Livro do Céu Volume 3 tradução retirada do espanhol

Os Três Fiat
Livro do Céu Volume 3 tradução retirada do espanhol
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I.M.I.

1 de Novembro de 1899

Purificação da Igreja. As almas vítimas são o seu sustento

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de uma igreja, e ali estava um sacerdote que celebrava o divino sacrifício, e enquanto isso fazia chorava amargamente e dizia: “A coluna da minha Igreja não tem onde apoiar-se”.

(2) No momento em que dizia isto vi uma coluna, cujo cume tocava o céu, e abaixo desta coluna estavam sacerdotes, bispos, cardeais e todas as outras dignidades que sustentavam essa coluna, mas com minha surpresa, ao olhar vi que destas pessoas, quem era muito fraco, quem era meio acabado, quem era doente, quem era cheio de lama; escassíssimo era o número daqueles que se encontravam em estado de sustentá-la, assim que esta pobre coluna, tantas eram as sacudidas que recebia por baixo, que cambaleava sem poder estar firme. Até acima desta coluna estava o Santo Padre, que com correntes de ouro e com os raios que despedia de toda sua pessoa, fazia quanto mais podia para sustentá-la, para acorrentar e iluminar as pessoas que moravam na parte baixa, Embora alguma escapasse para ter mais oportunidade de degradar-se e enlamear-se , e não só a estas pessoas mas que tratava de atar e iluminar a todo o mundo.

(3) Enquanto eu via isto, aquele sacerdote que celebrava a missa (embora tenha dúvidas se e sacerdote ou Nosso Senhor, parece-me que era Ele, mas não sei dizer com certeza), chamou-me junto a Ele e disse-me:

(4) “Minha filha, olha em que estado lamentável se encontra minha Igreja, as mesmas pessoas que deviam sustentá-la, desfalecem, e com suas obras a abatem, golpeiam-na, e chegam a denegri-la. O único remédio é que faça derramar tanto sangue, até formar um banho para poder lavar esse purulento lodo e curar suas profundas chagas, para que sanadas, reforçadas, embelezadas por esse sangue, possam ser instrumentos hábeis para mantê-la estável e firme”. Depois acrescentou: “Chamei-te para te dizer: Queres tu ser vítima e assim ser como uma escora para segurar esta coluna em tempos tão incorrigíveis?”.

(5) Eu, em princípio, senti um arrepio correr por medo, e porque possivelmente não teria a força, mas logo me ofereci e pronunciei o Fiat. Enquanto estava nisto, encontrei-me rodeada por muitos santos, anjos e almas purgantes que com flagelos e outros instrumentos me atormentavam; e eu, embora no princípio sentisse temor, mas depois, quanto mais sofria, tanto mais me vinha o desejo de sofrer e saboreava o sofrer, como um dulcíssimo néctar. E muito mais porque me veio um pensamento: “Quem sabe se essas penas pudessem ser meios para consumir a vida, e assim poder empreender o último vôo para meu sumo e único Bem”. Mas com muita pena, depois de ter sofrido acerbas penas, vi que essas penas não me consumiam a vida. Ó Deus, que pena, que esta frágil carne me impeça de unir-me com meu Bem Eterno!

(6) Depois disto, vi o massacre sangrento que se fazia daquelas pessoas que estavam debaixo da coluna. Que horrível catástrofe! Escassíssimo era o número dos que não caíam vítimas, chegavam a tal atrevimento, que tentavam matar o Santo Padre. Mas depois parecia que aquele sangue derramado, aquelas sangrentas vítimas destroçadas, eram meios para fazer fortes aqueles que ficavam, de modo que sustentavam a coluna sem fazê-la balançar mais. ” Oh, que dias felizes!. Depois disso despontavam dias de triunfos e de paz, a face da terra parecia renovada, a coluna adquiria seu primeiro brilho e esplendor. ¡ Oh dias felizes, de longe eu vos saúdo, pois tanta glória dareis à Igreja e tanto honra a Deus que é sua Cabeça!

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03 de Novembro de  1899

 Jesus entretenimento com Luisa.

(1) Esta manhã meu amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, dentro de uma igreja e desapareceu, e eu fiquei sozinha. Agora, encontrando-me diante da presença do Santíssimo Sacramento, fiz a minha habitual adoração, mas enquanto fazia isto, parecia que me tinha virado todos os olhos para ver se podia descobrir o meu doce Jesus. Enquanto estava nisto, vi-o sobre o altar, como criança, que me chamava com sua graciosa mãozinha. Quem pode dizer o meu contentamento?

Voei a Ele, e sem pensar em outra coisa, o apertei entre meus braços e o beijei, mas no momento de fazer isto tomou um aspecto sério, e mostrava que não lhe agradam meus beijos e começou a me rejeitar. Eu, não levando em conta isto, continuei e lhe disse: “Meu querido, belo, no outro dia Você quis desabafar comigo com beijos e abraços, e eu te dei toda a liberdade; hoje Quero com você desabafar também eu, ah, me dê a liberdade”. Mas Ele continuava me rejeitando, e vendo que eu não cessava desapareceu. Quem pode dizer o quão mortificada e pensativa fiquei ao me encontrar em mim mesma? Mas depois de um pouco voltou, e eu lhe pedia perdão por minhas impertinências; me perdoou querendo Ele desafogar comigo, e enquanto me beijava me disse:

(2) “Amada de meu coração, minha Divindade habita em ti habitualmente, e à medida que tu vais inventando novas coisas para me deleitar contigo, assim Eu, para estar à par, uso novos modos para fazer você se deleitar Comigo”.

(3) Com isso eu entendi que era uma brincadeira que Jesus queria fazer.

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04 de Novembro de 1899

Efeitos diferentes entre a presença de Jesus e a do demônio.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, o demônio tratava de tomar seu aspecto e fazerse ver, mas eu não advertindo os habituais efeitos, comecei a duvidar e persegui-me com a cruz, primeiro eu e depois a ele, e o demônio vendo-se perseguido tremia; Imediatamente o rejeitei de mim sem olhar para ele. Pouco depois veio meu amado Jesus, e temendo que fosse outra vez o espírito maligno, tratava de rechaçá-lo e invocar a ajuda de Jesus e da Rainha Mãe, mas Ele para assegurar-me que não era o demônio me disse:

(2) “Minha filha, para te assegurar se sou Eu, ou não sou Eu, tua atenção deve estar nos efeitos internos, se se movem a virtude ou a vício, já que como minha natureza é virtude, de nenhuma outra Eu faço herdeiros dos meus filhos, mais do que da virtude. Isto você pode compreender também na natureza humana, que sendo carne, acontece que se tem alguma chaga, a carne se muda em pus e se pode dizer que não é mais carne; assim minha natureza, se minimamente pudesse reter em si a sombra do vício, cessaria de ser aquele Deus que é, o que não pode acontecer jamais”.

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06 de Novembro de 1899

Pureza de intenção.

(1) Esta manhã, tendo vindo o adorável Jesus e transportando-me para fora de mim mesma, fezme ver ruas cheias de cadáveres. ¡ Que cruel carnificina! dá horror pensar. Depois fez-me ver que acontecia uma coisa no ar e muitos morriam de improviso; vi isso também no mês de Março. Eu comecei, segundo meu costume, a rogar-lhe que se acalmasse e que livrasse a suas mesmas imagens de suplícios tão cruéis, de guerras tão sangrentas, e como tinha a coroa de espinhos a tirei para que eu a colocasse, e isto para aplacá-lo principalmente; Mas com grande tristeza vi que quase todos os espinhos estavam quebrados na sua cabeça santíssima, de modo que pouco me restava para sofrer a mim. Jesus se mostrava severo; quase sem me prestar atenção o que significava aquilo, para romper esse ar severo que tinha lhe disse: “Dulcíssimo amor meu, te ofereço estes movimentos de meu corpo que Tu mesmo me fizeste e todos os demais que possa eu fazer, com o único fim de te agradar e te glorificar. Ah sim, quero que também os movimentos das pálpebras, os de meus olhos, de meus lábios e de toda eu mesma sejam feitos com o único fim de te agradar só a Ti. Faze, ó bom Jesus, que todos os meus ossos, os meus nervos, ressoem entre eles e com clara voz te atestem o meu amor”.

(2) E Ele me disse: “Tudo o que se faz com a única finalidade de me agradar, resplandece Diante de mim de uma maneira tal, que atrai meus olhares divinos, e me agrada tanto, que a essas ações, embora fossem só um movimento de cílios, lhes dou o valor como se fossem feitas por Mim. Em troca as outras ações, que em si mesmas são boas e ainda grandes, não feitas unicamente para Mim, são como esse ouro enlameado e cheio de ferrugem que não resplandece, e Eu não me digno nem sequer olhá-las”.

(3) E eu: “Ah Senhor, que fácil é que o pó suje nossas ações”.

(4) E Ele: “Não se necessita prestar atenção ao pó, porque este se agita, ao que há que atender é a intenção”.

(5) Agora, enquanto isso se dizia, Jesus se ocupava em atar-me os braços. Eu lhe disse: “Senhor, que fazes?”

(6) E Ele: “Faço isto porque Tu estando na posição da crucificação me aplacas, e como Eu quero punir as pessoas Eu estou amarrando-os a você“.

(7) E disse isso desapareceu.

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10 de Novembro de 1889

A obediência ao confessor.

(1) Depois de ter passado alguns dias em contenda com Jesus, porque eu queria ser desatada e Ele não queria, agora se fazia ver que dormia, agora me impunha silêncio; finalmente esta manhã, enquanto o vi, Via o confessor que me ordenava absolutamente que me fizesse desatar por Jesus, e isto mais de uma vez, mas Jesus não fazia caso, e eu obrigada pela obediência lhe disse: “Meu amável Jesus, quando te opuseste à obediência? Não sou eu que quero ser desatada, é o confessor que quer que me faças sofrer a crucificação, por isso rende-te a esta virtude tão predileta por Ti, que entretém toda a tua vida, e formou o último elo, unindo tudo em um o sacrifício da cruz”.

(2) E Jesus: “Tu queres fazer-me violência tocando-me esse elo que uniu a Divindade e a humanidade, e formou um só elo, que é a obediência”.

(3) E, enquanto isto dizia, assumiu o aspecto de Crucificado e, quase forçado pelo poder sacerdotal, tive a participação das dores da crucificação. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória. Assim parece que fiquei desatada.

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11 de Novembro de 1899

A obediência impede-a de se ajustar à justiça.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma e me parecia que girava pela terra. ¡¡ Oh, como estava inundada por todo tipo de iniquidades, dá horror pensar! Agora, enquanto eu girava, cheguei a um ponto e encontrei um sacerdote de vida santa, e em outro ponto uma virgem de vida pura e santa. Nos unimos os três e começamos a falar sobre os tantos castigos que o Senhor está enviando e tantos outros que tem preparados. Eu lhes disse: “E vós, que fazeis? Acaso vos conformastes à divina justiça?” E Ele:

(2) “Vendo a extrema necessidade destes tristes tempos, e que o homem não se renderia nem que viesse um apóstolo, nem se o Senhor enviasse a outro São Vicente Ferrer, que com milagres e sinais portentosas o pudesse induzir à conversão é mais, vendo que o homem chegou a tal obstinação e a uma espécie de loucura, que a mesma força dos milagres o tornaria mais incrédulo, então, obrigados por esta premente necessidade, pelo bem deles e para deter este mar purulento que inunda a face da terra, e para glória do nosso Deus tão ultrajado, conformamo-nos à justiça, só estamos rogando e oferecendo-nos vítimas para fazer que estes castigos sirvam para a conversão dos povos. E tu, que fazes? Não te conformaste conosco?”

(3) E eu: “Ah não, não posso, porque a obediência não quer, embora Jesus queira que me uniforme, mas como a obediência não quer, deve prevalecer sobre tudo, devo estar sempre em oposição com Jesus bendito, o que me aflige muito”.

(4) E Ele: “Quando há obediência, certamente não precisa aderir”.

(5) Depois disto, encontrando-me em mim mesma, assim que vi o amadíssimo Jesus quis saber de que parte eram aquele sacerdote e aquela virgem, e Ele me disse que eram do Peru.

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12 de Novembro de 1899

Luisa evita alguns castigos

(1) Esta manhã, o amável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, e via como se eu devesse mover-se do céu uma coisa e tocar a terra. Fiquei tão espantada que gritei e disse: “Ah, Senhor, que fazes? Quanta ruína haverá se isto acontecer. Me diz que me ama muito e quer me assustar, viu, não? não faça, não, não, não pode fazer, porque eu não quero”. E Jesus, compadecendo-me, disse-me:

(2) “Minha filha, não tenhas medo. Além disso, quando queres que eu faça algo? Não devo Deixar-te ver nada quando castigo as pessoas, senão amarras-me por todo o lado. E bem, fortificarei teu coração com força, e farei surgir dele como um tronco para poder manter firme o que tu vês, e depois derramarei em ti tantas graças, de modo de poder me nutrir Eu e meus filhos”.

(3) Enquanto estava nisto saiu de dentro de meu coração como um tronco, e no topo como dois ramos em forma de forquilha, que elevando-se no ar tomava pela metade o que estava por mover-se, e assim ficava detida; só num ponto longínquo parecia que tocava a terra. Depois me encontrei em mim mesma e lhe implorei que se aplacara, e parecia que rendia-se, tanto que me participou as dores da cruz, e desapareceu.

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13 de Novembro de 1889

Jesus sofre ao ver sofrer as criaturas. Luisa se oferece para consolá-lo.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus parecia inquieto, não fazia outra coisa que ir e vir, agora se entretia comigo, agora quase atraído por seu ardente amor pelas criaturas ia ver o que faziam, e tudo se lamentava pelo que sofriam, como se Ele mesmo e não elas estivesse sofrendo. Muitas vezes vi o confessor, que com seu poder sacerdotal obrigava Jesus a fazer-me sofrer suas penas para poder aplacá-lo, e Ele, enquanto parecia que não queria ser aplacado, depois mostrava-se contente e agradecia de coração a quem se ocupava em sustentar seu braço indignado, e agora me participava um sofrimento e agora outro. Oh, como era terno e comovedor vê-lo neste estado! Fazia destroçar o coração de compaixão. Muitas vezes me disse:

(2) “Conforme-se a minha Justiça, que não posso mais. Ah! o homem é muito ingrato e quase me obriga por toda parte a castigá-lo, arranca-me ele mesmo das minhas mãos os castigos. Se você soubesse quanto sofro ao fazer uso de minha justiça, mas é o próprio homem que me faz violência! Ah! se não tivesse feito outra coisa que comprar a preço de sangue sua liberdade, mesmo assim deveria ser agradecido Comigo; mas o homem, para me fazer maior agravo vai inventando novas maneiras para fazer inútil meu desembolso”.

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente, e eu para consolá-lo eu disse: “Doce Bem meu, não te aflijas, vejo que a tua aflição é maior porque te sentes obrigado a punir as pessoas. Ah não, não seja jamais! Se Tu és tudo para mim, eu quero ser toda para Ti, assim que sobre mim manda os flagelos, aqui está a vítima sempre disposta e à tua disposição, podes fazer-me sofrer o que 10 quiseres e assim ficará tua justiça de algum modo aplacada, e Tu aliviado da aflição que sentes ao ver as criaturas sofrerem. Foi sempre esta a minha intenção ao não me conformar à justiça, porque sofrendo o homem sofrerás mais Tu do que Ele mesmo”.

(4) Enquanto isso eu estava dizendo que a nossa Rainha Mãe veio, e eu me lembrei que, tendo pedido ao confessor a obediência de me conformar com a justiça, ele tinha me dito para perguntar à Virgem Santíssima se eu queria me uniformizar. Eu disse-lhe e ela disse-me: “Não, não, reza antes minha filha, e nestes dias trata por quanto mais possas ter a Jesus junto contigo e aplacá-lo, porque muitos castigos estão preparados”.

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17 de Novembro de 1899

O poder sacerdotal deve coincidir com a vítima.

(1) Continua meu amável Jesus fazendo-se ver afligido. Esta manhã junto com Ele veio a nossa Rainha Mãe, e me parecia que Ela me trazia a fim de que o aplacasse e lhe rogasse junto com Ela que me fizesse sofrer a mim para livrar as pessoas, e me disse que se nestes dias passados não me tivesse interposta, e o confessor não tivesse feito uso do poder sacerdotal para concorrer com as suas intenções de me fazer sofrer, muitas catástrofes teriam acontecido. Enquanto eu estava nisto, vi o confessor, e eu imediatamente implorei por ele a Jesus e à Rainha Mãe, e Jesus disse todas as benignidades:

(2) “À medida que eu levar em conta os meus interesses, com o pedir-me e também com empenho em renovar a intenção de te fazer sofrer, a fim de livrar as nações, assim tomarei cuidado dele e o livrarei. Eu estaria disposto a fazer este pacto com ele”.

(3) Depois disto fiz por olhar para o meu doce e único Bem, e vi que em suas mãos tinha dois raios, em um continha como preparado um forte terremoto e uma guerra; no outro muitos tipos de mortes imprevistas e doenças contagiosas. Eu comecei a rogar-lhe que jogasse sobre mim aqueles raios, e quase os queria tirar de suas mãos, mas Ele para não me deixar chegar a isto, começou a afastar-se de mim, eu procurava segui-lo e por isso encontrei-me fora de mim mesma; Jesus desapareceu e eu fiquei sozinha.

(4) Agora, encontrando-me sozinha virei um pouco e cheguei a um lugar onde nesta estação fazem a ceifa, parecia que ali havia ruídos de guerra e eu queria ir para ajudar a essas pobres gentes, mas os demônios impediam-me de ir aonde estavam por acontecer tais coisas, e me batiam para que não pudesse ajudar, nem tampouco impedir seus artifícios, e usaram tanta força que me fizeram retroceder.

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19 de Novembro de 1899

Males da soberba.

(1) Continua a vir meu adorável Jesus, e como minha mente, antes de que viesse estava pensando em certas coisas que me havia dito em anos passados, e que não recordo bem, Ele, como para me lembrar disse:

(2) “Minha filha, a soberba roe a graça. Nos corações dos soberbos não há outra coisa que um vazio todo cheio de fumaça, que produz a cegueira. A soberba não faz mais que fazer de si mesmo um ídolo, assim que a alma soberba não tem o seu Deus consigo; com o pecado procurou destruílo em seu coração, e levantando um altar nele, se põe em cima e se adora a si mesmo”.

(3) Oh! Deus, que monstro abominável é este vício, a mim me parece que se a alma está atenta a não deixá-lo entrar nela, estará livre de todos os outros vícios, mas se por sua desventura se deixa dominar por ele, como é mãe monstruosa e má, lhe parirá todos seus filhos díscolos, os quais são os outros pecados. Ah Senhor, mantenha-a longe de mim!

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21 de Novembro de 1899

 Jesus quer deleitar-se olhando-se em Luisa, e ela é auxiliada pela Santíssima Virgem

(1) Esta manhã meu caríssimo Jesus, mal veio me disse:

(2) “Minha filha, todo o teu deleite deve ser contemplar-te em Mim, e se isto o fazes sempre, Tomarás em ti todas as minhas qualidades, a minha fisionomia, as minhas próprias linhas, e Eu encontrarei em correspondência todo o meu gosto e sumo contente em deleitar-me olhando-me em ti”.

(3) Dito isto desapareceu, e eu estava ruminando em minha mente essas palavras, quando de improviso voltou, colocou sua santa mão na minha cabeça e voltando minha cara para Ele acrescentou:

(4) “Hoje quero me deleitar um pouco olhando para mim em você”.

(5) Um estremecimento me correu por todo o corpo, um espanto de me sentir morrer porque via que me olhava fixo, fixo, querendo deleitar-se em meus pensamentos, olhares, palavras e em todo o resto, com o contemplar-se em mim.  Oh Deus! Sou causa de deleite ou de amargura? Ia repetindo em meu interior. Enquanto estava nisto veio nossa amada Mãe Rainha em minha ajuda, trazendo uma vestidura branca entre as mãos, e toda amabilidade me disse:
(6) “Filha, não temas, quero suprir Eu mesma por ti vestindo-te com minha inocência, para que assim meu Filho ao contemplar-se em ti possa encontrar o maior deleite que se possa encontrar em uma criatura humana”.

(7) Então vestiu-me com essa vestidura e apresentou-me ao meu amado Bem Jesus dizendo-lhe:

(8) “Amada Filha, aceita-a por consideração a Mim e aceita-te nela”.

(9) Assim me tirou todo temor e Jesus se deleitou em mim e eu Nele.

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24 de Novembro de 1899

Luisa quer receber as amarguras de Jesus.

(1) Esta manhã o meu doce Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma. Agora, como tenho visto tudo cheio de amargura, pedi-lhe e voltei a pedir-lhe que a derramasse em mim, mas, porque lhe roguei, não consegui obter que vertesse em mim suas amarguras, e conforme me aproximava de sua boca para recebê-las saía um hálito amargo. Enquanto fazia isto via um sacerdote que morria, mas não sabia bem quem era, e como tinha a intenção de rezar por um sacerdote doente, não o reconhecendo me confundi se era ele ou algum outro. Então eu disse a Jesus: “Senhor, o que fazes? Não vês quanta falta de sacerdotes há em Corato, e queres tirar-nos outros?” Jesus não me dando atenção e ameaçando com a mão dizia:

(2) “Eu os destruirei demais”.

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26 de Novembro de 1899

Complacência da Santíssima Trindade diante do sofrimento de Luísa.

(1) Encontrando-me no meio de grandes sofrimentos, meu amável Jesus veio e me pôs o braço por detrás do pescoço, em ato de me segurar. Agora, estando perto d’Ele comecei a fazer minhas habituais adorações a todos os seus santos membros, começando por sua sacratíssima cabeça. No momento em que fazia isto, disse-me:

(2) “Amada minha, tenho sede, tira-me a sede com o teu amor, que não resisto mais”.

(3) E tomando aspecto de menino pôs-se em meus braços e pôs-se a mamar, parecia que sentia um gosto grandíssimo e ficava tudo confortado e acalmava sua sede. Depois disto, querendo brincar comigo, com uma lança que tinha na mão me trespassava o coração de lado a lado. Eu sentia uma dor terrível, mas oh! como estava contente de sofrer, especialmente porque eram as mesmas mãos de meu só e único Bem as que me davam o sofrer, e o incitava a me rasgar principalmente, tanto era o gosto e a doçura que eu sentia. E Jesus bendito, para me satisfazer mais, arrancou-me o coração, tomando-o entre as suas mãos, e com essa mesma lança abriu-o pela metade e encontrou uma cruz resplandecente e macia, tomou-a entre as suas mãos agradando-se grandemente e disse-me:

(4) “Esta cruz foi produzida pelo amor e a pureza com que sofres, estou tão contente no modo com que tu sofres, que não só eu, mas eu chamo o Pai e o Espírito Santo para agradar Comigo”. (5) Num instante olhei e vi Três Pessoas que me circundando se deleitavam em olhar esta cruz, mas eu, lamentando-me com Eles disse: (6) “Grande Deus, muito pouco é meu sofrer, não estou contente só com a cruz, senão que quero também os espinhos e os cravos, e se eu não o mereço, porque sou indigna e pecadora, Vós, certamente podeis dar-me as disposições para merecê-lo”.

(7) E Jesus, enviando-me um raio de luz intelectual, fez-me perceber que queria que eu confessasse as minhas culpas. Senti-me aterrorizada ante as Três Divinas Pessoas, mas a Humanidade de Nosso Senhor me inspirava confiança, assim que dirigindo-me a Ele disse o “eu pecador”, e depois comecei a fazer a confissão de minhas culpas. Agora, enquanto me encontrava toda imersa em minha miséria, uma voz saiu do meio deles que dizia: (8) “Te perdoamos, e você, não peque mais”.

(9) Eu esperava receber a absolvição de Nosso Senhor, mas nesse momento desapareceu. (10) Pouco depois voltou crucificado e me participou as dores da cruz.

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27 de Novembro de 1899

A graça faz feliz a alma.

(1) Esta manhã meu amado Jesus não vinha, mas depois de muito esperar, enquanto o Vi me lamentei com Ele por sua demora, dizendo-lhe: “Senhor bendito, como é que demoras tanto , talvez te tenhas esquecido que não posso estar sem Ti? Ou por acaso perdi a tua graça e por isso não vens?” E Ele interrompeu os meus lamentos e disse-me:

(2) “Minha filha, sabes o que faz a minha graça? Minha graça faz feliz a alma dos bem-aventurados compromissados, e torna feliz a alma dos viadores, com esta única diferença, que os compromissados se alegrando e deleitando-se, e os viadores trabalhando e colocando-a em comércio. Assim, quem possui a graça, tem em si mesma o paraíso, porque a graça não é outra coisa que possuir-me a Mim mesmo, e sendo Eu só o objeto encantador que encanta a todo o paraíso e que formo todos os contentos dos bem-aventurados, a alma, possuindo a alma, possuindo a graça, onde quer que se encontre possui o seu paraíso”.

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28 de Novembro de 1899

Luisa aceita sofrer no purgatório para libertar algumas almas.

(1) Meu amado Jesus veio toda afabilidade, parecia-me como um íntimo amigo que tem tantas formalidades para outro amigo para lhe demonstrar seu amor, e as primeiras palavras que me disse foram:

(2) “Amada minha, se tu soubesses quanto te amo. Sinto-me extremamente atraído a amar-te, as minhas próprias demoras em vir forçam-me e são novas causas de me fazer vir e encher-te de novas graças e carismas celestes. Se você pudesse entender o quanto te amo; seu amor comparado com o meu apenas o perceberia.¨

(3) E eu: “Meu doce Jesus, é verdade o que dizes, mas também eu sinto que te amo muito, e se Tu dizes que meu amor comparado com o teu apenas se percebe, isto é porque teu poder é sem limites e o meu é limitado, e por tanto, posso fazer por quanto de Ti mesmo me vem dado; assim é verdade, que quando tenho vontade de sofrer mais para demonstrar-te principalmente meu amor, se Tu não me concedes as penas, não está em meu poder sofrer, e estou obrigada a resignar-me mesmo nisto, e ser esse ser inútil que por mim fui sempre. Mas em Ti está em teu poder o mesmo sofrer, e em qualquer maneira que queiras manifestar-me teu amor, podes fazê-lo. Amado meu, dá-me o poder e te farei ver quanto sei fazer por amor teu, porque na medida em que me dás, nessa mesma medida te darei”.

