas o perceberia.¨

(3) E eu: “Meu doce Jesus, é verdade o que dizes, mas também eu sinto que te amo muito, e se Tu dizes que meu amor comparado com o teu apenas se percebe, isto é porque teu poder é sem limites e o meu é limitado, e por tanto, posso fazer por quanto de Ti mesmo me vem dado; assim é verdade, que quando tenho vontade de sofrer mais para demonstrar-te principalmente meu amor, se Tu não me concedes as penas, não está em meu poder sofrer, e estou obrigada a resignar-me mesmo nisto, e ser esse ser inútil que por mim fui sempre. Mas em Ti está em teu poder o mesmo sofrer, e em qualquer maneira que queiras manifestar-me teu amor, podes fazê-lo. Amado meu, dá-me o poder e te farei ver quanto sei fazer por amor teu, porque na medida em que me dás, nessa mesma medida te darei”.

(4) Ele ouvia com grande prazer o meu falar disparatado, e quase querendo pôr-me à prova me transportou para fora de mim mesma, perto de um lugar profundo, cheio de fogo líquido e tenebroso, dava horror e espanto só de vê-lo. Jesus me disse:

(5) “Aqui está o purgatório, e muitas almas estão concentradas neste fogo. Tu irás a esse lugar a sofrer para libertar aquelas almas que me agradam, e isto o farás por amor meu”.

(6) Eu imediatamente, embora eu tremia um pouco, eu disse: “Tudo por amor de você, eu estou pronta, mas você deve vir Você junto comigo, de outra forma, se você me deixar, não deixá-lo encontrar mais, e então você me faz chorar muito”.

(7) E Ele: “Se vou junto contigo, qual seria o teu purgatório? Essas penas com a minha presença, para ti se trocariam em alegrias e em contentos”.

(8) E eu: “Sozinha não quero ir, e além disso, enquanto estivermos nesse fogo Tu estarás atrás de minhas costas, assim não te vejo e aceitarei este sofrimento”.

(9) Assim fui àquele lugar cheio de trevas, e ele me seguia por trás, e eu, por temor de que me deixasse, lhe tomei as mãos, tendo-as estreitadas aos meus ombros. Tendo chegado abaixo, quem pode dizer as penas que sofriam aquelas almas? Certamente são inenarráveis a pessoas vestidas de humana carne. Então, ao ir eu a esse fogo, este se apagava e se apagavam as trevas, e muitas almas saíam, outras ficavam aliviadas. Depois de ter estado perto de um quarto de hora, saímos, e Jesus se lamentava, e eu rapidamente lhe disse: “Diz-me meu Bem, por que te lamentas? Minha querida vida, talvez tenha sido eu a causa porque não quis ir sozinha a esse lugar de penas? Diga-me, diga-me, sofreu muito ao ver essas almas sofrerem? O que você sente?”

(10) E Jesus: “Minha querida, sinto-me todo cheio de amarguras, tanto, que não as posso conter mais, estou prestes a derramá-las sobre a terra”.

(11) E eu: “Não, não meu doce amor, derramarás em mim, não é verdade?” E aproximando-me de sua boca derramou um licor amargo, em tanta abundância que eu não podia contê-lo, e lhe pedia a Ele mesmo que me desse a força para o sustentar, de outra maneira, o que não havia deixado fazer a Nosso Senhor teria feito eu, derramá-lo sobre a terra, e fazer isto me incomodava muito; porém parece que me deu força, se bem que fossem tantos os sofrimentos que me sentia desfalecer, mas Jesus me tomando entre seus braços me sustentava e me dizia:

(12) “Contigo há que ceder por força, te volta tão molesta que me sinto quase com a necessidade de te contentar“.

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30 de Novembro de 1899

Membros doentes e membros sãos no corpo místico de Jesus

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, e desta vez o via no momento quando estava atado à coluna; Ele, desatendo se lançava em meus braços para ser compadecido por mim. Eu o estreitava e começava a arrumar-lhe os cabelos, todos com coágulos de sangue, a secar-lhe os olhos e o rosto, e ao mesmo tempo o beijava e fazia diversos atos de reparação. Quando cheguei às mãos e lhe tirei a corrente, com suma maravilha vi que a cabeça era de Nosso Senhor, mas os membros eram de tantas outras pessoas, especialmente religiosas.  Oh! quantos membros infectados que davam mais trevas do que luz; no lado esquerdo estavam os que davam mais sofrimento a Jesus, se viam membros doentes, cheios de chagas com vermes e profundas, outros que apenas ficavam unidos por um nervo àquele corpo, oh, como se doía e vacilava aquela cabeça divina sobre aqueles membros. Ao lado direito se viam aqueles que eram melhores, isto é, membros sãos, resplandecentes, cobertos de flores e de orvalho celestial, perfumados com fragrâncias, e entre estes membros se descobria algum que desprendia um perfume apagado.

(2) Esta cabeça divina sobre estes membros sofria muito; é verdade que havia membros resplandecentes, que quase se assemelhavam à luz daquela cabeça, que a recriavam e lhe davam grandíssima glória, mas eram em número maior os membros infectados. Jesus, abrindo sua dulcíssima boca me disse:

(3) “Minha filha, quantas dores me dão estes membros! Este corpo que você vê é o corpo místico de minha Igreja, do qual me glorio de ser sua cabeça, mas que cruel rasgo fazem estes membros neste corpo! Eles parecem estar se esgueirando entre eles para ver quem pode me causar mais 16 tormento”.

(4) Ele disse outras coisas que eu não me lembro bem sobre este corpo, por isso ponho ponto.

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02 de Dezembro de 1899

Eloquente elogio da cruz.

(1) Encontrando-me muito aflita por certas coisas que não é lícito dizer aqui, o amável Jesus, querendo aliviar-me na minha aflição veio com um aspecto todo novo, me parecia vestido de cor celeste, todo adornado de sinos pequenos de ouro, que ao baterem umas nas outras ressoavam com um som jamais ouvido. Ante o aspecto de Jesus e o harmonioso som me senti encantar e aliviar em minha aflição, que como fumaça se afastava de mim. Eu teria permanecido ali, em silêncio, tanto me sentia encantar as potências de minha alma, se o bendito Jesus não tivesse rompido meu silêncio ao me dizer:

(2) “Minha querida filha, todos estes sinos são tantas vozes que te falam do meu amor e que te chamam a amar-me. Agora, deixe-me ver quantos sinos você tem, que me falem de seu amor e que me chamem a te amar“.

(3) E eu, toda cheia de vergonha, disse-lhe: “Ah Senhor! Que dizes? Eu não tenho nada, não tenho outra coisa senão defeitos”.

(4) Então Jesus compadecendo-se da minha miséria, continuou a dizer-me:

(5) “Tu não tens nada, é verdade, pois bem, quero adornar-te Eu com os meus sinos, a fim de que possas ter tantas vozes para me chamar e para me demonstrar o teu amor”.

(6) Assim parecia que como uma faixa adornada destes sininhos me apertava a cintura. Depois disto, fiquei em silêncio e Ele acrescentou:

(7) “Hoje quero entreter-me contigo, diz-me alguma coisa“.

(8) E eu: “Você sabe que todo meu contentamento é estar junto Contigo, e tendo-te a Ti tenho tudo, por isso possuindo-te a Ti, parece-me que não tenho outra coisa que desejar, nem que dizer”.

(9) E Jesus: “Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz”.

(10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: “Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz? , só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de  inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da Sabedoria incriada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos; de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá, dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me perdida em Ti e vivo de tua mesma vida”.

(11) Depois de dizer isto, (não sei se são desatinos) meu amável Jesus ao me ouvir, tudo se comprazia e levado por um entusiasmo de amor, toda me beijava e me disse:

(12) “Bravo, bravo a minha amada filha, disse bem. Meu amor é fogo, mas não como fogo terreno que onde quer que penetre tudo o torna estéril e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só esteriliza o que não é virtude, mas a tudo o mais dá vida e faz germinar as belas flores, faz produzir os mais requintados frutos e converte a alma no mais delicioso jardim celestial.

(13) A Cruz é tão poderosa e comuniquei-lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios sacramentos, e isto porque ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem faltar, mas a cruz tem a virtude de dispor a alma à graça”.

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21 de Dezembro 21 de 1899

Luisa fala da virgindade e da pureza

(1) Depois de um longo silêncio, esta manhã o meu amável Jesus, interrompendo-o, disse-me:

(2) “Eu sou o receptáculo das almas puras“.

(3) E nestas suas palavras tive uma luz intelectual que me fazia compreender muitas coisas sobre a pureza, mas pouco ou nada sei pôr em palavras do que ouço no intelecto. Mas a honorável senhora obediência quer que escreva alguma coisa, mesmo desatinando, e para agradá-la direi meus desatinos sobre a pureza.

(4) Parecia-me que a pureza era a gema mais nobre que a alma poderia possuir. A alma que possui a pureza está investida de cândida luz, de modo que Deus bendito, olhando-a encontra sua mesma Imagem, sente-se atraído a amá-la, tanto que chega a apaixonar-se dela, e é tomado por tanto amor que lhe dá por cidade seu puríssimo coração, Porque só o que é puro e puro entra em Deus, nada entra manchado naquele seio puríssimo. A alma que possui a pureza conserva em si seu primeiro esplendor que Deus lhe deu ao criá-la, nada há nela desfigurado, sem nobreza, senão que como rainha que aspira às núpcias do Rei celestial, conserva sua nobreza até que esta nobre flor seja transplantada nos jardins celestiais Oh, como esta flor virginal é perfumada com aroma especial! Eleva-se sempre sobre todas as outras flores, e mesmo sobre os mesmos anjos.  Como se destaca com variadas belezas! Assim, todos são tomados por estima e amor, e livremente todos lhe dão o passo até fazê-la chegar ao Esposo Divino, de modo que o primeiro posto em torno de Nosso Senhor é destas nobres flores. Então Nosso Senhor se deleita grandemente em passear no meio destes lírios que perfumam a terra e o céu, e muito mais se alegra em estar circundado por estes lírios, porque sendo Ele o primeiro nobre lírio e o modelo, é o exemplar de todos os demais. Oh, como é bonito ver uma alma virgem! Seu coração não emite outro alento que de pureza e de candura, nem sequer tem a sombra de outro amor que não seja Deus, também seu corpo exala cheiro de pureza; tudo é puro nela: Pura nos passos, pura no agir, no falar, no olhar, também no mover-se, assim que ao só vê-la se sente a fragrância e se descobre uma alma virgem de verdade. Que carismas, que obrigado, que recíproco amor, que estratagemas amorosos entre esta alma e o Esposo Jesus! Só quem as sente pode dizer alguma coisa, porque nem sequer se pode narrar tudo, e eu não me sinto em dever de falar sobre isto, por isso faço silêncio e passo adiante.

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22 de Dezembro  de 1899

Como Deus nos atrai a amá-lo em três modos, e como em três modos se manifesta à alma.

 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Depois de muito esperar e continuar esperando, apenas, quase como um raio que foge se deixou ver várias vezes, mas me parecia mais uma luz que a Jesus, e nesta luz uma voz que dizia a primeira vez que veio:

(2) “Eu te atraio a me amar em três modos: à força de benefícios, à força de atrações e à força de persuasões“.

(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendia nestas três palavras? Parecia-me que Jesus bendito, para atrair-se meu amor e também o das outras criaturas, faz chover benefícios em nosso favor, e vendo que esta chuva de benefícios não chega ao ponto de ganhar nosso amor, chega a fazer-se atrativo. E qual é essa atração? São as suas dores sofridas por nosso amor, até morrer jorrando sangue sobre uma cruz, onde se tornou tão atraente que apaixonou por Si os seus próprios carrascos e seus mais ferozes inimigos. Além disso, para nos atrair principalmente e tornar mais forte e estável o nosso amor, deixou-nos a luz dos seus santíssimos exemplos, unidos à sua celeste doutrina, e que como luz nos purificam as trevas desta vida e nos conduzem à eterna salvação.

(4) A segunda vez que veio me disse:

(5) “Eu me manifesto à alma em três modos diferentes: Com a potência com a notícia e com o amor. A potência é o Pai, a notícia é o Verbo, o amor é o Espírito Santo”.

(6) Oh, quantas outras coisas compreendia! Mas muito escassa é o que sei manifestar. Parecia-me que com o poder se manifesta Deus à alma em tudo o criado, desde o primeiro ao último ser é manifestada a onipotência de Deus. O céu, as estrelas e todos os outros seres nos falam, embora em linguagem muda, de um Ente Supremo, de um Ser Incriado, de sua onipotência, porque o homem mais instruído, com toda sua ciência não pode chegar a criar o mais vil mosquito, e isto nos diz que deve haver um Ser Incriado potentíssimo que criou tudo e dá vida e subsistência a todos os seres.  Oh, como todo o universo a claras notas e com caracteres indeléveis nos fala de Deus e de sua onipotência! Então quem não vê é cego voluntário.

(7) Com a notícia, parecia-me que Jesus abençoado descendo do Céu veio pessoalmente à terra para nos dar a notícia do que para nós é invisível, e em quantos modos Ele não se manifestou? Acredito que cada um, por si mesmo, compreenderá todo o resto, por isso não me alongo mais.

 

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25 de Dezembro de 1899

 Jesus quer de Luisa contínua atitude de sacrifício.

(1) Depois de ter passado alguns dias quase de privação total de meu sumo e único Bem, acompanhados por uma dureza de coração, sem poder nem sequer chorar minha grande perda, ainda que oferecia a Deus também aquela dureza dizendo-lhe: “Senhor, aceita-a como sacrifício, só Tu podes amaciar este coração tão duro”. Finalmente, depois de um longo pesar, veio minha amada Mamãe Rainha trazendo em seu colo o celestial Menino envolto em uma fralda, todo trêmulo; me deu entre meus braços dizendo:

(2) “Minha filha, aquece-o com teus afetos, porque meu Filho nasceu em extrema pobreza, em total abandono dos homens e em suma mortificação“.

(3) Oh, como era agradável com sua celestial beleza! Eu tomei entre meus braços, abracei-o e apertei-o para o aquecer, porque estava quase entorpecido pelo frio, não tendo outra coisa que o cobrisse que uma só fralda. Depois de o ter aquecido por quanto pude, meu terno Menino, entreabrindo os seus lábios purpúreos, disse-me:

(4) “Prometes-me tu ser sempre vítima por amor meu, como Eu o sou por amor teu?”

(5) E eu: “Sim, querido, eu prometo”.

(6) E Ele: “Não estou contente só com as palavras, quero um juramento e também uma assinatura com o teu sangue”.

(7) E eu: “Se quer a obediência o farei”.

(8) Ele parecia todo contente, e acrescentou:

(9) “Meu coração desde que nasci o tive sempre oferecido em sacrifício para glorificar ao Pai para a conversão dos pecadores e pelas pessoas que me rodeavam e que mais me foram fiéis companheiros em minhas penas. Assim quero que seu coração esteja em contínua atitude, oferecido em espírito de sacrifício por estes três fins”.

(10) Enquanto dizia isto, a Rainha Mãe queria o Menino para alimentá-lo com seu leite dulcíssimo. Eu o devolvi e Ela puxou seu peito para colocá-lo na boca do Divino Menino, e eu astuta, querendo fazer uma piada, coloquei minha boca para chupar, tirei poucas gotas, e no momento de fazer isto desapareceram, deixando-me contente e descontente.

(11) Seja tudo para glória de Deus e para confusão desta miserável pecadora.

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27 de Dezembro de 1889

A caridade deve ser como um manto que deve cobrir as ações

(1) Jesus continua a fazer-se parecer como sombra e como raio. Enquanto me encontrava num mar de amargura pela sua ausência, num instante fez-se ver-me dizendo:

(2) “A caridade deve ser como um manto que deve cobrir todas as tuas ações, de modo que tudo deve resplandecer de perfeita caridade. O que significa esse desgosto quando não sofres? Que a tua caridade não é perfeita, porque o sofrer por amor meu e o não sofrer por meu amor, sem a tua vontade, tudo é o mesmo”.

(3) E desapareceu deixando-me mais amarga do que antes, querendo tocar uma nota muito delicada para mim, e que Ele mesmo me infundiu. Então depois de ter derramado amargas lágrimas em meu estado miserável, e pela ausência de meu adorável Jesus, Ele voltou e me disse:

4) Com as almas justas me porto com justiça, antes as recompenso duplamente por sua justiça, favorecendo-as com as graças maiores e falando-lhes com palavras justas e de santidade”.

(5) No entanto, eu estava tão confusa e má, que não me atrevia a dizer uma só palavra, aliás, continuava a derramar lágrimas sobre a minha miséria. E Jesus, querendo dar-me confiança colocou sua mão sob a minha cabeça para levantá-la, porque eu não a sustentava, e acrescentou:

(6) “Não temas, Eu sou o escudo dos atribulados“.

(7) E desapareceu.

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30 de Dezembro 30 de 1899

Efeitos da humilhação e da mortificação.

(1) Esta manhã assim que vi o meu adorável Jesus, e como a obediência me tinha dito que rezasse por uma pessoa, por isso assim que Jesus veio, confiei-lhe, e Ele disse-me:

(2) “A humilhação não só deve ser aceita, mas também amá-la, tanto como para mastigá-la como um alimento, e como quando um alimento é amargo, quanto mais se mastiga tanto mais se sente a amargura, assim a humilhação bem mastigada faz nascer a mortificação, e estes são dois meios potentíssimos, isto é, a humilhação e a mortificação, para superar certos obstáculos e obter as graças que são necessárias. E enquanto parecem daninhos à natureza humana, como o alimento amargo parece querer causar mais mal que bem, assim a humilhação e a mortificação, mas não. Quando o ferro é mais atingido sobre a bigorna, tanto mais lança faíscas de fogo e fica puro, assim a alma, quanto mais é humilhada e golpeada sob a bigorna da mortificação, tanto mais lança faíscas de fogo celestial, e fica purgada se verdadeiramente quer caminhar a via do bem; mas se é falsa acontece todo o contrário”.

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1 de Janeiro de  1900

Efeito do conhecimento de si mesmo.

  • Achando-me muito aflita pela privação do meu sumo e único Bem, depois de muito esperar e esperar, finalmente o vi sair chorando de dentro do meu coração, fazendo-me sinal com os olhos que lhe doía a ferida feita na circuncisão, e por isso chorava, e que esperava de mim que lhe secasse o sangue que corria da ferida e adoçasse a dor do corte. Eu era toda compaixão e confusão ao mesmo tempo, tanto que não me atrevia a fazê-lo, mas atraída pelo amor, não sei como encontrei um trapo na mão e tratei por quanto pude limpar o sangue ao menino Jesus. Enquanto fazia isto, sentia-me toda cheia de pecado, e pensava que eu era a causa dessa dor de Jesus Oh, como me dava pena, me sentia absorvida naquela amargura e o bendito menino compadecendo meu miserável estado me disse:(2) “Quanto mais a alma se humilha e se conhece a si mesma, tanto mais se aproxima da verdade, e encontrando-se na verdade procura dirigir-se ao caminho das virtudes, do qual se vê muito longínqua, e se vê que se encontra neste caminho, logo descobre o muito que lhe resta a fazer, porque as virtudes não têm termo, são infinitas como eu sou. Então, a alma, encontrando-se na verdade, procura sempre aperfeiçoar-se, mas jamais chegará a ver-se perfeita, e isto lhe serve e fará com que a alma esteja continuamente trabalhando, esforçando-se para mais aperfeiçoar-se, sem perder o tempo em ociosidades; E eu, me comprazendo com este trabalho, pouco a pouco vou retocando-a para pintar nela minha semelhança. Eis por que quis ser circuncidado, para dar um exemplo de grandíssima humildade, que fez desconcertar os próprios anjos do Céu”.

 

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03 Janeiro de 1900

 

A paz.

 

(1) Continuo a ver-me toda cheia de misérias, e não só isso, mas também inquieta. Parece-me que todo o meu interior foi posto em armas pela perda de Jesus. Estava pensando entre mim, que meus grandes pecados tinham me merecido que meu adorável Jesus me tivesse deixado, e por isso não o veria mais. Oh, que morte cruel é este pensamento para mim! É mais, pensamento mais impiedoso que qualquer morte. Não ver mais Jesus! Não ouvir mais a suavidade de sua voz! Perder Aquele do qual depende minha vida e do qual me vem tudo bem! Como poder viver sem Ele? Ah, se eu perder Jesus para mim tudo acabou! Com estes pensamentos sentia uma agonia de morte, todo o meu interior transtornado porque amava a Jesus, e Ele, num lampejo de luz, manifestou-se à minha alma dizendo-me:

 

(2) “Paz, paz, não queiras perturbar-te. Assim como uma flor odorosa perfuma o lugar onde se põe, assim a paz enche de Deus a alma que a possui”.

 

  • E como relâmpago se foi. Oh Senhor, quão bom és com esta pecadora, e em confiança te digo também: Como és impertinente, pois nada menos devo perder-te a ti, e nem sequer queres que me perturbe ou me inquiete, e se o faço, fazes-me entender que eu mesma afasto-me de Ti, porque com a paz me encho de Deus e com a minha inquietação me encho de tentações diabólicas. Oh meu doce Jesus, quanta paciência se necessita contigo, porque qualquer coisa que me aconteça, nem sequer posso me inquietar, nem me perturbar, senão que queres que esteja em perfeita calma e paz.

 

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05 de Janeiro de 1900

Efeitos do pecado e da confissão.

 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me a sair de mim mesma e encontrei o meu adorável Jesus, mas como me via cheia de pecados diante da sua presença! Em meu íntimo sentia um forte desejo de me confessar com Nosso Senhor, por isso me dirigindo a Ele comecei a dizer minhas culpas, e Jesus me escutava. Quando terminei de falar, dirigindo-se a mim com um rosto cheio de tristeza me disse:

(2) “Minha filha, o pecado, se é grave, é um abraço venenoso e mortífero à alma, e não só a ela, mas também a todas as virtudes que se encontram na alma; se é venial, é um abraço que fere, que torna a alma muito débil e enferma, e junto com ela adoecem as virtudes que tinha adquirido. Que arma mortal é o pecado! Só o pecado pode ferir e matar a alma! Nada mais pode danificá-la, nada mais a torna ignominiosa, odiosa diante de Mim, senão só o pecado“.

(3) Enquanto dizia isto, eu compreendia a feiura do pecado e sentia tal pena, que nem sequer sei explicá-la. E Jesus, vendo-me toda compenetrada, levantou a sua mão direita abençoada e pronunciou as palavras da absolvição. Depois acrescentou:

(4) “Assim como o pecado fere e dá morte à alma, assim o sacramento da confissão dá a vida e a cura das feridas, e restitui o vigor às virtudes, e isto mais ou menos, segundo as disposições da alma, assim opera a virtude do sacramento”. (5) Pareceu-me que minha alma recebia nova vida, depois que Jesus me deu a absolvição não sentia mais aquele incômodo de antes. Seja sempre glorificado o Senhor e sempre lhe sejam dadas as graças.

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06 de Janeiro de 1900

A confiança: Escada para subir à Divindade.

(1) Esta manhã recebi a comunhão e encontrei Jesus, estava também a Mãe Rainha, e oh! maravilha, via a Mãe e via o coração dela transformado em Jesus Menino, olhava para o Filho e via no coração do Menino a Mãe. Enquanto estava nisto, lembrei-me que hoje é a Epifania, e eu, a exemplo dos Santos Magos, devia oferecer alguma coisa ao Menino Jesus, mas via que não tinha nada para lhe dar. Então, vendo minha miséria, veio-me o pensamento de oferecer-lhe por mirra meu corpo com todos os sofrimentos dos doze anos que estive em cama disposta a sofrer e a estar todo o tempo que Ele quisesse

(2); por ouro a pena que sinto quando me priva de sua presença, que é a coisa mais penosa e dolorosa para mim; por incenso minhas pobres orações unidas às da Rainha Mãe, a fim de que fossem mais aceitáveis ao Menino Jesus. Então fiz a oferta com toda a confiança de que o Menino aceitaria tudo. Parecia que Jesus com muito gosto aceitava minhas pobres ofertas, mas o que mais lhe agradava era a confiança com a qual os tinha oferecido. Então me disse:

(2) “A confiança tem dois braços, com um se abraça à minha humanidade e se serve dela como escada para subir à minha Divindade, com o outro se abraça à Divindade e a torrentes toma as graças celestiais, assim que a alma fica toda inundada pelo Ser Divino. Quando a alma confia, está segura de obter o que pede, Eu me faço atar os braços, a faço fazer o que quer, a faço penetrar até dentro de meu coração e por si mesma lhe faço tomar o que me pediu. Se não fizesse isto, sentir-me-ia num estado de violência”.

(3) Enquanto isto dizia, do peito do Menino e do da Mãe saíam tantos rios de licor (mas não sei dizer propriamente como se chamava aquilo que digo licor), que me inundavam a alma. E a Rainha Mãe desapareceu.

(4) Depois disto, juntamente com o Menino, saímos para fora, na abóbada dos céus, o seu gracioso rosto o via triste e disse entre mim: “Talvez queira leite e por isso está triste”. Então eu disse: “Quer mamar em mim, porque a Rainha Mamãe não está?” Mas antes de fazer isto, senti medo de que fosse demônio, então para me assegurar o persegui várias vezes com a cruz e lhe disse: “És Tu realmente Jesus Nazareno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Maria Virgem Mãe de Deus?” O Menino assegurava que sim. Então assegurada, o pus a mamar de mim. O Menino parecia que se reanimava tomando um aspecto alegre, e eu via que sugava parte dos rios dos quais Ele mesmo me tinha inundado. E, enquanto isso fazia, sentia-me puxar o coração, porque parecia que dele vinha aquele leite que Jesus chupava de mim. Quem pode dizer o que se passava entre o Menino Jesus e eu? Não tenho língua para o poder manifestar, não tenho palavras para poder descrevê-lo.

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08 de Janeiro de 1900

Mesmo os erros serão úteis.

(1) Estava a pensar entre mim: “Quem sabe quantas loucuras, quantos erros contêm estas coisas que escrevo”. Entretanto senti que perdia os sentidos, e veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, até os erros servirão, e isto para fazer saber que não há nenhum artifício por parte tua, nem que tu sejas algum doutor, porque se isto fosse, tu mesma terias advertido onde te equivocavas, e isto também fará resplandecer de mais que sou Eu quem te falo, se vêem as coisas com simplicidade; porém te asseguro que não encontrarão nem a sombra do vício, nem coisa que não fale de virtude, porque enquanto você escreve, Eu mesmo estou te guiando a mão; no máximo poderão encontrar algum erro à primeira vista, mas se o observam bem, aí encontrarão a verdade”.

(3) Dito isto desapareceu, mas depois de algumas horas voltou e eu me sentia toda titubeante e pensativa acerca das palavras que me tinha dito, e Ele acrescentou:

(4) “Meu patrimônio é a firmeza e a estabilidade, não estou sujeito a nenhuma mudança, e a alma, quanto mais se aproxima de Mim e se adentra no caminho das virtudes, tanto mais se sente firme e estável no agir o bem, e quanto mais distante está de Mim, tanto mais estará sujeita a mudar-se e a inclinar-se agora ao bem e agora ao mal”.

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12 de Janeiro de 1900

Diferença entre o conhecimento de si mesmo e a humildade.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu amável Jesus veio em um estado que dava compaixão. Tinha as mãos atadas fortemente e o rosto coberto de salivares, e algumas pessoas esbofeteavam-no horrivelmente, e Ele permanecia quieto, plácido, sem fazer nem um movimento nem emitir um lamento, nem sequer um movimento de cílios, para demonstrar que Ele queria sofrer estes ultrajes, e isto não só externamente, mas também internamente. Que espetáculo tão comovente, de fazer despedaçar os corações mais duros! Quantas coisas dizia aquele rosto com as cusparadas, manchado de lama! Eu me sentia horrorizada tremia, me via toda soberba diante de Jesus. Enquanto eu estava neste aspecto, Ele me disse:

(2) “Minha filha, só os pequenos se deixam conduzir como se quer, não aqueles que são pequenos de razão humana, mas aqueles que são pequenos mas cheios de razão divina. Só Eu posso dizer que eu sou humilde, porque no homem o que se diz humildade, mas deve-se dizer conhecimento de si mesmo, e quem não se conhece a si mesmo caminha já na falsidade”.

(3) Durante alguns minutos Jesus fez silêncio e eu o contemplava. Enquanto fazia isso, vi uma mão que trazia uma luz, que, escavando em meu interior, nos mais íntimos esconderijos, queria ver se havia em mim o conhecimento de mim mesma e o amor às humilhações, às confusões e aos opróbrios; aquela luz encontrava um vazio em meu interior, e eu também via que devia ser preenchido com humilhações e confusões a exemplo do bendito Jesus. Oh, quantas coisas me fazia compreender aquela luz e aquele rosto santo que estava diante de mim! Dizia entre mim: “Um Deus, humilhado por amor meu, confuso, e eu, pecadora, sem estas divisas. Um Deus estável, firme em suportar tantas injúrias, tanto que não se move nem um pouquinho para se livrar dessas cusparadas fétidas, – ah! Parece-me ver seu interior ante a Divindade, e o exterior ante os homens – no entanto, se quiser pode fazê-lo, porque não são as correntes que o atam, senão sua estável Vontade, que a qualquer custo quer salvar o gênero humano. E eu? E eu? Onde estão minhas humilhações, onde a firmeza, a constância em fazer o bem por amor de meu Jesus e por amor de meu próximo? Ai, que diferentes vítimas somos eu e Jesus, porque de fato não nos parecemos em nada!” Enquanto meu pequeno cérebro se perdia nisto, meu adorável Jesus me disse:

(4) “Minha humanidade esteve cheia somente de opróbios e humilhações, tanto, de derramar fora, eis por que diante de minhas virtudes treme o Céu e a terra, e as almas que me amam se servem de minha Humanidade como escada para subir a provar algumas gotinhas de minhas virtudes. Diz-me, perante a minha humildade, onde está a tua? Só Eu posso gloriar-me de possuir a verdadeira humildade, minha Divindade unida a minha Humanidade podia operar prodígios em cada passo, palavra e obra, em troca voluntariamente me restringia no cerco de minha Humanidade e me mostrava como o mais pobre, e começava a confundir-me com os mesmos pecadores.

(5) A obra da Redenção em tão pouco tempo podia fazê-la, mesmo com uma só palavra, mas quis durante tantos anos, com tantos trabalhos e sofrimentos, fazer minhas as misérias do homem, Quis exercer-me em tantas ações diversas para fazer com que o homem fosse todo renovado, divinizado, mesmo nas mínimas obras, porque realizadas por Mim, que era Deus e Homem, recebiam novo esplendor e ficavam com a marca de obras divinas. Minha Divindade escondida em minha Humanidade, com descer a tanta baixeza, sujeitar-se ao curso das ações humanas enquanto que com um só ato de Vontade poderia criar infinitos mundos, com sentir as misérias, as debilidades de outros como se fossem suas, com ver-se coberta de todos os pecados dos homens ante a divina justiça, e que devia pagar com o preço de penas inauditas e com o desembolso de todo seu sangue, exercia contínuos atos de profunda e heróica humildade.

(6) Eis, ó minha filha, a grandíssima diferença da minha humildade com a humildade das criaturas, que perante a minha, é apenas uma sombra; até a de todos os meus santos, porque a criatura é sempre criatura e não sabe quanto pesa a culpa como eu a conheço, embora sejam almas heróicas que ao meu exemplo se ofereceram a sofrer as penas de outros, mas estas não são diferentes daquelas, das outras criaturas, não são coisas novas para elas, porque estão formadas do mesmo barro. Além disso, só pensar que essas penas são causa de novas aquisições e que glorificam a Deus, é uma grande honra para elas. Além disso, a criatura está restrita no cerco onde Deus a colocou, e não pode sair desses limites com os quais Deus a cercou. Oh! se estivesse em seu poder fazer e desfazer, quantas outras coisas fariam, cada um chegaria às estrelas. Mas minha Humanidade divinizada não tinha limites, senão que voluntariamente se restringia em Si mesma, e isto era um entrelaçar todas minhas obras de heroica humildade. Tinha sido esta a causa de todos os males que inundam a terra, isto é, a falta de humildade, e Eu com o exercício desta virtude devia atrair da justiça divina todos os bens. Ah, sim, que não partem de meu trono resgates de graças senão por meio da humildade! Nenhum bilhete pode ser recebido por Mim, se não contém a assinatura da humildade, nenhuma oração escuta meus ouvidos e move a compaixão meu coração, se não está perfumado com o aroma da humildade. Se a criatura não chegar a destruir o germe de honra, de estima, e isto se destrói com chegar a amar o ser desprezada, humilhada, confundida, sentirá um entrelaçamento de espinhos ao redor de seu coração, perceberá um vazio em seu coração que lhe dará sempre incômodo e a tornará muito diferente de minha Santíssima Humanidade, e se não chegar a amar as humilhações, no máximo poderá conhecer-se um pouco a si mesma, mas não resplandecerá diante de Mim vestida pela bela e agradável vestidura da humildade”.

(7) Quem pode dizer quantas coisas compreendia sobre esta virtude e a diferença entre conhecer-se a si mesmo e a humildade? Parecia-me tocar com a mão a diferença destas duas virtudes, mas não tenho palavras para me explicar. Para dizer alguma coisa me sirvo de uma idéia, por exemplo: Um pobre diz que é pobre, e mesmo a pessoas que não o conhecem e que talvez possam crer que possui alguma coisa, ele lhes manifesta com franqueza sua pobreza, pode-se dizer que se conhece a si mesmo e diz a verdade, e por isso é mais amado, move aos demais a compaixão de seu miserável estado e todos o ajudam, isto é o conhecer-se a si mesmo. Se depois, aquele pobre, envergonhado de manifestar a sua pobreza, se vangloriasse de que é rico, enquanto todos sabem que nem sequer tem vestidos para se cobrir e que morre de fome, o que aconteceria? Todos o desprezam, ninguém o ajuda e chega a ser sujeito de zombaria e de ridículo a qualquer que o conhece, e o miserável, indo de mal a pior, acaba por perecer. Tal é a soberba diante de Deus e mesmo diante dos homens, e eis que quem não se conhece a si mesmo, já está fora da verdade e se precipita pelo caminho da falsidade.

(8) Agora, a diferença com a humildade, embora me pareça que são duas irmãs nascidas no mesmo parto e que jamais se pode ser humilde se não se conhece a si mesmo, é por exemplo um rico, que despojando-se por amor das humilhações de suas nobres vestes, cobre-se com miseráveis trapos, vive desconhecido, a ninguém manifesta quem é ele, confunde-se com os mais pobres, vive com os pobres como se fosse igual a eles, faz dos desprezos e confusões as suas delícias, e esta é a bela irmã do conhecimento de si mesmo, isto é a humildade. Ah! Sim, a humildade chama à graça; a humildade rompe as cadeias mais fortes, como são o pecado; a humildade supera qualquer muro de divisão entre a alma e Deus, e a Ele a devolve. A humildade é a pequena planta, mas sempre verde e florida, não sujeita a ser roída pelos vermes, nem os ventos, nem as granizadas, nem o calor poderão lhe fazer mal nem murchar minimamente. A humildade, embora seja a mais pequena planta, sempre tira ramos altíssimos que penetram até o céu e se entrelaçam ao redor do coração de Nosso Senhor, e só os ramos que saem desta pequena planta têm livre a entrada nesse coração adorável. A humildade é a âncora da paz nas tempestades das ondas do mar desta vida. A humildade é sal que tempera todas as virtudes, e 28 preserva a alma da corrupção do pecado. A humildade é a erva que brota no caminho pisado pelos caminhantes, que enquanto é pisada desaparece, mas logo se vê surgir de novo mais bela do que antes. A humildade é como enxerto nobre que enobrece a planta silvestre. A humildade é o ocaso da culpa. A humildade é a recém-nascida da graça. A humildade é como lua que nos guia nas trevas da noite desta vida. A humildade é como aquele ganancioso negociante que sabe negociar bem suas riquezas, e não esbanja nem sequer um centavo da graça que lhe vem dada. A humildade é a chave da porta do Céu, assim ninguém pode entrar nele se não tiver bem guardada esta chave. Finalmente, caso contrário eu nunca iria terminar e alongar-me muito, humildade é o sorriso de Deus e de todo o Céu Empírico, e o choro de todo o inferno.

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17 de Janeiro 17 de 1900

A maldade e astúcia do homem.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ia e vinha, mas sempre em silêncio. Depois senti-me sair de mim mesma, e ouvia Jesus dizer-me por detrás:

(2) “O homem diz – porque já não há retidão – : “Até que as coisas estejam deste modo não poderemos ter nenhum êxito em nossos planos, finjamos virtude, finjamos ser retos, mostremos nos verdadeiros amigos externamente, porque assim será mais fácil tecer as nossas redes e atraí-los ao engano, e quando sairmos para apanhá-los e fazer-lhes mal, cada um, acreditando-nos amigos, tê-los-emos em nossas mãos”. Vai um pouco até onde chega a astúcia do homem“.

(3) Depois disto o bendito Jesus querendo um ato de reparação especial, parecia que me tirava a vida oferecendo-me à divina justiça. No momento em que isso acontecia, eu acreditava que Jesus me fazia terminar esta vida, então lhe disse: “Senhor, não quero ir para o Céu sem suas insígnias, primeiro me proteja e depois me leve”.

(4) Assim me trespassou as mãos e os pés com os pregos, e enquanto isso fazia, com grande amargura minha, Ele desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, e disse para mim: “Aqui estou eu ainda. Ah! Quantas vezes me fez meu amado Jesus, tem uma arte especial para sabê-lo fazer, porque me faz crer que devo morrer, e então eu rio-me do mundo, das penas, rio-me de Ti mesmo porque terminou o tempo de estar separados, não haverá mais intervalos de separação. Mas apenas começo a rir quando me encontro outra vez atada pelas correntes da prisão deste frágil corpo, e esquecendo o ter começado a rir, continuo o pranto, os gemidos, os suspiros da minha separação de Ti. Ah Senhor, faça-o logo, porque me sinto impelida fortemente a ir!”

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22 de Janeiro de 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, meu pobre coração lutava entre o temor de havê-lo perdido e a esperança de talvez poder vê-lo de novo. Oh! Deus, que guerra sangrenta teve que sustentar este meu pobre coração; era tanta a pena que agora se congelava e agora era espremido como sob uma imprensa e gotejava sangue. Enquanto estava neste estado, senti-me próximo do meu doce Jesus, que tirando um véu que me impedia de vê-lo, finalmente pude fazê-lo. Logo lhe disse: “Ah Senhor, já não me amas?”

(2) E Ele: “Sim, sim, o que te recomendo é a correspondência à minha graça, e para ser fiel deves ser como aquele eco que ressoa dentro de um vazio, que não apenas começa a emitir-se a voz, imediatamente, sem o mínimo atraso se ouve ressoar o eco. Assim você, não apenas comece a receber minha graça, sem nem sequer esperar que a termine de dar, imediatamente começa o eco de sua correspondência”.

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27 de  Janeiro de 1900

 A ordem das virtudes na alma.

(1) Continuo a ficar quase privada do meu doce Jesus, a minha vida desfalece pela dor, sinto um tédio, um aborrecimento, um cansaço da vida. Ia dizendo em meu interior: “Oh, como se estendeu meu exílio! Que felicidade seria a minha se pudesse desatar as ataduras deste corpo e assim minha alma empreenderia livre o vôo para meu sumo Bem!” Então um pensamento me disse: “E se você for ao inferno?” E eu, para não chamar o demónio a combater-me, logo o rejeitei dizendo: “Pois bem, também do inferno enviarei os meus suspiros ao meu doce Jesus, também ali quero amá-lo”. Enquanto eu estava nestes e outros pensamentos, que seria muito longa a história se eu os dissesse todos, o amável Jesus por pouco tempo fez-se ver, mas com um aspecto sério, e disse-me:

(2) “Ainda não chegou o teu tempo”.

(3) Depois, com uma luz intelectual me fazia compreender que na alma tudo deve estar arrumado. A alma possui muitos pequenos apartamentos onde cada virtude toma seu lugar, e se bem se pode dizer que uma só virtude contém em si todas as demais, e que a alma possuindo uma só, é cortejada por todas as outras virtudes; mas apesar disso todas são distintas entre elas, tanto, que cada uma tem seu lugar na alma, e eis que todas as virtudes têm seu princípio no mistério da Santíssima Trindade, que enquanto é Uma, são Três Pessoas distintas, e enquanto são Três são Uma. Compreendia também que estes apartamentos na alma, ou estão cheios de virtude ou do vício oposto àquela virtude, e se não está nem a virtude nem o vício, ficam vazios. Parecia-me como uma casa que contém muitos quartos, todos vazios, ou uma cheia de serpentes, outra de lama, outra cheia de alguns móveis cobertos de pó, outra escura. Ah Senhor, só Você pode pôr em ordem minha pobre alma!

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28 de Janeiro de 1900

A mortificação.

(1) Continua o mesmo. Esta manhã Jesus me transportou para fora de mim mesma, e depois de tanto tempo parece que vi Jesus com clareza, mas me via tão má que não me atrevia a dizer uma só palavra, nos olhávamos, mas em silêncio; Naqueles olhares mútuos, compreendia que o meu bom Jesus estava cheio de amargura, mas não me atrevia a dizer-lhe que as derramasse em mim. Então Ele mesmo se aproximou e começou a derramá-las, e eu não podia contê-las, conforme as recebia, lançava-as por terra. Então ele me disse:

(2) “O que você faz? Você não quer mais participar de minhas amarguras? Você não quer me dar mais alívio nas minhas dores?”

(3) E eu: “Senhor, não é a minha vontade, eu mesma não sei o que me aconteceu, sinto-me tão cheia que não tenho onde as conter, só um prodígio teu pode alargar o meu interior e assim poderei receber as tuas amarguras”.

(4) Então Jesus me marcou com um grande sinal de cruz e derramou de novo, assim parece que pude contê-las, e depois acrescentou:

(5) “Minha filha, a mortificação é como o fogo que faz secar todos os humores; assim a mortificação seca todos os humores maus que há na alma e a inunda de um humor santificante, de modo que faz germinar as mais belas virtudes”.

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31 de Janeiro de 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois que Jesus veio várias vezes, mas sempre em silêncio, eu me sentia um vazio e uma pena porque não ouvia a voz dulcíssima do meu doce Jesus e Ele, retornando, quase para me contentar me disse:

(2) “A graça é a vida da alma. Assim como ao corpo dá vida a alma, assim a graça dá vida à alma. Mas ao corpo não basta ter vida só ter a alma, senão que necessita também de um alimento para nutrir-se e crescer a devida estatura, assim a alma não basta ter a graça para ter vida, senão que necessita um alimento para alimentá-la e conduzi-la a devida estatura, E qual é esse alimento? É a correspondência. Assim que a graça e a correspondência formam essa cadeia que a conduz ao Céu, e à medida que a alma corresponde à graça, são formados os elos desta cadeia”.

(3) Depois acrescentou: “Qual é o passaporte para entrar no reino da graça? É a humildade. A alma, olhando sempre para o seu nada e descobrindo que não é senão pó, que vento, toda a sua confiança a porá na graça, tanto que a fará dona, e a graça tomando o domínio sobre toda a alma, a conduz pelo caminho de todas as virtudes e a faz chegar ao topo da perfeição”.

(4) O que será a alma sem graça? Parecia-me como o corpo sem a alma, que se torna pestilento e se enche de vermes e podridão por toda parte, tanto que se faz objeto de horror à mesma vista humana; assim a alma sem a graça, torna-se tão abominável que dá horror à vista, não dos homens, mas daquele Deus três vezes Santo.

(5) Ah Senhor, livra-me de tanta desgraça e do monstro abominável do pecado!

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04 de Fevereiro de  1900

Desconfiança.

(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:

(2) “O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário, como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento”.

(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d’Ele, suas graças, seus carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:

(4) “O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda? que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar, nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as virtudes em perigo de expirar”.

(5) “Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo, e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.

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5 Fevereiro de 1900

(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre, meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o conhecimento do próprio nada”.

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12 de  Fevereiro de 1900

Os defeitos voluntários formam nuvens.

(1) Encontrando-me num estado de abandono por parte de meu adorável Jesus, a meu pobre coração sentia-o, pela dor, espremer como sob uma imprensa. ¡ Meu Deus, que pena! Enquanto me encontrava neste estado, quase como sombra vi o meu amado Bem, mas não claramente, só vi claramente uma mão que me parecia que levava uma lâmpada acesa, e molhava o dedo no óleo da lâmpada e ungia-me a parte do coração, exacerbada pela dor da sua privação. Neste momento ouvi uma voz que dizia:

(2) “A verdade é luz, que levou o Verbo à terra. Assim como o sol ilumina, vivifica e fecunda a terra, assim a luz da verdade dá vida, luz, e torna fecundas de virtude as almas. Ainda que muitas nuvens, que são as iniqüidades dos homens, ofuscam esta luz de verdade, mas apesar disso não deixa, desde detrás das nuvens, de mandar flashes de luz vivificante, e assim aquecer as almas, e se estas nuvens são nuvens de imperfeições e de defeitos involuntários, esta luz, rasgando-as com o seu calor as dissipa e livremente se introduz na alma”.

(3) Então compreendia que a alma deve estar atenta a não cair na sombra do defeito voluntário, porque estes são aquelas nuvens perigosas que impedem a entrada à luz divina.

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13 de  Fevereiro de 1900

A mortificação é como o cal.

(1) Esta manhã depois de ter recebido a comunhão vi o meu adorável Jesus, mas tudo mudou de aspecto. Parecia sério, tudo reservado, em ato de repreender-me. Que triste mudança! Meu pobre coração, em vez de ser aliviado, sentia-me mais oprimido, mais trespassado diante do aspecto tão insólito de Jesus. No entanto, sentia toda a necessidade de um alívio pelas dores sofridas nos últimos dias por sua privação, em que me parecia que Vivia, mas agonizante e em contínua violência. Mas Jesus bendito, querendo repreender-me porque ia buscando alívio devido a sua presença, enquanto não devia procurar outra coisa que sofrer, disse-me:

(2) “Assim como o cal tem virtude de queimar os objetos que se metem nela, assim a mortificação tem virtude de queimar todas as imperfeições e os defeitos que se encontram na alma, e chega a tanto, que espiritualiza até o corpo, e como um cerco se põe ao redor, e aí sela todas as virtudes. Até que a mortificação não te queime bem, tanto a alma como o corpo, até desfazê-lo, não poderei selar perfeitamente em ti a marca da minha crucificação”.

(3) Depois disto, não sei bem quem era, mas me parecia que fosse um anjo, me trespassou as mãos e os pés, e Jesus com uma lança que saía de seu coração, traspassou-me o meu com extrema dor e desapareceu deixando-me mais aflita que antes. Oh!, como compreendia bem a necessidade da mortificação, minha inseparável amiga, e que em mim não existia nem sequer a sombra de amizade com ela! Ah! Senhor, ata-me Tu com indissolúvel amizade a esta boa amiga, porque por mim não sei mostrar-me mais que toda rudeza, e ela não vendo-se acolhida por mim com boa cara, usa comigo todas as considerações, vai me fugindo sempre, temendo que eu lhe volte as costas completamente, e jamais cumpre comigo seu belo e majestoso trabalho, porque estamos um pouco distantes, suas mãos prodigiosas não chegam até mim para poder trabalhar e apresentar-me diante de Ti como obra digna de suas santíssimas mãos.

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16 de Fevereiro de 1900

A mortificação deve ser o respiro da alma.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, depois de me ter renovado as penas da crucificação, disse-me:

(2) “A mortificação deve ser o respiro da alma. Assim como ao corpo é necessária a respiração, e do ar bom ou mau que se respira assim fica infectado ou purificado, também pela respiração se conhece se está são ou doente o interior do homem, se todas as partes vitais estão de acordo, assim a alma: se respira o ar da mortificação, tudo estará nela purificado, todos seus sentidos soarão com um mesmo som concordante, seu interior exalará um respiro balsâmico, saudável, fortificante; mas se não respirar o ar da mortificação tudo será discordante na alma, exalará um respiro malcheiroso e nauseante; enquanto está por domar uma paixão, outra se desenfreada. Em suma, sua vida não será outra coisa que um jogo de crianças”.

(3) Parecia-me ver a mortificação como um instrumento musical, no qual, se todas as cordas estão boas e fortes, produz um som harmonioso e agradável, mas se as cordas não são boas, agora há que reparar uma, agora há que afinar outra, por isso todo o tempo o emprega em ajustá-lo, mas jamais em tocá-lo, no máximo poderá emitir um som discordante e desagradável, por isso jamais fará nada de bom.

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19 de Fevereiro de 1900

Ameaça de castigos.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, via muita gente, toda em movimento, me parecia, mas não estou segura, como uma guerra, ou bem uma revolução, e a Nosso Senhor não faziam mais que tecer coroas de espinhos, tanto que enquanto eu estava toda atenta a tirar-lhe uma, outra mais dolorosa lhe punham. Ah, sim, parece que nosso século será célebre pela soberba! A maior desventura é perder a cabeça, porque tendo perdido a cabeça com o cérebro, todos os outros membros tornam-se inábeis, ou tornam-se inimigos de si mesmos e dos demais, por isso acontece que a pessoa abre um caminho a todos os outros vícios.

(2) Meu paciente Jesus tolerava todas essas coroas de espinhos, e eu mal tinha tempo de tirando-as, então se virou para essa gente e lhes disse:

(3) “Morrereis, que na guerra, que nas prisões e que em terremotos, poucos permanecereis. A soberba formou o curso das ações de vossa vida, e a soberba vos dará a morte”

(4) Depois disto, o bendito Jesus tirou-me do meio daquela gente, e fazendo-se menino eu o levava nos meus braços para o fazer repousar. Ele, pedindo-me um refrigério queria mamar de mim, eu, temendo que fosse demônio o persegui várias vezes com a cruz, e depois lhe disse: “Se verdadeiramente és Jesus, rezemos juntos a Ave Maria a nossa Rainha Mãe”. E Jesus recitou a primeira parte, e eu o Santa Maria. Depois, Ele mesmo quis dizer o Pai Nosso, oh! como era comovente sua oração, enternecia tanto, que o coração parecia que se derretia. Depois acrescentou:

(5) “Filha, minha vida a tive do coração, a diferença dos demais; eis uma razão por que sou todo coração para as almas, e por que sou levado a querer o coração, e não tolero nele nem sequer uma sombra do que não é meu. Então entre você e eu quero que tudo seja totalmente para Mim, e o que você dará às criaturas não será outra coisa que o transbordamento de nosso amor“.

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20 de  Fevereiro de 1900

Jesus é a luz do Céu, da qual todos tomam as suas pequenas luzes.

(1) Continua a vir o meu benigno Jesus. Depois de ter recebido a Comunhão me renovou as penas da crucificação, e eu fiquei tão entorpecida que sentia necessidade de um alívio, mas não me atrevia a pedi-lo. Depois de um pouco voltou como menino e me beijava toda, e de seus lábios corria leite, e eu bebi a grandes goles esse leite dulcíssimo de seus puríssimos lábios. Agora, enquanto fazia isso, me disse:

(2) “Eu sou a flor do Éden celestial, e é tanto o perfume que expando, que diante de mim fragrância fica atraído todo o empíreo, e como Eu sou a luz que manda luz a todos, tanto, de tê-los abismados, todos meus santos tomam de Mim suas pequenas luzes, assim que não há luz no Céu que não tenha sido tomada desta Luz”. (3) Ah sim! não há nem mesmo cheiro de virtude sem Jesus, e não há luz, embora fosse ao mais alto dos Céus, sem Ele.

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21 de Fevereiro de 1900

O dom da pureza é graça conseguida, e esta é obtida com a mortificação.

(1) Esta manhã meu amável Jesus começou a fazer suas habituais demoras. Seja sempre bendito; de verdade que se necessita uma paciência de santo para suportá-lo, e há que tratar com Jesus para saber quanta paciência se necessita. Quem não o experimenta não pode acreditar, e é quase impossível não ter algum pequeno desgosto com Ele. Então, depois de ter usado a paciência ao esperá-lo e esperá-lo, finalmente veio e me disse:

(2) “Minha filha, o dom da pureza não é dom natural, senão que é graça conseguida, e esta se obtém com tornar-se atrativa, e a alma se faz tal com a mortificação e os sofrimentos. ¡ Oh, como se torna atrativa a alma mortificada e sofredora como ela é bonita, e eu sinto tal atração por ela que enlouqueço por esta alma e tudo o que ela quer dou-lhe. Você, quando estiver privada de Mim, sofre minha privação, que é a pena mais dolorosa para você, por meu amor, e Eu sentirei mais atração que antes e te concederei novos dons”.

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23 de Fevereiro de 1900

O sinal mais certo para saber se um estado é a Vontade de Deus.

(1) Esta manhã depois de ter perdido quase a esperança de que o bendito Jesus viesse, de improviso veio e me renovou as penas da crucificação e me disse:

(2) “O tempo chegou, o fim se aproxima, mas a hora é incerta“.

(3) E eu, sem prestar atenção ao significado das palavras que dizia, fiquei em dúvida se devia atribuí-lo à minha completa crucificação ou bem aos castigos, e disse-lhe: “Senhor, quanto temo que o meu estado não seja Vontade de Deus”.

( 4) E Ele: “O sinal mais certo para saber se é Minha vontade um estado, é que se sente a força para sustentar esse estado“.

(5) E eu: “Se fosse tua Vontade não sucederia esta mudança, que não vens como antes”.

(6) E Ele: “Quando uma pessoa se torna familiar numa família, não se usam tanto essas cerimônias, essas considerações que se usavam antes quando era estranha. Assim faço Eu. No entanto, isto não é sinal que seja vontade dessa família não querer tê-la com eles, nem que não a amem mais que antes. Por isso fica quieta, deixa-me fazer a Mim, não queiras atormentar-te o cérebro nem perturbar a paz do coração; quando chegar o tempo oportuno conhecerás o meu agir”.

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24 de Fevereiro de 1900

 Luisa resiste à obediência.

(1) Esta manhã estava cheia de medo, acreditava que tudo era fantasia, ou seja, demônio que queria me iludir. Então tudo o que via o desprezava e me desagradava: Via o confessor que punha a intenção de que Jesus me renovasse as dores da crucificação, e eu tentava resistir. O bendito Jesus no princípio me tolerava, mas como o confessor renovava a intenção, então Jesus me disse:

(2) “Minha filha, parece que desta vez faltaremos à obediência. Não sabes tu que a obediência deve selar a alma, e que a obediência deve fazer a alma como suave cera, de modo que o confessor possa dar-lhe a forma que queira?”

(3) Assim, não levando em conta minhas resistências me participou as dores da crucifixão, e eu, não podendo resistir mais a tudo isso, porque não queria pelo temor de que não fosse Jesus, tive que sucumbir sob o peso das dores. Seja sempre bendito e tudo seja para glorificá-lo em tudo e sempre.

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26 de  Fevereiro de 1900

A Divina Vontade é felicidade de todos.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, quando no máximo vinha alguma vez como sombra e fugia, eu sentia tal pena que me desfazia em lágrimas, e o bendito Jesus tendo compaixão de minha dor, veio e me via e me via, e depois me disse:

(2) “Minha filha, não temas, que não te deixo; agora, quando estiveres sem minha presença, não quero que te desanimes, antes, de hoje em diante quando estiveres privada de Mim, quero que tomes minha Vontade e que nela te deleites, Amando-me e glorificando-me nela e tendo a minha vontade como se fosse a minha própria Pessoa. Fazendo isso, você me terá em suas próprias mãos. Que coisa forma a bem-aventurança do Paraíso? Certamente minha Divindade. Agora, o que formará a bem-aventurança de meus amados na terra? Com certeza minha Vontade. Ela não te poderá fugir jamais, tê-la-á sempre em tua posse, e se tu permaneceres no círculo da minha Vontade, ali sentirás as alegrias mais inefáveis e os prazeres mais puros. A alma, não saindo jamais do círculo da minha Vontade, torna-se nobre, diviniza-se e todas as suas obras repercutem no centro do Sol divino, assim como os raios do sol repercutem na superfície da terra, e nem um só sai do centro que é Deus. A alma que faz minha vontade é a única nobre rainha que se nutre de meu alento, porque seu alimento e sua bebida não as toma mais que de minha Vontade, e nutrindo-se de minha Vontade toda santa, em suas veias correrá um sangue puríssimo, seu hálito exalará um perfume que me recriará, porque será produzido pelo meu próprio hálito. Por isso não quero outra coisa de ti, senão que formes tua bem-aventurança no giro da minha Vontade, sem sair jamais, nem sequer por um breve instante”.

(3) Enquanto dizia isto, em meu íntimo sentia uma inquietude e um temor, porque o falar de Jesus indicava que não ia vir, e que eu devia aquietar-me em sua Vontade. Oh! Deus, que pena mortal! Que aperto de coração! Mas Jesus sempre benigno adicionou:

(4) “Como posso deixá-la se você é vítima? Só deixarei de vir quando você deixar de ser vítima, mas enquanto for vítima me sentirei sempre atraído a vir”.

(5) Assim parece que fiquei tranquila; mas me sinto como circundada pela adorável Vontade de Deus, de modo que não encontro nenhuma abertura pela qual sair. Espero que me queira sempre neste cerco que me une toda a Deus.

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27 de  Fevereiro de 1900

A Divina Vontade ata Jesus à alma. O grande mal da murmuração.

(1) Havendo-me abandonado toda na amável Vontade de Nosso Senhor, eu me via toda circundada pelo meu doce Jesus, por fora e por dentro. Com o ter-me abandonada Nele me via como se meu ser se tivesse tornado transparente e a qualquer parte que virava via a meu sumo Bem, mas o que me fazia maravilhar era que enquanto me via rodeada por dentro e por fora por Jesus, assim eu, meu pobre ser, minha vontade, circundava a Jesus como dentro de um círculo, de modo que Ele não encontrava a abertura para poder sair, porque minha vontade unida à sua o tinha acorrentado, sem que me pudesse fugir. Oh, admirável segredo da Vontade de meu Senhor, indescritível é sua felicidade! Agora, enquanto eu estava neste estado, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, na alma toda transformada no meu querer Eu encontro um doce repouso. A alma se converte para Mim como aqueles objetos suaves que não dão nenhum incômodo a quem quer repousar neles, é mais, ainda que fossem pessoas cansadas e doloridas, é tanta a suavidade e o prazer que tomam ao repousar sobre estes objetos, que ao acordarem se encontram fortes e saudáveis. Assim é para mim a alma conformada a meu Querer, e Eu em recompensa me faço atar por sua vontade e nela faço resplandecer o Sol Divino como no pleno meio-dia”.

(3) Disse isto desapareceu. Pouco depois, tendo recebido a comunhão voltou e me transportou para fora de mim mesma. Via muita gente e Jesus me dizia:

(4) “Diga-lhes, diga-lhes quão grande é o mal que fazem com murmurar um do outro, porque atraem minha indignação, e isto com justiça, porque vejo que enquanto estão sujeitos às mesmas misérias e fraquezas, não fazem outra coisa que erigir tribunais um contra o outro. Se assim fazem entre eles, que farei eu, que sou santo e puro, com eles? De acordo com a caridade que exercitem-se uns com os outros, assim Eu me sinto atraído a usar misericórdia com eles”.

(5) Jesus me dizia isso, e eu o repetia a essa gente, e depois nos retiramos.

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02 de Março de 1900

A união das vontades une a alma a Jesus.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, o meu doce Jesus fazia-se ver crucificado, e internamente sentia-me atraída a olhar para Ele, para poder assemelhar-me a Ele, e Jesus se refletia em mim para atrair-me à sua semelhança. Enquanto isso eu fazia, sentia-me infundir em mim as dores do meu Senhor crucificado, que com toda a bondade me disse:

(2) “Quero que o teu alimento seja o sofrer, não só por sofrer, mas como fruto da minha Vontade. O beijo mais sincero que ata mais forte nossa amizade, é a união de nossos querer, e o nó indissolúvel que nos estreitará em contínuos abraços será o contínuo sofrer”.

(3) Enquanto dizia isto, o bendito Jesus despregou se da cruz, a tomou e a estendeu no interior de meu corpo, e eu ficava tão estendida nela que me sentia deslocar os ossos, além disso, uma mão que não sei dizer com certeza de quem era, me traspassava as mãos e os pés, e Jesus que estava sentado sobre a cruz que estava estendida dentro de mim, tudo se comprazia em meu sofrer e em quem me traspassava as mãos, e acrescentou:

(4) “Agora posso descansar tranquilamente, não tenho que tomar nem sequer o incômodo de crucificar-te, porque a obediência quer fazer tudo, e Eu livremente te deixo nas mãos da obediência. ¨

(5) E, levantando-se da cruz, pôs-se sobre o meu coração para repousar. Quem pode dizer como é que eu sofri estando nessa posição? Depois de ter estado muito tempo, Jesus não se apressava em aliviar-me como das outras vezes para me fazer voltar ao meu estado natural, e à mão que me tinha posto sobre a cruz não a via mais, isto dizia-o a Jesus, que me respondia:

(6) “Quem te pôs sobre a cruz? Talvez tenha sido Eu? Foi a obediência, e a obediência deve tirarte daí”.

(7) Parece que desta vez tive vontade de jogar, e como suma graça obtive que me libertasse o bendito Jesus.

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07 de Março 1900

A alma conformada ao Divino Querer, chega a prender a Deus.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, tive que girar e girar para encontrar o bendito Jesus. Felizmente, entrei numa igreja e encontrei-o sobre um altar onde se celebrava o sacrifício divino. Subitamente corri e abracei-o dizendo-lhe: “Finalmente encontrei-te! Fizeste-me girar tanto até me cansar, e Tu estavas aqui”. E Ele me olhando sério, não com sua habitual benignidade me disse:

(2) “Esta manhã me sinto muito amargo e sinto toda a necessidade de pôr as mãos nos castigos para desagravar me“.

(3) Eu, em seguida: “Meu amado, não é nada, remediaremos isto agora mesmo, derramarás em mim tuas amarguras e assim ficarás desagravado, não é verdade?”

(4) E Ele condescendendo a meu pedido derramou em mim suas amarguras. Depois, estreitando-me a Ele, como se tivesse se liberado de um grave peso, acrescentou:

(5) “A alma conformada a meu Querer se sabe infiltrar tanto em minha potência, que chega a me prender a tudo e a seu gosto me desarma como quer. Ah! tu, tu, quantas vezes me amarras!”

(6) E enquanto isto dizia tomou seu habitual aspecto doce e benigno.

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09 de Março de 1900

A graça é como o sol.

(1) Encontrando-me um pouco perturbada por uma coisa que não é necessário dizer aqui, minha mente queria andar vagando para certificar-se sobre minha turbação e assim ficar em paz, mas o bendito Jesus querendo contradizer meu querer, impedia-me que eu pudesse ver o que queria, e como eu insistia em querer ver me disse: (2) “Por que quer ir vagando? Não sabes tu que quem sai da minha Vontade sai da luz e se confina nas trevas?”

(3) E querendo me distrair do que eu queria, me transportou para fora de mim mesma, e mudando de assunto acrescentou:

(4) “Olhe um pouco como os homens são ingratos para mim. Assim como a luz do sol enche toda a terra, de um ponto ao outro, de modo que não há terra que não goze o benefício de sua luz, nem há pessoa que possa lamentar-se de estar privada de suas benéficas influências, tão é verdade, que o sol, investindo a todo o universo, para poder dar luz a todos, toma-o como em sua mão, só pode lamentar-se de não gozar de sua luz quem fugindo de sua mão vai esconder-se em lugares tenebrosos; porém o sol continuando seu caritativo ofício não deixa de lhe enviar algum raio de luz de entre os seus dedos; assim a minha graça é uma imagem do sol, que por toda a parte inunda as nações, pobres e ricos, ignorantes e doutos, cristãos e infiéis, nenhum pode dizer que está privado dela, Porque a luz da verdade e a influência da minha graça enchem a terra, e mais do que o sol no seu meio-dia. Mas qual não é a minha pena ao ver as nações, que cruzando esta luz a olhos fechados e enfrentando a minha graça com a torrente pestífera de suas iniqüidades, desviam-se desta luz e voluntariamente vivem em lugares tenebrosos, em meio de cruéis inimigos? Elas estão expostas a mil perigos, porque não tendo luz, não podem conhecer claramente se se encontram no meio de amigos ou de inimigos, nem fugir dos perigos que os cercam.

(5) Ah, se o sol tivesse razão, e os homens lhe pudessem fazer esta afronta à sua luz, e que alguns chegassem a tal ingratidão, que para desprezar e não ver seu resplendor, arrancariam os olhos, e assim ficam mais seguros de viver nas trevas, Ai, o sol em vez de mandar luz mandaria lamentos e lágrimas de dor, até perturbar toda a natureza! Não obstante, o que os homens teriam horror de fazer à luz natural, chegam a tal excesso de enfrentar desse modo a minha graça. Mas a minha graça sempre benigna com eles, no meio das mesmas trevas e da loucura da sua cegueira, manda sempre resplendores de luz, porque a minha graça jamais deixa a ninguém, senão que o homem voluntariamente se afasta dela, e a graça não o tendo em si, tenta segui-lo com o fulgor de sua luz”.

6) Enquanto dizia isto, o doce Jesus estava extremamente aflito, e eu fazia quanto mais podia, para consolá-lo, pedindo-lhe que derramasse em mim suas amarguras, e Ele acrescentou:

(7) “Compadece-me se te sou causa de aflição, porque de vez em quando sinto toda a necessidade de desabafar em palavras, com minhas almas diletas, minha dor sobre a ingratidão dos homens, para mover seus corações a reparar-me em tantos excessos, e a compaixão dos proprios homens”.

(8) E eu: “Senhor, o que eu gostaria é que não me impedisses de participar nas tuas penas”. E querendo eu dizer mais, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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10 de Março de 1900

Efeitos do sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, via o meu amado Jesus como Menino, com uma lança na mão, em atitude de me querer trespassar o coração, e como tinha dito uma coisa ao confessor, Jesus, querendo repreender-me, disse-me: “Tu queres afastar o sofrimento, e Eu quero que comeces uma nova vida de sofrimentos e de obediência”.

(2) E enquanto isso dizia, trespassou-me o coração com a lança e depois acrescentou:

(3) “Assim como o fogo arde segundo a lenha que se lhe põe, e assim tem maior atividade em queimar e consumir os objetos que se lançam nele, e por quanto maior é o fogo, outro tanto é maior o calor e a luz que contém, assim o sofrimento e a obediência, quanto maior, tanto mais a alma se torna hábil para destruir o que é material, e a obediência, como a macia cera lhe dá a forma que quer“.

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11 de Março de 1900

 Encontro com uma alma do purgatório.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã via o bom Jesus mais aflito do que de costume, ameaçando com uma mortandade de gente, e via em certos lugares que muitos morriam. Depois passei pelo purgatório e reconhecendo a uma amiga falecida perguntava-lhe várias coisas sobre meu estado, especialmente se é Vontade de Deus este estado, se é verdade que é Jesus que vem, ou bem o demônio, porque lhe dizia: “Como tu te encontras diante da Verdade e conheces com clareza as coisas, sem que possas enganar-te podes dizer-me a verdade sobre as minhas circunstâncias”.

(2) E ela disse-me: “Não temas, o teu estado é a vontade de Deus e Jesus ama-te muito, por isso manifesta-se a ti”.

(3) E eu, dizendo-lhe algumas das minhas dúvidas, pedi-lhe que visse ante a luz da verdade se eram verdadeiras ou falsas e fizesse-me a caridade de me vir dizer, e que se o fizesse, eu em recompensa mandava-lhe celebrar uma missa em sufrágio, e ela acrescentou:

(4) “Se o quer o Senhor, porque nós estamos tão imersos em Deus, que não podemos sequer mover as pestanas se não concorre Ele; nós habitamos em Deus como uma pessoa que habitasse em outro corpo, que tanto pode pensar, falar, ver, agir, caminhar, porque lhe é dado por aquele corpo que a circunda por fora, porque em nós não é como em vós que tendes o livre arbítrio, a própria vontade terminou, nossa vontade é só a Vontade de Deus, dela vivemos, nela encontramos todo nosso contentamento e Ela forma todo nosso bem e nossa glória”.

(5) E mostrando uma satisfação indescritível por esta Vontade de Deus, nos separamos.

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14 Março de 1900

Modo para atrair as almas ao catolicismo.

(1) Havendo-me dado o confessor a obediência de pedir ao Senhor que me manifestasse o modo como fazer para atrair as almas ao catolicismo, e para tirar tanta incredulidade, eu sei pedi-o vários dias e o Senhor não se dignava pronunciar-se sobre este ponto. Finalmente, esta manhã me encontrei fora de mim mesma, transportada dentro de um jardim que me parecia ser o jardim da Igreja, e ali estavam muitos sacerdotes e outras dignidades que discutiam sobre este tema, e enquanto discutiam saía um cão de desmesurado tamanho e força, e a maioria dessas pessoas ficavam tão assustados e debilitados, que chegavam a fazer-se morder por aquela besta, e depois retiravam-se como covardes da empresa. Aquele cão enfurecido não tinha força para morder aqueles que tinham como centro Jesus, no próprio coração, que portanto vinha a formar o centro de todas suas ações, pensamentos e desejos. Ah sim! Jesus formava o selo destas pessoas, e aquela besta ficava tão fraca que não tinha força nem sequer de respirar.

(2) Agora, enquanto discutiam, eu ouvia a Jesus que desde detrás de minhas costas dizia:

(3) “Todas as demais sociedades conhecem quem pertence a seu partido, só minha Igreja não conhece quem são seus filhos. O primeiro passo é conhecer quem são aqueles que lhe pertencem, e a estes podeis conhecê-los, estabelecendo um dia uma reunião na qual convidareis aqueles que são católicos a irem ao lugar destinado para tal reunião, e aí com a ajuda dos católicos leigos, estabelecer o que convém fazer. O segundo passo é obrigar à confissão aqueles católicos que intervêm nisto, pois esta é a coisa principal que renova o homem e forma os verdadeiros católicos, e isto não só àqueles que se encontram presentes, mas obrigar aqueles que são patrões a obrigar os seus súditos à confissão, e se não o conseguem pelas boas, mesmo despedindo-os do seu serviço. Quando cada sacerdote tiver formado o corpo de seus católicos, então poderão encaminhar-se a outros passos superiores, porque reconhecer a oportunidade do tempo, como entrar nos partidos e a prudência em expor-se, é como a poda às árvores, que faz produzir frutos grandes e maduros, mas se a árvore não é podada, produz, sim, um belo conjunto de folhagem e de flores, mas apenas cai uma geada, sopra um vento, não tendo a árvore humor suficiente e força para sustentar tantas flores para trocá-las em frutos, as flores caem e a árvore fica nua. Assim acontece nas coisas de religião: Primeiro devem formar um conveniente corpo de católicos para poder fazer frente aos outros partidos, e depois podem chegar a introduzir-se nos outros partidos para formar um só“.

(4) Dito isto, não o ouvi mais, e sem sequer vê-lo me encontrei em mim mesma. Quem pode dizer minha pena por não ter visto o bendito Jesus durante todo o dia, e as lágrimas que tive que derramar?

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15 de Março de 1900

Jesus sente-se desarmado pelas almas vitimas.

(1) Jesus continua sem vir, eu me consumia em dor e sentia uma febre que me fazia delirar. Agora, como o confessor veio celebrar o divino sacrifício, eu comunguei, mas não via, como é habitual, o meu amado Jesus, por isso comecei a dizer os meus disparates: “Diz-me meu Bem, por que não te fazes ver? Desta vez parece-me que não te dei ocasião para que te escondas. Como, da maneira mais fácil? Ai, nem mesmo os amigos desta terra agem desta maneira; quando devem afastar-se ao menos dizem adeus, e você nem sequer me diz adeus? Como, assim se faz? me perdoe se assim falo, é a febre que me faz delirar e me faz chegar à loucura”. Quem pode dizer todas as minhas loucuras que lhe disse? Seria querer perder tempo. Agora, enquanto estava delirando e chorando, Jesus fazia ver agora uma mão, agora um braço, então vi o confessor que me dava a obediência de sofrer a crucificação, e Jesus como obrigado pela obediência se fez ver e eu “Por que não se mostra?” E Ele, mostrando um aspecto sério disse:

(2) “Não é nada, não é nada, é que quero castigar a terra, e Eu, estando bem mesmo com uma só criatura, sinto-me desarmado e não tenho força para lançar mão dos castigos, e ao fazer-me ver você começa a dizer-me, se vês que devo mandar castigos: “Derrama em mim, faz-me sofrer a mim”. E sinto-me vencido por ti, e nunca ponho as mãos em castigos, e os homens não fazem outra coisa senão ensoberbecer-se de demais”.

3) Agora, repetindo o confessor a obediência de me fazer sofrer a crucificação, Jesus mostrava-se lento em fazer-me fazer esta obediência, não como as outras vezes que em seguida queria que me submetesse, e me disse:

(4) “E tu que queres fazer?

(5) E eu: “Senhor, o que Tu quiseres”.

(6) Então, dirigindo-se ao confessor com aspecto sério, disse-lhe:

(7) “Também tu queres atar-me com dar-lhe esta obediência de fazê-la sofrer?”

(8) E enquanto isso dizia começou a me participar as dores da cruz, e depois, mostrando-se mais calmo derramou suas amarguras, depois acrescentou:

(9) “O confessor, onde está?”

(10) E eu: “Senhor, não sei para onde foi, é verdade que não o vejo mais conosco”.

(11) E Ele: “Eu o amo, porque como Ele me consolou a Mim, assim Eu quero confortar a Ele“.

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17 de Março de 1900

Dor do Papa. Humildade.

(1) Esta manhã o bendito Jesus me fazia ver o Santo Padre com as asas abertas, que ia em busca de seus filhos para recolhê-los sob suas asas, e ouvia seus lamentos que diziam: “Meus filhos, meus filhos, quantas vezes busquei reunir-vos sob minhas asas e vocês me fogem! Ah, escutem meus lamentos e tenham compaixão de minha dor!” E enquanto dizia isto chorava amargamente, e parecia que não eram só os leigos que se afastavam do Papa, mas também os sacerdotes, e estes davam mais dor ao Santo Padre. Que pena dava ver o Papa nesta posição! Depois disto vi Jesus que fazia eco aos lamentos do Santo Padre e acrescentava:

(2) “Poucos são os que permaneceram fiéis, e estes poucos vivem como raposas escondidas em suas próprias cavernas, têm medo de expor-se para arrancar seus próprios filhos da boca dos lobos; falam, propõem, mas todas são palavras ditas ao vento, jamais chegam aos fatos“.

(3) Dito isto, ele desapareceu. Depois de pouco tempo voltou e eu me sentia toda aniquilada em mim mesma ante a presença de Jesus, e Ele, vendo-me assim me disse:

(4) “Minha filha, quanto mais você se abaixa em si mesma, tanto mais me sinto atraído a me abaixar para você e te encher de minha graça, eis por que a humildade é precursora da luz”.

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20 de Março de 1900

Advertência de castigos.

(1) Tendo recebido a comunhão, via meu doce Jesus que me convidava a sair com Ele, mas com o pacto de que ao ir junto com Ele, onde via que Jesus estava obrigado a mandar castigos pelos pecados, não devia discutir com Ele para que não os mandasse. Com esta condição saímos, percorrendo a terra. Em primeiro lugar comecei a ver, não muito longe de nós, especialmente em certos pontos, tudo seco, então me dirigindo a Ele disse: “Senhor, como farão estas pobres gentes se lhes falta o alimento para se nutrirem? Ah! Você pode tudo, assim como fez secar, assim faça que reverdeça”. E como tinha a coroa de espinhos estendi-lhe a mão, dizendo: “Meu Bem, que te fizeram estas nações? Talvez te tenham posto esta coroa de espinhos; pois bem, entregue-a a mim, assim ficarás aplacado e lhes darás o alimento para não as deixar morrer”. E tirando-a, coloquei-a sobre a minha cabeça. Enquanto fazia isso, Jesus me disse:

(2) “Parece que não posso levá-la junto Comigo, porque levá-la e não poder fazer nada é o mesmo“.

(3) E eu: “Senhor, não fiz nada, perdoa-me se achas que fiz mal, mas leva-me juntamente contigo”.

(4) E Ele: “O teu modo de agir me ata por todas as partes”.

(5) E eu: “Não sou eu que faço assim, és tu mesmo que me obrigas a fazer assim, porque ao encontrar-me contigo, vejo que todas as coisas são tuas, e se não tomar cuidado das tuas coisas, parece-me que viria a não tomar cuidado de Ti mesmo. Por isso deves perdoar-me se faço assim, já que o faço por amor teu e não deves afastar-me por isto.

(6) Em seguida, continuamos a girar. Eu fazia quanto mais podia para não lhe dizer nada de que não castigasse em alguns pontos, para não lhe dar ocasião que me mandasse retirar e assim perder sua amável presença; mas onde não podia começar a discutir com Ele. Chegamos a um ponto da Itália onde estavam fazendo um convênio que devia causar uma grande desordem, mas não entendi o que era, porque tendo começado a dizer, Senhor, não permita, pobre gente, como farão? Vendo Jesus que eu me afanava e queria impedi-lo, disse-me com império:

(7) “Retira-te, retira-te”.

(8) E tirando uma cinta de pregos, de alfinetes que tinha encaixada em seu corpo, que o fazia sofrer muito, acrescentou:

(9) “Retira-te e leva esta cinta contigo, assim me aliviarás muito“.

(10) E eu: “Sim, eu a porei em teu lugar, mas deixa-me estar Contigo”.

(11) E Ele: “Não, retira-te”.

(12) E o disse com tal império, que não podendo resistir, em um instante me encontrei em mim mesma, e não pude entender qual era aquele convênio.

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25 de Março de 1900

O Verbo de Deus na encarnação torna-se luz das almas.

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus ao vir me disse:

(2) “Assim como o sol é a luz do mundo, assim o Verbo de Deus ao encarnar se fez luz das almas, e assim como o sol material dá luz a todos em geral e a cada um em particular, tanto que cada um o pode gozar como se fosse próprio, assim o Verbo, enquanto dá luz em geral, é sol para cada um particular, assim é verdadeiro, que a este sol divino cada um o pode ter consigo como se fosse para ele somente”.

(3) Quem pode dizer o que entendia sobre esta luz e os efeitos benéficos que produz nas almas que têm este Sol como se fosse seu? Parecia-me que a alma possuindo esta luz põe em fuga as trevas, como o sol material ao surgir sobre nosso horizonte põe em fuga as trevas da noite. Esta luz divina, se a alma é fria, aquece-a; se está nua de virtudes, torna-a fecunda; se está inundada pela nociva enfermidade da tibieza, com seu calor absorve aquele humor mau; numa palavra, para não me alongar demasiado, este sol divino, introduzindo a alma no centro de sua esfera, a cobre com todos seus raios e chega a transformá-la em sua mesma luz.

(4) Depois disto, como eu me sentia toda abatida, Jesus querendo me aliviar me disse:

(5) “Esta manhã quero deleitar-me em ti”.

(6) E ele começou a fazer seus truques amorosos habituais.

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01 de  Abril de 1900

As paixões mudadas em virtudes.

(1) Depois de esperar e esperar, meu doce Jesus fazia-se ver dentro de meu coração. Parecia-me ver um sol que expandia raios, e olhando no centro deste sol descobria o rosto de Nosso Senhor, mas o que me fez espantar é que via no meu coração muitas donzelas vestidas de branco, com coroas na cabeça que rodeavam este sol divino, alimentando-se daqueles raios que expandem este sol. Oh! como eram belas, modestas, humildes e todas atentas, e deleitando-se em Jesus! Então, não conhecendo o significado disto, com um pouco de temor pedi a Jesus que me fizesse saber quem eram aquelas donzelas, e Ele me disse:

(2) “Estas donzelas eram suas paixões, que agora com minha graça mudei em outras tantas virtudes que me fazem nobre cortejo, estando todas à minha disposição, e Eu em recompensa as vou nutrindo com minha contínua graça“.

(3) Ah Senhor, no entanto me sinto tão mal que me envergonho de mim mesma!

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02 de Abril de 1900

Jesus julga não segundo as obras que se fazem, mas segundo a vontade com que se obra.

(1) Esta manhã sofri muito pela ausência de meu amado Jesus, mas Ele recompensou minhas penas satisfazendo um desejo meu de querer saber uma coisa que há muito desejava. Então, depois de ter girado e girado em busca de Jesus, e que agora o chamava com a oração, agora com as lágrimas, agora com o canto, pois talvez pudesse ficar ferido por minha voz e se deixasse encontrar, mas tudo em vão. Tenho repetido meus gemidos; a quem encontrava perguntava sobre Ele, finalmente, quando meu coração se sentia despedaçado e que não podia mais, o encontrei, mas o via de costas, e lembrando-me de uma resistência que lhe fiz, a que direi no livro do confessor pedi perdão e assim parece que nos pusemos de acordo, tanto que ele mesmo me perguntou o que queria, e eu lhe disse: “Diga-me para conhecer sua Vontade sobre meu estado, especialmente o que devo fazer quando me encontro com poucos sofrimentos e Você não vem, e se você vem é quase como sombra; então, não te vendo, meus sentidos os sinto em mim mesma, e encontrando-me nesta posição sinto como se pusesse do meu e não fosse necessário esperar a vinda do confessor para sair daquele estado”.

(2) E Jesus: “Sofras ou não sofras, venha Eu ou não venha, teu estado é sempre de vítima, muito mais que esta é minha Vontade e a tua, e Eu julgo não segundo as obras que se fazem, senão segundo a vontade com que se obra”.

(3) E eu: “Senhor meu, está bem como dizes, mas me parece que estou inútil e se perde muito tempo, e sinto um incômodo, um temor, e além disso fazer vir ao confessor, me atormenta a alma que não fosse Tua vontade”.

(4) E Ele: “Pensas tu que seja pecado fazer vir ao confessor?”

(5) E eu: “Não, mas temo que não seja Tua Vontade”.

(6) E Ele: “Deves fugir do pecado, mesmo da sua sombra, mas do resto não deves preocupar-te”.

(7) E eu: “E se não fosse a tua vontade, em que aproveitaria estar assim?”

(8) E Ele: “Ah, me parece que minha filha quer fugir do estado de vítima, não é verdade?”

(9) E eu, ficando vermelho, disse: “Não Senhor, digo isto pelas vezes que não me fazes sofrer e não vens, de resto faz-me sofrer e eu não me preocuparei”.

(10) E Jesus: “E a mim parece-me que queres fugir. Além disso, você sabe que horas eu reservei para vir aqui e comunicar minhas dores, se a primeira, a segunda, a terceira, ou talvez a última hora? Por isso distraindo-te de Mim e esforçando-te por sair ocupar-te-ás em outra coisa, e Eu vindo não te encontrarei preparada, darei a volta e irei a outra parte”.

(11) E eu toda assustada “Jamais seja, ó Senhor. Não quero saber outra coisa senão a tua Santíssima Vontade”.

(12) E Ele: “Permanece calma e espera o confessor“.

(13) Dito isto, Ele desapareceu. Parece que me sinto aliviada de um grande peso por este falar de Jesus, mas com tudo isto não diminuiu em mim a pena dolorosa quando Jesus me priva Dele. 3 Não se tem notícia deste livro

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09 de Abril de 1900

Abandono em Deus.

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver e me disse quase repreendendo:

(2) “Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo”.

(3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!

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10 de Abril de 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais, fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: “Meu coração, esperemos outro pouco, talvez venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha”. E, dirigindo-me a Ele, dizia: “Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta da vida”. E como não vinha, dizia: “Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando estiveres cansado, nem sequer então virás?” Mas quem pode dizer todos os meus desatinos? Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.

(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:

(3) “Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela”.

(4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

+ + + + 16 de Abril de 1900

As três assinaturas do passaporte da bem-aventurança na terra.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de reprovações do bendito Jesus por minhas ingratidões e resistências a seu Querer e a suas graças, esta manhã ao vir me disse:

(2) “Minha filha, o passaporte para entrar na felicidade que a alma pode possuir sobre esta terra, deve ser assinado com três assinaturas, e estas são: resignação, humildade e obediência.

(3) A resignação perfeita a meu Querer é cera que funde nossos querer e deles forma um só, é açúcar e mel, mas se há uma pequena resistência a meu Querer a cera se desune, o açúcar se torna amargo e o mel se converte em veneno. Agora, não basta estar resignada, senão que a alma deve estar convencida que o maior bem para si mesma e o maior modo de glorificar-me é fazer sempre minha Vontade. Eis a necessidade da assinatura da humildade, porque a humildade produz este conhecimento. Mas quem enobrece estas duas virtudes? Quem as fortifica? Quem as faz perseverantes? Quem as acorrenta juntas para não se poder separar? Quem as coroa? A obediência. Ah sim! A obediência destruindo de todo o próprio querer e tudo o que é material, espiritualiza tudo, e como coroa se põe ao redor, assim que a resignação e a humildade sem a obediência estarão sujeitas a instabilidade, mas com a obediência serão firmes e estáveis, e eis a estreita necessidade da assinatura da obediência, para fazer que este passaporte possa correr para passar ao reino da bem-aventurança espiritual que a alma pode gozar daqui. Sem estas três assinaturas o passaporte não terá valor, e a alma será sempre rejeitada do reino da bem-aventurança e estará obrigada a estar no reino da inquietação, dos temores e dos perigos, e para sua desgraça terá por deus a seu próprio eu, e este estará cortejado pela soberba e pela rebelião”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, dentro de um jardim, que parecia ser o jardim da Igreja, no qual via que se desviavam, por causa de cinco ou seis pessoas, sacerdotes e leigos, que unindo-se com os inimigos da Igreja moviam uma revolução. Que pena dava ver a Jesus bendito chorar o triste estado destas pessoas! Depois vi no ar e vi uma nuvem de água cheia de grandes pedaços de gelo que caíam sobre a terra. Oh!, quanto destroço faziam sobre as colheitas e sobre a humanidade!. Mas espero que queira aplacar-se. Então, mais aflita que antes voltei a mim.

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20 de Abril de 1900

A cruz dá-nos as linhas e a semelhança de Jesus.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo apenas como sombra, e ao vir não diz nada. Esta manhã, depois de ter-me renovado as dores da cruz por duas vezes, olhando-me com ternura enquanto sofria a dor das perfurações dos pregos, disse-me:

(2) “A cruz é um espelho onde a alma vê a Divindade, e contemplando-se nele adquire os lineamentos, a semelhança mais perfeita com Deus. A cruz não se deve apenas amar, desejar, mas ter como honra e glória a mesma cruz, e isto é agir como Deus e tornar-se como Deus por participação, porque só Eu me gloriei da cruz e considerei como uma honra sofrer, e a amei tanto, que em toda minha vida não quis estar um momento sem a cruz”.

(3) Quem pode dizer o que compreendia da cruz por falar do bendito Jesus? Mas me sinto muda para expressá-lo com palavras. Ah! Senhor, peço-te que me mantenhas sempre pregada na cruz, a fim de que tendo sempre diante deste espelho divino, possa limpar todas as minhas manchas e embelezar-me sempre mais à tua semelhança.

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21 de Abril de 1900

Mais que o sacramento, a cruz sela a Deus na alma.

(1) Encontrando-me em meu próprio estado, é mais, com um pouco de temor por uma coisa que não é necessário dizer aqui, meu doce Jesus ao vir me disse:

(2) “E ainda que sejam vasos sagrados, é necessário de vez em quando sacudi-los; vossos corpos são tantos vasos sagrados nos quais faço minha morada, por isso é necessário que de vez em quando lhes dê uma sacudida, isto é, que os visite com alguma tribulação para fazer que Eu esteja neles com mais decoro. Por isso fique calma”.

(3) Depois disto, tendo recebido a comunhão e tendo-me renovado as dores da crucificação, acrescentou:

(4) “Minha filha, como é preciosa a cruz, olha um pouco: O sacramento do meu corpo ao dar-se à alma, une-a Comigo, transforma-a até a tornar uma mesma coisa Comigo, mas ao consumir-se as espécies desune-se a união realmente contraída; mas a cruz não, ela toma a Deus e o une com a alma para sempre, e para maior segurança ela se põe como selo. Portanto, a cruz sela a Deus na alma, de modo que jamais há separação entre Deus e a alma crucificada.

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23 de Abril de 1900

A resignação é óleo que unge.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, via meu doce Jesus que sofria muito, e lhe pedi que me desse parte de suas penas, e Ele me disse:

(2) “Também você sofre, melhor Eu me ponho em seu lugar e você me faz o ofício de enfermeira”.

(3) Então parecia que Jesus se colocava em minha cama, e eu ao seu lado começava a examinar-lhe a cabeça, e um a um lhe tirei os espinhos que estavam pregados. Depois segui com seu corpo e percorri todas suas chagas, lhes secava o sangue, as beijava, mas não tinha com que ungi-las para mitigar a dor, então vi que de mim saía um azeite e eu o tomava e ungia as chagas de Jesus, mas com certo temor porque não compreendia o que significava aquele óleo que saía de mim. Mas Jesus bendito me fez entender que a resignação ao Querer Divino é óleo, que enquanto unge e mitiga nossas penas, ao mesmo tempo é óleo que unge e mitiga a dor das chagas de Jesus. Então, depois de ter estado por um bom tempo fazendo este ofício a meu amado Jesus, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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24 de Abril de 1900

A Eucaristia e o sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, parecia-me que o confessor tinha a intenção de me fazer sofrer a crucificação, e vi imediatamente o anjo da guarda que me estendia sobre a cruz para a fazer sofrer. Depois disto vi meu doce Jesus que me compadecia toda e me disse:

(2) “Teu refrigério sou Eu, meu refrigério é teu sofrer”.

(3) E mostrava um contentamento indescritível por mim sofrer e pelo confessor, porque com a obediência que me tinha dado de sofrer lhe tinha procurado aquele alívio, depois acrescentou:

(4) “Como o sacramento da Eucaristia é fruto da cruz, por isso sinto-me mais disposto a conceder-te o sofrimento quando recebes o meu corpo, porque vendo-te sofrer, parece-me que não misticamente, senão realmente continuo em ti a minha Paixão em proveito das almas, e isto é para Mim um grande alívio, porque recolho o verdadeiro fruto da minha cruz e da Eucaristia”.

(5) Depois disto disse: “Até agora foi a obediência que te fez sofrer, queres tu que eu me divirta um pouco com renovar-te de novo a crucificação com as minhas próprias mãos?”

(6) E eu, embora me sentisse muito sofredor e mesmo afresco as dores da cruz participadas, disse:  “Senhor, estou nas tuas mãos, faze de mim o que quiseres”.

(7) Então Jesus todo contente começou a me cravar de novo os cravos nas mãos e nos pés, sentia tal intensidade de dor, que eu mesma não sei como fiquei viva, porém estava contente porque contentava a Jesus. Depois de cravar os pregos, pondo-se junto a mim começou a dizer:

(8) “Como és bela! Mas quanto mais cresce a tua beleza com o teu sofrer! Oh, como me é amada, meus olhos ficam feridos ao te ver, porque descobrem em ti minha mesma imagem!

(9) E dizia tantas outras coisas que seria inútil dizê-las, primeiro porque sou má, e segundo porque não me vendo como o Senhor me diz, sinto uma confusão e uma vergonha ao dizer estas coisas, por isso espero que o Senhor me faça verdadeiramente boa e bela, e então, diminuindo minha vergonha poderei descrevê-las, por isso ponho ponto.

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25 de Abril de 1900

A pureza no agir é luz.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma e não encontrando a meu doce Jesus, tive que girar muito para ir em busca d’Ele. No final, encontrei-o nos braços da Rainha Mãe, a beber o leite do seu peito, e enquanto eu lhe dizia e fazia, parecia que não me prestava atenção, ou melhor, nem sequer me olhava. Quem pode dizer a dor de meu pobre coração ao ver que Jesus não me fazia caso? Depois de ter dado rédea solta às lágrimas, tendo compaixão de mim veio em meus braços e derramou em minha boca um pouco desse leite que tinha chupado da Mamãe Rainha.

(2) Depois disto olhei seu peito, e tinha uma pequena pérola, tão resplandecente que investia de luz a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor. Então, querendo saber o significado, perguntei a Jesus que coisa era essa pérola, que enquanto parecia tão pequena expandia tanta luz. E Jesus:

(3) “É a pureza do teu sofrer, porque embora seja pequeno, mas como sofres somente por amor meu e estarias disposta a sofrer mais se Eu te concedesse, esta é a causa de tanta luz. Minha filha, a pureza no agir é tão grande, que quem opera com o único fim de agradar a Mim só, não faz outra coisa que mandar luz em todo seu agir. Quem não age corretamente, mesmo o bem, não faz outra coisa senão espalhar trevas”.

(4) Então eu vi no peito de Nosso Senhor, e ele tinha um espelho muito claro, e parecia que quem caminhava retamente estava tudo absorvido naquele espelho, que não estava, ficava fora, sem que pudessem receber qualquer marca da imagem do bendito Jesus. Ah Senhor! Tenha-me toda absorvida neste espelho divino, a fim de que nenhuma outra sombra de intenção tenha eu em meu obrar.

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01 de Maio de 1900

Frutos da cruz.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu doce Jesus fez-se ver toda afabilidade, e como parecia que o confessor punha a intenção da crucificação, minha natureza sentia quase repugnância de submeter-se. Então o meu doce Jesus para me animar disse-me: (2) “Minha filha, se a Eucaristia é garantia da futura glória, a cruz é pagamento para comprá-la. Se a Eucaristia é semente que impede a corrupção, e é como essas ervas aromáticas, com as quais ungindo os cadáveres não se corrompem, e doa a imortalidade à alma e ao corpo, a cruz a embeleza e é tão potente, que se houver dívidas contraídas ela se faz fiadora e com mais segurança faz com que lhe restitua a escritura da dívida contraída, e depois de ter cumprido todo o débito, com isso forma a alma o trono mais deslumbrante na glória futura. Ah! Sim, a Cruz e a Eucaristia se alternam juntas, e uma obra mais potentemente que a outra”.

(3) Depois acrescentou: “A cruz é o meu leito florido, não porque não sofresse dores atrozes, mas porque por meio da cruz dava à luz tantas almas à graça, via brotar tantas belas flores que produziam tantos frutos celestiais, assim que vendo tanto bem, Tinha para meu deleite aquele leito de dor e me deleitava da cruz e do sofrimento. Também tua filha, toma como delícias as penas e te alegre de estar crucificada na minha cruz. Não, não quero que temas o sofrer, como se quisesses agir como preguiçosa, ânimo, obra com animosidade e expõe te por ti mesma ao sofrer”.

(4) Enquanto dizia isto, via o meu anjo que estava preparado para me crucificar, e eu mesma estendi os braços, e o anjo me crucificou. Oh, como gozava o bom Jesus de meu sofrer, e como estava eu contente, porque podia dar gosto a Jesus sendo uma alma tão miserável! Pareceu-me uma grande honra para mim sofrer por seu amor.

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03 de Maio de 1900

Festa da Cruz no Céu.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via todo o céu semeado de cruzes, pequenas, grandes, médias. As maiores, mais resplendor davam. Era um encanto dulcíssimo ver tantas cruzes que embelezavam o firmamento, mais resplandecentes que o sol. Depois disto pareceu que se abria o Céu e se via e ouvia a festa que os bem-aventurados faziam à cruz. Quem mais havia sofrido era mais festejado neste dia. Distinguiam-se de modo especial os mártires e os que haviam sofrido ocultamente. Eis Oh, como se estimava nessa bem-aventurada morada a cruz e a quem mais tinha sofrido! Enquanto via isto, uma voz ressoou por todo o céu empírico que dizia:

(2) “Se o Senhor não mandasse as cruzes sobre a terra, seria como aquele pai que não tem amor pelos próprios filhos, que em vez de querer vê-los honrados e ricos, quer vê-los pobres e desonrados”.

(3) O resto que vi desta festa não tenho palavras para explicá-lo, sinto-o em mim mas não sei manifesta-lo , por isso faço silencio.

 

 

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09 de Maio de 1900

Luisa vê o mistério da Santíssima Trindade na forma de três sóis.

(1) Depois de ter passado dias de privação, e não só isso, mas também de perturbação, esta manhã, encontrando-me mais perturbada sobre o meu miserável estado, o adorável Jesus ao vir disse-me:

(2) “Tu, estando inquieta, perturbaste o meu doce repouso. Ah! Sim, não me deixa descansar mais”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao ouvir que tinha tirado o repouso de Jesus Cristo? Apesar de tudo isto, por algumas horas me acalmei, mas depois me encontrei mais inquieta do que antes, tanto que eu mesma não sei desta vez onde irei terminar.

(4) Depois daquelas poucas palavras que Jesus disse, encontrei-me fora de mim e, olhando para a abóbada dos céus, descobria nela três sóis: um deles parecia pousar no oriente, outro no ocidente, terceiro no meio do dia. Era tanto o esplendor dos raios que emanavam, que se uniam uns com os outros, de modo que formavam um só. Parecia-me ver o mistério da Santíssima Trindade, e o homem formado com as três potências à imagem dela. Compreendia também que quem estava naquela luz, sua vontade ficava transformada no Pai, a inteligência no Filho e a memória no Espírito Santo. Quantas coisas compreendia! mas não sei manifestá-lo.

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13 de Maio de  1900

Privação de Jesus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, se bem faço quanto posso para estar quieta sem me perturbar, porque assim quer a obediência, mas com tudo isto não deixo de sentir o peso do abandono que me oprime e chega até me esmagar. Ó Deus! que estado é este? Diga-me ao menos em que te ofendi? Qual é a causa?  Ah Senhor, se você quiser continuar deste modo eu acho que não posso resistir mais!

(2) Por isso, assim que se fez ver, pondo uma mão sob o queixo em atitude de Compadecer-me, disse-me:

(3) “Pobre filha, a que estado te reduziste!”

(4) E fazendo-me partícipe de suas penas, como raio desapareceu deixando-me mais aflita que antes, como se não tivesse vindo, é mais, sinto-me como se não tivesse vindo há muito tempo, e sinto tal aflição por isto, que vivo, mas meu viver é um contínuo agonizar. Ah! Senhor, me dê ajuda e não me deixe no abandono, embora eu mereça!

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17 de  Maio de  1900

Poder das almas vítimas.

(1) Continua o mesmo estado de privação e de abandono. Então, encontrando-me fora de mim mesma via uma inundação de água misturada com granizo, parecia que várias cidades ficavam inundadas com notáveis danos. Enquanto via isto, encontrava-me em grande consternação porque queria impedir aquela inundação, mas como me encontrava sozinha e sobretudo não tinha comigo a Jesus, meus pobres braços sentia-os fracos para poder fazê-lo. Então, com grande surpresa vi vir uma virgem (me parecia que era da América), e ela de um ponto e eu do outro conseguimos impedir em grande parte o flagelo que nos ameaçava. Depois disto, tendo-nos reunido, via aquela virgem com as insígnias da paixão e coroada com coroa de espinhos, como também eu me encontrava, e uma pessoa que me parecia que fosse um anjo que dizia:

(2) “Ó poder das almas vítimas! O que não nos é dado fazer a nós, anjos, elas com seus sofrimentos podem fazê-lo. Oh! se os homens soubessem o bem que lhes vem delas, porque estão para o bem público e particular, não fariam outra coisa que implorar a Deus que multiplique estas almas sobre a terra”.

(3) Depois disto, tendo-nos dito que nos confiámos mutuamente ao Senhor, separamo-nos .

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18 Maio de 1900

Preencher o interior de Deus.

(1) Encontro-me ainda privada de meu adorável Jesus, no máximo alguma sombra vejo, oh quanto me custa amá-lo, quantas lágrimas devo derramar! Esta manhã, depois de o haver buscado e esperado muito, o encontrei em minha mesma cama, todo aflito, com a coroa de espinhos que lhe traspassava a cabeça; a tirei pouco a pouco e a coloquei sobre a minha.  Oh, como me via mal diante de sua presença! Não tinha força para dizer uma só palavra. Jesus, tendo compaixão de mim, disse-me:

(2) “Tem coragem, não temas, procura preencher teu interior de Mim e enriquecê-lo com todas as virtudes, até que transborde fora, e quando chegares a desbordá-las, então te levarei ao Céu e terminarão todas as tuas privações”.

(3) Depois disso, Ele agregou tomando um ar afligido: “Minha filha, reza, porque estão preparados três diferentes dias, um longe do outro, de tempestades, granizadas, raios, inundações, que causarão grande dano aos homens e às plantas”.

(4) Dito isto desapareceu, deixando-me um pouco mais aliviada no estado em que me encontro, mas com um pensamento: “Quem sabe quando chegarei a transbordar, e se não o fizer, talvez me restará estar sempre distante Dele”.

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20 de Maio de 1900

Todas as coisas têm início no nada. Necessidade do repouso e do silêncio interior.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, me parecia que fosse de noite e via todo o universo, toda a ordem da natureza, 56 o céu estrelado, o silêncio noturno, em suma, me parecia que tudo tinha um significado. Enquanto olhava para isto, parecia-me que via Nosso Senhor, que tomando a palavra acerca do que via disse:

(2) “Toda a natureza convida ao repouso, mas qual é o verdadeiro repouso? É o repouso interior e o silêncio de tudo o que não é Deus. Olhe, as estrelas cintilantes de luz moderada, não deslumbrante como o sol; o sono e o silêncio de toda a natureza, dos homens e até dos animais, e que todos procuram um lugar, uma caverna onde estar em silêncio e repousar do cansaço da vida. Se isso é necessário para o corpo, muito mais para a alma é necessário repousar em seu próprio centro que é Deus. Mas para poder repousar em Deus é necessário o silêncio interior, como ao corpo é necessário o silêncio exterior para poder-se pacificamente adormecer. Mas o que é este silêncio interior? É fazer calar as próprias paixões tendo-as em seu lugar, é impor silêncio aos desejos, às inclinações, aos afetos, em suma, a tudo o que não chama a Deus. Agora, qual é o meio para chegar a isto? O único meio e de absoluta necessidade é desfazer o próprio ser e reduzir-se ao nada, como era antes de ser criada, e quando tiver reduzido a nada o seu ser, retomá-lo em Deus.

(3) Minha filha, todas as coisas têm princípio do nada, esta mesma máquina do universo que você vê com tanta ordem, se antes de criá-la tivesse estado cheia de outras coisas, Eu não poderia colocar minha mão criadora para fazê-la com tanta maestria e deixá-la tão esplêndida e adornada, no máximo poderia desfazer tudo o que podia estar, e depois refazê-la como a Mim me agradava; mas estamos sempre ali, em que todas minhas obras têm princípio do nada, e quando há mistura de outras coisas, não é decoroso para minha Majestade descer e obrar na alma, mas quando a alma se reduz a nada e sobe a Mim, e toma seu ser no meu, então Eu obro como o Deus que sou, e a alma aí encontra o verdadeiro repouso. Eis como todas as virtudes têm princípio na humildade e no aniquilamento de si mesmo.

(4) Quem pode dizer quanto compreendia sobre o que me dizia o bendito Jesus? Oh, como seria feliz minha alma se pudesse chegar a desfazer meu pobre ser, para poder receber de meu Deus seu Ser Divino! ¡ Oh, como me enobreceria, como ficaria santificada! Mas que tolice é a minha, onde tenho o cérebro se ainda não o faço? Que miséria humana, que em vez de buscar seu verdadeiro bem e de empreender seu vôo ao alto, se contenta com arrastar-se por terra e viver na lama e na podridão!

(5) Depois disto meu amado Jesus me transportou dentro de um jardim em que havia muita gente que se preparava para assistir a uma festa, mas só aqueles que recebiam uma divisa podiam assistir, mas eram poucos os que recebiam esta divisa; a mim me veio um grande desejo de recebê-la, e tanto fiz que consegui meu propósito. Depois, tendo chegado ao ponto onde os recebiam, uma venerável matrona primeiro me vestiu de branco, depois me pôs uma banda celestial da qual pendia uma medalha marcada com o rosto de Jesus, e que enquanto era rosto ao mesmo tempo era espelho, que ao contemplar-se nele se descobriam as menores manchas, e que a alma com a ajuda de uma luz que vinha de dentro daquele rosto, podia ser facilmente removido. Parecia-me que essa medalha continha um significado misterioso. Depois tomou um manto de ouro finíssimo e me cobriu toda. Parecia-me que vestida assim podia competir com as virgens bem aventuradas. Enquanto isso acontecia Jesus me disse:

(6) “Minha filha, voltemos a ver o que fazem os homens, por agora basta que estejas vestida, quando for a festa então te levarei para assistir”.

(7) Assim, depois de ter virado um pouco, transportou-me para a minha cama.

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21 de Maio de 1900

O estado mais sublime é desfazer o nosso querer no Querer de Deus, e viver da sua Vontade.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha; depois de muito esperar veio e me acariciou me disse:

(2) “Minha filha, sabes qual é a minha mira sobre ti, e o estado que quero de ti?”

(3) E parando um pouco acrescentou: “O olhar que tenho sobre ti não é de coisas prodigiosas, e de tantas outras coisas que poderia obrar em ti para mostrar minha obra, senão que minha mira é te absorver em minha Vontade e te fazer uma só coisa com Ela, e fazer de ti um exemplar perfeito de uniformidade de teu querer com o meu. Este é o estado mais sublime, é o prodígio maior, é o milagre dos milagres o que de você quero fazer.

(4) Minha filha, para chegar perfeitamente a fazer um nosso querer, a alma deve tornar-se invisível, deve imitar-me a Mim, que enquanto encho o mundo com tê-lo absorvido em Mim e com não ficar absorvido nele, torno-me invisível e de nenhum modo me deixo ver. Isto significa que não há nenhuma matéria em Mim, senão que tudo é puríssimo Espírito, e se em minha Humanidade assumida tomei a matéria, foi para assemelhar-me em tudo ao homem e dar-lhe um exemplar perfeitíssimo de como espiritualizar esta mesma matéria. Então a alma deve espiritualizar tudo e chegar a tornar-se invisível para poder fazer facilmente uma sua vontade com minha Vontade, porque o que é invisível pode ser absorvido em outro objeto. De dois objetos com os quais se quer formar um só, é necessário que um perca a própria forma, de outra maneira jamais se chegaria a formar um só ser.

(5) Que sorte seria a sua se destruindo a si mesma, até se tornar invisível, pudesse receber uma forma toda divina! E mais, tu com ficar absorvida em Mim e Eu em ti, formando um só ser, virias a reter em ti a fonte divina, e como minha Vontade contém todo o bem que pode existir, virias a reter todos os bens, todos os dons, todas as graças, E não teria que procurar em outro lugar senão em você mesma. E se as virtudes não têm confins, estando em minha Vontade segundo a criatura possa chegar, encontrará seu termo, porque minha Vontade faz chegar a adquirir as virtudes mais heróicas e mais sublimes que a criatura por si só não pode superar .

(6) É tanta a altura da perfeição da alma desfeita em meu Querer, que chega a agir como Deus, e isto não é de admirar, porque como não vive mais sua vontade nela, senão a Vontade do próprio Deus, cessa todo assombro se vivendo com esta Vontade possui a potência, a sabedoria, a santidade e todas as outras virtudes que o próprio Deus contém. Basta te dizer, para fazer que você se apaixone e coopere o quanto puder por sua parte para chegar a tanto, que a alma que chega a viver só de meu Querer é rainha de todas as rainhas e seu trono é tão alto, que chega até o trono do Eterno, e entra nos segredos da Augustíssima Trindade e participa no amor recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Oh, como todos os anjos e santos a honram, os homens a admiram e os demônios a temem, descobrindo nela o Ser Divino!”.

(7) Ah Senhor! Quando é que me vais fazer chegar a isto, porque não posso fazer nada por mim? Agora, quem pode dizer o que o Senhor infundia em mim com luz intelectual sobre esta uniformidade de querer-vos? É tanta a altura dos conceitos, que minha língua não bem treinada não tem palavras para expressá-los, apenas pude dizer isto pouco, se bem disparatando, do que o Senhor com luz vivíssima me fez compreender.

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26 de  Maio de 1900

 O querer de Luísa é um com o de Jesus.

(1) Encontrando-me muito afligida pela privação de meu adorável Jesus, que ao mais vem como sombra e relâmpago, sinto que não posso seguir adiante se Ele quiser continuar assim. Então, encontrando-me no máximo da aflição, por pouco se fez ver, todo cansado, como se tivesse necessidade de um alívio, e pondo os seus braços ao meu pescoço me disse:

(2) “Amada minha, traze-me flores e circunda-me tudo, porque me sinto definhar de amor. Minha filha, o odor do perfume de tuas flores me será de alívio e porá um remédio a meus males, porque definho e desfaleço”.

(3) Eu logo acrescentei: “E Tu, meu amado Jesus, dá-me frutos, porque o lazer e o escasso sofrer aumentam de tal maneira o meu definhar, que desfaço até me sentir morto; e então não só flores, senão que poderei dar-te frutos para poder consolar maioritariamente o teu definhar”. E Jesus voltou a falar e me disse:

(4) “Oh, como nos ajustamos bem, não é verdade? Parece que seu querer é um com o meu.

(5) Por um momento parecia que ficava aliviada, como se quisesse cessar o estado em que me encontrava, mas depois de um pouco me encontrei imersa na mesma letargia de antes, privada de meu Sumo Bem, abandonada e sozinha.

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27 de Maio de 1900

O amor e a graça penetram nas profundezes do ser do homem.

(1) Esta manhã, sentindo-me mais do que nunca afligida pela privação do meu sumo Bem, assim que me fez ver, disse-me:

(2) “Assim como um vento impetuoso investe nas pessoas e penetra até nas vísceras, de modo a sacudir toda a pessoa, assim meu amor e minha graça voando sobre as asas dos ventos, invistam e penetram no coração, na mente e nas mais profundas partes do homem. Com tudo isso, o homem ingrato rejeita minha graça e me ofende, oh! qual não é a minha acerbo dor?”

(3) Eu estava toda confusa e aniquilada em mim mesma e não ousava dizer uma só palavra, só pensava: “Como é que não vem?” E também: Se ele vier, não vejo claramente, parece que perdi a claridade, quem sabe se verei o seu lindo rosto revelado como antes?” Enquanto assim pensava, meu benigno Jesus acrescentou:

(4) “Minha filha, por que temes, se teu estado está nos Céus pela união de nossos querer?

