### **O Aborto e a Maternidade: Uma Crítica à Cultura que Despreza o Sagrado Feminino**
A discussão sobre o aborto raramente transcende o campo político e jurídico para adentrar o território íntimo, psicológico e espiritual da mulher. É mais fácil debater estatísticas, prazos legais e autonomia corporal do que confrontar a realidade crua de uma cultura que, ao prometer libertação, está nos desumanizando e nos afastando daquilo que há de mais profundo e transformador na experiência feminina: a maternidade.
Este artigo não é um tratado jurídico ou um panfleto dogmático. É um convite à reflexão, um mergulho corajoso nas sombras de uma transição negligenciada e na banalização de uma vida que, por ser pequena e dependente, é conveniente chamar de “apenas um feto”.
#### **A Transição Negada: O Luto Secreto da Nova Mãe**
A jornada para a maternidade é frequentemente romantizada como uma curva suave e ascendente de felicidade. A realidade, como atestam incontáveis mulheres nas entrelinhas de seus silêncios, é radicalmente diferente. O nascimento de um filho é também o luto pela mulher que se foi. É a morte de uma identidade centrada na autonomia, na mobilidade e no controle.
Como relata a autora, mesmo desejando profundamente a maternidade, depara-se com uma “ambivalência que quase a enlouqueceu”: o intenso instinto de proteger e satisfazer o bebê, lado a lado com um anseio avassalador pelo conforto e pela liberdade da vida anterior. Esse conflito é natural, mas tornou-se um tabu. Falar sobre cansaço, sobre saudade de si mesma, é visto como ingratidão ou fraqueza, não como parte integrante de um processo de transformação profunda.
A sociedade pergunta “o bebê está bem?”, mas raramente pergunta “e a mãe, como está *realmente*?”. Ninguém a prepara para a intensidade, para a entrega total, para os anos de sono interrompido, refeições frias e um amor que, paradoxalmente, pode vir acompanhado de uma sensação de perda.
#### **A Dessensibilização Programada: Por Que Não Falamos de Maternidade com os Jovens?**
Enquanto os algoritmos nas redes sociais bombardeiam adolescentes com pornografia e conteúdo superficial, há uma flagrante ausência de conversas honestas sobre gravidez e maternidade. As escolas, sob a bandeira da “educação sexual”, focam-se em métodos contraceptivos, mas falham miseravelmente em apresentar a magnitude e a beleza austera da geração de uma nova vida.
A solução oferecida pelo sistema para qualquer gravidez “inconveniente” não é apoio, informação ou acolhimento; é o aborto. E para vendê-lo, é necessário um trabalho semântico de desumanização. Palavras como “feto”, “embrião” e “tecido” são repetidas até esvaziarem-se de qualquer significado que remeta a um ser humano único e vivo.
Os argumentos são frios e utilitaristas: “não é uma pessoa”, “é dependente da mãe”, “não tem consciência”. Mas a biologia é clara: a partir da fecundação, existe um organismo vivo de espécie humana, com um DNA singular e um potencial de desenvolvimento intrínseco. Olhar para um feto de 24 semanas, que ouve vozes, chupa o dedo e é capaz de sentir dor, e ainda assim defendê-lo como um “amontoado de células” requer uma dessensibilização deliberada.
#### **A Crueza por Trás do Eufemismo: Os Métodos do Aborto Tardio**
A linguagem técnica esconde uma realidade brutal. Quando o discurso da “autonomia corporal” esbarra em um bebê já formado, os procedimentos descritos são de uma violência chocante:
* **Aborto medicamentoso:** Administram-se drogas que cortam o suprimento de nutrientes e oxigênio do bebê, induzindo um parto prematuro onde ele pode sobreviver por horas até morrer.
* **Feticídio:** Uma injeção de cloreto de potássio é aplicada diretamente no coração do feto, parando-o – um procedimento doloroso para o bebê.
* **Dilatação e Evacuação:** O corpinho do bebê é desmembrado e removido pedaço a pedaço.
Essas não são cenas de um filme de terror; são procedimentos médicos realizados aos milhares anualmente em países onde o aborto tardio é legalizado. Essa é a face final de uma cultura que, para resolver um problema social complexo, elegeu a eliminação da vida como solução.
#### **A Ilusão da Liberdade: Do Arrependimento Materno ao Vazio Existencial**
O livro “Mães Arrependidas”, de Orna Donath, é um sintoma extremo desse mal-estar. Nele, mulheres expressam um profundo ressentimento pela maternidade, vistas como uma prisão que roubou sua liberdade. Esse sentimento, embora válido em sua expressão de dor, é a ponta do iceberg de uma sociedade que nos vendeu uma mentira: a de que a felicidade está na autonomia absoluta e na fuga de qualquer responsabilidade que exija sacrifício.
A busca pelo prazer imediato e por uma “liberdade” desconectada de qualquer vínculo ou compromisso é a nova religião materialista. Nessa lógica, o sacrifício – elemento fundamental do amor maternal e de qualquer relação profunda – é visto como uma patologia a ser evitada.
O resultado não é a libertação, mas o vazio. O que dignifica e dá significado à existência humana é justamente a entrega, o cuidado com o outro, o compromisso que transcende o “eu”. Quando isso desaparece, sobram consumo, superficialidade e uma solidão existencial profunda.
**Por um Feminismo Maternal: Reconstruindo a Comunidade e o Sagrado**
A solução não é romantizar o passado ou ignorar as reais dificuldades e ambivalências da maternidade. Pelo contrário, é **falar sobre elas abertamente**, sem medo e sem julgamento. É criar redes de apoio onde as mulheres possam compartilhar suas angústias e serem acolhidas, não silenciadas.
Precisamos urgentemente resgatar o conceito de **“vila”**:
* **Chega da capitalização da maternidade:** Menos kits de maternidade e photoshoots no parto; mais marmitas, ajuda na limpeza e colo para o bebê.
* **Apoio prático, não pitaco:** Oferecer um banho tranquilo para a mãe, cuidar das crianças por algumas horas, respeitar o lento e sagrado processo de adaptação.
* **Educação para a realidade:** Mostrar aos jovens a beleza e a responsabilidade da maternidade e paternidade, não apenas os métodos para evitá-las.
Isso não é uma regressão, mas uma evolução. É a proposta de um **feminismo maternal** que, em vez de desprezar a biologia feminina, a celebra como uma força geradora e sustentadora de vida. É a noção radical de que o trabalho de “formar vidas é um trabalho grandioso”, a função mais divina e influente que existe.
A paz para as mulheres – inclusive para as vítimas de violência – não virá de uma decisão tomada no escuro, alimentada por ódio e ressentimento. Virá da consciência, do apoio genuíno e da reconexão com o que é verdadeiramente sagrado: o poder de dar à luz, nutrir e amar, mesmo quando isso exija tudo de nós. A verdadeira coragem não está em escolher não ser mãe; está em abraçar o mistério transformador de ser uma.
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