(4) Ele ouvia com grande prazer o meu falar disparatado, e quase querendo pôr-me à prova me transportou para fora de mim mesma, perto de um lugar profundo, cheio de fogo líquido e tenebroso, dava horror e espanto só de vê-lo. Jesus me disse:

(5) “Aqui está o purgatório, e muitas almas estão concentradas neste fogo. Tu irás a esse lugar a sofrer para libertar aquelas almas que me agradam, e isto o farás por amor meu”.

(6) Eu imediatamente, embora eu tremia um pouco, eu disse: “Tudo por amor de você, eu estou pronta, mas você deve vir Você junto comigo, de outra forma, se você me deixar, não deixá-lo encontrar mais, e então você me faz chorar muito”.

(7) E Ele: “Se vou junto contigo, qual seria o teu purgatório? Essas penas com a minha presença, para ti se trocariam em alegrias e em contentos”.

(8) E eu: “Sozinha não quero ir, e além disso, enquanto estivermos nesse fogo Tu estarás atrás de minhas costas, assim não te vejo e aceitarei este sofrimento”.

(9) Assim fui àquele lugar cheio de trevas, e ele me seguia por trás, e eu, por temor de que me deixasse, lhe tomei as mãos, tendo-as estreitadas aos meus ombros. Tendo chegado abaixo, quem pode dizer as penas que sofriam aquelas almas? Certamente são inenarráveis a pessoas vestidas de humana carne. Então, ao ir eu a esse fogo, este se apagava e se apagavam as trevas, e muitas almas saíam, outras ficavam aliviadas. Depois de ter estado perto de um quarto de hora, saímos, e Jesus se lamentava, e eu rapidamente lhe disse: “Diz-me meu Bem, por que te lamentas? Minha querida vida, talvez tenha sido eu a causa porque não quis ir sozinha a esse lugar de penas? Diga-me, diga-me, sofreu muito ao ver essas almas sofrerem? O que você sente?”

(10) E Jesus: “Minha querida, sinto-me todo cheio de amarguras, tanto, que não as posso conter mais, estou prestes a derramá-las sobre a terra”.

(11) E eu: “Não, não meu doce amor, derramarás em mim, não é verdade?” E aproximando-me de sua boca derramou um licor amargo, em tanta abundância que eu não podia contê-lo, e lhe pedia a Ele mesmo que me desse a força para o sustentar, de outra maneira, o que não havia deixado fazer a Nosso Senhor teria feito eu, derramá-lo sobre a terra, e fazer isto me incomodava muito; porém parece que me deu força, se bem que fossem tantos os sofrimentos que me sentia desfalecer, mas Jesus me tomando entre seus braços me sustentava e me dizia:

(12) “Contigo há que ceder por força, te volta tão molesta que me sinto quase com a necessidade de te contentar“.

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30 de Novembro de 1899

Membros doentes e membros sãos no corpo místico de Jesus

(1) Continua vindo meu adorável Jesus, e desta vez o via no momento quando estava atado à coluna; Ele, desatendo se lançava em meus braços para ser compadecido por mim. Eu o estreitava e começava a arrumar-lhe os cabelos, todos com coágulos de sangue, a secar-lhe os olhos e o rosto, e ao mesmo tempo o beijava e fazia diversos atos de reparação. Quando cheguei às mãos e lhe tirei a corrente, com suma maravilha vi que a cabeça era de Nosso Senhor, mas os membros eram de tantas outras pessoas, especialmente religiosas.  Oh! quantos membros infectados que davam mais trevas do que luz; no lado esquerdo estavam os que davam mais sofrimento a Jesus, se viam membros doentes, cheios de chagas com vermes e profundas, outros que apenas ficavam unidos por um nervo àquele corpo, oh, como se doía e vacilava aquela cabeça divina sobre aqueles membros. Ao lado direito se viam aqueles que eram melhores, isto é, membros sãos, resplandecentes, cobertos de flores e de orvalho celestial, perfumados com fragrâncias, e entre estes membros se descobria algum que desprendia um perfume apagado.

(2) Esta cabeça divina sobre estes membros sofria muito; é verdade que havia membros resplandecentes, que quase se assemelhavam à luz daquela cabeça, que a recriavam e lhe davam grandíssima glória, mas eram em número maior os membros infectados. Jesus, abrindo sua dulcíssima boca me disse:

(3) “Minha filha, quantas dores me dão estes membros! Este corpo que você vê é o corpo místico de minha Igreja, do qual me glorio de ser sua cabeça, mas que cruel rasgo fazem estes membros neste corpo! Eles parecem estar se esgueirando entre eles para ver quem pode me causar mais 16 tormento”.

(4) Ele disse outras coisas que eu não me lembro bem sobre este corpo, por isso ponho ponto.

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02 de Dezembro de 1899

Eloquente elogio da cruz.

(1) Encontrando-me muito aflita por certas coisas que não é lícito dizer aqui, o amável Jesus, querendo aliviar-me na minha aflição veio com um aspecto todo novo, me parecia vestido de cor celeste, todo adornado de sinos pequenos de ouro, que ao baterem umas nas outras ressoavam com um som jamais ouvido. Ante o aspecto de Jesus e o harmonioso som me senti encantar e aliviar em minha aflição, que como fumaça se afastava de mim. Eu teria permanecido ali, em silêncio, tanto me sentia encantar as potências de minha alma, se o bendito Jesus não tivesse rompido meu silêncio ao me dizer:

(2) “Minha querida filha, todos estes sinos são tantas vozes que te falam do meu amor e que te chamam a amar-me. Agora, deixe-me ver quantos sinos você tem, que me falem de seu amor e que me chamem a te amar“.

(3) E eu, toda cheia de vergonha, disse-lhe: “Ah Senhor! Que dizes? Eu não tenho nada, não tenho outra coisa senão defeitos”.

(4) Então Jesus compadecendo-se da minha miséria, continuou a dizer-me:

(5) “Tu não tens nada, é verdade, pois bem, quero adornar-te Eu com os meus sinos, a fim de que possas ter tantas vozes para me chamar e para me demonstrar o teu amor”.

(6) Assim parecia que como uma faixa adornada destes sininhos me apertava a cintura. Depois disto, fiquei em silêncio e Ele acrescentou:

(7) “Hoje quero entreter-me contigo, diz-me alguma coisa“.

(8) E eu: “Você sabe que todo meu contentamento é estar junto Contigo, e tendo-te a Ti tenho tudo, por isso possuindo-te a Ti, parece-me que não tenho outra coisa que desejar, nem que dizer”.

(9) E Jesus: “Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz”.

(10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: “Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz? , só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de  inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da Sabedoria incriada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos; de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá, dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me perdida em Ti e vivo de tua mesma vida”.

(11) Depois de dizer isto, (não sei se são desatinos) meu amável Jesus ao me ouvir, tudo se comprazia e levado por um entusiasmo de amor, toda me beijava e me disse:

(12) “Bravo, bravo a minha amada filha, disse bem. Meu amor é fogo, mas não como fogo terreno que onde quer que penetre tudo o torna estéril e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só esteriliza o que não é virtude, mas a tudo o mais dá vida e faz germinar as belas flores, faz produzir os mais requintados frutos e converte a alma no mais delicioso jardim celestial.

(13) A Cruz é tão poderosa e comuniquei-lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios sacramentos, e isto porque ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem faltar, mas a cruz tem a virtude de dispor a alma à graça”.

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21 de Dezembro 21 de 1899

Luisa fala da virgindade e da pureza

(1) Depois de um longo silêncio, esta manhã o meu amável Jesus, interrompendo-o, disse-me:

(2) “Eu sou o receptáculo das almas puras“.

(3) E nestas suas palavras tive uma luz intelectual que me fazia compreender muitas coisas sobre a pureza, mas pouco ou nada sei pôr em palavras do que ouço no intelecto. Mas a honorável senhora obediência quer que escreva alguma coisa, mesmo desatinando, e para agradá-la direi meus desatinos sobre a pureza.

(4) Parecia-me que a pureza era a gema mais nobre que a alma poderia possuir. A alma que possui a pureza está investida de cândida luz, de modo que Deus bendito, olhando-a encontra sua mesma Imagem, sente-se atraído a amá-la, tanto que chega a apaixonar-se dela, e é tomado por tanto amor que lhe dá por cidade seu puríssimo coração, Porque só o que é puro e puro entra em Deus, nada entra manchado naquele seio puríssimo. A alma que possui a pureza conserva em si seu primeiro esplendor que Deus lhe deu ao criá-la, nada há nela desfigurado, sem nobreza, senão que como rainha que aspira às núpcias do Rei celestial, conserva sua nobreza até que esta nobre flor seja transplantada nos jardins celestiais Oh, como esta flor virginal é perfumada com aroma especial! Eleva-se sempre sobre todas as outras flores, e mesmo sobre os mesmos anjos.  Como se destaca com variadas belezas! Assim, todos são tomados por estima e amor, e livremente todos lhe dão o passo até fazê-la chegar ao Esposo Divino, de modo que o primeiro posto em torno de Nosso Senhor é destas nobres flores. Então Nosso Senhor se deleita grandemente em passear no meio destes lírios que perfumam a terra e o céu, e muito mais se alegra em estar circundado por estes lírios, porque sendo Ele o primeiro nobre lírio e o modelo, é o exemplar de todos os demais. Oh, como é bonito ver uma alma virgem! Seu coração não emite outro alento que de pureza e de candura, nem sequer tem a sombra de outro amor que não seja Deus, também seu corpo exala cheiro de pureza; tudo é puro nela: Pura nos passos, pura no agir, no falar, no olhar, também no mover-se, assim que ao só vê-la se sente a fragrância e se descobre uma alma virgem de verdade. Que carismas, que obrigado, que recíproco amor, que estratagemas amorosos entre esta alma e o Esposo Jesus! Só quem as sente pode dizer alguma coisa, porque nem sequer se pode narrar tudo, e eu não me sinto em dever de falar sobre isto, por isso faço silêncio e passo adiante.

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22 de Dezembro  de 1899

Como Deus nos atrai a amá-lo em três modos, e como em três modos se manifesta à alma.

 

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha. Depois de muito esperar e continuar esperando, apenas, quase como um raio que foge se deixou ver várias vezes, mas me parecia mais uma luz que a Jesus, e nesta luz uma voz que dizia a primeira vez que veio:

(2) “Eu te atraio a me amar em três modos: à força de benefícios, à força de atrações e à força de persuasões“.

(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendia nestas três palavras? Parecia-me que Jesus bendito, para atrair-se meu amor e também o das outras criaturas, faz chover benefícios em nosso favor, e vendo que esta chuva de benefícios não chega ao ponto de ganhar nosso amor, chega a fazer-se atrativo. E qual é essa atração? São as suas dores sofridas por nosso amor, até morrer jorrando sangue sobre uma cruz, onde se tornou tão atraente que apaixonou por Si os seus próprios carrascos e seus mais ferozes inimigos. Além disso, para nos atrair principalmente e tornar mais forte e estável o nosso amor, deixou-nos a luz dos seus santíssimos exemplos, unidos à sua celeste doutrina, e que como luz nos purificam as trevas desta vida e nos conduzem à eterna salvação.

(4) A segunda vez que veio me disse:

(5) “Eu me manifesto à alma em três modos diferentes: Com a potência com a notícia e com o amor. A potência é o Pai, a notícia é o Verbo, o amor é o Espírito Santo”.

(6) Oh, quantas outras coisas compreendia! Mas muito escassa é o que sei manifestar. Parecia-me que com o poder se manifesta Deus à alma em tudo o criado, desde o primeiro ao último ser é manifestada a onipotência de Deus. O céu, as estrelas e todos os outros seres nos falam, embora em linguagem muda, de um Ente Supremo, de um Ser Incriado, de sua onipotência, porque o homem mais instruído, com toda sua ciência não pode chegar a criar o mais vil mosquito, e isto nos diz que deve haver um Ser Incriado potentíssimo que criou tudo e dá vida e subsistência a todos os seres.  Oh, como todo o universo a claras notas e com caracteres indeléveis nos fala de Deus e de sua onipotência! Então quem não vê é cego voluntário.

(7) Com a notícia, parecia-me que Jesus abençoado descendo do Céu veio pessoalmente à terra para nos dar a notícia do que para nós é invisível, e em quantos modos Ele não se manifestou? Acredito que cada um, por si mesmo, compreenderá todo o resto, por isso não me alongo mais.

 

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25 de Dezembro de 1899

 Jesus quer de Luisa contínua atitude de sacrifício.

(1) Depois de ter passado alguns dias quase de privação total de meu sumo e único Bem, acompanhados por uma dureza de coração, sem poder nem sequer chorar minha grande perda, ainda que oferecia a Deus também aquela dureza dizendo-lhe: “Senhor, aceita-a como sacrifício, só Tu podes amaciar este coração tão duro”. Finalmente, depois de um longo pesar, veio minha amada Mamãe Rainha trazendo em seu colo o celestial Menino envolto em uma fralda, todo trêmulo; me deu entre meus braços dizendo:

(2) “Minha filha, aquece-o com teus afetos, porque meu Filho nasceu em extrema pobreza, em total abandono dos homens e em suma mortificação“.

(3) Oh, como era agradável com sua celestial beleza! Eu tomei entre meus braços, abracei-o e apertei-o para o aquecer, porque estava quase entorpecido pelo frio, não tendo outra coisa que o cobrisse que uma só fralda. Depois de o ter aquecido por quanto pude, meu terno Menino, entreabrindo os seus lábios purpúreos, disse-me:

(4) “Prometes-me tu ser sempre vítima por amor meu, como Eu o sou por amor teu?”

(5) E eu: “Sim, querido, eu prometo”.

(6) E Ele: “Não estou contente só com as palavras, quero um juramento e também uma assinatura com o teu sangue”.

(7) E eu: “Se quer a obediência o farei”.

(8) Ele parecia todo contente, e acrescentou:

(9) “Meu coração desde que nasci o tive sempre oferecido em sacrifício para glorificar ao Pai para a conversão dos pecadores e pelas pessoas que me rodeavam e que mais me foram fiéis companheiros em minhas penas. Assim quero que seu coração esteja em contínua atitude, oferecido em espírito de sacrifício por estes três fins”.

(10) Enquanto dizia isto, a Rainha Mãe queria o Menino para alimentá-lo com seu leite dulcíssimo. Eu o devolvi e Ela puxou seu peito para colocá-lo na boca do Divino Menino, e eu astuta, querendo fazer uma piada, coloquei minha boca para chupar, tirei poucas gotas, e no momento de fazer isto desapareceram, deixando-me contente e descontente.

(11) Seja tudo para glória de Deus e para confusão desta miserável pecadora.

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27 de Dezembro de 1889

A caridade deve ser como um manto que deve cobrir as ações

(1) Jesus continua a fazer-se parecer como sombra e como raio. Enquanto me encontrava num mar de amargura pela sua ausência, num instante fez-se ver-me dizendo:

(2) “A caridade deve ser como um manto que deve cobrir todas as tuas ações, de modo que tudo deve resplandecer de perfeita caridade. O que significa esse desgosto quando não sofres? Que a tua caridade não é perfeita, porque o sofrer por amor meu e o não sofrer por meu amor, sem a tua vontade, tudo é o mesmo”.

(3) E desapareceu deixando-me mais amarga do que antes, querendo tocar uma nota muito delicada para mim, e que Ele mesmo me infundiu. Então depois de ter derramado amargas lágrimas em meu estado miserável, e pela ausência de meu adorável Jesus, Ele voltou e me disse:

4) Com as almas justas me porto com justiça, antes as recompenso duplamente por sua justiça, favorecendo-as com as graças maiores e falando-lhes com palavras justas e de santidade”.

(5) No entanto, eu estava tão confusa e má, que não me atrevia a dizer uma só palavra, aliás, continuava a derramar lágrimas sobre a minha miséria. E Jesus, querendo dar-me confiança colocou sua mão sob a minha cabeça para levantá-la, porque eu não a sustentava, e acrescentou:

(6) “Não temas, Eu sou o escudo dos atribulados“.

(7) E desapareceu.

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30 de Dezembro 30 de 1899

Efeitos da humilhação e da mortificação.

(1) Esta manhã assim que vi o meu adorável Jesus, e como a obediência me tinha dito que rezasse por uma pessoa, por isso assim que Jesus veio, confiei-lhe, e Ele disse-me:

(2) “A humilhação não só deve ser aceita, mas também amá-la, tanto como para mastigá-la como um alimento, e como quando um alimento é amargo, quanto mais se mastiga tanto mais se sente a amargura, assim a humilhação bem mastigada faz nascer a mortificação, e estes são dois meios potentíssimos, isto é, a humilhação e a mortificação, para superar certos obstáculos e obter as graças que são necessárias. E enquanto parecem daninhos à natureza humana, como o alimento amargo parece querer causar mais mal que bem, assim a humilhação e a mortificação, mas não. Quando o ferro é mais atingido sobre a bigorna, tanto mais lança faíscas de fogo e fica puro, assim a alma, quanto mais é humilhada e golpeada sob a bigorna da mortificação, tanto mais lança faíscas de fogo celestial, e fica purgada se verdadeiramente quer caminhar a via do bem; mas se é falsa acontece todo o contrário”.

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1 de Janeiro de  1900

Efeito do conhecimento de si mesmo.

  • Achando-me muito aflita pela privação do meu sumo e único Bem, depois de muito esperar e esperar, finalmente o vi sair chorando de dentro do meu coração, fazendo-me sinal com os olhos que lhe doía a ferida feita na circuncisão, e por isso chorava, e que esperava de mim que lhe secasse o sangue que corria da ferida e adoçasse a dor do corte. Eu era toda compaixão e confusão ao mesmo tempo, tanto que não me atrevia a fazê-lo, mas atraída pelo amor, não sei como encontrei um trapo na mão e tratei por quanto pude limpar o sangue ao menino Jesus. Enquanto fazia isto, sentia-me toda cheia de pecado, e pensava que eu era a causa dessa dor de Jesus Oh, como me dava pena, me sentia absorvida naquela amargura e o bendito menino compadecendo meu miserável estado me disse:(2) “Quanto mais a alma se humilha e se conhece a si mesma, tanto mais se aproxima da verdade, e encontrando-se na verdade procura dirigir-se ao caminho das virtudes, do qual se vê muito longínqua, e se vê que se encontra neste caminho, logo descobre o muito que lhe resta a fazer, porque as virtudes não têm termo, são infinitas como eu sou. Então, a alma, encontrando-se na verdade, procura sempre aperfeiçoar-se, mas jamais chegará a ver-se perfeita, e isto lhe serve e fará com que a alma esteja continuamente trabalhando, esforçando-se para mais aperfeiçoar-se, sem perder o tempo em ociosidades; E eu, me comprazendo com este trabalho, pouco a pouco vou retocando-a para pintar nela minha semelhança. Eis por que quis ser circuncidado, para dar um exemplo de grandíssima humildade, que fez desconcertar os próprios anjos do Céu”.

 

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03 Janeiro de 1900

 

A paz.

 

(1) Continuo a ver-me toda cheia de misérias, e não só isso, mas também inquieta. Parece-me que todo o meu interior foi posto em armas pela perda de Jesus. Estava pensando entre mim, que meus grandes pecados tinham me merecido que meu adorável Jesus me tivesse deixado, e por isso não o veria mais. Oh, que morte cruel é este pensamento para mim! É mais, pensamento mais impiedoso que qualquer morte. Não ver mais Jesus! Não ouvir mais a suavidade de sua voz! Perder Aquele do qual depende minha vida e do qual me vem tudo bem! Como poder viver sem Ele? Ah, se eu perder Jesus para mim tudo acabou! Com estes pensamentos sentia uma agonia de morte, todo o meu interior transtornado porque amava a Jesus, e Ele, num lampejo de luz, manifestou-se à minha alma dizendo-me:

 

(2) “Paz, paz, não queiras perturbar-te. Assim como uma flor odorosa perfuma o lugar onde se põe, assim a paz enche de Deus a alma que a possui”.

 

  • E como relâmpago se foi. Oh Senhor, quão bom és com esta pecadora, e em confiança te digo também: Como és impertinente, pois nada menos devo perder-te a ti, e nem sequer queres que me perturbe ou me inquiete, e se o faço, fazes-me entender que eu mesma afasto-me de Ti, porque com a paz me encho de Deus e com a minha inquietação me encho de tentações diabólicas. Oh meu doce Jesus, quanta paciência se necessita contigo, porque qualquer coisa que me aconteça, nem sequer posso me inquietar, nem me perturbar, senão que queres que esteja em perfeita calma e paz.

 

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05 de Janeiro de 1900

Efeitos do pecado e da confissão.

 

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, senti-me a sair de mim mesma e encontrei o meu adorável Jesus, mas como me via cheia de pecados diante da sua presença! Em meu íntimo sentia um forte desejo de me confessar com Nosso Senhor, por isso me dirigindo a Ele comecei a dizer minhas culpas, e Jesus me escutava. Quando terminei de falar, dirigindo-se a mim com um rosto cheio de tristeza me disse:

(2) “Minha filha, o pecado, se é grave, é um abraço venenoso e mortífero à alma, e não só a ela, mas também a todas as virtudes que se encontram na alma; se é venial, é um abraço que fere, que torna a alma muito débil e enferma, e junto com ela adoecem as virtudes que tinha adquirido. Que arma mortal é o pecado! Só o pecado pode ferir e matar a alma! Nada mais pode danificá-la, nada mais a torna ignominiosa, odiosa diante de Mim, senão só o pecado“.

(3) Enquanto dizia isto, eu compreendia a feiura do pecado e sentia tal pena, que nem sequer sei explicá-la. E Jesus, vendo-me toda compenetrada, levantou a sua mão direita abençoada e pronunciou as palavras da absolvição. Depois acrescentou:

(4) “Assim como o pecado fere e dá morte à alma, assim o sacramento da confissão dá a vida e a cura das feridas, e restitui o vigor às virtudes, e isto mais ou menos, segundo as disposições da alma, assim opera a virtude do sacramento”. (5) Pareceu-me que minha alma recebia nova vida, depois que Jesus me deu a absolvição não sentia mais aquele incômodo de antes. Seja sempre glorificado o Senhor e sempre lhe sejam dadas as graças.

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06 de Janeiro de 1900

A confiança: Escada para subir à Divindade.

(1) Esta manhã recebi a comunhão e encontrei Jesus, estava também a Mãe Rainha, e oh! maravilha, via a Mãe e via o coração dela transformado em Jesus Menino, olhava para o Filho e via no coração do Menino a Mãe. Enquanto estava nisto, lembrei-me que hoje é a Epifania, e eu, a exemplo dos Santos Magos, devia oferecer alguma coisa ao Menino Jesus, mas via que não tinha nada para lhe dar. Então, vendo minha miséria, veio-me o pensamento de oferecer-lhe por mirra meu corpo com todos os sofrimentos dos doze anos que estive em cama disposta a sofrer e a estar todo o tempo que Ele quisesse

(2); por ouro a pena que sinto quando me priva de sua presença, que é a coisa mais penosa e dolorosa para mim; por incenso minhas pobres orações unidas às da Rainha Mãe, a fim de que fossem mais aceitáveis ao Menino Jesus. Então fiz a oferta com toda a confiança de que o Menino aceitaria tudo. Parecia que Jesus com muito gosto aceitava minhas pobres ofertas, mas o que mais lhe agradava era a confiança com a qual os tinha oferecido. Então me disse:

(2) “A confiança tem dois braços, com um se abraça à minha humanidade e se serve dela como escada para subir à minha Divindade, com o outro se abraça à Divindade e a torrentes toma as graças celestiais, assim que a alma fica toda inundada pelo Ser Divino. Quando a alma confia, está segura de obter o que pede, Eu me faço atar os braços, a faço fazer o que quer, a faço penetrar até dentro de meu coração e por si mesma lhe faço tomar o que me pediu. Se não fizesse isto, sentir-me-ia num estado de violência”.

(3) Enquanto isto dizia, do peito do Menino e do da Mãe saíam tantos rios de licor (mas não sei dizer propriamente como se chamava aquilo que digo licor), que me inundavam a alma. E a Rainha Mãe desapareceu.

(4) Depois disto, juntamente com o Menino, saímos para fora, na abóbada dos céus, o seu gracioso rosto o via triste e disse entre mim: “Talvez queira leite e por isso está triste”. Então eu disse: “Quer mamar em mim, porque a Rainha Mamãe não está?” Mas antes de fazer isto, senti medo de que fosse demônio, então para me assegurar o persegui várias vezes com a cruz e lhe disse: “És Tu realmente Jesus Nazareno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Maria Virgem Mãe de Deus?” O Menino assegurava que sim. Então assegurada, o pus a mamar de mim. O Menino parecia que se reanimava tomando um aspecto alegre, e eu via que sugava parte dos rios dos quais Ele mesmo me tinha inundado. E, enquanto isso fazia, sentia-me puxar o coração, porque parecia que dele vinha aquele leite que Jesus chupava de mim. Quem pode dizer o que se passava entre o Menino Jesus e eu? Não tenho língua para o poder manifestar, não tenho palavras para poder descrevê-lo.

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08 de Janeiro de 1900

Mesmo os erros serão úteis.

(1) Estava a pensar entre mim: “Quem sabe quantas loucuras, quantos erros contêm estas coisas que escrevo”. Entretanto senti que perdia os sentidos, e veio o bendito Jesus e me disse:

(2) “Minha filha, até os erros servirão, e isto para fazer saber que não há nenhum artifício por parte tua, nem que tu sejas algum doutor, porque se isto fosse, tu mesma terias advertido onde te equivocavas, e isto também fará resplandecer de mais que sou Eu quem te falo, se vêem as coisas com simplicidade; porém te asseguro que não encontrarão nem a sombra do vício, nem coisa que não fale de virtude, porque enquanto você escreve, Eu mesmo estou te guiando a mão; no máximo poderão encontrar algum erro à primeira vista, mas se o observam bem, aí encontrarão a verdade”.