(5) E querendo me animar e compadecer meu estado doloroso me disse:

(6) “Tu és meu novo Jó. Não te oprimas muito se não me vês com clareza .Disse-te desde o outro dia, que não venho como é habitual porque quero castigar as nações, e se tu me visses com clareza compreenderias o que Eu estou fazendo, e teu coração, como recebeu o enxerto do meu, por isso sei o que tu virias a sofrer, como o meu coração está a sofrer porque sou forçado a punir as minhas criaturas. Então, para poupar-lhe essas dores, eu não me faço ver com clareza”.

(7) Quem pode dizer as feridas que deixou meu pobre coração? Ah Senhor, dá-me a força para suportar a dor!

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29 Maio de 1900

Ameaça de castigos.

(1) Continuo a estar no mesmo estado, sentia-me toda oprimida e tinha toda a necessidade de um apoio para poder suportar a privação do meu Sumo Bem. O bendito Jesus, tendo compaixão de mim, por alguns minutos mostrou o seu rosto de dentro do meu coração, mas não com clareza, e fazendo-me ouvir a sua suave voz disse-me:

(2) “Tem ânimo mais um pouco minha filha, deixa-me terminar de castigar e depois virei como antes”.

(3) Enquanto dizia isto, em minha mente pensava: “Quais são os castigos que começou a mandar?” E Ele acrescentou:

(4) “A chuva contínua é mais do que granizo, que está a fazer e vai trazer tristes consequências para as pessoas“.

(5) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, dentro de um jardim, e dali de dentro se viam as colheitas e as vinhas secas, e dentro de mim ia dizendo: “Pobre gente, pobre  gente, como farão?” Enquanto dizia isto, dentro daquele jardim estava um menino que chorava e gritava tão forte que ensurdecia Céu e Terra, mas ninguém tinha compaixão dele, ainda que todos o ouvissem que chorava tanto, não o levavam em conta e o deixavam sozinho e abandonado. Um pensamento passou pela minha cabeça: “Quem sabe? Como melhor será Jesus”. Mas não estava segura. Então, aproximando-me Dele lhe disse: “Que tens que chorar menino amado? Queres vir comigo, já que todos te deixaram abandonado às tuas lágrimas e à dor que te oprime tanto que te faz gritar tão forte?” Mas o que, quem poderia acalmá-lo? Apenas entre soluços respondeu que sim, que queria vir. Então eu o peguei pela mão para conduzi-lo junto comigo, e no momento que fiz isso, me encontrei em mim mesma.

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03 de Junho de 1900

A falta de estima pelas pessoas é falta de verdadeira humildade.

(1) Encontrando-me no mesmo estado, esta manhã, por um pouco vi meu adorável Jesus, que estava dentro de meu coração e dormia, e seu sonho atraía a minha alma a adormecer junto com Ele, tanto que sentia todas as potências interiores adormecidas, sem obrar mais. Às vezes me esforçava para sair daquele sonho, mas não podia, quando por um pouco se despertou o bendito Jesus e ordenou por três vezes seu alento dentro de mim, e me parecia que Ele ficava tudo absorvido em mim. Depois me parecia que Jesus atraiu outra vez dentro Dele esses três alentos que me havia enviado, e eu me encontrei toda transformada Nele. Quem pode dizer o que acontecia em mim por estes sopros divinos? Daquela união inseparável entre Jesus e eu, não tenho palavras para expressá-la. Depois disso parece que eu poderia acordar e Jesus, quebrando o silêncio me disse:

(2) “Minha filha, olhei e voltei a olhar, procurei e voltei a procurar, percorrendo toda a terra, mas em ti fixei os meus olhares e encontrei as minhas complacências, e escolhi-te entre milhares”.

(3) Depois, dirigindo-se a certas pessoas que via, repreendeu-as dizendo-lhes:

(4) “A falta de estima pelas outras pessoas é falta de verdadeira humildade cristã e de docilidade, porque um espírito humilde e doce sabe respeitar a todos e interpreta sempre bem os atos dos demais”.

(5) Dito isso, ele desapareceu sem sequer dizer uma palavra. Seja sempre abençoado que ele quer, e tudo seja para a sua glória.

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06 de Junho de 1900

Luisa crucificada, evita alguns castigos sobre Corato.

(1) Como meu adorável Jesus continuava sem se fazer ver com clareza, esta manhã, tendo recebido a comunhão, o confessor pôs a intenção da crucificação; enquanto me encontrava nesses sofrimentos, o bendito Jesus, quase atraído por minhas penas mostrou-se com clareza. Oh Deus! Quem pode dizer os sofrimentos que sofria Jesus e o estado violento em que se encontrava, porque enquanto estava obrigado a mandar os castigos, sentia tal violência que não queria mandálos? Dava tanta compaixão vê-lo neste estado, que se os homens o pudessem ver, ainda que seus corações fossem de diamante se romperiam Como vidro frágil pela ternura. Então comecei a implorar-lhe que se acalmasse e que se contentasse em fazer-me sofrer a mim, e que perdoasse o povo. Depois acrescentei: “Senhor, se não queres ouvir as minhas orações, sei que o mereço; se não queres ter compaixão dos povos, tens razão, porque grandes são as nossas iniqüidades, mas peço-te em graça que tenhas compaixão de ti mesmo, tem piedade da violência que te fazes ao castigar as tuas imagens. Ah! sim, te peço por amor de Ti mesmo, que não mande castigos até chegar a tirar o pão a seus filhos e fazê-los perecer. Ah! não, não é da natureza do seu coração agir deste modo, por isso é a violência que sentes, que se pudesse te daria a morte”.

(2) E Ele, todo aflito, me disse: “Minha filha, é a justiça que me faz violência, e o amor que tenho pelos homens me faz violência mais forte, tanto, de pôr a meu coração em angústias de morte ao castigar as criaturas”.

(3) E eu: “Por isso, Senhor, descarrega sobre mim a justiça, e teu amor não será mais violentado pela justiça e não se encontrará em conflito para castigar as nações, porque em verdade, como farão se Tu agires, como me fazes compreender, secando tudo o que serve de alimento ao homem? Ah, peço-te, deixa-me sofrer e perdoa-lhes a eles, se não em tudo pelo menos em parte”.

(4) E Jesus, como se fosse obrigado por minhas orações, aproximou-se da minha boca e derramou da sua um pouco de amargura, densa e nauseante, que assim que a engoli me produziu tais e tantas espécies de penas que me sentia morrer. Então o bendito Jesus, sustentando-me nessas penas, caso contrário teria ficado vítima (e todavia não havia derramado mais que um pouco, o que será de seu coração adorável que tanta continha?), suspirou como se tivesse se aliviado de um peso e me disse:

(5) “Minha filha, minha justiça tinha decidido destruir tudo, mas agora descarregando um pouco sobre ti, por amor teu concede um terço do que serve de alimento ao homem”. (6) E eu: “Ah Senhor, é muito pouco, pelo menos a metade!”

(7) E Ele: “Não minha filha, aceita-te”.

(8) E eu: “Não Senhor, se não me queres contentar por todos, pelo menos diz-me por Corato e por aqueles que me pertencem”.

(9) E Jesus: “Hoje está preparada uma saraivada que deve fazer grande dano, tu estás com as dores da cruz, sai de ti mesma e em forma crucificada vê no ar e põe em fuga os demônios de cima de Corato, porque ante tua forma crucificada não poderão resistir e irão a outra parte”.

(10) Assim saí de mim mesma, crucificada, e vi a saraiva e os raios que estavam prestes a irromper sobre Corato. Quem pode dizer o espanto dos demônios, como à vista de minha forma crucificada corriam, mordiam os dedos de raiva e chegavam a tomá-la contra o confessor que esta manhã me tinha dado a obediência de sofrer a crucificação, já que contra mim não a podiam tomar, aliás, eram obrigados a fugir de mim pelo sinal da Redenção que advertiam? Então, depois de tê-los posto em fuga retornei a mim mesma, encontrando-me com uma boa dose de sofrimentos. Seja tudo para a glória de Deus.

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07 de Junho de 1900

Jesus lhe entrega as chaves da justiça e uma luz para descobri-la.

(1) Como me encontrava sofredora, parecia-me que aqueles sofrimentos eram uma doce corrente que atraía meu bom Jesus a fazê-lo vir quase que continuamente, e me parecia que aquelas penas chamavam a Jesus para fazê-lo derramar em mim outras amarguras. Então, ao vir, agora me segurava em seus braços para me dar força, e agora derramava de novo. Eu de vez em quando lhe dizia: “Senhor, agora sinto em mim parte de tuas penas, rogo-te que me contentes, como te disse ontem de dar-me ao menos a metade do que serve para alimento do homem”.

(2) E Ele: “Minha filha, para te contentar te entrego as chaves da justiça e o conhecimento de quanto é absolutamente necessário castigar o homem, e com isto farás o que te agrade, não estás contente por isso?”

(3) Ao ouvir-me dizer isto, consolei-me e disse dentro de mim: “Se está em mim, de facto não castigarei nenhum”. Mas como fiquei desiludida quando o bendito Jesus me deu uma chave e me pôs no meio de uma luz, e olhando do meio daquela luz descobria todos os atributos de Deus, e também os da justiça. ¡ Oh, como tudo está ordenado em Deus! E se a justiça castiga, é ordem; e se não castiga não estaria em ordem com os demais atributos. Agora me via como miserável verme no meio daquela luz, e que se quisesse impedir o curso à justiça, arruinaria a ordem e iria contra os mesmos homens, porque compreendia que a mesma justiça é amor puríssimo para com eles. Então me encontrei toda confusa e incomodada, por isso para me desentender disse a nosso Senhor: “Com esta luz da qual me rodeastes entendo as coisas de maneira diversa, e se me deixasses agir a mim fá-lo-ia pior do que Tu, por isso não aceito este conhecimento e renuncio às chaves da justiça; o que aceito e quero é que me faças sofrer e que libertes as pessoas; do resto não quero saber nada”.

(4) E Jesus, sorrindo diante de mim, disse-me:

(5) “Como! Tão logo queres te afastar, não querendo conhecer nenhuma razão e querer fazer-me violência mais forte queres sair com duas palavras: Faz-me sofrer a mim e livra-te deles”.

(6) E eu: “Senhor, não é que não queira saber nenhuma razão, senão que não é ofício meu, mas teu. Meu ofício é o de ser vítima, por isso Tu faz teu ofício e eu faço o meu, não é verdade meu amado Jesus?”

(7) E Ele, mostrando como uma aprovação desapareceu.

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10 de  Junho de 1900

Ofício de vítima. Castigos.

(1) Parece-me que o meu adorável Jesus continua a dividir em dois a justiça, derramando um pouco em mim e o resto nas pessoas. Esta manhã, especialmente quando me encontrei com Jesus, me destroçava a alma ao ver a tortura de seu dulcíssimo coração ao castigar as criaturas. Era tanto o estado sofredor no qual se encontrava, que não fazia outra coisa que emitir contínuos gemidos, tinha na cabeça uma tupida coroa de espinhos, toda encarnada, tanto que a cabeça parecia um conjunto de espinhos. Então, para aliviá-lo um pouco, eu disse-lhe: “Diz-me, meu bem, o que é que tens que estás a sofrer tanto? Permite-me que te tire estes espinhos que não tão pouco te atormentam”. Mas Jesus não me respondia, aliás, nem sequer escutava o que eu dizia. Então me pus a remover aqueles espinhos, uma por uma, e depois as pus sobre minha cabeça. Agora, enquanto fazia isto, vi que em lugares longínquos devia acontecer um terremoto que faria matança de pessoas. Depois Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma, mas com suma aflição minha ao pensar no estado sofredor de Jesus e nas desgraças da miserável humanidade.

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12 de Junho de 1900

A obediência a faz pedir a Jesus que a faça sofrer para impedir os castigos.

(1) Esta manhã, ao vir o meu amável Jesus, comecei a dizer: “Senhor, o que fazes? Parece que estás a ir longe demais com a justiça”. E enquanto queria continuar a falar para desculpar as misérias humanas, Jesus impôs-me silêncio dizendo-me:

(2) “Cala-te, se queres que me entretenha contigo vem beijar-me e curar-me com as tuas habituais adorações todos os meus membros sofredores”.

(3) Assim comecei pela cabeça, e depois, pouco a pouco pelos outros membros. Oh, quantas chagas profundas tinha aquele corpo sacrossanto, que só olhá-las dava horror! Então, não apenas tinha terminado desapareceu, deixando-me com pouquíssimo sofrimento e com um temor: quem sabe como se derramará sobre as nações, porque não se dignou derramar sobre mim as suas amarguras.

(4) Pouco depois veio o confessor e disse-lhe o anterior, e ele disse-me que hoje, por obediência absoluta, quando fizer a meditação deves pedir-lhe que te faça sofrer a crucificação e que deixe de mandar os flagelos. Então, quando fiz a meditação, assim que se fez ver lhe roguei de acordo com 63 a obediência recebida, mas não me pôs atenção, é mais, agora se fazia ver que virava as costas às pessoas, agora que dormia para não ser importunado por mim, e que sei eu, me sentia morrer porque não se preocupava em me fazer a obediência; então tomei coragem, e pondo toda a confiança na santa obediência o tomei por um braço, e movendo-o para despertá-lo eu lhe disse: “Senhor, que fazes? Este é o amor que tens pela tua virtude predileta da obediência? Estes são os elogios que lhe deram tantas vezes? Estas são as honras que lhe concedeste, até dizer que te sentes abalado e não podes resistir à virtude da obediência e sentes-te cativado pela alma que se doa a esta virtude, que agora parece que não te importas de me obedecer? Enquanto isto e outras coisas dizia, e que me prolongaria demasiado se quisesse escrevê-las, o bendito Jesus sacudiu-se, e como atingido por uma vivência de dor, rompeu em abundante pranto, e soluçando disse:

(5) “Nem Eu quero mandar açoites, é a justiça que me obriga quase à força, mas tu com este falar queres-me ferir ao vivo e tocar-me uma fibra muito delicada para Mim e muito amada por Mim, tanto que não quis outra honra nem outro título que o de obediente. E para te fazer ver que não é que não me importe de te fazer obedecer, com tudo o que a justiça me obriga a não fazer, te compartilho em parte as dores da cruz”.

(6) Enquanto fazia isto, desapareceu, deixando-me contente porque me fez obedecer e com um desgosto na alma, como se tivesse sido causa de fazer chorar ao Senhor com o meu falar. Ah Senhor, peço que me perdoe!

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14 Junho de 1900

 Efeitos da cruz.

(1) Encontrando-me não pouco sofredor, meu adorável Jesus, ao vir toda me compadecia e me disse:

(2) “Minha filha, o que tens que sofres tanto? Deixe-me aliviar um pouco”.

(3) E mas Jesus estava mais sofredor que eu) assim me deu um beijo, e como estava crucificado me atraiu fora de mim mesma e pôs minhas mãos nas suas, meus pés nos seus, minha cabeça apoiava sobre a sua e a sua sobre a minha. Como estava contente por me encontrar nesta posição! Se bem que os cravos e os espinhos de Jesus me causavam dor, eram dores que me davam alegria porque eram sofridos por amor ao meu amado Bem; aliás, queria que aumentassem. Também Jesus parecia contente comigo porque me tinha naquele modo em que me sentia atraída por Ele. Parecia-me que Jesus me consolava e eu era consolação para Ele.

(4) Então, nesta posição saímos fora, e tendo encontrado o confessor, em seguida pedi por suas necessidades e disse ao Senhor que se dignasse fazer ouvir ao confessor como é doce e suave sua voz. Jesus para me contentar se dirigiu a ele e lhe falou da cruz dizendo:

(5) “A cruz absorve na alma minha Divindade, a assemelha à minha Humanidade e copia em si mesma minhas mesmas obras”.

(6) Depois continuamos a girar mais um pouco e, oh, quantas cenas dolorosas que trespassavam a alma de lado a lado! As graves iniqüidades dos homens, que nem sequer se curvam perante a justiça, ao contrário, lançam-se com maior furor, como se quisessem dar duplas feridas por cada ferida, e a grande miséria que eles próprios se preparam. Então, com grande amargura nos retiramos; Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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17 de Junho de 1900

Colocar-se em Deus e não sair dos confins da paz, é o mesmo.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, em meu íntimo me sentia suscitar alguma sombra de perturbação sobre o por que não vinha; Então ao vir me disse:

(2) “Minha filha, conter-se em Deus e não sair dos confins da paz é tudo o mesmo. Então, se você percebe um pouco de perturbação, é sinal de que você saiu um pouco de dentro de Deus, porque se preencher Dele e não ter perfeita paz é impossível, muito mais que os confins de a paz são intermináveis, antes tudo o que pertence a Deus é paz”.

(3) Depois acrescentou: “Não sabes tu que as privações à alma servem como o inverno às plantas, que faz que aprofundarem-se as raízes, as fortifica e as faz reverdecer e florescer em maio?”

(4) Depois disto, transportou-me para fora de mim mesma e, tendo-lhe confiado várias necessidades, desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma, com o desejo de me manter sempre dentro de Deus, a fim de que me pudesse encontrar dentro dos confins da paz.

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18 de Junho 18 de 1900

Tudo o que é criado nos ensina o amor de Deus, o corpo chagado de Jesus, o amor do próximo.

(1) Jesus continua sem vir, e eu tratava de me ocupar em considerar o mistério da flagelação. Enquanto fazia isto vi o bendito Jesus todo chagado e jorrando sangue e me disse:

(2) “Minha filha, o céu com tudo o criado te ensina o amor de Deus; meu corpo chagado te ensina o amor do próximo, tanto, que minha Humanidade unida a minha Divindade, de duas naturezas fiz uma só e as tornei inseparáveis, porque não só satisfiz a divina justiça, mas realizei a salvação dos homens. E para fazer com que todos assumissem esta obrigação de amar a Deus e o próximo, não só fiz disto uma única obrigação, mas cheguei a fazer desta obrigação um preceito divino. Assim, minhas chagas e meu sangue são tantas línguas que ensinam a cada um o modo de amar-se, e a 65 obrigação que todos têm de prestar atenção à salvação dos demais”.

 

(3) Depois, tomando um aspecto mais aflito acrescentou:

(4) “Que tirano impiedoso é para mim o amor, porque não só empreguei todo o curso de minha vida mortal em contínuos sacrifícios, até morrer sangrando sobre uma cruz, senão que me deixei como vítima perene no sacramento da Eucaristia. E não só isto, mas a todos os meus membros prediletos tenho vítimas viventes em contínuos sofrimentos, empenhados na salvação dos homens, como entre tantos escolhi a ti para ter-te sacrificada por amor meu e pelos homens. Ah sim! Meu coração não encontra descanso nem repouso se não encontrar o homem, e o homem, como é que me corresponde? Com ingratidões enormes.”

(5) Dito isto, Ele desapareceu.

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20 de  Junho de 1900

A humildade mais perfeita produz na alma a união mais íntima com Deus.

(1) Esta manhã, estando fora de mim mesma e não encontrando meu Sumo Bem, tive que girar e girar em busca Dele; quando me cansei até sentir desfalecer, senti-o atrás de minhas costas, que me sustentava. Então estendi o braço e o puxei para a frente dizendo: “Meu amado, sabes que não posso ficar sem Ti, não obstante me fazes esperar tanto, até me fazer desmaiar. Diz-me pelo menos, qual é a causa, em que te ofendi que me submetes a dilacerações tão cruéis, a martírios tão dolorosos como é a tua privação?” E Jesus interrompendo o meu discurso disse-me:

(2) “Minha filha, minha filha, não acrescente mais rasgos ao meu coração exacerbado ao máximo, pois se encontra em contínua luta pelas violências que constantemente todos me fazem: Violência me fazem as iniqüidades dos homens, que atraindo sobre eles a justiça me forçam a puni-los, e a justiça pondo-se em contínua luta com o amor que tenho pelos homens, rasga-me o coração de modo tão doloroso, de me fazer morrer continuamente; violência me fazes tu, porque vindo Eu e conhecendo tu os castigos que estou enviando, não estás quieta, não, mas que me força, me faz violência e não quer que castigue, e sabendo Eu que você não pode fazer de outra maneira ante minha presença, para não expor meu coração a uma luta mais feroz, me abstenho de vir. Por isso não me violentes para me fazeres vir agora; deixa-me desabafar a minha ira, e não queiras aumentar as minhas penas com as tuas palavras. Quanto ao resto não quero que pense, porque a humildade mais perfeita, mais sublime, é a de perder toda razão e não discorrer sobre o porquê e do como, mas se desfazer no próprio nada, e enquanto a alma faz isto, sem adverti-lo encontra-se perdida em Deus, e isto produz nela a união mais íntima, o amor mais perfeito para o sumo Bem. Isto com sumo proveito da alma, porque perdendo a própria razão adquire a razão divina, e perdendo todo pensamento sobre si mesma, isto é, se está fria ou quente, se são favoráveis ou 66 adversas as coisas que lhe acontecem, se interessará e adquirirá uma linguagem toda celestial e divina.

(3) Além disso, a humildade produz na alma uma vestidura de segurança, pelo que envolta neste vestido de segurança, a alma está na calma mais profunda, embelezando-se toda para agradar ao seu querido e amado Jesus”.

(4) Quem pode dizer como fiquei surpreendida por este falar de Jesus? Não tive nem uma palavra para responder. Pouco depois desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, quieta, sim, mas aflita no máximo, primeiro pelas aflições e lutas nas quais se encontrava meu amado Jesus, e depois pelo temor de que não viesse. Quem poderá resistir? Como farei para suportar a mim mesma por sua ausência? Ah! Senhor, dá-me a força para suportar tão duro martírio, tão insuportável a minha pobre alma! De resto, diga o que quiser, porque por mim não deixarei nenhum meio, tentarei todos os caminhos, usarei todos os estratagemas para atraí-lo para que venha.

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24 de Junho de 1900

A cruz é o alimento da humildade.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, em que no máximo se fazia ver como sombra, como um relâmpago, minhas potências as sentia todas adormecidas, de modo que eu mesma não entendia o que acontecia em meu interior. Neste adormecimento uma só pena se despertava em meu interior, e era que me parecia que tinha acontecido como a um que enquanto dorme perde a vista, ou bem é despojado de todas suas riquezas, pelo que o miserável não pode nem doer-se, nem defender-se, nem usar algum meio para libertar-se de seus infortúnios. Pobrezinho, em que estado tão desastroso se encontra! Mas, qual é a causa? O sonho, porque se estivesse acordado certamente saberia defender-se de suas desventuras. Assim é meu mísero estado, não me é dado nem sequer dar um gemido, um suspiro, derramar uma lágrima, porque perdi de vista Aquele que é todo meu amor, todo meu bem e que forma todo meu contentamento. Parece que para que eu não sofra por sua privação me adormeceu e me deixou-me. A. Ah! Senhor, acorda-me Tu, a fim de que possa ver minhas misérias e conhecer ao menos do que estou privada.

(2) Agora, enquanto me encontrava neste estado, de dentro de mim ouvi o bendito Jesus que se lamentava continuamente. Esses lamentos feriram meus ouvidos e despertando um pouco disse: “Meu só e único Bem, por teus lamentos advirto o estado tão sofredor no qual te encontras, isto te sucede porque queres sofrer só e não queres me fazer partícipe de tuas penas, é mais, Para não me teres na tua companhia, fizeste-me adormecer e deixaste-me sem me fazer entender mais nada. Entendo o porquê de tudo isto, para estar mais livre para punir, mas ah! tem compaixão de  mim, pois sem Ti estou cega, e tem compaixão de Ti, porque é sempre bom em todas as circunstâncias ter quem te faça companhia, que te console e que de algum modo diminua a tua ira, porque por agora estás firme em mandar açoites, Mas quando vires as tuas imagens a perecer da miséria, lamentarás mais do que agora e talvez me digas: “Ah, se tu te tivesses empenhado mais em aplacar-me, se tivesses tomado sobre ti as penas das criaturas, não veria tão destroçados os meus próprios membros!” Não é verdade meu pacientíssimo Jesus? Ah, Jesus, Jesus, deixa-te sofrer um pouco e deixa-me sofrer em teu lugar!”

(3) Enquanto isso dizia, Ele se lamentava continuamente, quase no ato de querer ser compadecido e aliviado, mas queria que lhe arrancasse quase por força este mesmo alívio, pelo que depois de meus rogos estendeu em meu interior suas mãos e pés cravados e me participou um pouco suas penas. Depois disto, dando um pouco de trégua a seus lamentos me disse:

(4) “Minha filha, são os tristes tempos que a isto me obrigam, porque os homens se fortaleceram e ensoberbecido tanto, que cada um acredita ser deus para si mesmo, e se Eu não ponho mão nos flagelos faria um dano a suas almas, porque só a cruz é o alimento da humildade. Então, se eu não fizesse isso, eu mesmo lhes faria falta o meio para humilhá-los e rende-los de sua estranha loucura, ainda que a maior parte me ofendam mais, mas Eu faço como um pai que reparte a todos o pão para alimentá-los; que alguns filhos não o queiram tomar, mas sim que se sirvam dele para atirá-lo na cara ao pai, que culpa tem disso o pobre pai? Assim sou Eu. Por isso compadece-me em minhas aflições”.

(5) Dito isto, desapareceu deixando-me meio acordada e meio adormecida, não sabendo eu mesma nem se devo acordar perfeitamente, nem se devo dormir outra vez.

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27 de Junho de 1900

A alma deve reconhecer-se em Jesus, não em si mesma.

(1) Continuo adormecida. Esta manhã por poucos minutos me encontrei acordada e compreendia meu estado miserável, sentia a amargura da privação de meu sumo e único Bem; apenas pude derramar duas lágrimas lhe dizendo: “Meu sempre bom Jesus, como é que não vem? Estas são coisas que não se fazem, ferir a uma alma de Ti e depois deixá-la. E além disso, para não lhe dar a conhecer o que faz, deixa-a em poder do sonho. Ah, venha, não me faça esperar tanto!” Enquanto isso e outros desatinos mais disse, em um instante veio e me transportou para fora de mim mesma; e como eu queria lhe dizer meu pobre estado, Jesus impondo-me silêncio me disse:

(2) “Minha filha, o que quero de ti é que não te reconheças mais em ti mesma, senão que te reconheças somente em Mim; assim que de ti não te recordarás mais, nem terás mais reconhecimento de ti, senão te lembrarás de Mim, e te desconhecendo a ti mesma adquirirás só 68 meu reconhecimento, e à medida que te esqueceres e te destruíres a ti mesma, assim avançarás em meu conhecimento e te reconhecerás somente em Mim, quando tiveres feito isto, não mais pensará com a tua mente, mas com a minha, não olharás com os teus olhos, não falarás mais com a tua boca, nem palpitarás com o teu coração, nem trabalharás com as tuas mãos, nem andarás com os teus pés, mas com tudo o que é meu, para te reconheceres somente em Deus, a alma tem necessidade de ir à sua origem e voltar ao seu princípio, Deus, isto é, de onde veio, e que se uniformiza toda a si mesma ao seu Criador; e que tudo o que detém de si mesma e que não é conforme ao seu princípio, deve desfazê-lo e reduzi-lo a nada. Só assim, nua, desfeita, pode voltar à sua origem e reconhecer-se só em Deus, e agir segundo o fim para o qual foi criada. Eis aqui então que para uniformizar-se toda em Mim, a alma deve tornar-se indivisível Comigo”.

(3) Enquanto dizia isto, via o terrível castigo das plantas secas e como deve avançar mais. Mal pude dizer: “Ah! Senhor, como farão as pobres pessoas?” E Ele, para não me prestar atenção, como um relâmpago fugiu e desapareceu. Quem pode dizer a amargura de minha alma ao encontrar-me em mim mesma, por não haver podido dizer nem sequer uma palavra por mim e por meu próximo, e pela tendência ao sono, porque de novo estou nesse estado.

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28 de Junho de 1900

Os castigos presentes, não são outra coisa que uma preparação aos castigos futuros.

(1) Esta manhã, encontrando-me extremamente aflita pela privação do meu amado Jesus, assim que o vi, disse-me:

(2) “Minha filha, quantas máscaras serão tiradas nestes tempos de castigos, porque estes castigos presentes não são outra coisa que uma preparação a todos os castigos que te manifestei no curso do ano passado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu dentro de mim pensava: “Se o Senhor continua a fazer da mesma forma que está a fazer, isto é, porque quer mandar castigos não vem, não me participa as suas penas, trata-me com modos insólitos, quem poderá resistir? Quem me dará a força para permanecer neste estado?” E Jesus respondendo ao meu pensamento acrescentou em atitude de compaixão:

(4) “E então, queres tu que suspenda por um pouco o estado de vítima e depois te faça retomá-lo?”

(5) Enquanto dizia isto, senti confusão e amargura, via que o Senhor com essa proposta me lançava de Si, porque não soube dizer nem sim, nem não, nem para ouvir o que decide a obediência. Então, sem esperar minha resposta desapareceu, deixando-me como um prego fixo no coração ao pensar que Jesus me lançava de Si. Era tanto a dor que não fiz outra coisa que derramar lágrimas amargas.

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29 de Junho de 1900

Jesus e Luísa confortam-se reciprocamente.

(1) Estando ainda amarga, meu adorável Jesus tendo compaixão de mim veio, e parecia que me sustentava entre seus braços. Depois, transportando-me para fora de mim mesma via que reinava um profundo silêncio, uma tristeza, um luto por toda parte. Era tanta a impressão que causava no ânimo ver naquele modo as pessoas, que se sentia uma estreiteza no coração. Então o bendito Jesus, levando-me à parte, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemos por pouco o que nos aflige e interroguemo-nos mutuamente”.

(3) Enquanto dizia isto começou a acariciar-me e a beijar-me, mas era tanta a minha confusão que não me atrevia a devolver-lhe os beijos e as carícias, e Ele acrescentou: (4) “Como! Eu te reconforto com beijos e carícias, e tu não queres confortar-me dando-me os teus beijos e as tuas carícias?”

(5) Então eu me senti confiante para pagá-lo com a mesma moeda; e enquanto isso fazia desapareceu.

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02 de Julho de 1900

Com seus sofrimentos, Luisa evita um castigo.

(1) Continuo sendo amarga e afligida, como uma tola. Esta manhã não tinha vindo Jesus, mas veio o confessor e pôs a intenção da crucificação. Mas o bendito Jesus não comparecia, e depois de lhe ter rogado que se dignasse fazer-me obedecer, assim que se fez ver me disse:

(2) “Que queres? Por que me querem fazer violência à força uma vez que é necessário castigar os povos?”

(3) E eu: “Senhor, não sou eu, é a obediência que o quer”.

(4) E Ele: “Se é a obediência, está bem, quero participar-te minha crucificação e ao mesmo tempo quero reconfortar-me um pouco”.

(5) Enquanto dizia isto, tive a participação das dores da cruz, e enquanto eu sofria, Jesus pôs-se ao meu lado e parecia que se consolava um pouco. Agora, enquanto me encontrava nesta posição junto com Ele, me fez ver no ar, que por uma parte vinha uma nuvem negra, negra, que ao só vê-la dava terror e espanto, e todos diziam: “desta vez morremos”. Enquanto todos estavam aterrorizados, levantou-se no meio de Jesus e eu uma cruz resplandecente, que pondo-se contra aquela borrasca a pôs em fuga em grande parte, tanto que parecia que as pessoas se acalmavam. Não sei dizer certamente, mas me parece que era um furacão acompanhado de raios e de granizadas tão fortes, que tinha força para arrancar as construções; e a cruz que a pôs em fuga em grande parte, me parecia que era meu pequeno sofrer que Jesus me participou. Seja bendito o Senhor e tudo seja para sua glória e honra.

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03 de Julho de 1900

Castigos com enfermidades contagiosas.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, assim que vi o meu adorável Jesus, disse-lhe: “Meu amado Senhor, como é que mandas tantos castigos? Por que desta vez você não quer a nenhum custo aplacar-se? Parece que todos os meios são inúteis, nem rogar, nem dizer “Senhor, derrama em mim tuas amarguras”. Porém, não foi teu costume agir deste modo!” Enquanto dizia isto, Jesus bendito interrompendo o meu falar respondeu:

(2) “No entanto, minha filha, os castigos que estou mandando são nada ainda em comparação com aqueles que estão preparados. Por isso não queiras afligir-te por isto, porque não são matéria de grande aflição”.

(3) Enquanto dizia isto, diante de mim via muitas pessoas infectadas com enfermidades contagiosas, que morriam por elas, então, presa de espanto lhe disse: “Ah Senhor! Isso também é necessário? O que você faz? O que você faz? Se você quiser fazer isso, me tire desta terra, pois não resiste o ânimo ver espetáculos tão funestos. E além disso, quem poderá resistir continuar neste estado em que me puseste, de que não vens, ou vens como sombra, e não só isso, senão que me deixas atordoada, adormecida, que não me fazes entender mais nada? No entanto, disseste-me que me deixarias assim até que de algum modo desabafasses a tua ira. Agora queres acrescentar furor a furor, parece que não terminarás por agora, assim que, pobre de mim, pobre de mim! Quem me dará a força para estar neste estado? Quem poderá resistir?”

(4) Enquanto desafogava minha aflição, Jesus, compadecendo-me disse-me:

(5) “Minha filha, não temas de teu estado de adormecimento, isto diz que assim como Eu estou com as pessoas, como se dormisse, como se não as ouvisse e visse, assim te pus no mesmo estado. Caso contrário, se você não gosta, eu disse-lhe da outra vez, você quer ser suspensa do status de vítima?”

(6) E eu: “Senhor, a obediência não quer que aceite a suspensão”.

(7) E Ele: “E bem, que queres de Mim? Fica quieta e obedece“.

(8) Quem pode dizer o quanto sofri? E não só isto, mas me parece que ficaram tão adormecidas minhas potências internas, que vivo como se não vivesse.  Ah Senhor, tenha piedade de mim, não me deixe em abandono, em um estado tão lamentável e doloroso!

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09 de  Julho de 1900

Viver não só para Deus mas em Deus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, e se alguma vez se faz ver é como sombra e raio, e quase sempre em silêncio. Esta manhã, encontrando-me no máximo da aflição e da torpeza pelo sono contínuo, assim que me fez ver disse-me:

(2) “Ânimo, minha filha, a alma verdadeiramente minha deve viver não só para Deus, mas em Deus. Tu procura viver em Mim, porque em Mim encontrarás o receptáculo de todas as virtudes, e passeando no meio delas te alimentarás de seu perfume, tanto de ficar cheia delas, e tu mesma não farás outra coisa que enviar luz e perfume celestial, porque viver em Mim é a verdadeira virtude, e tem virtude de dar à alma a mesma forma da Divina Pessoa na qual faz sua morada, e de transformá-la nas mesmas virtudes divinas das quais se nutre”.

(3) Depois disto como relâmpago desapareceu, e minha alma correndo atrás daquele Relâmpago se encontrou fora de mim mesma, mas já havia fugido e não me foi dado encontrá-lo de novo, e sofri a amargura de ver granizadas terríveis que tinham feito grandes estragos, raios que haviam produzido incêndios e outras coisas que estavam preparadas. Depois de ter visto isto, me encontrei em mim mesma, mais aflita que antes.

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10 de Julho  de 1900

Diferença entre viver para Deus e viver em Deus.

(1) Encontrando-me na mesma confusão, como um relâmpago se fez ver e me fez entender que não tinha escrito tudo o que Ele me tinha dito ontem, isto é, que a alma não só deve viver para Deus, mas em Deus. Então o bendito Jesus me repetiu a diferença que há entre o viver para Deus e o viver em Deus, dizendo-me:

(2) “No viver para Deus, a alma pode estar sujeita às perturbações, às amarguras, a ser inconstante, a sentir o peso das paixões, a misturar-se nas coisas terrenas. Mas no viver em Deus não, tudo é diferente, porque a coisa principal para fazer que uma pessoa possa entrar a habitar em outra pessoa, é deixar tudo o que é seu, isto é, despojar-se de tudo, deixar as próprias paixões, em uma palavra, deixar tudo para encontrar tudo em Deus. Agora, quando a alma não só se despojou, mas se reduziu muito bem, então poderá entrar pela porta estreita do meu coração a viver em Mim, à minha maneira e da minha própria vida, porque, se bem que o meu coração seja grandíssimo, tanto que não há fim aos seus confins, mas a porta é estreita e só pode entrar quem está despojado de tudo; e isto com razão, porque sendo Eu santíssimo, jamais admitiria a viver em Mim alguém que fosse estranho a minha Santidade. Por isso minha filha, procura viver em Mim e possuirás o paraíso antecipado“.

(3) Quem pode dizer quanto compreendia sobre este viver em Deus? Mas depois desapareceu e fiquei no mesmo estado.

+ + + + + 11 de Julho de 1900

Os sofrimentos de Luisa tornam menos rigorosos os castigos.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão e continuando o mesmo estado de confusão, estava toda recolhida em mim mesma, quando vi a meu adorável Jesus que vinha depressa para mim dizendo:

(2) “Minha filha, atenua um pouco minha ira, de outra maneira… !”

(3) E eu, toda assustada, disse: “Que queres que faça para acalmar a tua ira?”

(4) E Ele: “Com chamar em ti os meus sofrimentos virás a aplacar a minha ira“.

(5) Enquanto eu estava nisto, eu via como se chamasse o confessor, enviando um raio de luz, e ele imediatamente colocou a intenção de me fazer sofrer a crucificação. O Senhor bendito logo concorreu e eu me encontrei em tantos sofrimentos, que pela força das dores me senti sair a alma do corpo; quando acreditei que estava a ponto de expirar, e contente de que Jesus recebesse minha alma, vi ao confessor que com dizer “basta, basta”, me chamava novamente em mim mesma.

(6) Então Jesus me disse: “A obediência te chama”.

(7) E eu: “Ah, Senhor, quero vir!”

(8) E Jesus: “O que queres de mim? A obediência continua chamando você“.

(9) E assim parece que esta nova obediência não deixou ir mais além os sofrimentos, mas obediência certamente cruel para mim, porque enquanto me parecia chegar ao porto, fui atirada fora para navegar o caminho. Depois, embora tenha sofrido, mas já não me sentia a morrer, e o meu benigno Senhor continuou a dizer-me:

(10) “Minha filha, se você hoje não tivesse acalmado minha ira, teria chegado ao cúmulo, que não só teria destruído as plantas, mas também os homens, e se o mesmo confessor não se tivesse interposto chamando novamente em ti meus sofrimentos, Nem sequer teria tido consideração por ele. É verdade que são necessários os castigos, mas é necessário que de vez em quando, quando minha ira avançar, você me acalme, do contrário minha filha, quantos flagelos demais mandarei!”

(11) E enquanto dizia isto, parecia-me vê-lo todo cansado, que lamentando-se, agora dizia: “Minha filha!” e agora: “Meus filhos! Pobres filhos meus, como vos vejo reduzidos!” E com a minha surpresa fez-me entender que depois de ter-se acalmado um pouco devia voltar a tomar o furor para continuar os castigos, e que isto tinha servido só para fazer com que não castigasse demasiado as nações. Ah Senhor, acalma-te e tem piedade daqueles que Tu mesmo chamas “filhos meus”!

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14 de  Julho  de 1900

O decreto dos castigos está assinado.

(1) Parece que passei vários dias sem estar imersa na letargia do sono, e estando um pouco perto de Jesus bendito, dando-nos mutuamente um pouco de alívio. Mas quanto temo que me tenha que lançar outra vez naquele sono tão profundo. Então esta manhã, depois de me haver reconfortado com o leite que escorria de sua boca ao derramá-la em mim, e eu o reconfortei tirando-lhe a coroa de espinhos para cravá-la em minha cabeça, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, o decreto dos castigos está assinado, não resta mais que decidir o tempo de sua execução”.

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16 de Julho de 1900

Os castigos servem para o bem das criaturas.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus não veio. Depois de muito esperar veio e me disse:

(2) “Minha filha, a melhor coisa é pôr-te em Mim e em Meu Querer, então, pondo-te em Mim, e sendo Eu paz, ainda que visses mandar castigos ficarias em paz, sem sentir perturbação“.

(3) E eu: “Ah Senhor, estás sempre nisso, nos castigos! Acalma-te de uma vez e não castigues mais! Além disso, não posso me abandonar em seu Querer nisto”.

(4) E Ele acrescentou: “Não posso me aplacar. O que dirias se visses uma pessoa nua, que, em vez de cobrir a sua nudez, prestasse atenção a adornar-se com bagatelas, deixando as partes mais íntimas expostas à nudez?”

(5) E eu: “Ficaria horrorizado de vê-la e certamente desaprovaria”.

(6) E Ele: “Pois bem, assim são as almas, nuas de tudo, não têm mais virtudes que cubram. Por isso é necessário que as golpeie, castigue-as, as despoje, para fazê-las entrar nelas mesmas e que se fixem na nudez de suas almas, coisa mais necessária que a do corpo. E se isto não fizesse, prestaria mais atenção às bagatelas, como a pessoa desaprovada por ti, as quais são coisas que se referem ao corpo e não prestaria atenção à coisa mais essencial, qual é a alma, a que tornaram-se tão monstruosa que não se reconhece mais.

(7) Depois disto parecia-me que tinha na mão uma pequena couraça, que passando-a por detrás do pescoço me amarrava e depois amarrava o seu a essa mesma corda, e assim fez ao coração e às mãos, e com isto parecia que me amarrava toda a seu Querer. Tendo feito isso desapareceu.

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17 de Julho de 1900

Luísa dá um alívio a Jesus. Ele o faz considerar os castigos que evita.

(1) Tendo recebido a comunhão, não via segundo o costume o bendito Jesus. Depois de ter esperado muito, senti-me a sair de mim mesma e encontrei-o. Assim que o vi, ele me disse:

(2) “Filha, eu estava esperando por você para poder descansar um pouco em você, porque eu não posso mais. Ah, me dê um alívio!”

(3) Imediatamente o tomei em meus braços para satisfazê-lo, e vi que tinha uma chaga profunda no ombro, que dava compaixão e horror olhá-la. Então por poucos minutos repousou; depois desse breve repouso vi e a chaga havia quase curado, e entre a maravilha e o espanto, e vendo-o mais aliviado, tomei coragem e disse-lhe: “Senhor bendito, meu pobre coração está dilacerado pelo temor de que já não me ame, temo que tenha incorrido em tua indignação e por isso já não vens como antes e não derramas mais em mim tuas amarguras, e não me dás mais meu bem, qual é o sofrer, e negando-me isto vem a negar-me a Ti mesmo. Ah, dá a paz a um pobre coração! Diz-me, garante-me, jura-me, amas-me? Continuas a amar-me?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sim, amo-te”.

(5) E eu: “Como posso ter certeza disso, quando se sabe que uma pessoa é realmente amada Tudo o que quer recebe? Eu te digo: “não castigues as nações”, e Tu as castigas; te digo, “derrama em mim tuas amarguras”, e não as derramas, mas parece que desta vez avanças demasiado nos castigos. Então, onde posso me apoiar para saber que você me ama?”

(6) E Ele: “Minha filha, você leva em conta os castigos que mando, mas os que economizo não os leva em conta. Quantos outros castigos teria mandado, quantos mais massacres e mais sangue teria feito derramar se não levasse em consideração aqueles poucos que me amam, e que Eu amo com um amor especial?”

(7) Depois disso, parecia que Jesus tomava o caminho para ir aonde aconteciam destroços de carne humana, e eu, querendo segui-lo, não me foi dado fazê-lo, e com suma amargura minha me encontrei em mim mesma.

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18 de Julho de 1900

Os pecados das nações caem sobre elas mesmas, formando a sua ruína.

  • Encontrando-me em meu estado habitual, vi meu adorável Jesus todo aflito dentro de meu coração, e ao mesmo tempo vi muita gente que cometia muitos pecados, estes pecados tomavam o vôo para mim para vir a ferir a meu amado Senhor até dentro de meu coração, mas Jesus os rejeitava de Si, e caíam sobre as mesmas nações, e caindo sobre Elas formavam sua própria ruína, mudando-se em tantas espécies de flagelos sobre os povos, que dava horror até aos corações mais duros. Então Jesus, afligindo-se de tudo me disse:

(2) “Minha filha, até onde chega a cegueira dos homens, pois enquanto tentam me ferir a Mim, ferem-se eles mesmos com suas próprias mãos”.

 

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19 de Julho de 1900

Luisa oferece-se para sofrer para evitar o sofrimento aos povos.

(1) Esta manhã, depois de ter estado toda a noite e grande parte da manhã esperando a meu adorável Jesus, Ele não se dignava vir. Então, cansada de esperá-lo, esforcei-me por sair do meu habitual estado, pensando que já não era Vontade de Deus. Enquanto me esforçava por sair, estando quase impaciente, meu benigno Jesus moveu-se dentro de meu coração, fazendo-se ver apenas e olhando-me em silêncio. Impaciente como estava, disse-lhe: “Meu bom Jesus, como és cruel! Pode-se dar crueldade maior que esta, de abandonar a uma alma em poder do impiedoso tirano do amor que a faz viver em agonia contínua? ” Oh, como você mudou, de amante para cruel!” Enquanto dizia isto, diante de mim via muitos membros de gente mutilada, e por isso acrescentei: “Ah Senhor, quanta carne humana mutilada! Quanta amargura e tristeza! Que pena! Não teria sido menos cruel se te tivesses satisfeito neste meu corpo, e o tivesses reduzido a tantos pedaços por quantos pedaços fizeste estes membros? Não era menor mal ver sofrer uma só que a tantos pobres povos?”

 

(2) Enquanto dizia isto, Jesus continuava a olhar-me fixamente, como se ficasse ferido, não sei dizer se também desgostoso, e me disse:

(3) “No entanto é o princípio do jogo, ainda é nada em comparação do que virá”.

(4) Dito isto se escondeu a minha vista, sem poder vê-lo mais, deixando-me em um mar de amarguras.

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21 de Julho de 1900

Necessidade de purgação.

  • Depois de ter passado um dia adormecida e tão sonolenta que não sabia de mim mesma, e tendo recebido a comunhão, me senti saindo de mim mesma, e não encontrando o meu único e sumo Bem, comecei a girar e girar, chegando ao delírio. Enquanto fazia isso, senti uma pessoa entre os braços, toda noite, sem poder ver quem era, então, não podendo resistir mais rasguei aquele véu e vi meu suspirado Tudo. Ao vê-lo senti que queria irromper em reclamações e desatinos, mas Jesus para acabar com minha impaciência e meu delírio me deu um beijo. Esse 76 beijo me infundiu a vida, a calma, acabou com minha impaciência, tanto que não soube dizer nada mais. Então, esquecendo todas as minhas misérias, e tendo muitas, lembrei-me das pobres nações e disse a Jesus: “Apresse-se, livre tantos povos de destroços tão cruéis; vamos juntos àqueles lugares onde acontecem tais coisas, a fim de que reanimemos e consolemos aqueles pobres cristãos que se encontram em estado tão triste”.

( 2) E Ele: “Minha filha, não quero levar-te porque teu coração não resistiria ver matança tão dilacerante“.

(3) E eu: “Ah Senhor, como foi que permitiste isto?”

(4) E Ele: “É absolutamente necessário para a purga em todas as partes, porque no campo semeado por Mim cresceram tanto as ervas daninhas, os espinhos, que se fizeram árvores, e estas árvores espinhosas não fazem outra coisa senão inundar meu campo de águas venenosas e pestilentas, que se alguma espiga se mantém intacta, não recebe outra coisa senão picadas e fetidez, tanto que não podem germinar outras espigas, primeiro porque lhes falta o terreno, ocupado por tantas plantas nocivas; segundo, pelos contínuos furos que recebem que não lhes dão paz. Eis a necessidade da matança, para extirpar tantas plantas más, e o derramamento de sangue para purgar meu campo das águas venenosas e pestilentas. Por isso não te queiras entristecer ao princípio, porque não só onde já ordenei os flagelos, mas em todas as outras partes se necessita a purga”.

(5) Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ouvir este falar de Jesus? Então de novo insisti que queria ir ver, mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu ficando sozinha tomei o caminho para ir, mas agora encontrava um anjo que me fazia retroceder, e agora a almas purgantes, tanto que fui obrigada a retornar em mim mesma.

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25 de Julho de 1900

Em Jesus não há crueldade alguma, senão que tudo é amor.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me fez ver uma máquina onde parecia que muitos membros humanos foram esmagados, e no ar como dois sinais de castigos que davam terror. Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ver tudo isto? Mas o bendito Jesus, vendo-me tão amarga, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemo-nos por um pouco daquilo que tanto nos aflige e interroguemo-nos com brincar um pouco juntos“.

(3) Quem pode dizer o que aconteceu entre Jesus e eu neste jogo, as finezas de amor, as estratagemas, os beijos, as carícias que reciprocamente nos dávamos? Se bem que me ultrapassava meu amado Jesus, porque eu, sendo débil, me sentia desfalecer, tão é verdade que não podendo conter em mim o que Ele me dava tenho dito: “Meu amado, basta, basta, que não posso mais, eu desfaço, meu pobre coração não é tão grande para ser capaz de receber tanto, por isso basta por agora”.

(4) Então, querendo me reprovar por falar do outro dia, docemente me disse:

(5) “Dizei-me as vossas querelas, dizei-o, dizei-o, sou cruel? O meu Amor para convosco mudou em crueldade?”

(6) E eu envergonhando-me de tudo disse: “Não Senhor, não és cruel quando vens, mas quando não vens, então direi que és cruel”.

(7) E Ele sorrindo diante de minhas palavras acrescentou:

(8) “No entanto, você continua dizendo que quando eu não venho eu sou cruel, não, não, em Mim não pode haver nenhuma crueldade, mas tudo é amor; e você deve saber que se é como você diz, então o mesmo ser cruel, é amor maior”.

 

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27 de Julho de 1900

Veja os ataques à Igreja na guerra da China.

  • Encontrava-me toda preocupada por meu miserável estado, especialmente de que este não fosse mais Vontade de Deus, considerando como sinal certo o escasso sofrer e suas contínuas privações. Enquanto estava consumindo meu pequeno cérebro nisto e esforçando-me em sair deste estado, meu sempre bom Jesus, como relâmpago se fez ver dizendo-me:(2) “Minha filha, o que queres que eu faça? Diga-me, Eu farei o que você quer“.
    (3) Ante esta proposta tão inesperada não soube o que dizer, sentia tal confusão de que o bendito Jesus deveria fazer o que eu queria, enquanto que sou eu a que deve fazer o que Ele quer, que fiquei muda. Então, ao ver que eu não dizia nada, como relâmpago fugiu, e eu, correndo atrás dessa luz me encontrei fora de mim mesma, mas não o encontrei e girei pela terra, pelo céu, pelas estrelas, e agora o chamava com a voz, e agora com o canto, pensando entre mim que o bendito Jesus ao ouvir minha voz e meu canto ficaria ferido e com certeza o encontraria. Agora, enquanto girava, vi a matança cruel que se continua a fazer na guerra da China, as igrejas demolidas, as imagens de Nosso Senhor lançadas por terra, e isto é nada ainda, o que me deu mais espanto foi ver que se agora o fazem os bárbaros, os leigos, depois o farão os falsos religiosos, que desmascarando e fazendo-se conhecer quem são, unindo-se com os inimigos abertos da Igreja, darão tal assalto, que parece incrível à mente humana. Oh, quantas mortes mais cruéis ainda! Parece que eles juraram entre eles terminar com a Igreja. Mas o Senhor tomará vingança deles destruindo-os, por isso, sangue por uma parte e sangue pela outra. Então me encontrei dentro de um jardim que me parecia que era a Igreja, e dentro havia uma multidão de gente sob o aspecto de dragões, de víboras e de outros animais enfurecidos, que, devastando aquele jardim e logo saindo dele, formavam a ruína das nações. Enquanto via isto encontrei o meu amado Senhor nos meus braços e disse-lhe: “Finalmente deixaste-te encontrar, és tu verdadeiramente o meu amado Jesus?”
    (4) E Ele: “Sim, sim, sou teu Jesus”.
    (5) Eu queria dizer-lhe que livrasse tantas pessoas, mas Ele não me fazendo caso, todo aflito acrescentou:
    (6) “Minha filha, estou bastante cansado, vamos para a cama descansar se queres que me entretenha contigo“.
    (7) E eu, temendo que fosse embora fiz silêncio, fazendo-o dormir. Logo depois reentrado em meu interior, deixando-me reanimada, sim, mas extremamente aflita.
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30 de Julho de 1900

Luisa detém a espada da Justiça.

(1) Passei uma noite e um dia inquieto. Desde o princípio me sentia saindo de mim mesma, sem que pudesse encontrar a meu adorável Jesus; não via mais que coisas que me davam terror e espanto. Via que na Itália se levantava um fogo e outro que se levantava na China, que pouco a pouco, unindo-se, se confundiam num só. Neste fogo via o rei da Itália, morto subitamente por engano, e isto era como que um meio para avivar e engrandecer o fogo. Em suma, via uma rebelião, um tumulto, uma matança de pessoas. Tendo visto estas coisas senti-me em mim mesma, e sentia rasgar-me a alma, até me sentir morrer, muito mais que não via a minha adorável Jesus. Depois de muito esperar se fez ver com uma espada na mão em ato de usá-la sobre as nações. Eu, toda assustada e sendo um pouco atrevida, peguei a espada com a mão e disse-lhe: “Senhor, que fazes? Não vê quantas aflições acontecerão se usar esta espada? O que mais me aflige é que vejo que toma no meio da Itália. Ah Senhor, se apresse! Tenha piedade de suas imagens! E se você diz que me ama, poupe-me desta terrível dor”. E enquanto isso dizia, detinha a espada com toda a força que podia. Jesus, dando um suspiro, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, deixa-a, deixa-a cair sobre as nações, porque não posso mais”.

(3) E eu a tomando mais forte: “Não posso deixá-la, não tenho coragem para fazê-lo”.

(4) E Ele: “Não te disse muitas vezes, que sou obrigado a não te fazer ver nada, de outra maneira não sou livre de fazer o que quero“.

(5) E enquanto isso dizia baixou o braço com a espada e pôs-se em atitude de acalmar-se de sua ira. Pouco depois desapareceu e eu fiquei com um certo temor, quem sabe e talvez sem me deixar ver me puxasse a espada e a usasse sobre as pessoas. Oh Deus, que angústia ao só me lembrar!

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01 de Agosto de 1900

A Humanidade de Jesus é o espelho da Divindade. Castigos.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo poucas vezes e por pouco tempo. Esta manhã me sentia toda aniquilada e quase não me atrevia a ir em busca do meu sumo Bem; mas Ele sempre benigno veio, e querendo me infundir confiança me disse:

(2) “Minha filha, diante de minha Majestade e pureza não há quem possa estar de frente, mas todos estão obrigados a estar por terra e golpeados pelo fulgor de minha Santidade. O homem gostaria de quase fugir de Mim, porque é tal e tanta sua miséria, que não tem coragem para sustentar-se diante do Ser Divino. Então fazendo uso de minha misericórdia assumi minha Humanidade, a que atenuando os raios da Divindade, é meio para infundir confiança e ânimo ao homem para vir a Mim, o qual pondo-se de frente a minha Humanidade, que expande raios atenuados da Divindade tem o bem de poder purificar-se, santificar e até divinizar em minha própria Humanidade divinizada. Por isso tu estás sempre de frente para a minha humanidade, tendo-a como espelho no qual purificarás todas as tuas manchas; e não somente isto, mas como espelho no qual, refletindo, adquirirás a beleza, e pouco a pouco irás adornando-te à semelhança de Mim mesmo, porque é propriedade do espelho fazer aparecer dentro de si a imagem similar àquela de quem se olha nele; se assim é o espelho material, muito mais é o divino, porque minha Humanidade serve ao homem como espelho para olhar para a minha Divindade. Eis por que todos os bens para o homem derivam da minha Humanidade”.

(3) Ao dizer isto, senti-me confiante, que me veio o pensamento de querer falar-lhe dos castigos, talvez me ouvisse e fizesse a tentativa de o aplacar completamente. Mas enquanto me dispus a isto, como raio desapareceu, e minha alma correndo atrás dele se encontrou fora de mim mesma; mas não o pude reencontrar mais, e com grande amargura minha vi muitas pessoas que iam às prisões, a outros sectários que saíam para atentar contra outras vidas de reis e de outros chefes; Via que se consumiam de raiva porque lhes falta o meio para sair entre os povos e fazer matança, sem dúvida chegará seu tempo. Depois disso eu me encontrei em mim mesma, toda oprimida e aflita.

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03 de  Agosto de 1900

Deus trabalha apenas sobre o nada.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, eu estava desejando e procurando o meu amante Jesus. Depois de haver esperado longamente, veio e me disse:

(2) “Minha filha, por que me procuras fora de ti, enquanto poderias encontrar-me mais facilmente dentro de ti? Quando você quiser me encontrar entre em você, chegue até seu nada e aí, sem você, no brevíssimo giro de seu nada descobrirá os alicerces que pôs em você e as construções que levantou em você o Ser Divino. Esforce-se e vá”.

(3) Eu olhei e vi os sólidos alicerces e os muros altíssimos que chegavam até o céu, mas o que mais me surpreendia era que via que o Senhor tinha feito este grande trabalho sobre meu nada, e os muros estavam todos fechados, sem nenhuma abertura. Via-se apenas no teto uma abertura que correspondia ao Céu, e nesta abertura residia nosso Senhor, sobre uma coluna estável que sobressaía dos alicerces formados sobre o nada. Agora, enquanto estava toda assombrada olhando, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Os fundamentos formados no nada significam que a mão divina trabalha ali, onde está o nada, e jamais mistura suas obras com as obras materiais. Os muros sem abertura ao redor, significam que a alma não deve ter nenhuma correspondência com as coisas terrenas, tanto, que não haja nenhum perigo que possa entrar nem sequer um pouco de pó, porque tudo está bem fechado. A única correspondência que estes muros dão é para o Céu, isto é, do nada ao Céu, e do Céu ao nada, este é o significado da abertura feita no teto. A estabilidade da coluna significa que a alma está tão estável no bem, que não há vento contrário que a possa mover. E eu que resido sobre esta, é verdade que a obra feita é toda divina”.

(5) Quem pode dizer o que compreendia sobre isto? Mas minha mente se perde e não sabe dizer nada. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória e honra.

+ + + + 09 de  Agosto de 1900

Tudo o que se quer e deseja, deve-se querer e desejar porque Deus o quer.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de esperá-lo muito, assim que se fez ver me disse:

(2) “Assim como um instrumento musical soa agradável ao ouvido de quem o escuta, assim seus desejos, suas esperas, seus suspiros, suas lágrimas, ressoam a meu ouvido como uma música das mais agradáveis. Mas para fazer com que desça mais doce e agradável, quero ensinar-te outro modo, isto é, desejar-me não como desejo teu, mas como desejo meu, porque Eu amo grandemente manifestar-me contigo. Em suma, tudo o que você quer e deseja, você deve querer e desejar porque eu quero Eu, isto é, levá-lo de dentro de Mim e torná-lo seu. Assim será mais agradável tua música a meu ouvido, porque é música saída de Mim mesmo“.

(3) Depois ele adicionou: “Tudo o que sai de Mim entra em Mim, é por isso que os homens se lamentam que não obtêm tão facilmente o que me pedem, porque não são coisas que saem de Mim, e não sendo coisas que saem de Mim, não é tão fácil que entrem em Mim e saiam depois para dar-se a eles, porque sai de mim e entra em mim tudo o que é santo, puro e celestial. Então por que se surpreender se a audiência está fechada se o que pedem não é assim? Por isso você tenha em mente que tudo o que sai de Deus entra em Deus”.

(4) Quem pode dizer o que compreendia sobre estas palavras? Mas não tenho palavras para me poder explicar.  Ah Senhor, dá-me a graça de que possa pedir tudo o que é santo e que seja desejo e Vontade tua, assim poderás comunicar-te comigo mais abundantemente!

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19 de Agosto de 1900

O amor estéril e o amor obrante

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu amado Jesus fez-se ver em ato de querer instruir-me, e pondo como um exemplo me disse:

(2) “Minha filha, se um jovem tomasse esposa, e ela, levada de amor a ele, quisesse estar sempre junto a ele, sem separar-se nem um momento, sem prestar atenção às outras coisas que correspondem a uma esposa para fazer feliz a este jovem, o que diria ele? Agradeceria o amor dela, mas certamente não estaria contente de sua conduta, porque este modo de amar não seria mais que um amor estéril, infecundo, que causaria dano a esse pobre jovem em vez de bem, e pouco a pouco este estranho amor produziria incômodo em vez de gosto, porque toda a satisfação deste amor é da jovem. E como o amor estéril não tem lenha para fomentar o fogo, muito logo se reduziria a cinzas, porque só o amor obrante é duradouro, os demais amores, como fumaça se dissipam no ar, e depois se chega ao aborrecimento, a não levar em conta e talvez a desprezar o que tanto se amava.

(3) Assim é a conduta das almas que prestam atenção somente a si mesmas, isto é, à sua satisfação, aos fervores e a tudo o que lhes agrada, dizendo que isto é amor por Mim, enquanto tudo é satisfação delas, porque se vê com os fatos que não põem atenção aos meus interesses e às coisas que me pertencem, e se chega a faltar o que lhes satisfaz, não põem mais atenção de Mim, e chegam até a me ofender. Ah! filha, só o amor obrante é o que distingue os verdadeiros dos falsos amantes, porque todo o resto é fumaça”.

(4) Enquanto dizia isto, via pessoas e como se eu quisesse prestar atenção a elas, mas Jesus distraiu-me ao dizer-me:

(5) “Não queiras intrometer-te nos atos alheios, deixemo-los fazer, porque cada coisa tem o seu tempo. Quando for o tempo do juízo, então será o tempo de discernir todas as coisas, porque cria-las muito bem virá a conhecer o grão, as palhas e a semente estéril e nociva. Oh, quantas coisas 82 que parecem grão se encontrarão naquele dia como palhas e sementes estéreis, dignas só de serem lançadas ao fogo!”

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20 de Agosto de 1900

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então depois de muito esperar, quando meu pobre coração não podia mais, fez-se ver desde dentro de meu interior e me disse:

(2) “Minha filha, não queiras afligir-te porque não me vês, porque estou dentro de ti, e daqui, por meio de ti estou vendo o mundo“.

(3) Depois continuou a fazer-se ver de vez em quando, sem me dizer mais nada.

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24 de  Agosto de 1900

Tudo se torna bem para quem verdadeiramente ama a Jesus.

(1) Tendo passado um dia inquieta, sentia-me toda cheia de tentações e pecados. Oh! Meu Deus, que pena te ofender! Fazia quanto mais podia por estar em Deus, por me resignar a seu santo Querer, para oferecer por amor seu esse mesmo estado inquieto, para não lhe pôr atenção ao inimigo mostrando-me com suma indiferença, a fim de que não o incitasse eu mesma a me tentar maioritariamente, mas com tudo isto não podia fazer menos que ouvir o murmúrio que o inimigo suscitava ao meu redor. Então, encontrando-me em meu habitual estado, não me atrevia a desejar ao meu amado Jesus, tão feia e miserável me via. Mas Ele sempre benigno com esta pecadora, sem que eu o pedisse veio, e como se compadecia de mim, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas. Não sabe você que certas águas frias e impetuosas são mais potentes para purificar de qualquer mancha mínima que o mesmo fogo? E além disso, tudo se converte em bem para quem verdadeiramente me ama”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me reanimada, sim, mas fraca, como se tivesse sofrido uma febre.

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30 de Agosto de 1900

Luisa vai ao purgatório para aliviar o falecido rei da Itália.

(1) Havendo passado alguns dias de privação e de amargura, em que no máximo vi Jesus alguma vez como sombra e relâmpago. Esta manhã encontrei-me no máximo da amargura, e não só isso, senão como se tivesse perdido a esperança de voltar a vê-lo. Depois de ter recebido a comunhão me parecia que o confessor colocava a intenção da crucificação, então o bendito Jesus para fazer- 83 me obedecer se mostrou e me participou suas penas. Enquanto isso, vi a Rainha Mãe, que me tomando me oferecia a Ele a fim de que se acalmasse. E Jesus, tendo consideração da Mãe, aceitou o oferecimento e parecia que se acalmava um pouco. Depois disto, a Mãe Rainha me disse:

(2) “Queres ir ao purgatório para aliviar o rei das penas horríveis em que se encontra?” (3) E eu: “Minha mãe, como Tu quiseres”.

(4) Num instante me tomou, e me transportou a um lugar de suplícios atrozes, todos mortais. Ali estava aquele miserável, que de um suplício passava ao outro, parecia que por quantas almas se haviam perdido por sua causa, outras tantas mortes ele devia sofrer. Então, depois de ter passado eu por alguns daqueles suplícios, ele ficou um pouco mais aliviado e a Mamãe Rainha me tirou desse lugar de penas e me encontrei em mim mesma.

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31 de Agosto de 1900

Nas almas interiores não pode estar a perturbação.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual e não vindo meu adorável Jesus, estava toda afligida e um pouco pensativa sobre o por que não vinha. Depois de muito esperar e esperar veio, e vendo que de suas mãos brotava sangue, pedi-lhe que de sua mão esquerda derramasse sangue sobre o mundo em proveito dos pecadores que estavam para morrer e em perigo de se perder, e da mão direita que derramasse o seu sangue no purgatório; e Ele, ouvindo-me com brandura, sacudiu e derramou o seu sangue sobre uma e outra parte. Depois disto me disse:

(2) “Minha filha, nas almas interiores não pode estar a perturbação, e se esta entra é porque a alma sai de si mesma, e fazendo isto faz de verdugo a si mesma, porque saindo fora dela se apega a tantas coisas que vê e que não são Deus, e às vezes nem sequer coisas que se referem ao verdadeiro bem da alma, por isso regressando em si mesma e levando coisas que lhe são estranhas, tortura-se por si mesma e com isto vem a adoecer a si mesma e à graça. Por isso, esteja sempre em você mesma e estará sempre em calma”.

(3) Quem pode dizer como compreendia com clareza, e como encontrava a verdade nestas palavras de Jesus? Ah Senhor, se te dignas instruir-me, dá-me graça para aproveitar teus santos ensinamentos, de outra maneira tudo será para minha condenação!

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01 de Setembro de 1900

A obediência põe a paz entre Deus e a alma.

(1) Continuando Jesus sem vir, estava eu dizendo: “Meu bom Jesus, vem, não me faças esperar  tanto, esta manhã não tenho vontade de me inquietar e de te buscar até chegar a cansar-me. Vem de uma vez, logo, pronto, assim, pela boa”. E vendo que não vinha continuava dizendo: “Vê-se que queres que me canse e que chegue até me inquietar, de outra maneira não vens”.

(2) Enquanto isso e outros desatinos dizia, Jesus veio e me disse:

(3) “Você me saberia dizer o que mantém a correspondência entre a alma e Deus?”

(4) E eu, mas sempre com uma luz que vinha dele eu disse: “A oração”.

(5) E Jesus, aprovando o que eu disse, acrescentou: “Mas o que atrai Deus a conversas familiares com a alma?”

 

(6) E eu não sabia responder, mas logo a luz se moveu em minha inteligência e disse: “Se a oração vocal serve para manter a correspondência, certamente a meditação interior deve servir de alimento para manter a conversa entre Deus e a alma”.

(7) Ele, contente com isto, respondeu: “Agora, saberias tu dizer-me quem quebra as doces controvérsias, quem tira os amorosos zangados que podem surgir entre Deus e a alma?”

(8) E eu ao não responder, Ele mesmo disse:

(9)”Minha filha, só a obediência tem este ofício, porque ela sozinha decide as coisas relacionadas entre a alma e Eu, e surgindo controvérsias, ou algum enfado para mortificar a alma, ao chegar a obediência rompe as contendas, tira as zangas e põe paz entre Deus e a alma”.

 

(10) E eu: “Ah! Senhor, muitas vezes parece que tampouco a obediência quer tomar o incômodo e fica indiferente, e a pobre alma é obrigada a estar naquele estado de controvérsias e de raiva”.

(11) E Jesus: “Isto o faz por um certo tempo, querendo também ela agradar-se em assistir a essas amáveis controvérsias, mas depois toma seu ofício e pacifica tudo. Assim, a obediência coloca a paz entre a alma e Deus“.

(12) Dito isto, desapareceu.

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04 de  Setembro de 1900

A impureza e as boas obras feitas imperfeitamente, são alimento repugnante para Jesus.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma, fazendo-me parecer extremamente aflito e amargo. Então lhe pedi que derramasse em mim suas amarguras, mas Jesus não me dava ouvidos, mas insistindo, depois de muito tempo se agradou em derramá-las. Depois de ter derramado um pouco de amargura lhe perguntei: “Senhor, não te sentes melhor agora?”

(2) E Ele: “Sim, mas não foi o que derramei que me causou tanta pena, mas um alimento nauseante e insípido que não me deixa repousar”.

(3) E eu: “Derrama um pouco em mim, assim te aliviarás um pouco”.

(4) E Ele: “Se não posso digeri-lo e suportá-lo Eu, como o poderás tu?”

(5) E eu: “Sei que a minha fraqueza é grande, mas Tu me darás graça e força, e assim terei êxito em contê-lo em mim”. Compreendia que esse alimento nauseante eram as impurezas, o insípido, as boas obras mal feitas, todas deterioradas, que a Nosso Senhor são bem de aborrecimento, de peso e quase desdenha recebê-las, porque não podendo suportá-las quer atirá-las de sua boca. Quem sabe quantas das minhas estavam ali! Então, como obrigado por mim derramou também um pouco daquele alimento. Quanta razão tinha Jesus, que era mais tolerável o amargo que aquele alimento nauseante e insípido! ” Se não fosse por seu amor, a nenhum custo o teria aceitado!

(6) Depois disto, o bendito Jesus pôs-me o braço atrás do pescoço, e apoiando a sua cabeça sobre o meu ombro pôs-se em atitude de repousar. Enquanto repousava encontrei-me num lugar onde havia por piso muitas tábuas móveis, e abaixo o abismo. Eu, temendo precipitar-me, despertei-o, invocando a sua ajuda, e Ele disse-me:

(7) “Não temas, é o caminho que todos percorrem. Não é preciso outra coisa que toda a atenção, e como a maior parte caminham distraídos, esta é a causa pela qual muitos se precipitam ao abismo, e poucos são o que chegam ao porto da salvação”.

(8) Depois disto desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma. Graças a Deus!

 

Nihil obstat Canonico Annibale

  1. Di Francia Eccl. Imprimatur

Bispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita 

Volume 04

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do Reino da Divina Vontade

3

1

  1. M. I.

4-1

Setembro 5, 1900

A Esperança, alimento do Amor. 

(1) Como nos dias passados meu adorável Jesus não se fazia ver, eu me sentia desconfiada na  esperança de tê-lo de novo; antes acreditava que tudo havia terminado para mim: visitas de Nosso  Senhor e estado de vítima. Mas esta manhã, ao vir o bendito Jesus, trazia uma horrível coroa de  espinhos, e pôs-se junto a mim, lamentando-se tudo, em atitude de querer um alívio; então eu a  tirei pouco a pouco, e para lhe dar mais gosto a coloquei sobre minha cabeça. Pouco depois me  disse:

(2) “Minha filha, o verdadeiro amor é quando é sustentado pela esperança, e pela esperança  perseverante, porque se hoje espero e amanhã não, o amor adoece, porque o amor sendo  alimentado pela esperança, por quanto alimento se lhe fornece tanto mais forte se torna, mais  robusto, mais vivo o amor, e se isto vem a faltar, primeiro se adoece o pobre amor, e se fica só,  sem sustento, termina com morrer de todo. Por isso, por maiores que sejam as tuas dificuldades,  jamais, nem sequer por um instante deves afastar-te da esperança com o temor de me perder, mas  bem deves fazer de modo que a esperança, superando tudo, te faça encontrar-te sempre unida  Comigo, e então o amor terá vida perpétua”.

(3) Depois disso, continuou a vir sem me dizer mais nada.

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4-2

Setembro 6, 1900

Estado de vítima. 

(1) Continua vindo meu dulcíssimo Jesus. Esta manhã, quando veio, quis derramar um pouco de  amargura em mim, e depois disse-me:

(2) “Minha filha, Eu quero dormir um pouco, tu fazes o meu ofício de sofrer, rogar e aplacar a  justiça”.

(3) Assim Ele adormeceu, e eu pus-me a rezar junto a Jesus. Depois, acordando, viramos um  pouco entre as pessoas, e me fez ver diversos planos que estão idealizando para fazer revoluções,  e especialmente via que estavam maquinando um ataque de improviso para ter melhor resultado  em seu propósito, e para fazer com que nenhum se possa defender ou prevenir contra o inimigo.

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1 Este livro foi traduzido da tradução em espanhol. 

Quantos espetáculos funestos! Mas parece que o Senhor ainda não lhes dá liberdade para fazer

4

isso, e não sabendo eles a razão se roem de raiva, porque apesar de sua perversa vontade se vêm  impotentes para realizá-lo. Não é preciso outra coisa senão que o Senhor lhes conceda esta  liberdade, porque tudo está preparado. Depois disso voltamos, e Jesus se mostrava todo chagado  (4) “Olhe quantas chagas me abriram e a necessidade do estado contínuo de vítima, de seus  sofrimentos, porque não há momento em que deixem de me ofender, e sendo contínuas as  ofensas, contínuos devem ser os sofrimentos e as orações para me aliviar em algo; e se você se vê suspenso sofre, treme e teme, porque não me vendo aliviado em minhas penas, não vá a conceder  aos inimigos essa liberdade tão desejada por eles”.

(5) Ao ouvir isto, pus-me a rogar-lhe que me fizesse sofrer a mim, e enquanto estava nisto via o  confessor que com suas intenções forçava a Jesus a me fazer sofrer. Então o bendito Senhor me  participou tais e tantas penas, que eu mesma não sei como fiquei viva, mas o Senhor em minhas  penas não me deixou só, mas bem parecia que não resistia se seu coração me deixasse, e passei  alguns dias junto com Jesus, e me comunicou tantas graças e me fez compreender muitas coisas;  mas, parte pelo estado de sofrimento, e parte porque não sei me expressar, passo adiante e faço  silêncio.

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4-3

Setembro 9, 1900

Jesus prepara a alma de Luisa para a comunhão. 

Ameaça contra os governantes dos povos. 

(1) Continua vindo, mas tenho estado a maior parte da noite sem Jesus, então ao vir me disse:  (2) “Minha filha, o que queres que com tanta ânsia me estás esperando? Você precisa de alguma  coisa?”

(3) E eu como sabia que tinha que comungar disse:

(4) “Senhor, toda a noite te estive esperando, sobretudo que devendo receber a comunhão temia  que meu coração não estivesse bem disposto para poder te receber, por isso tenho necessidade  de que minha alma seja revisada por Ti, para poder se dispor a unir-me a ti sacramentalmente.” (5) E Jesus, benignamente reviu minha alma para me preparar para recebê-lo, e depois me  transportou para fora de mim mesma, e junto encontrei nossa Rainha Mãe que dizia a Jesus:  (6) “Meu filho, esta alma estará sempre disposta a fazer e a sofrer o que Nós quisermos; e isto é  como uma atadura que ata à justiça, por isso Tu evita tantas matanças e tanto sangue que devem  derramar as nações”.

(7) E Jesus disse: “Minha mãe, é necessário o derramamento de sangue porque quero que esta  estirpe do rei caia de seu reinado, e isto não pode ser sem sangue, e também para purgar a minha  Igreja porque está muito infectada; no máximo posso conceder evitar em parte, em consideração

5

dos sofrimentos”.

(8) Enquanto eu fazia isso, eu via a maioria dos deputados que estavam planejando como derrubar  o rei, e eles pensavam em colocar um dos deputados que estavam tramando no trono. Depois disto eu encontrei-me em mim mesma. Quantas misérias humanas! Ah Senhor, tenha compaixão da  cegueira na qual está imersa a pobre humanidade! Depois, ao continuar a ver o Senhor e a  Rainha-Mãe, vi o confessor ao seu lado, e a Virgem Santa disse:

(9) “Olha meu filho, temos um terceiro, que é o confessor, que se quer unir a Nós e fazer seu  trabalho comprometendo-se a concorrer para fazê-la sofrer, para satisfazer à divina justiça, e  também isto é um voltar mais forte a corda que te ata para aplacar; e além disso, quando Contigo  somente com a única finalidade de te glorificar e para o bem dos povos?”

(10) Jesus ouvia a Mãe, tinha consideração pelo confessor, mas não pronunciou sentença de todo  favorável, senão que se limitava a evitar em parte.

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4-4

Setembro 10, 1900

Ameaça contra os perversos.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via as tantas infâmias e pecados enormes que  se comentem, assim como também os cometidos contra a Igreja e o Santo Padre. Depois, voltando  em mim mesma, veio o meu adorável Jesus e disse-me:

(2) “Que dizes tu do mundo?”

(3) E eu, sem saber aonde queria chegar com esta pergunta, impressionada como estava pelas  coisas vistas, disse: “Senhor bendito, quem pode dizer a perversidade, a dureza, a feiúra do  mundo? Não tenho palavras para te dizer o quão ruim é”.

(4) E Ele, tomando ocasião de minhas mesmas palavras acrescentou: “Viu como é perverso? Tu  mesma o disseste, não há maneira de fazê-lo render-se, depois de que quase lhe tirei o pão,  permanece na mesma obstinação, bastante pior, e por agora vai consegui-lo com os roubos e com  as rapinas, fazendo mal aos seus semelhantes, portanto, é necessário que você toque a pele, caso  contrário você vai perverter mais”.

(5) Quem pode dizer como fiquei petrificada ante este falar de Jesus, me parece que fui eu a  ocasião para fazer que se irritasse contra o mundo; em vez de desculpá-lo o tenho pintado preto,  depois fiz o que pude por desculpá-lo, mas não me prestou atenção; o mal já estava feito. Ah  Senhor, perdoe esta falta de caridade e use misericórdia!

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4-5

Setembro 12, 1900

6

Sofrimento impiedoso, Jesus a alivia. 

Maquinações de revoluções contra a Igreja. 

(1) Continua quase o mesmo, esta manhã ao vir derramou suas amarguras, e eu fiquei tão sofredor que  comecei a pedir ao Senhor que me desse a força e que me aliviasse um pouco, porque não podia resistir.  Enquanto estava nisso, veio-me uma luz à mente fazendo que pensasse que cometia pecado ao fazer isto, e  além disso, que dirá o bendito Jesus? Enquanto em outras ocasiões lhe roguei tanto que derramasse, desta  vez que sem fazer rogar tinha derramado, estava buscando alívio, de parece que me vou fazendo mais má, e  chega a tanto minha maldade, que mesmo diante dele mesmo não me abstenho de cometer defeitos e  pecados. Então, não sabendo o que fazer para reparar, resolvi dentro de mim que desta vez, para fazer um  maior sacrifício e me dar uma penitência a fim de que minha natureza em outra ocasião não ousaria procurar  alívio, renunciar à vinda de Nosso Senhor, e se viesse devia lhe dizer: “Não venha amor, tenha compaixão de  mim, não me alivie”. Assim fiz e passei algumas horas em intenso sofrimento e sem Jesus; quão amargo me  parecia. Mas Jesus tendo compaixão de mim, sem que o buscasse veio, e eu logo lhe disse: “Tenha  paciência, não venha, que não quero alívio”.

(2) E Ele: “Minha filha, estou contente de teu sacrifício, mas tens necessidade de um consolo, de outro modo  desfalecerias.”

(3) E eu: “Não, Senhor, não quero alívio”.

(4) Mas Ele, aproximando-Se da minha boca, quase à força derramou da sua boca alguma gota de leite  doce, que amenizaram o meu sofrimento; quem pode dizer a confusão, a vergonha que sentia diante Dele,  esperando-me uma repreensão, mas Jesus como se não tivesse percebido minha falta se mostrava mais  afável, mais doce. Eu, vendo-o assim disse: “Meu adorável Jesus, uma vez que derramaste em mim e eu  sofro, deves perdoar o mundo, não é verdade?”.

(5) E ele: “Minha filha, acreditas que eu derramei tudo em ti? E, além disso, como poderias enfrentar tudo o  que de castigo derramarei sobre o mundo? Você mesma viu que aquele pouco que derramei não podia  resistir, e se não tivesse vindo te ajudar teria sucumbido, agora, o que seria se derramasse tudo em ti? Minha  querida, dei-te a minha palavra, contentar-te-ei em parte”.

(6) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, no meio das pessoas, e continuava a ver os tantos  males, especialmente maquinações de revoluções contra a Igreja, e entre a sociedade, planos para matar o  Santo Padre e os sacerdotes. Eu sentia-me dilacerar a alma ao ver estas coisas, e pensava: “Se, jamais seja,  chegarem a realizar-se estas maquinações, o que acontecerá? Quantos males virão?” E toda aflita olhei para

Jesus, e Ele me disse:

(7) “E daquela revolta que aconteceu aqui, o que você diz?”.

(8) E eu: “Qual revolta? No meu país nada aconteceu”.

(9) E Ele: “Não te lembras da revolta de Andria?”.

(10) “Sim Senhor”.

(11) “E bem, parece que é nada, mas não é assim, aquela foi toda uma ocasião, e é um fomento, uma força  para outras cidades para mover-se e derramar sangue, causando ultraje às pessoas consagradas, e a meus  templos, e como cada um quer mostrar quanto é mais feroz em exaltar o errado, competirão para ver quem  pode fazer mais mal”.

7

(12) E eu: “Ah Senhor, dá a paz à Igreja e não permitas tantas desgraças!” E querendo dizer mais, me  desapareceu, deixando-me toda aflita e pensativa.

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4-6

Setembro 14, 1900

Jesus derrama para aplacar sua justiça. O heroísmo da verdadeira virtude.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de muito esperar se fazia ver dentro de meu interior,  que apoiando-se em meu coração cingia seus braços ao seu redor e apoiava sua sacratíssima cabeça nele,  todo afligido, sério, de modo que te impunha silêncio, e virado de costas para o mundo. Depois de ter estado  um pouco em silêncio, porque o aspecto com que se mostrava não permitia o atrever-se a dizer uma palavra,  se tirou dessa posição e me disse:

(2) “Eu tinha resolvido não derramar, mas as coisas chegaram a tal ponto, que se eu não derramar estouraria  iminentemente tais alvoroços, de mover revoluções que fariam sangrentas matanças”.  (3) E eu: “Sim Senhor, derrama, este é meu único desejo, que desabafes sobre mim tua ira e perdoes as  criaturas”. Assim derramou um pouco. Depois, como se tivesse se acalmado acrescentou:  (4) “Minha filha, como cordeiro me fiz conduzir ao matadouro e estive mudo ante quem me sacrificou, assim  será daqueles poucos bons destes tempos; porém isto é o heroísmo da verdadeira virtude. 5) Acrescentou mais uma vez: “Derramei, queres que eu derrame mais um pouco, para que eu fique mais  aliviado?”

(6) E eu: “Meu Senhor, não me pergunte, estou à sua disposição, pode fazer de mim o que quiser”. Assim  derramou de novo e desapareceu deixando-me sofredor e contente pelo pensamento de que tinha aliviado as  penas do meu amado Jesus.

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4-7

Setembro 16, 1900

Andria 

(1) Meu amável Jesus continua a vir, e me participou algumas penas de sua Paixão, e depois me transportou  para fora de mim mesma, fazendo-me ver os povos circunvizinhos, especialmente me parecia que fosse  Andria, que se o Senhor não fizer uso de sua onipotência para seu castigo, as revoltas se farão sérias, muito  mais que parecia que havia incitação por parte de alguns sacerdotes para estas revoltas, o que amargurava  mais a Nosso Senhor. Então, depois de haver visitado várias igrejas junto com Jesus bendito, fazendo atos  de reparação e adoração pelas tantas profanações que se cometem nas igrejas, Jesus me disse:

(2) “Minha filha, deixa-me derramar um pouco, pois são tais e tantas as amarguras que não posso sofrer só,  e meu coração não pode suportá-las”.

(3) Assim derramou e desapareceu, retornando outras vezes sem me dizer mais nada. + + + +

4-8

Setembro 18, 1900

8

A Caridade ao próximo. Roga-lhe que a leve ao Céu.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fazia ver os  muitos males que se cometem contra a caridade do próximo, quanta pena davam ao pacientíssimo  Jesus, parecia que os recebia Ele mesmo; então todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, quem faz mal ao próximo se faz mal a si mesmo, e matando ao próximo mata sua  alma, e assim como a caridade predispõe a alma a todas as virtudes, assim não ter a caridade  predispõe a alma a cometer toda sorte de vícios”.

(3) Depois disto nos retiramos, e como há vários dias sofria uma dor intensa nas costelas, me  sentia por isso sem forças. E o bendito Jesus, compadecendo-me, disse-me:  (4) “Amada minha, tu queres vir, não queres?”

(5) E eu: “Queira o Céu meu Senhor, que esta dor fosse causa para vir a Ti; como lhe estaria  agradecida, como me seria querido, e tê-lo-ia por um de meus mais fiéis amigos, mas creio que  queres me tentar como as outras vezes, e excitar-me com teus convites, e, ficando desiludida, virás  a tornar mais crua e dilacerante o meu martírio. Mas, ah, tem compaixão de mim e não me deixe  muito mais tempo sobre a terra! absorve em Ti este mísero verme que tem razão, porque de Ti  mesmo saiu”. O amável Jesus enternecendo-se todo ao ouvir-me, disse:

(6) “Pobre filha, não temas, porque é certo que virá o teu dia no qual ficarás absorvida em Mim, no  entanto, deves saber que as tuas contínuas violências de vir a Mim, especialmente depois dos  meus convites, te servem muito e te fazem viver na atmosfera do ar, sem a sombra de nenhum  peso terreno; tanto que tu és como aquelas flores que nem sequer têm a raiz na terra, e vivendo  assim suspensa no ar, vens recriar o Céu e a terra, e tu, olhando para o Céu, somente nele te  recrias e te nutres de tudo o que é celestial, e vendo a terra tens compaixão dela, e a ajudas por  quanto podes por parte tua; mas em comparação com o cheiro do Céu advertes imediatamente a  peste que exala da terra e a aborreces. Poderia te colocar em uma posição para Mim e para o Céu  mais querido, e para ti e para o mundo mais proveitoso?”

(7) E eu: “Contudo, ó meu Senhor, deverias ter compaixão de mim por não alargar a minha morada  aqui, pelas tantas razões que tenho; especialmente pelos tristes tempos que se preparam; quem  terá coração para ver carnificina tão sangrenta? E além disso, por suas contínuas privações que  me custam mais que a morte”. Enquanto dizia isto, vi uma multidão de anjos ao redor de Nosso  Senhor que diziam:

(8) “Senhor e nosso Deus, não vos façais mais importunar, contenta-la, nós com ânsia a  esperamos. Feridos por sua voz viemos aqui para ouvi-la, e estamos ansiosos por levá-la conosco.  E tu, ó escolhida, vem alegrar-nos na nossa celeste morada”.

(9) O bendito Jesus, comovido, parecia que queria condescender e desapareceu, e encontrando-

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me em mim mesma me sentia aumentado a dor, tanto, que delirava continuamente; mas não me  entendia a mim mesma pelo contentamento.

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4-9

Setembro 19, 1900

Obediência de pedir alívio nas penas a Jesus.

1) Duplicando-se sempre mais o espasmo da dor, teria querido escondê-lo e fazer que ninguém se  desse conta, e teria querido mantê-lo em segredo, sem dizer ao confessor o que disse acima; mas  era tão forte o espasmo que me pareceu impossível, e o confessor, usando a sua habitual arma da  obediência, ordenou-me que lhe manifestasse tudo; então, depois de lhe ter manifestado todas as  coisas, disse-me que por obediência devia pedir ao Senhor que me libertasse, de outra maneira  cometeria pecado. Oh, que tipo de obediência é esta, é sempre ela que se atravessa em meus  planos! Então, de má vontade aceitei esta nova obediência, mas apesar disto não tinha coração  para rogar ao Senhor que me libertasse de um amigo tão querido, como o é a dor, muito mais que  esperava sair do exílio desta vida. O bendito Jesus me tolerava, e ao vir me disse:

(2) “Tu sofres muito, queres que te liberte?”

(3) E eu, tendo-me esquecido um momento da obediência disse: “Não Senhor, não, não me  libertes, quero ir; e além disso Tu sabes que não sei te amar, sou fria, não faço grandes coisas por  Ti, ao menos te ofereço este sofrer para satisfazer ao que não sei fazer por amor teu”.  (4) E Ele: “E Eu minha filha, infundirei tanto amor e tanta graça em ti, de modo que nenhum me  possa amar e desejar como tu, não estás contente?” (5) “Sim, mas quero vir”. Jesus desapareceu,  e eu voltando em mim mesma me lembrei da obediência recebida, e tive que me acusar com o  confessor, e me ordenou que absolutamente não queria que me fosse, e que o Senhor me  libertasse. Que pena senti ao receber esta obediência! parece que quer tocar os extremos de  minha paciência.

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4-10

Setembro 20, 1900

Sinais de cruz para recuperar a saúde.

(1) Continuo a sofrer, mais do que nunca, porque me foi negado o poder de morrer. Então ao vir  meu adorável Jesus me repreendeu por minha demora em obedecer, porque até então parecia que  me tolerava; enquanto isso via o confessor e Jesus virando-se para ele tomou-lhe a mão e disse lhe:

(2) “Quando vier, marque-a com o sinal da cruz na parte da dor, que a farei obedecer”.  (3) E desapareceu. Então, ficando sozinha sentia mais intensa a dor. Depois vindo o confessor e  encontrando-me sofrendo, também ele me repreendeu porque não obedecia, e tendo-lhe dito o que

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tinha visto e o que Nosso Senhor tinha dito ao confessor, ele ao ouvir-me fez o sinal da cruz na  parte onde sofria, e em dois minutos pude respirar e mover-me, enquanto antes não podia fazê-lo  sem sentir espasmos atrozes; parece-me que a obediência e aqueles sinais de cruz ataram a dor,  de modo que não posso mais me doer, e eis por que fiquei decepcionada em meus planos, porque  esta senhora obediência tomou tal poder sobre mim, que não me deixa fazer nada do que quero,  até no mesmo sofrer quer ela dominar, e devo estar em tudo e para tudo sob seu império.

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4-11

Setembro 21, 1900

Força da obediência. A obediência deve ser tudo para ela. 

(1) Quem pode dizer minha aflição ao ficar privada de meu amadíssimo amigo dor? Admirava, sim,  o prodigioso império da santa obediência, como também a virtude que o Senhor tinha comunicado  ao confessor, que com a obediência e com fazer-me o sinal da cruz me havia liberado de um mal  que eu considerava grave, e que era suficiente para desfazer meu corpo; mas com tudo isto não  podia fazer menos que sentir a pena de estar privada de uma dor tão boa, que apiedava e  enternecia ao bendito Jesus, de modo que o fazia vir quase continuamente. Então, vindo Nosso  Senhor, lamentei-me com Ele, dizendo: “Amado Bem meu, o que me fizeste? Libertaste-me pelo  confessor, portanto perdi a esperança de deixar por agora a terra, e além disso para que tantos  rodeios, podias Tu mesmo libertar-me, por que puseste o pai no meio? Ah! Talvez você não quis  me desagradar diretamente, não é?”

(2) E Ele: “Ah, minha filha, como logo esqueceste que a obediência foi tudo para Mim; a obediência  quero que seja tudo para ti! E também coloquei o pai no meio para que você o tenha em  consideração como a mim mesma”.

(3) Dito isto desapareceu deixando-me toda amargurada. Quantas sabe fazer a senhora  obediência! , você precisa conhecê-la e ter a ver com ela por um longo tempo, não por pouco, para  poder dizer realmente quem é ela, e bravo, bravo à senhora obediência, quanto mais se está em  contato com ela mais se faz conhecer. Eu por mim, para dizer a verdade, admiro-te, sou obrigada  também a amar-te; assim não posso fazer menos que não sentir-me zangada contigo  especialmente quando me faz uma grande. Por isso te peço, oh amada obediência, ser mais  indulgente, mais indulgente em fazer-me sofrer.

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4-12

Setembro 22, 1900

Por quantas vezes se dispõe a fazer o sacrifício da morte, 

outras tantas vezes Jesus lhe dá o mérito 

como se realmente morresse.

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(1) Encontrando-me toda oprimida e aflita, ao vir o meu adorável Jesus disse-me: “Minha filha, por  que te submergiste toda na tua aflição?”

(2) E eu: “Oh, meu amado, como não devo estar aflita se ainda não me queres levar contigo e me  deixa mais tempo sobre esta terra?”

(3) E Ele: “Ah não, não quero que você respire este ar triste, porque tudo o que coloquei dentro e  fora de você, tudo é santo, tão é verdade, que se se aproxima de você alguma coisa ou pessoa  que não é reta e santa, você sente incômodo, advertindo imediatamente a peste do que não é  santo. Agora, por que queres ensombrar com este ar de tristeza o que pus dentro de ti? No entanto  deves saber que cada vez que te dispõe a fazer o sacrifício da morte, outras tantas vezes te dou o  mérito, como se realmente morresses, e isto deve ser de grande consolação para ti, muito mais  porque te conformas principalmente a Mim, porque minha Vida foi um contínuo morrer”.

(4) E eu: “Ah Senhor, não me parece que a morte seja um sacrifício, mas sim, sacrifício me parece  a vida”. E querendo dizer mais desapareceu.

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4-13

Setembro 29, 1900

As almas vítimas são apoios e suportes para Jesus. 

(1) Tendo passado alguns dias de silêncio entre Jesus e eu, e com pouco sofrimento, parece-me  que gostaria de continuar a tentar fazer-me exercitar um pouco mais a paciência, e eis como:  (2) Ao vir, dizia: “Minha amada, do Céu te suspiro, no Céu, no Céu te espero”.  (3) E como relâmpago desaparecia. Depois, voltando, repetia: “Cessa já dos teus ardentes  suspiros, que me fazes definhar continuamente, até desfalecer”.

(4) Outras vezes: “Teu ardente amor, tuas ânsias são consolo a meu triste coração”.  (5) Mas quem pode dizer tudo? Parecia-me que tinha vontades de fazer versos, e estes versos às  vezes os expressava cantando-os; mas sem dar-me tempo de lhe dizer uma palavra, logo fugia.  Depois, esta manhã, tendo posto o confessor a intenção de me fazer sofrer a crucificação, vi a  Rainha Mãe que chorava e quase discutia com Jesus para livrar o mundo dos tantos castigos, mas  Ele mostrava-se relutante, E só para agradar à mãe, ela veio para me fazer sofrer. Pouco depois,  como se tivesse diminuído um pouco disse:

(6) “Minha filha, é verdade que quero castigar o mundo, tenho na mão os castigos para golpeá-lo,  mas é também verdade que se se interessarem tanto você como o confessor em rogar-me e sofrer,  é sempre um apoio, e viriam a pôr tantos suportes para livrar o pelo menos em parte, caso  contrário, não encontrar qualquer apoio e escora, mãos livres eu vou desabafar sobre as pessoas”.  (7) Dito isto desapareceu.

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4-14

Setembro 30, 1900

Jesus pede-lhe para consolar a sua mãe aflita. 

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus não vinha e tive que ter muita paciência em esperá-lo,  cheguei até me esforçar em sair de meu habitual estado porque não tinha força para continuar  nele. Jesus não vinha, o sofrer me parecia que havia fugido de mim, os sentidos me os sentia em  mim mesma, não me restava mais que fazer um esforço para sair, mas enquanto isso fazia, o  bendito Jesus veio e fez um cerco ao redor de minha cabeça com seus braços, e desde esse  momento não me tenho sentido mais em mim mesma, e via Nosso Senhor muito indignado com o  mundo e, querendo aplacá-lo, disse-me:

(2) “Por agora, não queiras cuidar de Mim, mas peço-te que te ocupes de minha Mãe, consola-a,  porque está muito afligida pelos castigos mais pesados que estou prestes a derramar sobre a  terra”.

(3) Quem pode dizer o quanto aflita fiquei?

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4-15

Outubro 2, 1900

Estado de vítima pela Itália e Corato.  

(1) Temendo que não fosse mais Vontade de Deus meu estado, ao vir o bendito Jesus disse:  “Quanto temo que já não seja Vontade teu estado, porque vejo que me faltam as duas coisas  principais que me haviam atado, isto é, o sofrimento e tua presença”.

(2) E Ele: “Minha filha, não é que não queira ter-te mais neste estado, senão como quero castigar  ao mundo, por isso não venho e te faço faltar o sofrer”.

(3) E eu: “Para que estou neste estado?”

(4) E Ele: “Tua posição de vítima e teu contínuo esperar me desarmam os braços, porque tu não  me vês, Eu em troca te vejo muito bem e numero todos os teus suspiros, tuas penas, teus desejos  de me amar, e este teu estar toda atenta em Mim, é sempre um ato de reparação por tantos que  não se preocupam comigo, nem me desejam, mas sim me desprezam e estão todos atentos às  coisas terrenas, enlameados na sujeira dos vícios. Então, seu estado sendo totalmente oposto ao  deles, vem sempre a desarmar a justiça, tanto, que ter você neste estado e começar as guerras  sangrentas na Itália, me resulta quase impossível”.

(5) E eu: “Ah! Senhor, estar neste estado sem sofrer me parece quase impossível, sinto que me  faltam as forças, porque a força para estar neste estado me vem dos sofrimentos. Então, faltando me estes, algum dia que não venha eu tratarei de sair, te digo isso antes a fim de que não te  desgoste”.

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(6) E Ele: “Ah sim, sim, sairá deste estado quando começar a matança na Itália, então te  suspenderei de tudo”.

(7) Enquanto dizia isto, fazia-me ver as guerras ferozes que deverão acontecer tanto entre os  leigos, como aquelas contra a Igreja; o sangue inundava as cidades como quando há uma chuva  densa, meu pobre coração se retorceu pela dor ao ver isto, E pensando na minha cidade, eu disse:  “Ah! Senhor, se Tu dizes que me suspenderás de todo, dás a entender que nem sequer do pobre  Corato terás compaixão, nem o perdoarás?”.

(8) E Ele: “Se os pecados chegam a um certo número, de modo que não mereçam ter almas  vítimas, e aqueles que te têm vítima não se interessam, Eu não terei nenhuma consideração de  Corato”.

(9) Dito isto desapareceu, e eu fiquei toda afligida e oprimida.

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Outubro 4, 1900

Jesus sofre ao castigar o homem porque são suas imagens. 

(1) Depois de ter passado um dia de privação e com escasso sofrimento, sentia-me convencida de  que o Senhor não queria ter-me mais neste estado; no entanto a obediência, mesmo nisto, não  quer ceder, e quer que continue a estar nele, ainda que deva morrer. Seja sempre bendito o  Senhor e em tudo seja feito seu santo e amável Querer. Então, esta manhã, ao vir o bendito Jesus,  fazia-se ver em um estado que dava compaixão, parecia que sofria em seus membros, e seu corpo  era cortado em tantos pedaços que era impossível numera-los; e com voz lastimosa dizia:

(2) “Minha filha, que sinto! O que sinto! são penas inenarráveis e incompreensíveis à natureza  humana; é carne de meus filhos que é dilacerada, e é tanto a dor que sinto, que me sinto dilacerar  minha própria carne”.

(3) E enquanto isso gemia e doía. Eu sentia-me enternecedor ao vê-lo neste estado, e fiz tudo o  que pude por compadecê-lo e rogar-lhe que me participasse suas tristezas. Agradou-me em parte  e apenas pude dizer-lhe: “Ah Senhor, não te dizia eu, que não lançasses mão dos castigos, porque  o que mais me desagrada é que ficarás ferido nos teus próprios membros? Ah, desta vez não  houve modos nem orações para aplacar-te!” Mas Jesus não prestou atenção a minhas palavras,  parecia que tinha uma coisa séria no coração que o levava a outra parte, e num instante me  transportou fora de mim mesma, levando-me a lugares onde Ocorriam massacres sangrentos. ¡  Oh, quantas cenas dolorosas se viam no mundo, quantas carnes humanas atormentadas, feitas em  pedaços, pisoteadas como se pisa a terra e deixadas sem sepultar; quantas desgraças, quantas  misérias! e o pior era que outras coisas mais terríveis deviam acontecer. O bendito Senhor olhou, e  comovendo-se tudo começou a chorar amargamente. Eu, não podendo resistir chorei junto com Ele

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a triste condição do mundo, tanto que minhas lágrimas se misturavam com as de Jesus. Depois de  ter chorado um bom momento, admirei outro traço da bondade de Nosso Senhor: Para fazer que  deixasse de chorar ocultou seu rosto de mim, secou-se as lágrimas, e logo voltando-se de novo  com rosto alegre me disse:

(4) “Amada minha, não chores, basta, basta, o que vês serve para justificar a minha Justiça”.  (5) E eu: “Ah Senhor, digo bem que já não é Vontade tua o meu estado, em que aproveita o meu  estado de vítima se não me for dado livrar os teus caríssimos membros e isentar o mundo de  tantos castigos?”

(6) E Ele: “Não é como você diz; também Eu fui vítima, e apesar de sê-lo não me foi dado livrar ao  mundo de todos os castigos; abri-lhe o Céu, o livrei da culpa, sim, levei sobre Mim suas penas, mas  é justiça que o homem receba sobre si parte daqueles castigos que ele mesmo se atrai pecando.  E, se não fosse pelas vítimas, não só mereceria o simples castigo, ou seja, a destruição do corpo,  mas também a perda da alma; e eis a necessidade das vítimas, que quem se quiser servir delas,  porque o homem é sempre livre na sua vontade, pode encontrar o perdão da pena e o porto de sua  salvação”.

(7) E eu: “Ah Senhor, como gostaria de ir antes que avancem mais estes castigos!”  (8) E Ele: “Se o mundo chega a tal impiedade de não merecer nenhuma vítima, seguro que te levarei”.

(9) Ao ouvir isto disse: “Senhor, não permita que permaneça aqui, e assistir a cenas tão dolorosas”.  (10) E Jesus, quase me repreendeu acrescentou: “Em vez de me pedir que os liberte, você diz que  quer vir; se Eu levasse todos os meus, o que seria do pobre mundo? Certamente não teria mais o  que fazer com ele, e não lhe teria mais nenhuma consideração”.

(11) Depois disso eu pedi por várias pessoas, Ele desapareceu e eu retornei em mim mesma. + + + +

4-17

Outubro 10, 1900

Estes escritos manifestam claramente ao mundo o modo 

como Jesus ama as almas. 

A alma só pode sair do corpo, por força da dor ou do amor. 

(1) Enquanto escrevia estava pensando entre mim: “Quem sabe quantos desatinos haverá nestes  escritos, merecem ser lançados ao fogo, se a obediência me o concedesse, de boa vontade o faria,  porque sinto como um enfado na alma, especialmente se chegassem a ser vistos por alguma  pessoa, já que em alguns pontos fazem parecer como se amasse ou fizesse alguma coisa por  Deus, enquanto que não faço nada, não o amo, e sou a alma mais fria que se possa encontrar no  mundo, e então me teriam em um conceito diferente do que sou, e isto é uma pena para mim; mas  como é a obediência que quer que escreva, sendo isto para mim um dos maiores sacrifícios,

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portanto me entrego toda a ela, com a esperança certa que ela me desculpará e justificará minha  causa diante de Deus e diante dos homens”. Mas enquanto digo isto, o bendito Jesus mexeu-se  dentro de mim e está a repreender-me e quer que retire o que disse, e se não o fizer não quer que  continue a escrever. Está me dizendo que ao dizer isto me afastei da verdade, sendo que a coisa  mais essencial de uma alma é não sair jamais do círculo da verdade. Como! você não me ama?  Com que intrepidez diz, não Tu queres sofrer por Mim?”.

(2) E eu envergonhando-me toda: “Sim, Senhor”.

(3) E Ele: “E bem, como é que vens a sair da verdade?”

(4) Dito isto, retirou-se em meu interior, sem mais fazer-se ouvir, ficando eu como se tivesse  recebido um golpe. ¡ Quantas me faz a senhora obediência, se não fosse por ela não me  encontraria nestas lutas com meu amado Jesus! ; quanta paciência é necessária com esta bendita  obediência!

(5) Agora, vou dizer o que devia dizer, pois o Senhor me distraiu um pouco do que havia começado, então, ao vir o bendito Jesus respondeu ao meu pensamento dizendo-me:  (6) “Certamente merecem ser queimados estes escritos teus, mas queres saber em qual fogo? No  fogo de meu amor, porque não há página neles que não manifeste claramente o modo como amo  as almas; tanto se são coisas que se referem a ti, como se referem ao mundo; e meu amor nestes  teus escritos encontra um desabafo aos meus preocupados e amorosos desfalecimentos”.  (7) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, e encontrando-me sozinha, sem corpo,  disse: “Meu amado e único Bem, que castigo é para mim ter que retornar tantas vezes a meu  corpo, porque é certo que agora não o tenho, é só minha alma que está junto Contigo; e depois,  não sei como me encontro aprisionada em meu mísero corpo como dentro de uma prisão  tenebrosa, e aí perco aquela liberdade que me vem dada ao sair dele. Isto não é um castigo para  mim, o mais duro que se possa dar?”

8) E Jesus: “Minha filha, não é castigo o que tu dizes, nem por culpa tua que isto te acontece, antes  deves saber que só por duas razões a alma pode sair do corpo: por força da dor, porque acontece  a morte natural; ou por força de amor recíproco entre a alma e Eu, porque sendo este amor tão  forte, nem a alma suportaria, nem Eu posso suportar muito sem gozá-la, por isso a vou atraindo a  Mim, e logo a devolvo a seu estado natural; e a alma mais que atraída por um fio elétrico vai e vem  como a Mim me agrada. Eis que o que tu crês castigo é amor finíssimo”.

(9) E eu: “Ah Senhor, se o meu amor fosse bastante e forte, creio que teria a força de subsistir  diante de Ti, e não estaria sujeita a retornar ao meu corpo; mas como é muito débil, por isso é que  estou sujeita a estas vicissitudes”.

(10) E Ele: “Antes te digo que é amor maior, é extraído do amor do sacrifício, porque por amor meu  e por amor dos teus irmãos te privas e regressas às misérias da vida”.

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(11) Depois disto o bendito Jesus me transportou a uma cidade, onde eram tantas as culpas que se  cometiam, que saía como uma neblina densíssima, malcheirosa, que se levantava para o céu; e do  céu descia outra neblina tupida, e dentro estavam condensados tantos castigos, que pareciam ser  suficientes para exterminar esta cidade. Então eu disse: “Senhor, onde nos encontramos? Que  lugares são estes?”

(12) E Ele: “Aqui é Roma, onde são tantas as maldades que se cometem, não só pelos leigos, mas  também pelos religiosos, que merecem que esta névoa os acabe de cegar, merecendo com isso o  seu extermínio”.

(13) Num instante vi o estrago que acontecia, e parecia que o Vaticano recebia parte das  sacudidas; não eram libertados nem sequer os sacerdotes, por isso toda consternada disse: “Meu  Senhor, liberta a tua cidade predileta, a tantos ministros teus, ao Papa. Oh, de boa vontade te  ofereço a mim mesma para sofrer seus tormentos, contanto que os perdoe!”

(14) E Jesus comovido me disse: “Vem Comigo e te farei ver até onde chega a malicia humana.” 15) E transportou-me para dentro de um palácio, e num quarto secreto estavam cinco ou seis  deputados e diziam entre eles: “Só cederemos quando tivermos destruído os cristãos”. E parecia  que queriam obrigar o rei a escrever de seu próprio punho o decreto de morte contra os cristãos, e  a promessa de deixá-los apoderar-se dos bens destes, dizendo-lhe que, contanto que consentisse  com eles, ele não faria nada, porque não o fariam por agora, mas em tempo e circunstâncias  oportunas o teriam feito. Depois disto me transportou a outra parte, e me fazia ver que devia morrer  um daqueles que se dizem chefes, e este tal parecia tão unido com o demônio, que nem sequer  nesse ponto se afastava, toda sua força a tomava dos demônios que o cortejavam como seu fiel  amigo. Os demônios ao me ver se moveram, e um me queria bater, outro me queria fazer uma  coisa e outra, entretanto eu, não fazendo caso a suas moléstias, porque me importava mais a  salvação daquela alma, me esforcei e cheguei junto a esse homem. Oh Deus, que vista tão  espantosa, mais que os mesmos demônios! Em que estado tão lamentável jazia ele! Mais duro que  pedra, em nada o comoveu nossa presença, mas bem parecia que zombava. Jesus logo me tirou  desse lugar, e eu comecei a rogar pela salvação dessa alma.

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4-18

Outubro 12, 1900

Os inimigos mais poderosos do homem são: 

o amor aos prazeres, às riquezas e às honras.

(1) Continua vindo meu adorável Jesus; esta manhã trazia uma densa da coroa de espinhos; a tirei  pouco a pouco e a pus em minha cabeça, e disse: “Senhor, ajuda-me a cravá-la”.  (2) E Ele: “Desta vez quero que tu mesma a crave, quero ver o que saber fazer, e como queres

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sofrer por amor a mim”.

(3) Eu a cravei muito bem, muito mais que se tratava de lhe fazer ver até onde chegava meu amor  de sofrer por Ele, tanto que Ele mesmo, todo enternecido e estreitando-me disse:  (4) “Basta, basta, que meu coração não resiste mais o verte sofrer”.

(5) E me deixando muito sofrida, meu amado Jesus não fazia outra coisa senão ir e vir. Depois  disto tomou o aspecto de crucificado e me participou suas penas, e me disse:  (6) “Minha filha, os inimigos mais poderosos do homem são: o amor aos prazeres, às riquezas e às  honras, que fazem infeliz ao homem, porque estes inimigos se introduzem até no coração e o roem  continuamente, o amargam, o abatem, tanto, de fazer-lhe perder toda a felicidade, e eu sobre o  Calvário derrotei estes três inimigos, e obtive graça para o homem de que pudesse vencê-los  também ele, e restituí-lhe a felicidade perdida, mas o homem sempre ingrato rechaça minha graça  e ama raivosamente estes inimigos, que colocam o coração humano em uma tortura contínua”.  (7) Dito isto desapareceu e eu compreendia com tal clareza a verdade destas palavras, que sentia  uma repugnância, um ódio para com estes inimigos.

(8) Seja sempre bendito o Senhor e tudo seja para sua glória.

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4-19 

Outubro 14, 1900

O perigoso flagelo dos burgueses. 

Só a inocência atrai a misericórdia e mitiga a justa indignação.

