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A Mediação Universal de Maria: Resposta a um Documento Controverso
I. O Contexto Polêmico: O Documento da Congregação para a Doutrina da Fé
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O Fato: A Congregação para a Doutrina da Fé, sob o cardeal Víctor Manuel Fernández (indicado pelo Papa Francisco), publicou um documento que desrecomenda o uso dos títulos “Maria Corredentora” e “Medianeira de Todas as Graças”.
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A Crítica: O documento é visto como uma opinião teológica específica, influenciada pela conhecida aversão do Papa Francisco a esses títulos (chegando a classificá-los como “tonterias” – bobagens). No entanto, não é uma definição dogmática.
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O Direito dos Fiéis: Enquanto uma doutrina não é definida de forma infalível, os católicos têm a liberdade de aceitar as opiniões teológicas que lhes pareçam mais bem fundamentadas, desde que estejam em consonância com a Tradição.
II. O que é a Mediação Universal de Maria?
É crucial entender o que NÃO significa este título:
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NÃO significa que Maria seja uma “deusa” ou fonte da graça.
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NÃO significa que ela substitua ou rivalize com Jesus Cristo, o Único Mediador entre Deus e os homens.
O que significa, então?
A doutrina se baseia em uma distinção fundamental:
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Redenção Objetiva (Aquisição da Graça): Só Jesus Cristo, sendo Deus e homem, pôde, com seu sacrifício na Cruz, obter o tesouro infinito da graça que salva a humanidade. Esta é a fonte única e suficiente da salvação.
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Redenção Subjetiva (Distribuição da Graça): Como essas graças, obtidas por Cristo, chegam até cada alma? É aqui que entra a mediação de Maria. Ela é a canal, o aqueduto, a distribuidora das graças que brotam única e exclusivamente de Cristo.
Analogias para entender:
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O Tesouro e o Tesoureiro: Cristo é o tesouro infinito. Maria é a tesoureira que distribui as riquezas.
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A Cabeça e o Pescoço: Cristo é a cabeça, onde reside a vida e o comando. Maria é o pescoço, por onde tudo passa para chegar ao resto do corpo (a Igreja).
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São Bernardo: “Deus quis que nada recebêssemos que não passasse pelas mãos de Maria.”
III. Fundamentos Teológicos: Por que se crê nisso?
A mediação universal não é uma invenção recente, mas uma crença profundamente arraigada na Tradição, baseada em dois pilares:
1. A Maternidade Divina (Theotókos):
Definida no Concílio de Éfeso (431 d.C.), este é o dogma fundamental. Se Maria é a Mãe de Deus (a pessoa de Jesus Cristo, que é Deus), ela tem uma relação única com a fonte de toda graça. A mesma mãe da “Cabeça” (Cristo) é, por extensão, a mãe dos “membros” (os fiéis).
2. A Nova Eva:
Assim como Cristo é o Novo Adão, Maria é a Nova Eva. Esta analogia, presente desde os primeiros Padres da Igreja, estabelece:
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Eva, pela sua desobediência, tornou-se causa de morte para toda a humanidade.
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Maria, pela sua obediência (“Eis aqui a serva do Senhor”), tornou-se causa de salvação para toda a humanidade.
Momento Chave: João 19:26-27
Quando Jesus, na Cruz, diz a Maria “Mulher, eis aí o teu filho” e a João “Eis aí a tua mãe”, a Tradição vê muito mais que um cuidado familiar. Vê a entrega solene de toda a humanidade (representada por João) a Maria como nossa Mãe espiritual.
IV. A Voz da Tradição: Uma Doutrina Constante
Dom Mayer, em sua carta pastoral, compila uma impressionante lista de testemunhos ao longo da história para demonstrar que esta não é uma opinião marginal, mas uma crença constante.
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Século II: Santo Irineu de Lyon (†202): “Assim como Eva… tornou-se causa de morte… Maria… tornou-se causa de salvação.”
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Século IV: Santo Efrém (†373): “Por ti, ó única Imaculadíssima, toda honra e santidade… derivou-se.”
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Século VI: São Germano de Constantinopla (†733): “Ninguém, a não ser por ti, ó Santíssima, consegue a salvação.”
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Idade Média:
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São Bernardo (†1153): “Nada quis Deus que possuíssemos, que não passasse pelas mãos de Maria.”
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Santo Tomás de Aquino (†1274): Pregou esta doutrina ao povo em um sermão sobre a Ave-Maria.
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São Boaventura (†1274): “Ninguém pode entrar no céu, a não ser que passe por Maria, que é a porta.”
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Magistério Pontifício (Séculos XIX-XX):
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São Pio X: “Maria Santíssima, dispensadora de todas as graças.”
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Bento XV: Chamou Maria de “ministra e mediadora da graça”.
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Pio XII: Destacou o papel de Maria na economia da graça.
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Paulo VI: Declarou que a missão de Maria “é por livre vontade de Deus… parte do mistério da salvação” e que os fiéis devem aceitá-la “como verdade de fé”.
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V. Conclusão: Resposta à Polêmica
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Não é uma “Invenção”: A doutrina da Mediação Universal de Maria está profundamente enraizada na Escritura (em sentido tipológico), na Tradição (com testemunhos unânimes dos santos e doutores) e no Magistério constante de séculos de Papas.
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Não Ofende o Papel Único de Cristo: Pelo contrário, exalta-o. Quanto mais importante for o canal, mais se valoriza a fonte. A mediação de Maria é totalmente dependente e subordinada à mediação única e salvífica de Jesus Cristo.
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Liberdade dos Fiéis: O documento recente representa uma opinião teológica e uma orientação disciplinar (evitar o uso dos títulos). No entanto, diante do peso esmagador da Tradição, os fiéis têm o direito e a base para continuar venerando Nossa Senhora como a Medianeira de Todas as Graças, confiando que, por vontade do próprio Deus, todas as graças que nos chegam passam pelas mãos amorosas de Sua Mãe.
Em resumo: A devoção a Maria como Medianeira não é um acréscimo superfluo à fé, mas uma consequência lógica de sua maternidade divina e uma verdade consoladora que nos mostra o cuidado providencial de Deus, que nos deu uma Mãe no Céu para nos distribuir os frutos da Redenção.











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