(3) Dito isto desapareceu, mas depois de algumas horas voltou e eu me sentia toda titubeante e pensativa acerca das palavras que me tinha dito, e Ele acrescentou:
(4) “Meu patrimônio é a firmeza e a estabilidade, não estou sujeito a nenhuma mudança, e a alma, quanto mais se aproxima de Mim e se adentra no caminho das virtudes, tanto mais se sente firme e estável no agir o bem, e quanto mais distante está de Mim, tanto mais estará sujeita a mudar-se e a inclinar-se agora ao bem e agora ao mal”.

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12 de Janeiro de 1900

Diferença entre o conhecimento de si mesmo e a humildade.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu amável Jesus veio em um estado que dava compaixão. Tinha as mãos atadas fortemente e o rosto coberto de salivares, e algumas pessoas esbofeteavam-no horrivelmente, e Ele permanecia quieto, plácido, sem fazer nem um movimento nem emitir um lamento, nem sequer um movimento de cílios, para demonstrar que Ele queria sofrer estes ultrajes, e isto não só externamente, mas também internamente. Que espetáculo tão comovente, de fazer despedaçar os corações mais duros! Quantas coisas dizia aquele rosto com as cusparadas, manchado de lama! Eu me sentia horrorizada tremia, me via toda soberba diante de Jesus. Enquanto eu estava neste aspecto, Ele me disse:

(2) “Minha filha, só os pequenos se deixam conduzir como se quer, não aqueles que são pequenos de razão humana, mas aqueles que são pequenos mas cheios de razão divina. Só Eu posso dizer que eu sou humilde, porque no homem o que se diz humildade, mas deve-se dizer conhecimento de si mesmo, e quem não se conhece a si mesmo caminha já na falsidade”.

(3) Durante alguns minutos Jesus fez silêncio e eu o contemplava. Enquanto fazia isso, vi uma mão que trazia uma luz, que, escavando em meu interior, nos mais íntimos esconderijos, queria ver se havia em mim o conhecimento de mim mesma e o amor às humilhações, às confusões e aos opróbrios; aquela luz encontrava um vazio em meu interior, e eu também via que devia ser preenchido com humilhações e confusões a exemplo do bendito Jesus. Oh, quantas coisas me fazia compreender aquela luz e aquele rosto santo que estava diante de mim! Dizia entre mim: “Um Deus, humilhado por amor meu, confuso, e eu, pecadora, sem estas divisas. Um Deus estável, firme em suportar tantas injúrias, tanto que não se move nem um pouquinho para se livrar dessas cusparadas fétidas, – ah! Parece-me ver seu interior ante a Divindade, e o exterior ante os homens – no entanto, se quiser pode fazê-lo, porque não são as correntes que o atam, senão sua estável Vontade, que a qualquer custo quer salvar o gênero humano. E eu? E eu? Onde estão minhas humilhações, onde a firmeza, a constância em fazer o bem por amor de meu Jesus e por amor de meu próximo? Ai, que diferentes vítimas somos eu e Jesus, porque de fato não nos parecemos em nada!” Enquanto meu pequeno cérebro se perdia nisto, meu adorável Jesus me disse:

(4) “Minha humanidade esteve cheia somente de opróbios e humilhações, tanto, de derramar fora, eis por que diante de minhas virtudes treme o Céu e a terra, e as almas que me amam se servem de minha Humanidade como escada para subir a provar algumas gotinhas de minhas virtudes. Diz-me, perante a minha humildade, onde está a tua? Só Eu posso gloriar-me de possuir a verdadeira humildade, minha Divindade unida a minha Humanidade podia operar prodígios em cada passo, palavra e obra, em troca voluntariamente me restringia no cerco de minha Humanidade e me mostrava como o mais pobre, e começava a confundir-me com os mesmos pecadores.

(5) A obra da Redenção em tão pouco tempo podia fazê-la, mesmo com uma só palavra, mas quis durante tantos anos, com tantos trabalhos e sofrimentos, fazer minhas as misérias do homem, Quis exercer-me em tantas ações diversas para fazer com que o homem fosse todo renovado, divinizado, mesmo nas mínimas obras, porque realizadas por Mim, que era Deus e Homem, recebiam novo esplendor e ficavam com a marca de obras divinas. Minha Divindade escondida em minha Humanidade, com descer a tanta baixeza, sujeitar-se ao curso das ações humanas enquanto que com um só ato de Vontade poderia criar infinitos mundos, com sentir as misérias, as debilidades de outros como se fossem suas, com ver-se coberta de todos os pecados dos homens ante a divina justiça, e que devia pagar com o preço de penas inauditas e com o desembolso de todo seu sangue, exercia contínuos atos de profunda e heróica humildade.

(6) Eis, ó minha filha, a grandíssima diferença da minha humildade com a humildade das criaturas, que perante a minha, é apenas uma sombra; até a de todos os meus santos, porque a criatura é sempre criatura e não sabe quanto pesa a culpa como eu a conheço, embora sejam almas heróicas que ao meu exemplo se ofereceram a sofrer as penas de outros, mas estas não são diferentes daquelas, das outras criaturas, não são coisas novas para elas, porque estão formadas do mesmo barro. Além disso, só pensar que essas penas são causa de novas aquisições e que glorificam a Deus, é uma grande honra para elas. Além disso, a criatura está restrita no cerco onde Deus a colocou, e não pode sair desses limites com os quais Deus a cercou. Oh! se estivesse em seu poder fazer e desfazer, quantas outras coisas fariam, cada um chegaria às estrelas. Mas minha Humanidade divinizada não tinha limites, senão que voluntariamente se restringia em Si mesma, e isto era um entrelaçar todas minhas obras de heroica humildade. Tinha sido esta a causa de todos os males que inundam a terra, isto é, a falta de humildade, e Eu com o exercício desta virtude devia atrair da justiça divina todos os bens. Ah, sim, que não partem de meu trono resgates de graças senão por meio da humildade! Nenhum bilhete pode ser recebido por Mim, se não contém a assinatura da humildade, nenhuma oração escuta meus ouvidos e move a compaixão meu coração, se não está perfumado com o aroma da humildade. Se a criatura não chegar a destruir o germe de honra, de estima, e isto se destrói com chegar a amar o ser desprezada, humilhada, confundida, sentirá um entrelaçamento de espinhos ao redor de seu coração, perceberá um vazio em seu coração que lhe dará sempre incômodo e a tornará muito diferente de minha Santíssima Humanidade, e se não chegar a amar as humilhações, no máximo poderá conhecer-se um pouco a si mesma, mas não resplandecerá diante de Mim vestida pela bela e agradável vestidura da humildade”.

(7) Quem pode dizer quantas coisas compreendia sobre esta virtude e a diferença entre conhecer-se a si mesmo e a humildade? Parecia-me tocar com a mão a diferença destas duas virtudes, mas não tenho palavras para me explicar. Para dizer alguma coisa me sirvo de uma idéia, por exemplo: Um pobre diz que é pobre, e mesmo a pessoas que não o conhecem e que talvez possam crer que possui alguma coisa, ele lhes manifesta com franqueza sua pobreza, pode-se dizer que se conhece a si mesmo e diz a verdade, e por isso é mais amado, move aos demais a compaixão de seu miserável estado e todos o ajudam, isto é o conhecer-se a si mesmo. Se depois, aquele pobre, envergonhado de manifestar a sua pobreza, se vangloriasse de que é rico, enquanto todos sabem que nem sequer tem vestidos para se cobrir e que morre de fome, o que aconteceria? Todos o desprezam, ninguém o ajuda e chega a ser sujeito de zombaria e de ridículo a qualquer que o conhece, e o miserável, indo de mal a pior, acaba por perecer. Tal é a soberba diante de Deus e mesmo diante dos homens, e eis que quem não se conhece a si mesmo, já está fora da verdade e se precipita pelo caminho da falsidade.

(8) Agora, a diferença com a humildade, embora me pareça que são duas irmãs nascidas no mesmo parto e que jamais se pode ser humilde se não se conhece a si mesmo, é por exemplo um rico, que despojando-se por amor das humilhações de suas nobres vestes, cobre-se com miseráveis trapos, vive desconhecido, a ninguém manifesta quem é ele, confunde-se com os mais pobres, vive com os pobres como se fosse igual a eles, faz dos desprezos e confusões as suas delícias, e esta é a bela irmã do conhecimento de si mesmo, isto é a humildade. Ah! Sim, a humildade chama à graça; a humildade rompe as cadeias mais fortes, como são o pecado; a humildade supera qualquer muro de divisão entre a alma e Deus, e a Ele a devolve. A humildade é a pequena planta, mas sempre verde e florida, não sujeita a ser roída pelos vermes, nem os ventos, nem as granizadas, nem o calor poderão lhe fazer mal nem murchar minimamente. A humildade, embora seja a mais pequena planta, sempre tira ramos altíssimos que penetram até o céu e se entrelaçam ao redor do coração de Nosso Senhor, e só os ramos que saem desta pequena planta têm livre a entrada nesse coração adorável. A humildade é a âncora da paz nas tempestades das ondas do mar desta vida. A humildade é sal que tempera todas as virtudes, e 28 preserva a alma da corrupção do pecado. A humildade é a erva que brota no caminho pisado pelos caminhantes, que enquanto é pisada desaparece, mas logo se vê surgir de novo mais bela do que antes. A humildade é como enxerto nobre que enobrece a planta silvestre. A humildade é o ocaso da culpa. A humildade é a recém-nascida da graça. A humildade é como lua que nos guia nas trevas da noite desta vida. A humildade é como aquele ganancioso negociante que sabe negociar bem suas riquezas, e não esbanja nem sequer um centavo da graça que lhe vem dada. A humildade é a chave da porta do Céu, assim ninguém pode entrar nele se não tiver bem guardada esta chave. Finalmente, caso contrário eu nunca iria terminar e alongar-me muito, humildade é o sorriso de Deus e de todo o Céu Empírico, e o choro de todo o inferno.

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17 de Janeiro 17 de 1900

A maldade e astúcia do homem.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus ia e vinha, mas sempre em silêncio. Depois senti-me sair de mim mesma, e ouvia Jesus dizer-me por detrás:

(2) “O homem diz – porque já não há retidão – : “Até que as coisas estejam deste modo não poderemos ter nenhum êxito em nossos planos, finjamos virtude, finjamos ser retos, mostremos nos verdadeiros amigos externamente, porque assim será mais fácil tecer as nossas redes e atraí-los ao engano, e quando sairmos para apanhá-los e fazer-lhes mal, cada um, acreditando-nos amigos, tê-los-emos em nossas mãos”. Vai um pouco até onde chega a astúcia do homem“.

(3) Depois disto o bendito Jesus querendo um ato de reparação especial, parecia que me tirava a vida oferecendo-me à divina justiça. No momento em que isso acontecia, eu acreditava que Jesus me fazia terminar esta vida, então lhe disse: “Senhor, não quero ir para o Céu sem suas insígnias, primeiro me proteja e depois me leve”.

(4) Assim me trespassou as mãos e os pés com os pregos, e enquanto isso fazia, com grande amargura minha, Ele desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, e disse para mim: “Aqui estou eu ainda. Ah! Quantas vezes me fez meu amado Jesus, tem uma arte especial para sabê-lo fazer, porque me faz crer que devo morrer, e então eu rio-me do mundo, das penas, rio-me de Ti mesmo porque terminou o tempo de estar separados, não haverá mais intervalos de separação. Mas apenas começo a rir quando me encontro outra vez atada pelas correntes da prisão deste frágil corpo, e esquecendo o ter começado a rir, continuo o pranto, os gemidos, os suspiros da minha separação de Ti. Ah Senhor, faça-o logo, porque me sinto impelida fortemente a ir!”

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22 de Janeiro de 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, meu pobre coração lutava entre o temor de havê-lo perdido e a esperança de talvez poder vê-lo de novo. Oh! Deus, que guerra sangrenta teve que sustentar este meu pobre coração; era tanta a pena que agora se congelava e agora era espremido como sob uma imprensa e gotejava sangue. Enquanto estava neste estado, senti-me próximo do meu doce Jesus, que tirando um véu que me impedia de vê-lo, finalmente pude fazê-lo. Logo lhe disse: “Ah Senhor, já não me amas?”

(2) E Ele: “Sim, sim, o que te recomendo é a correspondência à minha graça, e para ser fiel deves ser como aquele eco que ressoa dentro de um vazio, que não apenas começa a emitir-se a voz, imediatamente, sem o mínimo atraso se ouve ressoar o eco. Assim você, não apenas comece a receber minha graça, sem nem sequer esperar que a termine de dar, imediatamente começa o eco de sua correspondência”.

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27 de  Janeiro de 1900

 A ordem das virtudes na alma.

(1) Continuo a ficar quase privada do meu doce Jesus, a minha vida desfalece pela dor, sinto um tédio, um aborrecimento, um cansaço da vida. Ia dizendo em meu interior: “Oh, como se estendeu meu exílio! Que felicidade seria a minha se pudesse desatar as ataduras deste corpo e assim minha alma empreenderia livre o vôo para meu sumo Bem!” Então um pensamento me disse: “E se você for ao inferno?” E eu, para não chamar o demónio a combater-me, logo o rejeitei dizendo: “Pois bem, também do inferno enviarei os meus suspiros ao meu doce Jesus, também ali quero amá-lo”. Enquanto eu estava nestes e outros pensamentos, que seria muito longa a história se eu os dissesse todos, o amável Jesus por pouco tempo fez-se ver, mas com um aspecto sério, e disse-me:

(2) “Ainda não chegou o teu tempo”.

(3) Depois, com uma luz intelectual me fazia compreender que na alma tudo deve estar arrumado. A alma possui muitos pequenos apartamentos onde cada virtude toma seu lugar, e se bem se pode dizer que uma só virtude contém em si todas as demais, e que a alma possuindo uma só, é cortejada por todas as outras virtudes; mas apesar disso todas são distintas entre elas, tanto, que cada uma tem seu lugar na alma, e eis que todas as virtudes têm seu princípio no mistério da Santíssima Trindade, que enquanto é Uma, são Três Pessoas distintas, e enquanto são Três são Uma. Compreendia também que estes apartamentos na alma, ou estão cheios de virtude ou do vício oposto àquela virtude, e se não está nem a virtude nem o vício, ficam vazios. Parecia-me como uma casa que contém muitos quartos, todos vazios, ou uma cheia de serpentes, outra de lama, outra cheia de alguns móveis cobertos de pó, outra escura. Ah Senhor, só Você pode pôr em ordem minha pobre alma!

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28 de Janeiro de 1900

A mortificação.

(1) Continua o mesmo. Esta manhã Jesus me transportou para fora de mim mesma, e depois de tanto tempo parece que vi Jesus com clareza, mas me via tão má que não me atrevia a dizer uma só palavra, nos olhávamos, mas em silêncio; Naqueles olhares mútuos, compreendia que o meu bom Jesus estava cheio de amargura, mas não me atrevia a dizer-lhe que as derramasse em mim. Então Ele mesmo se aproximou e começou a derramá-las, e eu não podia contê-las, conforme as recebia, lançava-as por terra. Então ele me disse:

(2) “O que você faz? Você não quer mais participar de minhas amarguras? Você não quer me dar mais alívio nas minhas dores?”

(3) E eu: “Senhor, não é a minha vontade, eu mesma não sei o que me aconteceu, sinto-me tão cheia que não tenho onde as conter, só um prodígio teu pode alargar o meu interior e assim poderei receber as tuas amarguras”.

(4) Então Jesus me marcou com um grande sinal de cruz e derramou de novo, assim parece que pude contê-las, e depois acrescentou:

(5) “Minha filha, a mortificação é como o fogo que faz secar todos os humores; assim a mortificação seca todos os humores maus que há na alma e a inunda de um humor santificante, de modo que faz germinar as mais belas virtudes”.

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31 de Janeiro de 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois que Jesus veio várias vezes, mas sempre em silêncio, eu me sentia um vazio e uma pena porque não ouvia a voz dulcíssima do meu doce Jesus e Ele, retornando, quase para me contentar me disse:

(2) “A graça é a vida da alma. Assim como ao corpo dá vida a alma, assim a graça dá vida à alma. Mas ao corpo não basta ter vida só ter a alma, senão que necessita também de um alimento para nutrir-se e crescer a devida estatura, assim a alma não basta ter a graça para ter vida, senão que necessita um alimento para alimentá-la e conduzi-la a devida estatura, E qual é esse alimento? É a correspondência. Assim que a graça e a correspondência formam essa cadeia que a conduz ao Céu, e à medida que a alma corresponde à graça, são formados os elos desta cadeia”.

(3) Depois acrescentou: “Qual é o passaporte para entrar no reino da graça? É a humildade. A alma, olhando sempre para o seu nada e descobrindo que não é senão pó, que vento, toda a sua confiança a porá na graça, tanto que a fará dona, e a graça tomando o domínio sobre toda a alma, a conduz pelo caminho de todas as virtudes e a faz chegar ao topo da perfeição”.

(4) O que será a alma sem graça? Parecia-me como o corpo sem a alma, que se torna pestilento e se enche de vermes e podridão por toda parte, tanto que se faz objeto de horror à mesma vista humana; assim a alma sem a graça, torna-se tão abominável que dá horror à vista, não dos homens, mas daquele Deus três vezes Santo.

(5) Ah Senhor, livra-me de tanta desgraça e do monstro abominável do pecado!

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04 de Fevereiro de  1900

Desconfiança.

(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:

(2) “O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário, como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento”.

(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d’Ele, suas graças, seus carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:

(4) “O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda? que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar, nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as virtudes em perigo de expirar”.

(5) “Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo, e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.

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5 Fevereiro de 1900

(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre, meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:

(2) “Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o conhecimento do próprio nada”.

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12 de  Fevereiro de 1900

Os defeitos voluntários formam nuvens.

(1) Encontrando-me num estado de abandono por parte de meu adorável Jesus, a meu pobre coração sentia-o, pela dor, espremer como sob uma imprensa. ¡ Meu Deus, que pena! Enquanto me encontrava neste estado, quase como sombra vi o meu amado Bem, mas não claramente, só vi claramente uma mão que me parecia que levava uma lâmpada acesa, e molhava o dedo no óleo da lâmpada e ungia-me a parte do coração, exacerbada pela dor da sua privação. Neste momento ouvi uma voz que dizia:

(2) “A verdade é luz, que levou o Verbo à terra. Assim como o sol ilumina, vivifica e fecunda a terra, assim a luz da verdade dá vida, luz, e torna fecundas de virtude as almas. Ainda que muitas nuvens, que são as iniqüidades dos homens, ofuscam esta luz de verdade, mas apesar disso não deixa, desde detrás das nuvens, de mandar flashes de luz vivificante, e assim aquecer as almas, e se estas nuvens são nuvens de imperfeições e de defeitos involuntários, esta luz, rasgando-as com o seu calor as dissipa e livremente se introduz na alma”.

(3) Então compreendia que a alma deve estar atenta a não cair na sombra do defeito voluntário, porque estes são aquelas nuvens perigosas que impedem a entrada à luz divina.

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13 de  Fevereiro de 1900

A mortificação é como o cal.

(1) Esta manhã depois de ter recebido a comunhão vi o meu adorável Jesus, mas tudo mudou de aspecto. Parecia sério, tudo reservado, em ato de repreender-me. Que triste mudança! Meu pobre coração, em vez de ser aliviado, sentia-me mais oprimido, mais trespassado diante do aspecto tão insólito de Jesus. No entanto, sentia toda a necessidade de um alívio pelas dores sofridas nos últimos dias por sua privação, em que me parecia que Vivia, mas agonizante e em contínua violência. Mas Jesus bendito, querendo repreender-me porque ia buscando alívio devido a sua presença, enquanto não devia procurar outra coisa que sofrer, disse-me:

(2) “Assim como o cal tem virtude de queimar os objetos que se metem nela, assim a mortificação tem virtude de queimar todas as imperfeições e os defeitos que se encontram na alma, e chega a tanto, que espiritualiza até o corpo, e como um cerco se põe ao redor, e aí sela todas as virtudes. Até que a mortificação não te queime bem, tanto a alma como o corpo, até desfazê-lo, não poderei selar perfeitamente em ti a marca da minha crucificação”.

(3) Depois disto, não sei bem quem era, mas me parecia que fosse um anjo, me trespassou as mãos e os pés, e Jesus com uma lança que saía de seu coração, traspassou-me o meu com extrema dor e desapareceu deixando-me mais aflita que antes. Oh!, como compreendia bem a necessidade da mortificação, minha inseparável amiga, e que em mim não existia nem sequer a sombra de amizade com ela! Ah! Senhor, ata-me Tu com indissolúvel amizade a esta boa amiga, porque por mim não sei mostrar-me mais que toda rudeza, e ela não vendo-se acolhida por mim com boa cara, usa comigo todas as considerações, vai me fugindo sempre, temendo que eu lhe volte as costas completamente, e jamais cumpre comigo seu belo e majestoso trabalho, porque estamos um pouco distantes, suas mãos prodigiosas não chegam até mim para poder trabalhar e apresentar-me diante de Ti como obra digna de suas santíssimas mãos.

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16 de Fevereiro de 1900

A mortificação deve ser o respiro da alma.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, depois de me ter renovado as penas da crucificação, disse-me:

(2) “A mortificação deve ser o respiro da alma. Assim como ao corpo é necessária a respiração, e do ar bom ou mau que se respira assim fica infectado ou purificado, também pela respiração se conhece se está são ou doente o interior do homem, se todas as partes vitais estão de acordo, assim a alma: se respira o ar da mortificação, tudo estará nela purificado, todos seus sentidos soarão com um mesmo som concordante, seu interior exalará um respiro balsâmico, saudável, fortificante; mas se não respirar o ar da mortificação tudo será discordante na alma, exalará um respiro malcheiroso e nauseante; enquanto está por domar uma paixão, outra se desenfreada. Em suma, sua vida não será outra coisa que um jogo de crianças”.

(3) Parecia-me ver a mortificação como um instrumento musical, no qual, se todas as cordas estão boas e fortes, produz um som harmonioso e agradável, mas se as cordas não são boas, agora há que reparar uma, agora há que afinar outra, por isso todo o tempo o emprega em ajustá-lo, mas jamais em tocá-lo, no máximo poderá emitir um som discordante e desagradável, por isso jamais fará nada de bom.

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19 de Fevereiro de 1900

Ameaça de castigos.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, via muita gente, toda em movimento, me parecia, mas não estou segura, como uma guerra, ou bem uma revolução, e a Nosso Senhor não faziam mais que tecer coroas de espinhos, tanto que enquanto eu estava toda atenta a tirar-lhe uma, outra mais dolorosa lhe punham. Ah, sim, parece que nosso século será célebre pela soberba! A maior desventura é perder a cabeça, porque tendo perdido a cabeça com o cérebro, todos os outros membros tornam-se inábeis, ou tornam-se inimigos de si mesmos e dos demais, por isso acontece que a pessoa abre um caminho a todos os outros vícios.

(2) Meu paciente Jesus tolerava todas essas coroas de espinhos, e eu mal tinha tempo de tirando-as, então se virou para essa gente e lhes disse:

(3) “Morrereis, que na guerra, que nas prisões e que em terremotos, poucos permanecereis. A soberba formou o curso das ações de vossa vida, e a soberba vos dará a morte”

(4) Depois disto, o bendito Jesus tirou-me do meio daquela gente, e fazendo-se menino eu o levava nos meus braços para o fazer repousar. Ele, pedindo-me um refrigério queria mamar de mim, eu, temendo que fosse demônio o persegui várias vezes com a cruz, e depois lhe disse: “Se verdadeiramente és Jesus, rezemos juntos a Ave Maria a nossa Rainha Mãe”. E Jesus recitou a primeira parte, e eu o Santa Maria. Depois, Ele mesmo quis dizer o Pai Nosso, oh! como era comovente sua oração, enternecia tanto, que o coração parecia que se derretia. Depois acrescentou:

(5) “Filha, minha vida a tive do coração, a diferença dos demais; eis uma razão por que sou todo coração para as almas, e por que sou levado a querer o coração, e não tolero nele nem sequer uma sombra do que não é meu. Então entre você e eu quero que tudo seja totalmente para Mim, e o que você dará às criaturas não será outra coisa que o transbordamento de nosso amor“.

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20 de  Fevereiro de 1900

Jesus é a luz do Céu, da qual todos tomam as suas pequenas luzes.

(1) Continua a vir o meu benigno Jesus. Depois de ter recebido a Comunhão me renovou as penas da crucificação, e eu fiquei tão entorpecida que sentia necessidade de um alívio, mas não me atrevia a pedi-lo. Depois de um pouco voltou como menino e me beijava toda, e de seus lábios corria leite, e eu bebi a grandes goles esse leite dulcíssimo de seus puríssimos lábios. Agora, enquanto fazia isso, me disse:

(2) “Eu sou a flor do Éden celestial, e é tanto o perfume que expando, que diante de mim fragrância fica atraído todo o empíreo, e como Eu sou a luz que manda luz a todos, tanto, de tê-los abismados, todos meus santos tomam de Mim suas pequenas luzes, assim que não há luz no Céu que não tenha sido tomada desta Luz”. (3) Ah sim! não há nem mesmo cheiro de virtude sem Jesus, e não há luz, embora fosse ao mais alto dos Céus, sem Ele.

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21 de Fevereiro de 1900

O dom da pureza é graça conseguida, e esta é obtida com a mortificação.

(1) Esta manhã meu amável Jesus começou a fazer suas habituais demoras. Seja sempre bendito; de verdade que se necessita uma paciência de santo para suportá-lo, e há que tratar com Jesus para saber quanta paciência se necessita. Quem não o experimenta não pode acreditar, e é quase impossível não ter algum pequeno desgosto com Ele. Então, depois de ter usado a paciência ao esperá-lo e esperá-lo, finalmente veio e me disse:

(2) “Minha filha, o dom da pureza não é dom natural, senão que é graça conseguida, e esta se obtém com tornar-se atrativa, e a alma se faz tal com a mortificação e os sofrimentos. ¡ Oh, como se torna atrativa a alma mortificada e sofredora como ela é bonita, e eu sinto tal atração por ela que enlouqueço por esta alma e tudo o que ela quer dou-lhe. Você, quando estiver privada de Mim, sofre minha privação, que é a pena mais dolorosa para você, por meu amor, e Eu sentirei mais atração que antes e te concederei novos dons”.
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23 de Fevereiro de 1900

O sinal mais certo para saber se um estado é a Vontade de Deus.