(1) Esta manhã me sentia tão aturdida, que não reagia, nem podia ir como o habitual em busca de  meu sumo Bem. De vez em quando se movia dentro de mim e se fazia ver, e me abraçando toda e  compadecendo me dizia:

(2) “Pobre filha, tens razão de não poder estar sem Mim, como poderias viver sem teu amado?”  (3) E eu, perturbada por suas palavras, disse: “Ah, meu amado, que duro martírio é a vida por os  intervalos em que sou obrigada a estar sem Ti. Tu mesmo o dizes, que tenho razão nisto, e logo  me deixas?”

(4) E ele se escondeu como se não quisesse que ouvisse o que me dizia, e eu fiquei de novo no  meu tumulto, não podendo dizer mais nada; e, vendo-me de novo, turbada, disse: (5) “Tu és todo o meu contentamento, no teu coração encontro o verdadeiro repouso e,  repousando, sinto nele as mais queridas delícias”.

(6) E eu, sacudindo-me de novo, disse-lhe: “Também para mim Tu és todo o meu contentamento,  tanto que todas as outras coisas não são para mim senão amarguras”.

(7) E Ele retirando-se de novo me deixou meio a falar, ficando mais perturbada que antes, e assim  continuou esta manhã, parecia que tinha vontade de jogar um pouco. Depois disto me senti fora de  mim mesma, e vi que vinham pessoas desconhecidas vestidas de burgueses, e as pessoas ao vê-

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las, todas se horrorizavam e davam um grito de espanto e de dor, especialmente as crianças, e  diziam: “Se estes nos caem em cima, para nós tudo terminou”, e acrescentavam: “Escondam as  jovens; pobre juventude se chega às mãos destes”. Então eu, dirigindo-me ao Senhor lhe disse:  “Piedade, misericórdia, afasta este flagelo tão perigoso para a mísera humanidade, te movam a  compaixão as lágrimas da inocência”.

(8) E Ele: “Ah! minha filha, só pela inocência tenho consideração pelos outros, só ela me arranca a  misericórdia e mitiga minha justa ira”.

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4-20

Outubro 15, 1900

Luta entre o confessor e Jesus pela crucificação de Luísa.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, o bendito Jesus fez-me ouvir a sua voz que dizia: (2) “Minha filha, esta manhã sinto toda a necessidade de ser confortado, ah, toma um pouco as  minhas penas sobre ti, e deixa-me repousar no teu coração!”

(3) E eu: “Sim meu Bem, torna-me partícipe das tuas dores, e enquanto eu sofro em teu lugar,  terás todo o tempo para te poder restaurar e para teres um doce repouso; só te peço que esperes  mais um pouco até que eu fique sozinha, porque me parece que ainda está o confessor, para que  ninguém me veja sofrer”.

(4) E Ele: “Que importa que esteja presente o pai, não seria melhor que em vez de ter alguem que  me alivie, tenha dois, você sofrendo e ele concordando comigo com minha mesma intenção?”  (5) Enquanto isso, vi o confessor que colocava a intenção da crucificação, e de imediato o Senhor,  sem o mínimo atraso me participou as penas da cruz. Depois de ter estado um pouco nesses  sofrimentos, o confessor chamou-me à obediência, Jesus retirou-se e eu tratava de submeter-me a  quem me ordenava. Quando em um instante, de novo veio o meu doce Jesus que me queria  submeter pela segunda vez às penas da crucifixão, e o pai não queria; e eu, quando me  uniformizava com Jesus, isto é a sofrer, Ele vinha; quando o confessor via que começava a sofrer,  com a obediência parava o sofrimento e Jesus se retirava, eu sofria uma pena grande ao vê-lo  retirar-se, mas fazia quanto mais por obedecer, e às vezes, como via presente ao confessor,  deixava-os fazer a Eles, esperando a ver quem vencia: a obediência ou Nosso Senhor. Ah,  parecia-me ver lutar a obediência e a Jesus, ambos potentes, capazes de poder enfrentar uma luta.  Depois de terem lutado, no momento de ver quem vencia, veio a Rainha Mãe, que se aproximando  do pai lhe disse:

(6) “Meu filho, esta manhã em que Ele mesmo quer que sofra, deixe-o fazer, de outra maneira não  serão livrados, nem sequer em parte dos castigos”.

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(7) Naquele momento, o pai cessou, como se se tivesse distraído em sustentar a luta, e Jesus  vencedor me sujeitou de novo às dores, mas com tal veemência e acerbos dores, que eu mesma  não sei como fiquei viva; Quando pensava que ia morrer, a obediência chamou-me novamente e  encontrei-me em mim mesma. Reconfortado o bendito Jesus, mas não contente ainda,  regressando queria repetir pela terceira vez, mas a obediência armando-se de força, desta vez se  fez vencedora, perdendo meu amado Jesus. Com tudo isto de vez em quando o tentava, quem  sabe e talvez pudesse vencer novamente Ele, tanto que não me dava calma, e devia dizer: “Mas  meu Senhor, fica um pouco quieto e deixa-me em paz; não vês que a obediência se pôs em armas,  e não quer ceder? Por isso tenha paciência, e se quiser repetir a terceira vez prometa-me que me  fará morrer”.

(8) E Jesus: “Sim, venha”.

(9) Eu disse ao pai e também nisto a obediência se tornou inexorável, apesar de que o meu doce  Bem me chamava dizendo: “Luísa vem”, eu lhe dizia que me chamava, mas me respondia com um  não determinante. Que obediência é esta que quer fazer em tudo, e sobre tudo, de senhora, quer se meter em coisas que a ela não lhe pertencem, como é o morrer; e além disso, bonita coisa,  expõe uma pobre infeliz aos perigos de morrer, faz-lhe tocar com a mão o porto da felicidade  eterna, E então para mostrar que em tudo sabe fazer de senhora, pela força que possui a detém e  a faz permanecer na mísera prisão do corpo, e se lhe perguntarem por que tudo isso, primeiro não  te responde, e depois em sua mudo linguagem te diz: “Por que? Porque sou senhora e tenho  império sobre tudo”. Parece que sim, quer estar em paz com esta bendita obediência, se necessita  uma paciência de santo, e não só, mas a mesma de Nosso Senhor; de outra maneira se está em  contínuas fricções, porque se trata de que quer tocar os extremos. Então vendo que não podia  vencer em nada, o bendito Senhor se acalmou diante da obediência e me deixou em paz, me  amenizou as penas que sofria e me disse:

(10) “Minha querida, nas dores que sofreste, quis fazer-te sentir o furor da minha justiça ao  derramá-la um pouco sobre ti. Se você pudesse ver com clareza o ponto até onde os homens a  fizeram chegar, e como o furor de minha justiça se armou contra eles, você tremeria dos pés a  cabeça, e não faria outra coisa que me pedir que chovessem sobre você as penas.

(11) Então parecia que me sustentava nos meus sofrimentos, e para me animar dizia-me:  (12) “Eu sinto-me melhor, e tu?”

(13) E eu: “Ah! Senhor, quem pode dizer o que sinto? , me parece como se tivesse sido triturada  dentro de uma máquina, sinto tal aniquilamento de forças, que se Tu não me infundes vigor não  posso recuperar”.

(14) E Ele: “Amada minha, é necessário que ao menos de vez em quando sintas com intensidade  as penas; primeiro por ti, porque por quanto bom seja um ferro, se se deixa largamente sem o pôr

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no fogo, sempre adquire algo de ferrugem; segundo por Mim, que se por longo tempo não me  derramava sobre ti, minha ira se ascendia em tal modo, que não teria nenhuma consideração, nem  livraria a ninguém, e se não pusesse sobre ti minhas penas, como poderia manter-te a palavra de  perdoar em parte ao mundo dos castigos?”

(15) Depois disso, o confessor veio chamar-me à obediência, e assim eu voltei em mim mesma.  + + + +

4-21

Outubro 17, 1900

Uma alma sofredora e uma oração humilde, 

fazem perder toda a força a Jesus, 

e o torna tão débil de deixar-se atar por aquela alma. 

O aspecto da justiça. 

1) Ao vir o meu adorável Jesus, pareceu-me vê-lo tão sofredor que dava compaixão, e lançando-se  em meus braços me disse:

(2) “Minha filha, acalma o furor de minha justiça, de outra maneira”…

(3) Enquanto estava nisto, pareceu-me ver a justiça divina armada de espadas, de flechas de fogo,  que dava terror, e ao mesmo tempo a força com que pode agir. Por isso toda assustada disse:  “Como posso acalmar a tua ira se te vejo tão forte que podes num simples instante aniquilar céu e  terra?”

(4) E Ele: “No entanto uma alma sofredora, e uma oração humildíssima, fazem-me perder toda a  minha força, e fazem-me tão débil que me deixo atar por essa alma como a ela parece e lhe e  apraz.

(5) E eu: “Ah, Senhor, em que aspecto tão feio se faz ver a justiça!”.

(6) E Jesus acrescentou: “Não é feia, se tu a vês tão armada, isto foi provocado pelos homens,  mas em si mesma é boa e santa, como os meus outros atributos, porque em Mim não pode haver  sequer a sombra do mal; é verdade que seu aspecto parece áspero, pungente, amargo, mas os  frutos são doces e saborosos”.

(7) Dito isto desapareceu.

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4-22

Outubro 20, 1900

A Justiça quer a satisfação do que é injusto, 

assim o amor quer o alívio de amar e de ser amado. 

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus me fazia ver seus atributos e me disse:  (2) “Minha filha, todos meus atributos estão em contínua atitude para com os homens, e todos  exigem o seu tributo”.

(3) Depois acrescentou: “Assim como a justiça quer a satisfação do que é injusto, assim meu amor

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quer o desabafo de amar e de ser amado. Tu põe-te na justiça e reza, repara, e quando receberes  algum golpe tem a paciência de suportá-lo; depois passa ao meu amor e dá-me o desafogo do  amor, de outra maneira ficaria desiludido no amor. Desta vez sinto toda a necessidade de  desabafar o meu amor reprimido, e se me fosse dado fazê-lo, definharia e desmaiaria”.

(4) Enquanto dizia isto começou a me beijar, a me acariciar e a me fazer tantas que não tenho  palavras para saber manifestá-las; e queria que eu lhe correspondesse, dizendo-me:  (5) “Assim como Eu sinto a necessidade de desabafar contigo em amor, assim tu tens necessidade  de desabafar em amor Comigo, não é verdade?”

(6) Então, depois de nos termos descarregado mutuamente no amor, desapareceu. ++++

4-23

Outubro 22, 1900

Dúvidas de Luisa sobre as coisas que lhe acontecem, 

ela quer saber se são de Deus ou do demônio. 

A obediência não tem razão humana, sua razão é divina.

(1) Esta manhã me encontrava toda oprimida e com temor de que não fosse Jesus bendito que  operava em mim, mas o demônio, mas apesar disso não sabia conter-me em buscá-lo e desejá-lo,  e assim que se dignou vir me disse:

(2) “O que é que garante que o sol nasce senão a luz que põe em fuga as trevas noturnas e o calor  que expande na mesma luz? Se se dissesse que o sol nasceu, e no entanto parece mais densa a  escuridão da noite e não se sente nenhum calor, o que dirias tu? Que não é sol verdadeiro o que  saiu, senão falso, porque não se vêem os efeitos do sol. Agora, se a minha visão te afasta das  trevas e te mostra a luz da verdade, fazendo-te sentir o calor da minha graça, por que queres  cansar-te o cérebro pensando que não sou Eu quem obra em ti?”

(3) Acrescento porque assim o quer a obediência, que no outro dia estava pensando que se de  verdade acontecem tantos castigos que escrevi nestes cadernos, quem terá coração de ser  espectador? E o bendito Senhor claramente me fez compreender que alguns se realizarão  enquanto ainda estiver sobre esta terra, outros depois de minha morte, e alguns outros serão  diminuídos em parte. Então fiquei um pouco mais aliviada por pensar que não era a minha vez de  ver todos. Aqui está satisfeita a senhora obediência, que começou a franzir a testa, a dar lamentos  e a repreender; parece que esta bendita senhora não quer em nenhum modo adaptar-se à razão  humana, não quer ocupar-se de nenhuma circunstância, mas parece que não tem razão, e na  verdade é um martírio ter que ver com alguém que não tem razão, porque para poder estar um  pouco bem é necessário perder a própria razão, porque a senhorita vai se gabando: “Eu não tenho  nenhuma razão humana, por isso não sei adaptar-me à maneira humana, minha razão é divina, e  quem quiser viver em paz Comigo é absolutamente necessário que perca a sua, para fazer

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aquisição da minha”. Assim é como raciocina a senhorita, o que se pode dizer? É melhor calar-se,  porque ao direito ou ao contrário sempre quer a razão, e se gloria de negá-la sempre.

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4-24

Outubro 23, 1900

O verdadeiro amor nunca está sozinho.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me fazia ver o confessor que  punha a intenção de me fazer sofrer a crucificação; minha pobre natureza sentia repugnância, não  porque não quisesse sofrer, senão por outras razões que não é necessário descrevê-las aqui, Mas  Jesus, como lamentando-se de mim dizia ao pai:

(2) “Não quer submeter-se”.

(3) Eu me enterneci ante o lamento, o padre renovou a ordem e me submeti. Depois de ter sofrido  um pouco, como via o pai presente, o Senhor disse:

(4) “Amada minha, eis o símbolo da Santíssima Trindade: Eu, o Pai e tu. Meu amor desde “ab  eterno” jamais esteve sozinho, senão sempre unido em perfeita e recíproca união com As Divinas  Pessoas, porque o verdadeiro amor jamais está sozinho, senão que produz outros amores e goza  o ser amado pelos amores que ele mesmo produziu, e se está só, ou não é da natureza do amor  divino, ou bem está só aparentemente. Se soubesses quanto me agrado e me agrada poder  continuar nas criaturas aquele amor que desde “ab eterno” reinava e reina ainda agora na  Santíssima Trindade. Eis por que digo que quero o consentimento da intenção do confessor unido  comigo, para poder continuar mais perfeitamente este amor que simboliza a Trindade  Sacrossanta”.

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4-25

Outubro 29, 1900

A coisa mais essencial e necessária numa alma é a caridade. 

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação e de silêncio, esta manhã ao vir o bendito Jesus  disse: “Vê-se que não é mais Vontade tua o meu estado”.

(2) E Ele: “Sim, sim; levanta-te e vem aos meus braços”.

(3) Por este falar esqueci o estado penoso dos dias passados e corri a seus braços, e como se via  o lado aberto disse: “Meu amado, já faz algum tempo que não me admitiste a chupar do teu lado,  peço-te que me admitas hoje”.

(4) E Jesus: “Amada minha, bebe pois ao teu prazer e cura-te”.

(5) Quem pode dizer minha alegria e avidez com que pus minha boca para beber daquela fonte

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divina? Depois de beber até não ter mais onde colocar nem sequer outra gota, separei-me, e Jesus  me disse:

(6) “Saciaste-te? Se não, segue bebendo”.

(7) E eu: “Saciada não, porque dessa fonte quanto mais se bebe, mais cresce a sede, só que  sendo muito pequena minha capacidade, não sou capaz de conter mais”.

(8) Depois disto via com Jesus outras pessoas, e disse:

(9) “A coisa mais essencial e necessária numa alma é a caridade; se não há caridade, acontece como aquelas famílias ou reinos que não têm governantes, tudo está transtornado, as coisas mais  belas ficam obscurecidas, não se vê nenhuma harmonia, quem quer fazer uma coisa e quem outra.  Assim acontece na alma onde não reina a caridade, tudo está em desordem, as mais belas  virtudes não harmonizam entre elas, por isso a caridade se chama rainha, porque tem regime,  ordem, e dispõe tudo”.

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Outubro 31, 1900

A medicina mais saudável e eficaz nos 

momentos mais tristes da vida é a resignação.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me fora de mim mesma, e encontrei a Rainha  Mãe; e, vendo-me, começou a falar da justiça, de como está prestes a descarregar-se com toda a  ira contra as nações; disse muitas coisas sobre isto, mas não tenho palavras para o expressar, e  enquanto estava aí via todo o céu cheio de pontas de espadas contra o mundo. Em seguida,  acrescentou:

(2) “Minha filha, tu, muitas vezes desarmaste a justiça divina, e te contentaste em receber sobre ti  seus golpes, agora que a vês no cúmulo do furor não te desanimes, senão sê animosa, com ânimo  cheio de santa fortaleza entra nessa justiça e dá-lhe, não tenhas temor de as espadas, do fogo e  de tudo o que possas encontrar; para obter este propósito, se te vires ferida, golpeada, queimada,  rejeitada, não retrocedas, senão que te seja de estímulo para prosseguir. Olha, para fazer isto vim  Eu em tua ajuda trazendo-te uma vestidura, com a qual, usando-a tua alma, adquirirás valor e  fortaleza para não temer nada”.

(3) Dito isto, tirou do seu manto uma veste entrelaçada de ouro jaspeado de várias cores e vestiu a  minha alma; e deu-me o seu Filho, dizendo:

(4) “E eis que, como penhor do meu amor, te dou em custódia o meu amadíssimo Filho, para que o  guardes, o ames e o contentes em tudo; procure fazer as minhas vezes, para que encontrando em  ti toda a sua alegria, o desgosto que lhe dão os demais não lhe possa causar tanta pena. (5) Quem pode dizer como fiquei feliz e fortificada ao ser vestida por essa vestidura, e com a  amorosa prenda entre meus braços? Felicidade maior certamente não poderia desejar. Então a

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Rainha Mamãe desapareceu e eu fiquei com meu doce Jesus. Tendo girado um pouco pela terra, e  entre tantos encontros nos encontramos com uma alma em poder do desespero; tendo compaixão  dela nos aproximamos, e Jesus quis que eu lhe falasse para lhe fazer compreender o mal que  fazia, e com uma luz que o próprio Jesus me infundia lhe disse:

(6) “A medicina mais proveitosa e eficaz nas circunstâncias mais tristes da vida é a resignação. Ao  ficares desesperado, em vez de tomares o remédio, estás a tomar o veneno para matar a tua alma.  Não sabes tu que o remédio mais oportuno para todos os males, a coisa principal que nos faz  nobres, nos diviniza e nos assemelha a Nosso Senhor e tem virtude de converter em doçura as  mesmas amarguras, é a resignação? Que coisa foi a vida de Jesus sobre a terra senão um  continuar o Querer do Pai, e enquanto estava na terra estava unido com o Pai no Céu? Assim a  alma resignada, enquanto vive na terra, a alma e a sua vontade está unida com Deus no Céu.  Pode-se dar coisa mais querida e desejável que esta?”

(7) Aquela alma, como sacudida começou a se acalmar, e eu junto com Jesus nos retiramos. Seja  tudo para glória de Deus e seja sempre bendito.

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Novembro 2, 1900

Quem habita em Jesus, nada no oceano  

de todos os contentamentos 

(1) Esta manhã me sentia toda oprimida e aflita, com a adição que o bendito Jesus não se fazia  ver; depois de muito esperar saiu de dentro de meu interior, e abrindo-me seu coração me punha  dentro dizendo:

(2) “Fica dentro de Mim, só aqui encontrarás a verdadeira paz e estável contente, porque dentro de  Mim não penetra nada do que não pertence à paz e felicidade, e quem habita em Mim não faz  outra coisa que nadar no oceano de todos os contentamentos; enquanto ao sair de Mim, ainda que  a alma não se desse ao trabalho de nada, só de ver as ofensas que me fazem e o modo como me  desgostam, já vem a participar nas aflições, e fica perturbada por isso; por isso tu de vez em  quando esquece de tudo, entra dentro de Mim e vem a saborear minha paz e felicidade, depois sai  fora e faz-me o ofício de reparadora minha”.

(3) Dito isto, desapareceu

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Novembro 8, 1900

A obediência restitui à alma o seu estado original. 

(1) Continuando seus habituais atrasos ao vir, eu sentia todo o peso de sua privação; quando

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subitamente veio e sem saber por que me fez esta pergunta:

(2) “Você me saberia dizer por que a obediência é tão glorificada e causa tanta honra de imprimir  na alma a imagem divina?”

(3) Eu toda confusa não soube o que responder, mas o bendito Jesus com uma luz intelectual que  me mandava, me respondeu Ele mesmo, mas como é por meio de luz e não de palavras, não  tenho palavras para expressá-lo, mas a obediência quer que o tente para ver se consigo escrevê lo, ainda que acredito que direi disparates e escreverei coisas que não concordarão, mas ponho  toda minha fé na obediência, especialmente que são coisas que se referem diretamente a ela, e  agora começo a tentar. Então parecia que me dizia:

(4) “A obediência é tão glorificada porque tem virtude de descobrir, desde as raízes, as paixões  humanas, destrói na alma tudo o que é terreno e material, e com grande honra sua restitui à alma  seu estado original, isto é, como foi criada por Deus na justiça original, antes de ser expulsa do  Éden terrestre, e neste sublime estado a alma se sente Fortemente atraída por tudo o que é bem,  sente conatural a ela tudo o que é bom, santo e perfeito, com um horror grandíssimo mesmo à  sombra do mal. Com esta natureza feliz, recebida pela peritíssima mão da obediência, a alma não  experimenta mais dificuldade para seguir as ordens recebidas, muito mais que quem manda, deve  mandar sempre o bem, e eis como a obediência sabe imprimir bem a imagem divina, e não só isso,  mas muda a natureza humana na divina, porque como Deus é bom, santo e perfeitíssimo, e é  levado a tudo o que é bom e odeia sumamente o mal, assim a obediência tem virtude de divinizar a  natureza humana e de fazer-lhe adquirir as propriedades divinas; e quanto mais o alma se deixa  guiar por esta peritíssima mão, tanto mais adquire de divino e destrói o próprio ser. Por isso é tão  glorificada e honrada, tanto que Eu mesmo me submeti a ela e por ela fiquei honrado e glorificado,  e restituí por meio dela a honra e a glória a todos meus filhos que pela desobediência tinham  perdido”.

(5) Isto mais ou menos soube manifestar, o resto tenho na mente mas me faltam as palavras,  porque é tanta a altura do conceito desta virtude, que minha pobre linguagem humana não sabe  adaptar-se a colocá-lo em palavras…

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Novembro 10, 1900  

Jesus ensina-lhe onde está o verdadeiro amor.  

(1) Continuava sem vir, e eu me sentia imersa na maior amargura, minha alma ficava dilacerada de  mil maneiras. Sentia como uma sombra junto a mim e ouvia a voz de meu adorável Jesus, mas  sem vê-lo, que me disse:

(2) “O amor mais perfeito está na verdadeira confiança que se deve ter para o objeto amado, e  ainda que se visse perdido o objeto que se ama, então mais que nunca é tempo de demonstrar

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esta viva confiança. Este é o meio mais fácil para se colocar em posse do que ardentemente se  ama”.

(3) Disse isto desapareceu a sombra e a voz. Quem pode dizer a pena que sinto por não ter visto o  meu amado Bem?

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Novembro 11, 1900

Saindo do Divino Querer se perde o conhecimento 

de Deus e de si mesmo.

(1) Parece que o Senhor bendito quer exercitar-me na paciência, não tem compaixão nem de  minhas lágrimas nem de meu dolorosíssimo estado. Eu sem Ele me vejo imersa nas maiores  misérias, creio que não haja alma mais perversa que a minha, se bem que estando com Jesus me  vejo mais que nunca má, mas como me encontro com Ele que possui todos os bens, minha alma  encontra o remédio a todos os males. Assim que faltando Ele, tudo para mim termina, não há  nenhum remédio para minhas grandes misérias, muito mais me oprime o pensamento de que não  seja mais Vontade sua, meu estado, e não estando em seu Querer me parece estar fora do centro,  e Muitas vezes penso em como sair. Agora, estando com estas disposições ouvi-o atrás de minhas  costas que me dizia:

(2) “Cansaste-te, não é verdade?”

(3) E eu: “Sim Senhor, sinto-me bastante cansada”.

(4) E Ele continuou: “Ah! minha filha, não saias de meu Querer, porque saindo de dentro Dele vens  a perder meu conhecimento, e não conhecendo-me vens a perder o conhecimento de ti mesma,  porque só se distingue com clareza se há ouro ou lama com os reflexos da luz, porque se tudo é  trevas facilmente se podem confundir os objetos. Agora, luz é meu Querer, que te dando meu  conhecimento, aos reflexos desta luz vem a conhecer quem você é, e vendo a tua fraqueza, o teu  puro nada, agarras-te aos meus braços e junta-te ao meu Querer, vives comigo no Céu. Mas se  quiser sair de meu Querer, a primeira coisa que perderá é a verdadeira humildade, e depois virá a  viver sobre a terra e será obrigada a sentir o peso terreno, a gemer e suspirar como todos os  outros desventurados que vivem fora de minha Vontade”.

(5) Dito isto foi retirado sem sequer ser visto. Quem pode dizer o rasgo da minha alma?  + + + +

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Novembro 13, 1900

Vê as muitas misérias humanas, o rebaixamento e 

despojamento da Igreja a mesma degradação dos sacerdotes.

(1) Depois de ter passado vários dias de privações amargas, tendo recebido a santa comunhão,

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no meu íntimo vi três crianças; era tanta a sua beleza e igualdade, que pareciam os três nascidos  de um mesmo parto. Minha alma ficou surpreendida e estupefata ao ver tanta beleza encerrada no  círculo de meu interior tão miserável, e mais crescia meu assombro porque via a estes três  Meninos como se tivessem na mão muitas cordas de ouro, com as quais se amarravam totalmente  a mim e ligavam todo o meu coração a eles. Então, como se cada um tomasse seu lugar,  começaram a discutir entre eles; mas eu não entendia e não encontro palavras para poder repetir  sua altíssima linguagem, só posso dizer que em um abrir e fechar de olhos vi as tantas misérias  humanas, a degradação e despojamento da Igreja, a mesma degradação dos sacerdotes, que em  vez de ser luz para os povos, são trevas, então toda amarga por estas cenas tenho dito:  “Santíssimo Deus, dá a paz à Igreja, faz que lhe restituam o que lhe tiraram, não permitas que os  maus riam nas costas dos bons”. E Enquanto dizia isto, as crianças disseram:

(2) “São arcanos incompreensíveis de Deus”.

(3) Dito isto desapareceram e eu retornei em mim mesma.

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Novembro 14, 1900

A Rainha Mãe conforta Jesus. Transporta-a para o Purgatório.

(1) Esta manhã ao vir meu adorável Jesus, me transportou para fora de mim mesma e me pediu  um consolo a suas penas, eu, não tendo nada disse: “Meu dulcíssimo amor, se estivesse a Rainha  Mamãe poderia reanimar-te com seu leite, porque eu não tenho outra coisa que misérias”. Nesse  momento veio a Santíssima Rainha, e eu imediatamente lhe disse: “Jesus sente a necessidade de  um alívio, dá-lhe o teu dulcíssimo leite para que fique aliviado”. Então nossa amadíssima Mamãe  lhe deu seu leite, e meu amado Jesus ficou todo aliviado. Depois dirigindo-se a mim me disse:

(2) “Eu me sinto confortado, também você se aproxime dos meus lábios e beba parte desse leite  que recebi de minha Mãe, para que possamos ficar ambos reanimados”.

(3) Assim o fiz; mas quem pode dizer a virtude daquele leite que saía a borbotões de Jesus, e que  continha tanta que parecia uma fonte imensa, que embora bebessem todos os homens não  diminuiria em nada? Depois disto giramos um pouco pela terra, e em um lugar parecia que  estavam pessoas sentadas ao redor de uma mesinha que diziam: “Haverá uma guerra na Europa,  e o que será mais doloroso é que será produzida por parentes”. Jesus escutava mas não dizia  nada a respeito disso; por isso não estou segura se acontecerá ou não, sendo os julgamentos  humanos mutáveis e o que hoje dizem amanhã desdizem. Depois transportou-me para dentro de  um jardim onde sobressaía um edifício grandíssimo, como se fosse um mosteiro, povoado de tanta  gente que era difícil contá-lo. Meu adorável Jesus à vista daquela gente se virou de costas e se  abraçou a mim, pondo sua cabeça apoiada em meu ombro junto ao pescoço e me disse:

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(4) “Minha querida, não me faça vê-las, senão sofreria muito”.

(5) Também eu o abracei, e aproximando-me de uma dessas almas disse: “Ao menos digam-me  quem são”. E ela respondeu: “Somos todas almas purgantes, e nossa libertação está condicionada  à satisfação daqueles piedosos legados que deixamos a nossos sucessores, e como não se  satisfazem nós estamos obrigadas a estar aqui, longe de nosso Deus; que pena é para nós, porque  Deus é para nós um Ser necessário, do qual não podemos prescindir, sentimos uma contínua  morte que nos martiriza no modo mais impiedoso, e se não morremos é porque nossa alma não  está sujeita a isso, assim que sofredores como estamos, sendo privados de um objeto que forma  toda nossa vida, imploramos a Deus que faça sentir aos mortais uma mínima parte de nossas  penas, privando-os do que é necessário à manutenção da vida corporal, a fim de que aprendam  por sua própria conta como é doloroso estar privado do que é absolutamente necessário”.

(6) Depois disto, o Senhor levou-me para outro lugar, e eu, sentindo compaixão por aquelas almas,  disse: “Como, ó meu bom Jesus! Viraste o teu rosto daquelas almas benditas que tanto suspiram,  enquanto bastava só fazer-te ver para que ficassem livres das penas e ficassem beatificadas”.  (7) E Ele: “Ah minha filha, se Eu me mostrasse a elas, como não estão de todo purgadas não  teriam podido sustentar minha presença, e em vez de lançar-se entre meus braços, confundidas se  teriam retirado e não teria feito outra coisa que aumentar meu martírio e o seu. É por isso que eu  fiz assim”.

(8) Disse isso desapareceu.

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Novembro 16, 1900

Jesus tira-lhe o coração, e dá-lhe o seu amor por coração.  

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, o meu adorável Jesus fazia ver todo o meu interior  cheio de flores, como se fosse uma cabana, e a Ele que estava dentro, a divertir-se e a satisfazer se de tudo. Eu, vendo-o nessa atitude, disse-lhe: “Meu dulcíssimo Jesus, quando tomará este meu  coração para uniformizá-lo todo ao teu, de modo que possa viver da vida do teu coração?”  Enquanto dizia isto, meu sumo e único bem tomou uma lança e me abriu a parte que corresponde  ao coração; depois com suas mãos o tirou e olhava tudo para ver se estava despojado, e tinha as  qualidades para poder estar em seu santíssimo coração. Também eu o olhei, e com minha  surpresa vi impressa em uma parte a cruz, a esponja e a coroa de espinhos, mas querendo vê-lo  pela outra parte e por dentro porque parecia inchado, como se pudesse abrir-se, meu amado Jesus  me impediu dizendo:

(2) “Quero mortificar-te não deixando-te ver tudo o que derramei neste coração. Ah, sim, aqui,

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dentro deste coração estão todos os tesouros de minhas graças, que humana natureza pode  chegar a conter”.

(3) Naquele momento, encerrou-o em seu santíssimo coração, acrescentando:  (4) “Teu coração tomou posse em meu coração, e Eu por coração te dou meu amor, que te dará  vida”.

(5) E, aproximando-se daquela parte, mandou três suspiros contendo luz, que tomavam o lugar do  coração, e depois fechou a ferida, dizendo:

(6) “Agora mais que nunca te convém fixar-te no centro de meu Querer, tendo por coração só meu  amor; nem sequer por um só instante deves sair Dele, e meu amor só encontrará em ti o seu  verdadeiro alimento, se encontrar em ti, em tudo e por tudo, a minha Vontade, nela encontrará a  sua satisfação e a verdadeira e fiel correspondência”.

(7) E, aproximando-se da boca, mandou-me mais três suspiros, e, ao mesmo tempo, derramou um  doce licor que me embriagava. Então, como levado por entusiasmo dizia:

(8) “Olha, teu coração está no meu, assim que não é mais teu”.

(9) E me beijava e me voltava a beijar, e me fazia mil finezas de amor; mas quem pode dizê-las  todas? Parece-me impossível manifestá-las. Quem pode dizer o que sentia ao encontrar-me em  mim mesma? Só sei dizer que me sentia como se não fosse mais eu, sem paixões, sem  inclinações, sem desejos, toda abismada em Deus; na parte do coração sentia um frio sensível em  comparação com as outras partes.

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Novembro 18, 1900

A união do coração com o de Jesus faz passar 

ao estado de perfeita consumação.

(1) Jesus continua a ter o meu coração no seu coração, e de vez em quando se digne fazer-me ver  isso, fazendo festa como se tivesse feito uma grande aquisição, e nestes dias encontrando-me fora  de mim mesma, na parte que corresponde ao coração, em vez do coração vejo a luz que o bendito  Jesus me enviou naqueles três respiros. Depois, esta manhã, ao vir, mostrando-me o seu coração,  disse-me:

(2) “Amada minha, qual queres, o meu coração ou o teu? Se queres o meu, vais sofrer mais; mas  deves saber que fiz isto para te fazer passar a outro estado, porque quando se chega à união se  passa a outro estado, que é o da consumação, e a alma para passar a este estado de perfeita  consumação, tem necessidade, ou do meu coração para viver, ou do seu todo transformado no  meu, de outra maneira não pode passar a este estado de consumação”.

(3) E eu tremendo toda respondi: “Doce amor meu, minha vontade não é mais minha senão tua, faz  o que queiras e eu estarei mais contente”. Depois disto lembrei-me de algumas dificuldades do

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confessor, e Jesus vendo meu pensamento me fez ver como se eu estivesse dentro de um cristal,  e este impedia fazer ver aos demais o que o Senhor operava em mim, e adicionei:  (4) “Você só conhece o cristal e o que ele contém dentro, para os reflexos de luz; assim é para  você, quem traz a luz da crença vai tocar com a mão o que Eu faço em você, se não, você vai  perceber as coisas naturalmente”.

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Novembro 20, 1900

Devendo viver do coração de Jesus, Ele lhe dá regras 

para aprender um viver mais perfeito. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, meu adorável Jesus continua a fazer-me ver meu  coração no seu, mas tão transformado que não reconheço mais qual é o meu e qual é o de Jesus.  Ele se conformou perfeitamente com o seu, imprimiu-lhe todas as insígnias da Paixão, fazendo-me  entender que seu coração, desde que foi concebido, foi concebido com estas insígnias da Paixão,  tanto que o que sofreu no último de sua vida foi um transbordamento do que seu coração havia  sofrido continuamente. Pareceu-me vê-los como um assim o outro. Parecia-me ver o meu amado  Jesus ocupado em preparar o lugar onde devia pôr o coração, perfumando-o e adornando-o com  tantas flores diversas, e enquanto isso fazia me disse:

(2) “Amada minha, devendo viver do meu coração te convém empreender um modo de viver mais perfeito, por isso quero de ti:

(3) 1º Uniformidade perfeita à minha Vontade, porque jamais poderás amar-me perfeitamente até  que me ames com a minha mesma Vontade; melhor te digo que amando-me com a minha mesma  Vontade, chegarás a amar-me a Mim e ao próximo com o meu mesmo modo de amar.  (4) 2º Humildade profunda, pondo-te diante de Mim e das criaturas como a última de todas.  (5) 3º Pureza em tudo, porque qualquer mínima falta de pureza, tanto no amar como no agir, tudo  se reflete no coração, e este fica manchado, por isso quero que a pureza seja como o orvalho  sobre as flores ao despontar do sol, no qual se refletem os raios, transmuta essas pequenas gotas  como em tantas pérolas preciosas que encantam as pessoas. Assim todas suas obras,  pensamentos e palavras, batidas e afetos, desejos e inclinações, se adornadas pelo orvalho  celestial da pureza, tecerá um doce encanto não só aos olhos humanos, mas a todo o Empíreo.  (6) 4º A obediência vai unida com minha Vontade, porque se esta virtude se refere aos superiores  que te dei na terra, minha Vontade é obediência que se refere a Mim diretamente, tanto que se  pode dizer que a uma e a outra, ambas são virtude de obediência, com esta única diferença, que  uma se refere a Deus e a outra se refere aos homens, as duas têm o mesmo valor e não pode  estar uma sem a outra, pelo que às duas as deve amar da mesma forma”.

(7) Depois acrescentou: “Deves saber que de agora em diante viverás com meu coração, e deves

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entendê-lo a modo de meu coração, para encontrar em ti minhas complacências, por isso te  recomendo, porque não é mais teu coração, senão meu coração”.

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Novembro 22, 1900

Jesus coloca-se no lugar do coração de Luisa. 

Diz-lhe o alimento que quer dela. 

(1) Continua a fazer-se ver meu adorável Jesus. Esta manhã, tendo recebido a comunhão, via-o  dentro de mim, e os dois corações tão fundidos que pareciam um, e o meu dulcíssimo Jesus disse me:

(2) “Hoje decidi dar-te em lugar do coração, a Mim mesmo”.

(3) Naquele momento vi que Jesus tomava lugar naquele ponto onde está o coração, e de dentro  de Jesus recebia a respiração e sentia o batimento do coração; como me sentia feliz vivendo desta  maneira.

(4) Depois disto acrescentou: “Tendo eu tomado o lugar do coração, convém-te ter um alimento  sempre preparado para me nutrir, o alimento será meu Querer, e tudo o que te mortificarás e do  que te privarás por amor meu”.

(5) Mas quem pode dizer tudo o que em meu interior passou entre Jesus e eu, creio que é melhor  calar-me, de outra maneira sinto como se o estragasse. Com a minha língua não adestrada para  falar de graças tão grandes que o Senhor fez à minha alma, não me resta outra coisa que  agradecer ao Senhor que tem consideração de uma alma tão miserável e pecadora.

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Novembro 23, 1900

Modo no qual estão as almas em Jesus. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu amante Jesus me transportou para fora de mim mesma, e saindo de dentro de meu interior se fazia ver tão grande que absorvia nele toda a terra, e  estendia tanto sua grandeza que minha alma não encontrava o termo, sentia-me dispersa em  Deus, não só eu, mas todas as criaturas ficavam dispersas; e, oh, como parecia impróprio, que  afronta se faz a Nosso Senhor, que nós, pequenos vermes, vivendo n’Ele ousemos ofendê-Lo! Oh,  se todos pudessem ver o modo como estamos em Deus, como se cuidariam de não lhe dar nem  sequer a sombra de um desgosto! Depois se fazia tão alto que absorvia nele todo o Céu, assim  que em Deus mesmo via a todos os anjos e santos, ouvia seu canto, entendia muitas coisas da  felicidade eterna. Depois disto via que de Jesus Saíam muitos ribeiros de leite e eu bebia deles,  mas sendo eu muito restrita, e Jesus tão grande e alto que não tinha limite nem de grandeza nem

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de altura, não conseguia absorver tudo em mim; muitos corriam fora, embora permanecessem em  Deus mesmo, e eu sentia um desgosto por isso e teria querido que todos corressem a beber  destes ribeiros, mas escassíssimo era o número dos viadores que bebiam; nosso Senhor  desgostoso também por isso me disse:

(2) “Isto que vês é a misericórdia contida, e isto irrita principalmente a justiça; como não devo fazer  justiça, enquanto eles mesmos me impedem de misericórdia?”

(3) E eu, segurando as mãos dele, apertei-o e disse: “Não Senhor, não podes fazer justiça, não o  quero eu, e não querendo eu também Tu o queres, porque a minha vontade não é mais minha,  mas tua, e sendo tua, tudo o que eu não quero também Tu o queres; não me disseste Tu mesmo,  que devo viver em tudo e por tudo do teu Querer?”

(4) O meu falar desarmou o meu doce Jesus, diminuiu de novo e fechou-se dentro de mim, e eu  encontrei-me em mim mesma.

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4-38

Novembro 25, 1900

A natureza do verdadeiro amor é 

de transformar as penas em alegrias, 

as amarguras em doçuras.

(1) Demorando a vir o meu dulcíssimo Jesus, senti-me quase com temor, e ainda não vinha, mas  depois com a minha surpresa, tudo de improviso veio e me disse:

(2) “Amada minha, queres saber quando uma obra se faz pela pessoa amada? Quando  encontrando sacrifícios, amarguras e penas, tem virtude de mudá-las em doçuras e delícias,  porque esta é a natureza do verdadeiro amor, a de transformar as penas em alegrias, as  amarguras em doçuras, se se experimenta o contrário é sinal de que não é o verdadeiro amor que  opera. Oh, em quantas obras se diz: faço-o por Deus, mas nas dificuldades retrocedem! , com isto  fazem ver que não era por Deus, senão pelo próprio interesse e prazer que sentiam”.

(3) Depois ele adicionou: “Geralmente se diz que a própria vontade estraga todas as coisas e  infecta as obras mais santas, porém se esta vontade própria está conectada com a Vontade de  Deus, não há outra virtude que a possa superar, porque onde há vontade há vida no obrar o bem,  mas onde não há vontade há morte no obrar, ou bem se obrará fastidiosamente como se se  estivesse em agonia”.

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4-39

Dezembro 3, 1900

A natureza da Santíssima Trindade 

é formada de amor puríssimo, simplíssimo e comunicativo.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus entre os braços, e

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enquanto me deleitava em olhá-lo, sem saber como, do mesmo Menino saiu um segundo, e depois  de breves instantes um terceiro Menino, os dois semelhantes ao primeiro, embora diferentes entre  eles. Surpreendida ao olhar para isto, disse: “Ó, como se toca com a mão o mistério sacrossanto  da Santíssima Trindade, que enquanto sois Um, sois também Três!” Parecia-me que os Três me  diziam, mas ao sair a palavra formava uma só voz:

(2) “Nossa natureza está formada de amor puríssimo, simplíssimo e comunicativo, e a natureza do  verdadeiro Amor tem como propriedade especial produzir de si mesmo imagens todas semelhantes  na potência, na bondade, na beleza e em tudo o que ele contém, e só para dar um realce mais  sublime à nossa onipotência põe a marca da distinção, de modo que esta nossa natureza,  derretendo-se em amor, como é simples, sem nenhuma matéria que pudesse impedir a união, dela  forma Três e voltando a derreter forma Um só. E é tão certo que a natureza do verdadeiro Amor  tem isto de produzir imagens todas semelhantes a si, ou de assumir a imagem de quem se ama,  que a Segunda Pessoa ao redimir o gênero humano assumiu a natureza e a imagem do homem, e  comunicou ao homem a Divindade”.

(3) Enquanto isso diziam, eu distinguia muito bem o meu amado Jesus, reconhecendo n’Ele a  imagem da natureza humana, e só por Ele tinha a confiança de permanecer diante deles, senão  quem se atreveria? Ah, sim, me parecia que a humanidade assumida por Jesus havia aberto o  comércio à criatura, a fim de fazê-la subir até o trono da Divindade para ser admitida a sua  conversação, e obter reescritos de graças. Oh, que momentos felizes desfrutei, quantas coisas  compreendia! ; mas para escrever algumas coisas eu preciso descrevê-las quando a minha alma  se encontra com o meu amado Jesus, porque então me parece liberada do corpo, mas ao me  encontrar novamente aprisionada, as trevas da prisão, a distância do meu místico Sol, a pena de  não vê-lo, me tornam incapaz de descrevê-las e me fazem viver morrendo, mas sou obrigada a  viver atada, encarcerada neste mísero corpo. Ah! Senhor, tenha compaixão de uma miserável  pecadora que vive doente e prisioneira, rompe logo os muros desta prisão para voar a Ti e não  retornar mais.

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4-40

Dezembro 23, 1900

Diante da Santidade da Divina Vontade, 

as paixões não ousam apresentar-se, 

e perdem por si mesmas a vida.

(1) Depois de ter passado longos dias de silêncio entre o bendito Jesus e eu, senti um vazio dentro  de mim; e esta manhã ao vir disse-me:

(2) “Amada minha, o que queres dizer-me que tanto desejas falar Comigo?” (3) E eu a envergonhar-me Eu disse: “Meu doce Jesus, quero dizer-te que anseio ardentemente

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por te amar a Ti e ao teu Santo Querer, e se isto me concedes me farás totalmente feliz”. E Ele  agregou:

(4) “Tu em uma palavra tens agarrado tudo, pedindo-me o maior que há no Céu e na terra, e Eu,  neste Santo Querer desejo e quero principalmente te conformar, e para fazer que te seja mais doce  e agradável meu Querer, põe-te no círculo da minha Vontade e observa nela as suas diversas  virtudes e qualidades, detendo-te agora na Santidade do meu Querer, agora na bondade, agora na  humildade, agora na beleza, agora na pacífica morada que produz o meu Querer, e nestas paradas  que fizer adquirirá sempre mais novas e inauditas notícias de meu Santo Querer, e por isso ficará  tão atada e apaixonada, que não sairá nunca mais Dele, e isto te trará um grande proveito, porque  estando Tu na Minha Vontade não terás necessidade de combater com tuas paixões e de estar  sempre em armas contra elas, pois enquanto parece que morrem renascem novamente mais fortes  e vivas, senão que sem combater, sem estrondo, docemente morrem, porque diante da Santidade  da minha Vontade as paixões não se atrevem a apresentar-se, e perdem por si mesmas a vida, e  se a alma sente os movimentos das suas paixões, é sinal que não faz morada contínua nos confins  do meu Querer, que faz suas saídas, suas escapadinhas a seu próprio querer, e está obrigada a  sentir a peste da natureza corrupta. Enquanto que se estiver fixa em minha Vontade, estará livre de  tudo e sua única ocupação será me amar e ser amada por Mim”.

(5) Depois disto, olhando para o bendito Jesus, vi que tinha a coroa de espinhos e a tirei pouco a  pouco e a coloquei sobre a minha cabeça, e Ele me encaixou e desapareceu, e eu me encontrei  em mim mesma, com um desejo ardente de estar sempre em sua Santíssima Vontade.  + + + +

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Dezembro 25, 1900

Vê o Nascimento de Jesus.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual me senti fora de mim mesma, e depois de ter virado  me encontrei dentro de uma caverna, e vi a Rainha Mãe que estava no momento de dar a luz ao  Menino Jesus. Que maravilhoso prodígio! Parecia-me que tanto a Mãe como o Filho estavam  mudados em luz puríssima, mas nessa luz distinguia-se muito bem a natureza humana de Jesus,  que continha em si a Divindade, que o servia como de véu para cobrir a Divindade, de modo que  abrindo o véu da natureza humana era Deus, e coberto com esse véu era homem, e eis o prodígio  dos prodígios: Deus e homem, homem e Deus, que sem deixar o Pai e o Espírito Santo vem  habitar conosco e toma carne humana, porque o verdadeiro amor nunca desune. Agora, me  pareceu que a Mãe e o Filho nesse felicíssimo instante ficaram como espiritualizados, e sem o  mínimo obstáculo Jesus saiu do seio materno, transbordando ambos em um excesso de amor, ou  seja, esses Santíssimos corpos transformados em Luz, sem o mínimo impedimento, Jesus luz saiu

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de dentro da luz Mãe, ficando sãos e intactos tanto o Um como a Outra, retornando depois ao  estado natural. Mas quem pode dizer a beleza do Menino, que nesse momento de seu nascimento  transcorria ainda externamente os raios de sua Divindade? Quem pode dizer a beleza da Mãe que  ficou toda absorvida naqueles raios Divinos? Me parecia que São José não estava presente no  momento do parto, mas que permanecia em outro canto da caverna, todo absorto naquele  profundo mistério, e se não viu com os olhos do corpo, viu muito bem com os olhos da alma,  porque estava arrebatado em êxtase sublime.

(2) Agora, no momento em que o Menino saiu à luz, eu teria querido voar para pegá-lo em meus  braços, mas os anjos me impediram, me dizendo que cabia à Mãe a honra de ser a primeira a  tomá-lo. Então a Virgem Santíssima como sacudida voltou em si, e das mãos de um anjo recebeu  o Filho em seus braços, o apertou tão forte no arrebatamento de amor em que se encontrava, que  parecia que o queria meter de novo nela, depois querendo dar um desabafo a seu ardente amor, o  pôs a pôs a mamar de seus seios. Entretanto eu permanecia toda aniquilada, esperando ser  chamada para não receber outra repreensão dos anjos. Então a Rainha me disse:

(3) “Vem, vem tomar a teu amado e gozar lo também tu, desafoga com Ele teu amor”. Assim que  disse isto me aproximei, e a Mamãe o pôs nos braços. Quem pode dizer minha alegria, os beijos,  os abraços, as ternuras? Depois que desabafei um pouco, disse-lhe: “Meu amado, Tu bebeste leite  de nossa Mãe, torna-me partícipe”. E Ele condescendente, de sua boca derramou parte desse leite  na minha, e depois me disse:

(4) “Amada minha, Eu fui concebido unido à dor, nasci à dor e morri na dor, e com os três cravos  com que me crucificaram cravei as três potências: inteligência, memória e vontade daquelas almas  que desejam me amar, fazendo-as todas atraídas a Mim, porque a culpa as tinha tornado doentes,  dispersas do seu Criador e sem nenhum freio”.

(5) E enquanto dizia isso, deu uma olhada no mundo e começou a chorar suas misérias. Eu,  vendo-o chorar disse: “Amável Menino, não entristeça uma noite tão alegre com teu pranto a quem  te ama, em lugar de dar desabafo ao pranto demos desafogo ao canto”. E assim dizendo

condescendente, de sua boca derramou parte desse leite na minha, e depois me disse: (4) “Amada minha, Eu fui concebido unido à dor, nasci à dor e morri na dor, e com os três cravos  com que me crucificaram cravei as três potências: inteligência, memória e vontade daquelas almas  que desejam me amar, fazendo-as todas atraídas a Mim, porque a culpa as tinha tornado doentes,  dispersas do seu Criador e sem nenhum freio”.

(5) E enquanto dizia isso, deu uma olhada no mundo e começou a chorar suas misérias. Eu,  vendo-o chorar disse: “Amável Menino, não entristeça uma noite tão alegre com teu pranto a quem  te ama, em lugar de dar desabafo ao pranto demos desafogo ao canto”. E assim dizendo comecei  a cantar; Jesus distraiu-se ao ouvir-me cantar e deixou de chorar. Ao terminar meu verso Ele

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cantou o seu, com uma voz tão forte e harmoniosa, que todas as demais vozes desapareciam ante  sua voz dulcíssima. Depois disto pedi ao Menino Jesus pelo meu confessor, por aqueles que me  pertencem, e finalmente por todos, e Ele parecia todo condescendente. Enquanto eu estava neste  desapareceu e eu voltei em mim mesma.

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Dezembro 26,1900

Continua na gruta 

(1) Ao continuar a ver o Santo Menino, via a Rainha-Mãe de um lado e São José do outro, que  estavam a adorar profundamente o Infante divino. Estando todos atentos a Ele, parecia-me que a  contínua presença do Menino os tinha absortos em êxtase contínuo, e se trabalhassem era um  prodígio que o Senhor operava neles, de outra maneira teriam ficado imóveis, sem poder  externamente atender a seus deveres. Também eu fiz a minha adoração e encontrei-me em mim  mesma.

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Dezembro 27, 1900

Deus não está sujeito a mudar-se, o demônio 

e a natureza humana freqüentemente se mudam 

1) Esta manhã me encontrava com temor sobre meu estado, que não fosse o Senhor que operasse  em mim, com o agregado de que não se dignava vir; então, depois de muito esperar, assim que o  vi lhe expus meu temor e Ele me disse:

(2) “Minha filha, antes de tudo, para te pôr neste estado está o concurso de minha potência, e  depois, quem te teria dado a força, a paciência de estar por tão longo tempo neste estado dentro  de uma cama? A simples perseverança é um sinal certo de que a obra é minha, porque somente  Deus não está sujeito a mudar-se, mas o demônio e a natureza humana muito freqüentemente se  mudam, e o que hoje amam, amanhã aborrecem, e o que hoje aborrecem, amanhã amam e  encontram nisso sua satisfação”.

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Janeiro 4, 1901

Estado infeliz de uma alma sem Deus.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de perturbação, sentia-me dentro de mim  um místico inferno; sem Jesus todas as minhas paixões saíram à luz, e expandindo cada uma as  suas trevas obscureceram-me de tal maneira, que não sabia mais onde me encontrava. Quão  infeliz é o estado de uma alma sem Deus! Basta dizer que sem Deus a alma sente vivo dentro de si

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o inferno; tal era meu estado, me sentia dilacerar a alma por penas infernais. Quem pode dizer o  que passei? Para não me alongar passo adiante. Então, esta manhã, tendo comungado e estando  no máximo da aflição, senti mover-me dentro de mim a Nosso Senhor, eu ao ver sua imagem quis  ver se era de madeira, ou estava vivo, de carne; olhei e era o Crucificado vivo, de carne, que  olhando para mim disse:

(2) “Se minha imagem dentro de você fora de madeira, o amor seria aparente, porque só o amor  verdadeiro e sincero, unido à mortificação, me faz renascer vivo, crucificado no coração de quem  me ama”.

(3) Eu, ao ver o Senhor, teria querido afastar-me de Sua presença, tão má me via, mas Ele  prosseguiu dizendo:

(4) “Para onde queres ir? Eu sou luz, e minha luz onde quer que vá te investe por todas partes”.  (5) À presença de Jesus, ante sua luz, a sua voz, minhas paixões desapareceram, não sei eu  mesma para onde se foram, fiquei como uma menina e retornei em mim mesma, toda mudada.  Seja tudo para glória de Deus e para bem da minha alma.

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4-45

Janeiro 5, 1901

A Humanidade de Jesus foi feita expressamente 

para obedecer e destruir a desobediência. Luísa conforta a Jesus. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, via o confessor que punha a intenção da crucificação, eu  temia submeter-me, mas Jesus me disse:

(2) “Que queres de Mim? Eu não posso fazer mais que obedecer, porque minha Humanidade foi  feita expressamente para obedecer e destruir a desobediência, e estando tão unida Comigo esta  virtude, que em Mim se pode dizer que a obediência é natureza, e o distintivo para Mim mais  querido e glorioso, tanto, que se minha Humanidade não tivesse isto como próprio, a aborreceria e  jamais me haveria unido com Ela. Então, queres tu desobedecer? Podes fazê-lo, mas o farás tu,  não Eu”.

(3) Eu, toda confusa ao ver um Deus tão obediente disse: “Também eu quero obedecer”. E  submeti-me, e Jesus me participou as dores da cruz.

(4) Depois disso ele me transportou para fora de mim mesma e Jesus bendito me deu um beijo, e  enquanto isso saiu um hálito amargo, e estava em atitude de querer derramar suas amarguras,  mas não o fez, porque para fazê-lo queria que eu lhe pedisse. Eu imediatamente disse: “Quer  alguma reparação? vamos fazê-la juntos, assim minhas reparações junto às tuas terão seus  efeitos, porque por mim só acredito que te desgostarão mais”. Então tomei a sua mão, que jorrava  sangue, e, beijando-a, recitei o Laudate Dominum com a Glória Pátria; Jesus rezou uma parte e eu

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a outra, para reparar as tantas más obras que se fazem, colocando a intenção de louvá-lo tantas  vezes por quantas ofensas recebe pelas más obras. Como era comovente ver Jesus orar! Depois  fiz o mesmo à outra mão, colocando a intenção de louvá-lo tantas vezes por quantas ofensas  recebe pelos pecados de ação. Em seguida os pés com a intenção de O louvar tantas vezes por  quantos passos maus e por tantos caminhos tortos percorridos, mesmo sob aspecto de piedade e  santidade. Ao último o coração, com a intenção de louvá-lo tantas vezes por quantas às vezes o  coração humano não bate para Deus, não ama a Deus, não deseja a Deus. Meu amado Jesus  parecia todo reconfortado com estas reparações feitas junto com Ele, mas não contente ainda,  parecia que queria verter, e eu disse: “Senhor, se queres verter, peço-te que o faças”. E Ele  derramou suas amarguras, e depois acrescentou:

(5) “Minha filha, quanto me ofendem os homens, mas virá o tempo em que os castigarei de modo  que sairão muitos vermes (homens vis e desprezíveis) que produzirão nuvens de mosquitos  (pessoas de corpo minúsculo) e muito os oprimirão. Então, depois sairá o Papa”.  (6) E eu: “E por que o Papa vai sair?”

(7) E Ele: “Sairá para consolar os povos, que oprimidos, cansados, abatidos, traídos por tantas  falsidades, buscarão eles mesmos o porto da verdade, e todos humilhados pedirão ao Santo Padre  que vá no meio deles para libertá-los de tantos males e colocá-los no porto da salvação”.  (8) E eu: “Senhor, isto acontecerá depois das guerras que outras vezes Tu disseste?”  (9) E Ele: “Sim”.

(10) E eu: “Como gostaria de ir antes que estas coisas aconteçam”.

(11) E Ele: “E então, para onde irei entreter-me?”

(12) “Ah Senhor, há tantas almas boas com as quais podes entreter-te, que comparando-me eu  com elas, oh! quão má me vejo”. Mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu retornei em  mim mesma.

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Janeiro 6, 1901

Jesus comunica-se aos três magos 

com o amor, com a beleza e com a potência.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, parecia-me ver quando os santos Magos chegaram à  caverna de Belém; assim que chegaram à presença do Menino, Ele se deleitou em fazer brilhar  externamente os raios de sua Divindade, comunicando-se aos Magos em três modos: Com o amor,  com a beleza e com a potência. De modo que ficaram arrebatados e prostrados ante a presença do  Menino Jesus; tanto, que, se o Senhor não tivesse retirado a seu interior os raios de sua Divindade,  teriam permanecido ali para sempre sem poder se mover mais. Então, assim que o Menino retirou  a Divindade, voltaram em si mesmos os santos Magos, sacudiram-se estupefatos ao ver um

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excesso de amor tão grande, porque nessa luz o Senhor lhes tinha feito compreender o mistério da  Encarnação. Depois levantaram-se e ofereceram os dons à Rainha Mãe, e Ela falou longamente  com eles, mas não sei dizer tudo o que disse, só recordo que lhes inculcou fortemente não só sua  salvação, senão que tomassem a peito a salvação de seus povos, não tendo medo nem mesmo de  expor suas vidas para obter a tentativa.

(2) Depois disso eu me aposentei em mim mesma e me encontrei com Jesus, e Ele queria que eu  lhe dissesse alguma coisa, mas eu parecia tão ruim e confusa que não me atrevia a dizer-lhe nada;  então vendo que não dizia nada, Ele mesmo continuou falando sobre os Santos magos me  dizendo:

(3) “Ao ter-me comunicado em três modos aos Magos, obtive três efeitos, porque jamais me  comunico às almas inutilmente, senão que sempre recebem algum proveito. Então, comunicando me com o amor obtiveram o desapego de si mesmos, com a beleza obtiveram o desprezo das  coisas terrenas, e com a potência ficaram seus corações atados a Mim, e obtiveram a coragem de  arriscar o sangue e a vida por Mim”.

(4) Depois acrescentou: “E tu, o que queres? Diz-me, amas-me muito? Como gostarias de me  amar?”.

(5) E eu, não sabendo o que dizer, aumentando a minha confusão, disse: “Senhor, não quero outra coisa que a Ti, se me perguntares se eu te amo, não tenho palavras para saber o que dizer, só sei  dizer que sinto esta paixão de que ninguém me pode ganhar a amar-te, e que eu seja a primeira a  amar-te acima de todos, e que nenhum me possa superar, mas isto ainda não me agrada, para  estar contente quereria amar-te com teu mesmo amor, e assim poder amar-te como te amas Tu  mesmo. ¡ Ah sim! Só então cessariam meus temores sobre o amor”.

(6) E Jesus, contente, pode-se dizer dos meus desatinos, estreitou-me tanto a Ele, de modo que  me via dentro e fora transfundida n’Ele, e comunicou-me parte do seu amor. Depois disto voltei em  mim mesma, e me parecia que por quanto amor me é dado, tanto possuo a meu Bem; e se pouco  o amo, pouco o possuo.

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Janeiro 9, 1901

Jesus quere-a unida a Ele como um raio ao sol,  

do qual recebe a vida, o calor e o esplendor.  

(1) Esta manhã me sentia toda oprimida e esmagada, tanto que estava em busca de alívio; meu  único Bem me fez esperar longamente sua vinda, e ao vir me disse:

(2) “Minha filha, não tomei Eu sobre Mim por amor de ti tuas paixões, misérias e fraquezas? E tu não desejarias tomar sobre ti as dos demais por amor meu?”

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(3) Depois acrescentou: “O que quero é que você esteja sempre unida Comigo, como um raio de  sol que está sempre fixo no centro do sol, e que dele recebe a vida, o calor e o esplendor.  Suponhamos que um raio se possa separar do centro do sol, no que se converteria? Assim que  saísse perderia a vida, a luz e o calor, e voltaria às trevas reduzindo-se a nada. Tal é a alma,  enquanto está unida Comigo, no meu centro, pode-se dizer que é como um raio de sol que vive e  recebe luz do sol, caminha onde quer, em suma, está em tudo à disposição e à vontade do sol; se  depois se distrai de Mim, desune-se, fica toda em trevas, fria, e não sente em si aquele impulso  supremo de Vida Divina”.

(4) Dito isto desapareceu.

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Janeiro 15, 1901

Jesus diz-lhe que ela forma o seu maior martírio.  

(1) Como nos dias passados meu amado Jesus se fez ver de certo modo zangado com o mundo,  esta manhã ao não vê-lo vir pensava entre mim: “Quem sabe, talvez não venha porque quer  mandar algum castigo, e que culpa tenho eu de que, como quer mandar castigos não se digna vir a  mim? Que coisa bonita, que enquanto quer castigar os outros, dá-me a mim o maior dos castigos,  que é a sua privação”. Agora, enquanto dizia estes e outros desatinos, meu amável Jesus apenas  se fez ver me disse:

(2) “Minha filha, tu forma para Mim o maior martírio, porque devo mandar algum castigo não posso  estar contigo, porque me atas por toda parte e não queres que faça nada, e não vindo, tu me  ensurdeces com tuas demandas, com teus lamentos e suas esperas, tanto, que enquanto me  ocupo em castigar estou obrigado a pensar em você, a te ouvir, e meu coração é dilacerado ao te  ver em teu estado doloroso de minha privação, porque o martírio mais doloroso é o martírio do  amor, e por quanto mais se amam duas pessoas, tanto mais são dolorosas essas penas, que não  por outros, mas por meio deles mesmos se suscitam, por isso fique tranquila, calma, não queira  aumentar minhas penas por meio de suas penas”.

(3) Então Ele desapareceu e eu fiquei toda mortificada ao pensar que eu formo o martírio de meu  amado Jesus, e que para não fazê-lo sofrer tanto, quando não vem devo ficar tranqüila, mas quem  pode fazer este sacrifício? Parece-me impossível, e serei obrigada a continuar a martirizar-nos  mutuamente.

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Janeiro 16, 1901

Jesus Cristo explica-lhe a ordem da caridade.

(1) Como continuo vendo-o um pouco zangado com o mundo, eu queria me ocupar em aplacá-lo,

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mas Ele me distraiu dizendo-me:

(2) “A caridade mais aceitável a Mim é a que se faz por aqueles que me estão mais próximos, e os  mais próximos a Mim são as almas purgantes, porque já estão confirmadas em minha graça e não  há nenhuma oposição entre minha Vontade e a sua, vivem continuamente em Mim, me amam  ardentemente, e sou obrigado a vê-las sofrer em Mim mesmo, impotentes por si mesmas para dar

se o mínimo alívio. Oh! como meu coração é dilacerado pelo estado de essas almas, porque não  estão longe de Mim mas perto, não só perto, mas dentro de Mim e, como é grato ao meu coração  quem se interessa por elas. Suponha que você tivesse uma mãe, uma irmã, que convivessem com  você em um estado de dor, incapazes de ajudar-se por si mesmas, e um estranho que vivesse fora  de seu quarto, também em um estado de dor, mas que se pode ajudar por si mesmo; Não  agradeceria mais se alguém se preocupasse em aliviar a sua mãe ou a sua irmã, do que o  estranho que pode ajudar a si mesmo?”

(3) E eu: “Certamente, ó Senhor”.

(4) Depois acrescentou: “A segunda caridade mais aceitável ao meu coração, é por aquelas que,  se bem vivem nesta terra, mas são quase como as almas purgantes, isto é, me amam, fazem  sempre a minha Vontade, se interessam pelas minhas coisas como se fossem suas; agora, se  estas se encontram oprimidas, necessitadas, em um estado de sofrimentos, e alguém se ocupa em  alivia-las e ajudá-las, a meu coração parece mais agradável que se fizessem a outros”.

(5) Jesus retirou-se, e eu, encontrando-me em mim mesma, parecia que eram coisas que não iam  segundo a verdade. Então ao retornar meu adorável Jesus, me fez entender que isto que me havia  dito era segundo a verdade, só restava falar sobre os membros separados dele, que são os  pecadores, e que quem se ocupa em reunir estes membros seria muito aceitável a seu coração. A  diferença que há é esta: Que encontrando-se um pecador oprimido por uma desventura e alguem

se ocupa não em convertê-lo, mas em alivia-lo e ajudá-lo materialmente, o Senhor agradeceria  mais isto que se fosse feito àqueles que estão na ordem da graça, porque se estes sofrem, é  sempre um produto, ou do amor de Deus para com eles ou do amor deles para com Deus, e se os  pecadores sofrem, o Senhor vê neles a marca da culpa e de sua obstinada vontade. Parece-me  que assim entendi; mas deixo o juízo a quem tem o direito de me julgar, se vai ou não vai segundo  a verdade.

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Janeiro 24, 1901

Luísa pergunta a Jesus a causa da sua privação. 

Jesus repreende-a.  

(1) Tendo passado os dias anteriores em silêncio e algumas vezes também privada de meu  adorável Jesus, esta manhã ao vir lamentei-me com Ele dizendo: “Senhor, como é que não vens,

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como mudaram as coisas, vê-se que é, ou por castigo dos meus pecados que me privas da tua  amável presença, ou que não me queres mais neste estado de vítima, ah! te peço que me faça  conhecer sua Vontade; se não pude opor-me quando quis de mim o sacrifício, muito menos agora,  que não sendo mais merecedora de ser vítima me quer tirar.

(2) E Jesus, interrompendo o meu discurso, disse-me: “Minha filha, Eu, com ter-me feito vítima pelo  gênero humano, tomando sobre Mim todas as fraquezas, as misérias, e tudo o que merecia o  homem, ante a Divindade represento a cabeça de todos, e a natureza humana, sendo Eu a cabeça  ante a Divindade, Encontra em Mim um poderoso escudo que a defende, protege, desculpa e  intercede. Agora, como você se encontra no estado de vítima, vem representar ante Mim a cabeça  da geração presente, pelo que deve mandar algum castigo para bem dos povos e para chamá-los  a Mim, se Eu viesse contigo segundo meu costume, só de me mostrar a você já me sinto aliviado e  as dores se mitigam, e me acontece como a alguem que sentisse uma forte dor e pelo espasmo  grita, se a este lhe cessasse a dor deixaria de gritar e lamentar-se. Assim me acontece a Mim,  diminuindo minhas penas, naturalmente não sinto mais a necessidade de mandar esse castigo;  além disso você, ao me ver, também naturalmente busca me reparar e tomar sobre ti as penas dos  demais, não pode fazer menos que fazer seu ofício de vítima ante minha presença, E se você não  o fizesse, o que não pode ser jamais, eu ficaria chateado com você. Eis a causa da minha  privação, não porque queira punir os teus pecados, tenho outras maneiras para purificar-te, mas  recompensar-te-ei, nos dias em que vier te duplicarei as minhas visitas, não estás contente por  isso?”

(3) E eu: “Não Senhor, amo-te sempre, qualquer que seja a causa não cedo em ficar um só dia  privada de Ti”. Enquanto eu dizia isto, Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma.  + + + +

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Janeiro 27, 1901

A firmeza da fé está na firmeza da caridade. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus quase se fez ver, e não sei por  que me disse:

(2) “Minha filha, toda a solidez da fé católica está na solidez da caridade, que une os corações e os  faz viver em Mim”.

(3) Depois, lançando-se em meus braços queria que eu o reconfortasse. Tendo feito por quanto  pude, logo Ele me fez isso e desapareceu.

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Janeiro 30, 1901

As virtudes, os meritos de Jesus, 

são tantas torres de força, nas quais cada um pode 

apoiar-se no caminho para a Eternidade. O veneno do interesse.

(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, no meio de muitas  pessoas de diferentes condições: sacerdotes, monjas, leigos, e Jesus dando um doloroso lamento  disse:

(2) “Minha filha, o veneno do interesse entrou em todos os corações, e como esponjas ficaram  encharcados deste veneno. Este veneno pestífero penetrou nos mosteiros, nos sacerdotes, nos  leigos. Minha filha, o que não cede à luz da verdade e à potência da virtude, cede ante um vilíssimo  interesse, e as virtudes mais sublimes e excelsas, ante este veneno, como frágil vidro caem feitas  pedaços”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente. Agora, quem pode dizer o rasgo de minha alma ao  ver chorar a meu amorosíssimo Jesus? Não sabendo o que fazer para que deixasse de chorar  disse disparates: “Meu amado, ah! não chores, se os outros não te amam, te ofendem e têm os  olhos cegos pelo veneno do interesse, de modo que por ele ficam todos embebidos, estou eu que  te amo, te louvo, e olho como imundícia tudo o que é terreno, e não anseio mais que a Ti, por isso  deveria ficar contente com meu amor e deixar de chorar, e se te sentes amargurado derrama em  mim tuas amarguras, que estarei mais contente, antes que te veja chorar”.

(4) Ao ouvir-me deixou de chorar, derramou um pouco e logo me participou as dores da cruz, e  depois acrescentou:

(5) “Minhas virtudes e os méritos adquiridos para o homem em minha Paixão, são tantas torres de  fortaleza nas quais cada um pode apoiar-se no caminho para a Eternidade, mas o homem ingrato,  fugindo destas torres de fortaleza, apoia-se na lama, e é conduzido para o caminho da perdição”.  (6) Então Jesus desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

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Janeiro 31, 1901

Jesus Cristo explica-lhe a grandeza da virtude da paciência.  

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu doce Jesus não vinha, e depois de muito  esperar, assim que o vi me disse:

(2) “Minha filha, a paciência é superior à pureza, porque sem paciência a alma facilmente fica desenfreada e é difícil manter-se pura, e quando uma virtude tem necessidade de outra para ter  vida, diz-se que esta é superior àquela, é mais, pode-se dizer que a paciência é custódia da  pureza, e não só, mas é escada para subir ao monte da fortaleza, de modo que se um subisse sem

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a escada da paciência, logo se precipitaria do mais alto ao mais baixo. Além disso, a paciência é o  germe da perseverança, e este germe produz alguns ramos chamados firmeza. Oh! como é firme e  estável no bem empreendido a alma paciente, não leva em conta nem a chuva, nem a geada, nem  o gelo, nem o fogo, senão que toda sua atenção está em levar a termo o bem começado, porque  não há insensatez maior daquele que hoje, Porque gosta faz um bem, e amanhã porque não  encontra mais gosto deixa-o. O que se diria de um olho que a certa hora possui a vista, e a outra  hora fica cego? De uma língua que agora fala, e agora fica muda? Ah sim, minha filha, só a  paciência é a chave secreta para abrir o tesouro das virtudes, sem o segredo desta chave, as  outras virtudes não saem para dar vida à alma e enobrecê-la!”.

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Fevereiro 5, 1901

Vê duas donzelas que servem à justiça: a tolerância e a dissimulação. 

(1) Esta manhã o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, fazia-se ver em um  estado que movia a compaixão até as pedras. Oh! como sofria, e parecia que não podia aguentar  mais, queria aliviar-se um pouco, quase como procurar ajuda. Meu pobre coração me sentia  despedaçado pela ternura, e logo lhe tirei a coroa de espinhos pondo-a em mim para dar-lhe alívio,  logo lhe disse: “Doce Bem meu, faz tempo que não me renovaste as penas da cruz, rogo-te que as  renoves hoje, assim ficarás mais aliviado”.

(2) E Ele: “Amada minha, para fazê-lo é necessário perguntar à justiça para fazê-lo, porque  chegaram a tanto as coisas que não pode permitir que você sofra”.

(3) Eu não sabia como fazer para perguntar à justiça, quando se apresentaram duas donzelas que  parecia que serviam à justiça, uma tinha nome de tolerância, a outra de dissimulação; e tendo-lhes  pedido que me crucificassem, a tolerância me tomou uma mão e a cravou, sem querer terminar.  Então disse: “Ó! Santa dissimulação, acaba tu de crucificar-me, não vês que a tolerância me  deixou? Mostre como é mais habilidoso em disfarçar”. Então ele terminou de me crucificar, mas  com tal espasmo que se o Senhor não me tivesse segurado nos seus braços, certamente teria  morrido pela dor. Depois disto, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Filha, é necessário que pelo menos algumas vezes sofras estas penas, se assim não for, ai do  mundo! O que seria dele?”

(5) Então eu pedi por várias pessoas e me encontrei em mim mesma.

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Fevereiro 6, 1901

A perfeita complacência de Jesus é ao encontrar-Se a Si mesmo na alma. (1) Encontrando-me em meu habitual estado, o bendito Jesus ao vir me disse:  (2) “Minha filha, quando minha graça se encontra em posse de muitas pessoas, festeja mais;  acontece como com aquelas rainhas que por quanto mais donzelas estão atentas de suas ordens e  lhes fazem coroa ao redor, tanto mais gozam e festejam. Você fica fixa em Mim e Olha para mim, e  ficarás tão apegada a Mim, que tudo o que é material morrerá para ti, e tanto deves fixar-te em  Mim, até que tudo me atraia em ti, porque Eu encontrando em Ti a Mim mesmo, posso encontrar  em ti a minha perfeita complacência. Agora, encontrando em ti todos os meus prazeres possíveis  que posso encontrar numa criatura humana, não pode me desagradar tanto o que me fazem os  demais”.

(3) E enquanto eu dizia isso se internou dentro de mim e tudo se comprazia. Como seria  afortunada se chegasse a atrair em mim todo meu amado Jesus.

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Fevereiro 10, 1901

A obediência tem uma visão aguda, o amor próprio é muito curto de vista. 

(1) Ao vir meu adorável Jesus, fazia-se ver com os olhos resplandecentes de vivíssima e puríssima  luz; eu fiquei cativada e surpreendida ante aquela luz deslumbrante, e Jesus vendo-me tão  cativada, sem que lhe dissesse nada me disse:

(2) “Amada minha, a obediência tem a visão agudíssima e vence em beleza e em penetração à  mesma luz do sol, enquanto que o amor próprio é muito curto de vista, tanto que não pode dar um  passo sem tropeçar. E não creias tu que esta vista agudíssima a têm as almas que estão sempre  agitadas e fazendo escrúpulo de tudo, mas sim esta é uma rede que lhes tece o amor próprio,  porque sendo muito curto de vista, primeiro as faz cair e logo lhes suscita mil inquietações e  escrúpulos, e o que hoje detestam com tantos escrúpulos e temores, amanhã caem nisso  novamente, tanto, que o seu viver se reduz a estar sempre imersos nesta rede artificiosa que lhes  sabe tecer muito bem o amor próprio, ao contrário da vista agudíssima da obediência que é  homicida do amor próprio, porque sendo agudíssima e claríssima, imediatamente prevê onde pode  dar um passo em falso, e com ânimo generoso se abstém de dá-lo e goza a santa liberdade dos  filhos de Deus. E assim como as trevas atraem mais trevas e a luz atrai mais luz, assim esta luz  chega a atrair a luz do Verbo, e unindo-se tecem a luz de todas as virtudes”.

(3) Surpreendida ao ouvir isto, disse: “Senhor, o que dizes? Parece-me que é santidade esse modo  de viver escrupuloso”.

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(4) E Ele com tom mais sério acrescentou: “Mas digo-te que esta é a verdadeira marca da  obediência, e a outra é a verdadeira marca do amor próprio, e esse modo de viver me move mais a  indignação que a amor, porque quando é a luz da verdade que faz ver uma falta, ainda mínima,  deveria haver uma emenda, mas como é a visão curta do amor próprio, não faz outra coisa que tê

las oprimidas, sem que avancem no caminho da verdadeira santidade”.

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Fevereiro 17, 1901

O homem vem de Deus e deve retornar a Deus. 

(1) Esta manhã, encontrando-me toda oprimida e sofredora, vi o meu amado Jesus, e muitas  pessoas mergulhadas em muitas misérias, e Ele rompendo o silêncio que tinha há muitos dias me  disse:

(2) “Minha filha, o homem nasce primeiro em Mim, e por isso recebe a marca da Divindade, e  saindo de Mim para renascer do seio materno lhe dou ordem de caminhar um pequeno trecho de  caminho, e ao término desse caminho, fazendo-me encontrar por ele, o recebo de novo em Mim,  Fazendo-o viver eternamente comigo. Olha um pouco como o homem é nobre, de onde vem, para  onde vai e qual é o seu destino. Agora, qual deveria ser a santidade deste homem saindo de um  Deus tão Santo? Mas o homem ao percorrer o caminho para vir outra vez a Mim, destrói nele o que  recebeu de divino, corrompe-se de modo que no encontro que temos para recebê-lo em Mim não o  reconheço mais, não descubro mais nele a marca divina, nada encontro de meu nele, e não o  reconhecendo mais, minha justiça condena-o a andar disperso no caminho da perdição”.

(3) Quão terno era ouvir Jesus Cristo falar sobre isto, quantas coisas fazia compreender, mas meu  estado de sofrimentos não me permite escrever mais extensamente.

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Março 8, 1901

Jesus diz-lhe que a cruz o fez conhecer como Deus. 

Explica-lhe acerca da cruz da dor e do amor.

(1) Continuando meu pobre estado e o silêncio de Jesus bendito, esta manhã, encontrando-me  mais do que nunca oprimida, ao vir me disse:

(2) “Minha filha, não as obras, nem a pregação, nem o mesmo poder dos milagres me fizeram  conhecer com clareza como o Deus que sou, senão quando fui posto na cruz e levantado sobre ela  como sobre meu próprio trono, então fui reconhecido como Deus; Então só a cruz revelou ao

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mundo e a todo o inferno quem eu era verdadeiramente; então todos ficaram abalados, e  reconheceram o seu Criador. Então é a cruz que revela Deus a alma, e faz conhecer se a alma é  verdadeiramente de Deus, pode-se dizer que a cruz descobre todas as partes íntimas da alma e  revela a Deus e aos homens quem é esta alma”.

(3) Depois acrescentou: “Sobre duas cruzes Eu consumo as almas, uma é de dor, a outra é de  amor; e assim como no Céu todos os nove coros angélicos me amam, porém cada um tem seu  ofício especial, como os Serafins, que seu ofício especial é o amor e seu coro é posto mais frente  para receber as reverberações de meu amor, tanto que meu amor e o deles saindo juntos se  acoplam continuamente. Assim às almas sobre a terra lhes dou seu ofício diferente, a quem a torno  mártir de dor, e a quem de amor, sendo ambos hábeis mestres em sacrificar as almas e fazê-las  dignas de minhas complacências”.

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Março 19, 1901

Explica-lhe o modo de sofrer. 

(1) Esta manhã, encontrando-me toda oprimida e sofredora, sobretudo pela privação de meu doce  Jesus, depois de muito esperar, quando o vi me disse:

(2) “Minha filha, o verdadeiro modo de sofrer é não olhar de quem vêm os sofrimentos, nem que  coisa se sofre, senão ao bem que deve vir dos sofrimentos; este foi meu modo de sofrer, não olhei  nem aos algozes, nem ao sofrer, senão ao bem que queria fazer por meio de meu sofrer, até  mesmo aqueles que me davam o sofrimento, e olhando o bem que devia produzir aos homens  desprezei todo o resto, e com intrepidez segui o curso de meu sofrer. Minha filha, este é o modo  mais fácil e mais proveitoso para sofrer não só com paciência, mas com ânimo invicto e animoso”.

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Março 22, 1901

Vê os grandes pecados de Roma. Jesus quer punir e ela se opõe.

(1) Continuando meu estado de privação, e portanto de amargura indizível, esta manhã meu  adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, me parecia que fosse Roma. Que  espetáculos se viam em todas as classes de pessoas, até no Vaticano se viam coisas que davam  horror. E o que dizer dos inimigos da Igreja? Como se roem de raiva contra Ela, quantos estragos  vão maquinando, mas não podem realizá-los porque Nosso Senhor os tem como atados ainda.  Mas o que mais me espantou, é que via meu amante Jesus quase em ato de dar-lhes a liberdade.

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Quem pode dizer como consternada fiquei? Então, vendo Jesus a minha consternação, disse-me:  (2) “Filha, são absolutamente necessários os castigos, em todas as classes entrou a podridão e a  gangrena, por isso é necessário o ferro e o fogo para fazer que não pereçam todos, por isso esta é  a última vez que te digo que te conformes a meu Querer, e eu prometo perdoar em parte”.

(3) E eu: “Amado Bem meu, não tenho coração para me conformar contigo em castigar as nações”.  (4) E Ele: “Se tu não te conformas, sendo de absoluta necessidade fazer isto, Eu não virei segundo  o meu costume e não te manifestarei quando enviarei os castigos, e não o sabendo tu, e não  encontrando Eu quem de algum modo rompa a minha justa indignação, darei livre alívio à minha ira  e não terás nem sequer o bem de fazer perdoar em parte o castigo. Além disso, o não vir e não  derramar em ti aquelas graças que teria querido derramar, é também uma amargura para Mim,  como nestes últimos dias em que não vim tanto, tenho a graça contida em Mim”.

(5) E enquanto dizia mostrava que queria se aliviar, e aproximando-se de minha boca derramou um  leite dulcíssimo e desapareceu.

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Março 30, 1901

Jesus fala-lhe acerca da Divina Vontade e da perseverança. 

(1) Continuando o estado de privação me sentia como um tédio e um cansaço de minha pobre  situação e a minha pobre natureza queria libertar-se desse estado. Meu adorável Jesus tendo  compaixão de mim, veio e me disse:

2) “Minha filha, assim que você se retira do meu Querer, assim você começa a viver de si mesma,  em troca se você está fixo na minha Vontade, viverá sempre de Mim mesmo, morrendo de tudo a si  mesma”.

(3) Depois acrescentou: “Minha filha, tem paciência, repreende-te em tudo à minha Vontade, e não  por pouco mas sempre, sempre, porque só a perseverança no bem é o que faz conhecer se a alma  é verdadeiramente virtuosa, só ela é a que une todas as virtudes, pode-se dizer que só a  perseverança une perpetuamente a Deus e à alma, virtudes e graças, e como cadeia se põe ao  redor e amarrando tudo junto forma o nó certo da salvação; mas onde não há perseverança há  muito a temer”.

(4) Disse isto desapareceu.

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Março 31, 1901

Inconstância e volubilidade.  

(1) Esta manhã, sentindo-me toda amarga, ainda me via tão má que quase não me atrevia a ir em  busca do meu sumo e único Bem, mas o Senhor não olhando para as minhas misérias, dignou-se

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vir dizendo-me:

(2) “Minha filha, é a Mim que queres, pois bem, vim para te alegrar, Vamos juntos, mas fiquemo nos em silêncio”.

(3) Depois de ter estado assim por um pouco, me transportou para fora de mim mesma, e via que a  Igreja festejava o dia das palmas, e Jesus rompendo o silêncio me disse:

(4) “Quanta volubilidade, quanta inconstância! Assim como hoje gritaram Hosana proclamando-me  como seu Rei, outro dia gritaram Crucifica-o, Crucifica-o. Minha filha, a coisa que mais me  desagrada é a inconstância e a volubilidade, porque isto é sinal de que a verdade não tomou posse  de tais almas, e mesmo em coisas de religião pode ser que encontrem sua satisfação, sua própria  comodidade e o interesse, ou bem porque se encontram em tal partido, mas amanhã podem mudar  estas coisas e podem ser encontradas no meio de outros partidos, e eis que se desviam da  religião, e sem desgosto se entregam a seitas; porque quando a verdadeira luz da verdade entra  numa alma e se apodera de um coração, esta alma não está sujeita a inconstância, antes tudo  sacrifica por amor daquela e para fazer-se dominar por ela, e com ânimo firme despreza todo o  resto que não pertence à verdade”.

(5) E enquanto dizia isto, chorava sobre a condição da presente geração, que pior do que antes  está sujeita à inconstância segundo sopram os ventos.

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Abril 5, 1901

Compadecendo-se da Mãe, compadece-se de Jesus. 

No calvário, na crucificação, vê em Jesus todas as gerações. 

(1) Continuando o estado de privação, esta manhã parece que o vi por um pouco junto com a  Rainha Mãe, e como o adorável Jesus tinha a coroa de espinhos, a tirei e o compadeci tudo; e  enquanto isso fazia me disse:

(2) “Compadece ao mesmo tempo a minha Mãe, porque sendo eu sofrer a razão de suas dores,  compadecendo-a a Ela vens a compadecer-me a Mim mesmo”.

(3) Depois disso, eu parecia me encontrar no Monte Calvário no momento da e enquanto sofria a  crucificação via, não sei como, em Jesus, todas as gerações passadas, presentes e futuras, e  como Jesus, tendo-nos a todos n’Ele, sentia todas as ofensas que cada um de nós lhe fazia e  sofria por todos em geral e por cada indivíduo em particular, de modo que descobria também as  minhas culpas e as penas que por mim sofria especialmente, como também via o remédio que a  cada um de nós, sem punir ninguém, ele nos fornecia para os nossos males e para a nossa  salvação eterna. Mas quem pode dizer tudo o que via em Jesus bendito? Desde o primeiro até o  último homem. Agora, estando fora de mim mesma via as coisas claras e distintas, mas Encontrando-me em mim mesma as vejo todas confusas. Assim que para evitar disparates termino.

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Abril 7, 1901

Vê a Ressurreição de Jesus. Fala da obediência. 

(1) Meu adorável Jesus continua me privando de sua presença, sinto uma amargura e como  trespassado o coração por uma faca, que me dá tal dor, de me fazer chorar e gritar como um  menino. Ah! Parece-me verdadeiramente ter-me tornado como uma criança, que por pouco que se  afaste a mãe chora e grita tanto, que transtorna toda a casa, e não há nenhum remédio para fazê

la parar de chorar enquanto não se vê de novo nos braços da mãe. É assim que eu sou, verdadeira  menina na virtude, que se me fosse possível transtornaria Céus e terra para encontrar o meu sumo  e único Bem, e só me acalmo quando me encontro em posse de Jesus. Pobre criança que sou,  sinto ainda que as fraldas da infância me cobrem, não sei caminhar por mim mesma, sou muito  fraca, não tenho a capacidade dos adultos que se deixam guiar pela razão, e esta é a soma  necessidade que tenho de estar com Jesus, com razão ou sem razão, Não quero saber nada, o  que quero saber é que quero Jesus. Espero que o Senhor queira perdoar a esta pobre menina, que  às vezes comete desatinos.

(2) Então, encontrando-me neste estado, por pouco tempo vi o meu adorável Jesus no momento  da sua Ressurreição, com um rosto tão resplandecente que não se pode comparar a nenhum outro  esplendor, e parecia-me que a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, ainda que fosse carne  viva, mas estava resplandecente e transparente de modo que se via com clareza a Divindade unida  à Humanidade. Agora, enquanto o via tão glorioso, uma luz que vinha dele, parecia que me  dissesse:

(3) “Tanta glória veio à minha humanidade por meio da perfeita obediência, que destruindo de todo  a natureza antiga me deu a nova natureza gloriosa e imortal. Assim a alma por meio da obediência  pode formar em si a perfeita ressurreição às virtudes, como por exemplo: Se a alma está afligida, a  obediência a fará ressurgir à alegria; se está agitada, a obediência a fará ressurgir à paz; se  tentada, a obediência lhe fornecerá a cadeia mais forte para atar o inimigo e a fará ressurgir  vitoriosa das insidias diabólicas; se assediada por paixões e vícios, a obediência matando-os a fará  ressurgir às virtudes. Isto à alma, e a seu tempo formará também a ressurreição do corpo”.

(4) Depois disto a luz se retirou, Jesus desapareceu, e eu fiquei com tal dor, vendo-me de novo  privada dEle, que me sentia como se tivesse uma febre ardente que me faz agitar e dar em delírio.  Ah! Senhor, me dê a força para te aguentar nestas demoras, porque me sinto desfalecer!  + + + +

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Abril 9, 1901

Se os fervores e virtudes não estão bem arraigados 

na Humanidade de Jesus, diante das tribulações, 

diante dos infortúnios, rapidamente secam.

(1) Encontrando-me na plenitude do delírio, dizia disparates, e creio que misturava também  defeitos; minha pobre natureza sentia todo o peso de meu estado, a cama parecia-lhe pior que o  estado dos condenados às prisões, tivesse querido desvincular-se deste estado, com agregado de  meu refrão, que meu estado não é mais Vontade de Deus e por isso Jesus não vem, e ia pensando  o que devia fazer. Enquanto fazia isso, meu paciente Jesus saiu de dentro de mim, mas com um  aspecto grave e sério que dava medo, e me disse:

(2) “O que você acha que eu teria feito se eu estivesse em sua situação?”

(3) No meu íntimo dizia: “Certamente a Vontade de Deus”.

(4) E Ele de novo: “Pois bem, faz tu isso”.

(5) E desapareceu. Era tanta a gravidade de Nosso Senhor, que naquelas palavras que disse  sentia toda a força de sua palavra, não só criadora, mas também destruidora. Meu interior ficou de  tal maneira sacudido, oprimido e amargurado por estas palavras, que não fazia outra coisa que  chorar, especialmente recordava a gravidade com a qual Jesus me tinha falado e não me atrevia a  dizer-lhe “vem”.

(6) Agora, estando durante o dia neste estado fiz minha meditação sem chamá-lo, quando no  melhor veio e com um aspecto doce, tudo mudou em comparação com a manhã me disse:  (7) “Minha filha, que ruína, que destruição está por acontecer!”

(8) E enquanto dizia isto senti todo o meu interior mudado, porque não era por outra coisa que não  vinha, senão pelos castigos; e enquanto estava nisto via quatro pessoas veneráveis que choravam  diante das palavras que Jesus tinha dito; mas Jesus bendito, como querendo distrair-se disse  algumas poucas palavras sobre as virtudes:

(9) “Há certos fervores e certas virtudes que se assemelham àqueles arbustos que nascem em  torno de certas árvores, e que não estando bem enraizados no tronco, um vento impetuoso, uma  geada um pouco forte e secam, e ainda que depois de algum tempo possa ser que reverdeçam de  novo, mas estando expostos à intempérie e portanto a mudar-se, jamais chegam a ser árvores  feitas. Assim são esses fervores e essas virtudes que não estão bem arraigados no tronco da  árvore da obediência, isto é, no tronco da árvore de minha Humanidade que foi toda obediência,  ante as tribulações, os infortúnios, súbito secam e jamais chegam a produzir frutos para a vida  eterna”.

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Abril 19, 1901

Lamentos pela privação. Jesus consola-a e explica-lhe algo sobre a Graça.  (1) Continuo meus dias privada de meu adorável Jesus, ao mais vem como sombra ou como raio,  meu pobre coração está sobremaneira amargo, sinto tanto sua privação, que todas minhas fibras,  os nervos, meus ossos, até as gotas de meu sangue, me contendem continuamente e me dizem:  “Onde está Jesus? Como! você o perdeu? O que você fez que não vem mais? Como vamos ficar  sem Ele? Quem nos consolará tendo perdido a fonte de toda a consolação? Quem nos fortificará  na debilidade, quem nos corrigirá e descobrirá nossos defeitos, tendo ficado privada daquela luz,  que mais que fio elétrico penetrava os mais íntimos esconderijos, e com a doçura mais inefável  corrigia e curava nossas chagas? Tudo é miséria, tudo é esquálido, tudo é tétrico sem Ele, como  faremos?” E ainda que no fundo da minha vontade me sinto resignada e vou oferecendo sua  mesma privação como o maior sacrifício por amor seu, todo o resto me faz guerra contínua e me põem em tortura. Ah Senhor! quanto me custa te haver conhecido, e a que alto preço me faz pagar

suas passadas visitas. Agora, estando neste estado, por breves instantes se fez ver e me disse: (2)”Sendo Minha Graça parte de Mim mesmo, possuindo-a tu, com razão e de estreita necessidade  tudo o que forma teu ser não pode estar sem Mim, eis a razão pela qual tudo te pede a Mim e és  torturada continuamente, porque estando embebida de Mim e cheia só em parte de Mim mesmo,  então não se estão em paz, pois só têm paz e ficam contentes quando me possuem não só em  parte, mas em tudo”.

(3) E tendo-me arrependido de minha dura situação acrescentou:

(4) “Também Eu no curso da minha Paixão senti um extremo abandono, embora minha Vontade estivesse sempre unida com o Pai e com o Espírito Santo; isto quis sofrer para divinizar em toda a  cruz, tanto que, contemplando-me a mim e contemplando a cruz, encontrarás o mesmo esplendor,  nos mesmos ensinamentos e o mesmo espelho no qual poderás refletir-te continuamente, sem  diferença entre um e outro”.

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Abril 21, 1901

A necessidade dos castigos é para não permitir 

que o homem se corrompa principalmente.

(1) Continuando o meu estado habitual, vi o meu doce Jesus com uma cruz na mão, em atitude de  atirá-la sobre as nações e disse-me:

(2) “Minha filha, o mundo é sempre corrupto, mas há certos tempos em que chega a tal corrupção,  que se eu não derramar sobre as nações parte de minha cruz, pereceriam todos na corrupção,

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como foi nos tempos em que vim Eu ao mundo, A única cruz salvou muitos da corrupção em que  estavam mergulhados. Assim nestes tempos, chegou a tanto a corrupção, que se Eu não  derramasse os flagelos, os espinhos, as cruzes, fazendo-os derramar até o sangue, ficariam  submersos nas ondas da corrupção”.

(3) E enquanto isso dizia parecia que agitava aquela cruz sobre as pessoas e sucediam castigos. + + + +

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Abril 22, 1901

Jesus a instrui sobre a imitação de sua Vida. 

(1) Sentindo-me toda aflita e confusa, e quase sem esperança de voltar a ver meu adorável Jesus,  de repente veio e me disse:

(2) “Sabes o que quero de ti? Quero-te em tudo semelhante a Mim, assim no agir como na  intenção; quero que sejas respeitosa com todos, porque respeitar a todos dá paz a si mesmo e paz  aos demais; que te tenhas como mínima de todos, e que todos os meus ensinamentos ruminantes  sempre em sua mente e as conserve em seu coração, a fim de que nas diversas ocasiões as  encontre sempre prontas para servir-lhe delas e pô-las em execução, em suma, quero que sua vida  seja um transbordamento da minha”.

(3) E, enquanto dizia isto, via que por detrás do Senhor descia sobre a terra um gelo e um fogo que  faziam mal às colheitas, e ao dizer eu: “Senhor, que fazes? Pobre gente!” Não me dando ouvidos,  ele desapareceu.

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Junho 13, 1901

A cruz e as tribulações são o pão da bem-aventurança eterna. 

(1) Depois de um longo silêncio por parte de meu adorável Jesus, em que no máximo dizia alguma  coisa sobre os flagelos que quer derramar, esta manhã encontrando-me oprimida, cansada por  minha dura situação, especialmente pelas contínuas privações às quais estou frequentemente  sujeita, vi-o por breves instantes e disse-me:

(2) “Minha filha, as cruzes e as tribulações são o pão da eterna bem-aventurança”.  (3) Portanto compreendia que sofrendo mais, mais abundante e mais saboroso será o pão que nos  nutrirá na celestial morada, ou seja, quanto mais se sofre, mais garantia recebemos da futura  glória.

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Junho 18, 1901

Jesus exige a sua glória de todas as partículas do nosso ser.  

Do estado de união passa-se à consumação.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, por uns instantes vi meu doce Jesus, e lamentei-me  de meu pobre estado por suas privações, e de uma espécie de cansaço físico e moral, como se me  sentisse destroçar minha pobre natureza e que por toda parte me sinto desfalecer. Então, havendo  dito tudo isto a meu Jesus, me disse:

(2) “Minha filha, não temas porque te sentes desfalecer por toda parte, não sabes tu que tudo deve  ser sacrificado por Mim, não só a alma mas também o corpo? E que de todas as mínimas partes de  ti Eu exijo minha glória? E além disso, você não sabe que do estado de união se passa a outro que  é o da consumação? É verdade que não venho segundo o meu costume para castigar as nações,  mas sirvo-me disto também para teu proveito, que é não só ter-te unida Comigo, senão de te  consumir por amor meu. Com efeito, não vindo Eu e sentindo-te desfalecer pela minha ausência,  não vens consumir-te por Mim? De resto, não tens razão para te afligir, primeiro porque quando me  vês é sempre do teu interior que me vês sair, e isto é um sinal certo que estou contigo, e depois  porque ainda devem passar dias sem que possas dizer que me viste perfeitamente”.

(3) Depois disso, tomando um tom de voz mais doce e benigno acrescentou:  (4) “Minha filha, te recomendo muito, muito, que não faça sair de ti nem o mínimo ato que não seja  paciência, resignação, doçura, igualdade de ti mesma, tranqüilidade em tudo, de outra maneira  viria a me desonrar; e sucederia como a um rei que habitasse dentro de um palácio muito  enriquecido, e por fora se visse tudo cheio de fendas, sujo, quase a desmoronar-se; não diriam,  como habita um rei neste palácio se por fora se vê tão feio, que até dá medo aproximar-se? Quem  sabe que rei será este? E isto não seria uma desonra para aquele rei? Agora, pensa que se de ti  sai alguma coisa que não seja virtude, o mesmo diriam de ti e de Mim, e Eu ficaria desonrado  porque habito dentro”.

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Junho 30, 1901

Sinais para saber se a alma possui a Graça. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, por pouco tempo meu dulcíssimo Jesus fez-se ver  todo fundido em mim, e me disse:

(2) “Minha filha, queres saber quais são os sinais para conhecer se a alma possui minha Graça?”  (3) E eu: “Senhor, como lhe agrade a tua santíssima bondade”.

(4) Então Ele prosseguiu: “O primeiro sinal para ver se a alma possui a minha graça, é que tudo o  que possa ouvir ou ver no exterior, que pertence a Deus, no interior sente uma doçura, uma

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suavidade toda divina, não comparável a nenhuma coisa humana e terrena; acontece como a uma  mãe, que mesmo ao respirar, à voz, conhece ao parto de suas vísceras na pessoa de um filho e se  alegra de alegria; ou como a duas íntimas amigas que conversando manifestam reciprocamente os  mesmos sentimentos, inclinações, alegrias, aflições, e encontrando esculpidas uma na outra suas  mesmas coisas, sentem prazer, gozo e tomam-se tanto amor que não sabem separar-se. Assim a  graça interior que reside na alma, ao ver exteriormente o parto de suas próprias entranhas, ou seja,  ao encontrar-se naquelas mesmas coisas que formam sua essência, acoplam-se e faz sentir na  alma tal alegria e doçura, que não se sabe expressar.

(5) O segundo sinal é que o falar da alma que possui a graça é pacífico e tem virtude de lançar nos  outros a paz, tanto que as mesmas coisas ditas por quem não possui a graça, não produzem  nenhuma impressão e nenhuma paz, enquanto que ditas por quem possui a graça operam  maravilhosamente e restituem a paz às almas.

(6) Além disso minha filha, a graça despoja a alma de tudo, e da humanidade faz um véu para  estar coberta, de modo que quebrado esse véu se encontra o paraíso na alma de quem a possui.  Então, não é maravilha se nessa alma se encontra a verdadeira humildade, obediência e demais,  porque dela não fica outra coisa que um simples véu e vê com clareza que dentro dela está toda a  graça, que obra e que lhe tem em ordem todas as virtudes e a faz estar em contínua atitude para  Deus”.

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Julho 5, 1901

Jesus é o princípio, o meio e o fim de todos os desejos.

(1) Estando com temor sobre o estado de minha alma, de improviso veio meu adorável Jesus e me  disse:

(2) “Minha filha, não temas, porque Eu só sou o princípio, o meio e o fim de todos seus desejos”.  (3) Com estas palavras me acalmei em Jesus. Seja tudo para glória de Deus e bendito seu Santo  Nome.

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Julho 16, 1901

O princípio do mal no homem. Diferença entre o amor de Jesus e o amor humano.  Para entrar no Céu, a alma deve estar toda transformada em Jesus.  

(1) Depois de vários dias de privação, esta manhã dignou-se a transportar-me para fora de mim  mesma. Agora, encontrando-me diante de Jesus bendito, via muita gente, e os males da geração  presente. O meu adorável Jesus olhou para eles com compaixão e dirigiu-se a mim e disse:

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(2) “Minha filha, queres saber de onde começou o mal no homem? O princípio é que o homem  assim que se conhece a si mesmo, ou seja, começa a adquirir o uso da razão, diz a si mesmo: “Eu  sou algo”, e acreditando alguma coisa, separa-se de Mim, não confia em Mim que sou o Todo, e  toda a confiança e força a tomada de si mesmo, E disso acontece que perde até todo bom  princípio, e perdendo o bom princípio, qual será seu fim? Imagine-o você mesma minha filha.

(3) Depois, separando-se de Mim que contenho tudo bem, o que pode esperar de bem o homem,  sendo ele um oceano de mal? Sem Mim tudo é corrupção, miséria e sem nenhuma sombra de  verdadeiro bem, e esta é a sociedade presente”.

(4) Eu, ao ouvir isto, sentia tal aflição que não sabia expressá-la, mas Jesus, querendo consolar me, transportou-me para outro lugar, e eu, encontrando-me sozinha com o meu amado Jesus,  disse-lhe: “Dize-me, amas-me?”

(5) E Ele: “Sim”.

(6) E eu: “Não estou contente com o sim só, gostaria que me explicasses melhor quanto me amas”.  (7) E Ele: “É tanto o meu amor por ti, que não só não tem princípio, mas não terá fim, e em estas  duas palavras podem compreender quão grande, forte e constante é o meu amor por ti”.  (8) Considerei tudo isto por um pouco de tempo, e via um abismo de distância entre o meu amor e  o dele, e toda confusa disse: “Senhor, que diferença entre o meu amor e o teu! O meu não só tem  princípio, mas no passado vejo vazios na minha alma de não te ter amado”.  (9) E Jesus compadecendo-me toda me disse:

(10) “Amada minha, não pode haver igualdade entre o amor do Criador e o da criatura; porém hoje  quero dizer-te uma coisa que te será de consolação e que não tens entendido: Deves saber que  cada alma durante todo o curso de sua vida está obrigada a me amar constantemente, sem  nenhum intervalo, e não me amando sempre, ficam na alma tantos vazios por quantos dias, horas,  minutos deixou de me amar, e ninguém poderá entrar no Céu se não tiver preenchido estes vazios,  e só poderá preenchê-los, ou me amando duplamente o resto de sua vida, ou se não os atingir  encherá à força de fogo no purgatório. Agora, tu quando estás privada de Mim, a privação do  objeto amado faz duplicar o amor, e com isto vens a preencher os vazios que há em tua alma”.

(11) Depois disto lhe disse: “Doce Bem meu, me deixe ir junto contigo ao Céu, e se não queres  para sempre, ao menos por um pouco, ah, te peço, me responda!” E Ele disse-me:  (12) “Não sabes tu que para entrar nessa bem-aventurada morada a alma deve estar toda  transformada em Mim, de maneira que deve aparecer como outro Cristo? De outra maneira, que  papel faria no meio dos outros bem-aventurados? Você mesma teria vergonha de estar junto com  eles”.

(13) E eu: “É verdade que sou muito ao contrário de Ti, mas se quiseres podes tornar-me tal”.  Então para me contentar me encerrou toda nele, de modo que não me via mais a mim mesma, mas

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a Jesus Cristo, e neste modo nos elevamos ao Céu; chegados a um ponto nos encontramos diante  de uma luz indescritível, diante daquela luz se experimentava nova vida, alegria insólita, jamais  sentida, como me sentia feliz! Parecia que me encontrava na plenitude de toda a felicidade. Agora,  enquanto nos adentramos nessa luz, eu sentia temor, teria querido louvá-lo, agradecê-lo, mas não  sabendo o que dizer, recitei três Glória ao Pai, e Jesus respondia junto comigo; mas logo  terminadas, como relâmpago me encontrei na mísera prisão de meu corpo. Ah Senhor, como é que  tão pouco durou minha felicidade? Parece que é muito duro o barro do meu corpo, pois é preciso  muito para romper-se, e impede a minha alma de sair desta miserável terra. Mas espero que algum  golpe impetuoso o queira não só romper, mas pulverizar, e então, não tendo já casa onde  possamos estar aqui, tenha compaixão de mim e me acolha para sempre na celestial morada.

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Julho 20, 1901

Como é doce a Jesus a voz da alma. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus não vinha. Depois de ter  esperado e quase perdido a esperança de voltar a vê-lo, de repente veio e me disse:  (2) “Minha filha, tua voz me é doce, como ao passarinho é doce a voz da mãe que retorna depois  de havê-lo deixado para ir em busca do alimento para alimentá-lo, e o passarinho ao ouvir sua voz  sente uma doçura e faz festa, e depois de que a mãe lhe põe o alimento na boca, aconchega-se  todo e se esconde debaixo da asa materna para aquecer-se, livrar-se das inclemências do tempo e  tomar repouso seguro; oh! como lhe parece querido e agradável ao passarinho este estar sob a  asa materna. Assim é você para Mim, é asa que me aquece-me, repara-me, defende-me e faz-me  ter seguro repouso. Oh! como me é querido e agradável estar debaixo desta asa”.  (3) Dito isto desapareceu e eu fiquei toda confusa e cheia de vergonha sabendo tão mal, mas a  obediência quis aumentar minha confusão querendo que escrevesse isto. Seja feita sempre a  Santíssima Vontade de Deus.

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Julho 23, 1901

Jesus fala da sua vontade e da caridade.

(1) Encontrando-me com muitas dúvidas sobre meu estado, ao vir meu adorável Jesus me disse:  (2) “Filha, não temas, o que te recomendo é que estejas sempre uniformizada à minha Vontade,  porque quando na alma está a Vontade Divina, não têm força de entrar nela nem a vontade  diabólica nem a humana, para fazer-se um brinquedo da alma”.

(3) Depois disto parecia-me vê-lo crucificado, e tendo-me participado o Senhor não só suas penas,  mas alguns sofrimentos de outra pessoa, acrescentou:

(4) “Esta é a verdadeira caridade: Destruir-se a si mesmo para dar a vida a outros, e tomar sobre si

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os males dos outros e dar-me os bens próprios”.

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Julho 27, 1901

Dúvidas do confessor, resposta de Jesus. 

(1) Havendo tido algumas dúvidas o confessor, ao vir o bendito Jesus o via junto a ele, e Eu ia  dizendo:

(2) “Meu agir está sempre apoiado na verdade, e embora muitas vezes pareça escuro, sob  enigmas, no entanto não se pode fazer menos do que dizer que é a verdade, e embora a criatura  não entenda com clareza meu agir, isto não destrói a verdade, faz compreender muito melhor que  é modo de agir divino, porque sendo a criatura finita não pode abraçar e compreender o infinito, no  máximo pode compreender e abraçar algum brilho, assim como em tantas coisas ditas por Mim nas  escrituras, e meu modo de agir nos santos, talvez tenham sido compreendidas com toda a clareza?  Oh! quantas coisas deixaram na escuridão e no enigma. No entanto quantas mentes de doutos e  sábios se cansaram em interpretá-las? E que coisa compreenderam? Pode-se dizer que nada em  comparação com o que fica por conhecer. Isto acaso prejudica à verdade? Para nada, mas bem a  faz resplandecer principalmente. Por isso seu olho deve estar atento a se há a verdadeira virtude,  se se sente em tudo, e embora às vezes às escuras, que esteja a verdade, e do resto se necessita  estar tranquilo e em santa paz”.

(3) Dito isto desapareceu e eu regressei em mim mesma.

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Julho 30, 1901

Veja o mundo, e como a maioria são cegos. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus me transportou para fora de mim  mesma no meio de muitas pessoas. Que cegueira! quase todos eram cegos, uns poucos de vista  curta; apenas um que outro se notava como sol no meio das estrelas, de vista agudíssima, todo  concentrado no Sol divino, e esta vista lhe era concedida porque a tinha fixa na luz do Verbo  Humanado. Jesus, compadecendo-se de tudo, disse-me:

(2) “Minha filha, como arruinou ao mundo a soberba, chegou a destruir essa pequena luz de razão  que todos levam consigo desde que nascem; mas deves saber que a virtude que mais exalta Deus  é a humildade, e a virtude que mais exalta a criatura diante de Deus e diante dos homens é a  humildade”.

(3) Dito isto desapareceu; mais tarde regressou todo angustiado e afligido e acrescentou:

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(4) “Minha filha, estão para acontecer três terríveis castigos”.

(5) E como um raio desapareceu sem me dar tempo de lhe dizer uma palavra. ++++

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Agosto 3, 1901

A alma que possui a Graça tem poder sobre o inferno, sobre os homens e sobre Deus.  (1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de muito esperar veio a Virgem Mãe  conduzindo-o quase à força, mas Jesus fugia. Então a Virgem Santíssima disse-me:  (2) “Minha filha, não te canses de lhe pedir, mas sê inoportuna, porque este fugir que faz é sinal de  que quer enviar algum castigo, por isso foge da vista das pessoas amadas, mas tu não te  detenhas, porque a alma que possui a graça tem poder sobre o inferno, sobre os homens e sobre o  próprio Deus, porque sendo a Graça parte do próprio Deus, possuindo-a a alma, não tem talvez o  poder sobre o que ela mesma possui?”

(3) Então depois de muito esperar, obrigado pela Mãe Rainha e importunado por mim, veio, mas  com um aspecto imponente e sério, de modo que não me atrevia a falar, não sabia como fazer  para lhe tirar aquele aspecto tão imponente. Pensei começar a falar com disparates dizendo-lhe:  “Meu doce Bem, amemo-nos, se não nos amamos nós, quem nos deve amar? E se você não se  contentar com o meu amor, quem será capaz de te contentar? ” Ah! me dê um sinal certo de que  está contente de meu amor, de outra maneira eu desfaleço, eu morro”. Mas quem pode dizer todos  os disparates que disse? Eu acho que é melhor ignorá-los; mas com isso parece que eu consegui  tirar aquele ar imponente que eu tinha, e ele me disse:

(4) “Só estarei contente de teu amor quando este superar o rio da iniquidade dos homens, por isso  pensa em aumentar teu amor, porque assim mais estarei contente de ti”.