(1) Esta manhã depois de ter perdido quase a esperança de que o bendito Jesus viesse, de improviso veio e me renovou as penas da crucificação e me disse:

(2) “O tempo chegou, o fim se aproxima, mas a hora é incerta“.

(3) E eu, sem prestar atenção ao significado das palavras que dizia, fiquei em dúvida se devia atribuí-lo à minha completa crucificação ou bem aos castigos, e disse-lhe: “Senhor, quanto temo que o meu estado não seja Vontade de Deus”.

( 4) E Ele: “O sinal mais certo para saber se é Minha vontade um estado, é que se sente a força para sustentar esse estado“.

(5) E eu: “Se fosse tua Vontade não sucederia esta mudança, que não vens como antes”.

(6) E Ele: “Quando uma pessoa se torna familiar numa família, não se usam tanto essas cerimônias, essas considerações que se usavam antes quando era estranha. Assim faço Eu. No entanto, isto não é sinal que seja vontade dessa família não querer tê-la com eles, nem que não a amem mais que antes. Por isso fica quieta, deixa-me fazer a Mim, não queiras atormentar-te o cérebro nem perturbar a paz do coração; quando chegar o tempo oportuno conhecerás o meu agir”.

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24 de Fevereiro de 1900

 Luisa resiste à obediência.

(1) Esta manhã estava cheia de medo, acreditava que tudo era fantasia, ou seja, demônio que queria me iludir. Então tudo o que via o desprezava e me desagradava: Via o confessor que punha a intenção de que Jesus me renovasse as dores da crucificação, e eu tentava resistir. O bendito Jesus no princípio me tolerava, mas como o confessor renovava a intenção, então Jesus me disse:

(2) “Minha filha, parece que desta vez faltaremos à obediência. Não sabes tu que a obediência deve selar a alma, e que a obediência deve fazer a alma como suave cera, de modo que o confessor possa dar-lhe a forma que queira?”

(3) Assim, não levando em conta minhas resistências me participou as dores da crucifixão, e eu, não podendo resistir mais a tudo isso, porque não queria pelo temor de que não fosse Jesus, tive que sucumbir sob o peso das dores. Seja sempre bendito e tudo seja para glorificá-lo em tudo e sempre.

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26 de  Fevereiro de 1900

A Divina Vontade é felicidade de todos.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, quando no máximo vinha alguma vez como sombra e fugia, eu sentia tal pena que me desfazia em lágrimas, e o bendito Jesus tendo compaixão de minha dor, veio e me via e me via, e depois me disse:

(2) “Minha filha, não temas, que não te deixo; agora, quando estiveres sem minha presença, não quero que te desanimes, antes, de hoje em diante quando estiveres privada de Mim, quero que tomes minha Vontade e que nela te deleites, Amando-me e glorificando-me nela e tendo a minha vontade como se fosse a minha própria Pessoa. Fazendo isso, você me terá em suas próprias mãos. Que coisa forma a bem-aventurança do Paraíso? Certamente minha Divindade. Agora, o que formará a bem-aventurança de meus amados na terra? Com certeza minha Vontade. Ela não te poderá fugir jamais, tê-la-á sempre em tua posse, e se tu permaneceres no círculo da minha Vontade, ali sentirás as alegrias mais inefáveis e os prazeres mais puros. A alma, não saindo jamais do círculo da minha Vontade, torna-se nobre, diviniza-se e todas as suas obras repercutem no centro do Sol divino, assim como os raios do sol repercutem na superfície da terra, e nem um só sai do centro que é Deus. A alma que faz minha vontade é a única nobre rainha que se nutre de meu alento, porque seu alimento e sua bebida não as toma mais que de minha Vontade, e nutrindo-se de minha Vontade toda santa, em suas veias correrá um sangue puríssimo, seu hálito exalará um perfume que me recriará, porque será produzido pelo meu próprio hálito. Por isso não quero outra coisa de ti, senão que formes tua bem-aventurança no giro da minha Vontade, sem sair jamais, nem sequer por um breve instante”.

(3) Enquanto dizia isto, em meu íntimo sentia uma inquietude e um temor, porque o falar de Jesus indicava que não ia vir, e que eu devia aquietar-me em sua Vontade. Oh! Deus, que pena mortal! Que aperto de coração! Mas Jesus sempre benigno adicionou:

(4) “Como posso deixá-la se você é vítima? Só deixarei de vir quando você deixar de ser vítima, mas enquanto for vítima me sentirei sempre atraído a vir”.

(5) Assim parece que fiquei tranquila; mas me sinto como circundada pela adorável Vontade de Deus, de modo que não encontro nenhuma abertura pela qual sair. Espero que me queira sempre neste cerco que me une toda a Deus.

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27 de  Fevereiro de 1900

A Divina Vontade ata Jesus à alma. O grande mal da murmuração.

(1) Havendo-me abandonado toda na amável Vontade de Nosso Senhor, eu me via toda circundada pelo meu doce Jesus, por fora e por dentro. Com o ter-me abandonada Nele me via como se meu ser se tivesse tornado transparente e a qualquer parte que virava via a meu sumo Bem, mas o que me fazia maravilhar era que enquanto me via rodeada por dentro e por fora por Jesus, assim eu, meu pobre ser, minha vontade, circundava a Jesus como dentro de um círculo, de modo que Ele não encontrava a abertura para poder sair, porque minha vontade unida à sua o tinha acorrentado, sem que me pudesse fugir. Oh, admirável segredo da Vontade de meu Senhor, indescritível é sua felicidade! Agora, enquanto eu estava neste estado, o bendito Jesus me disse:

(2) “Minha filha, na alma toda transformada no meu querer Eu encontro um doce repouso. A alma se converte para Mim como aqueles objetos suaves que não dão nenhum incômodo a quem quer repousar neles, é mais, ainda que fossem pessoas cansadas e doloridas, é tanta a suavidade e o prazer que tomam ao repousar sobre estes objetos, que ao acordarem se encontram fortes e saudáveis. Assim é para mim a alma conformada a meu Querer, e Eu em recompensa me faço atar por sua vontade e nela faço resplandecer o Sol Divino como no pleno meio-dia”.

(3) Disse isto desapareceu. Pouco depois, tendo recebido a comunhão voltou e me transportou para fora de mim mesma. Via muita gente e Jesus me dizia:

(4) “Diga-lhes, diga-lhes quão grande é o mal que fazem com murmurar um do outro, porque atraem minha indignação, e isto com justiça, porque vejo que enquanto estão sujeitos às mesmas misérias e fraquezas, não fazem outra coisa que erigir tribunais um contra o outro. Se assim fazem entre eles, que farei eu, que sou santo e puro, com eles? De acordo com a caridade que exercitem-se uns com os outros, assim Eu me sinto atraído a usar misericórdia com eles”.

(5) Jesus me dizia isso, e eu o repetia a essa gente, e depois nos retiramos.

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02 de Março de 1900

A união das vontades une a alma a Jesus.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, o meu doce Jesus fazia-se ver crucificado, e internamente sentia-me atraída a olhar para Ele, para poder assemelhar-me a Ele, e Jesus se refletia em mim para atrair-me à sua semelhança. Enquanto isso eu fazia, sentia-me infundir em mim as dores do meu Senhor crucificado, que com toda a bondade me disse:

(2) “Quero que o teu alimento seja o sofrer, não só por sofrer, mas como fruto da minha Vontade. O beijo mais sincero que ata mais forte nossa amizade, é a união de nossos querer, e o nó indissolúvel que nos estreitará em contínuos abraços será o contínuo sofrer”.

(3) Enquanto dizia isto, o bendito Jesus despregou se da cruz, a tomou e a estendeu no interior de meu corpo, e eu ficava tão estendida nela que me sentia deslocar os ossos, além disso, uma mão que não sei dizer com certeza de quem era, me traspassava as mãos e os pés, e Jesus que estava sentado sobre a cruz que estava estendida dentro de mim, tudo se comprazia em meu sofrer e em quem me traspassava as mãos, e acrescentou:

(4) “Agora posso descansar tranquilamente, não tenho que tomar nem sequer o incômodo de crucificar-te, porque a obediência quer fazer tudo, e Eu livremente te deixo nas mãos da obediência. ¨

(5) E, levantando-se da cruz, pôs-se sobre o meu coração para repousar. Quem pode dizer como é que eu sofri estando nessa posição? Depois de ter estado muito tempo, Jesus não se apressava em aliviar-me como das outras vezes para me fazer voltar ao meu estado natural, e à mão que me tinha posto sobre a cruz não a via mais, isto dizia-o a Jesus, que me respondia:

(6) “Quem te pôs sobre a cruz? Talvez tenha sido Eu? Foi a obediência, e a obediência deve tirarte daí”.

(7) Parece que desta vez tive vontade de jogar, e como suma graça obtive que me libertasse o bendito Jesus.

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07 de Março 1900

A alma conformada ao Divino Querer, chega a prender a Deus.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, tive que girar e girar para encontrar o bendito Jesus. Felizmente, entrei numa igreja e encontrei-o sobre um altar onde se celebrava o sacrifício divino. Subitamente corri e abracei-o dizendo-lhe: “Finalmente encontrei-te! Fizeste-me girar tanto até me cansar, e Tu estavas aqui”. E Ele me olhando sério, não com sua habitual benignidade me disse:

(2) “Esta manhã me sinto muito amargo e sinto toda a necessidade de pôr as mãos nos castigos para desagravar me“.

(3) Eu, em seguida: “Meu amado, não é nada, remediaremos isto agora mesmo, derramarás em mim tuas amarguras e assim ficarás desagravado, não é verdade?”

(4) E Ele condescendendo a meu pedido derramou em mim suas amarguras. Depois, estreitando-me a Ele, como se tivesse se liberado de um grave peso, acrescentou:

(5) “A alma conformada a meu Querer se sabe infiltrar tanto em minha potência, que chega a me prender a tudo e a seu gosto me desarma como quer. Ah! tu, tu, quantas vezes me amarras!”

(6) E enquanto isto dizia tomou seu habitual aspecto doce e benigno.

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09 de Março de 1900

A graça é como o sol.

(1) Encontrando-me um pouco perturbada por uma coisa que não é necessário dizer aqui, minha mente queria andar vagando para certificar-se sobre minha turbação e assim ficar em paz, mas o bendito Jesus querendo contradizer meu querer, impedia-me que eu pudesse ver o que queria, e como eu insistia em querer ver me disse: (2) “Por que quer ir vagando? Não sabes tu que quem sai da minha Vontade sai da luz e se confina nas trevas?”

(3) E querendo me distrair do que eu queria, me transportou para fora de mim mesma, e mudando de assunto acrescentou:

(4) “Olhe um pouco como os homens são ingratos para mim. Assim como a luz do sol enche toda a terra, de um ponto ao outro, de modo que não há terra que não goze o benefício de sua luz, nem há pessoa que possa lamentar-se de estar privada de suas benéficas influências, tão é verdade, que o sol, investindo a todo o universo, para poder dar luz a todos, toma-o como em sua mão, só pode lamentar-se de não gozar de sua luz quem fugindo de sua mão vai esconder-se em lugares tenebrosos; porém o sol continuando seu caritativo ofício não deixa de lhe enviar algum raio de luz de entre os seus dedos; assim a minha graça é uma imagem do sol, que por toda a parte inunda as nações, pobres e ricos, ignorantes e doutos, cristãos e infiéis, nenhum pode dizer que está privado dela, Porque a luz da verdade e a influência da minha graça enchem a terra, e mais do que o sol no seu meio-dia. Mas qual não é a minha pena ao ver as nações, que cruzando esta luz a olhos fechados e enfrentando a minha graça com a torrente pestífera de suas iniqüidades, desviam-se desta luz e voluntariamente vivem em lugares tenebrosos, em meio de cruéis inimigos? Elas estão expostas a mil perigos, porque não tendo luz, não podem conhecer claramente se se encontram no meio de amigos ou de inimigos, nem fugir dos perigos que os cercam.

(5) Ah, se o sol tivesse razão, e os homens lhe pudessem fazer esta afronta à sua luz, e que alguns chegassem a tal ingratidão, que para desprezar e não ver seu resplendor, arrancariam os olhos, e assim ficam mais seguros de viver nas trevas, Ai, o sol em vez de mandar luz mandaria lamentos e lágrimas de dor, até perturbar toda a natureza! Não obstante, o que os homens teriam horror de fazer à luz natural, chegam a tal excesso de enfrentar desse modo a minha graça. Mas a minha graça sempre benigna com eles, no meio das mesmas trevas e da loucura da sua cegueira, manda sempre resplendores de luz, porque a minha graça jamais deixa a ninguém, senão que o homem voluntariamente se afasta dela, e a graça não o tendo em si, tenta segui-lo com o fulgor de sua luz”.

6) Enquanto dizia isto, o doce Jesus estava extremamente aflito, e eu fazia quanto mais podia, para consolá-lo, pedindo-lhe que derramasse em mim suas amarguras, e Ele acrescentou:

(7) “Compadece-me se te sou causa de aflição, porque de vez em quando sinto toda a necessidade de desabafar em palavras, com minhas almas diletas, minha dor sobre a ingratidão dos homens, para mover seus corações a reparar-me em tantos excessos, e a compaixão dos proprios homens”.

(8) E eu: “Senhor, o que eu gostaria é que não me impedisses de participar nas tuas penas”. E querendo eu dizer mais, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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10 de Março de 1900

Efeitos do sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a santa comunhão, via o meu amado Jesus como Menino, com uma lança na mão, em atitude de me querer trespassar o coração, e como tinha dito uma coisa ao confessor, Jesus, querendo repreender-me, disse-me: “Tu queres afastar o sofrimento, e Eu quero que comeces uma nova vida de sofrimentos e de obediência”.

(2) E enquanto isso dizia, trespassou-me o coração com a lança e depois acrescentou:

(3) “Assim como o fogo arde segundo a lenha que se lhe põe, e assim tem maior atividade em queimar e consumir os objetos que se lançam nele, e por quanto maior é o fogo, outro tanto é maior o calor e a luz que contém, assim o sofrimento e a obediência, quanto maior, tanto mais a alma se torna hábil para destruir o que é material, e a obediência, como a macia cera lhe dá a forma que quer“.

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11 de Março de 1900

 Encontro com uma alma do purgatório.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã via o bom Jesus mais aflito do que de costume, ameaçando com uma mortandade de gente, e via em certos lugares que muitos morriam. Depois passei pelo purgatório e reconhecendo a uma amiga falecida perguntava-lhe várias coisas sobre meu estado, especialmente se é Vontade de Deus este estado, se é verdade que é Jesus que vem, ou bem o demônio, porque lhe dizia: “Como tu te encontras diante da Verdade e conheces com clareza as coisas, sem que possas enganar-te podes dizer-me a verdade sobre as minhas circunstâncias”.

(2) E ela disse-me: “Não temas, o teu estado é a vontade de Deus e Jesus ama-te muito, por isso manifesta-se a ti”.

(3) E eu, dizendo-lhe algumas das minhas dúvidas, pedi-lhe que visse ante a luz da verdade se eram verdadeiras ou falsas e fizesse-me a caridade de me vir dizer, e que se o fizesse, eu em recompensa mandava-lhe celebrar uma missa em sufrágio, e ela acrescentou:

(4) “Se o quer o Senhor, porque nós estamos tão imersos em Deus, que não podemos sequer mover as pestanas se não concorre Ele; nós habitamos em Deus como uma pessoa que habitasse em outro corpo, que tanto pode pensar, falar, ver, agir, caminhar, porque lhe é dado por aquele corpo que a circunda por fora, porque em nós não é como em vós que tendes o livre arbítrio, a própria vontade terminou, nossa vontade é só a Vontade de Deus, dela vivemos, nela encontramos todo nosso contentamento e Ela forma todo nosso bem e nossa glória”.

(5) E mostrando uma satisfação indescritível por esta Vontade de Deus, nos separamos.

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14 Março de 1900

Modo para atrair as almas ao catolicismo.

(1) Havendo-me dado o confessor a obediência de pedir ao Senhor que me manifestasse o modo como fazer para atrair as almas ao catolicismo, e para tirar tanta incredulidade, eu sei pedi-o vários dias e o Senhor não se dignava pronunciar-se sobre este ponto. Finalmente, esta manhã me encontrei fora de mim mesma, transportada dentro de um jardim que me parecia ser o jardim da Igreja, e ali estavam muitos sacerdotes e outras dignidades que discutiam sobre este tema, e enquanto discutiam saía um cão de desmesurado tamanho e força, e a maioria dessas pessoas ficavam tão assustados e debilitados, que chegavam a fazer-se morder por aquela besta, e depois retiravam-se como covardes da empresa. Aquele cão enfurecido não tinha força para morder aqueles que tinham como centro Jesus, no próprio coração, que portanto vinha a formar o centro de todas suas ações, pensamentos e desejos. Ah sim! Jesus formava o selo destas pessoas, e aquela besta ficava tão fraca que não tinha força nem sequer de respirar.

(2) Agora, enquanto discutiam, eu ouvia a Jesus que desde detrás de minhas costas dizia:

(3) “Todas as demais sociedades conhecem quem pertence a seu partido, só minha Igreja não conhece quem são seus filhos. O primeiro passo é conhecer quem são aqueles que lhe pertencem, e a estes podeis conhecê-los, estabelecendo um dia uma reunião na qual convidareis aqueles que são católicos a irem ao lugar destinado para tal reunião, e aí com a ajuda dos católicos leigos, estabelecer o que convém fazer. O segundo passo é obrigar à confissão aqueles católicos que intervêm nisto, pois esta é a coisa principal que renova o homem e forma os verdadeiros católicos, e isto não só àqueles que se encontram presentes, mas obrigar aqueles que são patrões a obrigar os seus súditos à confissão, e se não o conseguem pelas boas, mesmo despedindo-os do seu serviço. Quando cada sacerdote tiver formado o corpo de seus católicos, então poderão encaminhar-se a outros passos superiores, porque reconhecer a oportunidade do tempo, como entrar nos partidos e a prudência em expor-se, é como a poda às árvores, que faz produzir frutos grandes e maduros, mas se a árvore não é podada, produz, sim, um belo conjunto de folhagem e de flores, mas apenas cai uma geada, sopra um vento, não tendo a árvore humor suficiente e força para sustentar tantas flores para trocá-las em frutos, as flores caem e a árvore fica nua. Assim acontece nas coisas de religião: Primeiro devem formar um conveniente corpo de católicos para poder fazer frente aos outros partidos, e depois podem chegar a introduzir-se nos outros partidos para formar um só“.

(4) Dito isto, não o ouvi mais, e sem sequer vê-lo me encontrei em mim mesma. Quem pode dizer minha pena por não ter visto o bendito Jesus durante todo o dia, e as lágrimas que tive que derramar?

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15 de Março de 1900

Jesus sente-se desarmado pelas almas vitimas.

(1) Jesus continua sem vir, eu me consumia em dor e sentia uma febre que me fazia delirar. Agora, como o confessor veio celebrar o divino sacrifício, eu comunguei, mas não via, como é habitual, o meu amado Jesus, por isso comecei a dizer os meus disparates: “Diz-me meu Bem, por que não te fazes ver? Desta vez parece-me que não te dei ocasião para que te escondas. Como, da maneira mais fácil? Ai, nem mesmo os amigos desta terra agem desta maneira; quando devem afastar-se ao menos dizem adeus, e você nem sequer me diz adeus? Como, assim se faz? me perdoe se assim falo, é a febre que me faz delirar e me faz chegar à loucura”. Quem pode dizer todas as minhas loucuras que lhe disse? Seria querer perder tempo. Agora, enquanto estava delirando e chorando, Jesus fazia ver agora uma mão, agora um braço, então vi o confessor que me dava a obediência de sofrer a crucificação, e Jesus como obrigado pela obediência se fez ver e eu “Por que não se mostra?” E Ele, mostrando um aspecto sério disse:

(2) “Não é nada, não é nada, é que quero castigar a terra, e Eu, estando bem mesmo com uma só criatura, sinto-me desarmado e não tenho força para lançar mão dos castigos, e ao fazer-me ver você começa a dizer-me, se vês que devo mandar castigos: “Derrama em mim, faz-me sofrer a mim”. E sinto-me vencido por ti, e nunca ponho as mãos em castigos, e os homens não fazem outra coisa senão ensoberbecer-se de demais”.

3) Agora, repetindo o confessor a obediência de me fazer sofrer a crucificação, Jesus mostrava-se lento em fazer-me fazer esta obediência, não como as outras vezes que em seguida queria que me submetesse, e me disse:

(4) “E tu que queres fazer?

(5) E eu: “Senhor, o que Tu quiseres”.

(6) Então, dirigindo-se ao confessor com aspecto sério, disse-lhe:

(7) “Também tu queres atar-me com dar-lhe esta obediência de fazê-la sofrer?”

(8) E enquanto isso dizia começou a me participar as dores da cruz, e depois, mostrando-se mais calmo derramou suas amarguras, depois acrescentou:

(9) “O confessor, onde está?”

(10) E eu: “Senhor, não sei para onde foi, é verdade que não o vejo mais conosco”.

(11) E Ele: “Eu o amo, porque como Ele me consolou a Mim, assim Eu quero confortar a Ele“.

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17 de Março de 1900

Dor do Papa. Humildade.

(1) Esta manhã o bendito Jesus me fazia ver o Santo Padre com as asas abertas, que ia em busca de seus filhos para recolhê-los sob suas asas, e ouvia seus lamentos que diziam: “Meus filhos, meus filhos, quantas vezes busquei reunir-vos sob minhas asas e vocês me fogem! Ah, escutem meus lamentos e tenham compaixão de minha dor!” E enquanto dizia isto chorava amargamente, e parecia que não eram só os leigos que se afastavam do Papa, mas também os sacerdotes, e estes davam mais dor ao Santo Padre. Que pena dava ver o Papa nesta posição! Depois disto vi Jesus que fazia eco aos lamentos do Santo Padre e acrescentava:

(2) “Poucos são os que permaneceram fiéis, e estes poucos vivem como raposas escondidas em suas próprias cavernas, têm medo de expor-se para arrancar seus próprios filhos da boca dos lobos; falam, propõem, mas todas são palavras ditas ao vento, jamais chegam aos fatos“.

(3) Dito isto, ele desapareceu. Depois de pouco tempo voltou e eu me sentia toda aniquilada em mim mesma ante a presença de Jesus, e Ele, vendo-me assim me disse:

(4) “Minha filha, quanto mais você se abaixa em si mesma, tanto mais me sinto atraído a me abaixar para você e te encher de minha graça, eis por que a humildade é precursora da luz”.

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20 de Março de 1900

Advertência de castigos.

(1) Tendo recebido a comunhão, via meu doce Jesus que me convidava a sair com Ele, mas com o pacto de que ao ir junto com Ele, onde via que Jesus estava obrigado a mandar castigos pelos pecados, não devia discutir com Ele para que não os mandasse. Com esta condição saímos, percorrendo a terra. Em primeiro lugar comecei a ver, não muito longe de nós, especialmente em certos pontos, tudo seco, então me dirigindo a Ele disse: “Senhor, como farão estas pobres gentes se lhes falta o alimento para se nutrirem? Ah! Você pode tudo, assim como fez secar, assim faça que reverdeça”. E como tinha a coroa de espinhos estendi-lhe a mão, dizendo: “Meu Bem, que te fizeram estas nações? Talvez te tenham posto esta coroa de espinhos; pois bem, entregue-a a mim, assim ficarás aplacado e lhes darás o alimento para não as deixar morrer”. E tirando-a, coloquei-a sobre a minha cabeça. Enquanto fazia isso, Jesus me disse:

(2) “Parece que não posso levá-la junto Comigo, porque levá-la e não poder fazer nada é o mesmo“.

(3) E eu: “Senhor, não fiz nada, perdoa-me se achas que fiz mal, mas leva-me juntamente contigo”.

(4) E Ele: “O teu modo de agir me ata por todas as partes”.

(5) E eu: “Não sou eu que faço assim, és tu mesmo que me obrigas a fazer assim, porque ao encontrar-me contigo, vejo que todas as coisas são tuas, e se não tomar cuidado das tuas coisas, parece-me que viria a não tomar cuidado de Ti mesmo. Por isso deves perdoar-me se faço assim, já que o faço por amor teu e não deves afastar-me por isto.

(6) Em seguida, continuamos a girar. Eu fazia quanto mais podia para não lhe dizer nada de que não castigasse em alguns pontos, para não lhe dar ocasião que me mandasse retirar e assim perder sua amável presença; mas onde não podia começar a discutir com Ele. Chegamos a um ponto da Itália onde estavam fazendo um convênio que devia causar uma grande desordem, mas não entendi o que era, porque tendo começado a dizer, Senhor, não permita, pobre gente, como farão? Vendo Jesus que eu me afanava e queria impedi-lo, disse-me com império:

(7) “Retira-te, retira-te”.

(8) E tirando uma cinta de pregos, de alfinetes que tinha encaixada em seu corpo, que o fazia sofrer muito, acrescentou:

(9) “Retira-te e leva esta cinta contigo, assim me aliviarás muito“.

(10) E eu: “Sim, eu a porei em teu lugar, mas deixa-me estar Contigo”.

(11) E Ele: “Não, retira-te”.

(12) E o disse com tal império, que não podendo resistir, em um instante me encontrei em mim mesma, e não pude entender qual era aquele convênio.

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25 de Março de 1900

O Verbo de Deus na encarnação torna-se luz das almas.

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus ao vir me disse:

(2) “Assim como o sol é a luz do mundo, assim o Verbo de Deus ao encarnar se fez luz das almas, e assim como o sol material dá luz a todos em geral e a cada um em particular, tanto que cada um o pode gozar como se fosse próprio, assim o Verbo, enquanto dá luz em geral, é sol para cada um particular, assim é verdadeiro, que a este sol divino cada um o pode ter consigo como se fosse para ele somente”.