(5) Dito isto desapareceu.

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Agosto 5, 1901  

Como as mortificações são os olhos da alma.  

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu bendito Jesus tardava em vir e eu me sentia  morrer pela pena de sua privação, quando de improviso veio e me disse:

(2) “Minha filha, assim como os olhos são a vista do corpo, assim a mortificação é a vista da alma,  assim que a mortificação se pode dizer olhos da alma”.

(3) E desapareceu.

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Agosto 6, 1901

O amor dos bem-aventurados é propriedade divina, 

mas o amor dos viadores é propriedade 

que está em ato de fazer aquisição dele. 

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus fez-se parecer tão sofredor e  ofendido que movia a compaixão; eu o estreitei a mim e lhe disse: “Doce Bem meu, quão amável e  desejável és, como é possível que os homens não te amem, mas sim te ofendem? Amando-te tudo  se encontra, e o amar-te contém todos os bens, e não te amando tudo bem nos desaparece,  porém, quem é aquele que te ama? Mas ah, meu tesouro amadíssimo, faz a um lado as ofensas  dos homens e por um pouco desafoguemo-nos no amor”. Então Jesus chamou toda a corte  celestial para ser espectadora do nosso amor, e disse:

(2) “O amor de todo o Céu não seria suficiente pagamento, nem me faria feliz, se não estivesse o  teu unido, muito mais que esse amor é propriedade minha que ninguém me pode tirar, mas o amor  dos viadores é como propriedade que estou em ato de adquirir, e como minha Graça é parte de  Mim mesmo, ao entrar nos corações, sendo meu Ser ativíssimo, os viadores podem negociar com  o amor, e este comércio engrandece as propriedades do meu amor, e Eu sinto tal gosto e prazer,  que faltando me este ficaria amargo. Por isso é que sem o seu amor, o amor de todo o Céu não me  deixaria plenamente contente, e você deve saber negociar bem com o meu amor, porque amando me em tudo me fará feliz e contente”.

(3) Quem pode dizer como fiquei espantada ao ouvir isto, e quantas coisas compreendia sobre este  amor, mas minha língua se volta balbuciante, por isso ponho ponto.

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Agosto 21, 1901

A Celestial Mãe ensina-lhe o segredo da felicidade.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma, e depois de ter  girado e voltado em busca de Jesus, encontrei em troca à Rainha Mamãe, e oprimida e cansada  como estava lhe disse: “Doce Mamãe minha, perdi o caminho para encontrar Jesus, não sei mais  aonde ir nem o que fazer para encontrá-lo de novo”. E enquanto dizia isto chorava, e Ela me disse:

(2) “Minha filha, vem junto a Mim e encontrarás o caminho a Jesus, é mais, quero te ensinar o segredo para poder estar sempre com Jesus e para viver sempre contente e feliz mesmo sobre  esta terra, e este é, ter fixo em teu interior que só Jesus e tu estão no mundo, e ninguém mais, e só  a Ele deves agradar, agradar e amar, e só d’Ele deves esperar ser amada e satisfeita em tudo.  Estando deste modo tu e Jesus, não te fará mais impressão se estarás circundada de desprezos  ou louvores, de parentes ou estranhos, de amigos ou inimigos, só Jesus será todo teu contente e

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só Jesus te bastará por todos. Minha filha, até que tudo o que existe aqui embaixo não desapareça  de todo da alma, não se pode encontrar verdadeiro e perpétuo contente”.

(3) Agora, enquanto dizia isto, como de dentro de um raio saiu Jesus no meio de nós, e eu o tomei,  o levei comigo e me encontrei em mim mesma.

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Setembro 2, 1901  

Jesus fala da Igreja e da sociedade presente.

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver unido com o Santo Padre e parecia que lhe  dizia:

(2) “As coisas até aqui sofridas não são mais que tudo o que Eu passei desde o princípio de minha  Paixão até que fui condenado à morte; meu filho, não te resta outra coisa que levar a cruz ao  Calvário”.

(3) E enquanto dizia isto, parecia que Jesus bendito tomava a cruz e a colocava sobre as costas do  Santo Padre, ajudando-o Ele mesmo a levá-la. Agora, enquanto isso, ele agregou:  (4) “A minha Igreja parece estar a morrer, especialmente no que diz respeito às condições sociais,  que aguardam ansiosamente o grito de morte; mas coragem, meu filho, depois de teres chegado  ao monte, quando levantarem a cruz, todos tremerão e a Igreja deixará o aspecto de moribunda e  recuperará o seu pleno vigor. Só a cruz será o meio para isto, como só a cruz foi o único meio para  preencher o vazio que o pecado tinha feito e para unir o abismo de distância infinita que havia entre  Deus e o homem, assim nestes tempos só a cruz fará levantar a fronte da minha Igreja, corajosa e  resplandecente para confundir e pôr em fuga os inimigos”.

(5) Dito isto desapareceu, e depois de um pouco voltou meu amado Jesus, todo aflito, e continuou  dizendo:

(6) “Minha filha, quanto me dói a sociedade presente, são meus membros e não posso fazer menos  do que amá-los; acontece-me como a um tal que tivesse um braço, uma mão infectada e chagada,  talvez a odeie, a abomine? Ah! Não, mas procura-lhe todos os cuidados, quem sabe quanto gaste  para ver-se curado, e enquanto não chega a obter a cura é causa de fazê-lo sofrer todo o corpo, de  tê-lo oprimido, afligido. Assim é minha condição, vejo meus membros infectados, chagados, e por  isso sinto dor e pena, e por isso me sinto mais atraído a amá-los. Oh, como é diferente meu amor  das criaturas! Eu sou obrigado a amá-las porque são coisa minha, mas elas não me amam como  coisa delas, e se me amam, me amam por seu próprio bem”.

(7) Depois disso desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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Setembro 4, 1901

Ardores do coração de Jesus pela 

glória da Majestade Divina e pelo bem das almas.

(1) O meu adorável Jesus continua a vir, e esta manhã mal o vi senti um desejo de lhe perguntar se  me tinha perdoado os meus pecados, por isso lhe disse: “Doce amor meu, quanto anseio ouvir da  tua boca se me perdoaste os meus tantos pecados”. E Jesus aproximou-se do meu ouvido, e com  o seu olhar parecia que perscrutava todo o meu interior e disse-me:

(2) “Tudo está perdoado e eu perdoo-te, não te resta outra coisa senão alguns defeitos cometidos  inadvertidamente por você, e eu também perdoá-los”.

(3) Depois disto parecia que Jesus se punha atrás de mim, e me tocava os rins com sua mão os  fortificava. Quem pode dizer o que sentia com aquele toque? Somente sei dizer que sentia um fogo  refrigerante, uma pureza unida a uma força; depois que me tocou os rins lhe pedi que fizesse o  mesmo ao coração, e Jesus para agradar-me condescendeu, e depois me parecia como se Jesus  bendito estivesse cansado por minha causa, e lhe disse: “Doce vida minha, estás cansado por  minha causa, não é verdade?”

(4) E Ele: “Sim. Pelo menos sê grata pelas graças que te estou dando, porque a gratidão é a chave  para poder abrir com prazer os tesouros que Deus contém; mas deves saber que isto que fiz te  servirá para te preservar da corrupção, para te corroborar e para dispor tua alma e teu corpo à  glória eterna”.

(5) Depois disto parecia que me transportasse de mim mesma e me fazia ver a multidão das  nações e o bem que podiam fazer e não fazem, e portanto a glória que Deus deve receber e não  recebe, e Jesus todo aflito acrescentou:

(6) “Amada minha, o meu coração arde pela honra da minha glória e pelo bem das almas. Por todo  o bem que omitem, tantos vazios recebe minha glória, e suas almas embora não façam o mal, não  fazendo o bem que poderiam fazer são como aquelas salas vazias, que embora sejam belas, mas  não há nada para admirar que atraia o olhar, e portanto nenhuma glória recebe o dono, e se fazem  um bem e outro o omitem, são como aquelas salas todas despovoadas, em que apenas algum  objeto se descobre sem nenhuma ordem. Amada minha, entra a tomar parte destas penas, dos  ardores que meu coração sente pela glória da Majestade Divina e pelo bem das almas, trata de  preencher estes vazios de minha glória, e poderás fazê-lo não deixando passar um momento da  tua vida que não esteja ligado à minha, isto é, em todas as tuas ações, seja oração ou sofrimento,  repouso ou trabalho, silêncio ou conversação, tristeza ou alegria, mesmo o alimento que tomes, em  suma, em tudo o que te possa acontecer porás a intenção de me dar toda a glória que em tais  ações deveriam dar-me e de suprir o bem que deveriam fazer e não fazem, tentando repetir a  intenção por quanto glória não recebo e por quanto bem omitem. Se você fizer isso, você

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preencherá de alguma forma o vazio da glória que devo receber das criaturas, e meu coração  sentirá um refrigério ao meu ardor, e por este refrigério correrão rios de graça em proveito dos  mortais, que lhes infundirão maior força para fazer o bem.

7) Depois disto, encontrei-me em mim mesma.

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Setembro 5, 1901

O verdadeiro amor suplanta tudo. 

(1) Voltando o meu amável Jesus, sentia-me quase com medo de não corresponder às graças que  o Senhor me faz, tendo-me deixado impressas aquelas palavras que me disse antes: “Ao menos  seja agradecida”. E Ele, vendo-me com este temor, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas, o amor suprirá a tudo; além disso, havendo posto a vontade  de verdadeiramente fazer o que Eu quero, ainda que alguma vez faltes Eu suprirei por ti, por isso  não temas. Deve saber que o verdadeiro amor é engenhoso, e o verdadeiro engenho chega a tudo;  muito mais quando na alma há um amor amante, um amor que se magoa das penas da pessoa  amada como se fossem próprias, e um amor que chega a tomar sobre si, a sofrer o que deveria  sofrer a pessoa que se ama, é o mais heróico e se assemelha ao meu amor; sendo muito difícil  encontrar quem ponha a própria pele. Então, se em todo o teu coração não houver senão amor, se  não me agradares de um modo o farás noutro; aliás, se estiveres na posse destes três amores,  acontecerá a mim como àquele que, sendo injuriado, ofendido com todo o tipo de afrontas por  todos, entre tantos há um que o ama, O compadece, lhe paga por todos, e aquele, O que está  fazendo? Fixa o olhar na pessoa amada e encontrando sua recompensa esquece todos os ultrajes,  e dá favores e graças aos mesmos que o ultrajam”.

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Setembro 9, 1901

Eficácia das intenções. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Então, enquanto minha mente estava ocupada em  considerar o mistério da coroação de espinhos, lembrei-me que estando ocupada outras vezes  neste mistério, o Senhor se alegraria em tirar de sua cabeça a coroa de espinhos e cravá-la na  minha, e disse em meu interior: “Ah Senhor, já não sou digna de sofrer teus espinhos”.

(2) E Ele, de improviso, disse-me:

(3) “Minha filha, quando tu sofres os meus mesmos espinhos, tu me consolas, e sofrendo-os tu Eu  me sinto completamente livre dessas penas; quando te humilhas e te crês indigna de sofrê-las,  então me reparas os pecados de soberba que se cometem no mundo”.

(4) Eu acrescentei: “Ah! Senhor, por quantas gotas derramaste, por quantos espinhos sofreste, por

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quantas feridas, tanta glória intento dar-te por quanta glória deveriam dar-te todas as criaturas se  não existisse o pecado de soberba, e tantas graças intento pedir-te para todas criaturas para fazer  este pecado ser destruído”.

(5) Enquanto dizia isto, vi que Jesus continha n’Ele a todo o mundo, como uma máquina contém  em si os objetos, e todas as criaturas se moveram n’Ele, e Jesus se movia para elas, e parecia que  Ele tinha a glória de minha intenção e as criaturas tinham retornado a Ele para poder receber o  bem emprestado por mim para elas. Eu fiquei estupefata, e Jesus, vendo o meu espanto, disse:

(6) “Tudo isso parece surpreendente, não é? Não obstante parece coisa de nada o que você tem  feito, porém não é assim; quanto bem se poderia fazer com repetir esta intenção e não se faz?”  (7) Dito isto desapareceu.

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4-86  

Setembro 10, 1901 

Unir nossas ações com Jesus é continuar sua Vida sobre a terra. 

(1) Continuo a fazer o que Jesus bendito me ensinou no dia 4 deste mês se bem que alguma vez  me distraio, mas enquanto alguma vez me esqueço, parece que Jesus em meu interior se põe em  guarda e o faz Ele por mim, então eu, vendo isto me ruborizo e em seguida me uno a Ele e faço-lhe  a oferta do que no momento estou fazendo, Assim seja ainda um olhar, uma palavra, vou dizendo:  “Senhor, toda essa glória que as criaturas deveriam te dar com a boca e não te dão, eu tento dá-la  com a minha, e impero a elas fazer um bom e santo uso da boca, unindo-me sempre à mesma  boca de Jesus”. Então enquanto em todas as minhas coisas isto fazia, veio e me disse:

(2) “Eis a continuação de minha Vida, que era a glória do Pai e o bem das almas; se nisto  persevera tu formarás minha Vida e Eu a tua, tu serás meu respiro e Eu o teu”.  (3) Depois disso Jesus repousava sobre meu coração, e eu sobre o coração dele, e parecia que  Jesus tomava o respiro de mim, e eu o tomava por meio de Jesus. Que felicidade, que alegria, que  vida celestial experimentava nessa posição! Seja sempre agradecido e abençoado o Senhor, que  tanta misericórdia usa com esta pecadora.

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Setembro 14, 1901 

O princípio e o fim de nossas ações devem ser o amor de Deus.  

(1) Depois de ter passado vários dias de privação, hoje, enquanto me preparava para fazer a  meditação, minha mente se distraiu em outra coisa, e por meio de uma luz compreendia que a  alma ao sair do corpo entra em Deus; e como Deus é puríssimo amor, a alma só entra em Deus  quando é um complexo de amor, porque Deus a nenhum recebe em Si senão em tudo semelhante

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a Ele, e encontrando-a complexo de amor, recebe-a e participa-lhe todas as suas dotes. Assim  estaremos em Deus além do céu, como aqui estamos em nossa própria habitação.  (2) Agora, isto me parecia que se poderia fazer também no curso de nossa vida para poupar  trabalho ao fogo do purgatório, e a nós a pena, e assim ser introduzidos imediatamente, sem  nenhuma dificuldade, em nosso sumo Bem Deus. Então me parecia que o alimento do fogo é a  lenha, e para estar seguro que a lenha se converteu em fogo, é quando se adverte que já não  produz fumaça. Agora, princípio e fim de todas as nossas ações deve ser o fogo do amor de Deus;  a lenha que deve alimentar este fogo são as cruzes, as mortificações; a fumaça que se eleva entre  a lenha e o fogo são as paixões, as inclinações, que muito freqüentemente assolam a cabeça;  então o sinal de que tudo em nós se consumiu em fogo, é se nossas paixões estão em seu lugar e  não sentimos mais inclinações a tudo o que não se refere a Deus.

(3) Parece que com isto passaremos livremente, sem nenhum obstáculo a habitar em nosso Deus,  e chegaremos até daqui a gozar o paraíso antecipado.

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Setembro 15, 1901

Fugindo da cruz permanece no escuro.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus veio glorioso, com as chagas resplandecentes mais que o  sol e com uma cruz na mão. Enquanto estava nisto, via também uma roda da qual saíam quatro  ângulos; parecia que num ângulo escapava a luz e ficava às escuras, nesta escuridão ficavam as  pessoas como abandonadas por Deus e sucediam guerras sangrentas contra a Igreja e contra a  gente mesma. Ah! , parecia que as coisas ditas antes por Jesus bendito Aproximam-se a passos  rápidos. Agora, Nosso Senhor, vendo tudo isto, moveu a compaixão aproximou-se da parte escura  e lançou sobre a cruz que tinha na mão, dizendo com voz sonora:

(2) “Glória à cruz”.

(3) E parecia que aquela cruz chamava de novo a luz, e os povos sacudindo-se imploravam ajuda  e socorro. E Jesus repetiu:

(4) “Todo o triunfo e glória serão da cruz, de outra maneira os remédios piorarão os mesmos  males; portanto, a cruz, a cruz”.

(5) Quem pode dizer como fiquei aflita e pensativa no que poderá acontecer?  + + + +

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Outubro 2, 1901

Jesus a leva ao Céu e os anjos lhe pedem  

que a faça conhecer a todas as gentes.  

Ela nada em Deus e trata de compreender o interior Divino

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(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, no meio das  nações; quem pode dizer os males, os horrores que se viam? Então todo aflito me disse:  (2) “Minha filha, que peste exala a terra; enquanto deveria ser uma com o Céu, e como no Céu não  se faz outra coisa que me amar, louvar-me, agradecer-me, o eco do Céu deveria absorver a terra e  formar um só, mas a terra se tornou insuportável, por isso vem tu e junta-te ao Céu, e em nome de  todos vem dar-me uma satisfação por eles”.

(3) Num instante me encontrei no meio dos anjos e santos; não sei dizer como me senti, uma  infusão do que cantavam e diziam os anjos e os santos, e eu a par deles fiz a minha parte em  nome de toda a terra. Meu doce Jesus todo contente, depois disto disse dirigindo-se a todos:  (4) “Eis aqui da terra uma nota angélica, como me sinto satisfeito”.

(5) E enquanto dizia isto, como para me recompensar me tomou em seus braços, me beijava e  beijava, e me mostrava a toda a corte Celestial como objeto de suas mais queridas complacências.  Ao verem isto, os anjos disseram:

(6) “Senhor, pedimos-te que mostres o que fizeste às nações com um sinal prodigioso da vossa  omnipotência, para vossa glória e para o bem das almas, que não escondas mais os tesouros  derramados nela, e assim, vendo e tocando eles mesmos a vossa omnipotência noutra criatura,  possa servir de arrependimento aos maus e de maior estímulo a quem quer ser bom”.

(7) Eu ao ouvir isto me senti surpreso por um temor, e toda me anulando, tanto que me via como  um pequeno peixinho, lancei-me no coração de Jesus dizendo: “Senhor, não quero outra coisa  senão a Ti e estar escondida em Ti; e isto te pedi sempre, e isto te peço que me confirmes”. E, dito  isto, encerrei-me no interior de Jesus, como que nadando nos vastíssimos mares do interior de  Deus. E Jesus disse a todos:

(8) “Não a ouvistes? Não quer outra coisa senão a Mim e estar escondida em Mim, este é seu  maior contentamento: e Eu ao ver uma intenção tão pura sinto-me mais atraído para ela, e vendo  o seu desagrado se mostrasse às nações com um sinal prodigioso a minha obra, para não a  entristecer não vos concedo o que me pedistes”.

(9) Os anjos pareciam que insistiam, mas eu não prestei atenção a nenhum, não fazia outra coisa  que nadar em Deus para compreender o interior Divino, mas o que, me parecia ser como um  menino que quer tomar em sua mãozinha um objeto de desmesurada grandeza, que enquanto o  toma lhe escapa e apenas consegue tocá-lo, assim que não pode dizer nem quanto pesa, nem que  amplitude tinha aquele objeto; ou bem como outra criança que não conhecendo toda a  profundidade dos estudos, diz com ânsias que quer aprender tudo em breve, e Mal consegue  aprender as primeiras letras do alfabeto. Assim a criatura não pode dizer outra coisa que: “Toquei

lhe, é belo, é grande, não há bem que não possua.” Mas quão belo é, quanta grandeza contém,  quantos bens possui, não sei dizê-lo, ou seja, pode dizer de Deus as primeiras letras do alfabeto,

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deixando para trás toda a profundidade dos estudos. Assim, meus caríssimos irmãos, anjos e  santos, mesmo estando no Céu, como criaturas não têm a capacidade de compreender em tudo o  seu Criador, são como tantos recipientes cheios de Deus, que querendo enchê-los de mais se  derramam fora. Eu acho que eu estou dizendo muitas loucuras, por isso eu colocar ponto.

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Outubro 3, 1901

Luisa é oferecida de modo especial.

Não há obstáculo maior para

a união com Deus, que a vontade humana

(1) Tendo recebido a comunhão, estava pensando como oferecer uma coisa mais especial a Jesus,  como atestar-lhe meu amor e dar-lhe um maior gosto; então lhe disse: “Caríssimo Jesus meu,  ofereço-te o meu coração para a tua satisfação e como louvor eterno, e ofereço-te a mim mesma,  até mesmo as partículas mínimas do meu corpo, como tantos muros para os pôr diante de Ti para  impedir qualquer ofensa que te seja feita, aceitando-as todas sobre mim, se possível, e a teu  prazer até o dia do juízo; e porque quero que minha oferta seja completa e te satisfaça por todos,  tenho intenção de que todas as penas que sofrerei ao receber sobre mim as ofensas, te  recompensem de toda aquela glória que te deviam dar os santos que estão no Céu quando  estavam na terra, aquela que te deviam dar as almas do purgatório e aquela glória que te deviam  dar todos os homens passados, presentes e futuros, ofereço-te por todos em geral e por cada um  em particular”. Assim que terminei de dizer isto, o bendito Jesus, tudo comovido por tal oferta me  disse:

(2) “Minha amada, tu mesma não podes entender o grande contentamento que me deste com te  oferecer deste modo, curaste-me todas as minhas feridas e me deste uma satisfação por todas as  ofensas passadas, presentes e futuras, e Eu tê-la-ei em conta por toda a eternidade como uma jóia  preciosa que me glorificará eternamente, e cada vez que a veja te darei nova e maior glória eterna.  (3) Minha filha, não pode haver obstáculo maior que impeça a união entre Mim e as criaturas, e que  se oponha a minha Graça, que a própria vontade. Tu, que me ofereceste o teu coração para a  minha satisfação, te esvaziaste de ti mesma, e te esvaziei de ti; tudo me verterei em ti, e do teu  coração me virá um louvor que me trará as mesmas notas dos louvores do meu coração, que  continuamente dá a meu Pai para satisfazer à glória que não lhe dão os homens”.

(4) Enquanto dizia isto, via que mediante minha oferta saíam de todas as partes de mim mesma  muitos rios que se derramavam sobre o bendito Jesus, e que depois, com ímpeto e mais  abundantes, os derramava sobre toda a corte celestial, sobre o purgatório e sobre todas as nações.  Oh bondade de meu Jesus ao aceitar um tão mísero oferecimento, que o recompensa com tanta  graça! Oh! prodígio das santas e piedosas intenções, se em todas as nossas obras, mesmo triviais,

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nos aproveitássemos delas, que negócio não faríamos? Quantas propriedades eternas não  adquiriríamos? Quanta glória de mais não daríamos ao Senhor?

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Outubro 8, 1901

Quando a alma trabalha unida com Jesus, 

suas ações têm os mesmos efeitos do agir dEle.  

Valor da intenção.  

(1) Esta manhã sofri muito por esperar por meu adorável Jesus, mas enquanto o esperava fazia  quanto mais podia unir tudo o que estava fazendo em meu interior com o interior de Nosso Senhor,  tentando lhe dar toda aquela glória e reparação que lhe dava sua Humanidade Santíssima. Agora,  enquanto fazia isto, o bendito Jesus veio e me disse:

(2) “Minha filha, quando a alma se serve de minha Humanidade como meio para obrar, ainda que  seja só um pensamento, um respiro, um ato qualquer, são como tantas gemas que saem de minha  Humanidade e se apresentam ante a Divindade, e como saem por meio de minha Humanidade,  têm os mesmos efeitos de meu agir quando estava sobre a terra”.

(3) E eu: “Ah Senhor! sinto como uma dúvida, como pode ser que com a simples intenção no agir,  mesmo nas mais mínimas coisas, enquanto considerando-as são coisas de nada, vazias, e parece  que a única intenção da união Contigo e de te agradar só a Ti, as enche, e Tu as elevas naquele  modo supremo fazendo-as aparecer como coisas grandíssimas?”

(4) “Ah minha filha! Vazio é o obrar da criatura, ainda que fosse uma obra grande; é a união comigo  e a simples intenção de me agradar a Mim o que o enche, e como meu agir, ainda que fosse um  respiro, excede em modo infinito a todas as obras das criaturas juntas, eis a causa que o faz tão  grande, e além disso, não sabes tu que quem se serve da minha Humanidade como meio para  obrar suas ações, vem a nutrir-se dos frutos de minha mesma Humanidade, e a alimentar-se de  meu mesmo alimento? Além disso, não é porventura a boa intenção o que torna o homem santo, e  a má intenção o que o torna perverso? Nem sempre se fazem coisas diversas, mas com as  mesmas ações um se santifica e o outro se perverte”.

(5) Enquanto dizia isto, via dentro de nosso Senhor uma árvore verde, cheia de belos frutos, e aquelas almas que trabalhavam para agradar somente a Deus e por meio de sua Humanidade as  via dentro Dele, sobre desta árvore, e sua Humanidade servia de quarto a estas almas. Mas como  era raro o seu número!

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Outubro 11, 1901

Silêncio de Jesus. O alimento mais necessário é a paz. 

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(1) Tendo passado vários dias de privação e de silêncio, esta manhã ao vir continuava seu silêncio,  e se bem o tive quase sempre comigo, por quanto fiz não consegui fazê-lo dizer uma só palavra,  parecia que tinha uma coisa em seu interior que o amargava, Tanto, que o deixava taciturno e não  queria que eu soubesse. Agora, enquanto Jesus estava Comigo, pareceu-me ver a Rainha Mãe, e  ao ver Jesus comigo disse-me:

(2) “Tens? Menos mal que está contigo, porque se deve desafogar sua justa ira, estando contigo o  detenhas; minha filha, pede-lhe que detenha os flagelos, porque os maus estão todos prontos para  sair, mas se vêem atados por uma potência suprema que o impede, e também porque se a justiça  divina não permitir que o façam quando lhes agrade, se terá este bem, que conhecerão a  autoridade divina sobre eles e dirão: “Fizemos isto porque nos foi dado o poder do alto”. Minha  filha, que guerra se esconde no mundo moral, dá horror vê-lo; não obstante, o primeiro alimento  que se deveria procurar na sociedade, nas famílias e por cada alma, deveria ser a paz, todos os  outros alimentos se tornam insalubres sem ela, ainda que sejam as mesmas virtudes, a caridade, o  arrependimento, sem a paz não levam nem saúde nem verdadeira santidade; no entanto, no  mundo de hoje, descartou-se este alimento da paz tão necessário e saudável, e não se quer mais  que turbulências e guerras. Minha filha, rogai, rogai.

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Outubro 14, 1901

Jesus mostra-se como um relâmpago, e faz-lhe 

compreender alguma coisa dos atributos divinos.

(1) O bendito Jesus vem de pressa, quase como um relâmpago, e nesse relâmpago faz sair de  dentro de seu interior, agora um distintivo especial de um atributo seu, e agora algum outro,  quantas coisas faz compreender naquele relâmpago; mas retirando-se aquele relâmpago a mente  permanece às escuras e não sabe dizer o que compreendeu naquele relâmpago de luz, muito mais  que sendo coisas que se referem à Divindade, a língua humana vê-se em dificuldades para as  poder dizer, e por quanto mais se esforça, mais muda fica, mas bem nestas coisas é sempre uma  menina recém-nascida. Mas a obediência quer que me esforce em dizer o pouco que possa, e eis aqui: “Parecia-me que todos os bens Deus os contém em Si mesmo, de modo que, encontrando  em Deus todos os bens que Ele contém, não é necessário ir a outra parte para ver a amplitude de  seus confins, não, senão que Ele só basta para encontrar tudo o que é seu. Agora, num relâmpago  mostrava um distintivo especial de sua beleza; mas quem pode dizer como é belo? Só sei dizer  que comparadas todas as belezas angélicas e humanas, as belezas da variedade das flores e dos  frutos, o esplêndido azul e estrelado céu, que parece que olhando-o nos hipnotiza e nos fala de  uma beleza suprema, são sombras ou alento que Deus tem mandado da beleza que nele contém,  ou seja, como pequenas gotas de orvalho comparadas com as imensas águas do mar. Passo

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adiante pois minha mente começa a se perder. Em outro relâmpago mostrava um distintivo  especial do atributo da caridade, mas, ó Deus três vezes Santo! Como poderei eu, miserável, falar  sobre este atributo, que é a fonte da qual derivam todos os outros atributos? Direi apenas o que  compreendi dele com respeito à natureza humana. Compreendi que Deus ao criar-nos, este  atributo da caridade se derrama em nós e nos enche tudo de Si, de modo que se a alma  correspondesse, estando cheia do sopro da caridade de Deus, a mesma natureza deveria  transformar-se em caridade para com Deus. Ao contrário, conforme a alma se vai difundindo no  amor das criaturas, ou dos prazeres, ou do interesse, ou de qualquer outra coisa, aquele sopro  divino vai saindo da alma, e se chega a difundir-se em tudo, a alma fica vazia da caridade divina. E  como ao Céu não se entra se não se é um complexo de caridade puríssima, toda divina, se a alma  se salva, este sopro recebido ao ser criada, o irá a readquirir a força de fogo nas chamas  purgantes, e só sairá quando chegar a transbordar desta caridade, então quem sabe que longa  etapa terá que acontecer naquele lugar expiatório. Agora, se a criatura tem que ser assim, o que  será o Criador? Creio que estou dizendo muitos disparates, mas não me surpreendo porque não  sou para nada nenhuma douta, sou sempre uma ignorante, e se há alguma coisa de verdade  nestes escritos não é minha, mas de Deus, e eu fico sempre a ignorante que sou.

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Outubro 21, 1901

A reta intenção. Tudo o que não se faz por Deus fica 

perdido como pó ante um vento impetuoso. 

(1) Esta manhã, o bendito Jesus ao vir parecia que fazia um cerco com seus braços como para me  fechar dentro, e enquanto me estreitava me disse:

(2) “Minha filha, quando a alma faz tudo por Mim, tudo fica encerrado dentro deste cerco, nada fica  fora, assim fora um suspiro, um latido, um movimento qualquer, tudo entra em Mim, e em Mim tudo  fica numerado e Eu em recompensa os derramo na alma, mas duplicados de graça, de modo que a  alma derramando-os novamente em Mim, e Eu nela, chega a adquirir um capital surpreendente de  graça, e tudo isto é meu deleite, isto é: “Dar à criatura o que me deu como se fosse coisa sua,  acrescentando sempre do meu”. E quem com sua ingratidão impede que lhe dê o que quero,  impede minhas inocentes delícias. Agora, quem não trabalha por Mim, tudo fica fora de meu cerco,  espalhado como o pó por um vento impetuoso”.

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Outubro 25, 1901

A privação faz saber de onde vêm as coisas  

e a preciosidade do objeto perdido.

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(1) Depois de ter passado vários dias de temores e dúvidas sobre meu estado, acreditando todo  um trabalho de minha fantasia, e às vezes se fixava tanto minha mente nisto, que chegava a me  lamentar e a me desagradar com Nosso Senhor dizendo: “Que pena, que desgraça a minha ser  vítima de minha fantasia, acreditava ver-te a Ti e em troca era toda alucinação da fantasia,  acreditava cumprir seu Querer estando por tanto tempo nesta cama, e quem sabe se não foi  também um fruto da fantasia! Senhor, dá pena, dá espanto só de pensar; teu Querer adoçava tudo,  mas isto me amarga até a medula dos ossos; ah! dá-me a força de sair deste estado de fantasia”.  E o tinha tão fixo que não podia me distrair, tanto, que chegava a pensar que a fantasia me teria  preparado um lugar no inferno; se bem que buscava libertar-me dizendo: “Bem, me servirei da  fantasia para poder amá-lo no inferno.

(2) Agora, enquanto me encontrava nesta fixação, o bendito Jesus quis aumentar minha dolorosa  situação, com mover-se dentro de mim dizendo: “Não preste atenção a isto, de outra maneira Eu te  deixo e te farei ver se sou Eu quem venho ou é sua fantasia que engana”.

(3) Apesar disso, eu não me preocupei por então dizendo: “Ah! , não terá ânimo de fazê-lo, é tão  bom.” No entanto, na verdade ele fez.

(4) É inútil dizer o que passei alguns dias privada de Jesus, me prolongaria muito, só ao me  lembrar se me gela o sangue nas veias, por isso passo adiante. Agora, tendo dito tudo isto ao  confessor, parece que ele foi o meu mediador. Tendo começado a pedir juntos que se dignasse vir,  senti-me perder os sentidos e fazia-se ver de muito longe, quase zangado que não queria vir. Eu  não me atrevia, mas o confessor insistia unindo a intenção de que me participasse a crucificação,  então para contentar o confessor aproximou-se e me participou as dores da cruz, e depois como se  tivesse feito as pazes me disse:

(5) “Era necessário que te privasse de Mim, de outra maneira não te terias convencido se fosse Eu  ou bem a tua fantasia. A privação serve para fazer conhecer de onde vêm as coisas e a  preciosidade do objeto perdido, e para estimá-lo mais quando se recobra”.

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Novembro 22, 1901

O eu carrega a marca de todas as ruínas, sem o eu tudo é segurança. 

(1) Depois de ter passado dias amargos de lágrimas, de privações e de silêncio, meu pobre  coração não pode mais; tanto é a dor fora de meu centro Deus, que continuamente sou lançada  entre profundas ondas de feroz tempestade, em estado de forte violência em que sofro a cada  momento a morte, e o que é mais, não poder morrer. Então, encontrando-me nesta situação, por  pouco se fez ver e me disse:

(2) “Minha filha, quando uma alma faz em tudo a vontade de outra, diz-se que tem confiança  naquela, por isso vive do querer da outra e não do seu, assim quando a alma faz em tudo minha

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Vontade, Eu digo que tem fé, assim que o Divino Querer e a fé são ramos produzidos de um só  tronco, e como a fé é simples, a fé e o Divino Querer produzem o terceiro ramo da simplicidade, e  assim a alma readquire em tudo as características de pomba. Não queres então ser a minha  pomba?”

(3) Em outra ocasião me disse:

(4) “Minha filha, as pérolas, o ouro, as gemas, as coisas mais preciosas, têm-se bem guardadas  dentro de algum cofre e com dupla chave. Por que você teme então se te tenho bem guardada no  cofre da santa obediência, custódia muito segura onde não uma, mas duas chaves têm bem  fechada a porta para ter proibido o acesso a qualquer ladrão, e mesmo à sombra de qualquer  defeito? Só o eu carrega a marca de todas as ruínas, mas sem o eu tudo é segurança”.

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Dezembro 27, 1901

Jesus: fornecedor da Santíssima Trindade. Separação dos sacerdotes. (1) É inútil dizer meu pobre estado, como me reduzi, seria um querer recrudescer e fazer mais  profundas as chagas de minha alma, por isso passo tudo em silêncio fazendo uma oferta ao  Senhor. Então esta manhã, enquanto chorava a perda do meu adorável Jesus, veio o confessor e  deu-me a obediência de pedir ao Senhor que se dignasse vir. Parece que veio, e tendo posto o  confessor a intenção da crucifixão, participou-me as dores da cruz, e enquanto isso fazia disse ao  confessor:

(2) “Eu fui fornecedor da Santíssima Trindade, isto é: Entreguei às pessoas a potência, sabedoria,  caridade das Divinas Pessoas. Tu, sendo minha representante, não deves fazer outra coisa senão  continuar minha mesma obra para as almas, e se não te interessares vens a destroçar a obra  iniciada por Mim, e Eu me sinto defraudado na execução de meus designos, e sou obrigado a  retirar a potência, A sabedoria, a caridade que vos teria dado se tivesses cumprido a obra que te  confiei”.

(3) Depois disto parecia que me transportava para fora de mim mesma, e de longe se via uma  multidão de pessoas, da qual vinha uma peste insuportável e Jesus disse:

(4) “Minha filha, que divisão farão os sacerdotes entre eles, e este será o último golpe para  fomentar entre os povos partidos e revoluções”.

(5) E dizia-o tão amargo que dava compaixão. Depois disto, lembrando-me do meu estado, disse lhe: “Diz-me, Senhor meu, queres que me faça dar a obediência para acabar de estar neste  estado? Sobretudo que não sofrendo mais como antes me sinto inútil”. E Ele Respondeu-me:  (6) “Justo”.

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(7) Mas muito aflito, e o meu coração ficou inquieto como se não quisesse que me dissesse isso.  Então eu respondi: “Mas, Senhor, não porque eu queira sair, mas quero conhecer o teu Santo  Querer, porque como o meu estado era porque Tu vinhas a mim e me participavas os teus  sofrimentos, tendo cessado isto, temo que nem sequer queiras que continue na cama”. E Jesus  disse:

(8) “Você tem razão, você tem razão”.

(9) Mas o quê? O meu coração estava despedaçado pelas respostas dadas por Jesus bendito, e  acrescentei: “Mas meu Senhor, dize-me pelo menos qual é maior glória para Ti, que continue assim  mesmo que tenha que morrer, ou que me faça dar a obediência que termine meu estado?” E  Jesus, vendo que não terminava com isto, Ele mesmo mudou tema dizendo-me:

(10) “Minha filha, sinto-me ofendido por todos, olha, mesmo as almas devotas têm os olhos fixos  para examinar se o que fazem é ou não é culpa, mas emendar-se, extirpar a culpa, isso não, e isto  é sinal de que não há nem dor nem amor, porque a dor e o amor são dois unguentos  extremamente eficientes que aplicados à alma a deixam perfeitamente curada; e um corrobora e  fortifica principalmente ao outro”.

(11) Mas eu pensava em minha pobre situação, e queria lhe dizer de novo para conhecer a  Vontade do Senhor com clareza; mas Jesus me desapareceu, e eu retornando em mim mesma me  via toda confusa sobre o que fazer, então para estar segura expus tudo à obediência, Que quer  que continue no meu estado. Seja sempre feita a Vontade do Senhor.

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Dezembro 29, 1901  

As tribulações são necessárias a quem vive à sombra de Jesus.  

(1) Estando toda oprimida, apenas vi a minha adorável Jesus, que olhando para mim disse:  (2) “Minha filha, para quem vive à minha sombra é necessário que soprem os ventos das  tribulações, a fim de que o ar infectado ao seu redor não possa penetrar nele, embora esteja sob  minha sombra; assim que os ventos contínuos, agitando sempre este ar insalubre, o têm sempre  distante e fazem soprar um ar puríssimo e saudável”.

(3) Ao terminar desapareceu, e eu compreendia muitas coisas sobre isto, mas não é necessário  explicá-las porque creio que é fácil compreender o significado.

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Janeiro 6,1902

Efeitos portentosos de unir a nossa vida com a de Jesus. 

Duas palavras sobre a morte. 

(1) Estando em meu habitual estado, depois de ter esperado muito, veio por pouco meu

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amadíssimo Jesus, e pondo-se junto a mim me disse:

(2) “Minha filha, quem busca uniformizar-se em tudo a minha vida, não faz outra coisa que  adicionar um perfume de mais e diferente a tudo o que fiz em minha vida, de modo de perfumar o  Céu, toda a Igreja, e mesmo os mesmos maus sentem exalar este perfume celestial, tanto, que  todos os santos não são outra coisa que tantos perfumes, e o que mais alegra à Igreja e ao Céu é  que são distintos entre eles. Não só isto, mas quem busca continuar minha vida, obrando o que fiz,  até onde pode, e onde não pode, ao menos com o desejo e com a intenção, Eu o tenho em minhas  mãos como se estivesse continuando toda minha vida em dita alma, não como coisa passada, mas  como se no presente vivesse, e isto é um tesouro em minhas mãos, que duplicando o tesouro de  tudo o que fiz, disponho-o para o bem de todo o gênero humano. Então, você não gostaria de ser  um destes?”

(3) Eu me senti toda confusa e não soube o que responder, e Jesus desapareceu; mas pouco  depois voltou, e ao mesmo tempo via várias pessoas que temiam muito a morte. Então eu, vendo  isto, disse: “Meu Jesus gentil, será defeito em mim não temer a morte, enquanto vejo que tanto a  temem os demais? e eu em vez disso, pensando só que a morte me unirá para sempre Contigo e  terminará o martírio de minha dura separação, o pensamento da morte não só não me dá nenhum  temor, senão que me é de alívio, me dá paz e faço festa por isso, deixando de lado todas as  demais consequências da morte”.

(4) E Jesus: “Filha, na verdade esse temor extravagante de morrer é loucura, já que cada um tem  todos meus méritos, virtudes e obras como passaporte para entrar no Céu, havendo-os dado em  doação a todos, e muito mais se aproveitando esta doação minha acrescentou o seu, e com todas  estas coisas, que medo se pode ter da morte? Enquanto que com este passaporte seguro a alma  pode entrar onde quiser, e todos por consideração do O passaporte é respeitado e passado.  Quanto a ti, este não temer nada a morte é por ter tratado Comigo, e ter experimentado como é  doce e amada a união com o sumo Bem, mas deves saber que a homenagem mais agradável que  me pode oferecer, é desejar morrer para unir-se Comigo, e é a mais bela disposição da alma para  purgar-se e sem nenhum intervalo passar diretamente pelo caminho ao Céu”. Dito isto  desapareceu.

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Janeiro 11, 1902  

O amor para ser perfeito deve ser triplo. Fala do divórcio.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, por um pouco vi o meu adorável Jesus, e eu,  assim que o vi, disse-lhe: “Doce Bem meu, diz-me, continuas a amar-me?”

(2) E Ele: “Sim, mas sou amante e ciumento, zeloso e amante, mas bem te digo que para ser

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perfeito o amor deve ser triplo, e em Mim há esta tripla condição de amor: Primeiro, amo-te como  Criador, como Redentor e como Amante. Segundo, te amo em minha onipotência, que me serviu  para te criar e criar tudo por amor teu, de modo que o ar, a água, o fogo e todo o resto te dizem  que te amo e que por amor teu os fiz; te amo como minha imagem, e te amo por ti mesma.  Terceiro, eu te amo ab eterno, te amo no tempo e te amo por toda a eternidade. E isto não é outra  coisa que um sopro que saiu fora do meu amor; imagina tu que será aquele amor que contenho em  Mim mesmo.

(3) Agora, tu estás obrigada a retribuir-me este triplo amor, amando-me como teu Deus, no qual  deves fixar-te toda, e não fazer sair nada de ti que não seja amor por Mim, amando-me por tua  conta e pelo bem que a ti vem, e amar-me por todos e em todos”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma e me encontrei no meio de muitas  pessoas que diziam: “Se se confirmar esta lei, pobre mulher, tudo lhe será para mal”. E todos  esperavam ansiosamente ouvir o pró ou o contra, e se via em outro lugar isolado que estavam  muitas pessoas discutindo entre elas, e um deles tomava a palavra e os e, tendo fatigado muito,  saiu à porta, e disse: Certamente sim, em favor da mulher. Ao ouvir isso, todos os de fora faziam  festa, e os de dentro ficavam todos confundidos, tanto que nem sequer tinham coragem de sair.

(5) Acho que é esta lei do divórcio que dizem, e eu compreendia que não a confirmaram.

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Janeiro 12, 1902

A cegueira dos homens. Jesus fala do divórcio. As contradições são pérolas preciosas.  (1) Parece que continua a vir um pouco meu adorável Jesus, aliás, esta manhã transportando-me  para fora de mim mesma fazia-me ver os graves males da sociedade, e as suas grandes

amarguras, e derramou abundantemente em mim parte do que o amargava, e depois disse-me:  (2) “Minha filha, olha um pouco até onde chegou a cegueira dos homens, até querer formar leis  iníquas e contra eles mesmos e seu bem-estar social; minha filha, por isso te chamo de novo aos  sofrimentos, a fim de que oferecendo-te Comigo à Divina Justiça, aqueles que devem combater  esta lei do divórcio obtenham luz e graça eficaz para resultar vitoriosos. Minha filha, Eu tolero que  façam guerras, revoluções, que o sangue dos novos mártires inunde o mundo, isto é honra para  Mim e para minha Igreja, mas esta lei brutal é uma afronta à Igreja, e a Mim é abominável e  intolerável”.

(3) Enquanto dizia isto, vi um homem que lutava contra esta lei, cansado e sem forças, em atitude  de querer retirar-se da empresa; então junto com o Senhor o incentivamos e ele respondeu: “Vejo me quase só para lutar, e impossibilitado para obter o propósito”. Eu lhe disse: “Coragem, porque

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as contradições são tantas pérolas das quais o Senhor se servirá para adorná-los no Céu”. E ele  tomou fôlego e seguiu com a empresa.

(4) Depois disto vi outro todo ocupado, pensativo, não sabendo o que decidir, e alguns lhe diziam:  “Sabes o que queres fazer? Sai, sai de Roma”. E ele: “Não, não posso, é palavra dada a meu pai,  exporei minha vida, mas sair jamais”.

(5) Depois que nos retiramos, Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma  + + + +.

4-102

Janeiro 14, 1902

Não se é digno de Jesus se não se esvazia de tudo.  

Em que consiste a verdadeira exaltação.

(1) Estando em meu estado habitual veio meu adorável Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, não pode ser verdadeiramente digno de Mim, senão só quem esvaziou tudo de  dentro de si, e se encheu tudo de Mim, de modo a formar de si mesmo um objeto todo de amor  divino, tanto, que meu amor deve chegar a formar sua vida e a me amar não com seu amor, mas  com meu amor”.

(3) Depois acrescentou: “O que significam aquelas palavras: “Depôs do trono os poderosos e tem  exaltado os pequenos?” Que a alma destruindo-se totalmente a si mesma se enche toda de Deus,  e amando a Deus com o próprio Deus, Deus exalta a alma a um amor eterno, e esta é a verdadeira e a maior exaltação e ao mesmo tempo a verdadeira humildade”.

(4) Depois continuou: “O verdadeiro sinal para conhecer se se possui este amor, é se a alma não  se ocupa de nenhuma outra coisa senão de amar a Deus, de fazê-lo conhecer, e fazer que todos o  amem”.

(5) Depois, retirando-se em meu íntimo ouvi que rezava dizendo:

(6) “Sempre Santa e indivisível Trindade, vos adoro profundamente, vos amo intensamente, vos agradeço perpetuamente por todos e nos corações de todos”.

(7) E assim a passei, ouvindo quase sempre que rezava dentro de mim e eu junto com Ele. + + + +

4-103

Janeiro 25, 1902

A febre do amor faz a alma embarcar no voo para o Céu. 

Reprovações de Jesus. 

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, veio o meu adorável Jesus, e assim que o vi, eu  disse: “Amado Bem meu, não posso mais, leva-me de uma vez para sempre contigo para o Céu,  ou fica para sempre comigo sobre esta terra”.

(2) E Ele: “Faz-me observar até onde chegou a febre do teu amor, porque assim como a febre  natural quando chega a um grau alto tem virtude de consumir o corpo e fazê-lo morrer, assim a

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febre do amor, se chega a um grau altíssimo tem virtude de desfazer o corpo e fazer voar a alma,  nada menos do que para o Céu”.

(3) E, enquanto dizia, tomou o meu coração nas suas mãos para o rever, e prosseguiu dizendo-me: (4) “Minha filha, a força da febre do amor não chegou ao ponto; é preciso mais um pouco”.  (5) Depois fazia ver que queria verter, mas eu não lhe dizia nada, e Ele, quase me censurando,  docemente acrescentou:

(6) “Não sabes teu dever? Não sabe que a primeira coisa que deveria fazer ao me ver, é ver se há  em Mim alguma coisa que me aflige e amarga e me pedir que a derrame sobre você? Este é o  verdadeiro amor, sofrer as penas da pessoa amada, para poder ver em tudo contente a pessoa  que se ama”.

(7) Eu, envergonhada disto disse: “Senhor, derrama-te”. E Ele derramou e desapareceu. + + + +

4-104

Janeiro 26, 1902

A Rainha Mãe é enriquecida com as três prerrogativas da Santíssima Trindade.  (1) Esta manhã, enquanto me encontrava no meu habitual estado, via diante de mim uma luz  interminável, e compreendia que naquela luz habitava a Santíssima Trindade, e ao mesmo tempo  via diante dessa luz a Rainha Mãe que ficava toda absorvida pela Santíssima Trindade, E ela  absorvia em Si as Três Divinas Pessoas, de modo tal que ficava enriquecida com as três  prerrogativas da Trindade Sacrossanta, isto é: Potência, Sabedoria e Caridade, e assim como  Deus ama o gênero humano como parte de Si, e como partícula saída de Si, e deseja  ardentemente que esta parte de Si mesmo regresse a Ele mesmo, assim a Mãe Rainha,  participando nisto ama o gênero humano com amor apaixonado.

(2) Agora, enquanto isso compreendia, vi o confessor e pedi à Virgem Santíssima que intercedesse  por ele diante da Santíssima Trindade; Ela fez uma inclinação levando minha oração ao Trono de  Deus, e vi que do Trono Divino saía um fluxo de luz que cobria tudo ao confessor, e encontrei-me  em mim mesma.

+ + + +

4-105

Fevereiro 3, 1902

Oferece sua vida para que não se aprove a lei do divórcio.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma com meu adorável  Menino Jesus entre meus braços; primeiro derramou um pouco do que o amargava, e depois fazia

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como se se quisesse ir, e eu o apertando entre meus braços lhe disse: “Meu amado e vida de  minha vida, o que faz? Quer ir? E eu como faço? Não vê que quando estou privada de Ti é para  mim um contínuo morrer? E além disso, seu coração que é a mesma bondade não terá coragem  de fazê-lo, e eu jamais te deixarei partir”. E o apertava forte como se meus braços se tivessem  tornado correntes, assim que não podendo se soltar ficou comigo, calado, e eu, vendo que os  males da sociedade se agravavam mais ainda, disse-lhe: “Doce Bem meu, diz-me que será deste  divórcio que dizem, chegarão a formar esta lei ímpia ou não?”

(2) E Ele me disse: “Minha filha, o interior do homem contém um tumor gangrenoso, cheio de  podridão, como se tivesse chegado a supurar, e não podendo contê-lo mais dentro, querem cortar  este tumor, mas não para curar-se, senão para fazer que saindo parte desta podridão possa  contaminar, contagiar toda a sociedade. Mas o Sol divino, quase nadando no meio da sociedade  grita continuamente dizendo: “Ó homem, não te lembras de que fonte de pureza você saiu, que  como aura de luz te chamava a seu caminho? Como, não só te contaminaste, mas queres chegar a  agir contra a natureza, quase querendo dar outra forma à natureza que te dei, e do modo por Mim  estabelecido”.

(3) Depois disse muitas outras coisas que eu não sei dizer, mas o dizia com tanta amargura, que  eu não podendo resistir em vê-lo desse modo, disse:

(4) “Senhor, retiremo-nos, não vês como te amargam os homens e quase não te dão paz?”. Assim  nos retiramos para a cama, e querendo aliviar a meu bom Jesus lhe disse: “Se tanto te afliges que  os homens façam isto, eu te ofereço minha vida para sofrer qualquer pena e conseguir que não  cheguem a isso, e para fazer que de nenhum modo seja lançada novamente, a uno a seu sacrifício  para poder obter com segurança um reescrito de graça”. Enquanto dizia isto, parecia que o Senhor  apresentava a minha oferta à divina justiça. Ele desapareceu e eu encontrei-me em mim mesma.  (5) Parece que os homens a qualquer custo querem confirmar pelo menos algum artigo desta lei,  não podendo obter que a confirmem toda como eles querem e lhes agrada.

+ + + +

4-106

Fevereiro 8, 1902

Significados da Paixão de Jesus.

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus, participou-me parte da sua Paixão. Agora, enquanto

me encontrava sofrendo, o Senhor para me aliviar me disse:

(2) “Minha filha, o primeiro significado da Paixão contém glória, louvor, honra, agradecimento,

reparação à Divindade. O segundo é a salvação das almas e todas as graças necessárias para

obter esta finalidade. Então, quem participa nas penas de minha Paixão, sua vida contém estes

mesmos significados, não só, mas toma a mesma forma de minha Humanidade, e como dita

Humanidade está unida com a Divindade, também a alma que participa em minhas penas está em

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contato com a Divindade e pode obter o que quer. E mais, suas penas são como chaves para abrir

os tesouros divinos isto enquanto vive aqui abaixo, e depois lá no Céu também lhe está reservada

uma glória distinta que lhe é dada por minha Humanidade e Divindade, de modo a assemelhar-se a

minha mesma luz e glória, e será uma glória mais especial para toda a corte celestial, que lhe será

dada por meio desta alma, pelo que Eu lhe tenho comunicado, porque por quanto mais almas se

semearam a Mim nas penas, tanto mais de dentro da Divindade sairá luz e glória, e toda a corte

celestial participará desta glória”.

(3) Seja sempre bendito o Senhor, e tudo seja para sua glória e honra.

+ + + +

4-107

Fevereiro 9, 1902

Jesus põe-se à disposição da alma.

Ela pede o milagre de que não se confirme a lei do divórcio.

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus ao vir me participou em abundância suas penas, tanto que

me sentia como se devesse morrer. Enquanto me sentia em tal estado, o bendito Jesus

enternecido e comovido ao me ver sofrer se pôs em meu interior, e dobrando as mãos me Ele

disse:

(2) “Minha filha, como Tu tens estado à minha disposição para sofrer, assim também Eu para te

retribuir me ponho à tua disposição, diz-me o que queres que faça, porque estou pronto para fazer

o que tu queres”.

(3) Então eu, lembrando-me de quanto lhe desagradaria se os homens confirmassem a lei do

divórcio e os males que à sociedade viriam, lhe disse: “Doce Bem meu, já que te dignas pôr-te à

minha disposição, quero que com tua onipotência obres um prodígio, que acorrentando a vontade

das criaturas não possam confirmar esta lei”. E o Senhor parecia aceitar a minha proposta,

dizendo-me: “Quase todas as vítimas que houve sobre a terra e que agora se encontram no Céu,

têm alguma estrela brilhantíssima nas suas coroas, que as fazem distinguir bem pelo lugar que

ocupam, e estas estrelas não são outra coisa que alguma glória grande que têm procurado a Deus,

e ao mesmo tempo, por seu meio um bem grande à humanidade. Tu queres que eu faça um

prodígio para não deixar que se confirme este divórcio, pois de outra maneira não se poderia evitar

isto, pois bem, por amor teu realizarei este prodígio, e esta será a estrela mais resplandecente que

resplandecerá em tua coroa, isto é, por haver impedido com teus sofrimentos que minha justiça,

nestes tristes tempos, às tantas maldades que cometem, permita também este mal que eles

mesmos têm querido. Assim, pode-se dar maior glória a Deus e mais bem aos homens?” e esta

será a estrela mais resplandecente que resplandecerá em tua coroa, isto é, por haver impedido

com teus sofrimentos que minha justiça, nestes tristes tempos, às tantas maldades que cometem,

permita também este mal que eles mesmos têm querido. Assim, pode-se dar maior glória a Deus e

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mais bem aos homens?”

+ + + +

4-108

Fevereiro 17, 1902

Explica-lhe o que é a morte.

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, finalmente encontrei a mim dulcíssimo Jesus e

queixando me com Ele lhe disse: “Amado Bem meu, como me fazes esperar tanto? Acaso não

sabes que sem Ti não posso viver e minha alma sente um contínuo morrer?”

(2) E Ele: “Amada minha, cada vez que você me busca a Mim, prepara-se para morrer, porque na

realidade, o que é a morte senão a união estável e permanente Comigo? Tal foi a minha vida, um

contínuo morrer por amor de ti, e esta contínua morte foi a preparação para o grande sacrifício de

morrer na cruz por ti. Deve saber que quem vive em minha Humanidade e se alimenta das obras

dela, forma de si mesmo uma grande árvore, cheia de flores e frutos abundantes, e estes formam o

alimento de Deus e da alma. Quem vive fora da minha humanidade, suas obras são odiosas a

Deus e infrutíferas para si mesmo”.

(3) Depois disto, o Senhor derramou abundantemente em mim amarguras e doçuras misturadas,

logo giramos um pouco no meio das nações, e eu não podia separar o meu olhar do rosto do meu

amado Jesus, e Ele vendo isto me disse:

(4) “Minha filha, quem se deixa seduzir pelas obras do Criador, deixa suspensas as obras das

criaturas”.

(5) Ele desapareceu e eu encontrei em mim mesma.

+ + + +

4-109

Fevereiro 19, 1902

A alma é como tela que recebe em si o retrato da imagem divina.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu adorável Jesus se fazia ver que dormia em meu

interior, irradiando de Si muitos raios de luz dourados. Eu estava feliz em vê-lo, mas ao mesmo

tempo descontente por não poder ouvir a doçura e suavidade de sua voz criadora. Então, depois

de muito esperar voltou a fazer-se ver, e vendo meu descontentamento me disse:

(2) “Minha filha, no ministério público é necessário o uso da voz para fazer-me entender, mas no

ministério privado minha única presença basta para tudo, porque me ver e entender a harmonia de

minhas virtudes para copiá-las em si mesma, é o mesmo, portanto a atenção da alma deve estar

em ver-me e em uniformar-se em tudo às operações interiores do Verbo, porque quando Eu atraio

a alma a Mim, pode-se dizer, ao menos por esse tempo, que a tenho em minha presença, que faz

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vida divina. Sendo minha luz como pincel para pintar, minhas virtudes fornecem as diferentes

cores, e a alma é como tela que recebe em si o retrato da imagem divina. Acontece como aquelas

pontes altas, que quanto mais altas tanto mais precipitam ao debaixo de uma chuva abundante;

assim a alma, diante da minha presença, se põe no estado que lhe convém, ou seja, no baixo, no

nada, tanto que se sente destruído, e a Divindade a torrentes faz chover a graça sobre ela e chega

a submergi-la em Si mesmo, por isso deves estar contente de tudo, se falo, e contente se não falo”.

(3) Ao dizer isto, senti-me como mergulhar em Deus, e depois encontrei-me em mim mesma.

+ + + +

4-110

Fevereiro 21, 1902

A palavra de Jesus foi simples, a entendiam

os doutos como os mais ignorantes.

Os pregadores destes tempos dão tantas voltas,

que os povos ficam em jejum e ferrados; vê-se que não a tomam da fonte divina.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus se fazia ver em meu interior

como querendo descansar, mas enquanto parecia que repousava, como se tivesse recebido uma

ofensa que não podia suportar, acordando me disse:

(2) “Minha filha, tem paciência, faz-me derramar em ti esta amargura que não me dá descanso”.

(3) E assim dizendo, derramou em mim o que o amargurava, e tomou seu aspecto doce de modo

de poder descansar, e continuava a estar em meu interior, espalhando tantos raios de luz, de modo

de formar uma rede de luz para tomar todos os homens dentro daquela rede, só que uns recebiam

mais daquela luz e outros menos. Enquanto via isto, Nosso Senhor disse-me:

(4) “Minha amada, quando faço silêncio é sinal que quero repouso, isto é, que Tu repousas em Mim

e Eu em Ti. Quando falo é sinal de que quero vida ativa, isto é, que me ajude na obra da salvação

das almas; porque sendo minhas imagens, o que a elas se faz eu considero feito a Mim mesmo”.

(5) Ao dizer isto via alguns sacerdotes, e Jesus como lamentando-se com eles acrescentou:

(6) “Meu falar foi simples, tanto que o fazia compreender aos doutos e aos mais ignorantes, como

se vê com clareza no santo evangelho. Mas os pregadores destes tempos, tantas voltas e voltas

misturam, que os povos ficam em jejum e ferrados, vê-se que não o tomam da fonte de minha

fonte”.

+ + + +

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Fevereiro 24, 1902

A Rainha Mãe fala-lhe de suas dores. Ela continua a falar sobre o divórcio.

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(1) Estando em meu estado habitual, veio a Rainha Mãe e me disse:

(2) “Minha filha, as minhas dores, como dizem os profetas, foram um mar de dores, e no Céu

mudaram-se num mar de glória, e cada uma das minhas dores frutificou outros tantos tesouros de

graça; e assim como na terra chamam-me estrela do mar, que com segurança guia ao porto, assim

no Céu me chamam estrela de luz para todos os bem-aventurados, de modo que são recriados por

esta luz que me produziram minhas dores”.

(3) Enquanto estava nisto veio o meu adorável Jesus dizendo-me:

(4) “Minha amada, não há coisa que me seja mais querida e agradável que um coração justo que

me ama, e vendo-me sofrer me pede que sofra ela o que sofro Eu, isto me ata tanto, e tem tanta

força sobre meu coração, que por recompensa lhe dou tudo Eu mesmo, e lhe concedo as maiores

graças e o que ela quer; e se não fizesse isto, tendo-lhe feito doação de Mim, sinto que por

quantas coisas não lhe dou, tantos furtos lhe faço, ou seja, tantas dívidas contraio com ela”.

(5) Depois me transportou para fora de mim mesma, e Jesus acrescentou:

(6) “Minha filha, há certas ofensas que superam por muito os mesmos sofrimentos que sofri em

minha Paixão, como o dia de hoje em que recebi várias, que se não vertesse parte, minha justiça

me obrigaria a mandar sobre a terra ferozes flagelos; por isso deixe-me verter em ti”.

(7) Depois que derramou, não sei como, ouvindo-o falar das ofensas lhe disse: “Senhor, esta lei do

divórcio que dizem, é certo que não a confirmarão?”

(8) E Ele: “Por agora é verdade, porque depois, daqui a cinco, dez, vinte anos, ou que te suspenda

de vítima ou te possa chamar ao Céu, poderão fazê-lo, mas o prodígio de acorrentar sua vontade e

de confundi-los, por agora o fiz; mas se soubesses a raiva que têm os demônios e aqueles que

queriam esta lei, que tinham por certo obtê-la, é tanta, que se pudessem destruir qualquer

autoridade e fariam estragos por toda parte. Então para mitigar esta raiva e para impedir em parte

estes estragos, queres tu expor-te um pouco à sua ira?”

(9) E eu: “Sim, desde que venhas comigo”. E assim fomos a um lugar onde estavam demônios e

pessoas que pareciam furiosos, enfurecidos e enlouquecidos; assim que me viram correram sobre

mim como tantos lobos, e um me golpeava, outro me dilacerava as carnes, teriam querido destruir-

me, mas não tinham o poder. Mas eu, embora tenha sofrido muito, não os temia porque tinha

Jesus comigo. Depois disto reencontrei-me em mim mesma, cheia de várias penas. Seja sempre

bendito o Senhor.

+ + + +

4-112

Março 2, 1902

Efeitos da Fé.

(1) Esta manhã sentia-me toda pensativa, como se o Senhor quisesse novamente subtrair-me a

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sua presença, e portanto tirar-me os sofrimentos, também sentia um pouco de desconfiança.

Então, depois de muito esperar, assim que veio me disse:

(2) “Minha filha, quem da fé se nutre adquire vida divina, e adquirindo vida divina destrói a humana,

isto é, destrói em si os germes que produziu a culpa original, readquirindo a natureza perfeita como

saiu de minhas mãos, semelhante a Mim, e com isto vem a superar em nobreza à mesma natureza

angélica”.

(3) Dito isso, ele se foi.

+ + + +

4-113

Março 3, 1902

Castigos são necessários.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus não vinha, e eu me sentia

morrer por sua ausência. Depois, por volta da última hora, movido à compaixão de mim, veio e me

beijou e me disse:

(2) “Minha filha, é necessário que alguma vez não venha, de outra maneira como daria desabafo a

minha justiça? E os homens vendo que Eu não os castigo não fariam outra coisa que se

orgulhasse sempre mais; por isso são necessárias as guerras, os estragos; o princípio e o meio

serão dolorosíssimos, mas o fim será gozosíssimo, e além disso você sabe, que a primeira coisa é

a resignação à minha Vontade”.

+ + + + +

4-114

Março 5, 1902

O mau exemplo das cabeças.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, e depois de ter ido em busca de meu adorável

Jesus o reencontrei, mas para minha surpresa vi que tinha pregadas nos pés, nas plantas, muitos

espinhos que lhe davam dor e impediam-no de caminhar; Todo aflito se lançou em meus braços

como querendo encontrar repouso e que eu lhe tirasse aqueles espinhos, eu o estreitava e lhe

dizia: “Doce amor meu, se tivesse vindo nos dias passados não te cravaria tantos espinhos,

conforme te cravasse eu alguns os tiraria. Eis o que fez ao não vir”. E, enquanto isso lhe dizia, ia

tirando-lhe todos aqueles espinhos, e os pés do bendito Jesus derramavam sangue, e Ele sofria

pela forte dor. Depois disto, como se se tivesse aliviado quis também verter e depois disse-me:

(2) “Minha filha, que corrupção nos povos, que caminhos tortos percorrem! , mas nisto influenciou

o mau exemplo das cabeças, enquanto em quem possui a mínima de qualquer autoridade, o

espírito de desinteresse deveria ser luz para fazê-lo distinguir que é cabeça, e a justiça exercida

por ele deveria ser como fulgor para ferir os olhos dos presentes, de modo a não poder separá-los

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dele e de seus exemplos”.

(3) Dito isto desapareceu.

+ + + +

4-115

Março 6, 1902

Jesus é despojado de todo principado, de todo o regime e de toda a soberania.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ao vir se fazia ver tudo nu, como procurando cobrir-se em meu

interior, e me dizia:

(2) “Minha filha, despojaram-me de todo principado, de todo regime, de toda soberania, e para

readquirir estes meus direitos sobre as criaturas, é necessário que as despoje e quase as destrua,

e com isto saberão que onde não está Deus por princípio, por regime e por soberano, tudo leva à

destruição deles mesmos, e portanto à fonte de todos os males.

+ + + +

4-116

Março 7, 1902

A alma diante da presença Divina adquire em si mesma e copia os modos do obrar divino

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que vi meu amante Jesus me disse:

(2) “Minha filha, quando atraio a alma à minha presença tem este bem, que adquire em si mesma e

copia os modos do agir divino, de maneira que tratando depois com as criaturas, sentem nelas

mesmas a força do agir divino que essa alma possui”.

(3) Depois disto senti um temor, e era que se aquelas coisas que faço dentro de mim eram

aceitáveis ou não ao Senhor, e Ele acrescentou:

(4) “Por que temes enquanto tua vida está enxertada com a minha? E além disso, tudo o que

dentro de ti foi infundido por Mim, e muitas vezes o fiz Eu junto contigo, sugerindo-te o modo como

fazê-las para que fossem agradáveis a Mim; outras vezes chamei os anjos e juntos fizeram o que

tu fazias em teu interior, isto significa que eu gosto do que você faz, e que Eu mesmo te ensinei;

por isso segue e não temas”.

(5) Assim fiquei mais calma.

+ + + +

4-117

Março 10, 1902

A pena do amor é mais terrível que o inferno.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me fora de mim mesma, e como ia buscando a

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meu adorável Jesus e não o encontrava, repetia as buscas, os prantos, mas tudo em vão, não

sabia o que fazer, meu pobre coração agonizava e sentia uma dor tão aguda que não sei explicar,

Só sei dizer que não sei como fiquei viva. Enquanto me encontrava nesta dolorosa situação, mas

sempre procurando-o, sem poder nem um momento abster-me de fazer novas buscas, finalmente o

encontrei e lhe disse: “Senhor, como te fazes cruel comigo? Olhe um pouco Tu mesmo se são

penas que eu possa tolerar”. E toda sem forças me abandonei em seus braços, e Jesus

compadecendo-me toda e olhando-me disse:

(2) “Filha amada minha, tens razão, acalma-te, acalma-te que estou contigo e não te deixarei;

pobre filha, como sofres, a pena do amor é mais terrível que o inferno. Que coisa tiraniza mais, o

inferno, um amor contraposto, um amor odiado? O que pode tiranizar a uma alma mais que o

inferno? Um amor amado. Se você soubesse quanto sofro Eu ao te ver por minha causa tiranizada

por este amor; para não me fazer sofrer tanto deveria estar mais tranqüila quando te privo de

minha presença. Imagine você mesma, se Eu sofro tanto ao ver sofrer a quem não me ama e me

ofende, quanto mais sofrerei ao ver sofrer a quem me ama?”

(3) Então eu ao ouvir isto, toda comovida disse: “Senhor, diz-me ao menos se queres que me

esforce para sair deste estado sem esperar o confessor quando Tu não vens”.

(4) E Ele acrescentou: “Não, não quero que tu saias deste estado antes que venha o confessor,

deixa todo o temor, eu ponho-me no teu interior tendo as tuas mãos nas minhas, e ao contato de

minhas mãos saberá que estou com você”.

(5) Assim, quando me vem o desejo de querê-lo, sinto-me apertar as mãos pelas de Jesus, e

sentindo o contato divino me tranquilizo e digo: “É verdade, está comigo”. Outras vezes vindo mais

forte o desejo de vê-lo, sinto-me apertar mais forte as mãos pelas suas e me diz:

(6) “Luísa, minha filha, estou aqui, aqui estou, não me procure em outro lugar”.

(7) E assim parece que estou mais tranquila.

+ + + +

4-118

Março 12, 1902

Ameaça de castigos.

(1) Continuei a ver o meu adorável Jesus, isto é, no meu interior, mas via-o dentro de mim de

costas para o mundo, com um flagelo na mão em atitude de o mandar sobre as criaturas, e com

isto parecia que sucediam castigos sobre as colheitas, mortalidade de gente; e no momento de

mandar aquele flagelo tem dito palavras de ameaça, entre as quais somente recordo:

(2) “Eu não queria, mas vós mesmos tendes procurado que vos exterminasse, pois bem, os

exterminarei”.

(3) Disse isto desapareceu.

+ + + +

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4-119

Março 16, 1902

Não se devem buscar as próprias comodidades nem a estima e o

agradar aos outros, mas somente e unicamente agradar a Deus.

(1) Oh, quanto custa fazê-lo vir um pouco, é uma dor contínua e também medo de que não venha

mais. Oh Deus! Que pena, não sei como vivo, embora vivo morrendo. Então por pouco tempo se

fez ver em um estado que dava compaixão, com um braço mutilado, e todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, olha o que me fazem as criaturas, como queres você que não as castigue?”

(3) E, enquanto dizia isto, parecia que tomava uma cruz alta, de cujos braços dependiam seis ou

sete cidades, e sucediam diversos castigos. Ao ver isto sofri muito, e Ele querendo me distrair

daquela pena acrescentou:

(4) “Minha filha, tu sofres muito quando te privo de minha presença, e isto por necessidade te deve

acontecer, porque tendo estado por tanto tempo próxima, identificada com o contato da Divindade,

gozaste a tuas amplas tudo o agradável da luz divina, E quanto mais alguém gozou a luz, tanto

mais sente a privação dessa luz, e os aborrecimentos, os fastios e as penas que levam consigo as

trevas”.

(5) Depois repetiu: “Mas a coisa principal de cada um é que em cada pensamento seu, palavra e

obra, não busque o próprio interesse, nem a estima e o agradar aos demais, senão só e

unicamente o agradar a Deus”.

+ + + +

4-120

Março 18, 1902

A inquietação faz Jesus sofrer.

(1) Esta manhã me sentia inquieta pela ausência de meu adorável Jesus, e tendo recebido a

comunhão, enquanto veio a meu coração comecei a dizer muitos disparates: “Doce Bem meu, não

é coisa de ficar quieta quando não vem, pois Você ao me ver tranqüila abusa e não te dá nenhum

pensamento de vir, portanto é necessário dar passos, de outra forma não se consegue”. Ele, ao

ouvir-me, mexeu-se dentro de mim e fez-se ver em ato de sorrir, porque ouvia os meus disparates

e disse-me:

(2) “Então tu queres que eu sofra, porque sabendo que se estás inquieta Eu venho a sofrer, assim

que não tratar de estar tranqüila é o mesmo que querer me fazer sofrer mais”.

(3) E eu, louca como estava disse: “Melhor que sofras, porque por teu mesmo sofrimento podes ter

mais compaixão do meu sofrimento; e além disso, o sofrimento que te vem pelo pecado é feio, e

basta que não seja esse sofrimento”.

(4) E Jesus: “Mas se venho me obriga a não enviar castigos, enquanto são tão necessários. Então

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você deveria se juntar a mim e querer o que quero Eu”.

(5) E eu, lembrando-me do que tinha visto nos dias passados disse: “Que castigos? Que queres

matar as pessoas? Faça-as morrer, alguma vez devem ir a Ti e a sua própria pátria, contanto que

os salve; o que quero é que os liberte dos males contagiosos”. O Senhor não me prestou atenção e

desapareceu. Ao retornar se fazia ver sempre com as costas voltadas ao mundo, e por mais que

fizesse não consegui que o olhasse, e quando queria obrigá-lo pela força me disse:

(6) “Não me force, pois desta maneira me obriga a privar-te de minha presença”.

(7) Então fiquei com um remorso e sinto que cometi muitos erros.

+ + + +

4-121

Março 19, 1902

As criaturas corromperam-se por vontade própria.

Jesus não quer ter compaixão delas.

(1) Continuava com o remorso, mas o Senhor continuou vindo, e querendo reparar o que tinha feito

no dia anterior lhe disse: “Senhor, vamos ver o que fazem as criaturas, são suas imagens, não

queres ter compaixão delas?”

(2) E Ele: “Não, não quero ir, por vontade própria se corromperam e Eu permitirei que o que serve

para seu alimento lhes sirva de infecção; queres ir tu a ajudar, a consolar, a fazer alguma coisa?

Veja, mas Eu não”.

(3) Assim deixei o meu amado Jesus, e fui no meio das criaturas, ajudei alguém a morrer, e depois

vi de onde vinha o ar infectado, e fiz várias penitências para afastá-lo, e depois voltei; e continuava

a fazer-se ver o bendito Jesus, mas em silêncio.

+ + + +

4-122

Março 23, 1902

O apoio da verdadeira santidade é o conhecimento de si mesmo.

(1) Depois de ter esperado muito veio meu dulcíssimo Jesus, e me disse:

(2) “Minha filha, o apoio da verdadeira santidade está no conhecimento de si mesmo”.

(3) E eu: “Sério?

(4) E ele: “Certo, porque o conhecimento de si mesmo desfaz a si mesmo e apóia tudo no

conhecimento que adquire de Deus, de modo que seu agir é o mesmo obrar divino, não ficando

mais nada do próprio ser”.

(5) Depois acrescentou: “Quando o interior se embebe, se ocupa tudo de Deus e de tudo o que a

Ele pertence, Deus se comunica todo Si mesmo à alma; mas quando o interior se ocupa, agora de

Deus, agora de outras coisas, Deus se comunica em parte à alma”.

+ + + +

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4-123

Março 27, 1902

Ensinamento de Jesus acerca da Justiça.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma procurava a meu dulcíssimo Jesus, e enquanto girava o vi

nos braços da Rainha Mãe. Cansada como estava, toda atrevida, quase lho tirei e o tomei nos

meus braços dizendo-lhe: “Meu amor, esta é a promessa de que não me deixarias, se nos dias

passados pouco ou nada viestes?”

(2) E Ele: “Minha filha, estava contigo, só que não me viste com clareza, e além disso, se teus

desejos tivessem sido tão ardentes de queimar o véu que te impedia de me ver, certamente ter-me-

ias visto”.

(3) Depois, como se quisesse fazer-me uma exortação acrescentou:

(4) “Não só deves ser reta, senão justa, e na justiça entra o amar-me, louvar-me, glorificar-me,

agradecer-me, abençoar-me, reparar-me, adorar-me, não só por si, mas por todas as outras

criaturas; estes são direitos de justiça que exijo de toda criatura, e que como Criador me

correspondem, e quem me nega um só destes direitos nunca pode dizer-se justo. Por isso pensa

em cumprir teu dever de justiça, porque na justiça encontrarás o princípio, o meio e o fim da

santidade”.

+ + + +

4-124

Março 30, 1902

Vê a Ressurreição. Vestido de luz da Humanidade ressuscitada de Jesus.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, vi por pouco tempo o meu adorável Jesus

no momento da sua Ressurreição, todo vestido de luz resplandecente, tanto que o sol ficou

obscurecido diante daquela luz. Eu fiquei encantada e disse: “Senhor, se não sou digna de tocar a

tua Humanidade glorificada, faz-me tocar ao menos as tuas vestes”.

(2) E Ele disse-me: “Minha amada, o que dizes? Depois que ressuscitei, não mais precisei de

roupas materiais, mas minhas vestes são de sol, de luz puríssima que cobre a minha humanidade

e que resplandecerá eternamente dando alegria indescritível a todos os sentidos dos bem-

aventurados. E isto foi concedido à minha humanidade porque não houve parte dela que não fosse

coberta de opróbrios, de dores e de chagas”.

(3) Dito isto desapareceu sem que tenha tocado nem sua Humanidade nem os vestidos, porque

enquanto tomava entre minhas mãos suas sagradas vestes, escapavam-me e não as encontrava.

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4-125

Abril 4, 1902

Destruindo os bens morais, destroem-se também os bens físicos e temporais.

(1) Continuando meu habitual estado, meu adorável Jesus vem mas quase sempre em silêncio, ou

bem me diz alguma coisa a respeito da verdade, e acontece que enquanto está o Senhor a

compreendo e me parece que a saberei dizer, Mas, ao desaparecer, sinto que me está a tirar a luz

que me incutiu e não sei dizer nada. Depois, esta manhã tive que sofrer muito por esperá-lo, e ao

vir me transportou para fora de mim mesma, fazendo-se ver muito indignado. Então eu para

aplacá-lo fiz vários atos de arrependimento, mas a Jesus parecia que não lhe agradava nenhum;

eu toda me esforçava em variar os atos de arrependimento, talvez alguém poderia gostar dele, e

no final eu disse:

(2) “Senhor, eu me arrependo das ofensas feitas por mim e por todas as criaturas da terra, e eu me

arrependo e repudio pela única razão de que nós ofendemos a Ti, sumo Bem, porque enquanto

você merece amor, nós ousamos te ofender”.

(3) Com este último parecia que o Senhor ficava satisfeito e mitigado. Depois disto me transportou

no meio de um caminho onde estavam dois homens em forma de bestas, todos ocupados em

destruir todo tipo de bem moral. Pareciam fortes como leões e embriagados de paixão, só vê-los

dava terror e medo. E o bendito Jesus me disse:

(4) “Se queres aplacar-me um pouco vê e passa no meio daqueles homens, para convencê-los do

mal que fazem, enfrentando sua ira”.

(5) Embora um pouco tímida, mas fui e assim que me viram queriam me devorar, mas eu lhes

disse: “Permitam que eu fale e depois façam o que quiserem, devem saber que se conseguirem o

vosso propósito de destruir todo o bem moral pertencente à religião, virtude, dependência e bem-

estar social, vocês sem se darem conta do erro, virão destruir ao mesmo tempo todos os bens

físicos e temporais, porque quanto se tiram os bens morais, outro tanto se multiplicam os males

físicos; portanto, sem se darem conta vão contra vós mesmos destruindo todos aqueles bens

caducos e passageiros que tanto amais, e não só isso, senão que vão buscando destruir vossa

própria vida, e sereis causa de fazer derramar lágrimas amargas aos vossos descendentes”.

(6) Depois fiz um ato grandíssimo de humildade, que nem sequer sei dizer, e aqueles ficaram como

um a quem passa o estado de loucura, e tão fracos que nem sequer tinham força de me tocar;

assim passei livre e compreendia que não há força que possa resistir à força da razão e da

humildade.

+ + + +

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4-126

Abril 16, 1902

Modo de reprimir as paixões. A importância dos primeiros movimentos delas

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então eu, não vendo-o vir, disse: “O que estou

fazendo neste estado, se o objeto que me encantou não vem mais? É melhor acabar logo com

isso”. Enquanto dizia isto, o meu doce Jesus veio por pouco e disse-me:

(2) “Minha filha, todo o ponto está em reprimir os primeiros movimentos, se a alma está atenta a

isto, tudo irá bem; se não, aos primeiros movimentos não reprimidos sairão fora as paixões, e

romperão a força divina, que como perto circunda a alma para tê-la bem guardada e afastada pelos

inimigos que sempre buscam insinuar e danificar a pobre alma; mas se assim que os adverte entra

em si mesma, humilha-se, arrepende-se e com coragem põe remédio, a força divina se fecha de

novo em torno da alma; mas se não põe remédio, A força divina já foi quebrada, dará lugar a todos

os vícios. Por isso está atenta aos primeiros movimentos, pensamentos, palavras que não sejam

retos e santos, porque se se te escapam os primeiros, não é mais a alma que reina, mas as

paixões, se queres que a força não te deixe só um só instante”.

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4-127

Abril 25, 1902

A cruz é Sacramento.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, e depois de ter ido em busca de meu doce

Jesus, o encontrei, mas em atitude tão lamentável que me fazia quebrar o coração; tinha as mãos

chagadas, tão contraídas pela aspereza da dor que não se podiam tocar; Eu tentei tocá-las para

poder esticar-lhe os dedos e curar as chagas, mas não consegui porque o bendito Jesus chorava

pela forte dor. Então, não sabendo o que fazer o tenho estreitado e lhe tenho dito: “Amante meu

bem, desde faz tempo não me participa das dores de tuas chagas, talvez por isso se têm

exacerbado tanto, peço-te que me faças partícipe de tuas penas, assim, sofrendo eu se poderão

mitigar teus sofrimentos”. Enquanto dizia isto, saiu um anjo com um prego na mão, e trespassou-

me as mãos e os pés, e, enquanto eu ia pregando o prego nas minhas mãos, os dedos se

afrouxavam e as chagas do meu amado Jesus ficavam curadas. E enquanto eu sofria o Senhor me

disse:

(2) “Minha filha, a cruz é sacramento; cada um dos sacramentos contém os seus efeitos especiais:

um tira a culpa, outro confere a graça, outro une com Deus, outro doa a força, e tantos outros

efeitos; agora, só a cruz contém todos juntos estes efeitos produzindo-os na alma com tal eficácia,

de a tornar em pouquíssimo tempo semelhante ao original de onde saiu”.

(3) Depois disto, como se quisesse descansar, retirou-se dentro de mim.

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4-28

Abril 29, 1902

Quem quer todo a Deus, deve dar tudo a Deus.

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus veio por pouco tempo dizendo-me:

(2) “Minha filha, que tudo quer de Deus, deve dar-se tudo Ele mesmo a Deus”.

(3) E parou sem me dizer mais nada; então eu o vi perto de mim e disse: “Senhor, tem compaixão

de mim, não vês como tudo está árido e seco? Parece-me que me tornei tão seca como se jamais

tivesse tido nem gota de chuva”.

(4) E Ele: “Melhor assim. Você não sabe que quanto mais a lenha está seca, tanto mais fácil o fogo

a devora e a converte em fogo? Basta uma única faísca para acendê-la, mas se está cheia de

humores e não bem seca, é preciso grande fogo para acendê-la e muito tempo para convertê-la em

fogo. Assim na alma, quando tudo está seco basta uma só centelha para convertê-la toda em fogo

de amor divino”.

(5) E eu: “Senhor, zomba de mim? Como então tudo é feio, e adicionalmente, que coisa você deve

queimar se tudo estiver seco?”

(6) E Ele: “Não zombo, e você mesma não compreende que quando não está seco tudo na alma,

humor é a complacência, humor é a satisfação, humor o próprio gosto, humor é a estima própria;

ao contrário, quando tudo está seco e a alma trabalha, estes humores não têm de onde nascer e o

fogo divino encontrando só a alma nua, seca como foi criada por Ele, sem outros humores

estranhos, sendo coisa sua lhe resulta facilíssimo convertê-la em seu mesmo fogo divino. E depois

disto Eu lhe infundindo um hábito de paz, sendo conservada esta paz pela obediência interior e

custodiada pela obediência exterior, esta paz pari a todo Deus na alma, isto é todas as obras, as

virtudes, os modos do Verbo humanado, de modo que se descobre nela a sua simplicidade, a

humildade, a dependência da sua vida infantil, a perfeição das suas virtudes adultas, a mortificação

e crucificação do seu morrer; mas isto começa sempre, quando quem quer todo o Cristo deve dar

tudo a Cristo”.

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4-129

Maio 16, 1902

Dois estados sublimes.

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, veio o meu dulcíssimo Jesus, e eu assim que o vi,

apertei-o e disse-lhe: “Amado Bem meu, desta vez te estreitarei tanto que não poderás fugir mais”.

Enquanto estava nisto, senti-me toda cheia de Deus, como se estivesse inundada, de modo que as

minhas potências da alma ficaram como encantadoras e inativas, só contemplavam. Depois de ter

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estado um pouco nesta inativa, mas doce e agradável posição, meu adorável Jesus me disse:

(2) “Minha filha, às vezes, encho a alma tanto de Mim mesmo, que a alma perdendo-se em Mim

fica ociosa; outras vezes lhe deixo alguma parte vazia, e então a alma ante minha presença

negocia admiravelmente, prorrompendo em atos de louvor, de agradecimento, de amor, de

reparação e demais, de modo que enche com eles aqueles vazios que lhe deixo. No entanto, estes

dois estados, ambos são sublimes e se dão reciprocamente a mão”.

+ + + +

4-130

Maio 22, 1902

A Santíssima Virgem incita Jesus a fazer sofrer Luísa.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus não vinha, e oh! quanto tive que

sofrer e quantos desatinos disse, é inútil dizê-lo. Então, depois de ter-me cansado muito, senti que

havia uma pessoa próxima a mim, mas não lhe via o rosto, estendi a mão para encontrá-lo e senti

que sua cabeça estava apoiada sobre meu ombro, desmaiado; o vi e reconheci meu doce Jesus,

me parecia desmaiado pelos tantos desatinos que havia dito: por isso assim que o vi que voltava

em si, Não sei quantos outros disparates lhe queria dizer, mas Jesus disse-me:

(2) “Acalma-te, acalma-te, não queiras falar mais, senão far-me-ás desmaiar; o teu silêncio fará me

tomar vigor e assim poderei pelo menos beijar-te, abraçar-te e fazer-te feliz”.

(3) Então eu fiquei em silêncio, e nós dois nos beijamos muitas vezes, e Jesus me fazia tantas

demonstrações de amor, mas não sei explicar. Depois disto me encontrei fora de mim mesma, e ia

buscando ao amado de minha alma, e não o encontrando levantei os olhos ao céu, quem sabe e

talvez o pudesse encontrar de novo, e vi que estava a Rainha Mãe e Jesus Cristo virado de costas,

que discutiam, e como não queria fazer caso à Mãe por isso estava virado de costas, todo cheio de

furor, e parecia que da boca lhe saía o fogo de sua ira. Eu só entendi que Nosso Senhor, naquele

dia queria com o fogo de sua ira destruir tudo o que servia de alimento ao homem, e a Santíssima

Virgem não queria e Jesus dizia:

(4) “Mas em quem hei de libertar este fogo aceso da minha ira?”

(5) E a Mãe dizia: “Estás com quem podes desabafar, apontando para mim, não vês que ela está

sempre disposta a amar-nos?” Jesus, ao ouvir isto, virou-se para a Mãe, como se tivessem

concordado, chamaram os anjos, dando a cada um deles uma centelha daquele fogo que saía de

Jesus Cristo, e eles levaram-nas a mim, pondo-as uma na boca e as outras nas mãos, nos pés e

no coração; eu sofria, sentia-me devorar, amargar por aquele fogo, mas sentia-me resignada a

suportar tudo. O bendito Jesus e a Mãe era espectadora dos meus sofrimentos, e Jesus parecia de

algum modo calmo. Enquanto eu estava nisto, encontrei-me em mim mesma e estava o confessor

para me chamar à obediência como o habitual, mas em vez de me chamar à obediência pôs a

intenção de me fazer sofrer a crucificação. Jesus participou-me dos seus sofrimentos; parecia que

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o confessor tinha completado a obra iniciada pela Rainha Mãe. Seja tudo para glória de Deus e

seja sempre bendito!

+ + + +

4-131

Junho 2, 1902

O Trono de Jesus é composto de virtudes. A alma que possui

as virtudes o faz reinar em seu coração.

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, Jesus bendito se moveu em meu interior e vi que

estava dentro de mim, abraçado, sustentado como por outra pessoa, eu fiquei maravilhada ao ver

isto, e Jesus me disse:

(2) “Minha filha, o interior da alma é um acúmulo de paixões, e conforme a alma vai abatendo as

paixões, assim toma lugar cada uma das virtudes, cortejada por graus de graça, e segundo a

virtude vai-se aperfeiçoando, assim a graça lhe fornece seus graus. E como meu trono é composto

de virtudes, assim a alma que possui as virtudes me fornece os braços, o trono para poder reinar

em seu coração e ter-me continuamente abraçado e cortejado, até me deleitar com ela. Agora,

sendo que a alma pode manchar-se, mas a virtude fica sempre intacta, e até enquanto a alma a

sabe ter, está com ela, quando não, volta-se a Mim, ou seja, de onde saiu. Por isso não se

maravilhe se me viu assim em seu interior”.

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4-132

Junho 15, 1902

O Amor não é um atributo de Deus, mas a sua própria natureza.

A alma que verdadeiramente ama a Jesus não pode perder-se.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus transportou-me para fora de

mim mesma e disse-me:

(2) “Minha filha, todas as virtudes podem dizer-se que são os meus dotes e os meus atributos, mas

o amor não pode dizer-se que seja um atributo meu, mas a minha própria natureza. Por isso todas

as virtudes formam meu trono e minhas qualidades, mas o amor me forma a Mim mesmo”.

(3) Ao ouvir isso eu me lembrei que no dia anterior eu tinha dito a uma pessoa que eu temia pela

insegurança da salvação, que quem verdadeiramente ama a Jesus Cristo pode estar seguro de

salvar-se; eu considero impossível que Nosso Senhor afaste de Si uma alma que de todo coração

o ama, por isso pensemos em amá-lo e teremos em nosso próprio punho nossa salvação. Então

perguntei ao amante Jesus se tinha dito mal, e Ele acrescentou:

(4) “Amada minha, com razão você disse isto, porque o amor tem isto de próprio, o formar de dois

objetos um só, de duas vontades uma só; assim que a alma que me ama forma Comigo uma só

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coisa, uma só vontade, então, como pode separar-se de Mim? Muito mais que sendo minha

natureza amor, onde encontra alguma centelha de amor na natureza humana, em seguida a une

ao amor eterno. Então, assim como é impossível formar de uma alma, duas almas, de um corpo,

dois corpos, assim é impossível que se perca quem verdadeiramente me ama”.

+ + + +

4-133

Junho 17, 1902

A mortificação produz a glória.

(1) Esta manhã, quando vi o meu amado Jesus, parecia que tinha um papel escrito na mão no qual

se lia:

(2) “A mortificação produz a glória. Quem quer encontrar a fonte de todos os prazeres, deve

afastar-se de tudo o que possa desagradar a Deus”.

(3) Disse isto desapareceu.

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4-134

Junho 29, 1902

Jesus fala de França.

(1) Esta manhã, assim que vi o meu adorável Jesus, ouvi-o dizer, sem saber porquê:

(2) “Pobre França, pobre França, ensoberbeceste-te e quebraste e destroçaste as leis mais

sagradas, desconhecendo-me como teu Deus, e te converteste exemplo às outras nações para

atraí-las ao mal, e teu exemplo tem tanta força, que as outras nações estão por arruinar-se; mas

deves saber que em castigo serás conquistada”.

(3) Depois disto retirou-se em meu interior, e ouvia que buscava ajuda, piedade, compaixão a

tantas penas suas. Era tão triste ouvir que Jesus abençoado queria ajuda de suas criaturas.

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4-135

Julho 1, 1902

As verdadeiras vítimas devem expor-se às penas de Jesus.

Maquinações contra a Igreja e contra o Papa.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim, ajoelhada sobre um altar

junto com outras duas pessoas. Enquanto eu estava nisto veio Jesus Cristo sobre este altar e

disse:

(2) “As verdadeiras vítimas devem ter comunicação com a minha própria vida, devem desfrutar de

Mim mesmo e expor-se às minhas próprias penas”.

(3) Enquanto eu estava a dizer isto, ele tomou uma taça na mão e deu-nos a todos os três a

comunhão. Atrás daquele altar parecia que estava uma porta que dava para uma rua cheia de

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gente e cheia de demônios, de modo que não se podia caminhar sem ser oprimido por eles, porque

estando cheios de espinhos agudíssimos não se podia fazer movimento sem sentir-se cravar por

toda parte. A qualquer custo teria querido fugir daqueles diabólicos furores, e quase me esforçava

em fazê-lo, mas não sei quem me impediu dizendo:

(4) “Tudo o que você vê são maquinações contra a Igreja e contra o Papa; querem que o Papa saia

de Roma para invadir o Vaticano e apropriar-se dele, e se você quer subtrair-se de Estes

transtornos, os homens e os demônios tomarão força e farão sair estes espinhos que estriparem a

Igreja acerbamente, e se você aceitar sofrê-los, ficarão enfraquecidos uns e os outros”.

(5) Ao ouvir isto, parei, mas quem pode dizer o que passei e sofri; acreditava que não devia sair já

do meio daqueles espíritos diabólicos, mas depois de ter estado quase uma noite, a proteção

divina me libertou.

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4-136

Julho 3, 1902

Jesus fala-lhe da sua Vida Eucarística.

(1) Continuando meu estado habitual encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma igreja, e

não encontrando meu adorável Jesus, fui tocar a uma custódia para que Ele me abrisse, e não me

abrindo, tornando-me atrevida eu mesma a abri e encontrei a mim mesmo sozinho e único Bem.

Quem pode dizer minha alegria? Fiquei como estática ao ver sua beleza indescritível. E Jesus, ao

ver-me, lançou-se nos meus braços e disse-me:

(2) “Minha filha, cada período da minha Vida deve receber do homem distintos e especiais atos e

graus de imitação, de amor, de reparação e mais. Mas o período da minha Vida Eucarística como é

toda vida de escondimento, de transformação e de contínua consumação, tanto que posso dizer

que meu amor, depois que chegou ao excesso e mesmo ter-se consumado, não pôde encontrar

em minha infinita sabedoria outros sinais externos de demonstração de amor para o homem. E

assim como a encarnação, a vida, a paixão e a morte de cruz obtêm amor, louvor, agradecimento,

imitação, assim a vida sacramental obtém do homem um amor extático, amor de dispersão em

Mim, amor de perfeita consumação, e consolando-se a alma na minha própria vida sacramental,

pode dizer que faz diante da Divindade os mesmos ofícios que continuamente estou fazendo Eu

diante de Deus por amor dos homens. E esta consumação fará com que a alma desemboque à

vida eterna”.

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4-137

Julho 7, 1902

A humilhação com Cristo faz começar a exaltação com Cristo.

(1) Esta manhã não vindo o bendito Jesus, sentia-me toda confusa e humilhada; depois de ter

esperado muito, fez-se ver-me dizendo:

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(2) “Luísa humilhada sempre com Cristo”.

(3) E eu, agradando-me e desejando ser com Cristo humilhada, disse: “Sempre, oh Senhor!”

(4) E Ele continuou: “E o sempre da humilhação com Cristo fará começar o sempre da exaltação

com Cristo”.

(5) Assim, compreendia que por quantas humilhações sofre a alma com Cristo e por amor de

Cristo, e se estas são contínuas, o Senhor outras tantas vezes a exaltará, e esta exaltação a fará

continuamente ante toda a corte celestial, diante dos homens, e até diante dos mesmos demônios.

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4-138

Julho 28, 1902

Efeitos da oração contínua.

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, e encontrei o meu

adorável Jesus, que não querendo deixar-me ver os males do mundo me disse:

(2) “Minha filha, retira-te, não queiras ver os males gravíssimos que há no mundo”.

(3) E ao dizer isto me retirou Ele mesmo, e ao me conduzir disse:

(4) “O que te recomendo é o espírito de contínua oração. Este buscar sempre a alma o conversar

Comigo, seja com o coração, seja com a mente, seja com a boca e até com a simples intenção, a

faz tão bela a minha vista, que as notas de seu coração harmonizam com as notas de meu

coração, e eu sinto-me tão atraído para conversar com esta alma, que não só lhe manifesto as

obras “ad extra” da minha Humanidade mas vou lhe manifestando algumas coisas das obras “ad

intra” que a Divindade fazia na minha humanidade; e não só isto, senão que é tanta a beleza que

faz adquirir o espírito de contínua oração, que o demónio é atingido como por um raio e fica

frustrado nas insídias com as quais tenta prejudicar esta alma”.

(5) Dito isto desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

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4-139

Julho 31, 1902

A verdadeira Caridade deve ser desinteressada.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, algumas vezes vi meu adorável Jesus, mas sempre

em silêncio; eu me sentia toda confusa e não me atrevia a perguntar-lhe nada, mas parecia que

queria me dizer alguma coisa que feria seu sagrado coração. Finalmente, a última vez que veio me

disse:

(2) “Minha filha, a verdadeira caridade deve ser desinteressada por parte de quem a faz, e por

parte de quem a recebe, e se existe o interesse, essa lama produz uma fumaça que cega a mente

e impede receber a influência e os efeitos da caridade divina. Eis por que em tantas obras, até

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santas que se fazem, tantos cuidados caritativos que se realizam, se sente como um vazio e não

recebem o fruto da caridade que fazem”.

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4-140

Agosto 2, 1902

Jesus em todo o curso de sua vida reparava por todos em geral,

e por cada um em particular.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus depois de me ter feito esperar muito, de improviso veio

expandindo raios de luz, e eu fiquei investida por aquela luz, e não sei como me encontrei dentro

de Jesus Cristo. Quem pode dizer quantas coisas compreendia dentro daquela Humanidade

Santíssima? Só sei dizer que a Divindade dirigia em tudo para a humanidade, e como a Divindade

em um mesmo instante pode fazer tantos atos quantos cada um de nós pode fazer em todo o

período da vida, e quantos mais queira fazer, então, sendo que na humanidade de Jesus Cristo

operava a Divindade, compreendia com clareza que Jesus bendito em todo o curso da vida refazia

por todos em geral, e por cada um em particular tudo o que cada um está obrigado a fazer a Deus,

de modo que adorava a Deus por cada um em particular, agradecia, reparava, glorificava por cada

um, Elogiava, sofria, rogava por cada um. Então compreendia que tudo o que cada um deve fazer,

já foi feito primeiro no coração de Jesus Cristo.

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4-141

Agosto 10, 1902

Privações, lamentos, e necessidade dos castigos.

(1) Encontrando-me extremamente aflita pela perda de meu Sumo Bem, meu pobre coração é

dilacerado continuamente e sofre uma morte contínua. Agora, vindo o confessor estava lhe dizendo

meu pobre estado, e ele começou a chamá-lo e a pôr intenção, mas que, minha mente ficava

suspensa, por uns instantes via como um relâmpago e fugia e voltava em mim mesma sem vê-lo.

Oh Deus, que pena! São penas que nem sequer se podem explicar. Então, depois de ter esperado

muito, finalmente veio, e ao me queixar com Ele me disse: ,

(2) “Minha filha, se não soubesses a causa de minha ausência terias talvez alguma razão para

lamentar-te, mas sabendo que não venho porque quero castigar o mundo, injustamente te

lamentas”.

(3) E eu: “O que o mundo tem a ver comigo?”

(4) E Ele: “Sim, tem que ver, porque ao vires tu me dizes: “Senhor, quero dar-te satisfação por eles,

quero sofrer por eles. E eu sendo justo não posso receber de um e de outro a satisfação de uma

dívida, e querendo tomar de ti a satisfação, o mundo não faria outra coisa que se ensoberbecer

sempre mais. Enquanto que nestes tempos de rebelião são tão necessários os castigos, e se não

faço isto se tornarão tão densas as trevas, que todos ficarão cegos”.

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(5) Enquanto dizia isto encontrei-me fora de mim mesma e via a terra toda cheia de trevas, apenas

alguma estela de luz. O que será do pobre mundo? Dão muito que pensar as coisas tristíssimas

que acontecerão.

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4-142

Setembro 3, 1902

Diz Jesus: Tudo o que mereci na minha vida, cedi-o a todas as criaturas,

e de modo especial e superabundante a quem é vítima por amor meu.

(1) Esta manhã me encontrando em meu habitual estado, senti que me vinha um mal natural, tão

forte que me sentia morrer. Então, temendo que pudesse passar do tempo para a eternidade, e

muito mais temia porque o bendito Jesus apenas vem, e ao mais como sombra, porque se viesse

segundo seu costume eu não temeria para nada, então para fazer que me encontrasse em bom

momento, rogava ao Senhor que me cedesse o exercício de sua santa mente para satisfazer pelos

males que tenha podido fazer com meus pensamentos, seus olhos, sua boca, suas mãos, seus

pés, seu coração e todo seu Corpo Santo para satisfazer por todos os males que tenha podido

cometer, e por todo o bem que devia fazer e não fiz. Enquanto isso fazia, o bendito Jesus veio

vestido de festa, em ato de me receber em seus braços e me disse:

(2) “Minha filha, tudo o que mereci cedi-o a todas as criaturas, e de modo especial e

superabundante a quem é vítima por amor meu; então tudo o que queiras te entrego não só a ti,

senão a quem tu queiras”.

(3) E eu, lembrando-me do confessor, disse-lhe: “Senhor, se me levares, peço-te que contentes o

pai”.

(4) E Ele: “É certo que alguma recompensa recebeu graças à caridade que te tem e como ele

cooperou, vindo tu a Mim no ambiente da eternidade, outra recompensa lhe darei”.

(5) O mal aumentava sempre mais, mas me sentia feliz me encontrando no porto da Eternidade.

Enquanto estava nisto, o confessor veio e chamou-me à obediência. Eu teria querido calar tudo,

mas ele me obrigou a dizer tudo, e saiu com o habitual estribilho de que não devo morrer por

obediência. Apesar de tudo isso o mal não cessava.

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4-143

Setembro 4, 1902

O confessor pede a Jesus que não a faça morrer.

(1) Continuo me sentindo mal, e ao mesmo tempo sentia uma inquietação por esta estranha

obediência, como se não pudesse empreender o vôo para o meu sumo e único Bem, com a adição

de que, devendo celebrar a santa missa o confessor, Não queria dar-me a comunhão pelos

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contínuos vômitos que me incomodavam. Mas Jesus bendito, como o confessor me havia dito que

por obediência me fizesse tocar o estômago por Jesus Cristo, assim que veio me tocou e pararam

os vômitos contínuos, mas o mal não cessava, e Jesus me vendo tão inquieta me disse:

(2) “Minha filha, que fazes? Não sabes que, se a morte te apanha a encontrares-te inquieta, o

purgatório terá de ser tocado? Porque se a mente não se encontra unida à minha, se a vontade

não é uma com a minha, os desejos não são os meus mesmos desejos, por necessidade convém-

te a purgação para te transformar toda em Mim; por isso está atenta, pensa só em estar unida

Comigo, e eu pensarei no resto”.

(3) Enquanto dizia isto, via a Igreja, o Papa, e parte dela se apoiava nas minhas costas, e ao

mesmo tempo via o confessor que forçava Jesus a não me levar por agora, e o bendito Senhor

disse:

(4) “Os males são gravíssimos e os pecados estão para chegar ao ponto de não merecer mais

almas vítimas, ou seja, quem sustente e proteja o mundo diante de Mim; se este ponto toca a

justiça, certamente a levarei”.

(5) Então eu percebi que as coisas são condicionadas.

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4-144

Setembro 5, 1902

Jesus, os anjos e os santos incitam-na a ir com eles; o confessor opõe-se.

(1) Continuava a sentir-me mal, e o confessor continuava firme, aliás, começava a inquietar-se

porque não o obedecia no que se refere a não morrer, e pedia ao Senhor que me tirasse o

sofrimento. Por outro lado, sentia-me incitada por Jesus bendito, pelos santos, pelos anjos, a ir com

eles, e agora me encontrava com Jesus, e agora com os cidadãos celestiais. Neste estado me

sentia torturada, eu mesma não sabia o que fazer, No entanto, permaneci tranquila, temendo que

se me levasse não me encontrasse pronta para ir direta a Jesus, por isso toda me abandonava em

suas mãos. Agora, enquanto me encontrava nesta situação via o confessor e outros que pediam

para que não me fizesse morrer, e Jesus me disse:

(2) “Minha filha, sinto-me violentado, não vês que não querem que Eu te leve?”

(3) E eu: “Também eu me sinto violentada, na verdade que colocar uma pobre criatura nesta tortura

valeria uma pena”.

(4) E Jesus: “Que pena queres que lhes dê?”

(5) E eu, não sabendo o que dizer diante daquela fonte de caridade inexaurível, disse: “Doce

Senhor meu, como a santidade leva consigo o sacrifício, faze-lhes santos, porque assim obterão o

propósito de me ter com eles e eu obterei o propósito de vê-los santos, e a pena que leva consigo

a santidade”.

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(6) Jesus, ao ouvir-me, agradou-me e beijou-me dizendo:

(7) “Bravo à minha amada, soubeste escolher o que é óptimo para o seu bem e para a minha

glória. Por isso, por agora, deve ceder, reservando-me para outra ocasião levar-te em breve, não

dando-lhes tempo de poder fazer-nos violência”.

(8) Então Jesus desapareceu e eu encontrei-me em mim mesma, mitigados em grande parte os

meus sofrimentos, com um novo vigor como se tivesse renascido. Mas só Deus sabe a dor, o rasgo

de minha alma, espero ao menos que queira aceitar a dureza deste sacrifício.

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4-145

Setembro 10, 1902

As prerrogativas do amor.

(1) Acreditava que o bendito Jesus voltaria segundo o habitual, mas qual não foi meu

desapontamento, porque depois de ter decidido que por agora não me levará, começou a me fazer

esperar para vê-lo, e as mais das vezes como sombra e como raio. Então, esta manhã, sentindo-

me muito cansada e esgotada de forças pelo contínuo desejar e esperar, parece que veio e me

transportando para fora de mim mesma me disse:

(2) “Minha filha, se estás cansada vem ao meu coração, bebe e te recuperarás”.

(3) Assim, aproximei-me daquele coração divino, e bebi a grandes goles um leite misturado com

sangue dulcíssimo. Depois disto me disse:

(4) “As prerrogativas do amor são três: Amor constante sem termo, amor forte e amor que une

junto a Deus e ao próximo. Se na alma não se descobrem estas prerrogativas, pode-se dizer que

não é da qualidade do verdadeiro amor”.

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4-146

Outubro 22, 1902

Ameaças para a Itália.

(1) Esta manhã por poucos instantes veio o meu adorável Jesus, todo indignado e me disse:

(2) “Quando a Itália tiver bebido até ao fundo as mais fétidas sujidades, até se afogar, tanto que se

dirá que está morta, está morta, então ressurgirá”.

(3) Depois, estando mais calmo acrescentou:

(4) “Minha filha, quando Eu quero uma coisa de minhas criaturas, infundindo nelas as disposições

naturais, de modo a mudar a mesma natureza para querer a coisa que quero; por isso você se

tranquilize no estado em que se encontra”.

(5) Dito isto desapareceu e eu fiquei pensativa sobre o que me disse.

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4-147

Outubro 30, 1902

Jesus Cristo veio unir novamente a Deus e ao homem.

(1) Esta manhã, encontrando-me num mar de aflições e de lágrimas pelo abandono total de meu

sumo bem, enquanto me sentia consumida pela dor, senti perder a mente, e via Jesus bendito que

me sustentava a testa com sua mão, e como uma luz que continha dentro muitas palavras de

verdade, e eu apenas recordo isto: Que nossa humanidade desatando o nó da obediência que

Deus havia feito entre Ele e a criatura, se dispersou, e Jesus Cristo tomando a natureza humana e

fazendo-se nossa cabeça, veio a reunir a humanidade dispersa, e com a sua obediência ao querer

do Pai veio unir outra vez mas esta união indissolúvel é mais reforçada à medida da nossa

obediência aos quereres divinos.

(2) Depois disto não vi mais o meu amado Jesus, retirando-se junto com Ele a luz.

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4-148

Novembro 1, 1902

A verdadeira seriedade se encontra na religião,

e a verdadeira religião consiste em olhar ao próximo em Deus e a Deus no próximo.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, me senti saindo de mim mesma, e encontrei uma

criança que chorava, e vários homens, entre os quais, um mais sério tomou uma bebida

amarguíssima e a deu àquele menino que chorava, o qual ao passá-la sofreu tanto, Parecia que a

garganta estava a fechar-se. Eu, não sabendo quem era, por compaixão o tomei nos braços

dizendo: “E isso que é um homem sério, e te fez isto, pobrezinho, vem a mim que te quero secar o

pranto”.

(2) E Ele me disse: “A verdadeira seriedade se encontra na religião, e a verdadeira religião consiste

em olhar ao próximo em Deus e a Deus no próximo”.

(3) Depois, aproximando-se ao ouvido, tanto que seus lábios me tocavam e sua voz ressoava

dentro de mim, acrescentou:

(4) “A palavra religião para o mundo é palavra ridícula, e parece que não vale nada, mas diante de

mim cada palavra que pertence à religião é uma virtude de valor infinito, tanto, que me serve da

palavra para propagar a fé em todo o universo, e quem nisto se exercita me serve de boca para

manifestar às criaturas a minha Vontade”.

(5) Enquanto dizia isto, compreendia muito bem que era Jesus, ao ouvir sua voz clara, que há tanto

tempo não ouvia, sentia-me ressurgir da morte à vida, e estava esperando que terminasse de falar

pois devia lhe dizer minhas extremas necessidades, mas o que, não apenas terminei de ouvir sua

voz desapareceu, e eu fiquei desconsolada e aflita.

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4-149

Novembro 5, 1902

Vê uma árvore no coração de Jesus, e Ele explica-lhe o significado.

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver dentro de mim, e parecia que tinha uma árvore

plantada no coração, e tão enraizado que parecia que as raízes brotavam da ponta do coração; em

suma, parecia nascido junto com a sua própria natureza. Eu fiquei maravilhada ao ver a beleza, a

perfeição e a altura que parecia que tocava o céu, e seus ramos se estendiam até os últimos

confins do mundo. Então, Jesus bendito ao ver me tão admirada me disse:

(2) “Minha filha, esta árvore foi concebida junto Comigo, no centro do meu coração, e desde então

Eu senti no mais profundo do coração tudo o que de bem e de mal devia fazer o homem graças a

esta árvore da Redenção, chamada árvore da vida, tanto que todas aquelas almas que se mantêm

unidas a esta árvore receberão vida de graça no tempo, e quando eu os tiver feito crescer bem lhes

fornecerá vida de glória na eternidade. No entanto, qual não é a minha dor? Que se não podem

arrancar a árvore, não podem tocar o tronco, muitos tratam de cortar-me os ramos para fazer que

as almas não recebam a vida, e tirar-me toda a glória e o prazer que esta árvore de vida me teria

produzido”.