(3) Quem pode dizer o que entendia sobre esta luz e os efeitos benéficos que produz nas almas que têm este Sol como se fosse seu? Parecia-me que a alma possuindo esta luz põe em fuga as trevas, como o sol material ao surgir sobre nosso horizonte põe em fuga as trevas da noite. Esta luz divina, se a alma é fria, aquece-a; se está nua de virtudes, torna-a fecunda; se está inundada pela nociva enfermidade da tibieza, com seu calor absorve aquele humor mau; numa palavra, para não me alongar demasiado, este sol divino, introduzindo a alma no centro de sua esfera, a cobre com todos seus raios e chega a transformá-la em sua mesma luz.

(4) Depois disto, como eu me sentia toda abatida, Jesus querendo me aliviar me disse:

(5) “Esta manhã quero deleitar-me em ti”.

(6) E ele começou a fazer seus truques amorosos habituais.

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01 de  Abril de 1900

As paixões mudadas em virtudes.

(1) Depois de esperar e esperar, meu doce Jesus fazia-se ver dentro de meu coração. Parecia-me ver um sol que expandia raios, e olhando no centro deste sol descobria o rosto de Nosso Senhor, mas o que me fez espantar é que via no meu coração muitas donzelas vestidas de branco, com coroas na cabeça que rodeavam este sol divino, alimentando-se daqueles raios que expandem este sol. Oh! como eram belas, modestas, humildes e todas atentas, e deleitando-se em Jesus! Então, não conhecendo o significado disto, com um pouco de temor pedi a Jesus que me fizesse saber quem eram aquelas donzelas, e Ele me disse:

(2) “Estas donzelas eram suas paixões, que agora com minha graça mudei em outras tantas virtudes que me fazem nobre cortejo, estando todas à minha disposição, e Eu em recompensa as vou nutrindo com minha contínua graça“.

(3) Ah Senhor, no entanto me sinto tão mal que me envergonho de mim mesma!

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02 de Abril de 1900

Jesus julga não segundo as obras que se fazem, mas segundo a vontade com que se obra.

(1) Esta manhã sofri muito pela ausência de meu amado Jesus, mas Ele recompensou minhas penas satisfazendo um desejo meu de querer saber uma coisa que há muito desejava. Então, depois de ter girado e girado em busca de Jesus, e que agora o chamava com a oração, agora com as lágrimas, agora com o canto, pois talvez pudesse ficar ferido por minha voz e se deixasse encontrar, mas tudo em vão. Tenho repetido meus gemidos; a quem encontrava perguntava sobre Ele, finalmente, quando meu coração se sentia despedaçado e que não podia mais, o encontrei, mas o via de costas, e lembrando-me de uma resistência que lhe fiz, a que direi no livro do confessor pedi perdão e assim parece que nos pusemos de acordo, tanto que ele mesmo me perguntou o que queria, e eu lhe disse: “Diga-me para conhecer sua Vontade sobre meu estado, especialmente o que devo fazer quando me encontro com poucos sofrimentos e Você não vem, e se você vem é quase como sombra; então, não te vendo, meus sentidos os sinto em mim mesma, e encontrando-me nesta posição sinto como se pusesse do meu e não fosse necessário esperar a vinda do confessor para sair daquele estado”.

(2) E Jesus: “Sofras ou não sofras, venha Eu ou não venha, teu estado é sempre de vítima, muito mais que esta é minha Vontade e a tua, e Eu julgo não segundo as obras que se fazem, senão segundo a vontade com que se obra”.

(3) E eu: “Senhor meu, está bem como dizes, mas me parece que estou inútil e se perde muito tempo, e sinto um incômodo, um temor, e além disso fazer vir ao confessor, me atormenta a alma que não fosse Tua vontade”.

(4) E Ele: “Pensas tu que seja pecado fazer vir ao confessor?”

(5) E eu: “Não, mas temo que não seja Tua Vontade”.

(6) E Ele: “Deves fugir do pecado, mesmo da sua sombra, mas do resto não deves preocupar-te”.

(7) E eu: “E se não fosse a tua vontade, em que aproveitaria estar assim?”

(8) E Ele: “Ah, me parece que minha filha quer fugir do estado de vítima, não é verdade?”

(9) E eu, ficando vermelho, disse: “Não Senhor, digo isto pelas vezes que não me fazes sofrer e não vens, de resto faz-me sofrer e eu não me preocuparei”.

(10) E Jesus: “E a mim parece-me que queres fugir. Além disso, você sabe que horas eu reservei para vir aqui e comunicar minhas dores, se a primeira, a segunda, a terceira, ou talvez a última hora? Por isso distraindo-te de Mim e esforçando-te por sair ocupar-te-ás em outra coisa, e Eu vindo não te encontrarei preparada, darei a volta e irei a outra parte”.

(11) E eu toda assustada “Jamais seja, ó Senhor. Não quero saber outra coisa senão a tua Santíssima Vontade”.

(12) E Ele: “Permanece calma e espera o confessor“.

(13) Dito isto, Ele desapareceu. Parece que me sinto aliviada de um grande peso por este falar de Jesus, mas com tudo isto não diminuiu em mim a pena dolorosa quando Jesus me priva Dele. 3 Não se tem notícia deste livro

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09 de Abril de 1900

Abandono em Deus.

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver e me disse quase repreendendo:

(2) “Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo”.

(3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!

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10 de Abril de 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais, fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: “Meu coração, esperemos outro pouco, talvez venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha”. E, dirigindo-me a Ele, dizia: “Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta da vida”. E como não vinha, dizia: “Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando estiveres cansado, nem sequer então virás?” Mas quem pode dizer todos os meus desatinos? Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.

(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:

(3) “Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela”.

(4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

+ + + + 16 de Abril de 1900

As três assinaturas do passaporte da bem-aventurança na terra.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação e de reprovações do bendito Jesus por minhas ingratidões e resistências a seu Querer e a suas graças, esta manhã ao vir me disse:

(2) “Minha filha, o passaporte para entrar na felicidade que a alma pode possuir sobre esta terra, deve ser assinado com três assinaturas, e estas são: resignação, humildade e obediência.

(3) A resignação perfeita a meu Querer é cera que funde nossos querer e deles forma um só, é açúcar e mel, mas se há uma pequena resistência a meu Querer a cera se desune, o açúcar se torna amargo e o mel se converte em veneno. Agora, não basta estar resignada, senão que a alma deve estar convencida que o maior bem para si mesma e o maior modo de glorificar-me é fazer sempre minha Vontade. Eis a necessidade da assinatura da humildade, porque a humildade produz este conhecimento. Mas quem enobrece estas duas virtudes? Quem as fortifica? Quem as faz perseverantes? Quem as acorrenta juntas para não se poder separar? Quem as coroa? A obediência. Ah sim! A obediência destruindo de todo o próprio querer e tudo o que é material, espiritualiza tudo, e como coroa se põe ao redor, assim que a resignação e a humildade sem a obediência estarão sujeitas a instabilidade, mas com a obediência serão firmes e estáveis, e eis a estreita necessidade da assinatura da obediência, para fazer que este passaporte possa correr para passar ao reino da bem-aventurança espiritual que a alma pode gozar daqui. Sem estas três assinaturas o passaporte não terá valor, e a alma será sempre rejeitada do reino da bem-aventurança e estará obrigada a estar no reino da inquietação, dos temores e dos perigos, e para sua desgraça terá por deus a seu próprio eu, e este estará cortejado pela soberba e pela rebelião”.

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, dentro de um jardim, que parecia ser o jardim da Igreja, no qual via que se desviavam, por causa de cinco ou seis pessoas, sacerdotes e leigos, que unindo-se com os inimigos da Igreja moviam uma revolução. Que pena dava ver a Jesus bendito chorar o triste estado destas pessoas! Depois vi no ar e vi uma nuvem de água cheia de grandes pedaços de gelo que caíam sobre a terra. Oh!, quanto destroço faziam sobre as colheitas e sobre a humanidade!. Mas espero que queira aplacar-se. Então, mais aflita que antes voltei a mim.

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20 de Abril de 1900

A cruz dá-nos as linhas e a semelhança de Jesus.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo apenas como sombra, e ao vir não diz nada. Esta manhã, depois de ter-me renovado as dores da cruz por duas vezes, olhando-me com ternura enquanto sofria a dor das perfurações dos pregos, disse-me:

(2) “A cruz é um espelho onde a alma vê a Divindade, e contemplando-se nele adquire os lineamentos, a semelhança mais perfeita com Deus. A cruz não se deve apenas amar, desejar, mas ter como honra e glória a mesma cruz, e isto é agir como Deus e tornar-se como Deus por participação, porque só Eu me gloriei da cruz e considerei como uma honra sofrer, e a amei tanto, que em toda minha vida não quis estar um momento sem a cruz”.

(3) Quem pode dizer o que compreendia da cruz por falar do bendito Jesus? Mas me sinto muda para expressá-lo com palavras. Ah! Senhor, peço-te que me mantenhas sempre pregada na cruz, a fim de que tendo sempre diante deste espelho divino, possa limpar todas as minhas manchas e embelezar-me sempre mais à tua semelhança.

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21 de Abril de 1900

Mais que o sacramento, a cruz sela a Deus na alma.

(1) Encontrando-me em meu próprio estado, é mais, com um pouco de temor por uma coisa que não é necessário dizer aqui, meu doce Jesus ao vir me disse:

(2) “E ainda que sejam vasos sagrados, é necessário de vez em quando sacudi-los; vossos corpos são tantos vasos sagrados nos quais faço minha morada, por isso é necessário que de vez em quando lhes dê uma sacudida, isto é, que os visite com alguma tribulação para fazer que Eu esteja neles com mais decoro. Por isso fique calma”.

(3) Depois disto, tendo recebido a comunhão e tendo-me renovado as dores da crucificação, acrescentou:

(4) “Minha filha, como é preciosa a cruz, olha um pouco: O sacramento do meu corpo ao dar-se à alma, une-a Comigo, transforma-a até a tornar uma mesma coisa Comigo, mas ao consumir-se as espécies desune-se a união realmente contraída; mas a cruz não, ela toma a Deus e o une com a alma para sempre, e para maior segurança ela se põe como selo. Portanto, a cruz sela a Deus na alma, de modo que jamais há separação entre Deus e a alma crucificada.

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23 de Abril de 1900

A resignação é óleo que unge.

(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, via meu doce Jesus que sofria muito, e lhe pedi que me desse parte de suas penas, e Ele me disse:

(2) “Também você sofre, melhor Eu me ponho em seu lugar e você me faz o ofício de enfermeira”.

(3) Então parecia que Jesus se colocava em minha cama, e eu ao seu lado começava a examinar-lhe a cabeça, e um a um lhe tirei os espinhos que estavam pregados. Depois segui com seu corpo e percorri todas suas chagas, lhes secava o sangue, as beijava, mas não tinha com que ungi-las para mitigar a dor, então vi que de mim saía um azeite e eu o tomava e ungia as chagas de Jesus, mas com certo temor porque não compreendia o que significava aquele óleo que saía de mim. Mas Jesus bendito me fez entender que a resignação ao Querer Divino é óleo, que enquanto unge e mitiga nossas penas, ao mesmo tempo é óleo que unge e mitiga a dor das chagas de Jesus. Então, depois de ter estado por um bom tempo fazendo este ofício a meu amado Jesus, desapareceu e eu retornei em mim mesma.

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24 de Abril de 1900

A Eucaristia e o sofrimento.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, parecia-me que o confessor tinha a intenção de me fazer sofrer a crucificação, e vi imediatamente o anjo da guarda que me estendia sobre a cruz para a fazer sofrer. Depois disto vi meu doce Jesus que me compadecia toda e me disse:

(2) “Teu refrigério sou Eu, meu refrigério é teu sofrer”.

(3) E mostrava um contentamento indescritível por mim sofrer e pelo confessor, porque com a obediência que me tinha dado de sofrer lhe tinha procurado aquele alívio, depois acrescentou:

(4) “Como o sacramento da Eucaristia é fruto da cruz, por isso sinto-me mais disposto a conceder-te o sofrimento quando recebes o meu corpo, porque vendo-te sofrer, parece-me que não misticamente, senão realmente continuo em ti a minha Paixão em proveito das almas, e isto é para Mim um grande alívio, porque recolho o verdadeiro fruto da minha cruz e da Eucaristia”.

(5) Depois disto disse: “Até agora foi a obediência que te fez sofrer, queres tu que eu me divirta um pouco com renovar-te de novo a crucificação com as minhas próprias mãos?”

(6) E eu, embora me sentisse muito sofredor e mesmo afresco as dores da cruz participadas, disse:  “Senhor, estou nas tuas mãos, faze de mim o que quiseres”.

(7) Então Jesus todo contente começou a me cravar de novo os cravos nas mãos e nos pés, sentia tal intensidade de dor, que eu mesma não sei como fiquei viva, porém estava contente porque contentava a Jesus. Depois de cravar os pregos, pondo-se junto a mim começou a dizer:

(8) “Como és bela! Mas quanto mais cresce a tua beleza com o teu sofrer! Oh, como me é amada, meus olhos ficam feridos ao te ver, porque descobrem em ti minha mesma imagem!

(9) E dizia tantas outras coisas que seria inútil dizê-las, primeiro porque sou má, e segundo porque não me vendo como o Senhor me diz, sinto uma confusão e uma vergonha ao dizer estas coisas, por isso espero que o Senhor me faça verdadeiramente boa e bela, e então, diminuindo minha vergonha poderei descrevê-las, por isso ponho ponto.

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25 de Abril de 1900

A pureza no agir é luz.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma e não encontrando a meu doce Jesus, tive que girar muito para ir em busca d’Ele. No final, encontrei-o nos braços da Rainha Mãe, a beber o leite do seu peito, e enquanto eu lhe dizia e fazia, parecia que não me prestava atenção, ou melhor, nem sequer me olhava. Quem pode dizer a dor de meu pobre coração ao ver que Jesus não me fazia caso? Depois de ter dado rédea solta às lágrimas, tendo compaixão de mim veio em meus braços e derramou em minha boca um pouco desse leite que tinha chupado da Mamãe Rainha.

(2) Depois disto olhei seu peito, e tinha uma pequena pérola, tão resplandecente que investia de luz a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor. Então, querendo saber o significado, perguntei a Jesus que coisa era essa pérola, que enquanto parecia tão pequena expandia tanta luz. E Jesus:

(3) “É a pureza do teu sofrer, porque embora seja pequeno, mas como sofres somente por amor meu e estarias disposta a sofrer mais se Eu te concedesse, esta é a causa de tanta luz. Minha filha, a pureza no agir é tão grande, que quem opera com o único fim de agradar a Mim só, não faz outra coisa que mandar luz em todo seu agir. Quem não age corretamente, mesmo o bem, não faz outra coisa senão espalhar trevas”.

(4) Então eu vi no peito de Nosso Senhor, e ele tinha um espelho muito claro, e parecia que quem caminhava retamente estava tudo absorvido naquele espelho, que não estava, ficava fora, sem que pudessem receber qualquer marca da imagem do bendito Jesus. Ah Senhor! Tenha-me toda absorvida neste espelho divino, a fim de que nenhuma outra sombra de intenção tenha eu em meu obrar.

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01 de Maio de 1900

Frutos da cruz.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu doce Jesus fez-se ver toda afabilidade, e como parecia que o confessor punha a intenção da crucificação, minha natureza sentia quase repugnância de submeter-se. Então o meu doce Jesus para me animar disse-me: (2) “Minha filha, se a Eucaristia é garantia da futura glória, a cruz é pagamento para comprá-la. Se a Eucaristia é semente que impede a corrupção, e é como essas ervas aromáticas, com as quais ungindo os cadáveres não se corrompem, e doa a imortalidade à alma e ao corpo, a cruz a embeleza e é tão potente, que se houver dívidas contraídas ela se faz fiadora e com mais segurança faz com que lhe restitua a escritura da dívida contraída, e depois de ter cumprido todo o débito, com isso forma a alma o trono mais deslumbrante na glória futura. Ah! Sim, a Cruz e a Eucaristia se alternam juntas, e uma obra mais potentemente que a outra”.

(3) Depois acrescentou: “A cruz é o meu leito florido, não porque não sofresse dores atrozes, mas porque por meio da cruz dava à luz tantas almas à graça, via brotar tantas belas flores que produziam tantos frutos celestiais, assim que vendo tanto bem, Tinha para meu deleite aquele leito de dor e me deleitava da cruz e do sofrimento. Também tua filha, toma como delícias as penas e te alegre de estar crucificada na minha cruz. Não, não quero que temas o sofrer, como se quisesses agir como preguiçosa, ânimo, obra com animosidade e expõe te por ti mesma ao sofrer”.

(4) Enquanto dizia isto, via o meu anjo que estava preparado para me crucificar, e eu mesma estendi os braços, e o anjo me crucificou. Oh, como gozava o bom Jesus de meu sofrer, e como estava eu contente, porque podia dar gosto a Jesus sendo uma alma tão miserável! Pareceu-me uma grande honra para mim sofrer por seu amor.

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03 de Maio de 1900

Festa da Cruz no Céu.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via todo o céu semeado de cruzes, pequenas, grandes, médias. As maiores, mais resplendor davam. Era um encanto dulcíssimo ver tantas cruzes que embelezavam o firmamento, mais resplandecentes que o sol. Depois disto pareceu que se abria o Céu e se via e ouvia a festa que os bem-aventurados faziam à cruz. Quem mais havia sofrido era mais festejado neste dia. Distinguiam-se de modo especial os mártires e os que haviam sofrido ocultamente. Eis Oh, como se estimava nessa bem-aventurada morada a cruz e a quem mais tinha sofrido! Enquanto via isto, uma voz ressoou por todo o céu empírico que dizia:

(2) “Se o Senhor não mandasse as cruzes sobre a terra, seria como aquele pai que não tem amor pelos próprios filhos, que em vez de querer vê-los honrados e ricos, quer vê-los pobres e desonrados”.

(3) O resto que vi desta festa não tenho palavras para explicá-lo, sinto-o em mim mas não sei manifesta-lo , por isso faço silencio.

 

 

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09 de Maio de 1900

Luisa vê o mistério da Santíssima Trindade na forma de três sóis.

(1) Depois de ter passado dias de privação, e não só isso, mas também de perturbação, esta manhã, encontrando-me mais perturbada sobre o meu miserável estado, o adorável Jesus ao vir disse-me:

(2) “Tu, estando inquieta, perturbaste o meu doce repouso. Ah! Sim, não me deixa descansar mais”.

(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao ouvir que tinha tirado o repouso de Jesus Cristo? Apesar de tudo isto, por algumas horas me acalmei, mas depois me encontrei mais inquieta do que antes, tanto que eu mesma não sei desta vez onde irei terminar.

(4) Depois daquelas poucas palavras que Jesus disse, encontrei-me fora de mim e, olhando para a abóbada dos céus, descobria nela três sóis: um deles parecia pousar no oriente, outro no ocidente, terceiro no meio do dia. Era tanto o esplendor dos raios que emanavam, que se uniam uns com os outros, de modo que formavam um só. Parecia-me ver o mistério da Santíssima Trindade, e o homem formado com as três potências à imagem dela. Compreendia também que quem estava naquela luz, sua vontade ficava transformada no Pai, a inteligência no Filho e a memória no Espírito Santo. Quantas coisas compreendia! mas não sei manifestá-lo.

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13 de Maio de  1900

Privação de Jesus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, se bem faço quanto posso para estar quieta sem me perturbar, porque assim quer a obediência, mas com tudo isto não deixo de sentir o peso do abandono que me oprime e chega até me esmagar. Ó Deus! que estado é este? Diga-me ao menos em que te ofendi? Qual é a causa?  Ah Senhor, se você quiser continuar deste modo eu acho que não posso resistir mais!

(2) Por isso, assim que se fez ver, pondo uma mão sob o queixo em atitude de Compadecer-me, disse-me:

(3) “Pobre filha, a que estado te reduziste!”

(4) E fazendo-me partícipe de suas penas, como raio desapareceu deixando-me mais aflita que antes, como se não tivesse vindo, é mais, sinto-me como se não tivesse vindo há muito tempo, e sinto tal aflição por isto, que vivo, mas meu viver é um contínuo agonizar. Ah! Senhor, me dê ajuda e não me deixe no abandono, embora eu mereça!

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17 de  Maio de  1900

Poder das almas vítimas.

(1) Continua o mesmo estado de privação e de abandono. Então, encontrando-me fora de mim mesma via uma inundação de água misturada com granizo, parecia que várias cidades ficavam inundadas com notáveis danos. Enquanto via isto, encontrava-me em grande consternação porque queria impedir aquela inundação, mas como me encontrava sozinha e sobretudo não tinha comigo a Jesus, meus pobres braços sentia-os fracos para poder fazê-lo. Então, com grande surpresa vi vir uma virgem (me parecia que era da América), e ela de um ponto e eu do outro conseguimos impedir em grande parte o flagelo que nos ameaçava. Depois disto, tendo-nos reunido, via aquela virgem com as insígnias da paixão e coroada com coroa de espinhos, como também eu me encontrava, e uma pessoa que me parecia que fosse um anjo que dizia:

(2) “Ó poder das almas vítimas! O que não nos é dado fazer a nós, anjos, elas com seus sofrimentos podem fazê-lo. Oh! se os homens soubessem o bem que lhes vem delas, porque estão para o bem público e particular, não fariam outra coisa que implorar a Deus que multiplique estas almas sobre a terra”.

(3) Depois disto, tendo-nos dito que nos confiámos mutuamente ao Senhor, separamo-nos .

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18 Maio de 1900

Preencher o interior de Deus.

(1) Encontro-me ainda privada de meu adorável Jesus, no máximo alguma sombra vejo, oh quanto me custa amá-lo, quantas lágrimas devo derramar! Esta manhã, depois de o haver buscado e esperado muito, o encontrei em minha mesma cama, todo aflito, com a coroa de espinhos que lhe traspassava a cabeça; a tirei pouco a pouco e a coloquei sobre a minha.  Oh, como me via mal diante de sua presença! Não tinha força para dizer uma só palavra. Jesus, tendo compaixão de mim, disse-me:

(2) “Tem coragem, não temas, procura preencher teu interior de Mim e enriquecê-lo com todas as virtudes, até que transborde fora, e quando chegares a desbordá-las, então te levarei ao Céu e terminarão todas as tuas privações”.

(3) Depois disso, Ele agregou tomando um ar afligido: “Minha filha, reza, porque estão preparados três diferentes dias, um longe do outro, de tempestades, granizadas, raios, inundações, que causarão grande dano aos homens e às plantas”.

(4) Dito isto desapareceu, deixando-me um pouco mais aliviada no estado em que me encontro, mas com um pensamento: “Quem sabe quando chegarei a transbordar, e se não o fizer, talvez me restará estar sempre distante Dele”.

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20 de Maio de 1900

Todas as coisas têm início no nada. Necessidade do repouso e do silêncio interior.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, me parecia que fosse de noite e via todo o universo, toda a ordem da natureza, 56 o céu estrelado, o silêncio noturno, em suma, me parecia que tudo tinha um significado. Enquanto olhava para isto, parecia-me que via Nosso Senhor, que tomando a palavra acerca do que via disse:

(2) “Toda a natureza convida ao repouso, mas qual é o verdadeiro repouso? É o repouso interior e o silêncio de tudo o que não é Deus. Olhe, as estrelas cintilantes de luz moderada, não deslumbrante como o sol; o sono e o silêncio de toda a natureza, dos homens e até dos animais, e que todos procuram um lugar, uma caverna onde estar em silêncio e repousar do cansaço da vida. Se isso é necessário para o corpo, muito mais para a alma é necessário repousar em seu próprio centro que é Deus. Mas para poder repousar em Deus é necessário o silêncio interior, como ao corpo é necessário o silêncio exterior para poder-se pacificamente adormecer. Mas o que é este silêncio interior? É fazer calar as próprias paixões tendo-as em seu lugar, é impor silêncio aos desejos, às inclinações, aos afetos, em suma, a tudo o que não chama a Deus. Agora, qual é o meio para chegar a isto? O único meio e de absoluta necessidade é desfazer o próprio ser e reduzir-se ao nada, como era antes de ser criada, e quando tiver reduzido a nada o seu ser, retomá-lo em Deus.

(3) Minha filha, todas as coisas têm princípio do nada, esta mesma máquina do universo que você vê com tanta ordem, se antes de criá-la tivesse estado cheia de outras coisas, Eu não poderia colocar minha mão criadora para fazê-la com tanta maestria e deixá-la tão esplêndida e adornada, no máximo poderia desfazer tudo o que podia estar, e depois refazê-la como a Mim me agradava; mas estamos sempre ali, em que todas minhas obras têm princípio do nada, e quando há mistura de outras coisas, não é decoroso para minha Majestade descer e obrar na alma, mas quando a alma se reduz a nada e sobe a Mim, e toma seu ser no meu, então Eu obro como o Deus que sou, e a alma aí encontra o verdadeiro repouso. Eis como todas as virtudes têm princípio na humildade e no aniquilamento de si mesmo.

(4) Quem pode dizer quanto compreendia sobre o que me dizia o bendito Jesus? Oh, como seria feliz minha alma se pudesse chegar a desfazer meu pobre ser, para poder receber de meu Deus seu Ser Divino! ¡ Oh, como me enobreceria, como ficaria santificada! Mas que tolice é a minha, onde tenho o cérebro se ainda não o faço? Que miséria humana, que em vez de buscar seu verdadeiro bem e de empreender seu vôo ao alto, se contenta com arrastar-se por terra e viver na lama e na podridão!

(5) Depois disto meu amado Jesus me transportou dentro de um jardim em que havia muita gente que se preparava para assistir a uma festa, mas só aqueles que recebiam uma divisa podiam assistir, mas eram poucos os que recebiam esta divisa; a mim me veio um grande desejo de recebê-la, e tanto fiz que consegui meu propósito. Depois, tendo chegado ao ponto onde os recebiam, uma venerável matrona primeiro me vestiu de branco, depois me pôs uma banda celestial da qual pendia uma medalha marcada com o rosto de Jesus, e que enquanto era rosto ao mesmo tempo era espelho, que ao contemplar-se nele se descobriam as menores manchas, e que a alma com a ajuda de uma luz que vinha de dentro daquele rosto, podia ser facilmente removido. Parecia-me que essa medalha continha um significado misterioso. Depois tomou um manto de ouro finíssimo e me cobriu toda. Parecia-me que vestida assim podia competir com as virgens bem aventuradas. Enquanto isso acontecia Jesus me disse:

(6) “Minha filha, voltemos a ver o que fazem os homens, por agora basta que estejas vestida, quando for a festa então te levarei para assistir”.

(7) Assim, depois de ter virado um pouco, transportou-me para a minha cama.

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21 de Maio de 1900

O estado mais sublime é desfazer o nosso querer no Querer de Deus, e viver da sua Vontade.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha; depois de muito esperar veio e me acariciou me disse:

(2) “Minha filha, sabes qual é a minha mira sobre ti, e o estado que quero de ti?”

(3) E parando um pouco acrescentou: “O olhar que tenho sobre ti não é de coisas prodigiosas, e de tantas outras coisas que poderia obrar em ti para mostrar minha obra, senão que minha mira é te absorver em minha Vontade e te fazer uma só coisa com Ela, e fazer de ti um exemplar perfeito de uniformidade de teu querer com o meu. Este é o estado mais sublime, é o prodígio maior, é o milagre dos milagres o que de você quero fazer.

(4) Minha filha, para chegar perfeitamente a fazer um nosso querer, a alma deve tornar-se invisível, deve imitar-me a Mim, que enquanto encho o mundo com tê-lo absorvido em Mim e com não ficar absorvido nele, torno-me invisível e de nenhum modo me deixo ver. Isto significa que não há nenhuma matéria em Mim, senão que tudo é puríssimo Espírito, e se em minha Humanidade assumida tomei a matéria, foi para assemelhar-me em tudo ao homem e dar-lhe um exemplar perfeitíssimo de como espiritualizar esta mesma matéria. Então a alma deve espiritualizar tudo e chegar a tornar-se invisível para poder fazer facilmente uma sua vontade com minha Vontade, porque o que é invisível pode ser absorvido em outro objeto. De dois objetos com os quais se quer formar um só, é necessário que um perca a própria forma, de outra maneira jamais se chegaria a formar um só ser.

(5) Que sorte seria a sua se destruindo a si mesma, até se tornar invisível, pudesse receber uma forma toda divina! E mais, tu com ficar absorvida em Mim e Eu em ti, formando um só ser, virias a reter em ti a fonte divina, e como minha Vontade contém todo o bem que pode existir, virias a reter todos os bens, todos os dons, todas as graças, E não teria que procurar em outro lugar senão em você mesma. E se as virtudes não têm confins, estando em minha Vontade segundo a criatura possa chegar, encontrará seu termo, porque minha Vontade faz chegar a adquirir as virtudes mais heróicas e mais sublimes que a criatura por si só não pode superar .

(6) É tanta a altura da perfeição da alma desfeita em meu Querer, que chega a agir como Deus, e isto não é de admirar, porque como não vive mais sua vontade nela, senão a Vontade do próprio Deus, cessa todo assombro se vivendo com esta Vontade possui a potência, a sabedoria, a santidade e todas as outras virtudes que o próprio Deus contém. Basta te dizer, para fazer que você se apaixone e coopere o quanto puder por sua parte para chegar a tanto, que a alma que chega a viver só de meu Querer é rainha de todas as rainhas e seu trono é tão alto, que chega até o trono do Eterno, e entra nos segredos da Augustíssima Trindade e participa no amor recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Oh, como todos os anjos e santos a honram, os homens a admiram e os demônios a temem, descobrindo nela o Ser Divino!”.

(7) Ah Senhor! Quando é que me vais fazer chegar a isto, porque não posso fazer nada por mim? Agora, quem pode dizer o que o Senhor infundia em mim com luz intelectual sobre esta uniformidade de querer-vos? É tanta a altura dos conceitos, que minha língua não bem treinada não tem palavras para expressá-los, apenas pude dizer isto pouco, se bem disparatando, do que o Senhor com luz vivíssima me fez compreender.

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26 de  Maio de 1900

 O querer de Luísa é um com o de Jesus.

(1) Encontrando-me muito afligida pela privação de meu adorável Jesus, que ao mais vem como sombra e relâmpago, sinto que não posso seguir adiante se Ele quiser continuar assim. Então, encontrando-me no máximo da aflição, por pouco se fez ver, todo cansado, como se tivesse necessidade de um alívio, e pondo os seus braços ao meu pescoço me disse:

(2) “Amada minha, traze-me flores e circunda-me tudo, porque me sinto definhar de amor. Minha filha, o odor do perfume de tuas flores me será de alívio e porá um remédio a meus males, porque definho e desfaleço”.

(3) Eu logo acrescentei: “E Tu, meu amado Jesus, dá-me frutos, porque o lazer e o escasso sofrer aumentam de tal maneira o meu definhar, que desfaço até me sentir morto; e então não só flores, senão que poderei dar-te frutos para poder consolar maioritariamente o teu definhar”. E Jesus voltou a falar e me disse:

(4) “Oh, como nos ajustamos bem, não é verdade? Parece que seu querer é um com o meu.

(5) Por um momento parecia que ficava aliviada, como se quisesse cessar o estado em que me encontrava, mas depois de um pouco me encontrei imersa na mesma letargia de antes, privada de meu Sumo Bem, abandonada e sozinha.

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27 de Maio de 1900

O amor e a graça penetram nas profundezes do ser do homem.

(1) Esta manhã, sentindo-me mais do que nunca afligida pela privação do meu sumo Bem, assim que me fez ver, disse-me:

(2) “Assim como um vento impetuoso investe nas pessoas e penetra até nas vísceras, de modo a sacudir toda a pessoa, assim meu amor e minha graça voando sobre as asas dos ventos, invistam e penetram no coração, na mente e nas mais profundas partes do homem. Com tudo isso, o homem ingrato rejeita minha graça e me ofende, oh! qual não é a minha acerbo dor?”

(3) Eu estava toda confusa e aniquilada em mim mesma e não ousava dizer uma só palavra, só pensava: “Como é que não vem?” E também: Se ele vier, não vejo claramente, parece que perdi a claridade, quem sabe se verei o seu lindo rosto revelado como antes?” Enquanto assim pensava, meu benigno Jesus acrescentou:

(4) “Minha filha, por que temes, se teu estado está nos Céus pela união de nossos querer?

(5) E querendo me animar e compadecer meu estado doloroso me disse:

(6) “Tu és meu novo Jó. Não te oprimas muito se não me vês com clareza .Disse-te desde o outro dia, que não venho como é habitual porque quero castigar as nações, e se tu me visses com clareza compreenderias o que Eu estou fazendo, e teu coração, como recebeu o enxerto do meu, por isso sei o que tu virias a sofrer, como o meu coração está a sofrer porque sou forçado a punir as minhas criaturas. Então, para poupar-lhe essas dores, eu não me faço ver com clareza”.

(7) Quem pode dizer as feridas que deixou meu pobre coração? Ah Senhor, dá-me a força para suportar a dor!

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29 Maio de 1900

Ameaça de castigos.

(1) Continuo a estar no mesmo estado, sentia-me toda oprimida e tinha toda a necessidade de um apoio para poder suportar a privação do meu Sumo Bem. O bendito Jesus, tendo compaixão de mim, por alguns minutos mostrou o seu rosto de dentro do meu coração, mas não com clareza, e fazendo-me ouvir a sua suave voz disse-me:

(2) “Tem ânimo mais um pouco minha filha, deixa-me terminar de castigar e depois virei como antes”.

(3) Enquanto dizia isto, em minha mente pensava: “Quais são os castigos que começou a mandar?” E Ele acrescentou:

(4) “A chuva contínua é mais do que granizo, que está a fazer e vai trazer tristes consequências para as pessoas“.

(5) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, dentro de um jardim, e dali de dentro se viam as colheitas e as vinhas secas, e dentro de mim ia dizendo: “Pobre gente, pobre  gente, como farão?” Enquanto dizia isto, dentro daquele jardim estava um menino que chorava e gritava tão forte que ensurdecia Céu e Terra, mas ninguém tinha compaixão dele, ainda que todos o ouvissem que chorava tanto, não o levavam em conta e o deixavam sozinho e abandonado. Um pensamento passou pela minha cabeça: “Quem sabe? Como melhor será Jesus”. Mas não estava segura. Então, aproximando-me Dele lhe disse: “Que tens que chorar menino amado? Queres vir comigo, já que todos te deixaram abandonado às tuas lágrimas e à dor que te oprime tanto que te faz gritar tão forte?” Mas o que, quem poderia acalmá-lo? Apenas entre soluços respondeu que sim, que queria vir. Então eu o peguei pela mão para conduzi-lo junto comigo, e no momento que fiz isso, me encontrei em mim mesma.

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03 de Junho de 1900

A falta de estima pelas pessoas é falta de verdadeira humildade.

(1) Encontrando-me no mesmo estado, esta manhã, por um pouco vi meu adorável Jesus, que estava dentro de meu coração e dormia, e seu sonho atraía a minha alma a adormecer junto com Ele, tanto que sentia todas as potências interiores adormecidas, sem obrar mais. Às vezes me esforçava para sair daquele sonho, mas não podia, quando por um pouco se despertou o bendito Jesus e ordenou por três vezes seu alento dentro de mim, e me parecia que Ele ficava tudo absorvido em mim. Depois me parecia que Jesus atraiu outra vez dentro Dele esses três alentos que me havia enviado, e eu me encontrei toda transformada Nele. Quem pode dizer o que acontecia em mim por estes sopros divinos? Daquela união inseparável entre Jesus e eu, não tenho palavras para expressá-la. Depois disso parece que eu poderia acordar e Jesus, quebrando o silêncio me disse:

(2) “Minha filha, olhei e voltei a olhar, procurei e voltei a procurar, percorrendo toda a terra, mas em ti fixei os meus olhares e encontrei as minhas complacências, e escolhi-te entre milhares”.

(3) Depois, dirigindo-se a certas pessoas que via, repreendeu-as dizendo-lhes:

(4) “A falta de estima pelas outras pessoas é falta de verdadeira humildade cristã e de docilidade, porque um espírito humilde e doce sabe respeitar a todos e interpreta sempre bem os atos dos demais”.

(5) Dito isso, ele desapareceu sem sequer dizer uma palavra. Seja sempre abençoado que ele quer, e tudo seja para a sua glória.

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06 de Junho de 1900

Luisa crucificada, evita alguns castigos sobre Corato.

(1) Como meu adorável Jesus continuava sem se fazer ver com clareza, esta manhã, tendo recebido a comunhão, o confessor pôs a intenção da crucificação; enquanto me encontrava nesses sofrimentos, o bendito Jesus, quase atraído por minhas penas mostrou-se com clareza. Oh Deus! Quem pode dizer os sofrimentos que sofria Jesus e o estado violento em que se encontrava, porque enquanto estava obrigado a mandar os castigos, sentia tal violência que não queria mandálos? Dava tanta compaixão vê-lo neste estado, que se os homens o pudessem ver, ainda que seus corações fossem de diamante se romperiam Como vidro frágil pela ternura. Então comecei a implorar-lhe que se acalmasse e que se contentasse em fazer-me sofrer a mim, e que perdoasse o povo. Depois acrescentei: “Senhor, se não queres ouvir as minhas orações, sei que o mereço; se não queres ter compaixão dos povos, tens razão, porque grandes são as nossas iniqüidades, mas peço-te em graça que tenhas compaixão de ti mesmo, tem piedade da violência que te fazes ao castigar as tuas imagens. Ah! sim, te peço por amor de Ti mesmo, que não mande castigos até chegar a tirar o pão a seus filhos e fazê-los perecer. Ah! não, não é da natureza do seu coração agir deste modo, por isso é a violência que sentes, que se pudesse te daria a morte”.

(2) E Ele, todo aflito, me disse: “Minha filha, é a justiça que me faz violência, e o amor que tenho pelos homens me faz violência mais forte, tanto, de pôr a meu coração em angústias de morte ao castigar as criaturas”.

(3) E eu: “Por isso, Senhor, descarrega sobre mim a justiça, e teu amor não será mais violentado pela justiça e não se encontrará em conflito para castigar as nações, porque em verdade, como farão se Tu agires, como me fazes compreender, secando tudo o que serve de alimento ao homem? Ah, peço-te, deixa-me sofrer e perdoa-lhes a eles, se não em tudo pelo menos em parte”.

(4) E Jesus, como se fosse obrigado por minhas orações, aproximou-se da minha boca e derramou da sua um pouco de amargura, densa e nauseante, que assim que a engoli me produziu tais e tantas espécies de penas que me sentia morrer. Então o bendito Jesus, sustentando-me nessas penas, caso contrário teria ficado vítima (e todavia não havia derramado mais que um pouco, o que será de seu coração adorável que tanta continha?), suspirou como se tivesse se aliviado de um peso e me disse:

(5) “Minha filha, minha justiça tinha decidido destruir tudo, mas agora descarregando um pouco sobre ti, por amor teu concede um terço do que serve de alimento ao homem”. (6) E eu: “Ah Senhor, é muito pouco, pelo menos a metade!”

(7) E Ele: “Não minha filha, aceita-te”.

(8) E eu: “Não Senhor, se não me queres contentar por todos, pelo menos diz-me por Corato e por aqueles que me pertencem”.

(9) E Jesus: “Hoje está preparada uma saraivada que deve fazer grande dano, tu estás com as dores da cruz, sai de ti mesma e em forma crucificada vê no ar e põe em fuga os demônios de cima de Corato, porque ante tua forma crucificada não poderão resistir e irão a outra parte”.

(10) Assim saí de mim mesma, crucificada, e vi a saraiva e os raios que estavam prestes a irromper sobre Corato. Quem pode dizer o espanto dos demônios, como à vista de minha forma crucificada corriam, mordiam os dedos de raiva e chegavam a tomá-la contra o confessor que esta manhã me tinha dado a obediência de sofrer a crucificação, já que contra mim não a podiam tomar, aliás, eram obrigados a fugir de mim pelo sinal da Redenção que advertiam? Então, depois de tê-los posto em fuga retornei a mim mesma, encontrando-me com uma boa dose de sofrimentos. Seja tudo para a glória de Deus.

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07 de Junho de 1900

Jesus lhe entrega as chaves da justiça e uma luz para descobri-la.

(1) Como me encontrava sofredora, parecia-me que aqueles sofrimentos eram uma doce corrente que atraía meu bom Jesus a fazê-lo vir quase que continuamente, e me parecia que aquelas penas chamavam a Jesus para fazê-lo derramar em mim outras amarguras. Então, ao vir, agora me segurava em seus braços para me dar força, e agora derramava de novo. Eu de vez em quando lhe dizia: “Senhor, agora sinto em mim parte de tuas penas, rogo-te que me contentes, como te disse ontem de dar-me ao menos a metade do que serve para alimento do homem”.

(2) E Ele: “Minha filha, para te contentar te entrego as chaves da justiça e o conhecimento de quanto é absolutamente necessário castigar o homem, e com isto farás o que te agrade, não estás contente por isso?”

(3) Ao ouvir-me dizer isto, consolei-me e disse dentro de mim: “Se está em mim, de facto não castigarei nenhum”. Mas como fiquei desiludida quando o bendito Jesus me deu uma chave e me pôs no meio de uma luz, e olhando do meio daquela luz descobria todos os atributos de Deus, e também os da justiça. ¡ Oh, como tudo está ordenado em Deus! E se a justiça castiga, é ordem; e se não castiga não estaria em ordem com os demais atributos. Agora me via como miserável verme no meio daquela luz, e que se quisesse impedir o curso à justiça, arruinaria a ordem e iria contra os mesmos homens, porque compreendia que a mesma justiça é amor puríssimo para com eles. Então me encontrei toda confusa e incomodada, por isso para me desentender disse a nosso Senhor: “Com esta luz da qual me rodeastes entendo as coisas de maneira diversa, e se me deixasses agir a mim fá-lo-ia pior do que Tu, por isso não aceito este conhecimento e renuncio às chaves da justiça; o que aceito e quero é que me faças sofrer e que libertes as pessoas; do resto não quero saber nada”.

(4) E Jesus, sorrindo diante de mim, disse-me:

(5) “Como! Tão logo queres te afastar, não querendo conhecer nenhuma razão e querer fazer-me violência mais forte queres sair com duas palavras: Faz-me sofrer a mim e livra-te deles”.

(6) E eu: “Senhor, não é que não queira saber nenhuma razão, senão que não é ofício meu, mas teu. Meu ofício é o de ser vítima, por isso Tu faz teu ofício e eu faço o meu, não é verdade meu amado Jesus?”

(7) E Ele, mostrando como uma aprovação desapareceu.

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10 de  Junho de 1900

Ofício de vítima. Castigos.

(1) Parece-me que o meu adorável Jesus continua a dividir em dois a justiça, derramando um pouco em mim e o resto nas pessoas. Esta manhã, especialmente quando me encontrei com Jesus, me destroçava a alma ao ver a tortura de seu dulcíssimo coração ao castigar as criaturas. Era tanto o estado sofredor no qual se encontrava, que não fazia outra coisa que emitir contínuos gemidos, tinha na cabeça uma tupida coroa de espinhos, toda encarnada, tanto que a cabeça parecia um conjunto de espinhos. Então, para aliviá-lo um pouco, eu disse-lhe: “Diz-me, meu bem, o que é que tens que estás a sofrer tanto? Permite-me que te tire estes espinhos que não tão pouco te atormentam”. Mas Jesus não me respondia, aliás, nem sequer escutava o que eu dizia. Então me pus a remover aqueles espinhos, uma por uma, e depois as pus sobre minha cabeça. Agora, enquanto fazia isto, vi que em lugares longínquos devia acontecer um terremoto que faria matança de pessoas. Depois Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma, mas com suma aflição minha ao pensar no estado sofredor de Jesus e nas desgraças da miserável humanidade.

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12 de Junho de 1900

A obediência a faz pedir a Jesus que a faça sofrer para impedir os castigos.

(1) Esta manhã, ao vir o meu amável Jesus, comecei a dizer: “Senhor, o que fazes? Parece que estás a ir longe demais com a justiça”. E enquanto queria continuar a falar para desculpar as misérias humanas, Jesus impôs-me silêncio dizendo-me:

(2) “Cala-te, se queres que me entretenha contigo vem beijar-me e curar-me com as tuas habituais adorações todos os meus membros sofredores”.

(3) Assim comecei pela cabeça, e depois, pouco a pouco pelos outros membros. Oh, quantas chagas profundas tinha aquele corpo sacrossanto, que só olhá-las dava horror! Então, não apenas tinha terminado desapareceu, deixando-me com pouquíssimo sofrimento e com um temor: quem sabe como se derramará sobre as nações, porque não se dignou derramar sobre mim as suas amarguras.

(4) Pouco depois veio o confessor e disse-lhe o anterior, e ele disse-me que hoje, por obediência absoluta, quando fizer a meditação deves pedir-lhe que te faça sofrer a crucificação e que deixe de mandar os flagelos. Então, quando fiz a meditação, assim que se fez ver lhe roguei de acordo com 63 a obediência recebida, mas não me pôs atenção, é mais, agora se fazia ver que virava as costas às pessoas, agora que dormia para não ser importunado por mim, e que sei eu, me sentia morrer porque não se preocupava em me fazer a obediência; então tomei coragem, e pondo toda a confiança na santa obediência o tomei por um braço, e movendo-o para despertá-lo eu lhe disse: “Senhor, que fazes? Este é o amor que tens pela tua virtude predileta da obediência? Estes são os elogios que lhe deram tantas vezes? Estas são as honras que lhe concedeste, até dizer que te sentes abalado e não podes resistir à virtude da obediência e sentes-te cativado pela alma que se doa a esta virtude, que agora parece que não te importas de me obedecer? Enquanto isto e outras coisas dizia, e que me prolongaria demasiado se quisesse escrevê-las, o bendito Jesus sacudiu-se, e como atingido por uma vivência de dor, rompeu em abundante pranto, e soluçando disse:

(5) “Nem Eu quero mandar açoites, é a justiça que me obriga quase à força, mas tu com este falar queres-me ferir ao vivo e tocar-me uma fibra muito delicada para Mim e muito amada por Mim, tanto que não quis outra honra nem outro título que o de obediente. E para te fazer ver que não é que não me importe de te fazer obedecer, com tudo o que a justiça me obriga a não fazer, te compartilho em parte as dores da cruz”.

(6) Enquanto fazia isto, desapareceu, deixando-me contente porque me fez obedecer e com um desgosto na alma, como se tivesse sido causa de fazer chorar ao Senhor com o meu falar. Ah Senhor, peço que me perdoe!

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14 Junho de 1900

 Efeitos da cruz.

(1) Encontrando-me não pouco sofredor, meu adorável Jesus, ao vir toda me compadecia e me disse:

(2) “Minha filha, o que tens que sofres tanto? Deixe-me aliviar um pouco”.

(3) E mas Jesus estava mais sofredor que eu) assim me deu um beijo, e como estava crucificado me atraiu fora de mim mesma e pôs minhas mãos nas suas, meus pés nos seus, minha cabeça apoiava sobre a sua e a sua sobre a minha. Como estava contente por me encontrar nesta posição! Se bem que os cravos e os espinhos de Jesus me causavam dor, eram dores que me davam alegria porque eram sofridos por amor ao meu amado Bem; aliás, queria que aumentassem. Também Jesus parecia contente comigo porque me tinha naquele modo em que me sentia atraída por Ele. Parecia-me que Jesus me consolava e eu era consolação para Ele.

(4) Então, nesta posição saímos fora, e tendo encontrado o confessor, em seguida pedi por suas necessidades e disse ao Senhor que se dignasse fazer ouvir ao confessor como é doce e suave sua voz. Jesus para me contentar se dirigiu a ele e lhe falou da cruz dizendo:

(5) “A cruz absorve na alma minha Divindade, a assemelha à minha Humanidade e copia em si mesma minhas mesmas obras”.

(6) Depois continuamos a girar mais um pouco e, oh, quantas cenas dolorosas que trespassavam a alma de lado a lado! As graves iniqüidades dos homens, que nem sequer se curvam perante a justiça, ao contrário, lançam-se com maior furor, como se quisessem dar duplas feridas por cada ferida, e a grande miséria que eles próprios se preparam. Então, com grande amargura nos retiramos; Jesus desapareceu e eu me encontrei em mim mesma.

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17 de Junho de 1900

Colocar-se em Deus e não sair dos confins da paz, é o mesmo.

(1) Como esta manhã o bendito Jesus não vinha, em meu íntimo me sentia suscitar alguma sombra de perturbação sobre o por que não vinha; Então ao vir me disse:

(2) “Minha filha, conter-se em Deus e não sair dos confins da paz é tudo o mesmo. Então, se você percebe um pouco de perturbação, é sinal de que você saiu um pouco de dentro de Deus, porque se preencher Dele e não ter perfeita paz é impossível, muito mais que os confins de a paz são intermináveis, antes tudo o que pertence a Deus é paz”.

(3) Depois acrescentou: “Não sabes tu que as privações à alma servem como o inverno às plantas, que faz que aprofundarem-se as raízes, as fortifica e as faz reverdecer e florescer em maio?”

(4) Depois disto, transportou-me para fora de mim mesma e, tendo-lhe confiado várias necessidades, desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma, com o desejo de me manter sempre dentro de Deus, a fim de que me pudesse encontrar dentro dos confins da paz.

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18 de Junho 18 de 1900

Tudo o que é criado nos ensina o amor de Deus, o corpo chagado de Jesus, o amor do próximo.

(1) Jesus continua sem vir, e eu tratava de me ocupar em considerar o mistério da flagelação. Enquanto fazia isto vi o bendito Jesus todo chagado e jorrando sangue e me disse:

(2) “Minha filha, o céu com tudo o criado te ensina o amor de Deus; meu corpo chagado te ensina o amor do próximo, tanto, que minha Humanidade unida a minha Divindade, de duas naturezas fiz uma só e as tornei inseparáveis, porque não só satisfiz a divina justiça, mas realizei a salvação dos homens. E para fazer com que todos assumissem esta obrigação de amar a Deus e o próximo, não só fiz disto uma única obrigação, mas cheguei a fazer desta obrigação um preceito divino. Assim, minhas chagas e meu sangue são tantas línguas que ensinam a cada um o modo de amar-se, e a 65 obrigação que todos têm de prestar atenção à salvação dos demais”.

 

(3) Depois, tomando um aspecto mais aflito acrescentou:

(4) “Que tirano impiedoso é para mim o amor, porque não só empreguei todo o curso de minha vida mortal em contínuos sacrifícios, até morrer sangrando sobre uma cruz, senão que me deixei como vítima perene no sacramento da Eucaristia. E não só isto, mas a todos os meus membros prediletos tenho vítimas viventes em contínuos sofrimentos, empenhados na salvação dos homens, como entre tantos escolhi a ti para ter-te sacrificada por amor meu e pelos homens. Ah sim! Meu coração não encontra descanso nem repouso se não encontrar o homem, e o homem, como é que me corresponde? Com ingratidões enormes.”

(5) Dito isto, Ele desapareceu.

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20 de  Junho de 1900

A humildade mais perfeita produz na alma a união mais íntima com Deus.