(3) Enquanto dizia isto desapareceu.

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4-150

Novembro 9, 1902

Diferença entre o agir de Jesus e o agir do homem.

(1) Enquanto eu ansiava pelo meu adorável Jesus, ele apareceu com a aparência quando os seus

inimigos o esbofetearam, cobriam-lhe a cara de cuspidelas e lhe vendavam os olhos. Ele, com

admirável paciência, tudo sofria, aliás, parecia que nem sequer os olhava, tão ocupado estava em

seu interior vendo o fruto que aqueles padecimentos lhe teriam produzido. Eu olhava tudo com

espanto, e Jesus me disse:

(2) “Minha filha, em meu agir e sofrer não olhei jamais para fora, mas sempre para dentro, e vendo

o fruto, qualquer coisa que fosse, não só a sofria, mas a sofria com desejo e avidez. Ao contrário, o

homem, ao fazer o bem, não olha para dentro da obra, e não vendo o fruto facilmente se aborrece,

tudo se aborrece e muitas vezes deixa de fazer o bem; se sofre, facilmente se impacienta, e se faz

o mal, não olhando para dentro daquele mal, facilmente fazê-lo”.

(3) Depois ele adicionou: “As criaturas não querem convencer-se de que a vida é acompanhada de

vários e diferentes acontecimentos, agora sofrimentos e agora consolações; e são as plantas, as

flores que dão o exemplo com estar submetidas aos ventos, nevadas, granizadas e calores”.

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4-151

Novembro 16, 1902

A palavra de Deus é alegria. O confessor lhe disse que Monsenhor

ordenava que por nenhum motivo deveria vir mais

o sacerdote para fazê-la sair de seu habitual estado.

(1) Esta noite passei-a muito angustiada, via o confessor em atitude de me dar proibições e ordens.

O bendito Jesus por pouco tempo veio e só me disse:

(2) “Minha filha, a palavra de Deus é alegria, e quem a escuta e não a faz frutificar com as obras,

lhe põe uma tinta negra e a enlameia “.

(3) Então, sentindo-me muito sofredor tentei não prestar atenção ao que via, e encontrando-me

neste estado veio o confessor me dizendo que Monsenhor ordenava que por nenhum motivo devia

vir mais o sacerdote a me fazer sair de meu habitual estado, senão que por mim mesma devia sair

dele, coisa que durante dezoito anos jamais pude obter, por mais lágrimas e orações, votos e

promessas que tenha feito ao Altíssimo, porque, confesso diante de Deus, que tudo o que pude

passar de sofrimentos não foram para mim verdadeiras cruzes, mas gostos e graças de Deus, e a

única e verdadeira cruz para mim foi a vinda do sacerdote. Então, conhecendo por tantos anos de

experiência a impossibilidade do êxito, meu coração era dilacerado pelo temor de não poder

obedecer, não fazendo outra coisa que derramar lágrimas amarguíssimas, rogando àquele Deus

que é o único que observa o fundo do coração, que tivesse piedade da situação em que me

encontrava. Enquanto rezava chorando vi um raio de luz e uma voz que dizia:

(4) “Minha filha para fazer que sou Eu, obedecerei a ele, e depois de ter dado provas de

obediência, ele me obedecerá a Mim”.

(5) E dizendo eu: “Senhor, temo muito não poder obedecer”. Ele adicionou:

(6) “A obediência desata e encadeia, e como é cadeia ata ao Querer Divino com o humano e deles

forma um só, de modo que a alma não opera com o poder de sua vontade, senão com o poder da

Vontade Divina, e ademais não será você a que obedecerá, senão Eu que obedecerei em ti”.

(7) Depois, todo aflito acrescentou: “Minha filha, não te dizia, que te ter neste estado de vítima e

começar a devastação na Itália me é quase impossível?”

(8) Então eu fiquei um pouco mais tranqüila, mas não sabia em que modo devia realizar-se esta

obediência.

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Novembro 17, 1902

Impossibilidade de perder os sentidos. É decreto da Vontade de Deus servir-se do sacerdote

para recuperá-la do estado de sofrimento.

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(1) Sendo a hora de ser surpreendida por meu habitual estado, com grande amargura minha, mas

amargura tal que semelhante não senti em minha vida, minha mente não sabia mais perder os

sentidos. E minha vida, meu tesouro, Aquele que formava todo meu gosto, meu todo amável Jesus

não vinha, tratava de me recolher por quanto podia, mas sentia tão desperta minha mente que não

podia perder os sentidos, nem dormir, por isso não fazia outra coisa que tirar o freio às lágrimas,

fazia o que podia para seguir em meu interior o que fazia no estado de perda dos sentidos, e uma

por uma recordava os ensinamentos, as palavras do modo como devia estar sempre unida com

Ele, e estas eram tantas flechas que feriam meu coração acerbamente dizendo-me: “Ai! depois de

quinze anos que o viste cada dia, quando mais, quando menos, quando três ou quatro vezes, e

quando uma, quando te falou e quando em silêncio, mas sempre o viste; mas agora o perdeste,

não o vês mais, não ouves mais sua voz doce e suave, para ti tudo acabou”. E meu pobre coração

se enchia tanto de amarguras e de dor, que posso dizer que meu pão era a dor e minha bebida as

lágrimas, e tão saciada estava delas que nem uma gota de água entrava na minha garganta. A isto

se acrescentava outro espinho, que muitas vezes tinha dito a meu adorável Jesus: “Quanto temo

que meu estado seja toda fantasia minha, que seja fingimento!”

(2) E Ele me dizia: “Tira estes temores, depois verás que virão dias que a custo de qualquer

esforço e sacrifício que quererás fazer para perder os sentidos, não o poderás fazer”.

(3) Apesar de tudo isto sentia calma em meu interior, porque ao menos obedecia, se me custava a

vida. De onde acreditava que assim deviam continuar as coisas, convencendo-me de que o

Senhor, como não me queria mais naquele estado, tinha-se servido de Monsenhor para me dar

essa obediência. Então, depois de ter passado dois dias, à noite eu me dispunha a fazer a

adoração ao crucificado, e um raio de luz se fazia ante minha mente, me sentia abrir o coração, e

uma voz me dizia:

(4) “Por poucos dias te terei suspensa, e depois te farei cair de novo”.

(5) E eu: “Senhor, far-me-ás tu voltar a mim, se me fizeres cair?”

(6) E a voz: “Não, é decreto de minha Vontade servir-me da obra do sacerdote para fazer-te

recuperar desse estado de sofrimentos, e se querem saber o porquê, que venham a Mim

perguntar-me. Minha Sabedoria é incompreensível e tem muitos modos inusitados para a salvação

das almas, e se bem incompreensível, se querem encontrar a razão, vão ao fundo que a acharão

clara como o sol. Minha justiça é como uma nuvem carregada de granizo, trovões e flechas, e em

você encontrava um dique para não descarregar sobre os povos, por isso não querem antecipar o

tempo de minha ira”.

(7) E eu: “Só para mim estava reservado este castigo, sem esperança de ser libertada; fizestes

tantas graças às demais almas, sofreram tanto por amor vosso, porém não tinham necessidade de

nenhuma obra de sacerdote”.

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(8) E a voz continuou: “Serás libertada, não agora, mas quando começarem os estragos na Itália”.

(9) Isto tem sido para mim novo motivo de dores e de lágrimas amargais, tanto que meu Caríssimo

Jesus, tendo compaixão de mim, moveu-se dentro de mim, pondo-se como um véu diante do que

me dissera, e sem fazer-me ver me fazia ouvir a sua voz que dizia:

(10) “Minha filha, vem a Mim, não queiras afligir-te, afastemos um pouco a justiça, demos lugar ao

amor, de outra maneira sucumbes; escuta-me, tenho tantas coisas para te ensinar, crês tu que

acabei de te falar? Não”.

(11) E como eu chorava, tendo-se tornado meus olhos em dois rios de lágrimas acrescentou:

(12) “Não chores, amada minha, escuta-me, esta manhã quero ouvir a missa junto contigo,

ensinando-te o modo como deves ouvi-la”.

(13) E assim Ele dizia e eu o seguia, mas como não o via meu coração era despedaçado

continuamente pela dor, e para interromper de vez em quando meu pranto, chamava-me

continuamente, agora me ensinando alguma coisa da Paixão, explicando-me o significado, e agora

me ensinava a fazer o que fazia em seu interior no curso de sua Paixão, que por agora Omito

escrever, reservando-o para outro tempo se Deus quiser. Assim tenho continuado por outros dois

dias.

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Novembro 21, 1902

Jesus serve-se da natureza de Luísa para continuar o curso dos seus sofrimentos nela.

(1) Continuava sem poder perder os sentidos, nem dormir, minha pobre natureza não podia mais, e

meu amadíssimo Jesus, quando eu me sentia mais do que nunca convencida de que não o veria

mais, de improviso veio e me fez perder os sentidos, Parecia que tinha sido atingida por um raio.

Quem pode dizer meu medo, mas o que, não era mais dona de mim mesma, não estava mais em

meu poder recuperar meus sentidos. E Jesus me disse:

(2) “Minha filha, não temas, vim para te fortalecer; não vês tu mesma que não podes mais, e como

tua natureza sem Mim desfalece?”

(3) E eu lhe disse chorando: “Ah! vida minha, sem Ti estou morta, não sinto mais forças vitais; Tu

formavas todo o meu ser, e faltando-me Tu me falta tudo; seguro que se Tu seguires sem vir, eu

morrerei de dor”.

(4) E Ele: “Filha amada minha, tu dizes que Eu sou a tua vida, e Eu te digo que tu és a minha vida

vivente. Assim como me servi de minha Humanidade para sofrer, assim me sirvo de tua natureza

para continuar o curso de meus padecimentos em ti; por isso toda minha tu és, mas bem és minha

mesma Vida”.

(5) Enquanto dizia isto, lembrei-me da obediência e disse-lhe: “Meu Doce Bem, far-me-ás

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obedecer, fazendo-me recuperar por mim mesma?”

(6) E Ele: “Minha filha, Eu, Criador, obedeci à criatura tendo-te suspensa nestes dias, é muito justo

que a criatura obedeça ao seu Criador submetendo-se à minha Vontade, porque diante da minha

Vontade Divina a razão humana não vale, e a razão mais forte diante da Vontade Suprema se

torna fumaça”.

(7) Quem pode dizer como fiquei amargurada, porém resignada, fazendo voto ao Senhor de jamais

retirar minha vontade da sua nem sequer por um piscar de olhos, e como me haviam dito que se

fosse surpreendida por este estado e não me recuperasse por mim mesma me deixariam morrer,

por isso estava me preparando para a morte, considerando-a como uma grande fortuna, e pedia ao

Senhor que me tomasse em seus braços.

(8) Enquanto fazia isto veio o confessor para me fazer voltar em mim, amargurando-me

principalmente, tanto que o Senhor ao me ver tão amarga me disse em meu interior:

(9) “Diga-lhe que me conceda outros dois dias de suspensão, para dar-lhes tempo a poder regular-

se”.

(10) E assim se foi, deixando-me toda trespassada e cheia de amargura; e Jesus, fazendo ouvir de

novo a sua voz, me disse:

(11) “Pobre filha, como a amargam, sinto-me dilacerar o coração ao ver-te, ânimo, não temas

minha filha; ademais recorda que pela intervenção da obediência foste suspensa deste estado, se

agora não querem já, Eu te farei obedecer, não é este o prego que mais te trespassa, não

obedecer?”

(12) E eu: “Sim”.

(13) “Pois bem, Eu te prometi que te farei obedecer, portanto não quero que te amargures. No

entanto, diga-lhes: Quer jogar Comigo? A quem quer jogar Comigo e lutar contra a minha

Vontade!”.

(14) E eu: “Sem Ti como faço? Porque se não estou surpreendida por esse estado eu não te vejo”.

(15) “E Ele: “Como não é tua vontade sair deste estado de sacrifício, Eu encontrarei outras

maneiras para fazer-me ver e entreter-me contigo; não estás contente?”.

(16) Assim na manhã seguinte, sem perder os sentidos fez-se ver sensivelmente me dando

algumas gotas de leite para me fortalecer, pois era extrema minha debilidade.

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Novembro 22, 1902

Corre perigo de morrer, a obediência se opõe.

(1) O dia 22 de Novembro continuava a sentir-me mal, e de novo o bendito Jesus veio e disse-me:

(2) “Amada minha, queres vir?”

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(3) E eu: “Sim, não me deixes mais nesta terra”.

(4) E Ele: “Sim, quero-te contentar desta vez”.

(5) E enquanto dizia isto senti-me fechar o estômago e a garganta, de modo que já não entrava

nada, mal podia respirar, sentindo-me sufocar. Depois vi que Jesus bendito chamava os anjos e

lhes dizia: “Agora que a vítima vem, suspendam as forças, a fim de que os povos façam o que

quiserem”.

(6) E eu: “Senhor, quem são eles?”

(7) E Ele: “São os anjos que guardam as cidades, até que as cidades sejam assistidas pela força

da proteção divina comunicada aos anjos, não podem fazer nada, quando esta proteção lhes é

retirada pelas graves culpas que cometem, deixando-as em poder deles mesmos, podem fazer

revoluções e qualquer tipo de mal”.

(8) Então eu me sentia tranquila e vendo-me sozinha com meu amado Jesus e abandonada por

todas as criaturas, de coração agradecia ao Senhor e lhe pedia que se dignasse não deixar que

Venha ninguém me incomodar. Enquanto eu estava nesta situação, minha irmã veio e me olhando

mal mandou chamar o confessor, que por caminho de obediência conseguiu me fazer abrir um

pouco a garganta e foi me dando a obediência de não morrer. Pobre quem tem que enfrentá-las

com as criaturas, porque não conhecendo a fundo todas as penas e desgarros de uma pobre alma,

agregam às penas maiores dores, e é mais fácil obter compaixão de Deus, ajuda e consolo, que

das criaturas, é mais, parece que atiçam maioritariamente. Mas seja sempre bendito o Senhor que

tudo dispõe para sua glória e para o bem das almas !

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4-155

Novembro 30, 1902

Temor de que seu estado fora obra do demônio. Jesus lhe ensina como

conhecer quando é Ele, e quando o demônio.

(1) Encontrando-me com temores, dúvidas, agitações, de que tudo fosse obra do demônio, vindo

meu adorável Jesus me disse:

(2) “Minha filha, Eu sou Sol que enche de luz o mundo, e indo à alma se reproduz nela outro Sol,

de modo que por caminho de raios de luz lançam setas mutuamente de contínuo. Agora, em meio

a estes dois Sóis se produzem nuvens, que são as mortificações, as humilhações, contrariedades,

sofrimentos e demais; se estes são verdadeiramente Sóis, têm tanta força, que com lançar setas

continuamente triunfam sobre estas nuvens e as convertem em luz; mas se são sóis aparentes e

falsos, estas nuvens que se produzem em meio têm força de converter a estes sóis em trevas. Este

é o sinal mais certo para saber se eu sou Eu ou o demônio, e depois que uma pessoa recebeu este

sinal, pode arriscar a vida para confessar a verdade, que é luz e não trevas”.

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(3) Eu estive ruminando em minha mente se estes sinais são encontrados em mim, e eu pareço tão

defeituosa que eu não tenho palavras para manifestar minha maldade. No entanto, não desconfio,

mas espero que a misericórdia do Senhor queira ter compaixão desta pobre criatura.

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Dezembro 3, 1902

Transtornos pela obediência, Jesus tranquiliza-a.

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu habitual estado e continuando os meus temores, ao vir o

bendito Jesus disse-lhe: “Vida da minha vida, de onde vem que não me fazes obedecer às ordens

dos superiores?”

(2) E ele: “E tu, minha filha, não vês de onde vem o conflito? De que o querer humano não se una

com o Divino e se dêem o beijo juntos, de modo de formar um só, e quando há conflito entre estes

dois querer, sendo superior o Querer Divino, o querer humano deve perder por força. E além disso,

o que mais querem? Eu te disse que se quiserem te faço cair neste estado, se não querem te faço

obedecer com respeito à obediência de que Eu te devo fazer cair e Eu devo te fazer voltar em ti

sem que eles venham, deixando a coisa independente deles e toda a minha disposição. Fica a Mim

se te quero ter um minuto ou meia hora neste estado, se te devo fazer sofrer ou não, isto fica tudo

a meu cargo, e querendo eles fazer diversamente seria um querer ditar-me leis do modo, do como

e do quando devo fazer Eu as coisas; isto seria um querer meter-se demasiado em meus

julgamentos e querer fazer-me de mestre, a quem a criatura está obrigada a adorar, e não a

investigar”.

(3) Ele me deixou de tal forma que eu não sabia o que responder. Vendo que eu não respondia

agregou:

(4) “Este não querer persuadir-se me desagrada muito; tu, porém, nos conflitos e mortificações não

tenhas o olhar neles, mas fixa-o em Mim que fui o centro das contradições, e sofrendo-as tu virás a

ser mais semelhante a Mim; assim tua natureza não poderá separar-se, mas que permanecerás

calma e tranquila. Quero que faça o que puder para obedecê-los, o resto deixe comigo, sem te

perturbar”.

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4-157

Dezembro 4, 1902

Jesus manifesta as razões do seu agir.

(1) Estava pensando em minha mente nesta obediência dizendo: “Eles têm razão de me ordenar

isso, e logo não é uma grande coisa que o Senhor me faça obedecer no modo querido por eles.

Além de que eles dizem: “Ou que te faça obedecer, ou que diga a razão pela qual quer que venha

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o sacerdote para te fazer recuperar desse estado”. Enquanto isso eu pensava, meu adorável Jesus

se moveu dentro de mim dizendo-me:

(2) “Minha filha, Eu queria que eles mesmos tivessem encontrado a razão de meu agir, porque em

minha Vida, desde que nasci até que morri, tendo encerrado em Mim a vida de toda a Igreja, tudo

se encontra, as questões mais difíceis confrontadas com algum acontecimento da minha Vida onde

se possam uniformizar, se resolvem; as coisas mais enredadas se soltam, e as mais escuras e

obtusas em que a mente humana quase se perde nessa escuridão, encontram a luz mais clara e

resplandecente. Isto significa que não têm por regra de seu obrar minha vida, de outra maneira

teriam encontrado a razão. Mas já que eles não encontraram a razão, é necessário que Eu fale e a

manifeste”.

(3) Depois disto se levantou e com império, tanto que eu temia, disse:

(4) “O que significa o Stende te Sacerdoti?”. ( você está abaixo do Sacerdote)

(5) Depois, tornando-se um pouco mais doce acrescentou:

(6) “Minha Potência se estendia por toda parte, e de qualquer lugar que me encontrasse podia

realizar os mais estrepitosos milagres, no entanto, em quase todos os milagres quis assistir

pessoalmente, como ao ressuscitar Lázaro, fui, fiz remover a lápide, o fiz desatar, e depois com o

império da minha voz voltei a chamar-lhe a vida. Ao ressuscitar a menina, tomei-a pela mão com a

minha mão direita chamando-a de novo à vida, e tantas outras coisas que estão registradas no

Evangelho, que a todos são conhecidas, quis assistir com a minha presença. Isto ensina, estando

fechada a vida futura da Igreja na minha, o modo como deve Comportar-se o sacerdote em seu

agir. E estas são coisas que se referem a ti, mas em modo geral, teu lugar próprio o encontrarão

sobre o calvário. Eu, sacerdote e vítima e levantado sobre o tronco da cruz, quis um sacerdote que

me assistisse naquele estado de vítima, que foi São João, que representava a Igreja nascente; nele

eu via a todos: papas, bispos, sacerdotes e todos os fiéis juntos, e ele, enquanto me assistia,

oferecia-me como vítima para a glória do Pai e para o bom êxito da Igreja nascente. Isto não

aconteceu por acaso, que um sacerdote me assistisse nesse estado de vítima, senão que tudo foi

um profundo mistério, predestinado desde “ab eterno” na mente divina, significando que ao

escolher uma alma vítima pelas graves necessidades que na Igreja há, um sacerdote me la

ofereça-a ,assista-a, ajude-a e encoraje-a a sofrer; se estas coisas são compreendidas, está bem,

eles mesmos receberão o fruto da obra que prestam, como São João, quantos bens não recebeu

por ter-me assistido no monte calvário? Se em troca não, não fazem outra coisa que pôr minha

obra em contínuos conflitos, desviando meus mais belos desígnios.

(7) Além disso, minha sabedoria é infinita e ao enviar alguma cruz à alma para santificar-se não só

toma uma, senão cinco, dez, quantas Me aprazem, a fim de que não só uma, senão todas estas

juntas se santifiquem. Como no calvário, não estive Eu só, além de ter um sacerdote tive uma Mãe,

111

tive amigos e até inimigos, que ao ver o prodígio de minha paciência, muitos creram em Mim como

o Deus que era e se converteram; se Eu tivesse estado só, teriam recebido estes grandes bens?

Certamente que não”.

(8) Mas quem pode dizer tudo o que me disse, e explicar os mais minuciosos significados? Disse-o

o melhor que pude, como na minha rusticidade soube dizê-lo, o resto espero que o Senhor o faça,

iluminando-os para fazê-los compreender o que eu não soube manifestar bem.

+ + + +

4-158

Dezembro 5, 1902

Vê uma mulher que chora o estado dos povos,

ela lhe pede que não saia de seu estado de vítima.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, o bendito Jesus me comunicou suas penas, e estando

sofrendo via uma mulher que chorava copiosamente e dizia: “Os reis se aliaram e os povos

perecem, e estes não vendo-se ajudados, protegidos, mas despojados, se perderão, e os reis sem

os povos não podem subsistir. Mas o que me faz chorar mais é que vejo faltar as fortalezas da

justiça, que são as vítimas, único e só sustenta que mantém a justiça nestes tempos tristíssimos;

pelo menos me dá você a palavra de não sair deste estado de vítima?”

(2) E eu, não sei porque, me senti tão decidida que respondi: “Esta palavra não a dou, não,

permanecerei até que o Senhor queira, mas assim que Ele me diga que terminou o tempo de fazer

esta penitência, não permanecerei nem sequer um minuto mais”. E ela, ao ouvir a minha vontade

irremovível, chorava mais, como se quisesse com o seu pranto que eu dissesse sim, e eu, mais do

que nunca resolvida, disse: “Não, não”.

(3) E ela chorando disse: “Então haverá justiça, castigos, massacres, sem qualquer diminuição”.

(4) Entretanto, tendo dito ao confessor, me disse que por obediência retirasse o não.

+ + + +

4-159

Dezembro 7, 1902

França e Itália não reconhecem mais a Jesus.

Jesus suspende-a de seu estado de vítima, mas ela

não aceita e luta para que não se redija a lei do divórcio.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma encontrei-me numa densíssima escuridão, e nela estavam

milhares de pessoas, essa escuridão as tornava cegas, tanto que elas mesmas não entendiam o

que faziam. Parecia que fazia parte da Itália e fazia parte da França. Oh! quantos erros se

percebiam em França, piores que os da Itália, parecia que tinham perdido a razão humana,

primeiro dote do homem e que o distinguia das bestas, e tinham-se tornado piores que estas

mesmas. Perto desta escuridão se via uma luz, me aproximei e encontrei meu amante Jesus, mas

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tão aflito e indignado contra aquela gente, que eu temia e tremia de “Senhor, acalma-te e faz-me

sofrer a mim, derramando sobre mim a tua indignação”.

(3) E Ele me disse: “Como posso aplacar-me, se me querem desviar deles, como se não fossem

obra criada por Mim? Não vê como a França me retirou de si, considerando-se honrada de não me

reconhecer mais? E como a Itália quer seguir a França, havendo alguns que dariam a alma ao

diabo para poder formar a lei do divórcio, tantas vezes tentada por eles e que ficaram esmagados e

confundidos; mais do que me aplacar e derramar sobre ti a minha indignação te suspendo do

estado de vítima, porque quando a minha justiça tem provado várias vezes, usando todo o seu

poder para não dar aquele castigo querido pelo mesmo homem, e com tudo isto o quer, é

necessário que a justiça suspenda quem a detém e faça cair o castigo”.

(4) E eu: “Senhor, se me quisesses suspender por outros castigos, facilmente teria aceitado porque

é justo que a criatura se uniformize em tudo ao teu Santo Querer, mas aceitá-lo por este mal

gravíssimo, a minha alma não pode tolerar esta suspensão, Em vez disso, dá-me o teu poder e

deixa-me estar no meio daqueles que querem isto”.

(5) Enquanto dizia, encontrei-me com eles, pareciam revestidos por forças diabólicas,

especialmente um que parecia furioso, como se quisesse perturbar tudo. Eu disse e disse

novamente e eu mal consegui jogar alguma luz de razão, fazendo-os saber o erro que eles

estavam cometendo, e depois disso eu me encontrei em mim mesma com muito poucos

sofrimentos.

+ + + +

4-160

Dezembro 8, 1902

O confessor usa o poder da Igreja para ter crucificado Jesus em Luísa,

crucificando-a juntamente para impedir a lei do divórcio.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me disse:

(2) “Minha filha, hoje quero te manter suspensa sem te fazer sofrer”.

(3) E eu comecei a temer e a lamentar-me com Ele, e acrescentou:

(4) “Não temas, Eu estarei contigo, mas sim, quando tu ocupas o estado de vítima estás exposta à

justiça, e além dos outros sofrimentos muitas vezes te toca sofrer minha mesma privação e a

escuridão, em suma, tudo o que merece o homem por suas culpas, mas suspendendo-te o ofício

de vítima tudo será misericórdia e amor que mostrarei a ti”.

(5) Eu me sentia libertada, se bem via meu amado Jesus e compreendia muito bem que não era

Sua vinda o que tornava necessária a vinda do sacerdote para me fazer recuperar, senão antes os

sofrimentos que Jesus me dava. Então, não sei dizer por que, minha alma sentia uma pena, mas

minha natureza sentia uma grande satisfação e dizia: “Pelo menos pouparei ao confessor o

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sacrifício de vir”. Mas enquanto isso pensava, vi junto com Nosso Senhor um sacerdote vestido de

branco, me parecia que fosse o Papa e junto ao confessor, e eles lhe rogavam que me fizesse

sofrer para impedir que redigissem esta lei do divórcio. Mas Jesus não lhes fazia caso, então o

confessor não fazendo caso de que não o ouvia, com ímpeto extraordinário, que parecia que não

fora ele, tomou Jesus Cristo nos braços e a força o colocou dentro de mim dizendo: “Estarás

crucificado nela, crucificando-a, mas esta lei não a queremos”.

(6) Jesus ficou como que atado dentro de mim, crucificado por aquela imposição, sentindo eu

acerbamente as dores da cruz, e disse:

(7) “Filha, é a Igreja que o quer, e seu poder unido à força da oração me ata”.

+ + + +

4-161

Dezembro 9, 1902

Luisa se encontra junto com Jesus Cristo, como pregada com Ele. Falam sobre o divórcio.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma junto com Jesus

Cristo, como pregada com Ele, e como eu sofria permanecia em silêncio. Enquanto isso, vi o

confessor junto com o anjo da guarda que lhe dizia:

(2) “Esta pobrezinha está sofrendo muito, tanto que a impede de falar, lhe dê um pouco de trégua,

porque quando dois amantes desafogam entre eles o que têm em seu interior, terminam

concedendo-se mutuamente o que querem”.

(3) Então me senti aliviando os sofrimentos, e primeiramente disse certas necessidades do padre,

rogando-lhe que fizesse tudo de Deus, porque quando alguém se torna tal, não pode encontrar

nenhuma dificuldade para que lhe concedam o que quer, porque não poderá buscar outra coisa

senão o que agrada a Deus; depois disse: “Senhor, esta lei do divórcio chegarão os homens a

formá-la na Itália?”

(4) E Ele: “Minha filha, há perigo, a menos que algum raio chinês chegue a impedir-lhes este

propósito”.

(5) E eu: “Senhor, como? É talvez algum da China, que enquanto estão por fazer isto tomará algum

raio e o jogará entre eles para matá-los, de modo que aqueles assustados vão fugir?”

(6) E Jesus: “Quando você não entender é melhor que cales”.

(7) Eu fiquei confusa e não me atrevi a falar mais, e sem ter compreendido o significado. Mas o

anjo da guarda estava dizendo ao confessor que além da intenção da cruz unir a de fazê-lo

derramar, que se isso conseguisse venceria o ponto e não poderão fazê-lo.

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+ + + +

4-162

Dezembro 15, 1902

Ela é pregada com Jesus. O homem está para ser

esmagado pelo peso da justiça divina.

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma e encontrei o meu

adorável Jesus atirado por terra, crucificado, que todos o espezinhavam, e eu para impedir que isto

fizesse estendi-me sobre Ele para receber sobre mim o que faziam a Nosso Senhor. E enquanto

estava naquela posição disse: “Senhor, o que te custa que esses mesmos pregos que te

trespassem, me trespassem ao mesmo tempo?” Enquanto eu estava nisto eu encontrei-me

pregada com aqueles mesmos pregos que tinham pregado ao bendito Jesus, Ele abaixo e eu

acima; e nesta posição nos encontramos no meio daqueles homens que querem o divórcio, e

Jesus lhes mandava tantos raios de luz produzidos pelos sofrimentos que Jesus e eu sofriamos, e

eles ficavam impressionados e confundidos. E compreendia que se o Senhor quiser fazer-me

sofrer quando eles vierem para fazer isto, fracassarão e não concluirão nada.

(2) Depois disto desapareceu, ficando eu sozinha a sofrer, depois voltou de novo mas não

crucificado, e se lançou em meus braços, mas se tornou tão pesado que meus pobres braços não

resistiam e estava a ponto de deixá-lo cair a terra. Então, vendo que por mais que fizesse e me

esforçasse não podia sustentar esse peso, era tanta a pena que sentia que chorava

abundantemente, e Ele vendo o perigo de cair e meu pranto, chorava junto comigo. ¡ Que cena

mais dilacerante! Então, fazendo-me violência o beijei no rosto, e me beijando Ele também lhe

disse: “Vida e força minha, por mim sou débil e nada posso, mas contigo tudo posso; por isso

fortalece minha debilidade infundindo-me tua mesma força, e assim poderei sustentar o peso de

sua pessoa, único meio para podermos reciprocamente evitar este desgosto, eu de te fazer cair e

Você de sofrer a queda”. Ao ouvir isto, Jesus disse-me:

(3) “Minha filha, não compreendes tu o significado do meu pesar? Deves saber que é o peso

enorme da justiça que nem Eu posso suportá-lo mais, nem tu poderás contê-lo, e o homem está

por ser esmagado pelo peso da justiça divina”.

(4) Eu, ouvindo isto, chorava, e Ele, para me distrair, como antes de vir, tinha um forte temor de

que não devesse obedecer sobre certas coisas, acrescentou:

(5) “E tu, minha amada, por que temes tanto que não te fizesse obedecer? Não sabe que quando

atraio alguém, identifico a alma Comigo, comunicando-lhe meus segredos, a primeira tecla que

ponho, a que soa mais bela e que comunica o som a todas as outras teclas, é a tecla da

obediência? Tanto, que se as outras teclas não estão em comunicação com a primeira tecla,

soarão de um modo discordante, que jamais poderá ser agradável a meu ouvido. Por isso não

temas, e além disso, não tu mas Eu obedecerei em ti, e sendo uma obediência que me compete

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fazer a Mim, deixa-me agir a Mim, sem te preocupares, porque só Eu sei o que convém, e o modo

para fazer-me conhecer”.

(6) Dito isto desapareceu e eu encontrei-me em mim mesma. Seja sempre bendito o Senhor.

+ + + +

4-163

Dezembro 17, 1902

Para poder ser vítima é necessária a união permanente com Jesus.

(1) Esta manhã, ao vir meu adorável Jesus, estava-lhe rogando que se acalmasse, dizendo-lhe:

“Senhor, se eu não puder suportar sozinha o peso de tua justiça, há tantas almas boas, que

dividindo um pouco em cada uma, será mais fácil sustentar o peso, e assim as nações poderão ser

perdoadas”.

(2) E Ele: “E tu, minha filha, não sabes que para que minha justiça possa descarregar sobre

alguma alma o peso do castigo de outros, deve-se encontrar em posse de minha união

permanente, de modo que tudo o que obra, sofre, intercede e obtém, vem-lhe dado por virtude de

minha união estabelecida nela, não fazendo outra coisa a alma que pôr sua vontade e unificá-la

com a minha; nem minha justiça poderia fazê-lo se antes não lhe dá as graças necessárias para

poder pôr a alma a sofrer por causa dos demais?”

(3) E eu: “Como, sua união é permanente em mim? Eu pareço tão ruim”.

(4) E Ele interrompendo meu discurso acrescentou: “Tola, o que você diz? Não me ouve

continuamente em você, não percebe os movimentos sensíveis que faço em seu interior? A oração

contínua que em teu interior se eleva, não podendo tu fazer de outra maneira, acaso és tu ou Eu

que habito em ti? No máximo você nunca me vê, e isso não diz que minha união não é permanente

em você”.

(5) Eu fiquei confusa e não sabia o que responder.

+ + + +

4-164

Dezembro 18, 1902

Jesus leva-a de novo a sofrer com Ele, para vencer aqueles que querem o divórcio.

(1) Não apenas me encontrei em meu estado habitual, o bendito Jesus veio, mas sofrendo tanto

que dava compaixão; então todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, vem de novo a sofrer Comigo para poder vencer a obstinação daqueles que

querem o divórcio, provemos outra vez, tu estarás sempre disposta a sofrer o que quero, Não é

verdade? Dás-me o teu consentimento?”

(3) E eu: “Sim, Senhor, faz o que quiseres”.

(4) Não apenas tinha dito sim, o bendito Jesus se estendeu dentro de mim, crucificado, e como

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minha natureza era menor que a sua, me esticou até me fazer chegar ao seu mesmo tamanho,

depois derramou pouquíssimo, sim, mas tão amargo e cheio de sofrimentos, que não só sentia os

pregos nos pontos da crucificação, mas todo o corpo me sentia cravado por tantos pregos, de

modo que me sentia toda destroçada. Então, por pouco tempo deixou-me nessa posição e

encontrei-me no meio dos demônios, que vendo-me tão sofrida diziam: “Até o último esta maldita

deve vencer outra vez para que não façamos a lei do divórcio. Maldita sua existência, você busca

nos danar e desbaratar nossos planos, arruinando nossas tantas fadigas mandando-as ao vazio,

mas a faremos pagar, te colocaremos contra bispos, sacerdotes e gentes, de modo que em outra

ocasião faremos que te passe o capricho de aceitar os sofrimentos”. E enquanto isso diziam me

enviavam turbilhões de chamas e fumaça. Eu me sentia tão dolorida que não me dava conta nem

de mim mesma. O bendito Jesus retornou e os demônios fugiram ante sua vista, e de novo me

renovou os mesmos sofrimentos, mais fortes que antes, e assim o repetiu outras duas às vezes, e

embora eu estivesse quase sempre com Jesus, como eu me encontrava como oprimida por fortes

sofrimentos não lhe disse nada, só Ele me dizia:

(5) “Minha filha, por agora é necessário que sofras, tem paciência. Não queres cuidar dos meus

interesses como se fossem teus?”

(6) E agora me sustentava em seus braços, não podendo minha natureza sustentar por si só o

peso daqueles sofrimentos. Depois me disse:

(7) “Amada, queres ver o mal que aconteceu naqueles dias que te suspendi deste estado?”

(8) Naquele momento não sei como, vi a justiça, e a via cheia de luz, de graça, de castigos e de

trevas, e por quantos dias estivera suspensa, tantos rios de trevas desciam sobre a terra, e aqueles

que querem fazer mal e falar mal ficavam mais cegos e tomavam força para executá-lo, lançando-

se contra a Igreja e as pessoas sagradas. Eu fiquei espantada e Jesus me disse:

(9) “Você acreditava que era nada, tanto que não se preocupava, mas não era assim, viu quanto

mal veio e quanta força tomaram os inimigos, até chegar a fazer o que durante o tempo em que te

tive sempre neste estado não tinham podido”.

(10) Depois disso, ele desapareceu.

+ + + ++

4-165

Dezembro 24, 1902

Efeitos do sofrer. Valor da soberba.

(1) Continuando o meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e encontrei Nosso

Senhor, que junto tinha uma cruz toda entrelaçada de espinhos. Então tomou-a e colocou-a sobre

os meus ombros, ordenando-me que a levasse no meio de uma multidão de pessoas para dar

prova de Sua misericórdia e aplacar a justiça divina. Era tão pesada que a levava curvada e quase

me arrastando. Enquanto a levava Jesus desapareceu, e aquele que me guiava quando cheguei a

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um ponto me há dito:

(2) “Deixa a Cruz e desnuda-te, porque deve retornar Nosso Senhor e te deve encontrar pronta

para a crucificação”.

(3) Eu me despi e retive as vestes na mão pela vergonha que a natureza sentia, e disse entre mim:

“Assim que vier, eu as deixarei”. Enquanto eu estava nisso ele voltou e me encontrou com as

vestes na mão ele me disse:

(4) “Você nem mesmo se despiu completamente para poder rapidamente crucificá-la, então

deixaremos para outro tempo”.

(5) Eu fiquei confusa e aflita, sem poder pronunciar uma palavra, e Jesus para me consolar tomou-

me pela mão e disse-me:

(6) “Dize-me, que queres que te doe?”

(7) E eu: “Senhor, sofrer”.

(8) E Ele: “E que mais?”

(9) E eu: “Não sei pedir-te outra coisa senão sofrer”.

(10) E Jesus: E amor não queres?”

(11) E eu: “Não, sofrer, porque me dando o sofrimento me dará mais amor, e isto eu sei por

experiência, que para obter as graças, o amor mais forte e a todo o Tu mesmo, não se obtém por

outra coisa senão por meio do sofrimento, e para merecer-me todas as tuas atrações, gostos e

complacências, o único meio é sofrer por amor teu”.

(12) E Ele: “Amada minha, quis-te provar para reacender em ti principalmente o desejo de sofrer

por amor meu”.

(13) Depois disto vi pessoas que acreditavam em algo mais do que os outros, e o bendito Jesus

disse:

(14) “Minha filha, que diante de Mim e diante dos homens se crê alguma coisa, nada vale; e quem

se crê nada vale tudo. Primeiro diante de mim, porque se faz alguma coisa, não acredita que a faz

porque pode fazê-la, porque tem a força, a capacidade, mas fá-la porque recebe de Deus a graça,

as ajudas, as luzes, portanto pode-se dizer que a faz em virtude do poder divino, e quem tem

consigo o poder divino, já vale tudo. Segundo, diante dos homens, este agir em virtude do poder

divino, fá-la agir tudo diferente, e não faz outra coisa que transmitir luz do poder divino que em si

contém, de modo que os mais perversos, sem querer, sentem a força desta luz e se submetem a

seu querer, e eis que também diante dos homens vale tudo. Ao contrário, quem acredita em

alguma coisa, além de não valer nada, me é abominável, e pelos modos ostentosos e refinados

que têm, acreditando-se eles alguma coisa, zombando dos demais, os homens os têm assinalados

com o dedo como sujeitos de escárnio e de perseguição”.

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4-166

Dezembro 26, 1902

As calúnias, as perseguições, as oposições, servem para justificar o homem.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me toda oprimida e com temor de receber

perseguições, oposições, calúnias, não só eu, pois de mim não me preocupo porque sou uma

pobre criatura que nada valho, mas pelo confessor com outros sacerdotes. Então eu senti o

coração esmagado por este peso, sem ser capaz de encontrar a calma. Neste momento, veio o

meu Jesus adorável dizendo-me:

(2) “Minha filha, por que estar perturbada e inquieta perdendo tempo? Por suas coisas não há

nada, e além disso tudo é providência divina que permite as calúnias, as perseguições, as

oposições, para justificar o homem e fazê-lo retornar à união com o Criador, a sós, sem apoio

humano, como saiu ao ser criado. E eis que o homem, por mais bom e santo que fosse, tem

sempre alguma coisa de espírito humano em seu interior, como também em seu exterior não é

perfeitamente livre, sempre tem alguma coisa de humano na qual espera, confia e se apóia, e pela

qual quer obter estima e respeito, assim que a providência divina faz que sopre um pouco o vento

das calúnias, perseguições e oposições, oh! , que Destruidora de granizo recebe o espírito

humano, porque o homem vendo-se combatido, mal visto, desprezado pelas criaturas, não

encontra mais satisfação entre elas; pelo contrário, falta-lhe tudo junto: ajudas, apoios, confiança e

estima, e se antes ia em busca delas, depois ele mesmo os foge, porque para onde se volta só

encontra amarguras e espinhos. Assim, reduzido a este estado permanece sozinho, e o homem

não pode estar, nem é feito para estar sozinho, o que fará o pobrezinho? Se tornará tudo, sem o

mínimo estorvo a seu centro Deus, e Deus se dará tudo a ele, e o homem se dará tudo a Deus,

aplicando sua inteligência em conhecê-lo, sua memória em lembrar-se de Deus e de seus

benefícios, a vontade a amá-lo. E eis aqui, minha filha, justificado, santificado, e recusa na sua

alma a finalidade para a qual foi criado. E ainda que depois lhe convenha tratar com as criaturas,

se vê que lhe são oferecidas ajudas, apoios, estima, recebe-os com indiferença, conhecendo por

experiência quem são, e se se serve delas, só o faz quando vê nisso a honra e a glória de Deus,

ficando sempre só Deus e ele”.

+ + + +

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Dezembro 30, 1902

O Senhor a faz ver terremotos, destruição de cidades e lhe fala de sua Vontade.

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(1) Encontrando-me em meu estado habitual, me parecia ver a Santíssima Trindade e eu no meio

deles, como se quisessem resolver o que deviam fazer com o mundo. Então parecia que diziam:

(2) “Se ao mundo não se lhe mandam fortíssimos flagelos, tudo terá terminado para ele em matéria

de religião, e se voltarão pior que os mesmos bárbaros”.

(3) Enquanto diziam isso, parecia que guerras de todas as espécies, terremotos que destruíam

cidades inteiras e doenças, desciam à terra. Eu ao ver isto, tremendo toda disse: “Majestade

Suprema, perdoai a ingratidão humana, agora mais do que nunca o coração do homem se rebelou,

se for castigado se rebelará principalmente, acrescentando ultrajes a ultrajes a Vossa Majestade”.

E uma voz que saía do meio deles dizia:

(4) “O homem pode rebelar-se quando só é mortificado, mas quando é destruído cessa sua

rebelião. Agora, aqui não se fala de mortificações mas de destruição”.

(5) Depois disto desapareceram; mas quem pode dizer como fiquei, muito mais porque sentia como

uma disposição de querer sair deste estado de sofrimentos, e uma vontade não perfeitamente

resignada ao Querer Divino. Via com clareza que a mais feia afronta que a criatura pode fazer ao

Criador é opor-se a seu Querer Santíssimo, por isso sentia a pena, temia fortemente que pudesse

fazer um ato oposto a seu Querer, e com tudo isso não podia me acalmar. Então, depois de muito

esperar, regressou o meu adorável Jesus e me disse:

(6) “Minha filha, muitas vezes Eu me contento em escolher as almas, em cercá-las de força divina

de modo que nenhum inimigo possa entrar nela, e aí estabeleço minha perpétua morada, e neste

morar que faço me abaixo, pode-se dizer, aos mais pequenos serviços, a limpo, lhe extirpo todos

os espinhos, lhe destruo tudo o que de mal tem produzido a natureza humana, e nela planto tudo o

que de belo e de bom em Mim se encontra, tanto de formar o mais belo jardim de minhas delícias,

do qual me sirvo a meu gosto e segundo as circunstâncias de a minha glória e o bem dos outros,

tanto que se pode dizer que já não tem nada do seu, servindo-me só para meu quarto. Então, você

sabe o que é preciso para destruir tudo isso? Um ato oposto à minha Vontade, e tudo isso você

fará se você se opor à minha Vontade”.

(7) E eu: “Temo Senhor que os superiores possam me dar a obediência da outra vez”.

(8) E Ele: “Isso não é coisa tua, e Eu as verei com eles, mas nisto está o teu querer”.

(9) Apesar de tudo isto não podia me acalmar e ia repetindo em meu interior: “Que mudança

funesta me aconteceu! Quem tem desunido meu querer do Querer de meu Deus, que parecia que

formava um só.

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4-168

Dezembro 31, 1902

Jesus ama tanto a Luisa, que chega a amá-la quanto se ama a

Si mesmo embora às vezes não possa vê-la e lhe seja repugnante.

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Explicações.

(1) Continuava com o temor de que pudesse opor-me ao Querer de meu adorável Jesus, sentia-me

toda oprimida e angustiada, e estava pedindo-lhe que me libertasse, dizendo-lhe: “Senhor, tem

piedade de mim, não vês o perigo em que me encontro? É possível que eu, vilíssimo vermezinho

me atreva tanto, de sentir-me oposto a seu Santo Querer? E além disso, que bem posso encontrar

e em que precipício cairei se me encontro desunida de sua Vontade?” Enquanto dizia isto, o

bendito Jesus se moveu em meu interior, e com uma luz que me mandava parecia que me dizia:

(2) “Tu nunca compreendes nada, este estado é estado de vítima; quando te ofereceram vítima por

Corato tu aceitaste; agora, que coisa há de mal em Corato? Não há talvez a rebelião para com o

Criador por parte da criatura, entre sacerdotes e leigos, entre partidos e partidos? E bem, teu

estado de rebelião não querido, o temor, tuas penas, é estado expiatório, e este estado de

expiação Eu o sofri no Getsémani, tanto, que cheguei a dizer: “Se é possível passar de Mim este

cálice, mas não se faça minha vontade senão a tua”. Enquanto que em todo o curso de minha Vida

a tinha desejado tanto, até me sentir consumir”.

(3) Ao ouvir isto, parece que me acalmei e me senti fortificada, e lhe pedi que derramasse em mim

suas amarguras, e havendo-me aproximado de sua boca, por quanto chupava não saía nada, só

um fôlego amarguíssimo que me amargava todo o interior, E eu, vendo que nada derramava, disse:

“Senhor, já não me amas? Se você não quer derramar amargura pelo menos derramar suas

doçuras”.

(4) E Ele: “Mas bem te amo mais, e se você pudesse entrar em meu interior veria com clareza em

todas as minhas partículas o amor especial para você, e algumas vezes te amo tanto, que chego a

te amar quanto me amo a Mim mesmo, se bem às vezes não te posso ver e me é nauseante”.

(5) Estas últimas palavras foram como um relâmpago a meu pobre coração, pensar que nem

sempre era amada por meu amante Jesus, e que em ocasiões chegava a ser uma alma

abominável. Se Ele mesmo não tivesse corrido a explicar-me o significado, eu não teria podido

viver mais. Então ele adicionou:

(6) “Pobre filha, é muito difícil para você? Você encontrou a minha sorte, Eu era sempre o que era,

Uno com a Trindade Sacrossanta e nos amávamos com um amor eterno, indissolúvel, porém

coberto como vítima de todas as iniquidades dos homens, meu exterior era abominável ante a

Divindade, tanto que a justiça divina não me perdoou em nenhuma parte, tornando-se inexorável

até me abandonar. Tu és sempre como és Comigo, mas como desempenhas o estado de vítima,

teu exterior aparece ante a divina justiça coberto das culpas dos demais, eis por que te disse essas

palavras; sem embargo tu tranqüiliza-te, porque te amo sempre”.

(7) Dito isto desapareceu. Parece que o bendito Jesus desta vez tinha vontade de me inquietar,

mas logo me dá a paz. Seja sempre bendito e agradecido.

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+ + + + +

4-169

Janeiro 5, 1903

A liberdade é necessária para conhecer o bom e o mau.

(1) Esta manhã me sentia quase livre dos sofrimentos, eu mesma não sabia o que fazer, quando

de repente me senti fora de mim mesma e via pessoas de nossa cidade, que além das palavras e

calúnias que haviam dito, planejavam chegar aos atos. Enquanto estava nisto vi o bendito Jesus e

disse: “Senhor, demasiada liberdade dás a estes homens infernais, até agora têm sido palavras de

inferno, e agora querem chegar a pôr as mãos sobre os teus ministros; convida-os e tem

compaixão deles, e ao mesmo tempo defende aqueles que te pertencem”.

(2) E Ele: “Filha, é necessária esta liberdade para conhecer o bom e o mau, mas deves saber que

estou cansado do homem, e tão cansado que o compartilho a ti, de modo que quando sentes esse

cansaço de teu estado de vítima e quase a vontade de querer sair dele, vem-te de Mim, mas

advirto-te que estejas atenta em não meter nenhuma vontade, porque eu vou buscar a vontade da

criatura para me apoiar e punir os rebeldes. Entretanto provemos, ainda te farei sofrer, e aqueles

ficarão sem força e não poderão fazer nada do que querem”.

(3) Quem pode dizer o que sofri e quantas vezes me renovou a crucifixão, e enquanto fazia isto me

disse levantando sua mão para o céu:

(4) “Minha filha, ao homem não o fiz para a terra, mas para o Céu, e sua mente, seu coração, e

tudo o que o seu interior contém devia existir no Céu, e se isso fizesse, receberia nas três

potências o influxo da Santíssima Trindade, e Ela ficaria copiada nele mesmo; mas como se ocupa

de terra, recebe em si a lama, a podridão e toda a cloaca de vícios que a terra contém”.

+ + + +

4-170

Janeiro 7, 1903

Pede a Jesus que lhe esclareça o seu estado, e Ele esclarece-o.

(1) Continuando meu habitual estado, estava pensando: “Será possível, pode ser verdade que por

poucos sofrimentos meus o Senhor suspenda os castigos, que debilite as forças humanas para que

não façam revoluções e para não formar leis iníquas? E além disso, quem sou eu para merecer

com poucos sofrimentos tudo isso?” Enquanto isso pensava, veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Filha minha, nem tu, nem quem te dirige compreenderam teu estado; tu no estado de

sofrimentos desapareces de todo, e Eu só, não misticamente, senão em carne viva reproduzo

meus mesmos sofrimentos que sofreu minha Humanidade. E não foram talvez os meus sofrimentos

que enfraqueceram os demônios, iluminaram as mentes cegas, em uma palavra, os que formaram

a redenção do homem? E se o puderam fazer então na minha Humanidade, não o poderão fazer

agora na tua? Se um rei fosse habitar em um pequeno barraco, e dali dispensasse graças, ajuda,

122

moedas, continuaria seu ofício de rei, se alguém não acreditasse se diria que é tolo, pois se é rei

pode fazer o bem tanto no palácio real como no pequeno barraco; e mais, admira-se mais sua

bondade, porque sendo rei não desdenha habitar em pequenas pocilgas e viçosas cabanas; assim

é a sua situação”.

(3) Eu compreendia com clareza tudo isto e disse: “Meu Senhor, tudo está bem como dizes, toda a

dificuldade do meu estado está na vinda do sacerdote”.

(4) E Ele: “Minha filha, ainda que um rei habitasse em pequenas pocilgas, pelas circunstâncias,

pelas necessidades, pela condição de rei, é conveniente que seus ministros não o deixem sozinho,

mas que lhe façam companhia servindo-o e obedecendo-o no que ele quer”.

(5) Fiquei tão convencida, que não sabia mais o que dizer.

+ + + +

4-171

Janeiro 9, 1903

Tudo está escrito no coração de quem crê, espera e ama.

(1) Esta manhã me sentia toda oprimida, pois tinha vindo Monsenhor a me visitar porque dizia que

não era certo que fosse Jesus Cristo quem operava em mim; e ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, para compreender bem a um sujeito se necessita crer, porque sem isto tudo é

escuridão no intelecto humano, enquanto que o só crer acende na mente uma luz, e por meio desta

luz descobre com clareza a verdade e a falsidade, quando opera a graça e quando a natureza e

quando o diabólico. Olha, o Evangelho é conhecido por todos, mas quem compreende o significado

das minhas palavras, as verdades que ele contém? Quem as conserva em seu próprio coração e

faz delas um tesouro para comprar o reino eterno, ou seja, quem crê. E todos os outros não só não

compreendem nada, mas servem-se delas para zombar e zombar das coisas mais santas. Portanto

pode-se dizer que tudo está escrito nos corações de quem crê, espera e ama, e para todos os

outros, nada está escrito para eles. Assim é de você, quem crê um pouco vê as coisas com clareza

e encontra a verdade; quem não, vê as coisas todas confusas”.

+ + + +

4-172

Janeiro 10, 1903

As palavras que mais confortam à doce Mãe são: “Dominus Tecum”.1

(2) Esta manhã, depois de ter esperado muito, veio a Rainha Mãe com o Menino nos braços, e

deu-mo dizendo-me que o tivesse cortejado com atos contínuos de amor. Por quanto pude o fiz, e

enquanto isso fazia Jesus me disse:

(2) “Amada minha, as palavras mais agradáveis e que mais consolam a minha Mãe são o

1

O Senhor é Contigo

123

“Dominus Tecum”, porque não apenas foram pronunciadas pelo arcanjo, sentiu comunicar-se nela

todo o Ser Divino, e por isso se sentiu investida do poder divino, de modo que o seu, diante do

poder divino se perdeu, e minha Mãe ficou com o poder divino em suas mãos”.

+ + + +

4-173

Janeiro 11, 1903

Vê Monsenhor que luta pela religião.

(1) Havendo-me dito o confessor que rezasse segundo as intenções de Monsenhor, via,

encontrando-me fora de mim mesma, que não concerne a Monsenhor mas a outras pessoas, e

entre elas via uma mulher muito boa, mas toda consternada e que chorava, e monsenhor sob os

braços de uma cruz com Cristo pregado em cima dela, que defendia, e devia ter ocasião para

combater pela religião, e o bendito Jesus que dizia:

(2) “Eu os confundirei”.

+ + + +

4-174

Janeiro 13, 1903

Vê a Santíssima Trindade. Males das adulações.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, parecia-me ver a Santíssima Trindade que

reciprocamente se olhavam, e era tanta sua beleza que ficavam estáticos só de se olhar, e neste

estado se transbordavam fora em amor, e por este amor ficavam como sacudidos, e permaneciam

mais intensamente estáticos, assim que todo seu bem e complacência estavam compreendidos

neles mesmos, e toda sua eterna vida e bem-aventurança, e funcionamento, estavam encerrados

nesta única palavra: “amor”. E toda a bem-aventurança dos santos era formada por esta obra

perfeita da Santíssima Trindade.

(2) Enquanto via isto, o Filho tomou a forma de Crucifixo, e, saindo do meio deles, veio a mim,

participando-me das penas da crucificação, e, enquanto estava comigo, pôs-se de novo no meio

deles, e ofereceu os seus e os meus sofrimentos, e deu satisfação pelo amor que lhe deviam todas

as criaturas. Quem pode dizer sua complacência, e como ficavam satisfeitos com a oferta do Filho.

Parecia que assim como ao criar as criaturas não havia saído outra coisa de seu interior que

chamas contidas de amor, pois para desafogar a este amor começaram a criar tantas outras

imagens deles, então ficavam satisfeitos quando recebiam o que tinham dado, isto é: Amor deram,

amor querem; assim que a mais Ofensa feia é não amá-los. No entanto, ó Deus três vezes Santo!

Quem é aquele que te ama?

(3) Depois disto desapareceram. Mas quem pode dizer o que compreendia? Minha mente se perdia

e a língua não sabe articular palavra. Então, pouco depois, voltou o bendito Jesus com o rosto

coberto de cuspidelas e de lodo, e disse-me:

124

(4) “Minha filha, os louvores, as adulações, são cuspidelas e lama que sujam e mancham a alma e

cegam a mente, para não deixá-la conhecer quem verdadeiramente é ela, especialmente se não

partem da verdade, porque se partem da verdade e a pessoa é digna de louvores, sabendo a

verdade me dará a Glória, mas se partem da falsidade, empurram a tal excesso a alma, que se

confirma principalmente no mal”.

+ + + +

4-175

Janeiro 31, 1903

Efeitos da coroa de espinhos de Jesus.

(1) Depois de ter esperado muito, vi o bendito Jesus em meu interior que tinha a coroa de

espinhos, e eu me pus a contemplá-lo e a compadece-lo, e Ele me disse:

(2) “Minha filha, quis sofrer estes espinhos na minha cabeça, além de para expiar todos os pecados

de pensamento, para unir a inteligência divina à humana, porque a inteligência divina estava como

dispersa nas mentes humanas, E meus espinhos a chamaram do Céu e a enxertaram de novo.

Não só isto, mas consegui, para quem devia manifestar as coisas divinas, ajuda, força, lucidez para

fazê-la conhecer aos demais”.

+ + + +

4-176

Fevereiro 1, 1903

A Rainha Mãe a repreende. Abre-se uma igreja protestante em Corato.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, sentia-me toda aflita, especialmente porque meu

confessor me havia dito que esta manhã se abria em Corato uma igreja protestante, e que eu devia

rogar ao Senhor que fizesse acontecer alguma coisa para confundi-los, à custa de qualquer

sofrimento meu, e vendo que o Senhor não vinha e portanto eu não sentia grandes sofrimentos,

único meio para obter esta espécie de graças, sentia uma aflição grandíssima. Depois de muito

esperar veio o bendito Jesus, e via o confessor que insistia muito e rogava para me fazer sofrer;

assim parece que me participaram as penas da cruz, e depois me disse:

(2) “Minha filha, fiz-te sofrer obrigado pelo poder sacerdotal, e permitirei que aqueles que vão, em

vez de ficarem convencidos do que os protestantes dizem, os tomem a ridículo, e além disso, como

o castigo caiu sobre Corato nos dias que te tive suspensa do estado de vítima, deve ter seu curso,

e se você continuar sofrendo disporei de modo tal aos corações, que a tempo oportuno me servirei

de alguma ocasião para fazê-los ficar totalmente confundidos e destruídos”.

(3) Depois, veio a Rainha Mãe, como se tivesse querido usar comigo um trato de justiça me

repreendeu áspero por algum pensamento e palavra, especialmente quando me vendo com

pouquíssimos sofrimentos digo que já não é Vontade de Deus, e então quero sair deste estado.

125

Quem pode dizer com que rigor me repreendeu? E disse-me: “Que o Senhor permita que alguns

dias te suspenda, pode ser; mas que te disponhas tu, isto é intolerável diante de Deus, vindo tu

quase a ditar leis do modo como te quer ter”. Senti tanto a força do rigor, que estava por desmaiar,

tanto que o bendito Jesus tendo compaixão de mim, me sustentou entre seus braços.

+ + + +

4-177

Fevereiro 9, 1903

Os bens da Igreja Católica, e os males dos protestantes.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma via o confessor com outro sacerdote santo, o

qual dizia: “Tira todo pensamento de que não é Vontade de Deus tua situação”.

(2) Depois falou sobre estes protestantes que dizem de Corato, e disse: “Pouco ou nada farão,

porque os protestantes não têm o anzol da verdade para pescar os corações, como tem a Igreja

Católica, lhes falta o barco da verdadeira virtude para colocá-los a salvo, estão desprovidos de

velas, de remos, de âncora, que são os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo, e chegam a

não ter nem um pão para tirar a fome, nem água para tirar a sede e lavar-se, como são os

sacramentos, e o que é mais, falta-lhes até o mar da Graça para poder ir pescar almas. Então,

faltando tudo isso, que progressos poderão fazer?” E disse tantas outras coisas que eu não sei

repetir bem. Depois veio meu amável Jesus e me disse:

(3) “Minha filha, quem me ama fixa-se de frente ao centro Divino, mas quem se resigna e faz em

tudo a Vontade Divina, possui em si mesmo o centro da Divindade”.

(4) E como relâmpago desapareceu. Pouco depois voltou, e eu lhe estava agradecendo pela

Criação e Redenção e por tantos outros benefícios. E Ele acrescentou:

(5) “Na Criação formei o mundo material, e na Redenção formei o mundo espiritual”.

+ + + +

4-178

Fevereiro 22, 1903

O pecado é veneno, e a dor é o antídoto.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, por pouco tempo vi meu adorável Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, o pecado ofende a Deus e fere o homem, e como foi cometido pelo homem, e foi

ofendido Deus, para receber uma plena satisfação se necessitava um homem e um Deus que me

satisfez. E os trinta anos de minha Vida mortal deram satisfação pelas três idades do mundo, pelos

três diferentes estados de lei: a natural, a escrita e a da graça, e pelas três diversas idades de cada

homem: Adolescência, juventude e velhice. Eu por todos dei satisfação, mereci e impetrei, e minha

126

humanidade serve de escada para subir ao Céu; mas se o homem não sobe esta escada com o

exercício das próprias virtudes, em vão tenta subir e tornará inútil para si mesmo o meu agir”.

(3) Então eu, ouvindo o nome do pecado, disse: “Senhor, fala-me um pouco do porquê te agrada

tanto quando uma alma se magoa de ter te ofendido”.

(4) E Ele: “O pecado é um veneno que envenena toda a alma e a torna tão deformada, que chega

a fazer desaparecer nela minha imagem, e a dor destrói este veneno e lhe restitui minha imagem, a

verdadeira dor é um antídoto, e à medida que a dor destrói o veneno, faz um vazio na alma, e este

vazio o enche minha graça; esta é a causa de meu agrado, porque vejo ressuscitada por meio da

dor a obra de minha Redenção”.

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4-179

Fevereiro 23, 1903

Não querem por cabeça a Nosso Senhor. A Igreja será sempre Igreja.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei-me perto de um jardim que parecia ser a Igreja,

perto do qual estavam pessoas que maquinavam um atentado à Igreja e ao Papa, e no meio deles

estava Nosso Senhor crucificado, mas sem cabeça. Quem pode dizer a pena, o horror que dava

ver seu santíssimo corpo naquele estado? E compreendia que os homens não querem a Jesus

Cristo por sua cabeça, e como a Igreja o representa sobre esta terra, por isso buscam destruir

aquele que faz suas vezes. Depois me encontrei em outro lugar, no qual estavam outras pessoas

que me perguntavam: “O que diz você da Igreja?”

(2) E eu, sentindo uma luz na mente disse: “A Igreja será sempre Igreja, no máximo poderá lavar-

se em seu próprio sangue, mas esta lavagem a tornará mais bela e gloriosa”.

(3) Eles ao ouvirem isso disseram: “É falso, vamos chamar o nosso deus e ver o que ele diz”.

(4) Então saiu um homem que superava a todos em altura, com coroa na cabeça, e disse: “A Igreja

será destruída, não existirão funções públicas, ao mais alguma escondida, e a Virgem não será

mais reconhecida”.

(5) Quando eu ouvi isto, eu disse: “E quem és tu que te atreves a dizer isto? Acaso não és tu

aquela serpente condenada por Deus a rastejar pela terra? E agora atreves-te a tanto que fazes

crer que és rei, enganando as nações, ordeno-te que te faças conhecer pelo que és”.

(6) Enquanto eu estava dizendo isso, a altura tornou-se baixo, baixo, tomou a forma de serpente, e

provocando um relâmpago se precipitou; e eu encontrei-me em mim mesma.

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4-180

Março 5, 1903

Jesus faz-se ver levando um maço de cruzes nos braços, e diz-lhe que são as cruzes do

127

desapontamento, que tem prontas para cada um.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, encontrei-me junto com o bendito Jesus, que levava

um maço de cruzes, de espinhos nos braços, todo cansado e afanado. E eu, vendo-o naquele

estado, disse: “Senhor, com que finalidade te esforçar tanto com este maço nos braços?”

(2) E Ele: “Minha filha, estas são as cruzes do desapontamento, que tenho sempre prontas para

desenganar as criaturas”.

(3) Agora, enquanto dizia isto, nos encontramos no meio das nações, e o bendito Jesus, não

apenas via a um que se apegava às criaturas, tomava daquele maço a cruz da perseguição e a

dava, e aquele vendo-se perseguido, mal visto, ficava desiludido e compreendia o que eram as

criaturas e que só Deus merece ser amado. Se algum outro se apegava às riquezas, tomava

daquele maço a cruz da pobreza e a dava, e aquele vendo-se esfumadas as riquezas,

empobrecido, compreendia que tudo é fumaça aqui embaixo e que verdadeiras riquezas são as

eternas, e portanto a tudo o que é eterno apegava seu coração. Se outro se apegava à própria

estima, ao saber, o bendito Jesus com toda doçura tomava a cruz das calúnias e das confusões e

lhe dava, e aquele, confundido, caluniado, tirava-se como uma máscara e compreendia o seu

nada, seu ser, e todo seu interior o ordenava em ordem só a Deus e não mais a si mesmo. E assim

por todas as outras cruzes. Depois disso, meu adorável Jesus me disse:

(4) “Você viu a causa pela qual tenho este maço de cruzes nos braços? O amor às criaturas obriga-

me a tê-lo, estando em contínua atitude para com elas; sendo a cruz o desapontamento primário e

o primeiro que julga o agir das criaturas, de modo que se a criatura se render, a cruz lhe fará evitar

o juízo de Deus, me dando por satisfeito quando alguem em vida se submete ao juízo da cruz;

mas se não se render, se encontrará no ambiente do segundo desapontamento da morte, e será

julgado com um estrito rigor por Deus, muito mais por ter escapado do juízo da cruz, que é juízo

todo de amor”.

(5) Depois disto desapareceu, e eu compreendia também que é verdade que Jesus ama a cruz,

mas muitas vezes o próprio homem incita, provoca Jesus a dar-lhe a cruz, porque se estivesse

ordenado em ordem a Deus, a si mesmo e às criaturas, não vendo nele nenhuma desordem, o

Senhor as guardaria e daria a paz.

+ + + +

4-181

Março 6, 1903

Jesus leva-a a ver o mundo e diz “Ecce homo”. 2

(1) Depois de ter esperado muito, o bendito Jesus fazia-se ver dentro de mim, dizendo-me:

(2) “Queres que vaiamos ver se as criaturas me querem?”

2

Eis o Homem

128

(3) E eu: “Certamente te amarão; sendo Tu o Ser mais amável, quem terá a audácia de não te

amar?”

(4) E Ele: “Vamos e depois verás o que farão”.

(5) Fomos embora, e quando chegamos a um ponto onde havia muita gente, tirou sua cabeça de

dentro de mim e disse aquelas palavras que disse Pilatos quando o mostrou ao povo: “Ecce

Homo”. E compreendia que aquelas palavras significavam se queriam que o Senhor reinasse como

seu Rei, e tivesse o domínio em seus corações, nas mentes, e obras; e aqueles responderam:

“Tirai-o, não o queremos, mas, ao contrário, levai-o, a fim de que seja destruída toda sua memória”.

Oh, quantas vezes essas cenas se repetem! Então o Senhor disse a todos: “Ecce Homo”.

(6) Ao dizer isto aconteceu um murmúrio, uma confusão, que dizia: “Não o quero por meu Rei,

quero a riqueza, outro o prazer, outro a honra, quem as dignidades e outros tantas outras coisas

mais. Com horror eu escutava estas vozes e o Senhor me disse:

(7) “Você entendeu como ninguém me quer, mas isso é nada, vamos nos dirigir à classe religiosa e

ver se eles me querem”.

(8) Então me encontrei no meio de sacerdotes, bispos, religiosas, consagrados; e Jesus com voz

sonora repetiu: “Ecce Homo”.

(9) E aqueles diziam: “Queremos, mas queremos também nossa conveniência”. Outros: “Nós o

amamos, mas junto com o interesse”. Outros responderam: “Nós o amamos, mas unidos à estima,

à honra, o que faz um religioso sem estima?” Eles diziam: “Nós o amamos, mas junto com alguma

satisfação de criatura, como podemos viver sozinhos e sem que ninguém nos satisfaça?” E alguns

chegavam a querer pelo menos a satisfação no sacramento da confissão. Mas só, só, quase

ninguém o queria, não faltando também que alguém não se ocupasse de fato de Jesus Cristo.

(10) Então todo aflito me disse: “Minha filha, vamos nos retirar, você viu como ninguém me quer,

ou no máximo me querem unido com alguma coisa que lhes agrada, Eu não me contento com isso,

porque o verdadeiro reinar é quando reina sozinho”.

(11) Enquanto dizia isto, encontrei-me em mim mesma.

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4-182

Março 9, 1903

Jesus fala da humildade e da correspondência.

(1) Continuando o meu estado habitual, ouvia que no meu íntimo o bendito Jesus rezava dizendo:

(2) “Pai Santo, glorifica o teu nome, confunde e esconde-te dos soberbos e manifesta-te aos

humildes, porque só o humilde te reconhece pelo seu Criador, e se reconhece como tua criatura”.

(3) Dito isto não se deixou ouvir mais, embora eu compreendesse a força da humildade diante de

Deus, parecia-me que não tem nenhuma dúvida em confiar-lhe os mais preciosos tesouros, mas

sim tudo está aberto para os humildes, nada está fechado à chave; todo o contrário para os

129

soberbos, mas parece que lhes põe um laço nos pés para os confundir a cada passo. Pouco

depois fez-se ver outra vez e me disse:

(4) “Minha filha, se um corpo está vivo se conhece pelo calor interno contínuo, porque se pode dar

que mediante algum calor externo se possa aquecer, mas não vindo da verdadeira vida logo volta a

esfriar-se. Assim a alma, pode-se conhecer se está viva à graça se sua vida interna está viva no

obrar, em amar-me, se sente a força de minha mesma vida na sua; se em troca, é por qualquer

causa aparente que se aquece, faz algum bem e depois se esfria, regressa aos vícios, comete as

habituais fraquezas, há uma grande certeza de que está morta à graça, ou bem está nos últimos

extremos da vida. Assim se pode saber se verdadeiramente sou Eu quem vou à alma, se sente

minha graça em seu interior e todo seu bem se funda em seu interior; se em troca tudo é externo e

nada adverte em seu interior de bem, pode ser obra do demônio”.

(5) Enquanto isto dizia desapareceu, mas pouco depois voltou e acrescentou:

(6) “Minha filha, que terrível pode ser para as almas que foram muito fecundadas pela minha graça

e não retribuíram. A nação hebraica, a mais predileta, a mais fecundada, não obstante a mais

estéril, e toda a minha pessoa não produziu aquele fruto que Paulo produziu nas outras nações

menos fecundadas, mas mais correspondentes, porque a não correspondência à graça, cega a

alma, e a faz errar e a dispõe à obstinação, mesmo diante de qualquer milagre”.

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4-183

Março 12,1903

Lamentos. Jesus fala da sua vida e da Eucaristia.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, via-me sozinha e abandonada, então, depois de ter

esperado muito se fez ver em meu interior, e eu lhe disse:

(2) “Doce vida minha, como me deixaste sozinha, quando Tu me puseste neste estado tudo foi

união, e tudo o que combinamos juntos, e com doce força me atraíste toda a Ti. Oh! como se

mudou a cena, não só me abandonaste, não só não me fazes nenhuma força para ter-me naquele

estado, senão que estou obrigada a fazer-te uma contínua força para não sair deste estado, e este

forçar-te é para mim um contínuo morrer”.

(3) E Ele me disse: “Minha filha, o mesmo aconteceu quando no consistório da Sacrossanta

Trindade decretou o mistério da Encarnação para salvar o gênero humano, e Eu unido com sua

Vontade aceitei e me ofereci vítima pelo homem; tudo foi união entre as Três Divinas Pessoas e

tudo foi planejado juntos, mas quando me pus à obra chegou um momento, especialmente quando

me encontrei no ambiente das penas, dos opróbrios, carregado de todas as maldades das

criaturas, que fiquei só e abandonado por todos, até por meu amado Pai; e não só isto, senão que

assim, carregado de todas as penas como estava, devia forçar o Onipotente a aceitar e que me

fizesse continuar meu sacrifício pela salvação de todo o gênero humano, presente, passado e

130

futuro. E isso eu consegui. O sacrifício ainda dura, o esforço é contínuo, embora esforço todo de

amor, e você quer saber onde e como? No sacramento da Eucaristia, nele o sacrifício é contínuo,

perpétuo, é a força que faço ao Pai para que use misericórdia com as criaturas e com as almas

para obter o seu amor, e encontro-me em contínuo contraste de morrer continuamente, embora

todas as mortes de amor. Então, não estás contente por eu te fazer participar nos períodos da

minha própria vida?”

+ + + +

4-184

Março 18, 1903

Jesus diz que quem faz o seu Querer escolhe o melhor.

(1) Esta manhã, tendo-me perguntado o confessor se sentia o desejo de sofrer, eu lhe respondi:

“Sim”, mas me sentia mais tranqüila, gozava mais paz e contente quando não queria outra coisa

senão o que quer Deus; por isso queria deter-me. Depois, havendo vindo o bendito Jesus me

disse:

(2) “Minha filha, tu escolheste o melhor, porque quem está sempre em minha Vontade, me ata em

modo de fazer sair de Mim uma contínua virtude para tê-la em contínua atitude para comigo, tanto,

que ela forma o meu alimento e eu o dela. Ao contrário, ainda que a alma fizesse coisas grandes,

santas e boas, como não é virtude que tenha saído de Mim, não poderá ser para Mim alimento

saboroso, porque não as reconheço como obras de Minha Vontade”.

Deo Gratias

Graças a Deus!

Nihil obstat

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

 

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita 

Volume 05

1

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade

3

1 Volume 05 I. M. I.

5-1

(1) Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

(2) Senhor, vem em minha ajuda, ata esta minha vontade rebelde que quer sempre resistir contra  a santa obediência, e me põe em tal estreiteza, que enquanto às vezes parece morta, então mais  do que nunca, como serpente a sinto viva e me corrói por dentro, por isso me canta com novas  cordas, é mais, enche-me de tua santa e adorável Vontade até transbordar fora, de maneira que  minha vontade fique consumida na tua, e então poderei ter a felicidade de não lutar mais contra a  santa obediência. E tu, ó santa obediência, perdoa-me se te faço sempre a guerra e dá-me a força  para poder seguir-te em tudo pacificamente, ainda que às vezes pareça que eu tenho toda a razão.  Como lutar contra Vós, como neste escrever por conta do confessor! mas bom, façamos silêncio,  não façamos mais atrasos e comecemos a escrever.

(3) Como meu passado confessor se encontrava muito ocupado, muito mais que no curso dos anos  em que ele me dirigia, quando não podia ele vir vinha o confessor presente, mas eu não tinha  pensado jamais que deveria me encontrar nas mãos deste, sobre tudo que eu estava contente com  aquele e nele tinha toda minha confiança. Cerca de um ano e meio antes de o presente fosse meu  confessor, estando em meu habitual estado, o bendito Jesus me disse não estar contente com que  meu passado confessor não se ocupasse mais de meu interior, e do modo como ele concorria com  Nosso Senhor sobre meu estado, dizendo-me que:

(4) “Quando coloco nas mãos do confessor almas vítimas, o trabalho de seu interior deve ser  contínuo, por isso diga-lhe: Ou me corresponde, ou te coloco nas mãos de qualquer outro”.  (5) E eu: “Senhor, que dizes, quem será tão paciente que deverá tomar esta cruz de vir cada dia a  sacrificar-se como este confessor?”

(6) E Jesus: “Dar-lhe-ei luz, nomeando o presente confessor, e virá”.

(7) E eu: “Quão impossível é que ele tome esta cruz”.

(8) E Jesus: “Sim, virá, e além disso, quando não me ouvir a Mim mandarei a minha Mãe, e ele que  a ama, não lhe negará este favor Porque, certamente, nada é negado a quem verdadeiramente se  ama. No entanto, eu quero ver um pouco mais o que este faz, e dizer-lhe tudo o que eu disse”.  (9) Quando o confessor veio lhe contarei tudo, mas pobrezinho, uma nova ocupação tomada por  ele impossibilitava-o a ocupar-se de meu interior, via-se que não era sua vontade, senão a  impotência por isso não podia ocupar-se de mim. Quando o dizia se empenhava mais, mas logo  voltava a não cuidar de mim, como antes. Jesus bendito se lamentava dele, e eu voltava a dizer ao  confessor. Um dia ele mesmo me mandou ao pai presente, e eu também com ele abri minha alma

 

1 Este livro foi traduzido do espanhol

4

dizendo-lhe tudo o que tenho dito, ele aceitou vir e eu fiquei maravilhada de que tinha dito que sim,  e dizia entre mim: “Tinha razão Jesus”. Mas logo cessou a maravilha, não sei dizer como, durou  apenas quanto dura uma sombra que rápido foge, veio apenas dois ou três dias e não se viu mais,  também como sombra fugiu e eu continuava estando nas mãos do confessor passado, adorando  as disposições de Deus, eu estava contente com ele, que tantos sacrifícios tinha feito por minha  causa. Depois de ter passado cerca de outro ano, e eu sentindo uma necessidade de consciência,  disse-o ao confessor passado e disse-me: “Mando-te Dom Genaro”. Quer dizer ao padre presente,  investindo-se de minha necessidade.

(10) Pensativa sobre uma tempestade ocorrida entre eles, Jesus repetiu: “Não mova as coisas, tudo o que tenho disposto Eu e tudo o que foi feito, foi bem feito”.

+ + + +

5-2

Março 19, 1903

O verdadeiro amor é aquele que sofre por Deus, quer sofrer mais. 

(1) Esta manhã via o confessor todo humilhado, e junto com o bendito Jesus e São José, o qual lhe  disse: “Põe-te na obra e o Senhor está pronto a dar-te a graça que queres”.  (2) Depois disto, vendo meu amado Jesus sofredor como no curso da Paixão lhe tenho disse:  “Senhor, não sentiu cansaço ao sofrer tantas penas diferentes?”

(3) E Ele: “Não, antes um sofrimento acendia mais o coração para sofrer outro, estes são os modos  do sofrer divino; não só, mas no sofrer e no agir não olha outra coisa que o fruto que dele recebe.  Eu, em minhas chagas e em meu sangue, via as nações salvas, o bem que recebiam as criaturas,  e meu coração, antes de sentir fadigas, sentia alegria e ardente desejo de sofrer mais. Então, este  é o sinal se o que se sofre é participação de minhas penas: se une sofrer e alegria de sofrer mais,  e se em seu agir obra por Mim, se não olhar para o que faz, senão para a glória que dá a Deus e  ao fruto que disto recebe.

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5-3

Março 20, 1903

Jesus e São José consolam o pai nas suas dificuldades.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, via o pai com dificuldades a respeito da graça que quer, e  Jesus bendito outra vez com São José lhe diziam:

(2) “Se te puseres a obra, todas as tuas dificuldades desaparecerão, e cairão como escamas de  peixe.

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5-4

Março 23, 1903

Se o amor é santo forma a vida da santificação, se é perverso a vida da condenação. (1) Encontrando-me em meu habitual estado, depois de ter esperado muito, vi por pouco tempo a  meu adorável Jesus entre meus braços e uma luz que saía de sua testa, e nesta luz estavam  escritas as seguintes palavras: “O amor é tudo para Deus e para o homem, se cessa o amor  cessaria a vida, porém há duas espécies de amor, um espiritual e divino, e o outro corporal e  desordenado, e entre estes amores há grande diferença entre eles pela intensidade, multiplicidade,  diversidade, pode-se quase dizer que é a diferença que há entre o pensar da mente e do agir das  mãos; a mente em brevíssimo tempo pode pensar em centenas de coisas, onde as mãos apenas  podem fazer uma só obra. Deus Criador, se cria às criaturas, é o amor que faz que as crie; se tem  em contínua atitude seus atributos para com as criaturas, é o amor que a isto o empurra, e seus  mesmos atributos do amor recebem a vida. O mesmo amor desordenado, como às riquezas, aos  prazeres e a tantas outras coisas, não são estas as que formam a vida do homem, mas se sente  amor a estas coisas, não só formam a vida, mas chega a fazer delas um ídolo próprio. Assim, se o  amor é santo forma a vida da santificação, se é perverso forma a vida da condenação. + + + +

5-5

Março 24, 1903

Enquanto se é nada, pode-se ser tudo estando com Jesus. 

(1) Esta manhã, depois de ter passado dias amargos, o bendito Jesus veio e se divertia  familiarmente comigo; tanto que eu acreditava que devia possuí-lo sempre; mas quando estava no  melhor, como um relâmpago desapareceu; quem pode dizer minha pena? Sentia-me a  enlouquecer, muito mais que estava quase segura que não o perderia mais. Agora, enquanto me  consumia em penas, como um relâmpago voltou, e com uma voz sonora e séria me disse:

(2) “Quem és tu que pretendes ter-me sempre contigo?”

(3) E eu, louca como estava, toda atrevida respondi: “Estando Contigo sou tudo, sinto que não sou  outra coisa que uma vontade saída do seio do meu Criador, e esta vontade até que esteja unida  Contigo, sente a vida, a existência, a paz, todo o seu bem. Sem Ti a sinto sem vida, destruída,  dispersa, inquieta, posso dizer que provo todos os males, e para ter vida e não me dispersar, esta  vontade saída de Ti busca teu seio, teu centro, e aí quer permanecer para sempre”. Parecia que  Jesus se enternecia tudo, mas de novo repetiu:

(4) “Mas quem és tu?

(5) E eu: “Senhor, não sou outra coisa senão uma gota de água, e esta gota de água, enquanto se  encontra no teu mar, lhe parece ser todo o mar; e se do mar não sair se mantém limpa e clara, de

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modo a poder estar diante das outras águas; mas se sair do mar se enlameará, e pela sua  pequenez se desvanecerá”. Todo comovido se inclinou para mim dando-me um abraço e me disse:  (6) “Minha filha, quem quer estar sempre em minha Vontade conserva nela a mim mesma Pessoa,  e se bem pode sair de minha Vontade, havendo-a criado livre de vontade, minha potência obra um  prodígio fornecendo-lhe continuamente a participação da Vida Divina, e por esta participação que  recebe sente tal força e atração de união com a Vontade Divina, que embora o quisesse fazer não  o pode fazer, e esta é a contínua virtude da que te falei no outro dia, que sai de Mim para quem faz  sempre minha Vontade.

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5-6

Abril 7, 1903

Temores por seu estado.

(1) Depois de ter passado dias amargos pelas contínuas privações de meu adorável Jesus, esta  manhã me sentia ao cúmulo da aflição, cansada e sem forças, estava pensando que  verdadeiramente não me queria mais neste estado, e quase me decidia a sair dele. Enquanto fazia  isso, meu amável Jesus se moveu em meu interior e se fazia ouvir que rezava por mim, e só  compreendia que implorava a potência, a força e a providência do Pai para mim, acrescentando:  (2) “Não vê, ! oh” Pai, como você tem maior necessidade de ajuda, porque depois de tantas graças  você quer se tornar pecadora saindo de nossa Vontade?”

(3) Quem pode dizer como me sentia destroçar o coração ao ouvir estas palavras de Jesus. Depois  saiu de dentro de mim, e eu depois de me ter assegurado que fora o bendito Jesus disse: “Senhor,  é Tua vontade que continue neste estado de vítima?

Porque eu não me sinto na mesma posição que no princípio, me vejo como se não fosse  necessária a vinda do sacerdote, e pelo menos pouparei o sacrifício ao confessor.  (4) E Ele: “Por agora não é minha Vontade que tu saias; a respeito do sacrifício do sacerdote,  restituirei centuplicada a caridade que faz”.

(5) Depois, todos os aflitos acrescentaram: “Minha filha, os socialistas planejaram entre eles  golpear a Igreja, e isto fizeram-no na França publicamente, e na Itália mais oculto; e minha justiça  vai encontrando vazios para lançar mão dos castigos”.

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5-7

Abril 10, 1903

Como os homens não se rendem, Jesus fará ressoar  

a trombeta de novos e graves flagelos.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, via nosso Senhor com uma vara na mão que tocava as

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nações, e elas, sendo tocadas, se dispersavam e se revelavam, e o Senhor lhes disse:  (2) “Toquei-vos para vos reunirdes em Mim, e em vez de vos reunirdes revel e dispersais de Mim,  por isso é necessário que Eu soe a trombeta”.

(3) E enquanto dizia isto pôs-se a tocar a trombeta. E eu compreendia que o Senhor mandará  algum castigo, e os homens em vez de humilhar-se tomarão ocasião para ofendê-lo e afastar-se, e  o Senhor ao ver isto fará ressoar a trombeta de outros graves flagelos.

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5-8

Abril 21, 1903

Jesus suspende Luisa de seu habitual estado para poder castigar. 

(1) Tendo passado dias amargos de privações e lágrimas, com o acréscimo de me ver na  possibilidade de que o Senhor me suspendesse do estado de vítima, como de fato me aconteceu,  que porque me esforçava não podia perder os sentidos, Mas fiquei surpreendida por muitas dores  internas que me inquietavam, sem que o pudesse compreender. Apenas um sonho na noite, no  qual me parecia ver um anjo que me levava dentro de um jardim, no qual estavam todas as plantas  enegrecidas, mas eu não fiz só pensava em como Jesus me tinha expulsado de Si. Então, ao fim  da tarde, o confessor chegou, e encontrando-me em mim mesma, disse-me que as vinhas tinham  congelado. Fiquei aflita ao pensar nas pobres pessoas, e no temor de que não me fizesse cair em  meu estado acostumado para poder livremente castigar. Mas esta manhã o Bendito Jesus veio-me  fazendo cair no meu estado habitual, e eu mal o vi lhe disse:

(2) “Ah! Senhor, e ontem que fizeste? Então você saiu com a sua, e além disso, nem sequer me  disse nada, que pelo menos teria implorado para evitar em parte o castigo”.  (3) E Ele: “Minha filha, era necessário que te suspendesse, de outra maneira tu me terias impedido,  e Eu não poderia estar livre; e além disso, quantas vezes não fiz Eu o que tu quiseste? Ah! minha  filha, é necessário que no mundo chovam os flagelos, de outra maneira por cuidar dos corpos se  perderão as almas”.

(4) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, sem meu doce Jesus, por isso ia  buscando-o, e nesse momento via no céu um Sol diferente do sol que nós vemos, e junto uma  multidão de santos, os quais ao ver o estado do mundo, a corrupção, e como se fazem zombaria de Deus, todos a uma voz gritavam: “Vingança de tua honra, de tua glória, faz uso da justiça  enquanto o homem não quer reconhecer mais os direitos de seu Criador; mas como falavam em  latim, eu pensava que fosse este o significado; ao ouvir isto eu tremia, me sentia gelar e implorava  piedade e misericórdia.

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5-9

Maio 8, 1903

Quando o homem se dispõe ao bem, recebe o bem; e se se dispõe ao mal, o mal recebe.  (1) Continuando o meu amargo estado de privações, em que, no máximo, Jesus se deixava ver  taciturno e por breves instantes. Esta manhã, empenhando-se o confessor em fazê-lo vir, perdendo  os sentidos, por pouco e quase pela força se fazia ver e voltando-se para o confessor, disse-lhe  com aspecto sério e aflito:

(2) “Que queres?”

(3) O pai parecia confuso e não sabia dizer nada, então eu disse: “Senhor, talvez seja o fato da  missa que ele quer”.

(4) E o Senhor acrescentou: “Prepara-te e a terás, e além disso tu tens a vítima, quanto mais  próximo estiveres com o pensamento e com a intenção, tanto mais te sentirás forte e livre para  poder fazer o que queres”.

(5) Depois disse: “Senhor, por que não vens?” E Ele continuou:

(6) “Queres ouvir? Escuta”.

(7) E naquele momento, ouviam-se tantos gritos de vozes de todas as partes do mundo que diziam:  “Morte ao Papa, destruição de religião, igrejas lançadas por terra, destruição de todo domínio, nada deve existir sobre nós” e tantas outras vozes satânicas que me parece inútil dizê-las. Então nosso  Senhor acrescentou:

(8) “Minha filha, o homem, quando se dispõe ao bem, recebe o bem, e se se dispõe ao mal, o mal  recebe. Todas estas vozes que escutas chegam ao meu trono, e não uma vez senão repetidas  vezes, e minha justiça quando vê que o homem não só quer o mal, mas com dupla insistência o  demanda, com justiça sou obrigado a concedê-lo para lhe fazer conhecer o mal que quer, porque  só então se conhece verdadeiramente o mal, quando no mesmo mal se encontra. Eis a causa pela  qual minha justiça vai buscando vazios para punir o homem, mas ainda não chegou o tempo de  sua suspensão, ao mais algum dia por agora, para fazer que a justiça ponha sua mão um pouco  sobre o homem, não podendo mais resistir ao peso de tanta atrocidade, e ao mesmo tempo fazer  abaixar a testa do homem muito ensoberbecida”.

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5-10

Maio 11, 1903

A paz põe no seu lugar as paixões. A reta intenção tudo santifica.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, quando eu mal vi meu adorável Jesus me disse:  (2) “A paz põe em seu lugar todas as paixões, mas o que triunfa sobre tudo, que estabelece todo o  bem na alma e que tudo santifica, é fazer tudo por Deus, isto é, agir com reta intenção de agradar  só a Deus. O reto agir é o que dirige, o que domina, que retifica as mesmas virtudes, até a mesma

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obediência; em suma, é como um mestre que dirige a música espiritual da alma”.  (3) Dito isto, como um relâmpago desapareceu.

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5-11

Maio 20, 1903

Oferece a sua vida pela Igreja e pelo triunfo da verdade.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, com o bendito  Jesus nos braços de muita gente, as quais com ferros, espadas, facas, tentavam, quem espancar,  quem ferir, e quem cortar os membros de nosso Senhor; Mas por quanto faziam e se esforçavam  não podiam fazer nenhum mal, pelo contrário, as mesmas facas, por quanto afiadas e cortantes,  perdiam sua atividade e se tornavam inúteis. Jesus e eu estávamos extremamente aflitos ao ver a  brutalidade daqueles corações desumanizados, que se bem viam que não podiam fazer nada, ao  mesmo tempo repetiam os golpes tratando de ter sucesso em sua tentativa; e que se nenhum dano  faziam era porque não podiam. Aqueles se enfureciam porque suas armas eram inúteis, e não  podiam efetuar sua decidida vontade de fazer mal a Nosso Senhor, e diziam entre eles: “E por que  não podemos fazer nada? Qual é a causa? Parece que outras vezes havíamos podido alguma  coisa, mas encontrando-se nos braços desta não podemos fazer nada; provemos para ver se  podemos fazer mal a esta e tirá-la de frente”. Enquanto isso diziam, Jesus pôs-se ao meu lado e  deu liberdade àqueles de fazerem o que quisessem. Então, antes que aqueles me pusessem a  mão em cima disse: “Senhor, ofereço minha vida pela Igreja e pelo triunfo da verdade, aceita te peço, o meu sacrifício”.

(2) E aqueles pegaram numa espada e cortaram-me a cabeça. Jesus bendito aceitava meu  sacrifício, mas enquanto isso faziam, no ato de cumprir o sacrifício me encontrei em mim mesma  com sumo desgosto meu, enquanto acreditava ter chegado ao ponto de meus desejos, pelo  contrário fiquei desiludida.

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5-12

Junho 6, 1903

Jesus ensina-lhe como se comportar no estado de abandono e de sofrimento. (1) Depois de ter passado dias amargos de privações e sofrimentos, esta manhã encontrei-me fora  de mim mesma com o menino Jesus nos braços, e eu mal o vi disse: “Ah querido Jesus, como me  deixaste sozinha, pelo menos ensina-me como devo comportar-me neste estado de abandono e de  sofrimento!”.

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(2) E Ele: “Minha filha, tudo o que tu sofres nos braços, nas pernas e no coração, oferece-o  juntamente com os sofrimentos dos meus membros recitando cinco glória ao Pai, e oferece-o à  divina justiça pela satisfação das obras, dos passos, e dos maus desejos dos corações, que  continuamente são cometidos pelas criaturas; une ainda os sofrimentos dos espinhos e dos  ombros recitando três glória ao Pai e ofereça-os para satisfação das três potências do homem, tão  deformadas, de não reconhecer mais minha imagem neles, e tenta manter tua vontade sempre  unida a Mim, e em contínua atitude de me amar; tua memória seja o sino que continuamente  ressoa em ti e te recordes o que fiz e sofri por ti, e quantas graças fiz à tua alma, para me  agradecer, porque a gratidão é a chave que abre os tesouros divinos; a tua inteligência não pense,  não se preocupe com outra coisa senão em Deus. Se você fizer isto eu encontrarei em você minha  imagem e nela tomarei a satisfação que não posso receber das outras criaturas; isto você o fará  continuamente, porque se contínua é a ofensa, contínua deve ser a satisfação”.

(3) Então eu continuei: “Ah! Senhor, como me fiz má, até gulosa me tenho feito.  (4) E Ele: “Minha filha, não temas, quando uma alma faz tudo por Mim, tudo o que toma, até os  mesmos consolos, Eu o recebo como se restaurasse meu corpo sofredor, e aqueles que lhe são  dados os considero como se os dessem a Mim mesmo, tanto que se não os dessem Eu sentiria  pena por isso; mas para tirar toda dúvida, cada vez que te derem algum alívio e sentir a  necessidade de tomá-lo, não só o farás por Mim, senão que acrescentarás: “Senhor, tento  reconfortar teu corpo sofredor no meu”.

(5) Enquanto dizia isto, pouco a pouco retirou-se dentro de mim, e eu não o via mais e não podia  falar mais. Sentia tanta pena, que pela dor me teria feito em pedaços para poder encontrá-lo de  novo, então me pus a rasgar na parte do interior porque se tinha fechado, e assim o encontrei e  com suma dor disse: “Ah! Senhor, você me deixa? Não és talvez Tu a minha vida, e sem Ti não só  a alma, mas também o corpo se destroça tudo e não resiste à força da dor da tua privação? Tanto,  que então, neste caso me parece que deva morrer, meu único consolo é a morte”. Mas enquanto  isso dizia Jesus me abençoou, e de novo se retirou em meu interior e desapareceu, e eu me  encontrei em mim mesma.

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5-13

Junho 15, 1903

Quem se serve dos sentidos para glorificar a Nosso Senhor,  

conserva em si a sua obra Criadora.  

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, meu adorável Jesus, não sei como, via-o dentro do  meu olho. Então eu me admirei e Ele me disse:

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(2) “Minha filha, quem se serve dos sentidos para me ofender deforma em si minha imagem, por  isso o pecado dá morte à alma, não porque verdadeiramente morra, mas porque dá a morte a tudo  o que é Divino. Se, pelo contrário, se serve dos sentidos para me glorificar, posso dizer: “Tu és o  meu olho, o meu ouvido, a minha boca, as minhas mãos e os meus pés”. E com isto conserva em  si a minha obra criadora, e se ao glorificar-me acrescenta o sofrer, o satisfazer, o reparar por  outros, conserva em si a minha obra redentora e, aperfeiçoando em si estas minhas obras,  ressurge a minha obra santificadora, santificando tudo e conservando-o na própria alma, porque de  tudo quanto fiz na obra criadora, redentora e santificadora, Transfundi na alma uma participação de  mim mesmo obrar, mas tudo está em si a alma corresponde a minha obra”.

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5-14

Junho 16, 1903

O que torna a alma mais amada, mais bela, mais amável e mais íntima com Deus, é a  perseverança no agir só para agradar a Ele.  

(1) Continuando o meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma, e via o menino Jesus  que tinha na mão uma taça cheia de amargura e uma vara, e Ele disse-me:  (2) “Olha minha filha que taça de amargura me dá a beber continuamente o mundo”.  (3) E eu: “Senhor, parti-me algo a mim, assim não sofrerás sozinho”.

(4) Então me deu a beber um pouquinho daquela amargura, e depois com a vara que tinha na mão  pôs-se a trespassar-me o coração, tanto que fazia um buraco de onde saía um rio daquela  amargura que tinha bebido, mas mudada em leite doce, e ia à boca do menino, que tudo se  adoçava e confortava, e depois me disse:

(5) “Minha filha, quando dou à alma o amargo, as tribulações, se a alma se uniformiza à minha  Vontade, se me agradece por isso, e disso me faz um presente oferecendo-o a Mim mesmo, para  ela é amargo, é sofrimento, e para Mim se muda em doçura e alívio, mas o que mais me alegra e  me dá prazer, é ver se a alma quando obra e padece está atenta a me agradar somente a Mim,  sem outro fim ou propósito de recompensa, porém o que faz mais querida à alma, mais bela, mais  amável, mais íntima no Ser Divino, é a perseverança neste modo de comportar-se, tornando-a  imutável junto com o imutável Deus; porque se hoje faz e amanhã não; se uma vez tem um fim, e  outra vez outro; hoje trata de agradar a Deus, amanhã às criaturas, é imagem de quem hoje é  rainha e amanhã é vilíssima serva, hoje se alimenta de deliciosos alimentos e amanhã de  porcarias”.

(6) Pouco depois desapareceu, mas logo voltou acrescentando:

(7) “O sol está para benefício de todos, mas nem todos gozam de seus benéficos efeitos. Assim o

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Sol Divino, a todos dá sua luz, mas quem goza seus benéficos efeitos? Quem tem abertos os olhos  à luz da verdade, todos os outros, apesar de que o Sol está exposto ficam na escuridão; mas  propriamente goza, recebe toda a plenitude deste Sol, que está tudo ocupado em me agradar”.

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5-15

Junho 30, 1903

Beleza interior da alma.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, vi a Rainha Mãe, e prostrando-me aos seus pés, disse lhe: “Minha Mãe, em que terrível estreiteza me encontro privada do único bem meu e da minha  própria vida, sinto-me chegar aos extremos”.

(2) E enquanto dizia isto chorava, e a Virgem Santíssima abrindo-se uma parte do coração, como  se se abrisse uma custódia tomou o menino de dentro e me deu-o dizendo:  (3) “Minha filha, não chores, aqui está o teu bem, a tua vida, tu tudo, toma-o e tenha-o sempre  contigo, e Enquanto o tiveres contigo, tem o teu olhar fixo em teu interior sobre Ele, não te  preocupes se não te diz nada, ou se tu não sabes dizer nada, somente olha-o em teu interior,  porque com olhá-lo compreenderás tudo, farás tudo, e satisfarás por todos; esta é a beleza da  alma interior, que sem voz, sem instruções, como não há nada exterior que a atraia ou a inquiete,  senão que toda sua atração, todos seus bens estão fechados no interior, facilmente, com o simples  olhar a Jesus tudo entende e toda obra. Deste modo caminharás até o cume do Calvário, e uma  vez que tenhas chegado, não mais como menino o verás, senão Crucificado e tu ficará junto com  Ele crucificada”.

(4) Por isso parecia que com o menino nos braços e a Virgem Santíssima fazíamos o caminho do  Calvário; enquanto se caminhava alguma vez encontrava alguém que me queria tirar Jesus, e  chamava em ajuda à Rainha Mãe dizendo-lhe: “Minha mãe, ajuda-me, que querem tirar-me Jesus”.  E Ela me respondia: “Não temas, teu empenho seja ter o olhar interior fixo sobre Ele, e isto tem  tanta força, que todas as outras forças humanas e diabólicas ficarão debilitadas e derrotadas”.

(5) Agora, enquanto caminhava encontramos um templo no qual se celebrava a santa missa, no  momento de receber a comunhão eu voei com o menino nos braços ao altar para recebê-la, mas  qual não foi minha surpresa, que enquanto Jesus Cristo entrou dentro de mim, Desapareceu dos  meus braços, e pouco depois me encontrei em mim mesma.

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6-15

Julho 3, 1903

Quem se dá a Jesus em vida, Jesus dá-Se a Ela na morte e a isenta do purgatório.

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(1) Esta manhã, encontrando-me extremamente aflita pela perda do meu adorável Jesus, fez-se  ver dentro de mim, que enchia toda a minha pessoa, isto é, a minha cabeça, os meus braços e  assim por diante. E, vendo isto, disse-me, como querendo explicar-me o significado de como se  fazia ver:

(2) “Minha filha, por que te afliges sendo Eu o dono de ti? Quando uma alma chega a me fazer  dono de sua mente, dos braços, do coração e dos pés, o pecado não pode reinar, e se alguma  coisa involuntária entra nela, sendo Eu o dono, e a alma estando sob a influência de meu domínio,  está em contínua atitude de expiação e rapidamente sai. Além disso, sendo eu santo, é difícil reter  em si qualquer coisa que não seja santa; além disso, tendo-me dado a si mesma em vida, é justiça  que Eu te dê a todo o Eu mesmo na morte, admitindo-a sem qualquer demora à visão beatífica. A  quem tudo é dado a Mim, as chamas do purgatório nada têm a ver com ela”.

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5-17

Agosto 3, 1903

Quanto mais a alma se despoja das coisas naturais, tanto  

mais adquire as coisas sobrenaturais e divinas.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, assim que chegou o meu adorável Jesus fazia-me  ouvir a sua dulcíssima voz que dizia:

(2) “Quanto mais a alma se despoja das coisas naturais, tanto mais adquire as coisas  sobrenaturais e divinas; quanto mais se despoja do amor próprio, tanto mais conquista do amor de  Deus; quanto menos se fatiga em conhecer as ciências humanas, em gozar os prazeres da vida,  tanto de conhecimento de mais adquire das coisas do Céu, da virtude, e tanto mais as gostará  convertendo as amargas em doces. Em suma, todas são coisas que andam de mãos dadas, de  modo que se nada se sente de sobrenatural, se o amor de Deus está apagado na alma, se nada se  conhece das virtudes e das coisas do Céu, e nenhum gosto se sente por elas, a razão é bem  conhecida”.

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5-18

Outubro 2, 1903

Quem procura estar unido com Jesus, cresce na sua própria vida e dá o desenvolvimento ao  enxerto feito por Ele na Redenção, acrescentando outros ramos à árvore da sua  humanidade. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, toda amarga e afligida e quase aturdida pela  privação de meu adorável Jesus, não sabendo eu mesma onde me encontrasse, se no inferno ou  sobre a terra, como raio que foge apenas o vi que dizia:

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(2) “Quem se encontra no caminho das virtudes está em minha própria vida, e quem se encontra  no caminho do vício, se encontra em contradição Comigo”. E desapareceu.

(3) Logo depois, em outra aparição como relâmpago adicionado:

(4) “Minha Encarnação enxertou a humanidade à Divindade, e quem busca estar unido Comigo,  com a vontade, com as obras e com o coração, tratando de desenvolver sua vida a norma da  minha, pode-se dizer que cresce em minha mesma vida e dá o desenvolvimento ao enxerto feito  por Mim, adicionando outros ramos à árvore da minha humanidade. Se não se une Comigo, além  de que não cresce em Mim, não dá nenhum desenvolvimento ao enxerto, mas como quem não  está Comigo não pode ter vida, então com a perdição se perde este enxerto”.

(5) E novamente desapareceu. Depois disso, eu me encontrei fora de mim mesma dentro de um  jardim onde estavam vários arbustos de rosas, algumas belas, abertas em justa proporção, outras  semicerradas, e outras com todas as folhas caindo, que apenas se necessitava um ligeiro  movimento para fazê-las descascar, ficando somente o caule da rosa nu, e um jovem, não sabendo  quem fosse, me disse:

(6) “As primeiras rosas são as almas interiores, que trabalham em seu interior, são símbolo das  folhas da rosa que se contêm no interior, dando um contraste de beleza, de frescor e de solidez,  sem temer que alguma folha caia por terra; as folhas exteriores são símbolo do desabafo que faz a  alma interior ao exterior, porque tendo vida por dentro são obras perfumadas de caridade santa,  que quase como luzes golpeiam os olhos de Deus e do próximo. As segundas rosas são as almas  exteriores, que o pouco bem que fazem tudo é externo, e à vista de todos, por isso, não sendo um  desabafo do interior, não pode estar a única finalidade do amor de Deus, por isso, onde não há  isto, as folhas não podem estar fixas, é dizer as virtudes, pelo que chegando o leve sopro da  soberba, o sopro da complacência, do amor próprio, do respeito humano, das contradições, das  mortificações, fazem cair as folhas mal as tocam, assim que a pobre rosa fica sempre nua, sem  folhas, ficando-lhe somente espinhos que punem a consciência”.

(7) Depois disto encontrei-me em mim mesma.

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5-19

Outubro 3, 1903

Jesus continua a sua Vida no mundo não só no Santíssimo Sacramento, mas também nas almas que se encontram em graça.

(1) Enquanto eu estava pensando na hora da Paixão, quando Jesus se despediu de sua Mãe para  ir à morte e se abençoaram mutuamente, e estava oferecendo esta hora para reparar por aqueles  que não abençoam em cada coisa o Senhor, mas o ofendem, para impedir todas as bênçãos que  são necessárias para nos conservar na graça de Deus e para preencher o vazio da glória de Deus,

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como se todas as criaturas o abençoassem. Enquanto fazia isto, senti-o mover-se em meu interior,  e dizia:

(2) “Minha filha, no ato de abençoar a minha Mãe tentei abençoar também a cada uma das criaturas em particular e em geral, de modo que tudo está abençoado por Mim: Os pensamentos,  as palavras, os batimentos, os passos, os movimentos feitos por Mim, tudo, está avalizado com  minha bênção. Também te digo que todo o bem que fazem as criaturas, tudo foi feito por minha  Humanidade, para fazer que todo o obrar das criaturas fosse primeiro divinizado por Mim. Além  disso, a minha vida continua ainda real e verdadeira no mundo, não só no Santíssimo Sacramento,  mas também nas almas que se encontram na minha Graça, e sendo muito restrita a capacidade da  criatura, não podendo tomar de uma só tudo o que eu fiz, faço de maneira que uma alma continue  meus reparos, outra os louvores, alguma outra o agradecimento, alguma outra o zelo da saúde das  almas, outra meus sofrimentos e assim de tudo o mais, e segundo me correspondam assim  desenvolva minha vida nelas, assim que pense em que estreias e penas me põem, pois enquanto  Eu quero obrar neles, eles não me fazem caso”.

(3) Dito isto desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma.

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5-20

Outubro 7, 1903

As almas vítimas, são os anjos humanos que devem reparar, impedir e proteger a humanidade.

(1) Havendo dito ao confessor que me deixasse na Vontade de Nosso Senhor, tirando-me a  obediência de que sem importar se Ele me amava ou não, devia continuar neste estado de vítima,  e ele, primeiro que não queria, e depois que sim, se eu assumia a responsabilidade de responder a  Jesus Cristo do que podia acontecer no mundo, por isso, que pensasse primeiro e depois  respondesse, e querendo dizer que eu não queria opor-me ao Querer Divino, só que se o Senhor o  quiser eu quero, e se ele não quiser eu não quero; em que aproveita esta responsabilidade? E ele:  “Pensa primeiro e amanhã responderás”. Então, pensando dentro de mim, Jesus me disse:

(2) “A justiça o quer, o amor não”.

(3) Depois, encontrando-me no meu estado habitual, quando mal o vi me disse:  (4) “Os anjos, obtenham ou não obtenham, fazem sempre o seu ofício, não se retiram da obra  confiada por Deus, da guarda das almas, e embora vejam que quase a despeito de seu cuidado,  diligência, indústria, suas contínuas assistências, as almas se perdem, estão sempre lá, em seus  postos; nem se obtêm ou não obtêm dão maior ou menor glória de Deus, porque sua vontade é  sempre estável para cumprir o trabalho confiado a eles. As almas vítimas, são os anjos humanos  que devem reparar, impedir, proteger a humanidade, e se obtêm ou não obtêm, não devem cessar

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em seu trabalho; a menos que lhes seja assegurado do alto”.

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5-21

Outubro 12, 1903

Significado da coroação de espinhos.  

(1) Esta manhã, vi o meu adorável Jesus, coroado de espinhos, e, vendo-o naquele modo, disse lhe: “Doce Senhor meu, por que vossa cabeça invejou a vosso flagelado corpo que havia sofrido  tanto e tanta sangue tinha derramado, e não querendo a cabeça ficar atrás do corpo, honrado com  o adorno do sofrer, instigaste a si mesmo os inimigos a coroar-se com uma coroa de espinhos tão  dolorosa e tempestuosa?”.

(2) E Jesus: “Minha filha, muitos significados tem esta coroação de espinhos, e por quanto disse  fica sempre muito por dizer, porque é quase incompreensível à mente criada o por que minha  cabeça quis ser honrada com ter sua porção distinta e especial, não geral, de um sofrimento e  espalhamento de sangue, fazendo quase concorrência com o corpo, o por que foi que sendo a  cabeça que une todo o corpo e toda a alma, de modo que o corpo sem a cabeça é nada tanto que  se pode viver sem os outros membros, mas sem a cabeça é impossível, sendo a parte essencial de  todo o homem, assim é verdade, que se o corpo peca ou faz o bem, é a cabeça que dirige, não  sendo o corpo outra coisa que um instrumento, então, devendo minha cabeça restituir o regime e o  domínio, e merecer que nas mentes humanas entrassem novos céus de graças, novos mundos de  verdade, e destruir os novos infernos de pecados, pelos quais chegariam a tornar-se vis escravos  de vis paixões, e querendo coroar a toda a família humana de glória, de honra e de decoro, por  isso quis coroar e honrar em primeiro lugar a minha humanidade, embora com uma coroa de  espinhos dolorosíssima, símbolo da coroa imortal que restituía as criaturas, removida pelo pecado.  Além disso, a coroa de espinhos significa que não há glória e honra sem espinhos, que não pode  haver jamais domínio de paixões, aquisição de virtudes, sem sentir-se perfurar até dentro da carne  e do espírito, e que o verdadeiro reinar está no doar-se a si mesmo, com as picadas da  mortificação e do sacrifício; ademais estes espinhos significavam que verdadeiro e único Rei sou  Eu, e somente quem me constitui Rei do próprio coração, goza de paz e felicidade, e Eu a constitui  rainha de meu próprio reino. Além disso, todos aqueles rios de sangue que brotavam de minha  cabeça eram tantos riachos que ligavam a inteligência humana ao conhecimento de minha  supremacia sobre eles”.

(3) Mas quem pode dizer tudo o que ouço dentro de mim? Não tenho palavras para expressá-lo;  antes o pouco que disse me parece haver dito incoerente, e assim creio que deve ser ao falar das  coisas de Deus, por quanto alto e sublime um possa falar, sendo Ele incriado e nós criados, não se

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pode dizer de Deus mais que balbucios.

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5-22

Outubro 16, 1903

A Divina Vontade é luz, e quem a faz se nutre de luz.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado me sentia toda cheia de pecados e de amarguras,  então se fez como um flash de luz em meu interior, e apenas vi a meu adorável Jesus, porém ante  sua presença os pecados desapareceram, e eu temo tenho dito: “Meu Senhor, como é que diante  da tua presença, com a qual eu devo conhecer mais os meus pecados, acontece o contrário?

(2) E Ele: “Minha filha, minha presença é mar que não tem confins, e quem se encontra em minha  presença é como uma gotinha, que seja negra ou branca, em meu mar se perde, como você pode  reconhecer mais? Além disso, meu toque divino purga tudo, e o preto o faz branco, como você  teme então? Além disso minha Vontade é luz, e você, fazendo sempre minha Vontade te nutres de  luz, convertendo-se tuas mortificações, privações e sofrimentos em alimento de luz para a alma,  porque só o alimento substancioso e que dá verdadeira vida é minha Vontade. E você não sabe  que com este contínuo nutrir-se de luz, ainda quando a alma contrai qualquer defeito, a purga  continuamente?”.

(3) Dito isto, ele desapareceu.

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5-23

Outubro 18, 1903

O pecado é um ato oposto da vontade humana à Divina.  

O verdadeiro amor é viver na vontade do amado.  

(1) Continuando o meu habitual estado, por breves instantes vi o meu adorável Jesus, e disse-me:  (2) “Minha filha, sabes tu que coisa forma o pecado? Um ato oposto da vontade humana à Divina.  Imagine dois amigos que estão em contradição, se a coisa é leve você diz que não é perfeita e leal  sua amizade, embora fossem coisas pequenas; como amar-se e contradizer-se? O verdadeiro  amor é viver na vontade do outro, inclusive à custa de sacrifício; mas se a coisa é grave, não só  não são amigos, mas ferozes inimigos. Tal é o pecado. Opor-se ao Querer Divino é o mesmo que  fazer-se inimigo de Deus, ainda que seja em coisas pequenas, é sempre a criatura que se põe em  contradição com o Criador”.

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5-24

Outubro 24, 1903

Imagem da Igreja.  

(1) Havendo dito ao confessor meus temores de que não fosse Vontade de Deus meu estado, e  que ao menos como prova gostaria de tratar de esforçar-me em sair, e ver se o conseguia ou não.  E o confessor, sem pôr sua acostumada dificuldade disse: “Está bem, amanhã provará”.  (2) Então eu fiquei como se tivesse sido libertada de um peso enorme. Agora, tendo ouvido a Santa  Missa e recebido a comunhão, assim que vi o meu adorável Jesus dentro de mim que me olhava  fixamente, com as mãos juntas, em ato de pedir piedade e ajuda. E nesse momento me encontrei  fora de mim mesma, dentro de uma estadia onde estava uma mulher majestosa e venerável, mas  gravemente doente, dentro de um leito com a cabeceira tão alta que quase tocava o teto; e eu era  obrigada a estar acima desta cabeceira nos braços de um sacerdote para tê-la firme, e olhar a  pobre doente. Então eu, enquanto estava nesta posição, via uns poucos religiosos que rodeavam e  davam cuidados à paciente, e com profunda amargura diziam entre eles: “Está mal, está mal, não  se necessita outra coisa que uma pequena sacudida”. E eu pensava em ter firme a cabeceira do  leito por temor de que movendo-se o leito pudesse morrer. Mas vendo que a coisa ia para longo e  quase me aborrecendo do mesmo lazer, dizia a aquele que me tinha, por caridade, me abaixa, não  estou fazendo nenhum bem, nem dando nenhuma ajuda, em que aproveita o estar me assim inútil?  se abaixo ao menos posso servi-la, ajudá-la”.

(3) E aquele: “Não ouviu que mesmo com uma pequena sacudida pode piorar e acontecer-lhe  coisas tristíssimas? Assim, se você descer, não havendo quem mantenha firme o leito pode  inclusive morrer”.

(4) E eu: “Mas pode ser possível que fazendo só isto lhe possa vir este bem? Eu não acredito, por  piedade abaixa-me”. Então, depois de ter repetido várias vezes estas palavras, baixou-me ao chão,  e eu sozinha, sem que nenhum me detivesse me aproximei da doente, e com surpresa e dor via  que o leito se movia. A esses movimentos punha-se o rosto lívido, tremia, aparecia o estertor da  agonia. Aqueles poucos religiosos choravam e diziam: “Não há mais tempo, já está nos momentos  extremos”. Depois entravam pessoas inimigas, soldados, capitães para bater na doente, e aquela  mulher moribunda levantou-se com intrepidez e majestade para ser ferida e golpeada. Ao ver isto  tremia como uma cana e dizia entre mim: “Eu fui a causa, eu dei o empurrão para que acontecesse  tanto mal”. E compreendia que aquela mulher representava a Igreja doente nos seus membros,  com tantos outros significados que me parece inútil explicar, porque se compreende lendo o que  escrevi. Então eu encontrei em mim mesma e Jesus em meu interior disse:

(5) “Se te suspender para sempre, os inimigos começarão a fazer derramar sangue à minha Igreja”.  (6) E eu: “Senhor, não é que não queira estar, o Céu me guarde que eu me afaste de sua Vontade  mesmo por um abrir e fechar de olhos, só que se quiser estarei, se não quiser me tirarei”.

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7) E Ele: “Minha filha, mal o confessor te libertou, isto é, quando te disse: “Está bem, amanhã  tentamos”. O nó de vítima soltou-se, porque só o adorno da obediência é o que constitui a vítima, e  jamais a aceitaria por tal sem este adorno, ainda que a custo, se fosse necessário, de fazer um  milagre de minha onipotência para dar luz a quem dirige, para fazer dar esta obediência. Eu sofri,  sofri voluntariamente, mas quem me constituiu vítima foi a obediência a meu amado Pai, que quis  adornar todas minhas obras, desde a maior até a menor com o adorno honorífico da obediência”.  (8) Mais tarde, encontrando-me em mim mesma, sentia temor de tratar de sair, mas depois me  arranjava dizendo: “Devia pensar quem me deu a obediência, e além disso, se o Senhor o quiser,  eu estou disposta”.

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5-25

Outubro 25, 1903

A alma em Graça apaixona a Deus. 

(1) Chegando a hora de meu habitual estado, pensava entre mim, que se o Senhor não viesse,  deveria tentar me esforçar ao menos para ver se o conseguia. Então primeiro resultava, mas  depois veio meu adorável Jesus e me fazia ver que quando eu pensava em estar me, Ele se  aproximava e me acorrentava a Si, de modo que eu não podia; mas quando pensava em me tirar,  Ele se afastava e me deixava livre; de modo que podia fazê-lo, assim não me sabia decidir e dizia  entre mim: “Como gostaria de ver o confessor para lhe perguntar o que devo fazer”. Então, pouco  depois vi o confessor junto com Nosso Senhor e rápido disse: “Diga-me, devo estar, sim ou não?”  E enquanto dizia isto, via no interior do confessor que tinha retirado a obediência que me tinha  dado no dia anterior, então decidi a estar, pensando entre mim que se fosse verdade que tinha  retirado a obediência, estava bem; mas se era minha fantasia que isto via, enquanto podia ser  falso, quando o confessor viesse então pensaria, podendo provar outro dia, e assim me tranquilizei.  Depois, continuando a fazer-se ver, o bendito Jesus disse-me:

(2) “Minha filha, a beleza da alma em graça é tanta, de apaixonar o mesmo Deus, os anjos e os  santos ficam assombrados ao ver este prodigioso portento, de uma alma ainda terrena possuída  pela graça, ante a fragrância do aroma celestial lhe correm em torno, e com grande prazer  encontram nela aquele mesmo Jesus que os beatifica no Céu, de modo que para eles é indiferente  tanto estar acima no Céu, como aqui abaixo junto a esta alma. Mas quem mantém e conserva este  portento, dando continuamente novas tintas de beleza à alma que vive em minha Vontade? Quem  remove qualquer ferrugem e imperfeição e lhe fornece o conhecimento do objeto que possui?  Minha Vontade. Quem consolida, estabelece e a faz ficar confirmada na graça? Minha Vontade. O  viver em meu Querer é todo o ponto da Santidade, e dá contínuo crescimento de graça. Mas quem  um dia faz a minha Vontade, e quem faz a sua, jamais ficará confirmado na graça, não faz outra

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coisa que crescer e decrescer; e isto quanto mal acarreta à alma, de quanta alegria priva a Deus e  a si mesma. É imagem de quem hoje é rica e amanhã pobre, não ficará confirmada nem na riqueza  nem na pobreza, portanto não se pode saber onde irá terminar”.

(3) Dito isso, ele desapareceu, e pouco depois veio o confessor e tendo dito o que escrevi,  assegurou-me que verdadeiramente tinha retirado a obediência que me tinha dado.  (4) Para obedecer ao confessor volto a dizer os outros significados que compreendi no dia 24 do  corrente: A mulher representava a Igreja que estando doente, não em si mesma mas em seus  membros, e embora abatida e ultrajada pelos inimigos, e doente em seus próprios membros,  jamais perde sua majestade e veneração; da cama onde se encontrava, compreendia que a Igreja  enquanto parece oprimida, enferma e impedida, também repousa com um repouso perpétuo e  eterno, e com paz e segurança no seio paterno de Deus, como um menino no seio de sua própria  mãe; o respaldo do leito que tocava o teto, compreendia que era a proteção divina que assiste  sempre a Igreja, e que tudo o que ela contém, tudo veio do Céu: Sacramentos, doutrina e tudo o  mais, tudo é celestial, santo e puro, de modo que entre o Céu e a Igreja há contínua comunicação,  jamais interrompida. Os poucos religiosos que prestavam cuidados, assistência à mulher,  compreendia que poucos são aqueles que a capa e espada defendem a Igreja, tendo como  próprios os males que recebe, a câmara onde estava, composta de pedras, representava a solidez  e firmeza e também a dureza da Igreja para não ceder a qualquer direito que lhe pertence. A  mulher moribunda que com intrepidez e coragem se faz golpear pelos inimigos, representava a  Igreja, que enquanto parece que morre, então ressurge mais intrépida, mas como? Com os  sofrimentos e o derramamento de sangue, verdadeiro espírito da Igreja, sempre pronta às  mortificações, como o esteve Jesus Cristo.

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5-26

Outubro 27, 1903

O modo de agir divino é pelo só amor do Pai e dos homens.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, por pouco tempo vi a minha adorável Jesus dizendo me:

(2) “Minha filha, aceitar as mortificações e sofrimentos como penitência e como castigo, é louvável,  é bom, mas não tem nenhum nexo com o modo de agir divino, porque Eu fiz muito, sofri muito, mas  o modo que tive em tudo isto foi só o amor do Pai e dos homens. Assim, descobre-se rapidamente  se a criatura tem o modo de agir e de sofrer ao divino, se só o amor e a sofrer a empurra. Se tem  outros modos, embora fossem bons, é sempre modo de criatura, por isso se encontrará o mérito  que pode adquirir uma criatura, não o mérito que pode adquirir o Criador, não havendo união de  modos. Enquanto que se tem meu modo, o fogo do amor destruirá toda disparidade e

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desigualdade, e formará uma só coisa entre minha obra e a da criatura.

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5-27

Outubro 29, 1903

Quando a alma tem em si mesma impresso o fim da Criação, 

Jesus lhe corresponde dando-lhe parte da felicidade celestial. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus se fazia ver em meu interior, como se tivesse encarnado em  minha mesma pessoa, e olhando para mim disse:

(2) “Minha filha, quando vejo na alma impressa o caráter do fim de minha Criação, sentindo-me  satisfeito dela, porque vejo cumprida muito bem a obra criada por Mim, sinto-me em dever, isto é,  não dever, acrescentou rapidamente, porque em Mim não há deveres, mas o meu dever é um  amor mais intenso de corresponder-lhe, antecipando para ela parte da felicidade celestial, isto é,  manifestando a sua inteligência o conhecimento de minha Divindade, e atraindo-a com o alimento  das verdades eternas; a sua vista recreando-a com minha beleza; a seu ouvido fazendo ressoar a  suavidade de minha voz; à boca com meus beijos; ao coração os abraços e todas as minhas  ternuras, e isto corresponde ao fim de havê-la criado, que é: conhecer-me, amar-me servir-me”.

(3) E desapareceu.

(4) Então eu, encontrando-me fora de mim mesma, via o confessor e lhe dizia o que o bendito  Jesus me disse; perguntava-lhe se estava certo, e me dizia: “Sim”. Não só isto, mas acrescentava  que se conhecia bem o falar Divino, porque quando Deus fala e a alma o relata, quem escuta não  só vê a verdade das palavras, senão que sente em seu interior uma emoção que só o Espírito  Divino possui.

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5-28

Outubro 30, 1903

Ensinamentos sobre a paz.  

(1) Esta manhã, não vindo meu adorável Jesus, estava pensando em meu interior: “Quem sabe se  era verdade que era nosso Senhor que vinha, ou melhor, o inimigo para me enganar; como Jesus  Cristo devia me deixar tão feiamente sem nenhuma piedade?” Agora, enquanto eu pensava nisso,  por alguns instantes ele se fez ver levantando sua destra, e apertando minha boca com o polegar  ele me disse:

(2) “Cale-se, cale-se, e além disso, seria engraçado que um que viu o sol, só porque ele não vê diz  que não era sol o que tinha visto; não seria mais verdadeiro e razoável se dissesse que o sol se  escondeu?” E desapareceu.

(3) Mas embora não o visse, sentia que com suas mãos ia me tocando toda e esfregando a boca, a  mente e demais coisas, e me deixava toda luminosa; e como não o via, a mente seguia duvidando,

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e Ele fazendo-se ver de novo acrescentou:

(4) “Ainda não quer terminar com isto? Tu queres fazer desaparecer a minha obra em ti, porque  duvidando não estás em paz, e sendo Eu fonte de paz, não te vendo em paz farás duvidar a quem  te guia, que não é o Rei da paz que habita em ti. Ah, não queres estar atenta! É verdade que Eu  faço tudo na alma, de modo que sem Mim não faria nada, mas é também verdade que deixo  sempre um fio de vontade à alma, para que também ela possa dizer: “Tudo faço por minha própria  vontade”. Então, estando inquieta quebras aquele fio de união Comigo, e me amarras os braços  sem que Eu possa operar em ti, esperando até que te ponhas em paz para voltar a tomar o fio de  tua vontade e continuar minha obra”.

Deo Gratias.

Graças a Deus! 

Nihil obstat 

Canonico Annibale

  1. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo

Outubro de 1926

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Volume 06

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita 

Volume 06

1

Volume 06

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,  Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

2

Volume 06

Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar de sua leitura, à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade

3

Volume 06

1I. M. I.

6-1

Novembro 1, 1903

Quando a alma faz todas as suas ações pelo único fim de amar a Jesus, caminha sempre de dia, para ela jamais é noite. 

(1) Continuando meu estado habitual, me encontrei fora de mim mesma, e me via como um  pequeno vapor, e eu ficava toda maravilhada ao me ver reduzida nessa forma. Enquanto eu estava  nisto veio o meu adorável Jesus e disse-me:

(2) “Minha filha, a vida do homem é vapor, e assim como ao vapor é só o fogo que o faz caminhar,  e à medida que o fogo é vivo e muito, assim corre mais veloz, e se é pouco caminha a passo lento,  e se está apagado fica detido; assim a alma, se o fogo do amor de Deus é muito, pode-se dizer que  voa sobre todas as coisas da terra, e sempre corre e voa a seu centro que é Deus; agora, se é  pouco se pode dizer que caminha com dificuldade, arrastando-se e enlameando-se de tudo o que é  terra; se está apagado fica parada, sem vida de Deus nela, como morta a tudo o que é divino.  Minha filha, quando a alma em todas suas ações não as faz por outra coisa senão com o único fim  de me amar, e nenhuma outra recompensa quer de seu obrar mais que meu amor, caminha  sempre de dia, jamais é noite para ela, mas bem caminha no mesmo sol, que quase como vapor a  circunda para fazê-la caminhar nele, fazendo-lhe gozar toda a plenitude da luz, e não só isso,  senão que suas mesmas ações servem de luz para o seu caminho e sempre adicionar nova luz”.

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6-2

Novembro 8, 1903

Jesus diz como deve ser o amor do próximo. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava a implorar por certas necessidades do  próximo, e o bendito Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(2) “Com que fim rezas por estas pessoas?”

(3) E eu: “Senhor, e Tu por qual fim nos amaste?”

(4) E Ele: “Amo-vos porque sois coisa minha, e quando o objeto é próprio, sente-se como obrigado,  é como uma necessidade amá-lo”.

(5) E eu: “Senhor, estou rezando por estas pessoas porque são coisa tua, de outra maneira não  me teria interessado”. E Ele, pondo a mão na minha testa, quase a apertando, acrescentou:  (6) “Ah! Então é porque são coisa minha? Assim está bem o amor do próximo”.

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1Este livro foi traduzido do espanhol

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Volume 06

6-3

Novembro 10, 1903

Como o verdadeiro amor se esquece de si mesmo. 

(1) Continuando no meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus, dizia-me:  (2) “Minha filha, o verdadeiro amor se esquece de si mesmo e vive nos interesses, às penas e a  tudo o que pertence à pessoa amada”.

(3) E eu: “Senhor, como se pode esquecer de si mesmo enquanto o sentimos tanto, não é que seja  uma coisa distante de nós, ou bem dividida que facilmente se possa esquecer?” E de novo  acrescentou que aí está o sacrifício do verdadeiro amor, porque enquanto se tem a si mesmo deve  viver a tudo o que pertence à pessoa amada, e mais, se se recorda de si mesmo, esta lembrança  deve servir para se fazer principalmente em como poder consumir-se pelo objeto amado, e o  amado se vê que a alma se dá toda a Ele, a saberá recompensar bem dando-lhe todo a si mesmo,  fazendo-a viver de sua Vida Divina; assim que quem tudo esquece, tudo encontra. Além disso, é  necessário ver a diferença que há entre o que se esquece e o que se encontra: Esquece-se o feio  e encontra-se o belo, esquece-se a natureza e encontra-se a graça, esquecem-se as paixões e  encontram-se as virtudes, esquece-se a pobreza e encontra-se a riqueza, esquece-se a ignorância  e encontra-se a sabedoria, esquece-se o mundo e encontra-se o Céu”.

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6-4

Novembro 16, 1903

Não há sacrifício sem esquecimento de si mesmo, e o sacrifício e o 

esquecimento de si mesmo fazem nascer o amor mais puro e perfeito.  

1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus nos braços, e uma  virgem que me estendeu em terra para me fazer sofrer a crucificação, mas não com pregos, mas  com fogo, pondo-me um carvão de fogo nas mãos e nos pés, e o bendito Jesus que me assistia  enquanto sofria, dizia-me:

(2) “Minha filha, não há sacrifício sem esquecimento de si mesmo, e o sacrifício e o esquecimento  de si faz nascer o amor mais puro e perfeito, e sendo sagrado o sacrifício, acontece que este me  consagra à alma como digno santuário meu para fazer ali minha perpétua morada. Então faz com  que o sacrifício trabalhe em ti para te tornares sagrado a alma e o corpo, para que tudo seja em ti  sagrado, e consagra-me tudo a Mim”.

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6-5

Novembro 19, 1903

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Volume 06

Enquanto se é nada pode ser tudo 

(1) Continuando o meu habitual estado, vi dentro de mim o bendito Jesus, e uma luz na minha  inteligência que dizia:

(2) “Enquanto se é nada se pode ser tudo, mas em que modo? Torna-se tudo com o sofrimento.  Sofrer faz com que a alma se torne pontífice, sacerdote, rei, príncipe, ministro, juiz, advogado,  reparador, protetor, defensor. E como o verdadeiro sofrer é o sofrer querido por Deus em nós, se a  alma se une em tudo a seu Querer, esta união, unida ao sofrer, faz que a alma impere sobre a  justiça, sobre a misericórdia de Deus, sobre os homens e sobre todas as coisas. Agora, assim  como a Cristo o sofrer lhe deu todas as mais belas qualidades e todas as honras e ofícios que a  natureza humana pode conter, assim a alma, participando no sofrer de Cristo participa das  qualidades, das honras e dos ofícios de Cristo, que é o todo”.

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6-6

Novembro 23, 1903

Não há beleza igual ao sofrer somente por Deus.  

(1) No meu íntimo, fiquei impressionada com o que tinha escrito acima, como se não estivesse  conforme à verdade, por isso assim que vi o bendito Jesus disse: “Senhor, o que escrevi não está  bem, como pode ser tudo isso só com o sofrer?”

(2) E Ele: “Minha filha, não te admires, porque não há beleza que iguale ao sofrer só pelo amor de  Deus. De Mim partem continuamente duas flechas, uma do meu coração, que é de amor e fere a  todos aqueles que estão no meu regaço, isto é, que estão na minha graça, e esta flecha produz  chagas, mortifica, irrita, aflige, atrai, revela, consola e continua minha Paixão e Redenção naqueles  que estão em meu colo; a outra parte de meu trono eu a confio aos anjos, os quais como ministros  meus fazem correr esta flecha sobre qualquer espécie de pessoas, punindo-as e excitando todos à  conversão”.

(3) Agora, enquanto isto dizia me participou suas dores dizendo-me:

(4) “Eis também em ti a continuação de minha Redenção”.

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6-7

Novembro 24, 1903

Como cada palavra de Jesus são tantos elos de graça.  

(1) Continuando o meu estado habitual, mal vi o bendito Jesus dentro de mim, e como se quisesse  continuar a tirar-me as dúvidas disse-me:

6

Volume 06

(2) “Filha, Eu sou a verdade mesma, e jamais pode sair de Mim a falsidade, ou mais alguma coisa  que o homem não compreende, e isto faço-o para fazer ver que se não se compreende bem a  palavra, como se pode compreender em tudo o Criador? Mas no entanto a alma deve corresponder  pondo em prática a minha palavra, porque cada palavra são tantos elos de graça que saem de  Mim, dos quais faço dom à criatura, e se corresponde, estes elos os acorrenta aos outros já  adquiridos; se não, os devolve a seu Criador, e não só isto, senão que Eu somente falo quando  vejo a capacidade da criatura que pode receber esse dom, e correspondendo-me não só adquire  tantos elos de graça, mas adquire também tantos elos de sabedoria divina, e se os vejo  acorrentados com a correspondência, disponho-me a dar-lhe outros dons; mas se vejo meus dons  rejeitados, retiro-me guardando silêncio”.

+ + + +

6-8

Dezembro 3, 1903

Com a Divina Vontade somos tudo, sem Ela somos nada.

(1) Continuando o meu estado habitual, por pouco tempo veio o meu bendito Jesus dizendo-me: (2) “Minha filha, qualquer ação humana que não tem nenhum nexo com a Vontade Divina, põe fora  a Deus de sua própria criação; até mesmo o mesmo sofrer, por quão santo, nobre e precioso fosse  a meus olhos, não obstante, se não é parto de minha Vontade, em vez de me agradar me indigna e  me é desagradável”.

(3) Oh! poder da Vontade Divina, como é santa, adorável e amável, Contigo somos tudo, ainda  que nada façamos, porque tua Vontade é fecunda e nos dá a luz todos os bens, e sem Ti somos  nada, embora tudo façamos, porque a vontade humana é estéril e esteriliza todas as coisas.  + + + + +

6-9

Dezembro 5, 1903

Como o santo desejo de receber a Jesus substitui o sacramento, 

fazendo com que a alma respire a Deus, e que Deus respire a alma. 

(1) Não tendo podido receber a comunhão esta manhã, estava toda aflita, mas resignada, e  pensava entre mim que se não tivesse sido porque me encontrava nesta posição de estar na cama,  e se fosse vítima, certamente a teria podido receber, e dizia ao Senhor: “Olhe, o estado de vítima  me submete ao sacrifício de privar-me de recebê-lo no sacramento, ao menos aceita o sacrifício de  privar-me de Ti para te contentar, como um ato mais intenso de amor por Ti, porque ao menos o  pensar que sua mesma privação atesta ainda mais meu amor por Ti, adoça a amargura de sua  privação”. E enquanto dizia isto, as lágrimas me desciam dos olhos, mas, ó bondade do meu bom  Jesus, não apenas me adormeci, sem fazer-me esperar tanto e procurar segundo o habitual, veio

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Volume 06

de súbito e me pondo suas mãos no rosto, me acariciava e me dizia:

(2) “Minha filha, pobre filha, ânimo, minha privação estimula principalmente o desejo, e neste  desejo incentivado, a alma respira a Deus, e Deus sentindo-se mais iluminado por este estimular da alma, respira a alma, e neste respirar-se mutuamente Deus e a alma, acende-se principalmente  a sede do amor, e sendo o amor fogo, forma o purgatório da alma, e este purgatório de amor  serve-lhe não de uma só comunhão ao dia, como permite a Igreja, mas de uma contínua  comunhão, porque é contínuo o respiro, mas todas comunhões de puríssimo amor, só de espírito e  não de corpo, E sendo o espírito mais perfeito, acontece que o amor é mais intenso. Assim  recompenso Eu, não a quem não quer receber-me, senão a quem não pode receber-me, privando

se de Mim para me agradar a Mim”.

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6-10

Dezembro 10, 1903

Quem busca o Senhor, cada vez recebe uma tinta um lineamento divino. (1) Continuando meu estado, sentia um peso sobre minha alma pela privação do bendito Jesus,  como se sobre mim gravitasse todo o peso do mundo, e em minha imensa amargura fazia quanto  mais podia por buscá-lo. Depois, tendo vindo, disse-me:

(2) “Minha filha, cada vez que a alma me procura recebe uma tinta, um lineamento divino, e outras  tantas vezes renasce em Mim e Eu renasço nela”.

(3) Enquanto dizia isto, estava a pensar no que tinha dito, quase maravilhando-me dizendo:  “Senhor, que dizes?”

(4) E Ele acrescentou: “Oh, se soubesses a glória, o gosto que sente todo o Céu ao receber esta  nota da terra, de uma alma que procura sempre a Deus, toda conforme a nota deles! O que é a  vida dos bem-aventurados? Quem a forma? Este renascer continuamente em Deus e Deus neles,  isto é aquele ditado: “Que Deus é sempre velho e sempre novo”. Jamais sentem cansaço, porque  estão em contínua atitude de nova vida em Deus”.

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6-11

Dezembro 17, 1903

O verdadeiro espírito de adoração consiste nisto: que a criatura se perca a si mesma e se  encontre no ambiente divino, e adore tudo o que Deus faz, e que se una com Ele. 

(1) Continuando o meu habitual estado, por poucos instantes vi o bendito Jesus com a cruz nas  costas, no momento de encontrar a sua Santíssima Mãe, e eu disse-lhe: “Senhor, o que fez a tua

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Mãe neste encontro dolorosíssimo?”

(2) E Ele: “Minha filha, não fez outra coisa senão um ato de adoração profundíssimo e simplíssimo,  como o ato quanto mais simples, tanto mais fácil para unir-se com Deus, Espírito simplíssimo, por  isso neste ato fundiu-se em Mim e continuou o que eu mesmo operava em meu interior; e isto me  foi sumamente grato que se tivesse feito qualquer outra coisa maior, porque o verdadeiro espírito  de adoração consiste nisto, que a criatura se perca a si mesma e se encontre no ambiente divino, e  adore tudo o que Deus faz, e com Ele se una. Você crê que seja verdadeira adoração aquela em  que a boca adora enquanto a mente está em outra parte, ou seja, a mente adora e a vontade está  longe de Mim? Ou então, que uma potência adora-me e as outras estão todas desarrumadas?  Não, Eu quero tudo para Mim, e tudo o que lhe dei em Mim, e este é o ato de culto e de adoração  maior que a criatura pode fazer-me”.

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6-12

Dezembro 21, 1903

Glória que goza no Céu a Celestial Mãe 

(1) Esta manhã encontrei-me fora de mim mesma, e vendo a abóbada do céu, via sete sóis muito  resplandecentes, mas a forma era diferente do sol que nós vemos, começavam em forma de cruz e  terminavam em ponta, e esta ponta estava dentro de um coração. Ao princípio não se via bem,  porque era tanta a luz destes sóis que não deixava ver quem estava dentro, mas quanto mais me  aproximava, mais se distinguia que dentro estava a Rainha Mãe, e em meu interior ia dizendo:  “Quanto gostaria de lhe perguntar se quer que me esforce para sair deste estado sem que  esperasse o sacerdote”. Enquanto isso acontecia me encontrei a seu lado e o disse, e me  respondeu um “não” incisivo. Eu fiquei mortificada por esta resposta, e a Santíssima Virgem se  voltou para uma multidão de pessoas que lhe faziam coroa e lhes disse:

(2) “Escutem o que ela quer fazer”.

(3) E todos disseram: “Não, não”.

(4) Depois, aproximando-se de mim, toda a bondade me disse:

(5) “Minha filha, ânimo no caminho da dor, vê estes sete sóis que me saem do coração, são minhas  sete dores que me frutificaram tanta glória e esplendor, estes sóis, fruto de minhas dores, lançam  setas continuamente no trono da Santíssima Trindade, a qual, sentindo-me ferida me enviam sete  canais de graça continuamente, convertendo-me em dona e eu os disponho para glória de todo o  Céu, para alívio das almas purgantes, e para benefício de todos os viadores”.

(6) Enquanto dizia isto desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

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6-13

Dezembro 22, 1903

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A cruz forma a encarnação de Jesus no seio das almas, e a encarnação da alma em Deus. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, veio meu adorável Jesus crucificado, e tendo-me  participado suas penas, enquanto eu sofria me disse:

(2) “Minha filha, na Criação Eu dei à alma minha imagem, na Encarnação dei minha Divindade,  divinizando a humanidade. E no mesmo ato em que se encarnou a Divindade na humanidade,  naquele mesmo instante se encarnou na cruz, assim que desde que fui concebido me concebi  unido com a cruz, e se pode dizer que assim como a cruz foi unida Comigo na encarnação no seio  de minha Mãe, assim a cruz forma outras tantas encarnações minhas no seio das almas; e assim  como forma minha encarnação nas almas, assim a cruz é a encarnação da alma em Deus,  destruindo lhe tudo o que é de natureza humana, e enchendo-a tanto da Divindade, de formar uma  espécie de encarnação: Deus na alma e a alma em Deus”.

(3) Eu fiquei como extasiada ao ouvir que a cruz é a encarnação da alma em Deus, e Ele repetiu:  (4) “Não digo união, mas encarnação, porque a cruz se intromete tanto na natureza, de chegar a  transformar a mesma natureza em dor, e onde está a dor aí está Deus, sem poder estar separados  Deus e a dor; e a cruz formando esta espécie de encarnação volta a união mais estável, e muito  difícil a separação de Deus com a alma, assim como é difícil separar a dor da natureza. Enquanto  que com a união, facilmente pode ocorrer a separação. Entende-se que não são encarnações, mas  semelhanças de encarnações”.

(5) Dito isto desapareceu, mas pouco depois voltou no momento de sua Paixão quando foi coberto  de opróbrios, de ignomínias, de cuspidos, e eu lhe disse: “Senhor, ensina-me que coisa posso  fazer para afastar de Ti estes opróbrios e restituir-te as honras, os louvores e as adorações”.  (6) E Ele disse: “Minha filha, em torno de meu trono há um vazio, e este vazio deve ser preenchido  pela glória que me deve a Criação; por isso, quem me vê desprezado pelas outras criaturas e me  honra, não só por si, mas pelos demais me faz renascer as honras neste vazio; quando não me vê  amado e me ama, me faz renascer o amor; quando vê que cumulo as criaturas de benefícios e  não me reconhecem e nem sequer me agradecem, e ela me agradece como se lhe tivessem sido  feitos os benefícios, faz-me renascer neste vazio a flor da gratidão e do agradecimento, e assim de  todo o resto que me deve a Criação, e que com negra ingratidão me nega. Agora, sendo tudo isto  uma superabundância da caridade da alma, que não só me devolve o que me deve por si, senão  que o que transborda de si me faz pelas outras, sendo esta glória fruto da caridade, estas flores  que me manda neste vazio em torno de meu trono, recebem uma cor mais bonita e a Mim muito  agradável”.

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6-14

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Dezembro 24, 1903

O desejo faz com que Jesus nasça na alma. O mesmo faz o demônio.

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, veio o menino Jesus, e eu, vendo-o  muito pequeno, como se acabasse de nascer, disse-lhe: “Meu querido, qual foi a causa, quem te  fez vir do Céu e nascer tão pequeno no mundo?”

(2) E Ele: “O amor foi a causa, e não só isto, mas o meu nascimento no tempo foi o desabafo de  amor da Santíssima Trindade para com as criaturas. Num desabafo de amor de minha Mãe nasci  de seu seio, e num desabafo de amor renasci nas almas. Mas este desabafo é formado pelo  desejo, assim que a alma começa a desejar-me, eu fico já concebido, quanto mais se adentra no  desejo, assim me vou alargando na ama, quando este desejo enche todo o interior e chega a  transbordar fora, então renasço em todo o homem, isto é, na mente, na boca, nas obras e nos  passos.

(3) De igual modo, também o demônio faz seus nascimentos nas almas, assim que a alma começa  a desejar e a querer o mal, fica concebido o demônio com suas obras perversas, e se este desejo  vem alimentado, o demônio se engrandece e enche todo o interior de paixões, as mais feias e  asquerosas, e chega a transbordar fora, dando ao homem o caminho de todos os vícios. Minha  filha, quantos nascimentos faz o demônio nestes tristíssimos tempos, se tivessem poder, os  homens e os demônios teriam destruído meus nascimentos nas almas”.

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6-15

Dezembro 28, 1903

Como todas as vidas estão em Cristo. 

(1) Depois de haver esperado muito, assim que veio meu bendito Jesus, fazia-me ver muitas almas  humanas em sua humanidade, e enquanto via me disse:

(2) “Minha filha, todas as vidas humanas estão em minha Humanidade no Céu como dentro de um  claustro, e estando dentro de meu claustro, de Minha parte o regime de suas vidas, não só isto,  senão que minha Humanidade sendo claustro, faz as vidas de cada alma; qual não é minha alegria quando as almas estão neste claustro, e o eco que sai da minha Humanidade combina-se com o  eco de cada vida humana da terra; e qual é a minha amargura quando vejo que as almas não  estão contentes e saem, e outras estão, mas forçadas e de má vontade, não se submetem às  regras e ao regime de meu claustro, por isso os ecos não se combinam juntos”.

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6-16

Janeiro 6, 1904

A raça humana é toda uma família; quando alguém faz alguma boa obra e a oferece a Deus,  toda a família humana participa naquela oferta, e para Ele é como se todos a oferecessem. 

(1) Continuando o meu habitual estado, veio o bendito Menino Jesus, e depois de se ter colocado  nos meus braços e de me ter abençoado com as suas mãozinhas, disse-me:  (2) “Minha filha, sendo a raça humana toda uma família, quando alguém faz alguma obra boa e me  oferece alguma coisa, toda a família humana participa naquela oferta e está presente como se  todos me oferecessem. Como hoje os magos, ao oferecer-me seus dons Eu tive em suas pessoas  presente a toda a geração humana, e todos participaram do mérito de sua boa obra. A primeira  coisa que me ofereceram foi o ouro, e Eu em correspondência lhes dei a inteligência e o  conhecimento da verdade; mas você sabe qual é o ouro que quero agora das almas? Não o ouro  material, não, mas o ouro espiritual, isto é, o ouro de sua vontade, o ouro dos afetos, dos desejos,  dos próprios gostos, o ouro de todo o interior do homem, este é todo o ouro que a alma tem, e o  quero tudo para Mim. Agora, para dar-me isto, à alma é muito difícil dá-lo sem sacrificar-se e  mortificar-se, e esta é a mirra, que como fio elétrico ata o interior do homem e o faz mais  resplandecente, e lhe dá a tinta de múltiplas cores, dando à alma todas as espécies de belezas;  mas isto não é tudo, é necessário quem mantenha sempre vivas as cores, o frescor, que como  perfume e brisa exala do interior da alma, requer-se quem ofereça e quem obtenha dons maiores  daqueles que doa, como também se requer ainda quem obrigue a habitar no próprio interior Aquele  que recebe e Aquele que dá e tê-lo em contínua conversa e em contínuo comércio com ele, então  quem faz tudo isto? A oração, em especial o espírito de oração interior, que sabe converter não só  as obras internas em ouro, mas também as obras externas, e este é o incenso”.

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6-17

Fevereiro 7, 1904

Como é difícil encontrar uma alma que se dê toda a Deus.  

Para poder fazer com que Deus se dê tudo dela.

(1) Passei todo o mês passado sofrendo muito, por isso negligenciei escrever, e continuava me  sentindo muito débil e sofrida, me vem frequentemente um temor, porque não é que não possa  escrever, senão que não quero, e por desculpa digo que não posso; é verdade que sinto muita  repugnância e devo fazer um grande esforço para escrever, e só a obediência podia vencer-me.  Por isso, para tirar qualquer dúvida, decidi não escrever tudo, mas apenas algumas palavras que

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me lembro, para ver se realmente posso ou não posso. Recordo que um dia me sentindo mal me  disse:

(2) “Minha filha, o que será se cessar a música no mundo?”

(3) E eu: “Senhor, que música pode cessar?

(4) E Ele ajuntou: “Tua música amada minha, porque quando a alma sofre por Mim, roga, repara,  louva, agradece continuamente, é uma contínua música a meu ouvido, e me tira o sentir a  iniquidade da terra, e portanto de castigar como convém, e não só isso, mas que é música nas  mentes humanas e as impede de fazer coisas piores. Então, se eu te levar, a música não vai  parar? Para mim é nada, porque não será outra coisa que transportá-la da terra ao Céu, e em vez  de tê-la na terra a terei no Céu, mas o mundo como fará?”

(5) Então eu pensava para mim: “Estes são os habituais pretextos para não levar-me, há tantas  almas boas no mundo e que tanto fazem por Deus, e que eu entre todas elas não ocupo senão  talvez o último lugar, porém diz que se me levar cessará a música. Há tantas que a fazem melhor”.  Enquanto isso pensava, como um raio veio e acrescentou:

(6) “Minha filha, isto que dizes é verdade, que há muitas almas boas e que muito fazem por Mim,  mas como é difícil encontrar uma que me dê tudo para poder dar-me tudo; quem se retém um  pouco de amor próprio, um a própria estima, outro um afeto inclusive a pessoas mesmo santas, e  outro uma pequena vaidade, quem se retém um pouco de apego à terra, quem ao interesse, em  suma, quem a uma coisa e quem a outra, todos retêm alguma coisa de próprio e isto impede que  tudo seja divino neles. Então, não sendo todo divino o que sai deles, não poderá sua música  produzir aqueles efeitos a meu ouvido e às mentes humanas. Por conseguinte, o muito fazer deles  não poderá produzir aqueles efeitos, nem me agradar tanto, como o pequeno fazer de quem não  retém nada para si e que toda a Mim se dá”.

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6-18

Fevereiro 8, 1904

Uma das qualidades de Jesus é a dor. Para quem vive da sua 

Santíssima Vontade não existe o purgatório.

(1) Recordo que outro dia, continuando com meu sofrimento, via que o confessor rogava a Nosso  Senhor que me tocasse onde eu sofria para acalmar-me os sofrimentos, e Jesus bendito me disse:  (2) “Minha filha, o teu confessor quer que te toque para aliviar as dores, mas entre tantas  qualidades minhas Eu sou pura dor, e tocando-te, em vez de diminuir pode aumentar a dor, porque  a minha Humanidade na coisa em que mais se deleitou foi na dor, e se deleita ainda em comunicá

lo a quem ama”.

(3) E parecia que na realidade me tocava e me fazia sentir mais dor, então eu agreguei: “Doce bem

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meu, quanto a mim, não quero outra coisa que sua Santíssima Vontade, eu não olho nem se me  dói, nem se gozo, senão que teu Querer é tudo para mim”.

(4) E Ele acrescentou: E isto é o que Eu quero, e é a minha mira sobre ti, e isto me basta e me  agrada, e é o culto maior, mais honrado que a criatura me pode fazer, e que me deve como a seu  Criador, e a alma fazendo assim, pode-se dizer que sua mente vive e pensa em minha mente; seus  olhos, encontrando-se nos meus, olham por meio de meus olhos; sua boca fala por meio de minha  boca; seu coração ama por meio do meu; suas mãos operam em minhas mesmas mãos; os pés  andam em meus pés, e eu posso dizer: “Tu és meu olho, minha boca, meu coração, minhas mãos  e meus pés”. E a alma pode dizer ao contrário: “Jesus Cristo é meu olho, minha boca, meu  coração, minhas mãos e meus pés”. E a alma encontrando-se nesta união, não só de vontade, mas  pessoal, morrendo, nada lhe resta por purgar, e por isso o purgatório não pode tocá-la, porque o  purgatório toca aqueles que vivem fora de Mim, em tudo, ou em parte”.

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6-19

Fevereiro 12, 1904

Lamentações da alma, Jesus tranquiliza-a. 

(1) Continuando em meu estado habitual, sofrendo mais, veio o bendito Jesus e de todas as partes  de sua humanidade saíam tantos riachos de luz que se comunicavam a todas as partes de meu  corpo, e destes rios que eu recebia saíam de mim outros tantos rios que se comunicavam à  Humanidade de nosso Senhor. Enquanto estava nisto encontrei-me rodeada por uma multidão de  santos, que olhavam para mim e diziam entre eles: “Se o Senhor não concordar com um milagre  não poderá viver mais, porque lhe faltam os humores vitais, o curso do sangue já não é natural, por  isso, segundo as leis naturais deve morrer”. E rogavam a Jesus bendito que fizesse este milagre,  que eu continuasse a viver, e nosso Senhor lhes disse:

(2) Pela comunicação dos rios, como vêem, significa que tudo o que ela faz, até as coisas naturais  estão identificadas com a minha humanidade, e quando eu faço chegar a alma a este ponto, de  tudo o que opera a alma e o corpo nada se perde, tudo permanece em Mim; enquanto que se a  alma não chegou a identificar-se em tudo com a minha humanidade, muitas obras que faz se  perdem. E tendo-a feito chegar a este ponto, por que não posso eu levá-la?”

(3) Agora, enquanto diziam isto, pensava entre mim: “Parece que todos estão contra mim, a  obediência não quer que eu morra, estes estão rogando ao Senhor que não me leve, que querem  de mim? Eu não sei por que quase à força querem que esteja nesta terra, afastada do meu sumo  bem”. E toda me afligia. Enquanto isso pensava Jesus me disse:

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(4) “Minha filha amada, não queira te afligir, as coisas do mundo ficam tristíssimas e sempre mais  piorarão, se chegar o ponto em que deva dar livre desabafo a minha justiça te levarei, e então não  escutarei mais a nenhum”.

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6-20

Fevereiro 21, 1904

Promessa. 

(1) Diante da presença da Santíssima Trindade, da Rainha-Mãe Maria Santíssima, do meu anjo  guardião, e de toda a corte celestial, e por obedecer ao meu confessor, prometo que se o Senhor  por sua infinita misericórdia me fizer a graça de morrer, quando me encontrar com meu Esposo  Celestial, rogarei e suplicarei o triunfo da Igreja e a confusão e conversão de seus inimigos; que em  nosso país triunfe o partido católico e que a igreja de São Cataldo se reabra ao culto, que meu  confessor fique livre de seus habituais sofrimentos, com uma santa liberdade de espírito e a  santidade de um verdadeiro apóstolo de nosso Senhor, e que, se o Senhor permite que me envie a  Ele, pelo menos uma vez por mês, para lhe referir as coisas celestiais e coisas pertencentes ao  bem da sua alma. Eu prometo, quanto está do meu lado e eu juro.

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6-21

Fevereiro 22, 1904

O grande dom de ter uma vítima.

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus via  pessoas que sofriam, e eu rogava a Jesus que as libertasse daqueles sofrimentos mesmo à custa  de eu sofrer em lugar deles, e Ele me disse:

(2) Se você quer sofrer tanto porque é vítima, o que acontecerá depois quando não estiver a vítima,  então verão o vazio que sentirão aqueles que te rodeiam, o próprio país e também os reinos. Oh!  Então como você vai saber, com a perda, o grande bem que eu tinha dado a eles dando-lhes uma  vítima”.

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6-22

Fevereiro 12, 1904

Fala com alguns sacerdotes sobre a igreja de São Cataldo. 

(1) Tinha esquecido de dizer quanto estou por escrever, que agora por obediência o digo, se não  são coisas certas mas dúvidas, porque faltava a presença de nosso Senhor:

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(2) Encontrava-me fora de mim mesma e parecia que me encontrava dentro de uma igreja, onde  estavam alguns veneráveis sacerdotes, e unidas almas do purgatório e pessoas santas que  estavam discutindo entre si sobre a igreja de San Cataldo, e diziam quase com certeza que se  havia conseguido abri-la ao culto, e eu escutando isto disse: “Como pode ser isto, no outro dia  corriam rumores de que o Capítulo tinha perdido a causa, então, por meio do tribunal não se pôde  obter, o município não a quer dar, e vocês dizem que se deve obter?” E eles acrescentaram:  “Apesar de todas estas dificuldades, porém não está perdida, e ainda que se chegue a pôr mãos à  obra para derrubá-la, não se poderá dizer perdida porque São Cataldo saberá defender bem seu  templo, mas, pobre Corato se a isto chegarem”. Enquanto isso diziam, repetiram: “Já se levaram as  primeiras coisas, a Virgem coroada já foi levada para sua casa, vai tu diante da Virgem e roga-lhe  que tendo começado a graça, a cumpra”. Eu saí daquela igreja para ir rogar, mas enquanto isso fiz  me encontrei em mim mesma.

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26-23

Março 4, 1904

A alma deve viver no alto. Quem vive no alto não pode ser danificado. 

(1) Encontrando-me muito aflita e sofredora pela perda de meu bom Jesus, assim que o vi me  disse:

(2) “Minha filha, tua alma deve tratar de ter o vôo da águia, isto é, morar no alto, sobre todas as  coisas baixas desta terra, e tão alto, que nenhum inimigo a possa prejudicar, porque quem vive no  alto pode ferir os inimigos, mas não ser ferida. E não só deve viver no alto, mas deve tratar de ter  pureza e acuidade de olhos semelhantes aos da águia. Assim, tendo esta vista e vivendo no alto,  com a acuidade de sua vista penetra as coisas divinas, não de passagem, senão mastigando-as  até fazer delas seu alimento predileto, desgostando-se de qualquer outra coisa, mas também  penetra as necessidades do próximo e não teme descer entre eles e fazer-lhes o bem, e se for  necessário põe sua própria vida. E com a pureza da vista, de dois amores faz um, o amor de Deus tal deve ser a alma se quer me agradar”.

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6-24

Março 5, 1904

A cruz serve de intimação, advogado e juiz à alma, para tomar posse do reino eterno. (1) Esta manhã sentindo-me muito sofredora, com a adição de sua privação, depois de ter  esperado muito, apenas por poucos instantes veio e me disse:

 

2Este capítulo tem data 12/02/04 porque devido a um esquecimento não o pôs no que escreveu nessa data, e por ordem do confessor o  faz agora. Ela repete esta data no cabeçalho, mesmo que não corresponda.

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(2) “Minha filha, os sofrimentos, as cruzes, são como tantos citatórios que Eu envio às almas, se a  alma aceita estes convocatórios, ou que anunciem à alma que deve pagar alguma dívida, ou que  sejam um aviso para que faça alguma aquisição para a vida eterna, se a alma me responde com a  resignação a minha Vontade, com o agradecimento, com a adoração a minhas santas disposições,  imediatamente nos pomos de acordo, e a alma evitará muitos inconvenientes, como ser convocada  novamente, colocar advogados, fazer julgamento e sofrer a condenação do juiz. Com apenas  responder ao encontro com a resignação e com o agradecimento suprirá a tudo isto, porque a cruz  lhe será intimatório, advogado e juiz, sem necessitar de outra coisa para tomar posse do reino  eterno. Mas se não aceita estas intimações, pense você mesma, em quantos abismos de  desgraças, de problemas se mete a alma, e qual será o rigor do juiz ao condená-la por não ter  aceitado à cruz por juiz, a qual é muito mais moderada, mais compassiva, mais inclinada a  enriquecê-la em vez de julgá-la, mais atenta a embelezá-la do que a condená-la”.

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6-25

Março 12, 1904

Ameaça de guerras. Toda a Europa está sobre os ombros de Luisa.

(1) Estando doente Luisa, ordenei-lhe que ela ditasse, e não podendo desobedecer tem ditado  quanto segue, com grande repugnância.

(2) Tendo-me lamentado com nosso Senhor de que sentindo-me sofredora, no entanto não me  levava ao Céu, o bendito Jesus me disse:

(3) “Minha filha, ânimo no sofrimento, não quero que te abatas por não te ver ainda levada ao Céu.  Saiba que toda a Europa está sobre os seus ombros, e o sucesso bom ou mau para a Europa  depende do seu sofrimento. Se você é forte e constante no sofrimento, as coisas serão mais suportáveis; se você não é forte e constante no sofrer, ou bem Eu te levo ao Céu, serão tão graves  que estará a ameaça de ser invadida e governada pelos estrangeiros”.

(4) E mais, acrescentou que: “Se você permanecer na terra e sofrer muito com desejo e  constância, tudo o que acontecerá de castigos na Europa servirá para que venha o triunfo da  Igreja. E se, apesar de tudo isto, a Europa não o aproveitar e permanecer obstinada no pecado, os  seus sofrimentos servirão de preparativo para a sua morte, sem que a Europa o aproveite”.

Sac. Gennaro Di Gennaro

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6-26

Março 14, 1904

Pela necessidade dos tempos, Jesus pede o silêncio porque quer castigar.

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(1) Encontrando-me em meu estado habitual, depois de muito esperar, o bendito Jesus saiu de  meu interior, e eu querendo falar me pôs o dedo na boca dizendo:

(2) “Cala-te, cala-te”.

(3) Eu fiquei mortificadíssima e não tive mais coragem de abrir a boca, e o bendito Jesus vendo-me  tão mortificada acrescentou:

(4) “Minha querida filha, a necessidade dos tempos traz o silêncio, porque se você me fala, sua  palavra ata minhas mãos e jamais chego aos fatos de castigar como convém, e estamos sempre  de cabeça, por isso é necessário que entre você e eu tenha lugar por algum tempo o silêncio”.  (5) E enquanto isso dizia, ele lançou um cartaz no qual estava escrito: “São decretados flagelos,  penas e guerras”. E desapareceu.

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6-27

Março 16, 1904

A verdadeira resignação não põe a escrutínio as coisas, 

mas adora em silêncio as divinas disposições. 

A cruz é alegre, jubilosa, gozosa, anelante. 

(1) Esta manhã me encontrando fora de mim mesma, me encontrei sobre uma pessoa que tinha o  aspecto como se estivesse vestida como uma ovelha, e eu era levada sobre suas costas, mas ia a  passo lento; adiante ia uma espécie de máquina mais veloz, e eu em meu Interior disse: “Este vai  lento, gostaria de ir dentro daquela máquina que caminha mais veloz”. Não sei porquê, mas assim  que pensei nisto, encontrei-me dentro dela na companhia dos que iam nela, e eles disseram-me:  “O que fizeste? Como deixou o pastor? E que pastor, pois estando sua vida nos campos são suas  todas as ervas medicinais, nocivas e boas à saúde, e estando com Ele se pode estar sempre com  boa saúde, e se o vês vestido de ovelha é para tornar-se semelhante às ovelhas, fazendo que elas  se aproximem sem nenhum temor, e se vai a passo lento, mas é mais seguro”. Quando ouvi isto,  disse dentro de mim: “Já que assim é, gostaria de lhe dizer alguma coisa sobre a minha doença”.  Enquanto pensava isto encontrei-o perto de mim, e eu toda contente aproximei-me do seu ouvido e  lhe disse : “Bom Pastor, se és assim tão perito dá-me algum remédio para os meus males, pois eu  encontro-me neste estado de sofrimentos”. E querendo dizer mais, calou-me ao dizer:

(2) “A verdadeira resignação, não fantástica, não põe a escrutínio as coisas, mas adora em silêncio  as divinas disposições”.

(3) E enquanto dizia isto, parecia que se rompia a pele de lã e via o rosto de Nosso Senhor, e sua  cabeça coroada de espinhos. Eu ao ouvir que me dizia isto, não sabia mais o que dizer, ficava em  silêncio contente de estar junto com Ele, e Ele continuou:

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(4) “Tu esqueceste de dizer ao confessor outra coisa sobre a cruz”.

(5) E eu: “Adorável Senhor meu, eu não me lembro, diga e direi”.

(6) E Ele: “Minha filha, entre tantos títulos que tem a cruz, tem o título de um dia festivo, porque  quando se recebe um dom, o que acontece? Faz-se festa, goza-se, está-se mais alegre; agora, a  cruz sendo o dom mais precioso, mais nobre e feito pela pessoa maior e única que existe, resulta  mais agradável e leva mais festa, mais alegria que todos os outros dons. Então, você mesma pode  dizer que outros títulos você pode dar à cruz”.

(7) E eu: “Como Tu dizes, pode-se dizer que a cruz é festiva, jubilosa, alegre, anelante”.  (8) E Ele: “Bem, disseste bem, mas a alma chega a experimentar estes efeitos da cruz quando está  perfeitamente resignada à minha Vontade, e deu-se toda a si mesma a Mim, sem reter nada para  si, e Eu para não me deixar vencer em amor pela criatura, dou-lhe tudo Eu mesmo, e no doar-me a  Mim mesmo dou também a minha cruz, e a alma reconhecendo-a como meu dom faz festa e  goza”.

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6-28

Março 20, 1904

Todas as coisas têm origem na fé.

(1) Esta manhã sentia-me desanimada e entristecida pela perda de meu adorável Jesus, e  enquanto estava neste estado, fez ouvir sua dulcíssima voz que me dizia:

(2) “Minha filha, todas as coisas têm origem na fé. Quem é forte na fé é forte no sofrer, a fé faz  encontrar Deus em cada lugar, faz com que se descubra em cada ação, toca em cada movimento,  e cada nova ocasião que se apresenta é uma nova revelação divina que recebe. Por isso, seja  forte na fé, porque se estiver forte nela em todos os estados e vicissitudes, a fé te fornecerá a força  e te fará estar sempre unida com Deus”.

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6-29

Abril 9, 1904

Basta um ato perfeito de resignação à Vontade Divina para ficar 

purgado de todas as imperfeições nas quais a alma não tem posto nada do seu. 

(1) Tendo recebido esta manhã a comunhão, estava pensando comigo: “Que dirá meu bendito  Jesus quando vier a minha alma? Dirá: “Como é feia esta alma, má, fria, abominável”. Quão rápido  vai consumir as espécies para não estar em contato com esta alma tão feia, mas o que queres de  mim? Embora eu seja tão ruim, você ainda deve ter paciência para vir, porque de qualquer forma  você é necessário para mim, e eu não posso fazer outra coisa”. Enquanto dizia isto, saiu de dentro

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de mim e disse-me:

(2) “Minha filha, não queira te afligir por isto, não se requer nada para remediá-lo, basta um ato  perfeito de resignação à minha Vontade para poder ficar purgado de todas estas fealdades que  você diz, e Eu te direi o contrário do que pensa, te direi: “Como é bela, sinto o fogo do meu amor  em ti, e o perfume das minhas fragrâncias, em ti quero fazer a minha perfeita morada.”

(3) E desapareceu. Então, vindo o confessor, contei-lhe tudo, e ele me disse que não estava bem,  porque é a dor que purga a alma, e que a resignação não entrava nisto. Por isso, depois de ter  recebido a comunhão, disse: “Senhor, o padre disse-me que não está bem o que me disseste,  então, mostra-te melhor e faz-me conhecer a verdade”. E Ele bondosamente adicionou:

(4) “Minha filha, quando se trata de pecado voluntário, então se requer a dor, mas quando se trata  de imperfeições, de fraquezas, de frialdades e outras coisas, e que a alma não tem posto nada do  seu, então basta um ato de perfeita resignação, e se tem necessidade também deste estado para  ficar purgado, porque a alma ao fazer este ato primeiro se encontra com a Vontade Divina que  purga a vontade humana e a embeleza com suas qualidades, e depois se funde comigo”.

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6-30

Abril 10, 1904

As três cordas que amarram por todos os lados e estreitam mais intimamente a Jesus com a alma, são: sofrimentos assíduos, reparação perpétua, amor perseverante. 

(1) Esta manhã, encontrando-me com o temor de que o bendito Jesus, vendo-me ainda tão má, me  tivesse deixado, senti-o sair de dentro de mim e disse-me:

(2) “Minha filha, por que te ocupas em pensamentos inúteis e em coisas que não existem? Deves  saber que há três títulos diante de Mim que como três cordas me amarram por toda parte e me  estreitam mais intimamente a ti, de modo que não posso deixar-te, e são: sofrimentos assíduos,  reparação perpétua, amor perseverante. Se você como criatura é contínua nisto, talvez o Criador  seja menos que a criatura? Ou se deixará vencer por ela? Isto não é possível”.

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6-31

Abril 11. 1904

Jesus agradece a Luisa.

(1) Continuando o meu estado habitual, depois de ter esperado muito, assim que vi o meu adorável  Jesus disse-me:

(2) “Tu que tanto me querias contigo, o que queres, o que te importa mais?”  (3) E eu: “Senhor, nada quero, o que mais me importa é só Tu”.

(4) E Ele disse: “Como, não queres nada? Pede-me qualquer coisa, a santidade, minha graça, as

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virtudes, que Eu tudo te posso dar”.

(5) E eu disse mais uma vez: “Nada, nada, só te quero a Ti e ao que queres Tu”.  (6) E mais uma vez acrescentou: “Então não queres mais nada? Eu só basto para você? Seus  desejos não têm outra vida em você que eu só? Então toda a tua confiança deve estar só em Mim,  e apesar de não quereres nada, obterás tudo”.

(7) E sem me dar mais tempo, como relâmpago desapareceu. Então eu fiquei muito decepcionada,  especialmente porque quanto mais o chamava, não voltava, e pensava entre mim: “Eu não quero  nada, não penso, não me preocupo mas somente com Ele, e Ele parece que não se interessa por  mim, não sei como seu bom coração pode chegar a tanto”. E tantos outros disparates que eu dizia.  Agora, enquanto estava nisto, voltou e me disse:

(8) “Obrigado, obrigado. O que é mais, quando o Criador agradece à criatura ou quando a criatura  agradece ao Criador? Agora, deves saber que quando você me espera e tardo em vir, Eu te  agradeço a ti; quando venho logo, você está obrigada a me agradecer a Mim. Então, parece-te  pouco que o teu Criador te dê a ocasião de poder ficar vinculado contigo e agradecer-te?”

(9) Eu fiquei toda confusa.

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6-32

Abril 12, 1904

A paz é o maior tesouro.

(1) Esta manhã me sentia perturbada pela ausência do bendito Jesus, então depois de ter  esperado muito, assim que o vi me disse:

(2) “Minha filha, quando um rio está exposto aos raios do sol, vendo dentro dele vê-se o mesmo sol  que está no céu, mas isto acontece quando o rio está calmo, sem que nenhum vento perturbe as  águas; mas se as águas estão agitadas, apesar de o rio estar todo exposto ao sol, nada se vê, tudo  é confusão. Assim a alma quando está exposta aos raios do Sol Divino, se está calma adverte o  Sol divino em si mesma, sente o calor, vê a luz e compreende a verdade; mas, se está perturbada,  embora a tenha em si mesma, não sente outra coisa que confusão e perturbação. Por isso  considera a paz como o maior tesouro, se deseja estar unida Comigo”.

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6-33

Abril 14, 1904

Se a alma dá a Deus o alimento do amor paciente, Deus dará o pão doce da Graça.

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(1) Continuando meu estado habitual, mas sempre com imensa amargura em minha alma pela  privação do bendito Jesus, e que no máximo vem quando já não posso mais, e depois de que  quase estou persuadida de que não virá mais. Então, quando eu mal o vi carregando um cálice na  mão me disse:

(2) “Minha filha, se além do alimento do amor me der o pão de sua paciência, porque o amor  paciente e sofredor é alimento mais sólido, mais substancioso e tonificante, porque se o amor não  é paciente se pode dizer que é amor vazio, leve e sem nenhuma substância, Então, pode ser dito  que faltam as matérias necessárias para formar o pão da paciência. Portanto, se me deres este  pão, eu te darei o pão doce da graça”.

(3) E enquanto dizia isto, deu-me a beber o que estava dentro do cálice que tinha na mão, que  parecia doce, como uma espécie de licor que não sei distinguir, e desapareceu. (4) Depois disto, vi ao redor do meu leito muitas pessoas estranhas: sacerdotes, homens de bem,  mulheres que pareciam que deviam vir ao meu encontro, e alguns deles pareciam dizer ao  confessor: “Dá-nos notícias desta alma, de tudo o que o Senhor lhe manifestou, as graças que lhe  tem feito, porque nos manifestou o Senhor desde 1882 que escolhia uma vítima, e o sinal desta  vítima seria que o Senhor a teria mantido sempre neste estado como jovenzinha, tal como quando  a escolheu, sem envelhecer ou mudar a mesma natureza”. Agora, enquanto isso diziam, não sei  como eu me via tal como quando me deitei na cama, sem que tivesse mudado em nada por ter  estado tantos anos neste estado de sofrimento.

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6-34

Abril 16. 1904

Jesus e Deus Pai falam sobre a Misericórdia.

(1) Continuando o meu estado habitual encontrei-me fora de mim mesma, e via uma multidão de  povos, e no meio deles se ouviam rumores de bombas e explosões, e as pessoas caíam mortas e  feridas, os que ficavam fugiam para um palácio próximo, mas os inimigos atacavam-no e matavam nos com mais segurança do que aqueles que ficavam expostos. Então eu dizia entre mim: “Como  gostaria de ver se o Senhor está entre estas nações para lhe dizer: “Tem misericórdia, piedade  desta pobre gente”. Então eu virei e girado novamente e eu o vi como um pequeno menino, mas  pouco a pouco estava crescendo até que ele chegou à idade perfeita, então eu me aproximei e lhe  disse: “Amável Senhor, não vê a tragédia que acontece? Não queres fazer mais uso da  misericórdia, talvez queiras ter inútil este atributo que sempre glorificou com tanta honra a tua  Divindade encarnada, fazendo com ela uma coroa especial à tua augusta cabeça e adornando-te  uma segunda coroa tão querida e amada por Ti, como são as almas?” Agora, enquanto isso dizia,  Ele me disse:

(2) “Basta, basta, não vá em frente, você quer falar de misericórdia, e da justiça o que faremos? Já

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o disse e repito, é necessário que a justiça tenha o seu curso”.

(3) Portanto, tenho repetido: “Não há remédio, e para que me deixar nesta terra quando não posso  aplacar-te mais e sofrer eu em lugar de meu próximo? Sendo assim é melhor que me faças  morrer”. Enquanto eu estava nisto, via outra pessoa por detrás das costas de Jesus bendito, e  disse-me quase acenando-me com os olhos: “Apresenta-te a meu Pai e vê o que te diz”. Eu me  apresentei toda trêmula, e ele me viu e disse:

(4) “Que queres que venhas a mim?”

(5) E eu: “Bondade adorável, misericórdia infinita, sabendo que Tu és a mesma misericórdia, vim  pedir-te misericórdia, misericórdia para as tuas próprias imagens, misericórdia para as obras  criadas por Ti, misericórdia não para os outros, mas para as tuas próprias criaturas”. E Ele me  disse:

(6) “Então é misericórdia o que você quer? Mas se você quiser verdadeira misericórdia, a justiça  depois de ter desabafado, produzirá grandes e abundantes frutos de misericórdia”.  (7) Então, não sabendo mais o que dizer, disse: “Pai infinitamente santo, quando os servos, os  necessitados se apresentam aos patrões, aos ricos, se são bons, se não dão tudo o que é  necessário, dão-lhes sempre alguma coisa, e eu, que tive o bem de me apresentar ante Ti, dono  absoluto, rico sem termo, bondade infinita, nada queres dar a esta pobrezinha do que te pediu, não  fica acaso mais honrado e contente o patrão quando dá do que quando nega o que é necessário a  seus servos? Depois de um momento de silêncio há agregado:

(8) “Por amor de Ti, em vez de fazer por dez farei por cinco”.

(9) Dito isto desapareceram, e eu vi em mais partes da terra, e especialmente na Europa,  multiplicar guerras, guerras civis e revoluções.

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6-35

Abril 21, 1904

Quem tem o título de vítima pode lutar com a justiça. 

(1) Continuando o meu habitual estado, ouvia ao redor do meu leito pessoas que rogavam a nosso  Senhor, eu não prestava atenção a escutar o que queriam, prestava atenção só a que já era tarde  e que Jesus bendito não se fazia ver ainda. Oh! como se destroçava meu coração temendo que  não viesse, e dizia para mim: “Senhor bendito, estamos já na última hora, e não vem ainda? Ai! não  me dê este desgosto, pelo menos faça-se ver”. Enquanto isso dizia saiu de dentro de mim e disse  àqueles que estavam ao meu redor:

(2) “Lutar com a minha justiça não é lícito às criaturas, mas só é lícito a quem tem o título de vítima,  e não só de lutar mas de brincar com a justiça, e isto porque ao lutar ou jogar facilmente se  recebem os golpes, as derrotas, as perdas, e a vítima está pronta a receber sobre si os golpes,

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resignar-se nas derrotas e perdas sem que preste atenção às suas perdas, aos sofrimentos, senão  só à glória de Deus e ao bem do próximo. Se eu quisesse me acalmar, tenho aqui a minha vítima  que está pronta a lutar e a receber sobre si todo o furor da minha justiça”.

(3) Vê-se que estavam rogando para aplacar ao Senhor, eu fiquei mortificada e mais amarga ao  escutar isto de nosso Senhor.

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6-36

Abril 26, 1904

O hábito não faz o monge.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma encontrei-me com o menino Jesus nos  braços, rodeada de várias pessoas devotas, sacerdotes, muitos dos quais estavam atentos à  vaidade, ao luxo e à moda, e parecia que diziam entre eles aquele ditado antigo O hábito não faz o  monge”. E o bendito Jesus me disse:

(2) “Amada minha, oh! como me sinto desiludido pela glória que a criatura me deve, e que com  tanta desfaçatez me nega, e até pelas pessoas que se dizem devotas”.

(3) Eu ao ouvir isto disse: “Querido do meu coração, recitemos três Glória ao Pai pondo a intenção  de dar toda a glória que a criatura deve à vossa Divindade, assim receberá pelo menos uma  reparação”.

(4) E ele: “Sim, sim, recitemos”.

(5) E recitámo-las juntos, depois recitámos uma Ave Maria, pondo também a intenção de dar à  Rainha Mãe toda a glória que lhe devem as criaturas. Oh! como era belo rezar com o bendito  Jesus, encontrava-me tão bem que continuei: “Meu amado, como gostaria de fazer a profissão de  fé nas tuas mãos ao recitar juntamente contigo o Credo”.

(6) E Ele: “O Credo o recitarás sozinha, porque a ti te corresponde, não a Mim, e o dirás a nome de  todas as criaturas para me dar mais glória e honra”.

(7) Então eu pus as minhas mãos nas suas e recitei o Credo, depois disto o bendito Jesus me  disse:

(8) “Minha filha, parece que me sinto mais aliviado e afastada aquela nuvem negra da ingratidão  humana, especialmente das devotas. ¡ Ah! minha filha, a ação externa tem tanta força de penetrar  no interior, que forma um vestido material à alma, e quando o toque divino a toca, não o sentem  vivo, porque têm a vestidura lamacenta revestindo a alma, e não sentindo a vivacidade da graça, a  graça, ou é rejeitada ou fica infrutífera. Oh! como é difícil gozar os prazeres, vestir-se de luxo  externamente, e desprezá-los internamente, acontece o contrário, isto é, amar no interior e gozar  do que externamente nos rodeia. Minha filha, considera tu mesma qual não é a dor de meu

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coração nestes tempos, ver minha graça rejeitada por todo tipo de gente, enquanto todo meu  consolo é o socorrer às criaturas, e toda a vida das criaturas é a ajuda divina, e as criaturas  rejeitam o meu socorro e a minha ajuda. Entra tu a tomar parte de minha dor e compadece minhas  amarguras”.

(9) Dito isto desapareceu, ficando toda afligida pelas penas de meu adorável Jesus.  + + + +

6-37

Abril 29, 1904

A vida de Deus manifesta-se nas criaturas com as palavras, com as obras e com os sofrimentos, mas o que a manifesta mais claramente são os sofrimentos. 

(1) Continuando meu estado habitual, me encontrei rodeada por três virgens, as quais tomando-me  a viva força queriam me crucificar sobre uma cruz, e eu como não via ao bendito Jesus, temendo,  punha resistência, e elas vendo minha resistência me disseram: “Irmã caríssima, não temas que  não esteja nosso Esposo, deixa que te comecemos a crucificar, que o Senhor atraído pela virtude  dos sofrimentos virá, nós viemos do Céu, e como vimos males gravíssimos que estão por  acontecer na Europa, para fazer com que pelo menos aconteçam mais benignos viemos fazer-te  sofrer”. Enquanto isso me trespassaram com pregos as mãos e os pés, mas com tal crueza de dor  que me sentia morrer. Agora, enquanto sofria veio o bendito Jesus, e vendo-me com severidade  me disse:

(2) “Quem te ordenou que te pusesses nestes sofrimentos? Então para que me serves? Para não  poder nem sequer ser livre de fazer o que quero, e para ser um contínuo estorvo à minha justiça?”  (3) Eu no meu íntimo dizia: “Que quer de mim, eu nem sequer queria, foram elas que me  induziram, e a toma contra mim”. Mas não podia falar por causa da dor; aquelas virgens vendo a  severidade de nosso Senhor, mais me faziam sofrer tirando e voltando a cravar os pregos, e me  aproximavam a Ele mostrando-lhe meus sofrimentos, e quanto mais sofria, mais parecia que o  Senhor se apaziguava, e quando o viram mais apaziguado e quase enternecido por meu sofrer, me  deixaram e se foram, deixando-me só com nosso Senhor. Então Ele mesmo me assistia e  sustentava, e vendo-me sofrer, para me reanimar disse-me:

(4) “Minha filha, a minha Vida manifesta-se nas criaturas com as palavras, com as obras e com os  sofrimentos, mas o que a manifesta mais claramente são os sofrimentos”.

(5) Enquanto estava nisto, o confessor veio chamar-me à obediência, e em parte pelos sofrimentos,  e em parte porque o Senhor não me deixava, não podia obedecer. Então lamentei com meu Jesus,  dizendo: “Senhor, como é que o confessor está esta hora? Justo agora devia vir?”

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(6) E Ele: “Minha filha, deixa que fique um pouco conosco e que participe também em minhas  graças. Quando alguém continuamente frequenta uma casa, participa do pranto e do riso, da  pobreza e da riqueza; assim é do confessor, não participou de suas mortificações e privações?  Agora participa de minha presença”.

(7) Então parecia que lhe participava a força divina dizendo-lhe: “A Vida de Deus na alma é a  esperança, e por quanto esperas, tanto de Vida Divina contes em ti mesmo, e assim como a Vida  Divina contém potência, sabedoria, fortaleza, amor e outras coisas, assim a alma se sente regar  por tantos fluxos por quantas são as virtudes divinas, e a Vida Divina cresce sempre em ti mesmo;  mas se não esperas, no espiritual, e pelo espiritual participará também o corporal, a Vida Divina se  irá consumindo até apagar-se de tudo, por isso espera, espera sempre”.

(8) Depois, com esforço recebi a comunhão, e depois me encontrei fora de mim mesma e via três  homens em forma de três cavalos indômitos que desenfreados na Europa, fazendo tantos estragos  de sangue, e parecia que queriam envolver como dentro de uma rede à maior parte da Europa em  guerras encarniçadas, todos tremiam à vista destes diabos encarnados, e muitos ficavam  destruídos.

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6-38

Maio 1, 1904

O olho que se deleita só das coisas do Céu, tem a virtude de ver Jesus, e quem se deleita das coisas da terra, tem a virtude de ver as coisas da terra. 

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, estava pensando em nosso Senhor, quando, tendo  chegado ao monte calvário, foi despido de tudo e amargurado com fel, e rogava-lhe, dizendo:  “Adorável Senhor meu, não vejo em Ti mais que uma veste de sangue adornada de chagas, e por  gosto e deleite amarguras de fel, por honra e glória confusões, opróbrios e Cruzes. Ah! não  permitas que depois de que Tu sofreste tanto, que eu não veja as coisas desta terra mais que  como esterco e lama, que não me tome outro prazer que em Ti só, e que toda minha honra não  seja outro que a cruz”. E Ele fazendo-se ver me disse:

(2) “Minha filha, se você fizesse de maneira diferente perderia a pureza do olhar, porque fazendo se um véu à vista perderia o bem de me ver, porque o olho que se recria só das coisas do Céu tem  a virtude de me ver, e quem se recria das coisas da terra tem a virtude de ver as coisas da terra,  porque o olho, vendo-as diferentes do que são, vê-as e ama-as”.

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6-39

Maio 28, 1904

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A mortificação derruba tudo e imola tudo a Deus. 

(1) Continuando meu habitual estado, e estando com suma amargura pelas contínuas privações de  meu adorável Jesus, fez-se ver-me dizendo:

(2) “Minha filha, a primeira mina que se deve lançar no interior da alma é a mortificação, e quando  esta mina se põe na alma lança por terra tudo, e imola tudo a Deus, porque na alma há como  tantos palácios, mas todos de vícios, como seria o orgulho, a desobediência e tantos outros vícios,  e a mina da mortificação derrubando tudo reedifica muitos outros palácios de virtudes, imolando-os  e sacrificando-os todos à glória de Deus”.

(3) Dito isto desapareceu, e depois veio o demônio que só queria molestar-me eu, sem sentir  medo, disse-lhe: “O que ganhas em irritar-me? Quer aparentar ser mais valente, toma um pau e  golpeia-me até não me deixar sequer uma gota de sangue, entendendo no entanto, que cada gota  de sangue que derramo é um testemunho de mais de amor, de reparação e de glória que intento  dar ao meu Deus”.

(4) E aquele: “Não encontro paus para poder te golpear, e se vou buscá-lo você não me espera. (5) E eu: “Vai então que aqui te espero”. E assim se foi, ficando eu com a firme vontade de esperá lo, quando com minha surpresa vi que tendo encontrado com outro demônio iam dizendo: “É inútil  que voltemos, em que aproveita a golpear se deve servir para nosso dano e com nossa perda? É  bom fazer sofrer quem não quer sofrer, porque este ofende a Deus, mas a quem quer sofrer,  fazemos- nos mal com as nossas mãos”. E não voltou, ficando eu mortificada.

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6-40

Maio 30, 1904

A Paixão serve como veste ao homem.  

A soberba transforma em demônios as imagens de Deus. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, estava pensando e oferecendo a Paixão de Nosso  Senhor, especialmente a coroa de espinhos, e lhe rogava que desse luz a tantas mentes cegas,  que se fizesse conhecer, porque é impossível conhecê-lo e não amá-lo. Enquanto dizia isto, meu  adorável Jesus saiu de dentro de mim e me disse:

(2) “Minha filha, quanta ruína faz na alma a soberba, basta dizer-te que forma um muro de divisão  entre a criatura e Deus, e de imagens minhas as transforma em demônios. E além disso, se tanto  te dói e te desagrada que as criaturas sejam tão cegas que elas mesmas não entendam nem  vejam o precipício em que se encontram, e tanto deseja que Eu as ajude, minha Paixão serve  como vestes ao homem, que lhe cobre as maiores misérias, o embeleza e lhe restitui todo o bem

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que pelo pecado se havia tirado e perdido, pelo que Eu te faço dom de minha Paixão, a fim de que  te sirva a ti e para quem tu queiras”.

(3) Ao ouvir isto veio-me tal temor, vendo a grandeza do dom, e temendo que não soubesse usar  este dom, e por isso desagradar ao mesmo Doador; então disse: “Senhor, não sinto a força de  aceitar tal dom, sou muito indigna de tal favor, melhor fique Você que é o Tudo e tudo conhece,  conhece a quem é necessário e convém aplicar esta vestimenta preciosa e de imenso valor,  porque eu, pobrezinha, que coisa posso conhecer? E se é necessário aplicá-lo a alguém e eu não  o faço, que rigorosa conta não me pedirás?”

(4) E Jesus: “Não temas, o próprio Doador te dará a graça de não ter inútil o dom que te deu,  acreditas tu que Eu te faço um dom para te fazer mal? Não, jamais”.

(5) Então eu não soube o que responder, mas fiquei espantada e em brasas, reservando-me para  ouvir como pensava a senhora obediência. Entende-se, no entanto, que este vestido, não quer  significar outra coisa senão tudo o que fez, mereceu e sofreu nosso Senhor, onde a criatura  encontra o vestido para cobrir-se a nudez despojada de virtude, as riquezas para enriquecer-se, as  belezas para tornar-se bela e embelezada, e o remédio para todos os seus males. Depois, tendo  dito à obediência, me disse que aceitasse.

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6-41

Junho 3, 1904

Quem se deixa dominar pela cruz, destrói na alma três reinos maus que são: o mundo, o  demônio e a carne, e estabelece outros três reinos bons que são: 

o reino espiritual, o divino e o eterno.

(1) Esta manhã, como não vinha o bendito Jesus, sentia-me toda oprimida e cansada. Depois, ao  vir disse:

(2) “Minha filha, não queiras cansar-te no sofrimento, faz como se a cada instante começasses a  sofrer, porque quem se deixa dominar pela cruz destrói na alma três reinos maus, que são: o  mundo, o demônio e a carne, e estabelece outros três reinos bons que são: o reino espiritual, o  divino e o eterno”.

(3) E desapareceu.

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6-42

Junho 6, 1904

Ânimo, fidelidade e suma atenção se necessita para seguir o que a Divindade obra em nós. (1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo se fez ver desde dentro de meu interior,

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primeiro Ele só e depois as Três Divinas Pessoas, mas todas em profundo silêncio, e eu  continuava ante sua presença com meu trabalho acostumado interior, e parecia que o Filho se unia  comigo, e eu não fazia outra coisa senão segui-lo, mas tudo era silêncio, e não se fazia outra coisa  neste silêncio que fundir-se com Deus, e todo o interior, afetos, batimentos, desejos, respiros,  converteram-se em profundas adorações à Majestade Suprema. Então, depois de ter estado um  pouco tempo neste estado, parecia que as Três falavam, mas formavam uma só voz, e me  disseram:

(2) “Filha querida nossa, ânimo, fidelidade e atenção soma ao seguir o que a Divindade obra em ti,  porque tudo o que fazes não o fazes tu, senão que não fazes outra coisa que dar tua alma por  habitação à Divindade. Acontece-te a ti como a um pobre que tendo um pequeno quartinho, o rei o  pede por habitação, e ela o dá e faz tudo o que quer o rei; então, habitando o rei aquele pequeno  quartinho, contém riquezas, nobreza, glória e todos os bens, mas de quem são? Do rei, e se o rei  quiser deixá-lo, à pobre o que lhe resta? Fica-lhe sempre sua pobreza”.

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Junho 10, 1904

Jesus fala da beleza do homem.

(1) Continuando o meu habitual estado, assim que veio o meu adorável Jesus, todos os aflitos e  sofredores me disseram:

(2) “Ah! minha filha, se o homem se conhecesse a si mesmo, oh! como se cuidaria de manchar-se,  porque é tal e tanta sua beleza, sua nobreza, sua formosura, que todas as belezas e diversidade  das coisas criadas as reúne em si, e isto porque sendo criadas todas as outras coisas da natureza  para serviço do homem, e o homem devia ser superior a todas, portanto, para ser superior devia  reunir em si todas as qualidades das outras coisas criadas, e não só isso, senão que tendo sido  criadas as outras coisas para o homem e o homem só para Deus e para sua delícia, por  consequência não somente devia reunir em si todo o criado, senão que devia superá-lo até receber  em si mesmo a imagem da Majestade Suprema. E o homem, apesar de tudo isto, não cuidando de  todos estes bens, não faz outra coisa senão sujar-se com as mais feias porcarias”.

(3) E desapareceu. Então eu compreendia que a nós nos sucede como a uma pobre, que tendo  recebido um vestido tecido de ouro, enriquecido com gemas e com pedras preciosas, como não  entende nem conhece seu valor, o tem exposto ao pó, ele o suja facilmente e o tem como um  vestido tosco e de pouco valor, de modo que se o tira, pouco ou nenhum desgosto sente. Assim é  nossa cegueira a respeito de nós mesmos.

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6-44

Junho 15, 1904

A criatura não é outra coisa que um pequeno 

recipiente cheio de doses de todas as partículas divinas.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio me disse:

(2) “Minha querida filha, a criatura me é tão querida e a amo tanto, que se a criatura o  compreendesse lhe explodiria o coração de amor, e isto é tão certo, que ao criá-la não a fiz outra coisa que um pequeno recipiente cheio de partículas dos atributos divinos, de modo que de todo  meu Ser, atributos, virtudes, perfeições, a alma contém muitas pequenas partículas de tudo isso,  segundo a capacidade dada por Mim, e isto para que pudesse encontrar nela outros tantos  pequenos distintivos correspondentes aos meus atributos e assim poder deleitar-me e brincar  perfeitamente com ela. Agora, este pequeno recipiente cheio do divino, quando a alma se ocupa  das coisas materiais e as faz entrar nela, feita fora alguma coisa do divino e toma seu lugar alguma  coisa material; que afronta recebe a Divindade e que dano à alma; mas se por necessidade se  ocupa das coisas materiais, quanta atenção se requer para não as fazer entrar! Você, filha, está  atenta, de outra maneira, se vejo em você alguma coisa que não seja divina, Eu não me farei ver  mais”.

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6-45

Junho 17, 1904

A consumação da vontade humana na divina nos torna uma só coisa  

com Deus, e põe em nossas mãos o divino poder.

(1) Esta manhã, depois de muito esperar, o bendito Jesus veio e me disse:

(2) “Minha filha, olha quantas coisas se dizem de virtude, de perfeição, porém vão acabar todas em  um só ponto, isto é, na consumação da vontade humana na Divina. Assim, quem mais está  consumado nesta, pode-se dizer que contém tudo e é o mais perfeito de todos, porque todas as  virtudes e obras boas são tantas chaves que nos abrem os tesouros divinos, fazem-nos adquirir  mais amizade, mais intimidade, mais trato com Deus, mas só a consumação é a que nos torna uma  coisa com Ele e põe em nossas mãos o divino poder, e isto porque a vida deve ter uma vontade  para viver, agora, vivendo da Vontade Divina, naturalmente se torna dona”.

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6-46

Junho 19, 1904

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Volume 06

Fala de castigos. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, ouvia a meu adorável Jesus que dizia junto a mim: (2) “Minha filha, em que momento tão doloroso está entrando a Igreja, mas toda a glória nestes  tempos é daqueles espíritos atléticos que não pondo atenção a cordas, cadeias e penas, não  fazem outra coisa que romper o caminho espinhoso que divide a sociedade de Deus”.  (3) Depois continuou: “No homem vê-se uma avidez de sangue humano. Ele a partir da terra, e Eu  do Céu enviarei terremotos, incêndios, furacões, desgraças, para fazê-los morrer em boa parte”. + + + + +

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Junho 20, 1904

As almas vítimas são filhas da Misericórdia.  

(1) Depois de ter esperado muito, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, chegou a tanto a perfídia humana, de esgotar por sua parte minha misericórdia,  mas minha bondade é tanta, de constituir as filhas da misericórdia, a fim de que também por parte  das criaturas não fique esgotado este atributo, e estas são as vítimas que estão em plena posse da  Vontade Divina por haver destruído a própria, porque nestas, o recipiente dado a elas por Mim ao  criá-las está em pleno vigor, e tendo recebido a partícula de minha Misericórdia, sendo filha a  fornece a outros. Entende-se, no entanto, que para administrar a misericórdia aos outros deve ser  encontrada ela na justiça”.

(3) E eu: “Senhor, quem pode ser encontrado na justiça?”

(4) E Ele: “Quem não comete pecados graves e quem se abstém de cometer pecados veniais  ligeiros, por sua própria vontade”.

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6-48

Junho 29, 1904

Sinal para saber que Deus se retira do homem. 

(1) Esta manhã encontrando-me no meu estado habitual, apenas se fez ver o meu adorável Jesus  me disse:

(2) “Minha filha, o sinal de que minha justiça não pode mais suportar ao homem e está em ato de  mandar graves castigos, é quando o homem não pode suportar-se mais a si mesmo, porque Deus  rechaçado pelo homem, dele se retira e faz sentir ao homem todo o peso da natureza, do pecado e  das misérias, e o homem não podendo suportar o peso da natureza sem a ajuda divina, procura ele  mesmo o modo de destruir-se. Em tal estado encontra-se agora a presente geração”.

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Volume 06

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Julho 14, 1904

A vida é uma consumação contínua. 

(1) Os meus dias estão a tornar-se cada vez mais dolorosos devido às privações quase contínuas  de meu adorável Jesus, eu mesma não sei por que me sinto devorar a alma e também o corpo por  esta separação. Que duro martírio! Meu único consolo é a Vontade de Deus, porque se tudo o  perdi, inclusive a Jesus, só esta santa e dulcíssima Vontade de Deus está em meu poder, mas  como também sinto que me devora o corpo, me engano de que não está tão distante a separação  dele, porque lamento sucumbir, e por isso espero que um dia o Senhor me chame a Si e termine  esta dura separação. Por isso, esta manhã depois de ter esperado muito, assim que veio me disse:  (2) “Minha filha, a vida é uma consumação contínua, quem a consome pelos prazeres, quem pelas  criaturas, quem por pecar, outros pelos interesses, algum por caprichos, há tantos tipos de  consumação. Agora, quem esta consumação a forma toda em Deus, pode dizer com toda certeza:  Senhor, minha vida se consumiu de amor por Ti, e não só me consumiu, senão que estou morta só  por teu amor”. Por isso, se tu te sentes consumir continuamente por minha separação, podes dizer  que morres continuamente em Mim, e tantas mortes sofres por amor meu. E se você consome seu  ser por Mim, por quanto se consome de você, outro tanto adquire de divino em si mesma”

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6-50

Julho 22, 1904

Só a estabilidade é a que faz conhecer o progresso da Vida Divina na alma.  

(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, quando a alma se propõe não pecar, ou bem fazer um bem e não segue os  propósitos feitos, significa que não se faz com toda a vontade, e que a luz divina não teve contato  com a alma, porque quando a vontade é verdadeira e a luz é divina, lhes faz conhecer o mal a  evitar ou o bem a fazer, e dificilmente a alma não segue o que se propôs, e isto porque a luz divina  não vendo a estabilidade da vontade, não fornece a luz necessária para evitar um e para fazer o  outro, no máximo podem ser momentos de desventura, abandonos de criaturas, ou qualquer outro  acidente pelo que a alma parece que se quereria destruir por Deus, que quer mudar de vida, mas  apenas o vento dos acidentes muda, que logo muda a vontade humana. Assim, em vez de vontade  e luz, pode-se dizer que há uma mistura de paixões segundo as mudanças dos ventos. Assim que  só a estabilidade é a que faz conhecer o progresso da Vida Divina na alma, porque sendo Deus  imutável, quem o possui participa de sua imutabilidade no bem”.

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Volume 06

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6-51

Julho 27, 1904

Tudo deve ser selado pelo amor.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus saiu de meu interior, e tendo-me  levantada a cabeça, que pelo prolongado do tempo que o esperei estava muito cansada, me disse:  (2) “Minha filha, a quem verdadeiramente me ama, tudo o que lhe acontece, interior e exterior,  devora tudo numa só coisa, na Vontade Divina. De todas as coisas nenhuma lhe parece estranha,  olhando-as como um produto de Divina Vontade, por isso Nela tudo consome, seu centro, sua  mira, é única e somente a Vontade de Deus; assim que nela sempre gira como dentro de um anel,  sem encontrar jamais o caminho para sair, fazendo dela o seu alimento contínuo”.

(3) Dito isto desapareceu, e depois de ter retornado adicionou:

(4) “Filha, faz com que tudo te seja selado pelo amor, assim se pensas, deves só pensar no amor,  se falas, se obras, se palpita, se desejas; inclusive um só desejo que saia de ti que não seja amor,  roda-o em ti mesma e converte-o em amor, e depois dá-lhe a liberdade de sair”.  (5) E enquanto dizia isto, parecia que com a sua mão tocava toda a minha pessoa, colocando  tantos selos de amor.

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6-52

Julho 28, 1904

A alma desapegada de tudo, em tudo encontra Deus. 

(1) Esta manhã me encontrando em meu habitual estado, por uns momentos veio o Bendito Jesus  e me disse:

(2) “Minha filha, quando a alma está desapegada de tudo, em todas as coisas encontra Deus,  encontra-o em si mesma, encontra-o fora de si mesma, encontra-o nas criaturas, assim pode dizer  que todas as coisas se convertem em Deus para a alma desapegada de tudo, mais ainda, não só o  encontra, mas o olha, o sente, o abraça, e como em tudo o encontra, assim todas as coisas lhe  proporcionam a ocasião de adorá-lo, de lhe implorar, de lhe agradecer, de se estreitar mais  intimamente a Ele, e além disso, seus lamentos por minha privação não são razoáveis, pois se  você me sente em seu interior, é sinal de que não só estou fora mas também dentro, como no meu  próprio centro”.

(3) Eu esqueci de dizer no início, que foi trazido para mim pela Rainha Mãe, e como eu lhe  implorava para me contentar e não me deixar privado dele, Jesus abençoado respondeu como está  escrito acima.

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6-53

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Volume 06

Julho 29, 1904

A fé faz conhecer a Deus, mas a confiança fá-lo encontrar.

(1) Continuando o meu estado habitual, mal vi o meu adorável Jesus, e eu disse-lhe: “Meu Senhor  e meu Deus”. E Ele disse:

(2) “Deus, Deus, só Deus; filha, a fé faz conhecer a Deus, mas a confiança fá-lo encontrar, assim  que a fé sem a confiança é fé estéril. E embora a fé possua imensas riquezas para que a alma  possa enriquecer, se falta a confiança fica sempre pobre e desprovida de tudo”.  (3) Então, enquanto dizia, sentia-me atraída a Deus, e ficava absorvida nele como uma gotinha de  água no imenso mar, por mais que olhasse não encontrava nem os confins ao largo nem ao longo,  nem ao alto, Céus e terra, viadores e bem-aventurados, todos estavam imersos em Deus. Depois  via também as guerras, como a da Rússia com o Japão, os milhares de soldados que morreram ou  que morrerão, e que por justiça, ainda natural, a vitória será do Japão; também outras nações  europeias estão tramando maquinações de guerra contra as mesmas nações da Europa. Mas  quem pode dizer tudo o que se via de Deus e em Deus? Para terminar ponho ponto.

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6-54

Julho 30, 1904

Desapego que devem ter os sacerdotes.

(1) Esta manhã o bendito Jesus não vinha, e eu encontrando-me fora de mim mesma girava e  voltava a girar em busca de meu sumo e único bem, e não encontrando-o, minha alma se sentia  morrer a cada instante, mas o que aumentava minha dor era que enquanto me sentia morrer, não  morria, porque se eu pudesse morrer teria alcançado minha finalidade, ao me encontrar para  sempre no centro Deus. Oh! separação, como é amarga e dolorosa, não há pena que possa

comparar-se a ti. Oh! privação divina, tu consomes, tu trespassas, tu és uma faca de dois gumes,  que de um lado corta e do outro queima, a dor que provocas é tão imensa porque imenso é Deus. (2) Agora, enquanto andava vagando me encontrei no purgatório, e minha dor, meu pranto, parecia  que aumentava a dor daquelas pobres almas privadas de sua vida: “Deus”. Então, entre estas  almas parecia que haviam sacerdotes, um dos quais parecia que sofria mais que os outros, e este  me disse:

(3) “Meus graves sofrimentos provêm de que em vida fui muito apegado aos interesses da família,  às coisas terrenas e um pouco de apego a alguma pessoa, e isto produz tanto mal ao sacerdote,  que forma uma couraça de ferro enlameada, que como veste o envolve, e só o fogo do purgatório e  o fogo da privação de Deus, que comparado com o primeiro fogo, desaparece o primeiro, pode  destruir essa couraça. Oh, quanto sofro! Minhas penas são inenarráveis, roga, roga por mim”.

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Volume 06

(4) Então eu me sentia mais aflita e me encontrei em mim mesma, e depois, apenas vi a sombra do  bendito Jesus e me disse:

(5) “Minha filha, o que tens procurado? Para ti não há outros alívios e ajudas que Eu só”.  (6) E como um relâmpago desapareceu. E eu fiquei dizendo: Ah! Ele mesmo me diz? Que só Ele é  tudo para mim, no entanto tem a coragem de me deixar privada e sem Ele”.  + + + +

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Julho 31, 1904

A vontade humana falsifica e profana até as obras mais santas.

(1) Continuando meu pobre estado, parece que Jesus veio mais de uma vez, e parecia que o via  menino circundado como por uma sombra, e me disse:

(2) “Filha, não sente a frescura da minha sombra? Repõe-te nela porque encontrarás alívio”.  (3) E parecia que repousávamos juntos à sua sombra, e me sentia toda reanimada junto a Ele, e  depois continuou:

(4) “Minha querida, se você me ama, não quero que você olhe nem em si mesma nem fora de  você, nem se está quente ou fria, nem se faz muito ou pouco, nem se sofre ou goza, tudo isto deve  ser destruído em ti e só deves te fixar se fazes quanto mais podes por Mim e tudo por me agradar,  os outros modos, por quanto altos, sublimes e laboriosos, não podem me agradar e contentar meu  amor. Oh! quantas almas falsificam a verdadeira devoção e profanam as obras mais santas com a  própria vontade, buscando-se sempre a si mesmas. E se também nas coisas santas se busca o  modo e o gosto próprio e a satisfação de si mesma, encontra-se a si mesma, foge Deus, e não o  encontra”.

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Agosto 4, 1904

A glória dos bem-aventurados no Céu será de acordo com os modos 

como se comportaram com Deus na terra. Do modo como é Deus 

para a alma, pode-se ver como a alma é para Deus. 

(1) Esta manhã, tendo vindo o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, e tomando me com a mão me conduziu até a abóbada do céu, de onde se viam os bem-aventurados, ouvia-se  seu canto. Oh! como os bem-aventurados nadavam em Deus, via-se a vida deles em Deus, e a  vida de Deus neles, a mim isto parece-me ser o essencial da sua felicidade. Parece-me também  que cada bem-aventurado é um novo céu naquela bem-aventurada morada, mas todos distintos entre eles, não há um igual a outro, e isto vem de acordo com os modos com que se comportaram  com Deus sobre a terra: Alguém procurou amá-lo mais, este o amará mais no Céu e receberá de

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Deus sempre novo e mais crescente amor, e este céu ficará com uma tinta e um lineamento divino  todo especial. Outro tem procurado glorificá-lo demais, Deus bendito lhe dará sempre mais glória  crescente, para ficar este novo céu mais glorioso e glorificado da mesma glória divina. E assim de  todos os outros modos distintos que cada um teve com Deus na terra, que se eu quisesse dizer  tudo me alongaria muito. Assim, pode-se dizer que o que se faz para Deus na terra, o  continuaremos no Céu, mas com maior perfeição, então o bem que fazemos não é temporal, senão  que durará para toda a eternidade e resplandecerá ante Deus e em torno de nós continuamente. ”  Oh! como seremos felizes vendo que todo nosso bem e a glória que demos a Deus, e a nossa,  vem daquele pouco de bem iniciado imperfeitamente sobre a terra; se todos pudessem vê-lo, oh!  como se apressariam para amar, louvar, agradecer e mais ao Senhor, para poder fazê-lo com  maior intensidade no Céu. Mas quem pode dizer tudo? Mas parece-me que estou dizendo tantos  desatinos daquela bem-aventurada morada, a mente o capta de um modo, a boca não encontra as  palavras para saber-se manifestar, por isso passo a outra coisa.

(2) Depois me transportou para a terra. Oh! como os males da terra são assustadores nestes tristes  tempos, no entanto parecem nada ainda em comparação com o que virá, tanto no estado religioso,  que parece que seus próprios filhos vão rasgar esta boa e santa mãe, a Igreja; como no estado  secular. Então, depois disto me reanimou e me disse:

(3) “Minha filha, me diga um pouco o que sou Eu para você”.

(4) E eu: “Tudo, és tudo para mim, nada entra em mim exceto Tu só, tudo corre fora”. (5) E Ele: “E Eu sou tudo, tudo para ti, nada de ti sai fora de Mim, senão que todo me deleito em ti.  Assim como Eu sou para você, você pode ver como você é para Mim”.

(6) Disse isso desapareceu.

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Agosto 5, 1904

Jesus é o governante dos reis e o senhor dos dominadores.

(1) Continuando meu estado habitual, o bendito Jesus veio em ato de reger e dominar tudo, e de  reinar com a coroa de rei na cabeça e com o cetro de comando na mão, e enquanto o via nesta  atitude me disse, mas em latim, pelo que eu digo como tenho entendido:

(2) “Minha filha, Eu sou o governante dos reis e Senhor dos dominadores, e só a Mim corresponde  este direito de justiça que me deve a criatura, e que não dando-me isso, me desconhece como  Criador e dono de tudo”.

(3) E enquanto dizia isto, parecia que pegava o mundo pela mão e o agitava de cima a baixo para  fazer com que as criaturas se submetessem a seu regime e domínio. E ao mesmo tempo via  também como nosso Senhor regia e dominava minha alma com uma maestria tal, que me sentia  toda abismada nele, e dele partia o regime de minha mente, dos afetos, dos desejos, assim que

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entre Ele e eu havia tantos fios elétricos, que tudo dirigia e dominava.

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Agosto 6, 1904

A privação é pena de fogo que acende, consome, aniquila, e sua finalidade é destruir a vida humana, para dar lugar à vida divina. 

(1) Esta manhã me passei muito amarga pela privação de meu sumo e único bem, era tanto a dor  da privação, que encontrando-me fora de mim mesma, era tanta a pena da alma, que a mesma  pena lhe fornecia tal força, que o que encontrava queria destruir como se fosse um obstáculo para  encontrar seu tudo, Deus, e não encontrando-o gritava, chorava, corria mais que o vento, queria  transtornar tudo, pôr tudo de cabeça para encontrar a vida que lhe faltava. Oh! privação, quão  intensa é sua amargura, sua dor é sempre nova, e porque é sempre nova a alma sente sempre  nova a acerbidade da pena; minha alma sente como se uma só carne se separasse em tantos  pedaços, e todos aqueles pedaços pedem com justiça a própria vida, e só a encontrarão se  encontrarem a Deus mais que vida própria. Mas quem pode dizer o estado em que me encontrava?  Enquanto eu estava nisso, havia muitos santos, anjos, almas purgantes fazendo-me coroa ao redor  e impedindo-me de correr, compadecendo-me e assistindo-me, mas para mim era tudo inútil,  porque entre eles não encontrava Aquele que era o único que podia mitigar a minha dor e restituir me a vida, e mais gritava chorando: “Dizei-me, onde, onde o posso encontrar? Se querem ter  piedade de mim, não demorem em indicá-lo, porque não posso mais”. Então, depois disto saiu do  fundo de minha alma, parecia que fingia dormir sem sentir pena da dureza do meu pobre estado, e  apesar de que Ele não sentia pena e dormia, ao só vê-lo respirei a própria vida como se respira o  ar, dizendo: “Ah, está aqui comigo” No entanto não isenta de pena ao ver que nem sequer me  punha atenção. Por isso, depois de muito pesar, como se tivesse acordado me disse:

(2) “Minha filha, todas as outras tribulações podem ser penitências, expiações, satisfações, mas só  a privação é pena de fogo que acende, consome, aniquila, e não se rende se não vê destruída a  vida humana, mas enquanto consome, vivifica e constitui a Vida Divina.

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Agosto 7, 1904

Os primeiros a perseguir a Igreja serão os religiosos.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me rodeada de anjos e santos, que me  disseram:

(2) “É necessário que você sofra mais pelas coisas iminentes que estão para acontecer contra a  Igreja, porque se não acontecerem imediatamente, o tempo as fará acontecer mais moderadas e  com menor ofensa de Deus”.

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(3) E eu disse: “Porventura está em meu poder sofrer? Se o Senhor me dá, de boa vontade  sofrerei”. Entretanto fui tomada e levada ao trono de nosso Senhor, e todos pediam que me fizesse  sofrer, e Jesus bendito, vindo ao nosso encontro na forma de crucificado, participava-me das suas  dores, e não só uma vez, senão que quase toda a manhã a passei em contínuas renovações da  crucificação, e depois me disse:

(4) “Minha filha, os sofrimentos desviam minha justa ira e se renova a luz da graça nas mentes  humanas. Ah! filha, você acha que serão os leigos os primeiros a perseguir minha Igreja? Ah! não,  serão os religiosos, as mesmas cabeças, que fingindo por agora filhos, pastores, mas no fundo são  serpentes venenosas que se envenenam a si mesmos e aos demais, os que começarão a  prejudicar entre si mesmos esta boa mãe, e depois seguirão os leigos”.

(5) E depois, tendo-me chamado a obediência, o Senhor retirou-se mas todo amargurado.  + + + +

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Agosto 8, 1904

Buscar a Jesus no nosso interior, não no exterior. 

Tudo deve estar encerrado numa palavra: “Amor”. Quem ama a Jesus é outro Jesus.

(1) Continuava esperando, e assim que veio o meu adorável Jesus, se bem o sentia próximo, mas  fazia por tocá-lo e fugia, e quase me impedia sair de mim mesma para ir em sua busca. Depois de  ter esperado muito, assim que se fez ver me disse:

(2) “Minha filha, não me busques fora de ti senão dentro de ti, no fundo de tua alma, porque se saíres fora e não me encontrares sofrerás muito e não poderás resistir; se me podes encontrar com  mais facilidade, por que te queres fatigar?”

(3) E eu: “Creio que se não te encontro rápido em mim, posso te encontrar fora, é o amor que me  empurra a isto”.

(4) E Ele: “Ah! É o amor que te empurra para isto? Tudo, tudo deveria estar encerrado em uma só  palavra: “Amor”, e quem não encerra tudo nisto, pode-se dizer que do amar-me a alma não  conhece nem sequer um jota, e à medida que a alma me ame, assim lhe aumentarei o dom do  sofrer”.

(5) E eu, interrompendo a sua fala, toda surpreendida e aflita, disse: “Vida minha e todo o meu  bem, então eu pouco ou nada sofro, por conseguinte pouco ou nada te amo, que espanto, ao só  pensar que não te amo minha alma sente por isso um vivo desgosto, e quase me sinto ofendida  por Ti”.

(6) E Ele acrescentou: “Eu não tento te desagradar, teu desgosto oprimia mais meu coração que o  teu, e além disso não deves olhar só os sofrimentos corporais, senão também os espirituais, a

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vontade verdadeira que tens de sofrer, porque o querer a alma verdadeiramente sofrer, diante de  mim é como se a alma o tivesse sofrido, por isso acalma-te e não te perturbes, e deixa-me  continuar a dizer: Você nunca viu dois amigos íntimos? Oh! Como tratam de imitar-se um ao outro  e de retratar em si mesmo o amigo, portanto imitam a voz, os modos, os passos, as obras, os  vestidos, assim que o amigo pode dizer: Aquele que me ama é outro eu mesmo, e sendo eu  mesmo não posso fazer menos que amá-lo”. Assim faço Eu pela alma que se fecha a toda si  mesma como dentro de um breve giro de amor, todo Eu me sinto como retratado nela mesma, e  encontrando-me Eu mesmo, de todo coração a amo, e não posso fazer outra coisa que estar com  ela, porque se a deixo me deixaria a Mim mesmo”.

(7) Enquanto isto dizia desapareceu.

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Agosto 9, 1904

Não são as obras que constituem o mérito do homem, mas apenas a obediência,  como parto da Vontade Divina. 

(1) Tendo tardado em vir, de repente, como um golpe de luz veio e fiquei dentro e fora toda cheia  de luz, mas não sei dizer o que nesta luz compreendeu e provou minha alma, só digo que depois o  bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, não são as obras que constituem o mérito do homem, mas somente a obediência é  a que constitui todos os méritos como parto da Vontade Divina, tanto que tudo o que fiz e sofri no  curso de minha Vida, tudo foi parto da Vontade do Pai, por isso os meus méritos são inumeráveis,  porque todos foram constituídos pela obediência divina. Por isso Eu não olho tanto para a  multiplicidade e grandeza das obras, mas à conexão que têm, diretamente à obediência divina, ou  indiretamente à obediência de quem me representa”.

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Agosto 10, 1904

Deus sabe o número, o valor, o peso de todas as coisas criadas. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei-me girando nas igrejas, fazendo a  peregrinação a Jesus Sacramentado com o anjo guardião, e tendo dito dentro de uma igreja:  “Prisioneiro de amor, Tu estás abandonado e sozinho, e eu vim fazer-te companhia e, enquanto te  faço companhia, tento amar-te por quem te ofende, louvar-te por quem te despreza, agradecer por  quem derramaste graças e não te rende o tributo do agradecimento, consolar-te por quem te aflige,

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reparar-te qualquer ofensa, numa palavra, tento fazer-te tudo o que as criaturas estão obrigadas a  fazer-te por teres ficado no Santíssimo Sacramento, e tantas vezes tento repeti-las por quantas  gotas de água, quantos peixes e grãos de areia há no mar”. Enquanto dizia isto, diante da minha  mente puseram-se todas as águas do mar e dentro de mim dizia: “A minha vista não pode abranger  toda a vastidão do mar, nem conhece a profundidade e o peso daquelas imensas águas, mas o  Senhor conhece o número, o seu peso e medida”. E ficava toda maravilhada. Enquanto estava  nisto o bendito Jesus me disse:

(2) “Tola, tola que és, por que te admiras tanto? O que à criatura é difícil e impossível, ao Criador é  fácil e possível, e inclusive natural; acontece nisto como a alguém que olhando em um abrir e  fechar de olhos milhões e milhões de moedas, diz para si: “São inumeráveis, quem as pode  contar? Mas quem as pôs naquele lugar, numa palavra pode dizer tudo, são tantas, valem tanto,  pesam tanto; minha filha, eu sei quantas gotas de água pus Eu mesmo no mar, e ninguém pode  me perder nem sequer uma só, Eu numerei tudo, pesei tudo e avaliei tudo, e assim de todas as  outras coisas; então, que maravilha que saiba tudo”.

(3) Ao ouvir isto deixei de me admirar, mas bem me admirei de minha loucura.

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Agosto 12, 1904

O homem destrói a beleza com a qual Deus o criou. 

(1) Continuava esperando, quando de improviso me encontrei toda eu mesma dentro de nosso  Senhor, e da cabeça dele descia um fio luminoso à minha que me amarrava toda para ficar dentro  de Jesus. Oh! Como estava feliz de estar dentro Dele, por quanto olhava não descobria outra coisa  que a Ele sozinho, e esta é minha máxima felicidade, só, só Jesus e nada mais, oh! como se está  bem. Enquanto isso me disse:

(2) “Coragem, minha filha, não vês como o fio da minha Vontade te ata toda dentro de Mim? Então,  se qualquer outra vontade quer amarrá-lo, se não é santa não pode, porque estando dentro de  Mim, se não é santa não pode entrar em Mim”.

(3) E enquanto dizia isto, via e via, e depois acrescentou:

(4) “Criei a alma de uma beleza singular, dotei-a de uma luz superior a qualquer luz criada, não  obstante o homem destrói esta beleza na fealdade e esta luz nas trevas”.

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Agosto 14, 1904

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A alma, quanto mais golpes da cruz a abatem, tanto mais luz adquire.

(1) Encontrando-me um pouco sofredora, o bendito Jesus ao vir me disse:

(2) “Filha amada minha, quanto mais atingido o ferro, mais brilho adquire, e ainda que o ferro não  tivesse ferrugem, os golpes servem para mantê-lo brilhante e sem pó; assim que qualquer que se  aproxima facilmente se olha refletido naquele ferro como se fosse um espelho. Assim a alma,  quanto mais os golpes da cruz a abatem, tanta luz adquire e se mantém limpa qualquer mínima  coisa, de modo que qualquer que se aproxima se olha dentro como se fosse espelho, e  naturalmente sendo espelho faz seu ofício, isto é, de fazer ver se os rostos estão manchados ou  limpos, se bonitos ou feios, e não só isso, senão que Eu mesmo me deleito de ir a me olhar nela,  pois não encontro nela nem pó nem outra coisa que me impeça de fazer refletir nela minha  imagem, por isso a amo sempre mais”.

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Agosto 15, 1904

A melancolia é para a alma como o inverno às Plantas. O triunfo da Igreja não está longe.

(1) Esta manhã sentia-me muito oprimida, e sentia uma melancolia que me enchia toda a alma.  Parece que o bendito Jesus não me fez esperar tanto, e ao me ver tão oprimida me disse:  (2) “Minha filha, o que tem com esta melancolia? Não sabes tu que a melancolia é para a alma  como o inverno para as plantas, que as despoja de folhas e as impede de produzir flores e frutos,  tanto que se não viesse a alegria da primavera e do calor, as pobres plantas ficariam desativadas  e terminariam por secar-se? Assim é a melancolia à alma, a despoja da frescura divina que é como  chuva que lhe faz reverdecer todas as virtudes; a inabilita para fazer o bem, e se o fizer, fá-lo-á  cansativamente e quase por necessidade, mas não por virtude; impede-a de crescer na graça, e se  não se agita com uma santa alegria, que é uma chuva primaveril que dá em brevíssimo tempo o  desenvolvimento às plantas, terminará por secar-se no bem”.

(3) Agora, enquanto dizia isto, dentro de um relâmpago vi toda a Igreja, as guerras que devem  sofrer os religiosos e que devem receber dos demais; guerras entre a sociedade, parecia uma briga  geral; parecia também que o Santo Padre devia servir-se de pouquíssimas pessoas religiosas,  tanto para reduzir a boa ordem o estado da Igreja, os sacerdotes e outros, como pela sociedade  neste estado de perplexidade. Agora, enquanto via isto, o bendito Jesus disse-me:

(4) “Acreditas tu que o triunfo da Igreja está distante?”

(5) E eu: “Certo, quem deve pôr a ordem a tantas coisas transtornadas?