(1) Esta manhã, estando fora de mim mesma e não encontrando meu Sumo Bem, tive que girar e girar em busca Dele; quando me cansei até sentir desfalecer, senti-o atrás de minhas costas, que me sustentava. Então estendi o braço e o puxei para a frente dizendo: “Meu amado, sabes que não posso ficar sem Ti, não obstante me fazes esperar tanto, até me fazer desmaiar. Diz-me pelo menos, qual é a causa, em que te ofendi que me submetes a dilacerações tão cruéis, a martírios tão dolorosos como é a tua privação?” E Jesus interrompendo o meu discurso disse-me:

(2) “Minha filha, minha filha, não acrescente mais rasgos ao meu coração exacerbado ao máximo, pois se encontra em contínua luta pelas violências que constantemente todos me fazem: Violência me fazem as iniqüidades dos homens, que atraindo sobre eles a justiça me forçam a puni-los, e a justiça pondo-se em contínua luta com o amor que tenho pelos homens, rasga-me o coração de modo tão doloroso, de me fazer morrer continuamente; violência me fazes tu, porque vindo Eu e conhecendo tu os castigos que estou enviando, não estás quieta, não, mas que me força, me faz violência e não quer que castigue, e sabendo Eu que você não pode fazer de outra maneira ante minha presença, para não expor meu coração a uma luta mais feroz, me abstenho de vir. Por isso não me violentes para me fazeres vir agora; deixa-me desabafar a minha ira, e não queiras aumentar as minhas penas com as tuas palavras. Quanto ao resto não quero que pense, porque a humildade mais perfeita, mais sublime, é a de perder toda razão e não discorrer sobre o porquê e do como, mas se desfazer no próprio nada, e enquanto a alma faz isto, sem adverti-lo encontra-se perdida em Deus, e isto produz nela a união mais íntima, o amor mais perfeito para o sumo Bem. Isto com sumo proveito da alma, porque perdendo a própria razão adquire a razão divina, e perdendo todo pensamento sobre si mesma, isto é, se está fria ou quente, se são favoráveis ou 66 adversas as coisas que lhe acontecem, se interessará e adquirirá uma linguagem toda celestial e divina.

(3) Além disso, a humildade produz na alma uma vestidura de segurança, pelo que envolta neste vestido de segurança, a alma está na calma mais profunda, embelezando-se toda para agradar ao seu querido e amado Jesus”.

(4) Quem pode dizer como fiquei surpreendida por este falar de Jesus? Não tive nem uma palavra para responder. Pouco depois desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, quieta, sim, mas aflita no máximo, primeiro pelas aflições e lutas nas quais se encontrava meu amado Jesus, e depois pelo temor de que não viesse. Quem poderá resistir? Como farei para suportar a mim mesma por sua ausência? Ah! Senhor, dá-me a força para suportar tão duro martírio, tão insuportável a minha pobre alma! De resto, diga o que quiser, porque por mim não deixarei nenhum meio, tentarei todos os caminhos, usarei todos os estratagemas para atraí-lo para que venha.

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24 de Junho de 1900

A cruz é o alimento da humildade.

(1) Depois de ter passado alguns dias de privação, em que no máximo se fazia ver como sombra, como um relâmpago, minhas potências as sentia todas adormecidas, de modo que eu mesma não entendia o que acontecia em meu interior. Neste adormecimento uma só pena se despertava em meu interior, e era que me parecia que tinha acontecido como a um que enquanto dorme perde a vista, ou bem é despojado de todas suas riquezas, pelo que o miserável não pode nem doer-se, nem defender-se, nem usar algum meio para libertar-se de seus infortúnios. Pobrezinho, em que estado tão desastroso se encontra! Mas, qual é a causa? O sonho, porque se estivesse acordado certamente saberia defender-se de suas desventuras. Assim é meu mísero estado, não me é dado nem sequer dar um gemido, um suspiro, derramar uma lágrima, porque perdi de vista Aquele que é todo meu amor, todo meu bem e que forma todo meu contentamento. Parece que para que eu não sofra por sua privação me adormeceu e me deixou-me. A. Ah! Senhor, acorda-me Tu, a fim de que possa ver minhas misérias e conhecer ao menos do que estou privada.

(2) Agora, enquanto me encontrava neste estado, de dentro de mim ouvi o bendito Jesus que se lamentava continuamente. Esses lamentos feriram meus ouvidos e despertando um pouco disse: “Meu só e único Bem, por teus lamentos advirto o estado tão sofredor no qual te encontras, isto te sucede porque queres sofrer só e não queres me fazer partícipe de tuas penas, é mais, Para não me teres na tua companhia, fizeste-me adormecer e deixaste-me sem me fazer entender mais nada. Entendo o porquê de tudo isto, para estar mais livre para punir, mas ah! tem compaixão de  mim, pois sem Ti estou cega, e tem compaixão de Ti, porque é sempre bom em todas as circunstâncias ter quem te faça companhia, que te console e que de algum modo diminua a tua ira, porque por agora estás firme em mandar açoites, Mas quando vires as tuas imagens a perecer da miséria, lamentarás mais do que agora e talvez me digas: “Ah, se tu te tivesses empenhado mais em aplacar-me, se tivesses tomado sobre ti as penas das criaturas, não veria tão destroçados os meus próprios membros!” Não é verdade meu pacientíssimo Jesus? Ah, Jesus, Jesus, deixa-te sofrer um pouco e deixa-me sofrer em teu lugar!”

(3) Enquanto isso dizia, Ele se lamentava continuamente, quase no ato de querer ser compadecido e aliviado, mas queria que lhe arrancasse quase por força este mesmo alívio, pelo que depois de meus rogos estendeu em meu interior suas mãos e pés cravados e me participou um pouco suas penas. Depois disto, dando um pouco de trégua a seus lamentos me disse:

(4) “Minha filha, são os tristes tempos que a isto me obrigam, porque os homens se fortaleceram e ensoberbecido tanto, que cada um acredita ser deus para si mesmo, e se Eu não ponho mão nos flagelos faria um dano a suas almas, porque só a cruz é o alimento da humildade. Então, se eu não fizesse isso, eu mesmo lhes faria falta o meio para humilhá-los e rende-los de sua estranha loucura, ainda que a maior parte me ofendam mais, mas Eu faço como um pai que reparte a todos o pão para alimentá-los; que alguns filhos não o queiram tomar, mas sim que se sirvam dele para atirá-lo na cara ao pai, que culpa tem disso o pobre pai? Assim sou Eu. Por isso compadece-me em minhas aflições”.

(5) Dito isto, desapareceu deixando-me meio acordada e meio adormecida, não sabendo eu mesma nem se devo acordar perfeitamente, nem se devo dormir outra vez.

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27 de Junho de 1900
A alma deve reconhecer-se em Jesus, não em si mesma.

(1) Continuo adormecida. Esta manhã por poucos minutos me encontrei acordada e compreendia meu estado miserável, sentia a amargura da privação de meu sumo e único Bem; apenas pude derramar duas lágrimas lhe dizendo: “Meu sempre bom Jesus, como é que não vem? Estas são coisas que não se fazem, ferir a uma alma de Ti e depois deixá-la. E além disso, para não lhe dar a conhecer o que faz, deixa-a em poder do sonho. Ah, venha, não me faça esperar tanto!” Enquanto isso e outros desatinos mais disse, em um instante veio e me transportou para fora de mim mesma; e como eu queria lhe dizer meu pobre estado, Jesus impondo-me silêncio me disse:

(2) “Minha filha, o que quero de ti é que não te reconheças mais em ti mesma, senão que te reconheças somente em Mim; assim que de ti não te recordarás mais, nem terás mais reconhecimento de ti, senão te lembrarás de Mim, e te desconhecendo a ti mesma adquirirás só 68 meu reconhecimento, e à medida que te esqueceres e te destruíres a ti mesma, assim avançarás em meu conhecimento e te reconhecerás somente em Mim, quando tiveres feito isto, não mais pensará com a tua mente, mas com a minha, não olharás com os teus olhos, não falarás mais com a tua boca, nem palpitarás com o teu coração, nem trabalharás com as tuas mãos, nem andarás com os teus pés, mas com tudo o que é meu, para te reconheceres somente em Deus, a alma tem necessidade de ir à sua origem e voltar ao seu princípio, Deus, isto é, de onde veio, e que se uniformiza toda a si mesma ao seu Criador; e que tudo o que detém de si mesma e que não é conforme ao seu princípio, deve desfazê-lo e reduzi-lo a nada. Só assim, nua, desfeita, pode voltar à sua origem e reconhecer-se só em Deus, e agir segundo o fim para o qual foi criada. Eis aqui então que para uniformizar-se toda em Mim, a alma deve tornar-se indivisível Comigo”.

(3) Enquanto dizia isto, via o terrível castigo das plantas secas e como deve avançar mais. Mal pude dizer: “Ah! Senhor, como farão as pobres pessoas?” E Ele, para não me prestar atenção, como um relâmpago fugiu e desapareceu. Quem pode dizer a amargura de minha alma ao encontrar-me em mim mesma, por não haver podido dizer nem sequer uma palavra por mim e por meu próximo, e pela tendência ao sono, porque de novo estou nesse estado.

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28 de Junho de 1900

Os castigos presentes, não são outra coisa que uma preparação aos castigos futuros.

(1) Esta manhã, encontrando-me extremamente aflita pela privação do meu amado Jesus, assim que o vi, disse-me:

(2) “Minha filha, quantas máscaras serão tiradas nestes tempos de castigos, porque estes castigos presentes não são outra coisa que uma preparação a todos os castigos que te manifestei no curso do ano passado”.

(3) Enquanto dizia isto, eu dentro de mim pensava: “Se o Senhor continua a fazer da mesma forma que está a fazer, isto é, porque quer mandar castigos não vem, não me participa as suas penas, trata-me com modos insólitos, quem poderá resistir? Quem me dará a força para permanecer neste estado?” E Jesus respondendo ao meu pensamento acrescentou em atitude de compaixão:

(4) “E então, queres tu que suspenda por um pouco o estado de vítima e depois te faça retomá-lo?”

(5) Enquanto dizia isto, senti confusão e amargura, via que o Senhor com essa proposta me lançava de Si, porque não soube dizer nem sim, nem não, nem para ouvir o que decide a obediência. Então, sem esperar minha resposta desapareceu, deixando-me como um prego fixo no coração ao pensar que Jesus me lançava de Si. Era tanto a dor que não fiz outra coisa que derramar lágrimas amargas.

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29 de Junho de 1900

Jesus e Luísa confortam-se reciprocamente.

(1) Estando ainda amarga, meu adorável Jesus tendo compaixão de mim veio, e parecia que me sustentava entre seus braços. Depois, transportando-me para fora de mim mesma via que reinava um profundo silêncio, uma tristeza, um luto por toda parte. Era tanta a impressão que causava no ânimo ver naquele modo as pessoas, que se sentia uma estreiteza no coração. Então o bendito Jesus, levando-me à parte, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemos por pouco o que nos aflige e interroguemo-nos mutuamente”.

(3) Enquanto dizia isto começou a acariciar-me e a beijar-me, mas era tanta a minha confusão que não me atrevia a devolver-lhe os beijos e as carícias, e Ele acrescentou: (4) “Como! Eu te reconforto com beijos e carícias, e tu não queres confortar-me dando-me os teus beijos e as tuas carícias?”

(5) Então eu me senti confiante para pagá-lo com a mesma moeda; e enquanto isso fazia desapareceu.

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02 de Julho de 1900

Com seus sofrimentos, Luisa evita um castigo.

(1) Continuo sendo amarga e afligida, como uma tola. Esta manhã não tinha vindo Jesus, mas veio o confessor e pôs a intenção da crucificação. Mas o bendito Jesus não comparecia, e depois de lhe ter rogado que se dignasse fazer-me obedecer, assim que se fez ver me disse:

(2) “Que queres? Por que me querem fazer violência à força uma vez que é necessário castigar os povos?”

(3) E eu: “Senhor, não sou eu, é a obediência que o quer”.

(4) E Ele: “Se é a obediência, está bem, quero participar-te minha crucificação e ao mesmo tempo quero reconfortar-me um pouco”.

(5) Enquanto dizia isto, tive a participação das dores da cruz, e enquanto eu sofria, Jesus pôs-se ao meu lado e parecia que se consolava um pouco. Agora, enquanto me encontrava nesta posição junto com Ele, me fez ver no ar, que por uma parte vinha uma nuvem negra, negra, que ao só vê-la dava terror e espanto, e todos diziam: “desta vez morremos”. Enquanto todos estavam aterrorizados, levantou-se no meio de Jesus e eu uma cruz resplandecente, que pondo-se contra aquela borrasca a pôs em fuga em grande parte, tanto que parecia que as pessoas se acalmavam. Não sei dizer certamente, mas me parece que era um furacão acompanhado de raios e de granizadas tão fortes, que tinha força para arrancar as construções; e a cruz que a pôs em fuga em grande parte, me parecia que era meu pequeno sofrer que Jesus me participou. Seja bendito o Senhor e tudo seja para sua glória e honra.

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03 de Julho de 1900

Castigos com enfermidades contagiosas.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, assim que vi o meu adorável Jesus, disse-lhe: “Meu amado Senhor, como é que mandas tantos castigos? Por que desta vez você não quer a nenhum custo aplacar-se? Parece que todos os meios são inúteis, nem rogar, nem dizer “Senhor, derrama em mim tuas amarguras”. Porém, não foi teu costume agir deste modo!” Enquanto dizia isto, Jesus bendito interrompendo o meu falar respondeu:

(2) “No entanto, minha filha, os castigos que estou mandando são nada ainda em comparação com aqueles que estão preparados. Por isso não queiras afligir-te por isto, porque não são matéria de grande aflição”.

(3) Enquanto dizia isto, diante de mim via muitas pessoas infectadas com enfermidades contagiosas, que morriam por elas, então, presa de espanto lhe disse: “Ah Senhor! Isso também é necessário? O que você faz? O que você faz? Se você quiser fazer isso, me tire desta terra, pois não resiste o ânimo ver espetáculos tão funestos. E além disso, quem poderá resistir continuar neste estado em que me puseste, de que não vens, ou vens como sombra, e não só isso, senão que me deixas atordoada, adormecida, que não me fazes entender mais nada? No entanto, disseste-me que me deixarias assim até que de algum modo desabafasses a tua ira. Agora queres acrescentar furor a furor, parece que não terminarás por agora, assim que, pobre de mim, pobre de mim! Quem me dará a força para estar neste estado? Quem poderá resistir?”

(4) Enquanto desafogava minha aflição, Jesus, compadecendo-me disse-me:

(5) “Minha filha, não temas de teu estado de adormecimento, isto diz que assim como Eu estou com as pessoas, como se dormisse, como se não as ouvisse e visse, assim te pus no mesmo estado. Caso contrário, se você não gosta, eu disse-lhe da outra vez, você quer ser suspensa do status de vítima?”

(6) E eu: “Senhor, a obediência não quer que aceite a suspensão”.

(7) E Ele: “E bem, que queres de Mim? Fica quieta e obedece“.

(8) Quem pode dizer o quanto sofri? E não só isto, mas me parece que ficaram tão adormecidas minhas potências internas, que vivo como se não vivesse.  Ah Senhor, tenha piedade de mim, não me deixe em abandono, em um estado tão lamentável e doloroso!

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09 de  Julho de 1900

Viver não só para Deus mas em Deus.

(1) Continua o mesmo estado e talvez ainda pior, e se alguma vez se faz ver é como sombra e raio, e quase sempre em silêncio. Esta manhã, encontrando-me no máximo da aflição e da torpeza pelo sono contínuo, assim que me fez ver disse-me:

(2) “Ânimo, minha filha, a alma verdadeiramente minha deve viver não só para Deus, mas em Deus. Tu procura viver em Mim, porque em Mim encontrarás o receptáculo de todas as virtudes, e passeando no meio delas te alimentarás de seu perfume, tanto de ficar cheia delas, e tu mesma não farás outra coisa que enviar luz e perfume celestial, porque viver em Mim é a verdadeira virtude, e tem virtude de dar à alma a mesma forma da Divina Pessoa na qual faz sua morada, e de transformá-la nas mesmas virtudes divinas das quais se nutre”.

(3) Depois disto como relâmpago desapareceu, e minha alma correndo atrás daquele Relâmpago se encontrou fora de mim mesma, mas já havia fugido e não me foi dado encontrá-lo de novo, e sofri a amargura de ver granizadas terríveis que tinham feito grandes estragos, raios que haviam produzido incêndios e outras coisas que estavam preparadas. Depois de ter visto isto, me encontrei em mim mesma, mais aflita que antes.

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10 de Julho  de 1900

Diferença entre viver para Deus e viver em Deus.

(1) Encontrando-me na mesma confusão, como um relâmpago se fez ver e me fez entender que não tinha escrito tudo o que Ele me tinha dito ontem, isto é, que a alma não só deve viver para Deus, mas em Deus. Então o bendito Jesus me repetiu a diferença que há entre o viver para Deus e o viver em Deus, dizendo-me:

(2) “No viver para Deus, a alma pode estar sujeita às perturbações, às amarguras, a ser inconstante, a sentir o peso das paixões, a misturar-se nas coisas terrenas. Mas no viver em Deus não, tudo é diferente, porque a coisa principal para fazer que uma pessoa possa entrar a habitar em outra pessoa, é deixar tudo o que é seu, isto é, despojar-se de tudo, deixar as próprias paixões, em uma palavra, deixar tudo para encontrar tudo em Deus. Agora, quando a alma não só se despojou, mas se reduziu muito bem, então poderá entrar pela porta estreita do meu coração a viver em Mim, à minha maneira e da minha própria vida, porque, se bem que o meu coração seja grandíssimo, tanto que não há fim aos seus confins, mas a porta é estreita e só pode entrar quem está despojado de tudo; e isto com razão, porque sendo Eu santíssimo, jamais admitiria a viver em Mim alguém que fosse estranho a minha Santidade. Por isso minha filha, procura viver em Mim e possuirás o paraíso antecipado“.

(3) Quem pode dizer quanto compreendia sobre este viver em Deus? Mas depois desapareceu e fiquei no mesmo estado.

+ + + + + 11 de Julho de 1900

Os sofrimentos de Luisa tornam menos rigorosos os castigos.

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão e continuando o mesmo estado de confusão, estava toda recolhida em mim mesma, quando vi a meu adorável Jesus que vinha depressa para mim dizendo:

(2) “Minha filha, atenua um pouco minha ira, de outra maneira… !”

(3) E eu, toda assustada, disse: “Que queres que faça para acalmar a tua ira?”

(4) E Ele: “Com chamar em ti os meus sofrimentos virás a aplacar a minha ira“.

(5) Enquanto eu estava nisto, eu via como se chamasse o confessor, enviando um raio de luz, e ele imediatamente colocou a intenção de me fazer sofrer a crucificação. O Senhor bendito logo concorreu e eu me encontrei em tantos sofrimentos, que pela força das dores me senti sair a alma do corpo; quando acreditei que estava a ponto de expirar, e contente de que Jesus recebesse minha alma, vi ao confessor que com dizer “basta, basta”, me chamava novamente em mim mesma.

(6) Então Jesus me disse: “A obediência te chama”.

(7) E eu: “Ah, Senhor, quero vir!”

(8) E Jesus: “O que queres de mim? A obediência continua chamando você“.

(9) E assim parece que esta nova obediência não deixou ir mais além os sofrimentos, mas obediência certamente cruel para mim, porque enquanto me parecia chegar ao porto, fui atirada fora para navegar o caminho. Depois, embora tenha sofrido, mas já não me sentia a morrer, e o meu benigno Senhor continuou a dizer-me:

(10) “Minha filha, se você hoje não tivesse acalmado minha ira, teria chegado ao cúmulo, que não só teria destruído as plantas, mas também os homens, e se o mesmo confessor não se tivesse interposto chamando novamente em ti meus sofrimentos, Nem sequer teria tido consideração por ele. É verdade que são necessários os castigos, mas é necessário que de vez em quando, quando minha ira avançar, você me acalme, do contrário minha filha, quantos flagelos demais mandarei!”

(11) E enquanto dizia isto, parecia-me vê-lo todo cansado, que lamentando-se, agora dizia: “Minha filha!” e agora: “Meus filhos! Pobres filhos meus, como vos vejo reduzidos!” E com a minha surpresa fez-me entender que depois de ter-se acalmado um pouco devia voltar a tomar o furor para continuar os castigos, e que isto tinha servido só para fazer com que não castigasse demasiado as nações. Ah Senhor, acalma-te e tem piedade daqueles que Tu mesmo chamas “filhos meus”!

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14 de  Julho  de 1900

O decreto dos castigos está assinado.

(1) Parece que passei vários dias sem estar imersa na letargia do sono, e estando um pouco perto de Jesus bendito, dando-nos mutuamente um pouco de alívio. Mas quanto temo que me tenha que lançar outra vez naquele sono tão profundo. Então esta manhã, depois de me haver reconfortado com o leite que escorria de sua boca ao derramá-la em mim, e eu o reconfortei tirando-lhe a coroa de espinhos para cravá-la em minha cabeça, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, o decreto dos castigos está assinado, não resta mais que decidir o tempo de sua execução”.

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16 de Julho de 1900

Os castigos servem para o bem das criaturas.

(1) Esta manhã, o meu adorável Jesus não veio. Depois de muito esperar veio e me disse:

(2) “Minha filha, a melhor coisa é pôr-te em Mim e em Meu Querer, então, pondo-te em Mim, e sendo Eu paz, ainda que visses mandar castigos ficarias em paz, sem sentir perturbação“.

(3) E eu: “Ah Senhor, estás sempre nisso, nos castigos! Acalma-te de uma vez e não castigues mais! Além disso, não posso me abandonar em seu Querer nisto”.

(4) E Ele acrescentou: “Não posso me aplacar. O que dirias se visses uma pessoa nua, que, em vez de cobrir a sua nudez, prestasse atenção a adornar-se com bagatelas, deixando as partes mais íntimas expostas à nudez?”

(5) E eu: “Ficaria horrorizado de vê-la e certamente desaprovaria”.

(6) E Ele: “Pois bem, assim são as almas, nuas de tudo, não têm mais virtudes que cubram. Por isso é necessário que as golpeie, castigue-as, as despoje, para fazê-las entrar nelas mesmas e que se fixem na nudez de suas almas, coisa mais necessária que a do corpo. E se isto não fizesse, prestaria mais atenção às bagatelas, como a pessoa desaprovada por ti, as quais são coisas que se referem ao corpo e não prestaria atenção à coisa mais essencial, qual é a alma, a que tornaram-se tão monstruosa que não se reconhece mais.

(7) Depois disto parecia-me que tinha na mão uma pequena couraça, que passando-a por detrás do pescoço me amarrava e depois amarrava o seu a essa mesma corda, e assim fez ao coração e às mãos, e com isto parecia que me amarrava toda a seu Querer. Tendo feito isso desapareceu.

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17 de Julho de 1900

Luísa dá um alívio a Jesus. Ele o faz considerar os castigos que evita.

(1) Tendo recebido a comunhão, não via segundo o costume o bendito Jesus. Depois de ter esperado muito, senti-me a sair de mim mesma e encontrei-o. Assim que o vi, ele me disse:

(2) “Filha, eu estava esperando por você para poder descansar um pouco em você, porque eu não posso mais. Ah, me dê um alívio!”

(3) Imediatamente o tomei em meus braços para satisfazê-lo, e vi que tinha uma chaga profunda no ombro, que dava compaixão e horror olhá-la. Então por poucos minutos repousou; depois desse breve repouso vi e a chaga havia quase curado, e entre a maravilha e o espanto, e vendo-o mais aliviado, tomei coragem e disse-lhe: “Senhor bendito, meu pobre coração está dilacerado pelo temor de que já não me ame, temo que tenha incorrido em tua indignação e por isso já não vens como antes e não derramas mais em mim tuas amarguras, e não me dás mais meu bem, qual é o sofrer, e negando-me isto vem a negar-me a Ti mesmo. Ah, dá a paz a um pobre coração! Diz-me, garante-me, jura-me, amas-me? Continuas a amar-me?”

(4) E Ele: “Sim, sim, sim, amo-te”.

(5) E eu: “Como posso ter certeza disso, quando se sabe que uma pessoa é realmente amada Tudo o que quer recebe? Eu te digo: “não castigues as nações”, e Tu as castigas; te digo, “derrama em mim tuas amarguras”, e não as derramas, mas parece que desta vez avanças demasiado nos castigos. Então, onde posso me apoiar para saber que você me ama?”

(6) E Ele: “Minha filha, você leva em conta os castigos que mando, mas os que economizo não os leva em conta. Quantos outros castigos teria mandado, quantos mais massacres e mais sangue teria feito derramar se não levasse em consideração aqueles poucos que me amam, e que Eu amo com um amor especial?”

(7) Depois disso, parecia que Jesus tomava o caminho para ir aonde aconteciam destroços de carne humana, e eu, querendo segui-lo, não me foi dado fazê-lo, e com suma amargura minha me encontrei em mim mesma.

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18 de Julho de 1900

Os pecados das nações caem sobre elas mesmas, formando a sua ruína.

  • Encontrando-me em meu estado habitual, vi meu adorável Jesus todo aflito dentro de meu coração, e ao mesmo tempo vi muita gente que cometia muitos pecados, estes pecados tomavam o vôo para mim para vir a ferir a meu amado Senhor até dentro de meu coração, mas Jesus os rejeitava de Si, e caíam sobre as mesmas nações, e caindo sobre Elas formavam sua própria ruína, mudando-se em tantas espécies de flagelos sobre os povos, que dava horror até aos corações mais duros. Então Jesus, afligindo-se de tudo me disse:

(2) “Minha filha, até onde chega a cegueira dos homens, pois enquanto tentam me ferir a Mim, ferem-se eles mesmos com suas próprias mãos”.

 

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19 de Julho de 1900

Luisa oferece-se para sofrer para evitar o sofrimento aos povos.

(1) Esta manhã, depois de ter estado toda a noite e grande parte da manhã esperando a meu adorável Jesus, Ele não se dignava vir. Então, cansada de esperá-lo, esforcei-me por sair do meu habitual estado, pensando que já não era Vontade de Deus. Enquanto me esforçava por sair, estando quase impaciente, meu benigno Jesus moveu-se dentro de meu coração, fazendo-se ver apenas e olhando-me em silêncio. Impaciente como estava, disse-lhe: “Meu bom Jesus, como és cruel! Pode-se dar crueldade maior que esta, de abandonar a uma alma em poder do impiedoso tirano do amor que a faz viver em agonia contínua? ” Oh, como você mudou, de amante para cruel!” Enquanto dizia isto, diante de mim via muitos membros de gente mutilada, e por isso acrescentei: “Ah Senhor, quanta carne humana mutilada! Quanta amargura e tristeza! Que pena! Não teria sido menos cruel se te tivesses satisfeito neste meu corpo, e o tivesses reduzido a tantos pedaços por quantos pedaços fizeste estes membros? Não era menor mal ver sofrer uma só que a tantos pobres povos?”