(6) E Ele: “Ao contrário, digo-te que está próximo, é um choque que deve acontecer, mas forte, e  por isso permitirei tudo junto entre os religiosos e os leigos para abreviar o tempo. E neste choque

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que trará um transtorno forte, acontecerá o choque bom e ordenado, mas em tal estado de  mortificação, que os homens se verão perdidos, e aí lhes darei tanta graça e luz, para conhecer o  mal e abraçar a verdade, fazendo-te sofrer também por este propósito. Se com tudo isto não me  escutam, então te levarei ao Céu, e as coisas acontecerão ainda mais graves e esperarão mais  para que chegue o desejado triunfo”.

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6-66

Agosto 23, 1904

Castigos, também na Itália.  

(1) Esta manhã passei-a amargamente, privada quase totalmente do meu bendito Jesus, só que  me encontrava fora de mim mesma no meio de guerras e pessoas mortas, países sitiados, e  parecia que acontecia também na Itália. Que espanto sentia, queria subtrair-me de cenas tão  dolorosas, mas não podia, uma potência suprema me tinha ali pregada; se era anjo ou santo não  sei dizer com segurança, disse-me:

(2) “Pobre Itália, como será destruída por guerras”.

(3) Ao ouvir isto fiquei ainda mais espantada, e encontrei-me em mim mesma, e não tendo visto  Aquele que é a minha vida, e com todas aquelas cenas na mente, sentia-me a morrer. Então vi  apenas um braço e me disse:

(4) “Certamente haverá alguma coisa na Itália”.

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Setembro 2, 1904

Só Deus tem poder para entrar nos corações e dominá-los como lhe aprouver.  Novo modo como os sacerdotes devem se comportar.  

(1) Encontrando-me em meu habitual estado me sentia toda oprimida, com o agregado temor de  que meu pobre estado fosse toda obra diabólica, e me sentia consumir alma e corpo. Depois,  assim que veio, disse-me:

(2) “Minha filha, por que te perturbas tanto? Não sabes tu que se se unirem todas as potências  diabólicas, não podem entrar dentro de um coração e tomar domínio dele, a menos que a própria  alma, por sua própria vontade lhes dê a entrada? Só Deus tem este poder de entrar nos corações e  dominá-los como lhe aprouver”.

(3) E eu: “Senhor, por que me sinto consumir alma e corpo quando me privas de Ti? Não é  porventura este o sopro diabólico que penetrou na minha alma e que assim me  menta?”

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(4) E Ele: “Antes te digo que é o sopro do Espírito Santo, que soprando sobre ti continuamente te  tem sempre acesa, e te consome por amor seu”.

(5) Depois disto encontrei-me fora de mim mesma e via o Santo Padre assistido por nosso Senhor,  que estava escrevendo um novo modo como devem comportar-se os sacerdotes, o que devem  fazer e o que não devem fazer, para onde não devem ir, e impunha castigos a quem não se  submetia à sua obediência.

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6-68

Setembro 7, 1904

A atenção para não cometer pecado, suplique a dor do pecado.  

(1) Estava pensativa por ter lido num livro, que o motivo de tantas vocações frustradas é a contínua  falta da dor do pecado, e como eu não penso nisto e só penso em Jesus bendito e no modo como  fazê-lo vir, e de nenhuma outra coisa me ocupo, pensei entre mim que estava em mau estado.  Depois, encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, a atenção em não cometer pecado supre a dor, e ainda que alguém sentisse dor, e com tudo e isso cometesse pecado, sua dor seria vã e infrutífera, enquanto a atenção contínua  para não cometer pecados não só tem o lugar da dor, senão que força a graça a ajudá-la  continuamente em modo especial a não cair em pecado, e mantém a alma sempre limpa. Por isso

continua a estar atenta a não me ofender nem minimamente, e isto suplantará o resto”.  + + + +

6-69

Setembro 8, 1904

O desalento mata mais almas que todos os outros vícios. 

A coragem faz reviver, e é o ato mais louvável que a alma pode fazer. 

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu adorável Jesus não vinha. Então, tendo esperado  muito me sentia toda desalentada e temia muito que esta manhã não viesse. Depois, assim que  veio, disse-me:

(2) “Minha filha, não sabes tu que o desânimo mata mais almas que o resto dos vícios? Por isso,  coragem, coragem, porque assim como o desencorajamento mata, assim o valor, a coragem fazem  reviver, e é o ato mais louvável que a alma pode fazer, porque enquanto se sente desencorajada,  do mesmo desencorajamento toma valor, anula-se a si mesma e espera; e desfazendo-se a si  mesma, já se encontra recusada em Deus”.

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6-70

Setembro 9, 1904

Assim que a alma sai do fundo da paz, assim sai do ambiente divino. 

A paz faz descobrir se a alma busca a Deus por Deus, ou por si mesma. 

(1) Continuando o meu estado habitual, sentia-me perturbada pela ausência do meu adorável  Jesus. Por isso, depois de ter esperado muito, veio e me disse:

(2) “Minha filha, assim que a alma sai do fundo da paz, sai do ambiente divino e se encontra no  ambiente, ou diabólico ou humano. Só a paz é a que faz descobrir se a alma busca a Deus por  Deus ou por si mesma, e se obra por Deus, ou bem por si mesmo ou pelas criaturas, porque se é  por Deus, a alma não é jamais perturbada, pode-se dizer que a paz de Deus e a paz da alma se  entrelaçam juntas, e ao redor da alma se alargam os limites da paz, de modo que tudo se  transforma em paz, mesmo as mesmas guerras. E, se a alma está perturbada, ainda que fosse nas  coisas mais santas, no fundo vê-se que não está Deus, senão o próprio eu ou qualquer fim  humano. Por isso, quando não se sente em calma, sinta-se um pouco para ver o que há no fundo,  destrua-o e encontrará paz”.

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6-71

Setembro 13, 1904

A verdadeira doação é ter sacrificado continuamente a própria vontade, e isto é um martírio de atenção contínua que a alma faz a Deus. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, depois de ter esperado muito, Jesus fez-se ver que  estava apertado a mim, tendo o meu coração entre as suas mãos, e olhando-me fixamente disse me:

(2) “Minha filha, quando uma alma me deu sua vontade, não é dona de fazer mais o que lhe  agrada, de outra maneira não seria verdadeira doação. Enquanto que a verdadeira doação é ter  sacrificado continuamente a própria vontade Àquele que lhe foi doada, e isto é um martírio de  atenção contínua que a alma faz a Deus. O que você diria de um mártir que hoje se oferece a  sofrer qualquer tipo de penas, e amanhã se retira? Dirias que não tinha verdadeira disposição ao  martírio, e que um dia ou outro acabará por renegar a fé. O mesmo digo Eu à alma que não me  deixa fazer de sua vontade o que me agrada, agora me a dá e logo me a tira, e lhe digo: dedique  filha, não está disposta a sacrificar-te e martirizar-te por Mim, porque o verdadeiro martírio consiste  na continuação, poderá dizer-te resignada, uniformada, mas não mártir, e um dia ou outro poderás  acabá-la retirando-se de Mim, fazendo de tudo, um jogo de criança. Por isso está atenta e dá-me a  plena liberdade de fazer contigo segundo o modo que mais me agrade”.

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6-72

Setembro 26, 1904

Todas as penas que Jesus sofreu em sua Paixão foram triplas. Isto não foi casual, mas tudo  foi para restituir completa glória devida ao Pai, a reparação que lhe 

deviam as criaturas, e o bem que mereciam as mesmas criaturas.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, ouvia uma voz que me dizia: “Há uma luz que  qualquer um que se aproxime dela pode acender quantas lâmpadas quiser, e estas lâmpadas  servem para fazer coroa de honra à luz, e dar luz a quem as acende”. Eu dizia para mim: “Que bela  luz é esta, que tem tanta luz e tanta potência, que enquanto dá aos outros quanta luz querem, ela  sempre fica o que é, sem empobrecer em luz; mas quem será aquele que a tem?” Enquanto  pensava nisto, ouvi-os dizer:

(2) “A luz é a Graça e a tem Deus, e a aproximação significa a boa vontade da alma de fazer o  bem, porque quantos bens se querem tomar da Graça, se tomam, e as lâmpadas que se formam  são as diversas virtudes, que enquanto dão glória a Deus dão luz à alma”.

(3) Depois disto, assim que vi o bendito Jesus, disse-me: Minha filha, e isto porque pensava que  Nosso Senhor não só uma vez, mas por três vezes se fez coroar de espinhos, e como aqueles  espinhos ficavam partidos dentro da cabeça, ao cravá-la de novo, “Doce amor meu, e por que por  três vezes quis sofrer tão doloroso martírio? Não bastava uma vez para pagar tantos maus  pensamentos nossos?” Então ele me disse:

(4) “Minha filha, não só a coroação de espinhos foi tripla, mas quase todas as dores que sofri na  minha Paixão foram triplas. Triplas foram as três horas da agonia do horto; tripla foi a flagelação,  açoitando-me com três flagelos diferentes; três vezes me despiram; três vezes fui condenado à  morte: de noite, de madrugada, e em pleno dia; três foram as quedas debaixo da cruz; três os  pregos; três vezes meu coração derramou sangue, isto é, no horto por si mesmo; de seu próprio  centro no ato da crucificação quando fui estirado sobre a cruz, tanto, que todo meu corpo ficou  deslocado e meu coração se destroçou dentro, e derramou sangue; e depois de minha morte  quando com uma lança me foi aberto o lado; três horas de agonia na cruz. Se tudo se quisesse  examinar, oh! quantas coisas triplas se encontrariam. Isto não foi por acaso, mas tudo foi pela  ordem divina, e para completar a glória devida ao Pai, a reparação que lhe era devida por parte das  criaturas, e merecer o bem para as mesmas criaturas, porque o maior dom que a criatura recebeu  de Deus foi cria-la a sua imagem e semelhança, e dotá-la com três potências, inteligência, memória  e vontade, e não há culpa que cometa a criatura em que estas três potências não concorram, e por  isso mancha, danifica a bela imagem divina que contém em si mesma, servindo-se do dom para  ofender o doador; e Eu para refazer de novo esta imagem divina na criatura, e para dar toda aquela  glória que a criatura devia a Deus, tenho concorrido com toda minha inteligência, memória e

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vontade, e de modo especial nestas coisas triplas sofridas por Mim, para tornar completa tanto a  glória que se devia ao Pai, como o bem que era necessário às criaturas”.

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Setembro 27, 1904

O que agrada mais a Jesus é o sacrifício voluntário. 

Os dotes naturais são luz que serve ao homem para o encaminhar no caminho do bem. 

(1) Continuando o meu estado habitual, vi o meu abençoado Jesus quase em ato de castigar as  nações, e tendo-lhe pedido que se acalmasse disse-me:

(2) “Minha filha, a ingratidão humana é horrenda; não só os sacramentos, a graça, as luzes, as  ajudas que dou ao homem, mas também os mesmos dotes naturais que lhe dei, todas são luzes  que servem para encaminhá-lo no caminho do bem, e portanto para encontrar a própria felicidade,  e o homem convertendo tudo isto em trevas, busca ali a própria ruína, e enquanto ali busca a ruína  diz que busca o meu próprio bem; esta é a condição do homem, pode dar-se cegueira e ingratidão  maior que esta? Filha, meu único consolo e gosto que a criatura me pode dar nestes tempos, é  sacrificar-se voluntariamente por Mim, porque tendo sido meu sacrifício todo voluntário por eles,  onde encontro a vontade de sacrificar-se por Mim, Sinto-me recompensado pelo que fiz por eles.  Por isso, se queres aliviar-me e dar-me gosto, sacrifica-te voluntariamente por Mi”.

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Setembro 28, 1904

Reprimir-se a si mesmo vale mais que adquirir um reino.

(1) Esta manhã, não havendo vindo o dulcíssimo Jesus, passei muito mal, e não fazia outra coisa  que me reprimir e forçar a mim mesma, e dizia entre mim: “Que mais vou fazer? Para que me serve  este reprimir continuamente a mim mesma?” E enquanto isso pensava, como um relâmpago veio e  me disse:

(2) “Vale mais reprimir-se a si mesmo que adquirir um reino”.

(3) E desapareceu.

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Outubro 17, 1904

Para encontrar a Divindade, deve-se agir unido com

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a Humanidade de Cristo, com a sua própria Vontade.

(1) Continuando o meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus disse-me: (2) “Minha filha, é necessário agir através do véu da Humanidade de Cristo para encontrar a  Divindade, isto é, agir unido com a sua Humanidade, com a mesma Vontade de Cristo, como se a  dele e a da criatura fossem uma só, para agradá-lo só a Ele, obrando com seus mesmos modos,  dirigindo tudo a Cristo, chamando-o junto a ela em tudo o que faz, como se Ele mesmo devesse  fazer suas mesmas ações; fazendo assim, a alma se encontra em contínuo contato com Deus,  porque a humanidade a Cristo não era outra coisa senão uma espécie de véu que cobria a  Divindade; então, operando no meio destes véus, já se encontra com Deus. E aquele que não quer  agir por meio de sua Humanidade Santíssima, e quer encontrar a Cristo, é como aquele que quer  encontrar o fruto sem encontrar a casca. E impossível.

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Outubro 20, 1904

Vê sacerdotes que se mordem entre eles.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, no meio de uma rua onde estavam muitos  cachorrinhos que se mordiam uns aos outros, e no princípio desta rua um religioso que os via  morder-se, os ouvia e se impressionava, porque via naturalmente, e os cachorrinhos diziam-lhe  sem aprofundar e analisar bem as coisas e sem uma luz sobrenatural, que lhes fizesse conhecer a  verdade. Enquanto via isto, ouvi uma voz que dizia:

(2) “Todos estes são sacerdotes que se mordem entre eles”.

(3) E aquele religioso que vendo os sacerdotes morderem-se entre eles, parecia que era o visitador, e os deixava sem a assistência Divina.

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Outubro 25, 1904

Verbo significa manifestação, comunicação, união divina ao humano. 

Se o Verbo não tivesse tomado carne, não haveria meio de unir Deus e o homem. 

(1) Continuando meu estado habitual, depois de ter esperado muito veio, e assim que o vi, disse lhe: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós”. E o bendito Jesus acrescentou:  (2) “O Verbo tomou carne, mas não ficou carne, ficou o que era, e assim como Verbo significa

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palavra e não há nada que mais influa que a palavra, assim o Verbo significa manifestação,  comunicação, união divina ao humano. Assim, se o Verbo não tivesse tomado carne, não haveria  meio de unir Deus e o homem”.

(3) Disse isto desapareceu.

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Outubro 27, 1904

Luisa fica sem sofrer para fazer um pouco de vazio à Justiça, 

e assim pode castigar as pessoas. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual passei-me muito agitada, não só pela quase total  privação do meu único e sumo bem, mas também porque encontrando-me fora de mim mesma via  que os homens deviam matar-se como tantos cães, via como a Itália seria comprometida em  guerra com outras nações; via tantos soldados que partiam em turbas e turbas, e que tendo sido  mortos estes, chamavam outros. Quem pode dizer como me sentia oprimida, muito mais que me  sentia quase sem sofrimentos. Então estava me lamentando dizendo entre mim: “Que proveito tem  o viver? Jesus não vem, o sofrer me falta, meus mais amados e inseparáveis companheiros, Jesus  e a dor me deixaram, no entanto eu vivo; eu acreditava que sem o um e o outro não teria podido  viver, tão inseparáveis eram de mim, no entanto vivo ainda. ” Oh Deus! Que mudança, que ponto  tão doloroso, que rasgo indescritível, que crueldade inaudita, a outras almas as deixou privadas de  Ti, mas jamais sem a dor, a ninguém fizeste esta afronta tão ignominiosa, só a mim, só para mim  estava preparado este desprezo tão terrível, só eu merecia este castigo insuportável. Mas justo  castigo por meus pecados, e mais, merecia algo pior”. Enquanto eu estava nisto, como um  relâmpago veio me dizendo com imponência:

(2) O que você tem para falar assim? Te basta minha Vontade para tudo; seria castigo se te  pusesse fora do ambiente divino e te fizesse faltar o alimento de minha Vontade, o qual quero que  sobretudo o tenha em conta e estima. Além disso é necessário que por algum tempo te falte o  sofrer para fazer um pouco de vazio à justiça, e assim poder castigar as pessoas”.

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Outubro 29, 1904

A cadeia de graças está ligada às obras perseverantes. 

Todos os males estão fechados na não perseverança.

(1) Depois de ter esperado muito, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, quando a alma se dispõe a fazer um bem, ainda que fosse dizer uma “Ave Maria”,  a graça concorre a fazer junto com ela dito bem; mas se a alma não é perseverante em fazer este

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bem, vê-se com clareza que não estima e não valoriza este dom recebido, e faz troça da mesma  graça. Quantos males estão fechados neste modo de agir: hoje sim e amanhã não; agrada-me e  faço-o; para fazer este bem requer-se um sacrifício, não quero fazê-lo’. Acontece como aquele que,  tendo recebido um dom de um senhor, hoje o recebe, amanhã o rejeita; aquele senhor por sua  bondade o manda de novo, e aquele depois de havê-lo tido por algum tempo, cansado de ter  consigo esse dom, novamente o rejeita. Agora, o que dirá aquele senhor? Se vê que não estima  meu dom, se empobrece ou morre, não quero ter mais que ver com ele. Tudo, tudo está unido ao  modo de agir com perseverança, a cadeia de minhas graças está entrelaçada às obras  perseverantes; assim, se a alma se dá suas escapadas rompe esta cadeia, e quem lhe assegura  que a unirá de novo? Meus desígnios se cumprem somente em quem une suas obras à  perseverança. A perfeição, a santidade, tudo, tudo vai unido com ela, assim que se a alma é  intermitente, sendo uma espécie de febre intermitente, o não agir com perseverança manda ao  vazio os desígnios divinos, perde sua perfeição, e frustra sua santidade”.

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Novembro 13, 1904

A criatura jamais teria sido digna do amor divino sem o livre arbítrio. 

(1) Continuando em meu habitual estado, minhas amarguras vão sempre aumentando pelas  privações e silêncio do meu Santíssimo e único Bem. Tudo é, em suas visitas, sombra e  relâmpago, e foge. Sinto-me oprimida e tola, não compreendo mais nada, porque Aquele que  contém a luz está distante de mim, e como relâmpago que enquanto estoura clareia, mas depois se  faz mais escuro que antes. Minha única herança que me resta é o Querer Divino. Então, depois de  ter esperado muito e sentir que não podia seguir adiante, por breves instantes veio e me disse:

(2) “Minha filha, minha Humanidade, sendo Homem e Deus, via presentes todos os pecados, os  castigos, as almas perdidas; teria querido agarrar em um só ponto tudo isto e destruir pecados,  castigos e salvar as almas, assim que teria querido sofrer não um dia de Paixão, mas todos os dias  para poder conter tudo em Si estas penas, e poupá-las às pobres criaturas. Com tudo isso que ele  teria desejado, e poderia, ter destruído o livre arbítrio das criaturas e destruído esse acúmulo de  males, mas o que seria do homem sem méritos próprios? Sem a sua vontade para fazer o bem?  Que papel faria ele? Seria objeto digno de mim Sabedoria Criadora? Não, certamente. Não teria  sido como um filho em uma família estranha, que não tendo trabalhado junto com os próprios filhos  não tem nenhum direito e alguma herança? E por isso, se come, se bebe, está sempre cheio de  rubor, porque sabe que não fez nenhum gesto propício para testemunhar o seu amor para com  aquele pai; e por isso jamais pode ser digno do amor daquele pai para com ele, Assim, a criatura

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jamais teria sido digna do Amor Divino sem o livre arbítrio. Por outro lado, minha Humanidade não  devia infringir minha Sabedoria criadora, devia adorá-la como a adorou e se resignou a receber os  vazios da justiça na Humanidade, mas não na Divindade, porque estes vazios da justiça divina são  preenchidos com castigos nesta vida, no inferno e no purgatório. Então, se a minha humanidade se  resignou a tudo isto, talvez tu quisesses superar-me e não receber nenhum vazio de sofrer sobre ti,  para não me fazer castigar as pessoas? Filha, unifique-se Comigo e esteja em paz”.

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6-81

Novembro 17, 1904

Nós podemos ser alimento para Jesus. 

(1) Tendo recebido a comunhão, estava pensando na bondade de Nosso Senhor ao dar-se em  alimento a uma tão pobre criatura, a qual sou eu, e em como poderia corresponder a um favor tão  grande. Enquanto pensava assim, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, assim como Eu me faço alimento da criatura, assim a criatura pode fazer-se meu alimento, convertendo todo seu interior para meu alimento, de modo que pensamentos, afetos,  desejos, inclinações, batimentos, suspiros, amor, tudo, tudo deveriam dirigir para Mim, e Eu vendo  o verdadeiro fruto de meu alimento, que é divinizar a alma e converter tudo em Mim, viria a  alimentar a alma, isto é, de seus pensamentos, de seu amor e de todo o resto seu. Assim a alma  me poderia dizer: Assim como Tu te tens feito comer e dar-me tudo, também eu me tenho feito teu  alimento, não fica outra coisa que te dar, porque tudo o que sou, tudo é teu”.

(3) Enquanto estava nisto, compreendia a ingratidão enorme das criaturas, porque enquanto Jesus  se dignava chegar a tal excesso de amor de se fazer nosso alimento, nós lhe negamos seu  alimento, e o fazemos ficar em jejum”.

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6-82

Novembro 18, 1904

O Céu de Jesus sobre a terra são as almas que dão lugar à sua Divindade. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o meu adorável Jesus disse-me:  (2) “Minha filha, meu céu quando vim à terra foi a minha humanidade; e assim como no céu se vê a  multidão das estrelas, o sol, a lua, os planetas, a amplitude, tudo posto em bela ordem, e este é  imagem do céu que existe por cima, onde tudo está ordenado; assim minha Humanidade, sendo  meu céu, devia transluzir fora a ordem da Divindade que habitava dentro, isto é: as virtudes, a  potência, a graça, a sabedoria e o resto. Agora, quando o céu da minha humanidade, depois da  Ressurreição ascendeu ao Céu empírico, o meu céu sobre a terra devia continuar a existir, e estas

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são as almas que dão a habitação à minha Divindade, e Eu habitando nelas formo meu céu e  também faço transparecer fora a ordem das virtudes que estão dentro. Oh, que honra é para a  criatura emprestar o céu ao Criador! Mas quantos me negam isso! E você, não gostaria de ser meu  céu? Diga-me o que quer”.

(3) E eu: “Senhor, não quero outra coisa senão ser reconhecida no teu sangue, nas tuas chagas,  na tua humanidade, nas tuas virtudes, só nisto gostaria de ser reconhecida, para ser o teu céu e  ser desconhecida por todos”. Parecia que aprovava minha proposta e desapareceu.

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Novembro 24, 1904

Para dar e receber se requer a união de querer. 

(1) Estando toda afligida e oprimida, e vendo o bom Jesus jorrar sangue, eu disse: “Bendito seja o  Senhor, e não me queres dar pelo menos uma gota de sangue para curar todos os meus males? E  Ele me disse:

(2) “Minha filha, para dar se requer a vontade de quem deve dar, e a vontade de quem deve  receber, de outra maneira se uma pessoa quer dar e a outra não quer receber, mesmo que a  primeira queira dar, não pode dar, e vice-versa, se a primeira não quer dar, a outra não pode  receber, requer-se a união dos querer. Ai! Quantas vezes minha graça é sufocada, meu sangue  rejeitado e pisoteado”.

(3) E, enquanto dizia isto, via que no sangue do doce Jesus se moviam todas as nações, e muitos  saíam dele, não querendo estar dentro daquele sangue onde estavam contidos todos os nossos  bens, e qualquer remédio para os nossos males.

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Novembro 29, 1904

A Divindade de Jesus em sua Humanidade desceu no abismo mais profundo de todas as humilhações humanas, e divinizou e santificou todos os atos humanos. 

(1) Esta manhã, estava oferecendo todas as ações da humanidade de Nosso Senhor para reparar  todas as nossas ações humanas feitas, ou indiferentes sem um fim sobrenatural, ou pecaminosas,  para impedir que todas as criaturas façam suas ações com a intenção e união das ações de Jesus  bendito, e para preencher o vazio da glória que a criatura deveria dar a Deus se fizesse isso.  Enquanto fazia isso, meu adorável Jesus me disse:

(2) “Minha filha, minha Divindade em minha Humanidade desceu no abismo mais profundo de  todas as humilhações humanas, tanto que não houve nenhum ato humano, por quão baixo e

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pequeno, que Eu não divinizara e santificara. E isto para restituir ao homem dobrada soberania, a  perdida na Criação, e a que lhe adquiri na Redenção. Mas o homem sempre ingrato e inimigo de si  mesmo, ama o ser escravo em vez de soberano, enquanto podia com um meio tão fácil, isto é com  a intenção de unir suas ações às minhas, tornar suas ações merecedoras do mérito divino, delas  faz um desperdício e perde a divisa de rei e a soberania de si mesmo”.

(3) Dito isto desapareceu e encontrei-me em mim mesma.

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Dezembro 3, 1904

Duas perguntas para saber se é Deus ou o demónio que trabalha em Luísa. 

(1) Continuando meu habitual estado, me encontrei fora de mim mesma, atirada na terra, de cara  ao sol, seus raios me penetravam dentro e fora fazendo-me ficar como extasiada. Depois de muito  tempo, tendo-me cansado daquela posição, me arrastava por terra porque não tinha força para  levantar-me e caminhar; depois de muito esperar veio uma virgem, que me tomando pela mão me  conduziu dentro de uma habitação, sobre uma cama, onde estava o menino Jesus que  pacificamente dormia. Eu, contente por tê-lo encontrado me aproximei dele, mas sem acordá-lo.  Depois de algum tempo, tendo despertado, pôs-se a passear sobre o leito, e temendo que  desaparecesse disse: “Querido do meu coração, Tu sabes que és a minha vida, ah! Não me deixe”.  (2) E Ele: “Estabeleçamos quantas vezes devo vir”.

(3) E eu: “Único bem meu, que dizes? A vida é sempre necessária, por isso sempre, sempre”.  Enquanto estava nisto vieram dois sacerdotes, e o menino se pôs nos braços de um deles me  ordenando que eu falasse com o outro, este queria contas de meus escritos, e um por um os  estava revisando, então eu, temendo, lhe disse: “Quem sabe quantos erros eles têm”.

(4) E ele com uma seriedade afável disse: “O que, erros contra a lei cristã?” (5) E eu: “Não, erros de gramática”.

(6) E ele: “Isso não importa”.

(7) E eu tendo confiança adicionei: “Temo que tudo seja ilusão”.

(8) E ele, olhando-me nos olhos, disse: “Achas que preciso de rever os teus escritos para saber se  és iludida ou não? Eu com duas perguntas que te faça conhecer se é Deus ou o demônio quem  obra em ti. Primeiro, você crê que todas as graças que Deus te fez você as mereceu, ou bem,  foram dom e graça de Deus?”

(9) E eu: “Tudo pela graça de Deus”.

(10) “Segundo, acreditas tu que em todas as graças que o Senhor te fez, a tua boa vontade

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precedeu a graça, ou a graça precedeu você?”

(11) E eu: “Certamente, a graça sempre me precedeu”.

(12) E ele: “Estas respostas me fazem saber que não é ilusão”.

(13) Naquele momento eu me encontrei em mim mesma.

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Dezembro 4, 1904

É mais fácil combater com Deus do que com a obediência. 

(1) Estando muito agitada, e com o temor de que o bendito Jesus não me queria mais neste  estado, sentia uma força interior para sair, e tanta era a força que sentia, que não podendo contê-la  ia repetindo: “Sinto-me cansada, não posso mais”. E dentro de mim ouvia-me dizer: “Também Eu  me sinto cansado, não posso mais, algum dia é necessário que fique suspensa de todo do estado  de vítima, para fazê-los tomar a decisão das guerras, e quando as guerras começarem, ele vai  pensar no que vai acontecer a ti”. Eu não sabia o que fazer, a obediência não queria, e combater  com a obediência é o mesmo que superar um monte que enche a terra e toca o céu e não há  caminho para poder caminhar, portanto é inacessível. Eu acredito, não sei se é uma loucura, que é  mais fácil combater com Deus que com esta terrível virtude. Então, agitada como estava encontrei me fora de mim mesma ante um crucifixo e dizia: “Senhor, não posso mais, minha natureza  desfalece, falta-me a força necessária para continuar o estado de vítima, se queres que continue  dá-me a força, de outra maneira eu me retiro”. Enquanto dizia isto, aquele crucifixo fazia brotar uma  fonte de sangue para o Céu, que voltando a cair à terra se convertia em fogo. E algumas virgens  diziam: Pela França, Itália, Áustria e Inglaterra, e nomeavam outras nações que eu não entendi  bem. Há gravíssimas guerras preparadas, civis e de governos. Eu ao ouvir isto me assustei muito,  e me encontrei em mim mesma, e não sabia eu mesma decidir a quem devia seguir, ou à força  interna que me impulsionava a levantar, ou à força da obediência que me impulsionava a ficar,  porque ambas são fortes e poderosas sobre o meu fraco e pobre coração. Até agora parece que  prevalece a obediência, se bem trabalhosamente, e não sei onde irei terminar.

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Dezembro 6, 1904

O princípio da bem-aventurança eterna é perder todo o gosto próprio. 

(1) Continuava esperando, e assim que veio o bendito Jesus eu me via nua, despojada de tudo;  talvez alma mais miserável não se pode encontrar, tão extrema é minha miséria. Que mudança tão

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funesta! Se o Senhor não fizer um novo milagre de sua onipotência para me fazer ressurgir deste  estado, certamente morrerei de miséria. Então o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, coragem, o princípio da bem-aventurança eterna é perder todo gosto próprio,  porque segundo a alma vai perdendo os próprios gostos, assim os gostos divinos tomam possessão nela, e a alma, tendo-se desfeito e perdido a si mesma, não se reconhece mais a si  mesma, não encontra mais nada seu, nem sequer as coisas espirituais; e Deus vendo que a alma  não tem mais nada do seu, a enche toda de Si mesmo e a enche de todas as felicidades divinas, e  então a alma pode dizer-se verdadeiramente bem-aventurada, porque enquanto tinha alguma coisa  própria não podia estar isenta de amarguras e temores, nem Deus podia comunicar-lhe a própria  felicidade. Cada alma que entra no porto da bem-aventurança eterna, não pode estar isenta deste  ponto, doloroso, sim, mas necessário, nem pode fazer menos. Geralmente o fazem no ponto da  morte, e o purgatório lhes dá a última mão, por isso se se pergunta às criaturas o que é gosto de  Deus, o que significa bem-aventurança divina, são coisas até então desconhecidas, e não sabem  articular palavra. Mas às minhas almas queridas, não quero, tendo-me dado a todas, que a sua  bem-aventurança tenha princípio lá no Céu, mas que tenha princípio aqui na terra, e não só quero  enchê-las da felicidade, da glória do Céu, mas quero enchê-las dos bens, dos sofrimentos, das  virtudes que teve minha Humanidade na terra, por isso as despojo não só dos gostos materiais,  que a alma chega a considerar como esterco, mas também dos gostos espirituais, para enchê-las  todas de meus bens e dar-lhes o principio da verdadeira bem aventurança.

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6-88

Dezembro 22, 1904

Quanto mais a alma está vazia e é humilde, tanto mais a luz divina  

a enche e lhe comunica as suas graças e perfeições.  

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, via o menino Jesus com um punho de luz na mão, e  dos dedos lhe corriam os raios fora. Eu fiquei admirada e Ele me disse:

(2) “Minha filha, a perfeição é luz, e quem diz querer alcançá-la não faz outra coisa que como quem  quer tomar em um punho um corpo de luz, que enquanto faz por tomá-lo, a mesma luz lhe escapa  por entre os dedos, só que a mão fica submersa na mesma luz. Agora, a luz é Deus, e só Deus é  perfeito, e a alma que quer ser perfeita não faz outra coisa que agarrar as sombras, as gotinhas de  Deus, e às vezes não faz outra coisa que viver só na luz, isto é, na Verdade. E assim como a luz,  quanto mais vazio encontra e quanto mais profundo é o lugar, tanto mais dentro se introduz, e  assim mais espaço toma, assim a luz divina, quanto mais vazia e humilde é a alma, tanto mais a

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luz a enche e lhe comunica suas graças e perfeições”.

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6-89

Dezembro 29, 1904

A fraqueza humana é falta de vigilância e de atenção. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava pensando nos acontecimentos mais  humilhantes que sofreu Nosso Senhor, e em mim mesma sentia horror, mas depois dizia entre  mim: “Senhor, perdoa aqueles que te renovam estes momentos dolorosos, porque é a muita  debilidade que o homem contém”. Enquanto estava nisto, o bendito Jesus, assim que veio, disse

me:

(2) “Minha filha, o que se diz fraqueza humana, na maioria das vezes é falta de vigilância e de  atenção de quem é cabeça, isto é: pais e superiores, porque a criatura quando é vigiada e  observada, e não se dá a liberdade que quer, a debilidade não tendo seu alimento (o encobrir a  debilidade é alimento para piorar na debilidade), por si mesma se destrói”.

(3) Depois continuou: “Ah! Minha filha, assim como a virtude permeia a alma de luz, de beleza, de  graça, de amor, como uma esponja seca se impregna de água, assim o pecado, as fraquezas  encobertas impregnam a alma, como uma esponja se impregna de lama, de trevas e fealdade, e  até de ódio contra Deus”.

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6-90

Janeiro 21, 1905

Quem desonra a obediência, desonra a Deus.

(1) Tendo exposto certas dúvidas ao confessor, minha mente não se aquietava com o que me  dizia, então tendo vindo o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, que raciocina sobre a obediência, só raciocinar vem a desonrá-la, e quem desonra  a obediência desonra a Deus”.

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6-91

Janeiro 28, 1905

A cruz é semente de virtudes.

(1) Estando sofrendo mais do que o habitual, assim que veio meu adorável Jesus me disse:  (2) “Minha filha, a cruz é semente de virtude, e assim como quem semeia colheita por dez, vinte,  trinta, e inclusive por cem, assim a cruz, sendo semente multiplica as virtudes, as aperfeiçoa, as

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embeleza de maravilha; assim, quanto mais cruzes se acumulam em torno de ti, tantas sementes  de virtudes se lançam em sua alma. Por isso, em vez de afligir-se quando uma nova cruz chegar,  deveria alegrar-se pensando em fazer aquisição de outra semente para poder enriquecer e  também completar sua coroa”.

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6-92

Fevereiro 8, 1905

Características dos filhos de Deus: Amor à cruz, 

amor à glória de Deus e amor à glória da Igreja. 

(1) Continuando meu pobre estado de privações e de amargura indizível, no máximo se faz ver em  silêncio, e esta manhã me disse:

(2) “Minha filha, as características dos meus filhos são: amor à cruz, amor à glória de Deus, e amor  à glória da Igreja, até expor a própria vida. Quem não tem estas três características, em vão se diz  meu filho; quem se atreve a dizê-lo é um mentiroso e traidor, que trai a Deus e a si mesmo. Olhe  um pouco em você se as tem”. e desapareceu.

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6-93

Fevereiro 10, 1905

Quais são os contentamentos da alma. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia um descontentamento de mim mesma, e tendo  vindo o bendito Jesus me senti entrar em tal contentamento, que disse: “Ah! Senhor, só Tu és o  verdadeiro contentamento”.

(2) “E Ele continuou: “E eu te digo que o primeiro contentamento da alma é só Deus; o segundo  contentamento é quando a alma dentro de si, e fora de si, não olha outra coisa que a Deus; o  terceiro é quando a alma se encontra neste ambiente divino, nenhum objeto criado, nem criaturas,  nem riquezas, quebram a Imagem divina em sua mente, porque a mente se alimenta do que  pensa, e olhando só a Deus, das coisas daqui abaixo vê só aquelas que quer Deus, não se  preocupa com todo o resto, e assim permanece sempre em Deus; o quarto contentamento é o  sofrer por Deus, porque a alma e Deus, ora para manter a conversação, ora para estreitar-se mais  intimamente, ora por declarar-se um à outra o muito que se querem, Deus a chama e a alma  responde, Deus se aproxima e a alma o abraça, Deus lhe dá o sofrer e a alma sofre  voluntariamente, é mais, deseja sofrer mais por amor dele, para poder lhe dizer: “Vês como te  amo?” E este é o maior de todos os contentamentos”.

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6-94

Fevereiro 24, 1905

Fala sobre a humildade. 

(1) Esta manhã, assim que veio o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, a humildade é uma flor sem espinhos, se pode tomar na mão, se pode estreitar, se  pode pôr onde se quiser, sem temor de receber incômodo ou picar-se. Assim é a alma humilde,  pode-se dizer que não tem as picadas dos defeitos, e como não é espinhosa pode-se fazer o que  se queira, e não tendo espinhos, naturalmente não pica nem dá incômodo aos outros, porque os  espinhos dá quem os tem, mas quem não os tem, não pode da-los.

(3) E não só isso, mas a humildade é uma flor que fortifica e clareia a vista, e com a sua clareza  sabe-se estar longe dos mesmos espinhos”.

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6-95

Março 2, 1905

Jesus dá-lhe a chave da sua Vontade. 

(1) Continuando o meu estado habitual, estando fora de mim mesma encontrei-me na mão uma  chave; e se bem percorria um caminho longo e de vez em quando me distraía, apenas pensava na  chave que se encontrava sempre na mão. Agora, via que esta chave servia para abrir um palácio, e  dentro estava o menino Jesus que dormia, eu tudo via de longe, e tinha toda a pressa, a pressa  para ir abrir, temendo que acordasse, que chorasse, e que eu não me encontrasse a seu lado. Por  isso me apressava, mas quando estive lá para subir, me encontrei em mim mesma, por isso fiquei  pensativa. Depois, havendo vindo o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, a chave que se encontravas sempre na sua mão é a chave da minha Vontade, que  Eu pus em tuas mãos, e quem tem na mão um objeto, pode fazer com ele o que quiser”.

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6-96

Março 5, 1905

Fala da cruz. 

(1) Estando sofrendo um pouco mais que o habitual, por pouco tempo veio o bendito Jesus e me  disse:

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(2) “Minha filha, a cruz é sustento dos fracos, é fortaleza dos fortes, é germe e custódia da  virgindade”.

(3) Dito isto desapareceu.

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6-97

Março 20, 1905

O verdadeiro amor e as verdadeiras virtudes devem ter o seu princípio em Deus.

(1) Continuando o meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, o amor que não tem o princípio em Deus, não pode dizer-se amor verdadeiro, e as  mesmas virtudes que não têm princípio em Deus, são virtudes falsificadas, porque tudo o que não  tem princípio em Deus não pode dizer-se nem amor, nem virtude, mas sim luz aparente que acaba  por converter-se em trevas”.

(3) Em seguida, acrescentou:

(4) “Como por exemplo: Um confessor trabalha, sacrifica-se tanto por uma alma, isto é coisa santa,  aparentemente chega ao heroísmo; porém, se isto o faz porque obteve, ou espera obter alguma  coisa, o princípio de seu sacrifício não está em Deus, senão em si mesmo e por si mesmo,  portanto, não se pode dizer virtude”.

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Março 23, 1905

Glória e complacência de Jesus.  

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, por pouco tempo veio o bendito Jesus e eu lhe disse:  “Senhor, é a tua glória o meu estado?”

(2) E Ele: “Minha filha, toda minha glória e toda minha complacência, é que te quero toda mais em  Mim”.

(3) Depois acrescentou: “O tudo está na desconfiança e temor da alma em si mesma, e na  confiança e firmeza em Deus”.

(4) Dito isto desapareceu.

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Março 28, 1905

Efeitos da perturbação. Encontro contínuo de Jesus com a alma.  

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, quando mal chegou o bendito Jesus, e tendo eu dito a  uma alma perturbada: “Pensa em não querer estar perturbada, não só por teu bem, mas muito  mais por amor de Nosso Senhor, porque a alma perturbada não só está ela perturbada, senão que

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faz se perturbar a Jesus Cristo”. Depois disse entre mim: “Que disparate disse, Jesus não pode  perturbar-se jamais”. Então ao vir me disse:

(2) “Minha filha, em lugar de um absurdo há dito uma verdade, porque em cada alma formo uma  Vida Divina, e se a alma está turbada, esta Vida Divina que Eu vou formando fica também turbada;  e não só isto, senão que jamais chega a cumprir-se perfeitamente”.

(3) E como relâmpago se foi. Então eu continuei meu acostumado trabalho interior sobre a Paixão,  e tendo chegado àquele momento do encontro de Jesus e Maria no caminho à cruz, de novo fez-se  ver e disse-me:

(4) “Minha filha, também com a alma me encontro continuamente, e se no encontro que faço com a  alma a encontro em ato de exercitar as virtudes e unida Comigo, me recompensa da dor que sofri  quando encontrei minha Mãe tão dolorosa por minha causa”.

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6-100

Abril 11, 1905

A perseverança é selo da vida eterna, e desenvolvimento da vida divina.

(1) Estando muito aflita pela privação de meu adorável Jesus, estava dizendo para mim: “Como se  fez cruel comigo, eu mesma não sei entender como seu bom coração pode chegar a fazê-lo, e  além disso, se o perseverar lhe agrada tanto, como é que minha perseverança não comove seu  bom coração?” Enquanto dizia estes e outros disparates, de improviso veio e me disse:

(2) “Certamente a coisa que mais me agrada da alma é a perseverança, porque a perseverança é  selo da vida eterna e desenvolvimento da Vida Divina. Porque assim como Deus é sempre antigo e  sempre novo e imutável, assim a alma com a perseverança, com tê-la praticado sempre é antiga, e  com a atitude de fazer é sempre nova, e cada vez que a faz renova-se em Deus, permanecendo  nele imutável, e sem se dar conta. E como com a perseverança faz aquisição contínua da Vida  Divina em si mesma, adquirindo a Deus sela a vida eterna. Pode haver selo mais seguro que o  próprio Deus?”

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6-101

Abril 16, 1905

Sofrer é reinar. 

(1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo fez-se ver meu amável Jesus com um  cravo dentro do coração, e aproximando-se a meu coração me tocava com seu mesmo prego, eu  sentia penas mortais, e depois me disse:

(2) “Minha filha, este prego me põe o mundo até dentro de meu coração, e me dá uma morte

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contínua, assim que por justiça, como eles me dão morte contínua, assim permitirei que se dêem  morte entre eles, matando-se como cães”.

(3) E enquanto dizia isto, fazia-me ouvir os gritos dos revoltosos, tanto que fiquei ensurdecida por  quatro ou cinco dias. Por isso, estando sofrendo muito, pouco depois voltou e me disse:  (4) “Hoje é o dia das palmas em que fui proclamado Rei. Todos devem aspirar a um reino, e para  adquirir o reino eterno é necessário que a criatura adquira o regime de si mesma com o domínio de  suas paixões. O único meio para isso é o sofrer, porque o sofrer é reinar, isto é, com a paciência se  põe em ordem a si mesmo, fazendo-se rei de si mesmo e do reino eterno”.

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6-102

Abril 20, 1905

A humanidade nestes tempos encontra-se como um osso fora de lugar. Como saber se as paixões foram dominadas. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, quando mal chegou o bendito Jesus, quase em ato  de castigar as nações, me disse:

(2) “Minha filha, as criaturas me laceram a carne, pisoteiam meu sangue continuamente, e Eu  permitirei que suas carnes sejam laceradas e seu sangue derramado. A humanidade nestes  tempos se encontra como um osso fora de lugar, fora de seu centro, e para colocá-lo em seu lugar  e fazê-lo entrar novamente em seu centro, é necessário que o destrua”.

(3) Depois, acalmando-se um pouco continuou: “Minha filha, a alma pode saber se tem dominado  suas paixões, se quando tocada pelas tentações ou pelas pessoas, não as toma em conta, como  por exemplo: É tentada pela impureza; se tem dominado esta paixão a alma não faz caso e a  mesma natureza fica em seu posto; se não a tem dominado, a alma se entristece, se aflige, e em  seu corpo sente correr um rio purulento. Ou uma pessoa mortifica, injuria a outra; se esta dominou  a paixão da soberba fica em paz, se não assim for, sente correr um rio de fogo, de desprezo, de  altaneira, que a põe toda alterada, porque a paixão quando existe, quando chega a ocasião, sai, e  assim por diante”.

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Maio 2, 1905

Três tipos de ressurreição contém o sofrimento. 

(1) Continuando um pouco mais do que o habitual meus sofrimentos, meu bom Jesus ao vir disse me:

(2) “Minha filha, o sofrer contém três tipos de ressurreição, isto é: o sofrer faz ressurgir a alma à  graça; segundo, adentrando-se o sofrer reúne as virtudes e ressurge à santidade; terceiro,  continuando o sofrer, o sofrer aperfeiçoa as virtudes, as embeleza de esplendor, formando uma

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bela coroa, e coroada a alma ressurge à glória na terra, e à glória no Céu”.

(3) Dito isto desapareceu.

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6-104

Maio 5, 1905

Efeitos da Graça. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, quando veio o bendito Jesus, parecia que de dentro  de seu interior saía outra imagem toda igual a Ele, só que menor. Eu fiquei maravilhada ao ver isto  e Ele me disse:

(2) “Minha filha, tudo o que pode sair de dentro de uma pessoa se chama parto, e este parto se  torna filho de quem o pare. Agora, esta minha filha é a Graça, que saindo de Mim se comunica a  todas as almas que a querem receber, e as converte em outros tantos filhos meus; e não só isso,  senão que tudo o que pode sair de bem, de virtude destes segundos filhos, se tornam filhos da  Graça. Vê um pouco que longa geração de filhos se forma a Graça só que recebam; mas quantos  a rejeitam, e minha filha se volta a meu seio só e sem prole”.

(3) Enquanto dizia isto, aquela imagem fechou-se dentro de mim, enchendo-me toda de si mesma.  + + + +

6-105

Maio 9, 1905

A alma unida à Graça pode fazer o que a morte deve fazer à natureza. 

(1) Continuando o meu estado habitual, parecia-me que o meu adorável Jesus saía de dentro de Meu interior e com uma voz doce e afável dizia:

(2) “E por que minha filha tudo o que a morte deve fazer à natureza, não pode fazê-lo  antecipadamente a alma unida à Graça? Isto é, fazê-la morrer antecipadamente, por amor de  Deus, a tudo o que deverá morrer. Mas esta bem-aventurada morte chega a fazê-la quem somente  faz contínua morada com a minha Graça, porque vivendo com Deus é mais fácil morrer a tudo o  que é obsoleto. E a alma vivendo em Deus e morrendo a todo o resto, a mesma natureza vem  antecipar os privilégios que a devem enriquecer na ressurreição, ou seja, sentir-se-á  espiritualizada, deificada e incorruptível, além de todos os bens em que participará a alma  sentindo-se partícipe de todos os privilégios da Vida Divina, e além disto a diferença de glória que  estas almas terão no Céu, serão tão diferentes das outras, como é diferente o Céu da terra”.

(3) Dito isto desapareceu.

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6-106

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Maio 12, 1905

Meio para não perder o amor de Jesus. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, quando veio meu bendito Jesus, eu, só ao vê-lo, não  sei por que disse:

(2) “Senhor, no entanto há uma coisa que lacera minha alma, o pensamento de que posso perder  seu amor”.

(3) E ele: “Minha filha, quem te disse? Em todas as coisas, a minha paterna bondade providenciou  os meios para ajudar a criatura, desde que estes meios não sejam rejeitados. Portanto, o meio  para não perder meu amor, é fazer dele e de tudo o que me concerne, como se fossem coisas  próprias; pode alguém perder tudo o que é seu? Não, certamente, no máximo se não tem estima  de suas coisas não terá cuidado de guardá-las, mas se não as estima e não a custodia é sinal de  que não as ama, portanto aquele objeto não contém mais vida de amor e não se pode incluir entre  as coisas próprias. Mas meu amor quando se faz próprio, se estima, se conserva, se tem sempre à  vista, de modo que não pode perder o que é seu, nem em vida nem em morte”.

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Maio 15, 1905

O caminho da virtude é fácil. 

(1) Continuando o meu estado habitual, por pouco tempo veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, dizem que o caminho da virtude é difícil. Falso, é difícil para quem não caminha,  porque não conhecendo nem as graças, nem os consolos que deve receber de Deus, nem a  facilitação ao caminhar, parece-lhe difícil, e sem caminhar sente todo o peso do caminho. Mas para  quem caminha lhe é facilíssimo, porque a graça que a inunda a fortalece, a beleza das virtudes a  atrai, o Divino Esposo das almas a leva apoiada no próprio braço, acompanhando-a no caminho, e  a alma em vez de sentir o peso, a dificuldade do caminhar, quer apressar o caminho para chegar  mais rápido ao final do caminho e do seu próprio centro”.

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Maio 18, 1905

O amor merece a preferência acima de tudo. 

(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, o medo tira a vida ao amor; e não só isto, mas também as mesmas virtudes que  não têm princípio no amor, diminuem a vida do amor na alma; enquanto em todas as coisas o amor  merece a preferência, porque o amor torna fácil todas as coisas; enquanto as mesmas virtudes que  não têm princípio no amor, são como tantas vítimas que vão acabar no matadouro, ou seja, na

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destruição das mesmas virtudes”.

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Maio 20, 1905

Modo de sofrer. 

(1) Esta manhã estava pensando quando o bendito Jesus ficou todo deslocado sobre a cruz, e  dizia entre mim: “Ah! Senhor, quão compenetrado pudeste ficar destes atrozes sofrimentos, e como  tua alma pôde ficar afligida”. E enquanto isso, quase como uma sombra veio e me disse:  (2) “Minha filha, Eu não me ocupava de meus sofrimentos, senão que me ocupava da finalidade de  minhas penas, e como em minhas penas via cumprida a Vontade do Pai, sofria, e em mim mesmo  sofrer encontrava o mais doce repouso, porque fazer a Vontade Divina contém este bem, que  enquanto se sofre ali se encontra o mais belo repouso; e se se goza, e este gozar não é querido  por Deus, no mesmo gozar se encontra o mais atroz tormento. Além disso, quanto mais me  aproximava do final das penas, ansiando cumprir em tudo a Vontade de Pai, assim me sentia mais  iluminado e meu repouso se fazia mais belo. Oh! Como é diverso o modo que têm as almas, se  sofrem ou operam não têm nem a mira no fruto que podem recolher, nem o cumprimento da  Vontade Divina, concentram-se todas na coisa que fazem, e não vendo os bens que podem  ganhar, nem o doce repouso que leva a Vontade de Deus, vivem angustiadas e atormentadas, e  rejeitam quanto mais podem o sofrer e o agir, acreditando encontrar repouso e ficam mais  atormentadas que ao princípio”.

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6-110

Maio 23, 1905

Para não sentir perturbações, a alma deve apoiar-se bem em Deus. 

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, e sentia uma pessoa em meus braços e a  cabeça apoiada sobre o ombro, e eu não conseguia ver quem era, por isso o puxei com força  dizendo: “Diga-me ao menos quem é”.

(2) E Ele: “Eu sou o todo”.

(3) E eu ao ouvir dizer que era o todo, disse: “E eu sou o nada. Olhe Senhor quanta razão tenho  em querer que este nada esteja unida com o Todo, de outra maneira será como um punho de pó  que, o vento espalha”. Enquanto fazia isto, via uma pessoa que duvidava e dizia: “Por que será que  por cada pequena coisa se sente tanta perturbação?” E eu, por uma luz que vinha do bendito  Jesus, disse: “Para não sentir perturbações a alma deve fundir-se bem em Deus, e toda si mesma

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tender a Deus como a um só ponto, e ver as outras coisas com olho indiferente, mas se fizer de  outra maneira, em cada coisa que faça, veja ou sinta, a alma se sentirá investida de um mal-estar,  como de uma febre que volta à alma toda afastada, perturbada, sem poder entender-se ela  mesma.

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6-111

Maio 25, 1905

A imagem de Jesus na alma. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, via o bendito Jesus fora e dentro de meu interior, se  fora o via menino, menino o via dentro; se o via crucificado por fora, também o via dentro. Eu fiquei  admirada e Ele me disse:

(2) “Minha filha, quando minha imagem está completamente formada no interior da alma, qualquer  forma que queira tomar externamente para voltar a me olhar, ela toma minha mesma imagem que  formei na alma. Que maravilha, então!

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6-112  

Maio 26, 1905

Quando a alma é toda de Jesus, Ele sente o seu murmúrio no seu Ser. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o Menino Jesus nos braços e estava a dizer lhe: “Meu querido, sou toda e sempre tua; ah! não permita que corra em mim nada, embora seja  uma sombra que não seja tua”.

(2) E Ele: “Minha filha, quando a alma é toda minha, Eu sinto um murmúrio contínuo de seu ser em  Mim; este seu murmúrio contínuo eu o sinto correr em minha voz, em meu coração, na mente, nas  mãos, em meus passos e até em meu sangue. Oh! Como me é doce este seu murmúrio em Mim, e  conforme o sinto vou repetindo: “Tudo, tudo, tudo desta alma é meu, e Eu te amo, te amo muito”. E  nela selo o murmúrio do meu amor; e, quando eu sinto o seu, assim a alma sente meu murmúrio  em todo seu ser, assim que se a alma em toda si mesma se sente correr meu murmúrio, é sinal de  que é toda minha”.

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6-113

Maio 29, 1905

Quem repousa nos braços da obediência, recebe todas as cores divinas. (1) Esta manhã, ao vir o bendito Jesus lançou-se nos meus braços como se quisesse repousar e  disse-me:

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(2) “Como uma criança repousa segura nos braços da mãe, assim a alma deve repousar nos  braços da obediência, e quem repousa nos braços da obediência recebe todas as cores divinas,  porque com quem verdadeiramente dorme se pode fazer o que se quer; assim quem  verdadeiramente repousa nos braços da obediência, pode-se dizer que dorme, e Deus pode fazer  à alma o que Ele quer”.

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6-114

Maio 30, 1905

A vida de amor de Jesus. 

(1) Continuando o meu estado habitual, estava dizendo: “Senhor, o que queres de mim? Manifesta me a tua Santa Vontade”.

(2) E Ele: “Minha filha, quero-te toda em Mim, a fim de que possa encontrar tudo em ti. Assim como  todas as criaturas tiveram vida na minha humanidade, e eu me satisfiz por todas, assim, estando  toda em Mim, far-me-ás encontrar todas as criaturas em ti, isto é, unida Comigo me farás encontrar  em ti a reparação por todos, a satisfação, o agradecimento, o louvor, e tudo o que as criaturas são  obrigadas a dar-me. O amor, além da Vida Divina e humana me forneceu a terceira vida, que me  fez germinar todas as vidas das criaturas em minha humanidade, é esta vida de amor, e que  enquanto me dava vida, me dava morte contínua, me feria e me fortalecia, me humilhava e me  exaltava, me amargurava e me adoçava, me atormentava e me dava delícias. O que não contém  esta vida de amor incansável e disposta a qualquer coisa? Tudo, tudo nela se encontra, sua vida é  sempre nova e eterna. Oh! Como gostaria de encontrar em ti esta vida de amor para ter-te sempre  em Mim, e encontrar tudo em ti”.

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Junho 2, 1905

A paciência é o alimento da perseverança.

(1) Esta manhã, o bendito Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, a paciência é o alimento da perseverança, porque a paciência mantém em seu  lugar as paixões e corrobora todas as virtudes, e as virtudes, recebendo da paciência a atitude da  vida contínua, não sentem o cansaço que produz a inconstância, tão fácil para a criatura. Por isso a  alma não se abate se é mortificada ou humilhada, porque rapidamente a paciência lhe fornece o  alimento necessário, e forma um vínculo mais forte e estável de perseverança. Nem se é consolada  e exaltada se eleva muito, porque a paciência alimentando a perseverança, se contém na  moderação sem sair de seus limites. Além disso, assim como a paciência é alimento, e até  enquanto uma pessoa se alimenta pode dizer que tem vida, não está morta; assim a alma, até que  tenha paciência, desfrutará a vida da perseverança”.

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6-116

Junho 5, 1905

As cruzes são fontes batismais. 

(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, as cruzes, as mortificações, são outras tantas fontes batismais, e qualquer espécie  de cruz que está empapada no pensamento de minha Paixão, perde a metade da aspereza e  diminui a metade do peso”.

(3) E como relâmpago desapareceu. Então eu fiquei fazendo certas adorações e reparos em meu  interior, e de novo voltou e acrescentou:

(4) “Qual não é meu consolo ao ver refeito em ti o que minha Humanidade fez tantos séculos antes,  porque qualquer coisa que Eu determinei que cada alma fizesse, foi feita primeiro em minha  Humanidade, e se a alma me corresponde, o que Eu fiz por ela o refaz de novo em si mesma, e se  não, fica só feito em Mim mesmo, e Eu sinto por isso uma amargura indizível”.

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Junho 23, 1905

Quem está unido com a Humanidade de Jesus, encontra-se à porta da sua Divindade. 

(1) Continuando meu estado habitual, estava pensando em como Jesus Cristo morreu e que Ele  não podia de modo algum temer a morte, porque estando tão unido com a Divindade, aliás,  transmutado, já se encontrava seguro como um em seu próprio palácio; mas para a alma, oh! como  é diferente. Enquanto estes e outros desatinos pensavam, o bendito Jesus veio e me disse:

(2) “Minha filha, quem está unido com minha Humanidade já se encontra à porta de minha  Divindade, porque minha Humanidade é espelho à alma, da qual se reflete a Divindade nela; quem  se encontra nos reflexos deste espelho, entende-se que todo seu ser é transformado em amor,  porque minha filha, tudo o que da criatura sai, até o movimento dos olhos, dos lábios, o mover dos  pensamentos e todo o resto, tudo deveria ser amor e feito por amor, porque sendo meu Ser todo  amor, onde encontro amor absorvo tudo em Mim, e a alma habita segura em Mim, como um em  seu próprio palácio; então, que temor pode ter a alma ao morrer de vir a Mim, se já se encontra em  Mim?”

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6-118

Julho 3, 1905

Declarações de Jesus sobre o estado de Luisa. 

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, e encontrei a Rainha  Mãe com o menino Jesus nos braços, que lhe estava dando seu dulcíssimo leite; eu ao ver que o

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Volume 06

menino sugava o leite do peito de nossa Mãe, lentamente o tirei do peito e me pus eu a sugar. Ao  ver-me fazer isto, ambos sorriram da minha astúcia, mas deixaram-me chupar. Então depois disso,  a Rainha Mãe me disse:

(2) “Toma o teu Querido e desfruta dele.”.

(3) Eu o tomei em braços e enquanto, fora, se escutavam rumores de armas e Ele me disse:  (4) “Este governo cairá”.

(5) E eu: “Quando?”

(6) Tocando-se a ponta do dedo continuou: “Outra ponta de dedo”.

(7) E eu: “Quem sabe quanto será esta ponta de dedo ante Ti”. Ele não me prestou atenção, e eu  não querendo saber estava dizendo: “Como gostaria de conhecer a Vontade de Deus a respeito de  mim”.

(8) E Ele me disse: “Toma um papel, que Eu mesmo te escreverei e declararei minha Vontade sobre ti”.

(9) Eu não tinha e fui buscá-lo e dei-lhe, e o menino escrevia:

(10) “Declaro perante o Céu e a terra que é minha Vontade que a escolhi vítima; declaro que me  fez doação da alma e do corpo, e sendo Eu o absoluto dono, quando a Mim me agrada participo  das penas de minha Paixão, e eu em correspondência lhe abri a porta de minha Divindade; declaro  que neste acesso me roga continuamente cada dia pelos pecadores, e toma um fluxo contínuo de  vida em proveito dos mesmos pecadores”.

(11) E escreveu tantas outras coisas que eu não me lembro muito bem, por isso as omito. Eu ao  ouvir isto me senti toda confusa e disse: “Senhor, perdoa-me se me torno impertinente, isto que  escreveste não queria sabê-lo, basta-me que o saibas Tu sozinho, o que queria saber é se é Tua  vontade que continue neste estado”. Eu em minha mente continuava pensando em se é Sua  vontade que venha o confessor a me chamar à obediência, ou bem é minha fantasia o tempo que  perco com o confessor, mas não quis dizê-lo temendo querer saber muito, convencendo-me eu  mesma que se é Sua uma coisa, Será sua a outra vontade”. E o menino Jesus continuou a  escrever:

(12) “Declaro que é Minha vontade que continue neste estado, que venha te chamar à obediência o  confessor o tempo que perdes com ele, e é Minha vontade que te surpreenda o temor de não ser  Minha Vontade teu estado, este temor e dúvida te purifica de todo mínimo defeito”.  (13) A Rainha Mãe e Jesus abençoaram-me, beijei-lhe a mão e encontrei-me em mim mesma.

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6-119

Julho 5, 1905

A Humanidade de Jesus é música à Divindade.

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(1) Continuando meu estado habitual, eu estava fazendo minhas práticas internas habituais, e o  bendito Jesus vindo me disse:

(2) “Minha filha, minha Humanidade é música à Divindade, porque todas minhas ações formavam  tantas teclas para formar a música mais perfeita e harmoniosa, para recriar o ouvido divino; e a  alma que se uniforma à minhas mesmas ações internas e externas, continua a música de minha  própria Humanidade à Divindade”.

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6-120

Julho 18, 1905

A alma não deve abrir o seu interior aos outros, só ao confessor.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, mal chegou o bendito Jesus disse-me:  (2) “Minha filha, quando um confessor manifesta seu modo de agir interno às almas, perde o  ímpeto de continuar agindo, e a alma, conhecendo o propósito que o confessor tem sobre ela, se  tornará descuidada e debilitada em seu agir. Assim a alma, se manifesta seu interior aos demais,  ao descobrir seu segredo evaporará o ímpeto, permanecendo toda debilitada; e se isto não ocorre  com abrir-se ao confessor, é porque a força do sacramento mantém o vapor e aumenta a força e  põe seu selo”.

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6-121

Julho 20, 1905

Quando a alma não é fiel aos desejos de Deus, 

Deus interrompe seus desígnios sobre ela. 

(1) Esta manhã estava rezando por um sacerdote doente que havia sido meu diretor, e pensava  entre mim: “Se tivesse continuado minha direção, teria estado doente ou não? E o bendito Jesus,  ao vir, disse-me:

(2) “Minha filha, quem goza dos bens que há dentro de uma casa? Certamente quem está dentro, e  embora uma pessoa tenha estado primeiro dentro, é sempre quem está no presente que os goza.  Como um patrão, até enquanto um servo está com ele, paga-lhe e faz-lhe gozar dos bens que há  em sua casa, quando se vai chama a outro, paga-lhe e lhe participa de seus bens. É assim que  faço quando uma coisa é querida por mim, e é deixada por um, a transmito a outro, dando-lhe tudo  o que estava destinado para o primeiro, assim que se tivesse continuado sua direção, estando seu  estado de vítima teria gozado dos bens de seu estado, e unidos a quem atualmente te guia, por  isso não estaria doente. E se o guia presente, apesar de sua santidade, não obtém o resto que  quer, é porque não faz plenamente o que quero, e apesar de que goza dos bens, também alguns  carismas não os merece”.

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Volume 06

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Julho 22, 1905

Deus não olha para a obra, mas para a intensidade do amor no agir. 

(1) Estando irritada por não poder fazer certas mortificações, parecendo que o Senhor me  abominava e por isso não permitia que as fizesse, o bendito Jesus ao vir me disse:  (2) “Minha filha, quem verdadeiramente me ama não se incomoda jamais de nada e busca  converter todas as coisas em amor. Por que motivo você queria te mortificar? Certamente por amor  meu, e eu te digo: “Por amor meu te mortifique, por amor meu toma os consolos, e um e o outro  serão diante de Mim de igual peso”. De acordo com a dose de amor que contém uma ação, ainda  que indiferente, assim se aumenta o peso, porque Eu não olho a obra, mas a intensidade do amor  que o obrar contém, por isso não quero nenhum incômodo em você, senão sempre paz, porque os  abomino, as perturbações, é sempre o amor próprio que quer sair para reinar, ou o inimigo para  fazer mal”.

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Agosto 9, 1905

Efeitos da paz e da perturbação.  

(1) Continuando meu habitual estado, me sentia um pouco perturbada, e o bendito Jesus ao vir me  disse:

(2) “Minha filha, a alma em paz e que todo seu ser tende a Mim, goteja de sua alma gotas de luz  que caem sobre minhas vestes e formam meu adorno; pelo contrário, a alma turbada goteja trevas  e formam o adorno diabólico. E não só isto, senão que a turbação impede o caminho à graça, e  torna inútil à criatura para obrar o bem”.

(3) Em seguida, acrescentou: “Se a alma a cada coisa se perturba, é sinal de que está cheia de si  mesma; se uma coisa que lhe acontece se perturba e a outra não, é sinal de que tem alguma coisa  de Deus, mas há muitos vazios por preencher; se nada a turba, é sinal de que toda está cheia de  Deus. Oh! Quanto mal faz a perturbação à alma, até rejeitar a Deus e enchê-la toda de si mesma”.

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6-124

Agosto 17, 1905

Toda a glória de uma alma, é ouvir dizer que de tudo o que tem, 

nada é seu, senão tudo é de Deus. 

(1) Continuando o meu estado habitual, via a Rainha Mãe a dizer ao nosso Senhor: “Venha, venha

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Volume 06

ao seu jardim para se deleitar.” Parecia que me apontava a mim. Eu ao ouvir isto me sentia cheia  de vergonha e dizia entre mim: “Eu não tenho nem pingo de bem, como se poderá deleitar?  Enquanto isso pensava o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, por que te ruborizas? Toda a glória de uma alma é ouvir dizer que tudo o que tem,  nada é seu, senão que tudo é de Deus. E Eu em correspondência lhe digo que tudo o que é meu é  seu”.

(3) E enquanto dizia isso, parecia que meu pequeno jardim feito por Ele mesmo, se unia com o seu  grandiosíssimo jardim que tinha em seu coração, e se faziam um só e nos deleitávamos juntos, e  depois me encontrei em mim mesma.

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Agosto 20, 1905

A Graça toma tantas imagens em torno da alma, por  

quantas são as perfeições e virtudes divinas.

(1) Esta manhã o bendito Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, se a alma em todas as suas ações opera tudo por Deus e para agradar só a Deus,  a graça entra por todas as partes na alma, como uma casa quando estão abertos balcões, portas,  janelas, a luz do sol entra por toda parte e goza toda a plenitude da luz, assim a alma goza toda a  plenitude da luz divina. E esta luz com a correspondência da alma vai sempre aumentando, até  converter-se toda ela em luz; mas se depois faz diversamente, a luz entra pelas fissuras e na alma  tudo é trevas. Minha filha, a quem me dá tudo, dou tudo, por isso minha Graça, não sendo a alma  capaz de receber tudo junto ao meu Ser, toma tantas imagens em torno da alma por quantas são  minhas perfeições e virtudes, assim que toma a imagem da beleza e comunica a luz da beleza na  alma; a imagem da sabedoria, e comunica a luz da sabedoria; a imagem da bondade, e comunica  a bondade; a imagem da santidade, da justiça, da força, do poder, da pureza, e comunica-lhe a luz  da santidade, da justiça, da força, do poder e da pureza, e assim por diante; de modo que a alma  está adornada não por um sol, mas por tantos sóis por quantas são minhas perfeições, e estas  imagens estão em torno de cada alma, só que para quem está aberta e corresponde, estão todas  em atividade, trabalhando; para quem não, estão como adormecidas para aquelas almas, assim  que pouco ou nada podem empregar sua atividade”.

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Agosto 22, 1905

Quem divide com Jesus o peso dos seus sofrimentos, isto é, 

o trabalho da Redenção, vem participar dos ganhos do trabalho da Redenção.

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(1) Encontrando-me em meu estado habitual, assim que chegou meu adorável Jesus me  transportou para fora de mim mesma, e me participava seus sofrimentos. Depois me disse:  (2) “Minha filha, quando duas pessoas dividem o peso de um trabalho, juntas dividem o pagamento  que recebem por aquele trabalho, e tanto um como outro podem fazer bem a quem quiserem com aquele pagamento. Então, dividindo Tu Comigo o peso de meus sofrimentos, isto é, o trabalho da  minha Redenção, vens a participar no ganho do trabalho da Redenção; e sendo dividida entre Eu e  Tu o pagamento de nossas penas, Eu posso fazer bem a quem quero, em geral e também em  modo especial; assim você, é livre de fazer bem a quem quiser com o pagamento que lhe  corresponde. Este é o lucro de quem divide Comigo minhas penas, que só é concedido ao estado  de vítima, e o lucro de quem lhe está mais próximo, porque estando perto, mais facilmente participa  dos bens que um possui; por isso minha filha, alegra-te quando mais te participo minhas penas, porque maior será a parte do teu pagamento”.

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6-127

Agosto 23, 1905

Se a alma faz tudo por Deus, permanece extinta na chama do amor divino. Pensar em si mesmo nunca é virtude, mas sempre vício.

(1) Continuando meu habitual estado, meu bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, se a alma faz tudo por Mim, imita aquelas pequenas borboletas que giram e giram  em torno de uma chama e ficam extintas naquela mesma chama. Assim a alma, segundo o  perfume de suas ações, de seus movimentos e desejos oferecidos a Mim, assim gira em torno de  Mim, agora ao redor dos olhos, agora ao rosto, agora às mãos, agora ao coração; segundo as  diversas ofertas que me vai fazendo, e com o seu contínuo girar em torno de Mim permanece toda  extinta na chama do meu amor, sem tocar as chamas do purgatório”.

(3) Depois desapareceu, e tendo regressado acrescentou:

(4) “O pensar em si mesmo é o mesmo que sair de Deus e voltar a viver em si mesmo. Além disso,  pensar em si mesmo nunca é virtude, mas sempre vicio, mesmo que fosse sob aspecto de bem”.  + + + +

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Agosto 25, 1905

As verdadeiras virtudes devem ter as raízes no coração de Jesus, 

e desenvolver-se no coração da criatura.

(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, a alma deve viver em meu coração, e as mesmas virtudes, deve fazer de modo

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Volume 06

que as raízes estejam em meu coração e desenvolvê-las em seu coração; de outra maneira se  podem ter as virtudes naturais, ou bem de simpatia, as quais se chamam virtudes a tempo e  circunstância, e são mutáveis; enquanto as virtudes que a raiz está fixa em meu coração e  desenvolvida na alma, são estáveis e se adaptam a todos os tempos e a todas as circunstâncias, e  são iguais para todos, ao contrário aquelas não, e acontece que sentem uma caridade ilimitada por  uma pessoa, ou seja, a um tempo são todo fogo, fazem verdadeiros sacrifícios, gostariam de pôr a  vida; mas se apresenta outra, e ainda que seja mais necessitada que a primeira, num momento se  muda a cena, se fazem de gelo, nem sequer querem fazer o sacrifício nem de ouvir, nem de dizer  uma palavra, estão desenganadas e a despedem irritadas, furiosas; é porventura esta caridade  aquela que a raiz está fixa no meu coração? Certamente que não, pelo contrário, é caridade  viciosa, toda humana e de simpatia, que a um momento parece florescer, e em outro se seca e  desaparece. Alguma outra é obediente a uma pessoa, submissa, humilde, faz-se um trapo, de  modo que aquela pessoa pode fazer com ela o que quiser; mas com outra é desobediente,  relutante, soberba; é acaso esta obediência que sai de meu coração, que obedece a todos, até aos  mesmos carrascos? Não, certamente. Outra é paciente em certas ocasiões, mesmo em  sofrimentos sérios, parece um cordeiro que nem sequer abre a boca para lamentar-se; mas diante  de outro sofrimento, talvez menor, monta em fúria, irrita-se, amaldiçoa; é talvez esta a paciência  que a raiz está fixa em meu coração? Não, certamente. Outra, um dia é todo fervor, ora sempre,  até transgredir os deveres do próprio estado; outro dia recebeu um encontro um pouco  desagradável, sente-se fria, abandona de fato a oração até transgredir os deveres de um cristão,  as orações de obrigação; É este o meu espírito de oração, que cheguei a suar sangue, a sentir a  agonia da morte, e no entanto não negligenciei um só momento a oração? Certamente que não, e  assim de todas as outras virtudes. Só as virtudes que estão radicadas em meu coração e  enxertadas na alma são estáveis e permanecem, e resplandecem cheias de luz; as outras,  enquanto aparecem como virtudes são vícios, aparecem como luz e são trevas”.

(3) Disse isto e desapareceu. Eu continuava desejando-o, e voltou e acrescentou:  (4) “A alma que me deseja sempre se embebe de Mim continuamente, e Eu sentindo-me embebido  pela alma me embebo da alma, de modo que onde quer que volte, encontro-a com seus desejos e  a toco continuamente”.

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6-129

Agosto 28, 1905

O coração de Jesus se ata com os corações humanos, e estes tomam 

tudo do coração Dele, até sua própria Vida, se lhe correspondem. 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ao vir me fazia ver seu amável coração, e de dentro saíam

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Volume 06

como tantos fios resplandecentes de ouro, de prata, vermelhos, e parecia que formavam uma rede,  e fio por fio amarrava todos os corações humanos. Eu fiquei admirada ao ver isto, e Ele me disse: (2) “Minha filha, meu coração se liga com estes fios a todos os afetos, os desejos, os batimentos, o  amor e até a própria vida dos corações humanos, em tudo similares ao meu coração humano, só  diferentes na santidade, e tendo-os atado, desde o Céu, como se movem meus desejos, o fio dos  desejos estimula os desejos deles; se se movem os afetos, o fio dos afetos move os afetos deles;  se amo, o fio do amor estimula o amor deles; e o fio da minha vida lhes dá a vida. Oh! Que  harmonia entre o Céu e a terra, entre meu coração e os corações humanos, mas isto o adverte só  quem me corresponde; mas quem faz algo de má vontade, com o vigor de sua vontade nada  adverte e manda ao vazio as operações de meu coração humano.

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6-130

Setembro 4, 1905

Em todos os tempos, Deus teve almas que receberam, por quanto pode uma criatura, a finalidade da Criação, Redenção e Santificação. 

(1) Continuando o meu habitual estado, o meu adorável Jesus fazia-me ver a sua Santíssima  Humanidade, todas as suas chagas, as suas tristezas, e do interior das suas chagas e até das  suas gotas de sangue saíam tantos ramos cheios de frutos e flores, e parecia que me comunicava  seus sofrimentos e todos seus ramos carregados de flores e frutos. Eu fiquei maravilhada ao ver a  bondade de nosso Senhor que me participava todos seus bens, sem excluir-me de nada de tudo o  que Ele continha; e o bendito Jesus me disse:

(2) “Filha amada minha, não te admires do que vês, porque não estás sozinha ou és única, porque  em todos os tempos tive almas, que, na medida em que uma criatura pode, de algum modo,  receber a finalidade da criação, redenção e santificação, e que a criatura possa receber todos os  bens pelos quais a criei, redimi e santifiquei; caso contrário, se eu não estivesse em todo o tempo,  mesmo que fosse um apenas, se frustraria todo minha obra, pelo menos por algum tempo. Esta é a  ordem da minha providência, da minha justiça e do meu amor, que em cada tempo tivesse ao  menos uma só a que Eu pudesse participar todos os bens, e que a criatura me desse tudo o que  me deve como criatura, de outra maneira, em que aproveitaria manter o mundo? Num momento o  destroçaria; e por isso precisamente escolho as almas vítimas, porque assim como a divina justiça  encontrou em Mim tudo o que deveria encontrar em todas as criaturas, e participou-me todos  juntos os bens que teria participado a todas as criaturas, de modo que a minha humanidade  continha tudo, assim nas vítimas encontro tudo nelas e lhes compartilho todos os meus bens. No  tempo da minha Paixão tive a minha amadíssima Mãe, que enquanto lhe participava todas as

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Volume 06

minhas penas e todos os meus bens, Ela como criatura estava atentíssima a reunir em Si tudo o  que me teriam feito as criaturas, assim que Eu encontrava nela toda a minha satisfação e toda a  gratidão, o agradecimento, o louvor, a reparação, a correspondência que devia encontrar em todos  os outros. Logo vinha a Madalena, João, e assim em todos os tempos da Igreja, por isso, para  fazer que ditas almas me fossem mais agradáveis e pudesse sentir-me atraído a dar-lhes tudo, as  previno primeiro e logo lhes enobreço a alma, o corpo, o trato, e até a voz, de modo que uma só  palavra tem tanta força, é tão graciosa, doce, penetrante, que tudo me comove e me enternece, me  transforma muda-me e eu digo: Ah! É esta a voz de minha amada, não posso fazer menos que  escutá-la, seria como se quisesse negar-me a Mim mesmo o que quer, se não devo escutá-la  convém-me tirar a vontade de fazê-la falar, mas mandá-la vazia jamais; assim que entre ela e eu  há tal eletricidade de união, que a própria alma não pode compreender tudo nesta vida, ainda que  o compreenda com toda clareza na outra”.

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Setembro 6, 1905

O mal da distração. 

(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, via nosso Senhor crucificado, e eu estava beijando  as chagas de suas mãos, reparando e rogando que santificasse, aperfeiçoasse, purificasse todas  as obras humanas por amor do que havia sofrido em suas santíssimas mãos, e o bendito Jesus me  disse:

(2) “Minha filha, as obras que mais irritam minhas mãos, e que mais me amargam e ampliam  minhas chagas são as boas obras feitas com distração, porque a distração tira a vida às boas  obras, e as coisas que não têm vida estão sempre próximas a apodrecer, por isso a Mim me dão náuseas, e ao olho humano é mais escândalo a boa obra feita sem atenção do que o próprio  pecado, porque o pecado é conhecido como trevas, e não é maravilha que as trevas não dêem luz;  mas a boa obra que é luz e dá trevas ofende tanto ao olho humano, que não sabe mais onde  encontrar a luz, e por isso encontra um obstáculo no caminho do bem”.

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Setembro 8, 1905

A verdadeira caridade é fazer o bem ao próximo, porque é imagem de Deus.  (1) Encontrando-me em meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, a verdadeira caridade é quando fazendo o bem ao próximo, o faz porque é minha  imagem. Toda a caridade que sai deste ambiente não se pode dizer caridade; se a alma quer o  mérito da caridade não deve sair jamais deste ambiente de ver em tudo a minha imagem. Tanto é  verdade que nisto está a verdadeira caridade, que a minha caridade não sai jamais deste

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ambiente, tanto ama a criatura porque é imagem minha, e se com o pecado deforma esta minha  imagem, não sinto mais amá-la, mas a abomino; e conservo as plantas, os animais, porque servem  a minhas imagens, e a criatura deve adaptar-se toda ela mesma a exemplo de seu Criador”.

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Setembro 17, 1905

Como você pode participar das dores da Rainha Mãe. 

(1) Tendo sofrido muito pela privação de meu dulcíssimo Jesus, esta manhã, dia das dores de  Maria Santíssima, depois de haver-me de algum modo fatigado, veio e me disse:  (2) “Minha filha, que queres que tanto me almejas?

(3) E eu: “Senhor, o que tens para Ti, é o que desejo para Mim”.

(4) E Ele: “Minha filha, para Mim tenho espinhos, pregos e cruz”.

(5) E eu: “Bem, é isso que quero para mim”. E me deu sua coroa de espinhos e me participava as  dores da cruz, e depois acrescentou:

(6) “Todos podem participar nos méritos e nos bens que frutificaram das dores de minha Mãe.  Quem antecipadamente se coloca nas mãos da providência, oferecendo-se a sofrer qualquer tipo  de penas, misérias, enfermidades, calúnias e tudo o que o Senhor disponha sobre ela, vem a  participar da primeira dor da profecia de Simeão. Quem atualmente se encontra nos sofrimentos e  está resignado e está mais estreito Comigo, não me ofende, e como se me salvasse das mãos de  Herodes, e são e salvo me conserva no Egito de seu coração, participa da segunda dor. Quem se  encontra abatido de ânimo, árido e privado da minha presença, e está firme e fiel aos seus  habituais exercícios, aliás, procura a ocasião de me amar e buscar-me mais, sem se cansar, vem  participar dos méritos e bens que adquiriu a minha Mãe no meu extravio. Quem em qualquer  ocasião que se encontre, especialmente de me ver ofendido gravemente, desprezado, pisoteado, e  busca reparar-me, compadecer-me e rogar por aqueles mesmos que me ofendem, é como se  encontrasse naquela alma a minha mesma Mãe, que se tivesse podido libertar-me dos meus  inimigos, e participasse na quarta dor. Quem crucifica seus sentidos por amor de minha  crucificação, e tenta copiar em si as virtudes de minha crucificação, participa do quinto. Quem está  em contínua atitude de adorar, de beijar minhas chagas, de reparos, de agradecimentos e mais,  em nome de todo o gênero humano, é como se me tivesse em seus braços, como me teve minha  Mãe quando fui deposto da cruz, e participa do sexto sofrimento. Quem se mantém em minha  graça e me corresponde, e não dá a nenhum outro albergue no próprio coração senão a Mim só, é  como se me sepultasse no centro do coração, e participa no sétimo.”

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Outubro 10, 1905

O sinal de que a alma está perfeitamente estreitada e unida com Jesus,  é se está unida com todos os demais.

(1) Estando muito afligida pelas fadigas que o bendito Jesus me faz sofrer ao esperá-lo, esta  manhã ao momento de fazer-se ver me disse:

(2) “Minha filha, me desagrada sua tristeza e o ver-te como imersa em amarga aflição por minha  privação. Sinto tanta pena de sua aflição, especialmente porque é por minha causa, que a sinto  como se fosse minha, e é tão grande, que se todas as aflições dos outros se unissem, não me  daria tanta pena como a sua só, porque é só por minha causa. É por isso que, me mostre seu rosto  alegre e me faça ver que está contente”.

(3) Depois aproximou-se estreitando fortemente a mim e acrescentou:

(4) “O sinal de que a alma está perfeitamente estreita e unida Comigo, é se está unida com todos  os próximos. Assim como nenhuma nota discordante e mesclada deve existir com aqueles que  estão visíveis na terra, assim nenhuma nota discordante de desunião pode existir com o invisível  Deus”.

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Outubro 12, 1905

O conhecimento de si mesma, esvazia a alma de si mesma e a enche de Deus.  (1) Continuando meu habitual estado, quando veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, o conhecimento de si mesma esvazia a alma de si mesma e a enche de Deus; e  não só isto, na alma há muitos armários, e tudo o que no mundo se vê, de acordo com o conceito  que se forma disso, assim, quem mais, quem menos, tomam seu lugar nestes armários. Agora, a  alma que se conhece a si mesma e está cheia de Deus, sabendo que ela é nada, mas bem se  sabe um vaso frágil, putrefato, fétido, cuida-se bem de fazer entrar em seu interior outras podridões  fétidas, como são as coisas que se vêem no mundo. Seria um louco aquele que tendo uma chaga  putrefata vai juntando mais podridão para colocá-la sobre sua chaga; conhecer-se a si mesma leva  consigo o conhecimento das coisas do mundo, por isso, como tudo é vaidade, fugacidade, bens só  disfarçados, enganos, inconstância de criatura, então conhecendo quais são as coisas em si  mesmas, se cuida bem de fazê-las entrar em si mesma, e todos aqueles armários ficam cheios das  virtudes de Deus”.

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6-136

Outubro 16, 1905

Quanto mais a alma se aproxima do amor de Deus, mais perderá as virtudes.  

(1) Tendo lido um livro que tratava das virtudes, olhando para mim mesma estava pensativa porque  não via em mim nenhuma virtude; se não fosse só porque quero amá-lo, quero-o, amo-o, e quero  ser amada por Jesus bendito, nada, nada existiria em mim de Deus. Agora, encontrando-me em  meu estado habitual, meu adorável Jesus me disse:

(2) “Minha filha, quanto mais a alma chega ao termo, para aproximar-se da fonte de todo bem, qual  é o verdadeiro e perfeito amor de Deus, onde tudo ficará submerso e só o amor existirá para ser o  motor de tudo, assim a alma perderá todas as virtudes que praticou na viagem, para encerrar tudo  no amor e repousar de tudo para só amar; não perdem todos os bem-aventurados só por amar?  Assim a alma, quanto mais caminha, menos sente o diversificado trabalho das virtudes, porque o  amor investindo-as todas, as converte todas em si, tendo-as em si mesmo em repouso, como  tantas nobres princesas, trabalhando ele só e dando-lhes vida a todas, e enquanto a alma não as  alerta, no amor as encontra todas, porém mais belas, mais puras, mais perfeitas, mais enobrecidas,  e se a alma as alerta é sinal de que estão divididas do amor. Como por exemplo, um recebe uma  ordem, e a alma exercita a obediência por obedecer ao que dá a ordem para adquirir a virtude para  sacrificar a vontade própria, e tantas outras razões que pode haver; agora, fazendo assim se  adverte que se exercita a obediência, sente-se a fadiga, o sacrifício que leva consigo esta virtude.  Outra obedece, não por obedecer ao que dá a ordem, nem por outras razões, mas sabendo que  Deus se desgostaria por sua desobediência, vê Deus naquele que ordena, e por amor seu sacrifica  tudo e obedece. A alma não adverte que obedece, senão só que ama, porque só por amor obedeceu, senão teria desobedecido o mesmo, e assim por diante. Por isso, ânimo no caminho,  que quanto mais se caminha, tanto mais rápido saborearás a bem-aventurança eterna do único e  verdadeiro amor, mesmo daqui”.

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Outubro 18, 1905

O tudo está em aumentar o amor, e estar próximo de Jesus.

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu habitual estado, Jesus veio de improviso e disse-me:  (2) “Minha filha, que tolice, até nas coisas santas pensam em como contentar-se a si mesmos, se  nas coisas santas me fazem a um lado, onde encontrarei Eu um lugar nas ações de minhas  criaturas? Que engano! Enquanto o todo está em que as ações sejam precedidas pelo amor, em

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levá-las a cabo, reunir quanto mais coisas possa para aumentar o amor, e estar tão próximo a Mim  para beber da fonte de meu amor, para submergir tudo em meu amor. No entanto, que erro! Fazem  tudo de maneira diversa”.

(3) Disse isso e desapareceu.

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6-138

Outubro 20, 1905

A Justiça Divina converte o fogo do pecado em fogo de castigo.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, depois de ter esperado muito, assim que veio o  bendito Jesus, quase em ato de mandar castigos, disse-me:

(2) “Minha filha, o pecado é fogo, minha justiça é fogo. Agora, devendo minha justiça permanecer  sempre igual, sempre justa em seu agir, e não receber em si nenhum fogo profano, quando o  fogo do pecado quer unir-se ao seu, derrama-o sobre a terra, convertendo-o em fogo de  castigo”.

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6-139

Outubro 24, 1905

As misérias da natureza humana servem para reordenar nela a ordem de todas as  virtudes. 

(1) Considerando minha miséria, a debilidade da natureza humana, sentia-me um objeto  abominável a mim mesma, e imaginava como sou mais abominável diante de Deus, e dizia  entre mim: “Senhor, como se fez feia a natureza humana”. E vindo me disse:  (2) “Minha filha, nada saiu de minhas mãos que não seja bom, mas sim criei a natureza  humana bela, mas de aparência enganosa, e se a alma a vê desprezível, purulenta, débil,  abominável, isto serve à natureza humana como serve o esterco à terra, que quem não  entende de tudo diria: Louco aquele que suja o terreno com esta sujeira, enquanto que quem  entende que essa sujeira serve para fecundar a terra, para fazer crescer as plantas e fazer  mais belos e saborosos os frutos. Assim criei a natureza humana com estas misérias para  reordenar nela a ordem de todas as virtudes, de outra maneira ficaria sem o exercício das  verdadeiras virtudes”.

(3) Então via em minha mente a natureza humana como se estivesse toda cheia de buracos, e  nestes buracos estava o pus, a lama, e de dentro saíam ramos carregados de flores e frutos Por isso compreendia que tudo está no uso que fazemos dela, inclusive das mesmas misérias.  + + + +

78

Volume 06

6-140

Novembro 2, 1905

A alma deve uniformar-se à Divina Vontade, e a alma que 

se comporta deste modo, Jesus a faz viver d’Ele e n’Ele. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, estava muito afligida pela privação de meu  adorável Jesus, e estava dizendo: “Ah Senhor! Eu não quero outra coisa que a Ti, não encontro  outro contentamento mais que em Ti somente, e Tu me deixaste tão cruelmente?” Enquanto  dizia, saiu de dentro de mim e disse:

(2) “Ah! Isso mesmo, Eu sou apenas o seu contentamento, e eu encontro todo o meu  contentamento em você, então se eu não tivesse outro, você sozinha me faria feliz. Minha filha,  um pouco de paciência até que comecem as guerras, que depois nos colocaremos em ordem  como antes”.

(3) E eu, sem saber o que dizia, eu mesma, disse: “Senhor, faze-as começar”. Mas  rapidamente acrescentei: “Senhor, enganei-me”.

(4) E Ele: “Tua vontade deve ser a minha, nada deves querer, ainda que seja coisa santa, que  não seja uniforme à minha Vontade. No giro de minha Vontade quero que você gire sempre,  sem sair um instante, para poder te tornar dona de Mim mesmo; Eu quero a guerra, também  você. E com a alma que se comporta deste modo, Eu faço de meu Ser um círculo em torno  dela, de modo a fazê-la viver de Mim e em Mim”.

(5) E desapareceu.

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6-141

Novembro 6, 1905

Jesus em suas penas, sua finalidade era principalmente agradar 

em tudo e por todos ao Pai, e depois a redenção das almas. 

(1) Pensando na Paixão de Nosso Senhor, dizia entre mim mesma: Quanto gostaria de entrar  no interior de Jesus Cristo para poder ver tudo o que Ele fazia, e para ver o que mais agradava  a seu coração, para poder fazê-lo também eu e atenuar suas penas oferecendo-lhe o que Ele  mais gostava”. Enquanto dizia isto, o bendito Jesus movendo-se em meu interior me disse:

(2) “Minha filha, meu interior estava ocupado nas penas, principalmente a agradar em tudo e  por todos ao meu amado Pai, e depois na redenção das almas; e a coisa que mais agradava a

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Volume 06

meu coração ver a complacência que me mostrava o Pai ao me ver sofrer tanto por seu amor,  assim que tudo reunia em Si, nem sequer um respiro, um suspiro se dispersou, senão que tudo  recolheu para poder-se agradar e me mostrar sua complacência. E Eu estava tão satisfeito com  isso, que se não tivesse outra coisa, a simples complacência de meu Pai me bastava para  sentir-me satisfeito pelo que sofria; enquanto que por parte das criaturas, muito, muito da minha  Paixão ficou disperso. E tanta era a complacência do Pai, que a torrentes derramava em minha  Humanidade os tesouros da Divindade. Por isso acompanha minha Paixão desta maneira, que  me dará muito gosto”.

+ + + +

6-142

Novembro 8, 1905

A alma que se resigna à Divina Vontade chega a fazer de Deus seu alimento cotidiano.

(1) Tendo esperado muito, assim que Jesus veio me disse:

(2) “Minha filha, à alma que se resigna a minha Vontade, lhe sucede como a aquele que,  aproximando-se ao ver um belo alimento, sente o desejo de comê-lo, e estimulando o desejo  passa a desfrutar daquele alimento e convertê-lo em sua carne e em seu sangue. Se não  tivesse visto o belo alimento, não poderia vir o desejo, nem sentir o gosto, e continuaria a  permanecer em jejum. Assim é a resignação à alma, enquanto se resigna, na mesma  resignação descobre uma luz divina, e esta luz limpa a névoa que impede ver a Deus, e vendo

o, deseja gostar de Deus, e enquanto gosta Dele sente como se o comesse, de modo que o  sente tudo transformado em si ao mesmo Deus. Assim que disto se entende que o primeiro  passo é o resignar-se, o segundo é o desejo de fazer em tudo a Vontade de Deus, o terceiro  fazer dele seu alimento primoroso cotidianamente, o quarto é consumar a Vontade de Deus na  sua. Mas se não fizer o primeiro passo ficará em jejum de Deus”.

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6-143

Dezembro 12, 1905

A palavra de Deus é palavra fecunda que germina virtudes.

(1) Continuando o meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, quando a criatura opera o bem, parte dela uma luz que vai ao Criador, e esta  luz dá glória ao Criador da luz, e embeleza com uma beleza divina a alma”.  (3) Depois vi o confessor que tirava o livro escrito por mim para o ler, e junto estava Nosso  Senhor que dizia:

(4) “A minha palavra é chuva, e assim como a chuva fecunda a terra, assim o sinal para saber

Volume 06

81

se o que está escrito neste livro é chuva da minha palavra, é ver se é palavra fecunda que germina

virtudes.”

+ + + +

6-144

Dezembro 15, 1905

Jesus quis ser crucificado e levantado na cruz, para fazer com que as almas,

segundo o queiram, o encontrem.

(1) Continuando meu habitual estado, estava pensando na Paixão de Jesus bendito, e fazendo-se

ver crucificado me participava um pouco de suas dores dizendo-me:

(2) “Minha filha, quis ser crucificado e levantado na cruz para fazer que as almas, segundo me

queiram me encontrem. Então você me ama como um professor porque você sente a necessidade

de ser ensinada, e eu me abaixo para ensinar-lhe tanto as coisas pequenas como as mais altas e

sublimes para torná-la mais instruída. Outro gemido no abandono, no esquecimento, gostaria de

encontrar um pai, vem aos pés da minha cruz, e eu me faço pai lhe dando habitação em minhas

chagas, por bebida meu sangue, por alimento minhas carnes, e por herança meu mesmo reino.

Aquele outro está doente e me encontra médico, que não só o curo, mas dou-lhe os remédios

seguros para não cair mais nas enfermidades. Este outro está oprimido por calúnias, por

desprezos, e aos pés da minha cruz encontra o seu defensor, até lhe mudar as calúnias, os

desprezos, em honras divinas; e assim por diante, assim quem me quer juiz encontra-me juiz,

quem amigo, quem esposo, quem advogado, quem sacerdote, assim me acham. Por isso quis ser

cravado de mãos e pés, para não me opor a nada do que querem, para fazer-me como querem;

mas, ai! de quem, vendo que Eu não posso me mover, nem mesmo um dedo, se atrevem a me

ofender”.

(3) Enquanto dizia isto eu disse: “Senhor, quem são os que mais te ofendem?” E Ele acrescentou:

(4) “Aqueles que mais me fazem sofrer são os religiosos, os quais vivendo em minha Humanidade

me atormentam e dilaceram minhas carnes em minha mesma Humanidade; enquanto quem vive

fora de minha Humanidade, me lacera de longe”.

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6-145

Janeiro 6, 1906

A oração é música ao ouvido de Jesus, especialmente se é de uma

alma uniformada à sua Vontade.

(1) Continuando o meu habitual estado, assim que veio o meu bendito Jesus e no ato em que

estava orando, me estremeceu disse:

Volume 06

82

(2) “Minha filha, a oração é música ao meu ouvido, especialmente quando uma alma está toda

uniformada à minha Vontade, de modo que não se adverte em todo seu interior mais que uma

contínua atitude de vida de Vontade Divina. Esta alma é como se saísse outro Deus e me fizesse

esta música, oh! como é agradável encontrar quem me pague com a mesma moeda e possa dar-

me a honras divinas. Só quem vive em meu Querer pode chegar a tanto, porque todas as demais

almas, embora fizessem e orassem muito, serão sempre coisas e orações humanas as que farão,

não divinas, por isso não terão aquela potência e aquela atração a meu ouvido”.

+ + + +

6-146

Janeiro 14, 1906

Jesus forma a sua imagem na luz que sai da alma.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse:

(2) “Filha minha, Eu não estou contente quando saem da alma reflexos de luz, quero que seja luz o

pensamento, luz a palavra, luz o desejo, luz as obras, luz os passos, e estas luzes unidas formam

um sol, e neste sol vem formada toda minha imagem, e isto acontece quando faz tudo, tudo por

Mim, torna-se toda luz, e assim como quem quer entrar dentro da luz solar não encontra obstáculo

para poder entrar, assim Eu não encontro obstáculo neste sol que a criatura formou de todo seu

ser; em troca, em quem não é toda luz encontro muitos impedimentos para formar minha imagem”.

+ + + +

6-147

Janeiro 16, 1906

Quem vive no ambiente da Vontade Divina está no porto de todas as riquezas.

(1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo veio meu bendito Jesus e me disse:

(2) “Na verdade ninguém pode resistir, nem o homem pode dizer que não é verdade; por quanto

mau e estúpido não pode alguém dizer que o branco é negro, e que o negro é branco, que a luz é

trevas, e que as trevas são luz; só que quem a ama a abraça e a põe em ação, e quem não a ama

fica perturbado e atormentado”.

(3) E como relâmpago desapareceu, e pouco depois voltou e acrescentou:

(4) “Minha filha, quem vive no ambiente da minha Vontade está no porto de todas as riquezas, e

quem vive fora deste ambiente da minha vontade está no porto de todas as misérias, por isso se

diz no Evangelho que a quem tem lhe será dado, e a quem não tem lhe será tirado aquele pouco

que tem, porque quem vive na minha vontade, estando no porto de todas as riquezas, não é

maravilha que se irá enriquecendo sempre mais com todos os bens, porque vive em Mim como em

Volume 06

83

sua própria casa, e Eu, tendo-o em Mim, acaso serei avarento? Não lhe vou dar dia a dia, agora

um favor, ora outro, e nunca deixarei de lhe dar até, que não lhe tenha participado todos os meus

bens? Sim, certamente, ao contrário, quem vive no porto das misérias, fora de minha Vontade, já

por si mesma a própria vontade é a maior das misérias e a destruidora de todo bem, que maravilha

então que se tem um pouco de bem, não tendo contato com minha Vontade e vendo-o inútil

naquela alma lhe seja tirado?”

Deo Gratias.

Nihil obstat

Canonico Hanibale M. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo

Outubro 1926

O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS

LIVRO

DO

CÉU

A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual  foram criadas por Deus. 

Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para  distribuição gratuita 

Volume 07

NIHIL OBSTAT

Beato Annibale M. Di Francia.

12 Outubro de 1926

IMPRIMATUR  Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo,

Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie  Italia  16 Outubro 1926

Imprima-se

Arcebispado de Guadalajara Jal.,

23 de novembro de 2010

Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez

Vigario Geral

Queremos consagrar este livro e os frutos 

que possam resultar de sua leitura, 

à nossa Mãe Santíssima, 

a Rainha do reino da Divina Vontade 

 

1

  1. M. I.

7-1 

Janeiro 30, 1906

A constância ordena tudo. 

(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, como é necessário que a alma seja constante em fazer o bem que  começou, porque se bem tem princípio, mas não terá fim, e não tendo fim é necessário que uniforme-se aos modos do Eterno Deus. Deus é justo, é santo, é misericordioso, é Aquele  que contém tudo, mas talvez por um só dia? Não, sempre, sempre, assim a alma não deve  ser um dia paciente, humilde, obediente, e outro dia impaciente, soberba, caprichosa. Estas  são virtudes quebradas, é um misto negro e branco, luz e trevas, tudo é desordem, tudo é  confusão, modos todos diferentes dos de seu Criador. Em tais almas há guerra contínua,  porque as paixões lhe fazem guerra, porque vendo-se nutridas freqüentemente esperam  que a vitória seja delas; guerra por parte dos demônios, das criaturas e ainda por parte das  mesmas virtudes, as que vendo-se desiludidas lhe fazem guerra encarniçada e terminam  com nauseara, e se se salvam estas almas, oh! quanto terá de trabalhar o fogo do  purgatório. Ao contrário, para a alma constante tudo é paz, já a simples constância faz com  que tudo esteja em seu posto, as paixões se sentem morrer, e quem é aquele que estando  próximo a morrer pensa em fazer guerra a alguém? A constância é espada que põe tudo em  fuga, é cadeia que ata todas as virtudes, de modo que se sente acariciada continuamente  por elas, e o fogo do purgatório não trabalhará nada porque a constância ordenou tudo e a  fez similar aos modos do Criador”.

+ + + +

7-2 

Fevereiro 9, 1906

A união de nossas ações com as de  

Jesus é garantia de salvação.

(1) Continuando meu habitual estado, vi a sombra do bendito Jesus, todo aflito e quase  em ato de mandar castigos. Eu ao vê-lo disse: “No modo como está, quem poderá salvar-se,  não só dos castigos, mas também da própria salvação?” E Ele, mudando aspecto disse:

(2) “Minha filha, a união das obras humanas com as minhas é garantia para salvar-se,  porque se duas pessoas trabalham num mesmo terreno, o trabalho naquele terreno é  garantia de que ambas deverão colher; assim quem une suas obras com as minhas, é como  se trabalhasse em meu terreno, portanto não deveria colher no meu reino? Talvez você  deva trabalhar junto Comigo em meu terreno, e você deve colher em um reino estranho a  Mim? Ah, certamente não!”

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1Este livro foi traduzido do espanhol.

7-3 

Fevereiro 12, 1906

As virtudes nos fazem chegar a certa altura. 

Na Divina Vontade não há limites. 

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me toda oprimida pela privação de  meu bendito Jesus, então, quando veio me disse:

(2) “Minha filha, todas as virtudes nas criaturas fabricam um muro de determinada  altura, mas o muro da alma que vive na Vontade de Deus é um muro tão alto e profundo,  que não se encontra nem a profundidade, nem a altura, e é todo de ouro puro e maciço,  não sujeito a nenhum infortúnio, Porque estando este muro no Divino Querer, isto é, em  Deus, o próprio Deus o conserva, e contra Deus não há poder que valha, e a alma,  enquanto vive neste Querer Divino, é revestida por uma luz toda semelhante à daquele  em que vive, tanto, que até no Céu resplandecerá mais que todos os outros e será para  os mesmos santos ocasião de maior glória. ¡ Ah! Minha filha, pense um pouco que  ambiente de paz, de bens contém a única palavra: “Vontade de Deus”, a alma, com o  único pensamento de querer viver neste ambiente, já se sente mudada, sente um ar divino  que a investe, sente perder seu ser humano, sente-se divinizada; de impaciente se torna  paciente; de soberba, humilde, dócil, caritativa, obediente; em suma, de pobre se faz rica;  todas as outras virtudes surgem para fazer coroa a este muro tão alto que não tem  confins; porque Deus não tem confins, a alma fica perdida em Deus e perde seus próprios  confins e adquire os confins da Vontade de Deus”.

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7-4 

Fevereiro 23, 1906

Como Jesus ficou pregado na cruz na Vontade do Pai. 

(1) Esta manhã estava pensando em Nosso Senhor, no momento em que o pregavam  na cruz e o estava compadecendo, e o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, não foram só as mãos e os pés que foram pregados na cruz, mas todas  as partículas de minha Humanidade, da alma e da Divindade ficaram todas cravadas na  Vontade do Pai, porque a crucificação foi Vontade do Pai, por isso fiquei todo, em sua

Vontade, pregado e transmutado, isto era necessário porque que coisa é o pecado senão  um retirar-se da Vontade de Deus, de tudo o que é bom e santo que Deus nos deu, crer  por si mesmo algo, e ofender ao mesmo Criador? E Eu para reparar esta audácia e este  ídolo próprio que se faz a criatura de si mesma, quis perder de todo a minha vontade e  viver da Vontade do Pai, à custa de grande sacrifício”.

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7-5 

Fevereiro 28, 1906

A maior honra que a criatura pode dar a Deus é  

depender em tudo de sua Vontade Divina. 

Modo como a Graça se comunica. 

(1) Esta manhã, o bendito Jesus assim que se fez ver me disse:

(2) “Minha filha, a maior honra que a criatura pode dar a Deus como Criador, é a de  depender em tudo de sua Vontade Divina, e o Criador vendo que a criatura faz seu dever  de criatura para com o Criador, comunica-lhe sua Graça”.

(3) E enquanto dizia isto, saía uma luz de Jesus bendito e fazia-me compreender o  modo como comunica a Graça. E eu compreendia assim: que a alma, por exemplo, sente  nela um aniquilamento de si mesma, vê seu nada, sua miséria, inabilitada para fazer nem  sequer uma sombra de bem, agora, enquanto se sente neste estado, Deus comunica sua  Graça, e a Graça da verdade, Assim que a alma descobre em toda a verdade sem  engano, sem trevas, e então o que Deus é por natureza: Verdade Eterna, que não pode  enganar, nem ser enganada, a alma o torna por Graça, ou seja, a alma sente um  desapego das coisas da terra, vê sua fugacidade, sua instabilidade, vê como tudo é falso,  toda podridão, que merecem ser aborrecidas em vez de amadas. Deus enquanto a alma  se sente neste estado, comunica sua Graça, e a Graça do verdadeiro amor e do amor  eterno; comunica sua beleza, de tal modo que faz enlouquecer a alma amante, e a alma  fica cheia do amor e da beleza de Deus, e então o que Deus é por natureza: Amor e  beleza eterna, a alma o torna por Graça, e assim de todas as outras virtudes divinas,  Porque se eu quisesse dizer tudo seria muito longo. Só acrescento que a Graça previne a  alma, a excita, mas só se comunica e entra a tomar posse quando a alma mastiga essas  verdades e como alimento as engole, por isso nem todos recebem os efeitos ditos acima,

Porque como relâmpagos, deixam-nos fugir da mente e não lhes fazem um lugar.

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7-6 

Março 4, 1906

Uma brincadeira de Jesus. 

(1) Continuando meu habitual estado, estava dizendo interiormente: “Senhor, me  manifeste tua Vontade, se devo ou não estar neste estado. O que você perde em me dizer  sim ou não?” Enquanto isso dizia o bendito Jesus se fez ouvir em meu interior e me disse:

(2) “Minha filha, digo que quero que saias deste estado de vítima, mas se o fizeres, ai  de ti!”

(3) E eu: “Se você mesmo me diz que quer que eu saia, não devo?

(4) E Ele: “Devo dizer-te, empurrar-te, agredir-te, e não deves fazê-lo, porque uma filha  que está sempre com seu pai deve conhecer o temperamento do pai, o tempo, a causa;  deve ponderar bem tudo, e se for necessário deve dissuadir o próprio pai de lhe dar  aquela ordem”.

(5) E eu: “Não o fiz porque a obediência não quer”.

(6) E Ele sem me dar tempo: “E se te permite, pobre daquele que o faça!” (7) Ao ouvir isto, disse: “Senhor, parece que desta vez queres tentar-me e causar-me  tanta perturbação; Eu mesma já não sei o que devo fazer”.

(8) E ele: “Quis brincar um pouco contigo; Os esposos nunca brincam uns com os  outros,? e eu não posso fazer o mesmo?”

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7-7 

Março 5, 1906

Jesus pede que o console. Vê um homem a suicidar-se. 

(1) Continuando meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, junto com o  menino Jesus todo aflito. Eu ao vê-lo tão aflito disse: “Meu querido, diz-me o que queres? Por que está sofrendo? Para poder te aliviar”. Então Ele se pôs com o rosto em terra e

rezava para que eu pudesse interpretar Sua Vontade, mas eu não entendia nada;  Levantei-o da terra, beijei-o muitas vezes e disse: “Amado meu, não entendo que coisa  queres, queres que sofra a crucificação?”

(2) E Ele: “Não”.

(3) E ele pegou no meu braço na mão dele e desatou-me o punho da camisa, e eu vi  isto e disse: “Queres que o meu braço seja descoberto? Sinto muita pena, mas por seu  amor me submeto”.

(4) Enquanto fazia isto, via um homem que, levado pelo desespero e pela auto-estima,  se suicidava, e isto na nossa cidade. Então o menino me disse:

(5) “Não posso conter tanta amargura, receba sua parte”.

(6) E derramou em minha boca um pouco de sua amargura. Eu corri até aquele homem  para ajudá-lo a se arrepender do mal que tinha feito, os demônios pegavam aquela alma e  a jogavam no fogo, a viravam e a viravam como se a estivessem assando. Eu por duas  vezes a libertei, e me encontrei em mim mesma rogando ao Senhor que usasse sua  misericórdia com aquela desventurada alma. O bendito Jesus regressou com a coroa de  espinhos e tão encaixada na cabeça, que os espinhos pareciam que estavam até na boca,  e me disse:

(7) “Ah! Minha filha, muitos não acreditam, que os espinhos penetraram até dentro da  boca. É tão feio o pecado da soberba, que é veneno para a alma e o que a mata; assim  como quem tem uma coisa atravessada na boca, e esta lhe impede que tome algum  alimento para dar vida ao corpo; assim a soberba impede a Vida de Deus na alma; por  isso quis sofrer tanto pela soberba humana; e com tudo isso, a criatura chega a tanta  soberba, que ébria de soberba perde o conhecimento de si mesma e chega a matar seu  corpo e sua alma”.

(8) Digo isto para obedecer: Que tendo dito ao pai o que está escrito acima, assegurou me que esta manhã um homem se tinha suicidado”.

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7-8 

Março 9, 1906

Vê as almas purgantes irem em socorro dos povos. 

(1) Continuando meu habitual estado, vi o bendito Jesus e muitas almas purgantes que

Jesus Cristo mandava em ajuda dos povos, nos quais parecia que deviam acontecer  muitas desgraças de doenças contagiosas, em algum lugar terremotos; além disso, quem  se suicidava, quem se atirava nos poços, nos mares, e quem matava a outros, parecía que o homem estava cansado de si mesmo, porque sem Deus não sente a força de  continuar a vida. Oh Deus, quantos castigos e quantos milhares de pessoas serão vítimas  destes flagelos!

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7-9 

Março 13, 1906

Se a alma não pode estar sem Jesus,  

é sinal que ela é necessária ao seu  

amor. 

(1) Esta manhã, o bendito Jesus não vinha, e eu dizia entre mim: “Senhor, não vês  como sinto que me falta a vida? Sinto tanta necessidade de Ti, que se Tu não vens sinto  que se destrói meu ser, não me negues o que me é absolutamente necessário; Não te  peço beijos, carícias, favores, mas só o que me é de necessidade”. Enquanto dizia isto,  encontrei-me toda absorvida nele, de tal maneira perdido todo o meu ser, que não podia  fazer nem ver outra coisa que o que fazia e via Ele mesmo. Sentia-me feliz, feliz, todas as  minhas potências adormecidas, como um que vai ao fundo do mar, onde tudo é água, e  se faz por olhar, olha a água; se fala, a água lhe impede a palavra e lhe entra até as  vísceras; se quer ouvir, só o murmúrio das águas lhe entra pelas orelhas, com esta  diferença, que no mar há perigo de perder a vida, e não se sente nem ditosa nem feliz, ao  contrário em Deus readquer a Vida Divina, a felicidade e bem-aventurança. Então o  bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, se tu não podes estar sem Mim, e tanto te sou necessário, é sinal de  que tu és necessária ao meu amor, porque segundo um se torna necessário a outro, é  sinal que aquele é necessário ao outro; por isso, se alguma vez parece que não devo vir e  tu te cansas, e vejo a necessidade que tens de Mim, e conforme cresce em ti a  necessidade, cresce também em Mim, e digo entre Mim: Vou a ela a tomar este alívio a  meu Amor, e é por isso que depois de que te cansaste, Eu venho”.

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7-10 

Abril 17, 1906

Deus armará os elementos contra o homem.

(1) Esta manhã passei mal, me encontrava fora de mim mesma e não via outra coisa que  fogo, parecia que se abria a terra e ameaçava engolir cidades, montes e homens, era  como se o Senhor quisesse destruir a terra, mas em modo especial em três diferentes  pontos, um distante do outro, e um destes na Itália; pareciam três bocas vulcânicas, que  alguma fazia sair fogo e inundava as cidades, e onde se abria a terra e sucediam horríveis  sacudidas de terremotos; eu não entendia bem se estava acontecendo agora ou deverá  acontecer no futuro. Quanta ruína, e a causa de tudo isto é unicamente o pecado, e o  homem não quer render-se, parece que se pôs contra Deus, e Deus armará os elementos  contra o homem, a água, o fogo, o vento e tantas outras coisas, e estes farão morrer  muitíssimas . ¡ Que horror, que horror! Sentia-me morrer ao ver todas estas cenas  dolorosas, tivesse querido sofrer qualquer coisa para aplacar o Senhor. Então Ele se fez  ver, mas, quem pode dizer como? Disse-lhe alguma coisa para o acalmar, mas não me  prestava atenção e depois disse-me:

(2) “Minha filha, já não encontro onde repousar na minha criação. Faze-me repousar em Ti e  Tu, levanta-te em Mim e cala-te”.

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7-11

Abril 25, 1906

Sofre juntamente com Jesus. Ele dá-lhe todos os seus sofrimentos 

e todo o Si mesmo em dom 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, parecia-me ver meu bendito Jesus todo aflito  dentro de mim, no momento de sofrer a crucificação, e parecia que eu sofria um pouco junto  com Ele, e depois me disse:

(2) “Minha filha, tudo é teu: Os meus sofrimentos, e todo eu mesmo, te faço dom de tudo”.  (3) Depois acrescentou: “Minha filha, quanto me fazem as criaturas, que têm sede de pecados,  que sede de sangue! ; não gostaria de fazer outra coisa senão abrir as entranhas da terra e  incendiá-los a todos”.

(4) E eu: “Senhor, que dizes? Disseste-me que és todo meu, e um que se dá a outro já não é

dono de si mesmo; eu não quero que faças isto, e Tu não deves fazê-lo. Se queres satisfação

de mim, faz-me sofrer o que quiseres, estou disposta a tudo”.

(5) Então senti-o dentro de mim como se o tivesse atado, e Ele repetia-me várias vezes:  (6) “Deixa-me fazer porque não posso mais, deixa-me fazer porque não posso mais!”  (7) E eu repetia: “Não quero Senhor, não quero” Mas enquanto dizia isso, sentia que meu  coração se partia de ternura ao ver sua bondade tão condescendente para com uma alma  pecadora como eu sou. Compreendia tantas coisas da bondade divina, mas não sei dizê-las  bem.

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7-12

Abril 26, 1906

Jesus não lhe permite ver os castigos para não a afligir.

(1)Continuando meu pobre estado, sentia que havia algumas pessoas ao redor de minha cama  que queriam que eu visse os castigos que estavam acontecendo no mundo, isto é: terremotos,  guerras e outras coisas mais que eu não entendia bem, para que implorasse ante o Senhor;  Achei que eram santos, mas não sei dizer com certeza. Enquanto estava nisto saiu de dentro  de mim o bendito Jesus, e lhes disse:

(2) “Não me incomodem, não a aflijam com querer lhe fazer ver cenas dolorosas, mas bem  façam que esteja tranqüila, e deixem-na em paz Comigo”.

(3) Elas se foram e eu fiquei pensando: Quem sabe o que está acontecendo, e nem sequer  quer que eu o veja? Depois me encontrei fora de mim mesma e via a um sacerdote que falava  dos terremotos que haviam acontecido nos dias passados e dizia “O Senhor está muito  indignado, creio que ainda não terminaram os castigos”.

(4) E eu: “Quem sabe se seremos perdoados?” E ele, avivando-se, parecia que o coração lhe  batia tão forte que eu o ouvia, e esses batimentos repercutiam no meu coração; eu não  compreendia quem era, sentia-me comunicar-me não sei o quê, e aquele disse:  (5) “Como podem acontecer coisas graves de ruína, de morrer pessoas, onde há um coração  que ama por todos? No máximo você pode sentir alguma agitação, mas sem dano notável”.  (6) Eu, ao ouvir “um coração que ama por todos”, me senti como zangada, e eu mesma não sei  dizer como é que disse: “O que diz, um coração que ama por todos? Não só que ama por todos,  mas repara por todos, que sofre, que agradece, que louva, que adora, que respeita a santa lei  por todos; porque eu não considero verdadeiro amor pela pessoa amada se não lhe der todo o  amor e toda a satisfação que todos os outros lhe deveriam dar, de modo que nessa pessoa  possa encontrar todo o bem e o contentamento que deveria encontrar em todos”.  (7) Ele, ao me escutar, mais se acendia, aproximava-se querendo me estreitar; eu temia, sentia  vergonha por ter falado assim; meu coração batido por seus batimentos batia forte. Então

parecia que Ele se transformava como se fosse Nosso Senhor, mas não sei dizer com certeza.  E, sem poder opor-me, limitou-me a Si, dizendo-me:

(8) “Todas as manhãs virei ter contigo e tomaremos o café da manhã juntos”.  (9) Enquanto eu estava nisto encontrei-me em mim mesma.

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7-13

Abril 29, 1906

A alma vazia de tudo é como a água que corre sempre. 

(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus, enchendo todo meu  interior de Si mesmo me disse:

(2) “Minha filha, a alma vazia é como a água que corre sempre, e só se detém quando chega ao  centro de onde saiu; e assim como a água que não tem cor pode receber em si todas as cores  que nela se reflitam assim a alma vazia, corre sempre para o centro divino de onde saiu, e só  se detém quando chega a encher-se toda, toda de Deus, porque estando vazia nada lhe escapa  do Ser Divino, e como não tem cor própria recebe em si todas as cores divinas. Agora, só a  alma vazia, porque está vazia de tudo, compreende as coisas segundo a verdade, por exemplo:  a preciosidade do sofrer, o verdadeiro bem da virtude, a única necessidade do eterno, porque  para amar uma coisa é de absoluta necessidade que se odeie a coisa contrária à que se ama, e  só a alma vazia é a que chega a tanta felicidade.

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7-14

Maio 4, 1906

Temores e lágrimas da alma. Jesus lhe pede que seja mais precisa no escrever. (1) Estava muito aflita por não ter visto claramente a meu adorável Jesus, com o agregado de  que o pensamento me dizia que Jesus, Aquele que é minha vida, já não me amava. Oh Deus,  que pena mortal sentia meu pobre coração, não sabia o que fazer para me libertar disto!  Derramei lágrimas amargas, e para me libertar disse: “Não me ama mais, mas a despeito de

que Ele não me ama mais, o amarei mais que antes”. Escrevi isto para obedecer. (2) Depois de muito esperar veio e punha minhas lágrimas sobre seu rosto; eu não entendia  bem o porquê, mas me parecia que como aquele pensamento me tinha estimulado e quase  empurrada a amá-lo de mais, Ele condescendendo por isso me disse:

(3) “Como, não te amo? Amo-te tanto, que até das tuas lágrimas levo conta, e as levo sobre o  meu rosto para a minha alegria”.

(4) Depois acrescentou: “Minha filha, quero que seja mais precisa, mais exata, que manifeste

tudo ao escrever, porque muita coisa as omite, embora você as tome sem escrever, mas muitas  servirão para os demais”.

(5) Eu ao ouvir isto fiquei confusa, porque certamente o faço, mas é tanta a repugnância de  escrever, que só os milagres que sabe fazer a obediência podem me vencer, porque de minha  vontade não seria boa para escrever nem sequer uma vírgula.

(6) Seja tudo para glória de Deus e para minha confusão.

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7-15

Maio 6, 1906

Deus é alimento e vida da alma. 

(1) Continuando meu habitual estado, veio o bendito Jesus com um pão na mão, como se me  quisesse fortalecer, porque por suas contínuas privações me sinto tão mal, que parece que só  um fio de vida me mantenha viva, e que debaixo deste fio ficaria incinerada e consumida.  Depois de me ter fortificado com aquele pão, disse-me:

(2) “Minha filha, assim como o pão material é alimento e vida do corpo, e não há partícula do  corpo que não receba vida deste pão, assim Deus é alimento e vida da alma, e não deve haver  partícula que não tome vida e alimento de Deus, isto é, animar a si mesmo somente Deus,  como nutrir seus desejos em Deus, os afetos, as inclinações, o amor, fazê-los tomar vida e  alimento em Deus, de modo que nenhum outro alimento lhe fosse agradável, somente Deus  apenas, mas oh, quantos fazem que suas almas se alimentem de toda sorte de porcarias!”

(3) Dito isto desapareceu e encontrei-me dentro de uma igreja, e parecia que várias pessoas  diziam: “Maldito, maldito! Como se quisessem amaldiçoar ao Senhor bendito, e também às  mesmas criaturas. Eu não sei como compreendia todo o peso dessas maldições, como se  significassem destruição de Deus e deles mesmos, e eu chorava amargamente por estas  maldições. Depois via no altar um sacerdote que celebrava que, indo no meio daqueles que  tinham proferido tais maldições, com voz solene e com autoridade, disse: “Maledicti, maledicti!” Ele disse isso pelo menos por uma vintena de vezes ou mais, e enquanto dizia isso, parecia  que milhares e milhares de pessoas caíam mortas, quem por revolução, quem por terremotos,  quem no fogo e quem na água, e parecia-me que estes castigos eram precursores das  próximas guerras. Eu chorava, e Ele, aproximando-se de mim, me disse:

(4) “Minha filha, não temas, a ti não te amaldiçoo, antes te digo: “Bendita mil e mil vezes!” “Chora e reza por estes povos”.

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7-16

Maio 7, 1906

Jesus não quer sair do interior de Luísa. 

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, via o bendito Jesus dentro de mim e dizia-lhe: “Meu  amado, sai daí, vem para fora, para que te possa estreitar, beijar e falar contigo”. E Ele me  fazendo um sinal com a mão me disse:

(2) “Minha filha, não quero sair, estou bem em ti, porque se sair de tua humanidade, sendo que a  humanidade contém ternura, compaixão, debilidade, temor, seria como se saísse de dentro de  minha Humanidade vivente, e ocupando você o mesmo ofício meu de vítima, deveria fazer-te  sentir o peso das penas dos demais, e portanto perdoar-lhes em parte. Sairei, sim, mas não de

dentro de ti, mas fora de Deus, sem Humanidade e a minha justiça fará o seu curso como  convém para punir as criaturas”.

(3) E parecia que mais se adentrava, e eu lhe repetia: “Senhor, sai, perdoa em parte a teus  filhos, teus mesmos membros, tuas imagens”. E Ele acenando com a mão repetia:  (4) “Não saio, não saio”.

(5) Ele repetiu isso mais e mais vezes. Me comunicou-me tantas coisas do que contém a  humanidade, mas não sei dizê-las, as tenho na mente e não posso explicá-las com palavras. Eu  não queria escrever isso, mas a obediência quis. Fiat, sempre Fiat.

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7-17

Maio 15, 1906

A alma é como uma esponja, que se se exprime a si mesma, se impregna de Deus.

(1) Continuando meu habitual estado, sentia uma extrema aflição pela privação do bendito  Jesus, cansada e quase extenuada de forças. Agora, assim que se fez ver em meu  interior me disse:

(2) “Minha filha, o que a alma deve fazer é um contínuo espremer-se a si mesma, porque  a alma é como uma esponja, se espreme a si mesma e se impregna de Deus, e  embebendo-se de Deus sente a Vida de Deus em si mesma, e por isso sente o amor à  virtude, sente tendências santas, sente-se vazia de si mesma e transformada em Deus, e

se não se exprime a si mesma fica impregnada de si mesma, e portanto sente todos os  efeitos que contém a corrupta natureza, todos os vícios aparecem na cabeça. A soberba,  a inveja, a desobediência, a impureza, etc, etc”

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7-18

Maio 18, 1906

A alma sofre enquanto Jesus repousa.

(1) Estava sofrendo tanto na alma e no corpo, que eu mesma não sei como é que vivo, então vi  em meu interior o bendito Jesus que repousava e dormia tranquilamente; eu o chamava, o  puxava, mas Ele não me prestava atenção. Depois de muito esperar me disse:  (2) “Minha querida, não queiras perturbar o meu repouso, não me disseste que queres sofrer em  meu lugar, e que queres sofrer em tua humanidade tudo o que eu devia sofrer na minha se  estivesse vivo, tentando confortar meus membros sofredores com teus sofrimentos, Você está  sofrendo para me deixar livre? Por isso enquanto você sofre Eu repouso”.  (3) E enquanto isso dizia, dormiu mais profundamente, e desapareceu. Isto que me disse são as  minhas contínuas intenções nos sofrimentos.

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7-19

Junho 13, 1906

A alma, para ser mais amada pelo seu sumo e único Bem, faria qualquer coisa.  

(1) Passo-a sempre em contínuas privações, no máximo faz-se ver por instantes, ou em meu  interior descansando e dormindo, sem me dizer uma palavra, e se faço por lamentar-me  desinteressa dizendo-me:

(2) “Injustamente se lamenta, é a Mim ao que quer? E bem, me tens no íntimo de teu interior,  que mais queres? Ou então, se me tens tudo em ti, por que te afliges? Ou se é porque não te  falo, só de me ver já nos entendemos”. Ou a tira com um beijo, com um abraço, com uma carícia;  e se vê que não me tranquilizo repreende-me severamente dizendo-me:

(3) “Só me desagrada teu desagrado, se não te tranquilizas te farei desagradar de verdade.” “Escondendo-me de tudo”.

(4) Quem pode dizer a amargura da minha alma? Sinto-me uma idiota e não sei dizer o que  sinto, e além disso, em certos estados de espírito é melhor calar-me e seguir em frente. Esta  manhã, quando o vi, senti-me transportaAo para fora de mim, e não sei dizer bem se fosse o  paraíso, estavam muitos santos, todos queimados de amor, mas o espantoso era que todos  amavam, mas o amor de um era diferente do amor do outro; eu, encontrando-me com eles  tentava distinguir-me e superá-los a todos no amor, querendo ser a primeira de todos a amá-lo,

não suportando meu coração, muito orgulhoso, que os demais me igualassem, porque me  parecia ver que quem mais ama está mais perto de Jesus, e é mais Amado por Ele. Por Ele, por  Deus! A alma chegaria a todos os excessos, não tomaria em conta nem vida nem morte, nem  pensa se lhe convém ou não, em suma, faria até loucuras para obter esta tentativa, de estar  mais perto Dele e de ser amada um pouquinho a mais por seu sumo e único Bem. Mas com meu  maior pesar, depois de breve tempo, uma força irresistível me levou a mim mesma.

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7-20

Junho 15, 1906

Toda a Vida Divina recebe vida do amor.

(1) Depois de ter esperado muito, meu bendito Jesus veio como relâmpago e me disse:  (2) “Minha filha, toda a Vida Divina, pode-se dizer que recebe vida do amor: O amor a faz gerar,  o amor a faz produzir, o amor a faz criar, o amor a faz conservar e dá contínua vida a todas suas  operações, assim se não tivesse amor, não agiria e não teria vida. Agora, as criaturas não são  outra coisa que faíscas saídas do grande fogo de amor Deus, e sua vida recebe vida e atitude de  obrar desta faísca, assim que também a vida humana recebe vida do amor; mas nem todos se  servem dela para amar, para obrar o belo, o bom, para todo o seu agir, mas transformando esta  faísca usam-na: Quem para amar a si mesmo, quem às criaturas, quem às riquezas, e quem até  às bestas, tudo isto com grande desagrado do seu Criador, que tendo feito sair estas faíscas de  seu grande fogo, anela recebê-las todas de novo em Si, mas mais engrandecidas, como tantas  outras imagens de sua Vida Divina. Poucos são aqueles que correspondem à imitação de seu  Criador. Por isso amada minha ame-me e faça que também sua respiração seja um contínuo ato  de amor para Mim, para fazer que desta faísca se possa formar um pequeno incêndio, e assim  desafogar ao amor de seu Criador”.

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7-21

Junho 20, 1906

Tudo deve ser reduzido a um único ponto, isto é: tornar-se tudo uma chama. (1) Sentia-me muito sofredor de alma e de corpo, e tendo passado a noite com febre me sentia  queimar e consumir, e toda sem forças me sentia morrer, com o agregado de que Jesus não  vinha, verdadeiramente não podia mais. Agora, depois de muito me senti sair fora de mim  mesma, e via Nosso Senhor dentro de uma luz grandíssima, e a mim mesma toda pregada, até  as mais pequenas partículas de meus membros, assim que não eram só as mãos e pés como  outras vezes, senão que cada um de meus ossos tinha seu prego metido dentro. Oh! Quantos  acerbos dores eu sentia, a cada pequeno movimento me sentia dilacerar por aqueles pregos e

desfalecia, e de vez em quando me sentia morrer, mas resignada e abismada no Divino Querer,  o qual me parecia que fosse uma chave que abria os tesouros divinos para tomar a força para  me sustentar naquele estado de sofrimento, até voltar-me contente e feliz; porém eu me  queimava e estes pregos pareciam que produziam fogo, e eu estava submersa neste fogo. O  bendito Jesus me via e parecia que se comprazia por meu estado, e me disse:

(2) “Minha filha, tudo deve reduzir-se a um só ponto, isto é: chegar a ser todo uma chama, e  desta chama cernida, prensada, golpeada, sai uma luz puríssima, não como luz de fogo mas de  sol, toda semelhante à luz que me circunda, e a alma convertida em luz não pode estar longe da  luz divina, mas sim minha luz a absorve em si mesma e a leva ao Céu. Por isso ânimo, é a  completa crucificação de alma e corpo; não vês que tua luz já está por sair da chama, e minha  luz a espera para absorvê-la?”

(3) Enquanto dizia isto, eu me olhei e via dentro de mim uma chama grande, e desta saía um  pequeno raio de luz que estava por separar-se e empreender o vôo. Quem pode dizer minha  felicidade? Ante o pensamento de morrer, o pensamento de estar sempre com meu único e  sumo Bem, com minha vida, com meu centro, sinto-me no paraíso antecipadamente.

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7-22

Junho 22, 1906

Veste misteriosa semelhante a de Jesus. 

(1) Continuando meu estado de sofrimento, o bendito Jesus veio por pouco tempo e me fez ver  um vestido todo adornado, sem costura nem abertura, que estava suspenso sobre minha  pessoa. Ao ver isto, disse-me:

(2) “Amada minha, esta veste é semelhante à minha, que te foi comunicada por teres participado  das penas da minha Paixão, e por te ter escolhido como vítima. Este vestido cobre, protege o  mundo, e sendo sem costura nem abertura nenhum escapa de sua proteção, mas o mundo com  seus abusos não merece mais que este vestido o cubra, e assim fazê-los sentir todo o peso da  ira divina. E eu estou a ponto de trazê-la para poder desafogar minha justiça há muito tempo  contida por esta vestidura”.

(3) Enquanto estava nisto, parecia que a luz que havia visto em dias passados estava dentro  desta vestidura, e o Senhor esperava uma e a outra para absorvê-las em Si mesmo.

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7-23

Junho 23, 1906

A obediência a faz continuar vivendo no mundo como vítima.

(1) Continuando a sentir-me mal havia dito ao confessor o que escrevi antes, calando algumas  coisas que correspondem à mesma coisa, parte pela debilidade extrema que sentia, não tendo  forças para falar, e parte por temor de que a obediência pudesse me colocar alguma armadilha.  Oh! Deus Santo, que temor, só Deus sabe como vivo, vivo morrendo continuamente, e meu  único consolo seria morrer para reencontrar minha vida em Deus, mas a obediência a quer fazer  de cruel verdugo, quer me ter morrendo continuamente e não a viver para sempre em Deus. Oh  obediência, como você é terrível e forte! Então o confessor disse-me que eu não permitia e que  eu deveria dizer ao Senhor que a obediência não queria. Que pena amarga! Depois,  encontrando-me no meu estado habitual, via o Nosso Senhor, e o confessor que lhe pedia que  não me fizesse morrer. Eu, temendo que lhe fizesse caso, chorava, e o Senhor disse:

(2) “Filha, acalma-te, não me aflijas com o teu pranto, Eu tenho toda a razão em te trazer, porque  quero castigar o mundo, e só por ti e por teus sofrimentos me sinto como que atado. O confessor também tem razão em querer-te ter na terra, porque, pobre mundo, pobre Corato, no estado em  que se encontra, que será dele se nenhum o protege? E também por ele mesmo, porque  estando tu, algumas vezes Eu me sirvo dele por meio teu, alguma vez diretamente dizendo  alguma coisa que lhe concerne, e alguma vez indiretamente para chamá-lo, quando para  estimulá-lo, e quando para dissuadi-lo de fazer alguma coisa que não me agrade; Então,  chamando-te a Mim, me servirei dos sofrimentos. Mas, ânimo, que como estão as coisas Eu me  sinto mais inclinado a te contentar que ao confessor, e Eu mesmo saberei mudar sua vontade”.  (3) Logo me encontrei em mim mesma, não pensava escrever isto porque não me parecia  necessário dizê-lo, pois vendo o confessor junto com Nosso Senhor me parecia que já sabia  tudo.

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7-24

Junho 24, 1906

Continua suspirando o Céu. 

(1) Dizendo ao confessor o que disse acima, ficou inquieto porque queria, absolutamente, que  eu me opusesse ao Senhor, que a obediência não queria; porque eu me sentia mais mal, o  pensamento de tantas privações do bendito Jesus que me tinham queimado tanto e voltado a  queimar ao vivo, fazia-me ansiar pelo Céu. Minha pobre humanidade a sentia viva e ia  resmungando contra a obediência. A minha pobre alma sentia-me como se estivesse sob uma  prensa e não sabia o que decidir. Enquanto estava nisto veio Nosso Senhor com um arco de luz  entre suas mãos, e saiu uma foice também de luz e tocava o arco que Jesus tinha entre suas

mãos, e o arco tocado ficou absorvido em Cristo, e desapareceu sem me dar tempo de dizer o  que a obediência queria. Eu compreendia que o arco era minha alma e a foice a morte.

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7-25

Junho 26, 1906

Vê Jesus menino, beija-a e compadece-a. 

(1) Continuando o mesmo, veio o confessor e continuou a dar-me a mesma obediência, e tendo  vindo o menino Jesus disse-lhe as minhas amarguras sobre a obediência, e Ele me acariciava,  me compadecia e me dava muitos beijos. Com estes beijos me infundia um sopro de vida, e  encontrando-me em mim mesma sentia como fortalecida minha humanidade. Só Deus pode  entender estas minhas penas, porque são penas que eu não sei dizer. Pelo menos espero que o  Senhor queira dar luz a quem dá este tipo de obediência. O Senhor me perdoe, a dor me faz  dizer disparates.

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7-26

Julho 2, 1906

Com os seus sofrimentos forma um anel a Jesus.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado e continuando meus sofrimentos um pouco mais,  veio meu bendito Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, verdadeiramente já te quero trazer, porque quero estar livre para me ocupar com  o mundo”.

(3) Parece que queria tentar-me, mas eu não lhe disse nada de levar-me, porque a obediência  quer o contrário, e também porque me luto do mundo. Enquanto pensava assim, Jesus mostrou me a sua mão, na qual tinha um lindo anel com uma jóia branca, e de esta jóia pendia muitas  argollitas de ouro entrelaçadas, que formavam um belo adorno à mão de Nosso Senhor, e Ele ia  mostrando-o, tanto lhe agradava, e depois adicionou:

(4) “Este anel foi feito por você nestes dias passados por meio de seus sofrimentos, e eu estou  preparando um mais belo para você”.

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7-27

Julho 3, 1906

A Vontade de Deus é o paraíso da alma na terra, 

e a alma que faz a Vontade de Deus, forma o paraíso a Deus sobre a terra. 

(1) Tendo recebido a comunhão, sentia-me toda unida e estreitada ao meu Deus Jesus, e  enquanto me estreitava, eu repousava nele, e Ele repousava em mim; e depois disse-me:  (2) “Amada minha, a alma que vive em minha Vontade repousa, porque a Vontade Divina faz  tudo por ela, e Eu, enquanto obra Obra por ela, ali encontro o mais belo repouso, assim que a  Vontade de Deus é repouso da alma e repouso de Deus na alma. E a alma, enquanto repousa  em minha Vontade, está sempre colada a minha boca, e dela absorve em si mesma a Vida  Divina, formando dela seu alimento contínuo. A Vontade de Deus é o paraíso da alma na terra, e  a alma que faz a Vontade de Deus vem a formar o paraíso a Deus sobre a terra.  (3) A Vontade de Deus é a única chave que abre os tesouros dos segredos divinos, e a alma  adquire tal familiaridade na casa de Deus, que domina como se fosse a dona”.  (4) Quem pode dizer o que compreendia dessa Divina Vontade? Oh, Vontade de Deus, como és  admirável, amável, desejável, bela, basta dizer que encontrando-me em Ti, sinto-me perder  todas as minhas misérias, todos os meus males, e adquirir um novo ser com a plenitude de todos  os bens divinos!

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7-28

Julho 8, 1906

Jesus a atrai para Ele com uma luz. 

(1) Continua quase sempre o mesmo, só sinto um pouco mais de vigor; que Deus seja sempre  bendito, tudo é pouco por seu amor, mesmo sua própria privação, o estar distante do Céu, e só  por obedecer.

(2) Agora a obediência quer que eu escreva alguma coisa sobre a luz que ainda vejo de vez em  quando. Às vezes me parece ver Nosso Senhor dentro de mim, e de sua Humanidade sai uma  imagem toda luz, e a sua humanidade acende sempre mais o fogo, e vejo a imagem da luz de  Cristo, como se peneirasse este fogo, e deste fogo peneirado sai uma luz toda semelhante à sua  imagem de luz, e tudo se compraz e com ânsia a espera para uni-la a Si, e depois incorpora-se  outra vez na sua Humanidade. Outras vezes me encontro fora de mim mesma e me vejo toda

fogo, e uma luz que está por desprender-se do fogo, e Nosso Senhor, com seu fôlego sopra na  luz, e a luz se eleva e toma o caminho para a boca de Jesus Cristo, e Ele com seu alento a  afasta e a atrai, a engrenagem e a torna mais reluzente, e a pobre luz se debate e faz todos os  esforços porque quer ir a sua boca, a mim me parece que se isto acontecesse expiraria, porém  estou obrigada a dizer em meu interior A obediência dada pelo confessor não o quer, apesar de

que dizer isto me custa a própria vida. E o Senhor parece que se deleita em fazer tantos jogos  com esta luz. Agora, parece-me que Nosso Senhor vem e quer voltar a ver tudo o que Ele  mesmo me deu, se está tudo arrumado e sem pó , portanto me pega pela mão e me tira os anéis  que me deu quando me desposei com Ele, um encontrou-o intacto e o resto limpou-os com o seu  fôlego e voltava a pô-los, depois, como se me vestisse toda, põe-se ao meu lado e diz:

(3) “Agora sim que estás bela, vem a Mim, não posso estar sem ti; ou tu vens a Mim ou Eu vou a  ti, és a minha amada, a minha alegria, a minha alegria”.

(4) Enquanto isso diz, a luz se debate e faz todos os esforços porque quer estar em Jesus, e  enquanto toma seu vôo vejo que o confessor com suas mãos a para e a quer encerrar dentro de  mim, e a Jesus que se está quieto e o deixa fazer. Oh Deus, que pena! Cada vez que isso  acontece eu acho que eu devo morrer e chegar ao meu porto, e obediência me faz encontrar de  novo no caminho. Se eu quisesse dizer tudo desta luz não terminaria jamais, mas me faz tanto  mal escrever isto, que não posso seguir adiante, ainda mais que muitas coisas não sei dizê-las,  por isso faço silêncio.

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7-29

Julho 10, 1906

Quem tudo é doado a Jesus, recebe todo Jesus. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, por pouco tempo nosso Senhor veio e me disse: (2) “Minha filha, que tudo a Mim se dá, merece que Eu tudo a Ela me dê. Eis-me aqui tudo à tua  disposição, o que quiseres, toma-o”.

(3) Eu não lhe pedi nada, só lhe disse: “Meu Bem, não quero nada, só quero a Ti só; só Tu me  bastas para tudo, porque tendo a Ti tenho tudo.”

E Ele: “Muito bem, soubeste pedir, pois enquanto não queres nada quiseste tudo”.

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7-30

Julho 12, 1906

Tudo o que a criatura serve de sofrimento, toca a Deus. 

(1) Tendo sofrido muito ao esperar pelo meu bendito Jesus, sentia-me cansada e sem forças.

Então veio quase de fuga e me disse: (2) “Minha filha, tudo o que à criatura serve de sofrimento ou de dor, por um lado fere a a criatura, e por outro lado toca a Deus; e Deus sentindo-se tocado, dá sempre a cada toque que sente dá alguma coisa de divino à criatura”.

(3) E desapareceu.

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7-31

Julho 17, 1906

Como a quem vive na Vontade de Deus, Jesus lhe 

dá a chave de seus tesouros, e não há graça que 

saia de Deus em que ela não tome parte. 

(1) Esta manhã, via o bendito Jesus com uma chave na mão e dizia-me: (2) “Minha filha, esta chave é a chave da minha Vontade; para quem vive nela convém-lhe que tenha a chave para abrir e fechar como lhe agrade, e tomar o que lhe agrade de meus tesouros, porque vivendo do meu Querer terá cuidado deles mais do que se fossem seus, porque tudo o que é meu é seu, e não fará desperdício disso, mas os dará a outros e tomará para ela o que pode me dar mais honra e glória. por isso te entrego a chave e tenha cuidado de meus tesouros”.

(3) Enquanto dizia isto, sentia-me toda imersa na Divina Vontade, tanto que não via outra coisa que Vontade de Deus, e passei todo o dia neste paraíso de Sua Vontade. Que felicidade, que alegria! E durante a noite, encontrando-me fora de mim mesma, continuava (4) “Olha, amada minha, para quem vive no meu Querer não há graça que saia da minha Vontade para com todas as criaturas do Céu e da Terra, em que ela não seja a primeira a participar. E isto é natural, porque quem vive na casa de seu pai abunda de tudo, e se os que estão fora recebem alguma coisa, é do que sobra para aqueles que vivem dentro”. (5) Mas quem pode dizer o que compreendia desta Divina Vontade? São coisas que não se podem explicar. Seja tudo para glória de Deus.

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7-32

Julho 21,1906

A reta intenção purifica a ação 

(1)Tendo chegado por pouco tempo, o bendito Jesus disse-me:

(2) “Minha filha, todas as ações humanas, mesmo santas, feitas sem uma intenção especial para mim, saem da alma cheias de trevas, mas feitas com reta e especial intenção de me agradar, saem cheias de luz, porque a intenção purifica a ação”.

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7-33

Julho 27, 1906

Na cruz Jesus dotou as almas, e as desposou a Ele. 

(1) Esta manhã fez-se ver o meu adorável Jesus abraçando a cruz, e eu pensava  interiormente quais tinham sido seus pensamentos ao recebê-la”. (2) E Ele disse-me: “Minha filha, quando recebi a cruz abracei-a como ao meu mais amado  tesouro, porque na cruz dotei as almas e as desposei Comigo. Agora, olhando a cruz, sua altura  e largura, Eu me alegrei porque via nela os dotes suficientes para todas as minhas esposas, e  nenhuma podia temer não poder casar-se comigo, tendo eu em minhas próprias mãos, na cruz,  o preço de seu dote, mas com esta única condição, que se a alma aceita os pequenos donativos  que Eu lhe envio, os quais são as cruzes, como penhor de que me aceita por Esposo, o  desposório é formado e faço-lhe a doação do dote. Mas se não aceita os donativos, isto é, não  se resignando a minha Vontade, fica tudo anulado, e apesar de que Eu quero dota-la não posso,  porque para formar um esponsal se necessita sempre a vontade de ambas partes, e a alma não  aceitando os donativos, significa que não quer aceitar o noivado”.

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7-34

Julho 28, 1906

Audácia da alma, Jesus a defende. 

(1) Continuando meu habitual estado, por breve tempo veio o bendito Jesus, e eu assim que o vi  o detive e o abracei, mas tão forte como se quisesse encerrá-lo em meu coração. Enquanto eu  estava aqui, eu via pessoas ao meu redor dizendo: “Como é ousada, você tem muita confiança,  e quando se trata com confiança você não tem a estima e o respeito que você deve ter”. Eu me  sentia envergonhado ao ouvir isto, mas não podia fazer de outra maneira; e o Senhor lhes disse:  (2) “Só se pode dizer que se ama, se estima e se respeita um objeto, quando se quer torná-lo  próprio; e quando não se quer torná-lo próprio, significa que não o ama, e portanto não se lhe  tem estima nem respeito, como por exemplo: Se se quer conhecer se alguém ama as riquezas,  falando delas vê-se que as tem em grande estima, respeita as pessoas ricas, não por outra coisa  mas porque são ricas, e todas as riquezas gostaria de as fazer suas; se em troca não as ama, ao  só ouvir falar delas se aborrece, e assim por todas as outras coisas.

(3) Então, em vez de criticá-la merece elogios, e se me quer fazer seu significa que me ama, me  estima e me respeita”.

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7-35

Julho 31, 1906

Jesus fala da simplicidade. 

(1) Continuando o meu habitual estado, por pouco tempo veio o bendito Jesus, e abraçando-me  disse:

(2) “Minha filha, a simplicidade é às virtudes como o tempero às refeições. Para a alma simples  não há nem chaves nem portas para entrar em Mim, nem Eu para entrar nela, porque por todas  as partes pode entrar em Mim e Eu nela, antes, para dizer melhor, encontra-se em Mim sem  entrar, porque por sua simplicidade vem a assemelhar-se a Mim que sou Espírito simplíssimo, e  que só porque sou simplíssimo encontro-me por toda parte e nada pode fugir de minha mão. A  alma simples é como a luz do sol, que apesar de qualquer névoa, ou de que seus raios passem  por qualquer imundícia, permanece sempre luz, e dá luz a todos, mas jamais se muda. Assim a  alma simples, qualquer mortificação ou desgosto que possa receber, não cessa de ser luz para si  mesma e para aqueles que a mortificaram, e se vê coisas más, ela não fica manchada, fica  sempre luz, nem jamais se muda, porque a simplicidade é a virtude que mais se assemelha ao  Ser Divino, e só por esta virtude se vem a participar das outras qualidades divinas, e só na alma  simples não há impedimentos nem obstáculos para que entre a operar a Graça Divina, porque  sendo luz uma e luz a outra, facilmente uma luz se une, transforma-se na outra luz”.

(3) Mas quem pode dizer o que compreendia desta simplicidade? Sinto em minha mente como  um mar, e que apenas posso manifestar uma gotinhas deste mar, e desconectadas entre elas.  (4) Graças a Deus.

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7-36

Agosto 8, 1906

Como é necessário correr sem parar jamais.

(1) Esta manhã estando muito cansada por sua privação, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, para a criatura alcançar seu ponto central é necessário correr sempre, sem jamais  deter-se, porque correndo se faz mais fácil o caminho, e conforme caminha lhe será manifestado o  ponto onde deve chegar para encontrar seu centro, e ao longo do caminho lhe será fornecida a Graça

necessária para o caminho, e ajudada pela Graça não sentirá o peso da fadiga nem da vida. Tudo o  contrário para aquele que caminha e se detém, já que só parando sentirá o cansaço dos passos que  deu, perderá o impulso em seguir o caminho, e não caminhando não poderá ver seu ponto final, que

é um sumo bem e não ficará cativado, a Graça não o vendo correr não se dará em vão, e a vida se  tornará insuportável, porque o nada fazer produz tédio e aborrecimento”.

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7-37

Agosto 10, 1906

Um contentamento a menos na terra, é um paraíso a mais no céu. 

(1) Continuando meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, por quantos mínimos prazeres a alma se priva nesta vida por meu amor outros  tantos paraísos de mais lhe darei na outra vida; assim que um contento de menos aqui, é um paraíso  de mais além. Imagina um pouco quantas privações tiveste tu nestes vinte anos de cama por minha  causa, e quantos paraísos de mais Eu te darei no Céu”.

(3) E eu ao ouvir isto disse: “Meu bem, o que dizes? Eu me sinto honrada e quase devedora de Ti  porque me dás a ocasião de poder privar-me por amor teu, e me dizes que me darás outros tantos  paraísos?”

(4) E Ele adicionou: “E é exatamente assim”.

(5) Graças a Deus.

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7-38

Agosto 11, 1906

Jesus diz-lhe que a cruz é um tesouro.  

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, via a minha adorável Jesus com uma cruz na mão,  toda cheia de pérolas brancas, e fazendo-me dom dela, apoiava-a sobre o meu peito, a cruz  internou-se dentro do meu coração, como dentro de uma permanência, e disse-me:  (2) “Minha filha, a cruz é um tesouro, e o lugar mais seguro para pôr a salvo este precioso  tesouro é a própria alma; ou seja, é lugar seguro quando a alma está disposta com a paciência,  com a resignação, e com as outras virtudes a receber este tesouro, porque as virtudes são  tantas chaves que o guardam para não desperdiçá-lo e expô-lo aos ladrões, mas se não tem,  especial a chave dourada da paciência, este tesouro encontrará tantos ladrões que o roubarão e  farão desperdício dele”.

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7-39

Agosto 25, 1906

O interesse e as ciências humanas nos sacerdotes.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, parecia-me ver sacerdotes, prelados

atentos ao interesse e às ciências humanas, que não são necessários para o seu estado,  acrescentando a isto um espírito de rebelião às autoridades superiores. Nosso Senhor, muito  aflito me disse:

(2) “Minha filha, o interesse, as ciências humanas, e tudo o que ao sacerdote não lhe pertence,  forma-lhe uma segunda natureza, enlameada e putrefacta, e as obras que saem destes, mesmo  santas, provocam-me náuseas pela peste que exalam, tanto, que me são intoleráveis. Reza e repárame estas ofensas, porque não posso mais”.

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7-40

Setembro 2, 1906

Luisa quer fazer contas com Jesus, Ele diz que é sua pequena filha. 

(1) Devia receber esta manhã a comunhão, estava preparada para fazer o dia de retiro, isto é,  preparar-me para a morte, e depois de recebida a comunhão ia dizer a Jesus bendito: “Façamos  agora as contas, para não deixá-las para o último momento da vida; eu mesma não sei como me  encontro, não faço nenhuma reflexão sobre mim mesma, e não refletindo não sei como estou, e  portanto não sinto nem temores, nem escrúpulos, nem agitações, enquanto eu vejo e ouço que  os outros, muito mais bons do que eu, e mesmo nas mesmas vidas dos santos que leio, todos  fazem reflexões sobre si mesmos, se são frios ou quentes, se tentados ou tranquilos, se  confessam bem ou mal, e quase todos estavam tímidos, agitados e escrupulosos. Mas toda a  minha atenção está em te amar, em te amar, e em não te ofender, o resto não o tomo em conta  para nada, parece que não tenho tempo de pensar em outra coisa, e se me esforço em fazê-lo  uma voz interna me sacode, me repreende e diz: “Quer perder tempo, preste atenção em fazer  suas coisas com Deus”. Por isso eu mesma não sei em que estado me encontro, se fria, se  árida, se quente, e se alguém me pedisse contas eu não saberia dá-las, eu creio que erraria. Por  isso façamos agora as contas, a fim de que possa remediar a tudo”. Depois de havê-lo rogado e  voltado a rogar me disse:

(2) Minha filha, Eu tenho-te sempre sobre meus joelhos, tão apertada que não te dou tempo de  pensar em ti mesma. Tenho-te como um pai pode ter seu filho pequeno sobre seus joelhos, que  agora lhe dá um beijo, agora uma carícia, agora lhe dá com suas mãos o alimento, agora, se o  pequeno filho inadvertidamente se suja, o mesmo pai o limpa. Mas se o pai está aflito, o pequeno  o consola, enxuga-lhe as lágrimas; se o pai está irritado, o pequeno o acalma; em suma, o pai é  a vida do pequeno, e este nenhum pensamento toma de si mesmo, nem se deve comer, nem se  se mancha, nem se deve vestir-se, nem sequer se deve dormir, porque o pai fazendo com seus  braços um berço o arrulha para fazê-lo dormir, e o faz dormir em seu próprio seio; e o pequeno é

todo o alívio e a vida do pai, enquanto os outros filhos grandes prestam atenção em arrumar a  casa, em lavar-se sozinhos, e em todos os demais afazeres. Assim faço Eu contigo, como a uma  filha pequena te tenho sobre meus joelhos, tão intimamente unida a Mim que não te deixo sentir  a ti mesma, e Eu penso e me ocupo de tudo, em limpar-te se estás manchada, em alimentar-te  se tens necessidade de alimento, em suma, tudo o prevejo desde antes, de modo que você  mesma não adverte suas necessidades, e com ter-te estreitada intimamente a Mim é uma graça  que te faço, porque assim te livra de muitos e muitos defeitos, enquanto que se tivesse o  pensamento de ti mesma, em quantos defeitos terias caído! Por isso pense em fazer seu ofício  para Mim, o de filha pequena, e não pense em nada mais”.

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7-41

Setembro 11, 1906

Tudo o que não é feito para glória de Deus, fica obscurecido.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus nos braços, no meio de  muitas pessoas, e Ele me disse:

(2) “Minha filha, todas as obras, palavras e pensamentos das criaturas devem ser selados com a  marca “Gloriam Dei, Gloriam Dei”. E tudo o que não está selado com esta marca fica  obscurecido e como sepultado em trevas, manchado, sem valor algum, de maneira que a  criatura não faz outra coisa senão fazer sair de si mesma trevas e coisas abomináveis, porque a  criatura que não opera para a glória de Deus, se afasta da finalidade para a qual foi criada, fica  como separada de Deus, abandonada a si mesma. Só Deus é luz, e só por Deus as ações  humanas adquirem valor; então por que se maravilhar de que a criatura não trabalhando para  glória de Deus fique sepultada em suas próprias trevas, e não adquira nada com suas fadigas,  antes que acumule graves dívidas”.

(3) Com grande amargura víamos toda aquela gente como sepultada em trevas. Então eu, para  distrair o bendito Jesus daquela amargura, abraçava-o e beijava-o, e dizia-lhe como se quisesse  brincar com Ele: Juntamente comigo, dou tal poder à oração desta alma, de lhe conceder o que  me pede. Mas Ele não me dava atenção, e eu querendo obrigá-lo a repetir o que havia dito,  repetia os beijos, os abraços e repetia: Dize, dize comigo as palavras ditas antes. Insisti tanto  que me parecia que Ele as havia dito, e me encontrei em mim mesma, me assombrando de  minha audácia e loucura, e me envergonhava de mim mesma.

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7-42

Setembro 12, 1906

Onde Deus não está, não pode haver nem firmeza, nem verdadeiro bem.  (1) Estava pensando em meu estado, em que tudo parece paz, amor, que nada me perturba, que  tudo é bom, nada é pecado, e dizia entre mim: “O que será se no ponto de minha morte se muda  a cena e verei todo o contrário, isto é, que todas as coisas me turbarão, e que tudo o que fiz foi  uma cadeia de males?” Enquanto pensava isto, disse-me:

(2) “Minha filha, parece que queres perturbar-te à força e tirar-me o meu contínuo repouso em ti.  Diga-me, você acredita que é coisa sua a paciência, a constância, a paz deste seu estado, ou  bem fruto e graça de quem habita em você? Só Eu possuo estes dons, e pela constância, paz e  paciência podes conhecer quem é o que obra em ti, porque quando é a natureza ou o demônio,  a alma se sente dominada por contínuas mudanças, assim que agora se sente dominada por um  humor, agora por algum outro, agora toda paciência, agora toda irada; em suma, a pobrezinha é  dominada como uma cana por um vento vigoroso. Ah! Minha filha, onde não está Deus não  pode haver nem firmeza, nem verdadeiro bem, por isso não queira perturbar mais meu e seu  repouso, mas bem seja agradecida.

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7-43

Setembro 14, 1906

Posição das almas na humanidade de Jesus. 

(1) Esta manhã encontrava-me fora de mim mesma e via o Menino Jesus dentro de um espelho  muito grande e altivo, de modo que de qualquer parte em que me encontrava podia vê-lo muito  bem. Eu acenava com a mão para que viesse a mim, e Jesus me fazia sinais para que fosse a  Ele. Enquanto estava nisto via pessoas devotas e sacerdotes, como se se pusessem entre Jesus  e eu, e falavam de mim; eu não lhes prestava atenção, meu olhar era meu doce Jesus. Mas Ele  saiu apressadamente de dentro do espelho, e queria dominar aqueles que murmuravam dizendo:  (2) “Que nenhum me toque, porque tocando a quem me ama me sinto mais ofendido que se me  tocassem a Mim diretamente, e vos farei ver como sei tomar a defesa de quem tudo se deu a  Mim, e de sua inocência”.

(3) E com um braço me apertava e com o outro ameaçava aqueles. E a mim nada me importava  que falassem mal de mim, só me desgostava que Ele os quisesse castigar, e lhe disse: “Doce  vida minha, não quero que nenhum sofra por minha causa, e por isso saberei que me amas, se  te acalmas e não os castigas, de outra maneira ficarei descontente Assim parece que se  acalmou e me afastou daquela gente me conduzindo em mim. Depois continuava a vê-lo mas  não mais como criança, mas crucificado, e disse-lhe:

(4) “Meu adorável bem, quando sofreste a crucificação todas as almas tinham um lugar na tua  humanidade, e o meu lugar em que se encontrava?”

(5) E Ele: “Minha filha, o lugar das almas amantes era em meu coração, mas a ti, além de ter-te  no coração, devendo coadjuvar à Redenção com o estado de vítima, tinha-te em todos meus  membros, como em ajuda e consolo”.

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7-44

Setembro 16, 1906

A pura e simples verdade, é o ímã mais poderoso para atrair os corações.  (1) Havendo-me dito o confessor que o Monsenhor não queria que viessem pessoas a me visitar  para que não me distraísse, eu lhe disse: “Mais de uma vez haveis dado esta obediência, mas  jamais se realiza, se cumpre por pouco tempo, mas depois tudo fica como antes; se vocês me  derem a obediência de não falar mais, meu silêncio faria que se afastassem todos”. Depois,  tendo recebido a comunhão, disse ao Senhor: “Se é do teu agrado gostaria de saber como estão  as coisas diante de Ti; Tu sabes o estado de violência em que me encontro quando estou com  as pessoas, porque só Contigo me encontro bem. Eu não sei entender o por que querem vir, eu  me mostro estranha, não faço uso de nada para atraí-los mas bem modos desagradáveis. O por

que querem vir eu não sei. Oh, queira o Céu que pudesse ficar sozinha!” Então Ele me disse:  (2) “Minha filha, a verdade verdadeira, pura e simples, é o mais poderoso ímã para atrair os  corações e dispô-los a enfrentar qualquer sacrifício por amor da verdade e das pessoas que  revelam esta verdade. Quem preparou os mártires para doar o seu sangue? A verdade. Quem  deu a força para manter a vida pura, honrada, a tantos santos em meio a tantas batalhas? A  verdade, e a verdade pura, simples, altruísta. Aqui está por que as criaturas querem vir a você.  Ah- Ah! Minha filha, nestes tristes tempos, como é difícil encontrar quem manifeste esta pura  verdade, mesmo entre o clero, religiosos e entre as almas devotas. Em seu falar e agir esconde se sempre dentro alguma coisa de humano, de interesse ou de outras coisas, e a verdade é  manifestada como coberta ou velada, assim que a pessoa que a escuta não é tocada pela pura  verdade, senão pelo interesse ou por qualquer outro fim humano, no qual foi envolvida a  verdade, e essa pessoa não recebe a graça e os influxos que contém a verdade. Eis porque de  tantos sacramentos, confissões desperdiçadas, profanadas e sem fruto. Ainda que Eu não deixo  de lhes dar luz, mas não me escutam porque pensam para eles, que se dissessem a pura  verdade perderiam seu prestígio, a benevolência, e a natureza não encontraria mais satisfações,  e iriam em detrimento de seus interesses Mas, mas, oh! como se enganam, porque quem tudo  deixa por amor da verdade, superabundará de tudo mais abundantemente que os demais; por

isso, por quanto possas, não deixes de manifestar esta pura e simples verdade, mas se entende  que estando sempre em obediência a quem te dirige”.

(3) Tudo o que diz respeito à caridade, eu o disse com zelo, e tendo-me dito a obediência que  escrevesse tudo minuciosamente, sentia como uma sentença, porque ainda não tinha  obedecido, e perguntado a nosso Senhor, disse-me que estava bem como o havia dito, porque  quem se encontra nesses defeitos, já entende.

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7-45

Setembro 18, 1906

A paz é luz à alma, luz ao próximo e luz a Deus.

(1) Depois de ter esperado muito, sentia-me toda oprimida e um pouco perturbada, pensando no  por que não vinha meu adorável Jesus. Então veio e me disse:

(2) “Minha filha, a paz é luz à alma, luz ao próximo e luz a Deus, assim que uma alma em paz é  sempre luz, e sendo luz está sempre unida à Luz eterna, da qual toma sempre nova luz para  poder dar também luz aos demais; assim se queres sempre nova luz, esteja em paz”.

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7-46

Setembro 23, 1906

Como o agir por Cristo destrói a obra humana, e Jesus a faz ressurgir em obra divina.  (1) Encontrando-me em meu habitual estado, por pouco tempo veio o bendito Jesus, e me  abraçando me disse:

(2) “Minha amada filha, o agir por Cristo e em Cristo faz desaparecer a obra humana, porque,  operando em Cristo, e sendo Cristo fogo, consome a obra humana, e havendo-a consumido, o  seu fogo fá-la ressurgir em obra divina, por isso obra juntamente comigo, como se estivéssemos  juntos fazendo a mesma coisa; se sofreres, como se estivesses sofrendo junto Comigo; se  orares, se trabalhares, tudo em Mim e junto Comigo, e assim perderás em tudo as obras  humanas e as reencontrarás divinas. Oh, quantas riquezas imensas poderiam adquirir as

criaturas, e não as fazem suas!”

(3) Disse isto desapareceu e eu fiquei com um grande desejo de vê-lo de novo. Depois  encontrava-me fora de mim mesma e ia procurando-o por toda parte, e não o encontrando dizia:  “Ah Senhor, como és cruel com uma alma que é toda para Ti, e que não faz outra coisa que  sofrer contínuas mortes por amor teu! Olha, minha vontade te busca a Ti, e não te encontrando  morre de contínuo, porque não te encontra a Ti que és vida de meu querer; meus desejos  morrem de contínuo, porque desejando-te e não te encontrando não encontram sua vida, assim

que o respiro, os batimentos do coração, a memória, a inteligência, tudo, tudo, estão sofrendo  mortes cruéis, e Você não tem compaixão de mim”. Enquanto me encontrava nisto voltei para  mim e encontrei-o em mim mesma, e como se quisesse pagar com a mesma moeda me dizia:  (4) “Olha, estou todo em ti e todo para ti”.

(5) Parecia que tinha a coroa de espinhos, e apertando-a na cabeça saía sangue e dizia: “Este  sangue derramou-a por amor de ti”.

(6) Fazia-me ver suas chagas e acrescentava: “Estas, todas para ti”.

(7) Oh, como me sentia confusa vendo que meu amor confrontado com o seu não era outra coisa  que apenas uma sombra!

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7-47

Outubro 2, 1906

Como os nossos sofrimentos podem aliviar Jesus.  

(1) Tendo recebido a comunhão, senti-me fora de mim e via uma pessoa muito oprimida por  várias cruzes, e a Jesus bendito que dizia:

(2) “Diga-lhe que no ato em que ela se sente como acossada por perseguições, por dores, por  sofrimentos, pense que Eu lhe estou presente, e que pode servir-se de seus sofrimentos para  curar e cicatrizar minhas chagas; assim que seus sofrimentos me servirão agora para curar-me o  lado, agora a cabeça, agora as mãos e os pés, chagas demasiado doloridas, irritadas pelas  graves ofensas que me fazem as criaturas, e isto é uma grande honra que lhe faço, dando-lhe eu  mesmo o remédio para curar as minhas chagas, e ao mesmo tempo dar-lhe o mérito da caridade  de ter-me curado”.

(3) Enquanto assim dizia, via muitas almas purgantes, as quais ao ouvir isto, todas espantadas  disseram:

(4) “Felizes sois vós que recebeis tantos sublimes ensinamentos, que adquiris méritos de curar  um Deus, méritos que ultrapassam todos os outros méritos, e vossa glória será diferente da dos  demais, como é diferente o Céu da terra. Oh! Se nós tivéssemos recebido tais ensinamentos,  que nossos sofrimentos poderiam ter servido para curar um Deus, quantas riquezas de méritos  teríamos adquirido, e dos quais agora nos vemos privadas?”

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7-48

Outubro 3, 1906

Jesus fala-lhe da simplicidade.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, a simplicidade enche a alma de Graça até difundir-se fora, assim que se quiser  restringir a Graça nela não se pode, porque assim como o Espírito de Deus por ser simplíssimo  se difunde por toda parte sem esforço nem fadiga, mais bem naturalmente, assim a alma que  possui a virtude da simplicidade difunde a Graça em outros sem sequer adverti-lo”.  (3) Dito isto desapareceu.

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7-49

Outubro 4, 1906

Como o reto agir é vento para acender o fogo do amor.

(1) Tendo recebido a obediência de dizer poucas palavras se alguém viesse, estava com medo  de ter faltado à obediência, com o adido de que o bendito Jesus não vinha. Quem pode dizer o  rasgo de minha alma, ao pensar que por ter cometido pecado não vinha? A sua privação é  sempre cruel, mas o pensamento de ter dado ocasião por alguma falta é dilacerante que  enlouquece e que mata de um só golpe. Então, depois de ter esperado muito veio e me tocou  três vezes dizendo-me:

(2) “Minha filha, renovo-te na Potência do Pai, na minha Sabedoria, e no Amor do Espírito  Santo”.

(3) O que senti, não sei dizer, depois parecia que se deitava em mim, e apoiava sua cabeça  coroada de espinhos sobre meu coração, e acrescentou:

(4) “O reto agir mantém sempre aceso o Amor Divino na alma, e o obrar não reto vai sempre  apagando-o, e se faz para acendê-lo, agora vem o sopro do amor próprio e o apaga, agora o  respeito humano, agora a própria estima, agora o sopro do desejo de agradar aos demais, em  suma, tantos sopros que o vão sempre apagando, ao contrário, o reto agir, não são tantos  sopros que acendem este fogo divino na alma, senão um contínuo sopro que o tem sempre  aceso, e é o sopro onipotente de um Deus”.

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7-50

Outubro 5, 1906

Jesus é dono da alma.  

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma junto com Jesus  menino. Desta vez parecia que tinha vontade de brincar, se apertava a meu peito, a meus

braços, e enquanto me olhava com muito amor, agora me abraçava, agora com sua cabecinha  me empurrava quase me golpeando, agora me beijava tão forte que parecia que queria me  fechar e fundir dentro de Sim, E enquanto fazia isso eu sentia uma grande dor, tanto que me  sentia desfalecer, e Ele apesar de me ver sofrer assim, não me prestava atenção, é mais, se  via em meu rosto que eu sofria, porque não me atrevia a lhe dizer nada, o fazia mais forte, me  fazia sofrer mais. Agora, depois de ter desabafado bem me disse:

(2) “Minha filha, Eu sou seu dono e posso fazer de você o que quero. Deves saber que sendo  tu coisa minha, não és dona de ti, e se ages por teu próprio arbítrio, ainda num pensamento,  num desejo, num coração, deves saber que me farias um furto”.

(3) Neste momento via o confessor, que não estando bem queria como aliviar seus sofrimentos  sobre mim, e Jesus a toda pressa com a mão o rejeitou, e disse:

(4) “Primeiro devo me aliviar Eu das minhas penas, que são muitas, e depois você”.  (5) E, enquanto isso dizia, aproximou-se da minha boca e derramou um líquido amargo, e eu  confiei-lhe o confessor, pedindo-lhe que o tocasse com a sua mãozinha e o fizesse ficar bem.  Ele tocou e disse: “Sim, sim”. E desapareceu.

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7-51

Outubro 8, 1906

A cruz serve o homem como a rédea ao cavalo.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o meu bendito Jesus disse-me: (2) “Minha filha, a cruz serve a criatura como a rédea ao cavalo; que seria do cavalo se o  homem não usasse a rédea? Seria indómito, desenfreado, e não faria outra coisa senão ir de  precipício em precipício, até enfurecer-se e tornar-se nocivo para o homem e para si mesmo;  mas com a rédea submete-se, faz-se manso, caminha por caminho reto e serve as  necessidades do homem como um fiel amigo, e fica a salvo de qualquer precipício, porque o  homem o guarda e o protege. Tal é a cruz ao homem, a cruz o doma, o freia, o detém o curso  de precipitar-se nos caminhos das paixões que sente em si, que como fogo o devoram;  portanto, em lugar de enfurecer-se contra Deus e fazer-se mal a si mesmo, a cruz lhe apaga as  paixões, o amansa, o conduz e serve à glória de Deus e à própria salvação. Oh, se não fosse  pela cruz, que a Divina Providência por sua infinita Misericórdia tem como rédea para frear o  homem, oh! em quantos outros males jazia a pobre humanidade”.

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7-52

Outubro 10, 1906

Jesus concorre em todas as ações humanas.

(1) Esta manhã o bendito Jesus fazia-se ver dentro de uma torrente de luz, e desta luz ficavam

inundadas as criaturas, de modo que todas as ações humanas recebiam a atitude de operar  desta luz. Enquanto via isto, o bendito Jesus disse-me:

(2) “Minha filha, Eu estou continuamente concorrendo em cada mínima ação humana, ainda  que fosse um pensamento, um respiro, um movimento; mas as criaturas não pensam nesta  minha atitude para com elas, e além de que não fazem para Mim suas obras, que sou de quem  recebem a vida de seu próprio agir, atribuem-se a elas o que fazem. Oh! Se pensassem nesta  minha contínua atitude para com elas, não usurpariam o que é meu, em detrimento de minha  glória e de seu bem; enquanto deveriam fazer tudo para Mim, e dá-lo a Mim, porque tudo o que  é feito para Mim pode entrar em Mim, e Eu o tenho em Mim em depósito para dar tudo a ela na  outra vida, enquanto o que não é feito para Mim não pode entrar em Mim, porque não são  obras dignas de Mim, mas eu sinto náuseas e as rechaço, mesmo que a minha atitude tenha  concorrido”.

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7-53

Outubro 13, 1906

Desapego. Necessidade destes escritos que são espelho divino.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, por pouco tempo fez-se ver meu bom Jesus e me  disse:

(2) “Minha filha, para saber se uma alma está despojada de tudo, basta ver, se se suscitam  desejos santos ou mesmo indiferentes e está disposta a sacrificá-los ao Querer Divino com  santa paz, significa que está despojada; mas se em troca se perturba, inquieta-se, significa que  retém para si alguma coisa”.

(3) E eu, escutando dizer desejo, disse: “Meu sumo bem, meu desejo é que não quisesse  escrever mais, quanto me pesa, se não fosse por temor de sair de seu Querer e te desagradar,  não o faria”. E Ele interrompendo meu falar acrescentou:

(4) “Você não o quer, mas Eu o quero, quero aquilo que te digo, e você para obedecer escreve.  Por agora, isto que você escreve serve de espelho para você e para aqueles que tomam parte  em sua direção, mas virá o tempo em que servirá de espelho para os outros, assim que o que  você escreve dito por Mim, pode ser chamado de espelho divino, e você gostaria de remover  este espelho divino a minhas criaturas? Pense seriamente minha filha, e não queira restringir  este espelho de Graça com não escrever tudo”.

(5) Eu ao ouvir isto fiquei confusa e humilhada e com grande repugnância de escrever estas  últimas palavras suas, mas a obediência me impôs absolutamente, e só por obedecer escrevi.  (6) Graças a Deus.

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7-54

Outubro 14, 1906

A própria estima envenena a Graça. Purgatório de uma alma  

por ter negligenciado a comunhão. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma com Jesus  menino, e parecia que dizia a um sacerdote:

(2) “A auto-estima envenena a Graça em ti e nos demais, porque, devendo por teu ofício prover  a Graça, se as almas advertem, porque facilmente se adverte quando há este veneno, que o  que dizes e fazes o faz para ser estimado, a Graça já não entra sozinha, mas junto com o  veneno que tu tens, e portanto em vez de ressurgir à vida encontram a morte”.

(3) Depois acrescentou: “É necessário esvaziar-te de tudo para poder te encher do Todo que é  Deus, e tendo em ti o Todo, darás o Tudo a todos aqueles que virão a ti, e Tudo aos demais  encontrarás tudo à tua disposição, de modo que ninguém saberá negar-te nada, nem sequer a  estima, e mais, de humana a terás divina como convém ao Todo que habita em ti”.

(4) Depois disto via uma alma do purgatório que ao ver-nos se escondia e nos fugia, e era tal a  vergonha que ela sentia que permanecia como esmagada. Eu fiquei espantada, porque em vez  de correr para o menino, fugia; Jesus desapareceu e eu me aproximei dela perguntando-lhe a  causa desta atitude, mas ela estava tão envergonhada que não podia dizer palavra, e tendo-a  forçado me disse:

(5) “Justa justiça de Deus, que tem selado sobre minha testa a confusão e tal temor de sua  presença, que estou obrigada a evitá-lo, obro contra meu mesmo querer, porque enquanto me  consumo por querê-lo porque enquanto me consumo por amá-lo, outra pena me inunda e fujo  dele. Oh Deus, vê-lo e fugir dele são penas mortais e inexprimíveis! Mas me mereci estas  penas distintas das de outras almas, porque levando uma vida devota deixei muitas vezes de  comungar por coisas de nada, por tentações, por frialdades, por temores, e também, alguma  vez para poder acusar-me disso perante o confessor e fazer-me ouvir que não recebia a  comunhão. Entre as almas isto se tem como um nada, mas Deus faz disto um severísimo juízo,  dando-lhes penas que superam as outras penas, porque são faltas mais diretas ao amor. Além  de tudo isto, Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento arde de amor e pelo desejo de dar-se às  almas, sente-se morrer continuamente de amor, e a alma podendo aproximar-se a recebê-lo e  não o fazendo, é mais, fica indiferente com tantos inúteis pretextos, é uma afronta e um  desprezo tal que Ele recebe, que se sente delirar, queimar, e não pode dar desafogo a suas  chamas, sente-se como sufocar por seu amor, sem que encontre a quem dar parte, e quase  enlouquecendo vai repetindo:

(6) “Os excessos de meus amores não são tomados em conta, mas são esquecidos, mesmo  aquelas que se dizem minhas esposas não têm ânsias de me receber e de me fazer desabafar

ao menos com elas, ah, em nada sou correspondido! Ah, não sou amado, não sou amado!”  (7) E o Senhor, para me fazer purgar estas faltas, fez-me tomar parte na dor que Ele sofre  quando as almas não o recebem. Esta é uma pena, é um tormento, é um fogo que comparado  ao mesmo fogo do purgatório, pode-se dizer que este é nada”.

(8) Depois disto encontrei-me em mim mesma, atónita pensando na pena daquela alma,  enquanto para nós se tem verdadeiramente como um nada deixar a santa comunhão.

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7-55

Outubro 16, 1906

Como cada bem-aventurado é uma música distinta no Céu.

(1) Tendo deixado de escrever o que se segue, a obediência ordenou-me que o fizesse e por  isso o escrevo. Parecia que me encontrava fora de mim mesma, e que no Céu se fazia uma  festa especial, e eu estava convidada a esta festa, e parecia que cantava junto com os bem aventurados, porque lá não há necessidade de aprender, senão que se sente como uma  infusão no interior, e o que cantam ou fazem os demais sabe fazer você mesmo. Agora, me  parecia que cada beato fosse uma tecla, ou seja que ele mesmo fosse uma música, mas todos  acordes entre eles, uma distinta da outra; quem canta as notas do louvor, quem as canta notas  da glória, quem as do agradecimento, quem as das bênçãos, mas todas estas notas vão se  reunir em uma só nota, e esta nota é amor. Parece que uma só voz reúne todas aquelas vozes  e termina com a palavra amor. É um ressoar tão doce e forte este grito, “amor”, que todas as  outras vozes ficam como apagadas neste canto, “amor”. Parecia que todos os bem

aventurados ficavam por este canto – alto, harmonioso, belo do “amor”, que ensombrava todo o  Céu, – estáticos, embelezados, avivados, arrebatados, participavam, pode-se dizer, de um  paraíso a mais; Mas quem eram os afortunados que gritavam demais e que faziam ressoar em  tudo esta nota, “amor”, e que traziam tanta felicidade ao Céu? Eram aqueles que tinham  amado mais o Senhor quando viviam sobre a terra, ah! , não eram aqueles que tinham feito  coisas grandes, penitências, milagres, ah, não, jamais! Só o amor é aquele que está acima de  tudo, e tudo fica por detrás dele; portanto, quem ama muito, e não quem faz muito, será mais  agradável ao Senhor. Parece que estou a dizer disparates, mas o que posso fazer? A  obediência tem a culpa, quem não sabe que as coisas de lá não se podem dizer aqui? Por isso  para não dizer mais desatinos termino.

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7-56

Outubro 18, 1906

As obras que mais agradam a Jesus são as obras ocultas.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, depois de ter me feito esperar muito veio o  bendito Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, as obras que mais me agradam são as obras ocultas, porque isentas de  qualquer espírito humano contêm tanto valor nelas, que Eu as tenho como as coisas mais  excelentes dentro de meu coração; tanto, que confrontadas mil obras externas e públicas com  uma obra interna e oculta, as mil externas ficam por debaixo da obra interna, porque nas obras  externas o espírito humano toma sempre sua parte”.

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7-57

Outubro 20, 1906

Jesus lamenta o estado de seus Ministros. 

(1) Encontrando-me fora de mim mesma encontrei-me dentro de uma igreja, na qual havia  muita gente assistindo às funções sagradas. Naquele momento parecia que por autoridade do  governo entravam outras pessoas a profanar o lugar santo. Quem dançava, quem violava e  quem punha as mãos no Santíssimo e nos sacerdotes. Ao ver isto, eu chorava e rogava,  dizendo ao Senhor: “Não permitas que cheguem a isto, a profanar vossos templos sagrados,  porque quem sabe quantos castigos tremendos descarregarás sobre tuas criaturas por estes  horrendos pecados”. Enquanto dizia, disse-me:

(2) “Minha filha, a causa de todos estes enormes delitos foram os pecados dos sacerdotes,  porque um pecado é causa e castigo de fazer cair em outros pecados. Primeiro eles  profanaram-no, ocultamente, o meu santo templo com as missas sacrílegas, com misturar os  atos impuros na administração dos sacramentos, e chegaram, sob o aspecto de coisas santas  não só a profanar os meus templos de pedra, mas a profanar e a violentar meus templos vivos,  que são as almas e a profanar meu mesmo Corpo. De tudo isso os leigos tiveram um indício, e  não vendo neles a luz necessária para o seu caminho, aliás, não encontraram nada neles  senão trevas, tão obscurecidas que perderam a bela luz da fé, e sem luz não é de admirar que  cheguem a tão graves excessos

(3) Por isso reza pelos sacerdotes, a fim de que sejam luz nos povos, para que renascendo a  luz, os leigos possam adquirir a vida e ver os erros que cometem, e vendo-os terão horror de  cometer estes graves excessos, que serão causa de graves castigos”.

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7-58

Outubro 23, 1906

Como nestes tempos tudo é afeminado.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, por pouco tempo veio meu adorável Jesus, e  todo oprimido e aflito quis derramar em mim suas amarguras, e depois me disse:  (2) “Minha filha, são tais as amarguras que me dão as criaturas, que não posso contê-las, por  isso quis compartilhá-las. Nestes tempos tudo é afeminado; os mesmos sacerdotes parecem  ter perdido o caráter masculino e adquirido o caráter feminino, assim que raramente se  encontra um sacerdote varonil, e o resto todos efeminados. Ah! Em que estado deplorável se  encontra a pobre humanidade”.

(3) Disse isto desapareceu. Eu mesma não compreendo o significado disto, mas a obediência  quis que o escrevesse.

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7-59

Outubro 25, 1906

A Graça para quem a recebe é luz, e para quem não, é fogo. 

(1)Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, e parecia que havia  algumas pessoas que me queriam crucificar, e enquanto me estendiam sobre a cruz via a  nosso Senhor dentro de mim, e conforme me estendia eu, assim se estendia Ele, assim que  em minhas mãos estavam suas mãos e o prego traspassava minhas mãos e suas mãos, assim  que o que sofria eu, sofria Ele. Era tal a dor que esses cravos despuntados nos davam, que me  sentia morrer; mas que doce morrer junto com Jesus, só temia o não morrer.

(2) Agora, enquanto essas pessoas se preparavam para me crucificar os pés, Jesus saiu de  dentro de mim e se punha diante de mim, e meus sofrimentos tomavam como forma de luz e  se punham diante do Senhor como em ato de adoração, e depois disto me disse:  (3) “Minha filha, a Graça para quem a recebe é luz, é caminho, é alimento, é força, é consolo;  para quem não a recebe, além de que não encontra luz e se sente faltar o caminho sob seus  pés, como permanece em jejum fica sem força, e a Graça se converte em fogo e castigo”.  (4) Enquanto isso dizia, de sua mão saía um torrente de luz que descia sobre as criaturas, e  esta luz, para quem ficava como luz, e para quem como fogo.

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7-60

Outubro 28, 1906

Tudo o que é luz vem de Deus. 

(1) Tendo recebido a comunhão, encontrava-me dentro de uma grande luz, era o mesmo Jesus,  o qual me disse:

(2) “Minha filha, tudo o que é luz, tudo é meu, nada é da criatura. Acontece como com uma

pessoa que se encontra investida pelos raios do sol, se quisesse atribuir a si mesma a luz que  goza seria uma tola e sem cérebro. A única coisa que poderia fazer é isto, que a pessoa em vez  de gozar a luz do sol, poderia dizer, eu quero caminhar à sombra, e retirar-se da luz, e a alma  retirando-se de minha luz fica em trevas, e as trevas não podem produzir outra coisa que mal.

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7-61

Outubro 31, 1906

Como a alma, por cada sofrimento adquire um reino de mais em si mesma.  (1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo veio o bendito Jesus, e somente me  disse:

(2) “Minha filha, cada sofrimento que a alma padece é um domínio de mais que adquire de si  mesma, porque a paciência no sofrer é regime, e regendo-se a si mesma, quanto mais sofre  tantos domínios de mais adquire, e não faz outra coisa que ampliar e engrandecer seu reino do  Céu, adquirindo riquezas imensas para a vida eterna. Assim, cada coisa que você sofre, você  deve levar em conta que você adquire um reino a mais em sua alma, isto é, um reino de graça  correspondente a um reino de virtude e de glória”.

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7-62

Novembro 6, 1906

A fé e a esperança na alma que vive no Divino Querer. 

(1) Enquanto estava a rezar, e segundo o meu costume, o que faço é como se o estivesse a  fazer com Nosso Senhor e com as suas próprias intenções, assim estava a recitar o credo, e não  prestando atenção dizia que procurava ter a fé de Jesus Cristo para reparar tantas  incredulidades e para impedir que todos tivessem o dom da fé. Enquanto eu estava nisso foi  movido dentro de mim e me disse:

(2) “Você está errado, Eu não tinha nem fé, nem esperança, nem eu poderia tê-los porque Eu  era o mesmo Deus, Eu era apenas Amor”.

(3) Ao ouvir amor, agradava-me tanto o poder chegar a ser só amor, que não pondo atenção  disse outro disparate, isto é: “Meu Senhor, também eu gostaria de ser como Tu, todo o amor e  nada mais E Ele acrescentou:

(4) “Esta é minha idéia, por isso vou te falando freqüentemente da perfeita resignação, porque  vivendo de meu Querer a alma adquire o amor mais heróico, e chega a me amar com meu  mesmo amor e se converte toda amor, e tornando-se toda amor, está continuamente em contato  Comigo, assim que está comigo, em Mim, e por Mim faz tudo o que quero, não se move, nem

deseja outra coisa que meu Querer, no qual está encerrado todo o amor do Eterno, e onde fica  ela encerrada; e vivendo deste modo a alma chega quase a perder a fé e a esperança, porque,  chegando a viver do Querer Divino, a alma não se sente mais em contato da fé e da esperança,  pois, se vive do seu Querer, que coisa deve crer se o encontrou e faz dele o seu alimento? E o  que deve esperar se já o possui vivendo não fora de Deus, mas em Deus? Por isso, a verdadeira  e perfeita resignação é o selo da segura predestinação, e a certeza da posse de Deus que a  alma adquire. Você entendeu? Pense bem”.

(5) Eu fiquei como arrebatada e disse entre mim: “Mas é possível chegar a isso? E quase hesitei  dizendo: “Talvez tenha querido me pôr uma tentação para ver o que faço eu, e dar-me ocasião  de dizer mais absurdos e fazer-me ver até onde chega minha soberba; sem embargo creio que é  bom dizer algum disparate, porque ao menos se lhe obriga a dizer alguma coisa, e se tem o bem  de ouvir sua voz, que faz voltar da morte à vida”. E eu pensei que outro disparate poderia dizer.  Enquanto eu estava nisso, ele se moveu novamente e replicado:

(6) “Você quer me tentar, não eu, e além disso, deixa de duvidar das minhas verdades”.  (7) E fez silêncio. Eu me sentia confusa e ia pensando no que me havia dito, mas quem pode  dizer tudo, são coisas que não se podem expressar.

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7-63

Novembro 9, 1906

Efeitos de meditar sempre na Paixão. 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava pensando na Paixão de Nosso Senhor, e  enquanto fazia isto veio e me disse:

(2) “Minha filha, é-me tão querido quem sempre vai pensando em minha Paixão, e sente  desagrado e me compadece, que me sinto como retribuído por tudo o que sofri no curso de  minha Paixão, e a alma ruminando-a sempre, vem a formar um alimento contínuo, no qual há  tantos condimentos e sabores diferentes que produzem diversos efeitos. Então, se no curso da  minha Paixão me deram correntes e cordas para me amarrar, a alma me desamarra e me dá a  liberdade; aqueles me desprezaram, me cuspiram e me desonraram, ela me aprecia, me limpa  dessas cuspideiras e me honra; aqueles me despiram e me açoitaram, ela me curou e me viu;  aqueles me coroaram de espinhos tratando-me como rei de zombaria, amargaram-me a boca  com fel e me crucificaram, a alma ruminando todas minhas penas me coroa de glória e me honra  como seu Rei, me enche a boca de doçura me dando o alimento mais requintado como é a  lembrança de minhas mesmas obras, e despregando-me da cruz me faz ressuscitar em seu coração, dando-lhe Eu por recompensa, cada vez que faz isto, uma nova vida de graça, assim  que ela é meu alimento e Eu me faço seu alimento contínuo. Então a coisa que mais me agrada

é que a alma pense sempre em minha Paixão”.

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7-64

Novembro 12, 1906

A alma dá a Jesus a habitação no tempo, e Ele dá-a à alma na Eternidade (1) Continuando o meu estado habitual, estava dizendo ao bendito Jesus: “Oh, quanto gostaria  de te amar para ser mais amada por Ti!” E Ele dentro de mim disse-me:

(2) “Amo-te tanto, que nunca te deixo, e habito em ti continuamente”.

(3) E eu: “Obrigado por sua bondade de habitar em mim, mas não estou tão contente, estaria  mais contente e me sentiria mais segura se eu pudesse habitar em Ti”.

(4) E Ele: “Ah! Minha filha, no tempo tu me darás habitação a Mim, na eternidade Eu te darei a ti,  e deves estar contente e segura porque Aquele que habita em ti tem poder para manter  consolidada e livre de todo perigo seu quarto”.

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7-65

Novembro 14, 1906

A Cruz alarga os limites do Reino do Céu.

(1) Oh! Quanto esperei e sofri por sua privação. Então, depois de muito esperar, por breves  instantes fez-se ver e me disse:

(2) “Minha filha, se a perfeita resignação é o sinal certo e seguro da predestinação, a cruz alarga  os limites do Reino do Céu”. E como relâmpago desapareceu.

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7-66

Novembro 16, 1906

Diferença que há entre as ofensas dos religiosos e as dos leigos.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, via as muitas ofensas que os sacerdotes e as pessoas  religiosas cometem, e o grande desagrado que o bendito Jesus sentia por elas. Então eu  surpesa disse: “Doce vida minha, é verdade que as pessoas religiosas te ofendem, mas a mim  me parece que os leigos te ofendem mais, não obstante mostra mais desgosto pelas ofensas  daquelas que pelas destes, parece que é todo olhos para olhar tudo o que fazem os primeiros, e  aparentas não ver o que fazem os segundos”.

(2) E Ele: “Ah! Minha filha, tu não podes compreender a diferença que há entre as ofensas dos  religiosos e as dos leigos, por isso te surpreendes. Os religiosos declararam pertencer-me, amar me e servir-me, e Eu confiei-lhes os tesouros da minha Graça, e a outros os tesouros dos  sacramentos, como é o caso dos sacerdotes. Agora, fingindo no exterior que me pertencem, em  seu interior, se é necessário, estão longe de Mim, aparentam me amar e me servir, em troca me

ofendem e se servem das coisas santas para servir a suas paixões, por isso sou todo olhos para  não deixá-los desperdiçar meus dons, meus agradecimentos, mas apesar de minhas premuras  chegam a esbanjar meus dons até naquelas mesmas coisas externas com as quais  externamente parece que me estão glorificando. Esta é uma ofensa tão grave, que se você  pudesse entendê-la morreria de aflição. Em troca os leigos declaram não me pertencer, não me  conhecer e não querer servir, e esta é a primeira coisa, que estão livres do espírito de hipocrisia,  a coisa que mais me desagrada; por isso, havendo-se eles declarado, não lhes pude confiar os  meus dons, embora a Graça os exorte e lhes faça a guerra, mas não se doou porque não a  querem. Acontece como a um rei que combateu para libertar os povos da escravidão na qual  eram tidos por outros reis, a força de sangue conseguiu libertar uma parte desses povos e os  pôs sob seu domínio, provendo-os de tudo, E se necessário, fazendo-os habitar o mesmo quarto.  Agora, de quem se desagradaria mais se o ofendessem, daqueles povos que ficaram distantes  dele, que também queria libertar, ou daqueles que vivem com ele?”

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7-67

Novembro 18, 1906

As obras sem espírito interior e sem reta intenção, envaidecem a alma.  (1) Encontrando-me no meu habitual estado, como uma sombra vi o bendito Jesus, e só me  disse:

(2) “Minha filha, se a um alimento se pudesse separar a substância e uma pessoa o comesse,  valeria nada, mas bem serviria para inflar seu estômago. Assim são as obras sem espírito interior  e sem reta intenção, vazias de substância divina, valem nada e servem só para inflar a pessoa,  assim que recebe mais dano que bem”.

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7-68

Novembro 20, 1906

A obediência comunica à alma a força divina.

(1) Continua meu pobre estado cheio de amarguras, mas de paz, pelas quase contínuas  privações que sofro; então como relâmpago o vi dizendo-me:

(2) “Minha filha, a obediência é um muro irremovível, e tal volta à alma, e não só isto, senão que  para ser irremovível é necessário ser forte, robusto, e a obediência comunica a força divina, de  modo que todas as coisas ante a força divina que a alma tem, ficam fracos, assim que ela pode  remover tudo, mas a ela não pode remover nenhum”.

(3) E desapareceu.

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7-69

Novembro 28, 1906

O bem de agir juntamente com Jesus. 

(1) Continuando o meu pobre estado, assim que vi o bendito Jesus, parecia que tudo se  transformava em mim, de modo que, se eu respirava, sentia o seu fôlego no meu; se eu movia  um braço, sentia mover o seu no meu, e assim por diante. Enquanto isso, ele me disse: (2) “Filha amada minha, veja em que estreita união estou Eu contigo, assim te quero a ti, toda  estreitada e apertada Comigo; e isto não creias que o deves fazer só quando sofres ou rezas mas sempre, sempre; se te mexes, se respiras, se trabalhas, se comes, se dormes, tudo, deves  fazer como se o fizesses na minha Humanidade e saísse de Mim teu agir, de modo que não  deverias ser tu outra coisa que a casca, e rasga a casca da tua obra se deveria encontrar o fruto  da obra divina, e isto deves fazer em favor de toda a humanidade, de modo que a minha  humanidade se deve encontrar como vivente no meio das criaturas, porque fazendo tu tudo,  mesmo as ações mais indiferentes com esta intenção de receber de Mim a vida, tua ação  adquire o mérito de minha Humanidade, porque sendo Eu Homem e Deus, em meu respiro  continha os respiros de todos, os movimentos, as ações, os pensamentos, tudo continha em  Mim, assim que os santificava, os divinizava, os reparava. Por isso, fazendo tudo com a intenção  de receber de Mim teu obrar, também tu virás a abraçar e a conter todas as criaturas em ti, e teu  obrar se difundirá para bem de todos; assim que embora os demais não me dêem nada, Eu  tomarei tudo de ti”.

(3) Parece que estou dizendo muitos disparates. São coisas íntimas e não sei dizê-las bem,  queria escrevê-las como as tenho na mente mas não posso. Parece-me que tomo uma gota de  luz e centenas me escapam, teria sido melhor calar-me, mas tudo seja para glória de Deus.

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7-70

Dezembro 3, 1906

A doçura e a paz na alma.

(1) Não vindo o bendito Jesus, sentia grande amargura, não só, mas como um choque em meu  interior que me deixava quase inquieta. Oh! Deus, que pena, que comparada a todas as outras  penas, estas não são outra coisa que sombras, mais bem são refrigério; é somente a tua  privação a que deve dar-se o nome de pena. Agora, enquanto eu delirava, ele saiu de dentro de  mim e disse:

(2) “O que você tem? Acalma-te, acalma-te, aqui estou, não só estou contigo mas em ti; além  disso não quero este ânimo inquieto, tudo deve ser doçura e paz em ti, de maneira que se possa  dizer de ti o que se diz de Mim: Que não escorre de Mim outra coisa que mel e leite, figurando o  mel à doçura e o leite à paz; Eu estou tão cheio e empapado destes, que escorreguem de meus  olhos, de minha boca e em todo meu agir, e se tu não és assim Eu me sinto desonrado por ti,  porque enquanto habita Aquele que é todo paz e doçura, tu não me honras, mostrando, ainda  que fosse a mais mínima sombra de um ânimo zangado e inquieto. Eu amo tanto esta doçura e  paz, que apesar de se tratar de coisas grandes, de minha honra e glória, não quero, não aprovo  jamais aqueles modos zangados, violentos, fogosos, mas aqueles modos doces, pacíficos,  porque só a doçura é aquela que como não se podem soltar, é como breu que se cola e não se  podem libertar, e sou obrigado a dizer: “Nesta alma está o dedo de Deus”. E além disso, se eu  não gostar do modo zangado, nem as criaturas vão gostar. Um que fala, que ainda trata coisas  de Deus de maneira não doce e pacífica, é sinal de que não tem suas paixões ordenadas, e  quem não tem a si mesmo ordenado não pode ordenar os outros. Por isso seja atenta a tudo que  não seja doçura e paz, se não quiser me desonrar.

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7-71

Dezembro 6, 1906

Jesus esconde-se para ver que coisa faz a alma.

(1) Continuando o estado de quase total privação, em que no máximo como relâmpago ou como  uma sombra se faz ver, dizia em meu interior: “Vida de minha vida, por que não vem? Oh, como  você ficou cruel comigo! Como se endureceu teu coração que chegas a não me escutar, onde  estão tuas promessas, onde teu amor se me deixas desamparada no abismo de minhas  misérias? Mas prometeste nunca me deixar, disseste que me amavas muito, e agora, e agora?  Você mesmo me disse, que pela constância se conhece se alguém te ama de verdade; e se não  há constância não se pode fazer nenhum cálculo sobre este amor, e Queres isto de mim, que  não formo a tua vida, e Tu que és a minha vida negas-me?” Mas quem pode dizer todas as  minhas loucuras, alongar-me-ia demasiado. Enquanto eu estava nisso ele se moveu dentro de  mim, e colocando o seu braço em ato de me segurar ele me disse:

(2) “Eu estou em você, e eu me escondo mais em você para ver o que você faz. Não faltei em  nada, nem às promessas, nem ao amor, nem à constância, se tu o fazes de modo imperfeito, Eu  o faço na plenitude da perfeição para contigo”.

(3) E desapareceu.

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A Divina Vontade contém todos os bens.

7-72

Dezembro 15, 1906

(1) Continuando meu habitual estado, me sentia mais que nunca amargada por sua privação Em um instante me senti como absorvida na Vontade de Deus, e sentia todo meu interior tranqüilo,  de modo de não sentir mais a mim mesma, senão em tudo ao Querer Divino, até sua própria  privação, e eu dizia para mim: “Que força, que encanto, que atrativo contém esta Divina Vontade,  que me faz esquecer de mim mesma, e faz correr em tudo o Querer Divino!” Enquanto eu estava  nisto ele mexeu-se dentro de mim e disse-me:

(2) “Minha filha, como a Divina Vontade é o único alimento sustancioso, que contém todos os  sabores e gostos adequados à alma, nela a alma encontra seu alimento requintado e se  tranquiliza; o desejo encontra seu alimento e pensa em apascentar-se lentamente, e se forma sem desejar outra coisa; a inclinação não tem para onde tender, porque encontrou o alimento  que a satisfaz; a própria vontade não tem outra coisa que querer, porque se deixou a si mesma,  que formava seu tormento e encontrou a Vontade Divina que forma sua felicidade; deixou a  pobreza e encontrou a riqueza, não humana mas Divina; em suma, todo o interior da alma  encontra o seu alimento, isto é, o seu trabalho no qual fica ocupada e absorvida, tanto que não  pode fazer mais nada, porque neste alimento e trabalho, enquanto encontra todos os  contentamentos, encontra tanto o que fazer e aprender, e gostar sempre novas coisas, que a  alma de uma ciência menor aprende ciências maiores, e sempre fica o que aprender; de coisas  pequenas acontece a coisas grandes, de um gosto passa a outros gostos, e sempre fica algo de  mais novo por gostar neste ambiente da Divina Vontade”.

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7-73

Janeiro 3, 1907

A verdadeira confiança reproduz a Vida Divina na alma. 

(1) Continuando meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, quem muito teme, é sinal de que muito confia em si mesma, porque não  descobrindo em si mesma outra coisa que fraquezas e misérias, naturalmente e justamente teme; e quem nada teme, é sinal de que confia em Deus, porque confiando em Deus, as  misérias e as fraquezas ficam perdidas em Deus; sentindo-se investida pelo Ser Divino, não mais  obra ela, mas Deus nela, e o que pode temer? Assim, a verdadeira confiança reproduz a Vida  Divina na alma”.

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7-74

Janeiro 5, 1907

A verdadeira santidade consiste em receber como especialidade 

de amor divino tudo o que nos possa acontecer. 

(1) Tendo lido que uma alma fazia escrúpulo de tudo e temia que tudo fosse pecado, estava  pensando em mim mesma: “E eu, como sou liberal, gostaria de pensar também eu que tudo  fosse pecado para estar mais atenta a não ofender ao Senhor”. Então, vindo o bendito Jesus me  disse:

(2) “Minha filha, estas são tolices, e a alma com isto fica detida no caminho da santidade,  enquanto a verdadeira e estável santidade consiste em receber como especialidade de amor  divino tudo o que lhe possa acontecer e tudo o que possa fazer, ainda que seja a coisa mais  indiferente, como seria receber um alimento agradável ou desagradável; especialidade de amor  no agradável, pensando que Jesus produz aquele gosto no alimento, porque a ama tanto, até lhe  dar gosto ainda nas coisas materiais; especialidade de amor no desagradável, pensando que a  ama tanto que lhe produziu aquele desagrado para semeá-la a Ele na mortificação, dando-lhe  Ele mesmo uma moedinha para oferecê-la a Ele; especialidade de amor divino se é humilhada,  se é exaltada, se está saudável, se está doente; se é pobre ou rica; especialidade de amor o  respiro, a vista, a língua, tudo, tudo, e assim como tudo, tudo deve receber como especialidade  de amor divino, assim ela deve dar de novo tudo a Deus como um especial seu amor, assim que  deve receber a onda do amor de Deus, e deve dar a Deus a onda de seu amor. Oh! Que banho  santificante é esta onda do amor, a purifica, a santifica e a faz progredir sem que ela mesma o  advirta; é mais vida de Céu que de terra. É isto o que eu quero de você; o pecado, o pensamento  do pecado não deve existir em você”.

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7-75

Janeiro 10, 1907

O mal que forma o próprio gosto. 

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse:  (2) “Minha filha, é tanto o apego das criaturas ao próprio gosto, que estou obrigado a conter em  Mim meus dons, porque em vez de apegar-se ao Doador, apegam-se a meus dons, idolatrando  meus dons com ofensa ao Doador, assim se encontram seu próprio gosto fazem algo, mas bem,  não fazem, senão que satisfazem o próprio gosto; se não há gosto não fazem nada, Assim, o  próprio gosto forma uma segunda vida nas criaturas. Miseráveis, não sabem que onde está o  próprio gosto, dificilmente pode estar o gosto divino, mesmo nas coisas santas. Portanto,  recebendo meus dons, as graças, os favores, não devem apropriá-los como suas coisas,

formando deles um gosto próprio, mas tê-los como gostos divinos, servindo-se deles para amar  principalmente ao Senhor e prontos a sacrificá-los ao mesmo amor.

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7-76

Janeiro 13, 1907

Jesus quis sofrer na sua humanidade para refazer a natureza humana. (1) Continuando meu habitual estado, por um instante vi meu bendito Jesus, e me disse: (2) “Minha filha, quanto amo as almas, olha: A natureza humana estava corrompida, humilhada,  sem esperança de glória e de ressurgimento, e Eu quis sofrer todas as humilhações em minha  Humanidade, especialmente quis ser despido, flagelado e que a pedaços caíram minhas carnes  sob os açoites, quase desfazendo minha Humanidade para refazer a humanidade das criaturas,  e fazê-la ressurgir cheia de vida, de honra e de glória à vida eterna. O que mais eu poderia fazer  e não ter feito?”

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7-77

Janeiro 20, 1907

A maior santidade é viver no Divino Querer. 

(1) Tendo lido duas vidas de santas, uma que ansiava muito sofrer, e a outra que queria ser  pequena, eu pensava em meu interior qual das duas seria melhor para poder imitá-la, e não  sabendo resolver isto me sentia como confusa, e para poder estar livre e pensar só em amá-lo  disse entre mim: “Eu não quero aspirar a nada mas somente a amá-lo e cumprir perfeitamente  seu santo Querer”. Enquanto eu estava nisto, o Senhor no meu interior, disse:

(2) “E eu te amo aqui, no meu Querer; até que o grão de trigo não seja sepultado debaixo da  terra e morra de todo, não pode renascer para a vida nova e multiplicar-se e dar vida a outros  grãos; assim a alma, até que seja sepultada na minha Vontade, até morrer totalmente nela com  desfazer todo o seu querer no meu, não pode ressurgir a nova Vida Divina com o ressurgimento  de todas as virtudes de Cristo, que contêm a verdadeira santidade, por isso a minha Vontade  seja o selo que te marque o interior e o exterior, e quando minha Vontade tiver ressurgido toda  em ti, nela encontrarás o verdadeiro amor, e esta é a melhor de todas as outras santidades às  quais se pode aspirar”.

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7-78

Janeiro 21, 1907

Quem sempre ama a Jesus não o pode desagradar.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado estava dizendo em meu interior: “Senhor, faz que  seja toda tua e que esteja sempre, sempre Contigo, e que jamais me separe de Ti; mas  enquanto eu estiver Contigo não permitas que eu seja aguilhão que te amargue, que te dê  fastidio, que te dê desgosto, mas ponto que esteja em Ti para te sustentar quando estás cansado

e oprimido, que te console quando estiveres chateado das outras criaturas”. Enquanto dizia isto o  bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, quem está em contínua atitude de me amar está sempre Comigo, e não pode  jamais ser aguilhão que possa me dar incômodo, senão escora que me sustenta, me consola,  me adoça, porque o verdadeiro amor tem a propriedade de fazer feliz a pessoa amada, e além  disso, quem sempre me ama não poderá jamais desagradar-me, porque o amor absorve toda a  pessoa, no máximo poderá haver pequenas coisas que a própria alma nem sequer adverte que  me possam desagradar, e o próprio amor toma o empenho de purificá-la para fazer que Eu  possa encontrar sempre nela as minhas delícias”.

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7-79

Janeiro 25, 1907

Punições. Vê cidades desertas.

(1) Passo dias amargos pelas privações quase contínuas do bendito Jesus, no máximo por um  instante e como relâmpago se faz ver e em seguida se esconde tão profundamente em meu  interior, que não o posso encontrar, e sempre em silêncio. Agora, tendo-o visto depois de muito  esperar, mas muito amargo e oprimido, disse-lhe: “Mas diga-me ao menos o que o faz sofrer  tanto?” E Ele, relutantemente, só por me contentar me disse:

(2) “Ah! Minha filha, você não sabe o que deve acontecer, se te dissesse romperia minha  indignação e não faria o que devo fazer. Eis por que guardo silêncio. Você se tranqüilize sobre o  modo que tenho contigo neste período de tempo, tenha coragem, será muito amargo, mas faça-a  de atleta, de generosa, vivendo sempre, e morta, em minha Vontade, sem sequer chorar.

(3) Dito isto, escondeu-se mais dentro de mim, deixando-me como petrificada, sem sequer poder  chorar a sua privação.

(4) Agora para obedecer escrevo que desde antes do mês de janeiro até agora, não faço outra  coisa que encontrar-me fora de mim mesma, talvez seja só um sonho, mas me parecia ver

lugares desolados, cidades desertas, ruas inteiras com as casas fechadas sem que nenhum  caminhe por elas, pessoas mortas, e é tanto o espanto ao ver estas coisas que fico como  atordoada e gostaria de imitar o meu bom Jesus estando eu também taciturna e silenciosa. O por  que disto não sei dizer, porque minha luz Jesus não me diz nada. Eu o escrevi só por obedecer.

(5) Graças a Deus.

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7-80

Fevereiro 20, 1907

A incorrespondência à Graça.

(1) Continua sempre em silêncio e vindo por um instante e como relâmpago; passo meus dias na  amargura e como atônita, todo meu interior ficou atingido como por um raio, sem poder caminhar  para frente nem para trás, eu mesma não sei dizer o que aconteceu em meu interior, Acho que é  melhor ficar calado do que falar sobre isso. Então, esta manhã, assim que veio, disse-me:

(2) “Minha filha, que não corresponde à minha graça, vive como aquelas aves que vivem de  rapina, assim a alma não faz outra coisa senão viver de rapina, rouba-me a graça, vive e não me  reconhece e além disso me ofende”.

(3) E como relâmpago desapareceu deixando-me mais admirada do que antes. + + + +

7-81

Março 2, 1907

Não há nada igual ao sofrer voluntário. 

(1) Continuando meu estado habitual, e tendo ouvido que quase todo o país estava com a  epidemia de influência e que morria muita gente, estava pedindo a Nosso Senhor que se  comprasse em evitar tantas vítimas e que me fizesse sofrer a mim para perdoar àqueles, Porque  agora como nunca pouco ou nada sofro, porque até isto me tirou. Enquanto isso eu pensava,  dentro de mim disse-me:

(2) “Minha filha, de Mim foi dito que era necessário que morresse um para salvar todo o povo.  Era uma verdade, mas naquele tempo não compreendida. Assim em todos os tempos é  necessário que sofra um para perdoar aos demais, e este um para ser aceito deve oferecer-se  voluntariamente e só por amor de Deus e por amor do próximo, sofrendo ele para evitar a todos  os demais o sofrimento; e o sofrer deste não pode equivaler ao sofrimento de todos os demais  juntos, não há valor que o iguale. Você crê que nada é o vazio de seu sofrer? Não obstante não  é um vazio do todo, e se te suspendo de tudo, onde irão terminar os povos? Ai, ai, as coisas não  terminam aqui!”

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7-82

Março 13, 1907

Luisa pede a Jesus que ao morrer sua mãe não passe pelo Purgatório.  

(1) Continua quase sempre o mesmo, e no máximo faz-se ver em silêncio. Agora, nestes dias,  Jesus, tendo-se deixado ver me acariciava e me beijava, e estando minha mãe doente fazia-me  compreender que logo a ia levar, e eu lhe dizia: “Senhor meu, Tu o queres e eu te dou antes de  que a leve, não quero esperar que a leve sem que antes a doe, mas quero de Ti a recompensa  pelo dom que te faço, dando-me em prêmio que a leve direto ao paraíso, sem fazê-la passar pelo  purgatório, à custa de eu sofrer o purgatórioque correspondesse a minha mãe”. E Jesus bendito  me dizia:

(2) “Minha filha, deixa-me fazer a Mim”. Eu continuava a pedir-lhe: “Mas doce amor meu, que  terá coração para ver a minha mãe sofrer no purgatório, a ela que tanto sofreu, que chorou tanto  por minha causa. É o peso da gratidão que me empurra, o que me pressiona e me força, em  todas as outras coisas faça o que quiser, mas nisto não, não cedo. Você me fará feliz e fará o  que eu quero”.

(3) E Ele: “Mas amada minha, não te tornes demasiado fastidiosa, és incansável, e com o tornar te incansável em pedir obrigas-me a contentar-te”.

(4) Mas não me dava uma resposta precisa, e eu insistia e chorava como uma menina, e  pedindo-lhe e pedindo-lhe novamente ia oferecendo minuto a minuto, hora a hora tudo o que Ele  sofreu em sua Paixão, aplicando tudo isto à alma de minha mãe para fazê-la ficar purificada e  embelezada, e assim poder obter o que eu queria. E Ele enxugando-me as lágrimas  acrescentava:

(5) “Mas querida minha querida, não chores, tu sabes que te amo muito, poderia não te  contentar? Olhe, com a contínua oferta de minha Paixão, não deixando escapar nada do que Eu  sofri em benefício de sua mãe, sua alma está dentro de um mar imenso, e este mar a lava, a  embeleza, a enriquece, a inunda de luz, e para assegurar-te que te contentarei, quando a tua  mãe morrer serás surpreendida por um fogo pelo qual te sentirás queimada”.

(6)Eu fiquei contente mas não segura, porque não me havia dito ainda nada de que a levaria  direto ao paraiso.

+ + + +

7-83

Maio 9, 1907

Morte e purgatório dos pais de Luisa.  

(1) Faz mais de um mês que não escrevo, e com grande repugnância e só por obedecer me  ponho de novo a escrever. Oh! Que pena sinto, só o pensamento de que poderia dizer ao meu  amado Jesus: “Olha como te amo de mais e como cresce meu amor, que só por amor teu me  submeto a este duro sacrifício, e por quanto duro, outro tanto posso dizer que mais te amo”. E  pensando que posso dizer ao meu Jesus que o amo mais, sinto a força para cumprir o sacrifício  de obedecer.

(2) Então não recordando tudo perfeitamente, direi tudo junto e um pouco confuso o que  aconteceu, começando onde o deixei quando estava lhe rogando que levasse a minha mãe ao  paraíso sem passar pelo purgatório;

(3) No dia 19 de Março, consagrado a São José, pela manhã encontrando-me no meu habitual  estado, a minha mãe passava desta vida ao ambiente da eternidade, e o bendito Jesus fazendo me ver que a levava disse-me:

(4) “Minha filha, o Criador leva a criatura”.

(5) Neste momento me senti investida por dentro e por fora por um fogo tão vivo que me sentia  queimar as vísceras, o estômago e todo o resto, e se tomava alguma coisa se convertia em fogo  e era obrigada a vomitá-la assim que a comia; Este fogo consumia-me e mantinha-me viva. Oh!  Como compreendia o fogo devorador do purgatório, que enquanto consome da a vida. O fogo faz  o ofício de alimento, de água, de morte e de vida, mas neste estado eu era feliz, mas tendo visto  somente que Jesus a tinha levado, mas não me tinha feito ver para onde a tinha levado, a minha  felicidade não era completa, e pelos meus próprios sofrimentos sentia inquietação por quais  seriam os sofrimentos de minha mãe se estivesse no purgatório, e vendo o bendito Jesus, que  nestes dias quase não me deixou sozinha, chorava e lhe dizia: “Doce Amor meu, diz-me aonde a  levaste. Eu estou contente que a tenha levado porque a tem Consigo, mas se não a tem  Consigo, isto não tolero e chorarei tanto até que me contentes”. E Ele parecia que gozava com  meu pranto e me abraçava, me sustentava, me secava as lágrimas e me dizia:

(6) “Minha filha, não temas, acalma-te, e quando te acalmares te farei ve-la, e por isso você  estará contente; além disso, o fogo que você sente te sirva como prova de que te tenho  satisfeito”.

(7) Mas eu continuava chorando, especialmente quando o via, porque sentia em meu íntimo que  ainda faltava alguma coisa à beatitude de minha mãe; chorava tanto, que as pessoas que me  circundavam, que tinham vindo pela morte de minha mãe, Vendo-me chorar assim, acreditando  que chorava pela morte dela ficavam quase escandalizadas, pensando que eu havia me  separado da Vontade Divina, quando eu mais que nunca nadava neste ambiente da Divina

Vontade. Mas eu não me acolho a nenhum tribunal humano, porque todos são falsos, senão só  ao divino porque está cheio de verdade. Se o bom Jesus não me condenava, mas bem me  compadecia, e para me sustentar vinha mais freqüentemente, me dando quase um motivo para  me fazer chorar, porque se Ele não viesse, com quem devia chorar para conseguir o que quero?  Aqueles tinham razão porque julgavam o exterior, além disso, sendo eu tão má não é de admirar  que os outros se escandalizassem de mim. Depois de alguns dias, vindo o bom Jesus me disse:  (8) “Minha filha, acalma-te, porque quero dizer-te e fazer-te ver onde está tua mãe e como tu,  tanto antes como depois de me haver trazido me ofereceste continuamente o que Eu mereci, fiz  e sofri no curso de minha Vida em seu favor, por isso ela agora se encontra tomando parte em  tudo o que Eu fiz e goza de minha Humanidade, ficando ainda oculta minha Divindade, que em  breve lhe será também revelada, e o fogo que tu sentes e tuas orações serviram para isentá-la  de qualquer outra pena de sentido, que a todos correspondem, porque minha justiça, tomando  de ti a satisfação, não podia tomá-la dos dois”.

(9) Naquele momento, parecia-me ver minha mãe dentro de uma imensidão que não tinha  confins, e nesta imensidão havia tantas alegrias e alegrias por quantas palavras, pensamentos,  suspiros, obras e sofrimentos, batidas, em suma, tudo o que continha a Humanidade Santíssima  de Jesus Cristo. Compreendia que é um segundo paraíso para os bem-aventurados, e que todos  para entrar no paraíso da Divindade devem passar por este da Humanidade de Cristo. Assim,  para minha mãe tinha sido um singularíssimo privilégio reservado a pouquíssimos, não ter  tocado outro purgatório; no entanto, compreendia que se bem não estava em tormentos, mas  sim em gozos, sua felicidade não era perfeita, mas quase a metade.

(10) Sejam dadas graças ao Senhor por isto. Eu continuei sofrendo durante doze dias, tanto que  me encontrei à beira da morte, mas tendo-se interposto a obediência para fazer que esse fio de  vida que me restava não se rompesse, regressei a meu estado natural. Eu não sei, parece que  esta obediência tem uma arte mágica sobre mim, mas o Senhor logo a fará perder sua  autoridade para me levar com Ele. Eu sentia um descontentamento porque a obediência se  atravessa para não me deixar ir ao Céu, e nisto Jesus me disse;

(11) “Minha filha, os bem-aventurados no Céu dão-me tanta glória pela união perfeita da sua  vontade com a minha, que a sua vida é uma reprodução do meu Querer, há tanta harmonia entre  Eu e eles, que a sua respiração, o seu alento, os movimentos, as alegrias, e tudo o que constitui  a bem-aventurança deles, é efeito do meu Querer; no entanto, digo-te que a alma ainda viadora,  se está unida com o meu Querer de modo que não se separa jamais dele, sua vida é de Céu, e  eu recebo dela a mesma glória, mas tomo mais gosto e complacência dela, porque o que fazem  os bem-aventurados o fazem sem sacrifícios e com alegrias, enquanto que o que fazem os  viadores o fazem com sacrifício e com padecimentos, e onde há sacrifício Eu tomo mais gosto e

me agrado de mais, e os mesmos bem-aventurados, vivendo em meu Querer, como a alma  também vivendo em minha Vontade forma uma mesma vida, participam no gosto que Eu tomo  da alma viadora”.

(12) Recordo que em outra ocasião estando eu com o temor de que meu estado fora obra do  demônio, o bom Jesus me disse:

(13) “Minha filha, o demônio também sabe falar de virtude, mas enquanto fala de virtude, no  interior lança repugnância, ódio à mesma virtude; assim que a pobre alma se encontra em  contradição e sem força para praticar o bem. Ao contrário, quando eu sou Eu que falo, sendo Eu  verdade, minha palavra está cheia de vida, não é estéril, mas fecunda, assim, enquanto falo  infundindo amor à virtude e produzo a mesma virtude na alma, porque a verdade é força, é luz, é  sustento e uma segunda natureza para a alma que se deixa guiar pela verdade”.

(14) Continuo dizendo que apenas dez dias depois da morte de minha mãe, meu pai ficou  gravemente doente, e o Senhor me fazia entender que também ele morreria; eu lhe fiz o dom  antecipado e repeti o que tinha feito por minha mãe para que tampouco a meu pai o fizesse tocar  o purgatório, mas o Senhor se mostrava mais relutante e não me escutava; eu temia muito, não  por sua salvação porque o bom Jesus me tinha feito a solene promessa, há quase quinze anos,  de que de todos os meus e daqueles que me pertencem nenhum se perderia; mas temia muito  pelo purgatório. Eu lhe rogava continuamente, o bom Jesus quase não vinha. Só no dia em que  meu pai morria, depois de uma enfermidade de quinze dias, o bendito Jesus fez-se ver todo  benigno, vestido de branco, como se estivesse de festa e me disse:

(15) “Hoje espero teu pai, e por amor teu me farei encontrar não como juiz, senão como pai  benigno, o acolherei entre meus braços”.

(16) Eu insisti pelo purgatório, mas ele não prestou atenção, e ele desapareceu. Morto meu pai,  não me veio nenhum sofrimento novo como aconteceu com minha mãe, e por isso entendi que  tinha ido para o purgatório. Eu orava e voltava a rogar, mas Jesus se fazia ver só como  relâmpago, sem me dar tempo de nada, e por acréscimo nem sequer podia chorar, porque não  tinha com quem fazê-lo, e Aquele que era o único que podia escutar meu pranto me esquivava.  Adoráveis juízos de Deus em seus modos.

(17) Depois de dois dias de dores internas, enquanto via o bendito Jesus e lhe perguntava por  meu pai, o ouvi atrás das costas de Jesus Cristo, como se explodisse em pranto e pedia ajuda, e  desapareceram. Eu fiquei dilacerada na alma por isto e rezava, finalmente, depois de seis dias,  encontrando-me em meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma  igreja na qual estavam muitas almas purgantes, eu pedia a Nosso Senhor que ao menos fizesse  vir a meu pai dentro da igreja a fazer seu purgatório, porque via que estas almas, nas igrejas,  estão em constantes alivios pelas orações e missas que se dizem, mas muito mais pela

presença real de Jesus Sacramentado, que parece ser para elas um contínuo refrigério.  Enquanto estava nisto vi o meu pai, com um aspectovenerável, e Nosso Senhor o colocou perto  do tabernáculo. Com isto fiquei menos lacerada em meu interior.

(18) Lembro-me confusamente que outro dia, vindo o bom Jesus, me fazia compreender a  preciosidade do sofrimento, e eu lhe pedia que fizesse compreender a todos o bem que há no  sofrer. E Ele me disse:

(19) “Minha filha, a cruz é um fruto espinhoso, que por fora é incômodo e pungente, mas  removidos os espinhos e a casca encontra-se um fruto precioso e requintado, que só quem tem  a paciência de suportar as dores dos espinhos pode chegar a descobrir o segredo da  preciosidade e sabor daquele fruto; e só aquele que chegou a descobrir este segredo o olha com  amor, e com avidez vai em busca desse fruto sem dar importância aos espinhos e que todos os  outros o olham com desdém e o desprezam”.

(20) E eu: “Mas doce Senhor meu, qual é este segredo que há no fruto da cruz?”  (21) E Ele: “O segredo da eterna bem-aventurança, porque no fruto da cruz se encontram tantas  moedas que só servem para entrar no Céu, e a alma com estas moedas se enriquece e se torna  bem-aventurada eternamente”.

(22) O resto eu me lembro confusamente e não me sinto arrumado em minha mente, por isso  passo adiante e faço ponto nisto.

+ + + +

7-84

Maio 30, 1907

Eficácia da oração.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, por pouco tempo vi o bendito Jesus, e eu lhe  rogava por mim e por outras pessoas, mas o fazia com alguma dificuldade fora do habitual, como  se não tivesse podido obter tanto como se tivesse orado só por mim, e o bom Jesus disse-me:  (2) “Minha filha, a oração é um ponto só, e enquanto ela é um ponto, pode agarrar todos os  outros pontos juntos; de modo que tanto pode conseguir a oração se se reza para si mesma  como se reza pelos outros, uma é a sua eficácia”.

Deo Gratias.

Graças a Deus

Nihil obstat

Canonico Hanibale M. Di Francia

Eccl.

Imprimatur

Arcebispo Giuseppe M. Leo Outubro

www. t e r c e r f i a t . c o m

52

 

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