 

(2) Enquanto dizia isto, Jesus continuava a olhar-me fixamente, como se ficasse ferido, não sei dizer se também desgostoso, e me disse:

(3) “No entanto é o princípio do jogo, ainda é nada em comparação do que virá”.

(4) Dito isto se escondeu a minha vista, sem poder vê-lo mais, deixando-me em um mar de amarguras.

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21 de Julho de 1900

Necessidade de purgação.

  • Depois de ter passado um dia adormecida e tão sonolenta que não sabia de mim mesma, e tendo recebido a comunhão, me senti saindo de mim mesma, e não encontrando o meu único e sumo Bem, comecei a girar e girar, chegando ao delírio. Enquanto fazia isso, senti uma pessoa entre os braços, toda noite, sem poder ver quem era, então, não podendo resistir mais rasguei aquele véu e vi meu suspirado Tudo. Ao vê-lo senti que queria irromper em reclamações e desatinos, mas Jesus para acabar com minha impaciência e meu delírio me deu um beijo. Esse 76 beijo me infundiu a vida, a calma, acabou com minha impaciência, tanto que não soube dizer nada mais. Então, esquecendo todas as minhas misérias, e tendo muitas, lembrei-me das pobres nações e disse a Jesus: “Apresse-se, livre tantos povos de destroços tão cruéis; vamos juntos àqueles lugares onde acontecem tais coisas, a fim de que reanimemos e consolemos aqueles pobres cristãos que se encontram em estado tão triste”.

( 2) E Ele: “Minha filha, não quero levar-te porque teu coração não resistiria ver matança tão dilacerante“.

(3) E eu: “Ah Senhor, como foi que permitiste isto?”

(4) E Ele: “É absolutamente necessário para a purga em todas as partes, porque no campo semeado por Mim cresceram tanto as ervas daninhas, os espinhos, que se fizeram árvores, e estas árvores espinhosas não fazem outra coisa senão inundar meu campo de águas venenosas e pestilentas, que se alguma espiga se mantém intacta, não recebe outra coisa senão picadas e fetidez, tanto que não podem germinar outras espigas, primeiro porque lhes falta o terreno, ocupado por tantas plantas nocivas; segundo, pelos contínuos furos que recebem que não lhes dão paz. Eis a necessidade da matança, para extirpar tantas plantas más, e o derramamento de sangue para purgar meu campo das águas venenosas e pestilentas. Por isso não te queiras entristecer ao princípio, porque não só onde já ordenei os flagelos, mas em todas as outras partes se necessita a purga”.

(5) Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ouvir este falar de Jesus? Então de novo insisti que queria ir ver, mas Jesus não me dando atenção desapareceu, e eu ficando sozinha tomei o caminho para ir, mas agora encontrava um anjo que me fazia retroceder, e agora a almas purgantes, tanto que fui obrigada a retornar em mim mesma.

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25 de Julho de 1900

Em Jesus não há crueldade alguma, senão que tudo é amor.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me fez ver uma máquina onde parecia que muitos membros humanos foram esmagados, e no ar como dois sinais de castigos que davam terror. Quem pode dizer a consternação de meu coração ao ver tudo isto? Mas o bendito Jesus, vendo-me tão amarga, disse-me:

(2) “Minha filha, afastemo-nos por um pouco daquilo que tanto nos aflige e interroguemo-nos com brincar um pouco juntos“.

(3) Quem pode dizer o que aconteceu entre Jesus e eu neste jogo, as finezas de amor, as estratagemas, os beijos, as carícias que reciprocamente nos dávamos? Se bem que me ultrapassava meu amado Jesus, porque eu, sendo débil, me sentia desfalecer, tão é verdade que não podendo conter em mim o que Ele me dava tenho dito: “Meu amado, basta, basta, que não posso mais, eu desfaço, meu pobre coração não é tão grande para ser capaz de receber tanto, por isso basta por agora”.

(4) Então, querendo me reprovar por falar do outro dia, docemente me disse:

(5) “Dizei-me as vossas querelas, dizei-o, dizei-o, sou cruel? O meu Amor para convosco mudou em crueldade?”

(6) E eu envergonhando-me de tudo disse: “Não Senhor, não és cruel quando vens, mas quando não vens, então direi que és cruel”.

(7) E Ele sorrindo diante de minhas palavras acrescentou:

(8) “No entanto, você continua dizendo que quando eu não venho eu sou cruel, não, não, em Mim não pode haver nenhuma crueldade, mas tudo é amor; e você deve saber que se é como você diz, então o mesmo ser cruel, é amor maior”.

 

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27 de Julho de 1900

Veja os ataques à Igreja na guerra da China.

  • Encontrava-me toda preocupada por meu miserável estado, especialmente de que este não fosse mais Vontade de Deus, considerando como sinal certo o escasso sofrer e suas contínuas privações. Enquanto estava consumindo meu pequeno cérebro nisto e esforçando-me em sair deste estado, meu sempre bom Jesus, como relâmpago se fez ver dizendo-me:(2) “Minha filha, o que queres que eu faça? Diga-me, Eu farei o que você quer“.

    (3) Ante esta proposta tão inesperada não soube o que dizer, sentia tal confusão de que o bendito Jesus deveria fazer o que eu queria, enquanto que sou eu a que deve fazer o que Ele quer, que fiquei muda. Então, ao ver que eu não dizia nada, como relâmpago fugiu, e eu, correndo atrás dessa luz me encontrei fora de mim mesma, mas não o encontrei e girei pela terra, pelo céu, pelas estrelas, e agora o chamava com a voz, e agora com o canto, pensando entre mim que o bendito Jesus ao ouvir minha voz e meu canto ficaria ferido e com certeza o encontraria. Agora, enquanto girava, vi a matança cruel que se continua a fazer na guerra da China, as igrejas demolidas, as imagens de Nosso Senhor lançadas por terra, e isto é nada ainda, o que me deu mais espanto foi ver que se agora o fazem os bárbaros, os leigos, depois o farão os falsos religiosos, que desmascarando e fazendo-se conhecer quem são, unindo-se com os inimigos abertos da Igreja, darão tal assalto, que parece incrível à mente humana. Oh, quantas mortes mais cruéis ainda! Parece que eles juraram entre eles terminar com a Igreja. Mas o Senhor tomará vingança deles destruindo-os, por isso, sangue por uma parte e sangue pela outra. Então me encontrei dentro de um jardim que me parecia que era a Igreja, e dentro havia uma multidão de gente sob o aspecto de dragões, de víboras e de outros animais enfurecidos, que, devastando aquele jardim e logo saindo dele, formavam a ruína das nações. Enquanto via isto encontrei o meu amado Senhor nos meus braços e disse-lhe: “Finalmente deixaste-te encontrar, és tu verdadeiramente o meu amado Jesus?”

    (4) E Ele: “Sim, sim, sou teu Jesus”.

    (5) Eu queria dizer-lhe que livrasse tantas pessoas, mas Ele não me fazendo caso, todo aflito acrescentou:

    (6) “Minha filha, estou bastante cansado, vamos para a cama descansar se queres que me entretenha contigo“.

    (7) E eu, temendo que fosse embora fiz silêncio, fazendo-o dormir. Logo depois reentrado em meu interior, deixando-me reanimada, sim, mas extremamente aflita.

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30 de Julho de 1900

Luisa detém a espada da Justiça.

(1) Passei uma noite e um dia inquieto. Desde o princípio me sentia saindo de mim mesma, sem que pudesse encontrar a meu adorável Jesus; não via mais que coisas que me davam terror e espanto. Via que na Itália se levantava um fogo e outro que se levantava na China, que pouco a pouco, unindo-se, se confundiam num só. Neste fogo via o rei da Itália, morto subitamente por engano, e isto era como que um meio para avivar e engrandecer o fogo. Em suma, via uma rebelião, um tumulto, uma matança de pessoas. Tendo visto estas coisas senti-me em mim mesma, e sentia rasgar-me a alma, até me sentir morrer, muito mais que não via a minha adorável Jesus. Depois de muito esperar se fez ver com uma espada na mão em ato de usá-la sobre as nações. Eu, toda assustada e sendo um pouco atrevida, peguei a espada com a mão e disse-lhe: “Senhor, que fazes? Não vê quantas aflições acontecerão se usar esta espada? O que mais me aflige é que vejo que toma no meio da Itália. Ah Senhor, se apresse! Tenha piedade de suas imagens! E se você diz que me ama, poupe-me desta terrível dor”. E enquanto isso dizia, detinha a espada com toda a força que podia. Jesus, dando um suspiro, todo aflito me disse:

(2) “Minha filha, deixa-a, deixa-a cair sobre as nações, porque não posso mais”.

(3) E eu a tomando mais forte: “Não posso deixá-la, não tenho coragem para fazê-lo”.

(4) E Ele: “Não te disse muitas vezes, que sou obrigado a não te fazer ver nada, de outra maneira não sou livre de fazer o que quero“.

(5) E enquanto isso dizia baixou o braço com a espada e pôs-se em atitude de acalmar-se de sua ira. Pouco depois desapareceu e eu fiquei com um certo temor, quem sabe e talvez sem me deixar ver me puxasse a espada e a usasse sobre as pessoas. Oh Deus, que angústia ao só me lembrar!

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01 de Agosto de 1900

A Humanidade de Jesus é o espelho da Divindade. Castigos.

(1) Continua meu adorável Jesus vindo poucas vezes e por pouco tempo. Esta manhã me sentia toda aniquilada e quase não me atrevia a ir em busca do meu sumo Bem; mas Ele sempre benigno veio, e querendo me infundir confiança me disse:

(2) “Minha filha, diante de minha Majestade e pureza não há quem possa estar de frente, mas todos estão obrigados a estar por terra e golpeados pelo fulgor de minha Santidade. O homem gostaria de quase fugir de Mim, porque é tal e tanta sua miséria, que não tem coragem para sustentar-se diante do Ser Divino. Então fazendo uso de minha misericórdia assumi minha Humanidade, a que atenuando os raios da Divindade, é meio para infundir confiança e ânimo ao homem para vir a Mim, o qual pondo-se de frente a minha Humanidade, que expande raios atenuados da Divindade tem o bem de poder purificar-se, santificar e até divinizar em minha própria Humanidade divinizada. Por isso tu estás sempre de frente para a minha humanidade, tendo-a como espelho no qual purificarás todas as tuas manchas; e não somente isto, mas como espelho no qual, refletindo, adquirirás a beleza, e pouco a pouco irás adornando-te à semelhança de Mim mesmo, porque é propriedade do espelho fazer aparecer dentro de si a imagem similar àquela de quem se olha nele; se assim é o espelho material, muito mais é o divino, porque minha Humanidade serve ao homem como espelho para olhar para a minha Divindade. Eis por que todos os bens para o homem derivam da minha Humanidade”.

(3) Ao dizer isto, senti-me confiante, que me veio o pensamento de querer falar-lhe dos castigos, talvez me ouvisse e fizesse a tentativa de o aplacar completamente. Mas enquanto me dispus a isto, como raio desapareceu, e minha alma correndo atrás dele se encontrou fora de mim mesma; mas não o pude reencontrar mais, e com grande amargura minha vi muitas pessoas que iam às prisões, a outros sectários que saíam para atentar contra outras vidas de reis e de outros chefes; Via que se consumiam de raiva porque lhes falta o meio para sair entre os povos e fazer matança, sem dúvida chegará seu tempo. Depois disso eu me encontrei em mim mesma, toda oprimida e aflita.

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03 de  Agosto de 1900

Deus trabalha apenas sobre o nada.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, eu estava desejando e procurando o meu amante Jesus. Depois de haver esperado longamente, veio e me disse:

(2) “Minha filha, por que me procuras fora de ti, enquanto poderias encontrar-me mais facilmente dentro de ti? Quando você quiser me encontrar entre em você, chegue até seu nada e aí, sem você, no brevíssimo giro de seu nada descobrirá os alicerces que pôs em você e as construções que levantou em você o Ser Divino. Esforce-se e vá”.

(3) Eu olhei e vi os sólidos alicerces e os muros altíssimos que chegavam até o céu, mas o que mais me surpreendia era que via que o Senhor tinha feito este grande trabalho sobre meu nada, e os muros estavam todos fechados, sem nenhuma abertura. Via-se apenas no teto uma abertura que correspondia ao Céu, e nesta abertura residia nosso Senhor, sobre uma coluna estável que sobressaía dos alicerces formados sobre o nada. Agora, enquanto estava toda assombrada olhando, o bendito Jesus acrescentou:

(4) “Os fundamentos formados no nada significam que a mão divina trabalha ali, onde está o nada, e jamais mistura suas obras com as obras materiais. Os muros sem abertura ao redor, significam que a alma não deve ter nenhuma correspondência com as coisas terrenas, tanto, que não haja nenhum perigo que possa entrar nem sequer um pouco de pó, porque tudo está bem fechado. A única correspondência que estes muros dão é para o Céu, isto é, do nada ao Céu, e do Céu ao nada, este é o significado da abertura feita no teto. A estabilidade da coluna significa que a alma está tão estável no bem, que não há vento contrário que a possa mover. E eu que resido sobre esta, é verdade que a obra feita é toda divina”.

(5) Quem pode dizer o que compreendia sobre isto? Mas minha mente se perde e não sabe dizer nada. Seja sempre bendito o Senhor e seja tudo para sua glória e honra.

+ + + + 09 de  Agosto de 1900

Tudo o que se quer e deseja, deve-se querer e desejar porque Deus o quer.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, e depois de esperá-lo muito, assim que se fez ver me disse:

(2) “Assim como um instrumento musical soa agradável ao ouvido de quem o escuta, assim seus desejos, suas esperas, seus suspiros, suas lágrimas, ressoam a meu ouvido como uma música das mais agradáveis. Mas para fazer com que desça mais doce e agradável, quero ensinar-te outro modo, isto é, desejar-me não como desejo teu, mas como desejo meu, porque Eu amo grandemente manifestar-me contigo. Em suma, tudo o que você quer e deseja, você deve querer e desejar porque eu quero Eu, isto é, levá-lo de dentro de Mim e torná-lo seu. Assim será mais agradável tua música a meu ouvido, porque é música saída de Mim mesmo“.

(3) Depois ele adicionou: “Tudo o que sai de Mim entra em Mim, é por isso que os homens se lamentam que não obtêm tão facilmente o que me pedem, porque não são coisas que saem de Mim, e não sendo coisas que saem de Mim, não é tão fácil que entrem em Mim e saiam depois para dar-se a eles, porque sai de mim e entra em mim tudo o que é santo, puro e celestial. Então por que se surpreender se a audiência está fechada se o que pedem não é assim? Por isso você tenha em mente que tudo o que sai de Deus entra em Deus”.

(4) Quem pode dizer o que compreendia sobre estas palavras? Mas não tenho palavras para me poder explicar.  Ah Senhor, dá-me a graça de que possa pedir tudo o que é santo e que seja desejo e Vontade tua, assim poderás comunicar-te comigo mais abundantemente!

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19 de Agosto de 1900

O amor estéril e o amor obrante

(1) Esta manhã, tendo recebido a comunhão, meu amado Jesus fez-se ver em ato de querer instruir-me, e pondo como um exemplo me disse:

(2) “Minha filha, se um jovem tomasse esposa, e ela, levada de amor a ele, quisesse estar sempre junto a ele, sem separar-se nem um momento, sem prestar atenção às outras coisas que correspondem a uma esposa para fazer feliz a este jovem, o que diria ele? Agradeceria o amor dela, mas certamente não estaria contente de sua conduta, porque este modo de amar não seria mais que um amor estéril, infecundo, que causaria dano a esse pobre jovem em vez de bem, e pouco a pouco este estranho amor produziria incômodo em vez de gosto, porque toda a satisfação deste amor é da jovem. E como o amor estéril não tem lenha para fomentar o fogo, muito logo se reduziria a cinzas, porque só o amor obrante é duradouro, os demais amores, como fumaça se dissipam no ar, e depois se chega ao aborrecimento, a não levar em conta e talvez a desprezar o que tanto se amava.

(3) Assim é a conduta das almas que prestam atenção somente a si mesmas, isto é, à sua satisfação, aos fervores e a tudo o que lhes agrada, dizendo que isto é amor por Mim, enquanto tudo é satisfação delas, porque se vê com os fatos que não põem atenção aos meus interesses e às coisas que me pertencem, e se chega a faltar o que lhes satisfaz, não põem mais atenção de Mim, e chegam até a me ofender. Ah! filha, só o amor obrante é o que distingue os verdadeiros dos falsos amantes, porque todo o resto é fumaça”.

(4) Enquanto dizia isto, via pessoas e como se eu quisesse prestar atenção a elas, mas Jesus distraiu-me ao dizer-me:

(5) “Não queiras intrometer-te nos atos alheios, deixemo-los fazer, porque cada coisa tem o seu tempo. Quando for o tempo do juízo, então será o tempo de discernir todas as coisas, porque cria-las muito bem virá a conhecer o grão, as palhas e a semente estéril e nociva. Oh, quantas coisas 82 que parecem grão se encontrarão naquele dia como palhas e sementes estéreis, dignas só de serem lançadas ao fogo!”

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20 de Agosto de 1900

(1) Esta manhã meu adorável Jesus não vinha, então depois de muito esperar, quando meu pobre coração não podia mais, fez-se ver desde dentro de meu interior e me disse:

(2) “Minha filha, não queiras afligir-te porque não me vês, porque estou dentro de ti, e daqui, por meio de ti estou vendo o mundo“.

(3) Depois continuou a fazer-se ver de vez em quando, sem me dizer mais nada.

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24 de  Agosto de 1900

Tudo se torna bem para quem verdadeiramente ama a Jesus.

(1) Tendo passado um dia inquieta, sentia-me toda cheia de tentações e pecados. Oh! Meu Deus, que pena te ofender! Fazia quanto mais podia por estar em Deus, por me resignar a seu santo Querer, para oferecer por amor seu esse mesmo estado inquieto, para não lhe pôr atenção ao inimigo mostrando-me com suma indiferença, a fim de que não o incitasse eu mesma a me tentar maioritariamente, mas com tudo isto não podia fazer menos que ouvir o murmúrio que o inimigo suscitava ao meu redor. Então, encontrando-me em meu habitual estado, não me atrevia a desejar ao meu amado Jesus, tão feia e miserável me via. Mas Ele sempre benigno com esta pecadora, sem que eu o pedisse veio, e como se compadecia de mim, disse-me:

(2) “Minha filha, coragem, não temas. Não sabe você que certas águas frias e impetuosas são mais potentes para purificar de qualquer mancha mínima que o mesmo fogo? E além disso, tudo se converte em bem para quem verdadeiramente me ama”.

(3) Dito isto desapareceu, deixando-me reanimada, sim, mas fraca, como se tivesse sofrido uma febre.

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30 de Agosto de 1900

Luisa vai ao purgatório para aliviar o falecido rei da Itália.

(1) Havendo passado alguns dias de privação e de amargura, em que no máximo vi Jesus alguma vez como sombra e relâmpago. Esta manhã encontrei-me no máximo da amargura, e não só isso, senão como se tivesse perdido a esperança de voltar a vê-lo. Depois de ter recebido a comunhão me parecia que o confessor colocava a intenção da crucificação, então o bendito Jesus para fazer- 83 me obedecer se mostrou e me participou suas penas. Enquanto isso, vi a Rainha Mãe, que me tomando me oferecia a Ele a fim de que se acalmasse. E Jesus, tendo consideração da Mãe, aceitou o oferecimento e parecia que se acalmava um pouco. Depois disto, a Mãe Rainha me disse:

(2) “Queres ir ao purgatório para aliviar o rei das penas horríveis em que se encontra?” (3) E eu: “Minha mãe, como Tu quiseres”.

(4) Num instante me tomou, e me transportou a um lugar de suplícios atrozes, todos mortais. Ali estava aquele miserável, que de um suplício passava ao outro, parecia que por quantas almas se haviam perdido por sua causa, outras tantas mortes ele devia sofrer. Então, depois de ter passado eu por alguns daqueles suplícios, ele ficou um pouco mais aliviado e a Mamãe Rainha me tirou desse lugar de penas e me encontrei em mim mesma.

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31 de Agosto de 1900

Nas almas interiores não pode estar a perturbação.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual e não vindo meu adorável Jesus, estava toda afligida e um pouco pensativa sobre o por que não vinha. Depois de muito esperar e esperar veio, e vendo que de suas mãos brotava sangue, pedi-lhe que de sua mão esquerda derramasse sangue sobre o mundo em proveito dos pecadores que estavam para morrer e em perigo de se perder, e da mão direita que derramasse o seu sangue no purgatório; e Ele, ouvindo-me com brandura, sacudiu e derramou o seu sangue sobre uma e outra parte. Depois disto me disse:

(2) “Minha filha, nas almas interiores não pode estar a perturbação, e se esta entra é porque a alma sai de si mesma, e fazendo isto faz de verdugo a si mesma, porque saindo fora dela se apega a tantas coisas que vê e que não são Deus, e às vezes nem sequer coisas que se referem ao verdadeiro bem da alma, por isso regressando em si mesma e levando coisas que lhe são estranhas, tortura-se por si mesma e com isto vem a adoecer a si mesma e à graça. Por isso, esteja sempre em você mesma e estará sempre em calma”.

(3) Quem pode dizer como compreendia com clareza, e como encontrava a verdade nestas palavras de Jesus? Ah Senhor, se te dignas instruir-me, dá-me graça para aproveitar teus santos ensinamentos, de outra maneira tudo será para minha condenação!

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01 de Setembro de 1900

A obediência põe a paz entre Deus e a alma.

(1) Continuando Jesus sem vir, estava eu dizendo: “Meu bom Jesus, vem, não me faças esperar  tanto, esta manhã não tenho vontade de me inquietar e de te buscar até chegar a cansar-me. Vem de uma vez, logo, pronto, assim, pela boa”. E vendo que não vinha continuava dizendo: “Vê-se que queres que me canse e que chegue até me inquietar, de outra maneira não vens”.

(2) Enquanto isso e outros desatinos dizia, Jesus veio e me disse:

(3) “Você me saberia dizer o que mantém a correspondência entre a alma e Deus?”

(4) E eu, mas sempre com uma luz que vinha dele eu disse: “A oração”.

(5) E Jesus, aprovando o que eu disse, acrescentou: “Mas o que atrai Deus a conversas familiares com a alma?”

 

(6) E eu não sabia responder, mas logo a luz se moveu em minha inteligência e disse: “Se a oração vocal serve para manter a correspondência, certamente a meditação interior deve servir de alimento para manter a conversa entre Deus e a alma”.

(7) Ele, contente com isto, respondeu: “Agora, saberias tu dizer-me quem quebra as doces controvérsias, quem tira os amorosos zangados que podem surgir entre Deus e a alma?”

(8) E eu ao não responder, Ele mesmo disse:

(9)”Minha filha, só a obediência tem este ofício, porque ela sozinha decide as coisas relacionadas entre a alma e Eu, e surgindo controvérsias, ou algum enfado para mortificar a alma, ao chegar a obediência rompe as contendas, tira as zangas e põe paz entre Deus e a alma”.

 

(10) E eu: “Ah! Senhor, muitas vezes parece que tampouco a obediência quer tomar o incômodo e fica indiferente, e a pobre alma é obrigada a estar naquele estado de controvérsias e de raiva”.

(11) E Jesus: “Isto o faz por um certo tempo, querendo também ela agradar-se em assistir a essas amáveis controvérsias, mas depois toma seu ofício e pacifica tudo. Assim, a obediência coloca a paz entre a alma e Deus“.

(12) Dito isto, desapareceu.

+ + + +

04 de  Setembro de 1900

A impureza e as boas obras feitas imperfeitamente, são alimento repugnante para Jesus.

(1) Tendo recebido a comunhão, meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma, fazendo-me parecer extremamente aflito e amargo. Então lhe pedi que derramasse em mim suas amarguras, mas Jesus não me dava ouvidos, mas insistindo, depois de muito tempo se agradou em derramá-las. Depois de ter derramado um pouco de amargura lhe perguntei: “Senhor, não te sentes melhor agora?”

(2) E Ele: “Sim, mas não foi o que derramei que me causou tanta pena, mas um alimento nauseante e insípido que não me deixa repousar”.

(3) E eu: “Derrama um pouco em mim, assim te aliviarás um pouco”.

(4) E Ele: “Se não posso digeri-lo e suportá-lo Eu, como o poderás tu?”

(5) E eu: “Sei que a minha fraqueza é grande, mas Tu me darás graça e força, e assim terei êxito em contê-lo em mim”. Compreendia que esse alimento nauseante eram as impurezas, o insípido, as boas obras mal feitas, todas deterioradas, que a Nosso Senhor são bem de aborrecimento, de peso e quase desdenha recebê-las, porque não podendo suportá-las quer atirá-las de sua boca. Quem sabe quantas das minhas estavam ali! Então, como obrigado por mim derramou também um pouco daquele alimento. Quanta razão tinha Jesus, que era mais tolerável o amargo que aquele alimento nauseante e insípido! ” Se não fosse por seu amor, a nenhum custo o teria aceitado!

(6) Depois disto, o bendito Jesus pôs-me o braço atrás do pescoço, e apoiando a sua cabeça sobre o meu ombro pôs-se em atitude de repousar. Enquanto repousava encontrei-me num lugar onde havia por piso muitas tábuas móveis, e abaixo o abismo. Eu, temendo precipitar-me, despertei-o, invocando a sua ajuda, e Ele disse-me:

(7) “Não temas, é o caminho que todos percorrem. Não é preciso outra coisa que toda a atenção, e como a maior parte caminham distraídos, esta é a causa pela qual muitos se precipitam ao abismo, e poucos são o que chegam ao porto da salvação”.

(8) Depois disto desapareceu, e eu encontrei-me em mim mesma. Graças a Deus!

 

Nihil obstat Canonico Annibale
M. Di Francia Eccl. Imprimatur

Bispo Giuseppe M. Leo
Outubro de 1926

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